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Nutrição Mineral As plantas são organismos autotróficos capazes de viver em ambiente totalmente inorgânico. Elas retiram CO2 da atmosfera e a água e substâncias minerais do solo. De Saussure (1767-1845) foi um dos primeiros cientistas a demonstrar claramente (através da análise dos tecidos vegetais) que as plantas retiram do solo nutrientes minerais e sugeriu que alguns deles poderiam ser indispensáveis para o seu desenvolvimento. Por meados do sec. XIX o botânico alemão Sachs mostrou que era possivel cultivar plantas de semente a semente em soluções minerais com composição definida (culturas hidropónicas) e demonstrou a essencialidade de alguns elementos minerais que as plantas utilizam em maior quantidade (os macronutrientes). Só cerca de cinquenta anos mais tarde foi possivel mostrar que outros elementos, utilizados em quantidades vestigiais, são também essenciais ao desenvolvimento das plantas (os micronutrientes). Os elementos minerais no solo Os nutrientes minerais encontram-se no solo em solução ou ligados às partículas constituintes. Só uma pequena fracção (menos de 0.2%) dos nutrientes minerais do solo se encontram dissolvidos na água. Da porção restante, cerca de 98% encontram- se fazendo parte da matéria orgânica do solo, de compostos inorgânicos relativamente insolúveis ou incorporados nos minerais das rochas. Esta fracção constitui uma reserva de nutrientes que vai sendo posta muito lentamente à disposição das plantas por acção da meteorização das rochas e da mineralização do húmus. Os restantes 2% encontram-se adsorvidos às partículas coloidais de argila e húmus. As diferentes fracções de elementos minerais do solo (em solução, adsorvidos e integrados nas rochas) encontram-se num estado de equilíbrio dinâmico, que assegura um fornecimento contínuo e prolongado de elementos minerais. Adsorção e troca de iões no solo As partículas coloidais de argila e as substâncias húmicas possuem cargas superficiais globalmente negativas que atraem e ligam reversivelmente catiões e moléculas dipolares (Fig 1). Fig. 1 – Adsorção de catiões a uma partícula de solo NH4+, NO3-, Cl-, PO4-2, SO4-2 Os locais com carga positiva onde os aniões se possam ligar são pouco frequentes. A força com que os catiões são adsorvidos depende da sua valência (da sua carga) e do grau de hidratação. A ligação é mais forte para os catiões de maior valência e decresce entre os catiões de igual valência com o aumento do grau de hidratação. Dum modo geral, a tendência de adsorção decresce segundo a ordem: Al3+, Ca2+, Mg2+, NH4+, K+ e Na+. Nos aniões a ordem será: PO43-, SO42-, NO3- e Cl-. Os numerosos iões à volta das partículas de argila e húmus actuam como intermediários (tampão) entre a fase sólida e a solução do solo. Quando esta recebe ou perde iões (catiões) ocorrem trocas entre as fases sólida e líquida. A massa de iões (catiões) adsorvidos à fase sólida que podem ser trocados com a solução do solo constitui a capacidade de permuta do solo. Esse valor depende do tipo de solo e, especialmente, da sua riqueza em argila e húmus. A adsorção de iões é vantajosa pelas seguintes razões: • Impede que os iões (catiões) libertados pela meteorização das rochas e por decomposição da matéria orgânica se percam por lexiviação. • Mantem a concentração da solução do solo relativamente baixa e constante • Mantem os iões adsorvidos disponiveis às plantas. Absorção dos nutrientes minerais As plantas aquáticas absorvem os nutrientes através de toda a sua superfície, enquanto que as espécies terrestres adquirem as substâncias minerais através do sistema radicular. Pequenas quantidades de minerais e outros compostos podem também entrar na planta através da superfície dos orgãos aéreos, especialmente das folhas (nutrição folear). Absorção dos nutrientes do solo O sistema radicular das plantas pode retirar os nutrientes do solo das seguintes maneiras: • Directamente da solução do solo. Os iões presentes na solução estão directamente disponiveis, mas a sua concentração é normalmente muito baixa. O ião mais abundante é normalmente o NO3- , seguido pelo SO42-, Mg2+, Ca2+, K+ e PO43-. • Absorção por troca dos iões adsorvidos. A raiz pode promover a troca dos iões adsorvidos na superfície das partículas de argila e do húmus com iões H+ e HCO3- resultantes da reacção do CO2 produzido na respiração com a água (Fig. 2). Fig. 2 – Absorção de iões adsorvidos por troca com iões H+ produzidos pela raiz A produção de H+ e do ião bicarbonato (HCO3-) depende da intensidade da respiração e, por conseguinte, da quantidade de oxigénio e hidratos de carbono que a raiz tem à disposição, bem assim como da temperatura. • Mobilização de nutrientes que fazem parte de compostos químicos. A raizes excretam iões H+ e ácidos orgânicos de baixo peso molecular os quais actuam sobre certos compostos relativamente insolúveis, solubilizando-os ou formando complexos (quelatos) que libertam determinados elementos gradualmente. A absorção dos elementos minerais depende da área da superfície de absorção (pelos radiculares e apoplasto), da quantidade de elementos minerais no solo e da sua disponibilidade. A disponibilidade dos iões, por sua vez, é afectada por diversos factores: Assim, depende da meteorização gradual das rochas em pequenas partículas minerais, da taxa de decomposição do húmus e da capacidade de troca do solo. Depende ainda do pH do solo, da acção de compostos ligantes (quelantes), da presença de outros elementos e da acção de organismos. pH do solo A maior parte dos solos possuem pHs compreendidos entre 6 e 7 (solos neutros), onde a maior parte das plantas pode viver. No entanto, a troca de catiões com protões das raizes, a decomposição do húmus e as chuvas ácidas, podem fazer baixar o valor do pH dos solos, fazendo com que estes se tornem fortemente ácidos. A actividade microbiana também pode contribuir para o abaixamento do pH do solo, atavés da formação dos ácidos nítrico e sulfúrico. A diminuição do pH do solo faz aumentar a disponibilidade de nutrientes como o Fe, o Mn e o Al, (Fig. 3) por vezes até atingir valores tóxicos. Por outro lado, quando a concentração destes elementos é alta, eles reagem com o PO43- formando precipitados insolúveis. Por esta razão podem ocorrer deficiências de P em solos ácidos. Algumas plantas da família das Ericáceas dão-se bem nestes solos ácidos. Fig. 3 – Efeito do pH na disponibilidade dos elementos minerais Pelo contário, nos solos fortemente alcalinos com pH superior a 8, a disponibilidade de muitos nutrientes diminui. Por exemplo, o Ca2+ em excesso no solo reage com o fosfato dando origem a fosfato de cálcio Ca3(PO4)2 que é insoluvel. Também a disponibilidade do ferro e do manganês diminui nestes solos. O pH do solo afecta ainda o crescimento das raizes e os microorganismos do solo. As raizes crescem geralmente melhor em pHs ligeiramente ácidos (5.5 – 6.5). Os fungos preferem solos solos acídicos enquanto que as bactérias predominam nos solos alcalinos. A acidez dos solos favorece a meteorização das rochas que libertam K+, Mg2 , Ca2+ e Mn2+ e aumenta a solubilidade dos carbonatos, sulfatos e fosfatos. Agentes quelantes Certos compostos orgânicos podem doar electrões a catiões metálicos como o Fe3+, aumentando a sua solubilidade. Alguns organismos podem excretar os seus próprios compostos quelantes por forma a aumentarem a disponibilidade de alguns elementos. Organismos A actividade dos vários organismos do solo pode afectar a disponibilidade dos elementos minerais. Por exemplo os diversos organismos do solo podem competir com as plantas pelos mesmos nutrientes, diminuindo, portanto, a sua disponibilidade. Por outro lado decompositorescomo os fungos e bactérias participam na decomposição do húmus, aumentando o fornecimento de nutrientes às plantas. Algumas plantas podem promover a acidificação do solo e assim aumentar a disponibilidade de alguns nutrientes, enquanto que outras, juntamente com certos microorganismos, produzem fosfatases que libertam o fosfato de partículas minerais tornando-o disponivel. Micorrizas Os sistemas radiculares de muitas plantas (83% das dicotiledóneas e 79% das monocotiledóneas) formam associações simbióticas com fungos. Estas associações chamadas micorrizas facilitam grandemente a aquisição de nutrientes pelas plantas e em especial do fósforo, por dois motivos: 1) As hifas do fungo apresentam uma área de absorção muito maior que as raizes; 2) As hifas do fungo exploram um volume de solo maior que apenas as raizes, estendendo-se para além da zona de deplecção de nutrientes. Existem dois tipos principais de micorrizas: as micorrizas ectotróficas ou ectomicorrizas (Fig. 4) e as endomicorrizas. Destas as micorrizas vesículo- arbusculares (Fig. 4) são as mais importantes. As Ericáceas e as Orquidáceas possuem outros tipos de micorrizas endotróficas, mas têm menos importância em termos de absorção mineral. As micorrizas ectotróficas apresentam uma espessa bainha ou “manto” de hifas do fungo compactamente entrelaçadas à volta da raiz. Hifas do micélio fúngico penetram nos espaços intercelulares da zona cortical da raiz sem contudo penetrarem no interior das células. As células corticais ficam assim rodeadas por uma rede de hifas do fungo, chamada rede de Hartig, com as quais fazem trocas de nutrientes e de água. As micorrizas ectotróficas infectam exclusivamente árvores (Gimnospérmicas e Angiospérmicas). Nas micorrizas vesiculares-arbusculares, as hifas do fungo não formam um manto compacto à volta da raiz e penetram dentro das células da zona cortical. No interior destas células, as hifas formam estruturas ovais (vesículas) e em forma de arbusto (arbúsculos). Parece ser ao nivel dos arbúsculos que se dá a transferencia de materiais entre o fungo e as células da planta vascular. No exterior da raiz as hifas podem estender-se vários centímetros através do solo. As micorrizas vesiculares- arbusculares, encontram-se na maior parte das espécies herbáceas das Angiospérmicas. Fig. 4 – Representação esquemática das principais características estruturais das micorrizas vesículo-arbusculares (esquerda) e ectomicorrizas (direita). RM - rizomorfos Movimento dos iões no solo No solo, os nutrientes podem deslocar-se em direcção à superfície das raizes por fluxo em massa e por difusão. A quantidade de nutrientes fornecido às raizes por fluxo em massa depende da taxa do fluxo de água através do solo em direcção às raizes e do teor de solutos na solução do solo. Por sua vez, o fluxo de água depende da taxa de transpiração. O papel do fluxo em massa no fornecimento de nutrientes à planta é particularmente importante quando as taxas de transpiração e o teor de nutrientes no solo são elevados. Na difusão, os nutrientes minerais deslocam-se das regiões de maior concentração para regiões de concentração masi baixa. Assim, à medida que as raizes vão esgotando os nutrientes na proximidade da superfície da raiz, estabelecem-se gradientes de concentração com as regiões vizinhas, os quais permitem a difusão de nutrientes em direcção à raiz. Quando a absorção de nutrientes é intensa e a sua concentração na solução do solo é baixa, de tal modo que a difusão e o fluxo em massa não conseguem compensar as perdas de nutrientes, forma-se uma zona de exaustão (esgotamento) adjacente à superfície da raiz. Como a carência de nutrientes vai diminuindo com a distância à superfície da raiz, uma forma destas raizes minimizarem esta situação é crescerem para poderem explorar zonas do solo onde ainda se não observe carência de nutrientes. Este crescimento é provavelmente quimiotrópico, isto é, dirigido pelo gradiente de concentração dos solutos inorgânicos. Estas considerações sobre a formação de zona de esgotamento dizem-nos que a eficácia do fornecimento de nutrientes à planta depende da taxa a que os consegue absorver e também da capacidade de crescimento contínuo das raizes. Entrada dos iões para as células A zona da raiz onde se dá a entrada nas células dos iões minerais mais eficientemente parece variar de ião para ião (Fig. 5). Assim, em cevada, o cálcio é absorvido Fig. 5 – Esquema da extremidade de uma raiz jovem mostrando as diferentes zonas anatómicas de desenvolvimento principalmente na zona apical da raiz, enquanto que o ferro, o potássio, o nitrato, o amónio e o fosfato, são absorvido numa grande extensão da superfície radicular, embora nalgumas plantas, a zona de alongamento possa apresentar uma eficiência superior na absorção do potássio e do nitrato e a zona pilosa na absorção do fosfato. O transporte dos iões através das membranas para dentro das células é ajudado por proteinas ou complexos de proteinas membranares (Fig. 6). As proteinas membranares envolvidas no transporte de iões ou moléculas podem ser de dois tipos: transportadores (“carriers”) e canais iónicos. Na membrana citoplasmática e no tonoplasto, existem também ATPases que funcionam como bombas de protões, utilizando a energia da hidrólise do ATP para criar gradientes electroquímicos através das membranas. Este potencial electroquímico, por sua vez, fornece a energia necessária para o transporte de vários iões e moléculas O transporte de iões (Fig. 6) pode ocorrer a favor de um gradiente de concentração, sem necessidade de consumir energia metabólica para o efeito. Neste caso trata-se de um movimento passivo embora facilitado pela existência de canais iónicos ou transportadores específicos. É o caso da difusão facilitada. Noutros casos, o transporte faz-se contra o gradiente electroquímico, necessitando para isso de energia. Neste caso será um transporte activo. A bombagem (extrusão) de protões pelas H+-ATPases é chamado transporte activo primário por utilizar directamente a energia do ATP para transportar os protões. Nem toda a raiz é usada para a absorção de solutos PO43- Fe K, NO3-, NH4+, PO43- Ca2+ NH4+ Fig. 6 – Mecanismos de transporte tranmembranar de iões e moléculas e proteinas envolvidas nesse transporte Outros iões podem utilizar a energia contida no gradiente electroquímico criado pela distribuição assimétrica dos protões, para entrar ou sair das células. Este tipo de transporte é chamado transporte activo secundário. No transporte activo secundário podem considerar-se três modalidades: • Um catião pode entrar na célula ou um anião sair dela através dum canal iónico próprio impulsionado pelo gradiente de potencial eléctrico existente entre o interior e o exterior da célula. Este movimento de um ião isolado chama-se uniporte. • Noutros casos, um ião ou uma molécula sem carga, pode ser transportado por um transportador específico em conjunto com um H+. Este tipo de movimento chama-se pode apresentar duas variantes (Fig. 7): Fig. 7 – Processos de transporte activo secundário: Co-transporte ou simporte (esquerda) e contra-transporte ou antiporte (direita) ♦ Se dois iões de sinal oposto, por exemplo um anião e um ião H+, forem transportados no mesmo sentido teremos um caso de simporte ou H+/anião co- transporte. ♦ Se dois iões do mesmo sinal, por exemplo um catião e um ião H+, forem transportados simultaneamente pelo mesmo transportador em sentidos opostos, teremos um caso de antiporte ou H+/catião contra-transporte. A absorção dos nutrientes minerais pelas células vegetais apresenta as seguintes características: • Preferência. As células das plantas podem absorver preferencialmentecertos iões (normalmente os mais utilizados). Por exemplo os catiões são geralmente preferidos aos aniões e, entre os catiões, alguns são acumulados em muito maiores concentrações que outros. • Selectividade limitada. As células vegetais não podem excluir completamente os iões não utilizados nem mesmo os prejudiciais. As membranas biológicas embora sejam diferencialmente permeáveis não são totalmente impermeáveis a nenhum elemento. • Capacidade para concentrar iões. As células vegetais podem absorver iões contra um gradiente de concentração e acumulá-los, especialmente nos vacúolos, em concentrações muito superiores às da solução envolvente (Fig. 8). Fig. 8 – Representação gráfica da concentração relativa de alguns iões minerais no interior das células de duas algas e nos meios exteriores respectivos • Saturabilidade. A curva que traduz a cinética de absorção de um ião inorgânico em função da sua concentração no meio exterior é do tipo parabólico de tal modo que, a partir de uma certa concentração externa do ião, não se observam novos aumentos da taxa de absorção quando se aumenta a concentração do ião no exterior (Fig. 9). Por vezes as curvas não são simples, mas multifásicas, sugerindo que notransporte de um determinado ião estão envolvidos mais que um transportador com diferentes afinidades para o ião, ou então que as características do transportador se alteram com a concentração do ião no meio exterior. Fig. 9 – Curva que traduz a absorção de um ião em função da sua concentração no meio externo • Dependência do consumo de energia metabólica. Baixas temperaturas, baixas pressões de oxigénio (Fig. 10) e tratamentos com inibidores respiratórios inibem a absorção dos solutos inorgânicos. Fig. 10 – Efeito da pressão de oxigénio na taxa de absorção de fosfato Fornecimento de iões às raizes A taxa a que os nutrientes são fornecidos às plantas depende da concentração dos iões disponiveis no volume de solo explorado pelas raizes e da mobilidade específica de cada ião no solo (por difusão ou por fluxo em massa). A eficiência com que os nutrientes são absorvidos e a preferência por certos iões são características genéticas das espécies. Para além do grau de afinidade dos processos de transporte e ligação dos diversos iões, a taxa de absorção de nutrientes depende também da capacidade de adaptação da raiz às quantidades de nutrientes disponiveis. Essa adaptaçãp pode fazer-se através dum crescimento quimiotrópico das raizes, duma maior densidade de pelos radiculares e do aumento da superfície da membrana citoplasmática das células epidérmicas da raiz que podem ser transformadas em células de transferência. Transporte dos iões na raiz Os iões minerais deslocam-se em primeiro lugar da solução do solo para o sistema formado pelas paredes celulares e espaços intercelulares (apoplasto) do parênquima cortical da raiz em conjunto com a água da corrente de transpiração. No apoplasto os iões são adsorvidos pelas cargas existentes nas paredes celulares e na superfície externa da membrana dos protoplastos. Esta primeira fase é um processo passivo em que os iões seguem os gradientes de concentração e de cargas entre a solução do solo e o interior da raiz. A entrada dos iões para o interior do citoplasma ocorre principalmente na zona cortical da raiz. Depois de penetrarem no citoplasma, os iões minerais atravessam a zona cortical e a endoderme via simplasto, passando célula a célula através dos plasmodesmos, até atingirem os elementos do xilema no cilindro central. Os iões minerais não podem atingir o cilindro central através do apoplasto por esta via se encontrar bloqueada pelas faixas de Caspary existentes nas paredes das células endodérmicas (Fig. 11). Pelo menos nessa zona os iões minerais que circulem na via apoplasto têm que atravessar a membrana citoplasmática e juntar-se à via simplasto. Fig. 11 – Esquema duma secção transversal da raiz mostrando os locais do transporte activo para os iões K+ e Cl- No cilindro central, os iões minerais podem fluir passivamente para os vasos lenhosos cheios de água a favor de um gradiente de concentração, ou são excretados activamente nos vasos lenhosos pelas células de parênquima. Movimento a longa distância dos minerais nas plantas No xilema, os iões são rápidamente distribuidos pela corrente de transpiração desde a raiz até à parte aérea. A fase limitante na cadeia de translocação dos nutrientes é a absorção, condução e libertação dos iões minerais pelo simplasto nas raizes. A capacidade de transporte de nutrientes minerais do xilema é muito superior à quantidade de nutrientes que é absorvida pela raiz, mesmo quando a velocidade de translocação é baixa. Na parte aérea, os nutrientes difundem para fora dos vasos do xilema e são absorvidos activamente pelas células de parênquima próximas. Aqui podem também existir células de transferência que facilitam o transporte de iões do sistema vascular para as células de parênquima. O transporte entre as células de parênquima faz-se pela via simplasto. O outro sistema de transporte de longa distância que desempenha um papel importante na distribuição dos nutrientes é o floema. O floema e o xilema estão ligados entre si em muitos pontos e especialmente na raiz e na região dos nós no caule. O principal papel do floema é a retranslocação das substâncias minerais já incorporadas na planta. Os diferentes elementos minerais apresentam diferentes graus de mobilidade no floema e por isso a possibilidade de serem retranslocadas no floema é muito variavel. Nutrientes como o N o P e o S que geralmente se encontram incorporados em compostos orgânicos são facilmente translocados no floema. Apresentam igualmente grande mobilidade dentro da planta os iões K+ e Mg2+. Estes elementos tendem a apresentar-se em maior concentração nas folhas jovens em crescimento e a serem exportados das folhas mais velhas para outras zonas da planta. Pelo contrário, iões como o Ca2+, o ião borato e os iões de metais pesados (Al3+, Cr,) são muito pouco móveis no floema e por isso vão-se acumulando com a idade nas folhas mais velhas, para onde são levados na corrente de transpiração e de onde não são exportados para outras partes da planta. Nas plantas herbáceas a redistribuição dos minerais faz-se principalmente das folhas mais velhas para a extremidade dos caules em desenvolvimento e para os orgãos reprodutores, enquanto que nas plantas lenhosas os nutrientes minerais são retranslocados principalmente para os gomos na primavera e para os tecidos de reserva no verão e outono. A utilização dos elementos minerais nas plantas Praticamente todos os elementos químicos presentes na litosfera podem ser encontrados nas cinzas dos tecidos vegetais. A análise das cinzas duma planta (Tab. ) revela que os diversos elementos presentes se encontram representados em diferentes concentrações. Assim, os elementos N, K, Ca e em algumas plantas o Si, ocorrem em grandes quantidades (10-50g/Kg de peso seco); o Mg, P e S aparecem em quantidades intermédias (de poucos a 10g/Kg de peso seco); e os elementos menos representados (micronutrientes) encontram-se em quantidades que variam entre 0.2g/Kg de peso seco para o Fe e alguns mg/Kg de peso seco para os outros. As proporções em que os vários bioelementos se encontram representados variam com as espécies consideradas, com os orgãos e até com o estado de desenvolvimento da planta. A partir do conteudo e composição das cinzas duma planta podemos recolher alguma informação acerca da riqueza e composição mineral do solo no local em que a planta se desenvolve. Assim as plantas que vivem em solos ácidos ou pobres em minerais, possuem baixo teor de cinzas, enquanto que asplantas que crescem em solos salinos apresentam conteudo de cinzas elevados. A análise das cinzas das plantas pode ainda ajudar a detectar a presença da deficiência de algum nutriente ou a fertilização incorrecta de plantas cultivadas. Tabela 1. Exemplos de análises inorgânicas das cinzas de plantas Concentração do Elemento Elemento Alfalfa Milho* Carvalho** Potássio Cálcio Magnésio Nitrogénio Fósforo Enxofre Ferro Manganês Zinco Cobre Cloro Boro Molibdénio Sódio Cobalto 2,77% 1,70 0,41 3,12 0,35 0,29 190 ppm*** 62 57 9 8800 35 1,40 4300 ppm 0,21 1,86% 0,40 0,27 2,81 0,28 0,18 110 ppm 80 27 6 3100 14 1,03 127 ppm 0,16 0,85% 0,82 0,36 2,19 0,19 0,13 126 ppm 572 22 8 43 38 6,21 210 ppm --- * Apenas parte aérea; grãos não incluidos na análise ** Folha e raminhos produzidos nesse ano *** Abreviatura de partes por milhão; ppm = a unidades em peso dum elemento por milhão de unidades de material da planta seco em estufa; 1% = 10 000 ppm Necessidades nuticionais das plantas Apesar das informações que pode fornecer, a simples análise das cinzas duma planta não nos habilita a ajuizar quais dos elementos minerais presentes nas cinzas desempenham alguma função importante para o seu crescimento e desenvolvimento, nem quais são completamente desnecessários ou mesmo prejudiciais. A informação sobre as necessidades nutricionais das plantas tem sido obtida através da sua cultura em soluções minerais de composição definida (culturas em solução ou hidropónicas). Nestas soluções, pode-se omitir a presença de algum elemento e verificar qual o efeito que a sua ausência produz no desenvolvimento das plantas. Este método de estudo das necessidades minerais das plantas, que exige grandes cuidados com a pureza dos sais minerais e da água utilizados, com o arejamento do meio de cultura e com o controlo rigoroso das variações do pH e da composição da solução, permitiu determinar que 17 elementos minerais são essenciais para o desenvolvimento das plantas. Esses dezassete elementos essenciais encontram-se distribuidos por dois grupos com base nas quantidades em que são utilizados pelas plantas: os macronutrientes (N,K, Ca, Mg, P, S, para além do C, H e O) que as plantas utilizam em quantidades relativamente elevadas (>10 mmole/Kg de peso seco); os micronutrientes (Fe, Mn, B, Zn, Cu, Mo, Cl e Ni) que as plantas necessitam em quantidades muito reduzidas. Segundo Epstein, a essencialidade de um elemento assenta na verificação de um de dois critérios principais. Assim, um elemento mineral é considerado essencial se: 1- Na sua ausência a planta for incapaz de completar um ciclo de vida normal (produzir sementes viáveis). 2- Esse elemento fizer parte de algum constituinte ou metabolito essencial para a planta. A estes dois critérios podem ainda juntar-se as seguintes exigências: “O elemento para ser essencial tem que actuar directamente no metabolismo da planta e não se limitar a corrigir alguma condição química ou microbiana desfavorável do meio de cultura e não pode ser substituido nas suas funções por qualquer outro”. A verificação da essencialidade dos micronutrientes é dificil de estabelecer pelo facto de serem necessários em quantidades tão pequenas. As necessidades da maior parte dos micronutrientes são plenamente satisfeitas pelas impurezas da água e dos sais minerais, pelos recipientes em que as plantas crescem e pela contaminação com poeiras atmosféricas. A técnica da cultura em solução, da qual existem diferentes variantes, tem sido também utilizada comercialmente para produzir legumes como alfaces, tomates e pepinos sem sementes. Elementos benéficos Para um bom desenvolvimento, algumas plantas necessitam, para além dos 17 elementos essenciais, de alguns outros. Estes últimos não são considerados essenciais por não serem requeridos pela generalidade das plantas superiores. Estes elementos são designados por benéficos, por satisfazerem exigências nutricionais específicas adicionais de determinados tipos de plantas. Estão nestas condições o sódio, o silício, o selénio e o cobalto. O sódio parece ser necessário para as plantas que apresentam fotossíntese do tipo C4, mas não o é para as plantas do tipo C3. O silício parece ser benéfico para o desenvolvimento das gramímeas, em que ele se acumula nas paredes das células epidérmicas, defendendo-as do ataque de fungos e da acama por acção da chuva e do vento. O cobalto é essencial para as leguminosas que hospedam bactérias simbióticas fixadoras de azoto. Este elemento faz parte da vitamina B12 que é um componente de várias enzimas destes microorganismos fixadores de azoto. O selénio é acumulado e tolerado por algumas plantas dos géneros Astragalus, Xylorrhiza e Stanleya de regiões áridas e mal drenadas, mas não se sabe se estas plantas possuem alguma exigência particular por este elemento. Funções dos elementos essenciais. Considerações gerais sobre o papel dos elementos essenciais Daquilo que se conhece sobre as funções dos diversos elementos essenciais nas plantas podemos fazer as seguintes generalizações: •Diferentes espécies apresentam exigências nutricionais muito diferentes. Embora as necessidades das plantas cultivadas tenham sido estudadas com algum detalhe, pouco se conhece sobre as necessidades específicas das plantas silvestres. •As plantas necessitam de diferentes quantidades de cada um dos diferentes elementos. Por exemplo, no corpo das plantas encontra-se cerca de 60 milhões de vezes mais hidrogénio que molibdénio. Estas diferenças reflectem as diferentes utilizações destes elementos. •Diferentes elementos são absorvidos sob formas diferentes. Por exemplo o cálcio e o ferro são absorvidos como catiões, enquanto que o enxofre e o fósforo são absorvidos como aniões. •A maior parte dos elementos minerais desempenha várias funções. Por exemplo o potássio está implicado na síntese do amido, afecta a conformação das proteinas e é um activador de enzimas. Tipos gerais de funções desempenhadas pelos elementos Os elementos minerais individuais depois de absorvidos são incorporados nos tecidos vegetais onde cada um desempenha funções mais ou menos específicas, essenciais para o desenvolvimento das plantas. Apesar da diversidade de funções desempenhadas pelos elementos minerais, elas podem ser agrupadas em quatro categorias: Estrutural: Muitos elementos fazem parte de unidades estruturais. Por exemplo o C,H,O, fazem parte de hidratos de carbono como a celulose, lípidos e outras; por sua vez o N e o S, entram na constituição das proteinas. Metabólica: Fazem parte de compostos que intervêm no metabolismo. Por exemplo o Mg entra na constituição da clorofila, enquanto que o P faz parte da molécula do ATP e dos ácidos nucleicos. Activadores ou inibidores (reguladores) enzimáticos: O Mg2+ e o K+ e a maior parte dos micronutrientes activam várias enzimas, enquanto que o Ca 2+ pode inibir umas e activar outras enzimas. Regulação osmótica O movimento do potássio para dentro e para fora das células estomáticas é o principal responsável pelas váriações osmóticas que causam a abertura ou o fecho dos estomas. Também o cloro tem importância neste aspecto. Tabela 2. Elementos essenciais para a maioria das plantas e concentrações internas consideradas adequadas Elemento Símbolo químico Forma disponivel plantas Concentração em material seco % Nº relativo de átomos comparado com o molibdénio Molibdénio Cobre Zinco Manganês Ferro Boro Cloro Enxofre Fósforo Magnésio Cálcio Potássio Nitrogénio Oxigénio Carbono Hidrogénio Mo Cu Zn MnFe B Cl S P Mg Ca K N O C H MoO4 Cu+, Cu2+ Zn2+ Mn2+ Fe2+; Fe3+ BO3-, B4O7- Cl- SO42- H2PO4-; HPO4- Mg2+ Ca2+ K+ NO3-; NH4+ O2; H2O CO2 H2 0,00001 0,0006 0,0020 0,0050 0,010 0,002 0,010 0,1 0,2 0,2 0,5 1,0 1,5 45 45 6 1 100 300 1000 2000 2000 3000 30000 60000 80000 125000 250000 1000000 30000000 35000000 60000000 Tabela 3. Funções particulares dos elementos minerais Elemento Funções Azoto (N) Constituinte de aminoácidos, proteinas, ácidos nucleicos, nucleótidos e coenzimas, certas fitohormonas, clorofila, etc. Potássio (K) Activador de um grande número de enzimas e especialmente nas implicadas na fotssíntese e na respiração. Desempenha um papel fundamental nos movimentos dos estomas. Cálcio (Ca) Constituinte da lamela média das paredes celulares. Activador de algumas enzimas. Actua como 2º mensageiro em respostas induzidas por hormonas e outros factores. Importante no processo de divisão celular e na manutenção da integridade e do bom funcionamento das membranas. Magnésio (Mg) Necessário para um grande número de enzimas envolvidas na transferência de grupos fosfato. Constituinte da molécula da clorofila. Estabilizador da estrutura dos ribossomas. Fósforo (P) Componentes de açúcares fosfatados, ácidos nucleicos, nucleótidos, coenzimas, fosfolípidos, ácido fítico, etc.. Desempenha um papel fundamental nas reacções em que participa o ATP Enxofre (S) Constituinte da cisteina, cistina, metionina e por conseguinte das proteinas. Constituinte do ácido lipoico, coenzima A, tiamina pirofosfato, glutatione, biotina, adenosina-5-fosfosulfato. Cloro (Cl) Necessário para as reacções da fotossíntese envolvidas na libertação de O2. Importante no equilíbrio osmótico e eléctrico das células. Ferro (Fe) Constituinte dos citocromos, ferredoxina e outras ferroproteinas. Activador de enzimas. Necessário para a síntese da clorofila. Boro (B) Possivel envolvimento na translocação dos hidratos de carbono. Impede a acumulação de ácidos fenólicos e a sua toxicidade. Essencial para o crescimento do tubo polínico. Manganés (Mn) Necessário para a ctividade de várias enzimas do ciclo do carbono (desidrogenases, descarboxilases, cinases, oxidases e peroxidases). Envolvido nas reacções de produção de O2 da fotossíntese. Zinco (Zn) Constituinte da alcool-desidrogenase, desidrogenase glutâmica e anidrase carbónica. Implicado na síntese (triptofano) das auxinas. Cobre (Cu) Co-factor de várias enzimas oxidativas (citocromo oxidase, plastocianina, polifenoloxidases e superoxido dismutase). Presente na lenhina dos elementos xilémicos. Molibdénio (Mo) Constituinte da nitrato redutase. Necessário para a fixação do N2 Niquel (Ni) Constituinte da urease e hidrogenase. Implicado na mobilização do azoto durante a germinação das sementes? Sintomas de deficiência dos elementos essenciais Factores de que dependem os sintomas de deficiência •Espécie •Idade e estado de desenvolvimento da planta •Função(ões) que o elemento desempenha •Mobilidade do elemento na planta (floema) Tipos mais frequentes de sintomas de deficiência observados •Clorose das folhas podendo ser acompanhada de necrose em casos de deficiência grave •Fraco desenvolvimento geral •Desenvovimento anormal de alguns orgãos (deformações) •Morte de tecidos meristemáticos •Aparecimento de pigmentos antociânicos •Perda de turgidez das folhas Tabela 4. - Sintomas particulares de deficiência mineral Elemento Sintomas Azoto (N) Clorose generalizada; fraco crescimento; produção de pigmentos antociânicos que lhes conferem coloração avermelhada Potássio (K) Clorose e necrose; caules e raizes fracos; raizes mais propensas a doenças; folhas mais velhas mais afectadas Cálcio (Ca) Morte das extremidades das raizes e dos caules; folhas jovens e rebentos os mais afectados Magnésio (Mg) Clorose e avermelhamento das folhas; extremidade das folhas reviradas para cima; folhas mais velhas as mais afectadas Fósforo (P) Fraco crescimento; cor verde escura (azulada); acumulação de pigmentos antociânicos; maturação retardada; afecta toda a planta Enxofre (S) Clorose intervenal que normalmente não é acompanhada de necrose; folhas jovens mais afectadas Cloro (Cl) Folhas murchas; clorose seguida de necrose; fraco desenvolvimento; raizes espessas Ferro (Fe) Clorose intervenal; caules curtos e fracos; as gemas mantêm-se vivas; folhas jovens afectadas em primeiro lugar Boro (B) Morte dos meristemas apicais; folhas torcidas e descoradas na base; extremidades das raizes dilatadas e descoradas; tecidos jovens mais afectados Manganés (Mn) Clorose intervenal aparecendo primeiro nas folhas mais velhas; necrose frequente; desorganização das membranaas das lamelas (cloroplastos) Zinco (Zn) Clorose; folhas mais pequenas e entre-nós curtos; margens das folhas distorcidas; folhas mais velhas mais afectadas Cobre (Cu) Folhas jovens verde escuras, retorcidas e murchas; extremidades das raizes e dos caules permanecem vivas Molibdénio (Mo) Clorose e/ou retorcimento das folhas jovens Estado nutricional das plantas Com base na extensão da incorporação dos nutrientes minerais na planta (concentração nos tecidos) podemos distinguir três estados nutricionais básicos: Deficiente, fornecimento adequado e fornecimento excessivo (tóxico). Assim para cada elemento essencial particular podemos definir uma concentração crítica, a qual representa a concentração desse nutriente, medida nos tecidos, imediatamente inferior àquela que produz máximo crescimento (ou então a que produz cerca de 90% do crescimento máximo). Para concentrações acima da concentração crítica, o aumento do nivel do nutriente não produz nenhum efeito significativo no crescimento e o conteudo do nutriente é designado adequado. Abaixo da concentração crítica, o crescimento diminui drásticamente à medida que o conteudo do nutriente se torna progressivamente deficiente. Nesta situação, o nutriente torna-se limitante para o crescimento. Quando a concentração de um dado elemento se torna excessiva nos tecidos, ele pode tornar-se tóxico, provocando uma redução do crescimento. Esta situação é mais frequente com os micronutrientes. Com base no que dissemos podemos estabelecer curvas de crescimento em função da concentração de um dado nutriente nos tecidos e nessas curvas distinguir as seguintes zonas: Zona de deficiência, zona de transição, concentração crítica, zona adequada e zona tóxica (Fig.12). Fig. 12 – Curva de crescimento em função da concentração de um elemento mineral essencial nos tecidos A adubação e o aumento da produtividade Na agricultura moderna os agricultores procuram fornecer às plantas todos os elementos minerais essenciais em quantidades que lhes permitam obter o máximo rendimento, isto é a máxima produção. Isso é normalmente conseguido através da prática da adubação. Na adubação utilizam-se geralmente fertilizantes químicos que são, na maior parte dos casos, constituidos pelos sais dos macronutrientes utilizados em maior quantidade pelas plantas (nitrogénio, fósforo e potássio), embora, por vezes, possam ser também utilizados certos micronutrientes. Os fertilizantes químicos podem ser: Simples (superfosfato; nitrato de amónio; muriato de potássio) quando fornecem apenas um elemento essencial; compostos quando na composição do fertilizante se encontram 2 ou mais elementos minerais reunidos (N:P:K). Os fertilizantes químicos podem também ser utilizados para corrigir o pH do solo. Assim, quando os solos são ácidos, é boa prática agrícola adicional cal de modo a fazer elevar o valor do pH. De igual modo, aadição de enxofre elementar ao solo tende a diminuir o pH de solos alcalinos. Esta acidificação deve-se à acção de microorganismos que oxidam o enxofre elementar originando sulfato e iões H+. Em contraste com os fertilizantes químicos que contêm sais inorgânicos, os fertilizantes orgânicos contêm nutrientes minerais associados a moléculas orgânicas complexas. Os fertilizantes orgânicos originam-se a partir de desperdícios e resíduos de plantas e animais. Eles são frequentemente adicionados ao solo na forma de estrumes com a finalidade não só de fornecer elementos minerais, mas também para melhorarem a estrutura física do solo. Os adubos orgânicos, na forma de estrumes, aumentam a capacidade de retenção da água durante os períodos de seca e facilitam a drenagem quando existe abundância de água no solo. Os elementos minerais dos adubos orgânicos, para poderem ser utilizados pelas plantas, têm que ser libertados dos compostos orgânicos por acção de microorganismos do solo. Desta forma, os elementos minerais vão sendo libertados gradualmente ao longo dum período de tempo prolongado. Esta libertação gradual reduz o perigo de lexiviação pela água das chuvas. A existência de húmus no solo aumenta, ainda, a capacidade de troca iónica do solo, pois os catiões podem ligar-se às partículas de húmus carregadas negativamente. Existe actualmente quem defenda a prática duma agricultura biológica que preconiza o uso exclusivo de fertilizantes orgânicos nas culturas agrícolas e que exclui o uso de fertilizantes químicos e de pesticidas. Os defensores deste tipo de agricultura, asseguram que os alimentos produzidos deste modo são mais saudáveis. Adubação folear Pequenas quantidades de elementos minerais podem ser fornecidas às plantas através da folhas na forma de sprays. Este modo de proceder tem algumas vantagens, mas também alguns inconvenientes. Entre as vantagens podemos referir o facto de os nutrientes poderem ser utilizados mais rapidamente (maior rapidez de absorção); de os nutrientes se poderem apresentar mais disponiveis por não estarem sujeitos à retenção pelas partículas do solo, nem às interacções com outros elementos. Como principais problemas podemos referir a dificuldade na absorção o que exige muitas vezes o recurso ao uso de surfatantes, e a toxicidade, uma vez que a aplicação folear dos nutrientes minerais, pode conduzir, em certas condições, à acumulação de elementos minerais na superfície das folhas, onde pode causar danos (queimaduras). Nutrição Nitrogenada Ciclo do azoto A importância do azoto para as plantas é posto em evidência pelo facto de apenas o carbono, hidrogénio e o oxigénio entrarem na sua constituição em maior quantidade. Ele faz parte da estrutura de numerosos compostos e especialmente das proteinas e ácidos nucleicos. Apesar do azoto poder existir na natureza em diversas formas, no solo ele encontra-se principalmente na forma de nitrato (NO3 - ) e em determinadas condições (acídicas ou alagadas) de amónio (NH4+). Na atmosfera existem grandes quantidades (78% em volume) de azoto gasoso (N2), mas como nesta forma é muito pouco reactivo (quase inerte) não entra em reacções metabólicas na planta. Para poder entrar nas reacções químicas tem que ser previamente fixado (reduzido ou oxidado). Isto pode ser conseguido pela acção de certos microorganismos procarióticos (alguns géneros de bactérias e algas azuis) e por fixação industrial (fabrico de fertilizantes). Pequenas quantidades de NH4+ são tambem lançadas para a atmosfera e depois transportadas para o solo pelas chuvas, em consequência de combustões industriais, actividade vulcânica e fogos florestais, enquanto que algum NO3 - é produzido pela oxidação do N2 da atmosfera pelo O2 ou pelo ozono por acção de descargas eléctricas ou de radiações ultravioletas. N2 Atmosférico ↓ ↓ ↓ ↑ Fixação Biológica Fixação Industrial Fixação Atmosférica Desnitrificação Amonificação Absorção ⇑ ⇓ Fig1. Principais fases do Ciclo do Azoto Dejectos e os corpos de animais, plantas e microorganismos, são tambem importantes fontes de azoto que regressa ao solo e, embora as plantas não sejam capazes de utilizar directamente este azoto dos compostos orgânicos, ele representa um grande reservatório de NH4+ e NO3 - que os microorganismos decompositores vão libertar. A conversão do azoto orgânico em NH4+ pelas bactérias e fungos do solo é chamada amonificação. Em solos húmidos, quentes e com valores de pH próximos da Biomassa em Decomposição Biomassa Vegetal Biomassa Animal NH3 NO2 NO3 neutralidade, o NH4+ é rapidamente oxidado por bactérias do género Nitrosomonas em nitrito e este novamente oxidado em nitrato por bactérias do género Nitrobacter. Este processo chama-se nitrificação. O nitrato pode tambem ser perdido do solo para a atmosfera por desnitrificação sob a forma de N2, NO, N2O e NO2, pela acção de bactérias anaeróbicas. Estas bactérias usam o NO3- na respiração como receptor de electrões em vez do O2 para obterem energia. Fixação do Azoto O processo pelo qual N2 é reduzido a NH4+ é chamado fixação do azoto e é, tanto quanto se sabe, apenas levada a cabo por organismos procarióticos. Os principais fixadores de azoto incluem certas bactérias do solo com vida livre, cianobactérias (algas azuis) com vida livre da superficie do solo e da água, cianobactérias em associações simbióticas com fungos (líquenes), fetos, musgos e hepáticas, e bactérias, ou outros micróbios, associadas simbioticamente com as raizes de plantas superiores, especialmente de leguminosas (ver tabela seguinte). Muitas das não-leguminosas atrás referidas são plantas pioneiras de solos deficientes em azoto. Os microorganismos responsáveis pela fixação do azoto nas raizes de muitas espécies já foram identificados. Em algumas árvores tropicais são cianobactérias, mas na maioria de árvores e arbustos são actinomicetes do género Frankia que levam a cabo o processo. Por sua vez, nas leguminosas são espécies de bactérias dos géneros afins Rhizobium, Bradyrhizobium e Azorhizobium as responsaveis pela fixação. Apenas uma espécie de Rhizobium (ou afim do Rhizobium) é eficaz para uma dada espécie de leguminosa. Todos os Rhizobia são aeróbicos e vivem saprofiticamente no solo até poderem infectar as raizes de alguma leguminosa. Tabela 1. - Plantas que formam associações com procariotas fixadores de azoto Procariota Planta Cyanobacteria Anabaena Nostoc Fetos: Azolla Cicadáceas: Todos os géneros examinados Actinomicetes Frankia Angiospérmicas: Elementos do géneros: Alnus (amieiro), Myrica (Myrica gale), Shepherdia, Coriaria, Hippophae, Eleagnus, Ceanothus, Casuarina (C. equisetifolia) Eubacteria Rhizobium Angiospérmicas: Leguminosas e algumas plantas da família do ulmeiro Formação dos nódulos (nodosidades) da raiz das leguminosas A infecção da raiz duma leguminosa pelo rhizobium faz-se através dos pelos radiculares ou, nalguns casos, através de lesões das células epidérmicas. O processo envolve várias etapas que podem ser sumarizadas da seguinte forma (Fig. 2): 1- Multiplicação dos rhizobia, colonização da rizosfera e ligação das bactérias aos pelos e células epidérmicas da raiz da planta. A multiplicação das bactérias na rizosfera é estimulada por substâncias produzidas e libertadas pela leguminosa, nas quais se incluem determinados amino ácidos (homoserina) e flavonoides. As bactérias são atraidas quimiotácticamente por estas substâncias, acabando por se ligar às células epidérmicas e pelos radiculares. Esta ligação é altamente específica e implicao reconhecimento molecular entre a variedade de rhizobium e o hospedeiro. Ainda nesta fase, as bactérias também libertam agentes que induzem mitoses nas células de certos locais da zona cortical dando origem ao meristema primário do nódulo e também na região do periciclo. Fig. 2 – Acontecimentos das fases iniciais da nodulação na raiz das leguminosas 2- Curvatura da extremidade dos pelos radiculares e sua invasão pela bactéria para formar o filamento de infecção. Os pelos radiculares reagem à presença das bactérias encurvando e rodeando-as. A curvatura dos pelos radiculares parece ser provocada por substâncias produzidas pela bactéria (etileno, auxinas?). Em seguida, enzimas produzidas pela bactéria degradam parte da parede celular facilitando a entrada das bactérias no pelo radicular. Este forma o filamento de infecção, uma estrutura que consiste numa invaginação da membrana citoplasmática da célula invadida à qual se juntam fibrilhas de celulose. A bactéria continua a multiplicar-se no interior do filamento, o qual se estende para o interior através e entre as células do cortex. 3- Iniciação do nódulo e seu desenvolvimento na zona cortical da raiz (esta fase é concomitante com a fase 1). As divisões celulares na zona cortical e no periciclo da raiz iniciam-se ainda antes das bactérias invadirem os pelos radiculares. Formam-se dois centros meristemáticos (na zona cortical e no periciclo) em que ambos contribuem para a formação do nódulo. 4- Libertação das bactérias do filamento de infecção e sua diferenciação em células especializadas fixadoras do azoto. Quando as extremidades do filamento de infecção atingem as células do nódulo (principalmente as tetraploides) libertam vesículas contendo no interior uma ou mais bactérias. As bactérias no interior destas células deixam de se dividir, aumentam de tamanho, tornam-se imóveis e sofrem alterações da forma, passando a ser designadas por bacteroides (Fig. 3) . Os bacteroides mantêm-se reunidos em grupos, encontrando- se cada um deles envolvido por uma membrana, a chamada membrana peribacteroide. No citosol da planta é produzida uma proteina, chamada leg-hemoglobina, a qual tem cor rosada devido ao facto de possuir um grupo prostético heme ligado à proteina globina. Além de conferir uma cor rosada às nodosidades, pensa-se que a leg- hemoglobina controla a entrada do oxigénio nos bacteroides, impedindo que o complexo enzimático nitrogenase possa ser desnaturado por concentrações excessivas de O2. A fixação do N2 nas nodosidades radiculares ocorre directamente no interior dos bacteroides, fornecendo a planta hospedeira hidratos de carbono para a respiração dos bacteroides que assim obtêm a energia de que necessitam, sendo algum do ATP e dos electrões produzidos utilizados na redução do N2 para NH4+ Fig. 3 – Aspectos dos nódulos da raiz de uma leguminosas (esquerda) e de uma célula de uma nodosidade contendo bacteroides (direita) Bioquímica e fisiologia da fixação do azoto A fixação do azoto é catalizada por um complexo enzimático chamado nitrogenase, o qual existe apenas nas células dos organismos procarióticos capazes de fixarem o azoto. A nitrogenase é um complexo proteico multimérico, constituido por duas proteinas de pesos moleculares diferentes. A proteina menor, chamada Feproteina, é um dímero, formado por duas subunidades peptídicas idênticas, cada uma das quais possui um peso molecular que varia entre 24 e 36 kDa. A designação desta proteina resulta do facto de ela conter um agregado constituido por 4 iões ferro associados a 4 grupos enxofre (Fe4S4). A proteina maior da nitrogenase é chamada MoFeproteina. É constituida por quatro peptídeos iguais dois a dois e contem um cofactor formado por dois átomos de molibdénio associados a um grupo ferro-enxofre (Mo2Fe4S4). Para além deste cofactor, fazem ainda parte da proteina maior um número variavel de grupos Fe4S4. No total a massa molecular da MoFeproteina é de cerca de 220kDa. A enzima só funciona quando as duas componentes se encontram associadas e tanto o molibdénio como o ferro podem encontrar-se no estado oxidado ou reduzido conforme perdem ou recebem electrões. A reacção química global da redução do azoto é dada pela expressão: N2 + 8 H+ + 8e- + 16MgATP + ⇒ 2NH3 + H2 + 16MgADP + 16Pi O processo requer uma fonte de electrões e de protões, magnésio e numerosas moléculas de ATP. Desta reacção resulta, ainda, a produção de uma molécula de H2 por cada N2 fixado, o que se traduz por um dispêndio adicional de energia. Fig. 4 – Esquema do modo como funciona o complexo nitrogenase na fixação do N2 O complexo enzimático nitrogenase catalisa também a redução de várias outras substâncias incluindo o acetileno, o cianeto, o azeto, o óxido nitroso, o H+ e a hidrazina. A redução do acetileno a etileno é frequentemente utilizada para estimar a taxa de fixação de azoto no solo e noutros ambientes dada a facilidade com que se pode determinar a produção de etileno com um cromatógrafo de fase gasosa. A fonte primária (original) de electrões e protões são os hidratos de carbono produzidos nas folhas e translocados para a raiz onde são respirados (oxidados) pelas bactérias resultando daí a redução do NAD+ para NADH+ ou do NADP+ para NADPH. Em alternativa, a oxidação do piruvato leva à redução duma proteina chamada flavodoxina; por sua vez a flavodoxina, o NADH ou o NADPH reduzem a ferredoxina ou proteinas semelhantes as quais reduzem o N2 para NH3. No processo da fixação do azoto, o ATP liga-se à Fe-proteina reduzida fazendo com que ela actue como um poderoso agente redutor que transfere os electrões para a Mo- Fe-proteina, utilizando para isso a energia resultante da hidrólise do ATP. A Mo-Fe- proteina então completa o processo transferindo os electrões para o N2 e para os protões para formar NH3 e H2 (Fig. 4). A fixação do nitrogénio é sensível ao excesso de O2 porque ambas proteinas da nitrogenase são oxidativamente desnaturadas pelo O2. A leg-hemoglobina controla a disponibilidade de O2 ao bacteroide, mas há outras características anatómicas do próprio bacteroide que parecem ser muito importantes na manutenção dos valores de O2 em niveis aceitaveis Genética da fixação do azoto O processo complexo que leva ao estabelecimento duma relação simbiótica entre uma planta e um microorganismo fixador de azoto, a formação de nodosidades e a fixação do azoto em condições particulares, implica alterações profundas nos programas genéticos dos organismos envolvidos. No caso da fixação simbiótica, o processo completo envolve pelo menos três grupos de genes. Um grupo de genes está implicado na regulação da síntese da enzima nitrogenase.É um grupo numerosos de genes a que se dá o nome de genes nif, o qual inclui genes estruturais, que codificam as proteinas da nitrogenase, mas também genes reguladores. Um outro grupo de genes, chamados genes nod, encontram-se localizados no plasmídeo Sym (de simbiose) do microorganismo fixador e participam no processo indutor da nodulação. Estes genes (especialmente o gene nod D) são activados pela presença de flavonoides nos exsudados da raiz do hospedeiro (leguminosa). As proteinas codificadas por estes genes estão envolvidas na biossíntese dos chamados factores Nod os quais são essencialmente oligossacarídeos lipoquitinícos que funcionam como moléculas sinalizadoras. O terceiro grupo de genes pertence ao genoma do hospedeiro e codificam proteinas necessárias ao desenvolvimrento dos nódulos. Estas proteinas são chamadas nodulinas e os genes que as codificam são chamados genes NOD. A leg-hemoglobina é uma das nodulinas mais abundantes. Outras nodulinas tardias incluem enzimascomo a uricase ea glutamina sintetase, implicadas no processamento metabólico do azoto fixado. Estratégias para impedir a inactivação da nitrogenase pelo oxigénio São várias as estratégias que se desnvolveram para regular o acesso do oxigénio em concentrações aceitáveis ao complexo enzimático nitrogenase. Dentre as diversas estratégias referiremos as seguintes: •Muitos organismos fixadores de azoto de vida livre são anaeróbicos (obrigatórios ou facultativos), sendo nestas condições que realizam a fixação do azoto atmosférico. Fig. 5 – Cianobactéria fixadora de N2 mostrando as células especiais (heterocistos) onde decorre a fixação. Acineto Heterocisto •Outros organismos como as cianobactérias, que são fotossintéticas produtoras de oxigénio, realizam a fixação em células especiais chamadas heterocistos (Fig. 5), as quais, para além de possuirem paredes muito espessas que dificultam a difusão do oxigénio e terem uma actividade respiratória intensa, apresentam o aparelho fotossintético desprovido do fotossistema II, não havendo, portanto, produção de oxigénio nessas células. •Nas nodosidades das leguminosas, o fornecimento de oxigénio é regulado por uma proteina que se combina com o oxigénio, a leg-hemoglobina. Esta proteina é sintetizada pela planta hospedeira e localiza-se no interior das células infectadas pelos bacteroides. Deste modo o oxigénio vai sendo libertado apenas à medida das necessidades respiratórias dos bacteroides. Assimilação do azoto A amónia produzida pela fixação do azoto atmosférico tem de ser convertida em azoto orgânico antes de poder ser exportado das nodosidades e ser utilizado pelas plantas. As plantas que não podem fixar o azoto atmosférico retiram-no do solo. Dum modo geral as plantas são capazes de assimilar tanto o NH4+ como o NO3-, dependendo da sua abundância relativa no solo. Na maior parte dos solos a amónia é rapidamente convertida em nitrato por acção das bactérias nitrificantes. Estas bactérias não se desenvolvem bem sob condições anaeróbicas, nem em solos muito ácidos. Por isso a amónia acumula-se em solo com fraca drenagem e em solos ácidos. Algumas plantas principalmente da família das Ericáceas dão-se bem nestes solos porque utilizam preferencialmente a amónia como fonte de azoto. Por sua vez o nitrato, uma vez absorvido, tem de ser reduzido a amónia antes de poder ser assimilado. Assimilação do nitrato Excepto em situações muito especiais, o ião nitrato é a forma de azoto mais abundante no solo e o que se encontra mais disponivel às plantas que não possuem a capacidade de fixar o azoto atmosférico. Várias indicações sugerem que a absorção do nitrato pelas raizes é um processo activo, provavelmente mediado por um transportador proteico, que necessita de energia metabólica para se concretizar. A sintese da proteina transportadora parece ser induzida pela presença de nitrato no meio. Uma vez absorvido pela raiz, o NO3- pode ser acumulado nos vacúolos, ser assimilado imediatamente nas células da raiz ou ser translocado no xilema para as folhas onde é assimilado. O local da planta onde ocorre a redução do nitrato depende da concentração em que ele se encontra no meio exterior e do tipo de planta. A baixas concentrações a maior parte do nitrato é reduzido nas raizes e o azoto translocado para a parte aérea na forma de aminoácidos e de amidas. Para concentrações elevadas, uma parte considerável de NO3- é transportado no xilema para as folhas onde se dá a redução. Nem todas as plantas possuem a mesma capacidade para metabolizar NO3- nas raizes (Fig. 6). Por exemplo, em Xanthium strumarium, praticamente todo o azoto é transportado no xilema na forma de NO3-. Por outro lado, na cevada e no girassol, proporções idênticas de azoto são translocadas na forma de nitrato e na forma de aminoácidos e amidas, enquanto que, no rabanete e no tremoço branco, menos de 15% do azoto circula na forma de nitrato. Fig. 6 – Formas em que circula o N2 no xilema de diferentes espécies vegetais O nitrato não pode ser assimilado directamente, precisando de ser reduzido primeiro a amónia antes de poder ser incorporado em compostos orgânicos. Este processo é realizado em duas etapes: Em primeiro lugar o nitrato (NO3-) é reduzido para nitrito (NO2-) no citosol por acção da enzima nitrato redutase (NR). Esta enzima é formada por duas subunidades idênticas, tem um peso molecular de cerca de 115 kDa e contem molibdénio. A síntese desta enzima é regulada pela concentração de nitrato e também pela luz através de mecanismos independentes, mas complementares. Embora o indutor primário pareça ser o NO3-, a luz é necessária para haver taxas óptimas de síntese. O efeito da luz na indução da actividade da nitrato redutase parece ser mediado através do fitocromo e também da fotossíntese. Nas plantas superiores os electrões são fornecidos principalmente pelo NADH ou pelo NADPH, enquanto que nos microorganismos o principal dador de electrões é a ferredoxina. 2H+ + NO3- + 2e- ⇒ NO2- + H2O O produto desta reacção, NO2-, desloca-se então para os plastídeos ( na raiz) ou para os cloroplastos (nas folhas) onde é ràpidamente reduzido para NH4+ por acção da enzima nitrito redutase (NiR). 8H+ + NO2- + 6e- ⇒ NH4+ + 2H2O O nitrito é tóxico e por isso tem que ser rapidamente reduzido para amónia. É por essa razão que a actividade da enzima NiR nos tecidos é muito maior que a da enzima NR. Deste modo o nitrito não se acumula na planta. A enzima nitrito redutase é formada por um único polipeptídeo com cerca de 63 kDa e contem dois grupos prostéticos: um formado por ferro e enxofre (Fe4S4) e o outro é um grupo heme especializado. Os electrões necessários para levar a cabo a redução do nitrito são fornecidos pela ferredoxina reduzida (Fig. 7). Fig. 7 – Direcção do fluxo de electrões durante o processo de redução do nitrito a amónia Assimilação da amónia A amónia resultante da redução do nitrato nas plantas que não são capazes de fixar o azoto atmosférico, ou a amónia resultante da fixação simbiótica do azoto nestes últimos, é rapidamente assimilada em compostos orgânicos através do ciclo Glutamina sintetase (GS)/ Glutamato síntase (GOGAT). O produto orgânico inical deta via de assimilação da amónia é o aminoácido glutamina. O ciclo completo envolve a actuação sequencial das duas enzimas, glutamina sintetase e glutamato síntase (Fig. 8). Na primeira reacção, catalizada pela glutamina sintetase, um grupo NH4+ é adicionado a uma molécula de glutamato dando origem a uma molécula de glutamina. Glutamato + NH4+ + ATP ⇒ Glutamina + ADP + Pi A energia necessária para realizar a aminação do glutamato é fornecida pelo ATP. As plantas possuem dois tipos de GS: uma citosólica (que ocorre nas sementes em germinação e nos feixes vasculares da raiz e do caule) e outra plastidial (que se expressa nos plastídeos das células da raiz ou nos cloroplastos das células das folhas). A enzima tem um peso molecular de cerca de 350 kDa e é constituida por oito subunidades aproximadamente iguais Em seguida, a glutamina é reconvertida a glutamato através da transferência de um dos seus grupos amida para uma molécula do ácido α-ketoglutárico, originando-se duas moléculas de glutamato. Esta segunda reacção é catalizada pela enzima glutamato síntase (GOGAT = glutamina-2-oxoglutarato-amino-transferase). Esta enzima também existe em duas formas diferentes: Uma que aceita electrões do NADH e que ocorre nos plastídeos dos tecidos não fotossintéticos da raiz e dos feixes vasculares das folhas em desnvolvimento; outra que recebe electrões da ferredoxina e que se encontra nos cloroplastos. Para esta reacção é necessárioum agente redutor que pode ser o NADH ou a ferredoxina. Glutamina + α-ketoglutarato + NADH ⇒ 2 glutamato + NAD+ O α–ketoglutarato é um intermediário na via respiratória para a oxidação da glucose ou seja, deriva, em última análise, dos hidratos de carbono produzidos na fotossíntese. Como nesta reacção se formam duas moléculas de glutamato que podem ser utilizadas para produzir glutamina e como neste ciclo só se gasta uma molécula de glutamina a outra molécula de glutamina pode ser utilizada pelas células para produzir aminoácidos. Fig. 8 – Reacções da assimilação da amónia pela via GS/GOGAT O NH4+ também pode ser assimilado por uma via alternativa à descrita. A enzima glutamato desidrogenase (GDH) cataliza uma reacção reversivel que tanto pode sintetizar como desaminar o glutamato segundo a equação: α-Ketoglutarato + NH4+ + NAD(P)H ⇐⇒ Glutamato + H2O + NAD(P)+ Uma forma de GDH ocorre nas mitocôndrias e outra nos cloroplastos dos orgãos fotossintéticos. Contudo, e apesar de serem relativamente abundantes, os seus papéis no metabolismo do azoto permanece pouco claro, mas parecem existir razões bastante fortes para não se lhe atribuir grande significado na assimilação da amónia. De facto a sua afinidade para o NH4+ é muito inferior à da GS. Além disso, certos inibidores da actividade da enzima GS bloqueia toda a incorporação de amónia em glutamato ou em glutamina. Reacções de transferência de azoto por transaminação Uma vez incorporado na glutamina ou no glutamato, o azoto pode ser incorporado noutros aminoácidos através de reacções de transaminação. Estas reacções são catalizadas por enzimas chamadas aminotransferases. Um exemplo dessas enzimas é a aspartato aminotransferase (AAT) que cataliza a transferência de um grupo amina do glutamato (aminoácido) para o oxaloacetato (keto-ácido) para dar aspartato e α– ketoglutarato de acordo com a equação: Glutamato + oxaloacetato ⇒ α-ketoglutarato + aspartato Estas reacções de transaminação exigem fosfato de piridoxal (vitamina B6) como cofactor. As aminotransferases encontram-se no citoplasma, cloroplastos, mitocôndrias, glioxisomas e peroxisomas. Num segundo passo, a asparagina pode ser sintetizada por transferência dum grupo amina da glutamina para o aspartato, numa reacção catalizada pela asparagina sintetase, uma enzima que requer ATP e que ocorre no citosol de folhas e raizes e também nas nodosidades fixadoras de azoto. Glutamina + aspartato + ATP ⇒ Glutamato + asparagina + ADP + Pi Em muitas plantas fixadoras de azoto, incluindo leguminosas da zonas temperadas como a ervilha , o trevo, a fava e a lentilha, o azoto é exportado e transportado principalmente na forma de glutamina e asparagina. Por sua vez as leguminosas de origem tropical como a soja , o feijão e o amendoim, exportam o azoto principalmente na forma de ureidos, que são derivados da ureia. Os três ureidos principais são a alantoina, o ácido alantóico e a citrulina (Fig. ). A alantoina é sintetizada nos peroxisomas a partir do ácido úrico, o ácido alantóico é sintetizado no retículo endoplasmático a partir da alantoina e, finalmente, a citrulina é sintetizada a partir do aminoácido ornitina em local da célula ainda não determinado. Assimilação do enxofre A maior parte do enxofre orgânico vegetal encontra-se na forma dos aminoácidos cisteina e metionina e de proteinas, mas também está presente noutras biomoléculas importantes como a glutationa e diversas coenzimas (ex. Co-A) e vitaminas. O sulfato (SO42-) constitui a principal fonte de enxofre inorgânico dos solos para as plantas. Este anião é absorvido pela raiz e transportado em grande parte no xilema para as folhas, onde é reduzido e assimilado como um grupo tiol (-SH) de moléculas orgânicas. Nem todo o sulfato é reduzido para ser assimilado. O ião sulfato pode ser incorporado sem alteração em alguns compostos orgânicos, como polissacarídeos e lípidos (sulfolípidos), formando ésteres sulfúricos desses compostos, Absorção e assimilação do sulfato O sulfato é transportado activamente para dentro das células mediante um mecanismo de simporte com protões (3H+/SO42-) em que o gradiente de protões é criado e mantido por uma H+-ATPase da membrana citoplasmática. A primeira etapa da assimilação do sulfato pelas plantas consiste na activação do sulfato pelo ATP, uma reacção catalizada pela enzima ATP sulfurilase que produz adenosina 5´ fosfosulfato (APS) e pirofosfato (PP). O sulfonucleótido APS possui um enlace rico em energia o que permite à molécula iniciar as reacções ulteriores da redução do enxofre. Nas plantas e nas algas, a fase seguinte (redução do sulfato) inicia-se com a transferência redutora do grupo sulfato do APS para o grupo tiol da glutationa para formar um tiosulfonato ou tiosulfato orgânico, reacção esta catalizada pela enzima APSsulfotransferase (=APSredutase). O tiosulfonato ligado à glutationa é depois reduzido para tiosulfureto pela ferredoxina reduzida por acção duma tiosulfonato redutase, originando ferredoxina oxidada e glutationa tio-sulfureto. Finalmente, a enzima cisteina sintetase transfere o grupo sulfureto para a molécula aceitadora O- acetilserina (serina activada pela acetil Co-A), dando origem a uma molécula do aminoácido cisteina, uma molécula de acetato e a glutationa oxidada. Nesta reacção participa uma segunda molécula de glutationa reduzida (G-SH) ficando ambas oxidadas (G-S-S-G). As duas moléculas de glutationa reduzida que participam na redução do sulfato são regeneradas através da redução das glutationas oxidadas pelo NADPH por acção da enzima glutationa redutase. A assimilação do sulfato para cisteina consome 8 electrões (seis fornecidos pela ferredoxina reduzida e dois pelo NADPH). Os agentes redutores (ferredoxina e NADPH) bem como o ATP são produzidos nos cloroplastos, lugar onde decorre a redução do enxofre. A partir da cisteina, as plantas sintetizam metionina, glutationa e outros compostos com enxofre. Esquema do processo de assimilação do sulfato nas plantas
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