Buscar

Diagnósticos Diferenciais em Discromias

Prévia do material em texto

Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS 
DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS EM 
DISCROMIAS: 
São consideradas discromias todas as 
alterações da cor da pele, causadas 
predominantemente (mas não de forma 
exclusiva) por variações na quantidade de 
melanina. 
Outros pigmentos endógenos (ex.: 
bilirrubina) e exógenos (ex.: 
tetraciclinas) também podem provocar 
mudanças no tom da pele. 
Esses distúrbios podem ser hereditários, 
congênitos ou adquiridos, sendo 
segmentados, conforme o tipo de 
desequilíbrio em acromias/hipocromias 
(baixa deposição pigmentar) e hipercromias 
(concentração aumentada de pigmento). 
HIPOCROMIAS: 
ALBINISMO OCULOCUTÂNEO: 
O albinismo oculocutâneo (AOC) é o 
distúrbio de pigmentação generalizada mais 
comum, no qual há comprometimento dos 
melanócitos presentes no cabelo, pele e 
olhos. 
Essa é uma dermatose genética, com 
padrão autossômico recessivo, 
afetando 1 a cada 20 mil pessoas. 
 
Criança com albinismo, evidenciando presença de 
cabelos amarelados e pele pouco pigmentada 
 
 
 
 
 
A forma mais acurada de classificar o AOC 
se dá por meio do tipo de defeito do locus 
gênico, a saber: 
 AOC1: subdivide-se em AOC1A, forma 
mais grave na qual não há atividade da 
tirosinase, com consequente ausência 
completa de melanina, e AOC1B, 
apresentação com ação parcial dessa 
enzima, garantindo acúmulo de 
pigmento ao longo da vida; 
 AOC2: há tirosinase positiva (ativa), 
sendo a disfunção associada à mutação 
do gene P, codificador de proteínas de 
transporte dos melanócitos. Os 
portadores têm pigmentação próxima 
ao normal, aumentando com a idade, e 
acuidade visual diminuída, com 
melhora até a adolescência; 
 AOC3: marcado por mutação na 
proteína TRP1 associada à tirosinase, 
ocorre apenas em pacientes negros, 
que cursam com pelos castanho-claros, 
pele morena clara, íris azul ou marrom, 
nistagmo e baixa acuidade visual; 
 AOC4: decorrente de alterações no gene 
MATP, atuante no processamento e 
transporte de proteínas do 
melanossomo. Apresenta fenótipo 
semelhante à AOC2, porém é rara em 
caucasianos. 
 
 
 
 
O albinismo pode ser completo, com pele 
rosa-clara, pelos brancos, fotossensibilidade 
e alterações visuais, incompleto, marcado 
por hipopigmentação menos intensa, ou 
parcial, cuja hipocromia se concentra na 
linha média do corpo. 
 
O albinismo ocular ocorre quando a 
hipopigmentação é restrita à retina, levando 
ao desenvolvimento de baixa visão e 
nistagmo, sem déficit nos melanócitos da 
pele. As alterações genéticas podem ser 
dominantes ou recessivas, mas 
frequentemente afetam o cromossomo X 
Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS 
O diagnóstico é realizado por meio do 
exame clínico, no qual são identificadas 
alterações cutâneas e oftalmológicas, 
complementadas com a avaliação do 
histórico familiar. 
A detecção laboratorial de atividade 
da tirosinase é feita por meio da 
incubação em levodopa. Quando 
positivo, o contato entre essas 
substâncias leva à oxidação. 
Não há tratamento específico para o AOC, 
porém recomenda-se que esses pacientes 
façam uso constante de fotoprotetores, 
chapéus e roupas de mangas longas, pois 
estão sob maior risco de desenvolvimento 
de melanomas. 
O uso de óculos escuros também é 
indicado para evitar o 
desenvolvimento de catarata 
precoce. 
PITIRÍASE ALBA: 
A pitiríase alba é uma dermatose comum 
que acomete majoritariamente crianças e 
adolescentes, com destaque para aqueles 
com histórico de atopias, pele morena e 
astetose (pele seca). 
São fatores desencadeantes a 
exposição solar e o uso de 
sabonetes que ressequem ainda 
mais a cútis. 
As manchas hipocrômicas ovaladas se 
localizam na face, parte externa dos 
braços e na porção superior do dorso, 
apresentando tamanho variável. Quando 
regridem, pode ser observada descamação 
leve. 
 
Macha hipocrômica por pitiríase alba 
O exame com luz de Wood pode ser usado 
para descartar pitiríase versicolor, principal 
diagnóstico diferencial dessa enfermidade. 
Nessa avaliação, também é possível 
excluir a hipótese de vitiligo, uma 
vez que as lesões não têm aspecto 
acrômico nacarado. 
Recomenda-se a esses pacientes o uso de 
cremes hidratantes e fotoprotetores na 
rotina diária, sendo o uso de corticoide 
tópico indicado apenas na presença de 
sinais de dermatite atópica. 
PITIRÍASE VERSICOLOR: 
A pitiríase versicolor (PV) é uma dermatose 
causada por fungos do gênero Malassezia, 
com distribuição universal, principalmente 
em adultos (maior oleosidade da pele) 
habitantes de áreas quentes e úmidas. 
Existem nove espécies de leveduras 
associadas à PV, porém a M. furfur é 
considerada como a de maior relevância 
clínica, sendo considerada saprófita, 
presente no couro cabeludo e em áreas 
ricas em glândulas sebáceas. 
A diferenciação entre agentes 
etiológicos é feita por análises 
morfológicas e PCR. 
As lesões surgem de estruturas 
pilossebáceas (fungo lipofílico), sendo 
inicialmente arredondadas, mas que podem 
confluir, dificultando a identificação de pele 
saudável. 
Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS 
Os focos mais comuns na PV são os 
braços e o tronco, devido à maior 
concentração de glândulas sebáceas 
Ainda que a maioria dos achados seja 
hipocrômica e descamativa, sua coloração 
pode variar para vermelho ou marrom, 
justificando o nome “versicolor”. 
O prurido é um sintoma comum, 
presente principalmente após 
exposição solar 
 
 
 
 
 
Escamas furfuráceas, semelhantes a 
farinha, surgem ao esticar (sinal de Zireli) 
ou atritar a pele com a unha ou uma cureta 
(sinal da unha ou de Bessiner), porém sua 
detecção se faz difícil caso o paciente esteja 
suado. 
 
Manchas arredondadas, hipocrômicas e descamativa 
na pitiríase versicolor 
O diagnóstico dessa condição é confirmado 
pelo exame direto, com amostra coletada 
por raspagem ou fita gomada. São 
observadas hifas curtas, curvas e largas, 
além de blastoconídios agrupados como 
cachos de uvas. 
Na análise com a lâmpada de Wood, 
a coloração evidente é róseo-
dourada. 
 
Achados do exame micológico na pitiríase versicolor 
O tratamento da PV, quando em formas 
localizadas, é feito por meio do uso de 
sulfeto de selênio (2,5%), propilenoglicol 
(50%), cetoconazol (2%) ou de shampoos 
antifúngicos, durante 10 a 20 dias. 
Recomenda-se um “retratamento” 
após 2 meses, com o intuito de evitar 
recidivas, que são eventos 
frequentes, principalmente em 
pacientes com sudorese excessiva, 
pele oleosa ou lesões 
infundibulares. 
Nas apresentações recidivantes ou 
extensas, empregam-se medicamentos por 
VO, como itraconazol (100 mg, 12/12h por 
5 a 7 dias) ou cetoconazol (200 mg/dia por 
10 a 15 dias). 
NEVO ACRÔMICO: 
O nevo acrômico, apesar do nome, 
descreve uma área com hipocromia, de 
forma e tamanho variáveis, geralmente 
imperceptível ao nascimento, se 
manifestando após a exposição solar. 
O exame de luz de Wood pode 
facilitar a delimitação da mancha, 
Estudos apontam que a variação de tons na 
PV é resultado de processos como o 
aumento da multiplicação de 
melanossomos epidérmicos, produção de 
inibidores da reação dopa-tirosinase 
(menor síntese de melanina) e da própria 
inflamação causada pelo fungo 
Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS 
ainda que esta apresente baixo 
contraste, ao contrário do vitiligo 
 
Comparação entre mancha por vitiligo (acima) e 
nevo acrômico (abaixo) sob luz ambiente e lâmpada 
de Wood 
LEUCODERMIA GUTATA: 
Marcada pela presença de múltiplas 
máculas hipo/acrômicas pequenas (3 a 7 
mm), arredondadas e com bordas bem 
definidas. Geralmente se localizam em 
áreas expostas dos membros. 
Há predomínio dessa condição em 
mulheres com mais de 30 anose pele 
clara. 
Acredita-se que a patogênese dessa 
dermatose seja associada a danos por 
exposição solar e a microtraumas sobre a 
pele, resultando em atrofia da epiderme e 
diminuição de melanócitos. 
 
Leucodermia gutata em membros inferiores 
HIPERCROMIAS: 
EFÉLIDES: 
As efélides (ou sardas) são pequenas 
manchas castanhas que surgem na 
infância e adolescência, especialmente 
após queimaduras solares. A distribuição é 
simétrica, afetando a face, ombros, braço e 
porção superior do tronco. 
Seu desenvolvimento é hereditário, 
predominante em indivíduos de pele 
clara e cabelos loiros/ruivos. 
O manejo clínico se dá por meio da 
prevenção ao dano actínico, com 
prescrição de fotoprotetores. 
 
Grande adensamento de manchas lenticulares na 
face (efélides) 
MELANOSE SOLAR: 
A melanose solar é produto da ação 
cumulativa da radiação solar sobre a pele, se 
desenvolvendo após os 30-40 anos. Sua 
apresentação típica é sob a forma de 
manchas castanhas medindo entre alguns 
milímetros até 1 cm de diâmetro, presentes 
no dorso das mãos, punhos, antebraços ou 
na face. 
 
Melanose solar no dorso das mãos 
Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS 
O tratamento de melhores resultados 
estéticos é a crioterapia com nitrogênio 
líquido ou dióxido de carbono, realizada por 
2 a 4 segundos, porém o uso de lasers e 
ácido retinoico (derivado da vitamina A) 
também possui benefícios. 
Fotoproteção é indicada em qualquer 
contexto de exposição solar, mesmo 
que breve. 
FITOFOTODERMATOSE: 
É uma condição bastante frequente, 
decorrente da exposição à derivados 
psoralênicos, de ação fotossensibilizante. 
Esses compostos são encontrados 
principalmente em frutas cítricas, 
como o limão. 
Manchas eritematosas irregulares surgem 
nos locais onde houve interação entre os 
agentes supracitados e a luz solar, 
acompanhada posteriormente por 
melanodermia transitória e, em quadros 
graves, bolhas. 
Essas lesões involuem 
espontaneamente após algumas 
semanas. 
 
Lesão por fitofotodermatose 
HIPERCROMIAS NÃO MELÂNICAS: 
DERMATITE OCRE: 
Surge em decorrência da deposição de 
hemossiderina na pele de pacientes com 
insuficiência venosa, criando lesões de 
coloração amarelo-acastanhado escuro, 
predominantemente na região das pernas e 
tornozelos. 
Não há indicação de tratamento 
específico, porém a elevação do 
membro e o uso de meias elásticas 
podem evitar o avanço do quadro. 
 
Dermatite ocre evidente em panturrilha 
CAROTENODERMIA: 
Descreve a presença de pigmento 
amarelado na pele por acúmulo de 
caroteno. Isso se dá pela ingestão 
exagerada de alimentos como cenoura, 
manga, mamão, beterraba e outros. 
Essa condição é bastante observada 
em pacientes com diabetes e 
hipotireoidismo, nas quais há 
distúrbios na capacidade do fígado em 
sintetizar vitamina A a partir do 
caroteno. 
A coloração é difusa, porém mais evidentes 
nas palmas e plantas, bem como nas axilas 
e região retroauricular. Não há prurido, e as 
escleróticas não são afetadas (ao contrário 
da icterícia). 
O manejo conta apenas com a diminuição 
do consumo de alimentos ricos em 
caroteno, sem intervenção medicamentosa. 
Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS 
 
Carotenodermia em comparação com a tonalidade 
normal da pele 
PIGMENTAÇÃO POR AMIODARONA: 
O uso crônico de amiodarona, droga de 
aplicação cardiológica, leva à produção e 
deposição de lipofusina na derme. Em 
áreas expostas à luz (ex.: face) há 
desenvolvimento de manchas azul-
acinzentadas. 
 
Manchas azul-acinzentadas em hiperpigmentação 
por amiodarona

Continue navegando