Buscar

Fenomenologia - Spinelli


Continue navegando


Prévia do material em texto

Uma Introdução à Teoria Fenomenológica
Ernesto Spinelli, O Mundo Interpretado (tradução livre de Aline Campos)
O pensamento lógico puro não pode nos levar a nenhum conhecimento do mundo empírico; todo conhecimento da realidade começa coma a experiência e termina com ela. 
A Einstein, P. Podolsky, N. Rosen
Como seres humanos, nós tentamos dar sentido às nossas experiências. Através dos nossos atos mentais, nós tentamos impor significado ao mundo. Na nossa conscientização e aceitação desta imensa capacidade, nós somos levados a uma questão subjacente que indica a mais básica de todas as questões filosóficas : O que é real ? A princípio, a resposta para tal questão parece ser absurdamente simples de responder, e um indicativo da obscuridade pedante das questões filosóficas.
Uma resposta típica para tal questão pode ser dada de tal maneira : eu olho em volta do meu quarto e vejo livros, a carteira, a cadeira e uma caneta. Todas estas coisas são reais para mim e eu acredito que elas são independentes da minha consciência. Se eu tivesse de morrer neste instante, eu assumo que estas coisas continuariam a existir já que eu as vejo como tendo uma existência separada da minha. As propriedades físicas e a existência independente me levam a declarar que estas coisas são reais.
Esta teoria da realidade, que a maioria das pessoas no Ocidente acham tão óbvia que a consideram um fato, nos levou a acreditar na existência de uma realidade objetiva. A noção de uma realidade objetiva adota a visão de que há objetos reais no mundo que existem independentemente de nosso conhecimento consciente deles. Alem disso , se argumenta que temos acesso a eles através dos nossos sentidos. Eles existem como estruturas separadas. O que nós percebemos como estando “lá fora”, está realmente lá; é objetivo e real.
Como muita da filosofia moderna, o sistema conhecido como fenomenologia questiona este ponto de vista e tenta clarificá-lo. Ele nos pede primeiro para considerar as coisas que assumimos e as distorções que nos levaram à nossa conclusão para então termos mais certeza se é válida. 
De modo simples, a conclusão de vários estudos acerca da questão acima argumenta que a realidade verdadeira é, e sempre será , desconhecida e “desconhecível” para nós. Em vez disso, diz que isso que nós chamamos de realidade, isto é , aquilo é experienciado por nós como sendo realidade, está totalmente ligado aos nossos processos mentais em geral, e à nossa capacidade inata e construída internamente de desenvolver significado. Este ponto de vista é o início do questionamento fenomenológico.
As origens da Fenomenologia
O termo “fenomenologia” é derivado da palavra grega phainomenon. Phainomenon literalmente significa “aparência”, isto é, aquilo que se mostra. Os filósofos geralmente definem “fenômeno” como “a aparência das coisas, em contraste com as coisas mesmas como elas são realmente”. O mundo, como nós o experienciamos, é o mundo fenomenal.
Emanuel Kant, o mais influente dos filósofos ocidentais pós-clássicos, argumentou que nossa mente não pode nunca conhecer a coisa em si (o “noumenon”, para usar a terminologia de Kant), mas pode apenas conhecê-la como ela aparece para nós – o fenômeno. Assim, a verdadeira natureza da realidade, para Kant, não era somente nada óbvia, como estava além da nossa capacidade de compreender e experienciar diretamente.
O termo “fenomenologia” foi criado no meio do século XVIII, e vários filósofos renomados como Kant, Hegel e Marx o usaram em seus escritos; porém, a escola de filosofia conhecida por nós como fenomenologia só foi originada no início do século XX.
Quando Edmund Husserl (1859-1938), seu fundador, adotou o termo, ele concedeu a este um novo significado e importância. Husserl queria nada mais do que desenvolver uma ciência do fenômeno que clarificasse como é que os objetos são experienciados e se apresentam para a nossa consciência. O que Husserl queria era “reformar a filosofia e ... estabelecer uma filosofia rigorosamente científica, que pudesse servir de base para todas as outras ciências” (Misiak e Sexton, 1973).
Para conquistar este objetivo, Husserl desenvolveu um método de investigação conhecido como método fenomenológico. Husserl não foi o inventor deste método, nem o primeiro filósofo a usá-lo, mas ele especificou suas condições de uso, e fez do método um procedimento filosófico fundamental que se tornou a peça mais importante de seu trabalho.
Este método foca nos dados (fenômeno) da consciência para clarificar seu papel no processo de construção de significado, e, também, para colocá-los de lado – entre parêntesis – com o objetivo de chegarmos a um conhecimento mais adequado (ainda que necessariamente incompleto) da realidade.
Fenomenologia Transcendental e Existencial
Os estudos de Husserl formam a base do que é chamado de fenomenologia transcendental. Há uma outra escola de fenomenologia, desenvolvida por Martin Heidegger (1889-1976), discípulo de Husserl, que se chama fenomenologia existencial, mais conhecida como existencialismo.
A escola transcendental, de Husserl, nos traz argumentos importantes acerca da questão da realidade.
Visão de Realidade
Os objetos que nós percebemos (incluindo as pessoas com quem interagimos, e nós mesmos) existem, da maneira que eles existem, através do significado que cada um de nós dá a eles.
Por exemplo, o texto que você lê agora parece ser real para você, é visto por você como separado, e habitando um espaço diferente do qual você habita; ele é uma entidade concreta. No seu sistema de significado é um “texto”. Mas o que é ele de verdade ? Se por alguma razão seu vocabulário, seu sistema de significado, fosse deprivado do termo “texto”, o que você teria em suas mãos ? O que você estaria percebendo ? Certamente seria “algo”, mas a definição deste “algo” teria tanto a ver com você, e com o sistema de doação de significado que você usa, quanto teria a ver com a coisa em si, a coisa mesma.
Os fenomenólogos argumentam que este processo interpretativo deve ser reconhecido nas nossas afirmações sobre a realidade. De fato, eles argumentam que na nossa experiência diária da realidade, este processo é indivisível da realidade que é percebida. A realidade, da forma como cada um de nós a experimenta, é este processo.
O que faz com que as nossas interpretações da realidade se tornem mais ou menos corretas depende de um número de fatores. Por exemplo elas podem ser incorretas simplesmente porque uma cultura oferece um significado diferente daquele imposto por outra cultura para o objeto percebido. 
Por exemplo, se um representante da sociedade da Idade da Pedra encontrasse um objeto que na nossa cultura foi rotulado como sendo um “livro”, dificilmente ele o rotularia da mesma forma. Ele certamente perceberia “alguma coisa”, mas sua interpretação poderia ser de que este objeto fosse uma arma, ou algum tipo diferente de pedra.
Qual interpretação seria correta ? Que realidade é verdadeiramente real ? Para cada um de nós, o objeto teria uma realidade que dependeu da nossa interpretação. Assim, argumentar que uma realidade é “correta” e a outra é “incorreta” é bastante enganoso. Nossas conclusões são relativas – baseadas em um número de variáveis socioculturais. Nossa realidade é fenomenológica, e sempre aberta a uma multiplicidade de interpretações.
Mesmo assim, embora os fenomenólogos evitem os termos `correto´ e `incorreto´ quando consideram interpretações da realidade, eles reconhecem que , em alguns momentos, os significados construídos por indivíduos vão variar bastante daqueles que são compartilhados por outros – até talvez pela maioria dos outros. Por exemplo, um indivíduo sofrendo do que é chamado de delírio paranóide pode imaginar que uma enfermeira lhe trazendo remédio está tentando lhe envenenar.
...
A Questão da Interpretação da Realidade
Fenomenólogos negam a possibilidade de existirem interpretações “corretas”, já que estas pressuporiam que nós tivéssemos acesso,ou conhecimento, da realidade primordial em uma situação qualquer. Mas nós não temos; nossas interpretações, longe de serem corretas, continuam abertas para alternativas em significado. O que a maioria de nós chama de interpretação “correta”, não está baseada em leis ou verdades externas objetivas que foram confirmadas universalmente. Em vez disto, nosso julgamento é influenciado, em grande escala, pelos pontos de vista consensuais de um grupo de indivíduos ou de toda uma cultura.
A visão fenomenológica não nega que, até certo grau, muitos de nós compartilhamos interpretações semelhantes da realidade. Pesquisas confirmam que nós compartilhamos modelos de realidade e “molduras” mentais. O que os fenomenólogos argumentam é que independente do quanto nossas interpretações do mundo sejam singulares ou compartilhadas por muitos, elas assim mesmo continuam interpretações.
Experiência sem significado
Qualquer comportamento que se apresente para nós como inexplicável, ou sem significado, nos perturba; é um estímulo aversivo básico. Nós tentamos encontrar uma explicação ou um significado para a nossa experiência que pareça convincente, para que assim possamos diminuir nossa tensão. 
Por exemplo, se olhamos um quadro de Magritte, vários vão oferecer explicações e interpretações acerca do seu significado. No final, as conclusões acerca do significado da pintura dependerão de quais interpretações foram satisfatórias o suficiente para reduzir a tensão trazida pela falta de significado. 
O significado está implícito na nossa experiência da realidade. Nós não conseguimos tolerar a falta de significado. Através de invariantes da espécie e estruturas mentais desenvolvidas pela experiência, nós tentamos selar nossas experiências com significado. Entretanto, é importante lembrar, mais uma vez, que quaisquer que sejam os significados atribuídos, estes não podem ser conclusivos como “corretas” ou verdadeiras interpretações da realidade.
Realidade Subjetiva x Objetiva
Até aqui está parecendo que os fenomenólogos argumentam que a realidade é puramente um processo subjetivo. Ou seja, que nada existe além dos construtos mentais. É isto que os fenomenólogos argumentam ?
A recorrente controvérsia relacionada à separação entre a realidade externa e a consciência subjetiva, e como as duas interagem dentro de cada um de nós, tem intrigado a filosofia e psicologia ocidentais por um bom tempo. Para alguns, os objetos existem independentemente da mente; para outros, nada existe além da mente. Psicólogos e filósofos tenderam a filiar-se a um argumento ou ao outro. Em linguagem fenomenológica, nós podemos dizer que estamos interessados na diferença, se esta existe, entre a aparência das coisas e as coisas como elas são de verdade (as coisas em si).
Inicialmente, o objetivo da fenomenologia transcendental foi examinar, expor e separar estas diferenças. Se os fenomenólogos pudessem encontrar as verdadeiras coisas em si mesmas, ou seja, a realidade pura que fosse separada e independente da nossa mente, então eles poderiam nos dizer o que a realidade objetiva verdadeiramente era. O lema dos primeiros fenomenólogos transcendentais era “voltar às coisas mesmas !” Com isto eles deixaram absolutamente claro (pelo menos para outros filósofos) que o objetivo deles era encontrar a natureza da realidade verdadeira e original.
Não é nenhuma surpresa que eles não tenham conseguido conquistar este objetivo. A fenomenologia moderna admite que ela não pode nos dizer qual é a verdadeira natureza da realidade, nem nunca será capaz disto. De fato, ela argumenta que nenhum sistema criado pelo homem – seja este científico ou filosófico – jamais será. Entretanto, embora os fenomenologistas não possam nos oferecer uma resposta para esta questão, suas tentativas de clarificar e examinar a realidade experienciada ou fenomenal, oferecem uma solução para o contínuo conflito entre a realidade subjetiva e objetiva, que é ao mesmo tempo simples e elegante.
A questão da realidade resolvida pela Fenomenologia
Como exemplo desta solução, vamos imaginar uma situação hipotética. Imagine que você está numa galeria de arte e pára na frente de uma pintura para examiná-la. Talvez você foque em alguns elementos do quadro, ou no título da pintura, no nome do pintor, etc. Talvez você diga para si mesmo “este é o quadro que eu já tinha visto em livros de arte, e que há vários anos eu gostaria de ter visto, e agora finalmente eu vi a coisa verdadeira”. Eventualmente você se satisfaz e vai olhar outra pintura.
O que aconteceu com o quadro ? Ele continua a existir como você o percebeu ? Ou este quadro percebido particular não existe mais ?
O que os fenomenólogos começariam a responder é que a pintura tem substância física. Exite um tipo de “matéria bruta” que aje como estímulo para nossas percepções sensoriais do quadro. Num nível macroscópio, nós podemos argumentar que a pintura é feita, até certo ponto, da madeira que forma a moldura, dos óleos e pigmentos etc. Isto é a matéria bruta. Seja qual for a realidade da pintura, esta se encontra na matéria bruta do estímulo (isto sem considerar as questões atômicas e sub-atômicas).
O que os fenomenólogos propõem é que a pintura que percebemos, ou seja, a pintura que qualquer um percebe e depois deixa para se mover a outro lugar, nunca mais será percebida de novo na forma exata em que foi percebida em primeiro lugar. Mesmo que a “matéria bruta” ainda continue a existir, que os elementos básicos que a compõem ainda existam, o quadro percebido só existiu daquela maneira no momento da percepção.
O que os fenomenólogos propõem é que nossa experiência do mundo é sempre feita de uma interação entre a matéria bruta do mundo, seja lá qual for, e nossas faculdades mentais. Nós nunca percebemos somente matéria bruta; assim como, de forma semelhante, nós nunca percebemos só o fenômeno mental. Nós empre experienciamos uma interação entre os dois.
Cada um de nós, como representantes da nossa espécie, desenvolve, através de processos de maturação e experiências sociais um complexo esquema mental através do qual nós interpretamos os estímulos brutos que bombardeiam os nossos sentidos.
Embora como membros da espécie nós compartilhemos as mesmas limitações psico-biológicas que oferecem uma estrutura subjacente para o desenvolvimento das “molduras” mentais, assim mesmo, cada um de nós adiciona um número de variáveis derivadas da nossa experiência de vida individual. Através da combinação dois dois, cada um de nós constrói uma interpretação única do mundo.
Se retornamos ao exemplo da pintura percebida na galeria de arte, o ponto de vista exposto argumentaria que sua experiência da pintura foi única para você, já que, dentro das variáveis que dão foram e significado à sua experiência, estariam aquelas pertencentes à sua vida particular. Além disso, se você retornar à pintura em outro momento da sua vida, sua experiência da pintura não seria nem poderia ser a mesma, pois nesta nova experiência, o contexto e as relações estariam alterados.
Nossas interpretações do mundo, portanto, não só são únicas, como também são variáveis em seu significado (plásticas).
Questões fundamentais da Fenomonologia
Na sua tentativa de explorar e examinar como nós construímos nossa realidade, Husserl focou em duas questões fundamentais : a noção de intencionalidade como base de toda experiência mental, e os focos da intencionalidade, `formadores´ de nossa experiência : noema e noesis.
Intencionalidade
Para Husserl (1931) a base de todos nossos construtos de significado do mundo se relacionam à “intencionalidade”. 
Este termo intencionalidade é derivado do Latim intendere, que se traduz como “se estender para fora”. Os fenomenólogos usam este termo para descrever a ação fundamental da mente se estendendo aos estímulos que fazem parte do mundo para traduzi-los em experiência significativa. Em outras palavras, intencionalidade se refere ao primeiro, mais básico ato mental interpretativo– este que “traduz” o estímulo bruto desconhecido do mundo real, em uma realidade baseada no objeto.
Franz Brentano criou o termo “intencionalidade”, para clarificar sua afirmação de que um mundo físico real existe fora de nossa consciência e que , toda consciência é sempre direcionada para o mundo real com objetivo de interpretá-lo de maneira significativa. (Brentano, 1973). 
Husserl adaptou a idéia de Brentano argumentando que, para os seres humanos, a consciência é sempre consciência de alguma coisa, uma vez que o ato interpretativo mais básico da consciência humana é experienciar o mundo em termos de objetos, ou coisas. Por exemplo, se eu estou consciente de que estou preocupado, então eu estou preocupado com alguma coisa; se estou confuso, estou confuso acerca de algo. Mesmo que não esteja claro qual é a “coisa” específica, minha atenção está focado na identificação de “alguma coisa”.
Nós não temos certeza se as “coisas em si mesmas” existem verdadeiramente. Tudo que podemos dizer é que, como seres humanos, estamos “programados” para interpretar um mundo baseado em objetos ou coisas. Qualquer sentido que fazemos do mundo é baseado em intencionalidade. Nossas relações e interações interpretativas confiam nas distinções de objeto que nós construímos e estabelecemos através do tempo.
 O processo de intencionalidade diz que nós, como seres humanos, nunca temos acesso a, ou conhecimento do mundo real como ele é. Como nosso mundo é um mundo de objetos, podemos afirmar que , mesmo no nível mais básico de consciência, um ato de interpretação aconteceu. Através da intencionalidade, a informação sensorial que está ao nosso dispor, que responde aos estímulos desconhecidos que emanam do mundo físico, se submete a uma “tradução” básica e inevitável ou interpretação que nos leva a responder aos estímulos como se estes fossem objetos.
Quando os fenomenólogos falam de intencionalidade como “a mente se alongando em direção ao mundo” e traduzindo seus estímulos em objetos fenomenais, eles estão apresentando um argumento que é ao mesmo tempo profundo e, infelizmente, nem sempre fácil de apreender.
Por exemplo, imagine que você está dirigindo sua atenção para um aparelho de televisão. O objeto “aparelho de televisão” é fenomenal : seu conhecimento do que você vê não é o resultado direto do seu acesso direto à realidade externa, mas aconteceu através de um complexo de interpretações ligadas à sua experiência e suas relações com o mundo. Assim, você dirá : o que é este objeto ? O que sobraria se todas as interpretações fossem colocadas em parêntesis ?
Através do termo intencionalidade os fenomenólogos apontam para uma relação básica invariante que existe entre o mundo real e nossa experiência consciente deste. Sem sermos capazes de colocar esta relação entre parêntesis, somos forçados a aceitar, através dela, o papel inegável da interpretação que está no coração de toda nossa experiência mental. 
Noema e Noesis
A noção fenomenológica de intencionalidade aponta que nós completamos um passo interpretacional de traduzir o estímulo desconhecido do mundo em coisas e objetos. Intencionalidade, então, foca a consciência inicialmente em algo no mundo.
Husserl sugeriu que cada ato de intencionalidade é feito de dois focos experienciais, ou pólos correlacionais (Ihde, 1977), que ele chamou de noema e noesis. “Para o que é experienciado, da forma que é experienciado, ele usou o termo noema ou correlato noemático, e para a maneira de experienciar... ele usou o termo noesis, ou correlato noético” (Ihde, 1977). Noema, portanto, se refere ao elemento direcional da experiência; é o objeto (o quê) ao qual direcionamos nossa atenção e foco. Noesis é o elemento referencial da experiência; é o modo (o como) através do qual definimos o objeto. Como indicou Ihde: “Esta correlação interna da nossa experiência pode parecer trivial e óbvia – se eu experiencio, eu experiencio algo e de alguma maneira” (Ihde, 1977).
...
O Método Fenomenológico
O conceito de intencionalidade, e seus focos noético e noemático, levou Husserl ao desenvolvimento de um método especificamente criado para clarificar os fatores interpretacionais contidos dentro de toda experiência. Este método é o fenomenológico.
...
Passo A : A Regra do Epoché
O primeiro passo se chama regra da epoché . Este passo insiste que coloquemos de lado nossa tendências e preconceitos iniciais sobre os fenômenos, que suspendamos nossas expectativas e coisas que assumimos, em resumo, que coloquemos tudo em parêntesis, pelo tempo que for possível, para que possamos focar na informação primária da nossa experiência. Em outras palavras, esta regra nos convida a impor uma “abertura” na nossa experiência imediata para que nossas interpretações subsequentes desta sejam mais adequadas.
Nossas conclusões sobre os fenômenos devem ser baseadas mais na nossa experiência imediata do que nas expectativas que temos a priori.
Passo B : A Regra da Descrição
Em essência significa : “Descreva, não explique”.
Tendo nos “aberto às possibilidades” contidas na nossa experiência imediata o quanto foi possível pela regra da Epoché, nós então não devemos colocar outras limitações à nossa experiência através de tentar explicar ou dar sentido a esta com quaisquer teorias ou hipóteses que nós tendemos a ter.
Em vez disso, a regra da descrição nos convida a nos manter focado inicialmente nas nossas impressões concretas e imediatas e manter um nível de análise em relação a estas experiências que prefere descrever em vez de explicar teoricamente. Em vez de sair da nossa experiência imediata para explicá-la, com base em teorias ou hipóteses pré concebidas que nos separam da nossa experiência, regra de descrição nos permite fazer um exame descritivo das variáveis subjetivas que constituem nossa experiência.
Passo C : A Regra da Horizontalidade ou Equalização
Esta regra nos convida a evitar colocar hierarquias de significado ou importância aos itens das nossas descrições, e em vez disso, tratar cada um inicialmente como tendo um valor ou significado igual.
Bibliografia
Brentano, F. (1973) Psychology from an Empirical Standpoint. London: Routledge & Kegan Paul
Husserl, E. (1931) Ideas: General Introduction to Pure Phenomenology, vol 1. New York : Macmillan.
Ihde, D. (1977) Experimental Phenomenology : an Introduction. Albany : State University of New York.
Misiak, H. & Sexton, V. S. (1973). Pheenomenological, Existential, and Humanistic Psychologies: a Historical Survey. New York : Grune & Stratton.