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DOCÊNCIA EM SAÚDE SERVIR PARA LIDERAR 1 Copyright © Portal Educação 2013 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842s Servir para liderar / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2013. 93p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-673-0 1. Liderança. 2. Líder. I. Portal Educação. II. Título. CDD 158.4 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 5 2 O QUE É LIDERANÇA? ............................................................................................................ 7 2.1 ESTILOS DE LIDERANÇA ........................................................................................................ 10 2.2 TEORIAS DE LIDERANÇA ....................................................................................................... 12 2.2.1 Teoria X e a Teoria do Y ............................................................................................................ 12 2.2.2 Teoria dos Traços ...................................................................................................................... 13 2.2.3 Teoria das Lideranças Situacionais ou Contingenciais .............................................................. 13 2.2.4 Teorias das Lideranças Transacionais ...................................................................................... 14 2..2.5 Teoria da Liderança Transformadora ......................................................................................... 14 2.2.6 Teoria da Liderança Servidora .................................................................................................... 15 3 ATRIBUTOS DE UM LÍDER ............................................................................................................. 16 4 COMUNICAÇÃO E LIDERANÇA ..................................................................................................... 28 4.1 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO – VISÃO SIMPLIFICADA ........................................................ 34 3 5. FEEDBACK E LIDERANÇA ............................................................................................................ 36 5.1 OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DO FEEDBACK ................................................................................. 37 5.2 TIPOS DE FEEDBACK .................................................................................................................. 39 5.3 APLICAÇÃO DO FEEDBACK POSITIVO ...................................................................................... 41 5.4 APLICAÇÃO DO FEEDBACK CORRETIVO ............................................................................. 41 6 DICAS IMPORTANTES ............................................................................................................ 46 7 CONCEITUANDO LÍDER SERVO ............................................................................................ 46 8 ATRIBUTOS DE UM LÍDER SERVO ........................................................................................ 48 8.1 A RESPEITO DO PODER E LIDERANÇA ..................................................................................... 53 8.2 PODER E AUTORIDADE .............................................................................................................. 58 9 LÍDER E SUA EQUIPE: UM CASO DE AMOR ................................................................................ 59 9.1 GRUPOS X EQUIPES ............................................................................................................... 61 9.2 MODELO DE INTERAÇÃO LÍDER-MEMBRO........................................................................... 65 10 INTELIGÊNCIA EMOCIONAL E LIDERANÇA ......................................................................... 69 10.1 COMPETÊNCIAS DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL ............................................................... 71 10.1.1 Autoconsciência ....................................................................................................................... 72 10.1.2 Autogestão ............................................................................................................................... 72 10.1.3 Consciência social .................................................................................................................... 74 10.1.4 Administração de relacionamentos ........................................................................................... 74 4 11 RELEMBRANDO ...................................................................................................................... 75 12 APRENDENDO A DESENVOLVER LIDERANÇA .................................................................... 76 13 COMPETÊNCIA LIDERAR PARA SERVIR .............................................................................. 77 13.1 TESTE – ESTILO DE LIDERANÇA .......................................................................................... 79 14 COMPETÊNCIA COMUNICAR PARA SERVIR ........................................................................ 81 15 COMPETÊNCIA MOTIVAÇÃO PARA SERVIR ........................................................................ 88 16 COMPETÊNCIA ORIENTAR PARA SERVIR ........................................................................... 96 17 VENCENDO COM AS PESSOAS ............................................................................................. 99 17.1 PREPARAÇÃO: ESTAMOS PREPARADOS PARA OS RELACIONAMENTOS? ................... 100 17.2 SINERGIA: É POSSÍVEL CRIAR RELACIONAMENTOS EM QUE TODOS GANHAM? ........ 104 18 LIÇÕES FINAIS DA LIDERANÇA SERVIDORA ..................................................................... 106 19 CONCLUSÕES ........................................................................................................................ 108 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................. 111 5 1 INTRODUÇÃO FIGURA 1 - LIDERANÇA FONTE: Disponível em: <http://www.venmas.com/venmas/boletin/actual/mk_practico/se_busca_community_manager> Acesso em: 19 abr. 2013. Nas últimas décadas a literatura sobre liderança se expandiu de forma acentuada. Esse tema permeia todas as rodas de negócio e qualquer revista especializada em empresas, empregos e negócios exibe em sua capa um líder, com olhar altivo e postura vencedora. Não são poucas as pessoas que olham essa imagem sem querer um dia estar lá, estampado e cheio de feitos para contar. Líderes sempre foram vistos como conquistadores: Alexandre e Napoleão eram exemplos de conquistadores, os métodos não eram os mais sensíveis, mas os resultados eram fantásticos. Conquistaram terras, espaçose fama e acima de tudo a posteridade. É quase impossível não falar de liderança sem em algum momento citar esses conquistadores como exemplo. Mas, também na história da humanidade tivemos líderes que não usaram “o argumento 6 da força”, usaram “a força do argumento”. O maior deles? Jesus, que não usou a violência e nem tinha poder algum que pudesse ser tangível para nós: dinheiro, status, fama, cargo e influência política. Não há um relato sequer que Jesus possuía qualquer um desses elementos. No entanto, o legado de liderança que ele deixou é impressionante: Viveu apenas 33 anos e dois mil anos depois da sua morte um terço da população mundial segue seus preceitos. Quanto vale este um terço? Dois bilhões de pessoas. Certamente você não conhece um líder com tamanho feito de Jesus, embora conheça líderes que usaram de ferramentas similares e construíram em torno de si (de forma despretensiosa) um legado igualmente significativo, ou aqueles que usaram os argumentos alexandrinos e marcaram a história da humanidade: Martin Luther King, Mandela, Che Guevara, Gandhi, Mao Tse Tung, Joana Darc e tantos outros. Entre tipos e estilos o resumo é este: capacidade de influenciar pessoas. Essa é a definição clássica para liderança. Neste módulo entenderemos o que é liderança, bem como seus estilos e tipos, será uma viagem no mundo do poder e da autoridade. Ainda abordaremos sobre comunicação e feedback, que são duas ferramentas que compõem o diferencial de um líder. Este curso terá como ênfase a liderança servidora, mas discorreremos sobre os estilos e tipos que são apontados pelas literaturas da atualidade. Acreditamos que podemos entender o particular olhando para o geral. Bem-vindo a bordo! 7 2 O QUE É LIDERANÇA? Hunter (2006), define liderança como: “A habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente, visando atingir objetivos comuns”. Ao acessar o site da Wikipédia, temos a seguinte definição: Liderança é o processo de conduzir um grupo de pessoas, transformando-o em uma equipe que gera resultados. É a habilidade de motivar e influenciar os liderados, de forma ética e positiva, para que contribuam voluntariamente e com entusiasmo para alcançarem os objetivos da equipe e da organização. (WIKIPEDIA. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil>. Acesso em: 23/09/2010). Para Maquiavel a definição de liderança é: Uma questão de manutenção de um fluxo, adequando informações precisas sobre os assuntos a serem decididos e, ao mesmo tempo, a consideração das melhores alternativas, de modo que permita que ações decisivas sejam tomadas. (OLIVEIRA, 2006, p. 7). Os conceitos de liderança podem assumir posturas diferentes, mas todos são estruturados na mesma base: influenciar pessoas. Ninguém pode ser líder se não for capaz de fazer com que alguém o siga. O líder é um condutor, é o que aponta a direção. Parece ser fácil entender o que é liderança, porém devemos observar o que não é liderança e outras considerações importantes sobre esse tema, conforme poderemos observar a seguir. Hunter (2006) aponta cinco considerações para o entendimento do que não é liderança: 1. Liderança não é gerência: A base para essa afirmação é simples: Lideramos pessoas, gerenciamos resultados. Ferreira (2008) afirma que “planejamento, orçamento, organização, solução de problemas, controle, manutenção da ordem, desenvolvimento de estratégias e outras é o que fazemos. Liderança é quem somos”. 8 TABELA 1 - COMPARAÇÃO ENTRE GERENCIAMENTO E LIDERANÇA GERENCIAMENTO LIDERANÇA Direção Planejamento e orçamento, manter os olhos nos resultados. Criação de visão e estratégia, manter o olho no horizonte. Alinhamento Organização e contratação, direção e controle, criação de barreiras. Criação de cultura e valores comuns, ajudar no crescimento de outros e redução de barreiras. Relacionamentos Foco em objetos – produção, venda de bens e serviços. Baseado no poder da posição. Agir como chefe. Foco nas pessoas – inspirar e motivar seguidores. Baseado em poder pessoal, agir como instrutor ou facilitador. Qualidade das pessoas Mente de especialista, falante, conformidade, visão da organização. Ligações emocionais (coração), mente aberta (consciência), ouvinte (comunicação), não conformismo (coragem), visão do eu (integridade). Resultados Mantém a estabilidade Cria mudança, geralmente radical. FONTE: DUMAINE, B.: The non-manager managers, 2006. 2. Liderança não é chefia: Como sabemos que liderança é influenciar pessoas, não necessariamente o chefe será um influenciador. O chefe manda, os subordinados obedecem. Os chefes possuem habilidades gerenciais fantásticas, mas na maioria dos casos não possui habilidades com pessoas, para que essas deem o melhor de si na produção dos resultados. Nesse contexto, os resultados podem ser gerados por pressão, coação, ameaça e outros tão mais dramáticos ou não. Portanto, não são resultados produzidos por influência e com entusiasmo. Embora haja uma forte corrente cética em relação a essa forma de liderança, sabemos que os efeitos são surpreendentemente reais. Como isto? Citemos um exemplo: o que dizer dos líderes comunitários que surgem na sua comunidade como uma pessoa capaz de levar os seus moradores a resolverem um problema que é comum a todos? Quantos líderes 9 comunitários você conhece que não são chefes, não são gerentes, mas têm a capacidade de mobilizar sua comunidade em busca de uma solução de problemas e o melhor de todos: as pessoas se envolvem de coração com a causa, porque descobrem que os resultados são para todos e, por isso todos são responsáveis pela busca dele. Como Hunter assevera, quando o grupo faz sucesso, automaticamente todos os membros assumem o compromisso da liderança. 3. Liderar é responsabilidade: Se analisarmos bem, somos líderes das várias áreas de nossa vida: como pais, cônjuges, treinadores, professores e muitos outros. Quando assumimos essa posição precisamos ter um cuidado muito grande com as pessoas e que muitas vezes negligenciamos. Já parou para pensar que estamos interferindo na vida das pessoas? Não fomos coagidos ou ameaçados para assumir essa posição, porém a partir do momento que abraçamos esta causa, deixamos de ser “eu”, passamos ao estágio do “nós”. E agora? Será que enquanto líderes podemos inspirar pessoas? Desenvolver pessoas? Como líderes precisamos entender o impacto das nossas ações sobre as pessoas, ou seja, compreender claramente o tamanho da responsabilidade inerente a esta posição. (GALBRAITH, 1984). 4. Liderança é uma habilidade: Essa é uma das grandes dúvidas: os líderes são natos? As pessoas nascem líderes ou se tornam líderes? Peter Drucker afirmava que os líderes natos são tão poucos que seria muito complicado depender somente deles e que, portanto, a liderança é uma habilidade que deve ser adquirida. Segundo Hunter (2006), se uma pessoa acredita que a liderança é algo nato, então pode simplesmente culpar seus ancestrais pela não habilidade e se isentar de qualquer culpa. Afinal, não recebeu “elementos genéticos” de liderança. O que estamos fazendo, afinal, para desenvolvermos esta habilidade? Mas o que é habilidade? O Dicionário Aurélio (2008) define: Notável desempenho e elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual geral, aptidão específica, pensamento criativo ou produtivo,capacidade de liderança, talento especial para artes e capacidade psicomotora. Só para entendermos um pouco mais, se uma pessoa toca piano, talvez ela não chegue ao nível de João Carlos Martins, mas pode tocar melhor do que hoje se buscar os mecanismos necessários para isso: disciplina, estudo, pesquisas e aplicação. O mesmo 10 raciocínio pode ser usado por aqueles que se dizem incapazes de fazer um bom texto, podem não se transformar em um Sidney Sheldon ou José de Alencar, mas sem dúvidas podem melhorar sua performance com as letras, desde que passem a ler mais, escrever mais. A melhoria será evidente, ainda que não seja algo tão grandioso. Afinal, qualquer avanço é um avanço, a percepção se modifica por meio das expectativas. Se a expectativa é grande, precisamos de grandes feitos, ao contrário também é verdadeiro. Acreditando que liderança não é algo que nasce com a gente, o que você pode fazer agora para se tornar um líder no futuro? 5. Liderança é uma questão de caráter: Falamos anteriormente sobre a responsabilidade que é a liderança e como não associar o caráter a isso? A forma como agimos e reagimos tem influência muito poderosa na vida das pessoas. Todos os dias estamos diante de muitas escolhas. No caso de liderança falamos de comportamentos: serei gentil ou grosseiro? Serei proativo ou deixarei que as pessoas me peçam? Serei honesto ou darei um jeitinho? Sempre temos a opção entre o estímulo e a resposta que daremos a ele. E é exatamente entre o estímulo e a resposta que reside o caráter. Hunter (2006) finaliza: “Liderança é o caráter em ação, assim como o desenvolvimento de liderança e desenvolvimento do caráter são a mesma coisa.” 2.1 ESTILOS DE LIDERANÇA FIGURA 2 – TIPOS DE LIDERANÇA FONTE: Disponível em: <http://prolucro.com.br/blog/estudos-e-pesquisas/os-estilos-de- lideranca/attachment/chefe-lider1/> Acesso em: 19 abr. 2013. 11 A respeito de estilos de liderança, Engstrom (1976) aceita que o estilo de liderança nada mais é do que o modo como o líder desempenha suas funções, como é visto por aqueles que ele lidera. As classificações de estilos de líderes permeiam desde o agrupamento de autocrático-democrático-burocrático até a grade gerencial que aponta uma liderança com preocupação voltada para as pessoas ou para as tarefas. Engstrom e Mackenzie apud Alaby (2006) discutem cinco categorias de estilos de liderança, as demais são teorias derivadas dessas: 1. Laissez-faire: Laissez-faire é a contração da expressão em língua francesa laissez faire, laissez aller, laissez passer, que significa literalmente “deixai fazer, deixai ir, deixai passar”. É um estilo que propõe uma estrutura sem supervisão, os membros que determinam seus padrões e níveis de desempenho. Nesse sentido, o líder dá um mínimo de contribuição e direção e maximiza a liberdade. Não há estrutura sólida de poder. 2. Democrático-participativo: Nesse caso, a liderança fornece uma estrutura e os liderados fixam os resultados a serem alcançados e como alcançá-los. Líderes estão situados como solucionadores de problemas e possuem atribuições de fazer fluir a comunicação e praticar a tomada de decisões coletivamente. Aparenta um tipo de liderança que se utiliza na justiça distributiva. 3. Manipulativo-inspirador: Nesse estilo até existe uma estrutura, mas que geralmente é ambígua ou confusa. O líder estabelece o alvo com pouca participação e, por consequência, a adesão e aceitação são difíceis. Nesse estilo figuram os demagogos, tiranos e os narcisistas. 4. Benevolente-autocrático: as atividades dos grupos são amplamente estruturadas, a supervisão é cerrada e há o encorajamento dos funcionários para que façam sugestões sobre metas, condições de trabalho, etc., porém, acabam criando liderados dependentes. É uma abordagem sensível e comovente, cria uma ilusão de que há segurança e fraternidade em sacrifício à eficiência e à eficácia. 5. Autoritário-burocrático: este estilo é o famoso “Eu mando, você executa e ponto”. As regras são arbitrariamente estruturadas, não há a participação dos liderados, questionar as 12 ordens é insubordinação. Esse estilo é encontrado em toda a parte: nas religiões, todos são obrigados a fazer a vontade de Deus, mas esta vontade é imposta pelo religioso, nas empresas as regras e regimentos estão estruturadas em torno de um sistema. Deve ser cumprida sem questionamentos. Nesse estilo não há a predominância do amor e sim do poder vinculado à determinada instituição ou causa. Desses cinco estilos derivaram muitas teorias sobre liderança, conforme podemos ver a seguir. 2.2 TEORIAS DE LIDERANÇA Sobre as teorias de liderança, temos vários enfoques, de acordo com Chiavenato (2006): 2.2.1 Teoria X e a Teoria do Y Nessa teoria, a liderança é focada no que se faz, nas funções. A Teoria X e a Teoria Y são dois conceitos desenvolvidos por Douglas McGregor e que representam dois conjuntos de suposições antagônicas que são feitas aos trabalhadores, as quais servem de base a qualquer teoria de como liderar pessoas dentro de uma organização. As bases para os conceitos são: I – Líderes autoritários que se preocupam com as tarefas e ditam o que fazer e como fazer e II – Líderes democráticos que se preocupam com as pessoas, envolvendo-os nas decisões e planejamentos. Essas diferenças baseiam-se na visão que líderes possuem das coisas: própria autoridade e da natureza humana. Sendo assim temos: a) Teoria X: o estilo autoritário presume que o poder dos líderes emana da posição que ocupa e que por natureza o homem é preguiçoso e não confiável. Portanto, deve ser pressionado a produzir, precisa ser controlado e ameaçado para atingir as metas. Esses líderes utilizam de recompensa e punição como recursos de sua gestão. b) Teoria Y: Nesse caso temos um estilo democrático de condução, as políticas e 13 discussões são abertas para que as decisões sejam tomadas de forma coletiva. Os líderes estimulam a participação, a criatividade para as soluções dos problemas. Nesse estilo, os líderes são voltados para as equipes e dão liberdade para trabalho. 2.2.2 Teoria dos Traços A teoria dos traços presume que os líderes possuem traços que os diferenciam dos seus liderados. Alguns teóricos tentam associar três traços às qualidades de liderança: a) Traços físicos: aparência, altura, peso etc.; b) Traços mentais: inteligência, raciocínio lógico, capacidade de comunicação etc.; c) Traços psicológicos: autoconfiança, controle emocional, extroversão, sociabilidade; Entretanto, por mais atraentes que sejam os traços físicos e mentais, todo o ser humano está sujeito às oscilações de emoções: frustrações, tensões e outros conflitos. Um dos instrumentos que podem ajudar na administração de conflitos internos é o domínio da Inteligência Emocional, que é saber lidar consigo e com os outros. Esse tema será abordado no módulo II. 2.2.3 Teoria das Lideranças Situacionais ou Contingenciais Essas teorias defendem que a eficácia do líder depende de diferentes situações, dando ênfase à interação entre líder e liderado. Esta teoria pretende explicar como a situação na qual o líder se encontra tende a influenciar o uso eficaz de seu estilo de liderança. Um exemplo a ser citado é Martin Luther King, só se tornou líder no momento em que deixou o púlpito de sua igreja e se engajou na causa da discriminação contra os negros nos EUA. Isso aconteceu porque uma mulher negra se negou a dar o seu lugar para uma mulher branca em um ônibus, essa negação levou à mulher negra à prisão e levantou uma onda de protestos contra essas atitudes racistase King entrou nesta luta para defender os direitos dos negros. Não usou a força, nem a violência, mas teve um resultado fantástico naquela situação com o discurso: “Eu tenho um sonho... A partir deste exemplo, podemos dizer que grandes 14 fatores que determinam quem, onde e por quanto tempo lideram, dependem da medida em que os líderes se engajam em situações específicas”. As teorias situacionais e contingenciais também são orientadas para pessoas e tarefas. Baseadas nessas orientações Fiedler apud Alaby (2006) desenvolveu três características: a) Os valores relacionais com líderes e liderados: amor, amizade, lealdade, cooperação; b) Autoridade e poder de líderes na administração de recompensas e punições; c) A definição dos líderes em relação à clareza de missão, objetivos e tarefas. 2.2.4 Teorias das Lideranças Transacionais Essas teorias estudam o intercâmbio de influência entre líderes e liderados, valorizando o papel do liderado no fortalecimento do líder e de seu vínculo com a equipe. Nessa teoria, a legitimação da liderança é um processo de troca social, ou seja, os membros das equipes trocam sua competência e lealdade por recompensas que vão desde aspectos físicos, como salário e proteção, até recompensas menos tangíveis como: status, honra e reconhecimento. A ideia básica é: quanto mais positiva for essa “barganha” de valores, maior a satisfação, o desempenho e a identificação dos liderados com os objetivos da organização, instituição. 2.2.5 Teoria da Liderança Transformadora A liderança transformadora também envolve relações entre líderes e liderados, mas ambos são elevados a um nível superior de moralidade e motivação, como resultado dessa interação. O poder da liderança transformadora é exercido em função da solidariedade e consenso mútuos, visando a finalidades comuns. O efeito desta liderança transforma líderes e liderados. São exemplos: Mandela, Luther King, Gandhi, alguns consideram Madre Tereza. 15 Podemos citar exemplos mais atuais, como os criadores da CUFA, como MV Bill. FIGURA 3 – MARTIN LUTHER KING FONTE: Disponível em: <http://www.writespirit.net/inspirational_talks/political/martin_luther_king_talks>. Acesso em: 19 abr. 2013. 2.2.6 Teoria da Liderança Servidora A respeito desta liderança iremos aprofundar o tema no Módulo II, pois essa teoria é base deste curso e, portanto, merece todo o cuidado e riqueza de informações. Por hora, a teoria da liderança servidora constitui a quebra das tradicionais formas de liderança, contrapõe-se ao chefe tradicional e dá enfoque ao líder servo, que é aquele que está mais empenhado em proporcionar o bem-estar da equipe e dos liderados do que em conquistar seu próprio sucesso e projeção social. Essa teoria desafia as formas de liderança tradicionais, quebra o mito de hierarquia intocável, enfatiza o aprendizado com os erros, busca opiniões e experiências em todos os níveis (sejam em empresas, instituições ou grupos sociais), desmistifica os segredos dos altos escalões, distribui as informações, antes restritas a um grupo, com finalidade de que todos sintam que são parte do mesmo time e lutando pelo bem comum. (MARINHO, 2006). No módulo II iremos abordar sobre os pilares da liderança servidora. Martin Luter King em um dos seus discursos, exemplo de liderança situacional e transformadora. 16 3 ATRIBUTOS DE UM LÍDER Todas as pessoas querem ser líderes, isso pode ser explicado da seguinte forma: a visão de liderança é muito simplória para algumas pessoas, porque para alguns ser líder é ser bom em algo. Porém liderança é muito mais do que dominar algum conhecimento e é neste ponto que muitas organizações erram na escolha de seus líderes: nem sempre o melhor vendedor será o melhor gerente, nem sempre o melhor atendente será o melhor supervisor, nem sempre o melhor redator será o melhor palestrante, nem sempre o melhor organizador de recursos será o melhor para arrecadá-los. FIGURA 4 – LÍDER FONTE: Disponível em: http://www.brighthub.com/office/human-resources/articles/92553.aspx Acesso em: 19 abr. 2013. Liderança, como diz Blanchard, “não é o que se faz para as pessoas. É algo que se faz com as pessoas.” Mas, afinal, do que são feitos os líderes? Há características que podem indicar que um indivíduo é um potencial líder? Para essas perguntas existem algumas afirmações, como iremos abordar a seguir. 17 Sabemos que o líder é aquele capaz de influenciar pessoas. A influência nada mais é do que a capacidade de persuadir. Para Oliveira (2006), há seis regras que contribuem na forma de persuadir: 1. As pessoas se convencem pelas razões delas e não pelas nossas. Em vez de colocar as nossas razões, o caminho ideal é entender as motivações dos outros. 2. Uma boa persuasão não pode ser sustentada com improviso. Planejamento, preparação são imprescindíveis. 3. Arrogância, prepotência e ego exaltado são fatores que impactam negativamente na persuasão. Simplicidade, discrição, objetividade são elementos que contribuem para a persuasão. 4. Incentivar as pessoas a participar do fechamento das ideias e projetos fortalece o poder da persuasão. Incluir as sugestões de outros no projeto permite que todos se sintam pais da criança. 5. Ter boas coisas a oferecer. Persuadir os outros a aceitar projetos e ideias ruins é possível, mas compromete a carreira. A enrolação volta para o próprio autor. 6. Humildade para pedir ajuda. Tentar fazer tudo sozinho não é bom, o que se deve ter atenção é que não se pode perder o leme do navio só por que pediu ajuda. Para Rudolph Giuliani, ex-prefeito de Nova York, em sua palestra “Liderança de Alto Impacto”, existem seis princípios para a formação de um líder (OLIVEIRA, 2006, p. 16-17): 1) Crença na suas ideias – é fundamental o líder saber e ter confiança nas suas próprias ideias, pois as pessoas são lideradas justamente por meio delas, desses princípios. Exemplo: quando Rudolph trabalhava com Ronald Reagan pôde testemunhar a força de um líder. Reagan tinha opiniões e as defendia, independentemente de gostarem ou não delas. Para ele o comunismo era perigoso e o aparelho do Estado era grande. Reagan defendeu as suas ideias até o fim. Um líder tem olhar para o futuro e ser capaz de resistir a certo grau de impopularidade. Hoje é reconhecido como o melhor presidente após Roosevelt. 18 2) Otimismo – Manter uma atitude otimista e confiante mesmo nas situações mais problemáticas é o que ensina Rudolph Giuliani. Por otimista não se deve entender como “alguém bobo”, alheio aos fatos, mas, sim, alguém que observa o problema e tenta resolvê-lo. As pessoas seguem esperança, seguem sonhos, ou seguem as pessoas que oferecem soluções para seus problemas. Rudolph ressalva que existem líderes que oferecem soluções ética e moralmente questionáveis, como exemplo Hitler. 3) Coragem – O sentimento da coragem é muito mal compreendido, alguns acreditam que coragem é ausência de medo. Coragem é a capacidade de administrar o medo. 4) Treinamento – Para controlar e superar o medo é necessário muito treinamento, preparar-se sem descanso. Quando um líder treina exaustivamente se sai melhor do que o que não treina. Dessa forma, por meio da prática é possível antecipar o que vai acontecer. 5) Trabalho em equipe – Comunicar-se – Líderes que estão no comando precisam ser lembrados disso. De tal modo, é necessário que um líder saiba quais são suas fraquezas, saiba aquilo que não faz bem para justamente poder encontrar pessoas que equilibrem essa deficiência. Assim,poder chegar ao equilíbrio entre força e fraqueza é fator tão importante, seja em exércitos, em uma pequena, médio ou grande corporação. 6) Comunicar-se – Para ser um líder suas ideias e princípios precisam entrar na mente e no coração das pessoas. A maneira de se atingir tal objetivo é conversar com as pessoas, é se comunicar. Em um artigo publicado na internet por Mariana Rodrigues, ela cita Luiz Almeida Martins Filho, presidente da Anthropos Consulting e da Anthropos Motivation & Success, que diz que um líder possui 12 atributos. São eles: 1. Disposição para tentar o que não foi tentado antes: Nenhum empregado deseja ser guiado por um profissional a quem falte coragem e autoconfiança. É o estilo de liderança 19 positiva aquele de quem ousa nas tarefas e se vale de oportunidades não tentadas anteriormente. Um gerente de vendas bem-sucedido irá às ruas e venderá junto com seus vendedores quando o mercado está difícil ou quando o pessoal de vendas encontrar-se sob extrema pressão. Tal gerente sabe que se arrisca a tornar-se impopular. Contudo, ao liderar pelo exemplo, manterá a motivação da equipe. 2. Automotivação: O profissional que não consegue se automotivar não tem a menor chance de ser capaz de motivar os outros, afinal, ele deve ser seguido pelos seus liderados e ninguém gosta de seguir um profissional que não seja motivado. Somente um líder motivado consegue motivar seus seguidores. 3. Percepção aguda do que é justo: Esta é uma grande qualidade de um líder eficaz e, a fim de ter o respeito da equipe, o profissional deve ser sensível ao que é direito e justo. O estilo de liderança segundo o qual todos são tratados de forma justa e igual sempre cria uma sensação de segurança. Isso é extremamente construtivo e um grande fator de nivelamento. 4. Planos definidos: O líder motivador sempre tem objetivos claros e definidos e planejou a realização de seus objetivos. Ele planeja o trabalho e depois trabalha o seu plano com a participação de seus subordinados. 5. Perseverança nas decisões: O profissional que vacila no processo decisório mostra que não está certo de si mesmo, ao passo que um líder eficaz decide depois de ter feito suficientes considerações preliminares sobre o problema. Ele considera mesmo a possibilidade de a decisão que está sendo tomada vir a se revelar errada. Muitas pessoas tomam decisões erradas algumas vezes. Entretanto, isso não diminui o respeito que os seguidores têm por elas. Sejamos realistas: um profissional pode tomar decisões certas, mas um líder eficaz decide e mostra sua convicção e crença na decisão ao manter-se fiel a ela, sabendo, no entanto, reconhecer quando erra. Assim, seu pessoal tem força para sustentar aquela decisão junto com o líder. 6. Proatividade: Um dos ônus da liderança é a disposição para fazer mais do que é exigido do pessoal. O gerente que chega antes dos empregados e que deixa o serviço depois deles é um exemplo desse atributo de liderança. 7. Personalidade positiva: As pessoas respeitam tal qualidade. Ela inspira confiança e também constrói e mantém uma equipe com entusiasmo. A personalidade de um líder pode trazer grandes e vigorosas reações, tanto positivas quanto negativas, de seus 20 seguidores. Portanto, uma personalidade positiva é essencial. 8. Empatia: O líder de sucesso deve possuir a capacidade de colocar-se no lugar de seu pessoal, de ser capaz de ver o mundo pelo lado das outras pessoas. Ele não precisa concordar com essa visão, mas deve ser capaz de entender como as pessoas se sentem e compreender seus pontos de vista. 9. Domínio dos detalhes: O líder bem-sucedido entende e executa cada detalhe do seu trabalho e, é evidente, dispõe de conhecimento e habilidade para dominar as responsabilidades inerentes à sua posição. 10. Disposição para assumir plenas responsabilidades: Outro ônus da liderança é assumir responsabilidade pelos erros de seus seguidores. Caso um subalterno cometa um erro, talvez por incompetência, o líder deve considerar que foi ele quem falhou. Se o líder tentar mudar a direção dessa responsabilidade, não continuará liderando e dará insegurança a seus seguidores. O clichê do líder é: “A responsabilidade é minha”. 11. Duplicação/Backup: O líder de sucesso está sempre procurando maneiras de espelhar suas habilidades em outras pessoas. Assim, ele faz os outros evoluírem e é capaz de “estar em muitos lugares diferentes ao mesmo tempo”. Talvez esse seja um dos maiores atributos de um líder: ser capaz de desenvolver outros líderes. Pode-se julgar um líder pelo número de pessoas em que ele refletiu os seus talentos e fez evoluir. 12. Acreditar veemente em seus princípios: A expressão “A menos que batalhemos por alguma causa, nos deixaremos levar por qualquer causa” resume bem a importância de se ter uma causa pela qual valha a pena viver e trabalhar. Nada cuja aquisição tenha valor é muito fácil. O líder de sucesso tem a determinação de atingir objetivos não importando os obstáculos que surjam pelo caminho. Ele acredita no que está fazendo com a determinação de batalhar por sua realização. Para Jack Welch (2005), considerado um dos grandes líderes da atualidade, o líder é o resultado do que ele faz e sua competência de liderar é medida por suas atitudes. Para ele não importa necessariamente o lugar e o momento que vivencia, mas a forma como se trabalha as oito regras, que são: 21 Regra 1 – Os líderes são incansáveis em melhorar a equipe, usando todos os encontros como oportunidades para avaliar, treinar e reforçar a autoconfiança. Welch afirma que não há mágica, times com bom jogadores vencem por regra. O líder deve então investir quase todo o seu tempo e energia em três atividades: Avaliar: certificando-se de que as pessoas certas estão nas funções certas, apoiando e promovendo as que estão e afastando as que não estão. Treinar: orientando, criticando e ajudando cada um a melhorar seu desempenho sob todos os aspectos. Construir a autoconfiança: derramando encorajamento, solicitude e reconhecimento. O desenvolvimento de pessoas deve ser uma tarefa diária, integrada em todos os aspectos do cotidiano. Para Welch todo encontro deve ser aproveitado para o desenvolvimento das pessoas. Ele cita que uma visita a clientes serve para avaliar a força de vendas, o passeio pela empresa serve para conhecer novos gerentes e a linha de produção, o intervalo para o café deve ser a oportunidade para treinar um colaborador em uma apresentação de resultados. Todo o treinamento deve ser direcionado para o reforço da autoconfiança, essa é a tarefa mais importante do líder. Deve usar em abundância os elogios e quanto mais específicos, maiores serão os seus impactos. Regra 2 – Os líderes se empenham para que as pessoas não só compreendam a visão, mas também para que a vivenciam e a respirem. A primeira coisa que precisamos entender é o que é a visão da empresa, do grupo. Aproveite todas as oportunidades para injetar autoconfiança em quem merece. Abuse dos elogios, quanto mais específicos, melhor. (Welch, 2005). 22 Entretanto, para entender a visão temos que conhecer a missão, simplificando: Missão é a razão de ser do grupo, é o motivo da existência. Visão é aonde o grupo quer chegar, não chega a ser o objetivo, mas é o ponto de referência, no qual todos devem estar com seu olhar direcionado a alcançar. A missão da Disney é “tornar as pessoas felizes”. Quem já foi ao parque pode observar que os funcionários vivem isso, a forma com que os serviços são prestados demonstra claramente que as pessoas vivenciam e respiram estamissão. A visão é o caminho. Todo membro de uma equipe deve saber responder a seguinte pergunta: para onde estou indo? Ainda citando a Disney, sua visão é “Criar um Mundo onde todos possam se sentir criança”. Sabe-se que, ao entrar no parque e dar de frente com o castelo, é como se entrássemos em um conto de fadas, é como se sentíssemos a mesma euforia dos tempos de criança. Welch (2005, p.) reforça: A visão é um elemento essencial no trabalho do líder. Mas nenhuma visão vale o papel em que está impressa se não for comunicada de maneira constante e se não for reforçada por meio de recompensas. Apenas nessas circunstâncias ela saltará da página – e ganhará vida. Já para Blanchard (2009), “Visão é saber quem você é, para aonde está indo e o que orientará sua jornada. É muito mais do que simplesmente pôr uma placa na parede. Uma visão real é vivida e não emoldurada.” 23 Regra 3 – Os líderes se põem no lugar de todos, transpirando energia positiva e otimismo. Há pouco tempo, em um curso sobre feedback, uma situação me pareceu bastante interessante. Em um dos exemplos um treinando afirmou que o gerente dele sempre esbravejava quando os resultados não eram bons, ameaçava e ficava o tempo todo mal humorado. E que por essas atitudes as pessoas ficavam infelizes e mal humoradas também, o clima era horrível. O trabalho do líder é contagiante, não importa o momento, o otimismo precisa prevalecer. Parece utopia, mas do que adiantará ameaça quando as coisas estão ruins? A atitude do líder em momentos difíceis é combater a força do negativismo, exibir uma atitude energizante e corajosa quanto à capacidade de superar dificuldades. É buscar entender o que os outros estão sentindo, enquanto tentam resolver o problema juntos. (WELCH, 2005). Regra 4 – Os líderes angariam confiança com franqueza, transparência e reconhecendo os méritos alheios. Para algumas pessoas ser líder é um verdadeiro exercício do poder (o poder demonizado), curtem o sentimento de controle sobre pessoas e informações. Assim, centralizam informações para dar a impressão de que são muito privilegiados, não informam o que pensam sobre as pessoas e seu desempenho e ocultam o que sabem sobre a empresa e seu futuro. Com certeza, um líder com essas características será um chefe, mas nunca receberá da sua A visão deve ser algo entendido por todos, todos devem estar direcionados para o mesmo alvo. (Welch, 2005). 24 equipe a confiança. Qual o relacionamento que pode funcionar sem a confiança como base? Ser um líder confiável é ser transparente, simples e cumpridor do que promete. Para qualquer pessoa vale esta regra, para um líder é seu instrumento de trabalho. Os líderes devem clarificar aos seus subordinados quais são os seus resultados e desempenho, precisam informar como está a empresa – mesmo quando as coisas estão ruins –, necessitam informar quando atitudes drásticas serão tomadas: cortes em massa, transferência de setores, encerramento de atividades de um setor, fusões, aquisições. Mesmo que as mensagens sejam difíceis, o papel do líder é informar, não atenuando a situação, mas com “maciez” trazer às claras os fatos. Se a notícia for dada de forma rígida, a energia das pessoas será minada juntamente com a confiança no líder. O papel do líder é informar que mesmo em um momento de tempestade serão feitos esforços para chegar a um lugar seguro, ou melhor, previsível. Um dos elementos primordiais para o fortalecimento da confiança é o reconhecimento dos méritos. Welch faz um gancho com relação a essa regra: Líderes nunca tapeiam seu próprio pessoal, roubando uma ideia e dizendo que ela é sua. Nenhum líder terá sucesso em sua carreira tendo distorções de caráter e viver sobre pilares de mentiras. Pode até permanecer como chefe, com o tempo ele mesmo cavará sua cova. As empresas gostam de ambiciosos, mas não toleram egoístas e parlapatões, porque esses indivíduos não têm capacidade de fazer sua equipe prosperar. Quanto um time está ruim, quem é o primeiro a sair? O técnico! “Não existem pelotões fracos, existem líderes fracos”. (General William Creech) Regra 5 – Os líderes têm coragem para tomar decisões impopulares e agir com base no instinto. Essa regra faz lembrar uma situação ocorrida em uma capital brasileira. Há nesta cidade uma feira com mais de 80 anos de tradição. Desses, por 40 anos ela funcionou em um lugar totalmente sem estrutura. Não havia estacionamento, as barracas eram feitas de lona, quando chovia os clientes tinham que se virar para não se encharcar completamente. O prefeito então resolveu criar uma estrutura na antiga estação ferroviária da cidade. 25 Não foram poucas as manifestações contra essa ideia. O argumento mais ouvido era: “Já estamos há 40 anos neste lugar, os clientes não irão até a estação ferroviária, iremos perder clientela e nossa tradição”. Em meio à impopularidade desta ideia, o prefeito deu continuidade ao seu projeto, o resultado hoje é fantástico. O local possui uma estrutura agradável, não há problemas quando chove e ainda a feira virou um ponto turístico. Se perguntar para qualquer um dos feirantes se eles querem voltar para o antigo local, com certeza iremos ouvir um coro: NÃO! Não é fácil mudar, mas como diz Blanchard, “eu jamais vi um caminhão de mudança atrelado a um carro fúnebre”. Pode-se entender que em alguns momentos os líderes precisam tomar decisões difíceis, que nem sempre resultarão em final feliz, como o caso da feira que citamos, mesmo assim elas precisam ser tomadas. Welch é enfático: “Você não é líder para ganhar um concurso de popularidade, você é líder para liderar”. A regra cinco fala sobre “confiar nos instintos”, muito se diz sobre os mistérios daquela “vozinha” que influencia na tomada de decisões. Há situações em que os dados técnicos indicam que aquela decisão tem tudo para dar certo, mas alguma coisa dentro de você não está confortável, uma sensação estranha no estômago. Nesse caso, acredite em seus instintos, aquela voz não costuma mentir. A não ser que, em todas as tomadas de decisão você de sinta desconfortável, igualmente, estamos diante de uma pessoa insegura e não de uma pessoa que confia nos seus instintos. Regra 6 – Os líderes questionam e instigam por meio de uma curiosidade constante, que se aproxima do ceticismo, esforçando-se para que suas perguntas sejam respondidas com ação. Sobre esta regra Welch declara que o líder tem como tarefa fazer todos os tipos de perguntas, mesmo que as perguntas pareçam ter vindo da pessoa mais “burra”. O líder não deve se sentir intimidado em perguntar, interromper e instigar os seus subordinados a respondem a questões: E se...? Por que não? E por que é assim? Os questionamentos devem servir para que os subordinados repensem cada processo e porque tomaram a decisão de um jeito e se não poderia ter escolhido outra forma. Atenção: questionar somente não é suficiente, é preciso certificar-se de que as perguntas provocam debates e levantam temas que exigem ação. A lógica desta regra é: “Você quer soluções maiores e melhores. Perguntas inteligentes, debates produtivos, decisões 26 fundamentadas e ações oportunas pipocarão em todos os lugares”. Regra 7 - Os líderes inspiram a assunção de riscos e o aprendizado constante, dando exemplo. Muito se ouve falar em riscos e aprendizados, mas são palavras, discursos. Muitos líderes insistem que seu pessoal se arrisque mais, mas quando algo dá errado, são os primeiros a criticar e desaprovar. O gerente mesmo fica em sua poltrona confortável, vendo o seu pessoal “pular na chapaquente”. O líder deve dar o exemplo, deve aceitar correr riscos, admitir abertamente seus erros e salientar o que aprendeu com seus erros, ser líder não é indicativo de que seja uma fonte de todos os conhecimentos. Ao assumir um erro não se deve manter uma postura de “culpado”, “coitadinho” e ter “autopiedade”. Assumir uma postura é dizer às pessoas que errar é o fim do mundo. Se a situação permitir, faça uso bem-humorado da situação, para que as pessoas sintam que errar não é a morte, o maior pecados de todos. Quanto ao aprendizado, viva intensamente. Os líderes devem aprender com os outros. Alguns líderes têm medo de assumir que o seu subordinado teve uma ideia muito superior a sua e ao invés de aproveitar para aprender e tirar proveito disso para o bem do grupo acaba tolhendo isto. Mesmo que os subordinados sejam mais inteligentes do que o líder, não significa que não seja capaz de liderá-los. Regra 8 – Os líderes comemoram Comemorar, mas não com recompensas, viagens, prêmios, bonificações e nem festas formais da empresa. O comemorar aqui significa vibrar a cada conquista, pois as comemorações Ser chefe não significa ser a fonte de todo o conhecimento. Aceitar os riscos e assumir erros é dar exemplo. (Welch, 2005). 27 fazem com que as pessoas se sintam vencedoras e criam uma atmosfera de reconhecimento do mérito e da energia positiva. Você imagine o Brasil vencer a Copa, não festejar e alguém dizer: “Não fez mais que a obrigação, era o trabalho da equipe conquistar este resultado”. Nas empresas e em alguns grupos, não se comemoram grandes feitos, geralmente passa “batido”. Welch (2009, p.) finaliza de forma brilhante: Não existe nenhuma fórmula fácil para ser líder. Antes houvesse! A liderança é desafiadora – todo este espetáculo de equilíbrio diário, todas as atribuições, todas as pressões. No entanto, há realidade – e ela se manifesta em todos os tipos de embalagens. Existem líderes discretos e bombásticos. Líderes analíticos e impulsivos. Alguns são duros com as equipes, outros são solidários. À primeira vista, seria difícil identificar as qualidades em comum desses líderes. Entretanto, aprofundando-se um pouco mais, logo se vê que todos cuidam apaixonadamente de seu pessoal – todos zelam pelo crescimento e sucesso de cada membro da equipe. E também se percebe que eles próprios estão de bem consigo. São autênticos, transbordam franqueza e integridade, otimismo e humanidade. Conforme observamos, não há uma receita mágica para se formar um líder, mas todos nós temos a essência da liderança. Anteriormente citamos Drucker, que assevera que a liderança é uma habilidade que deve ser buscada, adquirida, desenvolvida. Abaixo segue um texto simples e bem humorado de Max Gehriger sobre a essência da liderança: A essência do líder Todos nós já ouvimos a expressão “nesta vida há líderes e há seguidores”. Creio que todos concordam que há mais seguidores do que líderes, porque um líder tem mais que um seguidor. É claro que todo seguidor tem a ambição de se tornar líder. A pergunta é: o que se deve fazer para isso acontecer? A resposta é tão simples que parece ser complexa. Liderança nada mais é do que a capacidade de influenciar um grupo. Um líder tem ambição, energia, vontade de liderar, autoconfiança e conhecimento. Coisas que a maioria das pessoas acha que têm e têm mesmo. Cada um de nós é um líder em potencial. A parte difícil é saber como passar da teoria à prática. Conheço uma empresa que soube como demonstrar isso com criativa simplicidade. Levou seus funcionários à beira de um rio com correnteza forte e colocou cinco funcionários, escolhidos ao acaso, dentro de um barco. Cada um ganhou um remo e o barco foi solto na correnteza. O objetivo era levar o 28 barco até a linha de chegada, 100 metros adiante. A primeira reação foi de pânico, mas não demorou nem 10 segundos para que um dos cinco começasse a orientar os outros quatro, coordenando o ritmo das remadas e cuidando para que o barco não atolasse na margem do rio. Esse era o líder? Sem dúvida. Quando o barco atingiu a linha de chegada, a empresa tirou do barco o líder e fez os quatro seguidores voltarem ao barco de partida. Soltou o barco novamente no rio. Veio a surpresa: um dos quatro imediatamente assumiu a posição de líder. O barco chegou de novo a seu destino. Em seguida, saiu do barco o segundo líder e ficaram os três seguidores. O barco fez o percurso novamente, sem afundar, porque um dos três liderou os outros dois. Liderança, o exercício mostrou, todos ali tinham. A lição é simples: quando a situação aperta, o líder sempre aparece. Enquanto a maioria fica pensando no que precisa aprender para ser tornar líder, uns poucos saem liderando. Na teoria, todos somos líderes, na prática, o líder é quem aproveita antes a oportunidade de ser líder. (GEHRINGER, 2008, p. 54-55). 4 COMUNICAÇÃO E LIDERANÇA Se o líder é aquele que tem a capacidade de influenciar pessoas, como fazer isso sem a comunicação? Nesse sentido, o papel do líder é criar oportunidades para as pessoas e encorajá-las a perseguir novos objetivos, novas perspectivas, enfrentar desafios, mobilizar as pessoas para que elas saiam da zona de conforto, proporcionar acesso a um leque de projetos, estimular a criatividade. Enfim, fornecer elementos que permitam que as pessoas naveguem em mares nunca antes navegados. O líder tem como premissa livrar a si e a seus seguidores do pensamento de elefante. O que é isso? Vamos explicar: quando um treinador começa adestrar um elefante para o circo, acorrenta o animal a uma estaca no chão. O filhote de elefante tenta soltar, puxar, mas não consegue escapar... a corrente é grande demais e a estaca está bem fincada. Ele desiste de andar. À medida que vai crescendo, simplesmente presume que não consegue se soltar. O elefante torna-se um adulto e com seis toneladas. Tem todo o poder de arrancar a corrente e se soltar, mas não o faz, não ousa tentar. Os treinadores de circo dizem que é possível amarrar um barbante em volta da perna deste elefante adulto, com seis toneladas, sem 29 que ele tente se soltar. Moral da história: trata-se de uma limitação presumida, é uma crença, com base em experiências anteriores, que reprime experiências atuais e futuras. (BLANCHARD, 2009. p. 48-49). O líder necessita da capacidade de tirar as pessoas do pensamento de elefante, de que não adianta tentar porque tudo “é assim mesmo”, nada pode mudar. Outra nomenclatura que se dá a este comportamento é Síndrome da Gabriela, que é uma referencia à música “Gabriela: Eu nasci assim, eu cresci assim e sou mesmo assim. Vou ser sempre assim Gabriela...” Mas como o líder pode fazer isso? Utilizando a ferramenta da comunicação. Segundo Moura (2006), “a comunicação é uma poderosa ferramenta de liderança que facilita a tomada de decisão, aprimora os processos do trabalho, estimula, desenvolve e valoriza os colaboradores”. A comunicação da liderança é um encontro com a verdade. É necessário que haja um entrosamento entre o diálogo interior com o diálogo exterior, isso significa que há espontaneidade. Ainda afirma: As pessoas precisam de estímulos motivacionais. Como conseguir isso sem estar frente a frente com elas? As reuniões com os grupos de trabalho servem como instrumento balizador desse processo comunicacional, porém a melhor reunião é aquela que acontece quando a oficial acaba. (MOURA, 2006, p.). Ou seja, trocar impressões com o líder do grupo, ter atenção ao ouvi-lo e ter a percepção de como ele (o líder) e o grupo estão sentindo diante dosdesafios, das situações. Nesse sentido, promover a inclusão e enfatizar a importância de todos no processo. Tudo isso só pode ocorrer desde que haja comunicação interpessoal, que é o mesmo que relação interpessoal. É neste momento de trocas que é possível buscar o comprometimento, observar os pontos de melhoria e apontar o que se espera de cada um. Se o clima for de confiança, é a oportunidade em que as pessoas podem abrir com o seu superior o que elas pensam e expor suas desconfianças e, aliados a isso, o partilhar de expectativas também ocorre e 30 consequentemente, ajustes e novas sugestões poderão ser explicitados e desenhados para que todos possam atingir o máximo de entendimento. Moura define a comunicação de três formas: Comunicação interpessoal é uma competência que tem sido requerida dos líderes independente do tipo de instituição e cargo, pois é o instrumento que possibilita a eficácia da gestão participativa, liderança e trabalho em equipe. A comunicação também diz respeito à atenção às necessidades de contato pessoal e às diferentes formas de coordenar a atividade de pesquisa – por meio de trabalho individual, grupal e das dinâmicas de grupo. A preocupação com a comunicação interpessoal deve estar linkada com a capacidade de falar em público, explanar ideias de forma clara e coesa, para isso é necessário o uso de técnicas e exige preparo e desenvolvimento. Também deve ser incluso no processo de comunicação a imagem e postura: uma pessoa se comunica com a roupa que usa, pelo aperto de mão, pela expressão corporal, pela expressão fisionômica, por saber ouvir, pela forma como faz críticas e outras situações. Estive presente em um processo seletivo para supervisores em uma multinacional. Nas atividades de dinâmica de grupo me surpreendi com a postura da coordenadora de recrutamento e seleção da empresa em questão. A cada apresentação, a coordenadora fazia caras e bocas que, do meu ponto de vista, eram constrangedoras. Os candidatos, que estavam o tempo todo atentos ao processo, também se sentiam desconfortáveis com “aquilo”. Alguém poderia entender que “aquilo” poderia fazer parte do processo, mas não era. Era a expressão clara de que a coordenadora estava se mostrando de uma forma não confiável por intermédio daqueles gestos. Uma condição comprometedora, uma vez que como coordenadora dita “líder”, transmitia uma imagem de imatura e mal educada. Apesar de ser consenso afirmar que a comunicação é a grande responsável pelo sucesso ou fracasso nos relacionamentos, ter habilidade neste quesito não é fácil. Poucas pessoas atingiram níveis elevados nesta capacidade e esses poucos conseguiram, com certeza, 31 grandes feitos, apenas para citar um: Barack Obama. Como explicar que um negro mulçumano conseguiu ser eleito como o presidente dos EUA, um país com forte atitude racista e que mantém relações conflitáveis e de tensão com mulçumanos? A resposta: por meio do poder de comunicação Obama conseguiu convencer as pessoas de que ele era a pessoa certa, o candidato que estava pronto para liderar a grande mudança na vida dos americanos. Mas, quais são os principais bloqueadores do processo de comunicação eficaz? Moura (2006) aponta quatro níveis de análise que contextualizam os problemas de comunicação (MOURA, 2006, p. 132): Níveis de análise que contextualizam os problemas de comunicação Nível Intrapessoal Estuda basicamente o comportamento do indivíduo, suas habilidades e atitudes. Nível Interpessoal Estuda as variáveis internas de cada comunicador, as relações existentes entre as pessoas envolvidas, suas intenções e expectativas ante as outras. Nível Grupal (Dimensão da comunicação social). Dimensões do grupo, frequência, tempo de conhecimento e de trabalho, participação em decisões, centralismo grupal, coesão, saliência, clareza da norma grupal e homogeneidade. Nível Tecnológico A preocupação dirige-se ao equipamento, aos programas formais que geram, armazenam, processam, traduzem e distribuem dados. 32 O quadro anterior demonstra claramente que o nível de comunicação desenvolve-se de forma paralela no ambiente, porém por meios diferentes. Caso seja complicado que as organizações criem um modelo de comunicação de forma integrada, pois os diversos níveis demandam linguagens diferentes, o desafio é maior em liderar pessoas em um ambiente que recebe muitas informações ao mesmo tempo, ao passo que nem todas as informações podem ser aproveitadas, nem todas têm valor prático e as informações necessárias para a tomada de decisões não chegam a tempo hábil, em função da dificuldade de sinergia entre as áreas afins. Promover um ambiente em que a comunicação interpessoal flua de forma homogênea é o grande desafio para os líderes. Moura (2006, p. 132) afirma: O sucesso da comunicação interpessoal está em praticar a empatia e a valorização do ser humano; gerar desafios individuais e coletivos; trabalhar com a motivação psicológica; fornecer feedback em termos de comunicação, o que implica gestos, postura, olhar e entonação de voz. Para isso, Moura (2006) ainda sugere que a linguagem pessoal deve ser clara e objetiva, pois dessa forma favorece o recebimento da mensagem sem distorções. Para que isso ocorra algumas considerações devem ser feitas: Percepção: Como a percepção é um processo pelo qual os indivíduos selecionam, organizam e interpretam suas impressões sensoriais (de acordo suas experiências e valores), de maneira a dar um significado ao mundo. Essa variável deve ser bem trabalhada para evitar que as pessoas entendam de forma distorcida os fatos. Para isso, quanto mais clara a informação, menores serão as chances de interpretações diversas. Persuasão: É a qualidade de elaborar uma argumentação convincente e direcionada, que estimula o ouvinte a tomar uma decisão, fazer uma escolha. Nesse quesito, o improviso pode ser uma armadilha, por isso a definição da mensagem deve ser feita, estruturada nos objetivos. Organização: Se você já esteve em uma reunião em que um dos membros tentou 33 transmitir algumas ideias, mas estas estavam tão mal organizadas, que despertou uma sensação de desconforto incontrolável, bem-vindo ao time. Quase todas as pessoas já passaram por isso. O líder deve organizar o grupo de ideias e ordená-las por prioridades, por ordem de importância para que os resultados da comunicação sejam atingidos. A não organização pode levar ao insucesso da comunicação porque detalhes importantes foram esquecidos. Sonegar informação: uma das falhas mais preponderantes para a comunicação é sonegar, omitir informações. Em uma época em que mudanças acontecem todo momento, qualquer rumor não esclarecido devidamente, pode passar de pequena onda para um tsunami. Comentários negativos: quando as coisas não parecem muito favoráveis, as pessoas têm necessidade de desabafar ou arrumar uma forma de se convencer que tudo ainda pode piorar. Quem já não ouviu: “Você está vendo isso? Daqui a pouco todo mundo vai ser demitido”. “Agora não tem mais jeito, todos estamos na rua da amargura”. Fazer este tipo de comentário não melhora o cenário e ainda faz com que se perca o foco no trabalho. Um líder precisa assumir o leme e ter a capacidade de dizer que a tempestade vai passar. Dono da razão: Alguns acreditam que, por estarem mais tempo na organização, porque conhecem as regras, discordam da uma opinião de forma enfática e incisiva. Mesmo que haja discordância, o que deve ser feito é agir com diplomacia. Discordar (ainda que com razão)não muda a opinião do outro e ainda gera uma barreira entre os “discordantes”. Ainda discorremos sobre a “arte de ouvir”, que é a parte mais difícil do processo, veremos com mais detalhes adiante nos próximos tópicos. Basicamente o processo de comunicação se estrutura em três elementos: emissor, canal e receptor. O processo de comunicação pode ter resultados ruins porque ao transmitir informações, todas as ideias na nossa cabeça estão claras, mas para o receptor tudo pode ser uma grande incógnita. As informações chegam de formas distorcidas ou ambíguas e podem gerar as mais diversificadas interpretações: 34 4.1 PROCESSO DE COMUNICAÇÃO – VISÃO SIMPLIFICADA FIGURA 5 – PROCESSO DE COMUNICAÇÃO FONTE: Arquivo pessoal. Alô Zé, puxa que pena que você foi despedido. A Amanda te esclareceu o porquê disso? Do que você está falando? Acabei de falar com a Amanda e ela me entregou alguns pedidos... RECEPTOR CANAL – VOZ Mensagem ineficaz, ruído de interpretação. EMISSOR Vou deixar para a Amanda a lista de pedidos do Zé! Nossa! A Amanda vai despedir o Zé????!! 35 Chiavenato aponta ainda que as barreiras de comunicação podem ser: barreiras humanas, físicas e semânticas. Barreiras O que é? Humanas Limitações pessoais, emoções, hábitos de ouvir, preocupações e motivações. Físicas Espaço físico, ruídos ambientais, distâncias, ocorrências locais. Semânticas Interpretação de palavras, significado de sinais, decodificação dos gestos. Não somente as barreiras são fatores que influenciam na efetividade da comunicação, ainda temos: a) Omissão: Ocorre quando certos aspectos ou partes da comunicação são omitidos, cancelados ou cortados, pelo emissor ou receptor, fazendo com que a mensagem não seja completa em significado. b) Distorção: quando a mensagem sofre alteração, distorção, afetando e modificando seu conteúdo original. c) Sobrecarga: Quando a quantidade de comunicação é superior ao que o destinatário pode processar. Moura (2006) sugere que para o desenvolvimento da comunicação, os líderes devem: I. Solicitar feedback do grau de comunicação e interação com cada membro da equipe; II. Fazer uma avaliação, por escrito, com seus colaboradores, perguntando quais 36 são os seus pontos positivos e quais os que eles acham que há oportunidade de melhoria; III. Questionar se estão satisfeitos com o estímulo do aprendizado? IV. Fazer uma autoavaliação para saber você se comunica abertamente, expressando seus sentimentos e emoções; V. Avaliar se consulta o grupo, pedindo a participação com sugestões e críticas, e as coloca em execução, ou só pergunta e então dita como deve ser feito? Essas informações nos clarificam que a comunicação é a tônica dos relacionamentos e o fator primordial no estudo das relações humanas. O indivíduo que consegue se comunicar tem eficácia em seus relacionamentos interpessoais e alcança melhores resultados. Quando a comunicação não é efetiva, torna-se então o ponto de partida para os maiores desentendimentos e conflitos e com isso a paralisação ou lentidão dos processos. 5 FEEDBACK E LIDERANÇA Todo mundo conhece uma pergunta clássica: foi bom para você? Mesmo que as pessoas não saibam, esta é uma forma de pedir uma avaliação sobre performance, é querer um retorno. De forma simplificada, feedback é o retorno. Poucas empresas ou relacionamentos têm consciência da importância desta ferramenta. E essa omissão pode levar à destruição das relações. O feedback oportuniza o aprimoramento, quando se tem a noção do que as pessoas percebem sobre seus comportamentos, a pessoa tem a oportunidade de melhorar, de crescer e de se desenvolver. Por outro lado, a omissão pode ser entendida com indiferença, com sentimentos de pouca importância e isso pode florescer comportamentos de apatia, porque as pessoas afetadas por esta omissão podem concluir que nada que façam faz diferença. É um instrumento que, usado de forma correta, promove o fortalecimento das relações, por isso vamos apresentar quais são os princípios básicos do feedback, os tipos de feedback e suas implicâncias no contexto das relações. Se a principal ferramenta do líder é a comunicação porque feedback ainda é visto apenas como um instrumento “puxador de orelha”. Observe o 37 caso abaixo: CASO Rute sempre foi aplicada, comprometida com seus resultados, era sempre a número um e a equipe podia contar com ela para tudo. Todo mundo a chamava de “pau-para-toda-obra”. E era mesmo. Lauro era seu chefe, ele reconhecia o trabalho de Rute, só que nunca a chamava para uma conversa, ou demonstrava que o trabalho dela era importantíssimo. Lauro acreditava que Rute era o tipo de funcionário que “funcionava” sozinho. Ninguém precisa mandá-la fazer nada. Rute fazia tudo com esmero louvável. Mas, de repente, os resultados de Rute começaram a cair, parecia desmotivada, não demonstrava tanta aplicação e alguns momentos não fazia o mínimo. O gráfico de produtividade de Rute declinou abruptamente. Lauro ficou enfurecido com a situação e mandou chamá-la em sua sala: - Rute, aqui está o seu gráfico. Sua produção está declinando o tempo todo. Eu gostaria de dizer a você que retome seu antigo padrão, pois a empresa não vai bancar você por muito tempo. Ou você melhora, ou está fora. Não queremos estar entre os piores. Por favor, retorne ao seu local de trabalho e faça um esforço para melhorar. Não teremos uma segunda conversa. Rute nada respondeu, não teve como argumentar e saiu arrasada daquela reunião. Saiu convicta de que seus dias na empresa estavam contados. Será que Lauro agiu de maneira assertiva com Rute? Vamos aprender sobre feedback, depois teremos as respostas. 5.1 OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DO FEEDBACK 38 FIGURA 6 FONTE: Disponível em: http://blog.grupofoco.com.br/comunidade/index.php/2012/07/02/o-passo-a-passo- para-um-bom-feedback/ Acesso em: 19 abr. 2013. Qualidade e Quantidade: a qualidade de qualquer relação está fundamentada na quantidade e na qualidade dos feedbacks recebidos. Se o feedback é fraco, as relações são fracas. Se for ofensivo, a relação será ofensiva. Cordialidade: é um tipo fundamental de feedback. Atitudes simples como: bom dia ou perguntar sobre o final de semana podem parecer irrelevantes, mas são de grande valor para algumas pessoas. Contato visual: Quando conversamos com as pessoas e continuamos a olhar para o computador, estamos dizendo: “você é menos importante do que o que estou fazendo”. Cada cabeça, uma sentença: Cada pessoa tem um grau de exigência de feedback, umas precisam de mais, outras de menos. Mas todas precisam. As pessoas que exigem manutenção alta devem ser assistidas neste sentido ou então a relação começa a entrar em desgaste. 39 Omissão: Sonegar feedback é o mesmo que impor um castigo psicológico, a pessoa se sente invisível. 5.2 TIPOS DE FEEDBACK Feedback positivo: o objetivo deste feedback é reforçar um comportamento que desejamos que se repita. Quando alguém realiza algo que agrada, que é positivo deve receber o reconhecimento, para que se sinta estimulado a repetir o comportamento. Caso haja omissão, o comportamento pode não se repetir. Feedback corretivo: o objetivo deste é modificar o comportamento. Quando há a necessidade de se mudar um comportamento, o ponto de partidaé o feedback corretivo. Mas não é o mesmo que dizer feedback ofensivo. O primeiro é o grande desafio para os gestores, professores, pais, esposos e todo o tipo de relação. Por quê? Porque ninguém gosta de ver seus defeitos serem expostos. Feedback Insignificante: O feedback insignificante é fraco, vago e sem propósito. Não causa impacto na pessoa que recebe, essa não consegue perceber a importância dele e logo se evapora sem alcançar resultado algum. Feedback Ofensivo: é que possui conotação de desprezo e este pode conter qualquer um dos anteriores. Quando alguém diz: “Ou você bate as metas ou está fora”, está tentando modificar um comportamento – corrigir ou está dizendo que o funcionário não é importante, é descartável? (insignificante, não orienta e nem aponta o comportamento que se deseja). 40 FIGURA 7 - TIPOS DE FEEDBACK FONTE: Arquivo Pessoal. A lógica da aplicação do feedback é estabelecer confiança. Primeiro é preciso que haja algum tipo de comunicação. A comunicação é a pedra fundamental dos relacionamentos, sem ela não há como ter compreensão e, portanto, ou não há como estabelecer confiança. O outro item importante para se desenvolver confiança é o respeito. Pronto! O tripé da confiança está montado, conforme mostra a figura abaixo: FIGURA 8 - CONFIANÇA Corretivo - Mudança de Comportamento Ofensivo - Desprezo Insignificante - Resposta Mínima Positivo - Repetição do Comportamento Confiança Respeito Comunicação Comprensão 41 FONTE: Arquivo Pessoal. 5.3 APLICAÇÃO DO FEEDBACK POSITIVO O feedback positivo tem como objetivo reforçar um comportamento. Atenção: o feedback é sobre o comportamento e não sobre o resultado. Os quatro passos do feedback positivo são: I. Descreva um comportamento específico; II. Descreva as consequências do comportamento; III. Descreva como se sente em relação ao comportamento; IV. Descreva porque você de sente dessa forma. Exemplo: O resultado em vendas de José foi excelente, o feedback deve ser: - José, foi louvável o seu empenho (I) ao buscar alcançar as metas esse mês. Graças a esta dedicação (II) os números deste mês foram acima do esperado. Senti-me orgulhoso de ter um funcionário como você em minha equipe (III), porque enobrece a empresa e fortalece o nosso time. Com este feedback o indivíduo se sente estimulado a repetir o comportamento e continuar motivado para alcançar resultados positivos. 5.4 APLICAÇÃO DO FEEDBACK CORRETIVO Os métodos tradicionais para corrigir um comportamento são: imposição, persuasão e ameaça. São falhos, sobrevive da cultura do medo, porém o medo tem prazo de validade. Chega um ponto que a pessoa começa a querer jogar tudo para o alto. A imposição e a persuasão são fracas na sua intensidade, logo o funcionário volta ao velho comportamento. Os cinco passos do feedback corretivo são: I. Tente dar o feedback positivo antes de qualquer coisa; II. Faça perguntas cuidadosamente orientadas; III. Diga claramente qual a mudança necessária; 42 IV. Aplique a disciplina apropriada; V. Estabeleça um limite. Exemplo: - Ricardo, obrigado por atender o meu pedido e vir almoçar comigo hoje. Tem uma coisa importante que precisamos conversar. Percebi que ultimamente você não tem comparecido no setor dentro dos horários previstos. O que pensa sobre isso? - Não sei. - Acredito que você tenha uma ideia sobre isso, mas eu gostaria de saber quais são os seus planos para o futuro aqui na empresa? - Não sei, não penso no futuro. - Ok, acredito que você pensa e vou respeitar sua resposta. Mas, o que pensa em fazer daqui um ano? - Talvez cursar informática. - E por que você quer fazer informática? - Tem a ver comigo, gosto de computadores e programas - E depois? Daqui a cinco anos? - Trabalhar na área de TI de alguma empresa. - O que você acha de trabalhar na TI desta empresa? - Nunca pensei sobre isso. - Acredito que você pode ter a oportunidade, depende de você. Para isso é importante que você se empenhe. Como posso ajudá-lo neste sentido? Conforme vimos no exemplo, uma série de perguntas orientadas pode ajudar na 43 aplicação de um feedback corretivo. É como se fosse uma construção. As orientações claras e diretas para mudar o comportamento caminham na mesma direção do feedback positivo, com apenas um detalhe: I. Descreva um comportamento específico; II. Descreva as consequências do comportamento; III. Descreva como se sente em relação ao comportamento; IV. Descreva porque você de sente dessa forma; V. Descreva o que precisa ser mudado. Conforme discutido anteriormente, aplicar feedback não é fácil, mas é possível fazer isso com esforço e empenho. Não podemos ignorar a necessidade desta ferramenta nos relacionamentos, tanto no trabalho, quanto na área pessoal. O feedback auxilia no fortalecimento destas relações. Agora que foram explicitadas as diferenças entre os tipos de feedback, voltemos ao caso de Rute. Será que Lauro agiu de maneira assertiva com ela? Não! Vamos às análises: 1º. Erro: Lauro, como líder, jamais deveria ter ignorado o momento de bom desempenho de Rute. Para Blanchard (2009), “o segredo para desenvolver o potencial das pessoas é surpreendê-las quando estiverem fazendo algo corretamente”. Mas, por que será que só damos atenção às pessoas quando elas erram? 2º. Erro: Que tipo de feedback ele usou? Usou uma ameaça e não estabeleceu nenhuma comunicação com Rute, ela nada disse. E, o pior, ainda deixou claro que ela não era importante, que a qualquer momento a empresa a colocaria para fora sem problema nenhum. Rute não se sentiu estimulada para mudar. Saiu da conversa certa de que ela seria demitida em breve. O que poderia ser feito? Rute precisava mesmo de um feedback corretivo, a produtividade dela estava caindo e estava prejudicando a equipe. Vamos usar os dois feedbacks, positivo e corretivo. Retomando os quatro passos do feedback positivo são: 44 I. Descreva um comportamento específico; II. Descreva as consequências do comportamento; III. Descreva como se sente em relação ao comportamento; IV. Descreva porque você de sente dessa forma. - Rute, obrigado por ter atendido a minha solicitação. Eu quero agradecer e parabenizar você pelo empenho que demonstrou no alcance dos nossos resultados este mês (I). Graças à sua garra e persistência fechamos nosso relatório com números acima do que esperávamos e sua contribuição foi significativa (II). Ao olhar o gráfico de produtividade observei que todos os seus números superaram as metas estabelecidas e senti que temos muita sorte em ter você em nossa equipe e isso me orgulha muito (III). Rute, eu sinto que você faz do meu time um vencedor e isso me dá muita tranquilidade, pois posso confiar em você. Obrigada Rute, você não só faz diferença, você é um diferencial. (IV). Agora o feedback corretivo: I. Tente dar o feedback positivo antes de qualquer coisa; II. Faça perguntas cuidadosamente orientadas; III. Diga claramente qual a mudança necessária; IV. Aplique a disciplina apropriada; V. Estabeleça um limite. - Rute, obrigado por ter atendido a minha solicitação. Precisamos conversar sobre umas coisas. Estou muito preocupado com seus resultados, nos últimos tempos têm caído significativamente. O que você pode dizer sobre isso? - Não estou muito motivada. - O que você quer dizer com motivada? - Você deve saber o que é motivação! 45 - Sim Rute, mas o que te motiva? - Uma série de coisas me motiva... -