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COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA - IPEMIG Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS EMENTA: A disciplina trata da deficiência auditiva, suas causas e diagnóstico. No âmbito educacional, trata da estimulação necessária para valorização do aprendizado, do processo da alfabetização, da educação chegando até a capacitação profissional. Trata da Língua Brasileira de Sinais como meio natural de comunicação e a estrutura da língua. Apresenta a legislação que ampara os portadores de necessidades especiais, em especial auditivas. OBJETIVO GERAL: Promover condições para que o aluno aproprie-se de conhecimentos sobre a educação dos surdos e habilidades relacionados a utilização da Língua Brasileira de Sinais em situações apropriadas do cotidiano escolar. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: UNIDADE I: A Deficiência Auditiva Objetivos: - Conhecer as causas da deficiência auditiva, diagnóstico e a importância da família e da estimulação no processo ensino-aprendizagem, bem como a história da Educação Especial e voltada para o deficiente auditivo no Brasil. Conteúdo: - Deficiência auditiva, causas e diagnóstico. - O papel da família, escola e professor. - Estimulação da linguagem. - História da Educação Especial no Brasil. A alfabetização do deficiente auditivo. Objetivos: - tratar da alfabetização, englobando métodos, propostas, atividades bem como a alfabetização de jovens e adultos. Conteúdo: - Alfabetização: métodos, atividades e o Construtivismo. - O processo de leitura e escrita. - Alfabetização de jovens e adultos. - Estimulação para o desenvolvimento da fala e de LIBRAS. A educação do Deficiente Auditivo Objetivos: - Perceber a diferença entre os tipos de escola, as dificuldades de aprendizagem e o tipo de avaliação. Identificar as profissões relacionadas com o deficiente auditivo. Conteúdo: - Objetivos e características da educação - Dificuldades de aprendizagem e avaliação - Capacitação profissional e profissões. LIBRAS - Objetivos: - Conhecer a estrutura gramatical de LIBRAS, o alfabeto manual e curiosidades sobre deficiência auditiva, incluindo livros e filmes. Conteúdos: - Estrutura gramatical da LIBRAS - Alfabeto - Curiosidades acerca do mundo surdo. A Deficiência Auditiva Objetivos Entende-se por deficiência auditiva a incapacidade total ou parcial da audição, ou seja, a diminuição da capacidade de percepção normal dos sons, sendo considerado deficiente auditivo total aquele cuja audição não é funcional na vida comum (surdo) e parcialmente deficiente auditivo aquele cuja audição ainda é funcional fazendo ou não uso de prótese auditiva (hipoacústico). Classifica-se um indivíduo parcialmente deficiente quando ele: • Apresenta surdez leve, ou seja, perda auditiva de quarenta decibéis. Isto significa que a voz fraca ou distante não é percebida e que nem todos os fonemas são distinguidos. É confundido como desatenção e este problema não impede a aquisição normal da linguagem, mas haverá dificuldade na leitura e escrita e problemas de articulação. • Apresenta surdez moderada, ou seja, perda auditiva de quarenta a setenta decibéis. É necessário falar com certa intensidade para que o deficiente ouça. Poderá haver atraso de linguagem e alterações articulatórias bem como problemas lingüísticos. Classifica-se um indivíduo deficiente auditivo total quando ele: • Apresenta surdez severa, com perda de setenta a noventa decibéis. Poderá até adquirir linguagem, mas será mais demorada e dependerá de muita estimulação e orientação dos pais. A aquisição será mais facilitada se o indivíduo tiver boa percepção visual. • Apresenta surdez profunda, com perda de mais de noventa decibéis. É possível que adquira linguagem oral, mas com muito estímulo desde bebê. No passado, costumava-se pensar que o deficiente auditivo tinha também um déficit de inteligência, mas com a inclusão dos deficientes auditivos no âmbito escolar, provou-se que a não aprendizagem era decorrente da falta de estímulos e incentivo LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - LIBRAS 13 UNIMES VIRTUAL aos estudos. Este progresso ocorreu quando foram desenvolvidas as línguas de sinais. O conceito é dado de acordo com o grau de perda auditiva que é calculado através da intensidade necessária de amplificação de um som de modo que seja percebido pela pessoa deficiente. Essa amplificação é medida em decibéis. A deficiência auditiva pode ser de origem congênita ou adquirida. É considerada congênita quando as causas são: • Hereditariedade ou desordens genéticas; • Viroses maternas como sarampo, rubéola; • Doenças tóxicas, como toxicoplasmose, sífilis; • Ingestão de medicamentos ototóxicos durante a gravidez; • Drogas, alcoolismo; • Fator Rh; • Carências alimentares; • Pressão alta, diabetes; Exposição à radiação...dentre outros. É considerada adquirida quando as causas são: • Infecção hospitalar; • Anóxia; • Meningite; • Remédios ototóxicos; • Sífilis; • Sarampo, caxumba; • Exposição a ruídos muito altos; • Traumatismos cranianos, dentre outros. Acredita-se que a cada mil nascimentos, uma criança nasce com surdez profunda, por isso a prevenção é de extrema importância. Em respeito à prevenção, deveriam ser feitas campanhas de vacinação, exames pré-nupciais, pré-natal, boas condições de parto e higiene, melhores condições de nutrição e programas de orientação às gestantes e mães. Em relação à assistência ao deficiente auditivo, deveria haver atendimento fonoaudiológico e médico, estimulação precoce e acesso à Educação Infantil. O diagnóstico do indivíduo com deficiência auditiva pode ser proveniente de diversos exames, dentre eles: exame do ouvido, exame otorrinolaringológico, audiometria com reforço visual e variadas técnicas de avaliação da audição. A família é uma importante aliada para o diagnóstico precoce. Ela deve ficar atenta desde os primeiros meses de vida do bebê. O bebê desde muito cedo reage às vozes dos familiares, à músicas, a sons do ambiente, aos sons dos brinquedos, aos sons da televisão. Caso o bebê não demonstre reação a essas situações, é importante procurar auxílio médico. Quanto à criança, é importante notar a distância que ela assiste à televisão e a altura do som, se ela só se reporta a alguém quando está de frente, se apresenta problemas na escola, se não atende quando é chamada, se apresenta problemas na fala, enfim qualquer comportamento diferenciado que possa significar algum distúrbio. É importante salientar que qualquer diagnóstico feito precocemente é fundamental para um bom desenvolvimento educacional, social e psicológico da criança e que poderá proporcionar a ela uma vida normal. É importante ressaltar que a escola também tem um papel fundamental, pois dependendo da situação é a escola que notará possíveis problemas com a criança, cabendo a ela indicar o profissional adequado. ABORDAGENS DE ENSINO NA EDUCAÇÃO DA PESSOA COM SURDEZ Rosimar Bortolini Poker Ter conhecimento sobre a história, bem como sobre as filosofias e métodos educacionais criados para os alunos com surdez, permite a compreensão da relação existente entre o comprometimento lingüístico dessa população, a qualidade das suas interações interpessoais e o seu desenvolvimento cognitivo. A história serve de suporte para que seja feita uma análise crítica das conseqüências de cada filosofia ou método de ensino no desenvolvimento destas crianças, contextualizando as práticas vigentes. Inicialmente a sociedade tinha uma idéia muito negativa da surdez, enfatizando sempre os seus aspectos negativos. Segundo Goldfeld (1997), na antiguidade os surdos foram percebidos de diversas formas: com piedade e compaixão, como pessoas castigadas pelos deuses ou como pessoas enfeitiçadas. Por isso mesmo, foram abandonadas ou sacrificadas. Para Goldifeld (1997), a crença de que a pessoacom surdez era uma pessoa primitiva fez com que persistisse até o século quinze a idéia de que ele não poderia ser educado. Sendo assim, tais pessoas viviam totalmente à margem da sociedade e não tinham nenhum direito assegurado. Só a partir do século dezesseis é que se tem notícias dos primeiros educadores de pessoas com surdez. De acordo com Reis (1992), Fornari afirma que "Cardano foi o primeiro a afirmar que o surdo deveria ser educado e instruído, afirmando que era crime não instruir um surdo - mudo". A partir daí, vários educadores se propuseram a criar diferentes metodologias para ensinar as crianças com surdez. Alguns se baseavam apenas na linguagem oral, ou seja, a língua auditiva -oral utilizada em seu país. Outros, diferentemente, pesquisaram e defenderam a língua de sinais, que se constitui em uma língua espaço-visual criada através de gerações pelos próprios surdos. Outros ainda criaram alguns códigos visuais com o objetivo de manter a comunicação com seus alunos com surdez. Até hoje existem diversas correntes teóricas a respeito da educação do aluno com surdez. Conforme Goldfield (1997), no século dezesseis, na Espanha, o monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1520 - 1584) desenvolveu uma metodologia de educação para crianças com surdez que incluía datilologia (representação manual das letras do alfabeto), escrita e oralização, e criou uma escola de professores de surdos. Em 1620, Juan Martin Pablo Bonet publicou, também na Espanha, um livro que tratava do alfabeto manual de Ponce de Leon. Em 1750, na França, surge Abade Charles Michel de L'Epée que aprende com as pessoas surdas a língua de sinais criando os "Sinais Metódicos". Teve grande sucesso na educação das pessoas com surdez transformando sua casa em uma escola pública. L'Epée e seu seguidor Sicard defendiam que todos as pessoas com surdez, independentemente de seu nível social, deveriam ter direito à educação pública e gratuita. Na Alemanha, nesta mesma época, com Samuel Heinick, surge a filosofia educacional Oralista que defende que o ensino da língua oral, e a rejeição à língua de sinais, é a melhor forma de educar o aluno com surdez. Heinick funda a primeira escola pública para crianças com surdez baseada no oralismo. Em 1817 Thomas Hopkins Gallaudet, junto com Laurent Clerc, fundou a primeira escola permanente para alunos com surdez nos EUA, que utilizava como forma de comunicação o francês sinalizado, adaptado para o inglês. A partir de 1821, todas as escolas públicas americanas passaram a caminhar na direção da ASL (Língua de Sinais Americana). Em 1864 foi fundada a primeira universidade nacional para surdos, a Universidade Gallaudet. Apesar da disseminação da língua de sinais, a partir de 1860, com os avanços tecnológicos que facilitavam a aprendizagem da fala pelas pessoas com surdez, o método oral ganhou força. Ainda segundo Goldfield (1997), o mais importante defensor do Oralismo foi Alexander Graham Bell, que exerceu grande influência no resultado da votação do Congresso Internacional de Educadores de Surdos, realizado em Milão no ano de 1880. No Congresso, foi colocado em votação qual método deveria ser utilizado na educação dos surdos. O Oralismo venceu e o uso da língua de sinais foi oficialmente proibido. Ressalta-se que foi negado aos professores surdos o direito de votar. No início do século vinte a maior parte das escolas em todo o mundo deixa de usar a língua de sinais. A oralização passa a ser o principal objetivo da educação das crianças surdas e, para aprenderem a falar, passavam a maior parte do seu tempo nas escolas recebendo treinamento oral. O ensino das disciplinas escolares foi deixado para segundo plano levando a uma queda significativa no nível de escolarização dos alunos com surdez. O Oralismo dominou até a década de sessenta quando William Stokoe publicou um artigo demonstrando que a Língua de Sinais constituía- se em uma língua com as mesmas características das línguas orais. http://unimes2015.nucleoead.net/eduead/mod/book/view.php?id=47727 http://unimes2015.nucleoead.net/eduead/mod/book/view.php?id=47727 A partir daí, surgiram outras pesquisas demonstrando a importância da língua de sinais na vida da pessoa com surdez bem como revelando a insatisfação por parte das pessoas surdas com a abordagem oral. Em 1968, surge a filosofia da Comunicação Total que utiliza todas as formas de comunicação possíveis na educação dos surdos, acreditando-se que a comunicação e não apenas a língua, deve ser privilegiada. Conforme Goldfield (1997), a partir da década de setenta, percebeu- se que a língua de sinais deveria ser utilizada independentemente da língua oral. Surge assim a filosofia Bilíngue, que desde a década de oitenta vem se disseminando por todos os países do mundo. No Brasil, a educação das pessoas com surdez teve início em 1857, ao ser fundada a primeira escola especial no Rio de Janeiro por um professor surdo francês, Ernest Huet, com o apoio de D. Pedro II, e que hoje tem o nome de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), que utilizava a língua de sinais. Segundo Goldfield (1997), o INES em 1911, seguindo a tendência mundial, passou a assumir a abordagem oralista, apesar da forte resistência dos alunos que continuavam a utilizar de forma proibida a língua de sinais nos corredores e pátios da escola. A Comunicação Total chega ao Brasil no fim da década de setenta e, na década seguinte começa o Bilinguismo, que surge com as pesquisas da Professora linguista Lucinda Ferreira Brito, sobre a Língua Brasileira de Sinais. Métodos de ensino para alunos com surdez Durante o decorrer dos séculos tem-se proposto uma variedade de abordagens e métodos para a educação dos alunos com surdez. A maioria deles fundamenta-se em substituir a audição perdida por um outro canal sensorial, como a visão, o tato, ou aproveitando os restos da audição existentes. O aspecto dos métodos que tem sido mais problemático é a ausência de trabalhos, ou afirmação de que existe um único método para todas as crianças com surdez. Para aquelas que têm resíduos auditivos, pode ser oferecido um acesso para o código da fala dentro de uma abordagem oral. Diferentemente, para aqueles que não têm razoável resíduo ou mesmo grande dificuldade em desenvolver a oralidade, a Língua de Sinais constitui-se na língua mais adequada para o sujeito interagir com o meio. A querela existente entre os defensores dos diferentes métodos ou abordagens demonstra que há diferentes formas de enfrentar as consequências da surdez respeitando-se cada pessoa e sua família. O professor, junto com os pais, deve explorar e buscar alternativas para cada aluno, no sentido de provocar o desenvolvimento pleno de suas potencialidades. Os métodos de ensino dividem-se em três abordagens principais que produziram muitas formas de se trabalhar com o aluno surdo. São elas: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo. Oralismo De acordo com Goldfield (1997) o Oralismo ou filosofia oralista visa a integração da criança com surdez na comunidade de ouvintes, dando-lhe condições de desenvolver a língua oral (no caso do Brasil, o português). Para alguns defensores desta filosofia, a linguagem restringe-se à língua oral sendo por isso mesmo esta, a única forma de comunicação dos surdos. Acreditam assim que para a criança surda se comunicar é necessário que ela saiba oralizar. Para Goldfield, o Oralismo concebe a surdez como uma deficiência que deve ser minimizada por meio da estimulação auditiva que possibilitaria a aprendizagem da língua portuguesa e levaria a criança surda a integrar-se na comunidade ouvinte, desenvolvendo sua personalidade como a de alguém que ouve. Isto significa que o objetivo do Oralismo é fazer a reabilitação da criança surda em direção à normalidade. A educação oral requer um esforço totalpor parte da criança, da família e da escola. De acordo com os seus defensores, para se obter um bom resultado, é necessário: - Envolvimento e dedicação das pessoas que convivem com a criança no trabalho de reabilitação todas as horas do dia e todos os dias do ano; - Início da reabilitação o mais precocemente possível, ou seja, deve começar quando a criança nasce ou quando se descobre a deficiência; - Não oferecer qualquer meio de comunicação que não seja a modalidade oral. O uso da língua de sinais tornará impossível o desenvolvimento de hábitos orais corretos; - A educação oral começa no lar e, portanto, requer a participação ativa da família, especialmente da mãe; - A educação oral requer participação de profissionais especializados como fonoaudiólogo e pedagogo especializado para atender sistematicamente o aluno e sua família; - A educação oral requer equipamentos especializados como o aparelho de amplificação sonora individual. Para alcançar os seus objetivos, a filosofia oralista utiliza diversas metodologias de oralização: método acupédico, método Perdoncini, método verbo-tonal, entre outros. Essas metodologias se baseiam em pressupostos teóricos diferentes e possuem, em certos aspectos, práticas diferentes. O que as tornam comum é o fato de defenderem a língua oral como a única forma desejável de comunicação da pessoa surda, rejeitando qualquer forma de gestualização, especialmente a Língua de Sinais. Em resumo o Oralismo consiste em fazer com que a criança receba a linguagem oral através da leitura orofacial e amplificação sonora, enquanto se expressa através da fala. Gestos, Língua de Sinais e alfabeto digital são expressamente proibidos. Comunicação Total Define-se como uma filosofia que requer a incorporação de modelos auditivos, manuais e orais para assegurar a comunicação eficaz entre as pessoas com surdez. Tem como principal preocupação os processos comunicativos entre surdos e surdos, e entre surdos e ouvintes. Esta filosofia se preocupa também com a aprendizagem da língua oral pela criança surda, mas acredita que os aspectos cognitivos, emocionais e sociais não devem ser deixados de lado só por causa da aprendizagem da língua oral. Defende assim a utilização de qualquer recurso espaço - visual como facilitador da comunicação. Segundo Ciccone (1990), os profissionais que defendem a Comunicação Total concebem o surdo de forma diferente dos oralistas: ele não é visto só como alguém que tem uma patologia que precisa ser eliminada, mas sim como uma pessoa, e a surdez como uma marca que repercute nas relações sociais e no desenvolvimento afetivo e cognitivo dessa pessoa. Diferentemente do Oralismo, a Comunicação Total acredita que o aprendizado da língua oral não assegura o pleno desenvolvimento da criança surda. Ciccone (1990) demonstrou que muitas crianças que foram expostas sistematicamente à modalidade oral de uma língua, antes dos três anos de idade, conseguiram aprender está língua mas, no desenvolvimento cognitivo, social e emocional, não foram bem sucedidas. Uma diferença marcante entre a Comunicação Total e as outras abordagens educacionais constitui-se no fato de que a Comunicação Total defende a utilização de qualquer recurso linguístico, seja a língua de sinais, a linguagem oral ou códigos manuais, para propiciar a comunicação com as pessoas com surdez. A Comunicação Total valoriza a comunicação e a interação e não apenas a língua. Seu objetivo maior não se restringe ao aprendizado de uma língua. Outro aspecto a ser salientado é que esta filosofia respeita a família da criança com surdez. Acredita que cabe à família o papel de compartilhar valores e significados, formando, junto com a criança, através da possibilidade da comunicação, sua subjetividade. Os defensores da filosofia da Comunicação Total recomendam então o uso simultâneo de diferentes códigos como: a Língua de Sinais, a datilologia, o português sinalizado, etc. Todos esses códigos manuais são usados obedecendo à estrutura gramatical da língua oral, não se respeitando a estrutura própria da Língua de Sinais. Nesse sentido a Comunicação Total acredita que esse bimodalismo pode atenuar o bloqueio de comunicação existente entre a criança com surdez e os ouvintes. Tenta evitar que as crianças sofram as consequências do isolamento. Tal abordagem compreende, então, que a criança seja exposta: - ao alfabeto digital; - a língua de sinais; - a amplificação sonora; - ao português sinalizado. A abordagem da Comunicação Total chegou ao Brasil na década de setenta e vem sendo adotada em escolas mais recentemente. Os Estados Unidos é o maior representante desta abordagem. Sofreu muitas críticas, uma vez que não trouxe os benefícios esperados no âmbito do desempenho acadêmico das crianças com surdez no que se refere ao seu processo de escolarização (leitura e escrita). Bilinguismo É uma filosofia que vem ganhando força na última década principalmente no âmbito nacional. Na Suécia já existem trabalhos nesta perspectiva há um bom tempo. No Uruguai e Venezuela verifica-se a presença desta abordagem nas propostas de ensino das instituições públicas. Na Inglaterra existem estudos iniciais e, na França, aparece nas propostas das escolas que trabalham especificamente na educação dos alunos surdos. Configura-se, no caso do Brasil, como uma proposta recente defendida por linguistas voltados para o estudo da Língua de Sinais. Ainda não foi feita uma avaliação crítica pois, de maneira geral, não foi efetivamente implantada. Parte do princípio que o surdo deve adquirir como sua primeira língua, a língua de sinais com a comunidade surda. Isto facilitaria o desenvolvimento de conceitos e sua relação com o mundo. Aponta o uso autônomo e não simultâneo da Língua de Sinais que deve ser oferecida à criança surda o mais precocemente possível. A língua portuguesa é ensinada como segunda língua, na modalidade escrita e, quando possível, na modalidade oral. Contrapõe-se às propostas da Comunicação Total uma vez que não privilegia a estrutura da língua oral sobre a Língua de Sinais. De acordo com Brito (1993) no bilingüismo a língua de sinais é considerada uma importante via para o desenvolvimento do surdo, em todas as esferas de conhecimento, e, como tal, “propicia não apenas a comunicação surdo – surdo, além de desempenhar a importante função de suporte do pensamento e de estimulador do desenvolvimento cognitivo e social”. Para os bilinguistas os surdos formam uma comunidade, com cultura e língua próprias, tendo assim, uma forma peculiar de pensar e agir que devem ser respeitadas. Existem duas vertentes dentro da filosofia Bilíngüe. Uma defende que a criança com surdez deve adquirir a língua de sinais e a modalidade oral da língua, o mais precocemente possível, separadamente. Posteriormente, a criança deverá ser alfabetizada na língua oficial de seu país. Outra vertente acredita que se deve oferecer num primeiro momento apenas a língua de sinais e, num segundo momento, só a modalidade escrita da língua. A língua oral neste caso fica descartada. Segundo Quadros (1997), o bilingüismo é uma proposta de ensino usada por escolas que se propõem a tornar acessível à criança duas línguas no contexto escolar. Os estudos têm apontado para essa proposta como sendo a mais adequada para o ensino das crianças surdas, tendo em vista que considera a língua de sinais como língua natural e parte desse pressuposto para o ensino da língua escrita. A preocupação do bilingüismo é respeitar a autonomia das línguas de sinais organizando-se um plano educacional que respeite a experiência psicossocial e linguística da criança com surdez. Quando o professor ouvinte conhece e usa a Língua de Sinais, tem condições de comunicar-se de maneira satisfatória com seu aluno surdo. A introdução da Línguade Sinais no currículo de escolas para surdos é um indício de respeito a sua diferença. É o que caracteriza uma escola inclusiva para esse alunado. O aluno surdo para se desenvolver necessita então de professores altamente participativos e motivados para aprender e tornar fluente a linguagem. Só assim, ou seja, respeitando e considerando às suas necessidades educacionais, é que será possível proporcionar o pleno desenvolvimento emocional e cognitivo e a efetiva inclusão e participação do aluno surdo no meio social. O PAPEL DA FAMÍLIA A família é peça fundamental para a descoberta da deficiência, para o acompanhamento correto e necessário e para a integração do indivíduo na sociedade. Mas para que ocorra tudo isso de forma eficaz, é necessário que haja uma parceria com a escola e a sociedade. O primeiro passo importante a ser dado está antes mesmo da gravidez. Como dito anteriormente os pais devem fazer exames pré-nupciais e a mulher deve vacinar-se contra rubéola, sarampo e outras doenças como também estar atenta ao fator Rh de seu sangue. Já estando grávida, a mulher deve alimentar-se bem, fazer o acompanhamento pré-natal correto, evitar a companhia de pessoas com doenças contagiosas e tomar medicamentos sob supervisão médica. Após o nascimento, os pais devem vacinar seu filho contra meningite, sarampo e caxumba, dar medicamentos sob supervisão médica e procurar um médico sempre que necessário. Entretanto, mesmo sob todos os cuidados, os pais devem ficar atentos ao desenvolvimento da criança, pois são eles que perceberão precocemente a surdez do filho. Os principais indícios de uma criança com deficiência auditiva são: • Não reage ao barulho de porta batendo ou outros ruídos fortes, como música alta, gritaria, fogos de artifício etc; • Não atende quando chamada; • Está sempre distraída ou desatenta; • Atraso na fala (após dois anos de idade); • Fala de modo incompreensível; • Aparenta ter atraso no desenvolvimento neurológico e ou motor. Caso a criança apresente um ou mais desses indícios é recomendável procurar um médico. Após a criança ser diagnosticada como deficiente auditiva, os pais devem procurar uma assistência adequada para o acompanhamento dessa criança. Essa assistência engloba primeiramente os serviços fonoaudiológico, médico, educacional e psicológico. Estes atendimentos trabalharão precocemente com a deficiência da criança, podendo proporcionar a ela um progresso e uma melhor qualidade de vida. Buscando essa melhoria na qualidade de vida da criança, os pais devem interagir ativamente com esses profissionais, pois só se consegue um progresso havendo um acompanhamento. Devido a isso, os pais devem estar sempre disponíveis a atender as necessidades de seu filho e colaborar no ambiente familiar com o que lhes é proposto pelos profissionais, já que várias atividades devem ser feitas continuamente. Os pais, também, podem procurar as associações de deficientes auditivos existentes em várias comunidades, onde são oferecidos palestras e acompanhamento profissional à criança e, inclusive, aos pais. Nessas comunidades também há a interação de indivíduos deficientes auditivos, onde são realizadas festas, confraternizações, reuniões periódicas e diversões entre os participantes. É importante ressaltar também que é necessário o acompanhamento psicológico aos pais, para que eles saibam lidar melhor com a deficiência de seu filho e para que possam também conversar sobre suas angústias, dúvidas. Se houver a integração família, comunidade, escola e demais profissionais, os benefícios proporcionados à criança serão bem mais positivos e desenvolvidos precocemente. INTÉRPRETE E SUA IMPORTÂNCIA: Intérprete – Pessoa que interpreta de uma língua (língua fonte) para outra (língua alvo) o que foi dito. Língua fonte – É a língua que o intérprete ouve ou vê para, a partir dela, fazer a tradução e interpretação para a outra língua (a língua alvo). Língua alvo – É a língua na qual será feita a tradução ou interpretação. Intérprete de língua de sinais – Pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outro idioma, ou deste outro idioma para uma determina língua de sinais. O que envolve o ato de interpretar? Envolve um ato COGNITIVO-LINGÜÍSTICO, ou seja, é um processo em que o intérprete estará diante de pessoas que apresentam intenções comunicativas específicas e que utilizam línguas diferentes. O intérprete está completamente envolvido na interação comunicativa (social e cultural) com poder completo para influenciar o objeto e o produto da interpretação. Ele processa a informação dada na língua fonte e faz escolhas lexicais, estruturais, semânticas e pragmáticas na língua alvo que devem se aproximar o mais apropriadamente possível da informação dada na língua fonte. Assim sendo, o intérprete também precisa ter conhecimento técnico para que suas escolhas sejam apropriadas tecnicamente. Portanto, o ato de interpretar envolve processos altamente complexos. O intérprete de libras é o profissional que domina a língua de sinais e a língua falada do país e que é qualificado para desempenhar a função de intérprete. No Brasil, o intérprete deve dominar a língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Ele também pode dominar outras línguas, como o inglês, o espanhol, a língua de sinais americana e fazer a interpretação para a língua brasileira de sinais ou vice-versa (por exemplo, conferências internacionais). http://unimes2015.nucleoead.net/eduead/mod/page/view.php?id=47729 Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profissional precisa ter qualificação para atuar como tal. Isso significa ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e interpretação. O profissional intérprete também deve ter formação específica na área de sua atuação (por exemplo, a área da educação). Realizar a interpretação da língua falada para a língua sinalizada e vice- versa observando os seguintes preceitos éticos: a) Confiabilidade (sigilo profissional); b) Imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias); c) Discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação); d) Distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados); e) Fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito). O PAPEL DA ESCOLA E DO PROFESSOR O aluno só apresentará resultados positivos na escola se houver a integração escola-família. Veremos então como seria essa integração. Primeiramente, vejamos o que a escola pode fazer em relação aos professores e à família. A escola deve oferecer espaço para os professores produzirem e exporem suas ideias; confiar no trabalho dos professores e estimulá-los a novos conhecimentos. Também deve atender às dúvidas pertinentes e assessorá-los quando necessário. Deve permitir a integração dos professores com a família e demais profissionais envolvidos com os alunos. E principalmente, a escola deve propiciar um ambiente agradável e acolhedor. Em relação à família, a escola deve abrir suas portas para atendê-la. Deve ser solícita e ajudar, na medida do possível. Deve receber os profissionais que auxiliam o aluno fora do ambiente escolar; formar conselho participativo com a presença de pessoas com deficiência auditiva: instrutores, professores, agentes comunitários e membros da comunidade para motivar as suas famílias. Organizar grupo de pais com a finalidade de refletir e compartilhar vivências e sentimentos que possam promover a educa- ção do filho respeitando e valorizando-o. Criar cursos de Língua Brasileira de Sinais(LIBRAS) para os pais de crianças com deficiência auditiva, de acordo com suas necessidades, transmitir aos pais, irmãos e familiares a importância de utilizar a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS na comunicação com a criança. Passemos agora para o papel do professor. Em relação à escola, o professor deve estar atento às solicitações e procurar obedecer às regras e critérios da escola. Deve estar disposto a fazer o trabalho proposto e procurar sempre melhorar. Fazer cursos de aperfeiçoamento para estar sempre atualizado às novas idéias educacionais. Deve respeitar as normas vigentes da escola e respeitar todos que nela estão. Em relação à família, o professor deve atendê-la sempre que solicitado e procurá-la sempre que julgar necessário. Procurar deixá-la a par do que ocorre com seu filho e das atividades que ele participa. Se suspeitar de algo diferente no comportamento ou em alguma função, deve relatar para a família. Proporcionar uma relação saudável. Manter a família informada sobre as atividades, reuniões e encontros que houver. Em relação ao aluno, o professor deve respeitar suas habilidades e capacidades. Se notar algum comportamento anormal, deve conversar com ele e se achar conveniente, encaminhá-lo para algum especialista. Deve sanar suas dúvidas, explicar o conteúdo quantas vezes for necessário. Respeitar a linguagem dele e aprendê-la para que possam conversar. Pesquisar sobre a deficiência auditiva e tudo acerca desse assunto. Criar um espaço de integração dentro da classe. Proporcionar o desenvolvimento de habilidades. Caso já conheça LIBRAS, aprimorar o conhecimento e ampliar o vocabulário. A escola, nesse momento deve respeitar o trabalho do professor para que as decisões sejam conjuntas e ambos, escola e professor, propiciam ao aluno um bom processo educacional. ESTIMULAÇÃO DA LINGUAGEM O quanto antes a estimulação for feita, mais rápida será a aquisição da linguagem e mais benefícios trará para a vida do indivíduo deficiente auditivo. A estimulação deverá ser feita com a Língua Portuguesa oral e com a Língua de Sinais. A estimulação para ter ótimos resultados deverá ser feita entre zero e três anos de idade. Os objetivos da estimulação são: • Proporcionar à criança experiências significativas que favoreçam a compreensão e recepção lingüística; • Despertar na criança a necessidade de se expressar, de se comunicar com outra pessoa. Vejamos então a estimulação por partes. Vamos começar com a estimula- ção em Língua Portuguesa A estimulação em Língua Portuguesa oral seria para proporcionar à criança interação interpessoal e social e habilitá-la a desempenhar tarefas comunicativas. O trabalho de linguagem com o deficiente auditivo parte do princípio de estabelecer relações com suas ações e as dos outros, uma vez que ele não ouve e por isso precisa estabelecer essas relações. O educando precisa tornar-se capaz de desenvolver a linguagem através de imitações, jogos simbólicos, desenho e fala. As operações mentais como a intuição, a simbolização, a seriação, a abstração proporcionarão essa interpretação do que é falado. A criança deficiente auditiva adquire linguagem interior ao relacionar a experiência que está vivendo com a verbalização de uma pessoa (pai, mãe, professor, etc); e passa a ter linguagem receptiva quando “lembra”, decodifica a mensagem verbal de alguém, ou seja, compreende o que a outra pessoa está falando. Essa linguagem receptiva se desenvolve através da leitura orofacial. A linguagem expressiva é quando a criança emite fonemas, palavras e frases. Para que o aluno aprenda a Língua Portuguesa, o professor deverá desenvolver: a identificação dos sons, ritmos, imagens e fala. Quando a criança começar a emitir balbucios, o professor deverá estimulá- la incessantemente, para que ela não perca a motivação decorrente da deficiência auditiva. Como a criança balbucia como uma criança ouvinte, é nessa etapa que o professor apresentará diversos estímulos e atividades para que o balbucio continue e vá se desenvolvendo. Após a estimulação continuada do balbucio, parte-se para a estimulação do desenvolvimento da fala. Nessa etapa, o professor deve preparar a criança para a emissão, desenvolvendo o controle de tensão e relaxamento, sua respiração, sensibilidade, mobilidade e propriocepção (consciência corporal) da região fonoarticulatória HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL A preocupação em proporcionar às pessoas com deficiências uma educação diferenciada demorou muito para acontecer. Na última metade do século XIX, sob a influência da valorização do conhecimento científico, é que surgiram realizações no campo da educação. Nesse período ocorreu a fundação das duas primeiras instituições públicas para atendimento a estas pessoas. Foram elas: O Imperial Instituto dos Meninos Cegos (atual Instituto Benjamin Constant), em 1854, e Instituto Nacional da Educação dos Surdos-Mudos (atual Instituo Nacional da Educação dos Surdos- INES), em 1857. Apesar de tardio, a fundação desses dois institutos foi bastante positiva, já que foram criados por iniciativa própria, ou seja, não havia nenhuma obrigatoriedade em se criar centros para pessoas com deficiências e nem lei que amparasse essas pessoas. Apesar da Constituição Brasileira de 1824 registrar a educação gratuita e acessível a todos, as pessoas com deficiência não estavam inclusas. Há registros de atendimento a deficientes mentais em ensino regular, juntamente a deficientes físicos e visuais em 1887, na Escola México, no Rio de Janeiro. Segundo registros do Ministério da Educação, a primeira instituição particular especializada brasileira criada foi o Instituto Pestalozzi, em 1926, no Rio Grande do Sul. A partir de 1930, começaram a haver algumas crianças especiais nas escolas regulares, então surgiram as idéias de separação dos “normais” dos “anormais”. Em 1954, surgiu na cidade do Rio de Janeiro a primeira Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) que começaria a preencher o espaço vazio a respeito da educação dos indivíduos com deficiências. Na APAE, os alunos especiais receberiam a escolarização que estava deficitá- ria na rede pública de ensino. A preocupação com a Educação Especial no Brasil só ocorreu em 1961 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB. Antes disso, havia campanhas para chamar a aten- ção da população em respeito a treinamento, reabilitação e assistência educacional às pessoas com deficiência como foi o caso das campanhas: para Educação do Surdo Brasileiro - Cesb em 1957; Nacional de Educação e Reabilitação dos Deficientes Visuais - CNERDV em 1958; Nacional de Educação do Deficiente Mental - Cademe em 1960. Em 1961, também houve uma preocupação dos poderes públicos com os problemas de aprendizagem. Isso ocorreu devido ao aumento de crianças economicamente menos favorecidas nas escolas públicas. A partir de 1961, a Educação Especial recebeu atenção especial e nas Constituições seguintes sempre teve uma parte dedicada a ela. Na Constituição de 1988, que é a Constituição em vigor nos dias atuais, aparece um benefício que até então não existia: garantia de salário mínimo às pessoas com deficiências que não possuíam meios para a própria manutenção. A seguinte alteração ocorrida em prol dos deficientes aconteceu com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação, lei nº 9.394 de 1996. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DOS DEFICIENTES AUDITIVOS NO BRASIL É impossível determinar como e onde surgiu o primeiro surdo, mas através de algumas pesquisas realizadas nessa área podemos ter uma visão geral da história dos surdos e de suas perspectivas. A exclusão existe desde a Antiguidade. Há povos que sacrificavam pessoas devido a sua deficiência e os surdos eram grandes alvos. Até mesmo o filósofo Aristóteles considerava os surdosincapazes de ter participação social e de viverem em comunidade. Com o passar dos séculos, os surdos foram adquirindo alguns direitos, mas ainda eram considerados inferiores e ficavam restritos aos seus lares por vergonha da família. A história da educação do deficiente auditivo data de cerca de 400 anos atrás, sendo que nos seus primórdios havia pouca compreensão da psicologia e didática a respeito da deficiência e os indivíduos eram colocados em asilos. A surdez era confundida como uma inferioridade de inteligência e na verdade o indivíduo com pouca estimulação não se desenvolvia psicologicamente e nem socialmente nos padrões normais. Felizmente, esse conceito foi modificado e percebeu-se que o indivíduo pode aprender a se comunicar utilizando a língua dos sinais ou a própria língua falada. Os primeiros educadores de surdos surgiram na Europa, no século XVI, criando diferentes metodologias de ensino, as quais utilizavam-se da língua auditiva-oral nativa, língua de sinais, datilologia (alfabeto manual de LIBRAS) e outros códigos visuais e podendo ou não associar esses diferentes meios de comunicação. No século XVII surge a língua de sinais e a sua utilização no processo de ensino. O abade L´Épée foi um dos grandes responsáveis por esse avanço. Ele reuniu surdos dos arredores de Paris e criou a primeira escola pública para surdos e também a precursora no uso da língua de sinais. A partir do século XVIII, a língua de sinais passou a ser difundida, obtendo êxito qualitativo e quantitativo e permitindo que os deficientes auditivos participassem da sociedade igualmente. A principal personagem da história da educação dos deficientes auditivos no Brasil é um francês chamado Hernest Huet. Ele nasceu em 1822 e aos 12 anos ficou surdo. Huet formou-se professor na França e veio morar no Brasil em 1855. Apoiado por D.Pedro II, ele fundou no dia 26 de setembro de 1857, o Imperial Instituto de Surdos-Mudos, hoje chamado de Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Ele começou alfabetizando sete crianças utilizando o método do abade Charles-Michel de l´Épée, fundador da primeira escola para deficientes auditivos em Paris. Essa foi a primeira escola a aplicar a língua de sinais na metodologia de ensino. Porém, na segunda metade do século XIX, devido aos avanços tecnológicos que facilitavam o aprendizado da fala pelo surdo, a língua de sinais foi proibida. Passou-se a acreditar que a única forma desejável de comunicação do deficiente auditivo era através da fala e que qualquer forma de gesticulação deveria ser evitada. Felizmente, essa ideia foi abolida permitindo que os deficientes auditivos fizessem uso novamente da Língua de Sinais sem esquecer da estimula- ção oral. Isso ocorreu na década de 1960. Nesse período também houve o aparecimento do ensino bilíngue e da Comunicação Total. A Comunicação Total consistia no uso de todos os recursos linguísticos, orais ou visuais simultaneamente, privilegiando a comunicação e não apenas a língua. O Bilinguismo consiste no ensino da Língua de Sinais como a primeira língua para que os deficientes auditivos possam comunicar-se com a comunidade surda e a Língua Portuguesa como a segunda língua, pois é a língua oficial do país. Na década de 1970, com a visita de Ivete Vasconcelos, educadora de surdos da Universidade Gallaudet (EUA), chegou ao Brasil a filosofia da Comunicação Total, explicada anteriormente. Na década de 1980, a partir das pesquisas da professora linguista Lucinda Ferreira Brito sobre a Língua Brasileira de Sinais e da professora Eulália Fernandes sobre a educação dos surdos, o Bilinguismo passou a ser difundido. Atualmente essas três filosofias educacionais ainda persistem paralelamente no Brasil. A LEGISLAÇÃO E O DEFICIENTE AUDITIVO. Começaremos primeiramente pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, vigente nos dias atuais. No capítulo III, seção I que trata sobre a educação, encontramos o seguinte: Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao nia e sua qualificação para o trabalho. pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadã. A partir dessa citação, torna-se claro que a educação é direito de todos, sem exceção, e que é dever do Estado e da família proporcioná-la. No artigo 206, parágrafo I, lê-se: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; Com esse parágrafo, entende-se que as condições de acesso e permanência devem ser iguais. Mas de acordo com o artigo 208, parágrafo III, os portadores de necessidades especiais tem o direito a atendimento especializado na rede regular de ensino. III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; Reportando-se para a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) que regem os princípios da Educação Nacional, destacaremos alguns pontos importantes relativos à Educação Especial. A educação do deficiente auditivo é considerada como Educação Especial, pois requer um ensino diferenciado. De acordo com o artigo 58, esse atendimento educacional poderá ser feito em classes, na escola ou através de serviços especializados, tanto na escola regular como na escola de educação especial. . No artigo 59, lê-se que os sistemas de ensino devem assegurar métodos, técnicas, recursos apropriados e específicos para atender aos indivíduos com necessidades especiais. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional passou a vigorar acrescida do artigo 26-B, que beneficia os deficientes auditivos, pois garante a eles a oferta da Língua Brasileira de Sinais- LIBRAS- como condição de língua nativa em todas as etapas e modalidades da Educação Básica, nas redes pública e privada. A lei nº 10.436/02 reconhece a LIBRAS, como meio legal de comunicação e expressão e garante que ela deve ser usada e difundida. A lei garante também que os deficientes auditivos devem receber atendimento e tratamento adequados em instituições públicas, em empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde. A LIBRAS deve ser incluída nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior e a LIBRAS não pode substituir a modalidade escrita da Língua Portuguesa. Partamos agora para os benefícios e assegurações da lei perante o indivíduo com deficiência auditiva. Os deficientes auditivos comprovadamente carentes, ou seja, que têm renda familiar mensal per capita de até um salário mínimo, têm o direito de adquirir o Passe Livre do Governo Federal. O passe livre dá direito ao deficiente utilizar gratuitamente transporte coletivo interestadual convencional por ônibus, trem ou barco, incluindo o transporte interestadual semi-urbano. O Passe Livre do Governo Federal não vale para o transporte urbano ou intermunicipal dentro do mesmo estado, nem para viagens em ônibus executivo e leito. As empresas são obrigadas a reservar duas vagas, por viagem, para os portadores do passe livre. Existem ainda dois projetos de lei que visam à legenda em LIBRAS em filmes nacionais e teatro e a instituição do dia 26 de setembro como o dia nacional do surdo. A alfabetização do deficiente auditivo. Estimulação para o desenvolvimento da fala Como a estimulação para o desenvolvimento da fala é realizada de zero a três anos e a alfabetização do deficiente auditivo envolve o aprendizado da Língua Portuguesa oral, iremos abordá-la na Educação Infantil. A estimulação para o desenvolvimento da fala deve dar ênfase para respiração, tensão e relaxamento, ritmo e estimulação orofacial. Em respiração é esperado adquirir hábitos corretos de respiração, propiciando melhor ritmo de fala e melhor emissão dos fonemase de uma voz mais natural. A respiração é sem dúvida muito importante, pois para emitir sons e pronunciar fonemas é necessária uma respiração adequada. Através da educação respiratória, a criança poderá melhorar seu estado de saúde. Aos profissionais que atuam com a criança deficiente auditiva interessam: a) os movimentos respiratórios de inspiração e expiração; b) a produção da voz através do sopro expiratório; c) a perfeita coordenação fono-respiratória que vai permitir a produção livre e valorizada da voz; d) a adequada produção da fala. Para que a estimulação seja feita corretamente, existem vá- rios exercícios e uma série de preocupações em relação à criança, sempre lembrando que por se tratar de crianças pequenas, as atividades propostas deverão ser lúdicas e motivadoras. Seguem abaixo alguns exemplos de exercícios: • apagar velas; • soprar tiras de papel, penas, algodão, língua de sogra, balões (bexigas), bolinhas de sabão, barquinhos de papel e/ou bolas de isopor em vasilha com água; • soprar, através de canudos, no espelho, tentando deixar marcas; • soprar através de canudos, tintas no papel formando desenhos; • brincar com apito, gaitas; • cheirar perfumes; • falar, expirando, soltando e sustentando a voz; • conscientizar-se do ato respiratório, colocando uma mão sobre seu pró- prio peito e a outra sobre o do professor; ou um objeto sobre o peito ao deitar-se para vê-lo levantar e abaixar; • nadar; • diversas atividades que estimulem a respiração e expiração, como pegapega, corridas em geral. Em tensão e relaxamento, o aluno deve adquirir atitudes de controle de tensão e relaxamento da musculatura do corpo em geral, com ênfase especial no tórax, pescoço e face, propiciando melhores possibilidades de respiração, vocalização e articulação de fonemas. As atividades de relaxamento e tensão são indispensáveis para a boa educação respiratória. Esses exercícios proporcionam atenção, conhecimento do corpo e percepção de respiração. As atividades geralmente são desenvolvidas em ambiente tranquilo, escurecido, e utilizam-se materiais de apoio como colchonete e travesseiro. Em ritmo a criança deverá desenvolver a percepção do ritmo através da música, dos movimentos corporais e do controle do corpo. O professor deverá favorecer à criança a consciência corporal, coordenação motora global mais harmônica, tonicidade muscular, emissão vocálica e a própria respiração. A iniciação do ritmo começa com as brincadeiras de rodas, canções de ninar, o balanço da criança no colo. Atividades com danças no colo, depois com passos no chão, acompanhamento com o corpo de batidas em tambor, marcha, salto, pulo, corrida são exemplos de atividades que desenvolvem o ritmo. É no movimento, na soltura do corpo, que a criança interioriza o ritmo. A interiorização do ritmo musical é fundamental para ser usado, posteriormente, na expressão oral através do ritmo próprio de cada palavra ou frase. Passemos agora para a estimulação orofacial que trata da articulação da boca e da expressão facial. Essa estimulação é importante tanto para o aprendizado da Língua Portuguesa oral quanto da LIBRAS, uma vez que se utiliza a expressão facial para se compreender um sinal. Para trabalhar com a estimulação orofacial é necessário que o trabalho com respiração, tensão e relaxamento e ritmo prossigam. Nessa estimulação são fundamentais os exercícios envolvendo boca, língua, palato, mandíbula e bochechas. Exemplos de exercícios com a boca: pintar os lábios; passar mel ou outro doce nos lábios sentindo-os; fazer bico; caretas; vibrar os lábios; fechar a boca apertando bem os lábios; soprar; abrir e fechar a boca; sorrir; imitar sons dos animais; segurar um papel ou canudo com os lábios. Exercícios com a língua: movimentar a língua para todos os lados; mostrar a língua; passar a língua nos lábios; estalar a língua; colocar a língua para fora e recolhê-la lentamente ou rapidamente; fechar a boca e com a língua empurrar a parte interna da bochecha direita e da bochecha esquerda; colocar alimentos na língua; imitar um gatinho bebendo leite. Exercícios com o palato: gargarejar; bocejar; dar gargalhadas; tossir; beber gole por gole; estalar a língua; passar a língua no palato. Exercícios com as bochechas: inflar as bochechas; encher a boca de ar de um lado e depois do outro; massagear as bochechas; fazer desenhos nas bochechas; passar materiais de texturas diferentes nas bochechas. Todos esses exemplos de exercícios são importantes, lembrando que o professor deve participar e fazer antes e junto com as crianças. As atividades devem ser motivadoras e sempre com o sentido de brincadeira. Língua Brasileira de Sinais - Libras DECRETO Nº 6.571, DE 17 DE SETEMBRO DE 2008. Dispõe sobre o atendimento educacional especializado, regulamenta o parágrafo único do art. 60 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e acrescenta dispositivo ao Decreto no 6.253, de 13 de novembro de 2007 O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, e tendo em vista o disposto no art. 208, inciso III, ambos da Constituição, no art. 60, parágrafo único, da Lei no9.394, de 20 de dezembro de 1996, e no art. 9o, § 2o, da Lei no 11.494, de 20 de junho de 2007, DECRETA: Art. 1o A União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na forma deste Decreto, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular. § 1º Considera-se atendimento educacional especializado o conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. § 2o O atendimento educacional especializado deve integrar a proposta pedagógica da escola, envolver a participação da família e ser realizado em articulação com as demais políticas públicas. Art. 2o São objetivos do atendimento educacional especializado: I - prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos referidos no art. 1º; II - garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensino regular; http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/DEC%206.571-2008?OpenDocument III - fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem; e IV - assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis de ensino. Art. 3o O Ministério da Educação prestará apoio técnico e financeiro às seguintes ações voltadas à oferta do atendimento educacional especializado, entre outras que atendam aos objetivos previstos neste Decreto: I - implantação de salas de recursos multifuncionais; II - formação continuada de professores para o atendimento educacional especializado; III - formação de gestores, educadores e demais profissionais da escola para a educação inclusiva; IV - adequação arquitetônica de prédios escolares para acessibilidade; V - elaboração, produção e distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade; e VI - estruturação de núcleos de acessibilidade nas instituições federais de educação superior. § 1o As salas de recursos multifuncionais são ambientes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos para a oferta do atendimento educacional especializado. § 2o A produção e distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade incluem livros didáticos e paradidáticos em braile, áudio e Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, laptops com sintetizador de voz,softwarespara comunicação alternativa e outras ajudas técnicas que possibilitam o acesso ao currículo. § 3o Os núcleos de acessibilidade nas instituições federais de educação superior visam eliminar barreiras físicas, de comunicação e de informação que restringem a participação e o desenvolvimento acadêmico e social de alunos com deficiência. http://unimes2015.nucleoead.net/eduead/mod/page/view.php?id=47729 Art. 4o O Ministério da Educação disciplinará os requisitos, as condições de participação e os procedimentos para apresentação de demandas para apoio técnico e financeiro direcionado ao atendimento educacional especializado. Art. 5o Sem prejuízo do disposto no art. 3o, o Ministério da Educação realizará o acompanhamento e o monitoramento do acesso à escola por parte dos beneficiários do benefício de prestação continuada, em colaboração com os Ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. Art. 6o O Decreto no 6.253, de 13 de novembro de 2007, passa a vigorar acrescido do seguinte artigo: “ Art. 9o-A. Admitir-se-á, a partir de 1o de janeiro de 2010, para efeito da distribuição dos recursos do FUNDEB, o cômputo das matriculas dos alunos da educação regular da rede pública que recebem atendimento educacional especializado, sem prejuízo do cômputo dessas matrículas na educação básica regular. Parágrafo único. O atendimento educacional especializado poderá ser oferecido pelos sistemas públicos de ensino ou pelas instituições mencionadas no art. 14.” (NR) Art. 7o As despesas decorrentes da execução das disposições constantes deste Decreto correrão por conta das dotações próprias consignadas ao Ministério da Educação. Art. 8o Este Decreto entra em vigor na data da sua publicação. Brasília, 17 de setembro de 2008; 187º da Independência e 120º da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad Língua Brasileira de Sinais - Libras LEI N.º 10.436 de 24 de abril de 2002 http://campus11.unimesvirtual.com.br/2007/Decreto/D6253.htm#art9a Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Librase outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual- motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas e ducacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de 2002; 181º da Independência e 114º da República. http://unimes2015.nucleoead.net/eduead/mod/page/view.php?id=47729 http://unimes2015.nucleoead.net/eduead/mod/page/view.php?id=47729 http://unimes2015.nucleoead.net/eduead/mod/page/view.php?id=47729 http://unimes2015.nucleoead.net/eduead/mod/page/view.php?id=47729 http://unimes2015.nucleoead.net/eduead/mod/page/view.php?id=47729 http://unimes2015.nucleoead.net/eduead/mod/page/view.php?id=47729 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 2, DE 11 DE SETEMBRO DE 2001. (*) Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. O Presidente da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, de conformidade com o disposto no Art. 9o , § 1o , alínea “c”, da Lei 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei 9.131, de 25 de novembro de 1995, nos Capítulos I, II e III do Título V e nos Artigos 58 a 60 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e com fundamento no Parecer CNE/CEB 17/2001, homologado pelo Senhor Ministro de Estado da Educação em 15 de agosto de 2001, RESOLVE: Art. 1º A presente Resolução institui as Diretrizes Nacionais para a educação de alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, na Educação Básica, em todas as suas etapas e modalidades. Parágrafo único. O atendimento escolar desses alunos terá início na educação infantil, nas creches e pré-escolas, assegurando-lhes os serviços de educação especial sempre que se evidencie, mediante avaliação e interação com a família e a comunidade, a necessidade de atendimento educacional especializado. Art 2º Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem conhecer a demanda real de atendimento a alunos com necessidades educacionais especiais, mediante a criação de sistemas de informação e o estabelecimento de interface com os órgãos governamentais responsáveis pelo Censo Escolar e pelo Censo Demográfico, para atender a todas as variáveis implícitas à qualidade do processo formativo desses alunos. Art. 3º Por educação especial, modalidade da educação escolar, entende- se um processo educacional definido por uma proposta pedagógica que assegure recursos e serviços educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar, complementar, suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns, de modo a garantir a educação escolar e promover o desenvolvimento das potencialidades dos educando que apresentam necessidades educacionais especiais, em todas as etapas e modalidades da educação básica. Parágrafo único. Os sistemas de ensino devem constituir e fazer funcionar um setor responsável pela educação especial, dotado de recursos humanos, materiais e financeiros que viabilizem e deem sustentação ao processo de construção da educação inclusiva. Art. 4º Como modalidade da Educação Básica, a educação especial considerará as situações singulares, os perfis dos estudantes, as características bio-psicossociais dos alunos e suas faixas etárias e se pautará em princípios éticos, políticos e estéticos de modo a assegurar: I - a dignidade humana e a observância do direito de cada aluno de realizar seus projetos de estudo, de trabalho e de inserção na vida social; II - a busca da identidade própria de cada educando, o reconhecimento e a valorização das suas diferenças e potencialidades, bem como de suas necessidades educacionais especiais no processo de ensino e aprendizagem, como base para a constituição e ampliação de valores, atitudes, conhecimentos, habilidades e competências; III - o desenvolvimento para o exercício da cidadania, da capacidade de participação social, política e econômica e sua ampliação, mediante o cumprimentode seus deveres e o usufruto de seus direitos. (*)CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Câmara de Educação Básica. Resolução CNE/CEB 2/2001. Diário Oficial da União, Brasília, 14 de setembro de 2001. Seção 1E, p. 39-40. 2 Art. 5º Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem: I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica; b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis; III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. Art. 6o Para a identificação das necessidades educacionais especiais dos alunos e a tomada de decisões quanto ao atendimento necessário, a escola deve realizar, com assessoramento técnico, avaliação do aluno no processo de ensino e aprendizagem, contando, para tal, com: I - a experiência de seu corpo docente, seus diretores, coordenadores, orientadores e supervisores educacionais; II - o setor responsável pela educação especial do respectivo sistema; III – a colaboração da família e a cooperação dos serviços de Saúde, Assistência Social, Trabalho, Justiça e Esporte, bem como do Ministério Público, quando necessário. Art. 7º O atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais deve ser realizado em classes comuns do ensino regular, em qualquer etapa ou modalidade da Educação Básica. Art. 8o As escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns: I - professores das classes comuns e da educação especial capacitados e especializados, respectivamente, para o atendimento às necessidades educacionais dos alunos; II - distribuição dos alunos com necessidades educacionais especiais pelas várias classes do ano escolar em que forem classificados, de modo que essas classes comuns se beneficiem das diferenças e ampliem positivamente as experiências de todos os alunos, dentro do princípio de educar para a diversidade; III – flexibilizações e adaptações curriculares que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, em consonância com o projeto pedagógico da escola, respeitada a freqüência obrigatória; IV – serviços de apoio pedagógico especializado, realizado, nas classes comuns, mediante: a) atuação colaborativa de professor especializado em educação especial; b) atuação de professores-intérpretes das linguagens e códigos aplicáveis; c) atuação de professores e outros profissionais itinerantes intra e interinstitucionalmente; d) disponibilização de outros apoios necessários à aprendizagem, à locomoção e à comunicação. V – serviços de apoio pedagógico especializado em salas de recursos, nas quais o professor especializado em educação especial realize a complementação ou suplementação curricular, utilizando procedimentos, equipamentos e materiais específicos; VI – condições para reflexão e elaboração teórica da educação inclusiva, com protagonismo dos professores, articulando experiência e conhecimento com as necessidades/possibilidades surgidas na relação pedagógica, inclusive por meio de colaboração com instituições de ensino superior e de pesquisa; VII – sustentabilidade do processo inclusivo, mediante aprendizagem cooperativa em sala de aula, trabalho de equipe na escola e constituição de redes de apoio, com a participação da família no processo educativo, bem como de outros agentes e recursos da comunidade; VIII – temporalidade flexível do ano letivo, para atender às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas, de forma que possam concluir em 3 tempo maior o currículo previsto para a série/etapa escolar, principalmente nos anos finais do ensino fundamental, conforme estabelecido por normas dos sistemas de ensino, procurando-se evitar grande defasagem idade/série; IX – atividades que favoreçam, ao aluno que apresente altas habilidades/superdotação, o aprofundamento e enriquecimento de aspectos curriculares, mediante desafios suplementares nas classes comuns, em sala de recursos ou em outros espaços definidos pelos sistemas de ensino, inclusive para conclusão, em menor tempo, da série ou etapa escolar, nos termos do Artigo 24, V, “c”, da Lei 9.394/96. Art. 9 o As escolas podem criar, extraordinariamente, classes especiais, cuja organização fundamente-se no Capítulo II da LDBEN, nas diretrizes curriculares nacionais para a Educação Básica, bem como nos referenciais e parâmetros curriculares nacionais, para atendimento, em caráter transitório, a alunos que apresentem dificuldades acentuadas de aprendizagem ou condições de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos e demandem ajudas e apoios intensos e contínuos. § 1o Nas classes especiais, o professor deve desenvolver o currículo, mediante adaptações, e, quando necessário, atividades da vida autônoma e social no turno inverso. § 2o A partir do desenvolvimento apresentado pelo aluno e das condições para o atendimento inclusivo, a equipe pedagógica da escola e a família devem decidir conjuntamente, com base em avaliação pedagógica, quanto ao seu retorno à classe comum. Art. 10. Os alunos que apresentem necessidades educacionais especiais e requeiram atenção individualizada nas atividades da vida autônoma e social, recursos, ajudas e apoios intensos e contínuos, bem como adaptações curriculares tão significativas que a escola comum não consiga prover, podem ser atendidos, em caráter extraordinário, em escolas especiais, públicas ou privadas, atendimento esse complementado, sempre que necessário e de maneira articulada, por serviços das áreas de Saúde, Trabalho e Assistência Social. § 1º As escolas especiais, públicas e privadas, devem cumprir as exigências legais similares às de qualquer escola quanto ao seu processo de credenciamento e autorização de funcionamento de cursos e posterior reconhecimento. § 2º Nas escolas especiais, os currículos devem ajustar-se às condições do educando e ao disposto no Capítulo II da LDBEN. § 3o A partir do desenvolvimento apresentado pelo aluno, a equipe pedagógica da escola especial e a família devem decidir conjuntamente quanto à transferência do aluno para escola da rede regular de ensino, com base em avaliação pedagógica e na indicação, por parte do setor responsável pela educação especial do sistema de ensino, de escolas regulares em condição de realizar seu atendimento educacional. Art. 11. Recomenda-se às escolas e aos sistemas de ensino a constituição de parcerias com instituições de ensino superior para a realização de pesquisas e estudos de caso relativos ao processo de ensino e aprendizagem de alunos com necessidades educacionais especiais, visando ao aperfeiçoamento desse processo educativo. Art. 12. Os sistemas de ensino, nos termos da Lei 10.098/2000 e da Lei 10.172/2001, devem assegurar a acessibilidade aos alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras arquitetônicas urbanísticas, na edificação – incluindo instalações, equipamentos e mobiliário – e nos transportes escolares, bem como de barreiras nas comunicações, provendo as escolas dos recursos humanos e materiais necessários . § 1o Para atender aos padrões mínimos estabelecidos comrespeito à acessibilidade, deve ser realizada a adaptação das escolas existentes e condicionada a autorização de construção e funcionamento de novas escolas ao preenchimento dos requisitos de infra-estrutura definidos. § 2 o Deve ser assegurada, no processo educativo de alunos que apresentam dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais educandos, a acessibilidade aos conteúdos curriculares, mediante a utilização de linguagens e códigos aplicáveis, como o sistema Braille e a língua de sinais, sem prejuízo do aprendizado da língua portuguesa, facultando-lhes e às suas famílias a opção 4 pela abordagem pedagógica que julgarem adequada, ouvidos os profissionais especializados em cada caso. Art. 13. Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de tratamento de saúde que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou permanência prolongada em domicílio. § 1o As classes hospitalares e o atendimento em ambiente domiciliar devem dar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo de aprendizagem de alunos matriculados em escolas da Educação Básica, contribuindo para seu retorno e reintegração ao grupo escolar, e desenvolver currículo flexibilizado com crianças, jovens e adultos não matriculados no sistema educacional local, facilitando seu posterior acesso à escola regular. § 2o Nos casos de que trata este Artigo, a certificação de freqüência deve ser realizada com base no relatório elaborado pelo professor especializado que atende o aluno. Art. 14. Os sistemas públicos de ensino serão responsáveis pela identificação, análise, avaliação da qualidade e da idoneidade, bem como pelo credenciamento de escolas ou serviços, públicos ou privados, com os quais estabelecerão convênios ou parcerias para garantir o atendimento às necessidades educacionais especiais de seus alunos, observados os princípios da educação inclusiva. Art. 15. A organização e a operacionalização dos currículos escolares são de competência e responsabilidade dos estabelecimentos de ensino, devendo constar de seus projetos pedagógicos as disposições necessárias para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos, respeitadas, além das diretrizes curriculares nacionais de todas as etapas e modalidades da Educação Básica, as normas dos respectivos sistemas de ensino. Art. 16. É facultado às instituições de ensino, esgotadas as possibilidades pontuadas nos Artigos 24 e 26 da LDBEN, viabilizar ao aluno com grave deficiência mental ou múltipla, que não apresentar resultados de escolarização previstos no Inciso I do Artigo 32 da mesma Lei, terminalidade específica do ensino fundamental, por meio da certificação de conclusão de escolaridade, com histórico escolar que apresente, de forma descritiva, as competências desenvolvidas pelo educando, bem como o encaminhamento devido para a educação de jovens e adultos e para a educação profissional. Art. 17. Em consonância com os princípios da educação inclusiva, as escolas das redes regulares de educação profissional, públicas e privadas, devem atender alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, mediante a promoção das condições de acessibilidade, a capacitação de recursos humanos, a flexibilização e adaptação do currículo e o encaminhamento para o trabalho, contando, para tal, com a colaboração do setor responsável pela educação especial do respectivo sistema de ensino. § 1o As escolas de educação profissional podem realizar parcerias com escolas especiais, públicas ou privadas, tanto para construir competências necessárias à inclusão de alunos em seus cursos quanto para prestar assistência técnica e convalidar cursos profissionalizantes realizados por essas escolas especiais. § 2o As escolas das redes de educação profissional podem avaliar e certificar competências laborais de pessoas com necessidades especiais não matriculadas em seus cursos, encaminhando-as, a partir desses procedimentos, para o mundo do trabalho. Art. 18. Cabe aos sistemas de ensino estabelecer normas para o funcionamento de suas escolas, a fim de que essas tenham as suficientes condições para elaborar seu projeto pedagógico e possam contar com professores capacitados e especializados, conforme previsto no Artigo 59 da LDBEN e com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Docentes da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em nível médio, na modalidade Normal, e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura de graduação plena. § 1º São considerados professores capacitados para atuar em classes comuns com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais aqueles que comprovem que, em sua formação, de nível médio ou superior, foram incluídos conteúdos sobre educação especial adequados ao desenvolvimento de competências e valores para: I – perceber as necessidades educacionais especiais dos alunos e valorizar a educação inclusiva; II - flexibilizar a ação pedagógica nas diferentes áreas de conhecimento de modo adequado às necessidades especiais de aprendizagem; III - avaliar continuamente a eficácia do processo educativo para o atendimento de necessidades educacionais especiais; IV - atuar em equipe, inclusive com professores especializados em educação especial. § 2º São considerados professores especializados em educação especial aqueles que desenvolveram competências para identificar as necessidades educacionais especiais para definir, implementar, liderar e apoiar a implementação de estratégias de flexibilização, adaptação curricular, procedimentos didáticos pedagógicos e práticas alternativas, adequados ao atendimentos das mesmas, bem como trabalhar em equipe, assistindo o professor de classe comum nas práticas que são necessárias para promover a inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais. § 3º Os professores especializados em educação especial deverão comprovar: I - formação em cursos de licenciatura em educação especial ou em uma de suas áreas, preferencialmente de modo concomitante e associado à licenciatura para educação infantil ou para os anos iniciais do ensino fundamental; II - complementação de estudos ou pós-graduação em áreas específicas da educação especial, posterior à licenciatura nas diferentes áreas de conhecimento, para atuação nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio; § 4º Aos professores que já estão exercendo o magistério devem ser oferecidas oportunidades de formação continuada, inclusive em nível de especialização, pelas instâncias educacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Art. 19. As diretrizes curriculares nacionais de todas as etapas e modalidades da Educação Básica estendem-se para a educação especial, assim como estas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial estendem-se para todas as etapas e modalidades da Educação Básica. Art. 20. No processo de implantação destas Diretrizes pelos sistemas de ensino, caberá às instâncias educacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, em regime de colaboração, o estabelecimento de referenciais, normas complementares e políticas educacionais. Art. 21. A implementação das presentes Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica será obrigatória a partir de 2002, sendo facultativa no período de transição compreendido entre a publicação desta Resolução e o dia 31 de dezembro de 2001. Art. 22. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação e revoga as disposições em contrário. FRANCISCO APARECIDO CORDÃO Presidente da Câmara de Educação
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