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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO LANA DALILA PINTO ALVES Anteprojeto de uma pousada de charme com uso da bioconstrução para a praia de Cotovelo – Parnamirim/RN NATAL, 2017. LANA DALILA PINTO ALVES POUSADA ACAYU Anteprojeto de uma pousada de charme com uso da bioconstrução para a praia de Cotovelo – Parnamirim/RN Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Orientadora: Profa. Dra. Maísa Veloso Co-orientadora: Profa. Dra. Solange Goulart NATAL, 2017. Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT Alves, Lana Dalila Pinto. Pousada Acayu: anteprojeto de uma pousada de charme com uso da bioconstrução para a praia de Cotovelo Parnamirim/RN / Lana Dalila Pinto Alves. - Natal, 2017. 96f.: il. Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Maisa Veloso. Coorientadora: Solange Goulart. 1. Projeto arquitetônico - Monografia. 2. Pousada - Monografia. 3. Roteiros de Charme - Praia de Cotovelo/RN - Monografia. 4. Bioconstrução - Monografia. 5. Sustentabilidade - Monografia. I. Veloso, Maisa. II. Goulart, Solange. III. Título. RN/UF/BSE15 CDU 72.012.1 LANA DALILA PINTO ALVES POUSADA ACAYU Anteprojeto de uma pousada de charme com uso da bioconstrução para praia de Cotovelo – Parnamirim/RN Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Orientadora: Profa. Dra. Maísa Veloso Co-orientadora: Profa. Dra. Solange Goulart BANCA EXAMINADORA: _______________________________________ Prof. Dra. Maísa Veloso Orientadora _______________________________________ Prof. Dra. Solange Goulart Co-orientadora _______________________________________ Prof. Leila Guilhermino Examinadora Interna _______________________________________ Arquiteto Verner Monteiro Convidado Externo Aprovação em____de junho de 2017. Dedico este trabalho aos meus Pais, Williams e Josenilça. RESUMO Com o passar do tempo, o turismo se tornou uma atividade econômica significativa e, diante da atual preocupação ambiental, surgiram novas denominações como turismo alternativo, responsável, ecológico e geoturismo. Para que ele seja explorado de forma correta e que também possa continuar a atrair turistas, é fundamental o investimento em infraestrutura e estabelecimentos de habitação temporária, com estratégias sustentáveis. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi desenvolver o anteprojeto de uma pousada de charme com uso da bioconstrução para a Praia de Cotovelo – Parnamirim/RN. Para tal, fez-se necessário analisar necessidades, a t r a t i vo s e diferenciais para o funcionamento de hotéis e pousadas em regiões litorâneas, em especial do Rio Grande do Norte. Além disso, foi preciso identificar os critérios necessários para que a pousada se enquadrasse no Código de Conduta Ambiental Roteiros de Charme e, por fim, aplicar técnicas de bioconstrução de forma a conceber ambientes sustentáveis por meio do uso de materiais de baixo impacto ambiental e adequados ao clima da região. Palavras-Chave: Projeto de Arquitetura, Pousada, Roteiros de Charme, Bioconstrução. ABSTRACT Over time, the turism has become a significant economic activity and, in face of the current environmental concern, new concepts emerged such as alternative, responsible, and ecological turism, as well as geoturism. Therefore, the key to explore properly this tourism and keep it attractive is investing in infrastructure and temporary housing facilities using sustainable strategies. As a result, this final graduation work seeks the development of a preliminary design project for a charming lodge in Cotovelo Beach (Parnamirim/RN) making use of bio construction. In order to do that, the analysis of needs, attractions, and differentials for lodges and hotels in coastal regions, especially in Rio Grande do Norte, was extremely important. In addition, this project required the identification of needs to make this lodge comply with the Environmental Conduct Code for Charming Routes and, finally, apply bio construction strategies to design sustainable environments by the use of low impact and climate appropriate materials. Keywords: Architectural Design Project; Lodge; Charming Route; Bio Construction. LISTA DE FIGURAS Figura 1- Sistema de aproveitamento de água de chuva ................................. 23 Figura 2- Reuso de água residual .................................................................... 24 Figura 3- Aquecedor solar com um reservatório de capacidade de 200 litros .. 26 Figura 4- Orientação do coletor solar ............................................................... 27 Figura 5- Esquema de circuito para termossifão .............................................. 27 Figura 6- Esquema de circuito para circulação forçada ................................... 28 Figura 7- Itens do Sistema Fotovoltaico ........................................................... 28 Figura 8- Economia de energia após selo Procel ............................................. 30 Figura 9- Vista aérea da pousada .................................................................... 33 Figura 10- Bangalô de luxo e bangalô especial respectivamente .................... 34 Figura 11- Quarto de luxo com banheira externa e quarto especial com banheira interna respectivamente ................................................................................... 34 Figura 12- Pedra referente à associação Roteiros de Charme ........................ 35 Figura 13- Coleta seletiva ................................................................................ 35 Figura 14- Passarela elevada e recorte na cobertura do bangalô e do deck ... 36 Figura 15-Salas de spa da L’occitane .............................................................. 37 Figura 16- Detalhe de Coberturas e Alvenarias, respectivamente ................... 37 Figura 17- Acesso de funcionário e estacionamento, respectivamente ........... 38 Figura 18- Vista aérea da pousada .................................................................. 39 Figura 19- Pousada Camurim Grande ............................................................. 39 Figura 20- Pedra da Roteiros de Chame e Bangalô elevado ........................... 40 Figura 21- Implantação da pousada ................................................................. 40 Figura 22- Suíte Casa Grande ......................................................................... 41 Figura 23- Chalés piscina ................................................................................. 41 Figura 24- Chalés jardim .................................................................................. 42 Figura 25- Bangalôs ......................................................................................... 42 Figura 26- Área da piscina............................................................................... 43 Figura 27- Makenna Resort .............................................................................. 43 Figura 28- Makenna Resort .............................................................................. 44 Figura 29- Bangalôs elevados .......................................................................... 44 Figura 30- Implantação do resort ..................................................................... 45 Figura 31- Bangalô ........................................................................................... 45 Figura 32-Localização ...................................................................................... 47 Figura 33-Praia de Cotovelo............................................................................. 48 Figura 34-Localização do terreno ..................................................................... 48 Figura 35-Acesso à praia ................................................................................. 49 Figura 36-Presença de vegetação no terreno .................................................. 49 Figura 37-Dimensões do terreno com curvas de nível ..................................... 50 Figura 38-Zona Bioclimática 8 .......................................................................... 50 Figura 39-Rosa dos ventos na cidade de Natal................................................ 51 Figura 40-Percurso solar nos dias 20/03, 21/06, 22/09 e 21/12, respectivamente. ......................................................................................................................... 52 Figura 41- Manobra de cadeiras de rodas com deslocamento......................... 57 Figura 42- Medidas mínimas de um sanitário acessível. .................................. 59 Figura 43- Dormitório acessível – Área de circulação mínima ......................... 59 Figura 44- Fluxograma ..................................................................................... 69 Figura 45- Primeiro e segundo zoneamento, respectivamente. ....................... 70 Figura 46- Painel Conceito Bangalô tipo 1 ....................................................... 73 Figura 47- Painel Conceito Bangalô tipo 2 ....................................................... 74 Figura 48- Layout padrão e acessível do Bangalô tipo 1 ................................. 75 Figura 49- Layout padrão e acessível do Bangalô tipo 2 ................................. 75 Figura 50- Implantação inicial........................................................................... 76 Figura 51- Vista da borda infinita da piscina..................................................... 77 Figura 52- Vista para piscina e para o jardim, respectivamente. ...................... 77 Figura 53- Detalhe do brise fixo com jardim vertical. ........................................ 78 Figura 54- Detalhe do brise móvel do bangalô tipo 2. ...................................... 78 Figura 55- Localização do restaurante e acesso dos visitantes e hóspedes. ... 79 Figura 56- Bangalô tipo 1 ................................................................................. 80 Figura 57- Casa Tropical - Camarim Arquitetos ............................................... 80 Figura 58- “A kit os parts” - Studio Janzen. ...................................................... 81 Figura 59- Entrada da Pousada Acayu. ........................................................... 81 Figura 60- Uso dos brises fixos e caramanchão. ............................................. 82 Figura 61- Vista da área de lazer. .................................................................... 82 Figura 62- Bangalôs com vista para piscina. .................................................... 82 Figura 63- Uso de gabião em muro. ................................................................. 84 Figura 64- Combinação de madeira reflorestada e bambu. ............................. 84 Figura 65- placas solares nas coberturas. ....................................................... 85 Figura 66- desviador das primeiras aguas. ...................................................... 86 Figura 67- sistema de filtro para aguas cinzas. ................................................ 86 Figura 68- Localização das estações de tratameto. ......................................... 87 Figura 69- Torre Sustentável. ........................................................................... 88 Figura 70- Detalhe Telha Termoroof da Danica. .............................................. 90 Figura 71- Uso do Ecoblock em decks. ............................................................ 91 Figura 72- Glam Mirtilo e Matt Branco .............................................................. 91 Figura 73- Vista da piscina. .............................................................................. 92 Figura 74 – Vista da piscina. ............................................................................ 92 LISTA DE TABELAS Tabela 1-Vantagens e desvantagens do sistema fotovoltaico ......................... 29 Tabela 2-Área de interesse turístico ................................................................. 53 Tabela 3- Área de controle de gabarito 1 - Orla ............................................... 53 Tabela 4- Cálculo de vaga para estacionamento. ............................................ 54 Tabela 5- Dimensionamento das formas de acesso. ....................................... 54 Tabela 6- Dimensionamento da forma de acesso. ........................................... 55 Tabela 7- Quadro de prescrições urbanísticas. ................................................ 55 Tabela 8- Dimensões mínimas dos compartimentos. ....................................... 56 Tabela 9-Programa de necessidades ............................................................... 61 Tabela 10-Dimensões dos bangalôs ................................................................ 61 Tabela 11- Dimensionamento das vagas de estacionamento .......................... 63 Tabela 12-Dimensionamento das áreas públicas e sociais .............................. 63 Tabela 13- Dimensionamento das áreas administrativas ................................. 64 Tabela 14- Dimensionamento das áreas de serviço ........................................ 65 Tabela 15- Dimensionamento das áreas de alimentos e bebidas .................... 66 Tabela 16- Dimensionamento das áreas de equipamentos ............................. 67 Tabela 17- Dimensionamento das áreas recreativas ....................................... 68 Tabela 18- Conceito X Partido ......................................................................... 72 Tabela 19- Quadro de expressão construtiva................................................... 89 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12 1 ARQUITETURA HOTELEIRA E O ROTEIRO DE CHARME ...................... 17 2 SUSTENTABILIDADE E BIOCONSTRUÇÃO ............................................ 21 2.1 Gestão de água ................................................................................... 22 2.2 Eficiência Energética ........................................................................... 25 2.3 Gerenciamento de resíduos ................................................................ 30 2.4 Bioconstrução ..................................................................................... 31 3 ESTUDOS DE REFERÊNCIA .................................................................... 33 3.1 Estudo direto ....................................................................................... 33 3.1.1 Pousada Toca da Coruja ..............................................................33 3.2 Estudos Indiretos ................................................................................ 39 3.2.1 Pousada Camurim Grande ........................................................... 39 3.2.2 Makenna Resort ........................................................................... 43 3.3 Considerações gerais sobre os estudos ............................................. 46 4 CONDICIONANTES PROJETUAIS ............................................................ 47 4.1 Condicionantes Físicos ....................................................................... 47 4.2 Condicionantes Legais ........................................................................ 52 4.2.1 Plano diretor de Parnamirim/RN ................................................... 52 4.2.2 Código de obras de Parnamirim/RN ............................................. 55 4.2.3 NBR 9050 - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. ............................................................................. 57 4.2.4 Código de segurança contra incêndio e pânico ............................ 59 4.3 Condicionantes Funcionais ................................................................. 60 4.3.1 Programa de necessidades e pré-dimensionamento .................... 60 4.3.2 Fluxograma ................................................................................... 68 4.3.3 Zoneamento ................................................................................. 69 5 CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA .......................... 71 5.1 Conceito e partido arquitetônico. ......................................................... 71 5.2 Evolução da proposta .......................................................................... 73 5.3 Evolução da implantação .................................................................... 75 5.4 Estudo Volumétrico ............................................................................. 79 5.5 Princípios sustentáveis e sistema de bioconstrução adotados ........... 83 5.5.1 Materiais ....................................................................................... 83 5.5.2 Energia ......................................................................................... 84 5.5.3 Água ............................................................................................. 85 5.5.4 Resíduos ...................................................................................... 87 5.5.5 Piscina ionizada ............................................................................ 87 5.6 Sistema Hidráulico .............................................................................. 88 5.7 Especificação de materiais .................................................................. 89 5.7.1 Esquadrias .................................................................................... 90 5.7.2 Cobertura ...................................................................................... 90 5.7.3 Pisos ............................................................................................. 91 5.7.4 Piscina .......................................................................................... 91 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 94 12 INTRODUÇÃO O turismo tornou-se uma atividade econômica significativa nos países desenvolvidos, a partir da segunda guerra mundial. O avanço desses países aliado à ampliação de renda da população fez com que houvesse mais disponibilidade de tempo e recursos para o lazer. Atualmente, a preocupação com o meio ambiente tornou-se algo bastante discutido e presente em quase toda sociedade. Em razão deste e de outros motivos surgem novas denominações de turismo como alternativo, responsável, ecológico e geoturismo. Contudo, é importante obter o equilíbrio entre interesses econômicos e sua real preocupação em reduzir os impactos ambientais. No Brasil, o Nordeste reúne algumas das cidades mais visitadas por turistas em busca de paisagens e belezas cênicas e, no Rio Grande do Norte (RN), o turismo tornou-se uma das principais atividades econômicas. O clima tropical e a diversidade de belezas naturais fazem com que cada vez mais o estado ganhe destaque. Dessa forma, a procura por belas praias e a abundante oferta de sol, durante quase todo o ano, são os grandes atrativos para os turistas nas diversas estações. Com a globalização da economia mundial, a quantidade de viagens regionais e internacionais cresceu consideravelmente e com isso, também, a necessidade de mais locais para hospedagem. Para que o turismo seja explorado de forma correta e também possa continuar a atrair turistas é fundamental o investimento em infraestrutura e estabelecimentos de habitação temporária. Para tal, existem diversos tipos de alojamentos, como resorts, hotéis e pousadas, que podem trazer experiências diversas e, dessa forma, contribuir para a opinião do visitante sobre o local. Alguns hotéis, quando bem projetados, passam a ser o principal motivo dos visitantes para conhecer determinado destino. São exemplos os hotéis que buscam um diferencial e garantem, além de uma hospedagem de qualidade, conforto, charme e preocupação ambiental. Nesse sentido, surgiram classificações hoteleiras que garantem que o empreendimento desenvolva atividades sustentáveis e, dessa forma, participe de um turismo responsável. 13 Nesse sentido, foi fundada em 1992 a Associação de Hotéis Roteiros de Charme como entidade privada e sem fins lucrativos. No ano de 1999, deu- se o início da adoção de seu Código de Ética e de Conduta Ambiental, reconhecido nacional e internacionalmente. Esse código ordena práticas sustentáveis envolvendo gestão responsável de agua, energia e resíduos de forma simples e objetiva, de modo a minimizar os impactos dos hóspedes sobre o meio ambiente e adotar posturas que busquem a sustentabilidade do turismo no Brasil. Após a elaboração desse código, o programa de sustentabilidade da “Roteiros de Charme” está em plena sintonia com os conceitos de Turismo Sustentável e o Geoturismo, definido como "O turismo que sustenta ou aumenta o caráter geográfico de um destino turístico: seu ambiente, paisagem, patrimônio histórico e cultural, e o bem-estar da população residente" (National Geographic Traveller, 2002). Acredita-se que o arquiteto tem fundamental importância no planejamento desse tipo de hotelaria, visando à construção da sustentabilidade dos destinos turísticos onde se localizam e reduzindo os impactos ambientais gerados pela construção civil. Dentro dessa perspectiva, trabalho em estudo tem como tema a arquitetura hoteleira visando sustentabilidade ambiental, uma vez que foi proposto um projeto arquitetônico de uma pousada com uso da bioconstrução e a certificação da “Roteiros de Charme”. A área escolhida para implementação do empreendimento foi a Praia de Cotovelo, situada a 21km da capital Natal e localizada no município de Parnamirim-RN. Cotovelo é uma praia deslumbrante e com forte apelo cênico paisagístico. Seu visual é composto por belas falésias que modelam encantadoras esculturas naturais e dunas de areia branca, além de coqueirais e uma longa faixa de areia clara e fina. Figura 01: Praia de Cotovelo - RN 14 Fonte: Acervo Pessoal A escolha da Praia de Cotovelo foi, sobretudo, devido ao seu grande potencial cênico paisagístico com as belas falésias e o baixo desenvolvimento do setor hoteleiro no local. A proximidade com a capital Natal também foi motivo de escolha, pois faz com que a praia se torne um refúgio próximo em busca de tranquilidade. Todavia, a aproximaçãocom a Praia de Pirangi possibilita, também, uma fuga para curtir o movimento e festas no período de veraneio. Portanto, a realização de uma obra diferenciada na área pode incentivar o turismo local por se tornar um tipo de atrativo. Dessa forma, tem-se como objetivo geral para o trabalho em questão desenvolver o anteprojeto de uma pousada de charme com uso da bioconstrução para a Praia de Cotovelo – Parnamirim/RN. A ideia de se criar uma pousada surgiu, inicialmente, por não se ter contato com esse tipo de projeto durante a graduação e, após estágios em escritórios de arquitetura, percebeu-se que é um tema que sempre apresenta novas demandas dentro do mercado. Além do que, é uma edificação que permite o uso de diversas tipologias e possibilita ousar na criatividade quanto à forma. Associado a isso, o interesse pelo tema de arquitetura sustentável induziu a busca de um critério dentro da arquitetura hoteleira que a explorasse. Com a certificação de “Charme” é possível garantir que a pousada atenda à princípios sustentáveis, de conforto, charme e seja, assim, uma hospedagem de qualidade. Dessa forma, o estudo de técnicas de bioconstrução possibilitará a escolha de um sistema construtivo que respeite o meio ambiente, garantindo um desenvolvimento sustentável sem esgotar os recursos do planeta. 15 Dessa maneira, para atingir o objetivo geral que é desenvolver o anteprojeto de uma pousada de charme com uso da bioconstrução para a Praia de Cotovelo – Parnamirim/RN foi necessário o uso de procedimentos metodológicos e técnicas próprias para cada objetivo específico levantado, como também etapas de concepção e desenvolvimento do projeto. Portanto foi fundamental a realização dos estudos de referência direto e indiretos de hotéis/pousadas a partir de entrevistas com os proprietários, levantamento de dados e fotográficos, fichamentos e tabela, bem como se fez necessário a realização de pesquisas bibliográficas nos livros “Hotel: planejamento e projeto” e “Hotéis e Resorts: Planejamento, projeto e reforma” e outros trabalhos acadêmicos. Visto que a pousada se enquadra no Código de Conduta Ambiental Roteiros de Charme, foi de suma importância a leitura e fichamento deste código, como também de estudos de referência diretos e indiretos de hotéis/pousadas. Por fim, foi realizado uma análise comparativa - através de tabela sintese - entre os estudos de referência. A fim de entender as técnicas de bioconstrução também se fez necessário a realizaçãos dos estudos de referência direto e indiretos de edificações, com uso da bioconstrução a partir de levantamento de dados e fotográficos, fichamentos e tabelas. Além disso, foram feitas pesquisas bibliográficas em livros e publicações em revistas e sites de arquitetura e sustentabilidade, para dar subsídio à concepção e desenvolvimento do projeto arquitetonico. Por fim, foi necessário realizar todas as etapas de concepção e desenvolvimento do projeto. Para tal foi fundamental a leitura de autores como Elvan Siva (1998), Edson Mahfuz (1995) e Laert Neves (1989). O trabalho foi estruturado da seguinte maneira: o primeiro capítulo contem um resumo sobre a arquitetura hoteleira, os tipos de classificações dos meios de hospedagem e além disso explica o que é um hotel de chame e quais os critérios para se enquadrar no “Roteiros de Charme”. O segundo capitulo trará uma breve explicação sobre os princípios básicos de sustentabilidade ambiental e técnicas de bioconstrução que permitem 16 conceber ambientes sustentáveis por meio do uso de materiais de baixo impacto ambiental e adequados ao clima da região. O terceiro apresenta projetos de hotéis e/ou pousadas localizados em regiões litorâneas com o objetivo de analisar suas necessidades, atrativos e diferenciais e extrair as boas ideias. Também contem exemplos de soluções arquitetônicas sustentáveis bem empregadas. O quarto capitulo compreende uma breve explanação sobre a área definida, praia de cotovelo – Parnamirim/RN, contendo condicionantes ambientais, legais e projetuais. E por fim, no quinto capitulo será desenvolvido um memorial descritivo da proposta arquitetônica desde seu conceito e partido até a solução final. 17 1 ARQUITETURA HOTELEIRA E O ROTEIRO DE CHARME “Embora no Brasil o ato de hospedar pessoas remonte aos tempos da colônia, manifestado pela acolhida de viajantes por moradores locais, a prestação do serviço de hospedagem com finalidade comercial demorou bastante para existir. ” (RIBEIRO, 2011, P.23) De acordo com Andrade, Brito e Jorge (2001), no período colonial, os casarões dos engenhos e fazendas, no período colonial, eram locais onde os viajantes se hospedavam. A maioria das famílias desse período já costumava ter o quarto de hóspedes para receber visitantes em suas casas. Nos conventos também já se tinha o hábito de receber hóspedes e personalidades ilustres. No mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, foi construído um edifício exclusivo para hospedaria. Ribeiro (2011) explica o surgimento da denominação de hotel a partir da abertura dos portos e com isso o crescimento do fluxo de estrangeiros, como citado a seguir: Em 1808, com a chegada da corte real portuguesa ao Rio de Janeiro e a abertura dos portos às nações amigas, houve um aumento do fluxo de pessoas e da demanda por alojamento, fazendo com que casas de pensão, hospedarias e tavernas abrissem suas portas aos viajantes e passassem a adotar a denominação de hotel. (RIBEIRO, 2011). Ainda segundo esse autor, “No final do século XIX, a circulação dos primeiros trens e a ligação ferroviária entre Santos e a capital serviram de importante impulso para o incremento da hotelaria paulista.” (RIBEIRO, 2011). O Rio de Janeiro nesta mesma época, embora fosse destino de muitas pessoas, apresentava dificuldades no setor hoteleiro. Entre meados do século XIX e início do século XX ocorria uma escassez de hotéis no Rio de Janeiro, com isso, o governo criou o Decreto nº 1160, de 23 de dezembro de 1907, que incentivava a implantação de cinco hotéis isentando-os por sete anos de impostos municipais. (ANDRADE, BRITO E JORGE, 2001) Os incentivos ao turismo nacional ocorreram somente a partir da década de 60, como relata Ribeiro: 18 Com a proibição dos jogos, a hotelaria brasileira somente teve novo incremento a partir da década de 1960 com a destinação de incentivos fiscais para o setor, primeiro promovido pelo Banco Central, em 1963, depois, em 1966, pela EMBRATUR (à época Empresa Brasileira de Turismo e atualmente Instituto Brasileiro de Turismo) por meio do Fundo Geral de Turismo (FUNGETUR), promovendo nova ascensão do ramo. (RIBEIRO, 2011, p.25). A nível internacional, as redes hoteleiras estrangeiras chegaram ao Brasil nos anos de 60 e 70 trazendo novos padrões de serviços e de preços, mesmo com ainda poucos hotéis. De acordo com Andrade, Brito e Jorge: As viagens turísticas ao exterior apresentam um componente importante para a hotelaria brasileira: os turistas brasileiros, 80 por cento dos quais se destinam aos Estados Unidos, passam a conhecer o padrão da hotelaria de países desenvolvidos, que apresentam melhor qualidade e menores preços. Gradualmente, esses turistas irão pressionar as empresas do setor hoteleiro no Brasil a oferecer mais qualidade e preços menores (2001, p.22). A década de 80 trouxe o aparecimento de hotéis de padrão econômico e intermediário, bem como, o surgimento de novos meios de hospedagem como os flats, por exemplo. Muitos desses administrados por grandes redes como Accor e Transamérica. (RIBEIRO, 2011) Em relação ao sistema de classificação de hotéis, a OMT (Organização Mundial de Turismo) desde 1962 buscava desenvolver um sistema que fosse universalmente aceito. Mais de 100 tipos de classificação baseados no padrão da OMT e adequados às condiçõeslocais, estavam em operação em 1995. (LAWSON, 2003). Lawson (2003, p.13) diz que os sistemas podem ser divididos basicamente em dois grupos: Classificações oficiais: os padrões são estabelecidos por órgãos governamentais, geralmente o Ministério do Turismo ou uma Secretaria Regional de Turismo - seja como pré-requisito ao registro ou como um sistema voluntário. 19 Classificações independentes: os hotéis são vistoriados e avaliados por determinadas associações (de hotéis ou automóveis, por exemplo) ou empresas comerciais (guias de Viagem Mobil e Michelin). Os meios de hospedagem existentes atualmente são dos mais diversos tipos, o SBClass (Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem), como um sistema de classificação oficial, estabelece sete categorias diferentes: Hotel, Resort, Hotel Fazenda, Cama e Café, Hotel Histórico, Pousada e Flat/Apart- hotel. Cada um deles visando um mercado específico e provendo condições de segurança, higiene e satisfação por curtas ou longas temporadas. Sabendo que o meio de hospedagem em questão se trata de uma pousada, o SBClass define essa tipologia como sendo: Empreendimento de característica horizontal, composto de no máximo 30 unidades habitacionais e 90 leitos, com serviços de recepção, alimentação e alojamento temporário, podendo ser em um prédio único com até três pavimentos, ou contar com chalés ou bangalôs. Ainda de acordo com o SBClass, as pousadas podem ter de uma a cinco estrelas. A cada estrela complementar, requisitos de infraestrutura, serviços e sustentabilidade são comparados, diferenciando-as entre si. Além das classificações oficiais, existem diversas outras classificações independentes que trazem características próprias às mais diversas tipologias de meios de hospedagem. Uma dessas Classificações é a Roteiros de Charme, uma associação de hotéis como entidade privada e sem fins lucrativos que busca aliar qualidade, ética e responsabilidade social. Essa associação procura a prática de atividades hoteleiras que consigam reduzir os impactos sobre o meio ambiente, mantendo a sustentabilidade do turismo no Brasil e ao mesmo tempo preservando o charme do estabelecimento. “A Associação de Hotéis Roteiros de Charme congrega atualmente 69 Hotéis, 20 Pousadas e Refúgios Ecológicos situados, do Norte ao Sul do Brasil, em 16 estados e 60 destinos turísticos.” 1 Para se enquadrar nesse roteiro, é importante que o estabelecimento atenda a princípios do seu Código de Ética e Conduta Ambiental desenvolvido em cooperação com a UNEP (United Nations Environment Programme). Esse código estabelece práticas sustentáveis, envolvendo gestão responsável de água, energia e resíduos sólidos e efluentes, de forma simples e objetiva. De acordo com a associação, os exemplos mais conhecidos de boas práticas são: o uso de placas solares para aquecimento de água, ampla utilização de iluminação natural, lâmpadas de baixo consumo, e dispositivos eletrônicos para maior eficiência no consumo de energia elétrica; a coleta seletiva, a redução e a reciclagem dos resíduos sólidos; o envolvimento dos hotéis em iniciativas e projetos de preservação do patrimônio ambiental, histórico e cultural de suas regiões. 1 http://roteirosdecharme.com.br/ 21 2 SUSTENTABILIDADE E BIOCONSTRUÇÃO Somente nas últimas décadas do século XX que surgiu, de fato, a preocupação com o meio ambiente, o qual era tratado, de forma geral, como uma fonte inesgotável de recursos naturais. Contudo, o impacto ambiental das ações humanas não é um acontecimento recente; ele traz um histórico desde o desenvolvimento das atividades agrícolas, o que contribuiu para os primeiros desmatamentos, percorrendo pela revolução industrial com grande exploração dos recursos naturais e elevada quantidade de resíduos gerados, até o atual modo de vida capitalista. Atualmente, a construção civil tem relação direta com essa temática, devido à enorme extração de matérias-primas, produção de materiais, ocupação de terras e geração de resíduos sólidos. Isso se dá devido à grande urbanização dos países, cada vez mais as pessoas são atraídas pelas cidades. O crescimento do processo de urbanização traz consigo o aumento do consumo dos recursos naturais e consequentemente maior geração de resíduos. Nesse sentido, o arquiteto é peça fundamental nesse processo em busca de um ambiente mais sustentável. Pois ele é o responsável por definir de que forma o edifício funcionará, além de especificar todos os materiais construtivos necessários para uma arquitetura mais sustentável, ou seja, que use os recursos de forma mais responsável, com menor consumo de energia, água e outros elementos. O conceito de sustentabilidade vem associado ao termo desenvolvimento sustentável, definido no relatório de Brundtland, em 1987 como: o desenvolvimento que supre as necessidades atuais sem comprometer o atendimento das necessidades das futuras gerações em atender às suas. Um desenvolvimento sustentável exige o conhecimento e a consciência de que os recursos são finitos. (Grupo de Trabalho de Sustentabilidade AsBEA, 2012) O conceito de desenvolvimento sustentável é bastante abrangente e dessa forma procura aliar quatro dimensões, a sustentabilidade ambiental, econômica, sociopolítica e cultural. No âmbito ambiental incide em conservar os ecossistemas vigentes e também preservar o ambiente natural para que ele possa manter 22 condições favoráveis de vida para todos os seres vivos em relação a habitabilidade, a beleza do ambiente e a sua função como fonte de energias renováveis. 2 Nesse segmento, para se alcançar o desenvolvimento sustentável é primordial um bom planejamento em relação a conservação de água, energia, redução e reciclagem de resíduos sólidos e gestão responsável de efluentes. E ainda assim, evitar que o interesse financeiro se sobreponha aos interesses ambientais. 2.1 Gestão de água A água é um recurso natural de valor inestimável e deve ser compreendida como um bem finito, no Brasil milhões de famílias não têm acesso a esse benefício essencial à vida. De acordo com a UNEP (UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME) menos de 1% da água doce existente no planeta está disponível para o consumo dos ecossistemas. Seu uso na agricultura e para consumo humano, afasta a água de seu ciclo natural e com o crescimento das cidades e o aumento da impermeabilização do solo a reposição do lençol freático é impedida. Em virtude disso, é primordial que durante a concepção projetual se faça uma análise da melhor forma para aproveitar esse recurso. Assim sendo, de acordo com o Selo Casa Azul da Caixa Econômica (2010), a gestão do uso da água em edifícios deve contemplar, fundamentalmente: o suprimento de água potável, a gestão de águas pluviais e o esgotamento sanitário. Dessa forma, soluções são adotadas para substituir o uso de água potável por água não potável em pontos de consumo onde a potabilidade não é necessária. A utilização da água potável pode se limitar a piscinas, alimentação, higienização corporal, saunas etc. O uso de água das chuvas, não potável, para fins como descargas de privadas e jardinagem é um dos métodos mais comuns para racionalizar a água. Ele consiste no armazenamento de água proveniente das chuvas em reservatórios independentes. Os primeiros 5 minutos são descartados, visto que, é a água que fez a limpeza do telhado da edificação e retém grande quantidade de impurezas, assim será possível armazenar água de melhor qualidade. A água antes de ser armazenada, passa por um processo de filtragem seguida de cloração. A figura 1 demonstra como funciona esse tipo de sistema. De acordo com o Selo Casa Azul 2 http://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28588-o-que-e-desenvolvimento-sustentavel/23 da Caixa, esse tipo de sistema deve reduzir em, no mínimo, 10% do consumo de água potável. Figura 1- Sistema de aproveitamento de água de chuva Fonte: http://www.sempresustentavel.com.br/hidrica/aguadechuva/agua-de-chuva.htm Fatores como as condições climáticas do local devem ser levados em consideração no momento de escolha do melhor sistema a ser implementado, visto que, o volume pluviométrico é um fator importante para decidir pelo modo de aproveitamento de água da chuva, por exemplo. Contudo, também é possível fazer o reuso de água residual e dessa forma aproveitar as águas provenientes de chuveiros, banheiras e máquinas de lavar roupa, conhecidas como águas cinza. A NBR-13.969:1997 que trata dos “Tanques sépticos - Unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos - Projeto, construção e operação”, no item que fala sobre reuso local, assegura que: No caso do esgoto de origem essencialmente doméstica ou com características similares, o esgoto tratado deve ser reutilizado para fins que exigem qualidade de água não potável, mas sanitariamente segura, tais como irrigação dos jardins, lavagem dos pisos e dos veículos automotivos, na descarga dos vasos sanitários, na manutenção paisagística dos lagos e canais com água, na irrigação dos campos agrícolas e pastagens. (NBR 13969:1997, p.21) 24 Esse sistema consiste em mais um processo pelo qual a água passa para que possa ser novamente utilizada. É necessária a existência de dois reservatórios, um para água potável e outro para água de reuso. Sendo o primeiro localizado, normalmente, em um nível mais alto que o segundo, isso garante que o fluxo de água siga o padrão “one way” evitando dessa forma a contaminação da água potável caso o caminho fosse o inverso. Isso porque ambos os reservatórios são interligados para permitir o abastecimento com água potável na falta de água de reuso. A figura 2 demonstra esse sistema de reuso. Figura 2- Reuso de água residual Fonte: Notas de Aula da Disciplina de Instalações I CAU/UFRN Além dos métodos de reaproveitamento é possível fazer o uso racional de água através da escolha de equipamentos que proporcionem a redução do seu consumo, como bacia sanitária dotada de sistema de descarga com volume nominal de seis litros e com duplo acionamento (3/6 L), torneiras de fechamento automático, dispositivos economizadores arejadores que proporcionam melhor dispersão do jato em torneiras e registros reguladores de vazão. A sustentabilidade já é um grande impulsor da inovação tecnológica em diversos setores. Tendo em vista todos os itens descritos para gerir de forma sustentável o consumo de água potável, é necessário fazer a escolha correta e consciente daqueles que serão aplicados no projeto. Independente da escolha e sempre que houver fontes alternativas, a saúde dos usuários deve ser garantida, assim como o 25 bom desempenho dos sistemas, para isso é necessário o constante monitoramento da água e gestores capacitados. 2.2 Eficiência Energética Quanto às diversas formas de energia utilizadas pela sociedade ao longo da história, Venâncio narra: Na sociedade moderna, qualquer atividade só é possível com o uso de uma ou mais formas de energia. Ao longo dos últimos séculos, a história da humanidade foi caracterizada pela troca de matriz energética, praticamente a cada 50 anos. [...] Estima-se que todas as reservas de petróleo durem mais 40 anos, as de gás 67 anos e as de carvão mais 164 anos. (Venâncio, 2011, p.110) Além disso, de acordo com o balanço energético nacional (BEN) de 2016, grande parte do consumo total de energia elétrica do País é proveniente de edificações, sendo 21,3% referente ao setor residencial, 14,8% ao setor comercial e 6,9% ao setor público. Dessa forma, é essencial pensar em edificações com soluções de eficiência energética para minimizar os impactos ambientais. A ecoeficiência energética se tornou um dos pilares da sustentabilidade. Segundo o Selo Casa Azul da Caixa (2010), pesquisa realizada pela Eletrobrás, Sistema de Informações de Posses de Eletrodomésticos e Hábitos de Consumo – Sinpha revela que o uso de geladeiras e freezer detém 27% do consumo de eletricidade no setor residencial brasileiro, seguindo com o chuveiro elétrico 24%, ar condicionado 20% e por fim a iluminação artificial com 14%. Como foi exposto, a participação de eletrodomésticos no consumo de energia elétrica no setor residencial brasileiro é bastante considerável. De acordo com esse selo, o objetivo para ter um uso racional da energia é reduzir o consumo e otimizar a quantidade de energia gasta em cada uso a partir de equipamentos mais eficientes, uso de fontes alternativas de energia, dispositivos economizadores e medições individualizadas. 26 Ao analisar fontes alternativas de energia e tendo em vista a abundante oferta de sol durante quase todo o ano na grande Natal, o mais indicado é a utilização da energia solar como fonte de energia elétrica e aquecimento de agua. O Selo Casa Azul da Caixa destaca um estudo feito pela Eletrobras e pelo Laboratório Green Solar da PUC/MG que aponta uma redução em 44% no gasto com energia devido ao uso de energia solar para aquecimento de água. O Sistema Solar de Aquecimento de Água (SAS), como forma de energia renovável para edificações, é uma das formas mais viáveis no âmbito ambiental e econômico. A NBR 15569 - “Sistema de aquecimento solar de água em circuito direto - projeto e instalação” descreve o SAS como sistema composto por coletores solares planos, com ou sem reservatórios térmicos, e com eventual sistema de aquecimento de água auxiliar. Os principais componentes desse sistema são: o coletor solar e o reservatório térmico (Figura 3). O primeiro detém a função de absorver a radiação solar e conduzir calor para água que circula em seu interior. De forma geral, a cada m² de placa coletora é possível aquecer 100 litros de água. Já o segundo equipamento, possui a função de armazenar e manter a água aquecida. Figura 3- Aquecedor solar com um reservatório de capacidade de 200 litros Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/coletor-solar.htm A eficiência energética gerada por esses coletores depende de dois fatores fundamentais, que são: sua posição em relação ao norte geográfico e sua inclinação em relação ao plano horizontal que deve ser o valor da latitude local 27 acrescido de 10º. Quanto mais próximo dessa orientação, mais eficiente é a absorção da radiação solar, principalmente em latitudes mais altas. A figura abaixo exemplifica isso. Figura 4- Orientação do coletor solar Fonte: Selo Casa Azul da Caixa O SAS apresenta dois princípios básicos de funcionamento a partir da forma como a água circula em seu interior. Um deles é chamado de termossifão ou circulação natural (Figura 5), cujo princípio básico é a circulação da água a partir diferença de densidade. Nesse tipo de sistema quanto mais radiação solar mais rápido a água circula, a água aquecida fica mais leve e é empurrada pela água mais fria e mais pesada. Figura 5- Esquema de circuito para termossifão Fonte: NBR15569 O outro é chamado de Bombeado ou Circulação Forçada (Figura 6), o princípio deste se baseia na circulação da água a partir de uma força gerada por uma bomba hidráulica sempre que houver energia suficiente captada pelos 28 coletores. Essa energia é indicada pelo CDT (Controlador diferencial de temperatura). Figura 6- Esquema de circuito para circulação forçada Fonte: NBR15569 O primeiro, devido seu tipo de funcionamento, é mais indicado para instalações de pequeno porte (armazenamento de até mil litros). Já o segundo para instalações de maior porte. Ambos podem ser dimensionados de acordo com especificações da NBR 15569. Outra fonte alternativa de energia que também utilizaa radiação solar é o sistema fotovoltaico, que é capaz de transformar a luz do sol em energia elétrica. Esse sistema é composto por 4 itens, o módulo, o controlador de carga, a bateria e o inversor (Figura 07). Figura 7- Itens do Sistema Fotovoltaico Fonte: http://sunrioenergiasolar.com.br/sistema-fotovoltaicos/ 29 Seu funcionamento se baseia na produção de corrente elétrica pelos módulos após receber os raios solares, essa energia gerada ao chegar no controlador de cargas é conduzida e armazenada em baterias, em sistemas isolados; ou os sistemas podem ser interligados à rede. “Os painéis coletores de energia fotovoltaica, além de sua função, podem ser usados como recurso decorativo, cortinas de vidro, brises ou fechamento de telhado, sendo um bom exemplo de forma e função” (VENÂNCIO, 2011, p.118). A tabela a seguir mostra as principais vantagens e desvantagem desse tipo de sistema, de acordo com informações do livro “Minha Casa Sustentável - Guia para uma construção residencial responsável” do Arquiteto Heliomar Venâncio, 2011. Tabela 1-Vantagens e desvantagens do sistema fotovoltaico SISTEMA FOTOVOLTAICO VANTAGENS DESVANTAGENS Excedente de energia pode ser vendido a rede pública Alto custo de implantação Energia renovável Silenciosa Não emite CO² (limpa) Pouco desenvolvido no Brasil Gerada no local Pode ser transportada para outra edificação Fonte: Elaborado pela autora, 2017. Além das fontes alternativas de energia citadas acima, e como já dito anteriormente, para chegar a um conceito de eficiência energética é importante utilizar equipamentos mais eficientes. O Selo Casa Azul da Caixa diz que: Em relação ao uso de equipamentos energeticamente mais eficientes, é incentivado o emprego daqueles que possuam uma excelente classificação dentro do Programa Brasileiro de Etiquetagem – PBE, do Inmetro, tanto em relação ao consumo de eletricidade quanto ao de gás. 30 O PBE classifica os equipamentos de A (mais eficiente) até E (menos eficiente). Tanto o Procel (Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica) quanto o Conpet (Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e Gás Natural) premiam anualmente os melhores produtos do mercado com o selo de eficiência. Este selo é dado aos produtos mais eficientes do mercado. (Selo Casa Azul da Caixa, 2010, p.106) A imagem a seguir demonstra a economia de energia com uso desses equipamentos. Figura 8- Economia de energia após selo Procel Fonte: Selo Casa Azul da Caixa 2.3 Gerenciamento de resíduos “Resíduo é todo resultado de ação humana ou gerado pela natureza em aglomerações urbanas.” (VENÂNCIO, 2011, p.198) Conforme mencionado anteriormente, a construção civil é uma fundamental consumidora de recursos ambientais, contudo a escolha consciente de materiais e 31 sistemas construtivos minimiza a geração de resíduos na fase construtiva. A durabilidade do edifício garante menos ciclos de renovação e reposição na fase de uso. Segundo o Guia de sustentabilidade na arquitetura – diretrizes de escopo para projetistas e contratantes: O projeto arquitetônico adequado é aquele que facilita o gerenciamento de resíduos, que tem como premissas a não geração e a redução de resíduos, o aproveitamento desses recursos. O encaminhamento para reuso ou reciclagem, o descarte adequado e controlado. (AsBEA, 2012, p.54). Nesse sentido, a construção civil evoluiu para facilitar as fases relacionadas a gestão desses resíduos, no caminho para uma industrialização mais completa obtendo um canteiro de obra cada vez mais limpo. 2.4 Bioconstrução O termo Bioconstrução remete à existência de uma preocupação ecológica desde o projeto até a ocupação de edificações. “Combina técnicas milenares com inovação tecnológica, garantindo a sustentabilidade não só do processo construtivo como também do período pós ocupação de casas e edifícios.” 3 O Ministério do Meio Ambiente elaborou uma cartilha que fornece instruções fundamentais para construir sem grandes impactos ambientais e melhor oferta de qualidade de vida a partir dos conceitos da Bioconstrução. Nessa cartilha o termo bioconstrução é compreendido como: Entendemos por bioconstrução os sistemas construtivos que respeitam o meio ambiente: • durante a fase de projeto e de construção do edifício (na escolha dos materiais e técnicas de construção adequadas); • ao longo do uso do edifício (eficiência energética e tratamento adequado dos resíduos); Os itens citados anteriormente para gestão e economia de água como reuso e aproveitamento de água das chuvas, fontes alternativas de energia como 3 http://www.ecocasa.com.br/bioconstrucao 32 aquecimento solar, coleta seletiva e reciclagem de lixo são exemplos de sistemas construtivos que respeitam o meio ambiente ao longo do uso do edifício. Já o uso de técnicas construtivas que preservem o meio ambiente e utilizem matérias-primas recicladas ou naturais disponíveis no local são exemplos de sistemas construtivos que respeitam o meio ambiente durante a fase de projeto e de construção do edifício. Todas as soluções citadas acima visam uma construção menos tóxica e invasiva para os moradores. É sabido que a Bioconstrução tem princípios na elaboração de ambientes sustentáveis por meio do uso de materiais de baixo impacto ambiental, a escolha do material adequado deve priorizar aqueles encontrados na localidade da obra. A terra, pedra, palha e madeira são alguns dos tipos de materiais. A disponibilidade deles vai depender do tipo de região e das atividades desenvolvidas nela. Portanto, existem técnicas apropriadas para conceber esses ambientes, fundamentados na Bioconstrução, são eles: o Superadobe, Adobe, Cob, Taipa de mão, Taipa de Pilão, Solocimento, Fardos de Palha e Ferrocimento. (CURSO DE BIOCONSTRUÇÃO, 2008). 33 3 ESTUDOS DE REFERÊNCIA Este capítulo apresenta os 3 estudos de referenciais projetuais que fundamentaram a proposta. Dois são estudos indiretos elaborados por meio de sites, revistas e publicações e um é estudo direto realizado in loco através de visita, entrevista e registro fotográfico. 3.1 Estudo direto 3.1.1 Pousada Toca da Coruja O estudo de referência direto foi realizado na Pousada Toca da Coruja, a qual se localiza na Av. Baía dos Golfinhos, principal rua da praia da Pipa-RN, próximo a bares, restaurantes e mercados. A pousada foi construída numa área de jardim tropical com plantas e árvores da região, totalizando 25 mil m² de extensão. Figura 9- Vista aérea da pousada Fonte: Toca da Coruja. Disponível em: http://www.tocadacoruja.com.br/localizacao- toca-da-coruja.htm No dia 25 de março de 2017 foi realizada uma visita à pousada com o acompanhamento de um funcionário bem antigo do estabelecimento, chamado Ninho, que pôde mostrar todo o local e passar o máximo de informações possíveis. Às demais informações foram fornecidas por Isis, atual proprietária da Toca por meio de e-mail e também adquiridas através do site da pousada. Ninho conta que a pousada foi construída há 25 anos com apenas 4 apartamentos na parte da frente, sem camas e apenas colchões. Com o tempo esse número cresceu para 11. Após reforma desses 11 quartos seu estilo foi mudado, sendo implementados alguns ambientes como o bar da piscina e foi nessa configuração que a Toca da Coruja entrou para a Roteiros de Charme. Após 34 comprar mais terreno, foram construídos, inicialmente, mais 5 e posteriormente mais 12 quartos. A configuração atual conta com 28 bangalôs, sendo 12 de luxo e 16 especiais. O primeiro possui uma área de 130 m² e apesar de remeter a um estilo de fazendas coloniais possui equipamentos eletrônicos como TV LCD, internet sem fio, frigobar e cofre. Já o segundo possui uma área de 60m² mas também possui muito charme e romantismo em seu estilo. Figura 10- Bangalô de luxo e bangalô especial respectivamente Fonte: Toca da Coruja. Disponível em: http://www.tocadacoruja.com.br/acomodacoes.htm Cada detalhe foi muito bem pensado mantendo o charme e sofisticação de cada quarto. Ambos os bangalôs possuem cama king size, mobiliário especial, ar- condicionado, ventilador de teto, lençóis de algodão egípcio e travesseiros de pena de ganso. O que os diferenciam, é que o tipo luxo possui uma banheira de hidromassagem vitoriana do lado externo e localização mais reservada e individualizada. Figura 11- Quarto de luxo com banheira externa e quarto especial com banheira interna respectivamente 35 Fonte: Toca da Coruja. Disponível em: http://www.tocadacoruja.com.br/galeria-de- fotos.htm Esse estabelecimento foi escolhido para estudo por pertencer ao Roteiros de Charme. Segundo Isis, atual proprietária, os pontos necessários para que entrasse no roteiro foram possuir variedade de características e personalidades independentes, segundo rígidos critérios quanto ao conforto, qualidade de serviços e responsabilidade socioambiental, sempre de forma economicamente viável e sustentável. Figura 12- Pedra referente à associação Roteiros de Charme Fonte: Acervo pessoal, 2017. A pousada, além de tudo, possui responsabilidade ambiental com um programa baseado em práticas sustentáveis. Em relação à gestão de água, a pousada possui reuso de água residual e uso de sanitários com caixa acoplada. No tocante à eficiência energética, cada bangalô possui energia solar através de placas solares instaladas sobre os telhados, além de sensores de presença e lâmpadas econômicas. Ademais, a pousada conta com tratamento de resíduos (coleta seletiva, compostagem e reciclagem); após a compostagem os alimentos são transformados em adubo para uso na própria horta e jardins. Figura 13- Coleta seletiva 36 Fonte: Acervo pessoal, 2017 O objetivo principal da pousada é preservar a natureza, isso é claramente observado com as passarelas elevadas interferindo minimamente na topografia, além de recortes nas coberturas dos bangalôs e no deck do restaurante para preservar coqueiros e cajueiros e a presença de animais como micos, pássaros raros como o pipa-pau, iguanas, peixes, camarão de água doce e até jacaré nos lagos artificiais. Figura 14- Passarela elevada e recorte na cobertura do bangalô e do deck Fonte: Acervo pessoal, 2017 Na atual configuração, a pousada conta com um programa de necessidades composto por: 28 bangalôs, recepção, restaurante, adega climatizada, bar da piscina, 3 salas de spa da L’occitane, sauna a vapor, academia ao ar livre, 2 piscinas ionizadas com hidromassagem, estacionamento, rouparia, cozinha, escritório, espaço para funcionários, loja de artesanato, sala de leitura, sala de jogos, videoteca e barraca na praia das minas. 37 Figura 15-Salas de spa da L’occitane Fonte: Acervo pessoal, 2017 Em conversa com uma hóspede, os pontos levantados foram que, além de excelente infraestrutura a Toca possui ótimo atendimento e serviços oferecidos, 5 carros com motoristas estão disponíveis para fazer o translado de hóspedes à barraca na praia das minas e ao aeroporto, o café da manhã é servido até meio dia, mesas a luz de velas podem ser colocadas no jardim e todos os espaços estão em plena sintonia com a natureza unindo música ambiente, iluminação natural e aromas diferentes. Ao observar os materiais e sistemas construtivos utilizados na Toca da Coruja, verificou-se que são dos mais diversificados. Percebeu-se o uso de paredes de taipa, alvenaria convencional, tijolo de barro, além de cobertura rústica com armação em troncos de madeira cobertos com palha, coberturas com trama em troncos de madeira cobertos com telha translúcida em policarbonato e telhado colonial com madeiramento convencional. Figura 16- Detalhe de Coberturas e Alvenarias, respectivamente 38 Fonte: Acervo pessoal, 2017 Por fim, em relação aos acessos, considerou-se que eles foram muito bem pensados. A entrada de funcionários e mercadorias acontece pelos fundos, é próxima ao restaurante e à cozinha e, dessa forma, não se cruza com a entrada de hóspedes. As únicas ressalvas são em relação ao acesso de funcionários, que apesar de ser mais rápido e reservado foi improvisado com caminho de pedras, e em relação ao estacionamento, que é aparentemente pequeno e próximo aos primeiros bangalôs, o que se torna prejudicial pela poluição sonora gerada pelos automóveis. Contudo, tanto o acesso de funcionário quanto o estacionamento já possuem projeto de melhoria. Figura 17- Acesso de funcionário e estacionamento, respectivamente Fonte: Acervo pessoal, 2017 39 3.2 Estudos Indiretos 3.2.1 Pousada Camurim Grande O primeiro estudo de referência indireto foi realizado com a pousada Camurim Grande que se localiza a 300 metros da praia de Maragogi, litoral norte de Alagoas. A pousada foi construída numa área de 5 hectares de mata verde com coqueirais, pés de manga, caju e manguezais; contudo, apenas 5% da área foi ocupada. Figura 18- Vista aérea da pousada Fonte: Pousada Camurim Grande. Disponível em: http://www.camurimgrande.com.br/maragogi.php O projeto é do arquiteto Pedro Motta do ano de 2012 e foi escolhido para análise por ter ganhado a certificação da Roteiros de Charme, além do que, se trata de uma pousada litorânea com mínimo impacto ambiental e desenvolve uma arquitetura que não agride o meio ambiente. Figura 19- Pousada Camurim Grande Fonte: Pousada Camurim Grande. Disponível em: http://www.camurimgrande.com.br/maragogi.php Além da certificação de charme, a pousada ganhou, em 2016, o selo EcoLíder Platinum que garante o reconhecimento em termos de práticas favoráveis ao meio ambiente. Ainda se tratando de sustentabilidade, a pousada ocupa minimamente o 40 terreno e os bangalôs são elevados do solo livrando-os assim de humidade e respeitando a topografia. Figura 20- Pedra da Roteiros de Chame e Bangalô elevado Fonte: Roteiros de Charme. Disponível em: http://roteirosdecharme.com.br/pousadacamurim A imagem a seguir demostra a implantação da pousada que conta quatro tipologias, sendo do 1 ao 5 suítes da casa grande, do 6 ao 9 chalés jardim, 10 e 11 chalés piscina e do 12 ao 21 bangalôs. Pode-se observar também que a área de recepção e serviços é separada da área de acomodação pelo Rio Maragogi e o acesso se dá apenas por um carrinho elétrico. Figura 21- Implantação da pousada Fonte: Pousada Camurim Grande. Disponível em: http://www.camurimgrande.com.br/maragogi.php 41 As suítes da casa grande possuem uma área de 22m², presença de madeira no forro e mobiliário com paredes em alvenaria branca. Neles contem cama king size, TV LCD 32" SKY HDTV, DVD, enxoval Nuvole e internet Wi-Fi. Figura 22- Suíte Casa Grande Fonte: Pousada Camurim Grande. Disponível em: http://www.camurimgrande.com.br/maragogi.php Os chalés piscina possuem uma área de 20m², presença de madeira no forro e mobiliário com paredes em alvenaria branca. Neles contem cama king size, TV LCD 32" SKY HDTV, DVD, bica privativa, enxoval Nuvole e internet Wi-Fi. Figura 23- Chalés piscina Fonte: Pousada Camurim Grande. Disponível em: http://www.camurimgrande.com.br/maragogi.php Os chalés jardim possuem uma área de 34m², presença de madeira no forro e mobiliário com paredes em alvenaria branca. Neles contem cama king size, TV LCD 32" SKY HDTV, DVD, terraço com rede, bica privativa, enxoval Nuvole e internet Wi-Fi. 42 Figura 24- Chalés jardim Fonte: Pousada Camurim Grande. Disponível em: http://www.camurimgrande.com.br/maragogi.php Os bangalôs possuem uma área de 62m², presença de madeira na cobertura, mobiliário e paredes e piso na corbranco. Nelas contem cama super king size, TV LCD 42" SKY HDTV, DVD, terraço com rede, banheira, enxoval Nuvole e internet Wi-Fi. Figura 25- Bangalôs Fonte: Pousada Camurim Grande. Disponível em: http://www.camurimgrande.com.br/maragogi.php Por fim, a pousada ainda conta com uma grande piscina que possui diferentes níveis de profundidade e área de deck e um restaurante aberto ao público, que não está hospedado, mediante reserva. 43 Figura 26- Área da piscina Fonte: Pousada Camurim Grande. Disponível em: http://www.camurimgrande.com.br/maragogi.php 3.2.2 Makenna Resort O segundo estudo de referência indireto foi realizado com o Makenna Resort que se localiza entre Itacaré e Ilhéus no estado da Bahia e também se encontra à beira mar. O resort foi construído numa área de 8 hectares de mata atlântica e apenas 6,7 mil m² de área foi ocupada. Figura 27- Makenna Resort Fonte: Revista AU. Disponível em: http://www.au.pini.com.br/arquitetura- urbanismo/198/lajes-ao-mar-184786-1.aspx O projeto é do Drucker Arquitetura do ano de 2010 e foi escolhido para análise porque, apesar de ser um resort, se encontra em área litorânea, possui mínimo impacto ambiental e desenvolve uma arquitetura que não agride o meio ambiente. O Makenna está localizado em uma área de reserva florestal protegida por entidades como a Unesco e o Ibama, sendo assim alvo de severas restrições construtivas. 44 Figura 28- Makenna Resort Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-45931/resort- makenna-drucker-arquitetura Para garantir esse mínimo impacto ambiental o Resort conta com reuso de água, captação de energia solar através de placas fotovoltaicas, ventilação cruzada, bangalôs elevados 70cm livrando-os de humidade e laje nervurada e EPS de forma a assegurar maior conforto térmico. Figura 29- Bangalôs elevados Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-45931/resort- makenna-drucker-arquitetura A imagem a seguir demostra a implantação do resort que conta com 16 bangalôs, restaurante e salas de lazer, casas, área de serviços e spa. Pode-se observar também que as placas fotovoltaicas se localizam em uma área mais reservada. 45 Figura 30- Implantação do resort Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-45931/resort- makenna-drucker-arquitetura Os bangalôs possuem uma área entre 80 e 150m², trazem princípios do modernismo que é uma característica do escritório; apresentam sensação de horizontalidade, vista para o mar, paredes revestidas com pedra local (arenito do norte), aberturas com venezianas na frente e no fundo para melhor fluxo de ar e conforto térmico e, além disso, essas aberturas trazem uma maior integração com o entorno através da permeabilidade visual. Figura 31- Bangalô 46 Fonte: Archdaily. Disponível em: http://www.archdaily.com.br/br/01-45931/resort- makenna-drucker-arquitetura 3.3 Considerações gerais sobre os estudos Os estudos de referência foram importantes para obter soluções formais, estéticas e com enfoque sustentável. Os principais pontos observados nos estudos analisados foram: - Manutenção do perfil natural do terreno e seu mínimo impacto com, por exemplo, os bangalôs elevados. - Uso de matéria prima local - Estilo rústico. - Mistura do uso de madeira e cor branca em outros elementos. - Bangalôs com vista para áreas de lazer ou para áreas atrativas visualmente. - Edificações térreas ou de máximo 1 pavimento. - Soluções com princípios sustentáveis (água, energia e resíduos). Esses pontos deverão nortear a proposta arquitetônica. 47 4 CONDICIONANTES PROJETUAIS Nesse capítulo, são apresentados os condicionantes físicos, legais e funcionais que nortearam o desenvolvimento do projeto. Em relação aos condicionantes físicos, foram abordadas as características referentes à área de localização do lote. No tocante às condicionantes legais, foi observada a legislação vigente em relação ao terreno escolhido e ao seu uso. Ao tratar das condicionantes funcionais, foram evidenciados o programa de necessidades, pré-dimensionamento, fluxograma e zoneamento. 4.1 Condicionantes Físicos A área escolhida para implementação da pousada está localizada no município de Parnamirim, mais especificamente na praia de cotovelo, distante 21km da capital Natal. A proximidade com Natal faz com que a praia se torne um refúgio próximo em busca de tranquilidade. Figura 32-Localização Fonte: Prefeitura de Parnamirim (2017) 48 Modificado por Kelly Sodré Como já dito anteriormente, Cotovelo foi escolhido por ter um forte apelo cênico paisagístico, devido às belas falésias que modelam encantadoras esculturas naturais e dunas de areia branca, além de coqueirais e uma longa faixa de areia clara e fina. Figura 33-Praia de Cotovelo Fonte: Acervo Pessoal, 2017 Para a escolha do terreno, foram levadas em consideração a proximidade com a praia, a sua área, de forma que fosse capaz de comportar a pousada e atender aos princípios de sustentabilidade. Desejou-se também que fosse um terreno arborizado para que o contato com a natureza acontecesse de forma espontânea. Dentre as opções disponíveis em Cotovelo, o terreno representado na imagem a seguir foi o que mais se enquadrou nesses pré-requisitos. Figura 34-Localização do terreno Fonte: https://www.scribblemaps.com/ O terreno escolhido apresenta uma área de 5.399,21m² e se localiza entre as ruas Ismael Wanderley, Engenheiro Carlos Dumaresq e Moacir Lins. Distancia-se da praia por apenas 2 quadras (150 m) e o acesso a ela se dá pela Rua Engenheiro Carlos Dumaresq. 49 Figura 35-Acesso à praia Fonte: Acervo Pessoal, 2017 Apesar do terreno não ter vista direta para o mar, seu charme e conforto visual se dá pelo contato interno com a natureza a partir da grande presença de vegetação. Como veremos, a implantação do equipamento foi feita de modo que fossem preservadas ao máximo as árvores locais e acrescentado vegetação nativa, com isso, foi possível melhorar o conforto térmico e visual, além de representar uma estratégia para dar mais privacidade aos bangalôs. Figura 36-Presença de vegetação no terreno Fonte: Acervo Pessoal, 2017 O terreno é formado por 3 testadas frontais e possui as seguintes dimensões: 57,9m, 92,94m, 59,79m e 91,20m. Ademais, ele possui 4 curvas de níveis o que garante um desnível de 4m do ponto mais alto ao mais baixo. 50 Figura 37-Dimensões do terreno com curvas de nível Fonte: Prefeitura de Parnamirim (2017) Modificado pela autora Segundo a NBR 15220/03 (Desempenho térmico de edificações. Parte 3: Zoneamento bioclimático brasileiro e diretrizes construtivas para habitações unifamiliares de interesse social), o município de Parnamirim está inserido na Zona Bioclimática 8 e possui clima quente e húmido, como mostra a imagem a seguir: Figura 38-Zona Bioclimática 8 Fonte: NBR 15220/03 51 A norma indica diretrizes para melhorar o conforto ambiental dentro das edificações; dentre essas diretrizes tem-se: grandes aberturas para ventilação e sombreamento das mesmas e uso de ventilação cruzada. Dessa forma, a análise da ventilação e insolação que incidem no terreno é de extrema importância para o desenvolvimento do projeto. VENTILAÇÃO Em se tratando da ventilação, o programa utilizado para tal análise foi o SOL- AR, nele foram estudadas informações geradas para a cidade de Natal, já que não mostra a cidade de Parnamirim. O gráfico a seguir mostra a intensidade dos ventos e sua direção. Pode-se observar com a rosa dos ventos que a predominância é de ventos leste/sudeste na primavera/verão e sul/sudeste no outono/inverno. Figura 39-Rosa dos ventos na cidade de Natal Fonte: Software SOL-AR INSOLAÇÃO A análiseda trajetória solar no terreno foi realizada pelo software SunEarthTools. Para tal, foram definidas quatro datas específicas, uma em cada estação do ano. As datas e horários foram definidos a partir dos solstícios e equinócios do ano de 2017. Com isso, foi possível identificar a incidência solar nas fachadas e concluir as que foram mais ou menos prejudicadas durante o ano. 52 Figura 40-Percurso solar nos dias 20/03, 21/06, 22/09 e 21/12, respectivamente. Fonte: https://www.sunearthtools.com 4.2 Condicionantes Legais 4.2.1 Plano diretor de Parnamirim/RN A Lei Complementar Nº 063, de 08 de março de 2013. (compilada com a Lei Complementar Nº. 067/2013, 17 de julho de 2013) dispõe sobre o Plano diretor de Parnamirim e dá outras providencias. Esse, por sua vez, tem o objetivo de orientar o desenvolvimento das diversas funções da cidade sobretudo através do planejamento do uso e ocupação do solo, a fim de garantir o bem-estar e a melhoria da qualidade de vida da população, cumprindo obrigatoriamente a função social da propriedade e da cidade, como consta no Art.2º Cap1. De acordo com o macrozoneamento presente no Mapa 1 Anexo 2 (parte integrante da Lei) o município de Parnamirim é dividido em três zonas: I- Zona Urbana, II- Zona de Expansão Urbana e III- Zona de Proteção Ambiental. O terreno escolhido, de acordo com esse mapa, se encontra na primeira zona. Conforme o zoneamento funcional (Mapa 3.I e 3.II Anexo 2) o terreno se encontra na Área de Interesse Turístico da Orla Marítima. Nesse sentido, necessita da adição de normas complementares e específicas para uso e ocupação do solo conforme consta no quadro a seguir. 53 Tabela 2-Área de interesse turístico Fonte: Lei complementar nº 063/2013. Nesse sentido, o coeficiente de aproveitamento básico (índice de utilização) é de 1, o recuo frontal mínimo é de 3m, o lateral de 1,5m, a ocupação máxima de 70% e a permeabilidade mínima de 20%. Para o controle de gabarito foi analisado o Mapa 3.I que diz que o terreno se encontra em uma Zona Urbana. Para essa zona o gabarito máximo é de 7.5m como exemplifica o quadro a seguir. Tabela 3- Área de controle de gabarito 1 - Orla Fonte: Lei complementar nº 063/2013. O artigo 96 traz algumas especificações para o recuo. Um ponto importante é que quando o projeto previr estacionamento na faixa do recuo frontal, este deverá medir no mínimo 4,50m (quatro metros e meio). Outro item observado é que as áreas que podem ocupar o recuo são a guarita, portarias, depósitos, gás e lixo. Para o cálculo de vagas de estacionamento fica decidido pelo Art.104, § 1º que são utilizados os parâmetros do Anexo I, Quadro 13. 54 Tabela 4- Cálculo de vaga para estacionamento. Fonte: Lei complementar nº 063/2013. Ainda sobre o estacionamento, o quadro 12 do anexo 1 contém o dimensionamento das formas de acesso a partir do tipo de via e capacidade do estacionamento. Portanto, como a via é coletora, a quantidade de vagas não ultrapassa 20, e a testada é maior que 50m a forma de acesso ideal é a opção (c). Tabela 5- Dimensionamento das formas de acesso. Fonte: Lei complementar nº 063/2013. 55 Tabela 6- Dimensionamento da forma de acesso. Fonte: Lei complementar nº 063/2013. Por fim, a tabela a seguir apresenta um resumo das principais informações obtidas com o estudo do Plano Diretor do Município. Tabela 7- Quadro de prescrições urbanísticas. PRESCRIÇÕES URANISTICAS Área total do terreno 5.399,21m² Coeficiente de aproveitamento 1 Recuo Frontal 3m Recuo Lateral e de fundo 1,5m Taxa de ocupação máxima 70% Permeabilidade mínima 20% Gabarito Máximo 7,5m Fonte: Lei complementar nº 063/2013. 4.2.2 Código de obras de Parnamirim/RN O código de obras de Parnamirim é um documento que estabelece normas que disciplinam a elaboração de projetos e execução de obras na zona urbana, de expansão urbana e rural. 56 O capitulo III das Normas Genéricas das Edificações traz determinações sobre Ventilação, Isolação e Iluminação. O artigo 56 relata que para áreas de dormitório, salas de estar, escritórios, refeitórios e bibliotecas o total da superfície das aberturas para o exterior, não poderá ser inferior a 1/6 da superfície do piso do compartimento. Já para áreas de cozinhas, copa e banheiros não poderá ser inferior a 1/8. O artigo 59 do capitulo IV traz as áreas, dimensões e pés-direito mínimos para cada compartimento, como exemplifica o quadro a seguir: Tabela 8- Dimensões mínimas dos compartimentos. Fonte: Código de obras de Parnamirim/RN Tendo em vista que o projeto em questão é uma pousada, a seção II do capitulo I das Normas Específicas contém algumas condições para a construção de Hotéis, Pensões, Motéis, Pousadas e Hotéis Residência. As pousadas devem possuir, no mínimo, as seguintes dependências: a) Vestíbulo; b) Serviços de portaria, administração, recepção e comunicação; c) Sala de estar; d) Cozinha para preparo de desjejum (área de 20 m²); e) Dependência para guarda de utensílios de limpeza e serviços; f) Rouparia; g) Depósito para guarda de bagagem de hóspedes; e h) Vestiário e sanitário de serviço Além disso, o terceiro item do artigo 82 diz que os banheiros privativos, corredores, escadas e galerias de circulação podem ter o pé-direito reduzido até 2,20 m e o sétimo item diz que quando existir lavanderia, essa deverá possuir a seguintes dependências: a) Depósito de roupa servida; b) Local de lavagem e secagem de roupa; c) Local para passar ferro; e d) Depósito de roupa limpa. 57 4.2.3 NBR 9050 - Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Esta Norma estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quanto ao projeto, construção, instalação e adaptação do meio urbano e rural, e de edificações às condições de acessibilidade. Alguns dos critérios adotados foram: - Considera-se o módulo de referência a projeção de 0,80 m por 1,20 m no piso, ocupada por uma pessoa utilizando cadeira de rodas motorizadas ou não. - A largura para deslocamento em linha reta de pessoas em cadeira de rodas é de 90cm. - As medidas necessárias para a manobra de cadeira de rodas sem deslocamento, são: a) rotação de 90° = 1,20 m × 1,20 m; b) rotação de 180° = 1,50 m × 1,20 m; c) rotação de 360° = círculo com diâmetro de 1,50 m. - As medidas necessárias para a manobra de cadeira de rodas com deslocamento, são exemplificadas a seguir: Figura 41- Manobra de cadeiras de rodas com deslocamento. 58 Fonte: NBR 9050/2015 - As dimensões mínimas para corredores são: a) 0,90 m para corredores de uso comum com extensão até 4,00 m; b) 1,20 m para corredores de uso comum com extensão até 10,00 m; e 1,50 m para corredores com extensão superior a 10,00 m; - As portas, quando abertas, devem ter um vão livre, de no mínimo 0,80 m de largura e 2,10 m de altura. Em portas de duas ou mais folhas, pelo menos uma delas deve ter o vão livre de 0,80 m. - A dimensão mínima de passeios destinados exclusivamente a circulação de pedestres deve ser livre de qualquer obstáculo, ter inclinação transversal até 3 %, ser contínua entre lotes e ter no mínimo 1,20 m de largura e 2,10 m de altura livre; - As dimensões mínimas para um sanitário e chuveiro acessíveis seguem as medidas da imagem a seguir: 59 Figura 42- Medidas mínimas de um sanitário acessível. Fonte: NBR 9050/2015 O item 10.9 da NBR trata de particularidades pertinentes aos locais de hospedagem, com especificações descritas a seguir: - Os dormitórios acessíveis com banheiros não podem estar isolados dos demais, mas distribuídos em toda a edificação. - As áreas de circulação mínima estão exemplificadas na imagem a seguir: Figura 43- Dormitório acessível – Área de circulação mínima Fonte: NBR 9050/2015 4.2.4 Código de segurança contra incêndio
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