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ÂNGELA VIEIRA- Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO Prof. Mestra em Educação e Psicóloga- CRP 0687- 20ª região. TRABALHO DE CONCLUSAO DE CURSO – TCC CURSO: DOCENCIA DO ENSINO SUPERIOR ALUNO:YSABELE ALVES CELESTINO TURMA: DC76A ANO: 2018 TEMA: PLANO DE ENSINO E APOSTILA TEMATICA COORDENAÇAO DE EDUCAÇÃO. PROJETO BÁSICO PARA TCC. ALUNO: YSABELE ALVES CELESTINO TURMA: DC76A ANO:2018 SUMÀRIO PAG INTRODUÇÃO...................................................................................................................................03 1-O QUE É PLANO DE ENSINO......................................................................................................03 2-IMPORTÂNCIA DO PLANO DE ENSINO....................................................................................05 3-PLANO DE ENSINO....................................................................................................................07 4-APOSTILAS.................................................................................................................................11 4.1-MODULO I (As Ciências Naturais e a Educação para a Cidadania)..................................11 4.1.1 - A Produção do Conhecimento cientifico......................................................................12 4.1.2 - Cultura Cientifica de Base.............................................................................................20 4.1.3 – História do Ensino das Ciências Naturais e Principais Tendência..........................30 4.1.4- Importância da educação científica na sociedade atual.............................................40 4.2-MODULO II (A Pesquisa em Ensino de Ciências Naturais)............................................50 4.2.1 - A importância da Pesquisa Escolar para a Construção do conhecimento do aluno...........................................................................................................................................50 4.2.2- O Ensino de Ciências e o Papel do Professor com Educador e Pesquisador..............................................................................................................................60 4.2.3- Processo de Formação e Aprendizagem....................................................................69 4.2.4- Tipo de pesquisa Cientifica.........................................................................................79 4.3-MODULO III ( Organização do trabalho Docente)............................................................87 4.3.1- Avaliação do Processo Educativo de Ciências Naturais...........................................88 4.3.2- Diferentes Tecnologias no Ensino de Ciências Naturais..........................................98 4.3.3- Estratégias Metodológicas para o Ensino de Ciências Naturais.............................109 4..3.4 – Parâmetros Curriculares de Ciências......................................................................116 4.4- MODULO IV( Ensaios Pedagogicos).............................................................................125 4.4.1- Competência e saberes do professor universitário.................................................126 4.4.2 - Componentes da formação em Ciências.................................................................133 4.4.3 - Didática para o ensino superior em ciências naturais...........................................142 4.4.4 - Formação de Professores de Ciências....................................................................150 5-BIBLIOGRAGIAS UTILIZADAS.........................................................................................158 3 Introdução O ato de planejar acompanha o homem desde os primórdios da evolução humana. Todas as pessoas planejam suas ações desde as mais simples até as mais complexas, na tentativa de transformar e melhorar suas vidas ou as das pessoas que as rodeiam. Mas não é só na vida pessoal que as pessoas planejam suas ações, o planejamento atinge vários setores da vida social. Se o ato de planejar é tão importante, porque algumas pessoas ainda resistem em aceitar este fato, principalmente no contexto escolar? Diante desse questionamento objetivou-se identificar os motivos pelos quais os professores resistem em preparar suas aulas e conscientizá-los da importância de utilizar o plano de aula como um norteador da ação pedagógica. Para tanto, faz-se necessário realizar uma breve retrospectiva histórica sobre o surgimento do planejamento e sua utilização nos diversos setores da sociedade. Outro aspecto importante a ser abordado foi com relação às diversas tipologias utilizadas no cotidiano escolar e suas diferenças, pois apesar destes conceitos serem utilizados como sinônimos eles não o são e faz-se necessário que o professor compreenda essas diferenças para poder utilizá-las. Em seguida, realizou-se uma análise com relação ao planejamento enquanto ato político-social, político-filosófico, técnico e científico. Outro aspecto abordado neste artigo relaciona-se com as principais etapas para a elaboração do plano de aula O Que é Plano de Ensino O Plano de Ensino consiste na organização do processo de trabalho a ser desenvolvido no ano letivo em curso, em cada turma e em cada disciplina específica. 4 Deve considerar os pressupostos estabelecidos no Projeto Politico Pedagógico (PPP) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e os Temas Transversais. O Plano de Ensino deve ser elaborado em consonância com a ementa da disciplina e o perfil do profissional definido no Projeto Pedagógico do Curso. É elaborado pelo docente responsável pela disciplina, apresentado em formulário próprio. O Plano de Ensino deve ser apresentado aos alunos até o primeiro dia de aula daquela atividade, via Portal do Aluno, podendo também ser entregue em sala de aula ou por e-mail. Dimensão Legal: De acordo com o Artigo 13, LDB, o plano de ensino deve ser feito pelo docente. Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: I – participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II – elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III – zelar pela aprendizagem dos alunos; IV – estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; V – ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional. O Plano de Ensino deve apresentar, obrigatoriamente, alguns itens relativos às atividades ministradas em sala de aula: a) identificação, contendo nome do departamento, nome da atividade de ensino, curso(s) de oferecimento, pré-requisitos por curso, etapa aconselhada no curso, corpo docente, súmula, regulamento ou plano de atividades, créditos quando aplicável, e carga horária; 5 b) os objetivos; c) o conteúdo programático na forma de unidades ou sequências; d) a metodologia adotada; e) o cronograma de atividades; f) as experiências de aprendizagem; g) os critérios de avaliação; h) as atividades de recuperação; i) a bibliografia básica. Neste quesito o Gestor/Coordenador tem papel primordial, já que compete a ele ter uma visão sistêmica do trabalho pedagógico a ser desenvolvido por toda a Equipe de Professores. Por esta razão faz-se necessário que a Escola ou Faculdade tenha um Modelo de Plano de Ensino que contemple não apenas os elementos acima, mas também possa articular-se com os demais Planos de Ensino para o desenvolvimento de um trabalho multidisciplinar.Importância do Plano de Ensino O planejamento de aula é de grande importância para que se atinja êxito no processo de ensino-aprendizagem. A sua ausência pode ter como consequência, aulas monótonas e desorganizadas, desencadeando o desinteresse dos alunos pelo conteúdo e tornando as aulas desestimulantes. Ter um plano de aula é importante para ajudar o professor a garantir que as atividades diárias na sala de aula permitam aos alunos progredir em relação às metas propostas e aos planos individuais de cada aluno, quando necessário. Além disso, fornece ao profissional uma base para planejar aulas futuras e que atendam às necessidades de todos os estudantes. 6 De acordo com Libâneo “o planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a previsão das atividades didáticas em termos de organização e coordenação em face dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de ensino”. Portanto, o planejamento de aula é um instrumento essencial para o professor elaborar sua metodologia conforme o objetivo a ser alcançado, tendo que ser criteriosamente adequado para as diferentes turmas, havendo flexibilidade caso necessite de alterações. Ter um planejamento adequado ajuda os professores a manterem-se organizados e fiéis ao plano de ensino durante o ano, proporcionando uma aula de maior qualidade e ajudando os alunos a alcançarem mais facilmente seus objetivos. Quanto mais bem preparado o professor estiver, mais habilitado ele estará para lidar com situações inesperadas que possam vir a acontecer durante o processo de ensino. Não se deve esperar que um plano de aula sirva, da mesma maneira, para professores diferentes. Ele é um instrumento individual de trabalho e deve ser desenvolvido para atingir os objetivos de cada turma, em separado. É importante que o profissional tenha em mente que cada aula não é um fator isolado e depende da proposta pedagógica da instituição de ensino. Apesar de ser uma responsabilidade do professor para com suas turmas, o plano deve ser analisado juntamente com os coordenadores pedagógicos e, se possível, discutido com o restante do corpo docente em reuniões, para que haja troca de ideias, sugestões e identificação de problemas. O desenvolvimento desse planejamento deve ser um processo participativo e colaborativo, com envolvimento de toda a equipe escolar. Portanto, o bom planejamento das aulas aliado à utilização de novas metodologias (filmes, mapas, poesias, músicas, computador, jogos, aulas práticas, atividades dinâmicas, etc.) contribui para a realização de aulas satisfatórias em que os estudantes e professores se sintam estimulados, tornando o conteúdo mais agradável com vistas a facilitar a compreensão. 7 PLANO DE ENSINO CURSO CIÊNCIAS NATURAIS DISCIPLINA FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DE CIÊNCIAS NATURAIS PARA O ENSINO SUPERIOR PROFESSOR YSABELE ALVES CELESTINO Nº DE CRÉDITOS 4 CARGA HORÁRIA 80 HORAS MARCO REFERENCIAL PERFIL DO EGRESSO Profissional docente habilitado para o exercício em ciências da natureza e suas tecnologias no ensino fundamental e médio, com uma formação acadêmica generalista, humanista e técnico-científica de excelência. Sujeito ético, crítico, reflexivo, autônomo, investigador, criativo. Promotor do desenvolvimento de saberes, competências e habilidades em um contexto interdisciplinar, considerando-se: o domínio de linguagens; a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da tecnológica e das manifestações artísticas e ao enfrentamento/resolução de situações – problema em um contexto de interpretação e intervenção social/profissional sob pressupostos do desenvolvimento social e da sustentabilidade. CONTEXTUALI- ZAÇÃO DA DISCIPLINA A Disciplina Fundamentos e Metodologia de Ciências Naturais para o Ensino Superior, pertencente ao núcleo de formação profissional no contexto do Curso de Ciências Naturais, que pretende levar o aluno a analisar a abordagem epistemológica, que tem por objetivo levar a uma reflexão sobre como se dá a construção de um conhecimento científico, destacando relações entre a Ciência, a Tecnologia, a Sociedade e o Meio Ambiente, para Ensino de Ciência, e destacar a importância da educação científica e da educação ambiental para o Ensino Superior. Apresentará as origens das ciências e suas relações com as outras formas de conhecimento, caracterizando o conhecimento científico em uma realidade histórica e contextualizada. 8 EMENTA Caracterização das Ciências Naturais: Especificidades do conhecimento científico e do conhecimento cotidiano (senso comum). Concepções de Ciências. O conhecimento científico e o ensino de ciências. Aspectos históricos e tendências atuais do ensino de ciências. O papel da pesquisa no ensino de ciências. Educação Ambiental e Cidadania. Reflexões e práticas de educação ambiental. A questão da integração Escola, Meio Ambiente e Comunidade. MARCO OPERACIONAL OBJETIVO GERAL DA DISCIPLINA Contribuir na construção do conhecimento em Educação em CN, através de diversas abordagens e marcos teóricos na área, colaborando na construção de saberes para o efetivo exercício docente na área específica e para a inserção da Educação em Ciências Naturais nos projetos de pesquisa de conclusão de curso. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA DISCIPLINA Analisar os principais enfoques teórico-metodológicos empregados no ensino de ciências. Examinar a relevância epistemológica e social dos conceitos de ciências que integram frequentemente as programações curriculares das séries finais do Ensino Fundamental. Planejar projetos de pesquisa em Educação Ambiental. Analisar e avaliar propostas de ensino de Ciências Naturais. MÉTODOS Leituras orientadas e dirigidas; Aulas expositivas dialogadas; Trabalhos e/ou seminários em grupos temáticos; Debates de textos previamente indicados; Análises e problematização de vídeos; Resenhas de textos; Análise textual de materiais pedagógicos do currículo escolar; 9 U N D ASSUNTO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO I UNIDADE I: As Ciências Naturais e a Educação para a Cidadania na Educação Básica: - História do Ensino das Ciências Naturais e principais tendências; - Importância da educação científica na sociedade atual; - Cultura científica de base: significados e vias de promoção (formal, não- formal e informal); - Componentes da formação em Ciências: conceitos, processos, contextos, atitudes e valores; - A produção do conhecimento científico – superação de visões não adequadas da Ciência e da Tecnologia no ensino; - Objetivos da educação em Ciências no Ensino Fundamental. II UNIDADE II: A pesquisa em ensino de Ciências Naturais: III UNIDADE III: Organização do trabalho docente: planejamento e avaliação As orientações curriculares Nacionais e propostas de ensino de Ciências Naturais no Ensino Fundamental; - Conteúdos de Ciências Naturais no Ensino Fundamental; - Estratégias Metodológicas para o ensino de Ciências Naturais: experimentação, simulação e construção de modelos, visitas guiadas, jogos, aula expositiva, atividades de comunicação; - Diferentes Tecnologias no ensino de Ciências Naturais: vídeo, jogos educativos, softwares, entre outras. - Planejamento de Ciências Naturais: plano de curso, projetos de trabalho, temas geradores, planos de aula; - Avaliação do processo educativo de Ciências Naturais; 10 IV UNIDADE IV : Ensaios pedagógicos: Elaboração de novas propostas e análise de propostas já implementadas de ensino de Ciências Naturais AVALIAÇÃO a) PARCIAL 1- b) AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL 1 – c) PARCIAL 2 – d) AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL 2 – REFERÊNCIAS BÁSICAS ASTOLFI,J.P. & DEVELAY, M. A Didática das ciências. São Paulo: Papirus, 1991. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. 2000. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências Naturais. Brasília, 1998. CACHAPUZ, A.; GIL-PEREZ, D. A necessária renovação do Ensino das Ciências. São Paulo: Cortez, 2005. CHASSOT, A. Alfabetização Científica – questões e desafios para a educação. Ijuí: Unijuí, 2000. DELIZOICÓV, D.; ANGOTTI, J.A. & PERNAMBUCO, M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. GIORDAN, A. As origens do saber – das concepções dos aprendentes aos conceitos científicos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. WEISSMANN, H. Didática das Ciências Naturais – contribuições e reflexões. Porto Alegre: Artmed, 1998. NARDI, R. (Org.). A pesquisa em ensino de Ciências no Brasil: alguns recortes. São Paulo: Escrituras, 2007. 11 REFERÊNCIAS COMPLEMEN TARES BECK, U.; GIDDENS, A.; LASH, S. Reflexive modernisierung: eine kontroverse. Frankfurt a.M. 1996. BENTLEY, T. Learning beyond the classroom: education for a changing world. London. 1998. BERGER, P.; LUCKMANN, T. Die gesellschaftliche konstruktion der wirklichkeit: eine theorie der wissenssoziologie. Frankfurt a.M. 1969. BORN, C. Erstausbildung und weiblicher lebenslauf: was (nicht nur) junge frauen bezüglich der berufswahl wissen sollten. In: HEINZ, W. (Dir.) Übergänge: individualisierung, flexibilisierung und institutionalisierung des lebenslaufs. Zeitschrift für Soziologie der Erziehung und Sozialisation. Weinheim, p. 50-65. 2000. FONTES DA INTERNET Infoescola; Contrução do conhecimento cientifico. Acesso em <https://www.infoescola.com/educacao/a-construcao-do-conhecimento-cientifico/> Scielo; CONSTRUTIVISMO, CONHECIMENTO CIENTÍFICO E HABILIDADE DIDÁTICA NO ENSINO DE CIÊNCIAS. Acesso em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 25551997000100011> https://www.infoescola.com/educacao/a-construcao-do-conhecimento-cientifico/ http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-25551997000100011 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-25551997000100011 12 4 – APOSTILA 4.1 - As Ciências Naturais e a Educação para a Cidadania na Educação Básica: A organização do ensino de Ciências tem sofrido nos últimos anos inúmeras propostas de transformação. Em geral, as mudanças apresentadas têm o objetivo de melhorar as condições da formação do espírito científico dos alunos em vista das circunstâncias histórico-culturais da sociedade. As alterações tentam situar a ciência e o seu ensino no tempo e no espaço, enfatizando em cada momento um aspecto considerado mais relevante na forma de o homem entender e agir cientificamente no mundo por meio de um conhecimento que, de modo geral, está além do senso comum. Até os anos 60, por exemplo, o ensino de Ciências passou por uma longa fase em que a ciência era apresentada como neutra e o importante eram os aspectos lógicos da aprendizagem e a qualidade dos cursos era definida pela quantidade de conteúdos conceituais transmitidos. Nos anos seguintes valorizou-se a participação do aluno no processo de aprendizagem do método científico através de atividades práticas de laboratório. Na década de 70, a crise econômica mundial e os problemas relacionados com o desenvolvimento tecnológico fizeram surgir no ensino de Ciências um movimento pedagógico que ficou conhecido como “ciência, tecnologia e sociedade” (CTS). Essa tendência no ensino é importante até os dias de hoje, pois leva em conta a estreita relação da ciência com a tecnologia e a sociedade, aspectos que não podem ser excluídos de um ensino que visa formar cidadãos. Nos anos 80 a atenção passou a ser dada ao processo de construção do conhecimento científico pelo aluno. Inúmeras pesquisas foram realizadas nesse campo e o modelo de aprendizagem por mudanças conceituais, núcleo de diferentes correntes construtivistas, é hoje bem aceito pela maioria dos pesquisadores. No entanto, lembram os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) 13 4.1.1 A produção do conhecimento científico – superação de visões não adequadas da Ciência e da Tecnologia no ensino; A ciência e o conhecimento científico são definidos de maneiras diferentes pelos diversos autores que se lançam à tarefa de refletir sobre eles. Algumas definições são bastante semelhantes, outras levantam algumas diferenças. Contudo, a maior parte dos que buscam definir a ciência concorda que "ao se falar em conhecimento científico, o primeiro passo consiste em diferenciá-lo de outros tipos de conhecimento existentes" (Lakatos e Marconi, 1986: 17). A primeira forma de conhecimento normalmente identificada pelos autores que se dedicam à conceituação de ciência é o "senso comum". Trata-se de uma forma de conhecimento adquirido no cotidiano, empírico por excelência, normalmente adquirido por meio da experiência. É um conhecimento produzido e aprendido por intuição, acidente ou uma observação causal, mas pode ser também resultado de um esforço deliberado para a solução de um problema. É um conhecimento limitado pois "não é sistemático, nem eficiente e não permite identificar conhecimentos complexos ou relações abstratas" (Gressler, 2003: 27). As autoras destacam as seguintes características do senso comum: ele é superficial, sensitivo, subjetivo, assistemático e acrítico (Ibidem: 19). E, mais adiante, levantam outro conjunto de características dessa forma de conhecimento: valorativo, reflexivo, assistemático, verificável, falível e inexato. Ainda sobre o senso comum, deve-se destacar seu caráter imediatista, colado às necessidades imediatas, a "dose comum de conhecimentos, da qual dispomos para nossas atividades rotineiras" (Demo, 1985: 31) e o fato de ele ser "transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em imitação e experiência pessoal" (Lakatos e Marconi, 1986: 17). Embora sem métodos críticos e sem sistematização, mas sendo colado às necessidades imediatas e fruto da intuição e da experiência, o conhecimento derivado do senso comum existe numa constante tensão entre os pré-conceitos, os modelos consagrados que se transmitem ao longo das gerações sem o devido questionamento de sua validade ou de suas reais relações de causa e efeito, e o dinamismo e a espontaneidade que formulam a todo momento novas teorias e 14 novos modelos explicativos. Enfim, apresenta as duas dinâmicas de conhecimento: a abertura e a cristalização. O conhecimento religioso ou teológico se caracteriza por ser valorativo, inspiracional, sistemático, não verificável, infalível e exato (Lakatos e Marconi, 1986: 21). O princípio da autoridade é fundamental para seu funcionamento, pois ele se apóia em doutrinas com proposições sagradas, reveladas pelo sobrenatural, que consistem em verdades indiscutíveis já que, na experiência religiosa, "está sempre implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado" (Ibidem: 21). O conhecimento religioso pressupõe um sujeito que a tudo conhece e tudo sabe e, portanto, o desafio do conhecimento colocado para os sujeitos não é o de conhecer e produzir verdades sobre o mundo, mas sim compreender uma verdade que já está pronta, revelada, concedida. O homem é menos sujeito do conhecimento, na medida em que não pratica experimentações ou busca novas formulações, mas apenas busca compreender cada vez mais um corpo de conhecimentos que se lhe apresenta já organizado, sistematizado, com regras, hierarquias e leis. Ao mesmo tempo, trata-se de um tipo de conhecimento não falseável, isto é, que não permite a verificação porque vem da transcendência. E, exatamente por essa característica, representa uma forma de conhecimento que evolui muito lentamente, tende a ser estacionário. Uma boa demonstraçãodessa concepção é a frase de Santo Agostinho que diz que "aquilo que a verdade descobrir não pode contrariar aos livros sagrados, quer do Antigo quer do Novo Testamento" (Aranha e Martins, 1993: 101). Assim, o conhecimento é entendido, por Santo Agostinho, como ato da iluminação divina (Andery et al., 2004: 145). Ou seja, na experiência religiosa, o sujeito se relaciona não com "coisas" da realidade que ele vai tentar conhecer, mas com "objetos" que surgem a ele já interpretados e explicados pela doutrina religiosa. Uma outra forma de conhecimento levantada por alguns autores (França, 1994: 141; Santaella, 2001: 103) é a experiência artística. Diferentemente do senso comum e do conhecimento religioso, a arte consiste numa forma de conhecimento 15 subjetiva e não objetiva, isto é, não se propõe a ser "a verdade", não propõe explicações universais e generalizáveis. Antes, é a forma de conhecimento mais ciente de que constrói representações da realidade, afirmações inexatas, propositalmente imprecisas e indiretas. Ela possui métodos e técnicas, mas é, por definição (embora tal característica seja ideal e não ocorra necessariamente na maioria das situações) espontânea, dinâmica e aberta. A arte não apresenta discursos fechados e definitivos sobre a realidade, mas, antes, formula enunciados abertos às diferentes interpretações, convoca os sujeitos para, com o uso da imaginação, produzirem diferentes representações daquilo que lhes é apresentado. A arte, assim, está muito mais voltada para a primeira dinâmica do processo de conhecer, para o "descobrimento" do mundo. Barilli (1994: 49-50) argumenta que a experiência estética proporcionada pela arte pode se dar também em outros campos. O autor dá, como exemplo, o ato de comer, que em princípio é um ato da ordem biológico-fisiológica, pertencente à esfera da natureza e não da cultura. Entretanto, esse ato pode converte-se em experiência estética desde que se faça intervir as três características da experiência estética: a novidade, a totalização e a ritmicidade. Assim, o ato de comer não como aquela refeição normal e vulgar de todo dia, marcado pela pressa e pela economia, mas como uma prática em que os pratos surpreendem, em que há um empenho em recolher daquela experiência um grande número de elementos, pode se transformar numa experiência estética. Assim, no processo de conhecimento instaurado pela arte as manifestações artísticas são apresentadas aos sujeitos enquanto "coisas"; na relação com os objetos e produtos artísticos cada sujeito vai elaborar sua interpretação, construindo então "objetos". Outros autores costumam destacar ainda uma outra forma de conhecimento, que é o conhecimento filosófico. Lakatos e Marconi o apresentam como um dos quatro tipos de conhecimento, caracterizado por ser valorativo, racional, sistemático, não verificável, infalível e exato. Contudo, é mais comum encontrar a filosofia não exatamente como uma forma de conhecimento da realidade, como as outras, mas como uma forma de conhecimento que avalia as demais formas de conhecimento, 16 que estuda a natureza e os limites das diferentes manifestações do conhecimento humano: "A filosofia trata das idéias - idéias sobre o mundo, sobre as pessoas, idéias sobre o viver (...) A filosofia se preocupa de modo geral com o modo como sabemos as coisas e com o que podemos saber" (Raeper e Smith, 2001: 13). Alguns autores ainda identificam, como uma outra forma de conhecimento distinta das demais, a ideologia. É o caso de Demo (1985: 31), que distingue a ideologia como forma de conhecimento composta de enunciados que justificam relações de poder. Essa é uma concepção de ideologia oriunda do pensamento marxista, que define a ideologia como "a transposição involuntária para o plano das idéias de relações sociais muito determinadas" (Chauí, 1981a: 10). A construção da ciência na era moderna torna-se mais fácil compreender a ciência após a delimitação das outras formas de conhecimento. Afinal, o conhecimento científico nasce da proposta de um conhecimento diferente dos demais, porque busca compensar as limitações do conhecimento religioso, artístico e do senso comum. A necessidade do homem de uma compreensão mais aprofundada do mundo, bem como a necessidade de precisão para a troca de informações, acaba levando à elaboração de sistemas mais estruturados de organização do conhecimento. Gérard Fourez destaca que, no início, os homens se comunicavam a partir de uma linguagem que utilizava um código restrito, em que os objetos do mundo são descritos sem uma preocupação com o alcance das descrições - não havendo, pois, uma reflexão elaborada. É a linguagem do dia-a-dia, "útil na prática e que não leva adiante todas as distinções que se poderia fazer para aprofundar o meu pensamento" (Fourez, 1995: 18). Mas, com o tempo, passaram a desenvolver um código "elaborado", com o objetivo de tornar as noções mais precisas e sistematizar os campos de conhecimento. Aqui se tem a origem dos "conceitos", noção fundamental para a formação dos campos disciplinares. De acordo com outro autor, "a ciência tem as suas origens nas necessidades de conhecer e compreender (ou explicar), isto é, nas necessidades cognitivas" (Maslow, 1979: 206). De um conhecimento difuso, espalhado, assistemático e 17 desorganizado, passa-se a um trabalho de arranjo segundo certas relações, de disposição metódica. Esse processo é fundamental para a composição de campos específicos do conhecimento. Michel Serres (1989), no tratado que organiza sobre a história da ciência, apresenta as principais eras científicas ou do conhecimento, isto é, eras marcadas por uma grande sistematização dos conhecimentos: a Matemática no Egito Antigo e Mesopotâmia, a Grécia Clássica, a Intermediação Árabe, a Teologia da Idade Média e a Ciência Moderna (que, em sentido estrito, é a única forma de conhecimento que realmente pode ser classificada como "científica"). Embora se possa dizer que "não existe um 'lugar de nascimento' daquela realidade histórica complicada que hoje chamamos de ciência moderna" (Rossi, 2001: 09), uma vez que a nova forma de conhecimento é fruto do trabalho de autores de diversas nacionalidades e contextos, existe uma força de agregação do projeto científico que é sua orientação marcada pelo racionalismo de Descartes e pelo empirismo de Bacon e Galilei (Lara, 1986). O projeto racional proporciona um acúmulo de conhecimentos, teorias e métodos, que vão exigindo separações, tratamentos diferenciados, posturas específicas: "Não se 'observa' do mesmo modo um neutrino, um micróbio, uma cratera sobre a Lua, uma nota de música, um gosto de açúcar ou um pôr-do-sol" (Fourez, 1995: 41). Sob a justificativa de que objetos diferentes reclamam conceitos de naturezas diferentes, produziram-se cisões e compartimentalizações no conhecimento científico. Tratam-se das disciplinas científicas. A maior dessas cisões é a que separa as ciências em inorgânicas (que estudam o mundo físico), orgânicas (que estudam o mundo biológico, isto é, tudo aquilo que tem vida) e superorgânicas (que estudam o mundo social). Depois, com a distinção entre objeto material (o fenômeno propriamente dito, o que está no mundo, o "ens reale") e objeto formal (o objeto construído, recortado por uma ciência), abre-se caminho para a construção de várias ciências, já que uma definição científica "é a releitura de um certo número de elementos do mundo por meio de uma teoria" (Fourez, 1995: 46). 18 Contudo, uma análise do processo de fortalecimento das disciplinas que queira ir além da visão da ciência "como um processo absoluto e de modo algum histórico" (Fourez, 1995: 59) vai incorporar toda a dimensão política, sociológica e histórica que levou à consolidação do conhecimento científico como forma de conhecimento.A fundamentação da ciência apontar o surgimento do método científico no século XV, Gressler não descarta que, desde a idade antiga, já houvesse habilidades e preocupações com uma linguagem técnica e uma argumentação lógica fundamentada na razão - como bem demonstra, por exemplo, a geometria desenvolvida pelos gregos. A fundamentação do projeto de construção do conhecimento científico se deu então a partir do trabalho destes três pensadores. Descartes (1596-1650), em obras como "O discurso do método" e "Meditações", propôs como ponto de partida de todo conhecimento a busca da verdade primeira que não pudesse ser posta em dúvida. Por isso, converte a dúvida em método: "Se duvido, penso; se penso, existo" (Cogito, ergo sum). Com isso, Descartes promove um "questionamento radical do princípio de autoridade como forma de conhecimento", pois sua atitude coloca em suspenso as verdades adquiridas por via da tradição e da revelação, isto é, do senso comum e da religião (Quintaneiro et al., 1996: 09). Ao mesmo tempo, o pensador francês promove a razão, informada pelas regras do método, à condição de guia supremo do processo de conhecer. Bacon propôs uma separação entre a ciência e as humanidades (estas preocupadas com a justiça, com as pessoas, com a natureza, com o sagrado) e foi forte propulsor do empiricismo, difundindo a crença de que o ponto de partida de todo conhecimento deveria ser a observação, a descrição fiel da realidade, isenta de julgamentos e interpretações. Por fim, Galileu Galilei (1564-1642) é reconhecido por muitos como o pai do método científico. Seu trabalho é menos filosófico do que o dos dois pensadores citados anteriormente, mas foi sobretudo ele quem enfatizou a atitude empírica na pesquisa científica e, rompendo com as indicações de Aristóteles que eram tomadas 19 sem questionamentos por outros pesquisadores, buscou medir os fenômenos e fazer observações quantitativas. Dentre suas diversas contribuições (como a lei da inércia) destaca-se a teoria heliocêntrica, por meio da qual pôde comprovar as idéias de Copérnico, e pela qual foi submetido a julgamento durante a Inquisição em Roma, em 1633. Foi obrigado a se retratar publicamente do conceito de rotação da Terra em torno do Sol. Nessa ocasião, contudo, após se retratar, teria dito, em voz baixa e olhando para o solo, a frase "eppur si move" ("mas ela se move"), o que se tornou um dos lemas do pensamento científico. Deve-se a Galileu ainda o início do projeto da Mathesis universalis, isto é, a busca de um ideal matemático. Outra frase sua, "O livro da natureza está escrito em caracteres matemáticos" (Alves, 1987: 80), demonstra sua intenção de construir um conhecimento em que as relações entre os objetos conhecidos se expressem em linguagem matemática - o que resultaria na produção de um conhecimento exato e preciso. A ciência, pois, é uma forma de conhecimento que, compreendida num sentido mais específico, surge historicamente no século XVI, dentro do processo da Modernidade de ruptura com o mundo feudal e eclesiástico, embasada filosoficamente pelo Iluminismo e originada com o Renascimento. "O discurso científico tem a intenção confessada de produzir conhecimento, numa busca sem fim da verdade" (Alves, 1987: 170). Para conseguir alcançar esse conhecimento mais adequado, mais fiel à realidade, a ciência busca o desejado equilíbrio entre as duas dinâmicas do conhecimento, isto é, a constante renovação e a consolidação dos conhecimentos já construídos. Lakatos e Marconi (1986: 20) identificam como características do conhecimento científico: ser factual (lidar com ocorrências e fatos reais), contingente (a veracidade ou falsidade do conhecimento produzido pode ser conhecida através da experiência), sistemático (ordenado logicamente num sistema de idéias), verificável (o que não pode ser comprovado não é do âmbito da ciência), falível (não é definitivo, absoluto) e aproximadamente exato (novas descobertas podem reformular o acervo de idéias existentes). Essas características são também levantadas por Alves. Para o autor, contudo, não se deve falar em ruptura do conhecimento científico com o senso 20 comum. Embora eles sejam "muito diferentes" um do outro (Alves, 1987: 37), "existe uma continuidade entre o pensamento científico e o senso comum" (Ibidem: 17). Com isso, o autor argumenta que a ciência não deve ser vista como uma forma de conhecimento completamente distante do fazer humano, dotada de autoridade inquestionável. Entre as características da ciência, ainda conforme o autor, destacam-se a busca de ordem, a formulação de modelos e leis que explicam o funcionamento dos fenômenos e da natureza, o abandono dos valores e a busca de um saber objetivo, o uso de hipóteses e de experimentação que permite medir os eventos com precisão e o rigor do pensamento com a utilização do raciocínio lógico. Alves identifica ainda duas características essenciais. A primeira é a busca por um conhecimento geral, universal, aplicável a todos os casos: "Sempre que passamos do passado para o futuro, ou do particular para o geral, nós ampliamos aquilo que sabemos" (Alves, 1987: 116). Busca-se tanto as regularidades e uniformidades quanto, também, a possibilidade da previsão. A segunda é a falseabilidade, isto é, os enunciados científicos podem ser testados para se confirmar se são verdadeiros ou falsos. Uma proposição verificável "é aquela sobre a qual, a partir de testes, podemos tomar uma decisão sobre sua verdade ou falsidade" (Ibidem: 176). Entre os objetivos da ciência estão a busca do controle prático da natureza, a descrição e compreensão do mundo e a possibilidade de predição (Gressler, 2003: 37). Posteriormente, ela se alia à técnica - é quando ela realmente "se destaca" (Ibidem: 24) e passa a resultar numa série de avanços nos modos de produção da sociedade, tendo seu ápice na Revolução Industrial do século XVIII com grandes inventos como a lançadeira (1733), o tear mecânico (1738), a máquina a vapor (1768), a locomotiva (1813), o barco a vapor (1821) e muitas outras que alteraram de forma significativa as formas de produção e de vida das sociedades. Ao mesmo tempo, o conhecimento científico se desenvolve e busca sua legitimidade a partir de sua institucionalização nas universidades, conselhos, associações, congressos; institutos, publicações e eventos. A realização de estudos sobre a produção de conhecimento científico e a necessidade de avaliação do trabalho dos pesquisadores, dos produtos e dos processos de divulgação científica foi um fator condicionante, ao longo do século XX, da evolução de toda uma área do conhecimento. Essa área não se desenvolveu 21 de maneira uniforme, mas, antes, consistiu na realização de diferentes pesquisas com várias naturezas, métodos e filiações teóricas. Nela se encontram tradições tão diversas como a história da ciência, a sociologia da ciência, a teoria do conhecimento e as preocupações epistemológicas e filosóficas dentro de cada área específica, entre outras. Entre os vários campos de estudos dedicados às investigações sobre a produção científica, merecem destaque as contribuições de dois autores que têm tido um impacto fundamental no direcionamento dos estudos contemporâneos. Cientistas estão constantemente em luta por autoridade e reconhecimento, traçando variadas estratégias e efetuando ações em uma ou outra direção para atingir seus objetivos. As lutas se dão em torno da apropriação de um capital específico do campo e/ou pela redefinição daquele capital. Nesse esforço, criar ou fortalecer novas áreas ou campos de pesquisa (disciplinas) pode ser, em determinados momentos, a atitude mais interessante ou "lucrativa" dentro do "jogo científico". São contextos específicos de reações e contra-reações à estrutura de posições dentro de um campo que motivam acriação de novos campos e a migração de alguns cientistas para estes novos campos, dando assim origem a novas disciplinas que, com o tempo, vão buscar se legitimar enquanto campos do conhecimento. Nesse processo, é fundamental a formação de uma "infra-estrutura" de discursos e de uma dinâmica de institucionalização que garanta a legitimidade dos novos campos científicos criados. Ao utilizar a expressão "saber", Foucault salienta o fato de que o discurso científico não é formado apenas por ciência propriamente dita (pelas teorias e conceitos científicos), mas por uma quantidade imensa de saberes políticos, administrativos, institucionais, culturais, literários, artísticos, etc. Com isso se abre a possibilidade de análise da ciência para além dos seus próprios critérios de cientificidade, pois são exatamente essas condições de "cientificidade" ou de "verdade" que vão ser analisadas pelo autor. O livro ao qual a autora se refere é "Arqueologia do saber", cuja primeira edição data de 1969, em que o autor empreende seu grande projeto de buscar as 22 regras de formação de discursos dentro de um campo específico de conhecimento: "a arqueologia pode assim - e eis um de seus temas principais - constituir a árvore de derivação de um discurso" (Foucault, 1972: 181). O método da arqueologia do saber busca uma abordagem dialógica entre o "dado" e o "não-dado", fazendo emergir o que fica oculto, os componentes históricos e contextuais (Alvarenga, 1996: 254). Busca-se, com isso, a superação do positivismo, compreendendo a ciência dentro dos limites do que é possível dizer. Em alternativa às categorias de "objetividade" e "verdade", Foucault busca compreender a ciência como locus de luta entre sistemas competitivos, isto é, como um conhecimento que possui um suporte institucional, reforçado por práticas sociais, preciso e definido (controlado). 4.1.2 Cultura científica de base: significados e vias de promoção (formal, não- formal e informal); A utilização desses espaços, no processo ensino e aprendizagem, apresenta a intenção de preparar o sujeito para enfrentar os desafios dos tempos modernos enquanto cumpri seu papel para a prática da cidadania. Considerando os diferentes formatos educacionais, onde acontece o processo educacional, este trabalho busca discutir alguns conceitos e definições das diferentes modalidades de ensino como o da educação não formal, informal e formal. A educação não formal ocorre fora dos espaços escolares, sendo, portanto no próprio local de interação do indivíduo, sofre as mesmas influências do mundo contemporâneo como as outras formas de educação, mas, pouco assistida pelo ato pedagógico e desenvolve uma ampla variedade de atividades para atender interesses específicos de determinados grupos. A educação informal, por sua vez, é resultado das ações que permeiam a vida do indivíduo. Ocorre nas experiências do dia-a-dia, tem função adaptadora e os conhecimentos adquiridos são passados para as gerações futuras. A educação formal é uma educação institucionalizada, ocorre em espaços sistematizados, suas atividades são assistidas pelo ato pedagógico e preocupa-se com a aquisição e construção do conhecimento que atendam as demandas da contemporaneidade, nas diferentes disciplinas escolares. A partir de estudos sobre as diferentes formas de educação o objetivo deste referencial teórico é apresentar subsídios ao professor para reflexão sobre o papel da ciência nos espaços não formal, informal e formal de educação. 23 A educação tem como principio básico atender a todas as pessoas indistintamente. Neste sentido, as questões que norteiam a educação, hoje se deparam com um mundo globalizado e com pessoas, que ainda se encontram excluídas, impedidas de exercerem seus direitos de cidadão. Neste cenário, a educação se apresenta em diferentes formatos e características sendo: a educação não formal, informal e formal para a prática educativa. Estas modalidades de ensino não são substitutivas, mas se complementam nas suas ações de tal forma que o ensino e a aprendizagem perpassem por elas. Assim, os três formatos de ensino podem ocorrer em espaços formais e em não formais de educação. Educação não formal Educação não formal constitui a educação fora dos espaços escolares, e tem por finalidade desenvolver o ensino-aprendizagem de forma pouco explorada pela educação formal. Considerada uma modalidade de ensino, se desenvolve nos espaços não convencionais de educação. É considerada por alguns autores como intencional, pois sofre as mesmas influências do mundo contemporâneo que as demais formas de educação, mas pouco assistida pelo ato pedagógico. A educação, de forma geral, passa constantemente por processos de mudanças, provocada pelos avanços das tecnologias, pelas produções incessantes de conhecimentos, pelos novos meios de comunicação que buscam atender e acompanhar as exigências do mundo contemporâneo, mediado pela globalização, que se apresenta como um novo sistema de poder. Neste sentido, esse novo formato de poder se intensificou nos anos de 1980 e 1990 tornando-se mais forte no início do século XXI. Pode-se dizer que a globalização é um processo econômico, social, financeiro e ambiental, que passa a estabelecer uma integração entre as sociedades a nível mundial. Com isso, desencadeou um consumismo desorganizado desintegrando as sociedades, imperando as incertezas, ignorando as diversidades das culturas e a realidade de cada comunidade criando assim uma situação de desconforto social (GOHN, 2011). Neste cenário, ainda sobre a visão de Gohn (2011), essas comunidades se fecham como forma de salvaguardar a sua identidade. A política também sofre um processo de desintegração e as instituições públicas que perdem forças e passam a prestar serviços de má qualidade principalmente nas áreas da saúde e da educação. 24 Para Gohn (2011), a exclusão social já não se limita às camadas populares, pois leva-se em conta a renda social, saúde, moradia e educação. Os desafios, agora são os impostos pela sociedade contemporânea onde o setor econômico oprime a sociedade, afasta o cidadão de seus direitos, acelera um crescimento das desigualdades sociais e provoca um declínio na oferta de trabalho por falta de qualificação. Neste sentido para Libâneo: A educação deve ser entendida como um fator de realização da cidadania, com padrões de qualidade da oferta e do produto, na luta contra a superação das desigualdades sociais e da exclusão social (LIBÂNEO, 2012, p.133). No entanto, as políticas educacionais e organizativas que caracterizam o mundo contemporâneo apontam traços que atendam a nível global a reestruturação da economia. As mudanças nos processos de produção associam-se aos avanços das ciências e tecnologias e com superioridade do livre funcionamento do mercado, regulando a economia e forçando a uma redução do Estado quanto ao seu papel (LIBÂNEO, 2012). A educação não formal até os anos de 1980 foi tratada como de pouca importância no Brasil, sendo vista como um processo delineado para alcançar a participação de indivíduos e grupos específicos voltados às áreas rurais. Também foi tratada como comunitária no sentido de transformar o tempo desocupado das pessoas em tempo útil de socialização, aprimoramento das habilidades, educação básica e planejamento familiar. Nesta linha de pensamento, a ciência e a inovação tecnológica, para a sociedade atual passou a ser denominada por muitos autores como sociedade tecnológica. Buscando refletir sobre esta sociedade técnico-informacional, as pessoas se apropriam de conhecimentos nos mais diferentes espaços, que não a escola institucionalizada, onde a escola já não é o único local de socializar os conhecimentos técnico-científicos e nem de desenvolver habilidades cognitivas e competências socioeducativas(LIBÂNEO 2012). Educação informal 25 As questões referentes à educação informal são de igual importância às demais formas de educação. Neste formato educacional, os pais, mães e responsáveis são os nossos “primeiros professores”. Algumas considerações mostram que a educação tem uma função na vida do sujeito em sociedade em diferentes âmbitos dos saberes e que todo ato educativo é intencional. A educação informal, que na grande maioria das vezes é tratada como não intencional, por não apresentar claramente um formato intencional e estrutural de ensino, está interligada aos vários campos da educação, decorrentes das exigências da sociedade contemporânea que numa visão mais ampla, percebe que a tecnologia e a ciência está presente em todos os segmentos da sociedade (LIBÂNEO, 2010). Diante do exposto, mesmo sendo decorrente de processos espontâneos, ainda que em meio a valores familiares e religiosos e, por apresentar caráter permanente na sociedade e parecer não se misturar a educação formal e não formal, a educação informal precisa estar respaldada nos conhecimentos científicos, para atender a construção de uma nova realidade educacional e desta maneira encontrar uma forma de inclusão de forma integrada. A educação formal, não formal e informal não mais podem ser vistas como algo programado com começo, meio e fim. Nesse entendimento, a educação seria sempre a mesma para uma sociedade imutável (LIBÂNEO, 2010). A educação tem função adaptadora, no processo de formação do sujeito ao longo das etapas de sua vida por estar ligada à “produção e reprodução” da vida social. Permite que os conhecimentos, experiências e modos de ação adquiridos, sejam passados para as gerações futuras. Considerando a educação como um processo de desenvolvimento intelectual, quase sempre esse entendimento visualiza a educação institucionalizada. Porém, segundo Gaspar (2005), há outras formas de educar como a educação decorrente da vida cotidiana considerada educação informal. Sendo a educação um fenômeno que não se isola na sociedade e na política, a transformação da educação está ligada aos interesses das relações sociais. Influenciada pelo meio natural e social afetam o desenvolvimento do homem e seu relacionamento efetivo com o meio social. Segundo Gaspar (2005), a cultura é originada da complexidade e dos avanços contínuos da nossa civilização. 26 Quanto mais a sociedade se desenvolve, mais o processo educativo se transforma. Boa parte da influência que ocorre na transformação da educação está ligada no modo informal de educação, influenciando na personalidade, porém de modo “disperso e difuso”. Mesmo não sendo de caráter intencional, influenciam no processo de socialização. Este processo, por não apresentar um formato intencional, não se identifica ou substitui o processo educativo (LIBÂNEO, 2010). Na educação informal, os conhecimentos provêm de uma interação sociocultural e acontece de forma quase imperceptível. Por isso, na visão de Gaspar, esse formato educacional ocorre em espaços que se aproximam muito da educação não formal. Esses espaços, segundo esse autor, são os centros culturais: jardins botânicos, zoológicos, museu de artes ou ciências. Pode ocorrer ao ar livre, praças, feiras, estação de metrô e em vários espaços onde as pessoas possam interagir e compartilhar saber (GASPAR, 2005). Para haver uma interação a vivência da sala de aula, espaço da educação formal, deve estimular o aluno a pensar e manifestar-se de forma que valida os conhecimentos adquiridos nos diferentes campos do saber para exercer com sabedoria o seu papel social (GASPAR, 2005). Educação formal A educação formal ocorre em espaços sistematizados de educação, inserida no planejamento político pedagógico de uma escola e regulamentada por Lei Federal. A Constituição Federal, promulgada em 1988, em seu Art. 205 estabelece: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Em 1996, fica estabelecida a Lei 9.394/96 das Diretrizes e Bases da Educação. Em seu artigo 26 estabelece: Art. 26. Os currículos do ensino Fundamental e Médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. 27 Sendo as ações da educação formal, diretamente ligadas às escolas, suas atividades são sustentadas por uma ação pedagógica intencional podendo ser desenvolvida em ambientes formais e não formais de educação. As práticas educativas da educação formal têm como objetivo a aquisição e construção de conhecimentos que atendam as demandas da contemporaneidade. É, portanto, nos espaços educativos ou escolares que se desenvolve com maior frequência essa modalidade de ensino e coloca em evidência as figuras do professor e do aluno; o professor como sujeito de ensino e o aluno como sujeito de aprendizagem. O formato em que o processo ensino-aprendizagem ocorre, pode se apresentar de forma bastante diferenciada dentro de um espaço formal para outro (OLIVEIRA, 2009). Segundo Oliveira (2009), existem espaços físicos amplamente estruturados e bem diferenciados que visam a atender as diferentes disciplinas escolares, enquanto outras escolas ficam muito aquém das necessidades mínimas para o desenvolvimento de um ensino-aprendizagem de qualidade. Diante deste cenário, como falar de ciências e suas tecnologias, da saúde, da moradia, educação de qualidade, trabalho e direitos de igualdade? O mundo mudou e continuará em constante mudança, mas as escolas parecem estar se distanciando e não acompanhando essas mudanças. Talvez por ser a escola, institucionalizada na sociedade sinta-se segura e acaba por não perceber claramente o distanciamento que existe entre as ações da sociedade e as ações que ocorrem nos espaços formais de educação provocando uma inquietude nos sujeitos inseridos nestes espaços (CARVALHO et al., 2006). Diante da inquietude dos alunos, segundo Carvalho et al (2006), o professor tem que ter uma visão crítica em ensinar o conteúdo que precisa ser aprendido e porque precisa ser aprendido. Provocar no aluno uma reflexão para que ele perceba que se deve aprender para a vida, para o que se quer, para o que se deve e para o que se precisa. É nesse contexto que a educação formal se apresenta e se posiciona. Sendo ela, embasada em Lei, o papel que deve exercer em relação ao ensino é o dever de ensinar e promover o aprendizado. Porém, o ensinar precisa de alguém que queira ser ensinado, só então o ensino passa a ganhar uma dimensão muito importante. 28 Em contrapartida a responsabilidade de aprender é do aluno e a de ensinar é do professor. Mas como ensinar? Qualquer um ensina? (CARVALHO et al.,2006). Para haver um ensino aprendizagem o sujeito que ensina e o sujeito que aprende neste caso, aluno e professor, precisam estar dispostos. Não é um processo de mão única (CARVALHO et al.,2006). Para Carvalho et al (2006), “conhecer é um ato de inteligência”. Mas existem diferenças entre o conhecimento, o saber e o aprender. Segundo Carvalho et al (2006) afirma que se conhecer é um ato natural, processo contínuo da vida, o saber por sua vez é o prazer de conhecer e, este fato é o que preocupa a escola. Como fazer com que o aluno se reconheça nesse processo? A aprendizagem exige esforço e determinação de si próprio. Provém de um impulso. Neste sentido, a aprendizagem nunca será forçada, mas que o ato de ensinar possa contribuir para que a aprendizagem ocorra de forma natural e constantemente renovadapor novas descobertas. Numa visão construtivista da aprendizagem, os resultados desse processo dependem dos objetivos propostos para o aluno, dos conhecimentos prévios que esse aluno apresenta, das motivações provocadas nele, pelo ensino ministrado. Envolve construções de novos significados e novos conceitos e sua aplicabilidade no seu dia a dia. A responsabilidade do aprendizado, construção e avaliação de ideias, cabe ao aluno (KRASILCHIK, 2005). É importante lembrar que o ensino formal, sempre associado à escola, sofreu muitas mudanças a partir do ano de 1950, principalmente quando relacionado às ciências e aos conceitos científicos. Desde as últimas décadas, conhecer superficialmente o conteúdo de ciências é cair na ingenuidade. O aluno de hoje, necessita de um ensino que o tire do senso comum, que o impulsione para a aprendizagem, que faça com que ele se veja no atual processo e que o trabalho de sala de aula o ajude na reconstrução de seus conceitos (CARVALHO et al., 2006). Para Carvalho et al (2006), o conhecimento prévio vem da cultura do aluno, do ambiente em que ele está inserido. A ciência por sua vez, vem dos ensinamentos da sala de aula. Portanto, a ponte entre a escola e sociedade necessita ser mais bem estruturada para que a razão (reflexão) não fique mais reduzida à dimensão científica, distanciada da sua função que é a de construção para a cidadania. Perceber que o desenvolvimento científico a influência de outras culturas na nossa 29 sociedade, a importância do ensino de ciências, pela educação formal favorece sua aplicabilidade nos espaços não formais e informais de educação no sentido de criticidade e participação é uma forma de construção da cidadania. Carvalho et al (2006) destaca outro ponto importante quando se refere ao conteúdo de ciências a ser ensinado nos espaços escolares. Esses conteúdos, segundo a Autora, devem apresentar uma abordagem de dimensão conceitual, formativa e cultural. O primeiro passa do ensino de conceitos para o ensino de ciências, tecnologias e sociedade. O segundo, que até então eram prontos e acabados busca a construção de conceitos pelos alunos tornando-os sujeitos críticos e reflexivos e, terceiro e último, na dimensão cultural, um conteúdo que provoque mudanças de atitudes no âmbito da democracia e da moral. A prática do professor deve ser norteada a partir dessas três dimensões. Segundo os parâmetros curriculares nacionais (PCNs), o ensino, em todas as modalidades, é de fundamental importância, que se volte para o desenvolvimento do aluno possibilitando a ele informações necessárias para desenvolver capacidades e potencialidades para o exercício pleno da cidadania. Cabe à educação cumprir seu papel no campo econômico, científico e cultural. Para tanto, deve estar estruturada nos alicerces do conhecimento, da ação, da vivência em sociedade e na prática da cidadania. As propostas de mudanças para a didática das ciências vão além dos conceitos, apontam também para as ações e procedimentos em sala de aula. A relação ensino aprendizagem, neste momento precisa estar pautada no saber e no fazer. A linguagem do professor é a das ciências, ensinadas formalmente em espaços institucionais, construídas e validadas pela sociedade. É a linguagem do professor que provoca mudança na linguagem do aluno quando ele se sente estimulado para sair da linguagem do cotidiano para a linguagem cientifica e passa aplicá-la no seu meio social, além do espaço formal (CARVALHO et al., 2006). Na visão de Gasparin (2005) a relação entre escola, mesmo com todos os avanços científicos e tecnológicos que facilitam a aquisição de conhecimentos e informações fora das salas de aula, a figura do professor no processo ensino- aprendizagem é a primeira a ser lembrada, quando se busca mudanças efetivas neste contexto. 30 O fato é que todo conhecimento oriundo das ciências passam por transformações e se adequam aos novos tempos e espaços escolares. A escola, por sua vez, deve estar atenta às mudanças para poder compreendê-las, aceitá-las e socializá-las, pois, as inovações que ocorrem nas ciências afetam diretamente a sociedade. Ao retornar a educação não formal, no início desta reflexão, observa-se que nos anos de 1980, com a expansão da globalização houve mudanças significativas na área das ciências e tecnologias afetando diversos setores da sociedade (GOHN, 2011). Em meados desta mesma década a UNESCO propôs um compromisso internacional para uma educação científica de qualidade, ou seja, “ciências para todos” para todas as etapas da vida humana. Desta forma, iniciou-se uma alfabetização científica paralela, nas diferentes camadas sociais em espaço informal e não formal de educação (MARANDINO et al., 2011). Segundo Marandino et al (2011), é de fundamental importância uma reflexão sobre o papel das ciências nos espaços formais de educação e sua articulação com outros espaços educacionais, oportunizando à população, acesso a cultura científica, como a que se refere a área das ciências biológicas. Os conhecimentos das ciências biológicas estão em nosso cotidiano, presentes nos desenhos animados, nas propagandas, nas novelas, nos produtos que consumimos, por meio de imagens, termos, conceitos, ideias, representações. Povoam o imaginário das pessoas comuns mediantes ideias como identificação da paternidade, alimentação sadia, solução de doenças (MARANDINO et al., 2011, p.35). Sendo a sala de aula, um espaço onde aluno e professor podem abordar os conhecimentos científicos de forma mais dinâmica, o aprender ciências passa ter para os jovens uma conotação diferenciada e não mais uma visão metódica e cheia de conceitos prontos. Por outro lado, segundo Marandino et al (2011), a escola formal seleciona e reelabora os conteúdos culturais e científicos para transmiti-los às novas gerações no processo ensino aprendizagem. Os espaços não formais de educação também fazem essa seleção, mas de forma diferenciada. 31 Portanto, ao estabelecer parcerias com esses espaços diferenciados de educação, a escola deve estar atenta e entender primeiramente as características desses espaços, seus objetivos, quais finalidades científicas e educacionais almejam. E, que isso valha para todas as áreas do conhecimento. Alguns exemplos de espaços não formais de educação, que podem atender a educação formal em forma de parceria: Revistas, jornais, televisão, rádio, organizações não governamentais, museus de Ciências, zoológicos, jardim botânico, hortos, parques florestais, reservas naturais, zona rural, matas ciliares, indústrias, fábricas. São estes alguns locais que podem apresentar relações com as ciências e com as Ciências Biológicas numa reflexão que não seja estritamente escolar, onde o estudante, diante de situações distintas possa pensar, raciocinar, falar e redimensionar seu conhecimento ( MARANDINO et., al 2011). 4.1.3 História do Ensino de Ciências Naturais e as Principais tendências. A Biologia, a Física e a Química, nem sempre foi objeto de ensino nas escolas. O espaço conquistado por essas ciências no ensino formal (e informal) seria, segundo Rosa (2005), consequência do status que adquiriram principalmente no último século, em função dos avanços e importantes invenções proporcionadas pelo seu desenvolvimento, provocando mudanças de mentalidades e práticas sociais. Segundo Canavarro (1999 apud Rosa p. 89) a inserção do ensino de ciências na escola deu-se no início do século XIX quando então o sistema educacional centrava-se principalmente no estudo das línguas clássicas e da Matemática, de modo semelhante aos métodos escolásticos da idade média. De acordo com Layton (1973 apud Rosa p. 89) já naquela época as diferentes visões de ciência dividiam opiniões. Havia os que defendiam uma ciência que ajudasse na resolução de problemaspráticos do dia a dia. Outros enfocavam a ciência acadêmica, defendendo a ideia de que o ensino de ciências ajudaria no recrutamento dos futuros cientistas. A segunda visão acabou prevalecendo e embora essa tensão original ainda tenha reflexos no ensino de ciências atual, este permaneceu bastante formal, ainda baseado no ensino de definições, deduções, equações e em experimentos cujos resultados são previamente conhecidos. 32 A revolução industrial deu novo poder aos cientistas institucionalizando socialmente a tecnologia. Este reconhecimento da ciência e da tecnologia como fundamentais na economia das sociedades levou à sua admissão no ensino com a criação de unidades escolares autônomas em áreas como a Física, a Química e a Geologia e com a profissionalização de indivíduos para ensinar estas áreas. O estudo da Biologia seria introduzido mais tarde devido à sua complexidade e incerteza (Canavarro 199 p. 81-84 apud Rosa p. 90). Santos e Greca (2006) lembram que preocupação com o processo ensino e aprendizagem nas Ciências Naturais, como um campo específico de pesquisa e desenvolvimento, já completo praticamente meio século, se considerarmos como marco inicial a criação dos grandes projetos americanos e ingleses para a didática da ciência na Educação Básica. Pode-se dizer que nas primeiras décadas desse período, mais especificamente nas décadas de 60 e 70 do século passado, havia uma preocupação maior com a estruturação do conhecimento científico tal como ele se constituiu no âmbito dos campos científicos da Física, Química, Biologia e Geologia. No Brasil, que mudanças vem sofrendo o Ensino de Ciências? Que relação essas mudanças têm com o contexto sócio-político-econômico nacional e internacional? Que impacto estas mudanças têm no trabalho docente e no aprendizado em Ciências? Que pesquisas têm sido feitas nesta área? Em que medida e de que forma estas pesquisas têm efetivamente chegado ao professor de ciências? Neste capítulo pretende-se traçar um breve histórico das tendências, iniciativas, movimentos e pesquisas neste campo da docência, considerando legítima a preocupação de Schnetzler (1998 p. 386): “[...] é voz corrente que entre a produção da pesquisa e o seu uso na sala de aula há obstáculos e entraves seríssimos”. Apesar do rápido desenvolvimento da pesquisa sobre Educação em Ciências nestes últimos 40 anos, e de suas potenciais contribuições para a melhoria da sala de aula, elas não têm chegado aos professores e professoras que, de fato, fazem acontecer à educação científica em nossas escolas. Constata-se que a pesquisa educacional tem sido desenvolvida sem a participação daqueles atores. Porque estes, então, se sentiriam compromissados com a sua adoção? 33 Muito se tem produzido e dito sobre o que os professores e professoras deveriam fazer usar e pensar para darem "boas aulas de ciências". Do alto das estruturas acadêmicas e governamentais, prescrições têm sido propostas que, em sua maioria, são literalmente ignoradas pelo professorado ou implementadas, na prática da sala de aula, de forma bastante distinta. Na realidade, o professor tem sido afastado da pesquisa educacional porque o espaço para tal não foi criado durante a sua formação inicial e nem em sua formação continuada. Concebidos como meros executores, aplicadores de propostas e ideias gestadas por outros, os professores e as professoras têm sido culpados pela baixa qualidade da nossa educação. “Segundo Krasilchik (2000), tomando como marco inicial a década de 50, é possível reconhecer nestes últimos 50 anos movimentos que refletem diferentes objetivos da educação modificados evolutivamente em função de transformações no âmbito da política e economia, tanto nacional como internacional. Para esta autora, na medida em que a Ciência e a Tecnologia foram reconhecidas como essenciais no desenvolvimento econômico, cultural e social das nações, o ensino das Ciências em todos os níveis foi igualmente crescendo em importância, e ao ser objeto de inúmeros movimentos de transformação do ensino, pode servir de ilustração do impacto das reformas educacionais. Durante a “guerra fria“, nos anos 60, os Estados Unidos da América, no afã de vencer a “batalha“ espacial, fizeram grandes investimentos de recursos humanos e financeiros na Educação, para produzir os hoje chamados projetos de 1ª geração do ensino de Física, Química, Biologia e Matemática para o Ensino Médio. A justificativa desse empreendimento baseava-se na ideia de que a formação de uma elite que garantisse a hegemonia norte-americana na conquista do espaço dependia, em boa parte, de uma escola secundária em que os cursos das Ciências identificassem e incentivassem jovens talentos a seguir carreiras científicas. Nesse movimento, que teve a participação intensa das sociedades científicas, das Universidades e de acadêmicos renomados, apoiados pelo governo, foi produzido o que também é denominado na literatura especializada de “sopa alfabética“, em razão dos projetos de Física (Physical Science Study Commitee– PSSC), de Biologia (Biological Science Curriculum Study– BSCS), de Química (Chemical Bond Approach – CBA) e (Science Mathematics Study Group-SMSG) serem conhecidos universalmente por suas siglas. 34 Na fase dos projetos de 1ª geração, a Ciência era considerada neutra, isentando os pesquisadores de julgamento de valores sobre seu trabalho. Mesmo os cientistas que tiveram uma atuação significativa na produção da bomba atômica procuravam não assumir sua responsabilidade no conflito bélico. O objetivo do trabalho em Ciências era desenvolver a racionalidade, a capacidade de fazer observações controladas, preparar e analisar estatísticas, respeitar a exigência de replicabilidade dos experimentos. No período 1950-70, prevaleceu a ideia da existência de uma sequência fixa e básica de comportamentos, que caracterizaria o “método científico” na identificação de problemas, elaboração de hipóteses e verificação experimental dessas hipóteses, o que permitiria chegar a uma conclusão e levantar novas questões. Para Santos e Greca (2006), estes projetos iniciais de ensino tiveram a preocupação de proporcionar uma visão globalizada de cada campo e com os processos de sua produção e desenvolvimento realizados pelos cientistas. Segundo as autoras, a compreensão do que era ciência, sua produção e validação pela comunidade científica, encontrava-se fortemente apoiada na concepção positivista de ciência e na crença de que a aplicação de seus resultados pudesse resolver os graves problemas que afligiam a humanidade, bem como prever e evitar que novos problemas surgissem. Esse período foi marcante na história do ensino de Ciências e até hoje influencia as tendências curriculares de várias disciplinas do Ensino Médio e fundamental. Ao longo dessas últimas décadas, as modificações no contexto político, econômico e social resultaram em transformações das políticas educacionais e em mudanças no ensino de Ciências. A Lei nº. 4024, de Diretrizes e Bases da Educação, de 21 de dezembro de 1961, ampliou bastante a participação das Ciências no currículo escolar, que passaram a figurar desde o 1º ano do então curso ginasial. No curso colegial, houve também substancial aumento da carga horária de Física, Química e Biologia. Reforçou-se a crença de que essas disciplinas exerceriam a “função“ de desenvolver o espírito crítico através do exercício do “método científico”. A ditadura militar em 1964 mudou o cenário político do país, e também o papel social esperado da escola. No contexto da Teoria do Capital que se expande no Brasil em fins dos anos 60 e início dos anos 70, verifica-se a interferência mais direta dos EUA na política educacional brasileira. Sob a concepção de educação 35 baseada no modelo norte-americano, para Gadotti(1991) escondia-se a ideologia desenvolvimentista visando o aperfeiçoamento do sistema industrial e econômico capitalista. Supostamente norteada para uma filosofia voltada para a vida, esta escola Voltava-se à industrialização, à “modernização“, formando, no curso secundário, mão-de-obra especializada (Lei 5. 692/71). Esta interferência tornou-se clara e aberta a partir de 1964, com o golpe militar e, em especial, após 1968. Com o acordo MEC/ USAID (United States Agency for International Development), em 1966, definiu-se que a formação técnica profissional seria a ideal para a educação brasileira. O MEC criou em 1963 seis centros de Ciências nas maiores capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte. A estrutura institucional desses centros era variada. Alguns, como os de Porto Alegre e Rio de Janeiro, tinham vínculos com Secretarias de Governo da Educação e de Ciência e Tecnologia, enquanto os de São Paulo, Pernambuco, Bahia e Minas Gerais eram ligados às Universidades. Algumas dessas instituições com trajetórias e vocações diferentes persistem até hoje, como a de Belo Horizonte, estreitamente associada à Faculdade de Educação da UFMG, e o Centro do Rio, hoje mantido pela Secretaria de Ciência e Tecnologia. Os outros desapareceram ou foram incorporados pelas universidades onde passaram a se estruturar grupos de professores para preparar materiais e realizar pesquisas sobre o ensino de Ciências. Com a expansão dos programas de pós-graduação e delineamento de uma área específica de pesquisa – Ensino de Ciências –, as organizações acadêmicas assumiram a responsabilidade de investigar e procurar fatores e situações que melhorassem os processos de ensino-aprendizado nesse campo. Esse movimento ocorre agora nos Centros de Ciências ou nas Universidades e ganha atenção das autoridades federais e instituições internacionais, estabelecendo programas como o Premem (Projeto de Melhoria do Ensino de Ciências e Matemática) e o SPEC (Subprograma de Educação para a Ciência), vinculado à Capes (Coordenaçãode Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e mais recentemente o pró-Ciências e os programas de educação científica e ambiental do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). No plano internacional o processo foi equivalente. Outros valores e outras temáticas ligadas a problemas sociais de âmbito 36 Mundiais foram sendo incorporados aos currículos e tiveram repercussões nos programas vigentes. Os estudos de ciência, tecnologia e sociedade (CTS), como campo interdisciplinar, originaram-se dos movimentos sociais das décadas de 60 e 70, sobretudo devido às preocupações com as armas nucleares e químicas e ao agravamento dos problemas ambientais decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico (Cutcliffe, 1990, apud Santos e Mortimer, 2003, p. 96). Em relação direta a esses movimentos, cresceram o interesse e o número de pesquisas sobre as consequências do uso da tecnologia e sobre os aspectos éticos do trabalho dos cientistas, como a sua participação em programas militares e a realização de experimentos na medicina e biotecnologia. Para Santos e Mortimer (2001), o movimento CTS surgiu em contraposição ao pressuposto cientificista que impregnava os currículos na década de 60 e valorizava a ciência por si mesmo, depositando uma crença cega em seus resultados positivos. A ciência era vista como uma atividade neutra, de domínio exclusivo de um grupo de especialistas, que trabalhava desinteressadamente e com autonomia na busca de um conhecimento universal, cujas consequências ou usos inadequados não eram de sua responsabilidade. Segundo Santos e Greca (2006), essa crença perdeu força na década de 70, pois os profissionais formados para aplicar os resultados dos avanços científicos e tecnológicos começaram a ter dificuldade em dar conta dos problemas e “parecem ter perdido o rumo de suas atividades à medida que o seu conhecimento adequava-se cada vez menos às situações práticas demandadas pela sociedade” (Maldaner, 2003, p. 49-50). Segundo Krasilchik (2004 apud Borges e Lima 2007 p. 167), nesse período o ensino de Ciências no país apresentou-se contraditório. Embora os documentos oficiais (LDB/1971) valorizassem as disciplinas científicas, o período de ensino a elas disponibilizado fora reduzido por força de um currículo de viés tecnicista, fortemente impregnado por um caráter profissionalizante. Além disso, apesar de os currículos enfatizarem “aquisição de conhecimentos atualizados” e a “vivência do método científico”, o ensino de ciências, na maioria das escolas brasileiras, continuou a ser descritivo segmentado e teórico. Superada a ideia de produção de projetos de ensino, já nos anos 70 começou-se a constatar as enormes lacunas na formação científica e na educação em geral das novas 37 gerações diante das necessidades sempre maiores de conhecimentos e que mudavam rapidamente. A crítica à concepção da Ciência como neutra levou a uma nova filosofia e sociologia que passou a reconhecer as limitações, responsabilidades e cumplicidades dos cientistas, enfocando a ciência e a tecnologia (C&T) como processos sociais. As implicações sociais da Ciência incorporam-se às propostas curriculares nos cursos ginasiais da época e, em seguida, nos cursos primários. Simultaneamente às transformações políticas ocorreu a expansão do ensino público cuja principal pretensão não mais era formar cientistas, mas fornecer ao cidadão elementos para viver melhor e participar do breve processo de redemocratização ocorrido no período. A admissão das conexões entre a ciência e a sociedade implica que o ensino não se limite aos aspectos internos à investigação científica, mas à correlação destes com aspectos políticos, econômicos e culturais. Os alunos passam a estudar conteúdos científicos relevantes para sua vida, no sentido de identificar os problemas e buscar soluções para os mesmos. Surgem projetos que incluem temáticas como poluição, lixo, fontes de energia, economia de recursos naturais, crescimento populacional, demandando tratamento interdisciplinar. Essas demandas dependiam tanto dos temas abordados como da organização escolar. Este movimento de Ciência Integrada, que teve apoio de organismos internacionais, principalmente a Unesco, provocou reações adversas dos que defendiam a identidade das disciplinas tradicionais, mantendo segmentação de conteúdos mesmo nos anos iniciais da escolaridade. Os processos que ocorriam na sociedade – tais como o fim da “guerra fria“, a competição tecnológica entre países e o agravamento dos problemas sociais e econômicos – também tiveram impacto nos currículos escolares, que passaram a destacar a importância dos estudantes estarem preparados para compreender a natureza, o significado e a importância da tecnologia para sua vida como indivíduos e como cidadãos. Para tanto, os cursos deveriam incluir temas sociais relevantes que tornassem os alunos aptos a participar de modo melhor qualificado de decisões que afetariam não só sua comunidade, no âmbito local, mas que também teriam efeitos de alcance global. 38 Para Gil Pérez (2001), esta “neutralidade” (grifo meu) da Ciência seria resultado do que ele denomina uma visão deformada, que transmite uma imagem descontextualizada e socialmente neutra da ciência, quando são ignoradas as complexas relações entre ciência, tecnologia, sociedade (CTS) e proporciona-se uma imagem também deformada dos cientistas como seres “acima do bem e do mal”, fechados em torres de marfim e alheios à necessidade de fazer opções. A avaliação de atitudes dos cientistas é, quase sempre, esquecida, senão mesmo ignorada. Em um estudo feito na Espanha, Solbes e Vilches (1992 apud Auler e Delizoicov 2006 p. 340) analisaram livros-texto, e realizaram
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