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Waldomiro Vergueiro Seleção de materiais de informação: princípios e técnicas Terceira edição BRIQUET DE LEMOS LIVROS © Waldomiro Vergueiro, 2010 Todos os direitos reservados. De acordo com a lei nº 9 610, de 19/2/1998, nenhu ma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação de informação ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do autor ou da editora. Primeira edição: 1995 Segunda edição: 1997 Este livro obedece ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 Revisão: Maria Lucia Vilar de Lemos Capa: Formatos Design Gráfico Ltda. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro. sr, Brasil Vergueiro, Waldomiro Seleção de materiais de informação· princípios e técnicas/ Waldomiro Vergue1ro. -3. ed. -Brasília, OF · Briquet de Lemos/ Livros, 2010. ISBN 978-85-85637-41-5 l. Bibliotecas -Serviços de aquisição 2. Livros -Seleção 3. Livros- Política de.seleção 1. Título. 10-03633 Índices para catálogo sistemático: 1. Seleção: Material de informação: Biblioteconomia 025.21 2. Material de informação: Seleção: Biblioteconomia 025.21 2010 Briquet de Lemos / Livros SRTS - Quadra 701 - Bloco o - Loja 7 Edifício Centro Multiempresarial Brasília, OF 70340-000 Telefones (61) 3322 9806 / 3323 1725 ,vww.briquetdelemos.com.br editora@briquetdelemos.com.br coo 025.21 1 2 3 4 5 6 Sumário Introdução A seleção: um momento de decisão Considerações gerais que influenciam a seleção O assunto O usuário O documento O preço Questões complementares Em busca de critérios de seleção Critérios que abordam o conteúdo dos documentos Critérios que abordam a adequação ao usuário Critérios relativos a aspectos adicionais do documento Seleção de materiais especiais e multimeios Periódicos Histórias em quadrinhos Livros infanta-juvenis Filmes, vídeos e ovos Discos, fitas e cos Diapositivos Outros materiais Seleção de documentos eletrônicos CD-ROMS e DVD-ROMS Bases de dados on-line Documentos disponíveis na internet Organizando o processo de seleção Quem seleciona? 1 5 11 13 13 14 15 15 17 18 22 23 26 27 30 32 35 38 40 42 43 45 49 51 57 58 scanned by Regis Feitosa Mecanismos para identificação, avaliação e registro Formulários para indicação e seleção de títulos Instrumentos auxiliares da seleção 7 Política de seleção Componentes do documento de política de seleção 8 Doações 9 Reconsideração da decisão de seleção 10 Tópicos especiais de seleção Seleção e formação profissional Seleção e censura Seleção e cooperação bibliotecária Seleção e direitos autorais 11 O futuro da seleção A adequabilidade do livro O custo do livro O contexto social da informação A seleção de materiais na era da informação eletrônica 12 Considerações finais Bibliografia complementar Anexos Índice vi 63 63 65 68 71 75 77 79 80 83 88 93 99 100 101 102 103 109 110 116 119 e Introdução JÁ FAZ MAIS DE UMA DÉCADA que a· segunda edição deste livro foi publicada. E acho que pelo menos uns cinco anos desde que ela se esgotou. Do momento da publicação do livro àquele em que a tota lidade de seus exemplares foi adquirida por bibliotecários ou estu dantes de biblioteconomia do país inteiro, várias coisas se modifica ram na realidade das bibliotecas e unidades de informação do país. Consciente dessas mudanças, eu entendi, então, que uma republica ção ou reimpressão da obra não seria conveniente. Para continuar cumprindo seus objetivos, ela necessitaria ser atualizada. �nicialmente, tudo pareceu relativamente fácil. Afinal, em pouco mais de um ano de trabalho eu havia conseguido elaborar a segun da edição do livro, publicada apenas três anos depois da primeira. Desta vez, no entanto, as coisas não correram da mesma forma. Feliz ou infelizmente, envolvi-me em muitas atividades profissionais nos últimos dez anos, dando prosseguimento à minha carreira acadêmi ca, exercendo por duas vezes a chefia do Departamento de Bibliote conomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, engajando-me na orientação de traba lhos acadêmicos em nível de mestrado e doutorado, dedicando-me a outros projetos de livros (alguns deles tampouco finalizados até hoje), publicando livros em outras áreas, etc. Tudo isso não me per mitiu a concentração necessária para dedicar-me à atualização de meus vários livros na área de biblioteconomia, entre os quais este se inclui. A ideia de trabalhar na terceira edição de Seleção de materiais de informação jamais foi abandonada. Ela sempre representou um fan tasma a me espreitar, fantasma do qual eu sabia que não conseguiria fugir indefinidamente e que cedo ou tarde iria alcançar-me. Parece que este dia finalmente chegou. Para o bem ou para o mal. Lembro-me que, ao escrever a introdução da segunda edição deste livro eu historiei o início de minha atuação como autor na área de biblioteconomia, reportando-me à publicação de meu livro sobre de- 1 senvolvimento de coleções e às portas que ele me havia aberto na profissão (sua segunda edição é também outro fantasma em minha - vida ... ). Hoje, tantos anos passados, vejo que aquilo que mencionei sobre o livro [?esenvolvimento de coleções poderia ser aplicado a todos os outros que tive publicados posteriormente. Provavelmente, a forma positiva como meus livros sempre fo ram recebidos pelos colegas bibliotecários e por outros professores de biblioteconomia se deveu muito mais ao acaso do que a algum talento especial que eu possua. Seja quaJ tenha sido a razão, o fato é que, largamente adotados pelos diversos cursos do país, eles tive ram na profissão uma repercussão que eu jamais esperava alcançar. Confesso que até hoje fico impressionado com as manifestações a respeito de minhas obras, principalmente quando participo de even tos da área e faço contato com alunos ou bibliotecários mais jovens, que tiveram conhecimento de meus livros durante seu período aca dêmico. Isso me torna especialmente feliz, pois os autores escreve mos para sermos lidos, para que nossas reflexões possam atingir e modificar a vida de nossos leitores. Por isso, como falei antes, atua li2ar uma, obra bem-sucedida é uma tarefa particularmente espinho sa, pois se corre o risco de mexer exatamente naqueles pontos que mais agradaram aos leitores, de retirar do livro exatamente aquilo que foi a razão de seu sucesso. Mas são os riscos que fazem a vida emocionante. Por que fugir deles, então? Sem dúvida, muita coisa mudou no ambiente da informação des de a segunda edição deste livro. Em 1998, a internet ainda estava longe de se tornar a realidade corriqueira que hoje representa para bilhões de pessoas no mundo. A porcentagem de pessoas alijadas do mundo da informação eletrônica era então muito maior do que ago ra e, pelo menos em termos do grande público não-especializado, tinha-se uma ideia ainda relativamente vaga sobre o impacto que esses novos meios de comunicação eletrônica viriam a ter no futuro. Assim, as considexações que fiz quando comecei a refletir para elaborar a segunda edição do livro parecem excessivamente ingênu as quando vistas com os olhos de hoje: [ ... ) a primeira coisa que me veio à mente foi abordar as implicações desta nova realidade sobre as atividades de seleção. Afinal, o que esta verdadeira ebulição eletrônica representa para aqueles profissionais que 2 têm por obrigação selecionar materiais de informação para as bibliote cas? Estarão eles condenados ao desemprego? Serão eles dinossauros fadados à extinção (seremos todos nós)? As respostas para essas per guntas, começou a parecer-me, poderiam variar bastante, dependendo da forma como se busque encarar essas mudanças, sua abrangência e o ritmo com que elas acontecem ou irão acontecer no futuro. Achei queesta seria uma discussão proveitosa para ser realizada numa segunda edição. 1 Embora alguns desses questionamentos continuem váJidos, alguns outros poderiam ser acrescentados, levando a discussão a um ponto cego, em que não seria mais possível vislumbrar saídas. Em um mundo em que a totalidade dos documentos e informações parece estar ao alcance das mãos de qualquer interessado, a necessidade da própria atividade de seleção pode ser facilmente questionada. Se tudo posso ter, não necessito escolher. Se a tudo tenho acesso, não preciso me preocupar com qualquer tipo de incompletude. De uma certa forma, as possibilidades de felicidade infinita prometidas por Borges em seu conto A biblioteca de Babel,2 em que todo e qualquer livro estará acessível ao interessado, em todas as suas possibilida des, o original e sua cópia, a cópia da cópia e todas as outras cópias imagi náveis, cada uma com pequenas e mínimas diferenças entre elas, parece ter se tornado realidade na nova ordem mundial da informação ele trônica. Vã ilusão. Como sabemos, a abundância ou mesmo a totalidade de informações não é necessariamente sinônimo de acesso a elas. Ou de permanência. Como já foi mencionado por muitos autores - tantos que nem me dou ao trabalho de citá-los neste momento -, nem tudo o que hoje está acessível nas redes eletrônicas de informa ção continuará a se manter desta forma no futuro. Muita coisa será retirada do ar sem qualquer tipo de explicação ou mesmo sem moti vo algum. Muita coisa será substituída por outra mais recente ou atualizada, perdendo-se a versão anterior e, com ela, as relações so ciais ou pessoais que havia produzido. Isso terá consequências ain da não bem dimensionadas para diversas áreas, como a história, a sociologia, o jornalismo. Tudo isto me fez acreditar na necessidade de uma terceira edição de meu livro Seleção de materiais de informação. Assim, como procedi 3 da vez anterior, reli o que havia escrito antes, mantive o que entendi continuar com a mesma validade, reformulei as partes em que senti a necessidade de um enfoque diferente, acrescentei informações que me pareceraq1 necessárias, atualizei a bibliografia, ampliei conside rações que antes só havia esboçado. Acredito que acertei em algu mas decisões, assim como, provavelmente, equivoquei-me em ou tras (e espero sinceramente que o número das primeiras seja subs tancialmente maior que o das segundas ... ). Acredito, também, que deixei de seguir alternativas que talvez pudessem ser mais interes santes tanto para mim quanto para os futuros leitores do livro. Mas sobre isso não me debruço ou peço desculpas. $empre tive por nor ma que alguém jamais se deve arrepender daquilo que não fez. Não vejo motivo para mudar de opinião a esta altura da vida. Notas 1 VERGUEIRO, Waldomiro. Seleção de 111aleriais de informação. 2 .cd. Brasília: Briquct de Lemos/ Livros, 1997, p. 4. 2 BORGES, Jorge Luis. A biblioteca de Babel. ln:--. Ficções. São Paulo: Compa nhia das Letras, 2007. 4 1 A seleção: um momento de decisão O BIBLIOTECÁRIO TALVEZ NÃO o saiba, mas há um momento em que é chamado para tomar uma decisão. Ou seja: um momento de deci são. Não que deva sentir-se uma Shirley MacLaine ou uma Anne Bancroft, mas a sensação talvez seja um pouco parecida com a que elas experimentaram no filme Momento de decisão (The turning point) (se alguém ainda não o assistiu, assista-o). Há um momento em que o poder de decisão pode estar nas mãos do bibliotecário. É quando da seleção. De livros, periódicos, discos, filmes. De qualquer material passível de fazer parte do acervo. De qualquer item cuja incorporação ao conjunto existente contribua para que se aproxime mais dos objeti vos estabelecidos para aquele agrupamento de materiais informacio nais. Assim, ao menos potencialmente, o bibliotecário interfere na vida de inúmeras pessoas. Quando um simples ato profissional de fine o universo de informações a que um grupo de usuários terá acesso, pode-se dizer que o bibliotecário detém o poder. O poder. _ Mas, considerando o acima exposto, alguém poderá perguntar: o que, exatamente, significa isso? Entre outras coisas, significa que o bibliotecário, queira ou não, é um elemento que está permanente mente interferindo no processo social. Isto, sem dúvida, é uma es pécie de poder: O quanto este poder interfere de fato no processo social já é uma outra questão, que provavelmente exigirá uma res posta mais elaborada. O universo das probabilidades é infinito: imagine-se, por exemplo, que um grande pesquisador necessita de uma informação sobre de terminado componente químico, e que essa informação lhe permiti rá desenvolver uma vacina contra a AIDS. Vai à bibljoteca e descobre que ela não possui o título que traz essa informação. Preenche um for mulário sugerindo a aquisição do livro e espera sua chegada. O bi- 5 bliotecário, ao analisar o pedido, decide que aquele documento não está entre as prioridades da coleção e o rejeita. Infelizmente, o pes quisador não tem a possibilidade de utilizar outras fontes, pois al gum tempo depois da decisão falece em um acidente automobilístico. Com isso, anos de pesquisa são comprometidos e uma descoberta científica é atrasada. Tudo isso porque o bibliotecário não selecionou o material que permitiria ao pesquisador concluir sua pesquisa ... É claro que isso tudo é um exagero. Não é o caso de se deixar envolver pela paranoia. Esse exercício de imaginação busca apenas salientar que o efeito que uma decisão pode ter sobre a vida dos usuários é realmente inimaginável. Assim como se pergunta o que efetivamente é esse poder do qual o bibliotecário está imbuído, pode-se questionar se e quanto ele está preparado para assumir esse papel ou utilizar esse poder (presume se: em benefício da sociedade). Infelizmente, deve-se admitir que a resposta a essas perguntas, pelo menos na maioria dos casos, seria negativa. Os motivos? Muitos e variados, indo desde a falta de co nhecimentos básicos sobre o mercado editorial - o que, para dizer o mínimo, lhe possibilitaria tomar as decisões de maneira mais efi ciente, - até sua inconsciência sobre a importância da atividade de seleção. Por isso, o mais das vezes, esse poder acaba se transforman do em fumaça. Foge. Às vezes por culpa do profissional, mas nem sempre. Às vezes os demais personagens do sistema informacional (superiores hierárquicos, como diretores, secretários municipais e prefeitos; ou grupos de usuários, como os pesquisadores, os profes sores, etc.) assumem esse poder. E o bibliotecário fica a contempla� outros tomando decisões nas quais ele muito teria a contribuir. E travestido de ajudante de ordens, executor, escudeiro e outras deno minações tão ou mais degradantes quanto essas (pelo menos, sob este ponto de vista). Uma situação não muito agradável para um profissional com um perfil de nível superior, deve-se convir ... O que acima foi dito leva, preliminarmente, à necessidade de es tabelecer uma premissa básica, sem a qual toda a discussão que se pretende fazer a seguir perderá sua razão de ser: o bibliotecário tem algo a dizer no que se refere à seleção de materiais para as bibliot� cas (se alguém não concordar com isso, fará melhor em fechar o li vro nesse momento e sair para comer uma pizza ... ). Como funda mento a essa premissa, �evem-se salientar dois pontos: 6 1) o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o acervo sob sua responsabilidade, sabendo melhor do que ninguém em que aspec tos ele está fraco, em que aspectos ele está forte, em que aspectos ele atingiu um estágio ideal de desenvolvimento; 2) o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o usuário cujas necessidades informacionais tem por obrigação procurar atender, sabendo avaliar objetivamente suas demandas e diferenciando as que têm características mais duradouras, ligadas a necessidades reais, das que são ditadas por tendências esporádicas, influência dos meios de comunicação de massa ou demodismos. Estes deveriam ser argumentos suficientes para que os bibliote cários participassem mais ativamente no processo de seleção. Na realidade, devido aos senões apontados, isto acaba não acontecendo. Nem todos os profissionais conhecem suficientemente bem o acervo sob sua responsabilidade, de modo a poderem tomar decisões eficien tes a respeito de inclusões ou exclusões que poderiam ou deveriam ser feitas nesse acervo. O mesmo se pode afirmar em relação aos usuários: em número de vezes maior que o desejado, não passam de ilustres desconhecidos para os bibliotecários. As exceções vão sem pre dizer respeito àqueles usuários mais assíduos à biblioteca, que acabam se transformando, bem ou mal, no parâmetro para todos os outros. Nesses casos, a exceção é vista como se fosse a regra e as decisões acabam muitas vezes tendo-a por base. Desnecessário enume rar a variedade de distorções que podem originar-se de uma prática como essa. As bibliotecas já são um testemunho por demais gritante. Mas que não se entenda erradamente o que aqui se propõe: não se está defendendo a participação única e exclusiva do bibliotecário na seleção, alijando todos os usuários, como se eles não tivessem, por sua vez, nada a colaborar para o processo. Isto seria excesso de ra dicalismo, algo parecido com levantar a bandeira da 'biblioteca para os bibliotecários' que muitas vezes está por trás de um corporativismo malintencionado e/ou idiota. Absolutamente. Os usuários devem atuar no processo de seleção e em muitos casos será deles a decisão final. O bibliotecário deverá sempre participar com seu conhecimento da coleção, propondo uma direção coerente para o acervo e gq.rantindo, assim, que os objetivos para ela estabelecidos não se percam com o passar do tempo. Sua participação é essencial para evitar que a cole- 7 lutin Realce lutin Realce lutin Realce ção se transforme em um agrupamento mais ou menos desajeitado de documentos que nem sempre têm muita coisa em comum. Parece também evidente que ao bibliotecário deve caber a orga nização da seleção de maneira racional e eficiente, estipulando re gras, definindo critérios ou estabelecendo responsabilidades. Assim, mesmo quando não é ele quem diz o sim ou o não definitivo, sua presença faz-se sentir durante todo o processo. Talvez se possa afir mar que, no que diz respeito à seleção, uma das melhores contribui ções do bibliotecário esteja em sua capacidade de coordenar deman das e necessidades conflitantes, de maneira a garantir que o resulta do final seja o mais harmonioso possível. Neste sentido ele é, acima de tudo, um negociador. Talvez o exemplo mais característico desta função de negociador do bibliotecário seja a atividade de seleção desenvolvida em bibliote cas especializadas ou mesmo universitárias. No Brasil, ao contrário de outros países, o bibliotecário não é um especialista na área em que atua. Isto equivale a dizer que um profissional que trabalha em uma biblioteca especializada em biologia ou medicina, por exemplo, não tem conhecimento forma], especializado, dessas áreas. Por melhores intenções que possua, ele é, usando-se uma expressão popular, ape nas um leigo no assu,nto. E provavelmente jamais passará disso, em bora os anos de experiência possam vir a trazer-lhe, de modo mais ou menos eventual, um razoável conhecimento da literatura da área em que atua. Mesmo querendo ser o mais otimista possível, é difícil acreditar que possa ir muito além disso. Daí ser possível afirmar que a melhor contribuição que o bibliotecário poderá prestar ao usuário especializado será a de coordenar as diversas demandas ou necessi dades existentes, balanceando o acervo segw1do a importância rela tiva dos assuntos, priorizando a seleção em função dos projetos em· desenvolvimento na instituição ou dos cursos existentes, atuando em conjunto com wna comissão de seleção composta por especialis tas nos assuntos representados no acervo. Nos casos em que a decisão final de seleção não pertença ao bi bliotecário, será necessário que ele tenha um conhecimento bastante preciso dos procedimentos adotados nesse processo, de modo a poder defender as necessidades da coleção. Talvez até se devesse dizer: é exatamente quando não possui o poder da decisão final que o biblio tecário deve ser ainda mais zeloso em suas preocupações com o de- 8 senvolvimento da coleção. A experiência mostra que os usuários ten dem a enxergar de maneira bastante limitada o acervo, estabelecen do suas necessidades pessoais mais imediatas como o parâmetro de todas as decisões sobre a coleção. O bibliotecário tem condições de ir muito mais além. A objetividade no processo de seleção é uma meta sempre alme jada. Sem ela, existe o risco de surgirem acusações de favoritismo ou ineficácia da parte de cada usuário que não se sinta satisfeito com a escolha efetuada. Para fazer frente a essas acusações, a única alternativa é demonstrar que os materiais foram incluídos no acervo segundo parâmetros objetivos de qualidade ou de necessidade. Nem sempre isso será fácil de realizar. Por trás de tudo estará a questão de definir, entre os milhares ou milhões de materiais de in formação que são lançados no mercado, quais os melhores para uma biblioteca específica. Não simplesmente definir quais os melhores mas, isto sim, quais os melhores para um determinado conjunto de usuários, alvo de uma coleção já existente (ou não). Na raiz dessa questão estará embutida a necessidade de conhecer a fundo essa comunidade a cujas necessidades aquele conjunto de documentos deve atender. Na raiz dessa questão está, também, a compreensão de que a atividade de seleção não é realizada no vazio, mas efetuada dentro de um determinado contexto sociocultural, com tensões, ambivalências, disputas e negociações. Não há como fugir dessa realidade. Da mesma forma, é virtual mente impossível abolir a atividade de seleção das bibliotecas. Não existem nem existirão recursos financeiros suficientes para adquirir, físicos para acomodar, ou humanos para processar a quantidade de materiais que invariavelmente chegaria às bibliotecas, por mais espe cializadas que fossem. Mesmo que se admitisse a hipótese absurda de obter todos os materiais sem despender diretamente um único centavo, por meio de doações, as outras dificuldades continuariam presentes. Não há como fugir da seleção. O sonho da biblioteca de Alexandria cada vez mais se configura como apenas isso: um sonho. Bonito, sim. Maravilhoso, talvez. Mas, ainda assim, um sonho. Alguns bibliotecários argumentarão que essa história de organi zar o processo de seleção parece coisa de teórico: na prática, no dia a-dia, não se tem tempo para tanta elucubração, pois as decisões têm que ser tomadas rapidamente. Não há tempo para estabelecer 9 lutin Realce lutin Realce critérios, por mais positivos que sejam. Não há tempo para avaliar as diversas alternativas, por mais que isto seja necessário. Não há tempo para a discussão nem para formar comissões, por mais que isto seja aconselhável. Às vezes, tudo tem que ser decidido quase num estalar de dedos para não se perder a possibilidade de utilizar uma verba destinada à aquisição; não fazer isso significaria perder esse valor na dotação orçamentária do ano seguinte, e não dá para se correr esse risco. Outras vezes, não é possível interromper as demais atividades da bibJjoteca para verificar um a um os itens de uma doa ção, escolhendo apenas os que interessam de fato ao acervo. Tudo isso é e não é verdade. Dizer que não se dispõe de tempo para estabelecer critérios de seleção é uma falácia porque, na maio ria das vezes, a falta de critérios também obedece a um critério, que não interessa ao profissional elucidar. Afirmar que os prazos para utilização de certas verbas são irrevogáveis pode até ser uma boa justificativa, mas sua credibilidade é prejudicada quando utilizada durante anos e anos (afinal, não existe nada mais previsível que a imprevisibilidadedas verbas ... ). E dizer que a sistematização do pro cesso de seleção é preocupação de teóricos parece ser uma maneira de evitar tomar uma posição, preservando-se uma prática que pre tende justificar-se por si mesma. Não é verdade que as bibliotecas funcionem ou possam funcio nar sem a utilização de critérios de seleção. Bem ou mal, eles exis tem. Uma biblioteca que só armazena livros já tem um grande crité rio de seleção estabelecido, bastando apenas refiná-lo. O mesmo acon tece com a que armazena livros e periódicos, ou livros e discos, ou livros e filmes, e assim por diante. Pode-se afirmar que existe uma gradação de critérios de seleção, alguns mais amplos do que outros. Muitas bibliotecas limitam-se ao estabelecimento de grandes critéri os gerais, ligados ao tipo de publicação ou a grandes abrangências temáticas. Do mesmo modo, pode-se afirmar que há uma decisão ou um critério de seleção por trás de cada documento da biblioteca, como se cada um fosse o testemunho vivo da atividade de um pro fissional, de sua preocupação, ou descaso, com o usuário ou com seu papel de intermediador entre o universo do conhecimento e a comunidade. Como dito acima, a falta de critérios não deixa de ser um critério também ... A questão principal é deixá-lo em evidência. Não, absolutamente, negá-lo. 10 2 Considerações gerais que influenciam a seleção EM MUITOS CASOS, a própria área de atuação da biblioteca implica um critério de seleção. Basta fazer uma relação das várias denomi nações que indicam a especialização das instituições bibliotecárias: biblioteca de química, biblioteca de física, biblioteca de comunica ções e artes, biblioteca de arquitetura, etc. Tem-se, então, uma pri meira grande subdivisão, ou, melhor dizendo, um grande critério de seleção: o assunto. Outro tipo de especialização, muitas vezes presente na denomi nação que as bibliotecas adotam, refere-se à definição do usuário. Estabelecer uma biblioteca infantil implica a seleção de títulos ade quados a esse público. Mais uma vez, tem-se um primeiro grande critério de seleção: a clientela. Os exemplos poderiam continuar por páginas e páginas, mas, para os objetivos pretendidos, já são suficientes, ou seja, demonstrar que existe uma graduação de critérios de seleção, de grandes (ou amplos) a específicos. Isto, em princípio, não parece ser uma noção de muito difícil entendimento para os bibliotecários, principalmen te se lembrarmos dos sistemas de classificação decimal, os tão co nhecidos sistemas Dewey e cou, que trabalham com este conceito na divisão do conhecimento humano, partindo do geral para o especí fico. Outra comparação possível é com uma corrida de obstáculos. Imaginemos todos os documentos competindo para atingir um de terminado objetivo (sua inclusão no acervo) e tendo que ultrapassar certos obstáculos que existem no caminho (os critérios de seleção). Alguns serão bem-sucedidos, vencendo todos os obstáculos que lhes foram colocados. Outros tropeçarão e terão que ser excluídos da 11 lutin Realce lutin Realce competição. Como em uma corrida verdadeira, na medida em que as dificuldades vão ficando mais complexas e as exigências se tor nando mais rígidas, maior é o número de candidatos que não conse guem chegar ao final. Esta pode parecer uma maneira meio irreverente de descrever a atividade de seleção em bibliotecas. Mas, na prática, não foge muito disso. A questão principal está na colocação dos obstáculos/critérios de seleção corretos. Se forem fáceis de ultrapassar, é provável que seja grande o número dos que alcançarão o objetivo final, e talvez isto cause problemas no futuro com a acomodação ou mesmo ma nutenção dos vencedores. Se os critérios forem rígidos, poucos se rão bem-sucedidos, o que pode gerar dificuldades de disponibilida de dos materiais. Infelizmente, não há uma solução simplista. Como em uma verdadeira corrida, cada caso tem suas peculiaridades de percurso, de competidor, de público, etc. Não existem respostas fá ceis. Antes de se entrar propriamente na problemática da elaboração de critérios (que será tratada com detalhes no próximo capítulo), é necessário refletir um pouco sobre os fatores gerais que influenciam o processo de seleção. Nunca é demais salientar que, entre outras coisas, a forma de abordar esse processo será diretamente influencia da pela tipologia da biblioteca. Em bibliotecas especializadas, a pri meira questão a ser respondida estará ligada à definição temática do acervo, enquanto que em bibliotecas públicas ela se ligará à defini ção da comunidade, caracterizando-se os usuários reais e os poten ciais, ou, indo mais além, os usuários preferenciais. No caso das pri meiras, o processo de seleção começará com a definição dos grandes assuntos que deverão estar representados no acervo. Mas mesmo quando a caracterização do usuário é o ponto de partida, o processo de seleção não poderá deixar de inicialmente considerar os grandes grupos de assuntos. Essas duas considerações estão praticamente juntas. Essa breve discussão leva necessariamente a se questionar sobre a existência de procedimentos comuns à seleção de materiais, que estariam necessariamente presentes em qualquer tipo de instituição bibliotecária. Na realidade, esses procedimentos existem. Todas as bibliotecas iniciam o processo de seleção com considerações abran gentes, que são depois refinadas e adequadas a cada uma delas em 12 particular. Essas considerações vão se referir ao assunto, ao usuário, ao documento em si e a seu preço. A ordem em que essas considera ções são feitas poderá variar, e em muitos casos elas são colocadas simultaneamente. Mas estarão presentes, de modo indispensável, em todas as bibliotecas. Entenda-se, portanto, que a ordem em que são enfocadas neste livro obedece apenas a uma distinção metodo lógica e não de importância. O assunto Uma das primeiras considerações a serem feitas na seleção de mate riais em bibliotecas enfocará a problemática do assunto, a fim de verificar se os materiais passíveis de incorporação ao acervo (em princípio, todo o universo do conhecimento já registrado em algum tipo de suporte) estão ou não incluídos nos parâmetros gerais de assunto ou áreas de cobertura da coleção. É muito difícil encontrar bibliotecas que não façam alguma restrição quanto aos assuntos tra tados nos documentos que devem fazer parte do acervo). Em segui da, traçam-se as prioridades de coleta para esses assuntos. O estabe lecimento dessas prioridades, que poderia ser encarado como um refinamento do critério inicial, tornar-se-á necessário devido à im possibilidade material de selecionar da mesma maneira todos os assuntos de interesse. Da mesma forma, será necessário, em um momento posterior da atividade de seleção, definir os assuntos que sejam considerados afins à área de atuação da biblioteca, que terão uma representação mínima em seu acervo ou poderão estar dispo níveis em outros lugares, a serem previstos, como uma alternativa de acesso. O usuário As considerações quanto às características do usuário real ou poten cial estão diretamente ligadas à definição do benefício que cada material incorporado ao acervo poderá trazer à comunidade a que a biblioteca almeja servir. Em geral, essas considerações iniciais esta rão ligadas a uma primeira avaliação da adequação ao usuário do material a ser selecionado. Pouco adiantará possuir materiais de altíssima qualidade que jamais despertarão qualquer interesse e fi- 13 lutin Realce lutin Realce carão mofando nas estan!es, gerando despesas com manutenção, lim peza, acomodação, etc. E sempre bom lembrar a anedota sobre uma biblioteca pública do interior que possuía, lindamente encadernada em couro de primeira qualidade, a coleção completa das obras de Goethe ... em alemão gótico. Enfim, a resposta correta a essa questão envolve um conhecimento bastante aprofundado dos usuários, suas características e preferên cias. Esse conhecimento nãodeve ser confundido com a familiarida de superficial que se adquire em relação a usuários mais assíduos, cujos interesses o bibliotecário acaba conhecendo mais detalhada mente que os daqueles usuários não tão assíduos (ou tão comunica tivos). Deve-se tomar cuidado para não confundir os interesses de alguns com os interesses de todos, procurando-se definir mecanis mos que permitam não só a avaliação global dos usuários mas que impeçam, também, o aparecimento de favoritismos. Neste caso, evi dencia-se a ligação da seleção com outra atividade do desenvolvi mento de coleções, o estudo de comunidade. O documento Cada documento desempenhará um papel no conjunto do acervo. Neste sentido, a terceira pergunta a ser feita nos procedimentos ini ciais de qualquer processo de seleção buscará uma definição precisa da necessidade de cada documento. Em outras palavras, o bibliote cário deverá responder (a si mesmo) se a coleção dispõe de material sµficiente sobre o assunto em causa, ou tipo de documento em par ticular, e, em caso afirmativo, se necessita de mais. Isto implicará uma avaliação anterior do acervo, por mais elementar que ela seja, sem a qual a resposta será um mero palpite. Fica claro que é preciso desenvolver mecanismos, ainda que mínimos ou rudimentares, que permitam ao responsável pela biblioteca um conhecimento objetivo do acervo no que concerne tanto à distribuição dos assuntos como à sua representatividade em relação com o número de usuários, de cursos ou disciplinas, de linhas de pesquisa, etc. Também neste caso torna-se evidente a ligação da seleção com outra atividade do de senvolvimento de coleções: a avaliação de coleções. 14 O preço A quarta consideração dirá respeito ao custo do material: o bibliote cário terá que definir se a biblioteca tem condições de arcar com o custo de cada documento. Sabendo-se que os recursos disponíveis para aquisição não são inesgotáveis (na realidade, raramente são suficientes) torna-se imprescindível definir quanto a biblioteca pode comprometer-se em relação ao preço do material. A experiência - mostra que esta exigência, pelo menos no Brasil, acaba deixando fora da coleção grande parte dos documentos. Mesmo, porém, em países com mais recursos financeiros para as bibliotecas, as duas coisas es tão ficando cada vez mais pr,óximas devido ao aumento do preço dos materiais bibliográficos. E conveniente desenvolver algum tipo de sistema de avaliação que permita comparar o custo do documento com o provável benefício que ele trará ao conjunto do acervo e aos usuários, interligando-se, então, todas as considerações anteriormen te feitas. Mais especificamente, fica clara aqui a relação da seleção com a atividade de aquisição de materiais. Questões complementares Outras duas considerações podem ser feitas no sentido de dimensio nar corretamente as anteriores. A primeira diz respeito à probabili.::--, dade de que o material selecionado possa vir a ser alvo potencial de \ vandalismo, furtos ou rnublações, bem como gerar objeções por parte dos usuários devido à sua incorporação ao acervo. Não é uma ques tão que leve necessariamente à recusa de seleção mas representa, 1 sem dúvida, fatos a serem pesados na decisão. Um material muito valioso acarretará custos adicionais, com respeito à sua segurança, que talvez a biblioteca tenha dificuldades para cobrir; custos que, na realidade, são superiores ao preço da compra. Materiais sobre as suntos polêmicos também podem trazer mais problemas do que J benefícios à biblioteca, devendo ter sua necessidade para o acervo cuidadosamente estudada, visando urna decisão mais objetiva a seu respeito. A última consideração concerne a urna primeira estimativa de qualidade do material selecionado. Nem sempre o bibliotecário tem informações suficientes que lhe permitam determinar ou ao menos 15 fazer uma estimativa da qualidade dos documentos. Para tentar fa: zer essa avaliação, deverá utilizar todos os dados disponíveis, seja no próprio material (orelha do livro, apresentação, índice, biblio grafia, etc.) e da opinião de especialistas. Todas essas considerações são feitas cotidianamente no processo de seleção. São realizadas, depois de um certo tempo, quase que automaticamente - pode-se até dizer inconscientemente, - na me dida em que são incorporadas à rotina de trabalho. O que não garan te que sejam infalíveis. É importante, aliás, salientar que infalibili dade é algo que jamais existirá na seleção; esta é sempre um trabalho de aproximação, buscando-se dados objetivos que permitam prever a importância futura do documento para o usuário e para a coleção. Um correto estabelecimento de critérios de seleção contribuirá para que essas previsões sejam realizadas da forma mais acurada possí vel, mantendo-se o aparecimento de erros em níveis aceitáveis. Mas isto já é assunto para outro capítulo. 16 3 Em busca de critérios de seleção A LITERATURA ESPECIALIZADA está repleta de critérios, muitas vezes repetitivos e mesmo contraditórios, destinados ao julgamento dos materiais a serem selecionados. De todo modo, eles visam guiar o bibliotecário no trabalho periódico de seleção, garantindo a coerên cia do acervo no transcorrer do tempo. Graças ao conjunto de _crité :_ rios de seleçffeo, comumente denominado política de seleção, é possí vel manter um direcionamento racional para a coleção à medida que os profissionais se incorporam ou se afastam da equipe de trabalho. A política de seleção procura garantir que todo material seja incor porado ao acervo segundo razões objetivas predeterminadas e não segundo idiossincrasias ou preferências pessoais. Igualmente, é ela que garante que as lacunas existentes no acervo não são fruto do descaso ou ineficiência do profissional responsável pela seleção, mas se coadunam com o processo de planejamento vigente na institui ção bibliotecária, sendo coerentes com os propósitos e objetivos es tabelecidos para sua atuação. Antes de· entrar propriamente nos critérios de seleção, é impor tante fazer urna advertência: a organização da atividade de seleção mediante o estabelecimento de critérios só é eficiente quando todos os envolvidos trabalham de modo racional, dispostos a discutir ob jetivamente a aplicação ou aplicabilidade desses critérios. Na medi da em que os envolvidos na problemática da seleção afastam-se do racional, mergulhando no terreno do passional ou do autoritarismo, os critérios de seleção tornam-se cada vez mais inócuos. Não existe critério de se)eção que possa anular ou dissuadir uma autoridade superior firmemente decidida a fazer valer a sua vontade ... ou um bibliotecário disposto a imprimir seus preconceitos pessoais ao acer vo sob sua responsabilidade. Neste sentido, os critérios consubstan- 17 ciados na política de seleção devem ser vistos como uma espécie de constituição: não existe nenhuma que consiga resistir a g�)Vernantes com disposição e força suficiente para desrespeitá-la. E claro que isto nunca foi razão para que as constituições não fossem elabora das; da mesma forma, a prepotência de autoridades superiores tam bém não é razão para que os critérios de seleção não sejam elabora dos. É nesses momentos que são ainda mais necessários, visando tornar evidente o exercício da prepotência. Antes de mais nada, é preciso esclarecer que os critérios que se rão relacionados a seguir são apenas uma sugestão. Cada profissio nal deverá procurar desenvolver os critérios mais apropriados para a coleção pela qual é responsável, que poderão ou não incluir os que forem aqui citados. Utilizando uma comparação não muito criativa, pode-se afirmar que desenvolver uma coleção é corno organizar um guarda-roupa pessoal: cada um tem critérios próprios para definir as vestimentas que dele farão parte e esses critérios variarão segun do características individuais, como altura, peso, etc. Os critérios sugeridos não são uma fórmula passível de generalização, mas ape nasalgumas das muitas possibilidades existentes. Assim devem ser encarados. A literatura especializada costuma apresentar uma grande varie dade de critérios. Às vezes a diferença entre alguns é mínima, ape nas uma questão de enfoque ou preferência terminológica. Neste · texto, os critérios foram organizados de modo a que pudessem ser mais bem assimilados didaticamente, mesmo com o risco de classi ficar um ou outro de forma inadequada. Assim, considerando-se os objetivos deste livro, optou-se por.agrupar os muitos critérios utili zados na seleção de materiais em bibliotecas, citados na literatura especializada, segundo o tipo de enfoque por eles adotados: Critérios que abordam o conteúdo dos documentos Autoridade. Busca definir a qualidade do material a partir da repu tação de seu autor, editora ou patrocinador. Baseia-se na premissa de que o fato de um autor ter produzido materiais de qualidade no passado é um indicador razoavelmente confiável de sua produção futura. Da mesma forma, algumas editoras costumam notabilizar-se pela qualidade dos materiais que editam, funcionando como um ín- 18 dice de confiabilidade do conteúdo dos documentos. Com a prática, o bibliotecário aprenderá a identificar as editoras de excelência nas áreas de interesse da biblioteca, geralmente as que contam com edi tores ou comissões editoriais de reconhecida competência, e fará a seleção desses materiais quase que de forma automática. Por exem plo, sabendo-se, que as editoras Facet Publishing, Libraries Unlirnited e Scarecrow Press são bastante conceituadas nas áreas de biblioteco nomia e ciência da informação, o fato de um livro ter sido publicado por alguma delas irá pesar favoravelmente na sua avaliação. O mes mo pode ser afirmado em relação a documentos patrocinados por instituições de destaque em sua área de atuação. Documentos pa trocinados por instituições como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) ou a Organização das Na ções Unidas para Educação, Ciência e Cultura (uNEsco) costumam ter bom nível, merecendo, em princípio, uma avaliação favorável. Cada biblioteca deverá identificar essas instituições ou editoras de prestígio, cujos nomes funcionam como aval dos materiais a que dão origem, e fazer com que essas informações estejam disponíveis aos responsáveis pela seleção dos materiais, constando do documento de política de seleção. É claro, no entanto, que não existem garantias suficientemente seguras em relação a este critério. O fato de uma editora ter publica do dezenas de obras de altíssima qualidade, gozando de uma sólida reputação no mercado, não quer dizer que todos os materiais que ela publicar terão o mesmo nível. Revistas especializadas costumam utilizar um sistema de rodízio com relação a·seus editores responsá veis, mudando-os periodicamente; isso, muitas vezes, pode impli car queda da qualidade dos artigos. -P Precisão. Visa evidenciar o quanto a informação veiculada pelo documento é exata, rigorosa, correta. Para analisar um documento sob este ponto de vista, o bibliotecário precisará muitas vezes da opinião de um especialista, pois nem sempre a imprecisão está tão evidente quanto se desejaria que estivesse. Lembro-me de uma obra enciclopédica sobre histórias em qua drinhos, aparentemente exata, que, à primeira vista, deixou-me bas tante impressionado; no entanto, wna leitura atenta evidenciou er ros primários. Fiquei assustado ao ler ali que um amigo desenhista 19 de histórias em quadrinhos, com quem estivera na semana anterior, havia morrido fazia mais de dois anos ... Imparcialidade. Procura verificar se todos os lados do assunto são apresentados de maneira justa, sem favoritismos, deixando cla ra, ou não, a existência de preconceitos. Deve-se ter em mente, no entanto, que esta imparcialidade poderá, ou não, ser pré-requisito necessário para inclusão na coleção. Muitas vezes, obras não-imparciais representam uma visão al ternativa de um determinado assunto, funcionando como uma es pécie de contraponto a obras já existentes no acervo. Outras vezes, obras aparentemente imparciais disseminam veladamente precon ceitos contra determinadas camadas da sociedade, como minorias étnicas, de gênero, orientação sexual, etc. Durante muito tempo, por exemplo, acreditou-se que os livros didáticos eram obras imparciais, pois se limitavam a funcionar como instrumentos para a transmis são de conhecimentos considerados específicos para fins educacio nais. Análises realizadas por pesquisadores conceituados, entre os quais se pode destacar Umberto Eco, mostraram que essa certeza não passava de uma grande falácia. A imparcialidade nem sempre é algo muito fácil de ser definido e, acima de tudo, pode ser encarada tanto de um ângulo negativo (disseminação de preconceitos sociais) como positivo (exteriorização de pontos de vista minoritários). Cada profissional definirá a me lhor maneira para, no contexto de seu campo de trabalho específico, abordar essa polêmica questão. Atualidade. Urna informação desatualizada perde muito de seu valor. Para bibliotecas onde a atualidade dos dados tem muita im portância, este critério é decisivo. É itnportante ter esse fato bem claro, pois afetará diretamente a atividade de seleção. A velocidade com que as informações se desatualizam varia con forme a área de conhecimento em que a biblioteca atua. Documen tos de algumas das chamadas ciências exatas, como a computação, se desatualizam rapidamente. Por isso, os bibliotecários das áreas de ciências exatas necessitam estar bastante atentos a este critério, visando minimamente acompanhar o ritmo com que novas tecnolo gias surgem e desaparecem. Nas ciências humanas, obras 'antigas' 20 costumam ser muito valorizadas pelos pesquisadores, por constituí rem uma contribuição já reconhecida e incorporada ao conhecimen to (daí, provavelmente, a importância maior que as ciências huma nas dão às obras monográficas). Convém, por exemplo, estar alerta para mudanças políticas e es truturais na sociedade moderna, que fazem com que mapas ou enci clopédias recentes logo percam sua atualidade. As mudanças ocor ridas ao longo da última década do século xx e na primeira década do século xx1 no Leste europeu, por exemplo, demonstram o adven to de modificações surpreendentes, que afetam o trabalho de todos que têm o fornecimento de informações fidedignas entre suas obri gações profissionais. No trabalho de seleção, os bibliotecários deverão manter-se aten tos a trabalhos que se apresentam como edições atualizadas ou re vistas de obras já publicadas, procurando avaliar de maneira objeti va quanto da informação contida nesses documentos é realmente informação nova e não a mesma anteriormente divulgada, apenas em uma diferente apresentação. Cobertura/Tratamento. Refere-se à forma como o assunto é tra tado. Na aplicação deste critério, o bibliotecário distinguirá: • se o texto entra em detalhes suficientes sobre o assunto ou se a abordagem é apenas superficial; • se todos os aspectos importantes foram cobertos ou alguns foram tratados ligeiramente ou deixados de fora. É importante salientar que também neste caso não existe resposta fácil. O fato de um documento não realizar a cobertura total de um assunto ou fazer um tratamento apenas superficial não significa que não possa vir a ser de interesse para determinado acervo. A especifi cidade da clientela e/ou coleção deverá ser levada em conta, pois este critério pode ser utilizado de uma forma por uma biblioteca e de forma totalmente diversa por outra. Muitas vezes, para correta aplicação deste critério, é importante contar com a colaboração de um especialista. 21 Critérios que abordam a adequação ao usuário Conveniência. Intimamente ligado ao critério de cobertura/tratamen to. Procura verificar se o trabalho é apresentado em um nível, de vocabulário e visual, que seja compreensível pelo usuário. Em geral, neste critério são levantados aspectos relativosà idade dos usuários, desenvolvimento intelectual, etc. Na aplicação deste critério, fica evidente quanto é necessária a interação do bibliotecário com seu público: para analisar correta mente o documento, será preciso que o profissional tenha conheci mento profundo do usuário cujas necessidades informacionais pro cura atender, conseguindo determinar de modo exato suas limita ções e potencialidades. Pouco adiantará colocar no acervo itens ina dequados para o tipo de utilização pretenruda ou que é efetuada pelo usuário. Por exemplo, se o objetivo de um texto para a bibliote ca for atender à realização de trabalho em grupos, ele deve ser ade quado para isso, tanto em termos físicos e de conteúdo . Idioma, Trata-se de definir se a língua do documento é acessível aos usuários da coleção. Em muitas bibliotecas esta análise é facilmente realizada por não existir tão grande diversidade de publicações em sua área de inte resse e nem grupos de usuários com necessidades linguísticas espe cíficas. Em algumas bibliotecas especializadas, no entanto, esta veri ficação da língua de publicação terá necessariamente que ser feita item por item, assunto por assunto. Relevância/Interesse. Busca definir se o documento é relevante para a experiência do usuário, sendo-lhe de alguma utilidade. Da mesma forma, tenta-se verificar se o texto tem condições de desper tar sua imaginação e curiosidade. Alem de, como nos dois critérios anteriores, implicar a necessi dade de um conhecimento mais aprofundado dos usuários, não se ria exagero dizer que' este critério exigirá do bibliotecário algum conhecimento das características dos textos literários e técnicos. Ou, melhor dizendo, um interesse pessoal pela leitura. 22 Estilo. Muitas vezes o estilo utilizado não é apropriado ao as sunto ou ao objetivo do texto. Este critério procura verificar este fato, bem como constatar se ele é adequado ao usuário-alvo. Ninguém, por exemplo, porá em dúvida a excelência do estilo de Machado de Assis, mas é bastante discutível a adequação de alguns de seus li vros, corno Dom Casmurro ou Memórias póstumas de Brás Cubas, a uma clientela infanta-juvenil. Critérios relativos a aspectos adicionais do documento Características físicas. Abrangem os aspectos materiais dos itens a serem selecionados. Na aplicação deste critério, o bibliotecário, em face do uso pre tendido para o material e as características dos usuários, verificará se os caracteres tipográficos foram bem escolhidos, têm boa legibili dade, tamanho apropriado, etc. Verificará se a encadernação é resis tente para o uso em biblioteca, fazendo, inclusive, uma estimativa de sua durabilidade e das possibilidades ou necessidade de futuros reparos. Analisará também a qualidade do papel, submetendo-o a escrutínio semelhante ao da encadernação. As características físicas são muito importantes para materiais com previsão de alta demanda ou dirigidos para públicos específi cos. Em certos países, existe uma florescente indústria editorial dirigida para a população de terceira idade, com livr?s iI:1'1pr�ss�s em formato grande e com letras aumentadas. No Brasil, a mdustna de livros infantis tem procurado utilizar material resistente e ade quado para crianças, podendo-se apontar a produção de livros in fantis em plástico, pano, etc. Aspectos especiais. Neste item analisam-se a inclusão e a quali dade de bibliografias, apêndices, notas, índices, etc. Enfim, todos os elementos que contribuem para melhor utilização do documento. Às vezes, mais que constatar a existência desses elementos, será ne cessário avaliar se valorizam a obra e não constituem apenas um fator totalmente supérfluo para suas finalidades. Contribuição potencial. Este critério leva em consideração a co leção já existente, na qual o documento a ser selecionado deverá ocu par um lugar específico. 23 Material algum será incorporado ao acervo por simples inércia, mas para torná-lo mais completo. Assim, é preciso que cada item seja analisado do ponto de vista de sua relação com os demais, veri ficando-se quanto contrabalança outros trabalhos, trazendo uma perspectiva diferente e enriquecedora ao acervo, ou se simplesmente se soma ao que existe, gerando redundância de informações. Esta verificação será importante para se ter uma estimativa de uso futuro. Custo. Presumindo-se que a consideração inicial sobre a possibi lidade de a biblioteca arcar com o custo do material tenha sido reali zada e seja positiva, este critério procurará identificar alternativas financeiramente mais compensadoras para a biblioteca. Verificará se há edições mais baratas (encadernações simples, miolo em papel inferior ou edições de bolso), tomando cuidado para não afetar al guns dos critérios anteriores. Também são analisados outros fatores que, indiretamente, acabam afetando o custo total da obra para a instituição. Por exemplo, os custos com processamento técnico, ar mazenamento, segurança, etc. É conveniente que o bibliotecário procure definir um sistema de avaliação capaz de lhe informar com razoável confiabilidade o quanto é mais barato adquirir um material e incorporá-lo ao acervo, ao in vés de solicitá-lo por empréstimo a outra biblioteca, quando neces sário. Cada vez mais, a acessibilidade aos documentos por meio do intercâmbio com outras instituições torna-se uma alternativa viável à sua disponibilidade física. Estes são apenas alguns dos critérios comumente utilizados para avaliação de documentos no processo de seleção. Existem vários outros (dois autores norte-americanos, Mary Carter e Wallace Bonk, em Building library collections, chegam a relacionar mais de 150). Des necessário citar todos os critérios já utilizados ou mesmo apenas imaginados; independentemente disso, cada profissional terá que se defrontar, em algum mornento, com a necessidade de estabelecer seus próprios critérios. Importante é salientar que os critérios suge ridos neste livro são apenas indicativos e nem sempre podem ser aplicados a todos os documentos; sua aplicação dependerá do mate rial que se está analisando. Em obras de ficção, por exemplo, critéri os como a representação de um importante movimento, gênero lite rário ou cultura nacional, bem como características de originalidade 24 e apresentação artísticas são pontos que devem ser considerados. Em obras de não-ficção, por outro lado, a objetividade e clareza de apresentação acabam assumindo prioridade sobre outros aspectos. Os critérios de seleção aqui abordados não se aplicam apenas a Jjvros, mas a todos os materiais. Evidentemente, haverá critérios es pecíficos para certos tipos de documentos. Será preciso elaborar cri térios complementares para a seleção de periódicos, filmes, discos, diapositivo�, etc. Todos devem ser coerentes com os objetivos da biblioteca. E inconcebível, por exemplo, a utilização de critérios de seleção totalmente opostos para livros e periódicos, ou para livros e materiais audiovisuais. 25 4 Seleção de materiais especiais e multimeios PARA AS FINALIDADES DESTE capítulo, são materiais especiais ou multi meios todos os materiais de biblioteca, à exceção dos livros. Assim, aqui se incluem os periódicos em geral (revistas especializadas, jor nais, etc.), os materiais audiovisuais (filmes, discos, fitas cassetes, diapositivos, etc.) e as novas tecnologias (ovos, programas de com putador em cos, etc.). . , Um ponto importante que deve ser colo;ado como pre�1ssa_ a discussão de critérios é que os diferentes ve1culos de comumcaçao não podem ser encarados como adversários em uma grande disputa pela preferência da sociedade. Nenhuma forma d� comunicação con�olida da é imediatamente destruída pelo aparecnnento de novos ve1culos. As formas anteriores modificam-se, têm seu público diversificado e continuam valendo. Estratificam-se. Assim sempre tem acontecido e não há motivos que façam acreditar que isto virá a modificar-se em futuro próximo. Bob Usherwood, emThe public library as public knowledge, lembra que, há alguns anos, a televisão !ngles� apresen:ou uma série s,obre o desenvolvimento das tecnologias da mformaçao no fmal do seculo x1x, na qual um bibliotecário respondia a um usuário: "Não, eu não posso verificar em um livro, senhor, ist? é uma biblioteca,, não ummuseu." Isto evidencia a crença generalizada de que os ve1culos de informação, como os conhecemos atualmente, estão fadados a desa parecer. Há anos se prevê o fim dos livros com o advento d�s no�as tecnologias informacionais, da mesma forma como se prevm o fim do cinema com o aparecimento da televisão, do videocassete e do devedê. A realidade, no entanto, mostrou que as previsões 26 apocalípticas eram exageradas e os antigos meios de comunicação e transmissão de conhecimento continuaram existindo, ainda que com modificações. Há 40 anos, ou talvez menos, Marshall McLuhan pre viu que em 1990 a palavra impressa e sua leitura seriam apenas uma lembrança; muita gente acreditou nele. Ao contrário, a publicação de livros apenas aumentou de lá para cá, incorporando vastas cama das da população à influência da leitura. Cada vez mais, novos espaços de influência são definidos. Esta parece ser a única constatação realmente válida. Muito do que tem sido afirmado pertence apenas ao campo do sonho, da previsão, da futurologia sem garantias de efetividade. No que concerne à área de atuação dos bibliotecários, o mais certo será conceituar a biblioteca como uma instituição armazenadora e disseminadora de informa ções e não de tipos de documentos específicos, pois a variedade des ses tende a multiplicar-se quase que em proporção geométrica. Não se pretenderá tratar da seleção de todos os outros tipos de documentos existentes no mercado. Provavelmente, à época do lan çamento deste texto, ele já estaria desatualizado, havendo muitos outros materiais dos quais não se teria tratado. O elenco a ser apre sentado enfocará alguns dos materiais que já podem, até que com relativa facilidade, ser encontrados nas bibliotecas. Na elaboração de critérios específicos para a seleção desses outros materiais de vem ser buscados critérios mais adequados para cada um, levando em consideração suas peculiaridades. Os critérios de seleção esta rão sempre diretamente ligados ao tipo de material selecionado; por exemplo: o custo total de qualquer obra em multimeio é afetado em muito maior proporção por seu custo de manutenção, do que o cus to de uma obra impressa comum. Periódicos A seleção de uma publicação periódica difere basicamente da de um livro ou monografia no sentido de que na primeira estabelece-se um compromisso com sua continuidade, enquanto que no livro essa decisão se esgota naquele momento. Fora alguns casos específicos, não há razão ·para a biblioteca selecionar apenas alguns fascículos de um periódico. Ela deverá necessariamente adquirir, e provavel mente conservar, o título como um todo, a partir do momento em 27 que optar por ele. No caso dos periódicos, o ato de seleção se repete de tempos em tempos, ao se tomar uma decisão pela continuidade ou pelo encerramento da assinatura. Fica evidente, então, o perigo de se fazer renovação de assinaturas por inércia, simplesmente por que um título vem sendo assinado há muito tempo, sem considerar fatores importantes como o uso ou relevância do título para o usuá rio atual. Esse compromisso com a continuidade acarretará, por exemplo, a necessidade de considerar atentamente as implicações do título para a biblioteca, em termos de utilização do espaço, algo que não é tão essencial quando da seleção de livros. Coleções de periódicos crescem e ocupam um grande espaço; isto é comum em bibliotecas especializadas, pois a informação veiculada em periódicos tem im portância muito grande para seus usuários, em geral pesquisadores que necessitam de informações atualizadas. Vinculada à avaliação do espaço disponível para acomodação dos periódicos está a análise global do custo desse material. Nesse senti do, o valor pago pela assinatura de um título não é o único custo com que a biblioteca está arcando ao optar por sua aquisição; exis tem vários custos, diretos e indiretos, que devem ser consic;Jerados. Mas, só para ficar no preço das assinaturas, é importante salientar que, em se tratando de periódicos científicos, ele tem subido muito acima dos índices inflacionários dos países onde são produzidos. Como uma assinatura de periódico representa um comprometimen to, por tempo indeterminado, de uma percentagem razoável do or çamento da biblioteca, é importante que essa análise de custo seja feita periodicamente. Isto é muito importante com novas assinatu ras, para não permitir que cresça em demasia o investimento da bi blioteca em novos títulos. Em paralelo às análises de ocupação do espaço e custo da assinatu ra, é importante ter-se clareza quanto à utilização futura dos títulos, a fim de avaliar quando vale a pena fazer uma assinatura e quando a melhor opção é solicitar o fasdculo por empréstimo a outra bibliote ca. Neste caso, estatísticas de empréstimo entre bibliotecas podem oferecer subsídios valiosos para a tomada de decisão (é claro que, em caso de títulos recém-lançados esta alternativa fica prejudicada). Julgar a qualidade de um periódico nem sempre é tarefa fácil. Fora a opinião do especialista, sempre uma ajuda indispensável, há 28 outros indicadores que permitem ao bibliotecário uma avaliação satisfatória. Vários desses indicadores constam da contracapa ou das páginas iniciais do fascículo, principalmente em periódicos especi alizados. Um deles é a existência de um comitê editorial, cuja fun ção é apreciar os artigos submetidos a publicação, um dado tido como garantia de qualidade. lsto significa que um artigo, para ser publica do em um periódico que possua comissão editorial, será examinado por um ou vários especialistas, que decidirão se o trabalho atende aos requisitos ou critérios de qualidade estabelecidos. Quando esse comitê é composto por especialistas de instituições ou países dife rentes, supõe-se que a garantia de qualidade seja ainda maior, ca racterizando uma publicação onde não existe endogenia de grupos ou linhas de pensamento. De certa maneira, quando se verifica a existência e composição de comissões editoriais e se considera este dado na seleção de publi cações periódicas, está-se trabalhando com o critério da autoridade: acredita-se que os especialistas da comissão editorial emprestam sua reputação ao periódico. Pode-se dizer que o mesmo critério está sendo utilizado quando, conhecendo-se o rigor com que os títulos são indexados em bases de dados especializadas, aceita-se como subsídio para a tomada de de cisão a presença de um periódico nessas bases. Supõe-se que quanto maior for o número de bases que indexam o periódico, maior será a garantia de sua qualidade. Assim, quando se tem que decidir entre dois periódicos, ambos com o mesmo nível de interesse para a biblio teca, pode-se utilizar, como critério de desempate, o fato de um de les ser indexado por bases de dados da área. Há razões para acredi tar que um periódico indexado terá maior probabilidade de ser utili zado, na medida em que as bases de dados funcionarão como fontes secundárias, permitindo ao usuário ter acesso ao conteúdo dos peri ódicos ali indexados. Ao se utilizar a presença em bases de dados como critério de seleção, deve-se atentar para títulos recentes, para os quais ainda não houve tempo de serem avaliados e indexados em bases de da dos, embora possuam qualidade para isso. Em geral, essas bases, antes de incluir novos títulos, adotam a política de aguardar até que tenham mais elementos para aferir sua qualidade. No caso de periódicos em línguas estrangeiras inacessíveis aos 29 usuários, a presença de um resumo em idioma acessível, em geral o inglês, deve ser considerada na seleção. Leva-se esse dado em conta não apenas porque com o resumoas informações ficam disponíveis e a probabilidade de utilização é maior, mas também porque isso indica que o título propõe-se a uma circulação internacional, uni verso onde as exigências são maiores. Todos esses critérios terão maior aplicabilidade nas bibliotecas especializadas ou universitárias, devido aos objetivos dessas insti tuições e às características específicas de seus usuários. Para biblio tecas públicas deve-se reconhecer que sua utilidade é limitada, pois nem sempre a questão será colocada com tal nível de especificidade, de modo a exigir a aplicação de padrões de qualidade utilizados na avaliação de periódicos científicos. Nelas, os critérios mais relevan tes serão provavelmente os que dizem respeito à adequação dos pe riódicos aos usuários. Histórias em quadrinhos Ultimamente, vem sendo dada grande atenção às histórias em qua drinhos, com a imprensa mundial registrando um incremento no número de artigos, resenhas, reportagens e entrevistas com autores especializados nesse material. Mesmo, e talvez principalmente, em nosso país, uma busca em jornais e revistas revelará um interesse maior em relação às histórias em quadrinhos. Isto, aos poucos, veio influir nas bibliotecas brasileiras, na medida em que o público passoü a buscar essas publicações e solicitar que fizessem parte do acervo. Tradicionalmente, a maioria das bibliotecas sempre manteve os quadrinhos afastados de suas prateleiras. Muitas vezes os bibliote cários partilharam com o público, ou com algumas parcelas desse público, os preconceitos que existiam contra essas publicações. Sabe se hoje que esses preconceitos foram uma das maiores injustiças co metidas contra um meio de comunicação de massa não só legítimo mas também de grande penetração popular. A evolução dos tempos tem mostrado que a maioria das barreiras levantadas contra as his tórias em quadrinhos baseava-se em opiniões preconcebidas, elitistas, carentes de qualquer argumento lógico. Pesquisas sérias e bem-co ordenadas têm colocado por terra todas as alegações de que os qua drinhos levavam as crianças à preguiça mental, afastavam-nas dos 30 estudos, desviavam-nas de salutares hábitos de leitura, prejudica vam seu desenvolvimento intelectual, etc. Por todos esses motivos, parece apropriado refletir um pouco sobre os critérios de seleção queyoderão e deverão ser aplicados a esses materiais. A primeira vista, as histórias em quadrinhos limitar-se-iam às vendidas em bancas de jornais, os tradicionais gibis ( daí o apareci mento de um novo substantivo na área biblioteconômica de língua portuguesa - gibitecas: bibliotecas de histórias em quadrinhos). De fato, os gibis existem em grande número, com enorme variedade de temas e gêneros. Com certeza, constituirão a maioria de qualquer acervo dedicado a esse material; há gibis infantis, adultos, de super heróis, de aventuras, eróticos, pornográficos, etc. O bibliotecário deverá, com base no conhecimento que tem de seu público e na ava liação de suas demandas, definir os gêneros que farão parte do acer vo. As mesmas considerações acerca da disponibilidade de espaço para periódicos, feitas antes, aplicam-se às histórias em quadrinhos. Em geral, talvez seja arriscado optar pela exaustividade em relação ao material quadrinhístico. A produção brasileira, para não falar da norte-americana ou espanhola, é grande, e isto comprometeria, em curtíssimo prazo, a disponibilidade de espaço. É importante que cada biblioteca defina de maneira clara a quais tipos de histórias em qua drinhos irá dedicar seus esforços de coleta e disseminação. Além dos gibis, em geral impressos em papel de qualidade infe rior, de pouca resistência, o mercado também oferece a opcão de álbuns e graplúc novels, publicações muitas vezes de maiores dimen sões e de apresentação mais luxuosa, que são resistentes e duráveis. Nas bibliotecas, onde o manuseio do material será mais frequente, a opção por uma edição em álbum ou graphic novel talvez seja uma alternativa mais viável. Considerações referentes a armazenamento e acomodação, bem como outras relativas ao custo de aquisição, podem reforçar, ou não, esta conclusão. Quanto maior for a variedade de histórias em quadrinhos que a biblioteca incorporar a seu acervo maiores as implicações para os profissionais, em termos de tratamento, recuperação, cuidados es peciais e armazenamento: bem como um conhecimento mais apro fundado desse material. A medida que os quadrinhos são incorpo rados às bibliotecas, maiores se tornam as exigências dos leitores, 31 lutin Realce que passam a solicitar as tiras de jornais, os fanzines (revistas elabo radas por fãs de histórias em quadrinhos), as revistas alternativas, os livros e artigos especializados. Por isso, antevê-se a necessidade de os bibliotecários se familiarizarem com esses materiais, a fim de conhecerem melhor as particularidades e os tipos de suportes em que as histórias em quadrinhos são veiculadas, para poderem for mular critérios adequados para sua seleção. Livros infanto-juvenis As bibliotecas públicas costumam ter uma grande quantidade de materiais de informação voltados para crianças e jovens, principal mente textos de literatura infanta-juvenil. As bibliotecas escolares, ainda que sejam tão poucas no Brasil, também possuem esse tipo de publicação, utilizando-o para o processo didático e incentivo às ati vidades de leitura, e colocando-o à disposição dos estudantes em seus momentos de lazer e entretenimento. O Brasil possui uma grande produção editorial voltada para o público infanto-juvenil, que abrange de livros paradidáticos a textos traduzidos de inúmeros idiomas. O mercado é muito dinâmico, com um fluxo constante de novas produções e autores. Alguns autores atingem vendas estrondosas e são muito solicitados por crianças e jovens nas bibliotecas. Profissionais da informação que atuam junto ao público mais jo vem identificam os autores de maior popularidade pela simples ve-· rificação do estado físico de suas obras, que com frequência exigem reparos e/ou reencadernação e logo atingem tal desgaste que exige seu descarte e substituição (quando isso é possível). São casos fáceis para o bibliotecário responsável pela seleção, pois muitas crianças tendem a ler e reler os títulos e autores que mais lhes agradam, bus cando sempre os mesmos livros ou solicitando que lhes contem re petidas vezes as mesmas histórias, como se a cada vez estivessem reencontrando um velho e querido amigo, em quem confiam e por quem têm especial carinho. A afirmação acima apenas reitera o fato de que profissionais que atuam na seleção de materiais de informação para crianças e jovens precisam ter um contato bem próximo com seu público, para conhe cer as peculiaridades e idiossincrasias de cada leitor. Não basta co- 32 nhecer sua comunidade por meio de dados estatísticos ou perfis mais ou menos genéricos. É preciso estar no meio do público, conhecer e conversar com crianças e jovens que frequentam a biblioteca, esta belecer um diálogo proveitoso com os pais, avós ou outros parentes que acompanham as crianças, visitar as escolas e discutir com os professores os livros que recomendam. Se, para os bibliotecários isto já é importante, para os responsáveis pela definição dos títulos a que o público infanto-juvenil terá acesso na biblioteca é vital. A in fância e adolescência são os períodos em que se alicerça a formação integral de qualquer indivíduo, e as bibliotecas públicas e escolares podem dar uma grande contribuição nesse sentido, tanto pela pos sibilidade de acesso a materiais informacionais adequados a esse público como pelas atividades que desenvolvem em torno deles. Essa é uma responsabilidade muito grande e não deve ser vista de maneira leviana. Selecionar materiais que atendam às necessida des do público infanta-juvenil está no cerne desta questão, pois a produçã? editorial é muito variada e nem sempre de qualidade apro priada. As vezes,por trás de figuras atraentes e histórias divertidas estão a disseminação de preconceitos e o velado incentivo a discri minações de ordem étnica, cultura] ou social. Os bibliotecários de vem estar atentos a essas obras, familiarizando-se com suas caracte rísticas mais marcantes, que incluem: • a ausência de minorias étnicas, como se a sociedade fosse com posta por urna população homogênea de indivíduos 'brancos'; • a representação negativa das minorias, seja retratando-as como figuras caricatas, seja colocando-as como personagens antipáti cos, quando não são escolhidos como os vilões da história, seja reservando para elas papéis considerados de menor importância social ( como empregadas domésticas, criados, trabalhadores não qualificados, mendigos, etc.); • a colocação da figura feminina em situação de dependência em relação ao homem, tanto em termos econômicos e sociais (a dona de casa que não é responsável pelo sustento da família) como _emocionais (é o homem quem toma as decisões importantes, dei xando para ela apenas as questões que não têm grande significa ção); 33 lutin Realce lutin Realce • representação positiva das classes sociais dominantes, retratadas como pessoas simpáticas, bonitas, felizes e modelos de compor tamento a serem seguidos pelas crianças. Dezenas de outros exemplos poderiam ser citados, mas talvez seja mais interessante deixar aos bibliotecários a tarefa de identificá-los em sua prática diária de seleção. Como subsídio a essa atividade, a leitura do texto de Fúlvia Rosemberg,1 que trata da relação entre literatura infantil e ideologia, e a dos livros de Maria de Lourdes Chagas Deiró2 e Umberto Eco,3 sobre a disseminação de preconcei tos em obras didáticas, pode ser bastante proveitosa. Atenção especial deve ser dada a materiais infanta-juvenis edita dos pela indústria de comunicação de massa, presentes em grande quantidade no mercado. É muito comum que desenhos animados ou seriados televisivos sejam transplantados para o formato impres so, em produções muitas vezes realizadas às pressas, com o simples intuito de tirar o máximo proveito da popularidade momentânea dos personagens (enfim, de lucro, puro� simples). Em geral, o re sultado é pobre, com histórias insignificantes e desenhos abaixo da crítica. Representam apenas o deslavado aproveitamento de ima gens produzidas para outro meio de comunicação, às quais se acres centa um texto que nem sempre consegue lhes dar muita coerência narrativa. Deve-se, no entanto, ter em mente que haverá sempre al gumas exceções a essa regra, e a identificação e incorporação ao acer vo de obras que fujam à mesmice da produção de massa serão uma das tarefas a serem desenvolvidas pelo responsável pela seleção. Alguns dos critérios gerais de seleção citados no capítulo anterior deverão ser objeto de adaptação, quando aplicados a livros infanto juvenis. O critério de autoridade, por exemplo, irá relacionar-se tan to ao autor do texto como ao ilustrador, quando forem diferentes, baseando a decisão de seleção em obras anteriores realizadas indi vidualmente ou em conjunto, ou até mesmo da coleção em que o livro foi publicado (como as séries Vaga-Lume, da editora Ática, e Veredas, da editora Moderna, para apenas citar duas das mais co nhecidas). O critério da conveniência levará em conta a faixa etária da crian ça, analisando a adequação do texto ao desenvolvimento intelectual de seu usuário potencial. Além disso, a avaliação das características 34 físicas dos livros considerará principalmente a resistência do mate rial empregado, dando-se, quando possível, preferência a material mais resistente, de major durabilidade. É importante desenvolver critérios que levem em conta a especi ficidade do público e as características da literatura infanta-juvenil, a relação entre texto e ilustrações, a apresentação gráfica, etc., a fim de estabelecer uma política de seleção adequada. Além dos pontos mencionados, deve-se, sempre que possível, buscar o apoio de especialistas da área, que já desenvolveram parâ metros críticos para julgamento da qualidade da produção editorial destinada a crianças e jovens. Uma comissão especial de seleção, composta por especialistas em literatura infanta-juvenil e por biblio tecários que atendem a esse público, é uma boa alternativa para ga rantir o nível de excelência do acervo. Existem alguns instrumentos auxiliares para a seleção de livros infanta-juvenis produzidos no Brasil. São em geral bibliografias, muitas vezes com resenhas críticas, elaboradas por instituições liga das à área. Nem sempre estão atualizadas ou abrangem muita coisa do imenso universo de publicações infanta-juvenis. Constituem, apesar dessas limitações, fontes valiosas para identificação de itens que devem ser acrescentados ao acervo. Filmes, vídeos e ovos A presença de filmes e vídeos em bibliotecas não é novidade em outros países. Em bibliotecas norte-americanas, principalmente es colares, há muito tempo vem sendo discutida a incorporação de fil mes a seus acervos, salientando-se sua importância no processo di dático-pedagógico. Em paralelo, uma indústria produtora de filmes com essa finalidade desenvolveu-se nos países mais adiantados, aten dendo a um mercado consumidor de dimensões e poder aquisitivo suficientes para justificar sua existência. No Brasil, a utilização de filmes no processo educacional acabou prejudicada por preços muitas vezes proibitivos tanto do material como da aparelhagem necessária à exibição (não se descartando cer ta dose de preconceito dos professores na utilização desses meios). A popularização do videocassete modificou essa situação, com mui- 35 lutin Realce lutin Realce lutin Realce lutin Realce tas escolas hoje tendo aparelhos de reprodução e produtos educativos em utilização no ambiente escolar. Devido em grande parte à questão econômica, a discussão sobre a presença de filmes em bibliotecas brasileiras guiou-se inicialmen te pela incorporação de fitas de videocassete. Antes de entrar na busca de critérios, deve-se discutir o papel que esse material representará no conjunto do acervo. Sua abertura para outros tipos de materiais não deve ser fruto de modismos ou de um esforço irrefletido para tornar popular a biblioteca. Nem representar o velho chamariz para o livro impresso, como muitas vezes se costuma fazer com os cursos de corte e costura, croché e outras atividades. As bibliotecas públicas não existem para competir com a iniciati va privada, atuando paralelamente a ela. Isto quer dizer que, no caso dos filmes, colocá-los no acervo para atender apenas e tão somente à demanda individual por filmes da grande indústria cinematográfi ca pode, sob muitos aspectos, ser encarado como uma má aplicação de dinheiro público. Em quase todos os bairros há locadoras que tornam esses materiais disponíveis, cobrando taxas de aluguel aces síveis. A questão primordial é criar uma identidade própria para a coleção de filmes nas bibliotecas, diferenciando-a das existentes nas locadoras. Para uma biblioteca especializada em cinema, existe todo um sig nificado em possuir uma coleção de filmes para dar suporte às ne cessidades de pesquisa dos usuários. Isto é fácil de compreender. Do mesmo modo, o acervo de filmes de uma biblioteca escolar exis te para dar suporte ou ser utilizado como instrumento didático por professores e alunos. O mesmo se aplica a bibliotecas universitárias. Em uma biblioteca pública, a presença desse material sempre teve por objetivo ampliar o espectro de atuação da biblioteca, possibili tando um melhor atendimento das necessidades informacionais dos usuários. Muitas vezes isto inclui o empréstimo domiciliar, dupli cando eventualmente o serviço oferecido pelas locadoras. Mas, como se disse acima, não pode limitar-se apenas a isso. Para uma bibliote ca pública, possuir um acervo de filmes deve significar que este material está inserido em um processo de planejamento global deserviços, uma proposta concreta de intervenção na sociedade. As sim, além do empréstimo domiciliar, pode-se fornecer espaço para projeções comunitárias, seguidas ou não de debates sobre os filmes 36 - ---�-- - ----- - - exibidos. Da mesma forma, algumas áreas do acervo são enriqueci das pela inclusão de materiais em vídeo. É o caso, por exemplo, de gravações de partidas de futebol, em esportes; de peças teatrais ou versões cinematográficas de romances, em literatura; e de apresen tações de orquestras ou óperas, na área de música. Deste modo, o usuário terá ampliado seu acesso a materiais informacionais, complementando sua pesquisa (ou seu lazer) por intermédio de vá rios meios de comunicação. Do ponto de vista técnico, a avaliação de filmes, para incorpora ção ao acervo das bibliotecas, deve considerar vários fatores; a minudência da aplicação desses fatores, entretanto, dependerá dos objetivos da biblioteca. Bibliotecas especializadas levam em conta detalhes de fotografia, como a composição da obra, o trabalho de câmara, a fidelidade de cor e distinção claro/escuro, que muitas ve zes não serão de vital importância em outras instituições. A qualida de da edição e dos efeitos especiais também é um aspecto a ser leva do em conta cm uma avaliação mais rigorosa. Em filrnes de anima ção e desenhos animados, as técnicas utilizadas são muito impor tantes. Além desses aspectos, relativos mais à parte visual dos filmes, itens como a fidelidade do som e a qualidade/credibilidade dos efei tos �onoros também podem ser considerados na avaliação. E provável que bibliotecas especializadas em cinema considerem atentamente a adequação da produção cinematográfica para outros suportes, preocupação que dificilmente existirá em outras bibliote cas. Quando um filme produzido para exibição em telas grandes é transposto para uma fita de videocassete, são feitos recortes e adap tações, a fim de tornar as imagens adequadas à dimensão do moni tor de tcvê. lsto gera perdas da imagem original, do que resulta uma cópia muito distinta da que lhe deu origem; essas perdas podem ser inaceitáveis para um pesquisador, para quem a fidedignidade da imagem é de capital importância. Em bibliotecas públicas esse fator não terá a mesma importância. É claro que os critérios acima assinalados dizem respeito apenas à qualidade da cópia ou exemplar. Ao chegar a esse ponto, questões básicas deverão ter sido anteriormente respondidas, como a ade quação do material ao usuário, sistema de vídeo mais apropriado para a biblioteca (v1-1s ou Betarnax), implicações financeiras para a 37 lutin Realce instituição, etc. São quesitos para os quais não existem receitas pron tas. Cada biblioteca terá de analisar sua realidade específica e che gar a uma resposta que lhe seja satisfatória. Desde a segunda metade dos anos 1990, entretanto, a escolha deixou de ser feita entre quais sistemas de videocassete utilizar e passou a ser entre a fita de videocassete e o disco de ovo,_ (Di�it�lVersatile Disc (Disco Versátil Digital)) , 4 um disco de matenal plash co e de leitura ótica, do mesmo tamanho de um co de música ou de um co-ROM, mas com capacidade sete a 26 vezes maior. Este produto armazena filmes com definição duas vezes maior que a do vídeo VHS além de contar com seis canais de som. Outras vantagens não pa;am aí: pode-se escolher o áudio de um filme em até oito_idiomase as legendas entre 32 línguas; podem-se cortar cenas do filme, as sistindo-se apenas às de maior interesse; é possível assistir a cenas que ficaram de fora na versão oficiaJ e ver entrevistas com os atores e o diretor. Além disso, o acesso aleatório e a durabilidade, fazem no a melhor opção para as bibliotecas. Novidades estão surgindo na área de filmes e vídeos, colocando em xeque muitas das tecnologias existentes. Os discos Blu-Ray (Blu Ray Discs) são um novo formato de disco ótico de 12 cm de �iâme tro, igual a um co e urri ovo. Considerado o sucessor do ovo, e capaz de armazenar filmes de muito maior tamanho, mas exige um apare lho de televisão com tela de cristal líquido (LCD), plasma ou LED2 para poder exibir todo o seu potencial. Seu preço, entretanto, _ainda é ,b�stante alto e a comercialização no Brasil incipiente. Os b1bltotecanos devem estar atentos a essa nova mídia, de forma a avaliar suas vaJ1- tagens e incorporá-la ao acervo quando conveniente. Discos, fitas e cos Discos e fitas de áudio há tempos fazem parte do acervo de bibliote cas. Além das especializadas, muitas bibliotecas públicas possuem este material, a fim de atender aos interesses e necessidades da cli entela. Na maioria dessas últimas predominam os gêneros musicais mais populares, mas já se percebe a preocupação em incorporar itens para a área de ensino de idiomas estrangeiros, onde apresentam re sultados bastante positivos. A decisão técnica de seleção originalmente compreendeu a esco- 38 lha entre discos, em geral de vinil, e fitas cassetes. Muitas bibliote cas costumavam ter como norma a aquisição preferencial de discos. Quando o usuário solicitava o empréstimo de um disco, seu conteú do era gravado em fita cassete, que era emprestada, mas não o disco. Assim, preservava-se a integridade do disco, evitando-se riscos ou outros danos ao material. Quanto à durabilidade ou resistência, os discos são facilmente arranhados pelo manuseio indevido; com o passar do tempo, a re produção do som pode ficar distorcida. No entanto, é preciso assi nalar que com o tempo eles ficaram mais resistentes. Fitas cassetes, por seu lado, são vulneráveis a acidentes, podendo ser facilmente apagadas ou danificadas. No que diz respeito ao conteúdo, alguns autores costumam assi nalar que os discos são mais indicados para gravações de música clássica, que requerem maior qualidade de reprodução, enquanto as fitas cassetes são mais indicadas para os álbuns de música popu lar. Este argumento parece ser, em primeiro lugar, um pouco preconceituoso, imaginando que os aJ11antes dos gêneros mais po pulares sejam ouvintes de segunda classe que ficarão satisfeitos com um produto de qualidade inferior. A aplicação deste critério ao acervo deixa subentendida a seguinte mensagem: se quiserem uma quali dade melhor, aprimorem o gosto. Em segundo lugar, devido ao aper feiçoamento tecnológico ocorrido nos últimos anos, tanto nas fitas cassetes como nos aparelhos reprodutores, o argumento perde qua se por completo sua credibilidade. Hoje em dia, a qualidade de som obtida com discos ou fitas se equivale, independentemente do gêne ro da música. Na realidade, o aperfeiçoamento tecnológico influiu na discus são acima mencionada de uma maneira bastante diversa, transfor mando-a radicalmente. Hoje em dia, a opção primeira não se dá en tre o disco e a fita cassete, mas entre ambos e o compact disc (co). Por vários motivos. A qualidade de som obtida do compact disc é muitissimamente superior, permitindo uma audição mais completa de todos os acordes envolvidos na gravação. A resistência do co, excetuando-se condições excepcionais, é quase total. O que se afirmou quanto ao ovo já é uma realidade no que diz respeito aos cos de áudio, a começar pelas vantagens de acesso alea tório (sem contato direto do usuário com o material, é bom lembrar) 39 1 1111 e maior durabilidade. Sua crescente popularidade, inclusive, fez com que o seu custo, a grande desvantagem que possuíam em relação ao disco de vinil e à fita cassete, diminuísse consideravelmente. Além disso, as produtoras deixaram de fabricar discos de vinil, concen trando sua produção em cos. Assim, cabe aos bibliotecários o desen volvimento de mecanismos de avaliação desse material, bem como estar atentos ao aparecimento de novas mídias, como as produções em MP3 e MP4, e como elas podem impactar os acervos das bibliote cas. Diapositivos Para a seleção de diapositivos ou slides, deve-se considerar, além da adequação aos usuários, aspectos técnicos como perfeição dascores, qualidade da imagem projetada e se são compatíveis com o equipa mento de projeção existente na biblioteca. Neste último aspecto, implicações sobre o custo tanto para aquisição do equipamento como sua manutenção deverão ser avaliadas, optando-se pelo que ofere cer o maior número de vantagens. As características do público são provavelmente os pontos mais importantes a serem considerados, pois influenciarão muito na for mulação dos critérios de seleção. Selecionar diapositivos para pro fessores universitários é uma tarefa de maior complexidade do que selecioná-los para utilização por estudantes de primeiro grau. O ní vel de exigência de um docente que vai utilizar um diapositivo em uma aula de anatomia humana será muito maior do que o do estu dante de primeiro grau que usará o material como ilustração de uma aula de ciências. No primeiro caso, a perfeição de detalhes será o principal critério para seleção. No segundo, essa exigência pode não ser um fator tão determinante. Buscando sistematizar o assunto, a professora. Maria Luiza Loures Rocha Perota, em seu livro Multimeios: seleção, aquisição, processamen to, armazenagem, empréstimo, um dos poucos textos em português a enfocar o tema, sugere, resumidamente, os seguintes critérios de seleção: 1) interesse concre_to para o usuário; 2) a informação contida em cada vista deve ser clara, concisa, 40 verdadeira e atualizada, limitar-se a um só tema preferencialmente pois facilita a assimilação por parte do espectador; 3) figuras simples. Os desenhos técnicos complexos não são apropriados para serem apresentados em um só quadro; 4) devem-se escolher ilustrações nas quais o tema mais impor tante se destaque do fundo; 5) os dados numéricos devem ser apresentados sob a forma de gráficos ou de quadros, por serem de mais fácil compreensão; 6) observar a qualidade do material: de película, dos impres sos [sic] de revelação, fixação, produtor, etc. Além dessas, outras considerações poderiam ser feitas. Por exem plo, algumas bibliotecas dão preferência a conjuntos de diapositi vos, acompanhados por material para utilização simultânea à proje ção, incluindo desde textos explicativos até fitas cassetes com a apre sentação já organizada pelos editores. A seleção desses conjuntos exige que se levem em conta a coerência entre os diversos compo nentes do todo e a relação entre o texto escrito/gravado com o con teúdo dos diapositivos. Em alguns casos, talvez seja necessário o auxílio de especialistas para responder com clareza a esses questionamentos. Muitas bibliotecas preferem elas mesmas produzir seus diaposi tivos, com imagens feitas a partir de livros ou periódicos constantes de seu acervo. O nível de exigência quanto à qualidade das repro duções, dependendo de sua finalidade, poderá ser maior ou menor. Merece cuidado especial a adequação do suporte fotográfico, para se obter o resultado mais satisfatório possível. Outro aspecto para o qual os profissionais devem estar atentos refere-se ao direito autoral de obras intelectuais ou artísticas. Foto grafias, pinturas, gravuras, etc. são protegidos por lei quanto à sua reprodução em outro suporte ou sua exposição pública, requerendo autorização dos detentores dos direitos autorais. Não convém tratar esta questão com leviandade. Sempre existe o risco de um processo judicial, por lesão de direitos autorais. Outros materiais Como se comentou no início deste capítulo, não se pretendeu aqui 41 esgotar todos os tipos de materiais que podem fazer parte do acervo das bibliotecas. Esta seria uma pretensão muito ambiciosa, inevita velmente fadada ao fracasso. Para as finalidades deste texto, bus cou-se apenas fazer uma abordagem muito ampla de alguns dos materiais nrnis comuns, de modo a possibilitar aos profissionais um conhecimento básico desta área da seleção. Bibliotecas que possuam coleções de materiais não enfocados neste texto (como brinquedos, incunábulos, microformas, transparências, mapas e globos, fotogra fias, etc.) deverão aplicar-lhes as mesmas reflexões aqui feitas em relação a periódicos, histórias em quadrinhos, filmes e vídeos, etc. Este será um exercício fascinante que muitos benefícios trará aos profissionais e à comunidade a que devem servir. Notas RosEMBERG, Fúlvia. Literat1tra infantil e ideologia. São Paulo: Global, 1984. 2 DEIRÓ, Maria de Lourdes Chagas. As belas mentiras: a ideologia subjacente aos tex tos didáticos. 13. cd. São Paulo: Centauro, 2005. 3 Eco, Umberto. Mentiras que parecem verdades. São Paulo: Summus, 1980. 4 Originalmente a sigla correspondia a digital vídeo disc (videodisco digital), mas como faz muito mais do que reproduzir imagens de vídeo, seu signifi cado foi mudado. 5 LCD (liquid crystal display), plasma ou LED (light emilling diode) são evoluções dos aparelhos de televisão, permitindo que estes possam receber imagens e som trans mitidos em formato digital, com muito melhor qualidade que as transmissões analógicas. 42 5 Seleção de documentos eletrônicos QuEM ACOMPANHA DE PERTO a evolução dos suportes de informação sabe como eles se diversificaram nos últimos anos com a possibili dade de armazenamento digital de dados. O armazenamento de dados em computadores de grande porte, a aquisição de disquetes, co-Rorvis e atualmente ovos contendo bases de dados bibliográficos, o acesso cm linha ou via internet a computadores remotos, etc. fa zem parte de um leque de alternativas disponíveis para tornar a in formação mais acessível, maximizando seu uso. Cada vez mais, profissionais da informação que atuam em dife rentes áreas do conhecimento são chamados a se posicionar em rela ção a esses meios eletrônicos, decidindo pela sua incorporação ao acervo. É imprescindível, então, ter previamente definidos os crité rios para realizar essa avaliação de maneira correta, de modo a pre servar os mesmos padrões de qualidade que conseguiram colocar em seus acervos tradicionais. Na seleção de documentos eletrônicos consideram-se aspectos de conteúdo, acesso, suporte e custo. As considerações sobre conteú do são iguais às feitas sobre documentos impressos, na medida em que sua inclusão se justificar com base nos objetivos da biblioteca e no interesse dos usuários. Optar por documentos eletrônicos só por que são modernos, bonitos e atrativos não se justifica. É preciso que o conteúdo esteja de acordo com os parâmetros de-assunto defini dos pela instituição e haja razoável certeza de que significarão acrés cimo valioso em termos de expectativas e necessidades dos usuári os. As vantagens e limitações do documento devem ser evidentes em termos de qualidade intrínseca, mesmo que para se isso tenha de ouvir especialistas. Em termos de acesso, os documentos eletrônicos devem ser avali- 43 ados não apenas quanto à sua maior facilidade para realizar buscas específicas, possibilitadas por mecanismos automatizados que per mitem atingir um número maior de relações entre conceitos do que as conseguidas em buscas manuais. Embora este seja um dos pontos centrais da decisão de seleção, a análise deve englobar também ques tões como a compatibilidade do documento eletrônico com o siste ma de automação da biblioteca. Outro ponto importante é a autori zação do fornecedor para que os documentos sejam acessíveis em rede local ou tenham sua utilização restringida a computadores iso lados e as implicações que essas duas alternativas terão no custo do material. Quando os documentos eletrônicos constituem instrumentos de referência, como índices, resumos ou sumários periódicos, a bibliote ca deve estar preparada para um impacto na demanda de materi�s, pois os usuários terão conhecimento de documentos que talvez nao estejam disponíveis no acervo. _ . Dispor de estrutura administrativa que responda de modo ef1c1- ente a essas demandas, inclusive com a possibilidade de emprésti mo entre bibliotecas e comutação bibliográfica, pode ser uma medi da prudente para evitarque o acirramento da ansiedade pel� info� mação conduza à frustração do usuário. Em termos de relaçoes pu blicas, para não falar do apoio que a instituição deve receber da co munidade a que serve, isto é desastroso. As questões relacionadas com o suporte necessário para utiliza ção do documento eletrônico são sempre muito pertinentes. Para muitas bibliotecas, trata-se de materiais com os quais seu pessoal não tem ainda suficiente familiaridade, para utilização independen te. Necessitarão, portanto, de um período de adaptação e mesmo de treinamento antes que estejam aptos a proporcionar aos usuários a ajuda que com certeza irão solicitar. Os usuários precisarão receber orientação para que se tornem independentes no uso dos novos recursos. Isto signif�ca dizer qu�, no momento da seleção, será preciso examinar a questao da d1spo111- bilidade de elementos complementares aos documentos eletrônicos. Entre eles está a existência e qualidade dos manuais de instruções e a disponibilidade de suporte técnico por telefone ou em linha que permita dirimir, junto ao produtor/fornecedor, as dúvidas sobre a utilização do documento eletrônico. Isso, porém, não é tudo, pois 44 também a qualidade das instruções deverá ser avaliada, bem como a facilidade ou dificuldade de acesso ao suporte técnico. De pouco adianta dispor de um número telefônico para contato se estiver sem pre ocupado ou houver incompatibilidade entre o horário da biblio teca e o fornecedor do produto, etc. Por fim, fatores relacionados com o custo do documento em for mato eletrônico têm um peso grande na decisão de seleção. Por cus to entenda-se não apenas o mais evidente, como o valor da compra do produto. Devem ser considerados todos os demais custos, como os de atualização (correspondentes à renovação das assinaturas de periódicos), manutenção e uso (neste caso, também a disponibilida de em rede local, que pode significar um acréscimo, às vezes salga do, ao preço inicial de aquisição). A comparação de preços entre os documentos impressos e seus similares eletrônicos costuma ser mais complicada do que aquela com que estão acostumados os bibliotecários quando comparam os preços de livros ou materiais de referência em papel. Mais compli cada ainda é essa comparação quando diz respeito apenas a docu mentos eletrônicos, pois as estratégias de preço dos diversos produ tores varia e nem sempre é fácil determinar qual é a mais vantajosa em termos de custo-benefício. No que tange aos documentos eletrônicos, é preciso refinar cada vez mais os instrumentos de anál.ise de custos, de modo a englobar o maior número possível, tanto os diretos (preço, custo dos equipa mentos necessários, etc.) como os indiretos (despesas com treina mento do pessoal, tempo gasto na orientação dos usuários, impres são das informações contidas nos documentos, etc.). Considerando os objetivos deste livro, torna-se inviável o enfo que detalhado de cada urna das possibilidades oferecidas pela in formação eletrônica nos dias de hoje. Dada a rapidez com que a área avança, no momento do lançamento desta obra ela já esta.ria desatua lizada. Desta forma, serão vistas apenas algumas alternativas, com considerações sobre suas características e discutindo-se alguns dos critérios que lhes são mais apropriados. CO-ROMS e DVD-ROMS co-Rotvr significa compact disc - read only memory [disco compacto - 45 memória apenas de leitura], uma tecnologia desenvolvida na déca da de 1980 e que armazena grande quantidade de informações em discos compactos similares aos utilizados para gravações sonoras, já abordados neste texto. DVD-ROM significa digital vídeo disc - read only memory [disco digital de vídeo - memória apenas de leitura], com capacidade de armazenamento de vídeos e dados bem superior à dos cD-ROMs. A produção desta nova tecnologia vem crescendo em progressão geométrica, praticamente em todas as áreas do conheci mento, sendo possível afirmar que ela tende a substituir os CD-ROMS em prazo bastante curto. A popularização dessas e de outras recentes tecnologias para ar mazenamento da informação está ocorrendo nas bibliotecas no mun do inteiro. No Brasil, já podem ser encontradas em muitas bibliote cas especializadas ou universitárias, nas várias regiões do país. Em bora, ao que se saiba, não tenha ainda sido realizado qualquer tipo de levantamento para conhecer o ritmo de crescimento do número de cD-ROMS e DVD-ROMS nas bibliotecas brasileiras, é de se admitir que esse número esteja crescendo além das expectativas. A cada dia se reduzem os preços dos equipamentos de informática e mais biblio tecas adquirem , microcomputadores que já trazem unidades de lei tura desses discos. Da mesma forma, a maior disponibilidade e di versidade de produtos nesse formato também leva a uma queda de preços, equiparando-os e muitas vezes até mesmo deixando-os infe riores aos preços dos documentos impressos. Alguns leitores talvez venham a pensar que esta tecnologia, por ser ainda bastante recente, afetará apenas algumas bibliotecas espe cializadas ou universitárias, principalmente devido à pouca dispo nibilidade de recursos orçamentários nas bibliotecas públicas. Mes mo correndo o risco de ser acusado de excesso de otimismo, penso ser esta uma conclusão equivocada. Nunca é demais lembrar que há poucos anos nenhum cidadão comum de classe média sequer cogi tava na possibilidade de possuir um computador pessoal. Pouco antes, o mesmo ocorria com a televisão em cores. O barateamento dos equipamentos eletrônicos em geral levou à inclusão dos CD-ROMS e DVD-ROMS no acervo de muitas bibliotecas públicas. Isso ocorreu de forma surpreendente e só tende a se intensificar no futuro, bem 1nais cedç> do que os bibliotecários imaginam (quem viver, verá!). E preciso, portanto, que os bibliotecários saibam como lidar com 46 esse novo tipo de documento e com as implicações que ele deverá ter em suas atividades profissionais. Pois ele já está entre nós. Os documentos em CD-ROM e DVD-ROM têm crescido bastante na área de entretenimento, além de brinquedos e jogos dos mais variados tipos. Também há muitos produtos para o ensino, seja para utiliza çao em sala de aula, como complemento pedagógico, seja para estu do independente. Embora, nas bibliotecas, seu maior impacto tenha ocorrido na área de obras de referência, a decisão de incorporar ao acervo material de entretenimento nesse formato talvez seja uma das primeiras que os profissionais da informação terão de ponderar. Existe uma grande variedade de bases de dados bibliográficos em CD-ROM ou DVD-ROM. Obras de referência tradicionalmente publi cadas em papel, assim como a maioria dos serviços de indexação, estão disponíveis nesses suportes. Este panorama deve se alterar nos próximos anos, fazendo com que se intensifique a necessidade, para os bibliotecários, de saber avaliar esses materiais de maneira ade quada, o que não se resume a comparar o material impresso com o material em formato eletrônico. É mais do que isso. Entre as vantagens dos produtos bibliográficos em discos eletrô nicos, deve-se destacar a facilidade de busca em comparação com as versões impressas dos mesmos títulos. Isto fica ainda mais evidente quando é preciso fazer uma pesquisa bibliográfica que abranja vários anos. Enquanto a pesquisa em uma base de dados impressa obriga o usuário a fazer várias viagens às estantes e a manusear dezenas de volun1osas edições, aquela realizada em um CD-ROM não é afetada pelo período estipulado, sendo feita da mesma forma, caso fosse definido um período mais limitado. Há de se concordar que fazer uma busca bibliográfica sentado diante do computador é muito mais agradável do que fazê-la com dispêndio de força e deslocamentos físicos (talvez os fanáticos por condicionamento físico discordem dessa afirmativa ... ). Bases de dados em CD-ROM ou DVD-RO ,1 podem ser utilizadas com o auxílio de variado número de opções, que facilitam a recuperação dasinformações. Entre elas estão as buscas por assuntos, por núme ros de classificação, nome de autores, títulos, palavras-chave, datas, etc. Ademais, os termos de busca podem ser combinados utilizan do-se a lógica booleana, do que resultam estratégias muito mais pre cisas do que as realizadas em bases de dados impressas. É lógico 47 que essas opções variam de produto para produto, mas é importan te que o bibliotecário tenha bem claro aquelas que sejam mais úteis para os usuários de sua instituição. A escolha entre obras publicadas em papel e as mesmas obras em CD-ROM ou DVD-ROM é algo que já começa a afetar principalmente o setor de referência das bibliotecas. Essa escolha será tanto mais obje tiva quanto mais o profissional se organizar em termos de coleta de dados de custo e custo-benefício, facilidade de acesso, disponibili dade de espaço, manuseio, equipamentos necessários, custos de ar mazenamento, etc. A decisão entre adquirir qualquer instrumento bibliográfico em papel e sua versão em CD-ROM deve considerar fatores como custo do equipamento para leitura dos discos (e do computador onde ele deve ser instalado), custo de utilização do equipamento (mobiliário, ma nutenção, cuidados especiais, etc.), disponibilidade de espaço físico e providências necessárias para adequação desse espaço ao equipa mento, para apenas citar alguns fatores. Também deve orientar essa decisão o conhecimento sobre as políticas editoriais de muitos pro dutores, que atualmente parecem tender à manutenção exclusiva da versão eletrônica de suas publicações. Foi o que aconteceu, por exem plo, com o Chemical Abstracts, tradicional obra de referência publicada pela American Chemical Society, disponível em muitas bibliotecas brasileiras. Em janeiro de 2010, a editora descontinuou a publicação impressa da obra e da maioria de seus subprodutos, mantendo so mente suas versões eletrônicas. É importante salientar que, para se fazer a avaliação do custo de uma base de dados em CD-ROM ou DVD-ROM, não basta comparar seu preço final com o das bibliografias impressas. É importante ter bem claro o que se está adquirindo em cada um dos casos. Bases de da dos impressas em geral oferecem apenas os números correntes e os cumulativos do corrente ano; bases de dados em CD-ROM podem in cluir um arquivo retrospectivo, com atualizações. Muitas vezes, o conteúdo das bases em CD-ROM é inferior ao das bases em papel. A experiência mostra que muitas bases que os pro dutores afirmam trazer o texto integral dos periódicos às vezes não incluem quadros, tabelas e figuras constantes das versões em papel, porque ocupam demasiado espaço nos discos. Bases de dados em DVD-ROM em geral não têm essa limitação. 48 Além desses pontos, deve-se verificar, ao se optar por uma base de dados em CD-ROM ou DVD-ROM, o quanto de liberdade de uso se obtém. Muitos produtores desses materiais eletrônicos apenas os cedem para uso durante um período determinado, em geral especi ficado em um documento de licenciamento (internacionalmente co nhecido como licence agreement). Não se trata de uma venda, como acontece com os livros impressos. É preciso atentar para as condições de uso que são permitidas pelo documento de licenciamento, pois esse tipo de contrato costu ma ser bastante draconiano em suas exigências, com cláusulas rígi das quanto à utilização dos materiais. Na maioria das vezes consti tuem verdadeiros 'contratos de adesão', que beneficiam apenas o produtor, com cláusulas que vão de encontro aos objetivos da biblio teca. Se o bibliotecário quiser utilizar o produto em uma torre de CD ROMS, por exemplo, deve verificar, ao assinar o contrato, se este não proíbe essa forma de uso. Se do contrato constar tal proibição, o bibliotecário deverá exigir que ela seja retirada do texto ou que seja alterada para se ajustar tanto quanto possível a suas pretensões. Em geral, quando todos os elementos são cuidadosamente veri ficados e se toma cuidado para não cair em alguma armadilha con tratual, as bases de dados em CD-ROM ou DVD-ROM proporcionan1 um benefício muito maior do que fica aparente ao se comparar seu pre ço com o das obras impressas. Nesse sentido, é preciso mais uma vez salientar a ligação entre a seleção e o gerenciamento da institui ção bibliotecária, principalmente quando se tem de optar entre duas ou mais versões de um mesmo título, cuja adequação aos objetivos da instituição e dos usuários, em termos de conteúdo, é inquestio nável. O bibliotecário responsável pela seleção necessitará das in formações adequadas para uma correta avaliação de todos os fato res envolvidos. Bases de dados on-line Diferentemente de uma base de dados em CD-ROM ou DVD-ROM, uma base de dados de acesso on-line não está fisicamente presente no acer vo da biblioteca. O computador onde a base está armazenada pode encontrar-se a milhares de quilômetros de distância, em outro país ou continente. No começo, com o auxílio de um aparelho chamado 49 ., modem, acoplado ao computador, e de uma linha telefônica, podia se realizar o acesso à base. Atualmente, com o avanço da tecnologia, essa base pode ser acessada via internet de banda larga, com muito mais vantagens, rapidez e qualidade no acesso. A possibilidade de acessar esse tipo de bases de dados é encon trada com frequência cada vez maior em instituições bibliotecárias brasileiras, principalmente nas da área universitária e especializada. Muitas vezes estão também disponíveis em CD-ROM ou DVD-ROM, po dendo ser adquiridas pela biblioteca. Nesses casos, o responsável pela seleção deverá pesar os prós e contras de cada opção e definir se pela que lhe for mais conveniente. Alguns pontos merecem-aten ção: • nem sempre uma base de dados em CD-ROM ou DVD-ROM contém o mesmo que suas congêneres on-line, que são armazenadas em ser vidores de grande porte e, portanto, com um volume maior de dados. É importante distinguir com clareza as diferenças e seme lhanças entre os dois produtos; • em princípio, quando há baixo volume de demanda pela base de dados, o acesso on-line costuma ser economicamente mais ade quado para a biblioteca, pois ela pagará apenas as buscas efetua das e não precisará incorrer em diversos outros custos ligados à aquisição e manutenção da base em seu acervo, seja em CD-ROM, DVD-ROM ou outro tipo de suporte. Quando a demanda for maior, a aquisição da base será mais vantajosa para a biblioteca, pois os custos da utilização on-line serão maiores. Na medida em que, ao utilizar-se uma base de dados on-line, deve-se pagar o tempo de acesso e o profissional que presta assessoria ao usuário, o custo será mais alto quando houver maior frequência de utilização; • por serem em geral volumosas, as bases de dados ocupam grande espaço na memória dos computadores. Poucas bibliotecas pos suem máquinas em número suficiente ou dispõem de capacida de de memória assim tão grande, de modo a armazenar muitas bases de maneira simultânea. Para redes de bibliotecas, que pos suem sistemas de computadores integrados e podem instalar tor res de cD-ROMS, esta questão talvez não seja tão problemática, embora talvez a velocidade de processamento dos computado res possa vir a ser afetada. 50 Considerados os pontos acima, verifica-se que a opção pelo aces so a bases de dados on-line é muitas vezes a única alternativa para bibliotecas que desejam proporcionar a seus usuários o maior leque possível de opções em termos de materiais de informação. O núrne ro de bases de dados em formato eletrônico hoje disponíveis no mercado torna impossível o armazenamento de toda e qualquer fonte que os usuários possam um dia ter necessidade de utilizar. Bibliotecas menores obtêm maiores benefícios com o acesso on line, principalmente para demandas particularizadas e infrequentes, mas essa regra não é assim tão rígida. Usuários não habituados com uma determinada base de dados podem levar muito tempo para definir uma busca, aumentando os custos para a biblioteca.Às vezes é preferível que os bibliotecários planejem e executem a busca para os usuários, visando não só bai xar o custo da conexão mas, também, obter melhores resultados na recuperação da informação. O acesso on-line pode também funcio nar como uma avaliação do volume de demanda real por determi nada base, proporcionando elementos para a eventual decisão por sua aquisição em CD-ROM e seu armazenamento no computador da biblioteca. Documentos disponíveis na internet Em certos aspectos, a internet parece ser a grande coqueluche do novo século, a ela sendo atribuído o embrião das grandes revolu ções sociais que se darão no futuro. Ela vem afetando em muito as bibliotecas do mundo inteiro, trazendo desafios e oferecendo opor tunidades aos profissionais responsáveis pelo gerenciamento des sas instituições. Majs particularmente, ela. tem colocado muitas ques tões aos bibliotecários que respondem pela seleção de materiais, que cada vez mais se perguntam como podem utilizar os recursos da internet em benefício de sua instituição e de seus usuários. A literatura especializada onde se discutem essas questões cres ce a olhos vistos, mostrando que os profissionais da informação es tão atentos às implicações da informação eletrônica em suas ativi dades e preocupados em estabelecer, para os documentos disponí veis pela internet, critérios de qualidade semelhantes aos utilizados para a seleção dos materirus mais tradicionais. 51 Para quem não está familiarizado com o assunto, é importante salientar que a internet é muito mais do que uma rede de computa dores: trata-se de uma interconexão entre diversas redes de compu tadores dispersas pelo mundo inteiro, acessadas por caminhos dife rentes e alternativos, exigindo apenas que o interessado possua um computador adequado, um modem, um software de comunicação e uma senha que lhe permita entrar no sistema por uma das diversas redes interligadas (que funcionam como provedores de acesso). Para esclarecer melhor, costuma-se comparar a internet a um sis tema de autoestradas conectadas entre si e ligando um país de ponta a ponta, numa variedade que vai desde estradas vicinais carentes de melhorias até vias expressas com complexa organização e contando com os mais avançados recursos Um viajante, para se locomover de um ponto a outro do país, poderá iniciar sua viagem por uma estrada vicinal, quase nunca pa vimentada, e depois utilizar uma estrada estadual ou uma autoes trada federal, tendo às vezes de trafegar por outra estrada vicinal (ou muitas outras estradas, vicinais ou não) antes de chegar ao local pretendido. Algo similar ocorre na internet: os caminhos para uma mensagem ir de um objetivo a outro são muitos, dependem de vários fatores, mas ao final é de se esperar que o processo se realize a con tento. No início, a internet teve como objetivo interligar os profissio nais que trabalhavam em pesquisas e no ensino universitário no mundo inteiro, facilitando-lhes a comunicação. A comunicação eletrônica surgiu e tomou corpo na rede como uma de suas possibilidades mais atraentes, sendo utilizada por pes quisadores e cientistas em todo o mundo para a troca de informa ções, por meio de e-mails, mensagens enviadas por via eletrônica que ficam armazenadas no espaço em máquina exclusivo do receptor (conhecido como endereço eletrônico). 1 Mais tarde, surgiram as listas de discussão, genericamente co nhecidas como listservs ou newsgroups, pelas quais todos os interes sados em wn determinado assunto encaminham suas mensagens para um endereço específico e essas mensagens são distribuídas para os assinantes da lista, gerando um permanente clima de troca de ideias e informações. Depois veio a www (World Wide Web ou simples mente Web, a Rede), evolução tecnológica dos antigos gophers, uma 52 sofisticação até há pouco tempo inimaginável da internet, que in corpora aplicativos e interfaces baseadas em técnicas de hipertexto e hipermídia.2 Por último, vieram as redes de relacionamento ou comunidades virtuais, congregadas em espaços próprios na Rede. O mais famoso deles é certamente o Orkut (www.orkut.com), uma imensa comunidade em linha que congrega pessoas interessadas nos mais diversos assuntos e é muito utilizada para contatos entre ami gos, bem como para a troca de fotos, vídeos e mensagens. Há tempos a internet deixou de ser de uso exclusivo do mundo acadêmico, podendo ser utilizada por indivíduos de todas as áreas e atividades, por um custo bastante acessível. Isto gerou uma explo são do universo de informações disponíveis na rede, que crescem e se modificam numa rapidez difícil até mesmo de imaginar e mais ainda de acompanhar. A cada minuto, informações sobre todo e qualquer assunto são incorporadas e tornadas disponíveis na internet. Desde dados total mente irrelevantes (a não ser para poucos interessados) a documen tos de interesse universal, oriundos de organizações conceituadas no mundo científico ou empresarial. Hoje em dfa, pode-se fazer quase tudo pela internet: obter dados estatísticos, adquirir bens, contratar serviços, acessar bases de dados, consultar catálogos de bibliotecas, encontrar parceiros para jogos ou relacionamento amoroso, etc. (os limites talvez sejam apenas a nossa própria imaginação). Daí, pode se ter uma ideia do potencial que ela representa em termos de fonte de informação. Os bibliotecários no mundo inteiro se interessaram pelas redes eletrônicas, em particular pela internet, desde seu início. Ao invés de ficar preocupados com possibilidades de eventual desapareci mento (veja-se, a respeito desse assunto, o capítulo 11, sobre o futu ro da seleção), trataram de incorporar os documentos disponíveis na internet às alternativas de informações que ofereciam a seus usu ários. Bibliotecas incorporaram-se à rede criando home pages, 3 por meio das quais possibilitam acesso a seus catálogos e criam ligações com informações disponíveis na rede, tornando-se uma porta para o mundo das informações eletrônicas. Isso parece tender unicamente ao crescimento, à medida que mais e mais instituições de informa ção fazem o mesmo trajeto. O universo de informações disponíveis na internet é complexo e 53 --- -- diversificado ao extremo. Para as bibliotecas, não se trata apenas de possibilitar que parcelas da comunidade que não têm disponibilida de financeira para utilizar a rede possam fazê-lo por meio dessas instituições. Trata-se, muito mais, de definir critérios que garantam ao interessado a fidedignidade, atualidade e confiança sobre a pro cedência da informação fornecida via rede eletrônica. Às vezes a experiência de trafegar pela internet compara-se à aventura de quem viaja a um pais estrangeiro sem conhecer o idio ma e tem que se comunicar/sobreviver em um ambiente diferente daquele ao qual está acostumado. Assim, as bibliotecas têm-se preo cupado em proporcionar aos usuários indicadores para orientação nessa balbúrdia, selecionando e possibilitando o acesso a endereços da internet que contenham material de interesse para seus usuários. De uma certa forma, a incorporação de qualquer endereço eletrô nico à página que a biblioteca mantém na internet pode ser compa rada à aquisição de um documento escrito e sua incorporação ao acervo físico. Trata-se, em muitos aspectos, da mesma atividade de determinação de qualidade e adequação ao usuário realizada pelos bibliotecários de seleção. Muitos dos critérios aplicáveis aos docu mentos impressos aplicam-se também àqueles disponíveis via rede eletrônica. Pode-se dizer, por exemplo, que a biblioteca deverá ava liar um documento eletrônico segundo o mesmo critério de autori dade que utiliza para o documento em papel: no caso deste, o crité rio seria validado pelo renome do autor, do editor e do órgão res ponsável pela edição da obra; para o documento disponível via in ternet serão definidos elementos equivalentes aos mencionados, e avaliados segundo a credibilidade que tenham e tambémbaseado em suas produções anteriores. Isto não é difícil de entender, pois se imagina que um documento disponível no endereço eletrônico da UNESCO, da ONU ou outra organização conceituada seja mais confiável do que um documento disponível no endereço de uma pessoa física sem maiores referências. O mesmo se aplica aos demais critérios de conteúdo mencionados no capítulo 3. Outro aspecto importante da incorporação de documentos dis poníveis na internet refere-se à indicação de páginas individuais sobre determinado tema ou instituição, ou à indicação de servidores que contenham conjuntos de recursos. Kim Fung Yip assim exemplifica essa questão: "podem-se selecionar jornais na internet 54 pela seleção de sítios de periódicos específicos, ou um sítio que apon te para uma coleção de periódicos".'1 Não existe uma regra fechada nessa área e cada biblioteca deverá decidir qual opção lhe é mais conveniente. Isto também não significa que deva existir uma opção fechada: é possível optar pelo coletivo em determinados momentos, deixando ao usuário a seleção daquilo que lhe é de maior interesse ou utilidade, e em outros momentos fazer a indicação diretamente para a fonte específica. Outro ponto importante relaciona-se com a indicação apenas de recursos acessíveis gratuitamente na internet ou da inclusão tam bém de documentos para cujo acesso se exige uma compensação monetária. Caso a última opção seja a preferida, o bibliotecário de verá decidir se a biblioteca arcará com custo do acesso ou se será repassado, total ou parcialmente, ao usuário final. Estas questões devem estar bem claras para o usuário antes que ele realize a pes quisa, pois é muito frustrante engajar-se cm uma busca de informa ção e ter que interrompê-la em determinado momento, ao saber que existirá um custo adicional inesperado. Além das bases em CD-ROM, DVD-ROM ou em linha, muitas se tor naram acessíveis via internet. Às vezes, esta alternativa é feita sem um custo direto de aquisição ou assinatura, o que é uma vantagem adicional. Na maioria das vezes, porém, para ter acesso à base de dados na internet, a biblioteca deve arcar com o custo definido pelo produtor. Nesses casos, deve-se fazer a avaliação de custo-benefí cio, visando a melhor escolha para a instituição bibliotecária. A inconstância dos endereços na internet obriga a um acompa nhamento das indicações já feitas. Nada garante que um endereço útil para a biblioteca continuará existindo ou se transferirá para ou tro ponto da rede. Neste caso, muitas vezes uma indicação para o novo endereço é feita quando se acessa o endereço antigo, restando à biblioteca fazer a atualização dos dados. No primeiro caso, existe a possibilidade de a informação estar perdida para a instituição, pelo menos em formato eletrônico. A internet é um conjunto de redes interconectadas, com bilhões de dados e informações, que, na maioria, talvez sejam dispensáveis, sem interesse duradouro. Cabe às bibliotecas colaborar com o pro cesso de comunicação, avaliando as fontes e indicando as que se destacam em relação a parâmetros de qualidade, diminuindo o tem- 55 po do usuário para encontrar a informação nesse emaranhado de informações muitas vezes conflitantes. Esta atividade se faz ainda mais importante à medida que os mecanismos de busca existentes na própria internet são ainda insuficientes para uma recuperação satisfatória. 5 Notas 1 Um endereço eletrônico é composto de modo similar a um endereço comum, indicando o destinatário, a máquina e o país onde esta se localiza. O meu ende reço eletrônico, por exemplo, é wdcsverg@usp.br, que pode ser descrito assim: o que vem antes do símbolo @ (representativo do latim ad: em direção a, para) indica o nome do destinatário; o que vem depois identifica o local onde o com putador/servidor, ou provedor, se encontra (usp: Universidade de São Paulo) e o país (br: Brasil). 2 Foge aos objetivos deste livro entrar em muitos detalhes sobre a internet e seu funcionamento. Para aqueles que se interessem cm conhecer mais sobre a rede, aconselha-se a leitura de alguns dos diversos manuais existentes no mercado. Entre outros, pode-se salientar o seguinte título: ERCÍLIA, Maria; GRAEH, Anto nio. A internet. São Paulo: Publifolha, 2008. 3 Home page é a página inicial de qualquer endereço na Rede, trazendo as princi pais indicações sobre o conteúdo daquele endereço (uma espécie de menu). 4 Kim Fung Yip. Selecting Internet resources: experience at Hong Kong Universi ty of Science and Technology (HKUST) Library. The Eleclronic Library, v. 15, n. 2, p. 91-98, 1997. 5 Entre os mecanismos de busca disponíveis na internet destacam-se: Google, Alta Vista, Yahoo, Bing, Lycos e Ask. 56 6 Organizando o processo de seleção É IMPORTANTE SALIENTAR que, na prática, a selecão tem um alto grau de detalhamento. Em outras palavras: o que parece simples, nem sem pre é tão simples assim. As vezes, a complexidade da seleção não fica evidente para o profissional, que raramente interrompe sua ro tina para refletir a respeito das atividades que desenvolve. Essa com plexidade, porém, é real, palpável, bastando que se enfoquem, com senso crítico, as atividades desenvolvidas na tomada de decisão, para que ela se torne evidente. Essas atividades variam de uma institui ção para outra, cada uma organizando o processo segundo suas pe culiaridades e características e procurando obter o fluxo adminis trativo mais conveniente para garantir que todos os materiais só in gressem no acervo após uma avaliação por parte de um responsá vel. É inaceitável que um item ingresse na coleção por descaso, falta de tempo ou ineficiência dos responsáveis por sua manutenção e desenvolvimento. Algumas expressões como lista de desiderata, demanda repri mida e lista de sugestões são de uso corrente, expressando coisas mais ou menos iguais. Na prática, são quase sinônimas, pois se refe rem a materiais que a biblioteca está considerando incorporar ao acervo. Lista de desiderata, como o nome indica, refere-se a materiais que a biblioteca deseja adquirir; imagina-se, neste caso, que já te nham recebido decisão favorável de alguém, mas esta regra nem sempre é seguida. Demanda reprimida, expressão pouco simpática, indica títulos procurados pelos usuários e não possuídos pela biblio teca, mas também pode referir-se aos indicados pelos usuários. Lista de sugestões, talvez a expressão mais ampla, em geral indi ca uma lista de títulos que foram sugeridos para aquisição, normal mente composta por indicações de usuários. Com frequência, esses 57 títulos ainda não foram submetidos a um processo de tomada de decisões (mas essa regra nem sempre é seguida). Considerando as definições acima, cada profissional deve ter bem claro o significado de cada expressão no contexto da biblioteca em que atua, principalmente para diferençar entre títulos ou indicações cuja aquisição já foi decidida e aqueles que ainda deverão ser sub metidos ao processo de tomada de decisões. O fato de uma lista ter sido confeccionada - tenha ela recebido que nome for - deve significar todo um trabalho de identificação, avaliação e aplicação de critérios de seleção para cada um dos itens que a compõem (se antes ou depois da confecção da lista, é irrele vante). E significa uma definição precisa do responsável ou respon sáveis pela seleção dos materiais, apontando-se as atribuições de cada um dos envolvidos no processo. Assim, a organização do processo de seleção vai implicar defi nir: • os responsáveis pela tomada de decisão; • os mecanismos para identificação e registro dos itens a serem selecionados; • a política de seleção. Os dois primeiros itens serão vistos neste capítulo. O terceiro item, devido à sua importância, será visto em outro capítulo. Quem seleciona? Uma vez estabelecida a premissa inicial da importância da partici pação do bibliotecário na seleção; parece ser interessante concentrar a análise nas estruturas em quesua participação é efetivamente con creta, deixando de lado aquelas em que ele atua como mero cumpri dor de decisões superiores. As várias alternativas para organização das atividades de sele ção podem ser esquematicamente analisadas assim: 58 Alternativa 1 Existência de uma comissão de seleção, de caráter deliberativo, da qual o bibliotecário participa como membro ou coordenador/presidente Esta alternativa pressupõe a existência de um grupo de pessoas co locadas, como um conjunto, hierarquicamente acima do bibliotecá rio, para tomar as decisões concernentes à seleção dos materiais. A presença do bibliotecário visa oferecer garantias de que as necessi dades da coleção como um todo estarão acima de interesses de gru pos ou indivíduos. Embora se costume manter apenas o responsá vel pela biblioteca como membro efetivo da comissão, nada impede que outros profissionais do corpo técnico da biblioteca participem, principalmente os que têm mais contato com os usuários, como é o caso do bibliotecário responsável pelo serviço de referência. O funcionamento das comissões de seleção tende muitas vezes a ser apenas burocrático, com um ou dois membros tomando as deci sões pelos demais. Em geral, reúnem-se segundo uma periodicida de prefixada (mensal, bimestral, etc}, quando analisam as sugestões dos usuários e as encaminhadas pelo corpo técnico da biblioteca, podendo ainda incorporar sugestões próprias. As dificuldades burocráticas, talvez inevitáveis, devem ser en frentadas com criatividade e eficiência, as decisões ocorrendo do modo mais amplo e rápido possível. À biblioteca caberá, entre ou tras medidas, elaborar formulários apropriados para registro das sugestões e decisões a respeito de cada item analisado, de modo a facilitar a avaliação pela comissão. Alguns bibliotecários podem entender que comissões de seleção representam uma limitação à autoridade/autonomia do profissio nal. Em muitos casos têm razão: sob certos aspectos, elas podem ser assim encaradas, representando um fator de inibição do profissio nal. Mas a existência de um grupo com funções deliberativas, hie rarquicamente superior ao bibliotecário, pode ter aspectos positi vos, que devem ser explorados ao máximo. Comissões, na medida em que compostas por membros represen tativos da comunidade, permitem um contato maior com os usuá- 59 rios, funcionando como um canal permanente para a discussão de suas necessidades de informação e também como um excelente veí culo de relações públicas. Podem fornecer apoio político ao bibliote cário, em suas solicitações por maiores e melhores recursos para a biblioteca. A constituição dessas comissões varia de instituição para insti- tuição: • em bibliotecas públicas, são em geral indicadas pelo prefeito ou pela câmara municipal, obedecendo a diretrizes estabelecidas em leis ou decretos, que fixam o número de componentes, a forma como são selecionados na comunidade, atribuições e duração do mandato, etc. No Brasil, não se sabe de comissão de seleção ou de biblioteca constituída pelo voto da comunidade, prática comum em outros países. Às vezes, são necessárias comissões voltadas para certos materiais: em bibliotecas infanta-juvenis, por exem plo, pode haver comissões de seleção compostas por especialis tas em literatura infantil; • em bibliotecas especializadas, elas são compostas por pesquisa dores da instituição, em geral representando os departamentos que a constituem. Partem da premissa de que a seleção em áreas especializadas deve ser realizada por quem tem conhecimento nessas áreas. Sua existência parece também justificar-se pela im possibilidade de o bibliotecário dominar todos os assuntos do acervo. A indicação dos membros poderá ser feita pelo diretor da instituição ou pelos responsáveis pelos departamentos; • em bibliotecas escolares e universitárias, os participantes das co missões costumam ser indicados dentre os membros dos corpos docente e discente. Para se alcançar maior representatividade, muitas vezes procura-se obter a participação de ex-alunos ou membros do corpo técnico. Saliente-se que a participação do bi bliotecário nas comissões de seleção é vital para evitar que algu mas áreas da coleções se desenvolvam, de modo injustificado, mais do que outras. Alguns pesquisadores ou professores costu mam destacar-se, sendo mais atuantes (ou preocupados) do que outros na seleção; cabe ao bibliotecário zelar para que todos os assuntos de interesse da instituição se desenvolvam independen temente de atuações individuais, por meio de mecanismos for- 60 mais que permitam a participação, ainda que mínima, de todos os interessados. Alternativa 2 Existência de uma comissão de seleção, de caráter consultivo, para assessoria ao responsável pela seleção. Visa proporcionar ao bibliotecário suporte às decisões de seleção. Quando formalmente estruturada, sua existência pode ser interpre tada como um indicador de que o profissional atingiu um alto índi ce de reconhecimento no meio em que atua, sendo-lhe atribuída a responsabilidade pela tomada de decisões de seleção. Significa, tam bém, que é reconhecida a necessidade de assessoria especializada, seja cm relação aos assuntos do acervo, seja em relação a particulari dades da comunidade servida. Muitas vezes, embora não formalmente organizada, essa comis são pode ser incentivada pelo bibliotecário, sem que isto represente demérito ou timidez de sua parte para a tomada de decisões. Ao contrário, poderá ser uma estratégia para aproximar os usuários da biblioteca e otimizar as decisões de seleção. Em bibliotecas de grande porte, com muitos bibliotecários, po dem ser formadas comissões de seleção compostas apenas por eles, dando suporte ao responsável pela seleção. Imagina-se, provavelmente com certa razão, que a soma das ex periências e conhecimento das necessidades da comunidade acu mulados pelo grupo de profissionais, em especial os que mantêm contato direto com o usuário, proporciona um retrato fiel da reali dade onde a biblioteca atua, fornecendo subsídios para a tomada de decisões. Alguns sistemas de bibliotecas públicas inglesas adotam essa prática para a seleção de mater_iais de informação. Alternativa 3 O bibliotecário faz a seleção dos materiais. 61 Muitas vezes, o bibliotecário é o único responsável pela seleção. É dele a decisão única e exclusiva sobre o que é ou não incorporado, sern que tenha que a priori consultar escalões superiores. Como no caso anterior, isto pode significar um reconhecimento da capacida de do profissional para tomar decisões. É preciso reconhecer que esta decisão muitas vezes cai nas mãos do bibliotecário por simples e total desinteresse da comunidade a que a biblioteca deve servir. É mais cômodo que o bibliotecário tome as decisões, ao mesmo tempo em que lhe são negadas as ferramentas que lhe permitiriam, eventualmente, tomar decisões mais eficientes, ou tornar suas decisões efetivas. Embora doloroso, talvez este seja o caso mais comum no Brasil, principalmente nas bibliotecas públicas de cidades de pequeno e médio porte: bibliotecários tomam as decisões de seleção, sim; mas, devido à falta de um orçamento definido, jamais se constitui um ambiente de tomada de decisões. No máximo, decide-se sobre a incor poração das doações de alguns usuários. Este panorama catastrófico, que domina grande parte das biblio tecas brasileiras, não é motivo suficiente para descaracterizar a ne cessidade de organizar as atividades de seleção de forma estrutura da. Profissionais que têm que trabalhar de maneira quase isolada, muitas vezes chefes de si mesmos, são os que mais necessitam orga nizar seu tempo de forma racional e utilizá-lo do modo mais eficien te possível. Decisões tomadas às pressas nem sempre produzem os melhores resultados. Os bibliotecários que decidem sobre a seleção estão também mais propensos a encarar suas responsabilidades de maneira inadequa da. São muitas as pressões que sofrem por trabalharem um ambien te desestimulador: a pouca disponibilidade de tempo ou de pessoal auxiliar é uma realidade demasiadamente estressante para muitos profissionais. No entanto, embora se compreendam suas dificulda des, às vezes fica difícil justificar a forma leviana como são tomadas algumas decisões de seleção. Deve-se sempre resistir, por exemplo, à tentação de aceitar todas as doações, só para não se ter o trabalho de analisá-las mais detida.mente. Isto ocorre com muito mais frequên cia do que se imagina. Os bibliotecários com responsabilidades de seleção são talvez os que maior necessidade têm de possuir as informações mais fidedig- 62 nas possíveis sobre a comunidade que visam a servir. Para isso, será necessário que desenvolvam mecanismos formais (estudos de co munidade, de usuários, pesquisas de opinião, etc.) ou informais ( con tato direto com os usuários, em geral no empréstimo de materiais) visando identificar fontes de auxilio à tomada de decisões. A prática acabará por capacitá-los a identificar personalidades dispostas a au xiliar na análise dos materiais, trazendo-lhes valiosos subsídios para a seleção. Esta prática, convenientemente implementada, também poderá funcionar como um excelente veículo de relações públicas para a biblioteca. Mecanismos para identificação, avaliação e registro Quando, no início deste capítulo, foram mencionadas listas de títu los sobre os quais a decisão de seleção foi ou será tomada, deixou-se de comentar que grande parte do trabalho que precede essa decisão é composto por rotinas administrativas que visam gerar um eficien te fluxo de informações. Essas listas de títulos não surgem de ma neira espontânea, mas são confeccionadas com dados obtidos de diversas fontes, que podem ser tanto os usuários da biblioteca como publicações da mais variada procedência. Isto implicará, entre ou tras coisas, a necessidade de: • elaborar formulários adequados para cada tipo de biblioteca, de modo a identificar satisfatoriamente tanto a procedência da indi cação (usuário? corpo técnico da biblioteca?) como o material indicado (autor, título, edição etc.); • definir os instrumentos auxiliares a serem utilizados para a sele ção. Formulários para indicação e seleção de títulos Parece desnecessário enfatizar a importância de se contar com ins trumentos formais para a indicação de títulos. Grande porcentagem dos materiais incorporados ao acervo das bibliotecas provém de indi cações dos usuários, e às vezes é triste verificar como esse processo ocorre de maneira completamente irregular. Histórias sobre usuários que apresentaram indicações para seleção nos mais variados e pito- 63 rescos suportes são comuns no meio bibliotecário. Sabe-se de suges tões rabiscadas em envelopes, assinaladas em catálogos de editoras, indicadas em lista de referências de artigos de periódicos (muitas vezes em folhas arrancadas do próprio original), bem como de usuá rios que transmitem verbalmente suas sugestões ao pessoal da bibli oteca. A hilaridade, ou tragicomicidade, de algumas situações, no en tanto, não pode obscurecer a importância de se derrubarem todas as barreiras que possam impedir os usuários de apresentarem suas sugestões para o acervo. É importante que se sintam motivados a colaborar no desenvolvimento da coleção, ainda que suas contribui ções possam ser irregulares, irrelevantes, pouco confiáveis ou sim plesmente ininteligíveis. A existência de formulários deve ser dita da por necessidades organizacionais e não para impedir ou dificul tar a participação dos usuários no processo. Um dos primeiros pon tos a serem analisados, portanto, é quanto a existência de um instru mento formal para indicação de títulos contribuirá para aproximar mais da biblioteca os usuários. Se a resposta for negativa, talvez seja melhor deixar de lado essa história de formulário e tentar aprimo rar os contatos pessoais que estejam funcionando satisfatoriamente. Ou talvez seja melhor reelaborar o instrumento formal, desta vez sob o ponto de vista do usuário ... e não da biblioteca. Felizmente, excetuando alguns casos em que até mesmo os bibli otecários têm dificuldade para entender o que se pretende (mais ou menos parecidos com aqueles contratos para financiamento da casa própria), geraltnente os formulários para indicação/sugestão de tí tulos buscam a simplicidade, facilitando a compreensão do que se deseja, organizando o fluxo de solicitações e reduzindo-as a um for mato comum. Os formulários devem ser de fácil preenchimento e compreensão, exigindo do usuário o mínimo de seu tempo. É con veniente lembrar que nenhum usuário deve se sentir constrangido para encaminhar uma sugestão ao acervo por não conhecer todos os dados para preenchimento do formulário (pensem, por exemplo, e_m quantas crianças já tiveram a intenção de indicar um livro para a biblioteca e desistiram porque não sabiam preencher o 'papel' que os bibliotecários lhes deram). Uma indicação rnaJformulada será sempre preferível a indicação nenhuma. A necessidade de especial atenção na confecção de formulários 64 para indicação ou sugestão de títulos fica ainda mais evidente ao se considerar que poderão ser utilizados em todas as atividades da se leção. Em muitos casos, serão preenchidos por várias pessoas: quem solicita o material, quem recebe o pedido, quem verifica se a biblio teca possui o título, quem aprova a indicação, etc. Eventualmente, poderão acompanhar a aquisição e processamento dos materiais. As idas e voltas geradas por formulários malelaborados têm um custo muito alto para a instituição. O excesso de documentos é prejudicial a qualquer atividade ad ministrativa. Por isso, é aconselhável restringir ao máximo o núme ro de formulários que serão manuseados no processo de seleção. Onde apenas um instrumento formal for suficiente, dois ou três não precisarão existir. O mesmo se pode afirmar quanto ao número de vias dos formulários, que deve ser o menor possível. Assim, foge-se da duplicação de esforços, economiza-se tempo e evita-se a prolife ração de arquivos ou bancos de dados (que nada mais são do que arq'!ivos com mania de grandeza). E claro que dificilmente serão elaborados instrumentos perfei tos. Cada biblioteca deverá analisar criteriosamente os dados de que necessitará para a tomada de decisão e incorporá-los ao formulário que adotar. Da mesma forma, detalhes corno tamanho ou dimen sões do formulário, tipo de papel utilizado, cores, impressão etc. são questões que devem ser respondidas no âmbito de cada institui ção, considerando fatores como custo, benefício, durabilidades, le gibilidade, etc. A prática certamente acabará deixando evidente a adequação ou não do instrumento utilizado. Corno sugestão, reproduz-se, no anexo 1, um modelo de formu lário para indicação de títulos. Instrumentos auxiliares da seleção Tendo em vista o atual universo editorial, é totalmente impossível a qualquer bibliotecário ter conhecimento de tudo que é de interesse para sua instituição, ou mesmo ter condições de avaliar objetiva mente os materiais publicados. Por maior que seja sua dedicação e disponibilidade, ele irá fracassar. Se o bibliotecário limitar as decisões de seleção aos materiais su- 65 lutin Realce geridos pelos usuários, talvez deixem de ser incorporadas ao acervo obras importantes, das quais os usuários não chegaram a ter conhe cimento ou não tiveram informações suficientes a ponto de interes sar-se por elas. Isto para não falar da possibilidade, talvez certeza, de a coleção tender, a longo prazo, a concentrar-se nas áreas em que os usuários apresentam maior número de sugestões. Os chamados instrumentos auxiliares da seleção, também conhe cidos como fontes de seleção, possibilitarão, ainda que de maneira imperfeita, que as limitações acima apontadas não se transformem em barreiras ao correto desenvolvimento da coleção. Por intermé djo deles, os bibliotecários poderão obter informações referentesà existência de itens específicos, e ter acesso a uma estimativa da qua lidade dos documentos. Esse tipo de subsídio será muito importan te no dia-a-dia da seleção porque não é possível tomar decisões a respeito de algo cuja existência se desconhece, e porque nem sem pre se pode contar com a ajuda de especialistas para aplicação de alguns dos critérios de seleção. Cada biblioteca deve definir os instrumentos auxiliares que lhe sejam úteis. Em face da diversidade de documentos e formatos exis tentes, limitar muito as fontes que a biblioteca pode utilizar na sele ção talvez seja uma faca de dois gumes. Em princípio, os instrumen tos auxiliares circunscrevem-se mais às obras de referência, como bibliografias, diretórios ou mesmo catálogos de editoras, mas na prática são todos os materiais, em qualquer suporte, que possam oferecer subsídios para a decisão de seleção. A adequação de um instrumento auxiliar a uma biblioteca espe cífica irá em muito depender do que se deseja dele. Entre os fatores que influenciarão essa adequação podem ser salientados: • a exaustividade do instrumento: algumas fontes de seleção pro curam arrolar tudo o que está sendo ou foi publicado na área respectiva, e outras apresentar uma cobertura mais superficial; • seleção corrente ou retrospectiva: alguns instrumentos apresen tarão apenas dados referentes a materiais correntes, sem incluir obras publicadas antes de um certo período; • fornecimento de apreciações críticas dos itens, o que proporciona rá maior número de elementos para a tomada de decisão; 66 • idiomas incluídos: algumas fontes abrangem apenas a língua do país onde são publicadas, outras não têm essa limitação; • inclusão de diferentes tipos de suportes e materiais não-con vencionais tais como periódicos, filmes, fitas de vídeo ou áudio, diapositivos, etc. Bibliotecas públicas e escolares em geral recebem maiores benefícios com a utilização de catálogos de editoras, resenhas publicadas em jornais e revistas de circulação geral ( como Veja, Isto É, Newsweek etc.), bem como por consultas regulares a sítios de editoras e livrarias na internet. Bibliotecas universitárias e especializadas provavelmente precisarão ter acesso a bibliografias especializadas, inclusive rese nhas publicadas em periódicos científicos de sua área de atuação, a fim de fazer o melhor uso possível das informações disponíveis. Catálogos de editoras são.utilizados no mundo inteiro como instru mentos auxiliares da seleção em todos os tipos de bibliotecas. Isto é perfeitamente compreensível, em grande parte devido ao interesse das editoras em torná-los acessíveis às bibliotecas. Para não repetir informações já apresentadas no livro sobre de senvolvimento de coleções, deixo de fazer aqui a análise pormeno rizada de cada um dos instrumentos auxiliares mencionados (suas vantagens e desvantagens já foram suficientemente detalhadas na quela oportunidade). Cada profissional deverá avaliar com muito cuidado a objetividade, credibilidade e veracidade das informações veiculadas nas fontes de seleção que pretende utilizar, de modo a ter plena confiança no benefício que delas poderá receber. Feliz ou infelizmente, os instrumentos auxiliares apenas funcionarão corno elementos de suporte, fornecendo subsídios à tomada de decisão. Nenhum deles eximirá o bibliotecário ou responsável pela seleção de sua participação no processo. Por esse motivo, fica evidente que a escolha de instrumentos auxiliares inadequados pode comprome ter a efetividade do processo de seleção. 67 7 Política de seleção FALAR SOBRE POLÍTICA de seleção é, de fato, repetir muito do que já foi mencionado neste ou no livro sobre desenvolvimento de coleções. Por esse motivo, este capítulo será dedicado mais à estruturação do documento de política do que à discussão sobre sua razão de ser, procurando fornecer subsídios para que cada profissional, em cada situação específica, elabore seu próprio material. Antes, porém, con vém apresentar os motivos da existência de um instrumento formal de política de seleção. Muitos bibliotecários argumentarão que dispor de um documento onde os critérios de seleção estão registrados é, sob certos aspectos, uma perda de tempo. Afinal, não têm dúvida de que utilizam crité rios de seleção razoáveis e os têm gravados na memória. Além do mais, dirão, os usuários parecem estar satisfeitos com aquilo que eles, os bibliotecários, estão realizando. Para comprovar isso, desa fiarão os incrédulos a perguntar a opinião dos usuários e mostrarão o acervo sob sua responsabilidade, duvidando que alguém possa discordar dos critérios que utilizam ou afirmar que realizam seu trabalho de maneira não-criteriosa. Longe deste autor querer duvidar da sinceridade desses biblio tecários. Muitos profissionais exercem a atividade de seleção com zelo admirável e são bem-sucedidos no desenvolvimento de cole ções adequadas a seus objetivos. Analisam cada material que inclu em no acervo, utilizam critérios objetivos e bem-elaborados, discu tem com os usuários a importância de cada item, negociam interes ses divergentes, evidenciando, em todos os seus atos, a precisão de suas decisões. Profissionais assim (e felizn1ente existem muitos nes te país) são exemplos que devem ser reconhecidos e servir de mode lo para todos os outros. 68 Mas é aí, que a ques_tão começa a se complicar. Mesmo que se aceite o paragrafo anterior corno verdadeiro (e ele é!), ainda assim é grande o r'.s�o de,_a longo prazo, desenvolver-se uma coleção aquémdo �ecessano. Nao existem garantias de que os bons profissionais serao eternos em uma biblioteca. Muitos fatos podem levar um bi bliotecário a afastar-se da instituição, desde aqueles pessoalmente positivos (asce_nsão na carreira, mudança de emprego) aos negati vos (doenças, licenças, falecimento). Para não mencionar os casos de aposentadoria, que tanto podem ser positivos como negativos, de pendendo do ponto de vista. Em qualquer uma dessas situações, 0 resultad? será urna coleção prematuramente órfã, que estará sujeita aos caprichos do acaso. E deve-se reconhecer que isso poderá ser até fatal para algumas delas. Corre-�e o ,ris<:o ou não? Cada bibliotecário pode fazer essa per gunta a s1 propno, amda que seja apenas como um exercício de el_ucubração. Se optar pelo risco, só restará desejar-lhe boa sorte e vida longa. Se optar pela alternativa mais segura, registrará de modo formal os �ritérios de seleção que adota, de modo que sua prática possa contmuar por intermédio de seus sucessores. Esta seria uma primeira razão para justificar a existência de um instrumento formal de política de seleção: garantir a manutenção do_s critérios além da permanência física dos profissionais responsáveis pelas decisões. Só ela, provavelmente, já seria suficiente. Mas seria possível acrescentar algo mais. Parece evidente, por exemplo, a necessidade de dar conhecimen to à comunidade de que a coleção não está sendo desenvolvida de maneira aleatória, com base apenas cm caprichos ou idiossincrasias do bibliotecário. Conseguir o apoio dos usuários é uma política pru dente, considerando-se os altos e baixos que a biblioteca enfrenta no seu dia-a-dia, principalmente quanto aos recursos para aquisição dos materiais. Comunicar aos interessados, de modo claro, os critérios de sele ção do acervo é uma boa estratégia para, em momentos críticos, con seguir o apoio da comunidade. É difícil e talvez ingênuo esperar que os usuári�s apóiem o bibliotecário em suas solicitações por maiores dotaçoes orçamentárias, se ele não esclarecer os critérios que _irã? guiá-lo na_ utiHzação das verbas suplementares. Ninguémapoiara os profiss1ona1s da informação apenas pelos seus belos 69 lutin Realce lutin Realce olhos ... pelo menos na grande maioria dos casos (existem profissio nais com olhos belíssimos). Uma coleção não é sempre um elemento de pacífica concordân cia na comunidade. É natural que parte dos usuários deseje queo acervo contemple mais suas necessidades de informação, entenden do que algumas áreas deveriam receber prioridade diferente daque� la que lhes está sendo conferida pelos responsáveis pela seleção. E também compreensível que alguns usuários discordem que deter minadas áreas do acervo recebam novas obras ou que sejam até mes mo minimamente contempladas, tentando evitar que os demais usuá rios tenham acesso a certo tipo de informações. Não há como evitar o aparecimento de tensões em torno da cole ção, com grupos de usuários desejando imprimir determinado dire cionamento às decisões de seleção, enquanto outros grupos atuam em direção inversa. Neste sentido, é até possível questionar o acerto de uma política que procure suprimir essas tensões, pois esse confli to é bastante enriquecedor e contribui para que a gama de opções existente seja ampliada (muito pelo contrário até: algumas vezes a busca do conflito pode ser parte integrante da estratégia para admi nistração da coleção). Que bom seria se todas as bibliotecas pudes sem contar com grupos de usuários se digladiando em torno do acer vo! Pelo menos, os bibliotecários teriam uma vida muito mais emo cionante ... Ironia à parte, as tensões em torno do acervo, embora em geral saudáveis, podem fazer do bibliotecário um refém de interesses di vergentes. Sem saber como foi parar no meio disso tudo, pode des cobrir que se transformou no árbitro de preferências talvez irrecon ciliáveis e está mergulhado em diferentes dilemas. Como fazer para negar-se a atender a determinada indicação sem ferir um grupo de usuários com uma representação forte na comunidade? Como atuar no sentido de beneficiar uma parte da comunidade constantemente preterida em suas pretensões? Ou, levando a situação para o lado mais pessoal, como recusar-se as sugestões do usuário x ou Y, que sempre foram tão simpáticos com a biblioteca e são tão atenciosos? E, pior ainda, fazer isso sem passar a ideia de estar tomando o parti do de um ou de outro, de estar perseguindo alguns, de ser mais simpático a alguém. Um documento de política de seleção bem-estruturado fornece 70 grande apoio nesses momentos. Os critérios de seleção devem fun cionar, para a biblioteca, como funcionam as leis para um pais: en quanto não são modificadas, devem ser obedecidas. O documento registrará os critérios de seleção vigentes na biblioteca; eles - e ape nas eles - deverão justificar todas as decisões. As pressões exercidas sobre o acervo só serão eficientemente enfrentadas com a utilização objetiva desses critérios. Essa objetividade só poderá ser comprova da se estiver registrada em um documento, que poderá ser apresen tado para justificar as decisões atuais e futuras. Em suma, um docu mento formal de política de seleção justifica-se por seu caráter: • administrativo, com a finalidade de garantir a continuidade dos critérios além da presença física de seus elaboradores; • de relações públicas, ao tornar a biblioteca simpática aos olhos da comunidade; e • político, ao proporcionar um instrumento para resistência ou ge- renciamento dos conflitos e pressões em torno da coleção. E, com essas últimas palavras, como diria Perry Mason, a defesa descansa, passando a tratar do detalhamento do instrumento de política. Componentes do documento de política de seleção Na realidade, não existe uma fórmula universal para elaboração do documento que conterá a política de seleção dos materiais nas biblio tecas. Cada profissional deverá analisar sua prática e o tipo de ins trumento que necessita como suporte a suas atividades. Alguns ne cessitarão de um documento extremamente detalhado, que defina todos os critérios e subcritérios passíveis de utilização. Para outros, critérios gerais serão suficientes como diretrizes para a seleção. Isto não fará diferença quanto à qualidade do instrumento. Uma política não será melhor por ser mais extensa (felizmente, somente o peso do documento ainda não é suficiente como indicação de sua adequação ou qualidade ... ). O melhor indicador da qualidade de uma política de seleção é o resultado proveniente da sua utilização: a coleção em si. Apesar de não ser possível fornecer uma receita universal, é ra zoável imaginar que alguns elementos deverão constar, ainda que 71 lutin Realce lutin Realce lutin Realce minimamente, de todo documento de política. A ordem como serão distribuídos, a importância dada a cada um, variará segundo os in teresses e particularidades da biblioteca ( como sugestão, no anexo 2, é apresentado um esquema geral para o documento, que deve ser adaptado de acordo com as necessidades). O documento de polític,a é um instrumento de trabalho para apoi ar as decisões de seleção. E, acima de tudo, um manual administra tivo e imagina-se que fará parte de um conjunto de documentos que guiarão as atividades ligadas ao desenvolvimento da coleção. Tal como acontece com qualquer instrumento administrativo, a elabo ração de um documento de política de seleção deve atender aos re quisitos de simplicidade (ser de fácil utilização), clareza (ser facilmen te compreensível) e veracidade (corresponder à realidade da institui ção à qual se aplica). Em linhas gerais, de um documento de política constam: • identificação dos responsáveis pela seleção de materiais; • os critérios utilizados no processo; • os instrumentos auxiliares; • as políticas específicas; • os documentos correlatos. Identificação dos responsáveis pela seleção de materiais. Para fins do documento de politica, é preciso que a responsabilidade pe las decisões de seleção esteja registrada de maneira clara e definida, a fim de evitar distorções ou desentendimentos. Se a decisão for de competência exclusiva dos bibliotecários, isto deve ficar bem claro no documento, bem como a legislação, interna ou externa, que lhe concedeu essa responsabilidade. Em casos de discordância com as decisões do bibliotecário, o documento deve informar a que autoridades superiores os recursos devem ser enca minhados e que medidas se tomarão a respeito. Se houver comissões de seleção, constarão do documento: • a forma como elas foram originalmente constituídas ou indicadas (lei, decreto, portaria, etc.); • a identificação dos membros e o período de mandato (em docu mento anexo); 72 í • a periodicidade das reuniões; • a organização das atividades da comissão, com as atribuições de seus membros (quem preside, quem secretaria, quem vota) e as formas para obtenção de consenso (maioria simples, maioria de dois terços, unanimidade, voto de qualidade, etc). Da mesma maneira, deve ficar evidenciado o relacionamento for mal da comissão de seleção com os bibliotecários e demais funcio nários da biblioteca, a fim de evitar que hierarquias organizacionais indevidas possam aparecer (assessores ou membros de comissão podem entender que possuem autoridade hierárquica sobre a equi pe da biblioteca, o que nem sempre corresponde à realidade). Con vém anexar à política um organograma da biblioteca, onde a posi ção hierárquica da comissão esteja bem-definida. Os critérios utilizados. Nesta seção, cada biblioteca relacionará, com o detalhamento conveniente, todos os critérios cotidianamente utilizados para a seleção dos materiais. Não é necessário expressar os critérios de forma literariamente atrativa. É fundamental, porém, que não deixem dúvida a respeito do que se almeja com eles. A enunciação do critério talvez não baste para a compreensão total, exigindo uma explicação objetiva de seu significado e como podem ser atendidos. Os instrumentos auxiliares. Todos os instrumentos auxiliares ou fontes de seleção utilizados como suporte à tomada de decisões devem ser mencionados. Se for o caso, devem ser distribuídos se gundo as áreas de interesse da biblioteca. Em bibliotecas especiali zadas, por exemplo, a definição de instrumentos auxiliares corretos é-decisiva para uma seleção mais eficiente. É aconselhável que o documento deixeclaro, para os funcionários envolvidos na seleção, como os instrumentos auxiliares são utiliza dos. Algumas bibliotecas podem definir, por exemplo, que um item só seja considerado para seleção se constar de determinadas biblio grafias ou receber apreciação favorável em um número mínimo de resenhas. Talvez valha a pena acrescentar um fluxograma de como as decisões de seleção são tomadas. As políticas específicas. Neste item serão detalhados, conforme a necessidade, os casos de seleção que devem merecer maior desta que. Muitas bibliotecas têm, por exemplo, políticas dirigidas para a 73 lutin Realce lutin Realce lutin Realce lutin Realce lutin Realce seleção de materiais não-convencionais ou para determinadas áreas do acervo, com critérios de seleção mais amplos ou mais rígidos, conforme os objetivos pretendidos. Cada instituição definirá a in clusão ou não dessas diretrizes específicas em seu documento de política de seleção, deixando claro se são provisórias.º� permanentes. A criação de novos cursos pode, por exemplo, ex1gtr que se rea lize uma seleção retrospectiva mais intensa, durante certo período de tempo. Coleções especiais (história local, obras rar_as, memóri,ada instituição, etc.) costumam ser contempladas neste item da poh tica de seleção. Os casos mais comuns e que talvez mereçam mais destaque di zem respeito ao recebimento ou aceitação de doações, em especial as espontaneamente oferecidas (presume-se que as solicitadas pela biblioteca foram objeto de seleção prévia) e aqueles casos em que os usuários solicitam reconsideração da decisão sobre materiais selecio nados. 74 8 Doações EM PRINCÍPIO, A DOAÇÃO é uma função de aquisição, assim como a com pra ou a permuta. O que a diferencia é que ela não precisa ser inici ada pelos bibliotecários. Quando isso acontece com muita frequên cia, podem surgir problemas de disponibilidade de espaço físico. Dependendo da sobrecarga de atividades do corpo técnico, os ma teriais podem acumular-se na biblioteca, à espera de uma decisão quanto à sua incorporação. Como evitar essa acumulação é uma preocupação sempre pre sente. Nem sempre é possível selecionar os materiais no momento de seu recebimento, e não seria sensato recusar doações porque não se tem tempo para avaliá-las: o risco de deixar de obter itens valio sos e importantes para o acervo é grande demais. Pode parecer que o bibliotecário fica no dilema do 'se correr o bicho pega, se ficar o bicho come'. Mas não é verdade. Em um país onde as bibliotecas e centros de informação são alvo de restrições orçamentárias, as doações são uma inestimável fonte para a aquisi ção de recursos informacionais: não podem ser absolutamente des prezadas ou encaradas de maneira superficial. A frequência com que uma biblioteca é procurada para a doação de materiais pode ser um sinal de seu prestígio junto à comunidade. Nem sempre é fácil para alguém dispor de materiais que adquiriu durante toda uma vida. Doá-los pode ser uma decisão doída e des pida de satisfação pessoaJ, a não ser a de saber que está entregando bens preciosos a alguém que deles tratará com carinho similar ao que receberam de seu dono. Qualquer usuário que procure a biblio teca para doar materiais merece o maior respeito, ainda que o seu oferecimento não seja relevante aos objetivos daquele acervo especí fico. 75 lutin Realce As bibliotecas foram criadas para atingirem objetivos específi cos, que nem sempre vão ao encontro dos interesses ou desejos dos doadores. Alguns almejam que suas doações recebam maior desta que no acervo, procurando indicar maneiras como deverão ser tra tadas após a aceitação (estantes diferenciadas, salas especiais, restri ções ao uso, etc.). Usuários que fazem esse tipo de proposta, embora guiados por boas intenções, estão interferindo na administração da coleção, que é competência dos bibliotecários, e ultrapassando a barreira do razoável. Devem ser preliminarmente esclarecidos a esse respeito, antes de concretizarem suas doações. Assim como inexiste uma fórmula para evitar que os materiais doados se acumulem, não há um jeito infalível para dissuadir os doadores de tentarem impor sua vontade. Definir uma política clara sobre doações, incorporá-la à política de seleção e torná-la pública é medida eficiente na administração de doações. Os casos em que a biblioteca aceita doações e como se propõe a tratá-las devem ficar claramente entendidos pelos doadores. A doa ção é um contrato de confiança entre doador e biblioteca: ambos devem estar concordes a respeito do que se está efetuando. Convém que o doador receba uma cópia da política de seleção e tome conhe cimento das diretrizes sobre materiais doados, que serão tratados de maneira igual à dos outros materiais, passando pelos mesmos critérios de seleção. Mas seria ingenuidade acreditar que o doador conhece e concorda com isso (talvez até concorde com relação às doações dos outros ... ). Formalizar o ato de doação é medida prudente no caso de recla mações. Um formulário simples, assinado pelo doador, registrando a data da doação e que tem conhecimento e concorda com a política da biblioteca costuma surtir efeito. A biblioteca pode fornecer uma carta ou declaração sobre o recebimento dos materiais e agradecen do ao usuário pela doação. Além de ser um gesto simpático repre senta o reconhecimento da importância da participação dos usuários no desenvolvimento da coleção. Modelos da política para doação e dos formulários são apresen tados nos anexos 3, 4 e 5. 76 9 Reconsideração da decisão de seleção NEM SEMPRE AS DECISÕES de seleção obtêm consenso. Às vezes, itens fav�r�velmente sel�cionados e adquiridos desagradam parte dos us_uanos,. que pressionam os responsáveis pela biblioteca para quese3am retirados do acervo. As razões e implicações dessas atitudes serão tratadas no próximo capítulo, mas é preciso partir da premis sa de que a probabilidade de ocorrerem não é desprezível. O mesmo se dá quanto a decisões de seleção contrárias à aquisição de docu mentos sugeridos pelos usuários, que insistirão para que a bibliote ca mude sua posição. � razoáve_l imaginar que essas pressões serão tanto maiores quanto n�a1or for o mteresse dos usuários pela coleção. Reclamações não sao necessru-iamente um incômodo a mais para o trabalho dos biblio tecár!os (bem, talvez algumas até o sejam), e devem ser previstos canais por ?�de sejam filtradas e ai1alisadas quanto à sua pertinên cia. :�r mais trreverente ou irrelevante que seja sua reclamação, todo usuano_merece receber dos bibliotecários o mesmo tipo de atençãoe respeito. Graças a essas reclamações, pode ficar evidente um descompasso entre as políticas da biblioteca e as características ou interesses da comunidade. A _mesma imparcialidade que se procura imprimir às decisões des�leçao deve ser dirigida às reclainações a respeito do processo. Teo ncai11ente ao me�os, a imparcialidade e a coerência no julgai11ento dessa� reclmr�a�oes deve'.iam ser a marca característica da atuação dos b1bltotecanos. Esse e um objetivo difícil de ser atingido, mas que ,�erece ser perseguido, ainda que seja apenas por autodefesa, ou se}a, p�ra evitai: maiores complicações. Todo e qualquer caso de msattsfaçao devera ser julgado à luz dos critérios de seleção utiliza dos na biblioteca. Se for comprovado que houve erro dos seleciona- 77 dores admiti-lo e tomar as medidas necessárias para sua correção é o mín 1 imo que se poderá fazer. Não haverá demérito algum para nin- guém nesse processo. . . . . � Embora não se deseje em absoluto restrmg1r o dtre1to qu: temº: usuários de discordar dos resultados do processo de seleçao, sera preciso algum grau de formalização, a fim de orientar a revisã� e organizar um eventual fluxo de reclamações, bem como para .regis trar todos os casos. Alguns por timidez, outros por desconhecimen to, os usuários podem ficar constrangidos por t_erem que �reenc�er um formulário de reclamaçãoe deixarão de registrar sua d1scordan cia. Devem ser elaborados instrumentos que possibilitem a adminis tração eficiente das insatisfações, não barreiras que desestimulem sua apresentação por escrito. Formulários bem-elaborados, acom panhados por uma atitude de disponibilidade e _boa vontade para com os usuários são uma grande ajuda nesse obJetivo. No anexo 6 apresenta-se uma sugestão de documento formal. 78 10 Tópicos especiais de seleção O ATO DE SELEÇÃO NÃO ocorre no vazio. É influenciado por diversos e dife rentes fatores, alguns mais corriqueiros e diretamente ligados à tomada de decisão, como o estado físico ou mental do selecionador, outros com plexos e distantes, como a infraestrutura editorial a que a biblioteca tem acesso. Ressalte-se que o elemento humano não pode ser ignorado em qualquer processo de tomada de decisão, e que a seleção está inserida em complexos sistemas sociais. Este capítulo está voltado para essa proble mática, embora não se busque esgotar o complexo de relações/interações sociais passíveis de interferir no processo de seleção. Imaginou-se que tentar abordar pragmaticamente alguns temas encontrados no dia-a-dia dos profissionais poderia trazer maiores benefícios para os leitores. Como toda seleção, a realizada para este capítulo também pode ser objeto de discordância e seria muito bom se isso acontecesse. Um dos itens importantes para destaque, a censura de materiais, já foi anteriormente abordado por este autor em várias oportunida des, por isso busco outro enfoque, fazendo referência a textos ante riores, quando for o caso. Outros tópicos têm sido abordados na lite ratura internacional, mas em geral sob o ponto de vista de bibliotecá rios de países mais desenvolvidos. Uma abordagem que leve em conta as características do país parece muito mais proveitosa, e ela será buscada nas páginas seguintes. A separação dos tópicos resultou mais ou menos superficial, aten dendo apenas a objetivos metodológicos e de clareza do texto, pois a relação entre eles é impossível de ser quebrada. Na realidade, eles devem ser vistos a partir dessa interação, e não como fatores isola dos, o que poderá facilitar a compreensão do fenômeno aqui consi derado, ou seja, a seleção. 79 Entre os tópicos para discussão estão as relações entre seleção e: formação profissional; censura; cooperação bibliotecária; e direitos autorais. Seleção e formação profissional Por muito tempo a seleção foi considerada como uma arte. Muitas páginas foram escritas comparando o trabalho do selecionador com o de um artista que, martelada após martelada, de uma pedra bruta faz surgir a figura de um deus grego. Isto significava dizer que ape nas bibliotecários com talento especiaJ poderiam desenvolver boas coleções. Aos outros restava dedicar-se à sublimação de suas deficiên cias, o que talvez, mas muito improvavelmente, seria atingido após 30 ou 40 anos de trabalho. Felizmente, essa visão parece ser hoje parte do passado. Já não se compreende a atividade do selecionador como uma arte, mas muito mais como uma função técnica que exige formação e treinamento. O domínio de algumas habilidades e conhecimentos básicos será ne cessário para todos os bibliotecários que desejem dedicar-se priori tariamente às atividades de seleção. O Brasil deu passos concretos rumo ao melhor equacionamento da formação profissional para a seleção de materiais em bibliotecas, ao introduzir a matéria formação e desenvolvimento de coleções no currículo mínimo dos cursos de biblioteconomia. Embora insuficien te, representa um avanço, pois um espaço para discussão da proble mática do desenvolvimento de coleções foi previsto, restando ape nas preenchê-lo adequadamente. Bibliotecários mal preparados para a tomada de decisão tomarão, obviamente, decisões inadequadas, prejudicando todos aqueles cujas necessidades informacionais devem ser atendidas pela coleção sob sua responsabilidade. Como preparar adequadamente esses profis sionais torna-se, então, a questão dominante. No Brasil, ao contrário de países mais desenvolvidos, praticamen te inexistem bibliotecários trabalhando em tempo integral na sele ção de materiais. Isto talvez explique porque as escolas dedicam 80 pouca prioridade a essa área, reservando-lhe uma percentagem pe quena do total de horas do currículo. Os conhecimentos obtidos em cursos formais de bibliotecono mia e documentação também variam de escola para escola. Um con senso sobre a bagagem de conhecimentos necessários a um selecionador está ainda por ser atingido. O mesmo se pode afirmar a respeito de quanto da formação profissional deve ser dedicado às atividades de seleção. Deve-se reconhecer que o bibliotecário brasileiro tem limitações em sua formação, no que tange à seleção de materiais. A maior tal vez se refira à inexistência de bibliotecário pós-graduado, aquele que, depois de ter obtido seu diploma de graduação numa área es pecífica do conhecimento, buscou o curso de biblioteconomia em nível de pós-graduação, a fim de trabalhar com a documentação da área em que se formou originalmente. Os cursos de pós-graduação em biblioteconomia e ciência da in formação já colocaram no mercado dezenas de alunos, a grande maioria constituída por bacharéis de biblioteconomia. Isso, embora contribua para o aprimoramento da profissão, não significa que se estejam formando bibliotecários especializados (ou especialistas bi bliotecários ... as palavras até começam a faltar). A legislação impede que os pós-graduados em biblioteconomia e documentação, que não sejam bacharéis na mesma área, registrem se nos conselhos regionais de biblioteconomia, requisito para o exercício da profissão. E parece digno de lamentação que, a conside rar-se a oposição dos conselhos, sindicatos e associações de bibliote cários à formação múltipla, as probabilidades de ocorrerem modifi cações nessa legislação são muito limitadas. Embora reconhecendo a insuficiência da legislação e criticando a posição dos organismos de classe, deve-se concordar que são bas tante limitadas, pelo menos a curto prazo, as consequências que a criação do bibliotecário especiaJista teria para o conjunto das biblio tecas do país. Provavelmente, afetaria muito mais as bibliotecas uni versitárias e os centros de informação do que as públicas e as poucas bibliotecas escolares existentes. Mas a necessidade de possuir habi lidades específicas para a seleção dos materiais, que seriam trans mitidas pela educação formal dos bibliotecários, não deixa de exis tir. Mesmo bibliotecários com dupla formação correm o risco de não 81 encontrar espaço no mercado de trabalho de sua área, tendo que atuar na seleção de materiais de outras áreas. Se as atividades de seleção dependessem apenas do domínio da área de assunto, não haveria razões para que sua discussão fosse realizada nos parâme tros dos cursos de biblioteconomia e ciência da informação, passando se essa responsabilidade para as outras áreas do conhecimento. Como esse não parece ser o caso, algo reconhecido até mesmo na literatura biblioteconômica proveniente de países mais desenvolvi dos, deve-se buscar um corpo básico de conhecimentos ou habilida des passíveis de serem transmitidos em cursos de graduação e q�e possibilitem aos bibliotecários atuar de forma eficiente na seleçao de materiais. Considerando-se as limitações em relação ao domínio do con teúdo dos documentos, não seria realista esperar que ele fosse pro porcionado por meio de um curso de graduação (exist:m hr�1i_tes para a absorção de conhecimentos). Tudo indica que a seleçao dmg1da para áreas especializadas seja tema para a educação contínua do bi bliotecário, tratada em cursos de especialização ou pós-graduação, e não em cursos normais de graduação. Em geral, para atuar na seleção de materiais, o bibliotecário de- verá ter recebido, na graduação, as informações necessárias para: a) reconhecer as particularidades da produção de conhecimentosnos grandes ramos das ciências humanas, exatas e biológicas, e como essa produção se reflete na literatura de cada uma (uma abordagem gera] sobre a bibliografia das grandes áreas será de grande utilidade para os futuros selecionadores); b) ter familiaridade com a indústria de produção de conhecimen tos, tanto de produtos tradicionais como não-tradicionais (por exemplo, periódicos eletrônicos e fontes disponíveis via internet); c) identificar e utilizar com independência os instrumentos auxilia res de seleção mais importantes em cada área; d) avaliar com eficiência os benefícios que podem ser obtidos pela cooperação e compartilhamento de recursos informacionais; e) atuar em comissões de seleção ou grupos de trabalho dirigidos à seleção dos materiais; f) identificar as necessidades dos usuários e as particularidades da 82 área de conhecimento em que atua, consubstanciando-as em cri térios de seleção; g) analisar objetivamente os materiais, não permitindo que suas cren- ças e preferências pessoais interfiram em sua decisão; h) elaborar documentos de política de seleção. Nem todas as habilidades necessárias à seleção de materiais podem ser academicamente transmitidas. Algumas exigirão muitas horas de prática e familiaridade com os assuntos da biblioteca e com os instrumentos auxiliares utilizados. Neste sentido, o treinamento em serviço, supervisionado por profissionais mais experientes, pode ser uma maneira eficiente para a formação dos bibliotecários que deve rão assumir a responsabilidade pela seleção. Os cursos de bibliote conomia poderiam colaborar muito nesse aspecto, dando especial destaque às atividades de seleção durante o período de estágio su pervisionado dos alunos. Seleção e censura As relações entre seleção e censura já foram tratadas tanto em meu livr_o sobre ?esenvolvimento de coleções como em dois artigos. Não serao repetidas para não cansar os leitores que já tenham conheci mento desses textos. No entanto, como qualquer trabalho sobre se leção de materiais em bibliotecas ficaria incompleto sem uma dis cussão sobre censura, ela será aqui abordada, buscando-se, entre tanto, um enfoque diferenciado. Quando mencionei o poder que os bibliotecários possuem ao tomar decisões de seleção, a ideia de censura ficava subjacente. Num país onde as bibliotecas recebem pouca atenção das autoridades governamentais, tanto em termos de recursos financeiros como do monitoramento de suas atividades, visando minimamente verificar o quanto estão atingindo seus objetivos; num país onde, em geral, a comunidade pouca atenção dá à maneira como os acervos informa cionais a que tem acesso são constituídos, confiando, aparentemen te sem restrições, nos critérios dos que decidem em seu nome; num país onde as classes menos privilegiadas encaram todas as bibliote cas como benesses concedidas por governantes magnânimos e sen tem-se extremamente gratas por quaisquer migalhas que lhes são 83 concedidas; enfim, num país onde o preço dos materiais informacio nais tem características proibitivas para aquisição própria, pelo me nos para a grande maioria da população ... o poder daqueles que decidem sobre a constituição dos acervos pode ser muito grande. Tanto para o bem como para o mal. Aparentemente, não foram ainda realizadas pesquisas neste país para verificar como os bibliotecários envolvidos com a seleção de materiais comportam-se em relação à censura. Em geral, pode-se imaginar que a grande maioria dos profissionais, se consultada a respeito, certamente se manifestaria contrária a atos de censura e levantaria os velhos paradigmas profissionais sobre a importância da disseminação da informação e a inestimável contribuição do bi bliotecário no fornecimento de informações à comunidade. A pro fissão está repleta de expressões eufonicamente atrativas, que funcio nam mais ou menos da mesma forma como os dogmas funcionam para os grupos religiosos (algum dia seria bom alguém tentar elabo rar uma lista a respeito), e a tentação de citá-las é quase sempre irresistível. Levantamentos de opinião entre os bibliotecários têm geralmente demonstrado o quanto eles são avessos à censura de materiais. Pelo menos nesse aspecto, parece haver razões para se res pirar com um pouco de tranquilidade ... Tudo isso parece lógico e é reconfortante encontrar uma catego ria de profissionais que publicamente defende uma postura tão libe ral como sua filosofia de trabalho. Os bibliotecários norte-america nos chegaram a elaborar cartas em defesa da liberdade intelectual e travaram verdadeiras batalhas judiciárias, e às vezes físicas, com passeatas e tudo o mais, em defesa do direito de o usuário ter acesso à totalidade de opiniões sobre todos os assuntos (mais sobre essa luta pode ser encontr!:ldo em meu livro Desenvolvimento de coleções). Têm mantido uma luta cerrada - como os norte-americanos gos tam de dizer: uma eterna vigilância! - contra todas as tentativas de censura que autoridades governamentais ou grupos minoritários, e mesmo majoritários, possam querer exercer sobre a seleção do acer vo. O mérito dos bibliotecários que alguma vez se levantaram em defesa da liberdade intelectual deve ser reconhecido e proclamado. Não há como discordar de sua posição. Mas é preciso reconhecer que, embora a 'filosofia' da liberdade intelectual seja inatacável, situações concretas poderão eventualmen- 84 te colocá-la em discussão. Os bibliotecários, por mais que queiram viver, como diria Voltaire, no "melhor dos mundos possíveis", po dem acabar descobrindo que vivem em uma realidade demasiada mente frustrante para quem possui como única defesa a arma dos nobres ideais. Tem-se a impressão de que as discussões sobre censu ra no meio bibliotecário acabam se deixando levar pela ingenuida de, imaginando que os corações puros são monopólio da profissão, ou que todos os ataques ao acervo sob responsabilidade dos profis sionais provêm de vilões mal-intencionados. Muitas vezes isso acontece, realmente. A imagem de uma Bette Davis bibliotecária enfrentando com denodo as políticas restritivas à liberdade intelectual no filme No despertar da tormenta (Storm center), de 1956, é o exemplo mais claro de como as atividades profissionais podem beneficiar a coletividade, ainda que o preço a pagar possa ser alto em termos pessoais e profissionais. Basta lembrar que essa biblioteca é incendiada, o que significa que a personagem represen tada por Bette Davis acabou perdendo o em prego (lá vou eu de novo contando o final do filme ... ). No exemplo utilizado acima, as razões para lutar contra a censu ra pareceriam evidentes a qualquer bibliotecário. Imagina-se que, como fez a profissional retratada no filme, qualquer profissional entenderá ser seu dever insurgir-se contra todas as orientações res tritivas que um pequeno número de indivíduos, momentaneamente detentores do poder, queira exercer sobre a biblioteca, principalmente quando tal acontece à revelia do resto da sociedade. No caso em questão, tratava-se de momentos muito difíceis, a época da chama da 'caça às bruxas' nos Estados Unidos, quando as autoridades go vernamentais J sob o pretexto da infiltração soviética no país, atenta vam contra a liberdade individual de toda a sociedade norte-ameri cana, desrespeitando, inclusive, a própria constituição. O papel do bibliotecário na preservação da liberdade intelectual dos usuários é extremamente exaltado no filme, talvez na melhor representação da profissão já levada às telas cinematográficas, e ao vê-lo é difícil dei xar de sentir orgulho por fazer parte dessa profissão. O Brasil tam bém viveu momentos parecidos na época da ditadura militar, em bora, infelizmente, não haja muitas notícias sobre igual tipo de rea ção dos bibliotecários brasileiros. Aos bibliotecários cabe talvez desempenhar um papel único, com 85 o objetivo de garantir que todos os membros da comunidade tenham acesso às informações necessárias e importantes para suavida. Isto inclui a luta contra as tentativas de censura aos materiais da biblio teca da forma como o fazem os bibliotecários norte-americanos. É importante que a categoria profissional se organize para dar supor te a seus membros, estabelecendo padrões de comportamento e nor mas de conduta para esses casos. E covardia obrigar um profissional a lutar sozinho contra atitudes arbitrárias das autoridades, nos vários níveis de governo. É isto que na prática se está fazendo quando se deixa o bibliotecário órfão em termos de diretrizes para ação contra a censura às bibliotecas como no que se refere a estratégias para mobilização da categoria para um posicionamento conjunto dos pro fissionais quando casos de censura são identificados. Neste sentido, o caminho a ser percorrido pelos bibliotecários brasileiros parece ser ainda bastante longo. Felizmente, nada parece indicar que a segunda década dos anos 2000 venha a ser muito problemática em termos de censura gover namental. A Constituição brasileira proíbe de modo taxativo o exer cício da censura, em todas as suas formas. Ela certamente poderá, e deverá, ser utilizada como arma contra tentativas de censura às bi bliotecas. Mas a censura governamental não é a única com a qual o bibliotecário pode entrar em contato em sua vida, apesar de ser tal vez a mais deletéria e que maiores preocupações costuma trazer. Outras formas de censura, nem sempre muito claras e nem sempre entendidas como tal, podem surgir no dia-a-dia, trazendo outros dilemas ao exercício profissional. Alguns membros da comunidade podem sentir-se descontentes com a forma como está sendo constituído o acervo das bibliotecas às quais têm acesso e solicitar aos responsáveis pela seleção que modi fiquem os critérios adotados ou retirem da coleção todos aqueles títulos dos quais eles, os membros da comunidade, discordam. Gru pos religiosos ou associações preocupadas com a moral e os bons costumes exercem pressões desse tipo, com maior ou menor suces so. Nos últimos tempos eles têm dirigido suas baterias mais contra os meios de comunicação de massa, como a televisão ou o rádio, do que contra as bibliotecas, mas isso não significa que não venham a fazê-lo no futuro (ou mesmo que não o estejam fazendo agora, sem a mesma publicidade). Sob certos aspectos, combater essas atividades 86 de censura é mais complicado do que enfrentar as autoridades do governo. Objeções quanto aos 1rn1teriais constantes do acervo podem pro vir tanto de grupos minoritários inexpressivos, defendendo posi ções extremas e isoladas, como da maioria da sociedade, expressan do uma preocupação generalizada. Nem sempre é muito fácil carac terizar aqueles que pressionam a biblioteca para retirar materiais do acervo como sendo os vilões mal-intencionados referidos algumas páginas atrás. Em número talvez expressivo, trata-se de indivíduos preocupados com a coletividade, que merecem pelo menos o res peito dos bibliotecários. Não seria correto ridicularizá-los por causa dessa preocupação, embora possa parecer que estão equivocados em seus objetivos. Assim como o bibliotecário tem o direito de achar importante que a comunidade tenha acesso a todos os documentos ou informações disponíveis, a comunidade tem o direito de não de sejar que alguns desses itens, contrários àquilo em que a comunida de acredita, estejam disponíveis naquelas instituições que ela man tém, como as bibliotecas públicas. Ninguém pode ser pejorativamente taxado de censor por estar exercendo um direito. A comunidade tem o direito de se defender. Em casos como o acima mencionado, em que uma legítima dis cordância da comunidade encontra expressão concreta - a não-in clusão de determinados materiais naquelas instituições mantidas financeiramente pela sociedade-, a luta para fazer valer as diretri zes éticas profissionais que orientam para a disponibilidade irrestrita de todos os materiais informacionais independentemente dos pon tos de vista que defendam será complexa e sujeita a um maior nú mero de questionamentos. Sob esse aspecto, vale a pena urna reflexão maior: embora pare ça, e sob certo ponto de vista realmente seja, uma atitude lastimável, ceder às pressões legítimas da sociedade, retirando do acervo um documento tido como impróprio pela maioria de seus membros, não é a mesma coisa que impedir totalmente que diferentes ideias te nham possibilidade de ser disseminadas, como acontece quando a publicação de determinados livros é proibida ou os jornais são sub metidos a censura prévia. Os usuários interessados nos materiais excluídos continuarão a ter acesso a eles por intermédio de outras instituições, como as livrarias ou as bibliotecas mantidas por insti- 87 tuições privadas. Parece lógico que as instituições mantidas pela comunidade devam ter o ponto de vista dessa mesma comunidade como seu principal parâmetro de seleção. Isto não quer dizer que o profissional deva concordar com a po sição da maioria (que decidiu pela retirada dos materiais) e nem o isenta, tampouco à categoria como um todo, de tentar convencê-la de que a longo prazo as consequências da remoção de certos títulos do acervo poderão ser mais nefastas do que os benefícios imediatos. Os bibliotecários estão em posição privilegiada para argumentar neste sentido, pois têm uma visão conjuntural da ampliação de pers pectivas que a informação oferece à sociedade. Talvez o que deva mesmo preocupar seja a constatação de que os bibliotecários muitas vezes definem-se como os árbitros definitivos ou os únicos filtros das ideias disseminadas na sociedade, decidindo em seu próprio nome, e de acordo com a sua própria visão de mundo, sobre aquilo a que os leitores poderão ou não ter acesso. Nem sem pre isso é consciente ou percebido como censura, sendo realizado com base em um variado número de razões e justificativas que po dem até parecer bastante razoáveis a seus perpetradores. Mas é um ato de censura. Estabelecer alguns mecanismos administrativos míni mos, tais como os critérios ou a política de seleção, que proporcionem aos bibliotecários uma arma contra suas próprias e eventuais fra quezas ou tentações, é no mínimo uma atitude de prudência. Um cuidado especial com a formação profissional, inclusive em termos de educação contínua, também parece ser uma medida necessária para aprimoramento da atuação dos profissionais da informação. Seleção e cooperação bibliotecária A produção editorial atual alcança números quase incontáveis, com novos títulos sendo publicados a cada instante. Nesse contexto, o universo para as decisões de seleção ampliou-se consideravelmente. A diversidade de formatos trouxe novos complicadores para a seleção, pois não se trata mais de apenas identificar e selecionar materiais impressos, mas também os meios audiovisuais e eletrônicos, além da extensa produção digital disponível na internet. Os bibliotecários não produzem os documentos que selecionam e não podem fazer com que o mercado altere seu ritmo de produção, ainda que isso 88 represente uma avalanche de materiais redundantes, inexpressivos e muitas vezes descartáveis. Diante dessa realidade, conhecimentos precisos a respeito de como funciona a indústria editorial, cm todas as suas modalidades, serão úteis aos profissionais responsáveis pela seleção. Todo biblio tecário precisará familiarizar-se com as editoras mais importantes em sua área, de modo a identificar os títulos imprescindíveis à biblio teca e garantir que tal objetivo se concretize. Apesar disso, será impossível a qualquer instituição bibliotecá ria atingir a auto-suficiência em termos de acervo. Mesmo refinan do ao máximo a seleção, de modo a só incluir materiais de máxima prioridade, as limitações orçamentárias, para não falar das físicas, espaciais e de recursos humanos, farão com que muita coisa valiosa deixe de fazer parte das coleções. É primordial contar com canais alternativos de acesso ao documento primário, de modo a garantirque os usuários possam utilizá-lo. Há algum tempo os bibliotecários no mundo inteiro vêm-se preo cupando com essa questão. As redes e sistemas de bibliotecas, que são uma tendência generalizada, procuram alcançar o objetivo de dar eficiência à totalidade do universo informacional existente em uma região ou país e maximizar a utilização de recursos limitados. Bibliotecas isoladas têm suas chances de correto atendimento das demandas informacionais de seus usuários comprometidas, fazen do com que a cooperação entre as instituições da área se torne uma imposição para a própria sobrevivência da biblioteca. Inicialmente, esta cooperação costumava dar-se de maneira in formal, por iniciativa individual de profissionais que conheciam as coleções existentes em bibliotecas vizinhas e, muitas vezes de co mum acordo com seus pares nas outras instituições, definiam suas prioridades de seleção, de maneira que um acervo suprisse as defi ciências do outro. Isto na prática se efetivava por meio do que costu ma ser denominado empréstimo entre bibliotecas, pelo qual uma instituição solicita material por empréstimo a uma outra, para aten der a um usuário específico. Bibliotecas especializadas brasileiras têm tradicionalmente utilizado essa modalidade de cooperação, in clusive contando com funcionários que desempenham essas funções percorrendo as diversas bibliotecas em veículo da instituição, a fim de recolher e, depois, devolver os materiais requisitados. 89 O empréstimo entre bibliotecas é uma alternativ� relativamente simples para sanar deficiências do processo de sel�çao. Graças a ,el�,títulos monográficos que não puderam ser adqumdos ou penod1- cos cujas assinaturas foram descontinuadas devido a restrições or çamentárias podem chegar às mãos do usuário final, pe�·mitindo �ue a biblioteca cumpra o seu papel de disseminadora de mformaçoe�. Essa possibilidade é um aspecto a ser considerado quan�o da deci são de seleção, para utilizar eficientemente os recursos fmance1ros disponíveis. É importante, no entanto, salientar alguns cuidados que necessi tam ser tomados quando dessa consideração: 1) garantia de acesso: nem sempre, por razões de política instituci onal ou visando maior preservação do material, o acesso ao do cumento primário é permitido pela outra instituição, frustrando o empréstimo entre bibliotecas. Mesmo quando existe essa ?ª rantia, mudanças de política podem jogar por terra o obJetivo pretendido: antes da tomada de decisão, é preciso estar seguro de que o acordo existente irá manter-se no futuro;_ 2) possibilidades práticas de acesso: bibliotecas convivem com res trições orçamentárias que podem implicar demora na ch�gada do material nas mãos do usuário. Dificuldades em conseguir um veículo ou funcionário para buscar o item na outra instituição às vezes comprometem a política de fornecimento de informações e deixam o usuário insatisfeito com os serviços da biblioteca; 3) ônus para o usuário: algumas bibliotecas passam a responsabili dade pela retirada do material ao próprio usuário, fornecendo lhe apenas o formulário preenchido e deixando que ele realize todos os deslocamentos necessários. Essa é uma alternativa mui to cômoda para a biblioteca, que certamente justificará essa me dida e até se vangloriará de pelo menos estar possibilitando algu ma saída para atender uma demanda, embora não tenha condi ções de satisfazê-la com recursos próprios. Cabe, _no ent�nto, u'.11ªreflexão a respeito das implicações éticas que uma atitude tipo Pôncio Pilatos pode ter em um contexto de atuação profissiona_l.Em aula, costumo teatralizar o calvário que os estudantes da Urn versidade de São Paulo (usr), onde essa prática é normalmente 90 utilizada, têm que percorrer quando necessitam de um material que consta do acervo de outra biblioteca da própria usr: a) verificam no acervo da biblioteca de sua escola ou faculdade (não existe); b) verificam no sistema Dedalus, o catálogo online que contempla todas as bibliotecas da universidade, em qual coleção ele consta (conseguem localizá-lo na biblioteca x); c) como a biblioteca x já implantou o empréstimo automatizado, verificam on-line a disponibilidade do material (está disponível); d) realizam uma reserva on-line, para garantir que o material não seja emprestado a outros; e) solicitam o impresso de empréstimo entre bibliotecas à bibliote- ca de sua escola (em várias vias); f) deslocam-se até a biblioteca x para realizar o empréstimo; g) após a utilização, devolvem o material à biblioteca x; h) retornam a via correspondente do impresso, devidamente ano tada, à biblioteca de sua escola. 4) Custo para a biblioteca: nem sempre essa problemática é suficien temente equacionada pelos profissionais. Dependendo da frequência com que determinados títulos são necessários, o custo para obter o material mediante empréstimo entre bibliotecas acaba sendo superior a seu custo de aquisição e manutenção. Um estudo cui dadoso de todos os custos envolvidos na realização dos emprésti mos (desgaste do veículo, combustível, tempo dos funcionários, etc.), comparando-os com os que se teria caso o material fosse adquirido pela biblioteca, poderá ajudar a esclarecer essa ques tão. Infelizmente, os custos relacionados com o usuário, ou seja, quanto custa para ele não ter acesso imediato ao material, con tentando-se, ou sendo obrigado a contentar-se, em esperar um certo período, são mais difíceis de computar. Mas o empréstimo entre bibliotecas é apenas uma das alternativas existentes para a cooperação bibliotecária. Iniciativas mais estrutu radas, com a constituição formal de consórcios, redes de cooperação ou sistemas de bibliotecas estão se tornando cada vez mais comuns em nosso meio. Nesses casos, são introduzidos mecanismos admi- 91 nistrativos voltados para a seleção planificada ou cooperativa das coleções, garantindo que a acessibilidade aos materi�s _mais rele vantes em cada uma das instituições reunidas em consorcio, rede ou sistema possa ocorrer da maneira eficiente. V�ri�s estruturas_ orga nizacionais têm sido introduzidas com esse obJetivo, com maior ou menor sucesso. Tem-se, nesses casos, uma organização formalmente estabelecida quanto aos deveres e direitos de cada uma d_as ins�itu! ções componentes, de maneira que a atuação de uma nao i:reJ�d� que as demais. Esta tem sido uma �lternativa _b�scada por mshtuições da área universitária, nas quais os �enefic1os_ a�abam ficando muito mais evidentes do que em outros tipos de bibliotecas. Em âmbito maior, a cooperação bibliotecária ocorre mediante o fornecimento de fotocópias ou cópias escaneadas, em �nbito_nac!o nal e internacional. Trata-se provavelmente da forma mais cornqueira de cooperação entre instituições bibliotecárias, na qual u�:1ª. biblio teca obtém cópias de materiais, em geral artigos de penod1cos ou capítulos de livros, solicitados pelos seus usuários. Ao 1-r:i�smo tem po, fornece cópias de materiais de seu ac�rvo para usuar1os de ou tras comunidades. Sob certos aspectos, e um desdobramento do empréstimo entre bibliotecas, a única diferença sendo �ue, n? �or necimento de fotocópias ou cópias escaneadas, o material ongmal não é retirado da instituição. O Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (m1cT), por meio do prograina coMUT, administra uma rede de forn� cimento de fotocópias e cópias escaneadas, que envolve a padroni zação de rotinas, impressos, prazos, preços, etc. Parte do custo desse serviço costuma ser repassado ao usuário final, representa:1do um ônus que ele não teria se o documento original fosse possuido p�la instituição que ele utiliza. Tendo em vista q benefício que o matenal pode lhe trazer, talvez seja até possível considerar este um custo de menor importância, embora essa decisão tenha que ser tomada pelo usuário. Nos serviços de fornecimento de fotocópias e cópias escanead�s, é preciso atentar para os custos: dependendo do volume de empres timos, a biblioteca pode despender maispara ter acesso remoto aos documentos do que se os adquirisse e mantivesse em seu acervo, 92 mesmo considerando que parte dos custos é repassada ao usuário final. Seleção e direitos autorais Em um primeiro momento, pode até parecer que não existe qual qu�r relação entre os direitos autorais e as atividades de seleção. Afmal, alguns argumentarão, os bibliotecários estão acima dessa questão: não se beneficiam diretainente com o empréstimo dos li vros e outi'.os materiais de informação, pois em geral não estipulain qualquer tipo de taxa para o empréstimo ou a utilização dos docu mentos no recinto da biblioteca; não recebem qualquer percentagem q�ando selecionam ou adquirem novos títulos; não sonegain os di reitos dos autores, pois adquirem os materiais mediante canais le galmente constituídos. Os bibliotecários, em sua atividade de sele ção e em qualquer outra, são os maiores incentivadores dos direitos autorais, pois possibilitam a circulação de suas coleções, divulgan do seus autores e possibilitando-lhes a ainpliação de seu público. Os autores deveriam ficar até agradecidos aos bibliotecários pelo que realizam em benefício deles ... A rigor, os bibliotecários parecem ter alguma razão em seus ar gumentos. O empréstimo de livros em bibliotecas foi tradicional mente �ncarado,. inclusive pelos próprios autores e uma boa parte dos editores, mais como uma ajuda na divulgação do material do que como um prejuízo monetário. Apesar disso, é certo que pelo menos uma parcela dos leitores deixa de adquirir determinados materiais por ter acesso a eles nas bibliotecas. Isto significa uma per da para os autores, que deixam de receber os direitos autorais cor respondentes a essas vendas não realizadas. Mas isto também não é tão preocupante, pois dificilmente todos os leitores que tirarain um determinado título por empréstimo iriain de fato comprá-lo. Talvez alguns o fizessem, provavelmente uma percentagem pequena, não mais que dez por cento do total. Os restantes noventa por cento cons tituem uma comunidade que não teria acesso àquela produção e não poderia usufruir aquela mensagem, se não fossem os serviços de informação. Neste sentido, o aspecto democratizante das bibliote cas é mais uma vez enfatizado. Além disso, essa comunidade bene ficiada pelos serviços de informação será um polo de disseminação 93 das ideias dos autores com que entraram em contato, e também po derá exercer influência sobre a biblioteca quanto à seleção de obras futuras, numa espécie de compensação pelos direitos autorais que pretensamente não teriam sido recebidos. Boa parte das reclamações quanto à perda de direitos autorais devida à atuação das bibliotecas provém mais das editoras do que dos próprios autores. Os _autores estão mais preocupados com seu direito moral de autor - o de ter seu nome vinculado a uma obra e ser reconhecido como seu criador intelectual - e em divulgar o seu trabalho e suas ideias, encarando positivamente as atividades das bibliotecas e inclusive colaborando com elas. Os editores, como empresários, costumam aplicar um enfoque mais comercial às suas atividades, dando ênfase ao direito patrimonial de autor - o de rece ber retribuição pecuniária pela obra publicada. Ao defenderem o pagamento dos direitos autorais, geralmente equivalente a dez por cento do preço de venda, as editoras parecem estar mais preocupa das com a parcela do lucro que lhes cabe e deixa de ser coletada do que com os direitos autorais propriamente ditos. Independentemente de suas motivações, a pressão dos editores sobre as bibliotecas costuma ter uma certa intensidade, em geral ten tando evitar a reprodução fotográfica dos documentos pelos usuários. Em alguns países, como a Inglaterra, essa pressão foi até mais longe, forçando as bibliotecas a pagarem uma taxa pelo empréstimo dos livros. No Brasil, ainda não se chegou a tanto, mas também não se pode dizer que os editores tenham se mantido inativos a respeito. Frequentemente, novas tentativas são realizadas visando cercear o uso de fotocopiadoras nas bibliotecas, com o argumento de que elas trazem prejuízos aos autores. É evidente que os produtores intelectuais necessitam receber justa recompensa por sua produção científica ou literária. Sem essa re compensa existiria pouco incentivo para o trabalho intelectual. Por outro lado, a sociedade não pode, para beneficiar os autores, con cordar que uma parte da população deixe de usufruir dessa produ ção intelectual. Entre outras coisas, as bibliotecas existem para cor rigir ou minorar as distorções eventualmente existentes. Os países têm leis que regulamentam os direitos autorais. Exis tem inclusive convenções internacionais, como as de Berna (1886), Bruxelas (1948) ou Estocolmo (1967). A legislação brasileira de di- 94 reito autoral, vigente em 2010, é a lei 9 610, de 19 de fevereiro de 1998. Ela substituiu a legislação anterior, que era da década de 1970, incluindo as novas tecnologias informacionais que surgiram depois dessa data. A lei br�sil_eira é bastante abrangente em termos de princípios �e�·ais de d_ire1t_? de a�to_r, definindo algumas situações em que é licita a real1zaçao de copias de materiais. No capítulo dedicado às limitações dos direitos autorais, a lei estipula que não constitui ofensa aos direitos autorais "a reprodução, em um só exemplar de peque nos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de lucro". Isto diz respeito diretamente às bibliotecas, pois significa que um estudante ou um usuário pode tirar uma có pia de um artigo de periódico ou de um capítulo de livro para uso próprio, sem que esteja transgredindo a legislação ou ferindo os di reitos autorais. Essa permissão é reconhecida internacionalmente, sendo denominada fair use, isto é, uso correto ou justo. Se alguém resolver fazer várias cópias do material, revendendo-as com lucro, estará desenvolvendo uma atividade ilegal e, portanto, sujeito aos ditames da lei. As atividades de cooperação bibliotecária fazem com que a pro blemática da realização de cópias dos documentos apareça de modo mu_ito mais frequente para os bibliotecários. Uma biblioteca que, por meto do serviço de comutação bibliográfica, obtém um documento ou uma cópia para um usuário, inclusive, muitas vezes, cobrando uma taxa por esse serviço, ou seja, obtendo um pequeno lucro, dei xou efetivamente de adquirir aquele material; em consequência, deixou de realizar o pagamento dos direitos autorais corresponden tes. Quando esse fato ocorre uma vez ou outra, pode até ser conside rado de menor importância, concentrando-se a atenção no benefício que foi possível obter. Mas, quando os materiais são solicitados por meio da comutação bibliográfica com uma frequência acima de es porádica, pode-se com justiça questionar se e quanto seus autores estão se��� prejudicados em termos financeiros. Essa é uma per gunta d1f1c1I de responder, pois isso exigiria um acompanhamento bastante rígido das atividades de comutação, de modo a definir onde os exageros se localizam. Esse fato afetará muito, por exemplo, as assinaturas de periódi cos. Nos Estados Unidos, a lei estipula que uma biblioteca pode so- 95 licitar um título de periódico por comutação bibliográfica um máxi mo de seis vezes ao ano, sem a obrigatoriedade de efetuar o paga mento dos direitos autorais; uma frequência superior caracterizará, segundo a legislação norte-americana, uma opção pela obtenção de cópias, deixando-se de efetuar a assinatura do periódico ( aliás, é importante lembrar que a palavra inglesa copyright é muito melhor traduzida como direito de cópia do que exatamente como direito de autor). Essa preocupação intensificou-se com o aparecimento de empresas especializadas no fornecimento de cópias de artigos de periódicos, que recebem pagamento por elas. Com a popularização das máquinas de fax e das diversas modalidades de comunicação eletrônica, essa atividade ampliou-se, constituindouma área comer cial em expansão. As empresas que atuam nessa área são obrigadas a incluir na conta um valor equivalente ao pagamento dos direitos autorais, normalmente calculado como uma percentagem do total, o que às vezes faz com que a obtenção de uma cópia de um simples artigo fique mais cara do que a aquisição de todo o volume do mes mo periódico. Esse valor costuma ser repassado para o usuário, en carecendo o processo de obtenção de informações. Parece um pouco de ingenuidade acreditar que os autores dos artigos serão beneficia dos com isso, ainda mais quando se considera que as editoras de periódicos científicos exigem, para a aceitação de trabalhos para publicação, que os autores assinem um compromisso cedendo-lhes seus direitos autorais. Os editores de periódicos não ficaram inativos em relação ao uso generalizado de cópias de seus materiais nas instituições bibliotecá rias. Com a justificativa de contrabalançar suas perdas, definiram que as bibliotecas pagariam um preço diferenciado pelos periódicos, superior ao pago pelo assinante individual. Isto, no entender deles, atua como um elemento compensador para os leitores extras, não pagantes, a que as bibliotecas atendem. Para as bibliotecas, é claro, essa medida é um inconveniente, au mentando suas dificuldades para aquisição de materiais. Mas pode ser vista como um elemento de despreocupação no que se relaciona à responsabilidade dos bibliotecários quanto aos direitos autorais, pois essa quantia adicional significa o pagamento desses direitos. Neste sentido, não existem, realmente, motivos para dramas de cons ciência por colocar os materiais à disposição de um grande público 96 ou possibilitar, instalando uma fotocopiadora na biblioteca, que to dos os interessados tirem cópias para uso próprio. Nem é necessá rio, como fazem os norte-americanos, colocar um aviso a respeito dos direitos autorais nas fotocopiadoras - como fazem os fabrican tes de cigarros, quando imprimem nos maços do produto que 'fu mar é prejudicial à saúde' ... - alertando sobre os males que as cópias podem trazer aos autores do textos copiados. Por outro lado, não se deve assumir uma atitude leviana em rela ção à utilização de cópias no dia-a-dia da administração das cole ções. O custo relativamente baixo das cópias pode tornar irresistível a tentação de incorporar ao acervo uma cópia feita localmente, ao invés de adquirir o material pelos canais normais. Isso acontece em relação a títulos importados, cujos preços e mesmo as dificuldades burocráticas para aquisição funcionam como elemento desestimu lador. Parece mais fácil, simples e barato fazer uma cópia integral do material, obtido por comutação bibliográfica ou deixado pelos li vreiros como demonstração, do que se engajar no processo de com pra. As implicações éticas de tal procedimento são mais do que evi dentes para serem enunciadas. Mesmo essá atitude tem atenuantes. Veja-se este caso: a bibliote ca decidiu adquirir um título e providenciou sua inclusão na próxi ma aquisição. Vários fatores, no entanto, impedem a disponibilida de imediata do material para os usuários: • o fornecedor levará um certo período de tempo para efetivar a entrega; • a verba para aquisição demorará a ser liberada; • o título encontra-se esgotado. Nesses casos, é possível defender a elaboração de cópias para aten der à demanda mais imediata, com sua consequente eliminação quan do os materiais estiverem efetivamente disponíveis. Os mesmos argumentos poderiam ser usados quanto a cópias extras de materiais existentes no acervo, a fim de atender a aumen tos imprevistos da demanda. A substituição por fotocópias de mate riais totalmente danificados ou comprometidos por uma utilização intensa parece justificar-se no caso de títulos esgotados. 97 Embora os exemplos utilizados tenham se_referi?� apenas a documentos impressos, a preocupação em relaç�o _a co�1as este-�de-se a todos os tipos de materiais. Por exemplo, copias nao-autou�adas de filmes em DVD, também conhecidas como DVDS plfatas, constituem violação dos direitos autorais de toda �1�a classe artística e sua �qu1- sição deve ser evitada por parte da b1bhoteca, de modo que na? se torne cúmplice em uma violação da lei, sei� cont� q�e a dur�b1l�da de e qualidade dessas produções clandestmas nao sao c?nfiave1s. Em relação ao uso dos DVDS ou das antigas fitas de videocassete nas bibliotecas, deve-se notar que não existe um consenso a respeito da gravação, pelas próprias bibliotecas,?: programas ou apre�enta ções transmitidas pelos canais de telev1sao, com a postenor mcor poração dessas fitas ao acervo. �lguns autores defenden? qu� ela: se enquadram nas definições de Jair use, mas nem todas as 1rnphcaço_es se encontram totalmente esclarecidas quanto a esse aspecto. Os ns cos são menores quando se realiza a cópia de programa� d� modo parcimonioso, copiando-se apenas materiais irnprescmd1ve1s e am da não disponíveis para aquisição no mercado, corno, por exemplo, um programa recente de debates, um do_cum:ntário,_ etc. O risco �evirar réu em um processo judicial por v1olaçao de dire�t?s autorais será menor se as cópias em vídeo de programas telev1s_1��s foremdestinadas exclusivamente para empréstimo/uso dom1c1har, se1:1 qualquer finalidade lucrativa. Copiar os víd�os e exibi-los em a�d1- ência coletiva para a comunidade, cobrando mgres�o �ar,a a sessao edivulgando essa atividade de todas as formas poss1ve,1s � colocar-seem uma posição muito vulnerável perante os responsave1� pela pro dução original e eles talvez não apreciem mui�o descobr�r �ue seu trabalho está dando lucros para outros que nao eles propnos, to mando medidas judiciais a respeito (alguém já se imaginou en�ren tando uma grande rede de televisão na Justiça?). Nesta quest_ao, o bibliotecário deverá guiar-se por aquilo que o b�m sen,�o lhe �d,z_ ser a opção mais apropriada. Como diz o _velh? �'.tado: prudencia e caldo de galinha nunca fizeram mal a nmguem . 98 11 O futuro da seleção É COMUM ouv1R FALAR no fim das bibliotecas, como são conhecidas até hoje, ou seja, um edifício onde se armazenam materiais de informa ção (predominantemente livros) sob os cuidados de profissionais conhecidos como bibliotecários. A bibliografia de biblioteconomia e ciência da informação e as publicações voltadas para o grande pú blico divulgam previsões que enaltecem as delícias de um mundo onde a informação em papel será apenas uma lembrança, vista so mente em museus. Esse futuro foi e é idealizado em um maravilhoso cenário onde a informação fluirá até seus interessados de maneira quase instantâ nea, bastando, para tanto, ter-se um computador, um modem e um dispositivo de comunicação. Nesse contexto, falar em seleção de materiais chega mesmo a ter como que um ranço de saudosismo antecipado. Afinal, esta é uma época marcada pela inconstância no plano das ideias e no das tecnologias, que surgem e proliferam ain da mais rapidamente. Na área da informação, os avanços ocorreram com rapidez es pantosa. Segundo Paul Shaughnessy, passamos "da biblioteca basea da em papel para a biblioteca automatizada em um período de cerca de duas décadas" . 1 A revolução da eletrônica bate às portas das bi bliotecas e centros de informação e parece acenar-lhes com o desti no inexorável de seu desaparecimento. Aparentemente, não haveria futuro para essas instituições que se encontram. Em alguns casos, instaladas em prédios imensos e suntuosos, onde armazenam prioritariamente livros e outros mate riais de informação em suporte de papel. Tampouco haveria futuro para os profissionais responsáveis por esses acervos. Se não há futuro, seria o caso de indagar quais os motivos que 99 ,, levaram países como a França e a Inglaterra a construir novos e enor mes edifícios para abrigar suas bibliotecas nacionais, edifícios esses que parecem representar a antítese da biblioteca sem muros que o futuro prenuncia. Sob muitos aspectos, é wn mundo fascinanteesse que se vislumbra, onde os indivíduos terão acesso a todas as informações de que neces sitem (ou mesmo àquelas de que jamais irão ter necessidade algu ma). Mas é também um mundo de características algo assustadoras, na medida em que ainda não se conhecem seus contornos e se ignora o que esse novo ambiente representará em termos de ampliação da liberdade de opções (ou mesmo de negação dessa liberdade). Na realidade de uma informação eletrônica onipresente, imagi na-se que cada cidadão será seu próprio profissional da informação. Contará com a ajuda de sistemas especialistas, que executarão todas as tarefas hoje desenvolvidas por profissionais humanos especiali zados (os bibliotecários). Isto faz acreditar que, sem dúvida, um fu turo sombrio aguarda as instituições ligadas à preservação e disse minação da informação. Nele parece haver pouco espaço para a dis cussão de um assunto como a seleção de materiais de informação, na medida em que este diz respeito ao exame dos materiais que se rão armazenados nessas instituições. Será esse o futuro que nos espera? Devemos aceitar como infalí veis as previsões? Devemos acreditar que só haverá bibliotecas vir tuais para os habitantes do século xx1? Isto talvez seja um exagero. Existem motivos para pensar em ou tras possíveis alternativas, que não significariam o desaparecimento dessas instituições. Não se trata de renegar as mudanças, mas entendê-las e contextualizá-las. Com este princípio em mente, tecerei considera ções sobre as razões da permanência dos materiais impressos no panorama dos serviços de informação do futuro,� e�am_inar�i qu:s tões relativas à desintermediação e suas consequenc1as/Imphcaçoes para a seleção de materiais de informação. A adequabilidade do livro O livro é um objeto adequado à finalidade para a qual foi criado. � prático, pois não depende de qualquer fonte externa de energia. E 100 portátil, possibilitando sua utilização em qualquer local, na posição que o leitor julgar mais confortável. A imaginação talvez seja o único limite para as possibilidades de utilização do livro. Pode ser utilizado das mais diversas formas, de acordo com os interesses e objetivos do indivíduo, pois nada impe de que alguém leia um dicionário da primeira à última página ou que desfrute de uma obra de ficção pela leitura de capítulos aleato riamente escolhidos. O livro possui, em Peral, um preço acessível para as camadas médias da população. E relativamente resistente, conservando suas características e legibilidade, em circunstâncias normais, por tempo bastante longo. A tecnologia ainda não conseguiu produzir uma tela de compu tador que permita reproduzir com fidelidade a experiência de leitu ra de um livro com todas as suas nuances. É um interessante exercí cio mental imaginar um indivíduo sentado durante horas à frente de um computador, para a leitura das quase mil páginas do Ulisses ou do Finnegan's Wake, de James Joyce. Ainda demorará muito para que toda a informação disponível em formato impresso seja transferida para suportes eletrônicos. Gran de parte da informação que as pessoas buscam nas bibliotecas, prin cipalmente públicas, ainda não está disponível por via eletrônica. Talvez até jamais se venha a reconhecer como prioritária sua trans ferência para suportes eletrônicos. As informações históricas, por exemplo, principalmente as de interesse local, só estão disponíveis, em sua maioria, em formato impresso. E que dizer da literatura de ficção, da qual apenas uma parcela está disponível em forma eletrô nica, apesar dos diversos projetos desenvolvidos com o objetivo de realizar essa transferência? O custo do livro Alguns tipos de materiais de informação representam uma opção mais econômica de produção quando em formato eletrônico. É o caso, por exemplo, de muitas obras de referência disponíveis em suportes eletrônicos. Nesse formato, são muito mais acessíveis e fá ceis de utilizar do que as verdadeiras monstruosidades que são suas edições impressas em papel. 101 A passagem dessas obras para formato eletr_ôni�o, _ e12"1 co-R�M ou na internet, representa uma vantagem Pª:ª a_s mshtu1çoes d: 1�f�rmação. Mas O preço de uma obra de referencia em co-R?M �ao e tao . inferior ao da edição em papel. Sem contar os cus�os _md1retos d_a utilização d� formatos eletrônicos. Em termos econom1cos � su�st'. tuição não parece haver trazido grande vantagem pa_ra as mshtutções de informação, mas, sem dúv!da, trouxe comodidade para os usuários. Isto compensa tudo o mats. - . A mesma defesa da opção pelos suportes eletrom�os pode s�r feita quanto a monografias e periódicos de pequena tiragem, CUJO custo em papel é alto. No caso de grandes tiragens, os custos_ de produção favorecem a impressão em �ap_el . � mesmo se pode dizer a respeito de revistas para o grande publico. O contexto social da informação Uma das questões que ainda nã_o estão ?en:i-equ�ci�nadas na �isse: minação via redes eletrônicas diz resp�1to a conhab1ltdade da mfor mação. Não existem indicadores suficientes que garantam que um texto recebido pela internet em um computado: é �xata11:1ente o texto d ·do pelo autor. A probabilidade de alguem mtervtr no proces-pro UZI dº ·b . so, refazendo, adulterando ou modificando u1� text� e 1stn um- do-o segundo seus interesses constitui uma var1avel vtrtualmente (e a palavra pode ser aplicada com dup_lo _sentido) incontroláv_el. Asuperestrada da informação lembra a btbhoteca de Babel menciona da por Borges, contendo todo e qualq�e� livro p�ssível �n: todas as suas possibilidades, o original e sua copta, a copia da copia � t?das as outras cópias imagináveis, cada uma com pequenas e m1mmas diferenças entre si. Essa possibilidade de deturpação das ideias não ocorre com igual facilidade nos textos impressos em papel. Encerrado o processo �e edição de um livro, as informações que ��nté� n�o ��de1:1 ser facil mente modificadas, pois qualquer mod1ftcaçao s1gmficana um pro cesso de edição distinto do primeiro. Isto traz segu _r�ça a� prod� tor intelectual, que quer ter garantia de que suas ideias nao serao deturpadas no processo de distribuição.3 _ . , • Outro fator importante refere-se à compensaça� pecumarta �o autor. E seria possível enfocar também a compensaçao moral. A d1s- 102 cussão desse assunto começa a aparecer na literatura especializada, e alguns países buscam uma legislação que permita o equaciona mento da questão, embora ainda se esteja longe de uma resposta satisfatória. Inexistem formas confiáveis para controlar a utilização de um texto disponível na rede, de modo a oferecer justa retribuição ao autor pela utilização de suas ideias. Mas a questão não termina aí. Da forma como as coisas estão, grande parte da indústria editori al estará fadada à implosãp, caso instrumentos eficientes de contro le das informações veiculadas pelos meios eletrônicos não sejam ra pidamente desenvolvidos. Por outro lado, há dúvidas quanto a se um controle total seria realmente algo desejável ou se não traria escondido o perigo de se estabelecer um estado de vigilância incompatível com os anseios de liberdade do ser humano. A seleção de materiais na era da informação eletrônica Hoje, a expressão mais popular no mundo acadêmico parece ser de sintermediação, que está sendo utilizada por profissionais das mais variadas áreas, inclusive profissionais da informação. Desintermediar seria fortalecer "o receptor para que estabeleça conexões que antes só poderiatn ser feitas com o auxílio de um in termediário humano, o que era mais dispendioso para a instituição e mais limitante para o receptor".4 Imagina-se que a superestrada da informação tornará realidade essa desintermediação. Talvez extrapolando a figura utilizada - autoestrada -, imagina-se que, ao trafegar por ela, os usuários te nham autonomia para buscar seus próprios catninhos, definir os ata lhos preferidos, demarcar os pontos prediletos de descanso, as pai sagens que merecemmaior atenção, etc. Temos de admitir que mui to disso já é realidade. Será uma estrada sem sinalização, mas talvez a maior emoção da busca se deva mais à incerteza sobre o que en contrará após a próxima curva do que ao objeto/informação que se deseja encontrar. Não há certeza se o futuro da informação corresponderá a esse cenário. Ao ter possibilidade de acessar as informações, a pessoa poderá optar entre o acesso direto e o recurso a um intermediário, que as identifique e localize (no caso, o profissional da informação). 103 A decisão pela segunda alternativa dependerá de fatores como a dis ponibilidade ou interesse do usuário em aprender a utilizar a rede eletrônica, obtendo o maior benefício possível, ou a qualidade do serviço obtido pelo profissional da informação. É natural pensar que nem todas as pessoas terão suficiente domí nio das técnicas de recuperação da informação, seja no ambiente dos materiais impressos, seja no ambiente da informação eletrônica. Ain da que cedêssemos ao otimismo mais ingênuo, imaginando que a evolução dos meios eletrônicos fará com que sejam de manuseio amigável e fácil, mesmo assim uma boa parcela dos indivíduos po derá preferir delegar essa atribuição a um profissional mais bem preparado nas técnicas de recuperação da informação. No entanto, uma visão mais serena das promessas da tecnologia da comunicação eletrônica talvez revele que as mudanças não ve nham a ser tão drásticas quanto desejariam alguns (embora não ve nham a ser tão tímidas quanto desejariam outros). As mudanças ocor rerão, mas sua magnitude está muito mais no terreno da especula ção do que no campo da realidade possível. Embora sem a mesma emoção das antevisões apocalípticas, é necessário reconhecer que o desaparecimento de livros e bibliotecas não ocorrerá de maneira imediata. Daí a necessidade de prosseguir com a discussão da proble!náti ca da seleção de materiais nesse novo contexto informacional. E pre ciso, porém, encarar a questão de um ponto de vista não-exclusivista no que concerne às fontes de informação a serem objeto da nova prática profissional. Num mundo onde materiais impressos conviverão, espera-se que em harmonia, com os suportes eletrônicos, serão muitas as implica ções para as atividades dos profissionais responsáveis pela seleção de materiais. Em princípio, esta realidade, que ocorrerá nos mais variados tipos de instituições de informação, não parece apresentar grandes problemas para os profissionais, pois eles já têm, principal mente no mundo mais desenvolvido, mas não exclusivamente nele, a percepção de que não se pode mais atender às necessidades de informação da comunidade utilizando-se apenas os recursos local mente disponíveis. Faz pouco tempo, as alternativas existentes para se ter acesso efe tivo ao conteúdo de um documento eram: adquiri-lo por compra ou 104 obtê-lo por empréstimo entre bibliotecas. Os custos disso não eram tão complicados e nem tão difíceis de equacionar. A possibilidade de cooperação bibliotecária sempre foi um dos elementos conside rados no momento da decisão de seleção. �oje, t_er acesso ao con ,teúdo de um documento pode significarmuito mais do que locahza-lo em uma biblioteca. Implica conectar se a um computador remoto e transferir o documento para o com puta_dor da biblioteca ou do próprio usuário. No entanto, a questãocontinua a mesma: tanto antes como agora são necessárias análises que possibilitem o conhecimento preciso do custo real desse acesso. O elemento complicador é que deverão ser incluídos custos antes inexistentes, como os de aquisição e manutenção de equipamentos, de pes:oal operacio�al. especializado, da impressão em papel ougra';'açao em outra mtdta, do tempo de telecomunicação, etc. E evidente que as políticas de seleção deverão ser definidas com base não só em critérios de custo-benefício, mas também outros, desde as características inerentes ao campo de conhecimento onde a seleção ocorre até as particularidades dos clientes e do ambiente onde º: serviços de inf�n�açã? se l�calizam. Isso coloca novas preocupa �oes para_ os pro!1s�1ona1s da mfonnação. Imagine-se a opção pela mformaçao eletromca em uma região onde os serviços de telecomu nicação são insatisfatórios devido à ausência de conexão de banda Ia�ga, e, n� caso d� (inhas telefônicas, congestionamentos, quedas e rUJdos de lmha e d1f1culdades de manutenção. Ao invés de um usuá rio satisfeito, haverá mais reclamações, queixas e frustração com os serviços recebidos. , Isso po�e1:á ser sanado por meio de investimentos maciços na area tecnologtca. Enquanto tal não acontece, continua sendo UJn as pe�to imp?r�ante a pesar na seleção de informações disponíveis por me10 eletromco. SeJa qual for o meio utilizado, deve-se ter em men te q�e .o fim almejado é o forn�cimento da informação desejada/necessar1a ao menor custo poss1vel para a instituição e com o maior nível de satisfação para o usuário. T�1mbémA é .necess,ário refletir sobre as repercussões que a infor �açao el<:_trornc� tera em relação ao próprio usuário dos serviços de mform�çao. J:foJe, a m�utenção de um título no acervo significa acesso 1rr�stnto a :sse titulo, sem ônus adicional. A definição dos custos da mformaçao obtida por intermédio de redes eletrônicas ain- 105 da é mais ou menos incerta, mas pode-se especular se será possível às bibliotecas manterem indefinidamente a prática de não-cobrança ao usuário pela utilização de meios eletrônicos. Se os custos vierem a ser repassados ao usuário, haverá mais uma barreira para a utilização dos serviços de informação, que ficarão restritos a quem puder arcar com esse ônus. Isto colocaria em xeque, por exemplo, as bibliotecas públicas como local de livre acesso às ideias, ainda que se possa argumentar que livre acesso não significa acesso gratuito. Em países onde os índices de desigualdade social são elevados, cabe aos responsáveis pela seleção e aos gerentes das instituições bibliotecárias definir políticas que garantam a todos o acesso à in formação, independentemente de suas disponibilidades financeiras, definindo os casos de isenção do pagamento. Algumas instituições sentirão mais rapidamente as pressões para abandonar o objetivo de atender às necessidades de informação dos usuários com recursos próprios. De um lado estão as bibliotecas de pesquisa, e do outro, as públicas. É provável que estas demorem a mudar, e continuem utilizando, predominantemente, seus próprios recursos para atender à demanda. Essa demora será maior em paí ses menos desenvolvidos. Em países avançados há bibliotecas pú blicas onde a informação eletrônica faz parte da realidade cotidiana, convivendo em harmonia com os recursos impressos. A decisão entre acesso e posse dos documentos sempre ocorreu, ou deveria ter ocorrido, levando em conta as condições de cada ins tituição. Nada indica que isso deva modificar-se no futuro. É prová vel que as instituições de informação continuarão a optar pelo aces so aos documentos quando esta alternativa for menos dispendiosa do que a compra, processamento e armazenamento do documento impresso, for a única possibilidade de acesso à informação, ou o modo de acesso significar um valor agregado à informação, seja pela pos sibilidade de busca por palavras-chave, seja pela apresentação em um formato mais conveniente. Tradicionalmente, a seleção de materiais de informação enfocou a definição de critérios que justificassem determinado agrupamento de documentos em um ou mais espaço(s) físico(s) determinado(s). Este agrupamento é definido em contraposição a todos os outros possíveis, inclusive o universo de publicações não-controlado pro- 106 duzido pelo mercado. Ele responde a condições específicas da co munidade e a objetivos precisos, definidos pela organização à qual a biblioteca está subordinada. Esta descrição da realidade permru1ece válida. O mercado conti nua a produzir informações de forma incontrolada, agora tambémem formato eletrônico. Definir determinados agrupamentos de in formação eletrônica será a tarefa dos bibliotecários responsáveis pela seleção. Talvez a importância social da atividade tenha sido incrementada, ao invés de minimizada, pelas tecnologias da infor mação eletrônica. Como comenta Thomas Nisonger, lembrando Ortega y Gasset, "os bibliotecários ainda se deparam com a mesma responsabilidade em relação às publicações eletrônicas: filtrar do grande número dis ponível a parcela que é relevante ao atendimento das necessidades de informação de seus clientes" .5 Ao possibilitar acesso a uma parcela específica da informação digitalizada, por meio de um link do servidor da biblioteca, por uma base de dados eletrônica, o responsável pela seleção estará criando um "subconjunto altamente seletivo de objetos de informação dis poníveis, segregados e favorecidos, aos quais o acesso é possibilita do e aos quais a atenção do cliente/usuário é dirigida em oposição aos objetos excluídos".6 Com essa atividade, agregará valor ao que existe na rede eletrônica, ao informar aos usuários que os itens 'sele cionados' atendem a determinados requisitos de autoridade, fide dignidade e credibilidade, assim como seus antecessores que apli carrun critérios de seleção aos materiais impressos que armazena vam nas bibliotecas. Esse valor será agregado por intermédio de uma política mais runpla, voltada para o desenvolvimento global da coleção, que se consubstanciará na prática diária da seleção. Esse acréscimo de va lor será realizado a partir da consideração das características da cli entela. Este continuará sendo o requisito primário para o êxito da seleção de materiais, seja em que ambiente for. As palavras de Tefko Saracevic, em mesa-redonda sobre o futuro das bibliotecas, vêm a calhar para o encerrrunento deste capítulo: Hoje na internet todo mundo é um editor e não existe absolutamente qualquer controle. Não existe qualquer controle da informação, não existe qualquer cer- 107 tificação da qualidade, não existe qualquer forma de avaliar a qualidade, não existe nada nesse sentido. É um dos segredos sujos da internet. Você pode en contrar isso, você pode encontrar aquilo, mas quanto disso é bom? quanto é útil? quanto é bonito? e quem vai ser o juiz? Pelo menos até agora, nós, na biblioteconomia e na ciência da informação, não estamos desempenhando um papel na avaliação, ou mesmo no estabelecimento de critérios para isso, mas alguém terá que fazê-lo: alguém terá que começar a falar de critérios - sobre se se pode ter alguma certeza de que aquilo que se está encontrando tem alguma veracidade e alguma realidade.7 Notas SHAUGHNESSY, Thomas W. The library director as change agent. ]o urna/ of Library Administration, v. 22, n. 2/3, p. 43-56, 1996. 2 Para quem deseja aprofundar-se nesta questão, talvez o melhor texto disponí vel, apesar do radicalismo de seus autores, seja o de Walt Crawford e Michael Gorman, Future Iibraries: drearns, madness & reality (Chicago: American Library Association, 1995), cuja leitura aconselho. 3 Mais informações em PROBST, Laura K. Libraries in an environment of change: changing roles, responsibilities, and perception in the information age. Journal of Library Administration, v. 22, n. 2/3, p. 7-20, 1996, e RowLEY, Jennifer. Libraries and the electronic information marketplace. Library Review, v. 45, n. 7, p. 6-18, 1996. 4 ATKINSON, Ross. Library functions, scholarly communication, and the foundation · of the digital library: laying claim to the contrai zone. Library Quarterly, v. 66, n. 3, p. 239-265, 1996. 5 N1soNGER, Thomas E. Ccillection management issues for electronic journals. IFLA journal, v. 22, n. 3, p. 233-239, 1996. 6 ATKINSON, Ross, op. cit .. 7 Citado por Tefko Saracevic na p. 519 do painel intitulado LIBRARIES present and future: the future of the library profession. The ºE/ectronic Library, v. 14, n. 6, p. 517-522, 1996. 108 12 Considerações finais QuE NINGUÉM SE ENGANE: a leitura deste livro não capacitará o biblio tecário à auto-suficiência na seleção de materiais de informação. Imagino, talvez com o entusiasmo de autores estreantes, que ela lhe dará mais confiança em si mesmo, possibilitando-lhe realizar um trabalho de melhor nível. Mas minhas ilusões param aí, pois ainda existe muito para ser falado, discutido, questionado, repensado, devido às condições específicas de atuação, à diversidade de situa ções onde se identificam e avaliam os materiais para seleção. Cada estrada será feita pelo próprio caminhar. Este livro propõe passos iniciais, que entendo necessários para todos os profissionais, independentemente das bibliotecas onde atuem. Acredito que instituições de informação mais eficientes, com acer vos e serviços que respondem de forma adequada às necessidades dos usuários, passam pela definição correta das atividades de sele ção. Entendo, inclusive, que não se trata de simples opção profissio nal. É uma imposição ética. Nenhum profissional pode contentar-se com a mediocridade. Quero encerrar com uma nota otimista e não como um velho de dedo em riste. Minha experiência, como docente e autor, tem-me feito acreditar cada vez mais na importância desta área. Neste mun do em ebulição, há muito a ser feito e o papel a ser desempenhado pelos profissionais da informação está ainda virgem, pronto para ser preenchido, à espera de que eles mesmos definam a forma como irão ocupá-lo. O fascinante nisso tudo é que não existem limites pos síveis para a atuação profissional, bastando apenas que se tenha a coragem de ousar. Mais do que nunca, agora compensa sonhar. 109 Bibliografia complementar Esta lista menciona títulos que trazem informações complementares para os leitores. A maioria é em língua inglesa, refletindo a predominância desse idioma na literatura profissional. Todos foram utilizados na elaboração deste livro, por isso alguns leitores notarão que já têm familiaridade com parte das ideias apresentadas nas obras. Para melhor organização, agrupei os ma teriais segundo três categorias: livros, publicações periódicas (abrangendo tanto os títulos de uma publicação como fascículos específicos), e docu mentos e listas de discussão eletrônicos. Relacionei títulos que tratam espe cificamente da seleção de materiais e os que tratam do desenvolvimento de coleções em geral. Livros ANDRADE, Diva, VERGUEIRO, Waldomiro. Aquisição de materiais de informação. Brasília: Briquet de Lemos / Livros, 1996. - Dada a exiguidade da li ter atura em português, um texto sobre aquisição pode ser pertinente para ampliar as reflexões sobre as consequências das decisões de seleção, tornadas real mente efetivas a partir do trabalho da aquisição. As duas atividades estão muito ligadas e as respostas possibilitadas por uma acabam se refletindo na outra, e vice-versa. BARKER, Keith (ed.) Graphic account: the selection and promotion of graphic novels in libraries for young people. Newcastle-under-Lyme: Toe Library As sociation; Youth Libraries Group, 1993. - Enfoque pragmático sobre a se leção de histórias em quadrinhos em bibliotecas, organizado por un1 bibli otecário com experiência prática na área. Aborda apenas as graphic novels, que são parcela importante da indústria de histórias em quadrinhos, mas não chegam a esgotar o leque de veículos pelos quais as histórias em qua drinhos são divulgadas. Considerando que as graphic novels, em âmbito internacional, têm representado uma espécie de cartão de visitas do gêne ro e têm aberto as portas das bibliotecas para esse material, o livro consti tui uma leitura bastante proveitosa. BROADUS, Robert N. Selecting materiais for libraries. New York: H. W. Wilson, 1981. - Um manual já tradicional na área. Bastante claro e preciso, busca tratar a fundo, de maneira sistemática, a questão da seleção em bibliotecas. Apesar de publicado há mais de quinze anos, continua uma leitura obriga tória para aqueles que desejam aprofundar-seno assunto. 110 CuRLEY, Arthur & BRODERICK, Dorothy. Building library collections. 6.ed. Metuchen, N.J.: Scarecrow, 1985. - Título antigo, originalmente escrito por Carter e Bonk, quando tinha enfoque dirigido para a seleção de materiais. Nesta edição é mais abrangente, buscando o desenvolvimento de coleções. Os capítulos sobre seleção são exageradamente voltados para bibliotecas públicas. Leitura valiosa para quem deseja ampliar seus conhecimentos na área. D1cKINSON, Gail K. Selection and evaluation of electronic resources. Englewood, co: Libraries UnlimHed, 1994. - Um dos primeiros livros dedicados à sele ção de materiais eletrônicos em bibliotecas, aos quais muitos outros se se guiram. Para muitos bibliotecários brasileiros, para quem a informação ele trônica ainda não ocupa lugar importante em .seus acervos, grande parte da discussão poderá ter pouco sentido prático. No entanto, essas discus sões, que à época de sua publicação pareciam apenas acadêmicas, encon tram cada vez mais ressonância em nosso meio, mantendo esse texto ainda bastante pertinente. Na própria internet encontram-se vários textos sobre seleção de materiais eletrônicos e digitais que merecem ser objeto de aten ção, como os mencionados na página mantida por Alastair Smith desde 1996, intitulada' Evaluation of information sources' (disponível em http:// www.vuw.ac.nz/s taff/alas tair_smi th/evaln/evaln. h tm). ELusoN, John. W. (ed.) Media librarianship. New York: Neal-Schuman Publ., 1985, p.171-273: Selection. - Manual didático dedicado aos multimeios em bibliotecas, abordando-os desde o tratamento técnico à divulgação. Os capítulos sobre seleção de multimeios são interessantes. EVANS, G. Edward; SAPONARO, Margaret Zarnosky. Developing libra1:; and information center collections. 5. ed. Littleton, co: Libraries Unlimited, 2005. - Imprescindível para qualquer bibliotecário interessado em aprofundar seus conhecimentos sobre seleção. Considero o manual mais completo so bre desenvolvimento de coleções existente no mercado. Nesta quinta edi ção, alguns capítulos, como o de materiais eletrônicos, informação gover namental e compartilhamento de materiais foram quase totalmente rees critos. A edição traz um CD com material suplementar, e um sítio a ser criado na internet fará atualização dos URLS citados no livro. FENNER, Audrey (ed.) Selecting materiais for library collections. New York : Haworth Press, 2004. - Publicado originalmente no periódico Acquisitions Librarian, apresenta capítulos sobre seleção de materiais para várias cole ções especializadas, como, por exemplo, música, artes, estudos chineses, esporte e lazer. FIGUEIREDO, Nice Menezes de. Desenvolvimento e avaliação de coleções. Rio de 111 Janeiro: Rabiskus, 1993. - Coletânea de artigos sobre desenvolvimento de coleções publicados pela autora em revistas brasileiras. Apresenta uma reflexão sobre a literatura internacional na área de desenvolvimento de coleções, procurando refletir sobre as características da biblioteconomia bra sileira. Apesar dos anos decorridos desde sua publicação, seus questiona mentos e pontos de vista continuam atuais. Traz capítulo sobre seleção de livros. FurAs, Elisabeth (ed.) Collection development policies and procedures. 3. ed. Phoenix: Oryx, 1995. - Coletânea de políticas para o desenvolvimento de coleções, utilizadas em bibliotecas públicas e universitárias norte-america nas. Organizada de maneira bastante prática, permite o acesso por insti tuições e materiais específicos. Essencial como fonte para a definição de políticas próprias. HucHES, MargaretJ. & KATZ, Bill (ed.) A.V. in public and school libraries: selection and policy issues. New York: Haworth Press, 1994. - Publicado original mente como um fascículo de Acquisitions Librarian, enfoca a seleção de materiais audiovisuais em bibliotecas públicas e escolares, do ponto de vista da biblioteconomia norte-americana. Traz informações úteis para as ati vidades de aquisição desses materiais. Interessante capítulo sobre audiolivros. JoHNSON, Peggy; MAcEwAN, Bonnie (ed.) Collection management and develop ment: issues in an electronic era. Chicago: American Library Association, 1994. - Coletânea de trabalhos apresentados em um evento sobre desenvolvi mento de coleções, versando sobre o desenvolvimento de coleções na era da eletrônica. Os trabalhos apresentam às vezes certo desequilíbrio entre si, na medida em que alguns autores são mais profundos do que outros. Embora nenhum dos textos trate da seleção de meios eletrônicos, o livro é importante para ampliar as perspectivas sobre o impacto desses meios nas atividades dos profissionais da informação. Saliente-se o capítulo de Ross Atkinson, 'Access, ownership, and the future of collection development'. JoHNSON, Peggy; MACEI-VAN, Bonnie (ed.) Virtually yours: models for managing electronic resources and services. Chicago: American Library Association, 1999. - Outra reunião de trabalhos apresentados em evento sobre desenvolvi mento de coleções, tem as limitações inerentes a esse tipo de coletânea, embora apresente uma boa variedade de assuntos. Divide-se em quatro seções: 'Entendendo as bibliotecas e sua missão', 'Entendendo as necessi dades dos usuários em um meio ambiente em mudança', 'Entendendo as bibliotecas ' digitais': implicações práticas', e 'Entendendo as mudanças nas bibliotecas: considerações sobre implementação'. Destaque para o capítulo de Ross Atkinson, 'Toward a redefinition of library services'. 112 LEE, Stuard D. Building an electronic resource collection: a practical guide. London: Library Association, 2002. - Apresenta um panorama dos recur sos eletrônicos em bibliotecas de todos os tipos, abordando-os sob vários aspectos. Especialmente útil é o capítulo que analisa formas de avaliação e aquisição de recursos eletrônicos. MIRANDA, Antonio. Seleção de material bibliográfico em bibliotecas universitári as brasileiras: idéias para um modelo operacional. Brasília: CAPES/ ABDF, 1978. - Publicado há mais de três décadas, mantém-se atual. OsBURN, Charles & ATKINSON, Ross (ed.) Collection management: a new treatise. Greenwich: JAI Press, 1991. (Especialmente os três capítulos relacionados com a seleção de materiais, nas páginas 273 a 335.) -Indispensável para os interessados em desenvolvimento de coleções. Os capítulos sobre sele ção merecem leitura atenta. PATTIE, Ling-yuh W.; Cox, Bonnie Jean (ed.) Electronic resources: selection and bibliographic control. New York: Haworth, 1996. - Publicado originalmente como fascículo de Cataloging & Classification Quarterly, traz artigos sobre seleção e controle bibliográfico de recursos eletrônicos, constituindo um guia básico para profissionais e estudantes. Os artigos dividem-se entre seleção e processamento técnico. Abordagem teórica e prática. PEROTA, Maria Luiza Loures Rocha. Multimeios: seleção, aquisição, processa mento, armazenagem, empréstimo. Vitória: O. Ceciliano Abel de Almeida, 1991. - Provavelmente a única obra em português sobre o assunto. SPILLER, David. Book selection: principies and practice. 5. ed. London: Clive Bingley, 1991. - Um manual bastante tradicional de seleção, tratada de um ponto de vista prático, apesar do enfoque demasiadamente centrado na biblioteconomia inglesa. Continua atual. VERGUEIRO, Waldomiro. Desenvolvimento de coleções. São Paulo: Polis; Asso ciação Paulista de Bibliotecários, 1989. - Uma abordagem ampla e inicial sobre desenvolvimento de coleções. Periódicos especializados e artigos específicos DREXELL LIBRARY QUARTERLY, V. 18, n. 1, 1982. - Número especial sobre cen sura em bibliotecas. Apesar de ter sido publicado há mais de 20 anos, con tinua a manter sua atualidade. Traz artigos esclarecedores e bem elabora dos, uma leitura fácil e agradável. JouRNAL OF LIBRARY AoMINISTRATION. New York, Haworth Press, 19 . - Títu- 113 lo tradicional sobre administração de bibliotecas, costuma trazer artigos sobre desenvolvimento de coleçõese seleção. Importante como complemen tação deste livro são os números publicados em 1996 sobre acesso, compar tilhamento de recursos e desenvolvimento de coleções (v. 22, n. 4), emprés timo entre bibliotecas e fornecimento de documentos (v. 23, n. 1/2), sobre os padrões emergentes do desenvolvimento de coleções em um ambiente de compartilhamento de recursos, informação eletrônica e em rede (v. 24, n. 1/ 2). K1M Fung Yip. Selecting Internet resources: experience at Hong Kong Uni versity of Science and Technology (HKusr) Library. The Electronic Library, v. 15, n. 2, p. 91-98, 1997. - Apesar de retratar uma experiência específica de seleção, situada em um local diferente do nosso, as considerações que tece sobre a problemática da selecão de materiais na internet são perfeitamente aplicáveis às bibliotecas brasileiras. O apêndice apresenta os principais ins trumentos de identificação de documentos disponíveis na Rede. LIBRARY TRENDs. Charnpaign, IL: Graduate School of Library and Informati on Science, 19 . - Um dos periódicos mais conceituados em bibliotecono mia e ciência da informação que busca apresentar e discutir as principais tendências na área. De interesse como leitura complementar deste livro são o v. 39, n. 1/2, de 1990, sobre censura e liberdade intelectual; o v. 41, n. 2, de 1991, sobre ética e disseminação da informação, e o v. 45, n. 1, de 1996, sobre liberdade intelectual dos usuários. RAo, S. Subba. Information retrieval services: role of optical technologies. New Libran1 World, v. 98, n. 1132, p. 16-24, 1997. - Descreve as principais tecnologia� para acesso de informação, com especial enfoque nas caracte rísticas dos co-ROMs, salientando sua análise em termos de custo-efetividade, serviços de bases de dados em vários assuntos e relaciona algumas bases de dados nesse suporte. ULIANA, Dina Elisabete; VERGUEIRO, Waldomiro C. S. Gibitecas: estrutura, organização e acervo. Informação Cultural, n.10, p. 2-10, jun. 1990. - Pro vavelmente a primeira tentativa efetuada no país visando enfocar as histórias em quadrinhos do ponto de vista das bibliotecas. Procura descrever todos os formatos existentes e apresenta algumas proposições para seu tratamento técnico. Documentos e listas de discussão em redes eletrônicas ACQNET - The Acquisitions Librarians Electronic Network (http:// lists.ibiblio.org/mailman/listinfo/acqnet-1)-Iniciada em 1990, é dedicada a 114 bibliotecários responsáveis pela aquisição de materiais, mas possibilita a troca de informações sobre vários aspectos da atividade de seleção. BooKWIRE D1RECTORY (http://www.bookwire.com/bookwire/book wire.html) - Um guia para os recursos bibliográficos disponíveis na Internet, com links para sítios relacionados com livros (editoras, bibliotecas, agentes) em to das as partes do mundo. COLLDV-L - LIBRARY COLLECTION DEVELOPMENT LIST (http://serials. infomotions.com/colldv-1/) - Embora dedicada à discussão do desenvolvi mento de coleções em geral, a seleção é uma presença constante nas dis cussões desta lista. Certamente, seu acompanhamento pode ser proveitoso para os bibliotecários que atuam na área. Mensagens de inscrição devem ser enviadas para listproc@usc.edu. ERIL - ELECTRONIC RESOURCES IN LIBRARIES (http://listserv.binghamton.edu/ar chives/eril-l.html) - Um forum de discussão para bibliotecários comparti lharem opiniões e experiências sobre a aquisição e como lidar com os re cursos eletrônicos. Entre os assuntos cobertos pela lista estão políticas de desenvolvimento de coleção, manutenção de revistas eletrônicas, estatísti cas de uso, licenciamento e negociação, instruções sobre produtos específi cos, etc. NEWJouR (http://old.library.georgetown.edu/newjour/)- Divulga os novos periódicos disponíveis na internet. COLLIBS-L ( collibs@is.su.edu.au)- Lista de discussão sobre desenvolvimen to de coleções. Embora ambicione discutir questões relacionadas com bi bliotecas universitárias e de pesquisa situadas no território australiano, é aberta para a participação de qualquer interessado. Para inscrever-se, en viar mensagem para listserv@is.su.edu.au. INTERNET RESOURCES NEWSLETTER - Periódico eletrônico publicado mensal mente pela biblioteca da Heriot-Watt University, da Inglaterra, desde ou tubro de 1994. Destinada a acadêmicos, estudantes, engenheiros e cientis tas, busca aumentar o conhecimento sobre novas fontes de informação na internet, particularmente aquelas relevantes para a pesqüisa universitária. Cada número traz seções contendo ,os novos sítios disponíveis na Rede, em ordem alfabética, novas listas de discussão, notícias sobre redes eletrôni cas e novos livros na área. Pode ser acessada em: http://www.hw.ac.uk./ libWWW/irn/irn.html/. Encerrada em dezembro de 2009. 115 Anexo 1 Formulário para indicação de títulos Autor Título Local de publicação ISBN/ISSN Editora Fonte da qual obteve os dados Indicado por Endereço Telefone Anexo 2 Data de publicação Preço Profissão Esquema do documento de política de seleção 1. Introdução 1.1 Identificação da biblioteca e instituição mantenedora 1.2 Descrição dos objetivos da biblioteca e caracterização do públi co-alvo 1.3 Identificação dos responsáveis pela seleção, inclusive a compo sição da comissão de seleção, quando existir 1.4 Descrição pormenorizada das atividades de seleção 2. Instrumentos auxiliares utilizados 2.1 Catálogos de editoras 2.2 Bibliografias 2.3 Resenhas 2.4 Outras fontes de seleção 3. Critérios gerais de seleção 3.1 Assuntos de interesse 3.2 Aspectos qualitativos 3.3 Aspectos físicos 4. Políticas específicas 3.1 Coleções especiais (filmes, áudio, diapositivos, etc.) 3.2 Documentos eletrônicos 116 3.2 Doações 3.3 Duplicação de materiais 3.4 Substituições 3.5 Reconsideração de decisões Anexos a) Fluxograma das atividades de seleção b) Formulário para sugestões c) Formulário para doações d) Recibo de doações e) Formulário para reclamações ou reconsideração de decisões Anexo 3 Modelo de política para doações Materiais oferecidos em doação só serão aceitos com o entendimento explícito de que poderão ser incorporados ao acervo, vendidos, per mutados, doados a outras bibliotecas ou descartados visando atender às prioridades estabelecidas pela Biblioteca ______ ____ _ para o desenvolvimento de suas coleções. As doações serão incorpora das ao acervo em sua sequência normal, evitando-se ordenações dife renciadas, pois coleções separadas (especiais) limitam o uso pelo pú blico e dificultam a localização dos documentos. Os itens doados terão sua procedência devidamente reconhecida, podendo ser identificados por um ex-líbris ou etiqueta especial. Anexo 4 Formulário para doação de materiais Eu, __________ _, carteira de identidade (Rc) nº ___, residente na rua cidade de esta- do de ___, abaixo assinado, por este intrumento transfiro incondi cionalmente à Biblioteca -----------------' situada na rua cidade de estado de to- dos os meus direitos sobre os materiais doados nesta data, conforme relação em anexo. Declaro, também, ter tomado ciência e estar de acor do com a política adotada pela biblioteca em relação às doações. Data Assinatura------------- 117 Anexo 5 Recibo de aceitação de doações A Biblioteca aceita e reconhece como doação incondicional à sua coleção o(s) item(ns) abaixo relacionados, doados por residente na rua _______ _ _ __ __, cidade de estado de _____, e concorda em administrá- lo(s) de acordo com as políticas formalmente estabelecidas para as doações. Data Assinatura ___ _ _ _ ______ __ _ Relação dos materiais doados 1. ------------------------ --- 2. -------------------------- - Anexo 6 Formulário para reconsideração de decisões Autor Título ____________ _ _ _ _ Editor Data de publicação _ __ Tipo de material: D Livro D Revista D Filme D Fita ou disco D Outro: ___ _ Solicitação feita por - - -----� carteira de identidade (RG) nº� residente na rua cidade de estado de __, telefone Vocêrepresenta: D a si mesmo D grupo ou organização. Nome do grupo ou organização --- - - - - - - - ------- Motivo do pedido de reconsideração: por favor, explicite nas linhas seguintes os motivos por que considera que o material deve ser retirado do acervo: Assinatura- - --------------- Data _ _ _ _ _ _ _ A Biblioteca agradece sua preocupação com a constituição de seu acervo e se compromete a analisar detalhadamente sua solicitação à luz dos critérios de seleção utilizados. Uma decisão a respeito lhe será comunicada no prazo de_ dias. Obrigado. 118 Indice adequabilidade do livro 100-101 adequação da seleção 22-23 Andrade, D. llO área de a luação da biblioteca 11 assunto da biblioteca 13 assuntos polêmicos 15 Atkinson, R. 108, 113 ato de doação 76 atualidade 20-21 autoridade 18-19 Barker, K. 110 base de dados 49-51 bibliotecário poder de decisão 5-6 participação na seleção 7-9, 61-63 Blu-Ray 38 Bonk, W. 24 Borges, J.L. 3, 4, 102 Broadus, R.N. 111 Broderick, D. 111 características dos documentos 23-25 Carter, M. 24 catálogos de editoras 67 CD-ROMS 45-49 censura 83-88 Chemical Abstracts 48 classificação decima 1 11 cobertura de assunto 21 comissão de seleção 59-61 compact disc 39-40 COMUT 92 conveniência para o usuário 22 cooperação bibliotecária 88-92 Cox, B.J. 113-114 Crawford, W. 108 critérios de seleção 10-25, 68, 69, 71, 73 Curley, A. 111 custos 15, 24, 45, 101-102 Davis, B. 85 Deiró, M.L.C. 34, 42 demanda reprimida 57 desiderata 57 desintermediação 100, 103 diapositivos 40-41 Dickinson, G.K. 111 direitos autorais 93-95 discos 38-40 doações 75-76 documento de política 71-74, 117-118 documentos eletrônicos 43-51 na internet 51-56 relevância 22 DVOS 38, 98 DVD-ROMS 45-49 Eco, U. 20, 34, 42 editoras de prestígio 19 Ellison, J.W. 111 empréstimo entre bibliotecas 89-93 endereço eletrônico 52, 56 Ercília, M. 56 especialização da biblioteca 11 estilo dos documentos 23 Evans, G.E. 111 Fenner, A. 112 Figueiredo, N.M. de l12 filmes 38-40 fitas de áudio 38-42 de vídeo 98 formulário 63-65, 78 para doação de materiais 118 para indicação de títulos 63, 117 para reconsideração de decisões 119 fotocópia 94 furtos 15 Fulas, E. 112 119 futuro da seleção 99-108 gibitecas 31-33 Gorman, M. 108 Graeff, A. 56 graphic novels 31-32 hipermídia e hipertexto 53 histórias em quadrinhos 30-32 home page 53, 56 1-Iughes, M.J. 112 identificação, avaliação e registro 63 idioma dos documentos 22 imparcialidade 20 indicação e seleção de títulos 63-65 informação eletrônica 100, 102-108 Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (m1cr) 92 instrumentos auxiliares 65-67, 73 internet 51-56, 102 Johnson, P. 112,113 Katz, 13. 112 Kim Fung Yip 54, 56, 114-115 Lee, S.D. 113 lei de direito autoral 94-95 liberdade intelectual 84-85 lista de desiderala 57 de sugestões 57 de discussão 52-53, 115-116 livro adequabilidade l 00 custo 101-102 didático 20-21, 34 infanta-juvenil 32-35 MacEwan, 13. 112, 113 McLuhan, M. 27 materiais audiovisuais e especiais 26-42 mecanismos de busca 56 Miranda, A. 113 modelo de política parn doações 118 Momento de decisão (filme) 5 multimeios 26-33 Nisonger, T.E. 107, 108 No despertar da tormenta (filme) 85 objetividade no processo de seleção 9 Orkut 53 Ortega y Gasset, J. 107 Osburn, C. 113 Pattie, L.W. 113-114 periódicos 27-32, 95-96, 114-115 Perota, M.L.L.R. 40, 114 política de seleção 17-25, 73 para doação 75-76 precisão 19-20 Probst, L.K. 108 processo de seleção 57-67 Rao, S.S. 115 recibo de aceitação de doações 119 reclamações 77 reconsideração da decisão 77-78 redes eletrônicas 53, 102, 115-116 relevância dos documentos 22 responsáveis pela seleção 72-73 Rosemberg, F. 34, 42 Rowley, J. 108 Saponaro, M.Z. 111 Saracevic, T. 107, 108 seleção e formação profissional 80-83 Shaughnessy, T.W. 108 Spiller, O. 114 Uliana, D.E. 115 Universidade de São Paulo 90-91 Usherwood, 13. 26 usuário 12, 13-14 vandalismo 15 Vergueiro, W.C.S. 4, 110, 114, 115 vídeos 35-38 Voltaire 85 World Wide Web 52 120 scanned by Regis Feitosa 01 02 03 04 05 06 07