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Sistema de Partículas Centro de Massa Até o momento, analisamos problemas de mecânica envolvendo uma ou duas partículas ou corpos cujas dimensões eram irrelevantes para a sua solução. Vamos agora começar a estudar problemas envolvendo várias partículas (lembrando que um corpo extenso pode ser visto como um conjunto de partículas), buscando uma visão mais geral dos fenômenos mecânicos. Vamos então definir o conceito de centro de massa, bastante útil na análise de tais situações. Trata-se de uma média ponderada da posição das partículas, tendo como peso, suas respectivas massas. Para a coordenada x , temos então 1 1 2 2 3 3 1 2 3 ... ... i i i cm i i m x m x m x m x x m m m m + + + = = + + + ∑ ∑ Onde im e ix são a massa e a coordenada x da “ i -ésima” partícula, respectivamente. Para as coordenadas y e z , procedemos da mesma maneira, de forma que podemos definir o vetor posição do centro de massa 1 1 2 2 3 3 1 2 3 ... ... i i i cm i i m r m r m r m r r m m m m + + + = = + + + ∑ ∑ � � � � � Um exemplo imediato de sistema de partículas para o qual podemos calcular o centro de massa é um gás. Porém, sólidos e líquidos também são constituídos de partículas, e a definição continua válida. Macroscopicamente, esses sistemas são ditos contínuos, de forma que a soma deve ser substituída por uma integral, podendo complicar os cálculos. Contudo, para corpos homogêneos, sabemos que o centro de massa deve coincidir com o centro geométrico. Exercício: Quatro partículas estão situadas no plano xy . A partícula 1 possui massa 1 5,0m kg= e posição ( )1 ˆ ˆ2,0 2,5r i j m= − + � , a partícula 2 possui massa 2 2,5m kg= e posição ( )2 ˆ ˆ1,5 2,0r i j m= + � , a partícula 3 possui massa 3 1,5m kg= e posição ( )3 ˆ ˆ1,0 1,5r i j m= − � , e a partícula 4 possui massa 4 3,0m kg= e posição ( )1 ˆ ˆ2,5 1,0r i j m= − − � . Desenhe o sistema de coordenadas com as partículas, e calcule as coordenadas do centro de massa, indicando sua posição. Movimento do Centro de Massa Vamos agora imaginar um sistema de partículas em movimento, de forma que, em um dado instante, atribuímos a cada partícula uma massa, uma posição e uma velocidade própria. Para calcular a componente x da velocidade do centro de massa, fazemos 31 2 1 2 3 1 1 2 2 3 3 1 2 3 1 2 3 ... ... ... ... cm x x x cmx i ix i cmx i i dxdx dx m m m dx m v m v m vdt dt dtv dt m m m m m m m v v m + + + + + + = = = + + + + + + = ∑ ∑ Onde ixv é a componente x da velocidade da i -ésima partícula. Aplicando o mesmo procedimento para as outras componentes, chegamos à expressão para o vetor velocidade do centro de massa i i i cm i i m v v m = ∑ ∑ � � Sabendo que a massa total do sistema é i i m M=∑ Podemos calcular o momento linear total cm i i i P Mv m v= =∑ � � � Ou seja, a quantidade de movimento do sistema é a soma da quantidade de movimento de cada partícula constituinte. Esse resultado deve ser esperado devido ao fato de que o momento linear é uma quantidade vetorial, de forma que devemos ser capazes de calcular o momento resultante através da soma de vetores. Assim, quando chutamos uma bola, estamos aplicando uma força em um grande conjunto de partículas (átomos) que se comportam como uma única partícula localizada no centro de massa, e cuja massa é a soma de todas as massas individuais. Igualmente, quando um patinador do gelo se desloca girando sobre os patins, seu movimento pode parecer complicado, porém, o movimento de seu centro de massa tende a ser uma linha reta. Exercício: Considere novamente o sistema de partículas do exercício anterior, admitindo agora que as partículas 1, 2 , 3 e 4 possuem velocidades ( )1 ˆ ˆ4,0 3,0 /v i j m s= + � , ( )2 ˆ ˆ3,0 5,0 /v i j m s= − � , ( )3 ˆ ˆ5,0 4,0 /v i j m s= − − � e ( )1 ˆ ˆ4,5 3,5 /v i j m s= − + � respectivamente. Calcule a velocidade do centro de massa e use o resultado para calcular o momento linear total. Sistema Sob Ação de Forças Externas Até agora, consideramos sistemas de partículas livres. O que acontece quando um sistema de partículas está sob a ação de uma força resultante externa? De maneira semelhante ao que foi feito no caso da velocidade, podemos demonstrar que a aceleração total do centro de massa será i i i cm i i m a a m = ∑ ∑ � � E, consequentemente, temos a força resultante que age sobre o sistema R cm i i i F Ma m a= =∑ � � � Exercício: Demonstre os resultados acima. Se considerarmos que as partículas constituintes do sistema interagem entre si, devemos levar em conta, além de forças externas, as forças internas R ext int cm F F F Ma= + =∑ ∑ � � � � Contudo, devido à terceira lei de Newton, as forças internas devem formar pares de ação e reação, cancelando-se entre si, de forma que 0 int F =∑ � E a quantidade de movimento total do sistema só será afetada pelas forças externas ext cm F Ma=∑ � � Um exemplo bastante comum é o da força peso. O peso de um sólido é a soma dos pesos de todos os átomos que o formam. O peso resultante equivale fisicamente a uma única força aplicada no centro de massa. Pelas razões aqui apresentadas, quando um atirador de facas lança uma faca, que vai girando até seu alvo, seu movimento pode parecer complicado, porém, o movimento de seu centro de massa tende a ser uma parábola (lançamento oblíquo). Assim, ao entender o conceito de centro de massa e a dinâmica de um sistema de partículas, compreendemos como se pode representar um corpo com massa distribuída como uma partícula. Propulsão de um Foguete Imaginemos um foguete numa região do espaço sideral onde a gravidade possa ser desprezada (ou seja, não há forças externas agindo sobre ele). O foguete é um corpo sólido, e seu combustível um fluido, ambos compostos por átomos, e podemos, por tanto, tratá-los como um único sistema de partículas. Quando a propulsão é acionada, o foguete expele o propelente, que é, basicamente, combustível queimado, de forma que sua massa diminui com o tempo. Vamos então calcular a aceleração sofrida por ele. Como o movimento é retilíneo, vamos utilizar apenas quantidades escalares. Vamos chamar a velocidade do propelente expelido em relação ao foguete de exv , e a velocidade do propelente em relação a um sistema de referencial inercial de prop v , de forma que prop ex v v v= − Sendo v a velocidade instantânea do foguete. Num instante dt , o foguete sofre uma variação de massa dm (negativa), de forma que a variação do momento linear do propelente ejetado será ( ) ( )prop exdm v dm v v− = − − Logo, se num dado instante t , o momento linear total do foguete é mv , no instante t dt+ , teremos, para o momento do foguete e do propelente queimado ( )( ) ( )exP m dm v dv dm v v= + + − − Pela conservação do momento linear, temos ( )( ) ( )exmv m dm v dv dm v v= + + − − Lembrando que o produto de duas quantidades diferenciais é zero, podemos escrever a relação acima da seguinte maneira 0exmdv v dm+ = Dividindo por dt , chegamos à relação ex dv dm m v F dt dt = − = Que dá a força agindo sobre o foguete em função da velocidade e da vazão com que o propelente é expelido. Assim, chegamos finalmente à aceleração instantânea do foguete ex v dm a m dt = − Lembrando que aqui a massa varia com o tempo, e que essa variação é negativa, de forma que a aceleração é positiva no sentido do movimento. Uma forma mais direta de se obter este resultado é aplicando a segunda lei de Newton em sua forma geral dP dv dm F m v dt dt dt = = + Pela terceira lei de Newton, esta força deve ser igual à taxa de variação do momento linear do propelente ejetado, cuja velocidade é constante, porém sua massa varia, de forma que prop prop dP dm v dt dt = − Onde o sinal negativo se deve ao fato de o propelente ser expelido em sentido oposto ao domovimento. Assim prop dv dm dm m v v dt dt dt + = Dividindo por m e resolvendo para a derivada temporal da velocidade, chegamos à mesma fórmula da aceleração obtida anteriormente ( )prop exv v vdv dm dma dt m dt m dt − = = = − Isso demonstra como o fato de se escrever a força resultante como o produto da massa pela aceleração equivale a escrevê-la como a variação do momento linear no tempo. Considerando a conservação de massa, podemos sempre pensar no problema em termos de um sistema de partículas. Vamos agora integrar a aceleração a fim encontrarmos a velocidade do foguete. ex dm dv v m = − Suponha que o foguete tenha inicialmente uma velocidade 0 v , e uma massa 0 m . Vamos integrar nas variáveis v′ e m′ , de forma que ( )v t e ( )m t sejam sua velocidade e sua massa num tempo t qualquer. ( ) ( ) 0 0 v t m t ex v m dm dv v m ′ ′ = − ′∫ ∫ O que no dá ( ) ( ) 0 0 lnex m v t v v m t = + Exercício: Esboce o gráfico da velocidade de foguete em função da massa e do tempo para ( ) 0m t m tη= − , e interprete fisicamente. Se f m é a massa do foguete sem combustível, sua velocidade final após esgotar todo o propelente será 0 0 lnf ex f m v v v m = + Assim, vemos que para maximizar a eficiência do foguete devemos fazer a velocidade exv e a razão 0 / fm m as maiores possíveis. Exercício: Ao final do processo de propulsão, qual deve ser a velocidade final do centro de massa da nuvem de propelente deixada pelo foguete? Exercício: Suponha que um foguete decole da superfície de um planeta sem atmosfera, cujo campo gravitacional g em função da altura h é dado por ( ) ( ) 2 GM g h R h = + Onde G é constante da gravitação universal, M é a massa do planeta e R é o seu raio. Determine a aceleração do foguete para este caso.