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Alfabetização_e_Letramento (1)

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CAROLINE PRISCILA DA SILVA 
 
 
ALFABETIZAÇÃO E 
LETRAMENTO 
FACULDADE SÃO BRAZ 
 
 
 
 
 
 
CURITIBA/2018 
 
 
 
 
 
Sumário 
Apresentação ................................................................................... 03 
Iconografia ....................................................................................... 04 
Aula 1 – Concepções de alfabetização e letramento ........................ 05 
Aula 2 – Necessidade de repensar o termo alfabetização ................ 20 
Aula 3 – Considerações históricas sobre a alfabetização no Brasil . 33 
Aula 4 – Métodos de alfabetização utilizados no Brasil .................... 46 
Aula 5 – Elementos psicolinguísticos relacionados à alfabetização 60 
Aula 6 – Diferenciação nos modos de representação da escrita ....... 73 
Aula 7 – Metodologia da alfabetização ............................................. 82 
Aula 8 – Práticas pedagógicas ......................................................... 94 
Referências ...................................................................................... 104 
 
 
 
 
 
 
Apresentação 
Caro estudante, seja bem-vindo! 
Daremos início à disciplina de Alfabetização e Letramento, teremos 
bastante contato com dados históricos e conteúdos próximos de nossas 
vivências como estudantes, que nos “trarão” de volta ao tempo de escola. Vale 
lembrar que na educação a distância, o estudante tem participação ativa em sua 
própria construção do conhecimento, então é importante que você esteja 
motivado em aprender cada vez mais e também comprometido com nossas 
aulas e atividades propostas. 
Bom estudo! 
 
 
 
 
 
 
ICONOGRAFIA 
 
Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de 
linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual. 
 
 
VOCABULÁRIO 
Indica a utilização de um termo, palavra ou expressão no 
texto. 
 
 
IMPORTANTE 
Indica pontos de maior relevância no texto. 
 
 
 
REFLITA 
Questionamentos e reflexões sugeridas pelo autor, mas não 
é necessário respondê-los. 
 
 SAIBA MAIS 
Oferece novas informações que enriquecem o assunto: 
textos, artigos, reportagens escritas etc. 
 
 CURIOSIDADES 
Indica alguma curiosidade a respeito do tema de estudo, mas 
que não está contemplado na ementa. 
 
 MÍDIAS 
Indica sugestões de vídeos ou reportagens para 
conhecimento complementar. 
 
 LINK 
Vídeos e textos para aprofundar o assunto. 
Dica: Para facilitar clique com o botão direito do mouse e abra 
uma nova janela. 
 
 
 
 
Aula 1 – Concepções de alfabetização e letramento 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
Olá! Seja bem-vindo a nossa primeira aula. A partir de agora, faremos 
uma introdução à história da alfabetização, conceituando-a através dos anos, 
partindo da pré-história até a atualidade. 
Veremos também as muitas discussões que levaram aos avanços no 
campo educacional, como formas de ensinar e desenvolver no aluno a 
autonomia em construir seu conhecimento, assim como no conceito de 
letramento que será amplamente abordado dentro do tema e, também, o que 
podemos considerar como descasos e retrocessos diante das possibilidades 
dentro da alfabetização. 
Bom estudo! 
 
 
 
 
 
Quando pensamos no termo alfabetização, podemos relembrar do 
momento de nossa entrada na escola como alunos do sistema de ensino que 
compreende os anos iniciais da educação básica. 
 
Qual lembrança se tem do primeiro contato com a leitura e a escrita, 
seriam lembranças boas ou lembranças traumáticas de alguma 
dificuldade em aprender, de não acompanhar os demais colegas ou 
mesmo da necessidade de desistir da escola por motivos financeiros ou 
familiares? 
 
De fato, prezado estudante, 
remeter-se ao período da 
alfabetização é lembrar do 
momento de escola e sala de 
aula, de quando ainda 
pequenos, de alguma forma, 
sentamos em uma cadeira, 
conhecemos nossa 
professora, demais amigos e 
os mais variados símbolos 
colados pelas paredes, presos 
por grampos em pequenos varais ou mesmo escritos um a um no quadro com 
giz. 
Símbolos esses que, no decorrer dos dias, com atividades lúdicas ou 
bastante mecânicas, deixavam aos poucos de serem apenas símbolos, 
tornavam-se mais íntimos, apresentavam-se como letras com sua grafia exata, 
dissociando depois entre letras e números, sons e quantidades. Criavam sons 
específicos, depois se juntavam a mais letras formando mais sons e, como 
mágica, destes sons formavam-se novas palavras, ainda pequenas e simples. 
Depois, como em um jogo, apareciam novas etapas, destas palavras curtas, 
aparecia o treino cada vez mais complexo para a formação de palavras mais 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
 
 
 
 
extensas e o uso do conjunto de todas elas para formação de pequenas frases 
e depois a produção de textos. 
Essas lembranças diferem-se de pessoa para pessoa, como podemos 
observar nas palavras a seguir, de Graciliano Ramos (1953): 
 
 
 
Diante das diferentes lembranças que podemos ter de nossa própria fase 
da alfabetização, aparece a primeira noção do quanto as formas de se alfabetizar 
acontecem, suas interfaces, a questão sociocultural e econômica que a 
permeiam e as várias concepções originadas nas últimas décadas, além das 
críticas referentes ao processo de alfabetizar ou mesmo a distância existente 
entre ensinar e aprender. 
Estudante, você conhecerá a amplitude deste processo no decorrer deste 
estudo. 
 
 
 
 
 
Alfabetização, uma reflexão sempre necessária 
 
Figura 1.1: Estudantes em processo de ensino-aprendizagem 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
 
Ao pensar em alfabetização, é preciso primeiramente, lembrar o que é 
trabalhado nesta etapa de ensino; logo é possível chegar ao entendimento de 
que no processo de alfabetização é trabalhada a aquisição e produção da 
linguagem oral e escrita. 
Ao falar de linguagem é importante saber que ela é um dos principais 
fatores que diferem os seres humanos dos demais animais. A capacidade de 
comunicação, o uso social da linguagem e a produção de diferentes formas de 
usá-la é o que lhe propiciou grandes descobertas e sua própria evolução. 
 
Agora você pode estar se perguntando, qual a relação entre a evolução 
da espécie humana a alfabetização e sua reflexão? 
 
 
 
 
 
O fato é que o homem foi capaz de produzir ao longo do tempo a 
linguagem como forma de perpetuação de sua espécie, história, descobertas e 
até mesmo sobrevivência. Como toda produção humana, a linguagem foi 
desenvolvida a partir de necessidades pré-existentes; assim como a descoberta 
do fogo é um marco importante na história da humanidade, a necessidade de 
comunicação entre os indivíduos e a criação da linguagem seja ela oral, escrita 
ou mesmo desenhada nas paredes das cavernas marca o primeiro passo dado 
para algo que exige uma reflexão permanente dos processos de ensino e 
aprendizagem da linguagem. 
Proponho a você uma reflexão rápida comparando os itens que temos 
atualmente, com o que tínhamos antigamente. 
 
 
 
 
 
 
 
Quantas utilidades evoluíram com o passar dos anos? Evoluíram com a 
capacidade de criação humana diante de suas necessidades. Diante desta 
perspectiva, o que temos para dizer a respeito da educação, do processo de 
aquisição e uso da linguagem? 
 
O indivíduo que temos hoje no processo de alfabetização tem as 
mesmas condições e necessidades daqueles de uma década ou 
século atrás? 
 
Atualmente temos uma constante mudança e aceleração do uso da 
informação, do acesso a ela por meio da comunicação e da linguagem. Neste 
âmbito, a alfabetização precisa passar pelo processo de reflexão a todo tempo, 
permitindo a ela a adequação correta às diferentes formas de se ensinar e 
aprender. 
Reflita, por exemplo, comparando os antigos aparelhos de telefone, os quais a 
única função e de extrema importância e descoberta para a época era a de 
ligar e conversar a distância com a pessoa no outro lado da “linha”,
aos atuais 
e requisitados celulares com acesso a inúmeros aplicativos que cada vez mais 
são atualizados, conforme a evolução da tecnologia. 
 
 
 
 
 
O que define a alfabetização 
 
Figura 1.2: Estudante em processo de assimilação de observações 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
 
É verdade que a criança desde a sua formação faz observações do mundo 
ao seu redor, isso ocorre a partir da compreensão da linguagem como forma de 
comunicação. Nos primeiros dias de vida, ao identificar uma voz já conhecida, 
ela é capaz de acalmar-se e sentir-se mais segura. Com o passar dos meses, 
faz observação da linguagem oral transmitida entre as pessoas, sendo capaz de 
tentar, por imitação, o balbuciar de alguns sons e ver que, desta forma, consegue 
ser ouvida, atendida ou até mesmo interpretada. 
Com o exemplo da linguagem como interação e interpretação, mesmo de 
um ser ainda tão imaturo, é possível compreender a importância desta na 
colocação do indivíduo dentro de uma sociedade. Não falo da linguagem formal, 
adquirida na escola, na leitura de artigos e textos informativos, mas sim da 
própria linguagem materna, ou seja, aquela que é adquirida dentro do convívio 
social da criança em questão. A criança aprenderá a linguagem conforme sua 
família ou comunidade. 
 
 
 
 
Diante da linguagem materna, esta que é natural da criança, surge os 
primeiros contrapostos e discussões a respeito da alfabetização. Qual a melhor 
forma de ensinar e qual o melhor método diante de tantos? 
 
 Você saberia apontar qual método trabalharia em uma turma de 
alfabetização? 
 Será que existe uma única forma de ensinar totalmente eficaz na 
alfabetização ou mesmo uma receita pronta para aplicar? 
 
Soares (2013) aponta o conceito de alfabetização como o processo de 
aquisição do código escrito. Segundo ela, não se constatou nenhum método 
pedagógico coerente que juntasse a decodificação do código escrito, ou seja, 
decifrar o alfabeto, conhecendo e diferenciando letras e números, da capacidade 
de compreender o que se lê e escreve. 
Desta forma, o conceito de alfabetização se dá pelo ato mecânico de 
aprender gradualmente as letras do alfabeto, separar as vogais, juntar sons e 
formar palavras. Depois de dominar o código alfabético, conseguir transformar o 
que se fala ou se ouve em linguagem escrita e também transformar o que se 
escreve em linguagem oral. 
 
Prática de Alfabetização no Brasil 
Ao adentrar um pouco sobre como se desenvolveram os processos de 
ensinar e alfabetizar no Brasil, é possível observar as várias interfaces as quais 
a educação brasileira passou neste período, até as práticas e teorias que 
conhecemos e utilizamos atualmente. Até mesmo você estudante, já tendo ou 
não um pouco da prática pedagógica, pode defender ou criticar alguma forma de 
ensino, pode se familiarizar com alguma em especial. 
As primeiras práticas de ensino brasileiras se baseavam na decodificação 
e memorização como ferramentas de ensino. É importante ressaltar as antigas 
e famosas cartilhas tão utilizadas por professores da época, como as conhecidas 
“Caminho Suave”, “Cartilha Sodré”, “Método da Abelhinha”, dentre outras. Por 
 
 
 
 
mais que muitos se refiram a elas com críticas, é válido verificar a sua 
participação na história das práticas de alfabetização. 
 
 
Clique aqui para ver a cartilha de alfabetização “Caminho Suave”, que 
ainda é impressa e distribuída atualmente. 
 
Se você analisar uma dessas cartilhas e métodos de ensino com base na 
memorização, verá que tal prática não favorece a participação do aluno no 
processo de ensino-aprendizagem. Temos dentro dela a visão do aluno como 
verdadeira “tabula rasa”, ou seja, um papel em branco, em que era permitido 
somente transferir a ele informações já previstas dentro de determinado currículo 
e plano de estudo, sem que houvesse a valorização dos próprios conhecimentos 
do aluno. 
 
Independentemente da faixa etária e do nível de ensino em que o aluno 
esteja, ele tem conhecimentos adquiridos no decorrer de sua vida, 
sejam eles por meio de observações ou vivências, os quais interferem 
em sua aprendizagem e devem ser valorizados dentro da prática pedagógica. 
 
A prática, a qual não favorece a participação do aluno nas aulas, não 
permitindo que ele questione e pontue conhecimentos que agreguem o 
aprendizado, gera desmotivação do aluno com o decorrer do tempo. Esse aluno, 
que antes esperava ansioso a capacidade de decodificar aquele código 
alfabético, passar a ler, mas poderia esperar pelo que depois de aprender a 
decodificar? 
Conteúdos descontextualizados de suas vivências, os quais não 
instigavam a procurar saber mais ou mesmo, não agregavam valor dentro do seu 
próprio cotidiano. 
Na década de 80, após muitos anos sem conseguir concluir um método 
que funcionasse de forma efetiva com todos os alunos, temos no Brasil, a 
inserção dos estudos trazidos por Emília Ferreiro e Ana Teberoski. Com 
http://www.smeourinhos.com.br/Gestao_Educadores/Caminho%20Suave.pdf
 
 
 
 
ramificações na psicologia e muita observação nos estudos de Jean Piaget, 
conceituado nome dentro do campo da psicologia da educação. 
Emília Ferreiro propõe uma mudança de foco dentro dos processos de 
ensinar, enxergando o aluno como agente ativo de sua aprendizagem e não só 
receptor de informações como era tratado até então. 
 
 
 
 
 
 
 
Importante ressaltar a necessidade da reflexão a respeito da alfabetização 
como prática de ensino e aprendizagem. Se passamos por um tempo que pouco 
se observaram mudanças e progressos relacionados ao ensino, temos com o 
passar dos anos uma mudança de foco, o qual observa e valoriza além do ensino 
a forma como se aprende. Logo, é retirado do professor a única responsabilidade 
nesse processo, onde o educando somente recebe informações, decodifica, 
memoriza e pouco as utiliza para suas vivências. 
Desta forma, ensinar a ler e a escrever são responsabilidades que 
preocupam e assustam a princípio, como diz CARVALHO (2013). Não existe 
uma receita pronta para se ensinar, assim como também não existe uma única 
forma de aprender! É dentro dessa perspectiva que podemos pensar no papel 
do professor como alfabetizador. 
Mais que decodificar letras, juntando-as em sílabas e depois formando 
pequenas palavras desconexas entre si, como, por exemplo, “A vovó viu a uva”, 
presente por muitos anos nas formas de ensinar, é necessário ensinar para a 
vida, para a sociedade em questão, para o contexto em que está inserido cada 
aluno, seja este, criança, jovem ou adulto. 
Para isso, o professor precisa conhecer seu aluno, suas particularidades, 
visto que, pessoas são diferentes, com características, personalidade, 
facilidades, dificuldades e formas e tempos diferentes de aprender. Quando 
A partir dessa percepção, inicia-se um novo olhar para o aluno, que passa a 
ser reconhecido como estudante, capaz de interferir e produzir o próprio 
conhecimento. É importante observar que não fora desqualificado o papel do 
professor, o que na verdade passou a ser reconhecido, é que ambos, professor 
e estudante, exercem papel fundamental na aprendizagem. 
 
 
 
 
 
existe o conhecimento e a conscientização dessas diferenças, começa-se a 
tratar a educação, o professor e o aluno com mais respeito e seriedade, fazendo 
com que haja uma busca por novas práticas que atendam melhor às 
necessidades que surgem. 
O que precisa estar sempre ativo no pensamento de quem realiza a 
prática pedagógica é a capacidade de observação dos contextos e necessidades 
presentes nos sistemas de ensino e na sociedade. 
 
Além de respeitar os tempos de aprendizagem, o conhecimento do 
contexto em que alunos estão inseridos, faz parte do planejamento e 
atuação do professor em sala de aula, visto que, nem todas as pessoas 
fazem parte da mesma cultura, da mesma posição social e financeira ou mesmo 
faixa etária.
Diante disso, é preciso que o professor tenha consciência da necessidade 
de planejar o que ensina, não somente visando a organização e sistematização 
de cada conteúdo, mas sim a reflexão do que será preparado para esta aula, 
para quais estudantes ela será objetivada. Ao pensar no estudante o professor 
exerce a capacidade de empatia, ou seja, se coloca no lugar deste individuo, 
pensando em quais suas dificuldades, habilidades e necessariamente, formas 
de instigá-lo a buscar mais sobre o assunto que será trabalhado. 
 
Empatia: capacidade de se colocar no lugar do outro. Significa a 
capacidade psicológica para sentir o que sentiria outra pessoa caso 
estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar 
compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma 
objetiva e racional o que sente outro indivíduo. 
 
Por que ser alfabetizado? 
 
Figura 1.3: O aluno como agente ativo de uma educação libertadora 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
 
 
 
 
 
 
 
Por que é preciso frequentar a escola? 
Por que é preciso de alfabetização? 
 
 
As respostas para essas perguntas variam de pessoa para pessoa, num 
primeiro momento é possível sanar essas dúvidas logo na infância, quando, 
rapidamente, no pensamento de criança, lembramos de que vamos para a 
escola por ordem de nossas famílias, mas não seria possível aprender a 
decodificar o código alfabético em nossas casas, com os próprios familiares? 
Como você viu, a linguagem é adquirida desde o nascimento da criança. 
Mesmo antes de ter o contato com a escola, a criança já participa do universo 
letrado e ela pouco a pouco faz observações das escritas a sua volta, faz a leitura 
de símbolos, rótulos de produtos já conhecidos ou mesmo a familiarização com 
as letras de seu nome e demais familiares. No entanto, não se pode afirmar que 
só por esse conhecimento adquirido que ela esteja alfabetizada. 
A escola e o professor exercem papel fundamental na formação global do 
estudante, atuando como mediadores do conhecimento. É no espaço escolar 
que são proporcionadas as trocas de culturas, de conhecimento, de vivências e 
até mesmo das próprias diferenças entre um indivíduo e outro. A partir dessas 
trocas que se dá o enriquecimento do que é aprendido pelo estudante, em uma 
classe de alfabetização, por exemplo, a troca de conhecimento entre uma 
criança que já aprendeu um pouco mais pode ser compartilhada com as demais 
que ainda não têm o mesmo intelecto. 
 
É fato que as crianças aprendem umas com as outras, o ser humano 
aprende com o outro; diante disso, é dada a importância de 
proporcionar espaços que ampliem os conhecimentos e as trocas entre 
os alunos. 
 
Assim como podemos pensar em uma turma de intercâmbio com o 
objetivo de adquirir uma língua estrangeira, em que as pessoas ali envolvidas 
? ? 
 
 
 
 
vão praticar e aprender com essas trocas de experiências, da mesma forma deve 
ser pensada qualquer etapa de ensino. 
 
 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
 
 
O direito de frequentar a escola não esteve sempre presente na vida da 
população, como vimos anteriormente, a educação evoluiu a partir de novas 
necessidades presentes no mundo. O Brasil mostra um extenso passado de 
descaso com a educação, heranças que estão presentes em muitas 
características do ensino brasileiro. 
O direito de acesso à educação escolar foi conquistado aos poucos e por 
muito tempo somente para atender a fins políticos e comerciais. Caminhou 
juntamente com os progressos sociais, a abolição da escravatura, o direito das 
mulheres e a chegada da industrialização. Com isso, houve um aumento 
gradativo no número de alunos nas escolas, principalmente com a chegada da 
industrialização no país, a qual originou grande migração da população das 
zonas rurais para as zonas urbanas. Uma grande parcela da população que até 
 
 
 
 
então não havia pensado na necessidade da alfabetização em suas vidas, se viu 
pressionada a ter este pré-requisito para conseguir um emprego e garantir sua 
subsistência nos grandes centros urbanos. 
Por muito tempo imperou a visão de que a escola servia para o preparo 
de um indivíduo para o mercado de trabalho, ou seja, era necessário ensinar as 
pessoas a decodificar o alfabeto e seu uso na formação de palavras e, a partir 
disso, fazer a leitura de pequenas comandas, placas ou a realização de 
operações simples da matemática para o cotidiano. Para essa função existiam 
as antigas classes chamadas “classes de instrução” cujo objetivo era bastante 
notório: preparar o aluno para operar uma máquina e fazer parte da linha de 
produção de uma empresa. 
 
 
Clique aqui para assistir ao vídeo de Viviane Mosé falando sobre a 
escola de massa. 
 
 
O número de alunos para serem alfabetizados aumentou 
consideravelmente, ter acesso à escola passou a ser tratado como direito de 
todo cidadão e apesar de a palavra “direito” soar agradavelmente, é preciso 
refletir com que qualidade a população teve acesso à educação. 
Ser alfabetizado poderia significar também que além de estar apto ao 
mercado de trabalho, o indivíduo poderia votar e ajudar a eleger seus 
representantes políticos. 
 
Qual a condição de uma pessoa que aprendeu apenas a decodificar 
o alfabeto tem para buscar mais conhecimento e participar das 
decisões de seu país, isto é, qual a condição dessa pessoa que foi 
instruída para o mercado de trabalho e passa o seu dia operando maquinários 
tem de buscar mais conhecimento? 
 
https://www.youtube.com/watch?v=GLS1gAwTo0k
 
 
 
 
Diante da crescente demanda de alunos no sistema de ensino e da sua 
ineficiência em formar além da alfabetização, milhares de pessoas são formadas 
pela escola sem adquirir a real condição de aplicar o que aprendeu em sala de 
aula, sem a aptidão para produzir e compreender pequenos textos. 
Compreende-se que a função da escola vai além do ensino da 
decodificação e uso do alfabeto, da instrução de conteúdos desconexos do 
contexto dos alunos, do estudo dos quocientes e equações matemáticas, é 
preciso fazer com que os alunos apliquem esses conhecimentos no dia a dia, na 
vida deles. 
 
Síntese 
Nesta aula, você viu o conceito de alfabetização e sua utilização nas 
práticas pedagógicas no decorrer dos anos no Brasil. Viu também qual é o papel 
da escola e a nova visão a respeito de como se ensina e como se aprende, além 
da importância de proporcionar ao estudante condições e estratégias de 
construir seu próprio conhecimento. 
A partir das próprias lembranças do tempo de alfabetização de cada um 
é possível valorizar a necessidade da constante reflexão da prática pedagógica 
na alfabetização, para que esta seja satisfatória e acompanhe a evolução do 
próprio ser humano. 
 
Atividades de Aprendizagem 
Reflita a respeito do seu tempo de alfabetização, tentando lembrar a forma 
como ela foi abordada pela instituição de ensino que você frequentou. A partir 
de suas lembranças das facilidades e dificuldades com a escrita, pense em cinco 
pontos negativos e cinco pontos positivos do modelo didático utilizado na sua 
alfabetização. 
 
 
 
 
Aula 2 – Necessidade de repensar o termo Alfabetização 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
 
Para compor nossa aula sobre Concepções de Alfabetização e 
Letramento abordaremos o conceito de Letramento e sua prática, pesquisado e 
defendido por professores e teóricos da educação brasileira. 
 
 
 
 
 
 
Necessidade de um novo conceito? 
 
 
 
Figura 2.1: Magda Soares 
Fonte: Foto de Ronaldo Guimarães / Disponível em: 
<https://editoracontexto.com.br/autores/magda-soares.html>. Acesso em: 19/09/2018, 
às 14h34min (fins pedagógicos). 
 
 
 
Dentro do campo da educação e mais especificamente dentro da 
abordagem da alfabetização, temos como referência Magda Soares, 
principalmente por sua atuação diante das discussões a respeito das diferenças 
entre alfabetizar e letrar. 
O que de fato difere a alfabetização
para Magda Soares é que existe na 
Língua Portuguesa duplo sentido para os verbos ler e escrever. Dizer que 
alguém sabe ler não caracteriza que ela adquiriu a habilidade de ler e 
compreender o que leu, assim como não é possível afirmar que uma pessoa 
sabe escrever simplesmente porque decifrou o código alfabético e faz a escrita 
de palavras. 
 
 
 
 
A habilidade de escrever se dá na capacidade de realizar diferentes 
produções textuais, como ao ler um texto, saber fazer a síntese de um 
texto, ser capaz de compreender e destacar os pontos mais 
importantes etc. 
 
É a partir deste duplo sentido que temos a discussão e inserção do termo 
letramento como definição da capacidade do indivíduo ler, escrever e ter 
compreensão do que fora lido dentro dos contextos e conclusões esperadas em 
tal ação. 
Leia a seguir ao poema de Kate M. Chong sobre Letramento. 
 
O que é Letramento? 
 
Letramento não é um gancho 
em que se pendura cada som 
enunciado, 
não é treinamento repetitivo 
de uma habilidade, 
nem um martelo 
quebrando blocos de gramática. 
Letramento é diversão 
é leitura à luz de vela 
ou lá fora, à luz do sol. 
São notícias sobre o presidente 
O tempo, os artistas da TV 
e mesmo Mônica e Cebolinha 
nos jornais de domingo. 
É uma receita de biscoito, 
uma lista de compras, recados 
colados na geladeira, 
um bilhete de amor, 
telegramas de parabéns e cartas 
de velhos amigos. 
É viajar para países desconhecidos, 
sem deixar sua cama, 
é rir e chorar 
com personagens, heróis e grandes 
amigos. 
É um atlas do mundo, 
sinais de trânsito, caças ao tesouro, 
manuais, instruções, guias, 
e orientações em bulas de remédios, 
para que você não fique perdido. 
Letramento é, sobretudo, 
um mapa do coração do homem, 
um mapa de quem você é, 
e de tudo que você pode ser. 
 
 
 
 
 
Ao ler este poema você pode ter a dimensão do que é Letramento. Em 
resumo, os dois últimos versos mostram o quanto ser letrado difere uma pessoa 
dentro de uma sociedade, o indivíduo que lê e se apropria da leitura começa a 
ter concepções e olhares diferentes dentro da sociedade em que vive, dentro de 
suas escolhas e ações. 
Diante da reflexão da capacidade de apropriação da linguagem falada e 
escrita, viu-se a necessidade de discussão do que se caracteriza como 
alfabetizar, assim como a necessidade da inclusão de um novo termo que defina 
a pessoa com desenvolvimento de leitura e escrita. 
Vejamos as definições que aparecem no dicionário Aurélio: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Você consegue perceber a necessidade de não só alfabetizar uma 
pessoa, mas permitir a ela conhecimento do mundo em que vive? 
 
 
 
 
 
Estado ou condição 
de analfabeto 
a(n) + alfabet + ismo 
i zar: sufixo, indica: 
tornar, fazer com que. 
 
 
 
Ação de alfabetizar, 
de tornar “alfabeto”. 
Alfabet + iza(r) + cão 
Sulfixo ção: indica 
uma ação. 
 
 
Versado em letras, 
erudito 
 
Que não tem 
conhecimentos 
literários. 
Analfabetismo Alfabetismo Letrado 
Iletrado 
 
 
 
 
Muitas são as políticas públicas para diminuir o índice de analfabetismo 
no Brasil, como, por exemplo, campanhas como o “pacto pela idade certa”. No 
entanto, o que se observa, na prática, é o ensino da decodificação do alfabeto, 
a grafia das letras e a junção delas para a formação de pequenas palavras. 
O Brasil reduziu em 4,3 pontos percentuais o número de analfabetos entre 
os anos de 2001 a 2014, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de 
Domicílios (Pnad), de 2014, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística (IBGE). Por essa amostragem, teríamos então 2,5 milhões de 
pessoas analfabetas a menos em relação a 2001. 
Esses números podem parecer positivos, contudo, é preciso entender que 
ter a capacidade de decodificar palavras dentro de uma frase ou texto não 
caracteriza esse indivíduo como letrado, com domínio da leitura e escrita, tendo 
compreensão do que foi lido. 
Segundo Carvalho (2013), a análise desses dados se torna ainda mais 
desfavorável quando compreendemos que quanto maior o número de pessoas 
alfabetas, maior o índice de pessoas não letradas. 
 
Assista ao filme “Central do Brasil” e tente relacionar as condições da 
personagem ao analfabetismo e acesso à educação. 
 
 Surge então a necessidade de um novo termo que defina a pessoa que 
saiu da condição de analfabeta, mas não desenvolveu conhecimento linguístico 
capaz de utilizar da leitura e escrita para mudar sua condição dentro da 
sociedade. 
 
Exemplo: 
O sujeito que entra para as estatísticas como pessoa alfabetizada pode ser o 
mesmo que apresenta dificuldade em atividade simples de leitura simples, como 
a leitura de um anúncio de compra ou venda de um item de uma página de mídia 
social. 
 
 
 
 
 
A capacidade de compreensão do que se expressa no pensamento de 
quem fala ou daquele que escuta resulta no que é definido por letramento. Logo, 
temos definido que alfabetização se caracteriza pela ação de ensinar ou 
aprender a ler e escrever, enquanto que letramento é a condição daquele que 
além de saber ler e escrever ainda as pratica dentro da sociedade, se dedica às 
práticas de leitura e escrita, é capaz de ler, interpretar e produzir leituras e 
escritas de maneira a serem compreendidas. 
Com a definição de letramento não temos somente o ganho de mais uma 
palavra ou conceito, temos um novo olhar sobre o estudante e novas 
responsabilidades. É enxergar o contexto que ele está inserido; quais as suas 
necessidades, identificar o que já alcançou dentro da leitura e escrita e oferecer 
oportunidades e condições para que este continue se desenvolvendo. 
Diferente do termo alfabetizar, o conceito letramento apresenta 
questionamentos a serem observados, pois não temos como concluir que o 
indivíduo já completou o processo de letramento; por exemplo, existem pessoas 
que no decorrer de sua aprendizagem já conseguem escrever ou interpretar um 
bilhete ou uma pequena mensagem, mas ainda sentem dificuldade em 
compreender um artigo de jornal. Ler e escrever envolve um conjunto de 
habilidades a serem aprendidas e desenvolvidas constantemente. 
Segundo Soares (1998, p. 47), 
 
 
 
 
 
Qual a idade certa para a alfabetização e letramento? 
Diante das discussões sobre a necessidade de letrar além do alfabetizar, 
chegamos a mais um ponto: a partir de quando começar a trabalhar o 
letramento? 
Em 2013 foi lançado, no Brasil, o PNAID (Pacto Nacional pela Idade 
Certa) em resultado do que constatou o Censo de 2010: 15,2% dos alunos 
matriculadas no terceiro ano do Ensino Fundamental ainda não sabiam ler ou 
escrever. 
Portanto, são crianças que frequentam a escola e, apesar da idade, ainda 
não apresentam domínio do código escrito, ou seja, ainda não foram 
alfabetizadas. 
A proposta do Pacto Nacional pela Idade Certa era de que, em até três 
anos a partir do seu lançamento, 100% das crianças em idade escolar 
estivessem alfabetizadas ao final do terceiro ano do Ensino Fundamental, isto é, 
até os oito anos de idade. Veja o trecho da Resolução nº 12, de 8 de maio de 
2013: 
 
 
 
 
 
É certo que a educação é um direito a todos os cidadãos, no entanto, ela 
precisa ser efetiva e realizada com qualidade. Quando entendido que é preciso 
respeitar o contexto em que cada cidadão está inserido, abre-se a oportunidade 
de observar um pouco mais o aluno que ingressa nos primeiros passos da leitura 
e escrita. 
Ao desenvolver a prática pedagógica em sala de aula é preciso olhar do 
ponto de vista do aluno. As crianças nos surpreendem com sua capacidade de 
assimilar e criar informações, fazer conexões com fatos vividos, falas ouvidas 
para tentar chegar à conclusão de algo que seja desconhecido delas. Muitas 
vezes, muito mais criativos que nós adultos, que já consideramos ter uma boa 
experiência de vida. 
 
Fonte: Unslash (2018) 
 
Assim acontece com exemplos simples
do dia a dia, em que o aluno 
compreende que um conjunto de letras (às vezes por suposição, números 
também) formam alguma palavra e que aquilo que se escreve pode ser lido ou 
falado. Desta forma, em sua tentativa de fazer parte do mundo letrado, junta seus 
conhecimentos prévios com aquele desafio de ler as desconhecidas letras. 
 
 
 
 
Surge então o que nós, pessoas já familiarizadas com aquele mundo de letras e 
leituras, podemos chamar de “adivinhação”. 
 
 
O indivíduo aprende a ler ainda antes de ser alfabetizado. 
 
 
Da mesma forma que a criança aprende a ler por meio de assimilação, 
também é esse o processo com o adulto, ele utiliza as ferramentas de 
comunicação que tem para aprender; ele faz assimilações e suposições, 
conectando imagens familiarizadas a palavras conhecidas naquele contexto e 
assim, entre acertos e erros, constrói sua comunicação com o mundo. 
Portanto, cabe ao professor mediar e valorizar as tentativas de cada 
estudante nesse processo de ensino e aprendizagem, observar de que ponto de 
vista o estudante formulou determinada tentativa, estimulando a participação 
efetiva do estudante em seu aprendizado. 
Explorar o ponto de vista e as experiências entre os estudantes estimula 
e desenvolve a confiança e a autonomia em cada um, fazendo com que o 
ambiente escolar seja um facilitador da aprendizagem e um espaço de trocas de 
vivências em que não se aprende só o que o professor planejou ensinar, mas 
sim o que ambos construíram juntos. 
 
Você sabia que estimular a participação do estudante na construção 
da aula não representa mudar o que foi planejado para aquele estudo? 
Essa prática desenvolve a autonomia no estudante e também sua 
confiança no aprendizado. 
 
O professor pode traçar estratégias que busquem a participação ativa de 
cada estudante, não importando a faixa etária em que estejam. Vamos aos 
exemplos! 
 
 
 
 
 
 Uma pesquisa é uma ótima estratégia. Desde recorte de figuras, 
para crianças, até pequenas pesquisas, para os maiores. 
 Pequenas ações que despertem o interesse do estudante ainda 
antes de ele estar no ambiente escolar. 
 Ao trazer aquele item pedido, por exemplo, o professor pode 
orientar que, em determinado dia, todos deverão observar o 
caminho de ida para a escola e trazer algo que encontrou. Os 
objetos trazidos poderão variar entre: pedras, folhas, grãos de areia 
e até mesmo um reciclável que não deveria estar jogado na rua. 
Com os itens trazidos, são inúmeras as formas que poderão ser 
utilizados, desde catalogar os itens, até mesmo uma conversa 
sobre a importância de separar o lixo. 
 
Falar de mudar o foco do ensinar para como se aprende não se refere a 
métodos melhores ou piores, diz respeito a planejar de forma que a 
aprendizagem faça sentido a quem está na condição de aluno. 
 
Leitura e escrita com sentido 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Na prática pedagógica nada é imutável e fechado, vai depender do modo de 
conceber o processo de aprendizagem. As mudanças necessárias para a 
alfabetização inicial não se resolvem com um novo método, novos teste e 
materiais didáticos. Na realidade, é preciso mudar essa imagem em relação à 
escrita e à criança. A escrita é uma representação da linguagem e a criança 
não é: “um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega, um 
instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons”. (FERREIRO, 
2001, p. 40). 
 
 
 
 
 
A leitura e a escrita precisam ter sentido. Se aprender a ler e escrever, ou 
mesmo qualquer outro conteúdo proposto no currículo escolar não fizer sentido, 
ele gerará um ato mecânico de decorar o conteúdo por um curto período de 
tempo. Um exemplo simples da escrita sem sentido é a cópia de textos, frases 
ou mesmo palavras desconexas. 
Alfabetizar visando o letramento requer desenvolver o desejo pelo que se 
lê e pelo que se escreve. Saber sobre o que se lê, em que gênero textual se 
enquadra, possibilitar ao estudante até mesmo reconhecer suas afinidades, 
saber que está lendo um romance fictício ou mesmo ter a capacidade de ler uma 
sátira ou texto com sarcasmo e saber distinguir o contexto da realidade. 
Na língua portuguesa existe também o que é chamado de polissemia, 
quando uma palavra pode ter dois ou mais sentidos. Imagine como fica confuso 
para alguém que não tem total compreensão do que se lê, quando a palavra 
luva, por exemplo, aparece com significado diferente dependendo do contexto 
em que está inserida. 
Outra reflexão que podemos fazer aqui é o estudante ler um livro ou artigo 
de jornal e não saber diferenciar partes semânticas do texto pode acarretar na 
compreensão errada ou até mesmo em o aluno não entender o que leu. 
Enfim, promover o letramento significa mais do que ensinar a escrever 
bem e falar bem, é possibilitar ao estudante conquistar seu espaço dentro da 
sociedade, promover a liberdade de pensamento para que ele tenha autonomia 
de buscar conhecimento. 
 
1. Leia o livro “O menino que aprendeu a ver”, de Ruth Rocha. Ele 
aborda a história de um menino que inicia a fase de alfabetização na 
escola vai descobrindo novas letras, começando a enxerga-las dentro 
das palavras e dentro do seu mundo. Aos poucos, aquela variedade de 
figuras e desenhos que antes o menino via nas placas, na televisão e 
materiais impressos, passam a ter significado, deixando de ser desenhos 
para ser símbolos com nomes. 
2. Sugiro que você assista ao filme “Aprender a aprender” e reflita como é o 
processo de aprendizado do aluno por meio da observação e interação 
 
 
 
 
com o contexto em que ele vive. Analise como ele pode ir mais além se 
forem dadas boas condições para o seu desenvolvimento. 
 
Síntese 
Nesta aula, foram trabalhadas as definições dos termos alfabetização e 
letramento. Você viu a respeito da alfabetização como decodificação e a 
necessidade de se ofertar aos alunos possibilidades de liberdade a partir da 
leitura, e a escrita a partir do conceito de letramento. 
Você viu também a importância de o professor desenvolver estímulos no 
estudante a fim de contribuir cada vez mais no processo de ensino-
aprendizagem. 
 
Atividades de Aprendizagem 
A partir da década de 90, a forma de alfabetizar utilizando as cartilhas 
tradicionais de alfabetização foi amplamente discutida e criticada pelo fato de ela 
não promover letramento, ou seja, não permitir que o aluno desenvolvesse 
autonomia e a construção de seu próprio conhecimento. A partir do estudo desta 
aula e de suas vivências, reflita a respeito de como a prática do letramento 
desenvolve no educando o sentimento de pertencimento à sociedade. 
 
 
 
 
 
Aula 3 – Considerações históricas sobre a alfabetização no 
Brasil 
 
Fonte: Pixabay (2018) 
 
Bem-vindo a nossa terceira aula. Avançaremos um pouco mais no estudo 
da história da alfabetização no Brasil, afinal, são mais de 500 anos de educação 
brasileira que perpassa no mesmo contexto da formação de toda uma sociedade. 
Ouve-se muito falar sobre alfabetização, métodos melhores ou piores, 
retrocessos e progressos, mas de onde vieram todas essas falas?; qual seria a 
importância desses dados históricos, dos erros e acertos? 
Responder a essas perguntas será o objetivo desta aula. 
Bom estudo! 
 
 
 
 
 
 
Contextualizando 
Ao estudar alfabetização e letramento, entendemos o significado do termo 
alfabetização, definido como aprendizado do código escrito. O ato de ler vem a 
partir da escrita, desta forma, ler se descreve como a capacidade de reconhecer 
a grafia do código escrito e representá-lo a partir da fala. 
A escrita surge da necessidade de comunicação entre os seres humanos, 
ou seja, da necessidade de socialização do código escrito, de transmitir o 
conhecimento para o outro. Temos como marco de seu início os traços 
desenhados em pedras e cavernas no tempo da Pré-História, quando o homem 
contava sua história, suas conquistas e
descobertas usando desenhos e 
símbolos pintados de forma rupestre. No entanto este registro ainda não foi 
considerado como tipo de escrita, devido não conter uma organização ou mesmo 
padronização. 
\ 
O primeiro tipo de 
escrita a ser 
considerado foi 
chamado de escrita 
cuneiforme. Ela foi elaborada 
aproximadamente há 4.000 
a.C. pelos sumérios para 
registrar o cotidiano e os 
acontecimentos políticos e 
financeiros em placas feitas 
de argila. A curiosidade desse 
tipo de escrita é que ela era 
feita com objetos pontiagudos 
em formato de cunha, dando 
origem a pronúncia de seu nome, além disso, seu registro era feito sempre na 
ordem da direita para a esquerda. 
 
Figura 3.1: Escrita Cuneiforme 
Fonte: © Wikimedia Commons (2018) 
 
 
 
 
Ao registrar seu cotidiano, descobertas e acontecimentos, o homem 
contribuiu para o desenvolvimento da civilização. Para que você compreenda 
melhor, um exemplo clássico é a descoberta do fogo; a observação e as técnicas 
desenvolvidas em seu manuseio permitiram que o homem tivesse controle sobre 
os animais, sobre o calor em dias frios, sobre a capacidade de se guiar mesmo 
durante a noite, bem como no preparo de alimentos. 
Os primeiros registros de escritas foram fáceis de ser interpretado pelos 
pesquisadores. Depois, por causa da evolução da escrita que eram em forma 
gráficas e depois passou a outros símbolos, as interpretações foram mais 
difíceis. 
 
A escrita foi usada para representar a contagem dos anos, uma 
estação para colheita, fatos ambientais, história de famílias, entre 
outras. 
 
 
Clique aqui para assistir ao documentário que retrata a história da 
escrita. 
 
A capacidade de saber ler o que cada símbolo representava e ser capaz 
de reproduzi-lo, torna-se o primeiro significado do termo alfabetização. Temos 
então um conjunto de símbolos que formam um código composto de regras e 
formas de utilização. 
A aprendizagem por transmissão de conhecimentos e o treino da grafia 
dos variados símbolos e seus significados passaram de geração em geração. 
Com o desenvolvimento das civilizações e o cultivo da terra e animais temos 
mais um dado importante no que diz respeito à história da alfabetização. 
O crescimento do comércio fez com que o homem procurasse cada vez 
mais formas de controle de suas posses. Se em determinado momento da 
história das civilizações temos como principal prática de comércio o escambo, 
em uma sociedade com mais desenvolvimento são necessários outros símbolos 
que produzam significado no registro e contagem de bens. A partir do código 
https://www.youtube.com/watch?v=TVxmJoi-DDg
 
 
 
 
escrito se desenvolveram outros códigos e regras até que chegamos ao que 
temos hoje. 
 
Escambo é a prática ancestral de se realizar uma troca comercial sem 
o envolvimento de moeda ou objeto que se passe por esta, sem 
equivalência de valor. 
 
Aprender o código alfabético a princípio não era uma ação escolar, era 
uma prática realizada em família, repassada por aqueles que tinham o domínio 
sobre a leitura e a escrita. Baseava-se em regras simples, tais como: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Com uma análise rápida sobre o desenvolvimento da escrita até os 
padrões conhecidos atualmente é possível entender sua importância para a 
sociedade por meio da capacidade do homem em observar, enxergar 
necessidades, interagir e criar estratégias para solucionar problemas. 
Memorizar a grafia dos 
símbolos, aprender como 
se configurava a forma 
da letra ou número. 
Depois saber reproduzir 
no mesmo formato. 
 
Memorizar o nome de cada 
símbolo relacionando com o 
som produzido por ele. 
 
Juntar cada um, com objetivo 
de formar palavras ou histórias. 
 
1 
2 
3 
 
 
 
 
Escrita além da contagem de números e registro da história 
A capacidade de produzir história e a partir dela conhecimento abriu um 
leque cada vez maior no desenvolvimento da sociedade, as pessoas começaram 
a enxergar além da simples interpretação do código escrito. Existem mais 
possibilidades a partir da leitura e da escrita, é possível viajarmos para outros 
países sem sair de casa, abrir janelas mesmo em dias mau tempo, contar 
histórias. 
A partir da criação da máquina de imprensa, em 1430, por Johann 
Gutenberg, houve uma grande difusão de modelos escritos, pois o artefato 
possibilitava a reprodução de textos inteiros sem que houvesse a necessidade 
de copiar palavra por palavra a mão. A Bíblia sagrada foi o primeiro livro a ser 
reproduzido inteiramente, sendo vendida no idioma alemão. 
 
 
 
 
 
Ao falar de imprensa, 
provavelmente pensamos em canais 
de comunicação: sejam eles de 
televisão, rádio ou jornal. No 
entanto, o nome imprensa foi dado 
originalmente à máquina de 
impressão tipográfica. 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 3.2: Imprensa de 
Gutenberg 
Fonte: © Wikimedia Commons (2018) 
 
 
 
 
 
Os livros, antes escritos à mão, eram expressivamente caros e ficavam 
sob a posse da elite da época. Com a invenção da imprensa, a produção e o 
acesso a textos, livros e folhetos se tornaram cada vez mais efetivos, com isso, 
a necessidade de o número maior de pessoas com a capacidade de ler e 
escrever. Diante dessa necessidade, foi usado em maior escala o método de 
ensinar o código escrito, já conhecido e passado de geração em geração. Assim, 
o conjunto de regras para aprender o alfabeto formando palavras e sons ganha 
aliados, como, por exemplo, cartilhas com exercícios de aprendizagem. 
 
Alfabetização contextualizada no Brasil 
Ao estudar a história da Alfabetização no Brasil, a primeira impressão que 
você pode ter é uma instabilidade no campo educacional, devido à quantidade 
de críticas aos sistemas e métodos usados ou mesmo uma incerteza de tudo o 
que foi desenvolvido até então. 
Olhar para a história permite avaliar vantagens e desvantagens de cada 
didática ou método desenvolvido e usado, indicar suas influências nas práticas 
pedagógicas atuais e extrair o melhor de cada um para desenvolver práticas que 
acompanhem as necessidades educacionais. 
Muitos autores destacam o descaso com a educação brasileira. Com a 
chegada dos portugueses ao Brasil, em 1500, houve grandes mudanças, o país 
que até então era habitado apenas por povos indígenas, os quais tinham sua 
própria linguagem e cultura, passa a receber os portugueses já com 
conhecimento, tecnologias da época e a religião cristã. Em 1549, temos a 
chegada dos Jesuítas da “Companhia de Jesus” e o primeiro indício do sistema 
de alfabetização, ainda com objetivo de catequização e aculturação do povo, 
ensinando a eles as primeiras letras e cultura europeia, vestimentas e 
socialização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Companhia de Jesus, A Companhia de Jesus é uma ordem religiosa 
fundada em 1534, por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, 
liderados pelo conhecido Inácio de Loyola. A Congregação foi 
reconhecida conhecida principalmente por seu trabalho missionário e 
educacional. 
 Aculturação, processo de modificação cultural de indivíduo, grupo ou 
povo que se adapta a outra cultura ou dela retira traços significativos. A 
aculturação leva muitas vezes à desintegração de uma ou de várias 
culturas, sob a influência dos contatos que se estabelecem entre os seus 
integrantes. 
 
Por cerca de 200 anos a alfabetização jesuítica foi voltada ao público 
masculino, índios, seus filhos e filhos de colonos, ao mesmo tempo em que tinha 
o objetivo de alfabetizar para converter os índios à religião católica. As mulheres 
não tinham acesso às classes de instrução e eram educadas somente para a 
vida doméstica e religiosa. 
Os jesuítas desenvolveram um sistema de ensino elaborado com regras 
e o expandiram em várias casas de acolhimento, conhecidas por “escolas de ler 
e escrever”. 
No decorrer de todo o século XIX e nas primeiras décadas do século XX, 
o termo mais comum para designar o ensino das
primeiras letras, como também 
todo o processo de escolarização, era instrução. Os jesuítas seguiam um 
documento curricular, o Ratio Studiorium, o qual constava o ensino da gramática 
média, da gramática superior, das humanidades, da retórica, da filosofia e da 
teologia. 
 
 
 
 
 
Figura 3.3: O Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu (Plano e 
Organização de Estudos da Companhia de Jesus), normalmente abreviada 
como Ratio Studiorum 
Fonte: © Wikimedia Commons (2018) 
 
 
O ensino ficava dividido entre as “escolas de ler e escrever”, onde eram 
ministradas as primeiras instruções, ou seja, as primeiras letras e noções de 
boas maneiras. Posteriormente, para aqueles que tinham condições financeiras, 
existiam os colégios, instituições de ensino também jesuítas em formato de 
seminário, onde era ensinado: Moral, Filosofia e Línguas Clássicas. Depois, 
podia-se estudar Teologia, Direito ou Medicina na Universidade de Coimbra, 
dirigida pelos jesuítas. 
A partir do ensino das letras, começava a se formar no país a 
hierarquização da sociedade brasileira, pois tinha acesso e continuidade ao 
ensino das letras somente aqueles que tinham posses, sendo assim, de forma 
planejada pelo governo, poderiam ter mais chances de prosperar aqueles que 
podiam pagar pelo acesso à educação. 
Em 1759, houve o término da educação jesuíta no Brasil, por ordem do 
Ministro de Portugal, Marquês de Pombal, os padres da Companhia de Jesus 
tiveram suas “escolas de ler e escrever” destruídas, bem como todo material de 
 
 
 
 
ensino que haviam produzido. A partir disso haveria a remodelação do ensino no 
país, colocando disciplinas mais práticas e apresentando um modelo de escola 
pública. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em 1808, com a chegada da família portuguesa ao Brasil, temos um 
marco importante que coloca a educação como lei no país, apesar disso, poucos 
foram os investimentos para que ela de fato ocorresse. Priorizou-se 
principalmente a formação da elite brasileira com colégios de ensino superior e 
até mesmo a formação fora do país, ao contrário disso, a maior parte da 
população ficou perdida e o cenário educacional desorganizado, em que até 
mesmo os professores passaram a ser responsáveis pela complementação de 
sua formação, segundo os novos requisitos exigidos. 
Em 1827, após a Independência do Brasil, entra em vigor a primeira lei 
brasileira que tratava exclusivamente da educação, decretava que haveria 
escolas em todas as cidades mais populosas para o serem ensinadas as 
primeiras letras de forma pública e gratuita. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No entanto, o resultado com a expulsão dos jesuítas foram anos de 
desorganização do sistema de ensino e maior segregação da população mais 
pobre e indígena, que ficaram praticamente de fora dos planos de 
alfabetização. Além da falta de investimentos na construção de novos prédios 
para abrigar as escolas, que passaram a ser na casa dos próprios 
professores contratados para ministrar as disciplinas. 
 
Art. 1.º – Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, haverá escolas 
de primeiras letras que forem necessárias. 
BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. In: LIMA, N. dos S. Um século de ensino primário. 
Natal: Typografia d’A República, 1927. 
 
 
 
 
 
Outro fato importante para ser destacado pela inserção desta lei é o 
primeiro passo para o acesso das meninas às escolas, não para o aprendizado 
das letras a princípio, mas para as práticas domésticas. 
 
 
 
 
 
 
 
A criação de leis que garantissem o acesso às primeiras instruções é 
considerada como avanço para o momento histórico do país, no entanto, o 
contexto político e econômico que vinha de Portugal e mesmo depois da 
Independência não foi favorável a avanços ou mesmo preocupação com a 
educação brasileira. Por anos, o cenário continuou quase o mesmo, resumido 
novamente à falta de investimento em estrutura e material pedagógico, falta da 
elaboração de um currículo que atendesse as necessidades educacionais e 
favorecimentos para classes nobres. 
Em 1889, temos a Proclamação da República do Brasil, instaurada logo 
após a abolição da escravatura de 1988. A partir de então a escola assume 
importante papel como instrumento de modernização e progresso da nação. 
Nesse contexto, surgem as novas tecnologias trazidas pela Revolução Industrial 
que ocasionam uma grande movimentação nas formas de trabalho e na vida da 
sociedade. 
 
Escola para todos 
Depois de séculos de descaso com a educação, promover uma mudança 
que atingisse a grande maioria da população tornava-se algo cada vez mais 
difícil, contudo, em pouco tempo a demanda nas escolas mais que multiplicou. 
Faltavam ainda escolas, professores, material e, inclusive, uma forma de 
alfabetização eficaz. 
Art. 11.º – Haverá escolas de meninas nas cidades e vilas mais populosas, 
em que os Presidentes em Conselho, julgarem necessário este 
estabelecimento. 
BRASIL. Lei de 15 de outubro de 1827. In: LIMA, N. dos S. Um século de ensino primário. 
Natal: Typografia d’A República, 1927. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Até então a alfabetização era destinada a uma pequena parte da 
população, além disso, era feita por cartilhas e memorização de conteúdos. Esse 
mesmo método, como você já viu na aula anterior, era ineficaz quanto à 
construção da aprendizagem do aluno. As chamadas cartilhas de alfabetização 
tiveram seu papel na alfabetização ou pelo menos na apresentação do código 
escrito, no entanto eram estáticas quanto às novas necessidades da sociedade. 
Em um contexto de Revolução Industrial, tinha-se também uma revolução 
no mercado de trabalho, mas sem trabalhadores capazes de suprir a demanda. 
A maioria dos campos de trabalho advinha das grandes fazendas, com destaque 
para a grande produção de café no país. 
 
Figura 3.4: O motor a vapor foi 
essencial para aumentar a produção 
das máquinas 
Fonte: © Wikimedia Commons (2018) 
 
 
 
 
 
Assim chegamos ao século XXI, com cerca de vinte milhões de analfabetos, 
aos quais se somam outros tantos cidadãos com apenas rudimentos de leitura 
e escrita. No entanto, espera-se que os trabalhadores urbanos das funções 
mais modestas tenham no mínimo condições de ler e entender avisos, ordens, 
instruções. Para as funções qualificadas, exigem-se pessoas capazes de usar 
a leitura e a escrita para obter e transmitir informações para comunicar-se, 
para registrar fatos. Daí a responsabilidade da escola, especialmente da 
escola pública, de oferecer oportunidades de alfabetização e letramento a 
todos. (CARVALHO, 2011) 
 
 
 
 
 
Para os requisitos dos novos campos de trabalho, não bastava apenas ter 
força braçal, era exigido que o trabalhador apresentasse um mínimo de 
entendimento e compreensão de comandas, isto é, leitura e escrita básicas. 
O cidadão que até então não percebia a importância de saber ler e 
escrever, por não ter tido contato com a linguagem escrita, se vê diante da nova 
necessidade intelectual. Logo, se inflam as salas de aula com jovens e adultos 
que nunca tiveram contato com as letras. Em primeira instância, você pode 
pensar que, enfim, fora dada importância ao cidadão e seu acesso à leitura e à 
escrita, infelizmente o que poderia ser um bom dado estatístico para o país torna-
se um grande problema e pauta de muitas discussões a respeito das formas de 
ensinar. 
O incentivo à educação e ao trabalho voltado às pesquisas nesta área 
foram escassos no decorrer da história da educação até então, e, assim, as 
escolas da época esbarraram em um problema sem saber a forma de solucioná-
lo. O trabalhador braçal que veio em grande parte do campo tentava uma 
colocação no mercado de trabalho, e mais do que isso, condições de se instalar 
na cidade. A realidade do trabalhador era ir à classe de alfabetização depois de 
longas e exaustivas horas de trabalho. Ao chegar à escola, tinham contato com 
as cartilhas
descontextualizadas de sua realidade, com ensinamentos didáticos 
baseados no “Ba Be Bi Bo Bu”. 
Parte dos alunos compreendia o código escrito e, logo, começaram a 
utilizá-lo em seu cotidiano, incluindo a compreensão de comandos no local de 
trabalho. Contudo, era grande a parcela dos alunos que deixavam a escola sem 
conseguir compreender a leitura escrita. 
Sem valorizar a educação, sem pesquisas e novas didáticas, o centro do 
problema existente passou a ser a forma como o professor ensinava. Deu-se 
início a várias discussões avaliando os métodos utilizados na época. 
 
 
 
 
 
 
 
Síntese 
Nesta aula, você pôde saber um pouco mais do cenário histórico que se 
constituiu a alfabetização no mundo, valorizada a partir da escrita primitiva até a 
constituição do código escrito e sua socialização. Vimos a história da 
alfabetização, assim como as formas de ensinar desenvolvidas no Brasil até 
meados da década de 90. 
Você viu que muito do atraso tido na educação atual é herança de um 
extenso período de abandono e descaso com a situação educacional, pouco 
investimento em ensino público, assim como, por muitos anos, não quererem a 
ascensão das classes mais desfavorecidas. 
 
Atividades de Aprendizagem 
Você viu, nesta aula, alguns dos descasos com a educação brasileira De acordo 
com o que aprendeu, o que precisaria ser feito para que tivesse educação com 
qualidade para todos os cidadãos? 
 
 
 
 
 
 
Aula 4 – Métodos de alfabetização utilizados no Brasil 
 
Fonte: Deposito Photos (2018) 
 
 
Nesta aula, você vai ver quais são os métodos de alfabetização utilizados 
no Brasil desde o período colonial até as formas sugeridas e usadas atualmente. 
Estudaremos a importância e o reflexo desses métodos na educação atual, de 
acordo com os estudos de importantes nomes da educação. 
 
 
 
 
 
 
 
Métodos de alfabetização 
 
Vamos iniciar a aula refletindo: o que são métodos de ensino e o quão 
distante eles são de nossa vivência? 
 
Método, normalmente nos remete a algo organizado, que possa ser 
padronizado e seguido. Na ação de alfabetizar, é muito comum utilizar 
sequências de ações caracterizadas no método tradicional, recorrendo à 
memorização e treinos até que se alcance o objetivo de identificar as letras, 
depois saber reproduzi-las e, por fim, juntá-las formando palavras. 
Essa forma de ensinar foi permanente por séculos no Brasil, utilizada 
desde o modelo jesuíta, tendo continuidade nas cartilhas e ainda presente, em 
partes, no ensino atual. Conhecendo um pouco mais de como se configura cada 
método, você poderá elaborar suas críticas e visão sobre a forma de alfabetizar. 
 
Método Sintético 
O método sintético parte de um grau de dificuldade considerado menor 
para o entendimento de quem está iniciando o aprendizado da leitura e da 
escrita, por isso pode, a princípio, ser colocado como um dos mais rápidos, 
simples e antigos métodos de alfabetização. 
 
Sintético: criado de maneira resumida. Tende a ser artificial. 
 
 
Neste método, parte-se do ensino das estruturas menores de uma palavra 
para, então, progressivamente, elevar os níveis de dificuldade até chegar à 
leitura e à escrita. 
Dentro do sistema de progressão, o estudo é iniciado pelo 
reconhecimento das vogais; depois, consoantes; junção para a formação de 
sílabas; e a formação de palavras. Existe a fixação do som e da grafia de cada 
 
 
 
 
letra; depois, de cada sílaba, até que sejam compostos o alfabeto e as “famílias 
silábicas” em seus vários formatos, conhecidos por: 
 
 
 
Tendo o domínio dos sons pertinentes a cada letra, independentemente 
do formato a qual ela esteja, o aluno pode começar a juntá-las para a formação 
de sílabas e pequenas palavras. Apresar da decodificação das letras e da 
capacidade de formação de palavras, a produção e a leitura de textos ainda 
ficam em grau mais elevado e de maior complexidade dentro deste formato de 
ensino. 
Ao aprender pela decodificação de pequenas partes, o aluno se 
condiciona a ter sempre a mesma linha de pensamento em que B mais A 
resultará sempre em BA, limitando a criação ou mesmo a leitura de outras 
palavras com maior complexidade, como, por exemplo, na palavra “BRAsileiro”, 
até que o professor explique essa nova etapa. 
A leitura iniciada pelo método sintético é normalmente mais pausada, não 
pelas vírgulas ou pontos, mas pelo processo de assimilar o som fragmentado por 
silabas. 
Letra
Bastão / 
Caixa-alta
Script
Cursiva 
Minúscula
Cursiva 
Maiúscula
 
 
 
 
Na contramão das críticas ao método sintético, temos um aluno com bom 
reconhecimento da grafia e ortografia, devido às repetições e treinos até atingir 
a capacidade oral e escrita. 
Fazem parte do método sintético: 
 
Alfabético: o mais antigo e conhecido método de alfabetização no Brasil, 
muito popular pelo uso das cartilhas de alfabetização. Seu estudo é iniciado pelo 
conhecimento das letras do alfabeto e suas junções silábicas, seguindo a ordem 
alfabética. 
 
 
Clique aqui para ver primeira cartilha a abordar o método alfabético. 
 
 
É conhecido também por método da soletração, por compor partes 
pequenas de uma palavra, fazendo a leitura soletrada e depois silabada até que 
se tenha domínio total da leitura. 
 
Fônico: bastante presente nos sistemas educacionais da Europa e 
também no ensino americano, o método fônico diferencia-se pela relação direta 
entre fonemas e grafemas, ou seja, entre o som da fala e a escrita, existindo o 
entendimento de que o que é falado também é escrito. Neste sistema, são 
apresentados antes os sons das vogais em suas diferentes pronúncias; depois, 
as consoantes, tratadas aqui como letras auxiliares das vogais. 
Se aliado com mais formas de alfabetização, o método fônico tem uma 
participação efetiva no entendimento da composição das palavras, trabalha o 
percurso do som emitido por cada letra na boca, mostrando o movimento de 
lábios e língua, como demonstrado na imagem a seguir. 
http://educacaodialogica.blogspot.com/2016/12/metodos-de-alfabetizacao-metodo-global.html
 
 
 
 
 
Figura 4.1: Ilustração representando a posição da língua ao emitir vogais 
Fonte: © Wikimedia Commons (2018) 
 
 
Silábico: pode ser considerado o método mais utilizado nas escolas 
brasileiras, defendido por ser de fácil compreensão, pois inicia o trabalho pelas 
partes menores da palavra. A princípio, o método era utilizado nas cartilhas de 
alfabetização; depois da apresentação das vogais, eram formadas as sílabas e 
depois compostas palavras. 
Apesar do método trabalhado nas cartilhas já não ser mais tão requisitado 
ou famoso, a silabação ainda é bastante presente dentro do material pedagógico 
usado na alfabetização. Foram acrescentadas a ele novas maneiras de se 
trabalhar, como, por exemplo, mais ludicidade e exercícios mais elaborados, 
como a troca de sílabas para compor uma nova palavra. No entanto, ainda se 
configura como a divisão das palavras em sílabas e sua composição a partir 
delas. 
 
Método Analítico 
Ao contrário do Método Sintético de alfabetização, a forma analítica 
trabalha com o conceito de começar pelo todo para, só depois, passar ao 
conhecimento das palavras pela divisão das partes, sílabas e letras. Segue pela 
linha de pensamento de Nicolas Adam, que, utilizando de uma metáfora simples, 
explica que ao apresentar um casaco para uma criança, apresenta-o somente 
como casaco e não pelas suas partes, apresentando separadamente as 
 
 
 
 
mangas, golas, botões, bolsos ou corpo. Assim também deve ser a apresentação 
da escrita a partir da fala, mostrando o texto como um todo e depois partir para 
as partes menores. 
Se partir do ponto de vista que a criança desenvolve sua primeira 
linguagem pela observação das pessoas a sua volta, fazendo assimilações e 
balbucios de repetições de falas prontas, formando aos poucos seu vocabulário, 
temos os estudos voltados ao tema e
defesa da Teoria do Sincretismo Infantil, 
de Henri Wallon, por volta de 1920. Segundo ele, a criança pensa influenciada 
por dois fatores, pela capacidade cognitiva e pelas referências e informações 
que recebe do meio. 
A não capacidade de distinguir todas as informações recebidas do meio, 
unindo-as para compor uma resposta lógica ou conhecimento, gera na criança a 
necessidade de fazer suposições, muitas vezes resultando nas consideradas 
“pérolas”, por nós adultos. Essa elaboração de pensamento para criar respostas 
para um mundo ainda não totalmente assimilado é o que pode ser chamado de 
sincretismo infantil. 
O Método Analítico se compõe em: 
 
Palavração: se constitui em associar a grafia da palavra a uma imagem 
de figura. Após fazer a relação entre ambas, a proposta é elaborar pequenas 
frases e textos utilizando palavras já trabalhadas. O trabalho pode ser 
desenvolvido também sem a associação de figuras às palavras trabalhadas, 
fazendo uso de listas de palavras já conhecidas pelos alunos. Nesse caso, a 
partir das listas, são utilizadas as palavras na formação dos textos. 
A decomposição de cada palavra não tem caráter obrigatório no método 
de palavração, podem ser escolhidas algumas palavras com objetivo de mostrar 
o processo de divisão por partes e sílabas e a partir das sílabas conhecidas 
originar a criação de novas palavras. 
Assim como os demais métodos quando aplicados sozinhos, o uso 
somente do processo de palavração pode resultar na elaboração de frases e 
textos desconexos, com pouco conteúdo ou mesmo sem contexto. A leitura, 
assim como pela forma silábica, pode se tornar cansativa e não motivadora, no 
 
 
 
 
entanto, existe maior interação do aluno com o que está sendo ensinado, 
podendo utilizar palavras conhecidas de imediato sem ter que passar por todo o 
processo de decodificação do alfabeto. 
 
Sentenciação: o aprendizado é feito com sentenças prontas, frases 
feitas, e, a partir do conhecimento da ordem da frase, o reconhecimento das 
palavras que a compõem; pode-se destacar palavras principais para 
memorização mais prática. Depois de reconhecidas as palavras que compõem 
a frase, são aprimorados os conhecimentos a respeito da palavra em destaque, 
decomposição em silabas, formação de novas palavras e frases. 
Um exemplo de trabalho de sentenciação é a configuração de pequenos 
poemas e parlendas, trabalhadas com rimas, assimilando cada palavra por vez: 
“O rato roeu a roupa do rei de Roma”. 
As palavras podem ser substituídas por outras, pode ser incentivada a 
organização das frases da parlenda atentando-se para o primeiro significado 
explicado pelo professor. 
O método permite a interação com o conteúdo proposto, aparece de uma 
forma menos estatizada, mas precisa contar também com a criatividade do 
professor que fará a mediação e a apresentação de novas possibilidades com 
outros temas constantemente. 
 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
 
 
 
 
 
Contos ou método de histórias 
O método de histórias, também conhecido como método de contos, 
trabalha a alfabetização na visão de que a criança aprende a escrever, 
escrevendo, e a ler, lendo, ou seja, aprende por estar inserida em um contexto 
onde a leitura e a escrita são usadas e estimuladas. Presente na forma de 
ensinar do educador francês Freinet, o qual apresentou seu estudo como Método 
Natural, a criança faz observações de seu mundo e tenta efetivar sua 
comunicação escrita, pode originar desenhos e garatujas simbolizando as letras 
vistas no mundo da escrita e, progressivamente, a cópia do próprio nome, de 
palavras, até chegar a sua produção. 
 
Celetin Freinet, (1896 – 1966) foi um educador francês que ficou 
conhecido pelo trabalho diferenciado que fazia, seu público eram 
crianças e jovens das classes mais pobres. Muitos profissionais 
realizam técnicas desenvolvidas por Freinet sem saber que partiram de seus 
estudos, um exemplo são as “aulas passeio” criada por ele e tão presente na 
didática atual. Para o educador, a aprendizagem acontece por meio da vivência. 
A pedagogia de Freinet se fundamenta em quatro eixos: cooperação, 
comunicação, documentação (conhecida pelos diários feitos por seus alunos) e 
afetividade, este último caracteriza muito do que Freinet percorreu em sua vida 
como educador. 
 
O método de histórias ficou conhecido no século XX, mas não foi usado 
em grande escala no Brasil por ser entendido como uma forma de ensinar muito 
avançada para o ensino da época. Uma das dificuldades trazidas pelos 
professores diante deste método é a falta de suporte presente no livro didático, 
o que gerava certa insegurança no trabalho desenvolvido. 
No Brasil, a maior ênfase do trabalho do francês ocorreu em Minas Gerais, 
onde foram desenvolvidos materiais específicos para seu trabalho “O livro de 
Lili”, por exemplo, é um dos materiais utilizados na formação de alfabetizadores 
no período de 50 anos (1920 – 1970). 
 
 
 
 
 
Clique aqui para ver um pouco mais sobre “O livro de Lili”. 
 
 
O método de histórias segue a linha de apresentação de histórias prontas 
e de fácil assimilação e memorização dos fatos pelas crianças ou mesmo a 
produção de histórias coletivas com base em acontecimentos vivenciados por 
elas no cotidiano escolar. A produção dos textos a serem trabalhados pode partir 
de inúmeras fontes e contribuem com a motivação em aprender ao participar da 
criação das aulas. 
O método também passa pelas fases da sentenciação, palavração e 
separação em sílabas, continua sendo bastante utilizado no Brasil, na grande 
maioria não de forma isolada, como no caso do “Livro de Lili”, mas como 
composição às aulas, promovendo aulas mais participativas e com produções 
escritas a partir da criação de textos ou memorização e assimilação para 
desenvolver o próximo passo do trabalho, como é o exemplo dos “contos de 
acumulação”. 
 
É importante saber em que “mundo” a criança está inserida, ou seja, 
saber se ela tem acesso ao mundo letrado e qual a qualidade do e 
quantidade de material ofertado a ela. 
 
Movimento Escola Nova 
O Movimento da Escola Nova, conhecido também como Escola Ativa ou 
Escola Progressiva, teve origem na Europa, no final do século XIX, e ganhou 
força na metade do século XX. Defendia a renovação no campo da educação, 
debatendo com o método tradicional de ensino em que a criança apenas realiza 
a cópia e memorização de conhecimentos. 
Na proposta da Escola Nova, o aluno precisa ter autonomia para realizar 
hipóteses, segundo John Dewey (1859 – 1923), pedagogo e filósofo americano, 
https://lndufmg.wordpress.com/2014/08/21/o-abc-do-abc-como-as-criancas-aprendem-a-ler/
 
 
 
 
idealista do movimento e influenciador na América, a educação é uma 
necessidade social, para ele, a escola não deve ser uma preparação para a 
vida, mas a própria vida. 
A partir do princípio da experiência de vida como ponto de partida para 
aprendizagem, a capacidade de aprender é defendida pelo seu caráter biológico, 
devendo ser respeitada como direito de todos, possibilitando a qualquer 
indivíduo ser o sujeito de sua própria aprendizagem e podendo desenvolvê-la 
conforme capacidade e não de acordo com a classe social a que pertence. 
A defesa da autonomia do aluno em seu processo de aprendizagem está 
ligada aos novos avanços científicos da biologia e psicologia, em estudos de 
Jean Piaget, por exemplo, importantes nomes e teorias que mudaram a forma 
de pensar o aluno dentro do sistema de ensino. 
 
Escola Nova no Brasil 
 
Figura 4.2: Anísio Teixeira 
Fonte: © Wikimedia Commons (2018) 
 
 
 
 
 
 
 
Depois de 43 anos da Proclamação da República, o sistema de ensino 
brasileiro ainda não tinha uma organização que atendesse às necessidades 
educacionais com vista à modernização esperada para o país. Apesar dos 
conceitos de a Escola Nova terem sido trazidos por Rui Barbosa, em 1882, com 
o intuito de preparar a população para atuar
no novo mercado de trabalho em 
constante evolução com a industrialização, o movimento ganhou forças a partir 
de 1932 com o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova – A reconstrução 
educacional no Brasil: ao povo e ao governo”. 
O manifesto tratava de um conjunto de princípios para reforma do sistema 
educacional brasileiro, composto por 26 educadores e intelectuais da época, 
como Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Cecília Meireles e Fernando de Azevedo, 
quem redigiu o documento. 
É importante entender o contexto que ocasiona essa tomada pela 
educação. Alguns anos antes, em 1924, temos a criação da Associação 
Brasileira de Educação, que realizava encontros de educadores em prol da 
discussão de alternativas para os problemas do ensino brasileiro. Em seguida, 
no ano de 1930, temos importantes mudanças políticas com a posse do governo 
provisório de Getúlio Vargas, o qual propôs reformar o sistema educacional 
brasileiro. 
Em 1931, em um encontro da Associação Brasileira de Educação, surgiu 
a ideia de apresentar ao governo sugestões pertinentes à área educacional. A 
partir das discussões sobre as propostas que seriam apresentadas, destaca-se 
a elaboração do documento em formato de manifesto. Em sua composição, por 
exemplo, está: 
 
 
 
 
 
 
 
Princípio da escola nova de educação 
igual para todos e não a uma minoria 
privilegiada, como ocorreu por anos. 
 
 
 
 
 
Com objetivo de retirar a população do estado de marginalização 
social e da situação de miséria, o texto propunha o ensino obrigatório e 
custeado pelo governo até os dezoito anos de idade. Dentre as sugestões, 
também se destacavam o pedido de criação de fundos de arrecadação para a 
educação, a criação de universidades e a reivindicação de uma verdadeira 
reconstrução do ensino brasileiro, que auxiliaria na formação e construção de 
sociedade mais justa. 
As propostas feitas no Manifesto, apesar de não terem sido colocadas 
todas em prática, foram de grande valia para a educação brasileira na 
composição de sua história. Diversas mudanças ocorreram já no ano de 1934, 
como o direito e a obrigatoriedade da inserção de todas as crianças com idade 
compatível aos quatro anos iniciais do Ensino Médio; firmou-se a obrigatoriedade 
do recolhimento de impostos destinados à educação; houve a criação de 
universidades, entre outros. 
Como disse, nas décadas seguintes, discussões e avanços trazidos no 
ápice da criação do manifesto foram perdendo força gradativamente, por um lado 
ganhava-se o acesso da população ao sistema de ensino; por outro, ainda não 
se garantia a qualidade no ensino-aprendizado. 
 
Mudança de foco 
Em meados da década de 70, temos a importante entrada dos estudos da 
Psicologia na área da educação, cuja mudança é notável às pesquisas: sai o 
“como se ensina” para o “como se aprende”. Sendo assim, o aluno ganha 
destaque no processo de aprendizagem. 
 
A mudança de foco se dá a partir dos estudos de Jean Piaget e da psicolinguista 
Emília Ferreiro, os quais não revelam nenhum método novo de ensino, mas 
desvendam mecanismos de como a criança aprende. 
 
 
 
 
 
 
 
Para Piaget, a aprendizagem é um processo gradual que precisa de 
ser respeitado, a criança assimila novos conhecimentos e faz uma 
reorganização e acomodação daquilo que já conhecia com o novo aprendizado. 
O processo cognitivo passa por essas etapas diversas vezes e leva tempo em 
cada uma delas, considerando que o tempo é diferente de uma criança para 
outra. 
Diante dos saltos cognitivos necessários para o processo de 
aprendizagem, surge o “olhar diferenciado” ao aluno, pois até então muito se 
discutia do porquê de a criança não aprender. Eram culpabilizados os métodos 
e os professores, buscavam-se novos materiais com formas melhores de 
ensinar, mas não se enxergava a capacidade de o aluno aprender. 
Os estudos de Emília Ferreiro no Brasil ganharam prestígio entre 
educadores e governo, sendo aplicados até mesmo nos Parâmetros Nacionais 
Curriculares. Apesar de não apresentar nenhum método para trabalhar, ao 
contrário disso, criticava o sistema tradicional de ensino e o uso das famosas 
cartilhas, abre novos leques para a educação e a alfabetização. Ganhavam-se 
salas de aulas e conteúdos mais interativos, atividades estimulantes, alunos 
participativos e professores observadores e mediadores do conhecimento. 
O novo foco enfatiza a teoria Construtivista de ensino, confundida com 
método de ensino para muitos, contudo, ela não se caracteriza e também não 
tem como propósito o método. Para o Construtivismo, o conhecimento não é 
único e nem acabado, não existe uma única forma de aprender, assim como não 
existe um limite, um ponto final. O aprendizado tem caráter significativo, 
construtivo e duradouro. 
 
Síntese 
Nesta aula, você pôde compreender a história da alfabetização desde os 
primeiros rudimentos da escrita e entender a função social desse mecanismo 
comunicacional. Você viu também as interfaces do nosso sistema de ensino, 
 
 
 
 
desde o descaso, tanto com a população quanto ao interesse em desenvolver 
um sistema concreto e eficaz. 
Ao estudar a história, é possível analisar melhor o que foi construído, 
assim como ter parâmetros para desenvolver a alfabetização em sala de aula. 
Talvez em meio a tantos métodos já usados e estudados não seja possível 
escolher somente um para a prática pedagógica, mas já temos ciência que toda 
forma de ensinar deve promover a participação e o desenvolvimento do aluno. 
 
Atividades de Aprendizagem 
A história da alfabetização brasileira passou por vários momentos, como, por 
exemplo, os anos de abandono que deixaram uma herança de analfabetismo em 
nossa população. Depois do estudo dos diversos métodos utilizados para 
alfabetizar e as críticas a cada um deles, chegou a sua vez de fazer a análise 
crítica de um livro didático. Você deve observar: 
 Apresentação, letra utilizada, percepção de um ou mais métodos 
dentro da concepção e trabalho proposto no livro. 
 Verifique também qual foi a linguagem utilizada. 
 
 
 
 
 
 
Aula 5 – Elementos psicolinguísticos relacionados à 
alfabetização 
 
Fonte: Deposit Photos (2018) 
 
O século XX foi marcado por importantes mudanças na área educacional, 
por diversas influências relacionadas à modernização mundial, a educação e a 
forma como ela é trabalhada passou a receber novos olhares. Como vimos na 
aula anterior, os estudos da psicologia foram voltados à observação de como o 
aluno aprende. 
Nesta aula, veremos como os estudos de Jean Piaget e Emília Ferreiro se 
desenvolveram na defesa dos mecanismos de aprendizagem do aluno. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Psicogênese da escrita e da leitura 
Para iniciar esta aula, é importante compreender o significado dos 
termos que abordaremos no decorrer deste estudo. Vamos às 
definições: 
 
Psicologia 
 
Ciência que se dedica aos processos mentais ou comportamentais do ser 
humano e de suas implicações em certo ambiente. Reunião dos elementos, 
mentais ou comportamentais, que caracterizam uma pessoa ou um grupo. 
A psicologia se dedica a estudar o ser humano por sua capacidade mental 
e seu comportamento, logo, observa as relações do indivíduo interna e 
externamente, assim como sua interação com a sociedade em que vive. A partir 
do conceito apresentado, fica fácil compreender como a psicologia passou a ser 
grande aliada na área educacional, trazendo compreensões ainda 
desconhecidas no meio pedagógico. 
 
 Psicogênese 
 
Segundo o glossário da CEALE, o termo psicogênese pode ser 
compreendido como origem, gênese ou história da aquisição de conhecimentos 
e funções psicológicas de cada pessoa, processo que ocorre ao longo de todo o 
desenvolvimento, desde os anos iniciais da infância, e aplica-se a qualquer 
objeto ou campo de conhecimento. 
A Psicogênese será de grande valia no estudo sobre as contribuições de 
Emília Ferreiro

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