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Avaliação da Saúde Financeira de uma Empresa Finanças Corporativas Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ AUTORIA André de Faria Thomáz Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas (2006); e mestre (2011) e doutor (2018) em Administração pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atuo como contabilista e como professor, nas modalidades presencial e a distância, nas áreas de auditoria contábil de departamentos, de finanças e de pessoal. Durante minha atuação como contabilista, tenho vasta experiência na área de Obrigações Acessórias e Obrigatórias. Por outro lado, ao longo de minha experiência como docente, além de ter sido coordenador de curso, lecionei, principalmente, as seguintes disciplinas: Contabilidade Básica; Economia; Planejamento e Contabilidade Tributária; Contabilidade de Custos e Análise de Custos; Gestão por Processos; Estrutura das Demonstrações Contábeis; Análise das Demonstrações; Contabilidade Gerencial; Teoria da Contabilidade; Contabilidade Intermediária; Contabilidade Internacional; Auditoria; Contabilidade Empresarial; Controle Interno; Matemática; Logística; Recursos Humanos; e Gestão de Risco. Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que se iniciam em suas profissões. Por isso, fui convidado a integrar o elenco de autores independentes da editora TeleSapiens. Estou muito feliz por poder ajudá-lo, aluno, nesta fase da vida de muito estudo e de muito trabalho. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Falências e Recuperações das Empresas ......................................... 10 Capital e Controle Acionário ..................................................................................................... 11 Registro Contábil dos Financiamentos ............................................................................ 19 Projeções de Balanços e Estruturas de Capitais ...........................23 Controle de Orçamento ..............................................................................................................24 Custo e Volume ................................................................................................................................27 Volume de Vendas, Custos e Lajir ...................................................................28 Volume de Vendas, Custos e Ponto de Equilíbrio ............................... 31 Margem de Contribuição........................................................................................33 Alavancagem Operacional e Ponto de Equilíbrio Contábil ...........34 Análises de Rotações e Liquidez ..........................................................38 Aquisição ou Incorporação ..................................................................................................... 38 Fusão ....................................................................................................................................................... 40 Cisão ......................................................................................................................................................... 41 Índices Patrimoniais e Estrutura ...........................................................43 Governança Corporativa: Conceito e Contribuições .............................................43 Conformidade das Práticas de Governança Corporativa ..................................47 7 UNIDADE 04 Finanças Corporativas 8 INTRODUÇÃO Você sabia que a gestão de financiamentos de curto e longo prazo auxilia na estruturação das fontes de capital que possibilita criar valor para a empresa. Mas você sabe se existe uma estrutura ótima de capital para as empresas? Se há uma composição de fontes de recursos que minimize o custo de capital total e que maximize o valor da empresa para os acionistas e para o mercado? Existem diferentes teorias sobre estruturação de capital. Dependendo da ótica, considera-se ou não que a estrutura do financiamento da empresa possa influenciar no custo total e na criação do valor. Na prática, indicadores podem ser calculados para este fim. De qualquer forma, para viabilizar suas operações, as empresas necessitam captar recurso, seja exclusivamente com fonte própria, ou pela composição com fonte de terceiros, sendo que cada uma destas fontes tem um custo relacionado. O capital próprio é remunerado com lucros e o capital de terceiros é remunerado pelos juros. O desafio da gestão do financiamento é racionalizar o uso destas fontes para obter o melhor resultado possível em termos de lucro econômico ou da geração do valor econômico agregado. Finanças Corporativas 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 4. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos, onde iremos juntos analisar e verificar como as atividades de financiamento influenciam e contribuem para o equilíbrio das finanças empresariais: 1. Compreender o cenário, contexto e consequências da falência e da recuperação judicial das empresas. 2. Interpretar as projeções econômicas das empresas com base nos principais indicadores extraídos do balanço contábil. 3. Analisar e interpretar a rotação e o índice de liquidez das empresas. 4. Identificar a robustez da estrutura de capitais e do balanço patrimonial de uma empresa. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Lembre-se vamos juntos na troca do conhecimento. Finanças Corporativas 10 Falências e Recuperações das Empresas OBJETIVO: A esta altura, sabemos que os financiamentos, se forem bem geridos, são capazes de ajudar na estruturação das diversas fontes de capital de uma empresa; e, também, que certas maneiras de empregar o capital, quando forem aplicadas aos nossos negócios, poderão ser mais eficientes do que outras. Mas, caro aluno, você saberia dizer-nos se alguma combinação específica das muitas fontes de capital pode resultar em custos de capital menores e em valor da instituição maior frente o mercado e os acionistas? Conforme estudaremos neste capítulo, as teorias que se debruçam sobre a estrutura de capital existem em considerável número e, a depender de sua perspectiva, podem, até mesmo, supor que a criação de valor no âmbito de uma empresa e que o custo total de suas operações não é afetados pela estrutura de capitais. Porém, em sua maioria, as teorias considerarão que, mesmo que seja mínima, essa interação existe e pode ser descoberta por meio de certos índices.. Existem diferentes teorias sobre estruturação de capital. Dependendo da ótica, considera-se ou não que a estrutura de financiamentodas empresas possa influenciar no custo total e na criação do valor. Em nossa lida cotidiana, poderemos calcular indicadores com a capacidade de nos revelar se isso acontece, de fato, no contexto em que atuamos. O importante é ter em vista que os recursos financeiros deverão ser incorporados às empresas de alguma maneira, seja por contra própria, seja por intermédio de terceiros, independentemente da via adotada, um custo impactará o fluxo de caixa. Enquanto gestores financeiros, caberá a nós avaliar as fontes de capital e disponíveis e escolher a equilibra os maiores benefícios e os menores custos. Bons estudos! Finanças Corporativas 11 Caro aluno, concorda conosco quando afirmamos que as empresas devem render aos seus proprietários, pelo menos, as suas menores expectativas de ganhos? Sim, essa afirmação é verdadeira e nos revela uma séria preocupação: para garantir, minimamente, os menores retornos projetados por seu proprietário, uma empresa dependerá de que capital seja investido em sua estrutura. Nesse sentido, a identificação de quais fontes de capital serão as melhores escolhas para o negócio será uma decisão que se baseará em um conhecimento profundo de todas as suas atividades financeiras. Durante esse processo de identificação, tomaremos, como base, o custo de capital, que resultará da combinação dos custos de oportunidade associados tanto ao uso de capital próprio quanto ao uso de capital de terceiros e ao custo médio ponderado de capital. Capital e Controle Acionário Como precisamos saber neste ponto de nossos estudos, o capital próprio de um negócio equivale aos seus recursos financeiros de longo prazo, os quais são desembolsados, em algum momento, pelos proprietários ou sócios do empreendimento. Geralmente, o aporte é registrado, no contrato social da empresa, como seu capital social. No caso de uma sociedade anônima de capital aberto, cujo capital social é convertido em ações ou cotas-parte (átomos do capital social da empresa), teremos duas fontes principal de capital próprio: vendas de ações preferenciais (sem direito a voto em assembleias, mas com prioridade no recebimento de dividendos); e capital de acionistas ordinários, que é composto pelas ações ordinárias (com direito a voto e a controle proporcional da companhia, mas preferência no recebimento de dividendos) e pela porcentagem de lucro retido (parte do lucro que é reinvestida, diretamente, nas operações da empresa, sem qualquer distribuições entre os acionistas, quer os preferenciais, quer os ordinários). Finanças Corporativas 12 De forma geral, os estudiosos das Finanças Corporativas assumem que o capital que resulta da emissão de ações de ordinárias é a forma mais onerosa de capital próprio, por ceder, em contrapartida ao aporte de recursos financeiros, parte do controle acionário organizacional. Em seguida, de acordo com Hoji (2010), temos a retenção de lucros e comercialização de ações preferenciais. Figura 1 – Negociação de ações no mercado Fonte: Pixabay. Embora seja um pouco mais difícil compreender isso, capital próprio tem, como dissemos acima, um custo associado: a taxa de retorno de cada um dos investimentos realizados ou por realizar das empresas, taxas com base nas quais é possível atingir e manter um valor específico para a sua cota-parte. Ainda de acordo com Hoji (2010), pode ser definido como o número que nos permitirá se o resultado de um investimento que consideramos realizar no presente representará aumento no valor da corta-parte. Caro aluno, isso ficou claro para você? NOTA: Tentaremos, então, informar isso de outro modo, garantindo que tudo seja compreendido por você. É inerente à atividade empresarial, seja qual for, a busca de meios de garantir a sobrevivência da organização no mercado, que experimenta uma fase de integração jamais vista. Até aqui, nada há de complicado, certo? Finanças Corporativas 13 Esses meios de garantir a sobrevivência da organização no mercado, em quase todos os casos os casos, tomam a forma de investimentos. Porém, não podemos realizar um novo investimento, comprometendo o capital próprio da empresa, se não tivermos algum indício de que renderá ganhos relevantes ao fim de um prazo. Muito menos, poderemos contratar capital de terceiros, cujos custos são, em média, superiores aos do capital próprio, para arcar com investimentos, a menos que os indícios de que lucraremos com isso sejam fortes. Por essas razões, devemos conhecer o custo associado ao uso do capital, que, como foi definido por nós, será a taxa de retorno de cada um dos investimentos realizados ou por realizar. Existem casos em que, em vista de obter lucratividade, os gestores financeiros podem decidir investir não na sua empresa, mas, sim, em organizações alheias. O principal motivo pelo qual isso acontece é a diversificação das operações da empresa investidora, o que, além de poder alcançar o lucro desejado, poderá ser uma maneira importante de combater as consequências das crises que, em certas situações, o mercado atravessar. Conhece, caro aluno, algum caso em que, para uma organização qualquer, pode ser mais proveitoso investir em outro nicho do mercado do que expandir as próprias operações? Por exemplo, isso pode ser interessante quando a economia do país estiver em recessão. Sendo assim, nos nichos que não tiverem sido impactados pela recessão – o que, pelo menos, tiverem sido pouco impactos e apresentarem boas taxas de crescimentos, poderemos encontrar companhias nas quais investir. Em consequência disso, conforme apontamos, diversificaremos nossa matriz de atividade, burlaremos o período de recessão e alcançaremos alguma margem de lucratividade. Finanças Corporativas 14 SAIBA MAIS: Sabemos que você conhece o conceito de investimento institucional, porque faz parte do conteúdo que estudamos. Então, se você prestou atenção, deve ter percebido que é desse conceito que falamos nos últimos parágrafos. Nesse sentido, os investimentos institucionais têm o poder de elevar o capital de empresas, proporcionando-lhes o fôlego necessário para crescer em momentos nos quais o seu nicho de mercado não estiver favorável. Quando as empresas que recebem investimentos institucionais são de pequeno porte, não é incomum que sejam engolidas pelo capital externo, porque as más condições do mercado financeiro a tornarão atrativas para as investidoras. Por outro, os investimentos institucionais podem ser direcionados a empresas maiores, que, proporcionalmente, converter-se-ão em partes menores dos seus ativos e, portanto, mais raramente, em controle das atividades organizacionais. Ambas as situações – investimentos de nossas instituições em empresas pequenas e em empresas grandes – resultarão em controle acionário quando somarem mais de 50% do total do seu capital social da empresa-alvo, tornando-nos a companhia que gerimos responsável por suas atividades. Exemplo Imaginemos um prédio qualquer de dez apartamentos; e que Ricardo, um único indivíduo, seja proprietário de seis apartamentos – 60% do total. Nesse contexto, será natural que, nas assembleias de condomínios, sejam acatadas as decisões de Ricardo, apesar da possibilidade de Aline, de Lúcia, de Pedro e de Roberto serem donos dos demais apartamentos. Acontece que, frente aos votos de Aline, de Lúcia, de Pedro e de Roberto, que serão quatro, Ricardo, por si só, terá seis e fará à tomada de decisões no condomínio. Considerando, mais uma vez, um prédio qualquer de dez apartamentos, vamos supor, agora, que Ricardo tem quatro apartamentos e que Aline é dona de outros três. Nesse novo contexto, Ricardo e Aline, juntos, serão proprietários de 70% dos apartamentos do prédio, sendo maioria absoluta em relação a Lúcia, a Pedro e a Roberto, que, Finanças Corporativas 15 individualmente, têm um apartamento. Portanto, Ricardo e Aline, se estiverem alinhados,terão o controle conjunto da administração do condomínio. Ao mesmo tempo, se Ricardo não for um bom vizinho, Aline finalizar sua aliança com ele e se unir a Lúcia, a Pedro e a Roberto, combatendo Ricardo nas assembleias. Em uma empresa, acontecerá como nos condomínios apresentados: a maioria dos acionistas ordinários vencerá as votações. Logicamente, qualquer empresa (ou conjunto de empresas) que detiver mais de 50% do capital de outra (que seja 50,01%) exercerá o seu controle administrativo, atuando como empresa controladora. Figura 2 – Controle administrativo conjunto Fonte: Pixabay. Caro aluno, vamos parar um instante, para refletir: o controle administrativo direto será o único meio pelo qual a empresa controladora poderá exercer seu poder sobre a empresa cuja maioria das ações detém? Não, caro aluno, o controle administrativo direto não é a única forma de a empresa controladora exercer poder sobre outras. Existe, ainda, o controle indireto, que não é muito bem-visto pelos demais acionistas da empresa controlada, por terem seus direitos prejudicados. Em caso de controle indireto, uma empresa investidora, por intermédio de uma das empresas que controla, adquire um número majoritário de ações de uma terceira empresária, controlando essa empresa por via da sua empresa intermediária. Finanças Corporativas 16 Figura 3 – Controle indireto Fonte: Carvalho (2021). Para que a organização de capital aberto se projeta de casos de controle indireto, existe um mecanismo chamado tag along. Basicamente, esse mecanismo estipula que os sócios minoritários da companhia terão direitos iguais aos dos acionistas majoritários. Isso está previsto está previsto na chamada Lei das S.A. (Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976) e é utilizado para garantir que os acionistas minoritários receberão fará jus a 100% de todos os percentuais fixados, à semelhança do sócio controlador. 1.2 Investimentos, controle acionário e coligação Caro aluno, observe a seguinte imagem, retirada de Carvalho (2021), em que podemos observar uma rede de interações de investimentos que envolve cinco empresas. Figura 4 – Rede de interações de investimentos entre cinco empresas Fonte: Carvalho (2021). De acordo com a imagem, temos as seguintes relações entre as empresas A, B, C D e E (CARVALHO, 2021): • A – é controladora direta de B, com 55% das suas ações, e coligada a C, com 40% de suas ações. Finanças Corporativas 17 • B – é controlada por A diretamente (que detém 55% das suas ações), controla D diretamente (com 55% das suas ações) e está coligada a E (com 35% de suas ações). • C – está coligada a A por 40% das próprias ações e controla E diretamente, com 51% das suas ações. • D – é controlada por B (que detém 55% das suas ações). • E – está coligada a B por 35% de suas ações) e é controlada por C diretamente (que detém 51% das suas ações). Com base nessas relações, é possível compreender do que se trata a coligação entre empresas, caro aluno? Acreditamos que é possível, sim, depreender o que o conceito significa, mas preparemos uma definição para você. Vamos lá: a coligação é uma relação de influência de uma empresa sobre as decisões de outra de cujas ações detém um percentual igual ou superior a 20% e menor ou igual a 50%. Assim sendo, a empresa investidora terá um poder de voto relevante, mas não terá o controle acionário. Devemos considerar, a título de coligação, apenas a parte do capital da empresa com direito à voto, eliminando, pois, as ações preferenciais. Agora, não há erros quanto à coligação entre empresas, certo? Além dessas, outras relação, menos óbvias do que são as anteriores, existem entre as empresas A, B, C D e E. Em primeiro lugar, embora A seja a empresa investidora de D, não existe relação de controle direto entre ambas: nesse caso, A controla B diretamente, que, por sua vez, é responsável pelo controle direto de D – portanto, caso D não apresente uma cláusula de tag along, seus acionistas minoritários (os quais, inclusive, podem ter sido seus proprietários antes do investimento de A em suas ações) poderão enfrentar dificuldades para os obter percentuais a que têm direito. Em segundo lugar, A e E, via C não têm qualquer tipo de relação de controle. Porquanto A seja coligada a C, apesar de essa empresa deter 51% das ações de E, A não terá controle sobre C, nem diretamente nem indiretamente. Por outro lado, A controla 55% das ações de B, que é coligada a E por meio de 35% de suas ações. Logo, como A tem controle Finanças Corporativas 18 direto sobre B e, por essa via, coligação relevante com E; e como, por outro lado, tem uma coligação relevante com C, que controla E diretamente, A poderia pensar em uma estratégia para assumir o controle acionário de E, caro aluno? A legislação é dúbia em relação a esse assunto. De acordo com a Lei das S.A. (BRASIL, 1976), a coligação existe apenas nos casos de investimentos diretos, de modo que os investimentos de A via B e via C em E não poderiam ser utilizados para o estabelecimento de um controle acionário conjunto sobre E. Por outro lado, de acordo com a lei 11.638, de 28 de dezembro de 2007, a coligação poderia acontecer no caso de investimentos indiretos, o que viabilizaria o empenho de A. Como vimos, os tentáculos de A se estendem ao controle administrativo de todas as demais empresas, seja por via direta, seja por via indireta. O emaranhado de relações entre as empresas chega a ser esquisito, não é mesmo? Por que uma empresa como A teria interesse de absorver outras empresas e mais outras empresas de tal maneira? Um motivo bastante plausível é a lavagem de dinheiro, que consiste na transformação de dinheiro ilícito em dinheiro lícito por meio da passagem pelos caixas de várias empresas, sob a alegação fajuta de prestação de serviços. Assim, o dinheiro se tornará legal e será mantido dentro da área de influência da empresa que o lavou, no caixa de suas controladas. Em geral, empresas de serviços são escolhidas para a realização de lavagem de dinheiro porque se trata da negociação de produtos intangíveis. Portanto, após a alegada prestação, apenas a nota fiscal gerada pela transação seria prova de que grande parte dos serviços foi realizada. Nesse sentido, caro aluno, caso você se veja envolvido com relações que sejam semelhantes às existentes entre A, B, C, D e E, investigue! Se se tratar de transações legítimas de compras de ações, cuide para que a empresa sob a sua gerência tenha todos os documentos legais que comprovem isso, visto que os fiscalizadores estarão de olho na sua contabilidade. No entanto, se constatar que alguma atividade é ilegal, desligue-se da empresa e a denuncie aos órgãos competentes. Finanças Corporativas 19 Para que possamos identificar facilmente qual é a relação existente entre as entidades, basta nos preocuparmos com os percentuais dos investimentos. Se ele for maior do que 50%, há o controle; se estiver entre 20% e 50%, há a coligação; e se for menor que 20%, trata-se de um investimento comum. Registro Contábil dos Financiamentos O gerenciamento dos investimentos em outras empresas nunca deve ser o foco enquanto gestor de uma organização, exceto se o negócio que gerimos tiver, como atividade principal, a realização de investimentos. Ao contrário, o tempo e os recursos de que dispomos devem ser aplicados no crescimento de nossas empresas. Portanto, nesta seção, abordaremos sobre o registro contábil de investimentos realizações por nossas empresas em sua própria estrutura. NOTA: Certos investimentos, como os de aquisição de ações de empresas, podem ser classificados, corretamente, em mais de um dos conjuntos de investimentos presentes no Balanço Patrimonial. O que definirá o seu encaixe em um grupo será a intenção da empresa com a sua realização. Inicialmente, notemos que investimentos de curto e de longo prazo têm, necessariamente,classificações distintas, apesar de serem do mesmo tipo e de terem a mesma intenção. Nesse caso, o que os diferenciará será, justamente, o prazo. Ao mesmo tempo, se o investimento for permanente – por exemplo, no caso em que passar a fazer parte do capital da empresa, com a emissão de novas ações no mercado –, será classificado de outra forma. Por detrás das três formas de classificação, há o objetivo de gerenciar os investimentos de maneira mais eficiente, adequando-os ao contexto da empresa e aos requisitos de uma boa gestão financeira. Finanças Corporativas 20 Um investimento poderá ser classificado como de valor justo por meio de resultado se for adquirido com a intenção de ser revendido a curto prazo, conforme Assaf Neto e Lima (2010) nos explicam. Geralmente, os ativos serão inseridos nessa rubrica se forem avaliados por (i) preço justo; e se (ii) forem mantidos para negociação. De acordo com o pronunciamento técnico 46 da Comissão de Valores Mobiliários, valor justo é uma mensuração baseada em mercado e não uma mensuração específica da entidade. Para alguns ativos e passivos, pode haver informações de mercado ou transações de mercado observáveis disponíveis e para outros pode não haver. Contudo, o objetivo da mensuração do valor justo em ambos os casos é o mesmo – estimar o preço pelo qual uma transação não forçada para vender o ativo ou para transferir o passivo ocorreria entre participantes do mercado na data de mensuração sob condições correntes de mercado (ou seja, um preço de saída na data de mensuração do ponto de vista de participante do mercado que detenha o ativo ou o passivo). (BRASIL, 2012) Ao passo que todos os registros relativos aos investimentos em ativos financeiros devem ser receber entrada a valor justo nos registros contábeis, algo diferente acontecerá com perdas e com ganhos que decorram dos investimentos: no último caso, uma nova aferição deverá acontecer, para compor os resultados do período e, assim, proporcionar uma análise contábil mais precisa dos investimentos por intermédio da equivalência patrimonial. Depois que identificarmos quais valores devem ser encontrados pelo método de equivalência patrimonial, faremos outra identificação com base nos investimentos: verificaremos que parte do patrimônio líquido da empresa pertence a investidores. O passo seguinte será subtrair o valor do patrimônio líquido que pertence a investidores do valor registrado para o investimento nos livros contábeis da empresa, resultando na equivalência patrimonial. Exemplo Desta vez, imaginemos que Ricardo, nosso proprietário de apartamentos, adquiriu, na forma de sua empresa de investimentos, a Blue Dragon, no início de 2020, 40% do capital social da empresa Agatha & Filhas, que se dedica a produtos relacionados ao segmento doméstico “cama, mesa e banho”. Finanças Corporativas 21 Considerando que o capital da empresa Agatha & Filhas, na época do investimento, era de R$ 3.000.000, 00; o aporte inicial de Ricardo será de R$ 1.200.000,00. No momento em que a equivalência patrimonial foi escriturada, contudo, o capital da empresa Agatha & Filhas havia variado para R$ 4 milhões, o que, consequentemente, aumentou a de Ricardo para R$ 1,6 milhão (40% de R$ 4 milhões), uma ampliação de 33% do capital investido inicialmente. Quando fizermos os registros contábeis de atualização, como aconteceu no caso de Ricardo, é necessária uma quantidade absurda de atenção: somente os resultados de equivalência patrimonial que tenham sido originados de lucros e de prejuízos de investimentos podem ser analisados, porque a modalidade de registro contábil não engloba resultados que não tenham sido obtidos. Por fim, o custo histórico consiste em um método de análise dos investimentos de uma empresa; e compõe o Princípio do Registro pelo Valor Original, que faz parte da organização da atividade contábil no Brasil (CFC, 2010, on-line). Nesse sentido, importará, para nós, que o Princípio do Registro pelo Valor Original determina que os registros de operações contábeis sejam feitos com base no valor original do que a empresa houver negociado, independentemente de qual dor a sua destinação após o processo de aquisição. Finanças Corporativas 22 SAIBA MAIS: Leia, a seguir, como o Conselho Federal de Contabilidade define custo histórico: Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem pagos em caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para adquiri- los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no curso normal das operações (CFC, 2010) Nesse sentido, que tal seria se você consultasse essa resolução e lesse, na íntegra, todos os princípios adotados pelo Conselho Federal de Contabilidade. Isso enriqueceria bastante os seus conhecimentos sobre as Finanças Corporativas. Na prática, o custo histórico visa garantir que as informações contábeis de uma empresa recebam o menor número de interações que for possível. Como consequência disso, a qualidade e a confiabilidade das informações geradas a partir desses registros serão muito maiores. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como compreender o cenário, contexto e consequências da falência e da recuperação judicial das empresas. Finanças Corporativas 23 Projeções de Balanços e Estruturas de Capitais OBJETIVO: Caro aluno, para que nos tornemos aptos a compreender a abrangência do conceito de empresa como instituição que explora atividade econômica de maneira organizada, devemos assumir que todas as relações desempenhadas pelas empresas, tanto as internas quanto as externas, constituem um sistema muito bem integrado e dinâmico. . Nesse sentido, nós, gestores financeiros, dependeremos de conhecer, com requinte de detalhes, todos as atividades das nossas empresas, sabendo como, juntas, formam uma estrutura organizacional nos moldes da definição presente no parágrafo anterior; e estando conscientes de que todas as nossas decisões, mesmo que sejam as mais circunscritas aos menores setores operacionais, terão influência sobre a empresa como um todo – ou seja, terão consequências sistêmicas. De acordo com Batista (2004, p. 58), sistema, conforme nos interessará nesta seção, é um “conjunto de elementos interdependentes, ou um todo organizado, ou partes que interagem formando um todo unitário e complexo”. Por exemplo, não é verdadeiro que as empresas, costumeiramente, são formadas por grupos de pessoas, de bens (equipamentos, imóveis, veículos, dentre outros) e de capital? Cada um desses grupos, no seu nível de operação, é um sistema; e, juntos, os grupos formam a própria empresa, um sistema ainda maior. Finanças Corporativas 24 Controle de Orçamento A medida do crescimento de custos, para que uma empresa não passe por sérias dificuldades financeiras, jamais pode ser maior do que a receita operacional. Nesse caso, como se anularão, teremos uma situação de equilíbrio que pode, novamente, ser revertida em favor do aumento das receitas operacionais. Do contrário, o resultado será o endividamento da empresa. Se soubermos calcular quais são as dívidas de uma empresa e quais são os seus índices de endividamento, caro aluno, teremos a oportunidade de obter um panorama de quanto do negócio que gerimos depende do aporte de capital de terceiros para render lucros (parcela do processo produtivo movida à base de investimento externo). Os índices de endividamento das empresas são grandezas com as quais tanto acionistas (de ambos os tipos) quantocredores se preocupam. Isso acontece porque os índices nos relevam o grau de comprometimento futuro das empresas. No caso dos acionistas, elevados graus de comprometimento futuro das empresas com capital de terceiros – que têm prioridade legal no pagamento em relação aos dividendos dos acionistas – significam menores dividendos a receber. Por outro lado, no caso dos credores, elevados graus de comprometimento futuro das empresas com capital de terceiros sinalizam a existência um cenário futuro em que a empresa pode não ter rendimentos suficientes para pagar os investidores e, ainda assim, quitar as dívidas que financiaram. Em geral, dívidas de longo prazo não são bem-vistas pelos analistas – dentre outros, economistas, administradores, contabilistas e gestores financeiros. Você imagina por que os profissionais têm uma opinião tão negativa em relação às dívidas de longo prazo, caro aluno? Isso se deve ao fato de que comprometer as receitas operacionais, por um período grande, com pagamentos cujas taxas de juros sejam altas pode prejudicar a saúde financeira da empresa, levando-a à falência em casos mais extremos. Finanças Corporativas 25 Dois dos indicadores mais utilizados pelos analistas de mercado e pelos acionistas, rentabilidade e lucratividade indicam diferentes informações a respeitos dos retornos obtidos pela empresa: • rentabilidade indica qual será o lucro dos investidores com base nos valores investidos, considerando, também, o volume de ativos que da empresa. • lucratividade é a participação do lucro líquido, em determinação exercício, na composição dos retornos obtidos, considerando, proporcionalmente, o volume de vendas. Caso a taxas de lucratividade e/ou de rentabilidade de uma empresa sejam ruins, a tarefa de obter capital de terceiros se tornará complicada, visto que são os indicadores que, em geral, definem se os investidores aportarão ou não capital em determinado negócio. Ebitda, sigla de earnings before interest, taxes, depreciation and amortization, observa a geração bruta operacional de lucro. Para isso, por um lado, é necessário avaliar somente os resultados das operações; e, por outro, é necessário somar as depreciações e as amortizações ao lucro operacional. A função do Ebitda é verificar se os ativos operacionais geram caixa. Por ignorar as despesas e as receitas operacionais, adotando somente os resultados operacionais que influenciam o caixa da empresa diretamente, é tomado, pelos analistas financeiros, como um dos melhores indicadores do seu tipo. No rol de receitas e de despesas operacionais ignoradas, dentre outras, estão estas: • Resultado de equivalência patrimonial. • Imposto de Renda. • Amortização. • Contribuição Social Sobre o Lucro. • Exaustão. • Despesas operacionais não rotineiras. • Depreciação. Finanças Corporativas 26 Em resumo, o Ebitda é o valor obtido após os descontos das depreciações e das amortizações do lucro operacional. Deve ser suficiente para o pagamento de juros e dos impostos sobre o lucro e ainda distribuir lucros ou dividendos. Com a constante necessidade de aprimorar os dados gerencias das organizações, principalmente em época de concorrência acirrada, alguns pesquisadores e consultores de empresas norte-americanas começaram, há muito tempo, a divulgar um método alternativo de medida de desempenho e de resultado. Esse método, chamado de valor econômico, é fundamental para a apresentação de informações gerenciais, vista a pouca utilizada da contabilidade financeira nesse sentido, por se basear demais em valores vinculados ao custo histórico. O valor econômico não é novidade como medida de desempenho, tendo aparecido, no cenário corporativo, em 1920, no âmbito da General Motors Corporation. Sob uma perspectiva ampla, a metodologia conhecida como EVA® nos permite identificar duas funções importantes: 1. instrumento de mensuração de valor. 2. ferramenta de gestão. O EVA® ajuda gerentes a transformar suas estratégias em um conjunto de ações que possam maximizar o valor da empresa. De acordo com Assaf Neto e Lima (2010), trata-se de uma fórmula simples em que o custo do capital empregado pela empresa tem papel fundamental. A maioria das empresas usa o capital próprio como se não tivesse custo e, por isso, não lhe dá um valor contábil apropriado. Essa é, de fato, uma das grandes diferenças entre os conceitos de lucro contábil e de lucro econômico. Dessa maneira, uma das contribuições mais importantes do índice EVA® foi trazer à luz o fato de que o capital próprio tem um custo, embora não tão aparente quanto o custo de capital de terceiros. Para obter sucesso na competição pelos recursos escassos do mercado de capitais, a empresa deve oferecer, para seus acionistas, no mínimo, um Finanças Corporativas 27 retorno igual ao de outros investimentos. Isso significa, portanto, que não basta ter lucro líquido positivo e certo nível de lucro por ação. Para muito além disso, a empresa precisa ganhar o suficiente para cobrir o custo do capital de terceiros e o custo de oportunidade do capital próprio antes de começar a criar valor. Custo e Volume Como sabemos, uma das preocupações constantes dos gerentes financeiros é avaliar como a variação dos custos fixos e dos custos variáveis se reflete no lucro das suas empresas. Quando estudamos a relação dos conceitos de custo, de volume e de lucro, a influência dos custos fixos e dos custos variáveis sobre o lucro se torna mais visível. Figura 5 – Jornada do gestor financeiro em busca de lucros maiores Fonte: Pixabay. Em uma empresa, a estrutura de custo sempre estará ligada com o preço de mercado dos produtos vendidos. Logo, dessa ligação perene, retiramos as condições necessárias para esboçar estratégias em favor do aumento positivo das margens de lucro e contra projetos com taxas de crescimento negativos. No segundo caso, as estratégias poderão visar tanto à finalização dos projetos, caso sejam avaliados como dispendiosos; quanto à sua reformatação, casos suas projeções possam ser melhoradas mediante novas atividades de planejamento. Finanças Corporativas 28 Sem dúvida, em um mercado globalizado e altamente competitivo como o atual, o conhecimento profundo das relações custo/volume/ lucro é uma das ferramentas mais poderosas da contabilidade gerencial a serviço da gestão empresarial. A análise dos custos fixos e variáveis possibilita uma visão abrangente dos gastos relacionados com os volumes produzidos e vendidos pela empresa em determinado período. A partir daí, é possível verificar pontos essenciais nos volumes, bem como a tomada de decisões de aumento ou diminuição nos volumes de produção. A análise da tríade custo/volume/lucro dependerá de conceitos de gerenciamento de rentabilidade, os quais, a esta altura, são nossos velhos conhecidos. 1. Alavancagem operacional. 2. Ponto de equilíbrio. 3. Margem de contribuição. Vejamos como a tríade custo/volume/lucro e os demais conceitos estão relacionados, caro aluno. Volume de Vendas, Custos e Lajir Primeiramente, precisamos ter em mente que aumentos no volume de vendas das empresas costumam resultar em lucros maiores. No entanto, volume de vendas e lucratividade não grandezas proporcionais. Até aqui, está tudo bem simples, não é? Pois então, um aumento de 20% no volume de vendas não implicará um aumento de 20% na lucratividade. Mas por que isso acontece? Não parece lógico que, se aumentarmos nossas vendas, aumentaremos, também, a nossa lucratividade? Isso não apenas parece lógico: é verdadeiro. Porém, com um percentual de 20% no volume (quantidade) de vendas, considerando que nossos custos fixos permaneçam os mesmos – o que, em parte relevantes dos casos, acontece –, nada nos impedirá de atingir de lucratividade maiores do que 20%. Finanças Corporativas 29 A lucratividade de que falamos é o índice Lajir (lucro antesdos juros e imposto de renda). Para encontrá-lo, é necessário saber como funciona o impacto da variação das vendas sobre o Lajir. Utilizaremos, então, o cálculo do Grau de Alavancagem Operacional (GAO). Por sua vez, antes de aprendermos como o GAO é obtido, devemos utilizar este exemplo de Kato (2013), visto por nós anteriormente. Preste muita atenção às etapas que percorremos até chegar ao GAO, caro aluno, porque serão complexas. Tentaremos dividi-las com bastante clareza, para facilitar a sua aprendizagem. • Etapa 1: Conhecer a Fórmula do o Lajir Figura 6 – Exemplo de Kato (2013) Fonte: Kato (2012). No esquema, temos duas situações: Caso 1 e Caso 2. Caso 2 nos apresenta um cenário pessimista, com redução de vendas, ao passo que Caso 1 é ou otimista ou realista, a depender da perspectiva do gestor financeiro, com aumento de vendas. Para analisar ambos os cenários, consideremos que a previsão de vendas – indicada na coluna entre Caso 2 e Caso 1, em que constam todas as demais previsões – tenha sido de R$ 10.000,00. Finanças Corporativas 30 Comparando Caso 2 e Caso 1 com as previsões, notamos que Caso 2 admite uma redução das vendas em 50%. Ao contrário, por sua vez, Caso 1 adota um aumento das vendas em 50%. Nas duas situações, devido às próprias naturezas, os custos fixos são os mesmos, e os custos variáveis, proporcionalmente, acompanham as taxas de evolução e de involução das vendas: no Caso 2, caem à metade do previsto (de R$ 5.000,00, passam para R$ 2.500,00); e, no Caso 1, equivalem a 1,5x, em que x é a previsão (de R$ 5.000,00, passam para 1,5 X R$ 5.000,00 = R$ 7.500,00). O Lucro Antes dos Juros e do Imposto de Renda (Lajir) equivale ao lucro operacional e é mensurado sem o desconto das despesas operacionais e financeiras, entrando na demonstração de resultado do exercício em questão. No Caso 2, o valor do Lucro Antes dos Juros e do Imposto de Renda (Lajir) é igual a R$ 0,00. Por outro lado, no Caso 1, o valor dobra de R$ 2.500,00 (previsto) para R$ 5.000,00. Isso significa que, no Caso 2, nenhum lucro sobra após o pagamento das despesas e dos tributos. NOTA: Caro aluno, você faz ideia do que podemos concluir com base na comparação do Caso 2 com o Caso 1? Perceba que, como os custo fixos, necessariamente, são iguais nos dois cenários, o Caso 1 demonstra uma alavancagem operacional em relação ao Caso 1, uma vez que, com as mesmas condições de produção, aumenta o lucro operacional em 50%, quando a referência é a precisão; e em 200%, quando a referência é o Caso 2. • Etapa 2: conhecer a fórmula do GAO Caro aluno, para calcular GAO, adotaremos a seguinte fórmula. Finanças Corporativas 31 Sendo assim, descobrimos o motivo de as variações do Lajir e do volume de vendas serem importantes a ponto de acionarmos, mais uma vez, o exemplo de Kato (2013), certo? Adotando o Caso 1 de Kato (2013), poderemos calcular o GAO. • Etapa 3: calculando o GAO No Caso 1 de Kato (2013), as vendas e o Lajir aumentaram, respectivamente, 50% e 100% em relação às previsões. Então, temos o seguinte GAO. Se GAO é igual a 2, sabemos que, enquanto o índice de vendas recebeu um acréscimo de 50%, o Laji teve um crescimento de 100% (2 X 50%). Caso os custos fixos aumentassem no mesmo passo que o volume de produção, GAO seria igual a 1, e não haveria alavancagem de produção. Na medida em que nos fornece um número que, ao ser multiplicado pela variação no volume de vendas, resulta no quanto isso influenciou o lucro operacional de uma empresa, o GAO mede a suscetibilidade do lucro operacional ao volume de vendas. Volume de Vendas, Custos e Ponto de Equilíbrio O ponto de equilíbrio operacional é aquele em que as receitas operacionais equivalem às despesas operacionais. Podemos estudá-lo de três perspectivas: contábil, financeira e econômica. A análise do ponto de equilíbrio operacional, também conhecida como análise de custo-volume-lucro (CVL), servirá para que calculemos o volume de vendas necessário para cobrir os custos operacionais de nossas empresas; e para que projetemos a rentabilidade de diferentes níveis de vendas (KATO, 2012). O ponto de equilíbrio contábil ou operacional se estabelece quando o volume de lucros é suficiente para pagar as despesas operacionais, Finanças Corporativas 32 sendo o lucro operacional igual a zero. A seguir, está a equação do ponto de equilíbrio contábil. QC = equilíbrio contábil CF = custos fixos P = preço unitário CVunitário = custos variáveis unitários Vamos supor que a empresa Agatha & Filhas tenha custos fixos de R$ 80.000,00 e custos variáveis unitários de R$ 120,00, vendendo seus cobertores a R$ 200,00 (por unidades). Considerando esse contexto, o valor dos cobertores é suficiente para cobrir os custos operacionais? Para descobrir essa informação, devemos aplicar equação do ponto de equilíbrio contábil. Para cobrir os custos operacionais, a empresa precisa vender 1.000 unidades do produto. Da perspectiva do ponto de equilíbrio financeiro, não observaremos custos fixos que não sejam valores pagos pela empresa – ou seja, valores que, em vez de serem pagos, deixam de ser recebidos, impactando, igualmente, o ponto de equilíbrio contábil. Um caso desse tipo é o da depreciação (D). Para realizar o cálculo do ponto de equilíbrio financeiro, precisaremos adaptar a equação anterior à seguinte forma. Além de cobertores, a empresa Agatha & Filhas produz outros produtos do segmento casa, mesa e banho. Um desses é um conjunto de duas fronhas, para o qual temos as seguintes informações. CF = R$ 24.000,00 Finanças Corporativas 33 P = R$ 20,00 CVunitário = R$ 12,00 C = R$ 2.000,00 Portanto, para alcançar um ponto de equilíbrio que considere a depreciação do valor dos produtos, 2.750 conjuntos de fronhas precisam ser vendidos. Por sua vez, o ponto de equilíbrio econômico considera o Lucro Desejado (LD). Vamos imaginar agora, que a empresa Agatha & Filhas deseje ter uma margem de lucro de R$ 6.000,00 com a venda do conjunto de fronhas. Nesse caso, atingirá o ponto de equilíbrio financeiro com a venda de quantas unidades? CF = R$ 24.000,00 P = R$ 20,00 CVunitário = R$ 12,00 LD (lucro desejado): R$ 6.000,00 Portanto, para alcançar o lucro desejado de R$ 6.000,00, é necessário vender 3.750 unidades de conjunto de fronhas. Margem de Contribuição O resultado da relação (P – CV), chamado de margem de contribuição unitária, não apenas é o denominador da equação de ponto de equilíbrio financeiro, mas indica, ainda, se a produção será viável para a empresa. Se for positivo, apontará que a produção será benéfica para a Finanças Corporativas 34 empresa. Porém, nos casos em que for ou nulo ou negativo, apontará que a produção acarretará prejuízos para a empresa. No exemplo anterior, a margem de contribuição unitária é igual a R$ 8,00 ((P – CV) = R$ 20,00 – R$ 12,00 = R$ 8,00), o que significa que, a cada conjunto de fronhas vendido, a R$ 8,00 entrarão no caixa da Agatha & Filhas com a finalidade de cobrir as despesas ou custos fixos unitários (quantidade total de custos/quantidade de produtos vendida). Caro aluno, você sabe em que facilidade a margem de contribuição resulta para o gestor financeiro. Conhecendo essa margem, o gestor financeiro se torna capaz de escolher entre os sistemas de custeio (1) direto e (2) por absorção, que se diferenciam (Quadro 1) pela forma como os custos unitários são alocados em relação aos estoques. Quadro 1 – Diferenças entre sistemas de custeio Direto Por absorção i. Separa os custos em dois grupos: fixos e variáveis ii. Separa os custos, também, em diretos e em indiretos iii. Utiliza somente os custos di- retos de uma unidade de deter- minado produto iv. Adota um critério administra- tivo interno i. Separa os custos em dois grupos ii. Por outro lado, separa os custos em diretos e em indiretos iii. Utiliza tanto os custos diretos quan-to os indiretos de uma unidade de de- terminado produto iv. Adota um critério administrativo ex- terno Fonte: Elaborado pelo autor (2021). Alavancagem Operacional e Ponto de Equilíbrio Contábil A alavancagem operacional e o ponto de equilíbrio contábil ou operacional dependem das mesmas variáveis: receitas e despesas operacionais. Agora, analisaremos como a variação dos custos operacionais fixos, do custo operacional variável e do preço unitário influenciam o ponto de equilíbrio contábil e a alavancagem operacional. Para isso, utilizaremos um exemplo de Gitman (2006). Finanças Corporativas 35 Figura 7 – Influência do custo operacional variável e do preço unitário sobre o ponto de equilíbrio contábil ou operacional e sobre a alavancagem operacional Fonte: Gitman (2006). Retomando a nossa empresa Agatha & Filhas, suporemos que o seu gestor financeiro deseja testar como se sairia, frente aos consumidores, um aumento no preço de seu edredom king size. Com os seguintes dados, calcularemos o equilíbrio contábil antes do aumento de preço king size e a alavancagem operacional após o aumento de preço. Antes do aumento de preço Preço unitário = R$ 320,00 Custo variável unitário = R$ 300,00 Custos fixos = R$ 160.000,00 Depois do aumento de preço Preço unitário = R$ 400,00 Finanças Corporativas 36 Custo variável unitário = R$ 300,00 Custos fixos = R$ 160.000,00 Portanto, comparando os dois cenários, com um aumento de R$ 50,00 no preço unitário do edredom king size, a empresa Agatha & Filhas deverá vender 1.600 unidades do king size para alcançar o equilíbrio contábil, metade do que seria necessário sem o aumento do preço unitário. Agora, verificaremos um terceiro cenário: se as demais variáveis permanecerem constantes, qual seria o ponto de equilíbrio contábil se o preço unitário do edredom king size aumentasse para R$ 500,00? Aumento do preço unitário para R$ 500,00 Preço unitário = R$ 500,00 Custo variável unitário = R$ 300,00 Custos fixos = R$ 160.000,00 Finanças Corporativas 37 Portanto, a empresa necessitaria vender 800 unidades do edredom king size para alcançar o equilíbrio operacional, 50% a menos do na situação anterior. Aprendemos, com esses exemplos, que um aumento no preço unitário de um produto pode conduzir a uma redução do equilíbrio operacional. Mas o que tais exemplos nos informam sobre a alavancagem operacional? Então, considerando que os custos fixos operacionais permaneceram inalterados, o lucro operacional crescerá mais do que a variação de preço unitário. Considerando que cada unidade vendida de determinado produto oferece uma contribuição unitária para cobrir os custos fixos e alcançar lucro, pode-se, com certa facilidade, simular situações de quantidades vendidas, determinando, assim, qual o volume de vendas que deve ser atingido para determinado resultado. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como interpretar as projeções econômicas das empresas com base nos principais indicadores extraídos do balanço contábil. Finanças Corporativas 38 Análises de Rotações e Liquidez OBJETIVO: Na Administração Financeira, é comum a aquisição, a incorporação e a cisão de empresas – divisão de uma empresa em, pelo menos, duas. Esta seção se debruçará sobre cada um desses conceitos, esclarecendo-os para você, caro aluno.. Aquisição ou Incorporação A aquisição costuma ser confundida como uma junção de empresas, situação em uma organização, após negociar os procedimentos de como isso se dará com outra, absorve o seu patrimônio. Como veremos, esse é um caso bastante restrito, enquanto a aquisição, consideravelmente, é mais ampla. Basicamente, uma aquisição conta com dois protagonistas, um adquirente e um adquirido e pode ser definida como a operação em que um adquirente toma o controle de um ou de mais adquiridos. Caro aluno, o conceito continua semelhante ao de absorção, não continua? Faremos um esforço para que essas informações fiquem mais claras para você. Figura 8 – Aquisição: incorporação de uma empresa por outra Fonte: Pixabay. Finanças Corporativas 39 A aquisição é uma operação que pode ser realizada por qualquer empresa e não envolve somente o patrimônio de outra. Obrigatoriamente, relacionará um adquirente e um adquirido, no mínimo; e, quando for finalizada, a empresa adquirida deixará de existir. Além disso, diferentes tipos societários podem participar de uma operação de aquisição, tanto como adquirentes quanto como adquiridas. Ainda, está prevista na Lei das S.A. (BRASIL, 2015) e é regulada pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC, 2011). Por outro lado, no caso da absorção de patrimônio, que pode acontecer por várias razões, nenhuma dessas características, exceto a participação de diferentes tipos societários, estará presente. Destacamos que nada do que é estipulado em uma absorção de patrimônio implica o necessário fechamento da empresa cujo patrimônio foi absorvido. Existem diferentes formas por meio das quais viabilizar uma operação de aquisição, dentre as quais há as três seguintes: 1. Aquisição dos ativos líquidos de uma entidade, que acontece por meio da compra, no mercado de ações, de todas as cotas- ação ordinárias de uma empresa – neste caso, forçosamente, a empresa cujas ações são compradas passa a se comportar como uma subsidiária da empresa adquirente ou investidora, visto que a totalidade de seu capital social pertence a tal empresa. 2. Aquisições das ações de uma entidade em quantidade suficiente para que o seu controle acionário seja tomado – nesta caso, nem todo o capital social da empresa adquirida pertencerá à empresa adquirente, mas apenas uma parte majoritária. Então, a empresa manterá parte dos sócios ordinários antigos, ao passo que a sua administração, formalmente, passará às mãos da empresa sócia majoritária. 3. Cisão para a distribuição do patrimônio a terceiros. 4. Aquisição ou incorporação reversa, que, no Brasil, é mais comum no contexto das empresas estatais – neste caso, a operação é realizada em três fases: aquisição do controle da estatal por uma empresa concessionária, criação de uma sociedade “veículo”, cujo Finanças Corporativas 40 capital está aportado na empresa concessionária, e incorporação, pela entidade concessionária, da entidade “veículo”. Fusão A fusão se trata de um negócio multilateral, como é o caso da aquisição: requer, pelo menos, dois protagonistas para acontecer. Porém, se, na seção anterior, vimos que uma das empresas incorporará a outra, que deixará de existir; nesta situação, as duas (ou todas as empresas, se houver mais) empresas fundidas deixam de existir, originando uma organização nova e detentora de todos os bens, de todas as obrigações e de todos os direitos das anteriores. A legislação societária (BRASIL, 2015), em seu artigo 228, estabelece que “fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações”, corroborando que afirmamos acima. Figura 9 – Cálculos referentes à operação cisão Fonte: Pixabay. Apesar de a nova empresa herdar todos os bens, de todas as obrigações e de todos os direitos das anteriores das que foram fundidas, Finanças Corporativas 41 isso não acontecerá com os aspectos contábeis. Nesse sentido, todas as contas patrimoniais, sejam representativas de ativos, sejam representativas de passivos, são zeradas, transmitindo sobre os itens patromoniais para a empresa a ser criada. A conta que receberá a contraparte contábil é denominada “conta corrente de fusão”. Após cumprir a sua função no interstício entre as empresas fundidas e a criação de outra empresa, será zerada e substituída pelas contas que comporão o patrimôniolíquido da nova organização. Prestemos atenção, pois, ao fato de que todos os componentes do Balanço Patrimonial da nova organização deverão ser zerados, evidenciando o patrimônio de uma empresa que existirá deste momento em diante, em nada mais associada às que lhe deram origem. Cisão A última operação de reorganização societária que estudaremos é a cisão. Na prática, consiste na redução da estrutura de uma empresa, a fim de que outra (ou várias outras) sejam criadas. Caso a cisão seja somente de um fragmento do patrimônio da empresa, teremos uma cisão parcial. Por outro lado, se a cisão for de todo o patrimônio da empresa, que, inclusive, deixará de existir na sua forma antiga, teremos uma cisão total. No artigo 229 da Lei das S.A. (BRASIL, 2015), encontramos que a cisão consiste em uma transferência de parcelas do patrimônio de uma empresa para uma ou mais sociedades, empresa essa que, no caso de uma cisão total (distribuição de todas as parcelas do seu patrimônio), deixará de existir; e, no caso de uma cisão parcial, existirá em concomitância com a empresa (ou empresas) que foram beneficiadas como o seu patrimônio. Normalmente, a cisão utilizada como uma estratégia de crescimento organizacional. Sabe por isso acontece, caro aluno? Em nosso país, existem certos incetivos públicos para empresas cujas operações não estejam consolidadas. Por isso, é mais vantajoso para os acionistas cindir uma empresa que alcança a maturidade de suas operações, para que continuem a aproveitar os incetivos públicos. Essa manobra é totalmente Finanças Corporativas 42 legal: visa a empregar a legislação brasileira a serviço das nossas empresas e do seu planejamento tributário. O planejamento tributário é uma alternativa inteligente de economia para o caso de cisão, visto que tem a capacidade de auxiliar a empresa a aproveitar os créditos de impostos, como ICMS e IPI; e, ainda, de permitir a base de outros impostos seja reduzida, enquanto os pagamentos serão feitos de forma simplificada. Em relação aos registros contábeis, a cisão não quase não se distingue da fusão e da incorporação. Dissemos quase, não foi? No caso de haver cisão total, existe uma particularidade: como haverá a extinção das atividades da empresa cindida, os lançamentos contábeis das empresas resultantes serão muito semelhantes aos de um negócio fruto de incorporação. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como analisar e interpretar a rotação e o índice de liquidez das empresas. Finanças Corporativas 43 Índices Patrimoniais e Estrutura OBJETIVO: A expressão “governança corporativa” vem da expressão inglesa “corporate governance”. Muitos países têm notado a importância do tema recentemente, embora seja discutido há mais de uma década, em função da sua preocupação com as empresas radicadas em seu território e com a sua fatia do mercado internacional. Aprender o que é e em que o contribui serão os objetivos desta seção.. Governança Corporativa: Conceito e Contribuições Sabemos muito bem que boas práticas de transparência são fundamentais para aumentar a confiança dos investidores interessados em nossos negócios, certo, caro aluno? O aumento da transparência, portanto, será acompanhado de um proporcional crescimento da confiabilidade das nossas empresas frente ao mercado, ambos os indicadores sendo tomados, além disso, como uma demonstração de que a nossa gestão lida, adequadamente, com os recursos financeiros de que dispõe. Figura 10 – Cálculo de impostos Fonte: Pixabay. Finanças Corporativas 44 Falamos várias coisas, mas não dissemos o que transparência e confiabilidade têm em comum com a governança corporativa. Caro aluno, você arriscaria um palpite? Quando consolidamos uma gestão adequada dos recursos financeiros a nosso dispor, estaremos, necessariamente, alinhados com a legislação fiscal e com a legislação societária, alinhamento esse que, comumente, é conhecido como governança corporativa. NOTA: Ao afirmamos que a gestão adequada está alinhada com a legislação fiscal e com a legislação societária, desejamos destacar que esses são critérios que definem a gestão adequada. Portanto, sem esses critérios, poderemos ter gestões de quaisquer tipos que formos capazes de conceber, mas nenhum poderá ser considerado adequado. Será que você, caro aluno, conseguiu imaginar o que é governança corporativa? Trata-se de um conjunto de práticas cujo objetivo é o de maximizar o desempenho de um negócio, protegendo, para isso, as partes interessadas: credores, investidores e, também, funcionários. A consequência mais óbvia de se implementar tais práticas é facilitar o acesso da empresa ao capital, visto que a empresa se transformará em um dos focos de interesse do mercado. A análise das práticas de governança corporativa, quando é aplicada ao mercado de capitais, envolve, principalmente, transparência na prestação de contas, confiabilidade frente ao mercado e equidade no tratamento dos tipos de acionistas. No caso dos investidores, que são os principais afetados por essas práticas, veremos, como resultado dessa aplicação, decisões de investimento mais assertivas. Como a governança corporativa determina as formas como poderão atuar nas empresas, a sua influência no desempenho empresarial será maior e mais clara para todos os envolvidos. Nesse contexto, aplicar as técnicas cumprirá o objetivo de aumentar o valor de mercado da organização que receberá o investimento, Finanças Corporativas 45 expandindo, também, o patrimônio do investidor. Tudo isso é possível porque a governança corporativa reduz o custo de capital das empresas, tornando-se atrativa para o mercado de capitais e tendo as suas operações ampliadas. Assim, apesar de obter juros sobre o seu capital menores, devido à redução do custo de capital para a empresa, o investidor lucrará na forma de receitas operacionais. IMPORTANTE: Quando investidores aportam o seu capital nas empresas, sujeitam-se ao que é conhecido como risco de apropriação indevida. Já ouviu falar disso, caro aluno? É uma situação em que parte dos lucros rendidos por um investimento são retidos, indevidamente, pelos gestores de uma empresa. As práticas de gestão corporativa são apreciadas pelos investidores na medida em que coíbem esse tipo de sonegação, protegendo-os contra a ganância dos gestores e dos acionistas. Até este momento, discutimos a importância da transparência e da confiabilidade para o crescimento de uma empresa e como mantêm relação com as práticas de governança contábil. Ainda não abordamos, portanto, o que é o conceito de equidade no tratamento dos tipos de acionistas. Começaremos por uma definição da palavra “equidade”, que, afinal de contas, não é tão comum assim. Equidade, de acordo com Oxford Languages (2021), é uma “virtude de quem ou do que (atitude, comportamento, fato etc.) manifesta senso de justiça, imparcialidade, respeito à igualdade de direitos”. Logo, conseguimos perceber que equidade e justiça tem uma relação íntima, mas não somos capazes, ainda, de determinar que relação é essa. Finanças Corporativas 46 Figura 11 – Justiça Fonte: Pixabay. Avançando um pouco mais, podemos estabelecer que o conceito de equidade com o qual trabalharemos será um pouco mais restrito do que esse e muito menos parecido com o conceito de igualdade. Assumiremos que equidade é uma adaptação dos normas existentes à realidade de cada indivíduo ou agente presente em um meio, respeitando, para isso, os critérios de justiça. Por sua vez, a igualdade proclama apenas que as mesmas normas devem valer para os indivíduos, sem haver exceções. NOTA: Ficou clara, para você, a diferença entre equidade e igualdade, caro aluno? Então,você deve ter compreendido que, enquanto a igualdade preza pela extensão das mesmas normas a todos os indivíduos, a equidade prevê, de um modo mais prático, que as normas precisam ser adaptadas à realidade de cada indivíduo e de cada meio, visto que, de indivíduos que não têm as mesmas condições, não se esperar comportamentos idênticos em relação às normas. Finanças Corporativas 47 Avançando, pela segunda e última vez, em relação ao conceito de equidade, podemos, finalmente, admitir o que é equidade no tratamento dos tipos de acionistas. Trata-se de adequar as normas (as empresariais, no caso de uma empresa; e as legais, no caso da Justiça) ao contexto de cada participantes do mercado, assegurando-lhes a proteção dos direitos de acesso à informação contábil, sem a adoção de práticas discriminatórias entre tipos de investidores, entre tipos de acionistas, entre tipos de funcionários e entre quaisquer outros agentes. Os agentes da governança corporativa devem prestar contas de seus atos administrativos, a fim de justificar sua eleição, remuneração e desempenho. Também devem zelar pela continuidade da empresa, por meio de decisões que privilegiem a perenidade e a sustentabilidade em relação ao resultado a curto prazo, sem deixar de considerar sua função social e seu dever de contribuir para ações educativas e culturais, ao mesmo tempo em que respeita o meio ambiente. Conformidade das Práticas de Governança Corporativa Anteriormente, mencionamos que a gestão adequada de uma empresa, necessariamente, obedece às leis da sociedade e aos regulamentos corporativos. A isso, damos, também, o nome de conformidade. Dentre outras coisas, a conformidade será fundamental para que as operações de uma empresa adentrem o mercado internacional, tendo em vista que a conformidade perpassará, também, pelos indicadores de transparência e de confiabilidade da empresa. Portanto, podemos afirmar que, se uma empresa, ao aplicar as técnicas de governança corporativa, atingiu o patamar de conformidade, houve, por parte dos diferentes mercados, dos investidores e dos diversos agentes financeiros, um reconhecimento do seu potencial e da sua seriedade, elementos-chave da investida de qualquer empresa no mercado internacional. Finanças Corporativas 48 Figura 12 – Conformidade Fonte: Pixabay. Com vistas a se elevar ao patamar da conformidade, uma empresa deve investir em um modelo de governança corporativa que, minimamente, paute-se nas seguintes boas práticas: • Atribuição de papéis e de responsabilidades a todos os agentes em seu âmbito. • Explicitação dos padrões de desempenho esperados para cada papel atribuído. • Definição de uma estrutura organizacional coerente e de como é atravessada pela gestão de processos. • Delimitação de cada tarefa presente na organização. • Determinação de objetivos organizacionais em função do tempo que demorarão para ser atingidos (curto, médio e longo prazos). • Adoção de mecanismos de controle condizentes com os objetivos institucionais. • Instituição de mecanismos de avaliação e de recompensa de todos os agentes sob a sua gerência. Finanças Corporativas 49 Com base nessas boas práticas, você conseguiu ter uma visão de como a governança corporativa atua? Então, antes de finalizarmos esta unidade, esclarecemos isso para você. A criação de regras para os diferentes relacionamentos que existem em uma empresa, estabelecendo uma hierarquia entre os papéis, é o princípio da gestão corporativa. Isso significa que os papéis sobre os quais recai a responsabilidade de decidir, de autorizar e de exigir, os chamados gestores funcionais, devem ter total controle sobre todos os segmentos e sobre todos os níveis da empresa. Abaixo, os gerentes de processos coordenarão atividades e responderão às demandas dos gestores funcionais. Por fim, há os funcionários, que executarão os procedimentos de produção, de acordo com as instruções recebidas dos gerentes de processos. Com a manutenção de uma hierarquia rígida na cadeia da tomada de decisões, a governança corporativa prima por um ambiente respeitoso, harmônico e organizado, distribuindo essas qualidades por toda a empresa. RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter compreendido como identificar a robustez da estrutura de capitais e do balanço patrimonial de uma empresa. Finanças Corporativas 50 REFERÊNCIAS ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. São Paulo: Atlas, 2010. ASSAF NETO, A.; LIMA, F. G. Fundamentos de Administração Financeira. São Paulo: Atlas, 2010. BEDÊ, M. A. Sobrevivência e Mortalidade das Empresas Paulistas de 1 a 5 anos. São Paulo: Sebrae, 2005. BROM, L. G.; BALIAN, J. E. A. Análise de Investimentos e Capital de Giro: conceitos e aplicações. São Paulo: Saraiva, 2007. CARVALHO, F. M. et al. Análise e Administração Financeira. Rio de Janeiro: Ibmec, 1985. EHRHARDT, M. C.; BRIGHAM, E. F. Administração Financeira: teoria e prática. São Paulo: Cengage Learning, 2012. EITEMAN, D. K.; STONEHILL, A. I.; MOFFETT, M. H. Administração Financeira Internacional. Porto Alegre: Bookman, 2013. 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Finanças Corporativas Falências e Recuperações das Empresas Capital e Controle Acionário Registro Contábil dos Financiamentos Projeções de Balanços e Estruturas de Capitais Controle de Orçamento Custo e Volume Volume de Vendas, Custos e Lajir Volume de Vendas, Custos e Ponto de Equilíbrio Margem de Contribuição Alavancagem Operacional e Ponto de Equilíbrio Contábil Análises de Rotações e Liquidez Aquisição ou Incorporação Fusão Cisão Índices Patrimoniais e Estrutura Governança Corporativa: Conceito e Contribuições Conformidade das Práticas de Governança Corporativa
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