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1 Disciplina: Alunos com Surdez e Surdocegueira Autores: Esp. Soraia de Fátima Graczyk Revisão Conteúdos: D.ra Maria Tereza Costa / M.e Romário Keiti Pizzatto Fugita Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso Ano: 2016 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade São Braz (FSB). O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Soraia de Fátima Graczyk Alunos com Surdez e Surdocegueira 1ª Edição 2016 Curitiba, PR Editora São Braz 3 FICHA CATALOGRÁFICA GRACZYK, Soraya de Fátima. Alunos com Surdez e Surdocegueira / Soraya de Fátima Graczyk. – Curitiba, 2016. 66 p. Revisão de Conteúdos: Maria Tereza Costa / Romário Keiti Pizzatto Fugita. Revisão Ortográfica: Jacqueline Morissugui Cardoso. Material didático da disciplina de Alunos com Surdez e Surdocegueira – Faculdade São Braz (FSB), 2016. ISBN: 978-85-94439-17-8 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade São Braz! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais, e grupos de estudos com alunos e tutores, o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade São Braz 5 Apresentação da disciplina Nas aulas da disciplina Alunos com surdez e surdocegueira do curso de Pós-Graduação em Educação Especial, os temas serão apresentados em quatro aulas. Na primeira aula serão verificados: como se deu a História da educação no Brasil e a história da cultura surda, os conceitos, causas e características dos alunos com Deficiência Auditiva (DA) e Surdocegueira, a importância da expressão corporal e facial e as habilidades e dificuldades desses alunos. Temas como: Legislação Nacional e Estadual, Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), Língua Portuguesa como segunda língua, Formação de conceitos, Alternativas de ensino e de atendimento e Recursos e equipamentos para aprendizagem, serão abordados na segunda aula. Na terceira aula serão mostrados: Alternativas de ensino e atendimento, Adaptação curricular, Adequação dos critérios avaliativos, Atendimentos Educacionais Especializados (AEE) em Salas de Recursos Multifuncionais (SRM), Tecnologias Assistivas (TA) e Estimulação Sensorial, onde os alunos com DA e Surdocegueria receberão formação adequada. Na quarta e última aula serão trabalhados conteúdos como: Ajudas técnicas, Materiais e equipamentos, Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e Acessibilidade, Orientação e mobilidade e ainda, muito importante, o papel da família e do contexto educacional para que o estudante com surdez e surdocegueira tenha um desenvolvimento positivo. 6 Aula 01 - A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E O ALUNO COM SURDEZ E SURDOCEGUEIRA Apresentação da Aula Nesta aula será verificado um pouco da História da Educação no Brasil e quem é o aluno com surdez e surdocegueira, suas características, conceitos, causas, habilidades e dificuldades, para que, com essas informações, seja possível traçar uma linha de trabalho adequado a esse aluno. 1. HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL A história da Educação no Brasil teve início em 1549, com a chegada dos Jesuítas. Eles vieram movidos por um sentimento religioso, onde queriam espalhar a fé cristã e, durante mais de 200 anos, foram os únicos educadores do Brasil. Em 1808, com a vinda da família real para o Brasil, a educação e a cultura foram retomadas. Foram criadas instituições culturais e científicas, de ensino técnico e de cursos superiores, porém, essa educação era voltada aos interesses da Corte Portuguesa. Os cursos tinham como objetivo apenas preencher a demanda de formação profissional e D. João VI marginalizou o ensino primário. Em 1822, com a Independência do Brasil, as mudanças tiveram início. Em 1823, na Constituinte, contemplou-se a associação do sufrágio universal e educação popular e a criação de universidades no Brasil e, em 1824, o império assegura “instrução primária e gratuita a todos os cidadãos”, logo criando as escolas de primeiras letras em cidades, vilas e vilarejos. As universidades não prosperaram e, em São Paulo e Olinda, surgiram os cursos jurídicos. Ainda, em 1834, delegou-se que as províncias é que se tornariam responsáveis pela educação primária, o que impedia o Governo Central de coordenar o ensino fundamental, ampliando a distância entre as elites e camadas populares. O setor educacional participa, na década de 20, do movimento de renovação, surgindo educadores como Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, dentre outros, tentando implantar os ideais da Escola Nova e o Manifesto dos 7 Pioneiros, o qual, em 1932, redefine o papel do Estado frente à educação. Surgem as primeiras universidades do Brasil, dando início uma trajetória cultural e científica. Em 1945, surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que é enviada ao Congresso em 1948, sendo aprovada somente em 1961 (Lei nº 4024/61). De 1945 até 1964, mudanças significativas surgiram na área da educação. Ocorre a fundação da Coordenação do Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (CAPES), instala-se o Conselho Federal de Educação, acontecem campanhas de alfabetização de adultos e a expansão do ensino primário e superior, bem como o movimento em defesa da escola pública, universal e gratuita. Em 1971, é aprovada a Lei 5692/71, a qual insere mudanças na estrutura do ensino superior e de 1º e 2º graus. A Constituição de 1988 promoveu a universalização do ensino fundamental e erradicação do analfabetismo. O sistema educacional brasileiro é dividido em Educação Básica e Ensino Superior. A Educação Básica, a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB - 9.394/96), passou a ser estruturada por etapas e modalidades de ensino, englobando a Educação Infantil, o Ensino Fundamental obrigatório de nove anos e o Ensino Médio. Os Municípios são responsáveis pela Educação Infantil e Ensino Fundamental e os Estados e Distrito Federal, pelo Ensino Fundamental e Ensino Médio. O governo federal é responsável por repassar aos Estados, Distrito Federal e Muicípios, auxílio financeiro e técnico, além de organizar osistema de educação superior. A Educação Infantil, com 5 anos de duração, é oferecida em creches para crianças de até 3 anos de idade e pré-escola para crianças de 4 e 5 anos de idade. O Ensino Fundamental, com duração de 9 anos, é obrigatório e gratuito na escola pública. Anos iniciais com 5 anos de duração, de 6 a 10 anos de idade. Anos finais com 4 anos de duração, de 11 a 14 anos de idade. Três anos é a duração do Ensino Médio, e atende à formação geral dos estudantes, podendo prepará-los para o trabalho, com habilitação profissional. Ainda existem as modalidades de Educação Especial para estudantes com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), Educação de Jovens e Adultos (EJA), Ensino Fundamental e Médio para aqueles que não tiveram 8 condições de concluir seus estudos na idade adequada e Educação Profissional no nível técnico. A Educação Superior, com cursos em diferentes áreas profissionais, e pós-graduação que compreende especialização, mestrado e doutorado. A Educação Especial Inclusiva oferece o acesso, a participação e a aprendizagem dos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação nas escolas regulares, orientando os sistemas de ensino para promover respostas às NEE, garantindo: Transversalidade da educação especial desde a educação infantil até a educação superior; Atendimento Educacional Especializado (AEE); Continuidade da escolarização nos níveis mais elevados do ensino; Formação de professores para o AEE e demais profissionais da educação para a inclusão escolar; Participação da família e da comunidade; Acessibilidade urbanística, arquitetônica, nos mobiliários e equipamentos, nos transportes, na comunicação e informação; e Articulação intersetorial na implementação das políticas públicas. Na perspectiva da educação inclusiva, a educação especial passa a integrar a proposta pedagógica da escola regular, promovendo o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. Nesses casos e outros, que implicam em transtornos funcionais específicos, a educação especial atua de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais desses alunos (MEC/SEESP, 2006b). Muito deve se melhorar na área educacional no país, investimentos financeiros, valorização e formação continuada à professores e trabalhadores da educação. Como verificado ao longo da história do Brasil, muitas conquistas foram realizadas, com muitas lutas, pesquisas, estudos, o que vem a melhorar, cada vez mais, o ensino e o futuro dos alunos. 9 Curiosidade É possível verificar no poema a seguir o sentimento de angústia, muitas vezes presente na comunidade surda: A QUESTÃO Eu não tenho pernas, tenho sentimentos. Eu não posso ver e penso o tempo todo, Sou surda, e quero me comunicar. Porque as pessoas me veem como inútil, sem pensamentos, sem voz. Quando sou tão capaz, quanto qualquer outro, de refletir sobre o nosso mundo. (Coralie Severs, 14 anos, Reino Unido). (UNICEF, 2008, p.7) (Fonte: https://pt.scribd.com/doc/238777455/Br-Todos-Podemos- 2013#fullscreen) Esse poema fala de muitas crianças e adultos com deficiência espalhados pelo mundo que, infelizmente, muitas vezes não têm acesso à educação de qualidade. Suas habilidades são negligenciadas e são excluídas até da sua comunidade. Fala-se muito em educação como direito de todos, que todo o cidadão tem direito a uma educação gratuita e de qualidade, mas nem sempre foram incluídas pessoas com NEE. Por longos anos na história do Brasil, essas pessoas não tinham direito à educação. Com os surdos a história não foi diferente. Eles também enfrentaram muita discriminação, muitas lutas aconteceram para que tivessem direito à educação de qualidade. Vamos ver como ocorreu esse processo ao longo da história. No Brasil, a primeira iniciativa de educação para surdos aconteceu em 1855, quando D. Pedro II trouxe Ernest Huet, um professor francês surdo que utilizava o Alfabeto Manual e Língua de Sinais da França. No entanto, ainda não havia escolas especiais. Em 1857, D. Pedro fundou o Instituto Nacional de Educação de Surdos-Mudos (INESM), hoje Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES), no Rio de Janeiro. Sem motivos esclarecidos, em 1862 Huet, então diretor do INESM, retorna à França. Somente em 1873 surge a Iconographia dos Signaes dos Surdos-Mudos, uma publicação sobre LIBRAS. O autor foi Flausino José da Gama, ex-aluno do INESM, separando os sinais por categorias (objetos, animais, etc.). 10 Em 1911, o INES segue a tendência mundial do oralismo puro, mas João Brasil Silvado Jr. funda, em 24 de maio de 1913, a Associação Brasileira dos Surdos-Mudos (ABSM). Quadros (1997), “define em poucas palavras o que o oralismo fez com os surdos além de desconsiderar a sua língua, ela simplesmente desconsidera essas questões relacionadas à cultura e sociedade surda” (p.23). A Língua de Sinais foi proibida de ser usada entre 1930 a 1947, pelo Dr. Armando Paiva Lacerda, ex-diretor do INES. Só poderia utilizar o alfabeto manual e um bloco de papel com lápis para escrever aquilo que quisessem falar, mas os surdos não conseguiram se adaptar a essa imposição, e professores e inspetores burlam essas ordens. Em 1957, fica totalmente proibida a utilização da Língua de Sinais no INES. Na década de 50, a Profª Alpia Couto, do Centro Nacional de Educação Especial, fazendo com que houvesse um crescimento do método do oralista francês, com a realização de projetos na área de Deficiência Auditiva. No entanto, o desconhecimento e a falta de convivência com os surdos empobrece a Língua de Sinais. A falta de acesso às informações sociais e a Educação Especial tornaram-se interesses econômicos. Em 1975, chega ao Brasil a Comunicação Total. Em 1977, é criada, no Rio de Janeiro, a Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes Auditivos (FENEIDA). Em 1980, chega ao Brasil o Bilinguismo e, no ano seguinte, iniciam-se as pesquisas sistematizadas sobre a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Saiba Mais Em 1982, Lucinda Ferreira Brito inicia um estudo sobre a língua de sinais dos índios Urubu-Kaapor, na Amazônia. Por meio de seus estudos percebeu que se tratava de uma legítima Língua de Sinais dos Surdos, criada pelos índios. 11 Ainda em 1982, a Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (chamado até 1974 de Conselho Nacional de Pesquisas, cuja sigla é CNPq), subsidiaram um projeto, “Levantamento Linguístico da Língua de Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros (LSCB) e sua aplicação na educação” de autoria de L. Brito, a partir daí, vários estudos sobre LIBRAS foram realizados, principalmente na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e diversos mestrandos passam a utilizar o tema para estudos e dissertações. A Comissão de Luta pelos Direitos dos Surdos é criada em 1983 e já em 1986, o Centro SUVAG (PE) optou pelo bilinguismo. O SUVAG é uma instituição filantrópica que há 30 anos trabalha voltada à promoção da saúde auditiva, prevenção, diagnóstico e reabilitação da surdez e da fala das pessoas com deficiência auditiva, para promover a inclusão social. A Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (FENEIS) surgiu sob a direção dos surdos em 1987 e, em 1991, a LIBRAS foi reconhecida pelo Governo Mineiro, através da Lei10.397 de 10/01/91. A comunidade surda utilizava a abreviação LIBRAS para designar LSCB (Língua de Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros) e em 1994, Brito também passou a utilizar essa abreviação. Em 1994, a TV Educativa começou a exibir o programa VEJO VOZES, usando LIBRAS. Em 1995, no Rio de Janeiro, os surdos criam o Comitê Pró- Oficialização da Língua de Sinais e já em 1996, no INES, em convênio com a UFRJ, surgiram pesquisas para a implementação de abordagem educacional com Bilinguismo na pré-escola, tendo como coordenadora Eulalia Fernandes. (Fonte: http://www.notisurdo.com.br/tecnohist.html) 12 Uma grande conquista aconteceu em 1998, em que a empresa de telefonia do Rio de Janeiro Telecomunicações do Estado do Rio de Janeiro (TELERJ), em parceria com a FENEIS, inauguraram a Central de Atendimento ao Surdo, através do número 1402, com o auxílio do Telefone para Surdo (TS, ilustrado na figura acima) – a pessoa com Deficiência Auditivo (DA) podia comunicar-se com um ouvinte no telefone tradicional. 1999 foi o ano em que começaram as instalações de telessalas com o telecurso 2000 legendado, o que proporcionou uma grande opção de aprendizagem e aperfeiçoamento para os sujeitos surdos. Programas televisivos como: Programa do Jô, Fantástico, Bom dia Brasil, Jornal Hoje, Jornal da Globo, inspirados pelo Jornal Nacional, colocaram em funcionamento o Closed Caption, ou legenda oculta, inserindo assim, o surdo como sujeito, com direito a manter- se informado, desenvolvendo a inclusão social. Os telefones celulares para surdos surgiram em 2000, com opção de SMS, através da TELERJ. Mais uma vez o Estado do Rio de Janeiro despontou como pioneiro no atendimento ao surdo e facilitação de comunicação. Em 2002, é promulgada a Lei 10.436, reconhecendo LIBRAS como língua oficial das comunidades surdas do Brasil e, em 2005, o decreto 5626, de 22 de dezembro, vem regulamentar essa Lei. Os Exames de Certificação Tradutor Intérprete de LIBRAS - Polibras Instrutor de LIBRAS e o Curso de Letras-Libras Bacharelado e Licenciatura EaD, surgiram em 2006, e, em 2010, o Curso Superior de Letras-LIBRAS Bacharelado e Licenciatura presencial na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Nesse ano também foi promulgada a Lei 12.319 em 01 de setembro, que regulamentava o exercício de Tradutor e Intérprete da LIBRAS. Hoje se vê a pessoa surda em escolas de educação especial, bem como em escolas regulares, onde estão inseridos por meio da educação inclusiva. Essas pessoas estão tendo a oportunidade de participar ativamente da sociedade, com acesso ao saber, às informações e à vivência da cultura, pois a escola, a igreja, a televisão, os eventos sociais e outros equipamentos adotaram intérprete de LIBRAS para que os sujeitos surdos possam exercer o seu direito à participação na comunidade onde estão inseridos. 13 1.1. Deficiência Auditiva Deficiência Auditiva é o nome que se dá para indicar perda ou diminuição da capacidade de escutar. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa é surda quando não percebe os sons, nem mesmo com a ajuda de amplificadores. A Conferência Executiva da Escola Americana para os Surdos desenvolveu em 1974 uma definição aceita majoritariamente com uma orientação educativa (WINZER, 1993). Com base nessa definição: Deficiência Auditiva: termo genérico que indica uma incapacidade que pode ter um nível de intensidade de médio a profundo. Inclui os termos surdo e limitado do ouvido. Limitado de ouvido: pessoa que, geralmente, com uso de auxílio auditivo tem bastante audição residual para ser capaz de processar informação linguística pela audição. Surdo: indivíduo cuja incapacidade auditiva impossibilita o processamento da informação pela audição. O deficiente auditivo é classificado como surdo, quando sua audição não é funcional na vida comum e hipoacústico aquele cuja audição, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva. É perceptível o termo hipoacústico, que é relativo à hipoacusia, ou seja, que percebe o som de maneira atenuada, conforme conceito a seguir. É possível classificar a pessoa com déficit auditivo em duas categorias: Hipoacústicos: Àqueles com audição deficiente, mas que, com a ajuda de uma prótese, podem apresentar comunicação com componentes auditivos. Surdos profundos: Àqueles que tem perda auditiva total. A informação não chega até através de componente auditivo, e sim pelo visual. Em geral, quando a perda auditiva é parcial é chamada de hipoacusia e quando é total é definida como surdez. A hipoacusia pode ser leve, moderada ou severa, em função do grau de decibéis que o sujeito é capaz de perceber. 14 Importante Segundo a Secretaria de Educação Especial (MEC,1997) existem dois tipos de problemas auditivos, o primeiro afeta o ouvido externo ou médio e provoca dificuldades auditivas condutivas, normalmente tratáveis e curáveis. O outro tipo envolve o ouvido interno ou nervo auditivo e chama-se surdez neurossenssorial. A surdez neurossenssorial pode se manifestar em qualquer idade, desde o pré-natal até a idade avançada. Existe também, a surdez central, onde a alteração pode se localizar desde o tronco cerebral até as regiões subcorticais e córtex cerebral. A perda auditiva mista ocorre quando acontece uma combinação de perda auditiva condutiva e perda auditiva neurossenssorial numa mesma pessoa Hoje se considera que uma perda auditiva total é rara, uma vez que parece existir um grau de audição residual, por isso o termo Deficiência Auditiva. 1.2. Causas da Surdez Fonte: Elaborado pelo Autor (2016). Pré- Natal Hereditárias: Transmitida geneticamente de geração em geração. Doenças adquiridas pela mãe na gravidez: rubéola, toxoplasmose, citomegalovírus. Exposição da mãe à drogas ototóxicas: medicamentos que prejudicam a formação do aparelho auditivo. Uso de Drogas: ingestão de álcool e drogas na gestação. Peri- Natal Traumatismos obstétricos: uso inadequado de fórceps, partos muito rápidos ou demorados. Anóxia: falta de oxigenação cerebral. Infecção hospitalar. Pós- Natal Doenças infecciosas : meningite, caxumba, sarampo, sífilis. Uso de medicamentos: ototóxicos, antibióticos.Otites: infecções da orelha média ou externa. Pair ou pairo: perda auditiva por ruído ocupacional. Trauma acústico: pancadas, estouro de bombas, ou tiro, traumatismo craniano. 15 No Brasil, segundo Decreto 3298, de 20 de dezembro de 1999, em seu artigo 4º, ficou estabelecido que a surdez varia em graus e níveis, na seguinte forma: DE 25 a 40 decibéis (dB) Surdez Leve DE 41 a 55 dB Surdez Moderada DE 56 a 70 dB Surdez Acentuada DE 71 a 90 dB Surdez Severa Acima de 91 dB Surdez Profunda Anacusia Perda Total da Audição Fonte: Elaborado pelo Autor (2016). Surdez Leve Permite ouvir os sons, desde que sejam um pouco mais intensos. A pessoa apresenta dificuldades na emissão dos fonemas das palavras, problemas de articulação ou dificuldade de leitura e escrita. Surdez Moderada Se faz necessário uma voz com certa intensidade para que o sujeito a perceba. Neste caso é frequente o atraso da linguagem. Surdez Acentuada A criança não escuta sons importantes do dia a dia (televisão, campainha) e necessita de uma voz com certa intensidade, para que seja percebida. Há atraso na linguagem e alterações articulatórias, havendo, muitas vezes, problemas linguísticos. Presença de dificuldade de discriminação auditiva em ambientes com muitos ruídos. Necessidade de apoio visual para entendero que foi dito e dificuldade de falar ao telefone, pois confunde fonemas parecidos (gato, pato). 16 Surdez Severa Identifica ruídos familiares, percebe, mas não entende a voz humana, não distingue fonemas da fala, necessita de leitura labial. Escuta sons fortes, mas a voz humana somente com amplificação. Surdez Profunda É privado de perceber e identificar a voz humana. Não consegue naturalmente a linguagem, não adquire a fala como instrumento de comunicação, não tem “feedback” auditivo. Somente são audíveis sons graves que produzam vibração (avião, trovão). Anacusia É a perda total da audição, a falta ou ausência de audição. Difere da surdez por não haver resíduos auditivos. Fonte: Elaborado pelo DI (2016) Incapacidade de receber e expressar mensagens recebidas a partir de sons. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS • Dificuldade de adaptação ao ambiente, gerando ansiedade e impaciência. CARACTERÍSTICA SOCIAIS • Problemas de equilíbrio que dificultam o desenvolvimento motor e capacidade motora. CARACTERÍSTICAS MOTORAS 17 Importante Importante destacar que o Decreto 3298, de 20 de dezembro de 1999, foi alterado pelo Decreto nº 5.296/2004, por meio do qual a deficiência auditiva passa a ter a seguinte redação: Deficiência Auditiva é perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500HZ, 1.000HZ, 2.000Hz e 3.000Hz. 1.3. SURDOCEGUEIRA Quando uma pessoa apresenta perda total ou parcial dos sentidos da audição e visão, simultaneamente, ela é designada com o termo surdo-cego. Conforme Lagati (1995): (...) a surdo-cegueira é uma condição que apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela cegueira e pela surdez. O termo hifenizado indica uma condição que somaria as dificuldades da surdez e da cegueira. A palavra sem hífen indicaria uma diferença, uma condição única e o impacto da perda dupla é multiplicativo e não aditivo (LAGATI, 1995, p. 306). A surdocegueira acontece em diversos graus dos sentidos de audição e visão. Isso quer dizer que o surdocego pode ouvir e ver em pequenos níveis. Com base nos estudos de McInnes (1999), a fim de classificar alguém de surdocego é preciso que esse indivíduo não tenha suficiente visão para compensar a perda auditiva, ou vice-versa, que não possua audição suficiente para compensar a falta de visão. Quando há essas duas deficiências, o sujeito fica impossibilitado do uso de sentido da distância, o que vem lhe trazer extrema dificuldade na conquista das habilidades educacionais, vocacionais, lazer e social. Ví deo O filme, Helen Keller e o Milagre de Anne Sullivan (The Miracle Worker - 2000), baseado na vida real de Helen Keller, conta a história de Anne Sullivan, uma professora que lutava para ajudar uma menina surdocega a adaptar-se ao mundo que a rodeava. Trailer disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6cnSvKqcQmo 18 1.3.1 Causas da Surdocegueira As causas da surdocegueira podem ser variadas, no quadro abaixo é possível verificar uma lista com algumas das possibilidades: Origem genética e causas pré-natais Síndrome de Usher; Associação Charge; Síndrome de Down; Hidrocefalia; Microcefalia; Rubéola materna; Toxoplasmose; Uso de álcool e drogas pela mãe; Herpes; Sífilis, entre outras. Causas perinatais Prematuridade; Anóxia; Medicação ototóxica; Icterícia. Causas pós-natais Asfixia; Meningite; Encefalite; Derrame cerebral; Trauma craniano; Otite média crônica; Sarampo; Caxumba; Diabetes, etc. 1.3.2. CARACTERÍSTICAS Os surdocegos apresentam característica específicas, que variam de acordo com o tipo e grau da deficiência. Os mais comuns são: Fonte: Elaborado pelo Autor (2016). SURDOCEGO CARACTERÍSTICAS MOVIMENTOS ESTERIOTIPADOS DE MÃOS E DEDOS. CHOCA-SE COM AS PESSOAS. BALANCEIO E ISOLAMENTO TEM NO OLFATO SUA MELHOR INFORMAÇÃO DESINTERESSE POR BRINQUEDOS E OBJETOS E AINDA, FORMAS CONVENCIONAIS DE COMUNICAÇÃO DEFESA TÁTIL REJEITAM A APROXIMAÇÃO FÍSICA INDIFERENÇA A SONS ATRAÇÃO POR LOCAIS COM CLARIDADE INTENSA. CONTRAÇÃO DE PÁLPEBRAS PARA ENXERGAR MELHOR. DIFICULDADE DE LOCOMOÇÃO, PARTICIPAÇÃO DE CONVERSAS OU JOGOS GRUPAIS 19 McInnes (1999) considera a surdocegueira uma deficiência única e a divide em quatro categorias: indivíduos cegos que se tornaram surdos; indivíduos surdos e se tornaram cegos; indivíduos que se tornaram surdo cegos; indivíduos que não tiveram a oportunidade de desenvolver linguagem, habilidades comunicativas ou cognitivas nem conceitos para poder construir e compreender o mundo. Os estímulos ambientais chegam até o ser humano pelos principais órgãos dos sentidos: audição, tato, paladar, olfato, visão e cinestésico. Por eles é possível sentir a temperatura da comida, o vento quente ou frio, sons e cores que fazem parte da paisagem e cada canal sente essas percepções de maneira diferente. A informação que chega ao cérebro é dividida por canal, dessa forma: Estímulo recebido (%) Sentido utilizado 75% VISÃO 13% AUDIÇÃO 6% TATO/CINESTÉSICO 3% OLFATO 3% PALADAR Fonte: Elaborado pelo DI (2016). Tomando por base os dados da tabela acima, é percebido que tem acesso somente a 12% de todo o estímulo disponível no ambiente. Soares e Vieira (2004), afirma que essa privação leva o indivíduo ao isolamento. As principais características da pessoa com Surdocegueira são: Indivíduo privado de 88% dos estímulos ambientais, isolado, sem contato com o mundo externo; Indivíduo que necessita de estimulação constante de seus remanescentes; Indivíduo que necessita de comunicação alternativa; Indivíduo que necessita, principalmente, do pré-linguístico, de rotina organizada e de incentivo à independência; O pós-linguístico possui a facilidade de carregar consigo suas memórias visual e auditiva (lembranças do que já ouviu ou enxergou e falou). 20 A surdocegueira também pode ser classificada em: Surdocego Pré-linguístico: é aquele que nasce ou adquire a surdocegueira antes da aquisição de uma língua (Português ou LIBRAS). Não consegue ter uma imagem real do mundo ao seu redor, não entende que faz parte dele. Sem intervenção o seu mundo se resume a seu corpo. Surdocego Pós-Linguístico: essas pessoas ficaram surdocegas após a aquisição de uma língua, (oral ou sinalizada), devendo-se manter a língua utilizada para comunicação. Se faz necessário, também, ver se ficou algum resíduo visual ou auditivo, pois assim, pode-se definir um sistema de comunicação a se utilizar a partir do que está presente. A surdocegueira pode ser classificada de acordo com a quantidade/nível de perdas visuais e auditivas. Tipo de perda visual Tipo de perda auditiva Classificação da surdocegueira Parcial Leve Leve Parcial Profunda Moderada Total Leve Moderada Fonte: Elaborado pelo Autor (2016). 1.4. CONHECENDO O ALUNO COM SURDEZ E SURDOCEGUERIA Quando o professor recebe em sua classe, um aluno que apresenta uma deficiência, muitas vezes surge uma insegurança e alguns questionamentos. “Como é esse aluno? ”; “Como poderei me comunicar com ele? ”; “Como ele irá interagir com os colegas? ”; “Como será a aquisição dos conteúdos por parte dele? ”; “O que ele consegue fazer? ” Muitos mais questionamentos surgirão para responder a todas essas questões e, mais ainda, para poder conhecer esse aluno e desenvolver um trabalhoque venha a alcançar os objetivos. O professor deverá receber um portfólio de avaliação desse aluno, que lhe dará subsídios para desenvolver uma metodologia e selecionar os recursos de trabalho com esse aluno. 21 Esse portfólio é elaborado com o auxílio de vários profissionais, sendo feita uma avalição audiológica com o fonoaudiólogo, para detectar qual o grau da perda auditiva, ou se há algum resíduo auditivo, para posterior uso de prótese. O professor também receberá a informação de como esse aluno se comunica, que modalidade e tipo de estrutura utiliza para a comunicação. Essas informações serão repassadas por um especialista que analisará aspectos comunicativos e linguísticos. Um psicólogo poderá aplicar testes específicos para avaliar as capacidades cognitivas (inteligência) do sujeito, pois às vezes a DA ou a Surdocegueria vem acompanhada de dificuldades intelectuais. Por isso é necessário saber quais são essas deficiências e que áreas cognitivas apresentam maior dificuldade, para que se desenvolva um trabalho adequado. Esse profissional também pode oferecer informações sobre a personalidade do indivíduo. Com relação a crianças já escolarizadas, se faz necessário uma avaliação curricular para que o professor saiba em que nível de desenvolvimento o aluno está e que estratégias de aprendizagem necessita, para que a escola apresente uma proposta que venha ao encontro de suas expectativas e potencialidades. Dessa forma serão esclarecidas as aptidões e habilidades presentes, bem como quais são as dificuldades e que materiais esse aluno utiliza para a sua aprendizagem. Uma questão muito importante é com relação à família, pois essa é peça chave para o desenvolvimento desse sujeito. A família é que deverá incentivar, acreditar no potencial desse aluno e fazer um trabalho em parceria com a escola. Só assim o resultado será positivo. É preciso conversar com essa família para saber quais são as suas expectativas e dúvidas com relação à criança e os laços afetivos que há entre os membros da família. Para se conhecer um aluno Surdocego ou surdo, além do apoio dos profissionais acima citados, precisa-se criar um vínculo e desenvolver um clima de confiança, para que esse aluno se sinta à vontade para demonstrar seus conhecimentos, seus anseios e, principalmente, permita o contato físico, tão importante para o desenvolvimento da aprendizagem. A partir das informações trazidas pelos diferentes profissionais que avaliaram o aluno com DA ou Surdocegueira, conhecimentos sobre 22 características, causas, observação em sala de aula, conversas com a família e o trabalho no dia a dia, o professor, aos poucos, irá descobrir quem é esse aluno, como ele aprende, como se comunica, como interage com as pessoas. A partir desse conhecimento, aquelas questões iniciais que tanto preocupavam o professor, aos poucos serão respondidas e o trabalho com esse aluno se tornará normal, como com qualquer outro aluno, apenas com recursos diferenciados. 1.5. IDENTIFICAÇÃO DE HABILIDADES, DIFICULDADES E NECESSIDADES DOS ALUNOS COM DA E SURDOCEGUEIRA A partir da decisão de se tornar professor, o profissional deve ter a consciência de que vai se deparar com alunos com diferentes potencialidades, habilidades e necessidades e ainda, com a Educação Inclusiva, em que essas diferenças são muito mais acentuadas. Mesmo assim esses alunos têm direito de receber a escolarização, para o seu pleno desenvolvimento. Todo aluno, indiferentemente de condição social, física, cognitiva e psicológica, apresenta habilidades. Cabe ao professor ter a sensibilidade e o conhecimento necessários para dar, a esse aluno, a oportunidade para que o mesmo demonstre essas habilidades e potencialidades. Com alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE), necessita- se muito mais de apoios para descobrir essas habilidades, como já visto anteriormente, de médicos, fonoaudiólogos e outros profissionais responsáveis pela avaliação desses sujeitos. Por meio das avaliações desses vários profissionais envolvidos, o professor receberá um portfólio, o qual deverá ser analisado. Por meio desse portfólio o professor poderá ter uma noção das habilidades desse aluno nas áreas da psicomotricidade, comunicação, socialização, leitura, escrita e matemática, bem como sobre a visão, a audição e tudo o que o mesmo já sabe, já aprendeu. Em sala de aula o professor deve, também, propor situações e atividades que possibilitarão o conhecimento das habilidades desse aluno. Essas avaliações devem ter, como objetivo principal, mostrar ao professor as habilidades que esse indivíduo possui, para que possa, a partir daí, delinear sua linha de trabalho, recursos, metodologias, estratégias, etc., para o 23 aprimoramento dessas habilidades e ainda, aproveitá-las para compensar áreas em que esse aluno apresenta dificuldades. A classificação da deficiência dos alunos é um fator importante para que o professor identifique as habilidades e também as dificuldades presentes pois, conforme o grau de comprometimento, serão determinadas as ações a serem realizadas e os recursos necessários. O professor deve sempre ter expectativas positivas em relação a esse aluno, assim como explorar o potencial de expressão de ideias e de emoções. Deve ter em mente que assim como os alunos sem NEE apresentam diferentes habilidades, os alunos com DA e Surdocegueira não são diferentes. Cada um apresenta habilidades específicas que devem ser conhecidas e exploradas em sala de aula. O trabalho, muitas vezes individual por parte do professor, bem direcionado, com estratégias que atinjam o aluno, vai demonstrar todos esses aspectos e, a partir daí essas habilidades devem ser aprimoradas e aproveitadas para novas aprendizagens. Com relação às dificuldades de alunos surdos, a questão é a comunicação, o que vem a prejudicar o relacionamento com colegas, que muitas vezes os excluem e até praticam o Bullying. Com relação aos professores, esses muitas vezes esquecem que esse aluno não ouve e acabam explicando os conteúdos andando pela sala e/ou ficando de costas, o que dificulta a leitura labial e a observação facial por parte do DA. Também existem os professores que resistem em mudar sua prática pedagógica de anos. Devido a essas dificuldades no relacionamento, muitas vezes os alunos com DA se isolam, o que pode causar problemas emocionais, de aprendizagem e de autoestima. Ainda falando da dificuldade de comunicação, a compreensão dos conteúdos é muito difícil. Muitos professores não se preocupam em adotar metodologias, técnicas e recursos que supram essa falha na comunicação, ou ainda, que compensem e façam com que esses alunos compreendam o que está sendo explicado. Muitos professores não estão preparados para trabalhar com alunos com NEE. Alunos que possuem perda leve ou moderada de audição apresentam dificuldades com os ruídos em sala de aula, conversas paralelas entre colegas, o que prejudica a audição e concentração durante as aulas. 24 A LIBRAS é a primeira língua aprendida pelo surdo, quando ele adquire a surdez antes da sua alfabetização. Sendo assim, a dificuldade de aprendizagem se torna grande, pois nas escolas a língua ensinada como primeira língua é o Português. O ideal seria que para cada sala de aula que possui alunos com DA, fosse designado um intérprete para acompanhar em sala de aula. Só assim esses alunos conseguiriam acompanhar, adequadamente, o processo de escolarização. A questão da adaptação curricular e didática também se apresenta como uma dificuldade. Nem sempre são feitas as adequações curriculares quandoo aluno com DA chega ao ensino regular, e ele fica perdido, sem conseguir trabalhar bem os conteúdos aplicados pela professora, bem como no que se refere à utilização de materiais adaptados ou ainda, aqueles que são desenvolvidos para alunos com surdez. Muitas vezes a escola não os possui ou, quando existem, o professor não sabe como utilizar. Alunos com DA muitas vezes necessitam de aparelhos amplificadores. Podem apresentar dificuldades no uso, na adaptação e na eliminação de ruídos, o que requer ajustes e os professores, muitas vezes, não sabem como manipular esses aparelhos. Os alunos com surdocegueira apresentam dificuldades parecidas com as dos alunos DA, porém, devido a cegueira, as dificuldades são maiores ainda, as quais já começam em relação ao corpo, que é a realidade mais imediata. Se o desenvolvimento de esquema corporal não for bom, esses alunos apresentarão dificuldade em perceber-se e perceber o mundo exterior, através do equilíbrio, postura, articulação, coordenação motora e visomotora. Esse aluno precisa perceber e reconhecer o externo, aquilo que não faz parte de seu corpo, mas do seu contexto físico. Seu sistema de comunicação é muito comprometido, sendo essa uma grande dificuldade. Sem comunicação não há aprendizagem, a qual se processa pela comunicação. Para que isso aconteça o Surdocego desenvolve uma comunicação alternativa por meio das mãos e dos objetos. Daí a necessidade da presença de profissionais preparados para esse trabalho e nem sempre se tem nas escolas esses profissionais, tornando-se essa, mais uma dificuldade para o desenvolvimento e aprendizagem do aluno com surdocegueira. 25 As barreiras físicas também representam enormes dificuldades para esse aluno. As escolas não estão preparadas, arquitetonicamente, para receber alunos com necessidades especiais. Se faz necessário adaptações físicas, estruturais e de locomoção para esses alunos. No caso do Surdocego, desde a sala de aula deve ter fácil acesso, sem modificações na organização do mobiliário, para que esse aluno consiga, depois de um tempo de adaptação, locomover-se sozinho, sem problemas. A criança com surdocegueira apresenta dificuldade de antecipação do que vai ocorrer a sua volta, promovendo instabilidade e insegurança. Movimentar-se de um lugar para outro, ou ainda, levar um alimento à boca, pode lhe causar grande medo, pois não sabe o que é ou o que vai acontecer. Pode apresentar dificuldades em elaborar, conscientemente, os segmentos corporais em si e na relação com os objetos, insegurança, limitações de movimentos, atraso no desenvolvimento afetivo e motor. Segundo Spenassato (2009), a maioria das escolas não apresenta um quadro de inclusão de alunos com NEE, dentre esses, os alunos com surdez. Ainda há carência de salas apropriadas, de materiais, de recursos visuais, de metodologias e, principalmente, de professores especializados ou intérpretes, entre outros. Com base nisso, é possível perceber algumas dificuldades que esses alunos enfrentam e, também aqueles com surdocegueira. Essas dificuldades incluem: ambientes adequados, organizados de forma a favorecer a locomoção; materiais e práticas pedagógicas que superem as deficiências presentes e que permitam que o conhecimento chegue até estes alunos de forma integral; a comunicação alternativa enquanto fator primordial. O professor ou intérprete, necessário em sala de aula, deve estabelecer uma forma de comunicar-se com esse aluno, pois só através da comunicação acontecerá a inclusão e a aprendizagem. O desenvolvimento sensorial é de fundamental importância, pois na falta de um dos sentidos, outro deve desenvolver-se de forma a compensar essa falta ou falha. O aluno com NEE fará a utilização de outros sentidos para reconhecimento de pessoas e objetos e para a assimilação da aprendizagem. A flexibilização e adaptação curricular também se fazem necessárias para o desenvolvimento dos conteúdos para esses alunos, assim como a exploração de várias metodologias e materiais, aos quais cada aluno irá adequar-se. 26 A necessidade de interrelacionamento entre os alunos é uma necessidade para que o aluno com NEE sinta-se acolhido, parte integrante de um grupo. É importante que seus colegas estejam desprovidos de preconceitos para recebê- lo e para que possam se relacionar adequadamente com ele, fazendo com que se sinta bem no grupo, podendo desenvolver-se de forma plena. Acima de tudo, o aluno surdo ou surdocego necessita de que o professor esteja aberto e disposto a conhecê-lo e descobrir suas potencialidades e habilidades, sem prender-se à deficiência. O professor precisa extrapolar e não se amarrar a teorias, acreditar e inspirar esse aluno a desenvolver suas capacidades de forma a ter condições de receber uma educação de qualidade, que venha ao encontro de suas expectativas, preparando-o para atuar como cidadão. 1.6. EXPRESSÃO CORPORAL E FACIAL Estudos comprovam que a eficácia da boa comunicação está relacionada com algumas habilidades, como: a expressão da fala (14%), entonação das palavras (34%) e expressão facial (56%). A expressão não-verbal é muito importante para os surdos. Amplie Seus Estudos SUGESTÃO DE LEITURA Nesse livro, Deficiências sensoriais e incapacidades físicas (2008), Michael Farrel sugere estratégias de apoio e intervenções para o trabalho com alunos com deficiências, bem como coloca as definições das mesmas, dentro do contexto legal, um bom livro para aumentar os conhecimentos e melhorar a prática pedagógica. 27 Ví deo Nesse vídeo de Alexandre Elias Libras, Expressões Faciais em Libras, é possível ter uma pequena experiência da importância da expressão facial para que surdos compreendam o que está sendo falado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2LC7EX4Qdws A comunicação não verbal está ligada à linguagem corporal e esses gestos, geralmente, são culturais, correspondendo a um senso coletivo de significados. A comunicação corporal é um fator importante e decisivo, quando os sinais transmitem mensagem demonstrando congruência entre a informação sinalizada e sua linguagem corporal, proporcionando informações sobre caráter, emoções e reações. Por meio da linguagem corporal o ser humano demonstra seu estado de ânimo; quando ele duvida de algo: levanta a sobrancelha; para se proteger: cruza os braços. Pode-se dizer que as expressões faciais e corporais se complementam na formação do significado daquilo que se comunica. Quadros e Pimenta (2006) explicam que existem dois tipos de expressões faciais: as afetivas e as gramaticais (lexicais e sentenciais). As afetivas são ligadas à sentimentos/ emoções. Fonte: BRECÁLIO (2012) 28 Expressões faciais gramaticais: relacionadas a algumas estruturas gramaticais, tanto em nível morfológico quanto na sintaxe, envolvendo movimentos de cabeça (afirmativo, negativo), direção do olhar, elevação das sobrancelhas, elevação ou abaixamento da cabeça, piscar olhos, testa franzida, movimentos de lábios. Fonte: BRECÁLIO (2012) É preciso adequar a expressão corporal ao ambiente e à mensagem transmitida, pois os sinais de LIBRAS são formados a partir de parâmetros, de combinação de movimentos de mãos, num determinado lugar, podendo ser parte do corpo ou espaço. Se não forem respeitados esses movimentos é possível prejudicar a comunicação, causando confusão ou erros de comunicação. Importante As expressões faciais/corporais são de fundamental importância para o entendimento real do sinal, sendo que a entonação em Língua de Sinais é feita pela expressão facial.Para que haja um bom desenvolvimento do aluno com DA, deve-se ter claro os sinais e as expressões que se deve utilizar no momento em que ocorre a explicação de um conteúdo ou uma conversa com esse aluno, pois é por meio desses sinais e expressões, que ele se comunica. Cabe ao professor ir em busca de um curso de LIBRAS, para que tenha maior condição didática para trabalhar e desenvolver seu aluno com DA. 29 Resumo da Aula Nesta aula conheceu-se um pouco sobre o aluno Surdo e Surdocego e a definição e as causas das condições de surdez, deficiência auditiva e surdocegueira, bem como a história da educação desses alunos e, ainda, como utilizar de expressões para a comunicação com esses indivíduos. Atividade de Aprendizagem Numa condição de aluno com perda auditiva parcial bilateral, cite 3 atitudes que farão a inclusão desse aluno na sala de aula envolvendo: aspectos físicos da sala, relacionamento com colegas e atitude do professor no momento da explicação dos conteúdos. AULA 02 - ESTRATÉGIAS, METODOLOGIAS E ALTERNATIVAS PARA O ATENDIMENTO DOS ALUNOS SURDOS E SURDOCEGOS, LEGISLAÇÃO Apresentação da Aula Nesta aula será estudado um pouco sobre a legislação referente às pessoas com surdez e surdocegueira, LIBRAS, como acontece a aprendizagem da Língua Portuguesa, a formação de conceitos e ainda, quais recursos e equipamentos o professor poderá se utilizar para desenvolver o aprendizado desses alunos. 2. Estratégias, Metodologias e Alternativas para o Atendimento dos Alunos Surdos e Surdocegos, Legislação 2.1. Legislação Nacional e Estadual Existem algumas leis, decretos e artigos que dão aparato legal às pessoas com necessidades especiais, como: A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948. 30 A Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência, de 1975. A Promulgação Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência, de 2001. As Normas Uniformes das Nações Unidas para a Participação e Igualdade das Pessoas com Deficiência, de 1993. Os surdocegos consideram muito as Normas Uniformes, uma vez que essas norteiam, com clareza e profundidade, as necessidades das pessoas com deficiência. Porém, nenhuma delas é tão específica quanto a Declaração de Salamanca para a pessoa com surdocegueira, pois em seu artigo 21 aborda sobre as Políticas Educacionais para Surdos e Surdocegos. Com relação ao Brasil se destacam as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica onde, em alguns de seus artigos, há o destaque para a Surdocegueira. No artigo 8º destaca a flexibilidade temporal do ano letivo, onde alunos com qualquer deficiência podem concluir em tempo maior a série/etapa escolar. Nessa mesma lei, no Artigo 10º, destaca a atenção individualizada para alunos com NEE, tanto nas atividades escolares quanto de vida autônoma, as adequações curriculares e o atendimento em escolas especiais, quando necessário. No seu Artigo 12º o destaque aponta para a acessibilidade de conteúdos, com utilização de linguagens e códigos aplicáveis como Braille e LIBRAS, dando-lhes funcionalidade acadêmica. Destaca também o uso do alfabeto digital, da língua de sinais adaptada, do Braille táctil e das escritas na mão, amparando legalmente o surdocego. Entre outras específicas para as pessoas com surdez, é possível verificar: LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002 Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 31 Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2º Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3º As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4º O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10436.htm LEI Nº 12.319, DE 1º DE SETEMBRO DE 2010 Regulamenta a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Esta Lei regulamenta o exercício da profissão de Tradutor e Intérprete da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS. Art. 2º O tradutor e intérprete terá competência para realizar interpretação das 2 (duas) línguas de maneira simultânea ou consecutiva e proficiência em tradução e interpretação da Libras e da Língua Portuguesa. [...] Art. 4º A formação profissional do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - Cursos de educação profissional reconhecidos pelo Sistema que os credenciou; II - Cursos de extensão universitária; e III - Cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação. Parágrafo único. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. [...] Art. 6º São atribuições do tradutor e intérprete, no exercício de suas competências: I - Efetuar comunicação entre surdos e ouvintes, surdos e surdos, surdos e surdos-cegos, surdos- cegos e ouvintes, por meio da Libras para a língua oral e vice-versa; 32 II - Interpretar, em Língua Brasileira de Sinais - Língua Portuguesa, as atividades didático- pedagógicas e culturais desenvolvidas nas instituições de ensino nos níveis fundamental, médio e superior, de forma a viabilizar o acesso aos conteúdos curriculares; III - Atuar nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino e nos concursos públicos; IV - Atuar no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim das instituições de ensino e repartições públicas; e V - Prestar seus serviços em depoimentos em juízo, em órgãos administrativos ou policiais. Art. 7º O intérprete deve exercer sua profissão com rigor técnico, zelando pelos valores éticos a ela inerentes, pelo respeito à pessoa humana e à cultura do surdo e, em especial: I - Pela honestidade e discrição, protegendo o direito de sigilo da informação recebida;II - Pela atuação livre de preconceito de origem, raça, credo religioso, idade, sexo ou orientação sexual ou gênero; III - Pela imparcialidade e fidelidade aos conteúdos que lhe couber traduzir; IV - Pelas postura e conduta adequadas aos ambientes que frequentar por causa do exercício profissional; V - Pela solidariedade e consciência de que o direito de expressão é um direito social, independentemente da condição social e econômica daqueles que dele necessitem; VI - Pelo conhecimento das especificidades da comunidade surda.. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2010/lei-12319-1-setembro-2010- 608253-veto-129310-pl.html Há também a lei Nº 11.796, de 29 de outubro de 2008, que institui o dia 26 de setembro de cada ano como o Dia Nacional dos Surdos. Com relação à Legislação Estadual, a lei 18.419, de 7 de janeiro de 2015, estabelece o Estatuto da Pessoa com Deficiência do Estado do Paraná, onde institui orientações normativas que vêm assegurar, promover e proteger direitos iguais de todo o ser humano e às pessoas com deficiência, para que aconteça a inclusão social e cidadania, com participação efetiva do sujeito na sociedade. Nessa lei é possível ver todas as condições para que aluno com deficiência se desenvolva, através de apoio de professor intérprete, materiais adequados para a aplicação dos conteúdos, dentre outros aspectos. Na lei Nº 12.095/98, do Estado do Paraná, vê-se destacada a surdocegueira, com relação ao direito do Professor Intérprete e o perfil do mesmo. Basicamente no Paraná as Leis para surdocegueira são as mesmas aplicadas à área da surdez, com poucos diferenciais, assim como segue-se a legislação Nacional em todos os casos. Legislação no Estado de São Paulo vêm recebendo proposta para regulamentar o ensino oferecido ao deficientes auditivos. 33 PROJETO DE LEI Nº 948 DE 2014 Dispõe sobre a criação de Central de Intérpretes da Língua Brasileira de Sinais-Libras, no Estado de São Paulo. A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO DECRETA: Art. 1º O Governo do Estado de São Paulo criará unidades de Central de Intérpretes de Libras – destinado aos surdos e surdocegos, para atender à comunidade com essas modalidades de deficiência, facilitando na comunicação com os mais diversos segmentos e nos serviços públicos estaduais, minimizando a dificuldade em obter informações e tirar dúvidas sobre os serviços oferecidos, entre outras demandas. Art. 2º A prestação desse serviço público proporcionará o oferecimento de profissionais qualificados, intérpretes e guias-intérpretes, além de equipamentos próprios para entender e interpretar Libras, que é uma linguagem específica para surdos e surdocegos. Art. 3º As unidades deverão ser implantadas nos serviços públicos estaduais, priorizando unidades de Saúde, Poupatempo, Centro de Integração da Cidadania (CIC), Acessa São Paulo, Restaurante Bom Prato, Metrô e em outras políticas públicas que aglomeram grande número de público. Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação e o Poder Executivo regulamentará a mesma, no prazo de 60 (sessenta) dias. JUSTIFICATIVA - A acessibilidade na comunicação é um direito da pessoa com deficiência auditiva e conjunta: auditiva e cegueira, e também deve ser prioridade do Poder Público. O presente Projeto de Lei visa facilitar a vida daquelas pessoas com essas deficiências que necessitam se comunicar e serem entendidos, priorizando o serviço público estadual, nas suas diversas modalidades de atendimento, aumentando gradativamente o número de centros de acordo com o orçamento estadual. O centro possibilitará uma melhor qualidade de vida ao surdo e surdocego no Estado de São Paulo, promovendo um alcance social e a adequada inclusão, garantindo mais esse direito ao cidadão, prevalecendo uma sociedade mais justa e igualitária de oportunidades. Trata-se de um Projeto de grande avanço para o alcance da plena cidadania, no qual as unidades públicas que adotarem esse procedimento ampliando seus serviços demonstrarão respeito e consideração pelo segmento. [...] Disponível em: http://www.al.sp.gov.br/spl/2014/08/Propositura/1218058_50172072_Propositura.doc 2.2. Formação de Conceitos O termo conceito vem do Latim: concéptus (ação de conter, ato de receber, germinação, fruto, feto, pensamento) ...”Representação mental de um objeto abstrato ou concreto, onde o pensamento identifica, descreve e classifica, diferentes elementos” (HOUAISS, 2010). Noção abstrata contida nas palavras de uma língua para designar, de modo generalizado e, de certa forma, substantiva, as propriedades e características de uma classe de seres, objetos, etc. 34 Para Vygotsky (2001), os conceitos cotidianos são empíricos e são construídos a partir da relação da criança com pessoas mais experientes, tanto adultos quanto outras crianças. Através dessa observação, experimentando e agindo sobre os fatos do dia a dia, a criança vai se apropriando do senso comum. Quando a criança chega na escola, vai construir conhecimentos sobre o mundo terá contato com outro tipo de conhecimento, aquele sistematizado, denominado, conhecimento científico. Quando se pensa na educação dos alunos com surdez, não é possível pensar apenas na linguística, mas sim numa educação formadora de conceitos e conhecimentos que vão muito além da linguística. Somente o uso de LIBRAS não resolve todos os problemas de aprendizagem desses alunos. A aprendizagem, nesse caso, vai muito além. Outras disciplinas e conteúdos utilizam-se de LIBRAS para a aplicação, mas não assegura pleno desenvolvimento de leitura e escrita e de outros conteúdos do currículo. É a mediação do professor em sala de aula que possibilita ao aluno a aquisição de conceitos. O professor deve fazer a articulação dos conceitos cotidianos com os científicos. Rego (1999) demonstra a diferença do conhecimento cotidiano com o científico, com o exemplo da palavra “GATO”. O conceito cotidiano toma as características do animal, a partir do contato do sujeito com ele. Na escola o conceito ganha outras definições, como por exemplo: mamífero, vertebrado, ser vivo, características que partem da palavra GATO, onde esse conceito toma maior abrangência e complexidade. Segundo Vygotsky (2001), a formação de conceitos inicia-se na primeira infância e, somente na adolescência, as funções intelectuais se tornam plenamente desenvolvidas. Facci (2004, p. 213), fala que isso acontece porque [...] as próprias exigências do meio social impostas aos adolescentes, as suas necessidades, os motivos de suas atividades, tudo os incita e os obriga a dar um passo decisivo no seu pensamento. As exigências vitais são fatores que nutrem e orientam o processo de desenvolvimento intelectual e a formação de conceitos é uma forma superior de atividade intelectual. Portanto, cabe ao professor proporcionar um ensino que promova a articulação entre os conhecimentos da realidade da criança com aquele científico que a escola deve promover. Dessa forma a criança irá estabelecer generalizações partindo do concreto para o conceitual. No caso da criança surda, 35 isso irá acontecer através da língua de sinais, sendo que o professor é quem buscará os caminhos alternativos para que essas crianças recebam a mesma educação, conforme aquelas sem NEE dessa natureza. O trabalho com alunos surdos é desigual ao dos ouvintes, porque o ouvinte tem a Língua Portuguesa como língua materna e quando chega na escola, já traz conhecimentos adquiridos por meio da língua oral. A criança surda recebe por via oral, apenas fragmentos de informações e é na escola que irá buscar até mesmo os conhecimentoscotidianos. Essa criança poderá levar muitos anos para adquirir a língua oral. No caso de surdez adquirida, a criança já teve experiência de fala e torna- se mais fácil a sua manutenção. No entanto, quando a surdez é congênita, esse processo se torna muito longo. Saiba Mais Sacks (1990) ressalta a importância da língua de sinais para que o surdo alcance as funções complexas do pensamento como: raciocínio, memória, imaginação, atenção e percepção, não fique restrito quanto ao alcance dos seus pensamentos e dependente de material concreto para entender conceitos elementares. O surdocego não adquire uma imagem real do mundo em que vive, pois apresenta dificuldades de aprendizagem com as pessoas de sua convivência. Não consegue, nem mesmo, saber o que tem ao seu redor. Para que supere esse isolamento, o mesmo deve receber um atendimento individualizado, onde será estimulado para a comunicação. Nesse caso, serão desenvolvidas diferentes formas de comunicação para que os ensinamentos sejam repassados e esse aluno consiga formar conceitos. Caso isso não ocorra, o mundo dessa criança surdocega se resume somente ao seu próprio corpo, ficando assim, a formação de conceitos prejudicada. O processo de aprendizagem nesses sujeitos irá ocorrer por meio de toques, do tato e dos sentidos remanescentes, por repetição e estimulação orientada e a aprendizagem se dará de forma espontânea. É no espaço escolar que a apropriação, por parte da criança, dos conhecimentos acumulados e 36 sistematizados historicamente pela humanidade, acontecerá, e a partir desses conhecimentos, os conceitos científicos vão sendo formulados. Quando se desenvolve uma forma de linguagem, de comunicação com o surdocego, inicia-se a análise, a abstração e a generalização de características dos objetos, possibilitando o intercâmbio social entre os seres humanos. O significado da palavra é representado pelo pensamento e pela linguagem, que é a generalização ou um conceito. Essas funções psicológicas superiores, como define Vygotsky (1996), tem a escola como principal instituição para o seu desenvolvimento. Sendo assim, a escola que trabalha com alunos surdocegos, deve se preparar com um aparato de metodologias, recursos, estratégias e ambientes de aprendizagens, das mais diferenciadas formas, para que desenvolva nesse aluno a formação de conceitos, tão importante para que o mesmo adquira um conhecimento de mundo, que vai além de seu próprio corpo. 2.3. Língua Brasileira de Sinais- LIBRAS Fala-se tanto em LIBRAS e, muitas vezes, nem mesmo se sabe realmente como é essa forma de comunicação entre as comunidades surdas. Ví deo O vídeo da Univesp, LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais, apresenta uma rápida introdução ao meio de comunicação da comunidade surda, a LIBRAS. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=pR2ZmsViyGk As línguas de sinais são línguas utilizadas pelas comunidades surdas que apresentam um conjunto de regras fonológicas, morfológicas e sintáticas, ou seja, uma gramática própria. É considerada uma língua natural para os surdos. As línguas de sinais são línguas naturais e complexas que utilizam o canal visual-espacial, articulações das mãos, ponto de articulação, orientação da palma das mãos, região de contato e expressões faciais e corporais, para se estruturar. A língua de sinais não é universal. Cada país possui sua própria língua de sinais, com variações regionais. De acordo com estudos do Instituto 37 Nacional de Educação de Surdos (INES), são 63 posições diferentes de dedos e mãos que realizam um sinal. Fonte: ALVEZ (2010). Como as línguas de sinais são diferentes pelo mundo, cada país tem sua própria língua de sinais, refletindo sua cultura e tradições de seu povo, com diferenças regionais, mudanças históricas, nível cultural e escolaridade dos falantes. No Brasil, a LIBRAS, reconhecida pela Lei 10.436/2002, é vista como uma forma de comunicação e expressão em que o sistema linguístico é de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria. Constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, vindos de comunidades de pessoas surdas do país. Estudos afirmam que as etapas de aquisição da língua de sinais são parecidas àquelas apresentadas pelas crianças ouvintes, com língua oral, pois o cérebro não diferencia língua oral-auditiva ou visual-espacial. A capacidade de apresentação, simbolização e formação de conceitos, ocorrem nas crianças ouvintes e surdas. Muitas vezes, quando se estuda o alfabeto manual, é facilmente confundido com LIBRAS, mas ele é um recurso utilizado para soletrar nomes próprios ou empréstimos da língua portuguesa, é uma soletração digital. 38 Curiosidade Você sabia que crianças surdas, filhas de pais surdos, que desde o nascimento estiveram expostas à língua de sinais, tem um desenvolvimento linguístico, cognitivo, afetivo e social adequados, demonstrando melhores resultados acadêmicos, em relação àquelas que não tiveram acesso à língua de sinais na Infância? 2.4. Educação Bilíngue, Oralização, Escrita Para Brito (1993), no bilinguismo, a língua de sinais é considerada uma importante via para o desenvolvimento do surdo, em todas as esferas de conhecimento, e, como tal, “propicia não apenas, a comunicação surdo-surdo, além de desempenhar a importante função de suporte do pensamento e de estimulador do desenvolvimento cognitivo e social”. Para as pessoas que defendem o bilinguismo, os surdos formam uma comunidade com cultura e língua próprias, tendo assim, uma forma peculiar de pensar e agir que devem ser respeitadas. A educação bilíngue é uma situação linguística que compreende a utilização de duas línguas na escolarização dos surdos: LIBRAS e língua portuguesa. Saiba Mais A educação bilíngue é uma situação linguística que compreende a utilização de duas línguas na escolarização dos surdos: LIBRAS e língua portuguesa. O bilinguismo ideal seria a criança aprender, primeiramente, LIBRAS em casa, para ter desenvolvida a linguagem. A partir daí, entraria com o ensino de Língua Portuguesa na escola, que seria desenvolvido com metodologias voltadas ao ensino de segundas línguas. Isso deveria acontecer desde a educação infantil. 39 Mas infelizmente, poucas crianças em idade escolar se beneficiam da educação bilíngue, uma vez que muitos pais não conhecem LIBRAS por serem ouvintes. A pluralidade linguística nem sempre faz parte das propostas curriculares e a falta de professores bilíngues nas escolas ainda é grande. Isso dificulta o processo de alfabetização/letramento, tendo em vista o aprendizado de uma segunda língua - o português, que se dá mesmo sem o surdo ter acesso à linguagem. Outro complicador é que a escrita tem sua base na oralidade. É preciso saber que a primeira língua é sempre uma língua natural, aquela que é aprendida sem barreiras. Para o ouvinte a primeira língua é o português, para o surdo, LIBRAS. Para que a educação bilíngue aconteça com sucesso, o ideal é que o professor tenha conhecimentos de LIBRAS ou tenha o apoio, em sala de aula, de um intérprete, que durante a exposição de conteúdo e atividades por parte do professor, dará o apoio em LIBRAS para o aluno surdo. Também orientará a família quanto ao acesso a cursos de LIBRAS e, até mesmo, para colegas de sala, pois assim a interação entre a turma facilitará a aprendizagem do aluno surdo. Sabe-se que pessoas com surdez podem entrar no mundo da leitura e da escrita e, por meio de processos visuais de significação da língua de sinais, aprender o português, o que decorrerá doseu significado nas práticas sociais. O sentido da língua portuguesa, nesse caso, vem da língua de sinais. Para crianças sem DA, o português é aprendido pela fala. Para os alunos com surdez o professor deverá buscar recursos e metodologias que os façam aprender o português sem a fala, apenas com sinais, para que consigam perceber palavra/objeto/significado. Os procedimentos adotados na alfabetização é que farão a diferença entre o aprender ou não a língua portuguesa. Caso sejam adotadas metodologias tradicionais, relacionando letra/som, o aluno surdo não terá a compreensão. Poderá até copiar a letra, mas não entenderá sua utilização e precisará passar de uma língua não-alfabética (sinais), para alfabética (português). Esses alunos precisam adquirir o conhecimento fonológico da língua, pois poderão ser leitores competentes na primeira língua e dominar a escrita da segunda, sem conhecer os sons da grafia, ou seja, “leitores não- alfabetizados”. 40 O professor deve adotar práticas de letramento que façam com que o aluno surdo decifre o mundo desconhecido, penetrando no sentido das palavras e incorporando-as às situações do dia a dia. Os textos deverão fazer com que a escrita tenha sentido. Devem conter muitas imagens que deem significado às palavras. Ao fazer a leitura das imagens, o aluno poderá relacioná-las com experiências vividas, despertando interesse pelas mensagens. Portanto, os textos devem ser contextualizados com referências visuais. Nos últimos anos, muito se tem feito para desenvolver o ensino de LIBRAS nas escolas, tanto com metodologias adequadas como com a construção de ambientes educacionais apropriados para esse ensino. É um direito da pessoa surda o acesso ao aprendizado de LIBRAS desde a educação infantil, para que, de maneira natural, a criança se aproprie desses conhecimentos científicos. Mas a aprendizagem em LIBRAS deve acontecer com profissional habilitado, pois só assim acontecerá de forma integral. De acordo com Goldfield (1997), o Oralismo ou Filosofia Oralista visa a integração da criança com surdez na comunidade dos ouvintes, dando-lhes condições de desenvolver a língua oral (língua portuguesa). Outros defensores dessa Filosofia dizem que a língua se restringe à língua oral, sendo, por isso, a única forma de comunicação dos surdos que, para que possam se comunicar, precisam saber oralizar. O autor diz ainda que a surdez é uma deficiência que deve ser minimizada pela estimulação auditiva, o que significa que o Oralismo representa a possibilidade de fazer a reabilitação da criança surda em direção à normalidade. De acordo com estudos da pesquisadora Dorziat (1997), as técnicas mais utilizadas no Método Oralista são: treinamento auditivo, desenvolvimento da fala e leitura labial. Treinar a audição por meio do resíduo auditivo, para discriminação de sons, fazendo com que a pessoa com surdez desenvolva a fala, também valorizava muito a leitura labial como meio de comunicação. A técnica da leitura labial consistia em ler e interpretar os movimentos dos lábios quando alguém falava. Souza (1997) diz que pesquisas confirmam que os surdos só conseguem ler 20% da mensagem através da leitura labial, com isso perdendo muitas informações e que geralmente vão pela dedução do contexto em que as palavras são ditas. 41 Segundo Skliar, (1998, p.1) foram mais de cem anos de práticas enceguecidas pela tentativa de correção, normalização e pela violência institucional; instituições de educação especial que foram reguladas pela caridade e beneficência, quanto pela cultura vigente que requeria uma capacidade para controlar, separar e negar a existência da comunidade surda, da língua de sinais, das identidades surdas e das experiências visuais, que determinam o conjunto de diferenças dos surdos em relação a qualquer outro grupo de sujeitos. Vê-se como consequência que os surdos não aprendiam a falar, somente pronunciavam palavras repetidas de forma mecânica, sem significado, formando surdos analfabetos, que ficaram com marcas negativas em suas vidas até hoje. Resumindo, o Oralismo consiste em fazer com que a criança receba a linguagem oral, através da leitura orofacial e amplificação sonora, enquanto se expressa através da fala. Gestos, alfabeto digital e Língua de Sinais são expressamente proibidos. Quando se pensa no surdo e na aquisição da escrita, se verifica que a aquisição dessa modalidade representa a alfabetização em outra língua com diferenças sintáticas, morfológicas e fonéticas. Por isso as irregularidades morfossintáticas da escrita dos indivíduos surdos coincidem com construções próprias das línguas de sinais. Ouvintes usam quase a mesma estrutura morfossintática-semântica para o português falado e para o escrito, relação não estabelecida entre LIBRAS e a linguagem escrita. Por exemplo, na frase “O meu sobrinho vai se formar como jornalista em dezembro”, em LIBRAS essa mesma frase seria: “Dezembro agora sobrinho meu formatura jornalista”. Percebe-se que os textos de alunos surdos possuem enunciados curtos, ausência de artigos, vocabulário reduzido, ausência de preposições, concordância verbal e nominal, uso reduzido dos tempos verbais, falta de verbos de ligação e colocação aleatória de constituintes na oração, dentre outras diferenças gramaticais. Isso ocorre porque os surdos encontram-se em estágios do processo de ensino-aprendizagem de uma segunda língua, pois a LIBRAS, primeira língua, não serve como base da escrita, por ser viso-manual, diferente do oral-auditivo. 42 Outros fatores que dificultam o processo de ensino-aprendizagem do aluno com surdez estão na falta de metodologias para o ensino do português, uma das preocupações do professor na aprendizagem do aluno surdo, a falta de materiais adequados e do profissional intérprete. Fernandes (2004), ao pesquisar sobre o desempenho linguístico de alunos surdos, constatou dificuldades no emprego de regras da construção do português, afirmando que tais dificuldades não têm de ser consideradas como próprias do surdo, mas igual as de um falante que foi privado do contato linguístico. Apesar da falta do uso verbos de ligação e outras estruturas textuais, o professor deve levar em conta a compreensão do assunto pelo aluno surdo, no momento da produção textual do mesmo, se há entendimento há comunicação, como se vê no texto a seguir: Fonte: Meirelles, Spinillo (2004). A criança conseguiu escrever o que aconteceu, o fato vivenciado, com poucos detalhes, vocabulário reduzido, sem o uso de pronomes, verbos, etc., mas quem lê consegue compreender o que aconteceu. Nesse momento, o professor deve ter a sensibilidade de analisar não os aspectos morfológicos e sintáticos, mas a leitura, a compreensão e a explanação do fato através do texto. Basicamente, a proposta didático-pedagógica para o ensino de português, apresentam três níveis: 43 Fonte: Elaborado pelo DI (2016). Sabe-se que o texto é uma tessitura de palavras, ideias e concepções articuladas de forma coesa e coerente. É preciso saber que quando se incentiva um aluno surdo ou não, a produzir um texto em Português, é preciso ter como objetivo principal, torná-los competentes em seus discursos, dando-lhes oportunidades de interagir nas práticas da língua oficial e torná-los sujeitos de saber e poder com criatividade e arte. Para que essa prática ocorra, a educação escolar deve apresentar, aos alunos com surdez, a diversidade textual circulante nas práticas sociais. Através da apropriação de gêneros e discursos é que o aluno fará uso da língua portuguesa. Amplie Seus Estudos
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