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Maria Luiza Sena – Med XIV FASA MORFOFISIOLOGIA DO ESTÔMAGO O estômago é um reservatório que tem a função de receber o conteúdo que entra no sistema digestório, além de servir como uma câmara de mistura e reservatório de retenção. Está localizado na parte superior do abdome, à frente do pâncreas, dos vasos esplênicos e do rim esquerdo. O estômago liga o esôfago ao duodeno (primeira parte do intestino delgado). O estômago tem 4 regiões principais: cárdia (circunda a abertura do esôfago ao estômago), fundo gástrico (porção arredondada superior e à esquerda da cárdia) e a parte pilórica (antro pilórico, canal pilórico e piloro). Enquanto permanece no estômago, o alimento é agitado e misturado com ácido clorídrico (mata bactérias e desnatura proteínas) e pepsina (começa a digestão de proteínas) antes de ser liberado dentro do intestino delgado. Em condições normais, a superfície mucosa do estômago forma uma barreira que o protege do ácido clorídrico e da pepsina encontrados nas secreções gástricas. Células do estômago e atividades digestórias: ❖ Células mucosas da superfície e células mucosas do colo -> secretam muco, formando uma barreira protetora que impede a digestão da parede do estômago. Absorção. ❖ Células parietais -> secretam fator intrínseco (absorção de vitamina B12) e ácido clorídrico. ❖ Células principais gástricas -> secretam pepsinogênio (pepsina cliva as proteínas em peptídeos) e lipase gástrica (quebra triglicerídeos em ácidos graxos e monoglicerídeos). ❖ Células secretoras de gastrina -> estimulam células parietais a secretar HCl e as principais gástricas a secretar pepsinogênio. Contrai o EEI, aumenta a motilidade do estômago e relaxa o músculo esfíncter do piloro. ❖ Túnica muscular -> agitam e quebram fisicamente os alimentos e misturam-nos com o suco gástrico, formando o quimo. Força o quimo através do óstio pilórico. ❖ Óstio pilórico -> regula passagem do quimo do estômago para duodeno. Impede o refluxo do quimo do duodeno para o estômago. DIGESTÃO MECÂNICA E QUÍMICA Depois que o alimento entra no estômago, passam ondas peristálticas por ele a casa 15-25 segundos, sendo que a maior parte dessas ondas começa no corpo gástrico e se intensifica à medida que alcança o antro pilórico. Cada onda peristáltica move o conteúdo gástrico para baixo e para dentro do antro pilórico -> propulsão. O óstio pilórico fica quase que completamente fechado, e como as partículas de alimento no estômago são grandes, elas são forçadas para trás para o corpo gástrico -> retropulsão. Em seguida, ocorre outra rodada de propulsão. Se as partículas de alimento continuam grandes, para passar pelo óstio, a retropulsão ocorre novamente e as partículas são comprimidas de volta para o corpo gástrico. Em seguida, ocorre mais uma propulsão e o processo continua acontecendo. ❖ O resultado líquido destes movimentos é que o conteúdo gástrico é misturado ao suco gástrico, por fim sendo reduzido ao quimo. Quando as partículas do quimo são suficientemente pequenas, elas passam pelo óstio pilórico pelo fenômeno chamado de esvaziamento gástrico (processo lento). Os alimentos podem ficar no fundo gástrico por aproximadamente 1h sem serem misturados ao suco gástrico -> nesse tempo, a digestão pela amilase salivar continua. Logo, a ação de agitação mistura o quimo com o suco gástrico (ácido), inativando a amilase a ativando a lipase lingual, a qual digere triglicerídeos. Apesar de as células parietais secretarem íons H+ e Cl- separadamente do lúmen do estômago, o efeito líquido é a secreção de HCl. A secreção de HCl pelas células parietais pode ser estimulada por várias fontes: ACh, gastrina e histamina, sendo que ACh e gastrina estimulam as células parietais a secretar mais HCl quando há histamina. APG 02 - GASTRITES CRÔNICAS E AGUDAS Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Histamina atua sinergicamente, melhorando os efeitos da ACh e da gastrina. Os receptores das 3 substâncias (ACh, gastrina e histamina) estão presentes na membrana plasmática das células parietais -> os de histamina são chamados de receptores H2. ❖ Os receptores H2 medeiam respostas diferentes do que os H1, envolvidos nas repostas alérgicas. O líquido ácido do estômago mata microrganismos. A digestão enzimática das proteínas começa no estômago, e a única enzima que faz isso é a pepsina, a qual é mais efetiva no ambiente ácido do estômago e torna-se inativa em um pH mais alto. A lipase gástrica cliva os triglicerídeos das moléculas de gordura em ácidos graxos e monoglicerídeos -> essa enzima tem papel limitado no adulto. ! Poucos nutrientes são absorvidos no estômago, pois suas células epiteliais são impermeáveis à maior parte destes -> absorvem um pouco de água, íons e ácidos graxos de cadeia curta, bem com alguns fármacos (AAS) e álcool. Dentro de 2 a 4 h após a ingestão de uma refeição, o estômago já esvaziou seu conteúdo para o duodeno. Os alimentos ricos em carboidratos permanecem menos tempo no estômago; alimentos ricos em proteína permanecem um pouco mais. ❖ O esvaziamento é mais lento após uma refeição rica em gordura contendo grandes quantidades de triglicerídeo. MECANISMOS DE AGRESSÃO E PROTEÇÃO DA MUCOSA GÁSTRICA Em geral, o revestimento do estômago é impermeável ao ácido que ele secreta, e esta peculiaridade possibilita que o órgão contenha ácido e pepsina, sem ter suas paredes digeridas. Alguns fatores contribuem para a proteção da mucosa gástrica, inclusive cobertura de células epiteliais superficiais excepcionalmente justapostas umas às outras, impermeável. Além disso, há muco espesso e tenaz secretado pelas células, formando uma cobertura protetora para a parede interna do estômago e que também contém bicarbonato (pH neutro) -> isso que forma a barreira mucosa gástrica. Células do epitélio gástrico são conectadas por junções estreitas que impedem a penetração do ácido e estão cobertas por uma camada lipídica hidrofóbica impermeável, que não viabiliza a difusão das moléculas hidrossolúveis ionizadas. AAS consegue atravessar a camada lipídica e causar danos às células superficiais, que podem resultar em erosões agudas. O álcool etílico também rompe a barreira mucosa. ❖ Quando álcool etílico e AAS são ingeridos simultaneamente, a permeabilidade da barreira mucosa é significativamente aumentada e ocorre destruição das células. Ácidos biliares também atacam os componentes lipídicos da barreira mucosa e podem causar irritação quando há refluxo do conteúdo duodenal para o estômago. Normalmente, a secreção de HCl pelas células parietais do estômago está associada à secreção de íons de bicarbonato. Para cada H+ secretado, uma molécula de HCO3- é produzida e, se a produção de bicarbonato for igual à formação de íons H+, não há lesão da mucosa. ❖ AAS e AINE reduzem a secreção de HCO3- por inibição da COX- 1 gástrica -> enzima de ácido graxo que sintetiza as prostaglandinas mediadoras da secreção de bicarbonato. Existem 2 tipos de muco que protegem a mucosa gástrica: ❖ Muco insolúvel em água -> forma um gel estável fino que adere à superfície da mucosa gástrica e confere proteção contra ações proteolíticas da pepsina. ❖ Muco hidrossolúvel -> é desprendido da superfície mucosa e mistura-se com o conteúdo luminal; tem composição viscosa com função lubrificante, impedindo lesão mecânica da superfície mucosa. As prostaglandinas (mensageiros químicos originados dos lipídios da membrana celular) desempenham papel importante como proteção da mucosa gástrica contra lesão. ❖ As prostaglandinas exercem seu efeito por aumento da irrigação sanguínea da mucosa, redução da secreção ácida, aumento da secreção de íons bicarbonato e intensificação da produção de muco. GASTRITES AGUDAS E CRÔNICAS Gastrite refere-se à inflamação da mucosa gástricae existem várias causas de gastrite. EPIDEMIOLOGIA A predominância da gastrite está associada à colonização pela H. pylori, que chega a infectar cerca de metade da população mundial. A prevalência da infecção por H. pylori aumenta com a idade e é praticamente igual entre homens e mulheres. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Há uma elevada prevalência de comprometimento em países em desenvolvimento, comparada a uma diminuição dela em países desenvolvidos. Estima-se que, no Brasil, mais de 2 milhões de pessoas sejam obrigadas a conviver com a gastrite e seus incômodos. Alguns estudos sugeriram que, nos países industrializados, a transmissão desse patógeno ocorra principalmente de pessoa a pessoa por vômitos, saliva ou fezes, enquanto as outras vias de transmissão (como a água) podem ser importantes nos países em desenvolvimento. Nos países industrializados, o índice de infecção por H. pylori diminuiu expressivamente ao longo das últimas décadas em razão dos avanços na área de saneamento. GASTRITE AGUDA ETIOLOGIA De modo geral, a gastrite aguda pode ser causada por uma bactéria, a H. pylori, a qual adentra no organismo por meio da água ou de alimentos contaminados e se aloja na mucosa estomacal -> irrita. A gastrite aguda também pode ser causada por: ❖ Consumo de alimentos e substâncias que são naturalmente irritantes ao organismo. ❖ Álcool em quantidades excessivas. ❖ Alguns medicamentos mais agressivos ao estômago (ex.: anti- inflamatórios) -> podem interferir na citoproteção normalmente fornecida por prostaglandinas ou reduzir a secreção de bicarbonato. ❖ Tabaco. Essa forma de gastrite está associada mais comumente aos compostos irritativos locais, incluindo AAS e outros AINE, álcool ou toxinas bacterianas administração oral de corticoides também pode ser complicada por gastrite hemorrágica aguda. Qualquer doença/traumatismo grave associado a estresse fisiológico grave, que requeira tratamento clínico/cirúrgico substancial, torna a mucosa gástrica mais suscetível à gastrite hemorrágica aguda. Uremia, tratamento com quimioterápicos e radioterapia do estômago também causam gastrite aguda. FISIOPATOLOGIA A luz gástrica é fortemente ácida, com pH próximo de 1. Esse ambiente hostil contribui para a digestão, mas também tem o potencial de danificar a mucosa, apesar de múltiplos mecanismos terem evoluído afim de protegerem a mucosa. A mucina secretada pelas células da parte interna do estômago forma uma camada fina de muco que impede que as partículas de alimentos toquem diretamente o epitélio -> a camada de muco também promove a formação de uma camada “impermeável” de líquido sobre o epitélio que protege a mucosa e tem pH neutro como resultado da secreção de íon bicarbonato. Além disso, tem-se o rico suprimento vascular para a mucosa gástrica, o qual fornece O2, bicarbonato e nutrientes, enquanto “lava” o ácido que difundiu de volta em direção à lâmina própria. A gastrite aguda ocorre quando há a ruptura de qualquer um desses mecanismos de proteção. Em agressões agudas, macro e microscopicamente encontram-se desde hiperemia e edema até necrose com erosões e úlceras múltiplas, às vezes atingindo grande parte da mucosa gástrica. ❖ Erosões comprometem somente a mucosa e sofrem regeneração rápida; úlceras são lesões mais extensas e profundas. Erosões e úlceras causam sangramento de intensidade variada, às vezes fatal. Com a retirada do agente agressor, a mucosa sofre regeneração. GASTRITE AGUDA POR H. PYLORI É um microrganismo adquirido por via oral, o qual penetra a camada de muco e se multiplica em contato íntimo com células epiteliais. Quando há esse contato, o epitélio responde com depleção de mucina, esfoliação celular e alterações regenerativas sinciciais. As bactérias liberam agentes quimiotáticos que penetram no epitélio lesado e induzem a migração de polimorfonucleares para a lâmina própria e epitélio. Produtos bacterianos ativam mastócitos e, através de sua degranulação, há liberação de outros ativadores inflamatórios que aumentam a permeabilidade vascular, expressão de moléculas de adesão de leucócitos nas células endoteliais e contribuem para maior migração de leucócitos. H. pylori estimula o epitélio gástrico a produzir IL-8, cuja produção é potencializada pelo fator de necrose tumoral e pela IL-1 liberados pelos macrófagos. Nos casos de infecções agudas, parece haver igual envolvimento do antro e corpo gástricos -> nessa fase, ocorre hipocloridria e ausência de secreção de ácido ascórbico para o suco gástrico. ❖ A secreção ácida retorna ao normal após semanas, e a secreção de ácido ascórbico para o suco gástrico persiste reduzida enquanto durar a gastrite. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A primoinfecção por H. pylori passa despercebida pela maioria dos pacientes, às vezes, após um período de incubação de 3-7 dias, alguns indivíduos desenvolvem: ❖ Dor ou mal estar epigástrico. ❖ Pirose. ❖ Náuseas. ❖ Vômitos. ❖ Flatulência. ❖ Sialorreia. ❖ Halitose. ❖ Cefaleia. ❖ Astenia. Esses sintomas costumam durar de 1-2 semanas. DIAGNÓSTICO Endoscopia -> as anormalidades macroscópicas são extremamente variáveis, desde pequeno enantema até erosões, úlceras ou mesmo, lesões pseudotumorais. ❖ Na maioria dos pacientes, as alterações concentram-se no antro, podendo as vezes comprometer o corpo gástrico. Diagnóstico laboratorial -> pode ser feito através de histologia, testes respiratórios com carbono 13 ou 14, cultura e teste de uréase. ❖ A sorologia também pode ser usada, embora possa ocorrer falso-negativos em pacientes recém-infectados. GASTRITE CRÔNICA É uma condição diferente da gastrite aguda e caracteriza-se pela inexistência de erosões visíveis e pela existência de alterações inflamatórias crônicas que, por fim, acarretam atrofia do epitélio glandular do estômago. Existem 3 tipos de gastrite crônica: ❖ Infecção por H. pylori. ❖ Gastrite atrófica metaplásica. ❖ Gastropatia química. A infecção crônica por esse microrganismo pode causar atrofia e úlcera péptica do estômago e está associada ao risco elevado de adenocarcinoma gástrico e proliferação de tecidos linfoides associados à mucosa que, em alguns casos, transforma-se em linfoma. ETIOLOGIA A causa mais comum de gastrite crônica é a infecção pelo bacilo H. pylori. A gastrite autoimune, causa mais comum de gastrite atrófica, representa menos de 10% dos casos de gastrite crônica, mas é a causa mais comum em pacientes sem infecção por H. pylori. O uso crônico de AINEs é a 3ª causa mais importante de gastrite em algumas populações. As causas menos comuns incluem lesões por radiação e refluxo biliar crônico. Além disso, tem-se como causas da gastrite crônica: ❖ Dieta. ❖ Fatores ambientais. ❖ Irritação química. ❖ Glúten. ❖ Doença de Crohn. ❖ Sarcoidose. ❖ Corpo estranho. ❖ Sensibilidade alimentar e outras alergias. ❖ Bactérias (não H. pylori), vírus, parasitas e fungos. GASTRITE CRÔNICA POR H. PYLORI H. pylori é um bastonete gram-negativo diminuto, espiralado ou curvo (protobactéria), que pode colonizar as células epiteliais secretoras de muco do estômago. H. pylori tem vários flagelos que lhe possibilitam movimentar-se na camada mucosa do estômago; também usa urease, que contribui para que produza amônia suficiente para tamponar a acidez do seu ambiente imediato -> é por conta dessas particularidades que esse microrganismo consegue sobreviver no ambiente ácido do estômago. H. pylori produz enzimas e toxinas com capacidade de interferir na proteção local da mucosa gástrica contra a ação do ácido, causar inflamação intensa e desencadear uma reação imune -> há aumento da produção de IL-6, IL-8, que ajudam recrutar e ativar neutrófilos. Várias proteínas do H. pylorisão imunogênicas e desencadeiam uma reação imune intensa na mucosa. Linfócitos T e B podem ser encontrados na gastrite crônica causada por esse microrganismo. ❖ Linfócitos T -> podem ser responsáveis pela atenuação da resposta inflamatória contínua causada pelas citocinas, possibilitando que o H. pylori mantenha sua colonização no estômago por períodos longos. ❖ Ativação das células B pelas células T pode estar envolvida na patogênese dos linfomas gástricos. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA DIAGNÓSTICO Os métodos usados para confirmar a existência de infecção por H. pylori são: ❖ Teste respiratório da ureia marcada com carbono radioativo, que utiliza um isótopo radioativo do carbono. ❖ Testes sorológicos. ❖ Teste do antígeno fecal. ❖ Biópsia endoscópica para determinar se há urease. ! Os títulos sorológicos para anticorpos contra H. pylori isolam especificamente as imunoglobulinas G e A. GASTRITE ATRÓFICA CRÔNICA Metaplasia é uma característica histológica crucial nas pessoas com gastrite atrófica. Gastrite atrófica autoimune -> consiste em forma difusa de inflamação gástrica limitada ao corpo e fundo do estômago. É causada por autoanticorpos dirigidos contra os componentes das células parietais das glândulas gástricas e o fator intrínseco. A atrofia das glândulas e da mucosa do estômago resulta na supressão da produção de ácido. ❖ Casos mais graves -> produção de fator intrínseco é bloqueada, resultando em deficiência de B12 e anemia perniciosa. Gastrite atrófica multifatorial -> distúrbio de etiologia desconhecida que acomete o antro e as áreas adjacentes do estômago. Está associada à redução da secreção de HCl, porém acloridria e anemia perniciosa não são incomuns. ! Existe uma relação entre gastrite crônica e o desenvolvimento de úlceras pépticas e carcinoma de estômago. O risco de câncer gástrico a longo prazo em pacientes com gastrite autoimune é mínimo. COMPLICAÇÕES DA GASTRITE CRÔNICA DOENÇA ULCEROSA PÉPTICA (DUP) Frequentemente está associada à infecção por H. pylori ou uso de AINEs. O desequilíbrio entre as defesas da mucosa e as forças danosas que causam gastrite crônica também são responsáveis pela DUP. DUP pode ocorrer em qualquer parte do TGI exposto a sucos gástricos ácidos, mas é mais comum no antro gástrico e na primeira porção do duodeno. A lesão péptica também pode ocorrer no esôfago como resultado da DRGE ou secreção ácida pela mucosa gástrica ectópica. ❖ A acidez gástrica é fundamental para a patogenia da DUP. A hiperacidez pode ser causada pela H. pylori, hiperplasia das células parietais e respostas secretoras excessivas. A inibição ineficiente de mecanismos estimuladores, como a liberação de gastrina também pode contribuir. ATROFIA MUCOSA E METAPLASIA INTESTINAL Gastrite crônica de longa duração pode associar-se com metaplasia intestinal, reconhecida pela presença de células caliciformes -> isso está fortemente associado ao aumento do risco de adenocarcinoma gástrico. A acloridria (incapacidade de produzir ácido gástrico) da atrofia da mucosa gástrica, que está comumente associada à metaplasia intestinal, permite o crescimento excessivo de bactérias que produzem nitrosaminas cancerígenas. DISPLASIA Gastrite crônica expõe o epitélio ao dano causado por radicais livres relacionados com a inflamação e os estímulos proliferativos. Ao longo do tempo, isso pode levar ao acúmulo de alterações genéticas que resultam em carcinoma. As lesões pré-invasivas in situ podem ser histopatologicamente reconhecidas como displasia, que é marcada por variações no tamanho epitelial, forma e orientação, juntamente com textura grosseira da cromatina, hipercromasia e aumento nuclear. Estas características se sobrepõem e às vezes são difíceis de distinguir das alterações regenerativas associadas às lesões. INFECÇÕES POR H. PYLORI E ASSOCIAÇÃO COM NEOPLASIA GÁSTRICA Uma consequência biológica da relação de longo prazo entre H. pylori e humanos é que a inflamação gástrica crônica confere um risco significativamente maior de desenvolver câncer gástrico. Os mecanismos carcinogênicos associados à H. pylori baseiam-se, por um lado, no aparecimento de inflamação crônica e, por outro lado, em fatores de virulência específicos da bactéria que podem danificar o DNA das células epiteliais gástricas e promover instabilidade genômica. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA A infecção por H. pylori induz gastrite não atrófica crônica que pode progredir para metaplasia intestinal, displasia e, finalmente, câncer gástrico. Assim, tanto a resposta inflamatória crônica quanto a presença de fatores de virulência bacterianos específicos, principalmente o gene A associado a citotoxina (CagA) e a citotoxina A vacuolizante (VacA), desempenham papel fundamental em causar danos ao DNA da célula hospedeira e na ativação de vias. ❖ A infecção por H. pylori resulta em uma capacidade reduzida das células infectadas de reparar danos ao DNA. Na resposta imune inata, os neutrófilos produzem espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio que possuem atividade antimicrobiana. Entretanto, a bactéria induz uma superprodução dessas, que por sua vez induz vários danos ao DNA das células da mucosa gástrica. Tal efeito pode aumentar a instabilidade genética e levar progressivamente ao acúmulo de mutações que, por sua vez, podem ativar oncogenes e desativar genes supressores de tumor, com o resultado final de aumentar o risco de desenvolver câncer gástrico ao longo do tempo. ❖ Essas alterações podem causar reparo impreciso do DNA, instabilidade genômica e aberrações cromossômicas, que podem, em última análise, promover a carcinogênese gástrica. PRINCÍPIOS DO TRATAMENTO PARA ERRADICAÇÃO DE H. PYLORI A erradicação ideal de H. pylori é comprovadamente difícil. Esquemas que utilizam 2 ou 3 antibióticos combinados a um IBP ou bismuto são necessários para atingir taxas adequadas de erradicação e reduzir o número de falhas decorrentes de resistência ao antibiótico. O esquema triplo de primeira linha, que consiste em um IBP (omeprazol ou lansoprazol), amoxicilina e claritromicina, ainda é o mais comumente prescrito. A duração do tratamento de 7-10 dias ou de 10-14 dias, e está associada a uma taxa de erradicação significativamente mais elevada, considerando-se 14 dias ou mais a duração ótima da terapia. ❖ O esquema de segunda linha (14 dias de IBP, bismuto, tetraciclina e metronidazol ou tinidazol) é mais complicado, embora mais efetivo. O H. pylori sofre mutações e rapidamente desenvolve cepas resistentes aos antibióticos. A combinação de 2 ou mais antimicrobianos aumenta os índices de cura e reduz o risco de desenvolver cepas resistentes. Os IBPs têm propriedades antimicrobianas diretas contra o H. pylori e, porque aumentam o pH intragástrico, estes fármacos suprimem a proliferação da bactéria e acentuam a eficácia do antibiótico. O bismuto tem efeito antibacteriano direto contra H. pylori.
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