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DIABETES MELLITUS TIPO 2 1 DIABETES MELLITUS TIPO 2 Tags ESTUDADO ABERTURA Coord/Relator Jucier/Illana FECHAMENTO DIABETES MELLITUS TIPO 2 Os pacientes com DMT2 normalmente produzem insulina, mas suas células não conseguem utilizá-la adequadamente devido à diminuição da sua ação, quadro caracterizado como resistência à insulina. Dessa forma, não há efetiva ação hipoglicêmica da insulina e a diminuição da captação de glicose pelas células resulta no aumento da produção de glicose hepática, o que colabora ainda mais com o aumento da glicemia e se associa com altos níveis de insulina no sangue. EPIDEMIOLOGIA A prevalência global de diabetes atingiu 9,3%, com mais da metade (50,1%) dos adultos não diagnosticados, com o diabetes tipo 2 sendo responsável por cerca de 90% de todas as pessoas com diabetes. No Brasil entre 12-13%. Além disso, estudos entre 30-60% não sabem de seu diagnóstico: doença oligosintomárica e silenciosa até certo ponto. O diabetes foi responsável por cerca de US $ 760 bilhões em gastos com saúde em 2019 e está entre as 10 principais causas de morte, com quase metade ocorrendo em pessoas com menos de 60 anos. Um em cada seis nascidos vivos é afetado por hiperglicemia na gravidez. Grande parte do aumento na prevalência se dá à elevação do número de casos tipo II em paralelo à pandemia da obesidade. Aumento de 3%/ano do tipo I entre os menores de 15 anos. No Brasil foi de 7/100.00 0 hab ao ano. A idade de maior incidência do DM2 em jovens é próxima de 13 anos, tendo relação com o estágio III da classificação de Tanner e uma proporção de 2:1 (meninas em relação a meninos). ETIOLOGIA Acredita-se que o diabetes tipo 2 seja causado por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. @August 5, 2022 @August 9, 2022 DIABETES MELLITUS TIPO 2 2 Causas genéticas – Muitas pessoas com diabetes tipo 2 têm um membro da família com diabetes tipo 2 ou outros problemas médicos associados ao diabetes, como níveis elevados de colesterol e triglicerídeos, pressão alta ou obesidade. O risco ao longo da vida de desenvolver diabetes tipo 2 é 5 a 10 vezes maior em parentes de primeiro grau (ou seja, irmão ou filho) de uma pessoa com diabetes em comparação com uma pessoa sem histórico familiar de diabetes. A probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2 é maior em certos grupos étnicos, como pessoas de ascendência hispânica, africana e asiática. Fatores de estilo de vida – Hábitos dietéticos e inatividade física, que contribuem para a obesidade, o que aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2. Gravidez - Um pequeno número de mulheres grávidas desenvolve diabetes durante a gravidez, chamado de "diabetes gestacional". O diabetes gestacional é semelhante ao diabetes tipo 2, mas geralmente se resolve depois que a mulher dá à luz. As mulheres que desenvolvem diabetes gestacional durante a gravidez têm maior risco de desenvolver diabetes tipo 2 mais tarde na vida. FISIOPATOLOGIA A resistência à ação da insulina a nível do músculo e do fígado e o compromisso na secreção de insulina pelas células β dos ilhéus de Langerhans são os principais defeitos fisiopatológicos envolvidos na génese da diabetes tipo 2. A menor capacidade secretora é o resultado da morte celular programada (apoptose) das células β, do efeito de glicotoxicidade e lipotoxicidade sobre as células β remanescentes e da resistência daquelas à ação estimulatória do péptido 1 semelhante ao glucagon (glucagon-like peptide 1 [GLP-1]). Por outro lado, a diabetes tipo 2 caracteriza-se pela presença de uma hiperglucagonemia relativa (níveis de glucagon mais elevados do que seria presumível face aos níveis de glicose circulante) e um aumento na sensibilidade hepática ao glucagon, resultando em aumento na produção hepática de glicose. A insulinorresistência periférica, a nível dos adipócitos, resulta em aumento da lipólise e consequente aumento dos níveis de ácidos graxos livres circulantes (FFA). Estes vão agravar a resistência à ação da insulina a nível muscular e hepática e exercem um efeito tóxico (lipotoxicidade) sobre a capacidade secretora das células β pancreáticas. A maior reabsorção renal de glicose por aumento da atividade dos cotransportadores tipo 2 de sódio-glicose (SGLT2), com consequente aumento do limiar renal de glicose, contribui para o aumento da glicemia. Também, o processo inflamatório subclínico e a resistência vascular à ação vasodilatadora da insulina (com compromisso na chegada da glicose e da insulina aos tecidos) comprometem a normal resposta à ação da insulina, a nível dos vários tecidos e órgãos-alvo. Por outro lado, DIABETES MELLITUS TIPO 2 3 também se verifica uma resistência à ação inibidora do apetite exercida pela insulina, leptina, GLP-1, amilina e péptido YY, bem como uma diminuição nos níveis de dopamina e aumento nos de serotonina a nível do sistema nervoso central (SNC) contribuem para o aumento de peso, exacerbando a insulinorresistência, consequentemente a diabetes mellitus tipo 2. FATORES DE RISCO História familiar de diabetes mellitus em parente de primeiro grau Raça/etnia de alto risco (por exemplo, descendência africana, latina, asiática ou nativa americana) Estilo de vida: fatores comportamentais como sedentarismo, dieta, tabagismo, consumo de álcool, peso corporal, e duração do sono. Hipertensão Dislipidemia (HDL colesterol < 35 mg/dℓ e/ou triglicerídeos > 250 mg/dℓ) História de doenças cardiovasculares Síndrome dos ovários policísticos (mulheres) Obesidade Idade ≥ 45 anos Diagnóstico prévio de intolerância à glicose História de diabetes mellitus gestacional ou macrossomia fetal MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DIABETES MELLITUS TIPO 2 4 Diagnóstico costuma ser tardio, uma vez que muitos pacientes passam anos ou mesmo décadas assintomáticos. O reconhecimento da doença só é feito quando lesões de órgão-alvo já estão presentes e são irreversíveis. Raramente a cetoacidose diabética consiste na manifestação inicial do DM2 Sintomas de hiperglicemia → Poliúria, polidipsia e perda de peso inexplicada. Às vezes, o diagnóstico é firmado na vigência de um estado hiperosmolar não cetótico (Complicação metabólica aguda mais característica do DM tipo 2. A baixa concentração de insulina no paciente DM tipo 2 o protege de evoluir para uma cetoacidose, porém, o desbalanço entre hormônios contrainsulínicos permite o aumento exagerado da produção hepática de glicose (gliconeogênese), deixando o paciente com hiperglicemia) Um importante sinal clínico é a acantose nigricans (ou nigricante): Acantose nigricans é uma lesão cutânea hiperpigmentada e de aspecto aveludado que predomina em áreas de dobra cutânea (ex.: axilas, virilhas, pescoço). Sua gênese provém da estimulação de queratinócitos e fibroblastos da pele (pela hiperinsulinemia, nos casos de resistência à insulina, ou pela secreção ectópica de fatores de crescimento, no caso das neoplasias) SÍNDROME METABÓLICA E COMPLICAÇÕES A diabetes tipo 2 tem, na sua fisiopatologia, uma alteração na resposta periférica à ação da insulina e encontra-se, frequentemente, associada a outras condições associadas a insulinorresistência: obesidade de tipo central; hipertensão arterial; dislipidemia aterogênica; esteatose hepática/esteato-hepatite não-alcoólica e aceleração no fenômeno aterogênico, entre outras. A maior probabilidade de apresentação concomitante, num mesmo indivíduo, de patologias que têm na insulinorresistência o seu denominador comum, deu origem ao conceito de síndrome metabólica. A marcada associação entre obesidade e diabetes tipo 2 traduz-se na evidência de que, após a influência da hereditariedade, a primeira condição seja o principal fator de risco para o aparecimento da segunda. Por outro lado, mais de 80% das pessoas com diabetes tipo 2 apresenta obesidade/pré-obesidade. A diabetes tipo 2 também pode ocorrer como parte de várias síndromes hereditárias, incluindo as síndromesde Turner, Klinefelter, Prader-Willi, Down e Wolfram, entre outras. Os defeitos genéticos e metabólicos envolvidos são heterogéneos mas, geralmente, resultam em deficiência da função das células β pancreáticas. A insulinorresistência secundária à obesidade (condição frequentemente associada a muitas dessas síndromes) também contribui. COMPLICAÇÕES AGUDAS DO DIABETES DIABETES MELLITUS TIPO 2 5 Crises Hiperglicêmicas a) Cetoacidose Diabética (CAD) b) Estado Hiperglicêmico Hiperosmolar (EHH) COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES MICROVASCULARES (Retinopatia - Nefropatia- Neuropatia) MACROVASCULARES (Doenças ateroscleróticas) DIAGNÓSTICO O diagnóstico de diabetes é baseado em seus sintomas e nos resultados de exames de sangue. Sintomas – Antes de serem diagnosticados com diabetes tipo 2, a maioria das pessoas não apresenta sintomas. Naqueles que têm sintomas, os mais comuns incluem: Necessidade de urinar com frequência, Sentindo sede, Visão embaçada Testes laboratoriais — O principal teste que os médicos usam para diagnosticar o diabetes é um teste de glicose no sangue (açúcar). Isso pode ser feito de várias maneiras diferentes: Teste aleatório de açúcar no sangue – Para um teste aleatório de açúcar no sangue, você pode coletar sangue a qualquer momento ao longo do dia, independentemente de quando comeu pela última vez. Um nível aleatório normal de açúcar no sangue está entre 70 e 140 mg/dL (3,9 a 7,8 mmol/L). Teste de glicemia em jejum – Um teste de glicemia em jejum é um exame de sangue feito depois de não comer ou beber por 8 a 12 horas (geralmente durante a noite). Um nível normal de açúcar no sangue em jejum é inferior a 100 mg/dL (5,6 mmol/L). Teste de hemoglobina A1C – O teste de sangue "A1C" mede o nível médio de açúcar no sangue nos últimos dois a três meses. Os valores normais para A1C são de 4 a 5,6 por cento. O teste de A1C pode ser feito a qualquer hora do dia (antes ou depois de comer). Teste oral de tolerância à glicose – O teste oral de tolerância à glicose (OGTT) é um teste que envolve beber uma solução especial de glicose (geralmente com sabor de laranja ou cola). Seu nível de açúcar no sangue é testado antes de você beber a solução e novamente uma e duas horas depois de beber. Por causa de sua inconveniência, o OGTT não é comumente usado para testes, exceto em mulheres grávidas. Critérios para diagnóstico — Os critérios a seguir são usados para classificar seus níveis de açúcar no sangue como normais, de risco aumentado (níveis de açúcar no sangue maiores que o normal e indicam risco de diabetes no futuro) ou diabetes. Normal — A glicemia em jejum inferior a 100 mg/dL (5,6 mmol/L) é considerada normal, ou seja, não indica um risco aumentado de diabetes. DIABETES MELLITUS TIPO 2 6 Risco aumentado – Alguns resultados de testes colocam uma pessoa na categoria de “risco aumentado”, o que significa que corre o risco de desenvolver diabetes: 1. "Glicemia em jejum prejudicada" – Isso é definido como um nível de açúcar no sangue em jejum entre 100 e 125 mg/dL (5,6 a 6,9 mmol/L). 2. "Tolerância à glicose prejudicada" - Isso é definido como um nível de açúcar no sangue de 140 a 199 mg/dL (7,8 a 11 mmol/L) duas horas após um OGTT. 3. A1C – Pessoas com A1C de 5,7 a 6,4 por cento (39 a 46 mmol/mol) são consideradas de risco aumentado; a probabilidade de desenvolver diabetes tipo 2 é maior com níveis de A1C mais próximos do limite superior dessa faixa. Essas categorias de risco aumentado às vezes são chamadas de "pré- diabetes". Aproximadamente um em cada três adultos americanos pode ser classificado como tendo pré-diabetes. . Embora a taxa de progressão varie, aproximadamente 25% das pessoas com glicemia de jejum alterada ou tolerância diminuída à glicose desenvolverão diabetes tipo 2 em três a cinco anos. Exames utilizados para controle glicêmico: frutosamina, glicosúria, 1,5anidroglucitol, dosagem do peptídeo C TRATAMENTO O objetivo principal do tratamento do DM2 é diminuir ao máximo as complicações micro e macrovasculares. O tratamento deve ser multidisciplinar e compreender todas as suas necessidades, daí ser reconhecido nos livros como “comprehensive care”. Nesse ponto, podemos focá-lo em três pilares: Detecção de complicações; Controle da glicemia; Controle de outros fatores de risco cardiovasculares. As opções de tratamento para o DM2 incluem modificações no estilo de vida [MEV] (dieta, atividade física, perda de peso, cessação do tabagismo etc.) e medicamentos com diferentes mecanismos: agentes antidiabéticos orais (biguanidas, sulfonilureias, inibidores da DPP -4, glinidas, glitazonas, inibidores da α-glicosidase, inibidores do cotransportador de sódio e glicose2 [SGLT-2]), análogos do GLP-1 e insulinas. b) ANTIDIABÉTICOS DIABETES MELLITUS TIPO 2 7 Drogas que reduzem a resistência insulínica: Biguanidas (Metformina) Drogas que estimulam as células beta a secretar mais insulina: Sulfonilureias Drogas que reduzem ou retardam a absorção intestinal da glicose: Inibidores da α- glicosidase Drogas incretinomiméticas: análogos do GLP-1 PREVENÇÃO As pessoas com glicemia moderadamente elevada (hiperglicemia intermédia) estão em risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2. Tem sido demonstrado, de forma inequívoca, que intervenções intensivas no estilo de vida e intervenções farmacológicas são eficazes na prevenção (ou atraso) da diabetes tipo 2, em indivíduos de alto risco: – As intervenções sobre o estilo de vida (no comportamento alimentar e de atividade física), associadas a perda de peso corporal, podem reduzir o risco de diabetes tipo 2 em até 58%; – A terapêutica com metformina reduz o risco de diabetes tipo 2 em 26 a 31%; – A terapêutica com inibidores das α-glicosidases intestinais reduzem aquele risco em 25%; – A terapêutica com tiazolidinedionas está associada a redução de entre 55 a 72% na evolução para diabetes tipo 2. Na atualidade, é universalmente recomendado que todas as pessoas com maior risco de desenvolver diabetes tipo 2 devam otimizar o seu estilo de vida (em termos de hábitos alimentares e de atividade física). REFERÊNCIAS: BERTONHI¹, Laura Gonçalves; DIAS, Juliana Chioda Ribeiro. Diabetes mellitus tipo 2: aspectos clínicos, tratamento e conduta dietoterápica. Revista Ciências Nutricionais Online , v. 2, n. 2, p. 1-10, 2018. DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 2019-2020 NUNES, J. Silva. Fisiopatologia da diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2. Portugal P, editor, v. 100, p. 8-12, 2018. WEXLER, Deborah J. Educação do paciente: Diabetes tipo 2: visão geral (além do básico). UPTODATE, 2022.