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DIREITO FINANCEIRO 1. Parte Introdutória Atividade financeira do estado: instrumento para a realização da atividade essencial do Estado, que é a efetivação dos direitos fundamentais. Tal atividade essencial é alcançada com a busca e a aplicação de recursos financeiros para atender as necessidades públicas. Direito financeiro: ramo do direito público que estuda a atividade financeira do Estado, compreendida como receita, despesa, orçamento e crédito público Financeiro x Tributário: Financeiro se preocupa com a atividade financeira como um todo, tributário estuda um tipo de receita específica (tributos). Não há distinção formal/rígida entre as duas matérias na CF Fontes do Direito Financeiro Fontes Primárias: ● Constituição Federal ● Lei complementar (art. 161, 163 e 165 da CF): trata das normas gerais do direito financeiro ○ LRF (LC 101/00): tem como objetivo coibir o desequilíbrio fiscal. 5 pilares da gestão pública: planejamento, transparência, equilíbrio, controle e responsabilização. Alcança a Administração direta e parte da indireta ○ Lei 4.320/64: lei ordinária recepcionada com status de lei complementar (materialmente complementar) ● Medidas provisórias: via de regra, não é cabível MP em matéria orçamentária, exceto para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, através de crédito extraordinário (art. 167, §3º, CF) ** STF: não é possível edição de MP quando há possibilidade de planejamento orçamentário (ex: previsão de despesas em função da covid) ● Lei delegada: não cabe à matérias reservadas à lei complementar, nem a PPA, LDO e LOA Fontes Secundárias: ● Decretos (art. 84, IV, CF) ● Resoluções (ex: Res. 40 e 43 de 2001) ● Atos normativos ● Decisões Administrativas (Tribunais de contas) ● Decisões Judiciais: notar certas tendências importantes: ○ possibilidade de judicialização de direitos sociais ○ Recursos são escassos mas devem ser aplicados corretamente para evitar privação por conta da má escolha do executivo. A escassez pode ser oponível mas deve ser devidamente comprovada: Deve ser real, fruto da insuficiência financeira e orçamentária e deve ser fática, não meramente jurídica ○ A Reserva do Possível pode ser oponível à efetivação dos direitos fundamentais, desde que seja concreta e não abstrata ○ A reserva do possível não é oponível à realização do mínimo existencial *** STJ - Fornecimento de medicamentos pelo Estado. REsp 1.657.156, de 13/09/2018. Requisitos: ● comprovação por meio de laudo médico fundamentado e circunstanciado, expedido por médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS ● incapacidade financeira de arcar com o custo do tratamento prescrito ● existência do registro do medicamento na ANVISA, observados os usos autorizados pela agência *** STF - Medicamento sem registro na ANVISA. Tema 500, repercussão geral. 22/05/2019. Mora irrazoável da anvisa para apreciar o pedido de registro (prazo superior ao previsto na Lei 13.411/16). A ação pedindo medicamento sem registro deve necessariamente ser proposta em face da União. Requisitos: ● existência de pedido de registro do medicamento no brasil (salvo no caso de medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras) ● existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação do exterior ● a inexistência de substituto terapêutico no Brasil *** Tema 793 - STF - Repercussão geral. Responsabilidade solidária dos entes federados pelo dever de prestar assistência à saúde: Os entes da federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde, e diante dos critérios constitucionais de descentralização e hierarquização, compete à autoridade judicial direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição de competências e determinar o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro. Premissas do direito financeiro Limitação de recursos: há uma escassez de recursos que leva à necessidade de delimitar quais áreas receberão investimentos maiores ou menores de acordo com as prioridades constitucionais. Reserva do possível jurídica: o orçamento não permite determinada despesa Reserva do possível fática: ausência concreta de recursos, auferível através da lei orçamentária e dos balancetes mensais do poder Executivo (critérios objetivos) Escolhas Trágicas/alocatícias: escolhas políticas diante das quais opta-se pela proteção de um direito em detrimento de outro, ainda que ambos possuam a mesma importância. Ocorre em razão da limitação financeira do Estado Competência legislativa União estabelece normas gerais. Estados possuem competência suplementar. Em caso de omissão da União em editar a norma geral os estados possuem competência plena, mas se houver a superveniência de Lei Federal, esta suspende as normas estaduais já editadas no que lhes for incompatível (art. 24, CF) Municípios só poderão suplementar a competência da União e dos Estados em matéria de interesse local (art. 30, CF). Não há competência concorrente dos municípios para legislar sobre direito financeiro 2. Orçamento Público Conceito: Lei que estima receitas e despesas, programando a vida financeira do Estado Aspecto político: reflete a execução do programa político partidário do governo. As políticas públicas devem ser voltadas para o cumprimento dos direitos fundamentais Aspecto econômico: instrumento de redistribuição de renda/regulação da economia. Busca compatibilizar as necessidades sociais com as receitas previstas Aspecto contábil: deve observar regras práticas para a realização dos objetivos nele insculpidos Aspecto Jurídico: deve observância a normas constitucionais e infraconstitucionais para sua elaboração, além de possuir viés distributivo com o fim de implantar uma justiça orçamentária Natureza Jurídica: há três correntes principais ● Leon Duguit: orçamento público, em relação às despesas, é um mero ato administrativo e, em relação à receita, é uma lei em sentido formal (que devia autorizar ano a ano a cobrança de determinados tributos) ● Gaston Jéze: orçamento como mero ato-condição, o orçamento não tinha rigorosidade / juridicidade, tendo em vista que já existiam outras leis que regulavam a sua criação, não passando o orçamento de mera condição para realização do gasto e ingresso da receita ● Orçamento é lei meramente formal (corrente majoritária no brasil): não cria direitos subjetivos e não modifica as leis tributárias e financeiras. O orçamento é meramente autorizativo e não impositivo, visto que o Poder Executivo não está obrigado ao cumprimento de todos os gastos previstos no orçamento. ** Norma orçamentária (surgem com a criação do orçamento): autorizativa ** Norma pré-orçamentária: impositiva. Ex: ***EC 86/15 - impositividade parcial das Emendas Parlamentares, vinculadas ao percentual de 1,2% da Receita Corrente Líquida do Orçamento da União *** EC 100/19: Emenda de Bancada passa a ter o limite obrigatório de 1% da receita corrente líquida do exercício anterior OBS: A partir da EC 100/19 o orçamento passou a ter caráter impositivo, em razão da redação do §10 do art. 165, CF, segundo o qual passa a ser dever da Administração a execução das programações orçamentárias. In verbis: Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: (...) § 10. A administração tem o dever de executar as programações orçamentárias, adotando os meios e as medidas necessários, com o propósito de garantir a efetiva entrega de bens e serviços à sociedade. Controle de Constitucionalidade do Orçamento O STF entende que leis orçamentárias são leis, como as demais, podendo ser objeto de controle concentrado/abstrato de constitucionalidade Espécies de Orçamento Tradicional: orçamento desvinculado de qualquer planejamento; foco em questões contábeis, em detrimento da atenção às necessidades da coletividade e da administração. Era merapeça contábil, não havia objetivos ou metas a serem atingidas Orçamento-desempenho: apenas estima e autoriza as despesas pelos produtos finais a obter ou tarefas a realizar, com ênfase limitada no resultado, sem vinculação a um programa ou planejamento governamental central das ações do governo. Não há vinculação entre planejamento e orçamento Orçamento-programa (adotado no Brasil pela 4.320/64): os recursos se relacionam a objetivos, metas e projetos de um plano de governo (programa). Privilegia aspectos gerenciais e o alcance de resultados, pautado na eficiência e na eficácia dos gastos públicos Orçamento base zero: demanda que o administrador justifique o orçamento posto em cada detalhe, com a respectiva quantia a ser gasta, sem o parâmetro do exercício anterior Princípios orçamentários Legalidade: as finanças públicas não podem ser manejadas sem autorização legal. Única hipótese de instrumento diverso da lei que pode ser utilizado para a realização de gastos é a MP, nos termos do art. 167, §3º, CF. ● Exceção: Trazida pela EC 86/15 - permissão de transposição, remanejamento ou transferência de recursos de uma categoria de programação sem prévia autorização do legislativo, nas atividades de ciência, tecnologia e informação Obs: o art. 107 da Lei nº 4.320/64 não foi recepcionado pela CF, por prever que o orçamento pode ser aprovado por mero decreto do poder executivo (violação ao princípio da legalidade) Exclusividade: a lei orçamentária deve conter apenas matéria orçamentária. O princípio veda matérias estranhas ao orçamento. ● Exceções: Autorização para a abertura de créditos suplementares (despesas) e contratação para operações de crédito (receita) Programação: remete à ideia de planejamento das ações, que devem ser vinculadas por um nexo entre os objetivos constitucionais e os traçados pelo governante. Planos ou programas nacionais, regionais ou setoriais devem estar contidos no plano plurianual. Na CF, encontra fundamento nos art. 48, IV e 165, §4º. O planejamento é obrigatório para o poder público e indicativo para o setor privado. ** O Estado não pode intervir na economia como planejador da livre iniciativa e da livre concorrência Equilíbrio orçamentário: busca assegurar que as despesas autorizadas em lei orçamentária não sejam superiores à previsão das receitas. Regra de ouro: os empréstimos feitos pelo poder público não podem ser maiores que os investimentos, de forma a impedir a capacidade de pagamento da dívida. A LRF exige a instituição de metas fiscais, que objetivem o equilíbrio orçamentário (podem ser deficitárias, desde que autorizadas na LDO e na LOA). Relaciona-se à noção de sustentabilidade da dívida Obs: aprofundar sobre teto de gastos (art. 105, ADCT) Obs 2: o equilíbrio não pode ser um fim em si mesmo, deve ser um parâmetro de responsabilidade no gasto público, evitando políticas não sustentáveis Anualidade: o orçamento deve ser feito anualmente (coincide com o ano civil). É aplicável somente à LOA, não se aplica a outras leis orçamentárias (o PPA, por exemplo, é quadrianual). ** Não se confunde com a anualidade tributária Obs: Súmula 66/STF: É legítima a cobrança do tributo que houver sido aumentado após o orçamento, mas antes do início do respectivo exercício financeiro Ou seja, mesmo após a aprovação do orçamento, os tributos podem ser majorados ou criados, de modo que a ausência da previsão da sua receita no orçamento não impede sua cobrança no exercício seguinte Unidade: deve existir apenas um orçamento para cada ente federativo em cada exercício financeiro. É princípio implícito no texto constitucional, encontrando fundamento no art. 165, §5º, CF, mas possui previsão expressa no art. 2º da Lei 4.320/64. Autarquias, fundações e empresas estatais dependentes também se sujeitam ao princípio da unidade, não podendo ter seus orçamentos dispostos por decreto do poder executivo como prevê o art. 107 da 4.320/64 (que não foi recepcionado pela CF) Universalidade: todas as receitas e despesas devem estar previstas no orçamento, sem exceções (art. 165, §5º, CF e art. 3º, Lei 4.320/64) ** obs: a Súmula 66/STF constitui exceção ao princípio da universalidade, pois estabelece a possibilidade de haver tributo não previsto, porém arrecadado Unidade vs Universalidade: Na unidade, cada ente da federação deve fazer um único orçamento, englobando todos os seus orgãos e unidades (tanto da administração direta quanto da indireta, judiciário, legislativo, mp, etc). Na universalidade, o que se analisa é a necessidade de previsão de absolutamente todas as receitas e despesas de todos os entes e seus respectivos órgãos Orçamento-bruto: as receitas e despesas deverão constar na Lei orçamentária pelo seu total bruto, vedando qualquer dedução Transparência: deve haver transparência no trato dos recursos públicos, seja nas receitas ou nas despesas. O princípio da publicidade é uma das formas previstas constitucionalmente para a instituição dessa transparência ** os art. 52 e 53 da LRF estabelecem o dever de publicar a cada 2 meses o Relatório Resumido da Execução Orçamentária Não afetação/vinculação da receita de impostos: é da natureza dos impostos não ter sua receita vinculada a algum órgão, fundo ou despesa. Fere o princípio da separação dos poderes a vinculação da receita de impostos a algum fim específico, tendo em vista que impediria a efetivação, pelo poder público, das políticas públicas ● Exceções: art. 167, CF: ○ Repartições constitucionais de receitas ○ destinação de recursos à saúde ○ destinação de recursos à educação ○ destinação de recursos para a manutenção da administração tributária Exceções: art. 100, §19, CF (precatórios) Especificação/especialização: O orçamento não pode ser genérico, estabelecer gastos sem precisão ou usar termos ambíguos. Tal princípio veda que se consigne no orçamento dotações globais para atender indiferentemente as despesas nele previstas ● Exceções: ○ programas especiais de trabalho (art. 20, Lei 4.320/64) - consistem em programas desenvolvidos pelo poder público cujo detalhamento nas leis orçamentárias pode colocar em risco sua existência e os próprios interesses do ente instituidor, como programas voltados para a segurança pública ○ reserva de contingência (art. 5, III, LRF) - recursos voltados para gastos imprevisíveis Proibição de estorno (CF, art. 167, inciso VI): o gestor público não pode realizar transposições, remanejamentos ou transferência de recursos sem prévia autorização legislativa ● Remanejamento: consiste na realocação na organização de um ente público, com destinação de recursos de um órgão para outro ● Transposições: são realocações no âmbito dos programas de trabalho, dentro do mesmo órgão ● Transferências: realocações de recursos entre as categorias econômicas de despesas, dentro do mesmo órgão e do mesmo programa de trabalho ● Exceção: Art. 167, §5º, CF: A transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra poderão ser admitidos, no âmbito das atividades de ciência, tecnologia e inovação, com o objetivo de viabilizar os resultados de projetos restritos a essas funções, mediante ato do Poder Executivo, sem necessidade da prévia autorização legislativa prevista no inciso VI deste artigo. Obs: A jurisprudência vem entendendo que decisões judiciais que determinam as TRTs violam o art. 167, §5º da CF, bem como o princípio da legalidade orçamentária (ex ADPF 664 de 2020) Unidade de caixa / unidade de tesouraria: Todo recurso destinado ao Erário, de caráter originário ou derivado, ordinário ou extraordinário, de natureza orçamentária ou extraorçamentária, geral ou vinculado, deve ser alocado em uma única conta, a fim de facilitar sua gerência. Encontra fundamento no art. 56 da Lei 4.320/64 ● Exceção: vedação à unificação dos recursos da previdência social com os demais ministérios, a fim de organizar o equilíbrio dos regimes de previdência (art. 43, LRF) Princípio da economicidade: expressamente previsto no art. 70 da Constituição, implicana eficiência na gestão financeira e na execução orçamentária, materializada na minimização de custos e gastos públicos e na maximização da receita e da arrecadação. Se inspira no princípio do custo-benefício, segundo o qual deve haver adequação entre receita e despesa Créditos adicionais Conceito: são alterações no orçamento, em virtude de situações inesperadas e excepcionais, consistem em autorizações de despesas não computadas ou insuficientemente dotadas na LOA. Seguem o mesmo rito de aprovação da LOA, a ausência de algum dos requisitos legais implica na ilegalidade da despesa suplementada ou criada. Créditos Suplementares: são destinados ao reforço de dotação orçamentária. Tem natureza apenas quantitativa (apenas aumenta a quantidade de recursos já previstos no orçamento. Tem vigência limitada ao exercício em que foram autorizados. Dependem de lei para sua autorização. Exceção ao princípio da exclusividade: a própria LOA pode conter autorização do Poder Executivo para a sua abertura até determinada importância/percentual. Só pode ocorrer quando se tratar de deslocamento de recursos dentro do mesmo órgão e da mesma categoria de programação Créditos especiais: destinados a suprir despesas novas, ainda não previstas na LOA. Devem ser autorizados por lei diversa da LOA, dependem de justificação e disponibilidade de recursos. Não podem ter vigência para além do exercício financeiro em que forem autorizados, EXCETO se o ato de autorização for promulgado nos últimos 4 meses do exercício (nesse caso, respeitado o limite do saldo, poderão valer até o término do exercício financeiro subsequente). Natureza qualitativa Crédito extraordinário (art. 167, §3º, CF): voltado para atender despesas imprevisíveis e urgentes, como em caso de guerra, calamidade pública ou comoção interna. No âmbito federal pode ser instituído por MP (se a constituição estadual assim estabelecer, os estados também podem instituir tais créditos por meio de MP e os munícipios, respeitada a Lei Orgânica, por decreto). Não precisa de indicação de recursos. Fontes para abertura de créditos adicionais Previsão: art. 43, Lei 4.320/64 ● Superávit (diferença positiva entre ativo e passivo financeiro) no exercício anterior ● excesso de arrecadação (saldo positivo das diferenças acumuladas mês a mês entre a arrecadação prevista e a realizada) ● anulação parcial ou total de dotações orçamentárias ou créditos especiais ● produto de operação de crédito autorizado Previsão: art. 166, §8º, CF: Os recursos que, em decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual, ficarem sem despesas correspondentes poderão ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou suplementares, com prévia e específica autorização legislativa. Da Orçamentação Ciclo orçamentário: série de atos orçamentários, não se limita a um exercício financeiro nem com ele pode ser confundido Iniciativa: É exclusiva do Poder Executivo (art. 84, XXIII, CF) OBs: Se os demais órgãos e poderes enviarem proposta em desacordo com a LDO, caberá ao executivo promover os ajustes necessários à adequação das propostas orçamentárias. Se algum órgão ou poder não encaminhar proposta, o poder Executivo considerará os valores presentes na LDO vigente. Se as propostas estiverem em acordo com a LDO, não caberá ao Executivo realizar qualquer ajuste, exceto através de Emenda modificativa, no âmbito da deliberação legislativa Apreciação: é de competência do Poder Legislativo, através da análise conjunta das duas casas do CN, na forma de Comissão Mista Permanente, que analisará todos os temas orçamentários. ● O Legislativo poderá fazer emendas à LOA, desde que elas sejam compatíveis com o PPA e a LDO, bem como que sejam indicados os recursos necessários admitidos somente os provenientes de anulação de despesa, excluídos: art. 166, §3º a) dotações para pessoal e seus encargos; b) serviço da dívida; c) transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e Distrito Federal; ou III - sejam relacionadas: a) com a correção de erros ou omissões; ou b) com os dispositivos do texto do projeto de lei. Sanção/Veto: Após as alterações finais, o orçamento é devolvido ao poder Executivo, seguindo então o procedimento comum das demais leis (possibilidade de veto, dentro de 15 dias, que se não for exercido expressamente haverá sanção tácita) Execução do orçamento: O Executivo terá até 30 dias para estabelecer a programação financeira e o cronograma mensal de desembolso (art. 8º, LC 101/00). Pela CF, o Executivo deve publicar bimestralmente o relatório resumido de execução orçamentária Controle do orçamento: Exercido de forma concomitante ou posterior, pelo Tribunal de Contas Leis Orçamentárias LOA LDO e PPA: Leis ordinárias que não se submetem a qualquer tipo de relação hierárquica formal entre si, mas dependem de uma compatibilidade lógica entre seus conteúdos (hierarquia material, visto que há uma relação de subordinação entre os conteúdos de cada uma delas) PPA: Lei programática, que irá prever, durante 4 anos, quais as prioridades e programas do governo. Previsto no art. 165, §1º da CF. O PPA estabelece diretrizes, objetivos e metas de governo. ● Vigência do PPA: Projeto de PPA deve ser enviado até 4 meses antes do encerramento do primeiro exercício financeiro (até 31 de agosto) e devolvido até o encerramento da sessão legislativa art. 35, §2º, I, ADCT OBs: segundo o art. 167, §1º da CF, nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, sob pena de crime de responsabilidade. LDO: compreende metas e prioridades (de curto prazo, ano a ano) da Administração Pública, estabelece metas e diretrizes de política fiscal, de acordo com a trajetória sustentável da dívida pública, orienta a criação da LOA e dispõe sobre as alterações na legislação tributária, além da política de aplicação das agências financiadoras de fomento (art. 165, §2º, CF) ● Vigência da LDO: Projeto de LDO deve ser enviada até 8 meses e meio antes do encerramento do exercício financeiro (até 15 de abril) e devolvido pra sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa (art. 35, §2º, II, ADCT) OBs: os períodos das sessões legislativas estão previstos no art. 57 da CF - Sessão legislativa não pode ser interrompida sem aprovação do projeto de LDO OBS: Criação de vantagens, aumento de remuneração, criação de cargos empregos funções etc só poderão ser feitas se houver previsão na LDO (art. 169, §1º, II, CF) - essa previsão não se aplica para empresas públicas e sociedades de economia mista OBs: O STF decidiu que até mesmo a revisão anual de remuneração de servidores depende de previsão na LDO e na LOA - RE 905357 Obs: ver art. 4º, LRF - anexos obrigatórios para a LDO: metas fiscais e riscos fiscais. A união tem que apresentar anexo específico com objetivos das políticas monetária, creditícia e cambial, entre outros LOA: lei que estima receitas e fixa despesas anuais. Compreende orçamento fiscal, de investimento e da seguridade social (art. 165, §5º, CF) ● Projeto de LOA deve ser encaminhado até quatro meses antes do encerramento do exercício financeiro (até 31 de agosto) e devolvido para sanção até o encerramento da sessão legislativa (art. 35, §2º, III, ADCT) Obs: o orçamento fiscal não compreende os ministérios de seguridade social OBs: Ver art. 5º, II, LRF - previsão de reserva de contingência Orçamento participativo Conceito: o orçamento possui dois temas: estimar receitas e fixar despesas. Dito isto, é garantido ao cidadão ser ouvido, em ambos os temas, através de seus representantes, tanto na aprovação de tributos quanto na fixação de gastos (ex: realização de audiências públicas com a finalidade de ouvir a população sobre principais pontos que devem constar na LOA) Previsão legal: art. 48, §1º, LRF e art. 44 do Estatuto da Cidade (este artigo prevê como obrigatória a realização de debates, audiências e consultas públicaspara a aprovação do PPA, LDO e LOA) Desvinculação de Receitas da União - DRU Tipos de tributos: ● Impostos - receita livre (art. 167, IV, CF) ○ exceções que podem ser vinculadas: transferências constitucionais, gastos com saúde, educação, administração tributária, precatórios, etc ● Taxas - pode ser vinculada ● Contribuição de melhoria - receita vinculada ● Empréstimo compulsório - receita vinculada ● Contribuições Especiais - receita vinculada Conceito de DRU: utilização de mecanismo constitucional para desvincular receitas previstas constitucionalmente como vinculadas, com a finalidade de utilizá-las para despesas diversas impossíveis de serem supridas pelas demais espécies tributárias Surgimento: 1994, com o Plano Real, através da criação do Fundo de Estabilização fiscal Previsão legal: art. 76 do ADCT OBS: Para o STF, a receita desvinculada proveniente de contribuição social ou de intervenção no domínio econômico não altera a essência de tais contribuições, ou seja, ainda que a receita esteja desvinculada e, portanto, seja de uso livre, não se caracterizaram receitas provenientes de impostos (que são desvinculados por natureza) - RE 793564: DESVINCULAÇÃO – ARTIGO 76 DO ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS – EMENDAS CONSTITUCIONAIS Nº 27, DE 2000 E Nº 42, DE 2003 – MODIFICAÇÃO NA APURAÇÃO DO FUNDO DE PARTICIPAÇÃO DOS MUNICÍPIOS. A desvinculação parcial da receita da União, constante do artigo 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, não transforma as contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico em impostos, alterando a essência daquelas, ausente qualquer implicação quanto à apuração do Fundo de Participação dos Municípios. Precedente: Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.925/DF, em que fui designado redator para o acórdão. MULTA – AGRAVO – ARTIGO 557, § 2º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Surgindo do exame do agravo o caráter manifestamente infundado, impõe-se a aplicação da multa prevista no § 2º do artigo 557 do Código de Processo Civil. (RE 793564 AgR, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 12/08/2014, Dje de 01/10/14) Vedações do art. 167 da CF I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual; II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais; Obs: os incisos I e II são reflexos do princípio da legalidade orçamentária III - a realização de operações de créditos (ou seja, empréstimo) que excedam o montante das despesas de capital (regra de ouro no orçamento: o montante de empréstimo não pode ser maior que a despesa com investimentos - princípio do equilíbrio fiscal), ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por maioria absoluta (ou seja, mediante LC); Ver: ADI 2238 IV - a vinculação de receita de impostos (impostos, não tributos em geral) a órgão, fundo ou despesa, ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita V - a abertura de crédito suplementar (normalmente é autorizado no próprio orçamento) ou especial (autorizado em lei específica) sem prévia autorização legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes; Obs: no caso de crédito extraordinário não é necessária autorização legislativa pois ele normalmente é instituído por MP ou Decreto do Executivo VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia autorização legislativa - Reflexos dos princípios da legalidade e da proibição do estorno Demais: ver na CF Intervenção judicial no orçamento público Tendo em vista que o Orçamento é Lei, não cabe ao judiciário afastar suas disposições com o intuito de atender às demandas judicializadas sem antes buscar ponderar as leis orçamentárias com as demais normas do ordenamento jurídico 3. Receitas Públicas Principal fonte de receitas no Brasil: tributos Conceito clássico: ingresso que se integra ao patrimônio sem reservas. Por esse conceito, como os empréstimos se integram ao patrimônio com uma série de reservas, não seriam exemplos de despesas ● ingresso (gênero): todo e qualquer recurso que entra, independentemente do passivo lançado ● receita (espécie): ingresso livre de qualquer dever de devolução Conceito legal: deve ser adotada a concepção ampla, entendendo-se que os empréstimos também são receita Classificação: ● Quanto à periodicidade: ○ receitas ordinárias: previsíveis e recorrentes ○ extraordinárias: imprevisíveis, esporádicas, fruto de fatos isolados ● Quanto ao sentido: ○ Sentido amplo: ingresso (conceito legal) ○ Sentido restrito: receita (espécie) ● Quanto ao ente: ○ Receita da União/Federal ○ Receita Estadual/Distrital ○ Receita municipal **Obs: existem as receitas compartilhadas, relativas às transferências obrigatórias/constitucionais ● Quanto à fonte/coercitividade: ○ originárias: sua base está na exploração do patrimônio do Estado ○ derivadas: coercitiva, advém de uma relação jurídica/imposição da lei (ex: tributos e multa) ATENÇÃO: Teoria dos preços públicos: o Estado, ao prestar serviços públicos, poderá estabelecer contraprestações através de um preço subsidiário, equilibrado ou lucrativo. O preço público poderá ser um preço político (quando o valor arrecadado é menor que o custo efetivo do serviço); um preço público de fato (quando há um equilíbrio entre o valor pago e o custo do serviço); ou um preço quase-privado (quando a atividade é lucrativa) **OBS: Súmula 545/STF: preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização orçamentária (obs: o princípio da anualidade tributária não é mais adotado no direito brasileiro), em relação à lei que as instituiu. ● Taxa = tributo ● Tarifa = preço público Obs: O direito tributário adota a Teoria Pentapartida dos tributos (existência de 05 espécies tributárias: impostos, taxas, contribuições de melhoria, contribuições especiais e empréstimos compulsórios). Contudo, no direito financeiro, adota-se a Teoria Tripartida (03 espécies de tributos: impostos, taxas e contribuições de melhoria). **Contribuições são computadas, no direito financeiro, como receitas de contribuições, por tanto não são incluídas nas receitas tributárias ** empréstimo compulsório, apesar de ser tributo, é computado como receita de capital, logo, também não é entendendido como receita tributária ● Quanto à previsão no orçamento: ○ receita orçamentária: consta no orçamento (quando o Estado recolhe receitas que não constam no orçamento fala-se em excesso de receita) ○ receita extraorçamentária: ingressadas nos cofres públicos, porém não podem fazer face às despesas orçamentárias (ex: depósitos, cauções, etc) Classificação legal: ● Receitas correntes: Previstas no art. 11, § 1º, da Lei 4.320/64, são aquelas receitas corriqueiras, mais frequentes nos cofres públicos, como tributos, contribuições, transferências destinadas a atender despesas correntes, royalties etc ● Receitas de capital: Previstas no art. 11, §2º, da Lei 4.320/64, voltadas para o investimento, resultantes de operações de crédito, superávit orçamentário, etc OBS: importante - Art. 44, LRF. É vedada (preservação do patrimônio público) a aplicação da receita de capital derivada da alienação de bens e direitos que integram o patrimônio público para o financiamento de despesa corrente, salvo se destinada por lei aos regimes de previdência social, geral e próprio dos servidores públicos. Regime Contábil das Receitas Regime de caixa: lançamento de todos os ingressos efetivamente realizados, aindaque não previstos no orçamento. É o regime adotado para as receitas públicas (art. 35, I, Lei 4.320/64) Regime de competência: lançamento dos ingressos que deveriam ter sido realizados, ainda que não tenham se concretizado. É o regime adotado para as Despesas Públicas (art. 35, II, Lei 4.320/64) Regime misto: no Brasil, a Administração Pública segue o Regime Misto, visto que adota o regime de caixa para receitas e regime de competência para despesas Dívida Ativa Conceito: local de lançamento de todos os créditos vencidos e não pagos, após depuração de sua liquidez e certeza. A inscrição na dívida ativa embasa a execução fiscal e é feita por procuradores Previsão legal: art. 39 da Lei 4.320/64 Classificação: ● Dívida Tributária: segue a classificação do direito financeiro e adota a teoria tripartida dos tributos (impostos, taxas e contribuições de melhoria) ● Dívida Não-tributária: empréstimos compulsórios e contribuições especiais, tal como outros créditos diversos Obs: A certidão de dívida ativa (CDA) embasa o processo de execução fiscal, contudo, em determinados casos o valor da dívida não justifica o custo do processo de execução, de forma que o STF entendeu pela possibilidade de protesto da CDA, sem que isso constitua sanção política. Vide: ADI 5135 - O protesto das certidões de dívida ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo por não restringir de forma desproporcional quaisquer direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir sanção política Fases da Receita 1ª - Previsão: orçamento é lei que prevê receitas e fixa despesas. ● Superestimação de orçamento: gera frustração de receitas, devendo haver readequação orçamentária, sob pena de aumento desproporcional das despesas e consequente aumento da dívida pública ● Subestimação do orçamento: gera excesso de arrecadação Obs: é possível o ingresso de receita não prevista, visto que no direito financeiro impera o princípio da anualidade financeira 2ª - Lançamento: escrituração aplicada a todo reconhecimento de ingresso a ser feito nos cofres públicos (previsão legal: art. 53, Lei 4.30/64). Pode ser de ofício, por delegação ou por homologação 3º - Arrecadação: reunião de todos os valores pagos 4ª - Recolhimento: união de todas as receitas dentro de um único caixa (princípio da unidade de caixa). Se houver o não pagamento de algum valor, haverá a inscrição na dívida ativa 3.1. Receita Pública na LRF Receita corrente Líquida (RCL) Conceito: somatório das receitas tributárias, de contribuições, patrimoniais, industriais, agropecuárias, de serviços, transferências correntes e outras receitas também correntes. É parâmetro para diversos critérios de controle orçamentário (ex: precatórios, endividamento público, reserva de contingência Previsão legal: art. 2º, IV, LRF obs: as alíneas deste artigo preveem uma série de importâncias que deverão ser deduzidos do cálculo da RCL Obs 2: apesar da RCL ser a base para inúmeros critérios de controle orçamentário, segundo o art. 29-A, da CF, não será usada como base do valor a ser transferido pelo Município à Câmara dos Vereadores (duodécimo). Neste caso, a base será composta pela receita tributária e pelas transferências constitucionais Obs 3: No caso do piso mínimo a ser transferido relativamente à educação, o critério utilizado será proveniente de impostos, incluindo as oriundas de transferências constitucionais (art. 212) OBS 4: No caso do piso mínimo a ser transferido relativamente à saúde: União- base é a RCL; Estados e DF: produto de arrecadação dos impostos; municípios: impostos próprios e transferências Eficiência arrecadatória Previsão legal: Art. 11, LRF Conceito: consiste na obrigação legal de que os municípios (e demais entes federativos) efetivamente instituam, prevejam e arrecadem todos os tributos de sua competência Obs: o STF entende que o art. 11 consagra a efetivação da subsidiariedade das transferências (a principal fonte de recursos deve ser a arrecadação feita pelo próprio ente federativo) Obs2: a não arrecadação gera sanção institucional (vedação às transferências voluntárias) e sanção pessoal (o gestor poderá ser alvo de ação de improbidade administrativa) Renúncia de receita A renúncia de receita se equipara à um gasto tributário, visto que a receita que deixou de ser arrecadada irá impactar diretamente em alguma despesa prevista no orçamento, que não mais terá recursos para ser paga Previsão Legal: art. 14, LRF Fiscalização: CN, poder legislativo, Tribunais de Contas e sistemas de controle interno de cada Poder Repartição de receitas tributárias Contexto: No Brasil, há divergências de sincronia entre o sistema de repartição de competências, o sistema de obtenção de receitas e o sistema de atribuições de cada ente, levando a um Federalismo Assimétrico (não há simetria entre receitas e despesas obrigatórias). Deste modo, apesar de em tese haver no Brasil um Federalismo Cooperativo (partindo da ideia de cooperação entre os entes), cresceu no país um estado de Federalismo de Guerra (marcado por guerras fiscais) Guerra Fiscal: estados promovem renúncias de receita para atrair empresas e investidores, a fim de aumentar a arrecadação de receita, gerando uma competição de quem concede mais benefícios e atrai mais empresas Tipos de repartição de receita ● Transferência obrigatória - constitucional ● Transferências voluntárias - previstas na LRF ● Transferências diretas - fundo a fundo Transferências constitucionais ● direta: determinada por critérios constitucionais objetivos ○ IRRF: 100% (art. 157, I e 157, I, CF) ○ Imposto criado na competência residual da União: 20% deve ser repassado aos estados e ao DF ○ ITR - extrafiscal. 50% vai para os municípios, mas se o município fizer convênio com a União, passará a fiscalizar e a receita total do imposto será sua (art. 158, II, CF) ○ IPVA: 50% (158, III, CF) ○ ICMS: 25%. Dois critérios: 65% valor adicionado (repartição direta); 35% outros critérios (repartição indireta) ○ IOF: se for ativo financeiro ou instrumento cambial (art. 153, §5º, CF) ● indireta: visa a correção de injustiças e/ou desigualdades regionais, através da distribuição equânime das receitas, pode ser vinculada a diversos fatores, como o idh, o número de escolas no município, etc ○ FPM e FPE, Fundos de financiamento do desenvolvimento do norte, nordeste e centro-oeste OBS: A CIDE-COMBUSTÍVEIS é a única espécie de contribuição sujeita à repartição de receitas ● divisão: União transfere 29% aos Estados e desse montante os Estados repassam 25% aos Municípios OBS2: STF RE 705423 - “É constitucional a concessão regular de incentivos, benefícios e isenções fiscais relativos ao Imposto de Renda e Imposto sobre Produtos Industrializados por parte da União em relação ao Fundo de Participação de Municípios e respectivas quotas devidas às Municipalidades” Fundos Públicos Conceito: Fundo é uma individualização de recursos (não possui personalidade jurídica) para um fim específico. A própria Lei instituidora do Fundo (e não o orçamento do ente instituidor) é que irá regulamentar como se dará a distribuição dos recursos por ele recebidos. OBS: embora não tenha personalidade jurídica, os fundos possuem personalidade judiciária (podem ser acionados judicialmente) Previsão legal: art. 71, Lei nº 4.320/64 OBS: os Fundos constituem exceções aos princípios da unidade de caixa e da especificação Características ● receitas especificadas que devem ser utilizadas para a consecução dos fins para os quais o fundo foi criado (o fundo não pode ser criado para objetivos que podem ser atingidos pelo próprio orçamento) - ver: art. 167, XIV, CF OBS: a EC 109/2021 autorizou a utilização do superávit financeiro, oriundo das fontes de recursos dos fundos, constatado ao final do exercício, para a amortização da dívida pública do ente instituidor (exceto no caso de fundos de fomento e do art. 167, IV, da CF) ● Vinculação à realização de determinados objetivos ou serviços ● normas peculiares de aplicação ● Vinculação adeterminado órgão da Administração (não existe fundo autônomo) ● plano de aplicação, contabilidade própria e prestação de contas Obs: o STF já declarou inconstitucional norma que conferiu personalidade jurídica aos fundos Duodécimos Previsão legal: art. 168, CF Conceito: forma de repasse de receita da União para os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, Ministério Público e Defensoria Pública, consistindo em medida concretizadora da autonomia entre os Poderes. A quantidade repassada para cada Poder será definida na LDO. OBS: o repasse dos duodécimos é vinculante para o Poder Executivo, de forma que se o repasse for excessivo, menor que o previsto na LDO ou inexistente, caberá sanção por improbidade administrativa OBS2: o STF já decidiu que não cabe ao chefe do poder executivo efetuar revisão dos valores repassados aos demais poderes, ao MP e à DP, a título de duodécimos 4. DESPESAS PÚBLICAS Conceito: todo dispêndio efetuado com objetivo de atender as necessidades públicas Classificação: ● Quanto à origem de recursos: ○ orçamentária ○ extraorçamentária (ex: empréstimo consignado, caução, antecipação de receita orçamentária -ARO) ● Quanto à competência ○ União ○ Estado ○ DF ○ Município ● Quanto à regularidade ○ ordinária ○ extraordinária (pode ser realizada por MP, através da abertura de créditos extraordinários) Classificação legal: ● Despesas correntes: voltadas para a manutenção da máquina pública. Art. 12, lei 4.30/64 ○ despesas de custeio: há contraprestação direta do Estado. Ex: manutenção de serviços, obras de conservação de bens imóveis etc ○ transferências correntes: despesas sem contraprestação direta do Estado (ex contribuições e subvenções) ● Despesas de capital: despesas com investimentos. Art. 12, Lei 4.320/64 - investimentos, inversões financeiras, transferências de capital Classificação da LRF: ● despesas primárias ● despesas nominais ● anexo de metas fiscais ● resultado ○ primário: Resultado da diferença entre receita primária e despesa primária: positivo - superávit primário; negativo - déficit primário ○ resultado nominal: Resultado total - diferença entre receita primária e despesa primária, bem como entre receita nominal e despesa nominal OBS: o que diferencia a receita/despesa primária da receita/despesa nominal é a contagem ou não de juros, encargos financeiros e despesas financeiras OBS2: Receita primária é toda a receita que o Estado obtém (ex: receita tributária), excetuada a receita decorrente de juros e demais fontes financeiras (a mesma lógica se aplica à despesa primária Fases das Despesas Públicas 1ª) Empenho (art. 58, Lei 4.320/64): ato que cria para o Estado a obrigação de pagamento, dependendo ou não de implementação de condição (ou seja, há o bloqueio de determinada dotação orçamentária, vinculando tal valor ao objeto de determinado contrato). Regra: Não pode haver despesa sem prévio empenho (obs: a Lei 4.320/64 prevê que a lei pode estabelecer casos especiais nos quais poderá ser dispensada a emissão de nota de empenho) ● Classificação do empenho ○ ordinário ○ por estimativa ○ global OBS: nota de empenho é título executivo judicial 2ª) Liquidação (art. 63, Lei 4.320/64): verificação do direito adquirido por parte do credor (ou seja, fase de fiscalização, no qual é verificado se de fato o objeto contratado foi integralmente cumprido, para que se possa prosseguir ao pagamento) 3ª) Pagamento (art. 64, Lei 4.320/64): só pode ser realizado após a regular liquidação (art. 62, Lei 4.320/64) IMPORTANTE: o art. 92 da nova Lei de Licitações tipifica como crime a inobservância da ordem cronológica de pagamentos Regime contábil da despesa Regime de competência: Art. 35, II, Lei 4.320/64: as despesas pertencem ao exercício financeiro no qual foram empenhadas Restos a pagar Conceito: dotação extraorçamentária, proveniente de valores empenhados e não pagos até 31/12 de cada ano, distinguindo-se processados (liquidados) de não processados (não liquidados) Restos a pagar em final de mandato (art. 42, LRF): vedação, nos últimos dois quadrimestres do mandato, à contração de despesas que não possam ser cumpridas integralmente dentro dele ou que tenham parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja disponibilidade de caixa Despesas de exercícios anteriores - DEA Conceito: dotação ou despesa orçamentária que por algum motivo não pôde ser paga no exercício anterior Precatórios Conceito: ato judicial, de cunho mandamental, decorrente de decisão judicial transitada em julgado em face da Fazenda pública. Devem ser inclusos nos orçamentos dos entes públicos os precatórios apresentados até 02 de abril de cada ano, devendo ser feito o pagamento até o final do exercício seguinte (art. 100. §5º, CF). Deve ser feito seguindo ordem cronológica Alcance do Regime: Administração direta, Autarquias, Fundações Públicas. OBS: poderá alcançar empresas públicas e sociedade de economia mista, desde que atendidos certos requisitos: ● ser dependente (controlada pelo Estado); ● não pratica atividade econômica em regime de livre concorrência; ● eventual auferimento de lucro deve ter o Estado como perspectiva e não o particular. Alcança o regime de precatórios OBS2: Conselhos de fiscalização profissional não estão submetidos ao regime de precatórios OBS3: Caixas escolares estão submetidos ao regime de precatórios Procedimento: o tribunal exerce função administrativa na organização e pagamento dos precatórios. Não cabe judicialização de matéria relacionada a precatórios, porém cabe impetração de mandado de segurança OBS: Art. 100, §8º, CF - é proibida a expedição de precatório complementar ou suplementar (ou seja, não é possível parcelar o valor de forma a receber uma parte em RPV e outra em precatórios) Tema 28/STF: “Surge constitucional expedição de precatório ou requisição de pequeno valor para pagamento da parte incontroversa e autônoma do pronunciamento judicial, transitado em julgado, observada a importância total executada para efeitos de dimensionamento como obrigação de pequeno valor”. OBS2: EC 113/21 modificou o §9º do art. 100, da CF, de forma que a compensação dos precatórios deverá ser definida pelo juízo responsável pela ação de cobrança OBS3: é possível a compensação de tributos devidos pelo credor com os precatórios que este tiver a receber do ente que o inscreveu na dívida ativa. O precatório poderá ser próprio ou de terceiro. A compensação poderá ser feita ainda que o precatório esteja fora da ordem cronológica. A dívida deverá ter sido inscrita até março de 2015 e o Estado ou município deverá ter criado lei regulamentando a matéria em até 120 da promulgação da EC 99, caso contrário, fica facultado ao credor exercer de pronto a compensação Ordem/Classificação: 1. alimentares especiais (art. 220, §6º, CF): pessoas idosas e pcd 2. Alimentares comuns (art. 100, §1º, CF): são pagos com preferência sobre os demais, exceto uma categoria específica 3. comuns/ordinários/gerais OBS: a SV 47/STF determina que honorários advocatícios possuem natureza alimentar, possuindo preferência (alimentar comum) Atualização monetária dos precatórios: Súmula Vinculante nº 17 “Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos.” O período no qual não incidem os juros de mora é chamado de graça constitucional. (o parágrafo citado hoje corresponde ao §5º do art. 100 e o prazo de apresentação dos precatórios foi alterado para 02/04 de cada ano) OBS: Para o STF, apenas após o período de graça será caracterizado o inadimplemento do Fisco. RE 1169286/SC, em 16 de junho de 2020 Tese de repercussão geral: "O enunciado da Súmula Vinculante 17 não foi afetado pela superveniência da Emenda Constitucional 62/2009, de modo que não incidem juros de mora no período de que trata o § 5º do art. 100 da Constituição. Havendo o inadimplemento pelo ente público devedor, a fluência dos juros inicia-se após o 'período de graça'". Cessão de precatórios: “art. 100, §13,CF - O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em precatórios a terceiros, independentemente da concordância (não precisa de concordância mas deve ser comunicada) do devedor, não se aplicando ao cessionário o disposto nos §§ 2º e 3º”. O precatório não muda sua natureza pela cessão OBS: RE 631537, em 22 de maio de 2020, “a cessão de crédito alimentício para terceiro não implica alteração na natureza do precatório” Requisição de Pequeno Valor - RPV Conceito: valores menores que não são pagos pelo regime de precatório. Piso mínimo: valor do teto de benefícios do RGPS Valores (art. 87, ADCT) ● Estados e DF: 40 salários mínimos ● Municípios: 30 salários mínimos ● União: 60 salários mínimos Ações plúrimas: o teto deve ser analisado de acordo com o valor pleiteado individualmente (ou seja, ainda que o valor da causa ultrapasse o limite máximo -ex: 60 sm em causa contra a União - se o valor individual for menor ou igual ao valor do teto de benefício do RGPS, será pago em RPV) Novo Regime Fiscal - Teto de gastos Período: 20 exercícios financeiros, nos quais as despesas da união serão calculadas não mais de acordo com a necessidade real e sim com a inflação (art. 106, ADCT) Alcance do regime: despesas primárias (art. 107, da CF) Exceções ao regime (art. 107, §6º, ADCT) Vedações: Cada órgão e cada Poder deverá observar os próprios limites individuais. Caso as despesas primárias atinjam 95% do valor destinado às despesas totais, serão impostas as restrições constantes nos incisos do art. 109 do ADCT Despesas públicas na LRF Da execução orçamentária: Atos seguintes à LOA no início do exercício financeiro: A) Imediatamente: elaboração de quadro de quotas trimestrais da despesa que cada unidade orçamentária fica autorizada a usar (art. 47, Lei 4.320/64) B) Em até 30 dias: estabelecimento da programação financeira e o cronograma de execução mensal de reembolso. OBS: recursos vinculados só podem ser utilizados para a atividade à qual foram designados, caso sobrem, serão designados para a mesma atividade, no exercício subsequente Limitação de empenho - Contingenciamento: consiste em um dever imposto de limitação de empenho e movimentação financeira, nos 30 dias subsequentes ao final do bimestre avaliado, caso verificado que a receita arrecadada não foi o suficiente para o cumprimento das metas fiscais (art. 9º, caput, LRF) Exceções à limitação de empenho: Obrigações constitucionais, legais, serviço da dívida, inovação e desenvolvimento científico e tecnológico custeada por fundo criado para esse fim e as ressalvas feitas pela LDO (arrt. 9, §2º, LRF) OBS: contingenciamento ilegal- quando há discricionariedade e o Executivo veda um gasto baseado na tese de que o orçamento é autorizativo Geração de despesa Previsão legal: LRF arts. 15 a 17 Criação, Expansão ou Aperfeiçoamento de despesa - CEA: para qualquer destes atos é obrigatório observar o disposto no art. 16 da LRF. Requisitos: 1. estimativa trienal 2. declaração do ordenador de despesa sobre sua compatibilidade com o PPA, a LDO e a LOA Despesa Obrigatória de Caráter Continuado - DOC: consiste na despesa corrente, prevista em lei, medida provisória ou ato administrativo, que fixem para o ente obrigação legal de sua execução por um período superior a dois exercícios (art. 17, caput, LRF - tal artigo é de observância obrigatória). Requisitos: 1. estimativa trienal 2. demonstração da origem dos recursos 3. comprovação de que não afetará as metas e resultados fiscais previstos na LDO 4. deve haver compensação, seja pelo aumento permanente da receita, seja pela diminuição permanente da despesa OBS: tais requisitos devem ser implementados previamente à implementação da DOC Despesa com pessoal Conceito (art. 18, caput, LRF): conceito amplo que inclui, inclusive, encargos como FGTS, INSS, SAT, etc. Não estão incluídas no conceito de despesas com pessoal as verbas indenizatórias Limites de gastos com pessoal: art. 19, LRF Limite alerta: ocorre quando os gastos com pessoal e os montantes das dívidas consolidada mobiliária atingem, respectivamente, 90% do limite (art. 59, §1º, LRF) Limite prudencial: ocorre quando a despesa com pessoal supera 95% do limite a cada quadrimestre analisado (art. 22, parágrafo único, LRF) Prazo para adequação: o excedente deve ser eliminado nos dois quadrimestres seguintes, sendo pelo menos ⅓ eliminados até o primeiro quadrimestre Medidas de redução de despesas com pessoal: 1. previstas na CF, art. 169, §3º: redução em no mínimo 20% dos cargos em comissão e função de confiança; exoneração de servidores não estáveis, exoneração de servidores estáveis 2. Previstas na LRF, art. 23: o STF decidiu pela inconstitucionalidade dos parágrafos de tal artigo, entendendo que somente o art. 169, §3º, da CF contém hipóteses válidas de redução - ADI 2238-5 OBS: Em 2019 o STF se posicionou do seguinte modo no RE 905.357/RR: O Tribunal, por maioria, apreciando o tema 864 da repercussão geral, homologou o pedido de extinção do processo com resolução de mérito (art. 487, III, c, do CPC/2015), nos termos do voto do Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio, que conhecia do recurso e negava-lhe provimento. Por maioria, foi fixada a seguinte tese: "A revisão geral anual da remuneração dos servidores públicos depende, cumulativamente, de dotação na Lei Orçamentária Anual e de previsão na Lei de Diretrizes Orçamentárias", vencidos os Ministros Edson Fachin, Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski e Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 22.11.2019 a 28.11.2019 Sanções ao descumprimento do limite de gastos com pessoal: art. 109, ADCT Subvenções Conceito: consiste no fornecimento de ajuda, subsídio, pelo poder público, para instituições, pessoas físicas ou pessoas jurídicas Requisitos: 1. Lei específica 2. Previsão na LDO 3. Previsão Orçamentária Cooperação entre os entes federativos: Requisitos: 1. Previsão na LDO e na LOA 2. Formalização (pode ser por convênio, termo, ajuste, acordo, etc.) Transferências Divisão: 1. Constitucionais/obrigatórias: dividem-se em diretas e indiretas 2. Voluntárias 3. Automáticas: “fundo a fundo” Transferências voluntárias: entrega de recursos correntes ou de capital a outro ente da Federação, a título de cooperação, auxílio ou assistência financeira, que não decorra de determinação constitucional, legal ou os destinados ao Sistema Único de Saúde. (art. 25, Caput, LRF). Requisitos (§1º): 1. existência de dotação específica 2. observância do inciso X do art. 167, da CF (vedação de utilização para gastos com pessoal) 3. comprovação, por parte do beneficiário, de: a. que se acha em dia quanto ao pagamento de tributos, empréstimos e financiamentos devidos ao ente transferidor, bem como quanto à prestação de contas de recursos anteriormente dele recebidos; b. cumprimento dos limites constitucionais relativos à educação e à saúde; c. observância dos limites das dívidas consolidada e mobiliária, de operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, de inscrição em Restos a Pagar e de despesa total com pessoal; d. previsão orçamentária de contrapartida. OBS: o art. 104, parágrafo único, da CF, estabelece um último requisito, qual seja o de estar em dia com a folha de pagamento dos precatórios Exceções: art. 25, §3º, LRF - saúde, educação e assistência social. OBS: Emendas parlamentares impositivas (individuais e de bancada) são repassadas ainda que os entes estejam inadimplentes Decisões importantes: Súmula n.º 46 AGU: “Será liberada da restrição decorrente da inscrição do município no SIAFI ou CADIN a prefeitura administrada pelo prefeito que sucedeu o administrador faltoso, quando tomadas todas as providências objetivando o ressarcimento ao erário.” Súmula n.º 230 do TCU – Compete ao prefeito sucessor apresentar as contas referentes aos recursos federais recebidos por seu antecessor, quando este não o tiver feito ou, na impossibilidade de fazê-lo, adotar as medidas legais visando ao resguardo do patrimônio público com a instauração da competenteTomada de Contas Especial, sob pena de co-responsabilidade. Tema 473/STF - "É possível ao Município obter certidão positiva de débitos com efeito de negativa quando a Câmara Municipal do mesmo ente possui débitos com a Fazenda Nacional, tendo em conta o princípio da intranscendência subjetiva das sanções financeiras” Despesas em tempo de crise. Calamidade Pública 1. Toda ação estatal em tempos de crise deve ser cuidadosamente analisada, tendo em vista que afetará gerações atuais e futuras 2. Até pouco tempo atrás, inexistiam previsões constitucionais acerca das relações jurídicas em tempos de crise. Havia apenas a previsão de instituição de empréstimo compulsório (art. 148, I, CF). A EC 109/2021 veio para preencher as lacunas existentes em relação às calamidades públicas, tem como foco as despesas com pessoal e as renúncias fiscais. 3. No âmbito da EC 109/21, as normas direcionadas à União são obrigatórias, enquanto as normas direcionadas aos demais Entes são facultativas 5. CRÉDITO PÚBLICO Aspectos constitucionais do crédito 1. Regra de ouro (art. 167, III, CF): o endividamento não pode ser maior que os investimentos 2. O endividamento, antes excepcional, hoje faz parte da própria receita dos Entes, tornou-se algo corriqueiro 3. Limitação quanto ao destino, vedação à utilização em gastos com pessoal Conceito: Ocorre quando instituições financeiras, nacionais e internacionais, emprestam valor ao Estado, para que o utilize em suas atividades constitucionais. Vem do Latim “credere”, tem seu conceito definido no art. 29, III, da LRF (conceito amplo, refere-se ao endividamento lato sensu). Natureza jurídica: há algumas correntes que tentam definir a natureza jurídica do crédito público 1. Ato de soberania 2. Ato do legislativo 3. Contrato de mútuo - regido com as mesmas regras que: a. particulares b. âmbito público - direito administrativo Classificação do crédito público 1. Coercitividade a. Coercitivo ou obrigatório: ex - empréstimo compulsório, art. 148, I, CF; depósito compulsório (relação entre o Banco Central e os demais bancos, no qual se obriga que os bancos depositem no BaCen percentual da quantia movimentada diariamente, retendo o dinheiro para que os bancos não fiquem com muita disponibilidade de moeda emprestando dinheiro de forma indiscriminada, gerando propensão à inflação) b. Voluntário: títulos do tesouro nacional (Títulos da Dívida Pública - TDP) 2. Quanto à temporalidade a. perpétuos b. temporários (a depender do tempo de resgate, farão parte da dívida consolidada ou fundada do estado) OBS: Dívida fundada/consolidada - compreende os compromissos (todos, não somente os TDP) de exigibilidade superior a 12 meses, contraídos para atender desequilíbrio orçamentário ou financeiro de obras públicas (art. 98, Lei 4.320/64 e art. 29, I, LC 101/00) OBS2: O não pagamento de dívida fundada por mais de 02 anos consecutivos é hipótese de intervenção da União nos estados e DF e dos Estados em seus municípios (arts. 34 e 35, CF) OBS 3: Dívida Flutuante - compreende os compromissos contraídos para serem pagos dentro de um período de 12 meses (art. 92, Lei 4.320/64) 3. Origem do recurso a. interna b. externa Crédito Público na CF e na LRF Atribuição do CN: regular o montante da dívida mobiliária federal (art. 48, XIV, CF) Atribuição do Senado Federal: art. 52, incisos V a IX, CF. Ver: Resolução 40/2001, 40/2003 6. CONTROLE DA ATIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO Critérios ● Legalidade - no Estado de Direito o Estado se subordina ao Ordenamento Jurídico, de forma que nada poderá ser feito sem a devida autorização legal ● Legitimidade - princípio voltado aos órgãos da administração. Gasto legítimo é aquele que atende aos anseios sociais ● Economicidade - o poder público deve possuir uma metodologia de gastos para determinar se estes estão sendo dispensados de forma a melhor atender às necessidades públicas. A escolha dos gastos públicos deve ser técnica, analisando as circunstâncias fáticas que influenciam em sua gestão ● Aplicação de Subvenções - deve-se analisar se há moralidade e eficiência na aplicação das subvenções ● Renúncia de receitas (art. 14, LRF) - Os órgãos da Administração Pública devem fiscalizar e controlar as renúncias de receitas promovidas pelos entes federativos “Art. 70, da CF - A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.” Áreas de controle - COFOP (Contábil, operacional, financeiro, orçamentário e patrimonial) 1. Contábil: a contabilidade é responsável pelos lançamentos ocorridos e suas classificações 2. Operacional: estabelecimento dos caminhos e metodologias que serão aplicados no ciclo orçamentário 3. Financeiro: controle da disponibilidade de caixa 4. Orçamentário: previsões e fixações de despesas e receitas, controle da lei orçamentária 5. Patrimonial: controle do patrimônio do Estado Espécies de controle: Quanto ao momento: ● concomitante ● posterior (mais comum) Quanto ao órgão ou estrutura de controle ● Controle interno (art. 74, CF): feito internamente por cada poder ● controle externo: poder legislativo (controle político) mediante auxílio dos tribunais de conta (controle técnico) ● controle privado: art. 74, §2º, CF: “Qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da União.” Objetos do controle: entidades da administração direta e indireta, além de qualquer pessoa física ou jurídica que recebe dinheiro público. OBS: OAB é entidade suis generis, não submetida ao controle exercido pelo Tribunal de Contas Tribunal de contas Conceito: órgão colegiado e auxiliar dos poderes, cuja finalidade é o controle da atividade financeira do estado Natureza Jurídica - órgão administrativo sem poder judicante, suas decisões têm natureza administrativa. É órgão técnico que não possui personalidade jurídica, mas postulatória (processual), sem qualquer submissão a outro poder ou órgão Relação dos tribunais de contas: Há o TCU e os TCEs, os Estados também podem criar Tribunais de Contas dos Municípios (não é possível a criação de tribunais de contas no âmbito municipal, após a CF/88, apenas os municípios de SP e RJ possuem Tribunais de Contas Municipais). Segundo disposição constitucional, aplicam-se por simetria as regras atinentes ao TCU para os tribunais de contas estaduais e dos municípios. Não há hierarquia entre os TCs, porém há relação entre eles em relação à origem do recurso fiscalizado: ● Regra: origem do recurso ● Exceção: pode haver incorporação de recursos federais em orçamento estadual ou municipal, de forma que, neste caso, a fiscalização não caberá ao órgão federal OBS: Súmulas 208 e 209/STF: Quando o dinheiro é transferido e incorporado ao patrimônio municipal, sua fiscalização caberá ao TCE ou TCM. No entanto, se o recurso tiver sua prestação de contas no âmbito federal, a competência será do TCU OBS2: Deve haver separação entre as esferas cível e criminal. A Ação Penal é de interesse da União, ainda que a Verba seja estadual ou municipal, ou transferida e incorporada ao patrimônio, desde que se trate de uma política pública nacional que a União criou e tem interesse, como gastos com saúde e educação, por haver uma política nacional. No âmbito cível, em se tratando de improbidade administrativa, a separação da origem e da separação de contas é critério essencial para determinar a competência Controle de constitucionalidade pelos TCs: Súmula 347, STF - O Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode efetuar o controle de constitucionalidade das leis e dos atos do poder público (há uma tendência de desuso desta súmula, visto que vem se consolidando o entendimento de que cabe apenasao judiciário o controle de constitucionalidade dos atos normativos) Eficácia das decisões do TC: força de título executivo OBS: Legitimidade para executar - ente lesado Devido processo legal: Sigilo bancário: Via de regra, o sigilo bancário só pode ser violado por força de decisão judicial, contudo, há precedentes do STF no sentido de reconhecer a legitimidade da quebra de sigilo pelo Tribunal de Contas nos casos envolvendo recursos públicos e sua trajetória Organização e composição do Tribunal de Contas: art. 73, CF - ● TCU: 9 ministros, possuem mesmas garantias e vantagens dos ministros do STJ - ○ 6 livre nomeação pelo CN ○ 3 nomeados pelo executivo (1 auditor de carreira, 1 representante do MP junto ao TCU e 1 de livre nomeação) ● TCE/ TCM: 7 conselheiros, possuem as mesmas vantagens e prerrogativas dos desembargadores do TJ ○ 3 nomeados pelo Executivo ○ 4 nomeados pelo legislativo Competências dos Tribunais de Contas 1. Emissão de parecer prévio (não vinculante) em relação às contas do chefe do Poder Executivo. As contas são julgadas pelo CN, a Comissão Mista de Orçamento emite parecer sobre as contas e o executivo deve encaminhá-las dentro de 60 dias da abertura da sessão legislativa OBS: Há diferenças entre os âmbitos municipal, estadual e federal. No âmbito municipal o parecer deixa de prevalecer pela votação de ⅔ dos membros do legislativo, nos demais (União e Estados), basta a maioria simples OBS2: RE 729744 - O STF decidiu que o parecer não será vinculativo, independentemente do tempo que haja transcorrido: “Parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa, competindo exclusivamente à Câmara de Vereadores o julgamento das contas anuais do chefe do Poder Executivo local, sendo incabível o julgamento ficto das contas por decurso de prazo”. OBS3: o Judiciário não pode interferir no julgamento de mérito feito pelo legislativo, porém pode analisar a legalidade do procedimento realizado 2. Julgar, administrativamente, as contas dos administradores e responsáveis por recursos públicos (art. 71, II, CF). Julga as contas de qualquer pessoa que seja responsável por verba pública, exceto as contas anuais do chefe do executivo OBS: Contas de governo x contas de gestão: as primeiras correspondem às políticas públicas e contas maiores, enquanto as segundas referem-se a despesas corriqueiras OBS2: RE 848826/DF - O STF pôs fim à distinção entre contas de governo e contas de gestão, sendo ambas de competência do legislativo (Câmaras Municipais): “Para os fins do art. 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990, alterado pela Lei Complementar 135, de 4 de junho de 2010, a apreciação das contas de prefeitos, tanto as de governo quanto as de gestão, será exercida pelas Câmaras Municipais, com o auxílio dos Tribunais de Contas competentes, cujo parecer prévio somente deixará de prevalecer por decisão de 2/3 dos vereadores” 3. Controle de atos de pessoal: Art. 71, III, CF: III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório; OBS: SV nº3 OBS2: RE 636553 - Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de cinco anos para o julgamento da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma ou pensão, a contar da chegada do processo à respectiva Corte de Contas 4. Fiscalização em sentido estrito (COFOP) OBS: Usina de Itaipu - No caso específico da Itaipu Binacional, o plenário do STF decidiu na ACO 1.905, Sessão Virtual de 28.8.2020 a 4.9.2020, que “Eventual fiscalização pelo Tribunal de Contas da União dar-se-á nos termos acordados em instrumento firmado entre a República Federativa do Brasil e a República do Paraguai.” 5. Aplicar sanções e medidas cautelares: as decisões dos Tribunais de Contas que apliquem sanções ou medidas cautelares não precisam ser inscritas em dívida ativa pois possuem natureza de título executivo OBS: no caso de dano ao erário, a obrigação de ressarcimento é transmissível aos herdeiros, no limite da herança, sendo imprescritível quando decorrente de Improbidade Administrativa. RE 852475 - São imprescritíveis as ações de ressarcimento ao erário fundadas na prática de ato doloso tipificado na Lei de Improbidade Administrativa OBS2: Sobre a possibilidade de desconsideração da personalidade jurídica pelo TCU, o STF ainda não firmou posição majoritária. No julgamento do Mandado de Segurança 35.506-DF, o Relator, ministro Marco Aurélio, entendeu que não cabe ao TCU o implemento de medida cautelar tão gravosa contra particulares contratantes com a Administração Pública 6. Medidas corretivas: A sustação de ato é de competência do TC, enquanto a sustação de contrato é de competência do CN 7. Dever de representação: ao tomar conhecimento de alguma irregularidade cabe ao TC representar junto ao órgão ou poder responsável para a adoção da medida cabível 8. Auxiliar a CMP (art. 72, CF) 9. Auxiliar os Fundos (art. 161, parágrafo único, CF) OBs: ADI 825 - É inconstitucional a atribuição, aos Tribunais de Contas estaduais, de competência para homologação dos cálculos das cotas do ICMS devidas aos Municípios, por violação ao princípio da separação dos Poderes (art. 2º da CF), afastada a alegação de simetria com o modelo federal (arts. 75 e 161, parágrafo único, da CF).
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