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MORFOFISIOLOGIA DO ESTÔMAGO O estômago é um órgão do canal alimentar que liga o esôfago ao duodeno, sendo localizado inferiormente ao diafragma. ANATOMIA: Funciona como uma câmara de mistura e reservatório de retenção Continuação da digestão de amido e triglicerídeos Inicio da digestão de proteínas Conversão do bolo alimentar semissólido em líquido 4 regiões: 1. Cárdia → circunda a abertura do esôfago ao estômago 2. Fundo gástrico → parte arredondada esquerda superior 3. Corpo gástrico → parte central 4. Parte pilórica → três regiões: antro pilórico, canal pilórico e piloro Pregas gástricas → rugas formadas pela túnica mucosa quando o estômago está vazio Músculo esfíncter piloro → conecta o piloro ao duodeno Curvatura menor Curvatura maior HISTOLOGIA: Parede do estômago → 3 camadas 1. Túnica mucosa: − Células epiteliais colunares simples → células mucosas da superfície − Lâmina própria → tecido conjuntivo areolar − Lâmina muscular da mucosa → músculo liso 2. Tela submucosa → tecido conjuntivo areolar Gastrite e infecção por H. pylori OBJETIVOS: 1. Revisar a morfofisiologia do estômago e seus mecanismos de proteção e agressão 2. Compreender a etiologia, epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas, diagnóstico e tratamento da gastrite aguda e crônica, bem como suas complicações 3. Entender a patogenia da H. pylori, bem como seu tratamento (farmacodinâmica) e suas complicações 4. Relacionar a infecção por H. pylori com o desenvolvimento de neoplasia estomacal 3. Túnica muscular − Três camadas de músculo liso − Uma camada longitudinal externa − Uma camada circular média − Fibras oblíquas interna → limitadas ao corpo gástrico 4. Túnica serosa → epitélio escamoso simples (mesotélio) e tecido conjuntivo areolar − Peritônio visceral → parte da túnica serosa que recobre o estômago • Na curvatura menor, ele se estende para cima até o fígado como o omento menor • Na curvatura maior, ele se estende para baixo como o omento maior, revestindo os intestinos Glândulas gástricas → são colunas de células secretoras formadas por uma extensão das células epiteliais até a lâmina própria Criptas gástricas → glândulas gástricas que se abrem na base de canais estreitos − As secreções das glândulas fluem para cada criptas e depois para o lúmen do estômago As glândulas gástricas possuem três tipos de células glandulares exócrinas: 1. Células mucosas do colo → secretam muco junto com as células mucosas superficiais 2. Células principais gástricas → secretam pepsinogênio e lipase gástrica 3. Células parietais → produzem fator intrínseco e ácido clorídrico (HCl) O suco gástrico é formado pelas secreções das células mucosas, parietais e principais gástricas. Além disso, as glândulas gástricas possuem um tipo de célula enteroendócrina que está localizada no antro pilórico = célula secretora de gastrina → secretam gastrina na circulação sanguínea. FISIOLOGIA: Funções do estômago: − Mistura a saliva, alimentos e suco gástrico → formar o quimo − Reservatório de alimentos antes da liberação para o intestino delgado − Secreta suco gástrico: • HCl → mata bactérias e desnatura proteínas • Pepsina → inicia a digestão de proteínas • Fator intrínseco → auxilia na absorção de vitamina B12 • Lipase gástrica → auxilia na digestão de triglicerídeos − Secreta gastrina no sangue Digestão mecânica e química no estômago: Movimentos peristálticos → se inicia no corpo gástrico e se intensifica à medida que alcança o antro pilórico. As ondas peristálticas movem o alimento do corpo gástrico para baixo → propulsão O óstio pilórico permanece quase fechado e as partículas de alimento que são grandes inicialmente não conseguem passar pelo estreito espaço do óstio pilórico. Por isso, elas são forçadas para o corpo gástrico → retropulsão Esses movimentos se repetem até que conteúdo gástrico se mistura com o suco gástrico, formando o quimo que é capaz de passa pelo óstio pilórico → esvaziamento gástrico (processo lento). Os alimentos permanecem no fundo gástrico até 1h sem serem misturados. Isso permite que a digestão pela amilase salivar continue. No entanto quando, esse alimento é misturado ocorre a inativação da amilase salivar pelo suco gástrico e a ativação da lipase lingual. A lipase começa a digerir os triglicerídeos em ácidos graxos e diglicerídeos As células parietais secretam íons hidrogênio e íons cloreto no lúmen do estômago separadamente para no final secretar ácido clorídrico (HCl) por ação das bombas de prótons. As bombas de prótons H+/K+ATPase transportam H+ para o lúmen enquanto os íons K+ são levados para dentro da célula. Além disso, Cl- e K+ se difundem para o lúmen pelos canais da membrana apical. A enzima anidrase carbônica (células parietais) catalisa a formação de ácido carbônico (H2CO3) a partir da água e do dióxido de carbono. Esse ácido carbônico se dissocia para fornecer H+ para as bombas de próton e formar íons bicarbonato (HCO3-). Os íons bicarbonato se acumulam no citosol e saem da célula parietal na troca por Cl- por meio do antiportadores Cl- HCO3- na membrana basolateral. Assim, o HCO3- se difunde nos capilares sanguíneos e após a refeição, isso é responsável por elevar o pH do sangue e deixar a urina mais alcalina. Fatores que estimulam a secreção de HCl: Acetilcolina (ACh) → liberada por neurônios parassimpáticos Gastrina → secretada pelas células secretoras de gastrina Histamina → liberada pelos mastócitos na lâmina própria − Essas substâncias possuem receptores na membrana plasmática das células parietais − Histamina → receptores H2 ACh e gastrina estimulam as células parietais a secretar mais HCl na presença de histamina, ou seja, a histamina atua sinergicamente para melhorar os efeitos da ACh e da gastrina. Ácido gástrico → mata alguns microrganismos dos alimentos HCl → desnatura parcialmente as proteínas dos alimentos e estimula a secreção de hormônios que promovem o fluxo da bile e do suco pancreático Início da digestão de proteínas no estômago → pepsina (secretada pelas células principais gástricas − A pepsina rompe algumas ligações peptídicas entre os aminoácidos, fragmentando uma cadeia proteica de muitos aminoácidos em fragmentos peptídicos menores − Essa enzima atua no ambiente ácido do estômago (pH = 2) e se torna inativa em um pH mais alto A pepsina não digere as proteínas das células do estômago pelo fato da enzima ser secretada em forma inativa (pepsinogênio). O pepsinogênio só será convertido em pepsina ativa quando entra em contato com o ácido clorídrico secretado pelas células parietais ou moléculas de pepsina ativa. Além disso, outro fator que impede a digestão das proteínas da célula do estômago é a proteção das células epiteliais do estômago contra o suco gástrico por uma camada de muco alcalino secretado pelas células mucosas da superfície e do colo. Lipase gástrica → separa os triglicerídeos (gorduras e óleos) das moléculas de gordura em ácidos graxos e monoglicerídios Células mucosas do estômago → absorvem um pouco de água, íons e ácidos graxos de cadeia curta, além de alguns fármacos (ex: AAS) e álcool Resumo das atividades digestórios no estômago: Túnica mucosa 1. Células mucosas: − Secretam muco = proteção da parede do estômago − Absorção de algumas substâncias 2. Células parietais: − Secretam fator intrínseco = absorção de vitamina B12 − Secretam HCl = proteção, desnaturação de proteínas e conversão de pepsinogênio em pepsina 3. Células principais gástricas: − Secretam pepsinogênio − Secretam lipase gástrica 4. Células secretoras de gastrina: − Secretam gastrina Túnica muscular → ondas de mistura (movimentosperistálticos leves) Óstio pilórico → se abre para passagem do quimo para o duodeno Mecanismos de proteção do estômago: Ácido gástrico → mata alguns microrganismos dos alimentos Células mucosas da superfície e do colo → secretam muco = formam uma barreira protetora que a impede a digestão da parede do estômago Células parietais → secretam HCl → matam microrganismos dos alimentos Mecanismos de agressão ao estômago: Infecção por H. pylori Uso de anti-inflamatórios não hormonais Aumento da produção de ácido pelo estômago Produção insuficiente de muco REFERÊNCIAS: TORTORA, Gerard J.; DERRICKSON, Bryan. Princípios de Anatomia e Fisiologia. 14. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. GASTRITE Gastrite é uma reação inflamatória na parede do estômago que pode se limitar à mucosa (inflamação primária) ou se estender a outras camadas (associada a doenças inflamatórias sistêmicas, infecciosas ou não). Essa patologia, normalmente, está associada a queimação, dor epigástrica ou desconforto abdominal, além da inflamação da mucosa gástrica. Rompimento/falha de mecanismos de proteção da mucosa − Síntese reduzida de mucina − AINEs → afetam a citoproteção pelas prostaglandinas ou reduz a secreção de bicarbonato Consumo excessivo de álcool, AINEs Radioterapia e quimioterapia EPIDEMIOLOGIA: Maioria dos casos está relacionada a infecção por H. pylori H. pylori é encontrada em 2/3 da população mundial 7 a 10 brasileiros sofrem de gastrite GASTRITE AGUDA: Processo inflamatório agudo da mucosa, normalmente de natureza transitória Distúrbio autolimitado, com recuperação e cicatrização completas em alguns dias depois da eliminação da condição/agente desencadeante Etiologia: compostos irritativos locais AAS AINEs álcool toxinas bacterianas corticoides doença ou traumatismo grave associado a estresse fisiológico grave uremia tratamento com quimioterápicos para câncer radioterapia do estômago infecção por H. pylori − pouco comum de ser identificada − o paciente pode apresentar edema, degeneração do epitélio, intenso infiltrado inflamatório (neutrófilos) na lâmina própria e microabscessos de cripta (infiltrado no epitélio glandular e foveolar) Manifestações clínicas: Assintomáticos →gastrite por AAS Pirose Acidez gástrica Desconforto gástrico transitório Vômitos e hematêmese Dor Hemorragia → forma erosiva Erosão da mucosa Ulcerações → casos graves GASTRITE CRÔNICA: Caracterizada pela inexistência de erosões visíveis macroscopicamente e pela existência de alterações inflamatórias crônica que pode levar a atrofia do epitélio glandular do estômago Etiologia: Infecção por H. pylori Autoanticorpos dirigidos contra os componentes das células parietais das glândulas gástricas e o fator intrínseco Refluxo do conteúdo duodenal alcalino, das secreções pancreáticas e da bile para dentro do estômago Manifestações clínicas: Quando há destruição acentuada das células parietais em pacientes com gastrite autoimune: Hipocloridria Acloridria Hipergastrinemia Complicações: Úlceras pépticas Carcinoma de estômago Tipos de gastrite: 1. Infecção por H. pylori A transmissão desse patógeno se dá por vômitos, saliva ou fezes, além da água contaminada. A gastrite causada por H. pylori é uma doença inflamatória crônica do antro e do corpo do estômago que pode causar atrofia e úlcera péptica do estômago, além do alto risco para adenocarcinoma gástrico e proliferação de tecidos linfoides associados à mucosa → linfoma. 2. Gastrite atrófica metaplásica → apresenta metaplasia Gastrite atrófica metaplásica multifocal → H. pylori, fatores ambientais, dieta específica − Etiologia desconhecida − Acomete o antro e as áreas adjacentes do estômago − Associada a redução da secreção de HCl, acloridria e anemia perniciosa Gastrite atrófica metaplásica autoimune → predominante no corpo do estômago − Forma difusa da inflamação gástrica limitada ao corpo e ao fundo do estômago, com pouco ou nenhum acometimento do antro − Causa: autoanticorpos dirigidos contra os componentes das células parietais e o fator intrínseco − Supressão da produção de ácido pela atrofia das glândulas e da mucosa do estômago − Casos graves → bloqueio da produção de fator intrínseco, o que gera uma deficiência de vitamina B12 → anemia perniciosa − Associado a distúrbios autoimunes (tireoidite de Hashimoto, doença de Addison e tireoidopatia de Graves) Gastropatia química − Lesão crônica por refluxo do conteúdo duodenal alcalino, das secreções pancreáticas e da bile para o interior do estômago − Comum em pacientes que passaram por cirurgias de gastroduodenostomia ou gastrojejunostomia − Pode ocorrer uma forma mais branda em pacientes com úlceras gástricas, doença da vesícula biliar ou distúrbios da motilidade do estômago DIAGNÓSTICO: Observações anatomoclínicas associado aos dados clínicos de doença gastrointestinal aguda Endoscopia TRATAMENTO: Fármacos que reduzem a produção de ácido gástrico Antiácidos Antibióticos para infecção por H. pylori Tratamento para interromper hemorragia REFERÊNCIAS: NORRIS, T. Porth: Fisiopatologia. 10° edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. KUMAR, V.; ABBAS, A.; ASTER, J. Robbins: Patologia Básica. 9° edição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. FILHO, G. Bogliolo Patologia. 9° edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. INFECÇÃO POR H. PYLORI PATOGENIA: A infecção por H. pylori pode causar doença acidopéptica por múltiplos mecanismos, inclusive alteração direta da transdução de sinais em células mucosas e imunes → aumento da secreção de ácido e diminuição das defesas da mucosa Helicobacter pylori: Bastonete gram-negativo diminuto, espiralado ou curvo → protobactéria Flagelos → permitem que ela se movimente pela mucosa gástrica Colonizam as células epiteliais secretoras de muco do estômago Secretam urease →produção de amônia → tamponamento da acidez do seu ambiente. Isso explica porque elas são capazes de viver no estômago Produzem enzimas e toxinas que interferem na proteção da mucosa gástrica contra o ácido → inflamação intensa e desencadear reação imune − Aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias (IL-6, IL-8) − Recrutamento e ativação de neutrófilos Algumas proteínas da H. pylori são imunogênicas e desencadeiam uma reação imune intensa na mucosa Pode causar gastrite crônica → encontram-se linfócitos B e T − Linfócitos T = atenuação da resposta inflamatória contínua causada pelas citocinas. Isso permite com que o H. pylori possa colonizar o estômago por longos períodos − A ativação das células B pelas células T pode estar envolvida na patogênese dos linfomas gástricos DIAGNÓSTICO: Teste respiratório da ureia marcada com carbono radioativo Testes sorológicos (IgA e IgG) Teste do antígeno fecal Biopsia endoscópica para determinar se há urease TRATAMENTO: 2 ou 3 antibióticos + um IBP ou bismuto − Necessário para atingir taxas adequadas de erradicação e reduzir o número de falhas decorrentes de resistência ao antibiótico − Os IBPs possuem propriedades antimicrobianos diretas contra H. pylori e aumentam o pH intragástrico → suprimem a proliferação da bactéria e acentuam a eficácia do antibiótico Primeira linha: IBP (omeprazol ou lansoprazol) + amoxicilina + claritromicina − Tratamento de 7 a 10 dias ou de 10 a 14 dias → taxas elevadas de erradicação Segundalinha: IBP, bismuto, tetraciclina e metronidazol ou tinidazol − Tratamento de 14 dias − Mais complicado, porém mais efetivo COMPLICAÇÕES: Gastrite crônica Úlceras gastroduodenais Linfomas gástricos Adenocarcinoma RELAÇÃO COM NEOPLASIAS ESTOMACAIS: Existem diferentes cepas com diferentes fatores de virulência: cytotoxin-associated gene A (CagA) vacuolating cytotoxin A (VacA), Essas cepas podem influenciar no risco de desenvolvimento de ulcera péptica e de adenocarcinoma gástrico. O desenvolvimento do câncer pode iniciar com uma gastrite superficial, evoluir para inflamação crônica, gastrite atrófica, metaplasia intestinal, displasia e carcinoma → cascata de correia Cag PAI (cagA-positiva) → produção de anticorpos anti-proteínas cagA. A infecção por essa cepa pode gerar resposta inflamatória mais exacerbada → aumento da chance de desenvolver úlcera, gastrite atrófica ou neoplasia estomacal. − Por conta da resposta inflamatória mais intensa, pode se ter maiores danos ao DNA das células epiteliais Resumindo: Há caminhos distintos em desenvolver o câncer gástrico a partir da infecção por H. pylori, seja por via indireta, em que as células epiteliais gástricas inflamam ou por via direta, onde ocorre ação de agentes bacterianos como os procedentes da cag PAI. REFERÊNCIAS: NORRIS, T. Porth: Fisiopatologia. 10° edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021. HAMMER, G; MCPHEE, S. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina clínica. 7° edição. Porto Alegre: AMGH, 2016. GERMANA DA SILVA, L.; MANOEL DELLA COLETTA, A.; DE SOUZA MENDES, C. F. CANCER GASTRICO CORRELACIONADO AO H. PYLORI. Ensaios USF, [S. l.], v. 5, n. 2, 2022. DOI: 10.24933/eusf. v5i2.218. Disponível em: https://ensaios.usf.emnuvens.com.br/ensaios/ar ticle/view/218. Acesso em: 9 ago. 2022.
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