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Prévia do material em texto

Waldomiro Vergueiro 
Seleção de materiais 
de informação: 
princípios e técnicas 
Terceira edição 
BRIQUET DE LEMOS 
LIVROS 
© Waldomiro Vergueiro, 2010 
Todos os direitos reservados. De acordo com a lei nº 9 610, de 19/2/1998, nenhu­
ma parte deste livro pode ser fotocopiada, gravada, reproduzida ou armazenada 
num sistema de recuperação de informação ou transmitida sob qualquer forma 
ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do 
autor ou da editora. 
Primeira edição: 1995 
Segunda edição: 1997 
Este livro obedece ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 
Revisão: Maria Lucia Vilar de Lemos 
Capa: Formatos Design Gráfico Ltda. 
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
Câmara Brasileira do Livro. sr, Brasil 
Vergueiro, Waldomiro 
Seleção de materiais de informação· princípios e técnicas/ Waldomiro Vergue1ro. -3. 
ed. -Brasília, OF · Briquet de Lemos/ Livros, 2010. 
ISBN 978-85-85637-41-5 
l. Bibliotecas -Serviços de aquisição 2. Livros -Seleção 3. Livros- Política de.seleção 
1. Título.
10-03633 
Índices para catálogo sistemático: 
1. Seleção: Material de informação: Biblioteconomia 025.21 
2. Material de informação: Seleção: Biblioteconomia 025.21
2010 
Briquet de Lemos / Livros 
SRTS - Quadra 701 - Bloco o - Loja 7 
Edifício Centro Multiempresarial 
Brasília, OF 70340-000 
Telefones (61) 3322 9806 / 3323 1725 
,vww.briquetdelemos.com.br 
editora@briquetdelemos.com.br 
coo 025.21 
1 
2 
3 
4 
5 
6 
Sumário 
Introdução 
A seleção: um momento de decisão 
Considerações gerais que influenciam a seleção 
O assunto 
O usuário 
O documento 
O preço 
Questões complementares 
Em busca de critérios de seleção 
Critérios que abordam o conteúdo dos documentos 
Critérios que abordam a adequação ao usuário 
Critérios relativos a aspectos adicionais do documento 
Seleção de materiais especiais e multimeios 
Periódicos 
Histórias em quadrinhos 
Livros infanta-juvenis 
Filmes, vídeos e ovos 
Discos, fitas e cos 
Diapositivos 
Outros materiais 
Seleção de documentos eletrônicos 
CD-ROMS e DVD-ROMS
Bases de dados on-line
Documentos disponíveis na internet 
Organizando o processo de seleção 
Quem seleciona? 
1 
5 
11 
13 
13 
14 
15 
15 
17 
18 
22 
23 
26 
27 
30 
32 
35 
38 
40 
42 
43 
45 
49 
51 
57 
58 
scanned by Regis Feitosa
Mecanismos para identificação, avaliação e registro 
Formulários para indicação e seleção de títulos 
Instrumentos auxiliares da seleção 
7 Política de seleção 
Componentes do documento de política de seleção 
8 Doações 
9 Reconsideração da decisão de seleção 
10 Tópicos especiais de seleção 
Seleção e formação profissional 
Seleção e censura 
Seleção e cooperação bibliotecária 
Seleção e direitos autorais 
11 O futuro da seleção 
A adequabilidade do livro 
O custo do livro 
O contexto social da informação 
A seleção de materiais na era da informação eletrônica 
12 Considerações finais 
Bibliografia complementar 
Anexos 
Índice 
vi 
63 
63 
65 
68 
71 
75 
77 
79 
80 
83 
88 
93 
99 
100 
101 
102 
103 
109 
110 
116 
119 
e 
Introdução 
JÁ FAZ MAIS DE UMA DÉCADA que a· segunda edição deste livro foi 
publicada. E acho que pelo menos uns cinco anos desde que ela se 
esgotou. Do momento da publicação do livro àquele em que a tota­
lidade de seus exemplares foi adquirida por bibliotecários ou estu­
dantes de biblioteconomia do país inteiro, várias coisas se modifica­
ram na realidade das bibliotecas e unidades de informação do país. 
Consciente dessas mudanças, eu entendi, então, que uma republica­
ção ou reimpressão da obra não seria conveniente. Para continuar 
cumprindo seus objetivos, ela necessitaria ser atualizada. 
�nicialmente, tudo pareceu relativamente fácil. Afinal, em pouco 
mais de um ano de trabalho eu havia conseguido elaborar a segun­
da edição do livro, publicada apenas três anos depois da primeira. 
Desta vez, no entanto, as coisas não correram da mesma forma. Feliz 
ou infelizmente, envolvi-me em muitas atividades profissionais nos 
últimos dez anos, dando prosseguimento à minha carreira acadêmi­
ca, exercendo por duas vezes a chefia do Departamento de Bibliote­
conomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da 
Universidade de São Paulo, engajando-me na orientação de traba­
lhos acadêmicos em nível de mestrado e doutorado, dedicando-me 
a outros projetos de livros (alguns deles tampouco finalizados até 
hoje), publicando livros em outras áreas, etc. Tudo isso não me per­
mitiu a concentração necessária para dedicar-me à atualização de 
meus vários livros na área de biblioteconomia, entre os quais este se 
inclui. 
A ideia de trabalhar na terceira edição de Seleção de materiais de
informação jamais foi abandonada. Ela sempre representou um fan­
tasma a me espreitar, fantasma do qual eu sabia que não conseguiria 
fugir indefinidamente e que cedo ou tarde iria alcançar-me. Parece 
que este dia finalmente chegou. Para o bem ou para o mal. 
Lembro-me que, ao escrever a introdução da segunda edição deste 
livro eu historiei o início de minha atuação como autor na área de 
biblioteconomia, reportando-me à publicação de meu livro sobre de-
1 
senvolvimento de coleções e às portas que ele me havia aberto na 
profissão (sua segunda edição é também outro fantasma em minha 
- vida ... ). Hoje, tantos anos passados, vejo que aquilo que mencionei
sobre o livro [?esenvolvimento de coleções poderia ser aplicado a todos
os outros que tive publicados posteriormente.
Provavelmente, a forma positiva como meus livros sempre fo­
ram recebidos pelos colegas bibliotecários e por outros professores 
de biblioteconomia se deveu muito mais ao acaso do que a algum 
talento especial que eu possua. Seja quaJ tenha sido a razão, o fato é 
que, largamente adotados pelos diversos cursos do país, eles tive­
ram na profissão uma repercussão que eu jamais esperava alcançar. 
Confesso que até hoje fico impressionado com as manifestações a 
respeito de minhas obras, principalmente quando participo de even­
tos da área e faço contato com alunos ou bibliotecários mais jovens, 
que tiveram conhecimento de meus livros durante seu período aca­
dêmico. Isso me torna especialmente feliz, pois os autores escreve­
mos para sermos lidos, para que nossas reflexões possam atingir e 
modificar a vida de nossos leitores. Por isso, como falei antes, atua­
li2ar uma, obra bem-sucedida é uma tarefa particularmente espinho­
sa, pois se corre o risco de mexer exatamente naqueles pontos que 
mais agradaram aos leitores, de retirar do livro exatamente aquilo 
que foi a razão de seu sucesso. Mas são os riscos que fazem a vida 
emocionante. Por que fugir deles, então? 
Sem dúvida, muita coisa mudou no ambiente da informação des­
de a segunda edição deste livro. Em 1998, a internet ainda estava 
longe de se tornar a realidade corriqueira que hoje representa para 
bilhões de pessoas no mundo. A porcentagem de pessoas alijadas do 
mundo da informação eletrônica era então muito maior do que ago­
ra e, pelo menos em termos do grande público não-especializado, 
tinha-se uma ideia ainda relativamente vaga sobre o impacto que 
esses novos meios de comunicação eletrônica viriam a ter no futuro. 
Assim, as considexações que fiz quando comecei a refletir para 
elaborar a segunda edição do livro parecem excessivamente ingênu­
as quando vistas com os olhos de hoje: 
[ ... ) a primeira coisa que me veio à mente foi abordar as implicações 
desta nova realidade sobre as atividades de seleção. Afinal, o que esta 
verdadeira ebulição eletrônica representa para aqueles profissionais que 
2 
têm por obrigação selecionar materiais de informação para as bibliote­
cas? Estarão eles condenados ao desemprego? Serão eles dinossauros 
fadados à extinção (seremos todos nós)? As respostas para essas per­
guntas, começou a parecer-me, poderiam variar bastante, dependendo 
da forma como se busque encarar essas mudanças, sua abrangência e o 
ritmo com que elas acontecem ou irão acontecer no futuro. Achei queesta seria uma discussão proveitosa para ser realizada numa segunda 
edição. 1 
Embora alguns desses questionamentos continuem váJidos, alguns 
outros poderiam ser acrescentados, levando a discussão a um ponto 
cego, em que não seria mais possível vislumbrar saídas. Em um 
mundo em que a totalidade dos documentos e informações parece 
estar ao alcance das mãos de qualquer interessado, a necessidade da 
própria atividade de seleção pode ser facilmente questionada. Se 
tudo posso ter, não necessito escolher. Se a tudo tenho acesso, não 
preciso me preocupar com qualquer tipo de incompletude. De uma 
certa forma, as possibilidades de felicidade infinita prometidas por 
Borges em seu conto A biblioteca de Babel,2 em que todo e qualquer 
livro estará acessível ao interessado, em todas as suas possibilida­
des, o original e sua cópia, a cópia da cópia e todas as outras cópias imagi­
náveis, cada uma com pequenas e mínimas diferenças entre elas, parece 
ter se tornado realidade na nova ordem mundial da informação ele­
trônica. 
Vã ilusão. Como sabemos, a abundância ou mesmo a totalidade 
de informações não é necessariamente sinônimo de acesso a elas. 
Ou de permanência. Como já foi mencionado por muitos autores -
tantos que nem me dou ao trabalho de citá-los neste momento -, 
nem tudo o que hoje está acessível nas redes eletrônicas de informa­
ção continuará a se manter desta forma no futuro. Muita coisa será 
retirada do ar sem qualquer tipo de explicação ou mesmo sem moti­
vo algum. Muita coisa será substituída por outra mais recente ou 
atualizada, perdendo-se a versão anterior e, com ela, as relações so­
ciais ou pessoais que havia produzido. Isso terá consequências ain­
da não bem dimensionadas para diversas áreas, como a história, a 
sociologia, o jornalismo. 
Tudo isto me fez acreditar na necessidade de uma terceira edição 
de meu livro Seleção de materiais de informação. Assim, como procedi 
3 
da vez anterior, reli o que havia escrito antes, mantive o que entendi 
continuar com a mesma validade, reformulei as partes em que senti 
a necessidade de um enfoque diferente, acrescentei informações que 
me pareceraq1 necessárias, atualizei a bibliografia, ampliei conside­
rações que antes só havia esboçado. Acredito que acertei em algu­
mas decisões, assim como, provavelmente, equivoquei-me em ou­
tras (e espero sinceramente que o número das primeiras seja subs­
tancialmente maior que o das segundas ... ). Acredito, também, que 
deixei de seguir alternativas que talvez pudessem ser mais interes­
santes tanto para mim quanto para os futuros leitores do livro. Mas 
sobre isso não me debruço ou peço desculpas. $empre tive por nor­
ma que alguém jamais se deve arrepender daquilo que não fez. Não 
vejo motivo para mudar de opinião a esta altura da vida. 
Notas 
1 VERGUEIRO, Waldomiro. Seleção de 111aleriais de informação. 2 .cd. Brasília: Briquct 
de Lemos/ Livros, 1997, p. 4. 
2 BORGES, Jorge Luis. A biblioteca de Babel. ln:--. Ficções. São Paulo: Compa­
nhia das Letras, 2007. 
4 
1 
A seleção: um momento de decisão 
O BIBLIOTECÁRIO TALVEZ NÃO o saiba, mas há um momento em que é 
chamado para tomar uma decisão. Ou seja: um momento de deci­
são. Não que deva sentir-se uma Shirley MacLaine ou uma Anne 
Bancroft, mas a sensação talvez seja um pouco parecida com a que 
elas experimentaram no filme Momento de decisão (The turning point) 
(se alguém ainda não o assistiu, assista-o). Há um momento em que o 
poder de decisão pode estar nas mãos do bibliotecário. É quando da 
seleção. De livros, periódicos, discos, filmes. De qualquer material 
passível de fazer parte do acervo. De qualquer item cuja incorporação 
ao conjunto existente contribua para que se aproxime mais dos objeti­
vos estabelecidos para aquele agrupamento de materiais informacio­
nais. Assim, ao menos potencialmente, o bibliotecário interfere na 
vida de inúmeras pessoas. Quando um simples ato profissional de­
fine o universo de informações a que um grupo de usuários terá 
acesso, pode-se dizer que o bibliotecário detém o poder. O poder. _ 
Mas, considerando o acima exposto, alguém poderá perguntar: o 
que, exatamente, significa isso? Entre outras coisas, significa que o 
bibliotecário, queira ou não, é um elemento que está permanente­
mente interferindo no processo social. Isto, sem dúvida, é uma es­
pécie de poder: O quanto este poder interfere de fato no processo 
social já é uma outra questão, que provavelmente exigirá uma res­
posta mais elaborada. 
O universo das probabilidades é infinito: imagine-se, por exemplo, 
que um grande pesquisador necessita de uma informação sobre de­
terminado componente químico, e que essa informação lhe permiti­
rá desenvolver uma vacina contra a AIDS. Vai à bibljoteca e descobre que 
ela não possui o título que traz essa informação. Preenche um for­
mulário sugerindo a aquisição do livro e espera sua chegada. O bi-
5 
bliotecário, ao analisar o pedido, decide que aquele documento não 
está entre as prioridades da coleção e o rejeita. Infelizmente, o pes­
quisador não tem a possibilidade de utilizar outras fontes, pois al­
gum tempo depois da decisão falece em um acidente automobilístico. 
Com isso, anos de pesquisa são comprometidos e uma descoberta 
científica é atrasada. Tudo isso porque o bibliotecário não selecionou 
o material que permitiria ao pesquisador concluir sua pesquisa ...
É claro que isso tudo é um exagero. Não é o caso de se deixar
envolver pela paranoia. Esse exercício de imaginação busca apenas 
salientar que o efeito que uma decisão pode ter sobre a vida dos 
usuários é realmente inimaginável. 
Assim como se pergunta o que efetivamente é esse poder do qual 
o bibliotecário está imbuído, pode-se questionar se e quanto ele está
preparado para assumir esse papel ou utilizar esse poder (presume­
se: em benefício da sociedade). Infelizmente, deve-se admitir que a
resposta a essas perguntas, pelo menos na maioria dos casos, seria
negativa. Os motivos? Muitos e variados, indo desde a falta de co­
nhecimentos básicos sobre o mercado editorial - o que, para dizer
o mínimo, lhe possibilitaria tomar as decisões de maneira mais efi­
ciente, - até sua inconsciência sobre a importância da atividade de
seleção. Por isso, o mais das vezes, esse poder acaba se transforman­
do em fumaça. Foge. Às vezes por culpa do profissional, mas nem
sempre. Às vezes os demais personagens do sistema informacional
(superiores hierárquicos, como diretores, secretários municipais e
prefeitos; ou grupos de usuários, como os pesquisadores, os profes­
sores, etc.) assumem esse poder. E o bibliotecário fica a contempla� 
outros tomando decisões nas quais ele muito teria a contribuir. E 
travestido de ajudante de ordens, executor, escudeiro e outras deno­
minações tão ou mais degradantes quanto essas (pelo menos, sob 
este ponto de vista). Uma situação não muito agradável para um 
profissional com um perfil de nível superior, deve-se convir ... 
O que acima foi dito leva, preliminarmente, à necessidade de es­
tabelecer uma premissa básica, sem a qual toda a discussão que se 
pretende fazer a seguir perderá sua razão de ser: o bibliotecário tem 
algo a dizer no que se refere à seleção de materiais para as bibliot�­
cas (se alguém não concordar com isso, fará melhor em fechar o li­
vro nesse momento e sair para comer uma pizza ... ). Como funda­
mento a essa premissa, �evem-se salientar dois pontos: 
6 
1) o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o acervo sob sua
responsabilidade, sabendo melhor do que ninguém em que aspec­
tos ele está fraco, em que aspectos ele está forte, em que aspectos ele 
atingiu um estágio ideal de desenvolvimento; 
2) o bibliotecário conhece, ou deveria conhecer, o usuário cujas
necessidades informacionais tem por obrigação procurar atender, 
sabendo avaliar objetivamente suas demandas e diferenciando as 
que têm características mais duradouras, ligadas a necessidades reais, 
das que são ditadas por tendências esporádicas, influência dos meios 
de comunicação de massa ou demodismos. 
Estes deveriam ser argumentos suficientes para que os bibliote­
cários participassem mais ativamente no processo de seleção. Na 
realidade, devido aos senões apontados, isto acaba não acontecendo. 
Nem todos os profissionais conhecem suficientemente bem o acervo 
sob sua responsabilidade, de modo a poderem tomar decisões eficien­
tes a respeito de inclusões ou exclusões que poderiam ou deveriam 
ser feitas nesse acervo. O mesmo se pode afirmar em relação aos 
usuários: em número de vezes maior que o desejado, não passam de 
ilustres desconhecidos para os bibliotecários. As exceções vão sem­
pre dizer respeito àqueles usuários mais assíduos à biblioteca, que 
acabam se transformando, bem ou mal, no parâmetro para todos os 
outros. Nesses casos, a exceção é vista como se fosse a regra e as 
decisões acabam muitas vezes tendo-a por base. Desnecessário enume­
rar a variedade de distorções que podem originar-se de uma prática 
como essa. As bibliotecas já são um testemunho por demais gritante. 
Mas que não se entenda erradamente o que aqui se propõe: não se 
está defendendo a participação única e exclusiva do bibliotecário na 
seleção, alijando todos os usuários, como se eles não tivessem, por 
sua vez, nada a colaborar para o processo. Isto seria excesso de ra­
dicalismo, algo parecido com levantar a bandeira da 'biblioteca para os 
bibliotecários' que muitas vezes está por trás de um corporativismo 
malintencionado e/ou idiota. Absolutamente. Os usuários devem atuar 
no processo de seleção e em muitos casos será deles a decisão final. 
O bibliotecário deverá sempre participar com seu conhecimento da 
coleção, propondo uma direção coerente para o acervo e gq.rantindo, 
assim, que os objetivos para ela estabelecidos não se percam com o 
passar do tempo. Sua participação é essencial para evitar que a cole-
7 
lutin
Realce
lutin
Realce
lutin
Realce
ção se transforme em um agrupamento mais ou menos desajeitado 
de documentos que nem sempre têm muita coisa em comum. 
Parece também evidente que ao bibliotecário deve caber a orga­
nização da seleção de maneira racional e eficiente, estipulando re­
gras, definindo critérios ou estabelecendo responsabilidades. Assim, 
mesmo quando não é ele quem diz o sim ou o não definitivo, sua 
presença faz-se sentir durante todo o processo. Talvez se possa afir­
mar que, no que diz respeito à seleção, uma das melhores contribui­
ções do bibliotecário esteja em sua capacidade de coordenar deman­
das e necessidades conflitantes, de maneira a garantir que o resulta­
do final seja o mais harmonioso possível. Neste sentido ele é, acima 
de tudo, um negociador. 
Talvez o exemplo mais característico desta função de negociador 
do bibliotecário seja a atividade de seleção desenvolvida em bibliote­
cas especializadas ou mesmo universitárias. No Brasil, ao contrário de 
outros países, o bibliotecário não é um especialista na área em que 
atua. Isto equivale a dizer que um profissional que trabalha em uma 
biblioteca especializada em biologia ou medicina, por exemplo, não 
tem conhecimento forma], especializado, dessas áreas. Por melhores 
intenções que possua, ele é, usando-se uma expressão popular, ape­
nas um leigo no assu,nto. E provavelmente jamais passará disso, em­
bora os anos de experiência possam vir a trazer-lhe, de modo mais 
ou menos eventual, um razoável conhecimento da literatura da área 
em que atua. Mesmo querendo ser o mais otimista possível, é difícil 
acreditar que possa ir muito além disso. Daí ser possível afirmar que 
a melhor contribuição que o bibliotecário poderá prestar ao usuário 
especializado será a de coordenar as diversas demandas ou necessi­
dades existentes, balanceando o acervo segw1do a importância rela­
tiva dos assuntos, priorizando a seleção em função dos projetos em· 
desenvolvimento na instituição ou dos cursos existentes, atuando 
em conjunto com wna comissão de seleção composta por especialis­
tas nos assuntos representados no acervo. 
Nos casos em que a decisão final de seleção não pertença ao bi­
bliotecário, será necessário que ele tenha um conhecimento bastante 
preciso dos procedimentos adotados nesse processo, de modo a poder 
defender as necessidades da coleção. Talvez até se devesse dizer: é 
exatamente quando não possui o poder da decisão final que o biblio­
tecário deve ser ainda mais zeloso em suas preocupações com o de-
8 
senvolvimento da coleção. A experiência mostra que os usuários ten­
dem a enxergar de maneira bastante limitada o acervo, estabelecen­
do suas necessidades pessoais mais imediatas como o parâmetro de 
todas as decisões sobre a coleção. O bibliotecário tem condições de 
ir muito mais além. 
A objetividade no processo de seleção é uma meta sempre alme­
jada. Sem ela, existe o risco de surgirem acusações de favoritismo 
ou ineficácia da parte de cada usuário que não se sinta satisfeito 
com a escolha efetuada. Para fazer frente a essas acusações, a única 
alternativa é demonstrar que os materiais foram incluídos no acervo 
segundo parâmetros objetivos de qualidade ou de necessidade. 
Nem sempre isso será fácil de realizar. Por trás de tudo estará a 
questão de definir, entre os milhares ou milhões de materiais de in­
formação que são lançados no mercado, quais os melhores para uma 
biblioteca específica. Não simplesmente definir quais os melhores 
mas, isto sim, quais os melhores para um determinado conjunto de 
usuários, alvo de uma coleção já existente (ou não). Na raiz dessa 
questão estará embutida a necessidade de conhecer a fundo essa 
comunidade a cujas necessidades aquele conjunto de documentos 
deve atender. Na raiz dessa questão está, também, a compreensão 
de que a atividade de seleção não é realizada no vazio, mas efetuada 
dentro de um determinado contexto sociocultural, com tensões, 
ambivalências, disputas e negociações. 
Não há como fugir dessa realidade. Da mesma forma, é virtual­
mente impossível abolir a atividade de seleção das bibliotecas. Não 
existem nem existirão recursos financeiros suficientes para adquirir, 
físicos para acomodar, ou humanos para processar a quantidade de
materiais que invariavelmente chegaria às bibliotecas, por mais espe­
cializadas que fossem. Mesmo que se admitisse a hipótese absurda 
de obter todos os materiais sem despender diretamente um único 
centavo, por meio de doações, as outras dificuldades continuariam 
presentes. Não há como fugir da seleção. O sonho da biblioteca de 
Alexandria cada vez mais se configura como apenas isso: um sonho. 
Bonito, sim. Maravilhoso, talvez. Mas, ainda assim, um sonho. 
Alguns bibliotecários argumentarão que essa história de organi­
zar o processo de seleção parece coisa de teórico: na prática, no dia­
a-dia, não se tem tempo para tanta elucubração, pois as decisões 
têm que ser tomadas rapidamente. Não há tempo para estabelecer 
9 
lutin
Realce
lutin
Realce
critérios, por mais positivos que sejam. Não há tempo para avaliar 
as diversas alternativas, por mais que isto seja necessário. Não há 
tempo para a discussão nem para formar comissões, por mais que 
isto seja aconselhável. Às vezes, tudo tem que ser decidido quase 
num estalar de dedos para não se perder a possibilidade de utilizar 
uma verba destinada à aquisição; não fazer isso significaria perder 
esse valor na dotação orçamentária do ano seguinte, e não dá para se 
correr esse risco. Outras vezes, não é possível interromper as demais 
atividades da bibJjoteca para verificar um a um os itens de uma doa­
ção, escolhendo apenas os que interessam de fato ao acervo. 
Tudo isso é e não é verdade. Dizer que não se dispõe de tempo 
para estabelecer critérios de seleção é uma falácia porque, na maio­
ria das vezes, a falta de critérios também obedece a um critério, que 
não interessa ao profissional elucidar. Afirmar que os prazos para 
utilização de certas verbas são irrevogáveis pode até ser uma boa 
justificativa, mas sua credibilidade é prejudicada quando utilizada 
durante anos e anos (afinal, não existe nada mais previsível que a 
imprevisibilidadedas verbas ... ). E dizer que a sistematização do pro­
cesso de seleção é preocupação de teóricos parece ser uma maneira 
de evitar tomar uma posição, preservando-se uma prática que pre­
tende justificar-se por si mesma. 
Não é verdade que as bibliotecas funcionem ou possam funcio­
nar sem a utilização de critérios de seleção. Bem ou mal, eles exis­
tem. Uma biblioteca que só armazena livros já tem um grande crité­
rio de seleção estabelecido, bastando apenas refiná-lo. O mesmo acon­
tece com a que armazena livros e periódicos, ou livros e discos, ou 
livros e filmes, e assim por diante. Pode-se afirmar que existe uma 
gradação de critérios de seleção, alguns mais amplos do que outros. 
Muitas bibliotecas limitam-se ao estabelecimento de grandes critéri­
os gerais, ligados ao tipo de publicação ou a grandes abrangências 
temáticas. Do mesmo modo, pode-se afirmar que há uma decisão ou 
um critério de seleção por trás de cada documento da biblioteca, 
como se cada um fosse o testemunho vivo da atividade de um pro­
fissional, de sua preocupação, ou descaso, com o usuário ou com 
seu papel de intermediador entre o universo do conhecimento e a 
comunidade. Como dito acima, a falta de critérios não deixa de ser 
um critério também ... A questão principal é deixá-lo em evidência. 
Não, absolutamente, negá-lo. 
10 
2 
Considerações gerais que 
influenciam a seleção 
EM MUITOS CASOS, a própria área de atuação da biblioteca implica 
um critério de seleção. Basta fazer uma relação das várias denomi­
nações que indicam a especialização das instituições bibliotecárias: 
biblioteca de química, biblioteca de física, biblioteca de comunica­
ções e artes, biblioteca de arquitetura, etc. Tem-se, então, uma pri­
meira grande subdivisão, ou, melhor dizendo, um grande critério 
de seleção: o assunto. 
Outro tipo de especialização, muitas vezes presente na denomi­
nação que as bibliotecas adotam, refere-se à definição do usuário. 
Estabelecer uma biblioteca infantil implica a seleção de títulos ade­
quados a esse público. Mais uma vez, tem-se um primeiro grande 
critério de seleção: a clientela. 
Os exemplos poderiam continuar por páginas e páginas, mas, 
para os objetivos pretendidos, já são suficientes, ou seja, demonstrar 
que existe uma graduação de critérios de seleção, de grandes (ou 
amplos) a específicos. Isto, em princípio, não parece ser uma noção 
de muito difícil entendimento para os bibliotecários, principalmen­
te se lembrarmos dos sistemas de classificação decimal, os tão co­
nhecidos sistemas Dewey e cou, que trabalham com este conceito na 
divisão do conhecimento humano, partindo do geral para o especí­
fico. 
Outra comparação possível é com uma corrida de obstáculos. 
Imaginemos todos os documentos competindo para atingir um de­
terminado objetivo (sua inclusão no acervo) e tendo que ultrapassar 
certos obstáculos que existem no caminho (os critérios de seleção). 
Alguns serão bem-sucedidos, vencendo todos os obstáculos que lhes 
foram colocados. Outros tropeçarão e terão que ser excluídos da 
11 
lutin
Realce
lutin
Realce
competição. Como em uma corrida verdadeira, na medida em que 
as dificuldades vão ficando mais complexas e as exigências se tor­
nando mais rígidas, maior é o número de candidatos que não conse­
guem chegar ao final. 
Esta pode parecer uma maneira meio irreverente de descrever a 
atividade de seleção em bibliotecas. Mas, na prática, não foge muito 
disso. A questão principal está na colocação dos obstáculos/critérios 
de seleção corretos. Se forem fáceis de ultrapassar, é provável que 
seja grande o número dos que alcançarão o objetivo final, e talvez 
isto cause problemas no futuro com a acomodação ou mesmo ma­
nutenção dos vencedores. Se os critérios forem rígidos, poucos se­
rão bem-sucedidos, o que pode gerar dificuldades de disponibilida­
de dos materiais. Infelizmente, não há uma solução simplista. Como 
em uma verdadeira corrida, cada caso tem suas peculiaridades de 
percurso, de competidor, de público, etc. Não existem respostas fá­
ceis. 
Antes de se entrar propriamente na problemática da elaboração 
de critérios (que será tratada com detalhes no próximo capítulo), é 
necessário refletir um pouco sobre os fatores gerais que influenciam 
o processo de seleção. Nunca é demais salientar que, entre outras
coisas, a forma de abordar esse processo será diretamente influencia­
da pela tipologia da biblioteca. Em bibliotecas especializadas, a pri­
meira questão a ser respondida estará ligada à definição temática do
acervo, enquanto que em bibliotecas públicas ela se ligará à defini­
ção da comunidade, caracterizando-se os usuários reais e os poten­
ciais, ou, indo mais além, os usuários preferenciais. No caso das pri­
meiras, o processo de seleção começará com a definição dos grandes
assuntos que deverão estar representados no acervo. Mas mesmo
quando a caracterização do usuário é o ponto de partida, o processo
de seleção não poderá deixar de inicialmente considerar os grandes
grupos de assuntos. Essas duas considerações estão praticamente
juntas.
Essa breve discussão leva necessariamente a se questionar sobre 
a existência de procedimentos comuns à seleção de materiais, que 
estariam necessariamente presentes em qualquer tipo de instituição 
bibliotecária. Na realidade, esses procedimentos existem. Todas as 
bibliotecas iniciam o processo de seleção com considerações abran­
gentes, que são depois refinadas e adequadas a cada uma delas em 
12 
particular. Essas considerações vão se referir ao assunto, ao usuário, 
ao documento em si e a seu preço. A ordem em que essas considera­
ções são feitas poderá variar, e em muitos casos elas são colocadas 
simultaneamente. Mas estarão presentes, de modo indispensável, 
em todas as bibliotecas. Entenda-se, portanto, que a ordem em que 
são enfocadas neste livro obedece apenas a uma distinção metodo­
lógica e não de importância. 
O assunto 
Uma das primeiras considerações a serem feitas na seleção de mate­
riais em bibliotecas enfocará a problemática do assunto, a fim de 
verificar se os materiais passíveis de incorporação ao acervo (em 
princípio, todo o universo do conhecimento já registrado em algum 
tipo de suporte) estão ou não incluídos nos parâmetros gerais de 
assunto ou áreas de cobertura da coleção. É muito difícil encontrar 
bibliotecas que não façam alguma restrição quanto aos assuntos tra­
tados nos documentos que devem fazer parte do acervo). Em segui­
da, traçam-se as prioridades de coleta para esses assuntos. O estabe­
lecimento dessas prioridades, que poderia ser encarado como um 
refinamento do critério inicial, tornar-se-á necessário devido à im­
possibilidade material de selecionar da mesma maneira todos os 
assuntos de interesse. Da mesma forma, será necessário, em um 
momento posterior da atividade de seleção, definir os assuntos que 
sejam considerados afins à área de atuação da biblioteca, que terão 
uma representação mínima em seu acervo ou poderão estar dispo­
níveis em outros lugares, a serem previstos, como uma alternativa 
de acesso. 
O usuário 
As considerações quanto às características do usuário real ou poten­
cial estão diretamente ligadas à definição do benefício que cada 
material incorporado ao acervo poderá trazer à comunidade a que a 
biblioteca almeja servir. Em geral, essas considerações iniciais esta­
rão ligadas a uma primeira avaliação da adequação ao usuário do 
material a ser selecionado. Pouco adiantará possuir materiais de 
altíssima qualidade que jamais despertarão qualquer interesse e fi-
13 
lutin
Realce
lutin
Realce
carão mofando nas estan!es, gerando despesas com manutenção, lim­
peza, acomodação, etc. E sempre bom lembrar a anedota sobre uma 
biblioteca pública do interior que possuía, lindamente encadernada 
em couro de primeira qualidade, a coleção completa das obras de 
Goethe ... em alemão gótico. 
Enfim, a resposta correta a essa questão envolve um conhecimento 
bastante aprofundado dos usuários, suas características e preferên­
cias. Esse conhecimento nãodeve ser confundido com a familiarida­
de superficial que se adquire em relação a usuários mais assíduos, 
cujos interesses o bibliotecário acaba conhecendo mais detalhada­
mente que os daqueles usuários não tão assíduos (ou tão comunica­
tivos). Deve-se tomar cuidado para não confundir os interesses de 
alguns com os interesses de todos, procurando-se definir mecanis­
mos que permitam não só a avaliação global dos usuários mas que 
impeçam, também, o aparecimento de favoritismos. Neste caso, evi­
dencia-se a ligação da seleção com outra atividade do desenvolvi­
mento de coleções, o estudo de comunidade. 
O documento 
Cada documento desempenhará um papel no conjunto do acervo. 
Neste sentido, a terceira pergunta a ser feita nos procedimentos ini­
ciais de qualquer processo de seleção buscará uma definição precisa 
da necessidade de cada documento. Em outras palavras, o bibliote­
cário deverá responder (a si mesmo) se a coleção dispõe de material 
sµficiente sobre o assunto em causa, ou tipo de documento em par­
ticular, e, em caso afirmativo, se necessita de mais. Isto implicará 
uma avaliação anterior do acervo, por mais elementar que ela seja, 
sem a qual a resposta será um mero palpite. Fica claro que é preciso 
desenvolver mecanismos, ainda que mínimos ou rudimentares, que 
permitam ao responsável pela biblioteca um conhecimento objetivo 
do acervo no que concerne tanto à distribuição dos assuntos como à 
sua representatividade em relação com o número de usuários, de 
cursos ou disciplinas, de linhas de pesquisa, etc. Também neste caso 
torna-se evidente a ligação da seleção com outra atividade do de­
senvolvimento de coleções: a avaliação de coleções. 
14 
O preço 
A quarta consideração dirá respeito ao custo do material: o bibliote­
cário terá que definir se a biblioteca tem condições de arcar com o 
custo de cada documento. Sabendo-se que os recursos disponíveis 
para aquisição não são inesgotáveis (na realidade, raramente são 
suficientes) torna-se imprescindível definir quanto a biblioteca pode 
comprometer-se em relação ao preço do material. A experiência -
mostra que esta exigência, pelo menos no Brasil, acaba deixando fora 
da coleção grande parte dos documentos. Mesmo, porém, em países 
com mais recursos financeiros para as bibliotecas, as duas coisas es­
tão ficando cada vez mais pr,óximas devido ao aumento do preço
dos materiais bibliográficos. E conveniente desenvolver algum tipo 
de sistema de avaliação que permita comparar o custo do documento 
com o provável benefício que ele trará ao conjunto do acervo e aos 
usuários, interligando-se, então, todas as considerações anteriormen­
te feitas. Mais especificamente, fica clara aqui a relação da seleção 
com a atividade de aquisição de materiais. 
Questões complementares 
Outras duas considerações podem ser feitas no sentido de dimensio­
nar corretamente as anteriores. A primeira diz respeito à probabili.::--, 
dade de que o material selecionado possa vir a ser alvo potencial de 
\ 
vandalismo, furtos ou rnublações, bem como gerar objeções por parte 
dos usuários devido à sua incorporação ao acervo. Não é uma ques­
tão que leve necessariamente à recusa de seleção mas representa, 1 
sem dúvida, fatos a serem pesados na decisão. Um material muito 
valioso acarretará custos adicionais, com respeito à sua segurança, 
que talvez a biblioteca tenha dificuldades para cobrir; custos que, na 
realidade, são superiores ao preço da compra. Materiais sobre as­
suntos polêmicos também podem trazer mais problemas do que 
J benefícios à biblioteca, devendo ter sua necessidade para o acervo 
cuidadosamente estudada, visando urna decisão mais objetiva a seu 
respeito. 
A última consideração concerne a urna primeira estimativa de 
qualidade do material selecionado. Nem sempre o bibliotecário tem 
informações suficientes que lhe permitam determinar ou ao menos 
15 
fazer uma estimativa da qualidade dos documentos. Para tentar fa: 
zer essa avaliação, deverá utilizar todos os dados disponíveis, seja 
no próprio material (orelha do livro, apresentação, índice, biblio­
grafia, etc.) e da opinião de especialistas. 
Todas essas considerações são feitas cotidianamente no processo 
de seleção. São realizadas, depois de um certo tempo, quase que 
automaticamente - pode-se até dizer inconscientemente, - na me­
dida em que são incorporadas à rotina de trabalho. O que não garan­
te que sejam infalíveis. É importante, aliás, salientar que infalibili­
dade é algo que jamais existirá na seleção; esta é sempre um trabalho 
de aproximação, buscando-se dados objetivos que permitam prever 
a importância futura do documento para o usuário e para a coleção. 
Um correto estabelecimento de critérios de seleção contribuirá para 
que essas previsões sejam realizadas da forma mais acurada possí­
vel, mantendo-se o aparecimento de erros em níveis aceitáveis. Mas 
isto já é assunto para outro capítulo. 
16 
3 
Em busca de critérios de seleção 
A LITERATURA ESPECIALIZADA está repleta de critérios, muitas vezes 
repetitivos e mesmo contraditórios, destinados ao julgamento dos 
materiais a serem selecionados. De todo modo, eles visam guiar o 
bibliotecário no trabalho periódico de seleção, garantindo a coerên­
cia do acervo no transcorrer do tempo. Graças ao conjunto de _crité
:_ 
rios de seleçffeo, comumente denominado política de seleção, é possí­
vel manter um direcionamento racional para a coleção à medida que 
os profissionais se incorporam ou se afastam da equipe de trabalho. 
A política de seleção procura garantir que todo material seja incor­
porado ao acervo segundo razões objetivas predeterminadas e não 
segundo idiossincrasias ou preferências pessoais. Igualmente, é ela 
que garante que as lacunas existentes no acervo não são fruto do 
descaso ou ineficiência do profissional responsável pela seleção, mas 
se coadunam com o processo de planejamento vigente na institui­
ção bibliotecária, sendo coerentes com os propósitos e objetivos es­
tabelecidos para sua atuação. 
Antes de· entrar propriamente nos critérios de seleção, é impor­
tante fazer urna advertência: a organização da atividade de seleção 
mediante o estabelecimento de critérios só é eficiente quando todos 
os envolvidos trabalham de modo racional, dispostos a discutir ob­
jetivamente a aplicação ou aplicabilidade desses critérios. Na medi­
da em que os envolvidos na problemática da seleção afastam-se do 
racional, mergulhando no terreno do passional ou do autoritarismo, 
os critérios de seleção tornam-se cada vez mais inócuos. Não existe 
critério de se)eção que possa anular ou dissuadir uma autoridade 
superior firmemente decidida a fazer valer a sua vontade ... ou um 
bibliotecário disposto a imprimir seus preconceitos pessoais ao acer­
vo sob sua responsabilidade. Neste sentido, os critérios consubstan-
17 
ciados na política de seleção devem ser vistos como uma espécie de 
constituição: não existe nenhuma que consiga resistir a g�)Vernantes 
com disposição e força suficiente para desrespeitá-la. E claro que 
isto nunca foi razão para que as constituições não fossem elabora­
das; da mesma forma, a prepotência de autoridades superiores tam­
bém não é razão para que os critérios de seleção não sejam elabora­
dos. É nesses momentos que são ainda mais necessários, visando 
tornar evidente o exercício da prepotência. 
Antes de mais nada, é preciso esclarecer que os critérios que se­
rão relacionados a seguir são apenas uma sugestão. Cada profissio­
nal deverá procurar desenvolver os critérios mais apropriados para 
a coleção pela qual é responsável, que poderão ou não incluir os que 
forem aqui citados. Utilizando uma comparação não muito criativa, 
pode-se afirmar que desenvolver uma coleção é corno organizar um 
guarda-roupa pessoal: cada um tem critérios próprios para definir 
as vestimentas que dele farão parte e esses critérios variarão segun­
do características individuais, como altura, peso, etc. Os critérios 
sugeridos não são uma fórmula passível de generalização, mas ape­
nasalgumas das muitas possibilidades existentes. Assim devem ser 
encarados. 
A literatura especializada costuma apresentar uma grande varie­
dade de critérios. Às vezes a diferença entre alguns é mínima, ape­
nas uma questão de enfoque ou preferência terminológica. Neste 
· texto, os critérios foram organizados de modo a que pudessem ser
mais bem assimilados didaticamente, mesmo com o risco de classi­
ficar um ou outro de forma inadequada. Assim, considerando-se os
objetivos deste livro, optou-se por.agrupar os muitos critérios utili­
zados na seleção de materiais em bibliotecas, citados na literatura
especializada, segundo o tipo de enfoque por eles adotados:
Critérios que abordam o conteúdo dos documentos 
Autoridade. Busca definir a qualidade do material a partir da repu­
tação de seu autor, editora ou patrocinador. Baseia-se na premissa 
de que o fato de um autor ter produzido materiais de qualidade no 
passado é um indicador razoavelmente confiável de sua produção 
futura. Da mesma forma, algumas editoras costumam notabilizar-se 
pela qualidade dos materiais que editam, funcionando como um ín-
18 
dice de confiabilidade do conteúdo dos documentos. Com a prática, 
o bibliotecário aprenderá a identificar as editoras de excelência nas
áreas de interesse da biblioteca, geralmente as que contam com edi­
tores ou comissões editoriais de reconhecida competência, e fará a
seleção desses materiais quase que de forma automática. Por exem­
plo, sabendo-se, que as editoras Facet Publishing, Libraries Unlirnited
e Scarecrow Press são bastante conceituadas nas áreas de biblioteco­
nomia e ciência da informação, o fato de um livro ter sido publicado
por alguma delas irá pesar favoravelmente na sua avaliação. O mes­
mo pode ser afirmado em relação a documentos patrocinados por
instituições de destaque em sua área de atuação. Documentos pa­
trocinados por instituições como a Organização das Nações Unidas
para a Alimentação e Agricultura (FAO) ou a Organização das Na­
ções Unidas para Educação, Ciência e Cultura (uNEsco) costumam
ter bom nível, merecendo, em princípio, uma avaliação favorável.
Cada biblioteca deverá identificar essas instituições ou editoras de
prestígio, cujos nomes funcionam como aval dos materiais a que dão
origem, e fazer com que essas informações estejam disponíveis aos
responsáveis pela seleção dos materiais, constando do documento
de política de seleção.
É claro, no entanto, que não existem garantias suficientemente 
seguras em relação a este critério. O fato de uma editora ter publica­
do dezenas de obras de altíssima qualidade, gozando de uma sólida 
reputação no mercado, não quer dizer que todos os materiais que 
ela publicar terão o mesmo nível. Revistas especializadas costumam 
utilizar um sistema de rodízio com relação a·seus editores responsá­
veis, mudando-os periodicamente; isso, muitas vezes, pode impli­
car queda da qualidade dos artigos. 
-P Precisão. Visa evidenciar o quanto a informação veiculada pelo 
documento é exata, rigorosa, correta. Para analisar um documento 
sob este ponto de vista, o bibliotecário precisará muitas vezes da 
opinião de um especialista, pois nem sempre a imprecisão está tão 
evidente quanto se desejaria que estivesse. 
Lembro-me de uma obra enciclopédica sobre histórias em qua­
drinhos, aparentemente exata, que, à primeira vista, deixou-me bas­
tante impressionado; no entanto, wna leitura atenta evidenciou er­
ros primários. Fiquei assustado ao ler ali que um amigo desenhista 
19 
de histórias em quadrinhos, com quem estivera na semana anterior, 
havia morrido fazia mais de dois anos ... 
Imparcialidade. Procura verificar se todos os lados do assunto 
são apresentados de maneira justa, sem favoritismos, deixando cla­
ra, ou não, a existência de preconceitos. Deve-se ter em mente, no 
entanto, que esta imparcialidade poderá, ou não, ser pré-requisito 
necessário para inclusão na coleção. 
Muitas vezes, obras não-imparciais representam uma visão al­
ternativa de um determinado assunto, funcionando como uma es­
pécie de contraponto a obras já existentes no acervo. Outras vezes, 
obras aparentemente imparciais disseminam veladamente precon­
ceitos contra determinadas camadas da sociedade, como minorias 
étnicas, de gênero, orientação sexual, etc. Durante muito tempo, por 
exemplo, acreditou-se que os livros didáticos eram obras imparciais, 
pois se limitavam a funcionar como instrumentos para a transmis­
são de conhecimentos considerados específicos para fins educacio­
nais. Análises realizadas por pesquisadores conceituados, entre os 
quais se pode destacar Umberto Eco, mostraram que essa certeza 
não passava de uma grande falácia. 
A imparcialidade nem sempre é algo muito fácil de ser definido 
e, acima de tudo, pode ser encarada tanto de um ângulo negativo 
(disseminação de preconceitos sociais) como positivo (exteriorização 
de pontos de vista minoritários). Cada profissional definirá a me­
lhor maneira para, no contexto de seu campo de trabalho específico, 
abordar essa polêmica questão. 
Atualidade. Urna informação desatualizada perde muito de seu 
valor. Para bibliotecas onde a atualidade dos dados tem muita im­
portância, este critério é decisivo. É itnportante ter esse fato bem
claro, pois afetará diretamente a atividade de seleção. 
A velocidade com que as informações se desatualizam varia con­
forme a área de conhecimento em que a biblioteca atua. Documen­
tos de algumas das chamadas ciências exatas, como a computação, 
se desatualizam rapidamente. Por isso, os bibliotecários das áreas 
de ciências exatas necessitam estar bastante atentos a este critério, 
visando minimamente acompanhar o ritmo com que novas tecnolo­
gias surgem e desaparecem. Nas ciências humanas, obras 'antigas' 
20 
costumam ser muito valorizadas pelos pesquisadores, por constituí­
rem uma contribuição já reconhecida e incorporada ao conhecimen­
to (daí, provavelmente, a importância maior que as ciências huma­
nas dão às obras monográficas). 
Convém, por exemplo, estar alerta para mudanças políticas e es­
truturais na sociedade moderna, que fazem com que mapas ou enci­
clopédias recentes logo percam sua atualidade. As mudanças ocor­
ridas ao longo da última década do século xx e na primeira década 
do século xx1 no Leste europeu, por exemplo, demonstram o adven­
to de modificações surpreendentes, que afetam o trabalho de todos 
que têm o fornecimento de informações fidedignas entre suas obri­
gações profissionais. 
No trabalho de seleção, os bibliotecários deverão manter-se aten­
tos a trabalhos que se apresentam como edições atualizadas ou re­
vistas de obras já publicadas, procurando avaliar de maneira objeti­
va quanto da informação contida nesses documentos é realmente 
informação nova e não a mesma anteriormente divulgada, apenas 
em uma diferente apresentação. 
Cobertura/Tratamento. Refere-se à forma como o assunto é tra­
tado. Na aplicação deste critério, o bibliotecário distinguirá: 
• se o texto entra em detalhes suficientes sobre o assunto ou se a
abordagem é apenas superficial;
• se todos os aspectos importantes foram cobertos ou alguns foram
tratados ligeiramente ou deixados de fora.
É importante salientar que também neste caso não existe resposta
fácil. O fato de um documento não realizar a cobertura total de um 
assunto ou fazer um tratamento apenas superficial não significa que 
não possa vir a ser de interesse para determinado acervo. A especifi­
cidade da clientela e/ou coleção deverá ser levada em conta, pois 
este critério pode ser utilizado de uma forma por uma biblioteca e 
de forma totalmente diversa por outra. Muitas vezes, para correta 
aplicação deste critério, é importante contar com a colaboração de 
um especialista. 
21 
Critérios que abordam a adequação ao usuário 
Conveniência. Intimamente ligado ao critério de cobertura/tratamen­
to. Procura verificar se o trabalho é apresentado em um nível, de 
vocabulário e visual, que seja compreensível pelo usuário. Em geral, 
neste critério são levantados aspectos relativosà idade dos usuários, 
desenvolvimento intelectual, etc. 
Na aplicação deste critério, fica evidente quanto é necessária a 
interação do bibliotecário com seu público: para analisar correta­
mente o documento, será preciso que o profissional tenha conheci­
mento profundo do usuário cujas necessidades informacionais pro­
cura atender, conseguindo determinar de modo exato suas limita­
ções e potencialidades. Pouco adiantará colocar no acervo itens ina­
dequados para o tipo de utilização pretenruda ou que é efetuada 
pelo usuário. Por exemplo, se o objetivo de um texto para a bibliote­
ca for atender à realização de trabalho em grupos, ele deve ser ade­
quado para isso, tanto em termos físicos e de conteúdo . 
Idioma, Trata-se de definir se a língua do documento é acessível 
aos usuários da coleção. 
Em muitas bibliotecas esta análise é facilmente realizada por não 
existir tão grande diversidade de publicações em sua área de inte­
resse e nem grupos de usuários com necessidades linguísticas espe­
cíficas. Em algumas bibliotecas especializadas, no entanto, esta veri­
ficação da língua de publicação terá necessariamente que ser feita 
item por item, assunto por assunto. 
Relevância/Interesse. Busca definir se o documento é relevante 
para a experiência do usuário, sendo-lhe de alguma utilidade. Da 
mesma forma, tenta-se verificar se o texto tem condições de desper­
tar sua imaginação e curiosidade. 
Alem de, como nos dois critérios anteriores, implicar a necessi­
dade de um conhecimento mais aprofundado dos usuários, não se­
ria exagero dizer que' este critério exigirá do bibliotecário algum 
conhecimento das características dos textos literários e técnicos. Ou, 
melhor dizendo, um interesse pessoal pela leitura. 
22 
Estilo. Muitas vezes o estilo utilizado não é apropriado ao as­
sunto ou ao objetivo do texto. Este critério procura verificar este fato, 
bem como constatar se ele é adequado ao usuário-alvo. Ninguém, 
por exemplo, porá em dúvida a excelência do estilo de Machado de 
Assis, mas é bastante discutível a adequação de alguns de seus li­
vros, corno Dom Casmurro ou Memórias póstumas de Brás Cubas, a uma 
clientela infanta-juvenil. 
Critérios relativos a aspectos adicionais do documento 
Características físicas. Abrangem os aspectos materiais dos itens a 
serem selecionados. 
Na aplicação deste critério, o bibliotecário, em face do uso pre­
tendido para o material e as características dos usuários, verificará 
se os caracteres tipográficos foram bem escolhidos, têm boa legibili­
dade, tamanho apropriado, etc. Verificará se a encadernação é resis­
tente para o uso em biblioteca, fazendo, inclusive, uma estimativa 
de sua durabilidade e das possibilidades ou necessidade de futuros 
reparos. Analisará também a qualidade do papel, submetendo-o a 
escrutínio semelhante ao da encadernação. 
As características físicas são muito importantes para materiais 
com previsão de alta demanda ou dirigidos para públicos específi­
cos. Em certos países, existe uma florescente indústria editorial 
dirigida para a população de terceira idade, com livr?s iI:1'1pr�ss�s 
em formato grande e com letras aumentadas. No Brasil, a mdustna 
de livros infantis tem procurado utilizar material resistente e ade­
quado para crianças, podendo-se apontar a produção de livros in­
fantis em plástico, pano, etc. 
Aspectos especiais. Neste item analisam-se a inclusão e a quali­
dade de bibliografias, apêndices, notas, índices, etc. Enfim, todos os 
elementos que contribuem para melhor utilização do documento. 
Às vezes, mais que constatar a existência desses elementos, será ne­
cessário avaliar se valorizam a obra e não constituem apenas um 
fator totalmente supérfluo para suas finalidades. 
Contribuição potencial. Este critério leva em consideração a co­
leção já existente, na qual o documento a ser selecionado deverá ocu­
par um lugar específico. 
23 
Material algum será incorporado ao acervo por simples inércia, 
mas para torná-lo mais completo. Assim, é preciso que cada item 
seja analisado do ponto de vista de sua relação com os demais, veri­
ficando-se quanto contrabalança outros trabalhos, trazendo uma 
perspectiva diferente e enriquecedora ao acervo, ou se simplesmente 
se soma ao que existe, gerando redundância de informações. Esta 
verificação será importante para se ter uma estimativa de uso futuro. 
Custo. Presumindo-se que a consideração inicial sobre a possibi­
lidade de a biblioteca arcar com o custo do material tenha sido reali­
zada e seja positiva, este critério procurará identificar alternativas 
financeiramente mais compensadoras para a biblioteca. Verificará 
se há edições mais baratas (encadernações simples, miolo em papel 
inferior ou edições de bolso), tomando cuidado para não afetar al­
guns dos critérios anteriores. Também são analisados outros fatores 
que, indiretamente, acabam afetando o custo total da obra para a 
instituição. Por exemplo, os custos com processamento técnico, ar­
mazenamento, segurança, etc. 
É conveniente que o bibliotecário procure definir um sistema de 
avaliação capaz de lhe informar com razoável confiabilidade o quanto 
é mais barato adquirir um material e incorporá-lo ao acervo, ao in­
vés de solicitá-lo por empréstimo a outra biblioteca, quando neces­
sário. Cada vez mais, a acessibilidade aos documentos por meio do 
intercâmbio com outras instituições torna-se uma alternativa viável 
à sua disponibilidade física. 
Estes são apenas alguns dos critérios comumente utilizados para 
avaliação de documentos no processo de seleção. Existem vários 
outros (dois autores norte-americanos, Mary Carter e Wallace Bonk, 
em Building library collections, chegam a relacionar mais de 150). Des­
necessário citar todos os critérios já utilizados ou mesmo apenas 
imaginados; independentemente disso, cada profissional terá que 
se defrontar, em algum mornento, com a necessidade de estabelecer 
seus próprios critérios. Importante é salientar que os critérios suge­
ridos neste livro são apenas indicativos e nem sempre podem ser 
aplicados a todos os documentos; sua aplicação dependerá do mate­
rial que se está analisando. Em obras de ficção, por exemplo, critéri­
os como a representação de um importante movimento, gênero lite­
rário ou cultura nacional, bem como características de originalidade 
24 
e apresentação artísticas são pontos que devem ser considerados. 
Em obras de não-ficção, por outro lado, a objetividade e clareza de 
apresentação acabam assumindo prioridade sobre outros aspectos. 
Os critérios de seleção aqui abordados não se aplicam apenas a 
Jjvros, mas a todos os materiais. Evidentemente, haverá critérios es­
pecíficos para certos tipos de documentos. Será preciso elaborar cri­
térios complementares para a seleção de periódicos, filmes, discos, 
diapositivo�, etc. Todos devem ser coerentes com os objetivos da 
biblioteca. E inconcebível, por exemplo, a utilização de critérios de 
seleção totalmente opostos para livros e periódicos, ou para livros e 
materiais audiovisuais. 
25 
4 
Seleção de materiais especiais 
e multimeios 
PARA AS FINALIDADES DESTE capítulo, são materiais especiais ou multi­
meios todos os materiais de biblioteca, à exceção dos livros. Assim, 
aqui se incluem os periódicos em geral (revistas especializadas, jor­
nais, etc.), os materiais audiovisuais (filmes, discos, fitas cassetes, 
diapositivos, etc.) e as novas tecnologias (ovos, programas de com­
putador em cos, etc.). . , Um ponto importante que deve ser colo;ado como pre�1ssa_ a
discussão de critérios é que os diferentes ve1culos de comumcaçao 
não podem ser encarados como adversários em uma grande disputa pela 
preferência da sociedade. Nenhuma forma d� comunicação con�olida­
da é imediatamente destruída pelo aparecnnento de novos ve1culos. 
As formas anteriores modificam-se, têm seu público diversificado e 
continuam valendo. Estratificam-se. Assim sempre tem acontecido 
e não há motivos que façam acreditar que isto virá a modificar-se em 
futuro próximo. 
Bob Usherwood, emThe public library as public knowledge, lembra 
que, há alguns anos, a televisão !ngles� apresen:ou uma série s,obre o desenvolvimento das tecnologias da mformaçao no fmal do seculo
x1x, na qual um bibliotecário respondia a um usuário: "Não, eu não
posso verificar em um livro, senhor, ist? é uma biblioteca,, não ummuseu." Isto evidencia a crença generalizada de que os ve1culos de 
informação, como os conhecemos atualmente, estão fadados a desa­
parecer. Há anos se prevê o fim dos livros com o advento d�s no�as
tecnologias informacionais, da mesma forma como se prevm o fim 
do cinema com o aparecimento da televisão, do videocassete e do 
devedê. A realidade, no entanto, mostrou que as previsões 
26 
apocalípticas eram exageradas e os antigos meios de comunicação e 
transmissão de conhecimento continuaram existindo, ainda que com 
modificações. Há 40 anos, ou talvez menos, Marshall McLuhan pre­
viu que em 1990 a palavra impressa e sua leitura seriam apenas uma 
lembrança; muita gente acreditou nele. Ao contrário, a publicação 
de livros apenas aumentou de lá para cá, incorporando vastas cama­
das da população à influência da leitura. 
Cada vez mais, novos espaços de influência são definidos. Esta 
parece ser a única constatação realmente válida. Muito do que tem 
sido afirmado pertence apenas ao campo do sonho, da previsão, da 
futurologia sem garantias de efetividade. No que concerne à área de 
atuação dos bibliotecários, o mais certo será conceituar a biblioteca 
como uma instituição armazenadora e disseminadora de informa­
ções e não de tipos de documentos específicos, pois a variedade des­
ses tende a multiplicar-se quase que em proporção geométrica. 
Não se pretenderá tratar da seleção de todos os outros tipos de 
documentos existentes no mercado. Provavelmente, à época do lan­
çamento deste texto, ele já estaria desatualizado, havendo muitos 
outros materiais dos quais não se teria tratado. O elenco a ser apre­
sentado enfocará alguns dos materiais que já podem, até que com 
relativa facilidade, ser encontrados nas bibliotecas. Na elaboração 
de critérios específicos para a seleção desses outros materiais de­
vem ser buscados critérios mais adequados para cada um, levando 
em consideração suas peculiaridades. Os critérios de seleção esta­
rão sempre diretamente ligados ao tipo de material selecionado; por 
exemplo: o custo total de qualquer obra em multimeio é afetado em 
muito maior proporção por seu custo de manutenção, do que o cus­
to de uma obra impressa comum. 
Periódicos 
A seleção de uma publicação periódica difere basicamente da de um 
livro ou monografia no sentido de que na primeira estabelece-se um 
compromisso com sua continuidade, enquanto que no livro essa 
decisão se esgota naquele momento. Fora alguns casos específicos, 
não há razão ·para a biblioteca selecionar apenas alguns fascículos 
de um periódico. Ela deverá necessariamente adquirir, e provavel­
mente conservar, o título como um todo, a partir do momento em 
27 
que optar por ele. No caso dos periódicos, o ato de seleção se repete 
de tempos em tempos, ao se tomar uma decisão pela continuidade 
ou pelo encerramento da assinatura. Fica evidente, então, o perigo 
de se fazer renovação de assinaturas por inércia, simplesmente por­
que um título vem sendo assinado há muito tempo, sem considerar 
fatores importantes como o uso ou relevância do título para o usuá­
rio atual. 
Esse compromisso com a continuidade acarretará, por exemplo, 
a necessidade de considerar atentamente as implicações do título 
para a biblioteca, em termos de utilização do espaço, algo que não é 
tão essencial quando da seleção de livros. Coleções de periódicos 
crescem e ocupam um grande espaço; isto é comum em bibliotecas 
especializadas, pois a informação veiculada em periódicos tem im­
portância muito grande para seus usuários, em geral pesquisadores 
que necessitam de informações atualizadas. 
Vinculada à avaliação do espaço disponível para acomodação dos 
periódicos está a análise global do custo desse material. Nesse senti­
do, o valor pago pela assinatura de um título não é o único custo 
com que a biblioteca está arcando ao optar por sua aquisição; exis­
tem vários custos, diretos e indiretos, que devem ser consic;Jerados. 
Mas, só para ficar no preço das assinaturas, é importante salientar 
que, em se tratando de periódicos científicos, ele tem subido muito 
acima dos índices inflacionários dos países onde são produzidos. 
Como uma assinatura de periódico representa um comprometimen­
to, por tempo indeterminado, de uma percentagem razoável do or­
çamento da biblioteca, é importante que essa análise de custo seja 
feita periodicamente. Isto é muito importante com novas assinatu­
ras, para não permitir que cresça em demasia o investimento da bi­
blioteca em novos títulos. 
Em paralelo às análises de ocupação do espaço e custo da assinatu­
ra, é importante ter-se clareza quanto à utilização futura dos títulos, 
a fim de avaliar quando vale a pena fazer uma assinatura e quando a 
melhor opção é solicitar o fasdculo por empréstimo a outra bibliote­
ca. Neste caso, estatísticas de empréstimo entre bibliotecas podem 
oferecer subsídios valiosos para a tomada de decisão (é claro que, 
em caso de títulos recém-lançados esta alternativa fica prejudicada). 
Julgar a qualidade de um periódico nem sempre é tarefa fácil. 
Fora a opinião do especialista, sempre uma ajuda indispensável, há 
28 
outros indicadores que permitem ao bibliotecário uma avaliação 
satisfatória. Vários desses indicadores constam da contracapa ou das 
páginas iniciais do fascículo, principalmente em periódicos especi­
alizados. Um deles é a existência de um comitê editorial, cuja fun­
ção é apreciar os artigos submetidos a publicação, um dado tido como 
garantia de qualidade. lsto significa que um artigo, para ser publica­
do em um periódico que possua comissão editorial, será examinado 
por um ou vários especialistas, que decidirão se o trabalho atende 
aos requisitos ou critérios de qualidade estabelecidos. Quando esse 
comitê é composto por especialistas de instituições ou países dife­
rentes, supõe-se que a garantia de qualidade seja ainda maior, ca­
racterizando uma publicação onde não existe endogenia de grupos 
ou linhas de pensamento. 
De certa maneira, quando se verifica a existência e composição 
de comissões editoriais e se considera este dado na seleção de publi­
cações periódicas, está-se trabalhando com o critério da autoridade:
acredita-se que os especialistas da comissão editorial emprestam sua 
reputação ao periódico. 
Pode-se dizer que o mesmo critério está sendo utilizado quando, 
conhecendo-se o rigor com que os títulos são indexados em bases de 
dados especializadas, aceita-se como subsídio para a tomada de de­
cisão a presença de um periódico nessas bases. Supõe-se que quanto 
maior for o número de bases que indexam o periódico, maior será a 
garantia de sua qualidade. Assim, quando se tem que decidir entre 
dois periódicos, ambos com o mesmo nível de interesse para a biblio­
teca, pode-se utilizar, como critério de desempate, o fato de um de­
les ser indexado por bases de dados da área. Há razões para acredi­
tar que um periódico indexado terá maior probabilidade de ser utili­
zado, na medida em que as bases de dados funcionarão como fontes 
secundárias, permitindo ao usuário ter acesso ao conteúdo dos peri­
ódicos ali indexados. 
Ao se utilizar a presença em bases de dados como critério de 
seleção, deve-se atentar para títulos recentes, para os quais ainda 
não houve tempo de serem avaliados e indexados em bases de da­
dos, embora possuam qualidade para isso. Em geral, essas bases, 
antes de incluir novos títulos, adotam a política de aguardar até que 
tenham mais elementos para aferir sua qualidade. 
No caso de periódicos em línguas estrangeiras inacessíveis aos 
29 
usuários, a presença de um resumo em idioma acessível, em geral o 
inglês, deve ser considerada na seleção. Leva-se esse dado em conta 
não apenas porque com o resumoas informações ficam disponíveis 
e a probabilidade de utilização é maior, mas também porque isso 
indica que o título propõe-se a uma circulação internacional, uni­
verso onde as exigências são maiores. 
Todos esses critérios terão maior aplicabilidade nas bibliotecas 
especializadas ou universitárias, devido aos objetivos dessas insti­
tuições e às características específicas de seus usuários. Para biblio­
tecas públicas deve-se reconhecer que sua utilidade é limitada, pois 
nem sempre a questão será colocada com tal nível de especificidade, 
de modo a exigir a aplicação de padrões de qualidade utilizados na 
avaliação de periódicos científicos. Nelas, os critérios mais relevan­
tes serão provavelmente os que dizem respeito à adequação dos pe­
riódicos aos usuários. 
Histórias em quadrinhos 
Ultimamente, vem sendo dada grande atenção às histórias em qua­
drinhos, com a imprensa mundial registrando um incremento no 
número de artigos, resenhas, reportagens e entrevistas com autores 
especializados nesse material. Mesmo, e talvez principalmente, em 
nosso país, uma busca em jornais e revistas revelará um interesse 
maior em relação às histórias em quadrinhos. Isto, aos poucos, veio 
influir nas bibliotecas brasileiras, na medida em que o público passoü 
a buscar essas publicações e solicitar que fizessem parte do acervo. 
Tradicionalmente, a maioria das bibliotecas sempre manteve os 
quadrinhos afastados de suas prateleiras. Muitas vezes os bibliote­
cários partilharam com o público, ou com algumas parcelas desse 
público, os preconceitos que existiam contra essas publicações. Sabe­
se hoje que esses preconceitos foram uma das maiores injustiças co­
metidas contra um meio de comunicação de massa não só legítimo 
mas também de grande penetração popular. A evolução dos tempos 
tem mostrado que a maioria das barreiras levantadas contra as his­
tórias em quadrinhos baseava-se em opiniões preconcebidas, elitistas, 
carentes de qualquer argumento lógico. Pesquisas sérias e bem-co­
ordenadas têm colocado por terra todas as alegações de que os qua­
drinhos levavam as crianças à preguiça mental, afastavam-nas dos 
30 
estudos, desviavam-nas de salutares hábitos de leitura, prejudica­
vam seu desenvolvimento intelectual, etc. Por todos esses motivos, 
parece apropriado refletir um pouco sobre os critérios de seleção 
queyoderão e deverão ser aplicados a esses materiais. 
A primeira vista, as histórias em quadrinhos limitar-se-iam às 
vendidas em bancas de jornais, os tradicionais gibis ( daí o apareci­
mento de um novo substantivo na área biblioteconômica de língua 
portuguesa - gibitecas: bibliotecas de histórias em quadrinhos). De 
fato, os gibis existem em grande número, com enorme variedade de 
temas e gêneros. Com certeza, constituirão a maioria de qualquer 
acervo dedicado a esse material; há gibis infantis, adultos, de super­
heróis, de aventuras, eróticos, pornográficos, etc. O bibliotecário 
deverá, com base no conhecimento que tem de seu público e na ava­
liação de suas demandas, definir os gêneros que farão parte do acer­
vo. 
As mesmas considerações acerca da disponibilidade de espaço 
para periódicos, feitas antes, aplicam-se às histórias em quadrinhos. 
Em geral, talvez seja arriscado optar pela exaustividade em relação 
ao material quadrinhístico. A produção brasileira, para não falar da 
norte-americana ou espanhola, é grande, e isto comprometeria, em 
curtíssimo prazo, a disponibilidade de espaço. É importante que cada 
biblioteca defina de maneira clara a quais tipos de histórias em qua­
drinhos irá dedicar seus esforços de coleta e disseminação. 
Além dos gibis, em geral impressos em papel de qualidade infe­
rior, de pouca resistência, o mercado também oferece a opcão de 
álbuns e graplúc novels, publicações muitas vezes de maiores dimen­
sões e de apresentação mais luxuosa, que são resistentes e duráveis. 
Nas bibliotecas, onde o manuseio do material será mais frequente, a 
opção por uma edição em álbum ou graphic novel talvez seja uma 
alternativa mais viável. Considerações referentes a armazenamento 
e acomodação, bem como outras relativas ao custo de aquisição, 
podem reforçar, ou não, esta conclusão. 
Quanto maior for a variedade de histórias em quadrinhos que a 
biblioteca incorporar a seu acervo maiores as implicações para os 
profissionais, em termos de tratamento, recuperação, cuidados es­
peciais e armazenamento: bem como um conhecimento mais apro­
fundado desse material. A medida que os quadrinhos são incorpo­
rados às bibliotecas, maiores se tornam as exigências dos leitores, 
31 
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que passam a solicitar as tiras de jornais, os fanzines (revistas elabo­
radas por fãs de histórias em quadrinhos), as revistas alternativas, 
os livros e artigos especializados. Por isso, antevê-se a necessidade 
de os bibliotecários se familiarizarem com esses materiais, a fim de 
conhecerem melhor as particularidades e os tipos de suportes em 
que as histórias em quadrinhos são veiculadas, para poderem for­
mular critérios adequados para sua seleção. 
Livros infanto-juvenis 
As bibliotecas públicas costumam ter uma grande quantidade de 
materiais de informação voltados para crianças e jovens, principal­
mente textos de literatura infanta-juvenil. As bibliotecas escolares, 
ainda que sejam tão poucas no Brasil, também possuem esse tipo de 
publicação, utilizando-o para o processo didático e incentivo às ati­
vidades de leitura, e colocando-o à disposição dos estudantes em 
seus momentos de lazer e entretenimento. 
O Brasil possui uma grande produção editorial voltada para o 
público infanto-juvenil, que abrange de livros paradidáticos a textos 
traduzidos de inúmeros idiomas. O mercado é muito dinâmico, com 
um fluxo constante de novas produções e autores. Alguns autores 
atingem vendas estrondosas e são muito solicitados por crianças e 
jovens nas bibliotecas. 
Profissionais da informação que atuam junto ao público mais jo­
vem identificam os autores de maior popularidade pela simples ve-· 
rificação do estado físico de suas obras, que com frequência exigem 
reparos e/ou reencadernação e logo atingem tal desgaste que exige 
seu descarte e substituição (quando isso é possível). São casos fáceis 
para o bibliotecário responsável pela seleção, pois muitas crianças 
tendem a ler e reler os títulos e autores que mais lhes agradam, bus­
cando sempre os mesmos livros ou solicitando que lhes contem re­
petidas vezes as mesmas histórias, como se a cada vez estivessem 
reencontrando um velho e querido amigo, em quem confiam e por 
quem têm especial carinho. 
A afirmação acima apenas reitera o fato de que profissionais que 
atuam na seleção de materiais de informação para crianças e jovens 
precisam ter um contato bem próximo com seu público, para conhe­
cer as peculiaridades e idiossincrasias de cada leitor. Não basta co-
32 
nhecer sua comunidade por meio de dados estatísticos ou perfis mais 
ou menos genéricos. É preciso estar no meio do público, conhecer e 
conversar com crianças e jovens que frequentam a biblioteca, esta­
belecer um diálogo proveitoso com os pais, avós ou outros parentes 
que acompanham as crianças, visitar as escolas e discutir com os 
professores os livros que recomendam. Se, para os bibliotecários isto 
já é importante, para os responsáveis pela definição dos títulos a 
que o público infanto-juvenil terá acesso na biblioteca é vital. A in­
fância e adolescência são os períodos em que se alicerça a formação 
integral de qualquer indivíduo, e as bibliotecas públicas e escolares 
podem dar uma grande contribuição nesse sentido, tanto pela pos­
sibilidade de acesso a materiais informacionais adequados a esse 
público como pelas atividades que desenvolvem em torno deles. 
Essa é uma responsabilidade muito grande e não deve ser vista 
de maneira leviana. Selecionar materiais que atendam às necessida­
des do público infanta-juvenil está no cerne desta questão, pois a 
produçã? editorial é muito variada e nem sempre de qualidade apro­
priada. As vezes,por trás de figuras atraentes e histórias divertidas 
estão a disseminação de preconceitos e o velado incentivo a discri­
minações de ordem étnica, cultura] ou social. Os bibliotecários de­
vem estar atentos a essas obras, familiarizando-se com suas caracte­
rísticas mais marcantes, que incluem: 
• a ausência de minorias étnicas, como se a sociedade fosse com­
posta por urna população homogênea de indivíduos 'brancos';
• a representação negativa das minorias, seja retratando-as como
figuras caricatas, seja colocando-as como personagens antipáti­
cos, quando não são escolhidos como os vilões da história, seja
reservando para elas papéis considerados de menor importância
social ( como empregadas domésticas, criados, trabalhadores não­
qualificados, mendigos, etc.);
• a colocação da figura feminina em situação de dependência em
relação ao homem, tanto em termos econômicos e sociais (a dona
de casa que não é responsável pelo sustento da família) como
_emocionais (é o homem quem toma as decisões importantes, dei­
xando para ela apenas as questões que não têm grande significa­
ção);
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• representação positiva das classes sociais dominantes, retratadas
como pessoas simpáticas, bonitas, felizes e modelos de compor­
tamento a serem seguidos pelas crianças.
Dezenas de outros exemplos poderiam ser citados, mas talvez seja 
mais interessante deixar aos bibliotecários a tarefa de identificá-los 
em sua prática diária de seleção. Como subsídio a essa atividade, a 
leitura do texto de Fúlvia Rosemberg,1 que trata da relação entre 
literatura infantil e ideologia, e a dos livros de Maria de Lourdes 
Chagas Deiró2 e Umberto Eco,3 sobre a disseminação de preconcei­
tos em obras didáticas, pode ser bastante proveitosa. 
Atenção especial deve ser dada a materiais infanta-juvenis edita­
dos pela indústria de comunicação de massa, presentes em grande 
quantidade no mercado. É muito comum que desenhos animados 
ou seriados televisivos sejam transplantados para o formato impres­
so, em produções muitas vezes realizadas às pressas, com o simples 
intuito de tirar o máximo proveito da popularidade momentânea 
dos personagens (enfim, de lucro, puro� simples). Em geral, o re­
sultado é pobre, com histórias insignificantes e desenhos abaixo da 
crítica. Representam apenas o deslavado aproveitamento de ima­
gens produzidas para outro meio de comunicação, às quais se acres­
centa um texto que nem sempre consegue lhes dar muita coerência 
narrativa. Deve-se, no entanto, ter em mente que haverá sempre al­
gumas exceções a essa regra, e a identificação e incorporação ao acer­
vo de obras que fujam à mesmice da produção de massa serão uma 
das tarefas a serem desenvolvidas pelo responsável pela seleção. 
Alguns dos critérios gerais de seleção citados no capítulo anterior 
deverão ser objeto de adaptação, quando aplicados a livros infanto­
juvenis. O critério de autoridade, por exemplo, irá relacionar-se tan­
to ao autor do texto como ao ilustrador, quando forem diferentes, 
baseando a decisão de seleção em obras anteriores realizadas indi­
vidualmente ou em conjunto, ou até mesmo da coleção em que o 
livro foi publicado (como as séries Vaga-Lume, da editora Ática, e 
Veredas, da editora Moderna, para apenas citar duas das mais co­
nhecidas). 
O critério da conveniência levará em conta a faixa etária da crian­
ça, analisando a adequação do texto ao desenvolvimento intelectual 
de seu usuário potencial. Além disso, a avaliação das características 
34 
físicas dos livros considerará principalmente a resistência do mate­
rial empregado, dando-se, quando possível, preferência a material 
mais resistente, de major durabilidade. 
É importante desenvolver critérios que levem em conta a especi­
ficidade do público e as características da literatura infanta-juvenil, 
a relação entre texto e ilustrações, a apresentação gráfica, etc., a fim 
de estabelecer uma política de seleção adequada. 
Além dos pontos mencionados, deve-se, sempre que possível, 
buscar o apoio de especialistas da área, que já desenvolveram parâ­
metros críticos para julgamento da qualidade da produção editorial 
destinada a crianças e jovens. Uma comissão especial de seleção, 
composta por especialistas em literatura infanta-juvenil e por biblio­
tecários que atendem a esse público, é uma boa alternativa para ga­
rantir o nível de excelência do acervo. 
Existem alguns instrumentos auxiliares para a seleção de livros 
infanta-juvenis produzidos no Brasil. São em geral bibliografias, 
muitas vezes com resenhas críticas, elaboradas por instituições liga­
das à área. Nem sempre estão atualizadas ou abrangem muita coisa 
do imenso universo de publicações infanta-juvenis. Constituem, 
apesar dessas limitações, fontes valiosas para identificação de itens 
que devem ser acrescentados ao acervo. 
Filmes, vídeos e ovos 
A presença de filmes e vídeos em bibliotecas não é novidade em 
outros países. Em bibliotecas norte-americanas, principalmente es­
colares, há muito tempo vem sendo discutida a incorporação de fil­
mes a seus acervos, salientando-se sua importância no processo di­
dático-pedagógico. Em paralelo, uma indústria produtora de filmes 
com essa finalidade desenvolveu-se nos países mais adiantados, aten­
dendo a um mercado consumidor de dimensões e poder aquisitivo 
suficientes para justificar sua existência. 
No Brasil, a utilização de filmes no processo educacional acabou 
prejudicada por preços muitas vezes proibitivos tanto do material 
como da aparelhagem necessária à exibição (não se descartando cer­
ta dose de preconceito dos professores na utilização desses meios). 
A popularização do videocassete modificou essa situação, com mui-
35 
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tas escolas hoje tendo aparelhos de reprodução e produtos educativos 
em utilização no ambiente escolar. 
Devido em grande parte à questão econômica, a discussão sobre 
a presença de filmes em bibliotecas brasileiras guiou-se inicialmen­
te pela incorporação de fitas de videocassete. Antes de entrar na busca 
de critérios, deve-se discutir o papel que esse material representará 
no conjunto do acervo. Sua abertura para outros tipos de materiais 
não deve ser fruto de modismos ou de um esforço irrefletido para 
tornar popular a biblioteca. Nem representar o velho chamariz para 
o livro impresso, como muitas vezes se costuma fazer com os cursos
de corte e costura, croché e outras atividades.
As bibliotecas públicas não existem para competir com a iniciati­
va privada, atuando paralelamente a ela. Isto quer dizer que, no caso 
dos filmes, colocá-los no acervo para atender apenas e tão somente à 
demanda individual por filmes da grande indústria cinematográfi­
ca pode, sob muitos aspectos, ser encarado como uma má aplicação 
de dinheiro público. Em quase todos os bairros há locadoras que 
tornam esses materiais disponíveis, cobrando taxas de aluguel aces­
síveis. A questão primordial é criar uma identidade própria para a 
coleção de filmes nas bibliotecas, diferenciando-a das existentes nas 
locadoras. 
Para uma biblioteca especializada em cinema, existe todo um sig­
nificado em possuir uma coleção de filmes para dar suporte às ne­
cessidades de pesquisa dos usuários. Isto é fácil de compreender. 
Do mesmo modo, o acervo de filmes de uma biblioteca escolar exis­
te para dar suporte ou ser utilizado como instrumento didático por 
professores e alunos. O mesmo se aplica a bibliotecas universitárias. 
Em uma biblioteca pública, a presença desse material sempre teve 
por objetivo ampliar o espectro de atuação da biblioteca, possibili­
tando um melhor atendimento das necessidades informacionais dos 
usuários. Muitas vezes isto inclui o empréstimo domiciliar, dupli­
cando eventualmente o serviço oferecido pelas locadoras. Mas, como 
se disse acima, não pode limitar-se apenas a isso. Para uma bibliote­
ca pública, possuir um acervo de filmes deve significar que este 
material está inserido em um processo de planejamento global deserviços, uma proposta concreta de intervenção na sociedade. As­
sim, além do empréstimo domiciliar, pode-se fornecer espaço para 
projeções comunitárias, seguidas ou não de debates sobre os filmes 
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exibidos. Da mesma forma, algumas áreas do acervo são enriqueci­
das pela inclusão de materiais em vídeo. É o caso, por exemplo, de 
gravações de partidas de futebol, em esportes; de peças teatrais ou 
versões cinematográficas de romances, em literatura; e de apresen­
tações de orquestras ou óperas, na área de música. Deste modo, o 
usuário terá ampliado seu acesso a materiais informacionais, 
complementando sua pesquisa (ou seu lazer) por intermédio de vá­
rios meios de comunicação. 
Do ponto de vista técnico, a avaliação de filmes, para incorpora­
ção ao acervo das bibliotecas, deve considerar vários fatores; a 
minudência da aplicação desses fatores, entretanto, dependerá dos 
objetivos da biblioteca. Bibliotecas especializadas levam em conta 
detalhes de fotografia, como a composição da obra, o trabalho de 
câmara, a fidelidade de cor e distinção claro/escuro, que muitas ve­
zes não serão de vital importância em outras instituições. A qualida­
de da edição e dos efeitos especiais também é um aspecto a ser leva­
do em conta cm uma avaliação mais rigorosa. Em filrnes de anima­
ção e desenhos animados, as técnicas utilizadas são muito impor­
tantes. 
Além desses aspectos, relativos mais à parte visual dos filmes, 
itens como a fidelidade do som e a qualidade/credibilidade dos efei­
tos �onoros também podem ser considerados na avaliação. 
E provável que bibliotecas especializadas em cinema considerem 
atentamente a adequação da produção cinematográfica para outros 
suportes, preocupação que dificilmente existirá em outras bibliote­
cas. Quando um filme produzido para exibição em telas grandes é 
transposto para uma fita de videocassete, são feitos recortes e adap­
tações, a fim de tornar as imagens adequadas à dimensão do moni­
tor de tcvê. lsto gera perdas da imagem original, do que resulta uma 
cópia muito distinta da que lhe deu origem; essas perdas podem ser 
inaceitáveis para um pesquisador, para quem a fidedignidade da 
imagem é de capital importância. Em bibliotecas públicas esse fator 
não terá a mesma importância. 
É claro que os critérios acima assinalados dizem respeito apenas 
à qualidade da cópia ou exemplar. Ao chegar a esse ponto, questões 
básicas deverão ter sido anteriormente respondidas, como a ade­
quação do material ao usuário, sistema de vídeo mais apropriado 
para a biblioteca (v1-1s ou Betarnax), implicações financeiras para a 
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instituição, etc. São quesitos para os quais não existem receitas pron­
tas. Cada biblioteca terá de analisar sua realidade específica e che­
gar a uma resposta que lhe seja satisfatória. 
Desde a segunda metade dos anos 1990, entretanto, a escolha 
deixou de ser feita entre quais sistemas de videocassete utilizar e 
passou a ser entre a fita de videocassete e o disco de ovo,_ (Di�it�lVersatile Disc (Disco Versátil Digital)) , 4 um disco de matenal plash­
co e de leitura ótica, do mesmo tamanho de um co de música ou de 
um co-ROM, mas com capacidade sete a 26 vezes maior. Este produto 
armazena filmes com definição duas vezes maior que a do vídeo 
VHS além de contar com seis canais de som. Outras vantagens não 
pa;am aí: pode-se escolher o áudio de um filme em até oito_idiomase as legendas entre 32 línguas; podem-se cortar cenas do filme, as­
sistindo-se apenas às de maior interesse; é possível assistir a cenas 
que ficaram de fora na versão oficiaJ e ver entrevistas com os atores 
e o diretor. Além disso, o acesso aleatório e a durabilidade, fazem­
no a melhor opção para as bibliotecas. 
Novidades estão surgindo na área de filmes e vídeos, colocando 
em xeque muitas das tecnologias existentes. Os discos Blu-Ray (Blu­
Ray Discs) são um novo formato de disco ótico de 12 cm de �iâme­
tro, igual a um co e urri ovo. Considerado o sucessor do ovo, e capaz 
de armazenar filmes de muito maior tamanho, mas exige um apare­
lho de televisão com tela de cristal líquido (LCD), plasma ou LED2 para 
poder exibir todo o seu potencial. Seu preço, entretanto, _ainda é ,b�s­tante alto e a comercialização no Brasil incipiente. Os b1bltotecanos 
devem estar atentos a essa nova mídia, de forma a avaliar suas vaJ1-
tagens e incorporá-la ao acervo quando conveniente. 
Discos, fitas e cos 
Discos e fitas de áudio há tempos fazem parte do acervo de bibliote­
cas. Além das especializadas, muitas bibliotecas públicas possuem 
este material, a fim de atender aos interesses e necessidades da cli­
entela. Na maioria dessas últimas predominam os gêneros musicais 
mais populares, mas já se percebe a preocupação em incorporar itens 
para a área de ensino de idiomas estrangeiros, onde apresentam re­
sultados bastante positivos. 
A decisão técnica de seleção originalmente compreendeu a esco-
38 
lha entre discos, em geral de vinil, e fitas cassetes. Muitas bibliote­
cas costumavam ter como norma a aquisição preferencial de discos. 
Quando o usuário solicitava o empréstimo de um disco, seu conteú­
do era gravado em fita cassete, que era emprestada, mas não o disco. 
Assim, preservava-se a integridade do disco, evitando-se riscos ou 
outros danos ao material. 
Quanto à durabilidade ou resistência, os discos são facilmente 
arranhados pelo manuseio indevido; com o passar do tempo, a re­
produção do som pode ficar distorcida. No entanto, é preciso assi­
nalar que com o tempo eles ficaram mais resistentes. Fitas cassetes, 
por seu lado, são vulneráveis a acidentes, podendo ser facilmente 
apagadas ou danificadas. 
No que diz respeito ao conteúdo, alguns autores costumam assi­
nalar que os discos são mais indicados para gravações de música 
clássica, que requerem maior qualidade de reprodução, enquanto 
as fitas cassetes são mais indicadas para os álbuns de música popu­
lar. Este argumento parece ser, em primeiro lugar, um pouco 
preconceituoso, imaginando que os aJ11antes dos gêneros mais po­
pulares sejam ouvintes de segunda classe que ficarão satisfeitos com 
um produto de qualidade inferior. A aplicação deste critério ao acervo 
deixa subentendida a seguinte mensagem: se quiserem uma quali­
dade melhor, aprimorem o gosto. Em segundo lugar, devido ao aper­
feiçoamento tecnológico ocorrido nos últimos anos, tanto nas fitas 
cassetes como nos aparelhos reprodutores, o argumento perde qua­
se por completo sua credibilidade. Hoje em dia, a qualidade de som 
obtida com discos ou fitas se equivale, independentemente do gêne­
ro da música. 
Na realidade, o aperfeiçoamento tecnológico influiu na discus­
são acima mencionada de uma maneira bastante diversa, transfor­
mando-a radicalmente. Hoje em dia, a opção primeira não se dá en­
tre o disco e a fita cassete, mas entre ambos e o compact disc (co). Por 
vários motivos. A qualidade de som obtida do compact disc é 
muitissimamente superior, permitindo uma audição mais completa 
de todos os acordes envolvidos na gravação. A resistência do co, 
excetuando-se condições excepcionais, é quase total. 
O que se afirmou quanto ao ovo já é uma realidade no que diz 
respeito aos cos de áudio, a começar pelas vantagens de acesso alea­
tório (sem contato direto do usuário com o material, é bom lembrar) 
39 
1 1111 
e maior durabilidade. Sua crescente popularidade, inclusive, fez com 
que o seu custo, a grande desvantagem que possuíam em relação ao 
disco de vinil e à fita cassete, diminuísse consideravelmente. Além 
disso, as produtoras deixaram de fabricar discos de vinil, concen­
trando sua produção em cos. Assim, cabe aos bibliotecários o desen­
volvimento de mecanismos de avaliação desse material, bem como 
estar atentos ao aparecimento de novas mídias, como as produções 
em MP3 e MP4, e como elas podem impactar os acervos das bibliote­
cas. 
Diapositivos 
Para a seleção de diapositivos ou slides, deve-se considerar, além da 
adequação aos usuários, aspectos técnicos como perfeição dascores, 
qualidade da imagem projetada e se são compatíveis com o equipa­
mento de projeção existente na biblioteca. Neste último aspecto, 
implicações sobre o custo tanto para aquisição do equipamento como 
sua manutenção deverão ser avaliadas, optando-se pelo que ofere­
cer o maior número de vantagens. 
As características do público são provavelmente os pontos mais 
importantes a serem considerados, pois influenciarão muito na for­
mulação dos critérios de seleção. Selecionar diapositivos para pro­
fessores universitários é uma tarefa de maior complexidade do que 
selecioná-los para utilização por estudantes de primeiro grau. O ní­
vel de exigência de um docente que vai utilizar um diapositivo em 
uma aula de anatomia humana será muito maior do que o do estu­
dante de primeiro grau que usará o material como ilustração de uma 
aula de ciências. No primeiro caso, a perfeição de detalhes será o 
principal critério para seleção. No segundo, essa exigência pode não 
ser um fator tão determinante. 
Buscando sistematizar o assunto, a professora. Maria Luiza Loures 
Rocha Perota, em seu livro Multimeios: seleção, aquisição, processamen­
to, armazenagem, empréstimo, um dos poucos textos em português a 
enfocar o tema, sugere, resumidamente, os seguintes critérios de 
seleção: 
1) interesse concre_to para o usuário;
2) a informação contida em cada vista deve ser clara, concisa,
40 
verdadeira e atualizada, limitar-se a um só tema preferencialmente 
pois facilita a assimilação por parte do espectador; 
3) figuras simples. Os desenhos técnicos complexos não são 
apropriados para serem apresentados em um só quadro; 
4) devem-se escolher ilustrações nas quais o tema mais impor­
tante se destaque do fundo; 
5) os dados numéricos devem ser apresentados sob a forma de
gráficos ou de quadros, por serem de mais fácil compreensão; 
6) observar a qualidade do material: de película, dos impres­
sos [sic] de revelação, fixação, produtor, etc. 
Além dessas, outras considerações poderiam ser feitas. Por exem­
plo, algumas bibliotecas dão preferência a conjuntos de diapositi­
vos, acompanhados por material para utilização simultânea à proje­
ção, incluindo desde textos explicativos até fitas cassetes com a apre­
sentação já organizada pelos editores. A seleção desses conjuntos 
exige que se levem em conta a coerência entre os diversos compo­
nentes do todo e a relação entre o texto escrito/gravado com o con­
teúdo dos diapositivos. Em alguns casos, talvez seja necessário o 
auxílio de especialistas para responder com clareza a esses 
questionamentos. 
Muitas bibliotecas preferem elas mesmas produzir seus diaposi­
tivos, com imagens feitas a partir de livros ou periódicos constantes 
de seu acervo. O nível de exigência quanto à qualidade das repro­
duções, dependendo de sua finalidade, poderá ser maior ou menor. 
Merece cuidado especial a adequação do suporte fotográfico, para 
se obter o resultado mais satisfatório possível. 
Outro aspecto para o qual os profissionais devem estar atentos 
refere-se ao direito autoral de obras intelectuais ou artísticas. Foto­
grafias, pinturas, gravuras, etc. são protegidos por lei quanto à sua 
reprodução em outro suporte ou sua exposição pública, requerendo 
autorização dos detentores dos direitos autorais. Não convém tratar 
esta questão com leviandade. Sempre existe o risco de um processo 
judicial, por lesão de direitos autorais. 
Outros materiais 
Como se comentou no início deste capítulo, não se pretendeu aqui 
41 
esgotar todos os tipos de materiais que podem fazer parte do acervo 
das bibliotecas. Esta seria uma pretensão muito ambiciosa, inevita­
velmente fadada ao fracasso. Para as finalidades deste texto, bus­
cou-se apenas fazer uma abordagem muito ampla de alguns dos 
materiais nrnis comuns, de modo a possibilitar aos profissionais um 
conhecimento básico desta área da seleção. Bibliotecas que possuam 
coleções de materiais não enfocados neste texto (como brinquedos, 
incunábulos, microformas, transparências, mapas e globos, fotogra­
fias, etc.) deverão aplicar-lhes as mesmas reflexões aqui feitas em 
relação a periódicos, histórias em quadrinhos, filmes e vídeos, etc. 
Este será um exercício fascinante que muitos benefícios trará aos 
profissionais e à comunidade a que devem servir. 
Notas 
RosEMBERG, Fúlvia. Literat1tra infantil e ideologia. São Paulo: Global, 1984. 
2 DEIRÓ, Maria de Lourdes Chagas. As belas mentiras: a ideologia subjacente aos tex­
tos didáticos. 13. cd. São Paulo: Centauro, 2005. 
3 Eco, Umberto. Mentiras que parecem verdades. São Paulo: Summus, 1980. 
4 Originalmente a sigla correspondia a digital vídeo disc (videodisco digital), 
mas como faz muito mais do que reproduzir imagens de vídeo, seu signifi­
cado foi mudado. 
5 LCD (liquid crystal display), plasma ou LED (light emilling diode) são evoluções dos 
aparelhos de televisão, permitindo que estes possam receber imagens e som trans­
mitidos em formato digital, com muito melhor qualidade que as transmissões 
analógicas. 
42 
5 
Seleção de documentos eletrônicos 
QuEM ACOMPANHA DE PERTO a evolução dos suportes de informação 
sabe como eles se diversificaram nos últimos anos com a possibili­
dade de armazenamento digital de dados. O armazenamento de 
dados em computadores de grande porte, a aquisição de disquetes, 
co-Rorvis e atualmente ovos contendo bases de dados bibliográficos, 
o acesso cm linha ou via internet a computadores remotos, etc. fa­
zem parte de um leque de alternativas disponíveis para tornar a in­
formação mais acessível, maximizando seu uso. 
Cada vez mais, profissionais da informação que atuam em dife­
rentes áreas do conhecimento são chamados a se posicionar em rela­
ção a esses meios eletrônicos, decidindo pela sua incorporação ao 
acervo. É imprescindível, então, ter previamente definidos os crité­
rios para realizar essa avaliação de maneira correta, de modo a pre­
servar os mesmos padrões de qualidade que conseguiram colocar 
em seus acervos tradicionais. 
Na seleção de documentos eletrônicos consideram-se aspectos 
de conteúdo, acesso, suporte e custo. As considerações sobre conteú­
do são iguais às feitas sobre documentos impressos, na medida em 
que sua inclusão se justificar com base nos objetivos da biblioteca e 
no interesse dos usuários. Optar por documentos eletrônicos só por­
que são modernos, bonitos e atrativos não se justifica. É preciso que 
o conteúdo esteja de acordo com os parâmetros de-assunto defini­
dos pela instituição e haja razoável certeza de que significarão acrés­
cimo valioso em termos de expectativas e necessidades dos usuári­
os. As vantagens e limitações do documento devem ser evidentes
em termos de qualidade intrínseca, mesmo que para se isso tenha de
ouvir especialistas.
Em termos de acesso, os documentos eletrônicos devem ser avali-
43 
ados não apenas quanto à sua maior facilidade para realizar buscas 
específicas, possibilitadas por mecanismos automatizados que per­
mitem atingir um número maior de relações entre conceitos do que 
as conseguidas em buscas manuais. Embora este seja um dos pontos 
centrais da decisão de seleção, a análise deve englobar também ques­
tões como a compatibilidade do documento eletrônico com o siste­
ma de automação da biblioteca. Outro ponto importante é a autori­
zação do fornecedor para que os documentos sejam acessíveis em 
rede local ou tenham sua utilização restringida a computadores iso­
lados e as implicações que essas duas alternativas terão no custo do 
material. 
Quando os documentos eletrônicos constituem instrumentos de 
referência, como índices, resumos ou sumários periódicos, a bibliote­
ca deve estar preparada para um impacto na demanda de materi�s, 
pois os usuários terão conhecimento de documentos que talvez nao 
estejam disponíveis no acervo. 
_ . Dispor de estrutura administrativa que responda de modo ef1c1-
ente a essas demandas, inclusive com a possibilidade de emprésti­
mo entre bibliotecas e comutação bibliográfica, pode ser uma medi­
da prudente para evitarque o acirramento da ansiedade pel� info�­
mação conduza à frustração do usuário. Em termos de relaçoes pu­
blicas, para não falar do apoio que a instituição deve receber da co­
munidade a que serve, isto é desastroso. 
As questões relacionadas com o suporte necessário para utiliza­
ção do documento eletrônico são sempre muito pertinentes. Para 
muitas bibliotecas, trata-se de materiais com os quais seu pessoal 
não tem ainda suficiente familiaridade, para utilização independen­
te. Necessitarão, portanto, de um período de adaptação e mesmo de 
treinamento antes que estejam aptos a proporcionar aos usuários a 
ajuda que com certeza irão solicitar. 
Os usuários precisarão receber orientação para que se tornem 
independentes no uso dos novos recursos. Isto signif�ca dizer qu�, 
no momento da seleção, será preciso examinar a questao da d1spo111-
bilidade de elementos complementares aos documentos eletrônicos. 
Entre eles está a existência e qualidade dos manuais de instruções e 
a disponibilidade de suporte técnico por telefone ou em linha que 
permita dirimir, junto ao produtor/fornecedor, as dúvidas sobre a 
utilização do documento eletrônico. Isso, porém, não é tudo, pois 
44 
também a qualidade das instruções deverá ser avaliada, bem como a 
facilidade ou dificuldade de acesso ao suporte técnico. De pouco 
adianta dispor de um número telefônico para contato se estiver sem­
pre ocupado ou houver incompatibilidade entre o horário da biblio­
teca e o fornecedor do produto, etc. 
Por fim, fatores relacionados com o custo do documento em for­
mato eletrônico têm um peso grande na decisão de seleção. Por cus­
to entenda-se não apenas o mais evidente, como o valor da compra 
do produto. Devem ser considerados todos os demais custos, como 
os de atualização (correspondentes à renovação das assinaturas de 
periódicos), manutenção e uso (neste caso, também a disponibilida­
de em rede local, que pode significar um acréscimo, às vezes salga­
do, ao preço inicial de aquisição). 
A comparação de preços entre os documentos impressos e seus 
similares eletrônicos costuma ser mais complicada do que aquela 
com que estão acostumados os bibliotecários quando comparam os 
preços de livros ou materiais de referência em papel. Mais compli­
cada ainda é essa comparação quando diz respeito apenas a docu­
mentos eletrônicos, pois as estratégias de preço dos diversos produ­
tores varia e nem sempre é fácil determinar qual é a mais vantajosa 
em termos de custo-benefício. 
No que tange aos documentos eletrônicos, é preciso refinar cada 
vez mais os instrumentos de anál.ise de custos, de modo a englobar 
o maior número possível, tanto os diretos (preço, custo dos equipa­
mentos necessários, etc.) como os indiretos (despesas com treina­
mento do pessoal, tempo gasto na orientação dos usuários, impres­
são das informações contidas nos documentos, etc.).
Considerando os objetivos deste livro, torna-se inviável o enfo­
que detalhado de cada urna das possibilidades oferecidas pela in­
formação eletrônica nos dias de hoje. Dada a rapidez com que a área 
avança, no momento do lançamento desta obra ela já esta.ria desatua­
lizada. Desta forma, serão vistas apenas algumas alternativas, com 
considerações sobre suas características e discutindo-se alguns dos 
critérios que lhes são mais apropriados. 
CO-ROMS e DVD-ROMS 
co-Rotvr significa compact disc - read only memory [disco compacto -
45 
memória apenas de leitura], uma tecnologia desenvolvida na déca­
da de 1980 e que armazena grande quantidade de informações em 
discos compactos similares aos utilizados para gravações sonoras, 
já abordados neste texto. DVD-ROM significa digital vídeo disc - read
only memory [disco digital de vídeo - memória apenas de leitura], 
com capacidade de armazenamento de vídeos e dados bem superior 
à dos cD-ROMs. A produção desta nova tecnologia vem crescendo em 
progressão geométrica, praticamente em todas as áreas do conheci­
mento, sendo possível afirmar que ela tende a substituir os CD-ROMS 
em prazo bastante curto. 
A popularização dessas e de outras recentes tecnologias para ar­
mazenamento da informação está ocorrendo nas bibliotecas no mun­
do inteiro. No Brasil, já podem ser encontradas em muitas bibliote­
cas especializadas ou universitárias, nas várias regiões do país. Em­
bora, ao que se saiba, não tenha ainda sido realizado qualquer tipo 
de levantamento para conhecer o ritmo de crescimento do número 
de cD-ROMS e DVD-ROMS nas bibliotecas brasileiras, é de se admitir 
que esse número esteja crescendo além das expectativas. A cada dia se 
reduzem os preços dos equipamentos de informática e mais biblio­
tecas adquirem , microcomputadores que já trazem unidades de lei­
tura desses discos. Da mesma forma, a maior disponibilidade e di­
versidade de produtos nesse formato também leva a uma queda de 
preços, equiparando-os e muitas vezes até mesmo deixando-os infe­
riores aos preços dos documentos impressos. 
Alguns leitores talvez venham a pensar que esta tecnologia, por 
ser ainda bastante recente, afetará apenas algumas bibliotecas espe­
cializadas ou universitárias, principalmente devido à pouca dispo­
nibilidade de recursos orçamentários nas bibliotecas públicas. Mes­
mo correndo o risco de ser acusado de excesso de otimismo, penso 
ser esta uma conclusão equivocada. Nunca é demais lembrar que há 
poucos anos nenhum cidadão comum de classe média sequer cogi­
tava na possibilidade de possuir um computador pessoal. Pouco 
antes, o mesmo ocorria com a televisão em cores. O barateamento 
dos equipamentos eletrônicos em geral levou à inclusão dos CD-ROMS 
e DVD-ROMS no acervo de muitas bibliotecas públicas. Isso ocorreu de 
forma surpreendente e só tende a se intensificar no futuro, bem 1nais 
cedç> do que os bibliotecários imaginam (quem viver, verá!). 
E preciso, portanto, que os bibliotecários saibam como lidar com 
46 
esse novo tipo de documento e com as implicações que ele deverá 
ter em suas atividades profissionais. Pois ele já está entre nós. 
Os documentos em CD-ROM e DVD-ROM têm crescido bastante na 
área de entretenimento, além de brinquedos e jogos dos mais variados 
tipos. Também há muitos produtos para o ensino, seja para utiliza­
çao em sala de aula, como complemento pedagógico, seja para estu­
do independente. Embora, nas bibliotecas, seu maior impacto tenha 
ocorrido na área de obras de referência, a decisão de incorporar ao 
acervo material de entretenimento nesse formato talvez seja uma das 
primeiras que os profissionais da informação terão de ponderar. 
Existe uma grande variedade de bases de dados bibliográficos 
em CD-ROM ou DVD-ROM. Obras de referência tradicionalmente publi­
cadas em papel, assim como a maioria dos serviços de indexação, 
estão disponíveis nesses suportes. Este panorama deve se alterar nos 
próximos anos, fazendo com que se intensifique a necessidade, para 
os bibliotecários, de saber avaliar esses materiais de maneira ade­
quada, o que não se resume a comparar o material impresso com o 
material em formato eletrônico. É mais do que isso. 
Entre as vantagens dos produtos bibliográficos em discos eletrô­
nicos, deve-se destacar a facilidade de busca em comparação com as 
versões impressas dos mesmos títulos. Isto fica ainda mais evidente 
quando é preciso fazer uma pesquisa bibliográfica que abranja vários 
anos. Enquanto a pesquisa em uma base de dados impressa obriga o 
usuário a fazer várias viagens às estantes e a manusear dezenas de 
volun1osas edições, aquela realizada em um CD-ROM não é afetada 
pelo período estipulado, sendo feita da mesma forma, caso fosse 
definido um período mais limitado. Há de se concordar que fazer 
uma busca bibliográfica sentado diante do computador é muito mais 
agradável do que fazê-la com dispêndio de força e deslocamentos 
físicos (talvez os fanáticos por condicionamento físico discordem 
dessa afirmativa ... ). 
Bases de dados em CD-ROM ou DVD-RO ,1 podem ser utilizadas com 
o auxílio de variado número de opções, que facilitam a recuperação
dasinformações. Entre elas estão as buscas por assuntos, por núme­
ros de classificação, nome de autores, títulos, palavras-chave, datas,
etc. Ademais, os termos de busca podem ser combinados utilizan­
do-se a lógica booleana, do que resultam estratégias muito mais pre­
cisas do que as realizadas em bases de dados impressas. É lógico
47 
que essas opções variam de produto para produto, mas é importan­
te que o bibliotecário tenha bem claro aquelas que sejam mais úteis 
para os usuários de sua instituição. 
A escolha entre obras publicadas em papel e as mesmas obras em 
CD-ROM ou DVD-ROM é algo que já começa a afetar principalmente o
setor de referência das bibliotecas. Essa escolha será tanto mais obje­
tiva quanto mais o profissional se organizar em termos de coleta de
dados de custo e custo-benefício, facilidade de acesso, disponibili­
dade de espaço, manuseio, equipamentos necessários, custos de ar­
mazenamento, etc.
A decisão entre adquirir qualquer instrumento bibliográfico em 
papel e sua versão em CD-ROM deve considerar fatores como custo do 
equipamento para leitura dos discos (e do computador onde ele deve
ser instalado), custo de utilização do equipamento (mobiliário, ma­
nutenção, cuidados especiais, etc.), disponibilidade de espaço físico 
e providências necessárias para adequação desse espaço ao equipa­
mento, para apenas citar alguns fatores. Também deve orientar essa 
decisão o conhecimento sobre as políticas editoriais de muitos pro­
dutores, que atualmente parecem tender à manutenção exclusiva da 
versão eletrônica de suas publicações. Foi o que aconteceu, por exem­
plo, com o Chemical Abstracts, tradicional obra de referência publicada 
pela American Chemical Society, disponível em muitas bibliotecas 
brasileiras. Em janeiro de 2010, a editora descontinuou a publicação 
impressa da obra e da maioria de seus subprodutos, mantendo so­
mente suas versões eletrônicas. 
É importante salientar que, para se fazer a avaliação do custo de
uma base de dados em CD-ROM ou DVD-ROM, não basta comparar seu 
preço final com o das bibliografias impressas. É importante ter bem 
claro o que se está adquirindo em cada um dos casos. Bases de da­
dos impressas em geral oferecem apenas os números correntes e os 
cumulativos do corrente ano; bases de dados em CD-ROM podem in­
cluir um arquivo retrospectivo, com atualizações. 
Muitas vezes, o conteúdo das bases em CD-ROM é inferior ao das 
bases em papel. A experiência mostra que muitas bases que os pro­
dutores afirmam trazer o texto integral dos periódicos às vezes não 
incluem quadros, tabelas e figuras constantes das versões em papel, 
porque ocupam demasiado espaço nos discos. Bases de dados em 
DVD-ROM em geral não têm essa limitação. 
48 
Além desses pontos, deve-se verificar, ao se optar por uma base 
de dados em CD-ROM ou DVD-ROM, o quanto de liberdade de uso se 
obtém. Muitos produtores desses materiais eletrônicos apenas os 
cedem para uso durante um período determinado, em geral especi­
ficado em um documento de licenciamento (internacionalmente co­
nhecido como licence agreement). Não se trata de uma venda, como 
acontece com os livros impressos. 
É preciso atentar para as condições de uso que são permitidas 
pelo documento de licenciamento, pois esse tipo de contrato costu­
ma ser bastante draconiano em suas exigências, com cláusulas rígi­
das quanto à utilização dos materiais. Na maioria das vezes consti­
tuem verdadeiros 'contratos de adesão', que beneficiam apenas o 
produtor, com cláusulas que vão de encontro aos objetivos da biblio­
teca. Se o bibliotecário quiser utilizar o produto em uma torre de CD­
ROMS, por exemplo, deve verificar, ao assinar o contrato, se este não 
proíbe essa forma de uso. Se do contrato constar tal proibição, o 
bibliotecário deverá exigir que ela seja retirada do texto ou que seja 
alterada para se ajustar tanto quanto possível a suas pretensões. 
Em geral, quando todos os elementos são cuidadosamente veri­
ficados e se toma cuidado para não cair em alguma armadilha con­
tratual, as bases de dados em CD-ROM ou DVD-ROM proporcionan1 um 
benefício muito maior do que fica aparente ao se comparar seu pre­
ço com o das obras impressas. Nesse sentido, é preciso mais uma 
vez salientar a ligação entre a seleção e o gerenciamento da institui­
ção bibliotecária, principalmente quando se tem de optar entre duas 
ou mais versões de um mesmo título, cuja adequação aos objetivos 
da instituição e dos usuários, em termos de conteúdo, é inquestio­
nável. O bibliotecário responsável pela seleção necessitará das in­
formações adequadas para uma correta avaliação de todos os fato­
res envolvidos. 
Bases de dados on-line
Diferentemente de uma base de dados em CD-ROM ou DVD-ROM, uma 
base de dados de acesso on-line não está fisicamente presente no acer­
vo da biblioteca. O computador onde a base está armazenada pode 
encontrar-se a milhares de quilômetros de distância, em outro país 
ou continente. No começo, com o auxílio de um aparelho chamado 
49 
., 
modem, acoplado ao computador, e de uma linha telefônica, podia­
se realizar o acesso à base. Atualmente, com o avanço da tecnologia, 
essa base pode ser acessada via internet de banda larga, com muito 
mais vantagens, rapidez e qualidade no acesso. 
A possibilidade de acessar esse tipo de bases de dados é encon­
trada com frequência cada vez maior em instituições bibliotecárias 
brasileiras, principalmente nas da área universitária e especializada. 
Muitas vezes estão também disponíveis em CD-ROM ou DVD-ROM, po­
dendo ser adquiridas pela biblioteca. Nesses casos, o responsável 
pela seleção deverá pesar os prós e contras de cada opção e definir­
se pela que lhe for mais conveniente. Alguns pontos merecem-aten­
ção: 
• nem sempre uma base de dados em CD-ROM ou DVD-ROM contém o
mesmo que suas congêneres on-line, que são armazenadas em ser­
vidores de grande porte e, portanto, com um volume maior de
dados. É importante distinguir com clareza as diferenças e seme­
lhanças entre os dois produtos;
• em princípio, quando há baixo volume de demanda pela base de
dados, o acesso on-line costuma ser economicamente mais ade­
quado para a biblioteca, pois ela pagará apenas as buscas efetua­
das e não precisará incorrer em diversos outros custos ligados à
aquisição e manutenção da base em seu acervo, seja em CD-ROM, 
DVD-ROM ou outro tipo de suporte. Quando a demanda for maior,
a aquisição da base será mais vantajosa para a biblioteca, pois os
custos da utilização on-line serão maiores. Na medida em que, ao
utilizar-se uma base de dados on-line, deve-se pagar o tempo de
acesso e o profissional que presta assessoria ao usuário, o custo
será mais alto quando houver maior frequência de utilização;
• por serem em geral volumosas, as bases de dados ocupam grande
espaço na memória dos computadores. Poucas bibliotecas pos­
suem máquinas em número suficiente ou dispõem de capacida­
de de memória assim tão grande, de modo a armazenar muitas
bases de maneira simultânea. Para redes de bibliotecas, que pos­
suem sistemas de computadores integrados e podem instalar tor­
res de cD-ROMS, esta questão talvez não seja tão problemática,
embora talvez a velocidade de processamento dos computado­
res possa vir a ser afetada.
50 
Considerados os pontos acima, verifica-se que a opção pelo aces­
so a bases de dados on-line é muitas vezes a única alternativa para 
bibliotecas que desejam proporcionar a seus usuários o maior leque 
possível de opções em termos de materiais de informação. O núrne­
ro de bases de dados em formato eletrônico hoje disponíveis no 
mercado torna impossível o armazenamento de toda e qualquer fonte 
que os usuários possam um dia ter necessidade de utilizar. 
Bibliotecas menores obtêm maiores benefícios com o acesso on­
line, principalmente para demandas particularizadas e infrequentes, 
mas essa regra não é assim tão rígida. 
Usuários não habituados com uma determinada base de dados 
podem levar muito tempo para definir uma busca, aumentando os 
custos para a biblioteca.Às vezes é preferível que os bibliotecários 
planejem e executem a busca para os usuários, visando não só bai­
xar o custo da conexão mas, também, obter melhores resultados na 
recuperação da informação. O acesso on-line pode também funcio­
nar como uma avaliação do volume de demanda real por determi­
nada base, proporcionando elementos para a eventual decisão por 
sua aquisição em CD-ROM e seu armazenamento no computador da 
biblioteca. 
Documentos disponíveis na internet 
Em certos aspectos, a internet parece ser a grande coqueluche do 
novo século, a ela sendo atribuído o embrião das grandes revolu­
ções sociais que se darão no futuro. Ela vem afetando em muito as 
bibliotecas do mundo inteiro, trazendo desafios e oferecendo opor­
tunidades aos profissionais responsáveis pelo gerenciamento des­
sas instituições. Majs particularmente, ela. tem colocado muitas ques­
tões aos bibliotecários que respondem pela seleção de materiais, que 
cada vez mais se perguntam como podem utilizar os recursos da 
internet em benefício de sua instituição e de seus usuários. 
A literatura especializada onde se discutem essas questões cres­
ce a olhos vistos, mostrando que os profissionais da informação es­
tão atentos às implicações da informação eletrônica em suas ativi­
dades e preocupados em estabelecer, para os documentos disponí­
veis pela internet, critérios de qualidade semelhantes aos utilizados 
para a seleção dos materirus mais tradicionais. 
51 
Para quem não está familiarizado com o assunto, é importante 
salientar que a internet é muito mais do que uma rede de computa­
dores: trata-se de uma interconexão entre diversas redes de compu­
tadores dispersas pelo mundo inteiro, acessadas por caminhos dife­
rentes e alternativos, exigindo apenas que o interessado possua um 
computador adequado, um modem, um software de comunicação e 
uma senha que lhe permita entrar no sistema por uma das diversas 
redes interligadas (que funcionam como provedores de acesso). 
Para esclarecer melhor, costuma-se comparar a internet a um sis­
tema de autoestradas conectadas entre si e ligando um país de ponta 
a ponta, numa variedade que vai desde estradas vicinais carentes de 
melhorias até vias expressas com complexa organização e contando 
com os mais avançados recursos 
Um viajante, para se locomover de um ponto a outro do país, 
poderá iniciar sua viagem por uma estrada vicinal, quase nunca pa­
vimentada, e depois utilizar uma estrada estadual ou uma autoes­
trada federal, tendo às vezes de trafegar por outra estrada vicinal 
(ou muitas outras estradas, vicinais ou não) antes de chegar ao local 
pretendido. Algo similar ocorre na internet: os caminhos para uma 
mensagem ir de um objetivo a outro são muitos, dependem de vários 
fatores, mas ao final é de se esperar que o processo se realize a con­
tento. 
No início, a internet teve como objetivo interligar os profissio­
nais que trabalhavam em pesquisas e no ensino universitário no 
mundo inteiro, facilitando-lhes a comunicação. 
A comunicação eletrônica surgiu e tomou corpo na rede como 
uma de suas possibilidades mais atraentes, sendo utilizada por pes­
quisadores e cientistas em todo o mundo para a troca de informa­
ções, por meio de e-mails, mensagens enviadas por via eletrônica que 
ficam armazenadas no espaço em máquina exclusivo do receptor 
(conhecido como endereço eletrônico). 1 
Mais tarde, surgiram as listas de discussão, genericamente co­
nhecidas como listservs ou newsgroups, pelas quais todos os interes­
sados em wn determinado assunto encaminham suas mensagens para 
um endereço específico e essas mensagens são distribuídas para os 
assinantes da lista, gerando um permanente clima de troca de ideias 
e informações. Depois veio a www (World Wide Web ou simples­
mente Web, a Rede), evolução tecnológica dos antigos gophers, uma 
52 
sofisticação até há pouco tempo inimaginável da internet, que in­
corpora aplicativos e interfaces baseadas em técnicas de hipertexto 
e hipermídia.2 Por último, vieram as redes de relacionamento ou 
comunidades virtuais, congregadas em espaços próprios na Rede. 
O mais famoso deles é certamente o Orkut (www.orkut.com), uma 
imensa comunidade em linha que congrega pessoas interessadas nos 
mais diversos assuntos e é muito utilizada para contatos entre ami­
gos, bem como para a troca de fotos, vídeos e mensagens. 
Há tempos a internet deixou de ser de uso exclusivo do mundo 
acadêmico, podendo ser utilizada por indivíduos de todas as áreas 
e atividades, por um custo bastante acessível. Isto gerou uma explo­
são do universo de informações disponíveis na rede, que crescem e 
se modificam numa rapidez difícil até mesmo de imaginar e mais 
ainda de acompanhar. 
A cada minuto, informações sobre todo e qualquer assunto são 
incorporadas e tornadas disponíveis na internet. Desde dados total­
mente irrelevantes (a não ser para poucos interessados) a documen­
tos de interesse universal, oriundos de organizações conceituadas 
no mundo científico ou empresarial. Hoje em dfa, pode-se fazer quase 
tudo pela internet: obter dados estatísticos, adquirir bens, contratar 
serviços, acessar bases de dados, consultar catálogos de bibliotecas, 
encontrar parceiros para jogos ou relacionamento amoroso, etc. (os 
limites talvez sejam apenas a nossa própria imaginação). Daí, pode­
se ter uma ideia do potencial que ela representa em termos de fonte 
de informação. 
Os bibliotecários no mundo inteiro se interessaram pelas redes 
eletrônicas, em particular pela internet, desde seu início. Ao invés 
de ficar preocupados com possibilidades de eventual desapareci­
mento (veja-se, a respeito desse assunto, o capítulo 11, sobre o futu­
ro da seleção), trataram de incorporar os documentos disponíveis 
na internet às alternativas de informações que ofereciam a seus usu­
ários. Bibliotecas incorporaram-se à rede criando home pages, 3 por 
meio das quais possibilitam acesso a seus catálogos e criam ligações 
com informações disponíveis na rede, tornando-se uma porta para 
o mundo das informações eletrônicas. Isso parece tender unicamente
ao crescimento, à medida que mais e mais instituições de informa­
ção fazem o mesmo trajeto.
O universo de informações disponíveis na internet é complexo e 
53 
--- --
diversificado ao extremo. Para as bibliotecas, não se trata apenas de 
possibilitar que parcelas da comunidade que não têm disponibilida­
de financeira para utilizar a rede possam fazê-lo por meio dessas 
instituições. Trata-se, muito mais, de definir critérios que garantam 
ao interessado a fidedignidade, atualidade e confiança sobre a pro­
cedência da informação fornecida via rede eletrônica. 
Às vezes a experiência de trafegar pela internet compara-se à 
aventura de quem viaja a um pais estrangeiro sem conhecer o idio­
ma e tem que se comunicar/sobreviver em um ambiente diferente 
daquele ao qual está acostumado. Assim, as bibliotecas têm-se preo­
cupado em proporcionar aos usuários indicadores para orientação 
nessa balbúrdia, selecionando e possibilitando o acesso a endereços 
da internet que contenham material de interesse para seus usuários. 
De uma certa forma, a incorporação de qualquer endereço eletrô­
nico à página que a biblioteca mantém na internet pode ser compa­
rada à aquisição de um documento escrito e sua incorporação ao 
acervo físico. Trata-se, em muitos aspectos, da mesma atividade de 
determinação de qualidade e adequação ao usuário realizada pelos 
bibliotecários de seleção. Muitos dos critérios aplicáveis aos docu­
mentos impressos aplicam-se também àqueles disponíveis via rede 
eletrônica. Pode-se dizer, por exemplo, que a biblioteca deverá ava­
liar um documento eletrônico segundo o mesmo critério de autori­
dade que utiliza para o documento em papel: no caso deste, o crité­
rio seria validado pelo renome do autor, do editor e do órgão res­
ponsável pela edição da obra; para o documento disponível via in­
ternet serão definidos elementos equivalentes aos mencionados, e 
avaliados segundo a credibilidade que tenham e tambémbaseado 
em suas produções anteriores. Isto não é difícil de entender, pois se 
imagina que um documento disponível no endereço eletrônico da 
UNESCO, da ONU ou outra organização conceituada seja mais confiável 
do que um documento disponível no endereço de uma pessoa física 
sem maiores referências. O mesmo se aplica aos demais critérios de 
conteúdo mencionados no capítulo 3. 
Outro aspecto importante da incorporação de documentos dis­
poníveis na internet refere-se à indicação de páginas individuais 
sobre determinado tema ou instituição, ou à indicação de servidores 
que contenham conjuntos de recursos. Kim Fung Yip assim 
exemplifica essa questão: "podem-se selecionar jornais na internet 
54 
pela seleção de sítios de periódicos específicos, ou um sítio que apon­
te para uma coleção de periódicos".'1 Não existe uma regra fechada 
nessa área e cada biblioteca deverá decidir qual opção lhe é mais 
conveniente. Isto também não significa que deva existir uma opção 
fechada: é possível optar pelo coletivo em determinados momentos, 
deixando ao usuário a seleção daquilo que lhe é de maior interesse 
ou utilidade, e em outros momentos fazer a indicação diretamente 
para a fonte específica. 
Outro ponto importante relaciona-se com a indicação apenas de 
recursos acessíveis gratuitamente na internet ou da inclusão tam­
bém de documentos para cujo acesso se exige uma compensação 
monetária. Caso a última opção seja a preferida, o bibliotecário de­
verá decidir se a biblioteca arcará com custo do acesso ou se será 
repassado, total ou parcialmente, ao usuário final. Estas questões 
devem estar bem claras para o usuário antes que ele realize a pes­
quisa, pois é muito frustrante engajar-se cm uma busca de informa­
ção e ter que interrompê-la em determinado momento, ao saber que 
existirá um custo adicional inesperado. 
Além das bases em CD-ROM, DVD-ROM ou em linha, muitas se tor­
naram acessíveis via internet. Às vezes, esta alternativa é feita sem 
um custo direto de aquisição ou assinatura, o que é uma vantagem 
adicional. Na maioria das vezes, porém, para ter acesso à base de 
dados na internet, a biblioteca deve arcar com o custo definido pelo 
produtor. Nesses casos, deve-se fazer a avaliação de custo-benefí­
cio, visando a melhor escolha para a instituição bibliotecária. 
A inconstância dos endereços na internet obriga a um acompa­
nhamento das indicações já feitas. Nada garante que um endereço 
útil para a biblioteca continuará existindo ou se transferirá para ou­
tro ponto da rede. Neste caso, muitas vezes uma indicação para o 
novo endereço é feita quando se acessa o endereço antigo, restando 
à biblioteca fazer a atualização dos dados. No primeiro caso, existe a 
possibilidade de a informação estar perdida para a instituição, pelo 
menos em formato eletrônico. 
A internet é um conjunto de redes interconectadas, com bilhões 
de dados e informações, que, na maioria, talvez sejam dispensáveis, 
sem interesse duradouro. Cabe às bibliotecas colaborar com o pro­
cesso de comunicação, avaliando as fontes e indicando as que se 
destacam em relação a parâmetros de qualidade, diminuindo o tem-
55 
po do usuário para encontrar a informação nesse emaranhado de 
informações muitas vezes conflitantes. Esta atividade se faz ainda 
mais importante à medida que os mecanismos de busca existentes 
na própria internet são ainda insuficientes para uma recuperação 
satisfatória. 5 
Notas 
1 Um endereço eletrônico é composto de modo similar a um endereço comum, 
indicando o destinatário, a máquina e o país onde esta se localiza. O meu ende­
reço eletrônico, por exemplo, é wdcsverg@usp.br, que pode ser descrito assim: 
o que vem antes do símbolo @ (representativo do latim ad: em direção a, para) 
indica o nome do destinatário; o que vem depois identifica o local onde o com­
putador/servidor, ou provedor, se encontra (usp: Universidade de São Paulo) e 
o país (br: Brasil). 
2 Foge aos objetivos deste livro entrar em muitos detalhes sobre a internet e seu 
funcionamento. Para aqueles que se interessem cm conhecer mais sobre a rede, 
aconselha-se a leitura de alguns dos diversos manuais existentes no mercado. 
Entre outros, pode-se salientar o seguinte título: ERCÍLIA, Maria; GRAEH, Anto­
nio. A internet. São Paulo: Publifolha, 2008. 
3 Home page é a página inicial de qualquer endereço na Rede, trazendo as princi­
pais indicações sobre o conteúdo daquele endereço (uma espécie de menu). 
4 Kim Fung Yip. Selecting Internet resources: experience at Hong Kong Universi­
ty of Science and Technology (HKUST) Library. The Eleclronic Library, v. 15, n. 2, p. 
91-98, 1997.
5 Entre os mecanismos de busca disponíveis na internet destacam-se: Google, 
Alta Vista, Yahoo, Bing, Lycos e Ask. 
56 
6 
Organizando o processo de seleção 
É IMPORTANTE SALIENTAR que, na prática, a selecão tem um alto grau de 
detalhamento. Em outras palavras: o que parece simples, nem sem­
pre é tão simples assim. As vezes, a complexidade da seleção não 
fica evidente para o profissional, que raramente interrompe sua ro­
tina para refletir a respeito das atividades que desenvolve. Essa com­
plexidade, porém, é real, palpável, bastando que se enfoquem, com 
senso crítico, as atividades desenvolvidas na tomada de decisão, para 
que ela se torne evidente. Essas atividades variam de uma institui­
ção para outra, cada uma organizando o processo segundo suas pe­
culiaridades e características e procurando obter o fluxo adminis­
trativo mais conveniente para garantir que todos os materiais só in­
gressem no acervo após uma avaliação por parte de um responsá­
vel. É inaceitável que um item ingresse na coleção por descaso, falta 
de tempo ou ineficiência dos responsáveis por sua manutenção e 
desenvolvimento. 
Algumas expressões como lista de desiderata, demanda repri­
mida e lista de sugestões são de uso corrente, expressando coisas 
mais ou menos iguais. Na prática, são quase sinônimas, pois se refe­
rem a materiais que a biblioteca está considerando incorporar ao 
acervo. Lista de desiderata, como o nome indica, refere-se a materiais 
que a biblioteca deseja adquirir; imagina-se, neste caso, que já te­
nham recebido decisão favorável de alguém, mas esta regra nem 
sempre é seguida. Demanda reprimida, expressão pouco simpática, 
indica títulos procurados pelos usuários e não possuídos pela biblio­
teca, mas também pode referir-se aos indicados pelos usuários. 
Lista de sugestões, talvez a expressão mais ampla, em geral indi­
ca uma lista de títulos que foram sugeridos para aquisição, normal­
mente composta por indicações de usuários. Com frequência, esses 
57 
títulos ainda não foram submetidos a um processo de tomada de 
decisões (mas essa regra nem sempre é seguida). 
Considerando as definições acima, cada profissional deve ter bem 
claro o significado de cada expressão no contexto da biblioteca em 
que atua, principalmente para diferençar entre títulos ou indicações 
cuja aquisição já foi decidida e aqueles que ainda deverão ser sub­
metidos ao processo de tomada de decisões. 
O fato de uma lista ter sido confeccionada - tenha ela recebido 
que nome for - deve significar todo um trabalho de identificação, 
avaliação e aplicação de critérios de seleção para cada um dos itens 
que a compõem (se antes ou depois da confecção da lista, é irrele­
vante). E significa uma definição precisa do responsável ou respon­
sáveis pela seleção dos materiais, apontando-se as atribuições de cada 
um dos envolvidos no processo. 
Assim, a organização do processo de seleção vai implicar defi­
nir: 
• os responsáveis pela tomada de decisão;
• os mecanismos para identificação e registro dos itens a serem
selecionados;
• a política de seleção.
Os dois primeiros itens serão vistos neste capítulo. O terceiro item, 
devido à sua importância, será visto em outro capítulo. 
Quem seleciona? 
Uma vez estabelecida a premissa inicial da importância da partici­
pação do bibliotecário na seleção; parece ser interessante concentrar 
a análise nas estruturas em quesua participação é efetivamente con­
creta, deixando de lado aquelas em que ele atua como mero cumpri­
dor de decisões superiores. 
As várias alternativas para organização das atividades de sele­
ção podem ser esquematicamente analisadas assim: 
58 
Alternativa 1 
Existência de uma comissão de seleção, de caráter 
deliberativo, da qual o bibliotecário participa 
como membro ou coordenador/presidente 
Esta alternativa pressupõe a existência de um grupo de pessoas co­
locadas, como um conjunto, hierarquicamente acima do bibliotecá­
rio, para tomar as decisões concernentes à seleção dos materiais. A 
presença do bibliotecário visa oferecer garantias de que as necessi­
dades da coleção como um todo estarão acima de interesses de gru­
pos ou indivíduos. Embora se costume manter apenas o responsá­
vel pela biblioteca como membro efetivo da comissão, nada impede 
que outros profissionais do corpo técnico da biblioteca participem, 
principalmente os que têm mais contato com os usuários, como é o 
caso do bibliotecário responsável pelo serviço de referência. 
O funcionamento das comissões de seleção tende muitas vezes a 
ser apenas burocrático, com um ou dois membros tomando as deci­
sões pelos demais. Em geral, reúnem-se segundo uma periodicida­
de prefixada (mensal, bimestral, etc}, quando analisam as sugestões 
dos usuários e as encaminhadas pelo corpo técnico da biblioteca, 
podendo ainda incorporar sugestões próprias. 
As dificuldades burocráticas, talvez inevitáveis, devem ser en­
frentadas com criatividade e eficiência, as decisões ocorrendo do 
modo mais amplo e rápido possível. À biblioteca caberá, entre ou­
tras medidas, elaborar formulários apropriados para registro das 
sugestões e decisões a respeito de cada item analisado, de modo a 
facilitar a avaliação pela comissão. 
Alguns bibliotecários podem entender que comissões de seleção 
representam uma limitação à autoridade/autonomia do profissio­
nal. Em muitos casos têm razão: sob certos aspectos, elas podem ser 
assim encaradas, representando um fator de inibição do profissio­
nal. Mas a existência de um grupo com funções deliberativas, hie­
rarquicamente superior ao bibliotecário, pode ter aspectos positi­
vos, que devem ser explorados ao máximo. 
Comissões, na medida em que compostas por membros represen­
tativos da comunidade, permitem um contato maior com os usuá-
59 
rios, funcionando como um canal permanente para a discussão de 
suas necessidades de informação e também como um excelente veí­
culo de relações públicas. Podem fornecer apoio político ao bibliote­
cário, em suas solicitações por maiores e melhores recursos para a 
biblioteca. 
A constituição dessas comissões varia de instituição para insti-
tuição: 
• em bibliotecas públicas, são em geral indicadas pelo prefeito ou
pela câmara municipal, obedecendo a diretrizes estabelecidas em
leis ou decretos, que fixam o número de componentes, a forma
como são selecionados na comunidade, atribuições e duração do
mandato, etc. No Brasil, não se sabe de comissão de seleção ou de
biblioteca constituída pelo voto da comunidade, prática comum
em outros países. Às vezes, são necessárias comissões voltadas
para certos materiais: em bibliotecas infanta-juvenis, por exem­
plo, pode haver comissões de seleção compostas por especialis­
tas em literatura infantil;
• em bibliotecas especializadas, elas são compostas por pesquisa­
dores da instituição, em geral representando os departamentos
que a constituem. Partem da premissa de que a seleção em áreas
especializadas deve ser realizada por quem tem conhecimento
nessas áreas. Sua existência parece também justificar-se pela im­
possibilidade de o bibliotecário dominar todos os assuntos do
acervo. A indicação dos membros poderá ser feita pelo diretor da
instituição ou pelos responsáveis pelos departamentos;
• em bibliotecas escolares e universitárias, os participantes das co­
missões costumam ser indicados dentre os membros dos corpos
docente e discente. Para se alcançar maior representatividade,
muitas vezes procura-se obter a participação de ex-alunos ou
membros do corpo técnico. Saliente-se que a participação do bi­
bliotecário nas comissões de seleção é vital para evitar que algu­
mas áreas da coleções se desenvolvam, de modo injustificado,
mais do que outras. Alguns pesquisadores ou professores costu­
mam destacar-se, sendo mais atuantes (ou preocupados) do que
outros na seleção; cabe ao bibliotecário zelar para que todos os
assuntos de interesse da instituição se desenvolvam independen­
temente de atuações individuais, por meio de mecanismos for-
60 
mais que permitam a participação, ainda que mínima, de todos 
os interessados. 
Alternativa 2 
Existência de uma comissão de seleção, de caráter 
consultivo, para assessoria ao responsável pela seleção. 
Visa proporcionar ao bibliotecário suporte às decisões de seleção. 
Quando formalmente estruturada, sua existência pode ser interpre­
tada como um indicador de que o profissional atingiu um alto índi­
ce de reconhecimento no meio em que atua, sendo-lhe atribuída a 
responsabilidade pela tomada de decisões de seleção. Significa, tam­
bém, que é reconhecida a necessidade de assessoria especializada, 
seja cm relação aos assuntos do acervo, seja em relação a particulari­
dades da comunidade servida. 
Muitas vezes, embora não formalmente organizada, essa comis­
são pode ser incentivada pelo bibliotecário, sem que isto represente 
demérito ou timidez de sua parte para a tomada de decisões. Ao 
contrário, poderá ser uma estratégia para aproximar os usuários da 
biblioteca e otimizar as decisões de seleção. 
Em bibliotecas de grande porte, com muitos bibliotecários, po­
dem ser formadas comissões de seleção compostas apenas por eles, 
dando suporte ao responsável pela seleção. 
Imagina-se, provavelmente com certa razão, que a soma das ex­
periências e conhecimento das necessidades da comunidade acu­
mulados pelo grupo de profissionais, em especial os que mantêm 
contato direto com o usuário, proporciona um retrato fiel da reali­
dade onde a biblioteca atua, fornecendo subsídios para a tomada de 
decisões. Alguns sistemas de bibliotecas públicas inglesas adotam 
essa prática para a seleção de mater_iais de informação. 
Alternativa 3 
O bibliotecário faz a seleção dos materiais.
61 
Muitas vezes, o bibliotecário é o único responsável pela seleção. 
É dele a decisão única e exclusiva sobre o que é ou não incorporado, 
sern que tenha que a priori consultar escalões superiores. Como no 
caso anterior, isto pode significar um reconhecimento da capacida­
de do profissional para tomar decisões. 
É preciso reconhecer que esta decisão muitas vezes cai nas mãos 
do bibliotecário por simples e total desinteresse da comunidade a 
que a biblioteca deve servir. É mais cômodo que o bibliotecário tome 
as decisões, ao mesmo tempo em que lhe são negadas as ferramentas 
que lhe permitiriam, eventualmente, tomar decisões mais eficientes, 
ou tornar suas decisões efetivas. 
Embora doloroso, talvez este seja o caso mais comum no Brasil, 
principalmente nas bibliotecas públicas de cidades de pequeno e 
médio porte: bibliotecários tomam as decisões de seleção, sim; mas, 
devido à falta de um orçamento definido, jamais se constitui um 
ambiente de tomada de decisões. No máximo, decide-se sobre a incor­
poração das doações de alguns usuários. 
Este panorama catastrófico, que domina grande parte das biblio­
tecas brasileiras, não é motivo suficiente para descaracterizar a ne­
cessidade de organizar as atividades de seleção de forma estrutura­
da. Profissionais que têm que trabalhar de maneira quase isolada, 
muitas vezes chefes de si mesmos, são os que mais necessitam orga­
nizar seu tempo de forma racional e utilizá-lo do modo mais eficien­
te possível. Decisões tomadas às pressas nem sempre produzem os 
melhores resultados. 
Os bibliotecários que decidem sobre a seleção estão também mais 
propensos a encarar suas responsabilidades de maneira inadequa­
da. São muitas as pressões que sofrem por trabalharem um ambien­
te desestimulador: a pouca disponibilidade de tempo ou de pessoal 
auxiliar é uma realidade demasiadamente estressante para muitos 
profissionais. No entanto, embora se compreendam suas dificulda­
des, às vezes fica difícil justificar a forma leviana como são tomadas 
algumas decisões de seleção. Deve-se sempre resistir, por exemplo, 
à tentação de aceitar todas as doações, só para não se ter o trabalho 
de analisá-las mais detida.mente. Isto ocorre com muito mais frequên­
cia do que se imagina. 
Os bibliotecários com responsabilidades de seleção são talvez os 
que maior necessidade têm de possuir as informações mais fidedig-
62 
nas possíveis sobre a comunidade que visam a servir. Para isso, será 
necessário que desenvolvam mecanismos formais (estudos de co­
munidade, de usuários, pesquisas de opinião, etc.) ou informais ( con­
tato direto com os usuários, em geral no empréstimo de materiais) 
visando identificar fontes de auxilio à tomada de decisões. A prática 
acabará por capacitá-los a identificar personalidades dispostas a au­
xiliar na análise dos materiais, trazendo-lhes valiosos subsídios para 
a seleção. Esta prática, convenientemente implementada, também 
poderá funcionar como um excelente veículo de relações públicas 
para a biblioteca. 
Mecanismos para identificação, avaliação e registro 
Quando, no início deste capítulo, foram mencionadas listas de títu­
los sobre os quais a decisão de seleção foi ou será tomada, deixou-se 
de comentar que grande parte do trabalho que precede essa decisão 
é composto por rotinas administrativas que visam gerar um eficien­
te fluxo de informações. Essas listas de títulos não surgem de ma­
neira espontânea, mas são confeccionadas com dados obtidos de 
diversas fontes, que podem ser tanto os usuários da biblioteca como 
publicações da mais variada procedência. Isto implicará, entre ou­
tras coisas, a necessidade de: 
• elaborar formulários adequados para cada tipo de biblioteca, de
modo a identificar satisfatoriamente tanto a procedência da indi­
cação (usuário? corpo técnico da biblioteca?) como o material
indicado (autor, título, edição etc.);
• definir os instrumentos auxiliares a serem utilizados para a sele­
ção.
Formulários para indicação e seleção de títulos 
Parece desnecessário enfatizar a importância de se contar com ins­
trumentos formais para a indicação de títulos. Grande porcentagem 
dos materiais incorporados ao acervo das bibliotecas provém de indi­
cações dos usuários, e às vezes é triste verificar como esse processo 
ocorre de maneira completamente irregular. Histórias sobre usuários 
que apresentaram indicações para seleção nos mais variados e pito-
63 
rescos suportes são comuns no meio bibliotecário. Sabe-se de suges­
tões rabiscadas em envelopes, assinaladas em catálogos de editoras, 
indicadas em lista de referências de artigos de periódicos (muitas 
vezes em folhas arrancadas do próprio original), bem como de usuá­
rios que transmitem verbalmente suas sugestões ao pessoal da bibli­
oteca. 
A hilaridade, ou tragicomicidade, de algumas situações, no en­
tanto, não pode obscurecer a importância de se derrubarem todas as 
barreiras que possam impedir os usuários de apresentarem suas 
sugestões para o acervo. É importante que se sintam motivados a 
colaborar no desenvolvimento da coleção, ainda que suas contribui­
ções possam ser irregulares, irrelevantes, pouco confiáveis ou sim­
plesmente ininteligíveis. A existência de formulários deve ser dita­
da por necessidades organizacionais e não para impedir ou dificul­
tar a participação dos usuários no processo. Um dos primeiros pon­
tos a serem analisados, portanto, é quanto a existência de um instru­
mento formal para indicação de títulos contribuirá para aproximar 
mais da biblioteca os usuários. Se a resposta for negativa, talvez seja 
melhor deixar de lado essa história de formulário e tentar aprimo­
rar os contatos pessoais que estejam funcionando satisfatoriamente. 
Ou talvez seja melhor reelaborar o instrumento formal, desta vez 
sob o ponto de vista do usuário ... e não da biblioteca. 
Felizmente, excetuando alguns casos em que até mesmo os bibli­
otecários têm dificuldade para entender o que se pretende (mais ou 
menos parecidos com aqueles contratos para financiamento da casa 
própria), geraltnente os formulários para indicação/sugestão de tí­
tulos buscam a simplicidade, facilitando a compreensão do que se 
deseja, organizando o fluxo de solicitações e reduzindo-as a um for­
mato comum. Os formulários devem ser de fácil preenchimento e 
compreensão, exigindo do usuário o mínimo de seu tempo. É con­
veniente lembrar que nenhum usuário deve se sentir constrangido 
para encaminhar uma sugestão ao acervo por não conhecer todos os 
dados para preenchimento do formulário (pensem, por exemplo, 
e_m quantas crianças já tiveram a intenção de indicar um livro para a 
biblioteca e desistiram porque não sabiam preencher o 'papel' que 
os bibliotecários lhes deram). Uma indicação rnaJformulada será 
sempre preferível a indicação nenhuma. 
A necessidade de especial atenção na confecção de formulários 
64 
para indicação ou sugestão de títulos fica ainda mais evidente ao se 
considerar que poderão ser utilizados em todas as atividades da se­
leção. Em muitos casos, serão preenchidos por várias pessoas: quem 
solicita o material, quem recebe o pedido, quem verifica se a biblio­
teca possui o título, quem aprova a indicação, etc. Eventualmente, 
poderão acompanhar a aquisição e processamento dos materiais. As 
idas e voltas geradas por formulários malelaborados têm um custo 
muito alto para a instituição. 
O excesso de documentos é prejudicial a qualquer atividade ad­
ministrativa. Por isso, é aconselhável restringir ao máximo o núme­
ro de formulários que serão manuseados no processo de seleção. 
Onde apenas um instrumento formal for suficiente, dois ou três não 
precisarão existir. O mesmo se pode afirmar quanto ao número de 
vias dos formulários, que deve ser o menor possível. Assim, foge-se 
da duplicação de esforços, economiza-se tempo e evita-se a prolife­
ração de arquivos ou bancos de dados (que nada mais são do que 
arq'!ivos com mania de grandeza). 
E claro que dificilmente serão elaborados instrumentos perfei­
tos. Cada biblioteca deverá analisar criteriosamente os dados de que 
necessitará para a tomada de decisão e incorporá-los ao formulário 
que adotar. Da mesma forma, detalhes corno tamanho ou dimen­
sões do formulário, tipo de papel utilizado, cores, impressão etc. 
são questões que devem ser respondidas no âmbito de cada institui­
ção, considerando fatores como custo, benefício, durabilidades, le­
gibilidade, etc. A prática certamente acabará deixando evidente a 
adequação ou não do instrumento utilizado. 
Corno sugestão, reproduz-se, no anexo 1, um modelo de formu­
lário para indicação de títulos. 
Instrumentos auxiliares da seleção 
Tendo em vista o atual universo editorial, é totalmente impossível a 
qualquer bibliotecário ter conhecimento de tudo que é de interesse 
para sua instituição, ou mesmo ter condições de avaliar objetiva­
mente os materiais publicados. Por maior que seja sua dedicação e 
disponibilidade, ele irá fracassar. 
Se o bibliotecário limitar as decisões de seleção aos materiais su-
65 
lutin
Realce
geridos pelos usuários, talvez deixem de ser incorporadas ao acervo 
obras importantes, das quais os usuários não chegaram a ter conhe­
cimento ou não tiveram informações suficientes a ponto de interes­
sar-se por elas. Isto para não falar da possibilidade, talvez certeza, 
de a coleção tender, a longo prazo, a concentrar-se nas áreas em que 
os usuários apresentam maior número de sugestões. 
Os chamados instrumentos auxiliares da seleção, também conhe­
cidos como fontes de seleção, possibilitarão, ainda que de maneira 
imperfeita, que as limitações acima apontadas não se transformem 
em barreiras ao correto desenvolvimento da coleção. Por intermé­
djo deles, os bibliotecários poderão obter informações referentesà 
existência de itens específicos, e ter acesso a uma estimativa da qua­
lidade dos documentos. Esse tipo de subsídio será muito importan­
te no dia-a-dia da seleção porque não é possível tomar decisões a 
respeito de algo cuja existência se desconhece, e porque nem sem­
pre se pode contar com a ajuda de especialistas para aplicação de 
alguns dos critérios de seleção. 
Cada biblioteca deve definir os instrumentos auxiliares que lhe 
sejam úteis. Em face da diversidade de documentos e formatos exis­
tentes, limitar muito as fontes que a biblioteca pode utilizar na sele­
ção talvez seja uma faca de dois gumes. Em princípio, os instrumen­
tos auxiliares circunscrevem-se mais às obras de referência, como 
bibliografias, diretórios ou mesmo catálogos de editoras, mas na 
prática são todos os materiais, em qualquer suporte, que possam 
oferecer subsídios para a decisão de seleção. 
A adequação de um instrumento auxiliar a uma biblioteca espe­
cífica irá em muito depender do que se deseja dele. Entre os fatores 
que influenciarão essa adequação podem ser salientados: 
• a exaustividade do instrumento: algumas fontes de seleção pro­
curam arrolar tudo o que está sendo ou foi publicado na área
respectiva, e outras apresentar uma cobertura mais superficial;
• seleção corrente ou retrospectiva: alguns instrumentos apresen­
tarão apenas dados referentes a materiais correntes, sem incluir
obras publicadas antes de um certo período;
• fornecimento de apreciações críticas dos itens, o que proporciona­
rá maior número de elementos para a tomada de decisão;
66 
• idiomas incluídos: algumas fontes abrangem apenas a língua do
país onde são publicadas, outras não têm essa limitação;
• inclusão de diferentes tipos de suportes e materiais não-con­
vencionais tais como periódicos, filmes, fitas de vídeo ou áudio,
diapositivos, etc.
Bibliotecas públicas e escolares em geral recebem maiores benefícios 
com a utilização de catálogos de editoras, resenhas publicadas em 
jornais e revistas de circulação geral ( como Veja, Isto É, Newsweek etc.), 
bem como por consultas regulares a sítios de editoras e livrarias na 
internet. Bibliotecas universitárias e especializadas provavelmente 
precisarão ter acesso a bibliografias especializadas, inclusive rese­
nhas publicadas em periódicos científicos de sua área de atuação, a 
fim de fazer o melhor uso possível das informações disponíveis. 
Catálogos de editoras são.utilizados no mundo inteiro como instru­
mentos auxiliares da seleção em todos os tipos de bibliotecas. Isto é 
perfeitamente compreensível, em grande parte devido ao interesse 
das editoras em torná-los acessíveis às bibliotecas. 
Para não repetir informações já apresentadas no livro sobre de­
senvolvimento de coleções, deixo de fazer aqui a análise pormeno­
rizada de cada um dos instrumentos auxiliares mencionados (suas 
vantagens e desvantagens já foram suficientemente detalhadas na­
quela oportunidade). Cada profissional deverá avaliar com muito 
cuidado a objetividade, credibilidade e veracidade das informações 
veiculadas nas fontes de seleção que pretende utilizar, de modo a 
ter plena confiança no benefício que delas poderá receber. Feliz ou 
infelizmente, os instrumentos auxiliares apenas funcionarão corno 
elementos de suporte, fornecendo subsídios à tomada de decisão. 
Nenhum deles eximirá o bibliotecário ou responsável pela seleção 
de sua participação no processo. Por esse motivo, fica evidente que 
a escolha de instrumentos auxiliares inadequados pode comprome­
ter a efetividade do processo de seleção. 
67 
7 
Política de seleção 
FALAR SOBRE POLÍTICA de seleção é, de fato, repetir muito do que já foi 
mencionado neste ou no livro sobre desenvolvimento de coleções. 
Por esse motivo, este capítulo será dedicado mais à estruturação do 
documento de política do que à discussão sobre sua razão de ser, 
procurando fornecer subsídios para que cada profissional, em cada 
situação específica, elabore seu próprio material. Antes, porém, con­
vém apresentar os motivos da existência de um instrumento formal 
de política de seleção. 
Muitos bibliotecários argumentarão que dispor de um documento 
onde os critérios de seleção estão registrados é, sob certos aspectos, 
uma perda de tempo. Afinal, não têm dúvida de que utilizam crité­
rios de seleção razoáveis e os têm gravados na memória. Além do 
mais, dirão, os usuários parecem estar satisfeitos com aquilo que 
eles, os bibliotecários, estão realizando. Para comprovar isso, desa­
fiarão os incrédulos a perguntar a opinião dos usuários e mostrarão 
o acervo sob sua responsabilidade, duvidando que alguém possa
discordar dos critérios que utilizam ou afirmar que realizam seu
trabalho de maneira não-criteriosa.
Longe deste autor querer duvidar da sinceridade desses biblio­
tecários. Muitos profissionais exercem a atividade de seleção com 
zelo admirável e são bem-sucedidos no desenvolvimento de cole­
ções adequadas a seus objetivos. Analisam cada material que inclu­
em no acervo, utilizam critérios objetivos e bem-elaborados, discu­
tem com os usuários a importância de cada item, negociam interes­
ses divergentes, evidenciando, em todos os seus atos, a precisão de 
suas decisões. Profissionais assim (e felizn1ente existem muitos nes­
te país) são exemplos que devem ser reconhecidos e servir de mode­
lo para todos os outros. 
68 
Mas é aí, que a ques_tão começa a se complicar. Mesmo que se 
aceite o paragrafo anterior corno verdadeiro (e ele é!), ainda assim é 
grande o r'.s�o de,_a longo prazo, desenvolver-se uma coleção aquémdo �ecessano. Nao existem garantias de que os bons profissionais 
serao eternos em uma biblioteca. Muitos fatos podem levar um bi­
bliotecário a afastar-se da instituição, desde aqueles pessoalmente 
positivos (asce_nsão na carreira, mudança de emprego) aos negati­
vos (doenças, licenças, falecimento). Para não mencionar os casos de 
aposentadoria, que tanto podem ser positivos como negativos, de­
pendendo do ponto de vista. Em qualquer uma dessas situações, 0 
resultad? será urna coleção prematuramente órfã, que estará sujeita 
aos caprichos do acaso. E deve-se reconhecer que isso poderá ser até 
fatal para algumas delas. 
Corre-�e o ,ris<:o ou não? Cada bibliotecário pode fazer essa per­
gunta a s1 propno, amda que seja apenas como um exercício de 
el_ucubração. Se optar pelo risco, só restará desejar-lhe boa sorte e 
vida longa. Se optar pela alternativa mais segura, registrará de modo 
formal os �ritérios de seleção que adota, de modo que sua prática 
possa contmuar por intermédio de seus sucessores. 
Esta seria uma primeira razão para justificar a existência de um 
instrumento formal de política de seleção: garantir a manutenção 
do_s critérios além da permanência física dos profissionais responsá­veis pelas decisões. Só ela, provavelmente, já seria suficiente. Mas 
seria possível acrescentar algo mais. 
Parece evidente, por exemplo, a necessidade de dar conhecimen­
to à comunidade de que a coleção não está sendo desenvolvida de 
maneira aleatória, com base apenas cm caprichos ou idiossincrasias 
do bibliotecário. Conseguir o apoio dos usuários é uma política pru­
dente, considerando-se os altos e baixos que a biblioteca enfrenta no 
seu dia-a-dia, principalmente quanto aos recursos para aquisição 
dos materiais. 
Comunicar aos interessados, de modo claro, os critérios de sele­
ção do acervo é uma boa estratégia para, em momentos críticos, con­
seguir o apoio da comunidade. É difícil e talvez ingênuo esperar 
que os usuári�s apóiem o bibliotecário em suas solicitações por 
maiores dotaçoes orçamentárias, se ele não esclarecer os critérios 
que _irã? guiá-lo na_ utiHzação das verbas suplementares. Ninguémapoiara os profiss1ona1s da informação apenas pelos seus belos 
69 
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olhos ... pelo menos na grande maioria dos casos (existem profissio­
nais com olhos belíssimos). 
Uma coleção não é sempre um elemento de pacífica concordân­
cia na comunidade. É natural que parte dos usuários deseje queo 
acervo contemple mais suas necessidades de informação, entenden­
do que algumas áreas deveriam receber prioridade diferente daque� 
la que lhes está sendo conferida pelos responsáveis pela seleção. E 
também compreensível que alguns usuários discordem que deter­
minadas áreas do acervo recebam novas obras ou que sejam até mes­
mo minimamente contempladas, tentando evitar que os demais usuá­
rios tenham acesso a certo tipo de informações. 
Não há como evitar o aparecimento de tensões em torno da cole­
ção, com grupos de usuários desejando imprimir determinado dire­
cionamento às decisões de seleção, enquanto outros grupos atuam 
em direção inversa. Neste sentido, é até possível questionar o acerto 
de uma política que procure suprimir essas tensões, pois esse confli­
to é bastante enriquecedor e contribui para que a gama de opções 
existente seja ampliada (muito pelo contrário até: algumas vezes a 
busca do conflito pode ser parte integrante da estratégia para admi­
nistração da coleção). Que bom seria se todas as bibliotecas pudes­
sem contar com grupos de usuários se digladiando em torno do acer­
vo! Pelo menos, os bibliotecários teriam uma vida muito mais emo­
cionante ... 
Ironia à parte, as tensões em torno do acervo, embora em geral 
saudáveis, podem fazer do bibliotecário um refém de interesses di­
vergentes. Sem saber como foi parar no meio disso tudo, pode des­
cobrir que se transformou no árbitro de preferências talvez irrecon­
ciliáveis e está mergulhado em diferentes dilemas. Como fazer para 
negar-se a atender a determinada indicação sem ferir um grupo de 
usuários com uma representação forte na comunidade? Como atuar 
no sentido de beneficiar uma parte da comunidade constantemente 
preterida em suas pretensões? Ou, levando a situação para o lado 
mais pessoal, como recusar-se as sugestões do usuário x ou Y, que 
sempre foram tão simpáticos com a biblioteca e são tão atenciosos? 
E, pior ainda, fazer isso sem passar a ideia de estar tomando o parti­
do de um ou de outro, de estar perseguindo alguns, de ser mais 
simpático a alguém. 
Um documento de política de seleção bem-estruturado fornece 
70 
grande apoio nesses momentos. Os critérios de seleção devem fun­
cionar, para a biblioteca, como funcionam as leis para um pais: en­
quanto não são modificadas, devem ser obedecidas. O documento 
registrará os critérios de seleção vigentes na biblioteca; eles - e ape­
nas eles - deverão justificar todas as decisões. As pressões exercidas 
sobre o acervo só serão eficientemente enfrentadas com a utilização 
objetiva desses critérios. Essa objetividade só poderá ser comprova­
da se estiver registrada em um documento, que poderá ser apresen­
tado para justificar as decisões atuais e futuras. Em suma, um docu­
mento formal de política de seleção justifica-se por seu caráter: 
• administrativo, com a finalidade de garantir a continuidade dos
critérios além da presença física de seus elaboradores;
• de relações públicas, ao tornar a biblioteca simpática aos olhos da
comunidade; e
• político, ao proporcionar um instrumento para resistência ou ge-
renciamento dos conflitos e pressões em torno da coleção.
E, com essas últimas palavras, como diria Perry Mason, a defesa 
descansa, passando a tratar do detalhamento do instrumento de 
política. 
Componentes do documento de política de seleção 
Na realidade, não existe uma fórmula universal para elaboração do 
documento que conterá a política de seleção dos materiais nas biblio­
tecas. Cada profissional deverá analisar sua prática e o tipo de ins­
trumento que necessita como suporte a suas atividades. Alguns ne­
cessitarão de um documento extremamente detalhado, que defina 
todos os critérios e subcritérios passíveis de utilização. Para outros, 
critérios gerais serão suficientes como diretrizes para a seleção. Isto 
não fará diferença quanto à qualidade do instrumento. Uma política 
não será melhor por ser mais extensa (felizmente, somente o peso do 
documento ainda não é suficiente como indicação de sua adequação 
ou qualidade ... ). O melhor indicador da qualidade de uma política de 
seleção é o resultado proveniente da sua utilização: a coleção em si. 
Apesar de não ser possível fornecer uma receita universal, é ra­
zoável imaginar que alguns elementos deverão constar, ainda que 
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minimamente, de todo documento de política. A ordem como serão 
distribuídos, a importância dada a cada um, variará segundo os in­
teresses e particularidades da biblioteca ( como sugestão, no anexo 2, 
é apresentado um esquema geral para o documento, que deve ser 
adaptado de acordo com as necessidades). 
O documento de polític,a é um instrumento de trabalho para apoi­
ar as decisões de seleção. E, acima de tudo, um manual administra­
tivo e imagina-se que fará parte de um conjunto de documentos que 
guiarão as atividades ligadas ao desenvolvimento da coleção. Tal 
como acontece com qualquer instrumento administrativo, a elabo­
ração de um documento de política de seleção deve atender aos re­
quisitos de simplicidade (ser de fácil utilização), clareza (ser facilmen­
te compreensível) e veracidade (corresponder à realidade da institui­
ção à qual se aplica). 
Em linhas gerais, de um documento de política constam: 
• identificação dos responsáveis pela seleção de materiais;
• os critérios utilizados no processo;
• os instrumentos auxiliares;
• as políticas específicas;
• os documentos correlatos.
Identificação dos responsáveis pela seleção de materiais. Para
fins do documento de politica, é preciso que a responsabilidade pe­
las decisões de seleção esteja registrada de maneira clara e definida, 
a fim de evitar distorções ou desentendimentos. 
Se a decisão for de competência exclusiva dos bibliotecários, isto 
deve ficar bem claro no documento, bem como a legislação, interna 
ou externa, que lhe concedeu essa responsabilidade. Em casos de 
discordância com as decisões do bibliotecário, o documento deve 
informar a que autoridades superiores os recursos devem ser enca­
minhados e que medidas se tomarão a respeito. 
Se houver comissões de seleção, constarão do documento: 
• a forma como elas foram originalmente constituídas ou indicadas
(lei, decreto, portaria, etc.);
• a identificação dos membros e o período de mandato (em docu­
mento anexo);
72 
í 
• a periodicidade das reuniões;
• a organização das atividades da comissão, com as atribuições de
seus membros (quem preside, quem secretaria, quem vota) e as
formas para obtenção de consenso (maioria simples, maioria de
dois terços, unanimidade, voto de qualidade, etc).
Da mesma maneira, deve ficar evidenciado o relacionamento for­
mal da comissão de seleção com os bibliotecários e demais funcio­
nários da biblioteca, a fim de evitar que hierarquias organizacionais 
indevidas possam aparecer (assessores ou membros de comissão 
podem entender que possuem autoridade hierárquica sobre a equi­
pe da biblioteca, o que nem sempre corresponde à realidade). Con­
vém anexar à política um organograma da biblioteca, onde a posi­
ção hierárquica da comissão esteja bem-definida. 
Os critérios utilizados. Nesta seção, cada biblioteca relacionará, 
com o detalhamento conveniente, todos os critérios cotidianamente 
utilizados para a seleção dos materiais. 
Não é necessário expressar os critérios de forma literariamente 
atrativa. É fundamental, porém, que não deixem dúvida a respeito 
do que se almeja com eles. A enunciação do critério talvez não baste 
para a compreensão total, exigindo uma explicação objetiva de seu 
significado e como podem ser atendidos. 
Os instrumentos auxiliares. Todos os instrumentos auxiliares 
ou fontes de seleção utilizados como suporte à tomada de decisões 
devem ser mencionados. Se for o caso, devem ser distribuídos se­
gundo as áreas de interesse da biblioteca. Em bibliotecas especiali­
zadas, por exemplo, a definição de instrumentos auxiliares corretos 
é-decisiva para uma seleção mais eficiente. 
É aconselhável que o documento deixeclaro, para os funcionários 
envolvidos na seleção, como os instrumentos auxiliares são utiliza­
dos. Algumas bibliotecas podem definir, por exemplo, que um item 
só seja considerado para seleção se constar de determinadas biblio­
grafias ou receber apreciação favorável em um número mínimo de 
resenhas. Talvez valha a pena acrescentar um fluxograma de como 
as decisões de seleção são tomadas. 
As políticas específicas. Neste item serão detalhados, conforme 
a necessidade, os casos de seleção que devem merecer maior desta­
que. Muitas bibliotecas têm, por exemplo, políticas dirigidas para a 
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seleção de materiais não-convencionais ou para determinadas áreas 
do acervo, com critérios de seleção mais amplos ou mais rígidos, 
conforme os objetivos pretendidos. Cada instituição definirá a in­
clusão ou não dessas diretrizes específicas em seu documento de 
política de seleção, deixando claro se são provisórias.º� permanen­tes. A criação de novos cursos pode, por exemplo, ex1gtr que se rea­
lize uma seleção retrospectiva mais intensa, durante certo período 
de tempo. Coleções especiais (história local, obras rar_as, memóri,ada instituição, etc.) costumam ser contempladas neste item da poh­
tica de seleção. 
Os casos mais comuns e que talvez mereçam mais destaque di­
zem respeito ao recebimento ou aceitação de doações, em especial 
as espontaneamente oferecidas (presume-se que as solicitadas pela 
biblioteca foram objeto de seleção prévia) e aqueles casos em que os 
usuários solicitam reconsideração da decisão sobre materiais selecio­
nados. 
74 
8 
Doações 
EM PRINCÍPIO, A DOAÇÃO é uma função de aquisição, assim como a com­
pra ou a permuta. O que a diferencia é que ela não precisa ser inici­
ada pelos bibliotecários. Quando isso acontece com muita frequên­
cia, podem surgir problemas de disponibilidade de espaço físico. 
Dependendo da sobrecarga de atividades do corpo técnico, os ma­
teriais podem acumular-se na biblioteca, à espera de uma decisão 
quanto à sua incorporação. 
Como evitar essa acumulação é uma preocupação sempre pre­
sente. Nem sempre é possível selecionar os materiais no momento 
de seu recebimento, e não seria sensato recusar doações porque não 
se tem tempo para avaliá-las: o risco de deixar de obter itens valio­
sos e importantes para o acervo é grande demais. 
Pode parecer que o bibliotecário fica no dilema do 'se correr o 
bicho pega, se ficar o bicho come'. Mas não é verdade. Em um país 
onde as bibliotecas e centros de informação são alvo de restrições 
orçamentárias, as doações são uma inestimável fonte para a aquisi­
ção de recursos informacionais: não podem ser absolutamente des­
prezadas ou encaradas de maneira superficial. 
A frequência com que uma biblioteca é procurada para a doação 
de materiais pode ser um sinal de seu prestígio junto à comunidade. 
Nem sempre é fácil para alguém dispor de materiais que adquiriu 
durante toda uma vida. Doá-los pode ser uma decisão doída e des­
pida de satisfação pessoaJ, a não ser a de saber que está entregando 
bens preciosos a alguém que deles tratará com carinho similar ao 
que receberam de seu dono. Qualquer usuário que procure a biblio­
teca para doar materiais merece o maior respeito, ainda que o seu 
oferecimento não seja relevante aos objetivos daquele acervo especí­
fico. 
75 
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As bibliotecas foram criadas para atingirem objetivos específi­
cos, que nem sempre vão ao encontro dos interesses ou desejos dos 
doadores. Alguns almejam que suas doações recebam maior desta­
que no acervo, procurando indicar maneiras como deverão ser tra­
tadas após a aceitação (estantes diferenciadas, salas especiais, restri­
ções ao uso, etc.). Usuários que fazem esse tipo de proposta, embora 
guiados por boas intenções, estão interferindo na administração da 
coleção, que é competência dos bibliotecários, e ultrapassando a 
barreira do razoável. Devem ser preliminarmente esclarecidos a 
esse respeito, antes de concretizarem suas doações. 
Assim como inexiste uma fórmula para evitar que os materiais 
doados se acumulem, não há um jeito infalível para dissuadir os 
doadores de tentarem impor sua vontade. Definir uma política clara 
sobre doações, incorporá-la à política de seleção e torná-la pública é 
medida eficiente na administração de doações. 
Os casos em que a biblioteca aceita doações e como se propõe a 
tratá-las devem ficar claramente entendidos pelos doadores. A doa­
ção é um contrato de confiança entre doador e biblioteca: ambos 
devem estar concordes a respeito do que se está efetuando. Convém 
que o doador receba uma cópia da política de seleção e tome conhe­
cimento das diretrizes sobre materiais doados, que serão tratados 
de maneira igual à dos outros materiais, passando pelos mesmos 
critérios de seleção. Mas seria ingenuidade acreditar que o doador 
conhece e concorda com isso (talvez até concorde com relação às 
doações dos outros ... ). 
Formalizar o ato de doação é medida prudente no caso de recla­
mações. Um formulário simples, assinado pelo doador, registrando 
a data da doação e que tem conhecimento e concorda com a política 
da biblioteca costuma surtir efeito. A biblioteca pode fornecer uma 
carta ou declaração sobre o recebimento dos materiais e agradecen­
do ao usuário pela doação. Além de ser um gesto simpático repre­
senta o reconhecimento da importância da participação dos usuários 
no desenvolvimento da coleção. 
Modelos da política para doação e dos formulários são apresen­
tados nos anexos 3, 4 e 5. 
76 
9 
Reconsideração da decisão de seleção 
NEM SEMPRE AS DECISÕES de seleção obtêm consenso. Às vezes, itens 
fav�r�velmente sel�cionados e adquiridos desagradam parte dos 
us_uanos,. que pressionam os responsáveis pela biblioteca para quese3am retirados do acervo. As razões e implicações dessas atitudes 
serão tratadas no próximo capítulo, mas é preciso partir da premis­
sa de que a probabilidade de ocorrerem não é desprezível. O mesmo 
se dá quanto a decisões de seleção contrárias à aquisição de docu­
mentos sugeridos pelos usuários, que insistirão para que a bibliote­
ca mude sua posição. 
� razoáve_l imaginar que essas pressões serão tanto maiores quanto 
n�a1or for o mteresse dos usuários pela coleção. Reclamações não 
sao necessru-iamente um incômodo a mais para o trabalho dos biblio­
tecár!os (bem, talvez algumas até o sejam), e devem ser previstos 
canais por ?�de sejam filtradas e ai1alisadas quanto à sua pertinên­
cia. :�r mais trreverente ou irrelevante que seja sua reclamação, todo 
usuano_merece receber dos bibliotecários o mesmo tipo de atençãoe respeito. Graças a essas reclamações, pode ficar evidente um 
descompasso entre as políticas da biblioteca e as características ou 
interesses da comunidade. 
A _mesma imparcialidade que se procura imprimir às decisões des�leçao deve ser dirigida às reclainações a respeito do processo. Teo­
ncai11ente ao me�os, a imparcialidade e a coerência no julgai11ento 
dessa� reclmr�a�oes deve'.iam ser a marca característica da atuação
dos b1bltotecanos. Esse e um objetivo difícil de ser atingido, mas 
que ,�erece ser perseguido, ainda que seja apenas por autodefesa, 
ou se}a, p�ra evitai: maiores complicações. Todo e qualquer caso de 
msattsfaçao devera ser julgado à luz dos critérios de seleção utiliza­
dos na biblioteca. Se for comprovado que houve erro dos seleciona-
77 
dores admiti-lo e tomar as medidas necessárias para sua correção é
o mín
1
imo que se poderá fazer. Não haverá demérito algum para nin-
guém nesse processo. . . . . � 
Embora não se deseje em absoluto restrmg1r o dtre1to qu: temº:
usuários de discordar dos resultados do processo de seleçao, sera
preciso algum grau de formalização, a fim de orientar a revisã� e
organizar um eventual fluxo de reclamações, bem como para .regis­
trar todos os casos. Alguns por timidez, outros por desconhecimen­
to, os usuários podem ficar constrangidos por t_erem que �reenc�er
um formulário de reclamaçãoe deixarão de registrar sua d1scordan­
cia. Devem ser elaborados instrumentos que possibilitem a adminis­
tração eficiente das insatisfações, não barreiras que desestimulem
sua apresentação por escrito. Formulários bem-elaborados, acom­
panhados por uma atitude de disponibilidade e _boa vontade para
com os usuários são uma grande ajuda nesse obJetivo. No anexo 6
apresenta-se uma sugestão de documento formal.
78 
10 
Tópicos especiais de seleção 
O ATO DE SELEÇÃO NÃO ocorre no vazio. É influenciado por diversos e dife­
rentes fatores, alguns mais corriqueiros e diretamente ligados à tomada 
de decisão, como o estado físico ou mental do selecionador, outros com­
plexos e distantes, como a infraestrutura editorial a que a biblioteca tem 
acesso. Ressalte-se que o elemento humano não pode ser ignorado em 
qualquer processo de tomada de decisão, e que a seleção está inserida em 
complexos sistemas sociais. Este capítulo está voltado para essa proble­
mática, embora não se busque esgotar o complexo de relações/interações 
sociais passíveis de interferir no processo de seleção. 
Imaginou-se que tentar abordar pragmaticamente alguns temas 
encontrados no dia-a-dia dos profissionais poderia trazer maiores 
benefícios para os leitores. Como toda seleção, a realizada para este 
capítulo também pode ser objeto de discordância e seria muito bom 
se isso acontecesse. 
Um dos itens importantes para destaque, a censura de materiais, 
já foi anteriormente abordado por este autor em várias oportunida­
des, por isso busco outro enfoque, fazendo referência a textos ante­
riores, quando for o caso. Outros tópicos têm sido abordados na lite­
ratura internacional, mas em geral sob o ponto de vista de bibliotecá­
rios de países mais desenvolvidos. Uma abordagem que leve em 
conta as características do país parece muito mais proveitosa, e ela 
será buscada nas páginas seguintes. 
A separação dos tópicos resultou mais ou menos superficial, aten­
dendo apenas a objetivos metodológicos e de clareza do texto, pois 
a relação entre eles é impossível de ser quebrada. Na realidade, eles 
devem ser vistos a partir dessa interação, e não como fatores isola­
dos, o que poderá facilitar a compreensão do fenômeno aqui consi­
derado, ou seja, a seleção. 
79 
Entre os tópicos para discussão estão as relações entre seleção e:
formação profissional; 
censura; 
cooperação bibliotecária; e 
direitos autorais. 
Seleção e formação profissional 
Por muito tempo a seleção foi considerada como uma arte. Muitas 
páginas foram escritas comparando o trabalho do selecionador com 
o de um artista que, martelada após martelada, de uma pedra bruta
faz surgir a figura de um deus grego. Isto significava dizer que ape­
nas bibliotecários com talento especiaJ poderiam desenvolver boas
coleções. Aos outros restava dedicar-se à sublimação de suas deficiên­
cias, o que talvez, mas muito improvavelmente, seria atingido após
30 ou 40 anos de trabalho.
Felizmente, essa visão parece ser hoje parte do passado. Já não se 
compreende a atividade do selecionador como uma arte, mas muito 
mais como uma função técnica que exige formação e treinamento. O 
domínio de algumas habilidades e conhecimentos básicos será ne­
cessário para todos os bibliotecários que desejem dedicar-se priori­
tariamente às atividades de seleção. 
O Brasil deu passos concretos rumo ao melhor equacionamento 
da formação profissional para a seleção de materiais em bibliotecas, 
ao introduzir a matéria formação e desenvolvimento de coleções no 
currículo mínimo dos cursos de biblioteconomia. Embora insuficien­
te, representa um avanço, pois um espaço para discussão da proble­
mática do desenvolvimento de coleções foi previsto, restando ape­
nas preenchê-lo adequadamente. 
Bibliotecários mal preparados para a tomada de decisão tomarão, 
obviamente, decisões inadequadas, prejudicando todos aqueles cujas 
necessidades informacionais devem ser atendidas pela coleção sob 
sua responsabilidade. Como preparar adequadamente esses profis­
sionais torna-se, então, a questão dominante. 
No Brasil, ao contrário de países mais desenvolvidos, praticamen­
te inexistem bibliotecários trabalhando em tempo integral na sele­
ção de materiais. Isto talvez explique porque as escolas dedicam 
80 
pouca prioridade a essa área, reservando-lhe uma percentagem pe­
quena do total de horas do currículo. 
Os conhecimentos obtidos em cursos formais de bibliotecono­
mia e documentação também variam de escola para escola. Um con­
senso sobre a bagagem de conhecimentos necessários a um 
selecionador está ainda por ser atingido. O mesmo se pode afirmar 
a respeito de quanto da formação profissional deve ser dedicado às 
atividades de seleção. 
Deve-se reconhecer que o bibliotecário brasileiro tem limitações 
em sua formação, no que tange à seleção de materiais. A maior tal­
vez se refira à inexistência de bibliotecário pós-graduado, aquele 
que, depois de ter obtido seu diploma de graduação numa área es­
pecífica do conhecimento, buscou o curso de biblioteconomia em 
nível de pós-graduação, a fim de trabalhar com a documentação da 
área em que se formou originalmente. 
Os cursos de pós-graduação em biblioteconomia e ciência da in­
formação já colocaram no mercado dezenas de alunos, a grande 
maioria constituída por bacharéis de biblioteconomia. Isso, embora 
contribua para o aprimoramento da profissão, não significa que se 
estejam formando bibliotecários especializados (ou especialistas bi­
bliotecários ... as palavras até começam a faltar). 
A legislação impede que os pós-graduados em biblioteconomia e 
documentação, que não sejam bacharéis na mesma área, registrem­
se nos conselhos regionais de biblioteconomia, requisito para o 
exercício da profissão. E parece digno de lamentação que, a conside­
rar-se a oposição dos conselhos, sindicatos e associações de bibliote­
cários à formação múltipla, as probabilidades de ocorrerem modifi­
cações nessa legislação são muito limitadas. 
Embora reconhecendo a insuficiência da legislação e criticando a 
posição dos organismos de classe, deve-se concordar que são bas­
tante limitadas, pelo menos a curto prazo, as consequências que a 
criação do bibliotecário especiaJista teria para o conjunto das biblio­
tecas do país. Provavelmente, afetaria muito mais as bibliotecas uni­
versitárias e os centros de informação do que as públicas e as poucas 
bibliotecas escolares existentes. Mas a necessidade de possuir habi­
lidades específicas para a seleção dos materiais, que seriam trans­
mitidas pela educação formal dos bibliotecários, não deixa de exis­
tir. Mesmo bibliotecários com dupla formação correm o risco de não 
81 
encontrar espaço no mercado de trabalho de sua área, tendo que 
atuar na seleção de materiais de outras áreas. Se as atividades de 
seleção dependessem apenas do domínio da área de assunto, não 
haveria razões para que sua discussão fosse realizada nos parâme­
tros dos cursos de biblioteconomia e ciência da informação, passando­
se essa responsabilidade para as outras áreas do conhecimento. 
Como esse não parece ser o caso, algo reconhecido até mesmo na 
literatura biblioteconômica proveniente de países mais desenvolvi­
dos, deve-se buscar um corpo básico de conhecimentos ou habilida­
des passíveis de serem transmitidos em cursos de graduação e q�e 
possibilitem aos bibliotecários atuar de forma eficiente na seleçao 
de materiais. 
Considerando-se as limitações em relação ao domínio do con­
teúdo dos documentos, não seria realista esperar que ele fosse pro­
porcionado por meio de um curso de graduação (exist:m hr�1i_tes
para a absorção de conhecimentos). Tudo indica que a seleçao dmg1da 
para áreas especializadas seja tema para a educação contínua do bi­
bliotecário, tratada em cursos de especialização ou pós-graduação, e 
não em cursos normais de graduação. 
Em geral, para atuar na seleção de materiais, o bibliotecário de-
verá ter recebido, na graduação, as informações necessárias para: 
a) reconhecer as particularidades da produção de conhecimentosnos grandes ramos das ciências humanas, exatas e biológicas, e
como essa produção se reflete na literatura de cada uma (uma 
abordagem gera] sobre a bibliografia das grandes áreas será de
grande utilidade para os futuros selecionadores);
b) ter familiaridade com a indústria de produção de conhecimen­
tos, tanto de produtos tradicionais como não-tradicionais (por
exemplo, periódicos eletrônicos e fontes disponíveis via internet);
c) identificar e utilizar com independência os instrumentos auxilia­
res de seleção mais importantes em cada área;
d) avaliar com eficiência os benefícios que podem ser obtidos pela 
cooperação e compartilhamento de recursos informacionais;
e) atuar em comissões de seleção ou grupos de trabalho dirigidos à
seleção dos materiais;
f) identificar as necessidades dos usuários e as particularidades da 
82 
área de conhecimento em que atua, consubstanciando-as em cri­
térios de seleção; 
g) analisar objetivamente os materiais, não permitindo que suas cren-
ças e preferências pessoais interfiram em sua decisão;
h) elaborar documentos de política de seleção.
Nem todas as habilidades necessárias à seleção de materiais podem 
ser academicamente transmitidas. Algumas exigirão muitas horas 
de prática e familiaridade com os assuntos da biblioteca e com os 
instrumentos auxiliares utilizados. Neste sentido, o treinamento em 
serviço, supervisionado por profissionais mais experientes, pode ser 
uma maneira eficiente para a formação dos bibliotecários que deve­
rão assumir a responsabilidade pela seleção. Os cursos de bibliote­
conomia poderiam colaborar muito nesse aspecto, dando especial 
destaque às atividades de seleção durante o período de estágio su­
pervisionado dos alunos. 
Seleção e censura 
As relações entre seleção e censura já foram tratadas tanto em meu 
livr_o sobre ?esenvolvimento de coleções como em dois artigos. Não serao repetidas para não cansar os leitores que já tenham conheci­
mento desses textos. No entanto, como qualquer trabalho sobre se­
leção de materiais em bibliotecas ficaria incompleto sem uma dis­
cussão sobre censura, ela será aqui abordada, buscando-se, entre­
tanto, um enfoque diferenciado. 
Quando mencionei o poder que os bibliotecários possuem ao 
tomar decisões de seleção, a ideia de censura ficava subjacente. Num 
país onde as bibliotecas recebem pouca atenção das autoridades 
governamentais, tanto em termos de recursos financeiros como do 
monitoramento de suas atividades, visando minimamente verificar 
o quanto estão atingindo seus objetivos; num país onde, em geral, a 
comunidade pouca atenção dá à maneira como os acervos informa­
cionais a que tem acesso são constituídos, confiando, aparentemen­
te sem restrições, nos critérios dos que decidem em seu nome; num
país onde as classes menos privilegiadas encaram todas as bibliote­
cas como benesses concedidas por governantes magnânimos e sen­
tem-se extremamente gratas por quaisquer migalhas que lhes são 
83 
concedidas; enfim, num país onde o preço dos materiais informacio­
nais tem características proibitivas para aquisição própria, pelo me­
nos para a grande maioria da população ... o poder daqueles que 
decidem sobre a constituição dos acervos pode ser muito grande. 
Tanto para o bem como para o mal. 
Aparentemente, não foram ainda realizadas pesquisas neste país 
para verificar como os bibliotecários envolvidos com a seleção de 
materiais comportam-se em relação à censura. Em geral, pode-se 
imaginar que a grande maioria dos profissionais, se consultada a 
respeito, certamente se manifestaria contrária a atos de censura e 
levantaria os velhos paradigmas profissionais sobre a importância 
da disseminação da informação e a inestimável contribuição do bi­
bliotecário no fornecimento de informações à comunidade. A pro­
fissão está repleta de expressões eufonicamente atrativas, que funcio­
nam mais ou menos da mesma forma como os dogmas funcionam 
para os grupos religiosos (algum dia seria bom alguém tentar elabo­
rar uma lista a respeito), e a tentação de citá-las é quase sempre 
irresistível. Levantamentos de opinião entre os bibliotecários têm 
geralmente demonstrado o quanto eles são avessos à censura de 
materiais. Pelo menos nesse aspecto, parece haver razões para se res­
pirar com um pouco de tranquilidade ... 
Tudo isso parece lógico e é reconfortante encontrar uma catego­
ria de profissionais que publicamente defende uma postura tão libe­
ral como sua filosofia de trabalho. Os bibliotecários norte-america­
nos chegaram a elaborar cartas em defesa da liberdade intelectual e 
travaram verdadeiras batalhas judiciárias, e às vezes físicas, com 
passeatas e tudo o mais, em defesa do direito de o usuário ter acesso 
à totalidade de opiniões sobre todos os assuntos (mais sobre essa 
luta pode ser encontr!:ldo em meu livro Desenvolvimento de coleções). 
Têm mantido uma luta cerrada - como os norte-americanos gos­
tam de dizer: uma eterna vigilância! - contra todas as tentativas de 
censura que autoridades governamentais ou grupos minoritários, e 
mesmo majoritários, possam querer exercer sobre a seleção do acer­
vo. O mérito dos bibliotecários que alguma vez se levantaram em 
defesa da liberdade intelectual deve ser reconhecido e proclamado. 
Não há como discordar de sua posição. 
Mas é preciso reconhecer que, embora a 'filosofia' da liberdade 
intelectual seja inatacável, situações concretas poderão eventualmen-
84 
te colocá-la em discussão. Os bibliotecários, por mais que queiram 
viver, como diria Voltaire, no "melhor dos mundos possíveis", po­
dem acabar descobrindo que vivem em uma realidade demasiada­
mente frustrante para quem possui como única defesa a arma dos 
nobres ideais. Tem-se a impressão de que as discussões sobre censu­
ra no meio bibliotecário acabam se deixando levar pela ingenuida­
de, imaginando que os corações puros são monopólio da profissão, 
ou que todos os ataques ao acervo sob responsabilidade dos profis­
sionais provêm de vilões mal-intencionados. 
Muitas vezes isso acontece, realmente. A imagem de uma Bette 
Davis bibliotecária enfrentando com denodo as políticas restritivas 
à liberdade intelectual no filme No despertar da tormenta (Storm center), 
de 1956, é o exemplo mais claro de como as atividades profissionais 
podem beneficiar a coletividade, ainda que o preço a pagar possa 
ser alto em termos pessoais e profissionais. Basta lembrar que essa 
biblioteca é incendiada, o que significa que a personagem represen­
tada por Bette Davis acabou perdendo o em prego (lá vou eu de novo 
contando o final do filme ... ). 
No exemplo utilizado acima, as razões para lutar contra a censu­
ra pareceriam evidentes a qualquer bibliotecário. Imagina-se que, 
como fez a profissional retratada no filme, qualquer profissional 
entenderá ser seu dever insurgir-se contra todas as orientações res­
tritivas que um pequeno número de indivíduos, momentaneamente 
detentores do poder, queira exercer sobre a biblioteca, principalmente 
quando tal acontece à revelia do resto da sociedade. No caso em 
questão, tratava-se de momentos muito difíceis, a época da chama­
da 'caça às bruxas' nos Estados Unidos, quando as autoridades go­
vernamentais
J 
sob o pretexto da infiltração soviética no país, atenta­
vam contra a liberdade individual de toda a sociedade norte-ameri­
cana, desrespeitando, inclusive, a própria constituição. O papel do 
bibliotecário na preservação da liberdade intelectual dos usuários é 
extremamente exaltado no filme, talvez na melhor representação da 
profissão já levada às telas cinematográficas, e ao vê-lo é difícil dei­
xar de sentir orgulho por fazer parte dessa profissão. O Brasil tam­
bém viveu momentos parecidos na época da ditadura militar, em­
bora, infelizmente, não haja muitas notícias sobre igual tipo de rea­
ção dos bibliotecários brasileiros. 
Aos bibliotecários cabe talvez desempenhar um papel único, com 
85 
o objetivo de garantir que todos os membros da comunidade tenham
acesso às informações necessárias e importantes para suavida. Isto
inclui a luta contra as tentativas de censura aos materiais da biblio­
teca da forma como o fazem os bibliotecários norte-americanos. É
importante que a categoria profissional se organize para dar supor­
te a seus membros, estabelecendo padrões de comportamento e nor­
mas de conduta para esses casos. E covardia obrigar um profissional 
a lutar sozinho contra atitudes arbitrárias das autoridades, nos vários 
níveis de governo. É isto que na prática se está fazendo quando se 
deixa o bibliotecário órfão em termos de diretrizes para ação contra 
a censura às bibliotecas como no que se refere a estratégias para 
mobilização da categoria para um posicionamento conjunto dos pro­
fissionais quando casos de censura são identificados. Neste sentido, 
o caminho a ser percorrido pelos bibliotecários brasileiros parece
ser ainda bastante longo.
Felizmente, nada parece indicar que a segunda década dos anos 
2000 venha a ser muito problemática em termos de censura gover­
namental. A Constituição brasileira proíbe de modo taxativo o exer­
cício da censura, em todas as suas formas. Ela certamente poderá, e 
deverá, ser utilizada como arma contra tentativas de censura às bi­
bliotecas. Mas a censura governamental não é a única com a qual o 
bibliotecário pode entrar em contato em sua vida, apesar de ser tal­
vez a mais deletéria e que maiores preocupações costuma trazer. 
Outras formas de censura, nem sempre muito claras e nem sempre 
entendidas como tal, podem surgir no dia-a-dia, trazendo outros 
dilemas ao exercício profissional. 
Alguns membros da comunidade podem sentir-se descontentes 
com a forma como está sendo constituído o acervo das bibliotecas às 
quais têm acesso e solicitar aos responsáveis pela seleção que modi­
fiquem os critérios adotados ou retirem da coleção todos aqueles 
títulos dos quais eles, os membros da comunidade, discordam. Gru­
pos religiosos ou associações preocupadas com a moral e os bons 
costumes exercem pressões desse tipo, com maior ou menor suces­
so. Nos últimos tempos eles têm dirigido suas baterias mais contra 
os meios de comunicação de massa, como a televisão ou o rádio, do 
que contra as bibliotecas, mas isso não significa que não venham a 
fazê-lo no futuro (ou mesmo que não o estejam fazendo agora, sem a 
mesma publicidade). Sob certos aspectos, combater essas atividades 
86 
de censura é mais complicado do que enfrentar as autoridades do 
governo. 
Objeções quanto aos 1rn1teriais constantes do acervo podem pro­
vir tanto de grupos minoritários inexpressivos, defendendo posi­
ções extremas e isoladas, como da maioria da sociedade, expressan­
do uma preocupação generalizada. Nem sempre é muito fácil carac­
terizar aqueles que pressionam a biblioteca para retirar materiais do 
acervo como sendo os vilões mal-intencionados referidos algumas 
páginas atrás. Em número talvez expressivo, trata-se de indivíduos 
preocupados com a coletividade, que merecem pelo menos o res­
peito dos bibliotecários. Não seria correto ridicularizá-los por causa 
dessa preocupação, embora possa parecer que estão equivocados em 
seus objetivos. Assim como o bibliotecário tem o direito de achar 
importante que a comunidade tenha acesso a todos os documentos 
ou informações disponíveis, a comunidade tem o direito de não de­
sejar que alguns desses itens, contrários àquilo em que a comunida­
de acredita, estejam disponíveis naquelas instituições que ela man­
tém, como as bibliotecas públicas. Ninguém pode ser pejorativamente 
taxado de censor por estar exercendo um direito. A comunidade tem 
o direito de se defender.
Em casos como o acima mencionado, em que uma legítima dis­
cordância da comunidade encontra expressão concreta - a não-in­
clusão de determinados materiais naquelas instituições mantidas 
financeiramente pela sociedade-, a luta para fazer valer as diretri­
zes éticas profissionais que orientam para a disponibilidade irrestrita 
de todos os materiais informacionais independentemente dos pon­
tos de vista que defendam será complexa e sujeita a um maior nú­
mero de questionamentos. 
Sob esse aspecto, vale a pena urna reflexão maior: embora pare­
ça, e sob certo ponto de vista realmente seja, uma atitude lastimável, 
ceder às pressões legítimas da sociedade, retirando do acervo um 
documento tido como impróprio pela maioria de seus membros, não 
é a mesma coisa que impedir totalmente que diferentes ideias te­
nham possibilidade de ser disseminadas, como acontece quando a 
publicação de determinados livros é proibida ou os jornais são sub­
metidos a censura prévia. Os usuários interessados nos materiais 
excluídos continuarão a ter acesso a eles por intermédio de outras 
instituições, como as livrarias ou as bibliotecas mantidas por insti-
87 
tuições privadas. Parece lógico que as instituições mantidas pela 
comunidade devam ter o ponto de vista dessa mesma comunidade 
como seu principal parâmetro de seleção. 
Isto não quer dizer que o profissional deva concordar com a po­
sição da maioria (que decidiu pela retirada dos materiais) e nem o 
isenta, tampouco à categoria como um todo, de tentar convencê-la 
de que a longo prazo as consequências da remoção de certos títulos 
do acervo poderão ser mais nefastas do que os benefícios imediatos. 
Os bibliotecários estão em posição privilegiada para argumentar 
neste sentido, pois têm uma visão conjuntural da ampliação de pers­
pectivas que a informação oferece à sociedade. 
Talvez o que deva mesmo preocupar seja a constatação de que os 
bibliotecários muitas vezes definem-se como os árbitros definitivos ou 
os únicos filtros das ideias disseminadas na sociedade, decidindo 
em seu próprio nome, e de acordo com a sua própria visão de mundo, 
sobre aquilo a que os leitores poderão ou não ter acesso. Nem sem­
pre isso é consciente ou percebido como censura, sendo realizado 
com base em um variado número de razões e justificativas que po­
dem até parecer bastante razoáveis a seus perpetradores. Mas é um 
ato de censura. Estabelecer alguns mecanismos administrativos míni­
mos, tais como os critérios ou a política de seleção, que proporcionem 
aos bibliotecários uma arma contra suas próprias e eventuais fra­
quezas ou tentações, é no mínimo uma atitude de prudência. Um 
cuidado especial com a formação profissional, inclusive em termos 
de educação contínua, também parece ser uma medida necessária 
para aprimoramento da atuação dos profissionais da informação. 
Seleção e cooperação bibliotecária 
A produção editorial atual alcança números quase incontáveis, com 
novos títulos sendo publicados a cada instante. Nesse contexto, o 
universo para as decisões de seleção ampliou-se consideravelmente. 
A diversidade de formatos trouxe novos complicadores para a seleção, 
pois não se trata mais de apenas identificar e selecionar materiais 
impressos, mas também os meios audiovisuais e eletrônicos, além 
da extensa produção digital disponível na internet. Os bibliotecários 
não produzem os documentos que selecionam e não podem fazer 
com que o mercado altere seu ritmo de produção, ainda que isso 
88 
represente uma avalanche de materiais redundantes, inexpressivos 
e muitas vezes descartáveis. 
Diante dessa realidade, conhecimentos precisos a respeito de 
como funciona a indústria editorial, cm todas as suas modalidades, 
serão úteis aos profissionais responsáveis pela seleção. Todo biblio­
tecário precisará familiarizar-se com as editoras mais importantes 
em sua área, de modo a identificar os títulos imprescindíveis à biblio­
teca e garantir que tal objetivo se concretize. 
Apesar disso, será impossível a qualquer instituição bibliotecá­
ria atingir a auto-suficiência em termos de acervo. Mesmo refinan­
do ao máximo a seleção, de modo a só incluir materiais de máxima 
prioridade, as limitações orçamentárias, para não falar das físicas, 
espaciais e de recursos humanos, farão com que muita coisa valiosa 
deixe de fazer parte das coleções. É primordial contar com canais 
alternativos de acesso ao documento primário, de modo a garantirque os usuários possam utilizá-lo. 
Há algum tempo os bibliotecários no mundo inteiro vêm-se preo­
cupando com essa questão. As redes e sistemas de bibliotecas, que 
são uma tendência generalizada, procuram alcançar o objetivo de 
dar eficiência à totalidade do universo informacional existente em 
uma região ou país e maximizar a utilização de recursos limitados. 
Bibliotecas isoladas têm suas chances de correto atendimento das 
demandas informacionais de seus usuários comprometidas, fazen­
do com que a cooperação entre as instituições da área se torne uma 
imposição para a própria sobrevivência da biblioteca. 
Inicialmente, esta cooperação costumava dar-se de maneira in­
formal, por iniciativa individual de profissionais que conheciam as 
coleções existentes em bibliotecas vizinhas e, muitas vezes de co­
mum acordo com seus pares nas outras instituições, definiam suas 
prioridades de seleção, de maneira que um acervo suprisse as defi­
ciências do outro. Isto na prática se efetivava por meio do que costu­
ma ser denominado empréstimo entre bibliotecas, pelo qual uma 
instituição solicita material por empréstimo a uma outra, para aten­
der a um usuário específico. Bibliotecas especializadas brasileiras 
têm tradicionalmente utilizado essa modalidade de cooperação, in­
clusive contando com funcionários que desempenham essas funções 
percorrendo as diversas bibliotecas em veículo da instituição, a fim 
de recolher e, depois, devolver os materiais requisitados. 
89 
O empréstimo entre bibliotecas é uma alternativ� relativamente 
simples para sanar deficiências do processo de sel�çao. Graças a ,el�,títulos monográficos que não puderam ser adqumdos ou penod1-
cos cujas assinaturas foram descontinuadas devido a restrições or­
çamentárias podem chegar às mãos do usuário final, pe�·mitindo �ue 
a biblioteca cumpra o seu papel de disseminadora de mformaçoe�. 
Essa possibilidade é um aspecto a ser considerado quan�o da deci­
são de seleção, para utilizar eficientemente os recursos fmance1ros 
disponíveis. 
É importante, no entanto, salientar alguns cuidados que necessi­
tam ser tomados quando dessa consideração: 
1) garantia de acesso: nem sempre, por razões de política instituci­
onal ou visando maior preservação do material, o acesso ao do­
cumento primário é permitido pela outra instituição, frustrando
o empréstimo entre bibliotecas. Mesmo quando existe essa ?ª­
rantia, mudanças de política podem jogar por terra o obJetivo
pretendido: antes da tomada de decisão, é preciso estar seguro
de que o acordo existente irá manter-se no futuro;_ 2) possibilidades práticas de acesso: bibliotecas convivem com res­
trições orçamentárias que podem implicar demora na ch�gada 
do material nas mãos do usuário. Dificuldades em conseguir um 
veículo ou funcionário para buscar o item na outra instituição às 
vezes comprometem a política de fornecimento de informações e 
deixam o usuário insatisfeito com os serviços da biblioteca; 
3) ônus para o usuário: algumas bibliotecas passam a responsabili­
dade pela retirada do material ao próprio usuário, fornecendo­
lhe apenas o formulário preenchido e deixando que ele realize
todos os deslocamentos necessários. Essa é uma alternativa mui­
to cômoda para a biblioteca, que certamente justificará essa me­
dida e até se vangloriará de pelo menos estar possibilitando algu­
ma saída para atender uma demanda, embora não tenha condi­
ções de satisfazê-la com recursos próprios. Cabe, _no ent�nto, u'.11ªreflexão a respeito das implicações éticas que uma atitude tipo
Pôncio Pilatos pode ter em um contexto de atuação profissiona_l.Em aula, costumo teatralizar o calvário que os estudantes da Urn­
versidade de São Paulo (usr), onde essa prática é normalmente
90 
utilizada, têm que percorrer quando necessitam de um material 
que consta do acervo de outra biblioteca da própria usr: 
a) verificam no acervo da biblioteca de sua escola ou faculdade (não
existe);
b) verificam no sistema Dedalus, o catálogo online que contempla
todas as bibliotecas da universidade, em qual coleção ele consta
(conseguem localizá-lo na biblioteca x);
c) como a biblioteca x já implantou o empréstimo automatizado,
verificam on-line a disponibilidade do material (está disponível);
d) realizam uma reserva on-line, para garantir que o material não
seja emprestado a outros;
e) solicitam o impresso de empréstimo entre bibliotecas à bibliote-
ca de sua escola (em várias vias);
f) deslocam-se até a biblioteca x para realizar o empréstimo;
g) após a utilização, devolvem o material à biblioteca x;
h) retornam a via correspondente do impresso, devidamente ano­
tada, à biblioteca de sua escola.
4) Custo para a biblioteca: nem sempre essa problemática é suficien­
temente equacionada pelos profissionais. Dependendo da frequência
com que determinados títulos são necessários, o custo para obter
o material mediante empréstimo entre bibliotecas acaba sendo
superior a seu custo de aquisição e manutenção. Um estudo cui­
dadoso de todos os custos envolvidos na realização dos emprésti­
mos (desgaste do veículo, combustível, tempo dos funcionários,
etc.), comparando-os com os que se teria caso o material fosse
adquirido pela biblioteca, poderá ajudar a esclarecer essa ques­
tão. Infelizmente, os custos relacionados com o usuário, ou seja,
quanto custa para ele não ter acesso imediato ao material, con­
tentando-se, ou sendo obrigado a contentar-se, em esperar um
certo período, são mais difíceis de computar.
Mas o empréstimo entre bibliotecas é apenas uma das alternativas 
existentes para a cooperação bibliotecária. Iniciativas mais estrutu­
radas, com a constituição formal de consórcios, redes de cooperação 
ou sistemas de bibliotecas estão se tornando cada vez mais comuns 
em nosso meio. Nesses casos, são introduzidos mecanismos admi-
91 
nistrativos voltados para a seleção planificada ou cooperativa das 
coleções, garantindo que a acessibilidade aos materi�s _mais rele­
vantes em cada uma das instituições reunidas em consorcio, rede ou 
sistema possa ocorrer da maneira eficiente. V�ri�s estruturas_ orga­
nizacionais têm sido introduzidas com esse obJetivo, com maior ou 
menor sucesso. Tem-se, nesses casos, uma organização formalmente 
estabelecida quanto aos deveres e direitos de cada uma d_as ins�itu!­
ções componentes, de maneira que a atuação de uma nao i:reJ�d�­
que as demais. Esta tem sido uma �lternativa _b�scada por mshtui­ções da área universitária, nas quais os �enefic1os_ a�abam ficando 
muito mais evidentes do que em outros tipos de bibliotecas. 
Em âmbito maior, a cooperação bibliotecária ocorre mediante o
fornecimento de fotocópias ou cópias escaneadas, em �nbito_nac!o­
nal e internacional. Trata-se provavelmente da forma mais cornqueira 
de cooperação entre instituições bibliotecárias, na qual u�:1ª. biblio­
teca obtém cópias de materiais, em geral artigos de penod1cos ou
capítulos de livros, solicitados pelos seus usuários. Ao 1-r:i�smo tem­
po, fornece cópias de materiais de seu ac�rvo para usuar1os de ou­
tras comunidades. Sob certos aspectos, e um desdobramento do 
empréstimo entre bibliotecas, a única diferença sendo �ue, n? �or­
necimento de fotocópias ou cópias escaneadas, o material ongmal 
não é retirado da instituição. 
O Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia 
(m1cT), por meio do prograina coMUT, administra uma rede de forn�­
cimento de fotocópias e cópias escaneadas, que envolve a padroni­
zação de rotinas, impressos, prazos, preços, etc. Parte do custo desse 
serviço costuma ser repassado ao usuário final, representa:1do um
ônus que ele não teria se o documento original fosse possuido p�la 
instituição que ele utiliza. Tendo em vista q benefício que o matenal 
pode lhe trazer, talvez seja até possível considerar este um custo de 
menor importância, embora essa decisão tenha que ser tomada pelo 
usuário. 
Nos serviços de fornecimento de fotocópias e cópias escanead�s,
é preciso atentar para os custos: dependendo do volume de empres­
timos, a biblioteca pode despender maispara ter acesso remoto aos
documentos do que se os adquirisse e mantivesse em seu acervo,
92 
mesmo considerando que parte dos custos é repassada ao usuário
final. 
Seleção e direitos autorais 
Em um primeiro momento, pode até parecer que não existe qual­
qu�r relação entre os direitos autorais e as atividades de seleção. 
Afmal, alguns argumentarão, os bibliotecários estão acima dessa 
questão: não se beneficiam diretainente com o empréstimo dos li­
vros e outi'.os materiais de informação, pois em geral não estipulain 
qualquer tipo de taxa para o empréstimo ou a utilização dos docu­
mentos no recinto da biblioteca; não recebem qualquer percentagem 
q�ando selecionam ou adquirem novos títulos; não sonegain os di­
reitos dos autores, pois adquirem os materiais mediante canais le­
galmente constituídos. Os bibliotecários, em sua atividade de sele­
ção e em qualquer outra, são os maiores incentivadores dos direitos 
autorais, pois possibilitam a circulação de suas coleções, divulgan­
do seus autores e possibilitando-lhes a ainpliação de seu público. 
Os autores deveriam ficar até agradecidos aos bibliotecários pelo
que realizam em benefício deles ... 
A rigor, os bibliotecários parecem ter alguma razão em seus ar­
gumentos. O empréstimo de livros em bibliotecas foi tradicional­
mente �ncarado,. inclusive pelos próprios autores e uma boa parte dos editores, mais como uma ajuda na divulgação do material do 
que como um prejuízo monetário. Apesar disso, é certo que pelo 
menos uma parcela dos leitores deixa de adquirir determinados 
materiais por ter acesso a eles nas bibliotecas. Isto significa uma per­
da para os autores, que deixam de receber os direitos autorais cor­
respondentes a essas vendas não realizadas. Mas isto também não é 
tão preocupante, pois dificilmente todos os leitores que tirarain um 
determinado título por empréstimo iriain de fato comprá-lo. Talvez 
alguns o fizessem, provavelmente uma percentagem pequena, não 
mais que dez por cento do total. Os restantes noventa por cento cons­
tituem uma comunidade que não teria acesso àquela produção e não 
poderia usufruir aquela mensagem, se não fossem os serviços de 
informação. Neste sentido, o aspecto democratizante das bibliote­
cas é mais uma vez enfatizado. Além disso, essa comunidade bene­
ficiada pelos serviços de informação será um polo de disseminação 
93 
das ideias dos autores com que entraram em contato, e também po­
derá exercer influência sobre a biblioteca quanto à seleção de obras 
futuras, numa espécie de compensação pelos direitos autorais que 
pretensamente não teriam sido recebidos. 
Boa parte das reclamações quanto à perda de direitos autorais 
devida à atuação das bibliotecas provém mais das editoras do que 
dos próprios autores. Os _autores estão mais preocupados com seu 
direito moral de autor - o de ter seu nome vinculado a uma obra e ser 
reconhecido como seu criador intelectual - e em divulgar o seu 
trabalho e suas ideias, encarando positivamente as atividades das 
bibliotecas e inclusive colaborando com elas. Os editores, como 
empresários, costumam aplicar um enfoque mais comercial às suas 
atividades, dando ênfase ao direito patrimonial de autor - o de rece­
ber retribuição pecuniária pela obra publicada. Ao defenderem o 
pagamento dos direitos autorais, geralmente equivalente a dez por 
cento do preço de venda, as editoras parecem estar mais preocupa­
das com a parcela do lucro que lhes cabe e deixa de ser coletada do 
que com os direitos autorais propriamente ditos. 
Independentemente de suas motivações, a pressão dos editores 
sobre as bibliotecas costuma ter uma certa intensidade, em geral ten­
tando evitar a reprodução fotográfica dos documentos pelos usuários. 
Em alguns países, como a Inglaterra, essa pressão foi até mais longe, 
forçando as bibliotecas a pagarem uma taxa pelo empréstimo dos 
livros. No Brasil, ainda não se chegou a tanto, mas também não se 
pode dizer que os editores tenham se mantido inativos a respeito. 
Frequentemente, novas tentativas são realizadas visando cercear o 
uso de fotocopiadoras nas bibliotecas, com o argumento de que elas 
trazem prejuízos aos autores. 
É evidente que os produtores intelectuais necessitam receber justa 
recompensa por sua produção científica ou literária. Sem essa re­
compensa existiria pouco incentivo para o trabalho intelectual. Por 
outro lado, a sociedade não pode, para beneficiar os autores, con­
cordar que uma parte da população deixe de usufruir dessa produ­
ção intelectual. Entre outras coisas, as bibliotecas existem para cor­
rigir ou minorar as distorções eventualmente existentes. 
Os países têm leis que regulamentam os direitos autorais. Exis­
tem inclusive convenções internacionais, como as de Berna (1886), 
Bruxelas (1948) ou Estocolmo (1967). A legislação brasileira de di-
94 
reito autoral, vigente em 2010, é a lei 9 610, de 19 de fevereiro de 
1998. Ela substituiu a legislação anterior, que era da década de 1970, 
incluindo as novas tecnologias informacionais que surgiram depois 
dessa data. 
A lei br�sil_eira é bastante abrangente em termos de princípios 
�e�·ais de d_ire1t_? de a�to_r, definindo algumas situações em que é
licita a real1zaçao de copias de materiais. No capítulo dedicado às 
limitações dos direitos autorais, a lei estipula que não constitui ofensa 
aos direitos autorais "a reprodução, em um só exemplar de peque­
nos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, 
sem intuito de lucro". Isto diz respeito diretamente às bibliotecas, 
pois significa que um estudante ou um usuário pode tirar uma có­
pia de um artigo de periódico ou de um capítulo de livro para uso 
próprio, sem que esteja transgredindo a legislação ou ferindo os di­
reitos autorais. Essa permissão é reconhecida internacionalmente, 
sendo denominada fair use, isto é, uso correto ou justo. Se alguém 
resolver fazer várias cópias do material, revendendo-as com lucro, 
estará desenvolvendo uma atividade ilegal e, portanto, sujeito aos 
ditames da lei. 
As atividades de cooperação bibliotecária fazem com que a pro­
blemática da realização de cópias dos documentos apareça de modo 
mu_ito mais frequente para os bibliotecários. Uma biblioteca que, por
meto do serviço de comutação bibliográfica, obtém um documento 
ou uma cópia para um usuário, inclusive, muitas vezes, cobrando 
uma taxa por esse serviço, ou seja, obtendo um pequeno lucro, dei­
xou efetivamente de adquirir aquele material; em consequência, 
deixou de realizar o pagamento dos direitos autorais corresponden­
tes. Quando esse fato ocorre uma vez ou outra, pode até ser conside­
rado de menor importância, concentrando-se a atenção no benefício 
que foi possível obter. Mas, quando os materiais são solicitados por 
meio da comutação bibliográfica com uma frequência acima de es­
porádica, pode-se com justiça questionar se e quanto seus autores 
estão se��� prejudicados em termos financeiros. Essa é uma per­
gunta d1f1c1I de responder, pois isso exigiria um acompanhamento 
bastante rígido das atividades de comutação, de modo a definir onde 
os exageros se localizam. 
Esse fato afetará muito, por exemplo, as assinaturas de periódi­
cos. Nos Estados Unidos, a lei estipula que uma biblioteca pode so-
95 
licitar um título de periódico por comutação bibliográfica um máxi­
mo de seis vezes ao ano, sem a obrigatoriedade de efetuar o paga­
mento dos direitos autorais; uma frequência superior caracterizará, 
segundo a legislação norte-americana, uma opção pela obtenção de 
cópias, deixando-se de efetuar a assinatura do periódico ( aliás, é 
importante lembrar que a palavra inglesa copyright é muito melhor 
traduzida como direito de cópia do que exatamente como direito de 
autor). Essa preocupação intensificou-se com o aparecimento de 
empresas especializadas no fornecimento de cópias de artigos de 
periódicos, que recebem pagamento por elas. Com a popularização 
das máquinas de fax e das diversas modalidades de comunicação 
eletrônica, essa atividade ampliou-se, constituindouma área comer­
cial em expansão. As empresas que atuam nessa área são obrigadas 
a incluir na conta um valor equivalente ao pagamento dos direitos 
autorais, normalmente calculado como uma percentagem do total, o 
que às vezes faz com que a obtenção de uma cópia de um simples 
artigo fique mais cara do que a aquisição de todo o volume do mes­
mo periódico. Esse valor costuma ser repassado para o usuário, en­
carecendo o processo de obtenção de informações. Parece um pouco 
de ingenuidade acreditar que os autores dos artigos serão beneficia­
dos com isso, ainda mais quando se considera que as editoras de 
periódicos científicos exigem, para a aceitação de trabalhos para 
publicação, que os autores assinem um compromisso cedendo-lhes 
seus direitos autorais. 
Os editores de periódicos não ficaram inativos em relação ao uso 
generalizado de cópias de seus materiais nas instituições bibliotecá­
rias. Com a justificativa de contrabalançar suas perdas, definiram 
que as bibliotecas pagariam um preço diferenciado pelos periódicos, 
superior ao pago pelo assinante individual. Isto, no entender deles, 
atua como um elemento compensador para os leitores extras, não­
pagantes, a que as bibliotecas atendem. 
Para as bibliotecas, é claro, essa medida é um inconveniente, au­
mentando suas dificuldades para aquisição de materiais. Mas pode 
ser vista como um elemento de despreocupação no que se relaciona 
à responsabilidade dos bibliotecários quanto aos direitos autorais, 
pois essa quantia adicional significa o pagamento desses direitos. 
Neste sentido, não existem, realmente, motivos para dramas de cons­
ciência por colocar os materiais à disposição de um grande público 
96 
ou possibilitar, instalando uma fotocopiadora na biblioteca, que to­
dos os interessados tirem cópias para uso próprio. Nem é necessá­
rio, como fazem os norte-americanos, colocar um aviso a respeito 
dos direitos autorais nas fotocopiadoras - como fazem os fabrican­
tes de cigarros, quando imprimem nos maços do produto que 'fu­
mar é prejudicial à saúde' ... - alertando sobre os males que as cópias 
podem trazer aos autores do textos copiados. 
Por outro lado, não se deve assumir uma atitude leviana em rela­
ção à utilização de cópias no dia-a-dia da administração das cole­
ções. O custo relativamente baixo das cópias pode tornar irresistível 
a tentação de incorporar ao acervo uma cópia feita localmente, ao 
invés de adquirir o material pelos canais normais. Isso acontece em 
relação a títulos importados, cujos preços e mesmo as dificuldades 
burocráticas para aquisição funcionam como elemento desestimu­
lador. Parece mais fácil, simples e barato fazer uma cópia integral do 
material, obtido por comutação bibliográfica ou deixado pelos li­
vreiros como demonstração, do que se engajar no processo de com­
pra. As implicações éticas de tal procedimento são mais do que evi­
dentes para serem enunciadas. 
Mesmo essá atitude tem atenuantes. Veja-se este caso: a bibliote­
ca decidiu adquirir um título e providenciou sua inclusão na próxi­
ma aquisição. Vários fatores, no entanto, impedem a disponibilida­
de imediata do material para os usuários: 
• o fornecedor levará um certo período de tempo para efetivar a
entrega;
• a verba para aquisição demorará a ser liberada;
• o título encontra-se esgotado.
Nesses casos, é possível defender a elaboração de cópias para aten­
der à demanda mais imediata, com sua consequente eliminação quan­
do os materiais estiverem efetivamente disponíveis. 
Os mesmos argumentos poderiam ser usados quanto a cópias 
extras de materiais existentes no acervo, a fim de atender a aumen­
tos imprevistos da demanda. A substituição por fotocópias de mate­
riais totalmente danificados ou comprometidos por uma utilização 
intensa parece justificar-se no caso de títulos esgotados. 
97 
Embora os exemplos utilizados tenham se_referi?� apenas a do­cumentos impressos, a preocupação em relaç�o _a co�1as este-�de-se
a todos os tipos de materiais. Por exemplo, copias nao-autou�adas 
de filmes em DVD, também conhecidas como DVDS plfatas, constituem 
violação dos direitos autorais de toda �1�a classe artística e sua �qu1-
sição deve ser evitada por parte da b1bhoteca, de modo que na? se 
torne cúmplice em uma violação da lei, sei� cont� q�e a dur�b1l�da­
de e qualidade dessas produções clandestmas nao sao c?nfiave1s. 
Em relação ao uso dos DVDS ou das antigas fitas de videocassete 
nas bibliotecas, deve-se notar que não existe um consenso a respeito 
da gravação, pelas próprias bibliotecas,?: programas ou apre�enta­
ções transmitidas pelos canais de telev1sao, com a postenor mcor­
poração dessas fitas ao acervo. �lguns autores defenden? qu� ela: se 
enquadram nas definições de Jair use, mas nem todas as 1rnphcaço_es se encontram totalmente esclarecidas quanto a esse aspecto. Os ns­
cos são menores quando se realiza a cópia de programa� d� modo 
parcimonioso, copiando-se apenas materiais irnprescmd1ve1s e am­
da não disponíveis para aquisição no mercado, corno, por exemplo, 
um programa recente de debates, um do_cum:ntário,_ etc. O risco �evirar réu em um processo judicial por v1olaçao de dire�t?s autorais 
será menor se as cópias em vídeo de programas telev1s_1��s foremdestinadas exclusivamente para empréstimo/uso dom1c1har, se1:1 
qualquer finalidade lucrativa. Copiar os víd�os e exibi-los em a�d1-
ência coletiva para a comunidade, cobrando mgres�o �ar,a a sessao edivulgando essa atividade de todas as formas poss1ve,1s � colocar-seem uma posição muito vulnerável perante os responsave1� pela pro­
dução original e eles talvez não apreciem mui�o descobr�r �ue seu 
trabalho está dando lucros para outros que nao eles propnos, to­
mando medidas judiciais a respeito (alguém já se imaginou en�ren­
tando uma grande rede de televisão na Justiça?). Nesta quest_ao, o 
bibliotecário deverá guiar-se por aquilo que o b�m sen,�o lhe �d,z_ ser 
a opção mais apropriada. Como diz o _velh? �'.tado: prudencia e 
caldo de galinha nunca fizeram mal a nmguem . 
98 
11 
O futuro da seleção 
É COMUM ouv1R FALAR no fim das bibliotecas, como são conhecidas até 
hoje, ou seja, um edifício onde se armazenam materiais de informa­
ção (predominantemente livros) sob os cuidados de profissionais 
conhecidos como bibliotecários. A bibliografia de biblioteconomia e 
ciência da informação e as publicações voltadas para o grande pú­
blico divulgam previsões que enaltecem as delícias de um mundo 
onde a informação em papel será apenas uma lembrança, vista so­
mente em museus. 
Esse futuro foi e é idealizado em um maravilhoso cenário onde a 
informação fluirá até seus interessados de maneira quase instantâ­
nea, bastando, para tanto, ter-se um computador, um modem e um 
dispositivo de comunicação. Nesse contexto, falar em seleção de 
materiais chega mesmo a ter como que um ranço de saudosismo 
antecipado. Afinal, esta é uma época marcada pela inconstância no 
plano das ideias e no das tecnologias, que surgem e proliferam ain­
da mais rapidamente. 
Na área da informação, os avanços ocorreram com rapidez es­
pantosa. Segundo Paul Shaughnessy, passamos "da biblioteca basea­
da em papel para a biblioteca automatizada em um período de cerca 
de duas décadas" . 1 A revolução da eletrônica bate às portas das bi­
bliotecas e centros de informação e parece acenar-lhes com o desti­
no inexorável de seu desaparecimento. 
Aparentemente, não haveria futuro para essas instituições que 
se encontram. Em alguns casos, instaladas em prédios imensos e 
suntuosos, onde armazenam prioritariamente livros e outros mate­
riais de informação em suporte de papel. Tampouco haveria futuro 
para os profissionais responsáveis por esses acervos. 
Se não há futuro, seria o caso de indagar quais os motivos que 
99 
,, 
levaram países como a França e a Inglaterra a construir novos e enor­
mes edifícios para abrigar suas bibliotecas nacionais, edifícios esses 
que parecem representar a antítese da biblioteca sem muros que o 
futuro prenuncia. 
Sob muitos aspectos, é wn mundo fascinanteesse que se vislumbra, 
onde os indivíduos terão acesso a todas as informações de que neces­
sitem (ou mesmo àquelas de que jamais irão ter necessidade algu­
ma). Mas é também um mundo de características algo assustadoras, 
na medida em que ainda não se conhecem seus contornos e se ignora 
o que esse novo ambiente representará em termos de ampliação da
liberdade de opções (ou mesmo de negação dessa liberdade).
Na realidade de uma informação eletrônica onipresente, imagi­
na-se que cada cidadão será seu próprio profissional da informação. 
Contará com a ajuda de sistemas especialistas, que executarão todas 
as tarefas hoje desenvolvidas por profissionais humanos especiali­
zados (os bibliotecários). Isto faz acreditar que, sem dúvida, um fu­
turo sombrio aguarda as instituições ligadas à preservação e disse­
minação da informação. Nele parece haver pouco espaço para a dis­
cussão de um assunto como a seleção de materiais de informação, 
na medida em que este diz respeito ao exame dos materiais que se­
rão armazenados nessas instituições. 
Será esse o futuro que nos espera? Devemos aceitar como infalí­
veis as previsões? Devemos acreditar que só haverá bibliotecas vir­
tuais para os habitantes do século xx1? 
Isto talvez seja um exagero. Existem motivos para pensar em ou­
tras possíveis alternativas, que não significariam o desaparecimento 
dessas instituições. 
Não se trata de renegar as mudanças, mas entendê-las e 
contextualizá-las. Com este princípio em mente, tecerei considera­
ções sobre as razões da permanência dos materiais impressos no 
panorama dos serviços de informação do futuro,� e�am_inar�i qu:s­
tões relativas à desintermediação e suas consequenc1as/Imphcaçoes 
para a seleção de materiais de informação. 
A adequabilidade do livro 
O livro é um objeto adequado à finalidade para a qual foi criado. � 
prático, pois não depende de qualquer fonte externa de energia. E 
100 
portátil, possibilitando sua utilização em qualquer local, na posição 
que o leitor julgar mais confortável. 
A imaginação talvez seja o único limite para as possibilidades de 
utilização do livro. Pode ser utilizado das mais diversas formas, de 
acordo com os interesses e objetivos do indivíduo, pois nada impe­
de que alguém leia um dicionário da primeira à última página ou 
que desfrute de uma obra de ficção pela leitura de capítulos aleato­
riamente escolhidos. 
O livro possui, em Peral, um preço acessível para as camadas 
médias da população. E relativamente resistente, conservando suas 
características e legibilidade, em circunstâncias normais, por tempo 
bastante longo. 
A tecnologia ainda não conseguiu produzir uma tela de compu­
tador que permita reproduzir com fidelidade a experiência de leitu­
ra de um livro com todas as suas nuances. É um interessante exercí­
cio mental imaginar um indivíduo sentado durante horas à frente 
de um computador, para a leitura das quase mil páginas do Ulisses
ou do Finnegan's Wake, de James Joyce. 
Ainda demorará muito para que toda a informação disponível 
em formato impresso seja transferida para suportes eletrônicos. Gran­
de parte da informação que as pessoas buscam nas bibliotecas, prin­
cipalmente públicas, ainda não está disponível por via eletrônica. 
Talvez até jamais se venha a reconhecer como prioritária sua trans­
ferência para suportes eletrônicos. As informações históricas, por 
exemplo, principalmente as de interesse local, só estão disponíveis, 
em sua maioria, em formato impresso. E que dizer da literatura de 
ficção, da qual apenas uma parcela está disponível em forma eletrô­
nica, apesar dos diversos projetos desenvolvidos com o objetivo de 
realizar essa transferência? 
O custo do livro 
Alguns tipos de materiais de informação representam uma opção 
mais econômica de produção quando em formato eletrônico. É o 
caso, por exemplo, de muitas obras de referência disponíveis em 
suportes eletrônicos. Nesse formato, são muito mais acessíveis e fá­
ceis de utilizar do que as verdadeiras monstruosidades que são suas 
edições impressas em papel. 
101 
A passagem dessas obras para formato eletr_ôni�o, _ e12"1 co-R�M ou 
na internet, representa uma vantagem Pª:ª a_s mshtu1çoes d: 1�f�r­mação. Mas O preço de uma obra de referencia em co-R?M �ao e tao 
. inferior ao da edição em papel. Sem contar os cus�os _md1retos d_a 
utilização d� formatos eletrônicos. Em termos econom1cos � su�st'.­
tuição não parece haver trazido grande vantagem pa_ra as mshtut­ções de informação, mas, sem dúv!da, trouxe comodidade para os 
usuários. Isto compensa tudo o mats. - . A mesma defesa da opção pelos suportes eletrom�os pode s�r 
feita quanto a monografias e periódicos de pequena tiragem, CUJO 
custo em papel é alto. No caso de grandes tiragens, os custos_ de 
produção favorecem a impressão em �ap_el . � mesmo se pode dizer 
a respeito de revistas para o grande publico. 
O contexto social da informação 
Uma das questões que ainda nã_o estão ?en:i-equ�ci�nadas na �isse: minação via redes eletrônicas diz resp�1to a conhab1ltdade da mfor 
mação. Não existem indicadores suficientes que garantam que um 
texto recebido pela internet em um computado: é �xata11:1ente o texto 
d ·do pelo autor. A probabilidade de alguem mtervtr no proces-pro UZI 
dº ·b . so, refazendo, adulterando ou modificando u1� text� e 1stn um-
do-o segundo seus interesses constitui uma var1avel vtrtualmente (e 
a palavra pode ser aplicada com dup_lo _sentido) incontroláv_el. Asuperestrada da informação lembra a btbhoteca de Babel menciona­
da por Borges, contendo todo e qualq�e� livro p�ssível �n: todas as 
suas possibilidades, o original e sua copta, a copia da copia � t?das 
as outras cópias imagináveis, cada uma com pequenas e m1mmas 
diferenças entre si. 
Essa possibilidade de deturpação das ideias não ocorre com igual 
facilidade nos textos impressos em papel. Encerrado o processo �e 
edição de um livro, as informações que ��nté� n�o ��de1:1 ser facil­
mente modificadas, pois qualquer mod1ftcaçao s1gmficana um pro­
cesso de edição distinto do primeiro. Isto traz segu _r�ça a� prod�­
tor intelectual, que quer ter garantia de que suas ideias nao serao 
deturpadas no processo de distribuição.3 
_ . , • Outro fator importante refere-se à compensaça� pecumarta �o 
autor. E seria possível enfocar também a compensaçao moral. A d1s-
102 
cussão desse assunto começa a aparecer na literatura especializada, 
e alguns países buscam uma legislação que permita o equaciona­
mento da questão, embora ainda se esteja longe de uma resposta 
satisfatória. Inexistem formas confiáveis para controlar a utilização 
de um texto disponível na rede, de modo a oferecer justa retribuição 
ao autor pela utilização de suas ideias. Mas a questão não termina 
aí. Da forma como as coisas estão, grande parte da indústria editori­
al estará fadada à implosãp, caso instrumentos eficientes de contro­
le das informações veiculadas pelos meios eletrônicos não sejam ra­
pidamente desenvolvidos. 
Por outro lado, há dúvidas quanto a se um controle total seria 
realmente algo desejável ou se não traria escondido o perigo de se 
estabelecer um estado de vigilância incompatível com os anseios de 
liberdade do ser humano. 
A seleção de materiais na era da informação eletrônica 
Hoje, a expressão mais popular no mundo acadêmico parece ser de­
sintermediação, que está sendo utilizada por profissionais das mais 
variadas áreas, inclusive profissionais da informação. 
Desintermediar seria fortalecer "o receptor para que estabeleça 
conexões que antes só poderiatn ser feitas com o auxílio de um in­
termediário humano, o que era mais dispendioso para a instituição 
e mais limitante para o receptor".4 
Imagina-se que a superestrada da informação tornará realidade 
essa desintermediação. Talvez extrapolando a figura utilizada -
autoestrada -, imagina-se que, ao trafegar por ela, os usuários te­
nham autonomia para buscar seus próprios catninhos, definir os ata­
lhos preferidos, demarcar os pontos prediletos de descanso, as pai­
sagens que merecemmaior atenção, etc. Temos de admitir que mui­
to disso já é realidade. Será uma estrada sem sinalização, mas talvez 
a maior emoção da busca se deva mais à incerteza sobre o que en­
contrará após a próxima curva do que ao objeto/informação que se 
deseja encontrar. 
Não há certeza se o futuro da informação corresponderá a esse 
cenário. Ao ter possibilidade de acessar as informações, a pessoa 
poderá optar entre o acesso direto e o recurso a um intermediário, 
que as identifique e localize (no caso, o profissional da informação). 
103 
A decisão pela segunda alternativa dependerá de fatores como a dis­
ponibilidade ou interesse do usuário em aprender a utilizar a rede 
eletrônica, obtendo o maior benefício possível, ou a qualidade do 
serviço obtido pelo profissional da informação. 
É natural pensar que nem todas as pessoas terão suficiente domí­
nio das técnicas de recuperação da informação, seja no ambiente dos 
materiais impressos, seja no ambiente da informação eletrônica. Ain­
da que cedêssemos ao otimismo mais ingênuo, imaginando que a 
evolução dos meios eletrônicos fará com que sejam de manuseio 
amigável e fácil, mesmo assim uma boa parcela dos indivíduos po­
derá preferir delegar essa atribuição a um profissional mais bem 
preparado nas técnicas de recuperação da informação. 
No entanto, uma visão mais serena das promessas da tecnologia 
da comunicação eletrônica talvez revele que as mudanças não ve­
nham a ser tão drásticas quanto desejariam alguns (embora não ve­
nham a ser tão tímidas quanto desejariam outros). As mudanças ocor­
rerão, mas sua magnitude está muito mais no terreno da especula­
ção do que no campo da realidade possível. Embora sem a mesma 
emoção das antevisões apocalípticas, é necessário reconhecer que o 
desaparecimento de livros e bibliotecas não ocorrerá de maneira 
imediata. 
Daí a necessidade de prosseguir com a discussão da proble!náti­
ca da seleção de materiais nesse novo contexto informacional. E pre­
ciso, porém, encarar a questão de um ponto de vista não-exclusivista 
no que concerne às fontes de informação a serem objeto da nova 
prática profissional. 
Num mundo onde materiais impressos conviverão, espera-se que 
em harmonia, com os suportes eletrônicos, serão muitas as implica­
ções para as atividades dos profissionais responsáveis pela seleção 
de materiais. Em princípio, esta realidade, que ocorrerá nos mais 
variados tipos de instituições de informação, não parece apresentar 
grandes problemas para os profissionais, pois eles já têm, principal­
mente no mundo mais desenvolvido, mas não exclusivamente nele, 
a percepção de que não se pode mais atender às necessidades de 
informação da comunidade utilizando-se apenas os recursos local­
mente disponíveis. 
Faz pouco tempo, as alternativas existentes para se ter acesso efe­
tivo ao conteúdo de um documento eram: adquiri-lo por compra ou 
104 
obtê-lo por empréstimo entre bibliotecas. Os custos disso não eram 
tão complicados e nem tão difíceis de equacionar. A possibilidade 
de cooperação bibliotecária sempre foi um dos elementos conside­
rados no momento da decisão de seleção. 
�oje, t_er acesso ao con ,teúdo de um documento pode significarmuito mais do que locahza-lo em uma biblioteca. Implica conectar­
se a um computador remoto e transferir o documento para o com­
puta_dor da biblioteca ou do próprio usuário. No entanto, a questãocontinua a mesma: tanto antes como agora são necessárias análises 
que possibilitem o conhecimento preciso do custo real desse acesso. 
O elemento complicador é que deverão ser incluídos custos antes 
inexistentes, como os de aquisição e manutenção de equipamentos, 
de pes:oal operacio�al. especializado, da impressão em papel ougra';'açao em outra mtdta, do tempo de telecomunicação, etc. 
E evidente que as políticas de seleção deverão ser definidas com 
base não só em critérios de custo-benefício, mas também outros, 
desde as características inerentes ao campo de conhecimento onde a 
seleção ocorre até as particularidades dos clientes e do ambiente onde 
º: serviços de inf�n�açã? se l�calizam. Isso coloca novas preocupa­
�oes para_ os pro!1s�1ona1s da mfonnação. Imagine-se a opção pela mformaçao eletromca em uma região onde os serviços de telecomu­
nicação são insatisfatórios devido à ausência de conexão de banda 
Ia�ga, e, n� caso d� (inhas telefônicas, congestionamentos, quedas e 
rUJdos de lmha e d1f1culdades de manutenção. Ao invés de um usuá­
rio satisfeito, haverá mais reclamações, queixas e frustração com os 
serviços recebidos. 
, Isso po�e1:á ser sanado por meio de investimentos maciços na 
area tecnologtca. Enquanto tal não acontece, continua sendo UJn as­
pe�to imp?r�ante a pesar na seleção de informações disponíveis por 
me10 eletromco. SeJa qual for o meio utilizado, deve-se ter em men­
te q�e .o fim almejado é o forn�cimento da informação desejada/ne­cessar1a ao menor custo poss1vel para a instituição e com o maior 
nível de satisfação para o usuário. 
T�1mbémA é .necess,ário refletir sobre as repercussões que a infor­
�açao el<:_trornc� tera em relação ao próprio usuário dos serviços de 
mform�çao. J:foJe, a m�utenção de um título no acervo significa 
acesso 1rr�stnto a :sse titulo, sem ônus adicional. A definição dos 
custos da mformaçao obtida por intermédio de redes eletrônicas ain-
105 
da é mais ou menos incerta, mas pode-se especular se será possível 
às bibliotecas manterem indefinidamente a prática de não-cobrança 
ao usuário pela utilização de meios eletrônicos. 
Se os custos vierem a ser repassados ao usuário, haverá mais uma 
barreira para a utilização dos serviços de informação, que ficarão 
restritos a quem puder arcar com esse ônus. Isto colocaria em xeque, 
por exemplo, as bibliotecas públicas como local de livre acesso às 
ideias, ainda que se possa argumentar que livre acesso não significa 
acesso gratuito. 
Em países onde os índices de desigualdade social são elevados, 
cabe aos responsáveis pela seleção e aos gerentes das instituições 
bibliotecárias definir políticas que garantam a todos o acesso à in­
formação, independentemente de suas disponibilidades financeiras, 
definindo os casos de isenção do pagamento. 
Algumas instituições sentirão mais rapidamente as pressões para 
abandonar o objetivo de atender às necessidades de informação dos 
usuários com recursos próprios. De um lado estão as bibliotecas de 
pesquisa, e do outro, as públicas. É provável que estas demorem a 
mudar, e continuem utilizando, predominantemente, seus próprios 
recursos para atender à demanda. Essa demora será maior em paí­
ses menos desenvolvidos. Em países avançados há bibliotecas pú­
blicas onde a informação eletrônica faz parte da realidade cotidiana, 
convivendo em harmonia com os recursos impressos. 
A decisão entre acesso e posse dos documentos sempre ocorreu, 
ou deveria ter ocorrido, levando em conta as condições de cada ins­
tituição. Nada indica que isso deva modificar-se no futuro. É prová­
vel que as instituições de informação continuarão a optar pelo aces­
so aos documentos quando esta alternativa for menos dispendiosa 
do que a compra, processamento e armazenamento do documento 
impresso, for a única possibilidade de acesso à informação, ou o modo 
de acesso significar um valor agregado à informação, seja pela pos­
sibilidade de busca por palavras-chave, seja pela apresentação em 
um formato mais conveniente. 
Tradicionalmente, a seleção de materiais de informação enfocou 
a definição de critérios que justificassem determinado agrupamento 
de documentos em um ou mais espaço(s) físico(s) determinado(s). 
Este agrupamento é definido em contraposição a todos os outros 
possíveis, inclusive o universo de publicações não-controlado pro-
106 
duzido pelo mercado. Ele responde a condições específicas da co­
munidade e a objetivos precisos, definidos pela organização à qual 
a biblioteca está subordinada. 
Esta descrição da realidade permru1ece válida. O mercado conti­
nua a produzir informações de forma incontrolada, agora tambémem formato eletrônico. Definir determinados agrupamentos de in­
formação eletrônica será a tarefa dos bibliotecários responsáveis pela 
seleção. Talvez a importância social da atividade tenha sido 
incrementada, ao invés de minimizada, pelas tecnologias da infor­
mação eletrônica. 
Como comenta Thomas Nisonger, lembrando Ortega y Gasset, 
"os bibliotecários ainda se deparam com a mesma responsabilidade 
em relação às publicações eletrônicas: filtrar do grande número dis­
ponível a parcela que é relevante ao atendimento das necessidades 
de informação de seus clientes" .5 
Ao possibilitar acesso a uma parcela específica da informação 
digitalizada, por meio de um link do servidor da biblioteca, por uma 
base de dados eletrônica, o responsável pela seleção estará criando 
um "subconjunto altamente seletivo de objetos de informação dis­
poníveis, segregados e favorecidos, aos quais o acesso é possibilita­
do e aos quais a atenção do cliente/usuário é dirigida em oposição 
aos objetos excluídos".6 Com essa atividade, agregará valor ao que 
existe na rede eletrônica, ao informar aos usuários que os itens 'sele­
cionados' atendem a determinados requisitos de autoridade, fide­
dignidade e credibilidade, assim como seus antecessores que apli­
carrun critérios de seleção aos materiais impressos que armazena­
vam nas bibliotecas. 
Esse valor será agregado por intermédio de uma política mais 
runpla, voltada para o desenvolvimento global da coleção, que se 
consubstanciará na prática diária da seleção. Esse acréscimo de va­
lor será realizado a partir da consideração das características da cli­
entela. Este continuará sendo o requisito primário para o êxito da 
seleção de materiais, seja em que ambiente for. As palavras de Tefko 
Saracevic, em mesa-redonda sobre o futuro das bibliotecas, vêm a 
calhar para o encerrrunento deste capítulo: 
Hoje na internet todo mundo é um editor e não existe absolutamente qualquer 
controle. Não existe qualquer controle da informação, não existe qualquer cer-
107 
tificação da qualidade, não existe qualquer forma de avaliar a qualidade, não 
existe nada nesse sentido. É um dos segredos sujos da internet. Você pode en­
contrar isso, você pode encontrar aquilo, mas quanto disso é bom? quanto é 
útil? quanto é bonito? e quem vai ser o juiz? Pelo menos até agora, nós, na 
biblioteconomia e na ciência da informação, não estamos desempenhando um 
papel na avaliação, ou mesmo no estabelecimento de critérios para isso, mas 
alguém terá que fazê-lo: alguém terá que começar a falar de critérios - sobre se 
se pode ter alguma certeza de que aquilo que se está encontrando tem alguma 
veracidade e alguma realidade.7 
Notas 
SHAUGHNESSY, Thomas W. The library director as change agent. ]o urna/ of Library 
Administration, v. 22, n. 2/3, p. 43-56, 1996. 
2 Para quem deseja aprofundar-se nesta questão, talvez o melhor texto disponí­
vel, apesar do radicalismo de seus autores, seja o de Walt Crawford e Michael 
Gorman, Future Iibraries: drearns, madness & reality (Chicago: American Library 
Association, 1995), cuja leitura aconselho. 
3 Mais informações em PROBST, Laura K. Libraries in an environment of change: 
changing roles, responsibilities, and perception in the information age. Journal 
of Library Administration, v. 22, n. 2/3, p. 7-20, 1996, e RowLEY, Jennifer. Libraries 
and the electronic information marketplace. Library Review, v. 45, n. 7, p. 6-18, 
1996. 
4 ATKINSON, Ross. Library functions, scholarly communication, and the foundation · 
of the digital library: laying claim to the contrai zone. Library Quarterly, v. 66, n. 
3, p. 239-265, 1996. 
5 N1soNGER, Thomas E. Ccillection management issues for electronic journals. IFLA 
journal, v. 22, n. 3, p. 233-239, 1996. 
6 ATKINSON, Ross, op. cit .. 
7 Citado por Tefko Saracevic na p. 519 do painel intitulado LIBRARIES present and 
future: the future of the library profession. The ºE/ectronic Library, v. 14, n. 6, p. 
517-522, 1996. 
108 
12 
Considerações finais 
QuE NINGUÉM SE ENGANE: a leitura deste livro não capacitará o biblio­
tecário à auto-suficiência na seleção de materiais de informação. 
Imagino, talvez com o entusiasmo de autores estreantes, que ela lhe 
dará mais confiança em si mesmo, possibilitando-lhe realizar um 
trabalho de melhor nível. Mas minhas ilusões param aí, pois ainda 
existe muito para ser falado, discutido, questionado, repensado, 
devido às condições específicas de atuação, à diversidade de situa­
ções onde se identificam e avaliam os materiais para seleção. Cada 
estrada será feita pelo próprio caminhar. 
Este livro propõe passos iniciais, que entendo necessários para todos 
os profissionais, independentemente das bibliotecas onde atuem. 
Acredito que instituições de informação mais eficientes, com acer­
vos e serviços que respondem de forma adequada às necessidades 
dos usuários, passam pela definição correta das atividades de sele­
ção. Entendo, inclusive, que não se trata de simples opção profissio­
nal. É uma imposição ética. Nenhum profissional pode contentar-se 
com a mediocridade. 
Quero encerrar com uma nota otimista e não como um velho de 
dedo em riste. Minha experiência, como docente e autor, tem-me 
feito acreditar cada vez mais na importância desta área. Neste mun­
do em ebulição, há muito a ser feito e o papel a ser desempenhado 
pelos profissionais da informação está ainda virgem, pronto para 
ser preenchido, à espera de que eles mesmos definam a forma como 
irão ocupá-lo. O fascinante nisso tudo é que não existem limites pos­
síveis para a atuação profissional, bastando apenas que se tenha a 
coragem de ousar. Mais do que nunca, agora compensa sonhar. 
109 
Bibliografia complementar 
Esta lista menciona títulos que trazem informações complementares para 
os leitores. A maioria é em língua inglesa, refletindo a predominância desse 
idioma na literatura profissional. Todos foram utilizados na elaboração deste 
livro, por isso alguns leitores notarão que já têm familiaridade com parte 
das ideias apresentadas nas obras. Para melhor organização, agrupei os ma­
teriais segundo três categorias: livros, publicações periódicas (abrangendo 
tanto os títulos de uma publicação como fascículos específicos), e docu­
mentos e listas de discussão eletrônicos. Relacionei títulos que tratam espe­
cificamente da seleção de materiais e os que tratam do desenvolvimento de 
coleções em geral. 
Livros 
ANDRADE, Diva, VERGUEIRO, Waldomiro. Aquisição de materiais de informação. 
Brasília: Briquet de Lemos / Livros, 1996. - Dada a exiguidade da li ter atura 
em português, um texto sobre aquisição pode ser pertinente para ampliar 
as reflexões sobre as consequências das decisões de seleção, tornadas real­
mente efetivas a partir do trabalho da aquisição. As duas atividades estão 
muito ligadas e as respostas possibilitadas por uma acabam se refletindo 
na outra, e vice-versa. 
BARKER, Keith (ed.) Graphic account: the selection and promotion of graphic 
novels in libraries for young people. Newcastle-under-Lyme: Toe Library As­
sociation; Youth Libraries Group, 1993. - Enfoque pragmático sobre a se­
leção de histórias em quadrinhos em bibliotecas, organizado por un1 bibli­
otecário com experiência prática na área. Aborda apenas as graphic novels, 
que são parcela importante da indústria de histórias em quadrinhos, mas 
não chegam a esgotar o leque de veículos pelos quais as histórias em qua­
drinhos são divulgadas. Considerando que as graphic novels, em âmbito 
internacional, têm representado uma espécie de cartão de visitas do gêne­
ro e têm aberto as portas das bibliotecas para esse material, o livro consti­
tui uma leitura bastante proveitosa. 
BROADUS, Robert N. Selecting materiais for libraries. New York: H. W. Wilson, 
1981. - Um manual já tradicional na área. Bastante claro e preciso, busca 
tratar a fundo, de maneira sistemática, a questão da seleção em bibliotecas. 
Apesar de publicado há mais de quinze anos, continua uma leitura obriga­
tória para aqueles que desejam aprofundar-seno assunto. 
110 
CuRLEY, Arthur & BRODERICK, Dorothy. Building library collections. 6.ed. 
Metuchen, N.J.: Scarecrow, 1985. - Título antigo, originalmente escrito por 
Carter e Bonk, quando tinha enfoque dirigido para a seleção de materiais. 
Nesta edição é mais abrangente, buscando o desenvolvimento de coleções. 
Os capítulos sobre seleção são exageradamente voltados para bibliotecas 
públicas. Leitura valiosa para quem deseja ampliar seus conhecimentos na 
área. 
D1cKINSON, Gail K. Selection and evaluation of electronic resources. Englewood, 
co: Libraries UnlimHed, 1994. - Um dos primeiros livros dedicados à sele­
ção de materiais eletrônicos em bibliotecas, aos quais muitos outros se se­
guiram. Para muitos bibliotecários brasileiros, para quem a informação ele­
trônica ainda não ocupa lugar importante em .seus acervos, grande parte 
da discussão poderá ter pouco sentido prático. No entanto, essas discus­
sões, que à época de sua publicação pareciam apenas acadêmicas, encon­
tram cada vez mais ressonância em nosso meio, mantendo esse texto ainda 
bastante pertinente. Na própria internet encontram-se vários textos sobre 
seleção de materiais eletrônicos e digitais que merecem ser objeto de aten­
ção, como os mencionados na página mantida por Alastair Smith desde 
1996, intitulada' Evaluation of information sources' (disponível em http:// 
www.vuw.ac.nz/s taff/alas tair_smi th/evaln/evaln. h tm). 
ELusoN, John. W. (ed.) Media librarianship. New York: Neal-Schuman Publ., 
1985, p.171-273: Selection. - Manual didático dedicado aos multimeios 
em bibliotecas, abordando-os desde o tratamento técnico à divulgação. Os 
capítulos sobre seleção de multimeios são interessantes. 
EVANS, G. Edward; SAPONARO, Margaret Zarnosky. Developing libra1:; and 
information center collections. 5. ed. Littleton, co: Libraries Unlimited, 2005. 
- Imprescindível para qualquer bibliotecário interessado em aprofundar
seus conhecimentos sobre seleção. Considero o manual mais completo so­
bre desenvolvimento de coleções existente no mercado. Nesta quinta edi­
ção, alguns capítulos, como o de materiais eletrônicos, informação gover­
namental e compartilhamento de materiais foram quase totalmente rees­
critos. A edição traz um CD com material suplementar, e um sítio a ser criado
na internet fará atualização dos URLS citados no livro.
FENNER, Audrey (ed.) Selecting materiais for library collections. New York : 
Haworth Press, 2004. - Publicado originalmente no periódico Acquisitions 
Librarian, apresenta capítulos sobre seleção de materiais para várias cole­
ções especializadas, como, por exemplo, música, artes, estudos chineses, 
esporte e lazer. 
FIGUEIREDO, Nice Menezes de. Desenvolvimento e avaliação de coleções. Rio de 
111 
Janeiro: Rabiskus, 1993. - Coletânea de artigos sobre desenvolvimento de 
coleções publicados pela autora em revistas brasileiras. Apresenta uma 
reflexão sobre a literatura internacional na área de desenvolvimento de 
coleções, procurando refletir sobre as características da biblioteconomia bra­
sileira. Apesar dos anos decorridos desde sua publicação, seus questiona­
mentos e pontos de vista continuam atuais. Traz capítulo sobre seleção de 
livros. 
FurAs, Elisabeth (ed.) Collection development policies and procedures. 3. ed. 
Phoenix: Oryx, 1995. - Coletânea de políticas para o desenvolvimento de 
coleções, utilizadas em bibliotecas públicas e universitárias norte-america­
nas. Organizada de maneira bastante prática, permite o acesso por insti­
tuições e materiais específicos. Essencial como fonte para a definição de 
políticas próprias. 
HucHES, MargaretJ. & KATZ, Bill (ed.) A.V. in public and school libraries: selection 
and policy issues. New York: Haworth Press, 1994. - Publicado original­
mente como um fascículo de Acquisitions Librarian, enfoca a seleção de 
materiais audiovisuais em bibliotecas públicas e escolares, do ponto de vista 
da biblioteconomia norte-americana. Traz informações úteis para as ati­
vidades de aquisição desses materiais. Interessante capítulo sobre audiolivros. 
JoHNSON, Peggy; MAcEwAN, Bonnie (ed.) Collection management and develop­
ment: issues in an electronic era. Chicago: American Library Association, 1994. 
- Coletânea de trabalhos apresentados em um evento sobre desenvolvi­
mento de coleções, versando sobre o desenvolvimento de coleções na era
da eletrônica. Os trabalhos apresentam às vezes certo desequilíbrio entre
si, na medida em que alguns autores são mais profundos do que outros.
Embora nenhum dos textos trate da seleção de meios eletrônicos, o livro é
importante para ampliar as perspectivas sobre o impacto desses meios nas
atividades dos profissionais da informação. Saliente-se o capítulo de Ross
Atkinson, 'Access, ownership, and the future of collection development'.
JoHNSON, Peggy; MACEI-VAN, Bonnie (ed.) Virtually yours: models for managing 
electronic resources and services. Chicago: American Library Association, 1999. 
- Outra reunião de trabalhos apresentados em evento sobre desenvolvi­
mento de coleções, tem as limitações inerentes a esse tipo de coletânea,
embora apresente uma boa variedade de assuntos. Divide-se em quatro
seções: 'Entendendo as bibliotecas e sua missão', 'Entendendo as necessi­
dades dos usuários em um meio ambiente em mudança', 'Entendendo as
bibliotecas ' digitais': implicações práticas', e 'Entendendo as mudanças nas
bibliotecas: considerações sobre implementação'. Destaque para o capítulo
de Ross Atkinson, 'Toward a redefinition of library services'.
112 
LEE, Stuard D. Building an electronic resource collection: a practical guide. 
London: Library Association, 2002. - Apresenta um panorama dos recur­
sos eletrônicos em bibliotecas de todos os tipos, abordando-os sob vários 
aspectos. Especialmente útil é o capítulo que analisa formas de avaliação e 
aquisição de recursos eletrônicos. 
MIRANDA, Antonio. Seleção de material bibliográfico em bibliotecas universitári­
as brasileiras: idéias para um modelo operacional. Brasília: CAPES/ ABDF, 1978. -
Publicado há mais de três décadas, mantém-se atual. 
OsBURN, Charles & ATKINSON, Ross (ed.) Collection management: a new treatise. 
Greenwich: JAI Press, 1991. (Especialmente os três capítulos relacionados 
com a seleção de materiais, nas páginas 273 a 335.) -Indispensável para 
os interessados em desenvolvimento de coleções. Os capítulos sobre sele­
ção merecem leitura atenta. 
PATTIE, Ling-yuh W.; Cox, Bonnie Jean (ed.) Electronic resources: selection and 
bibliographic control. New York: Haworth, 1996. - Publicado originalmente 
como fascículo de Cataloging & Classification Quarterly, traz artigos sobre 
seleção e controle bibliográfico de recursos eletrônicos, constituindo um 
guia básico para profissionais e estudantes. Os artigos dividem-se entre 
seleção e processamento técnico. Abordagem teórica e prática. 
PEROTA, Maria Luiza Loures Rocha. Multimeios: seleção, aquisição, processa­
mento, armazenagem, empréstimo. Vitória: O. Ceciliano Abel de Almeida, 1991. 
- Provavelmente a única obra em português sobre o assunto.
SPILLER, David. Book selection: principies and practice. 5. ed. London: Clive 
Bingley, 1991. - Um manual bastante tradicional de seleção, tratada de 
um ponto de vista prático, apesar do enfoque demasiadamente centrado 
na biblioteconomia inglesa. Continua atual. 
VERGUEIRO, Waldomiro. Desenvolvimento de coleções. São Paulo: Polis; Asso­
ciação Paulista de Bibliotecários, 1989. - Uma abordagem ampla e inicial 
sobre desenvolvimento de coleções. 
Periódicos especializados e artigos específicos 
DREXELL LIBRARY QUARTERLY, V. 18, n. 1, 1982. - Número especial sobre cen­
sura em bibliotecas. Apesar de ter sido publicado há mais de 20 anos, con­
tinua a manter sua atualidade. Traz artigos esclarecedores e bem elabora­
dos, uma leitura fácil e agradável. 
JouRNAL OF LIBRARY AoMINISTRATION. New York, Haworth Press, 19 . - Títu-
113 
lo tradicional sobre administração de bibliotecas, costuma trazer artigos 
sobre desenvolvimento de coleçõese seleção. Importante como complemen­
tação deste livro são os números publicados em 1996 sobre acesso, compar­
tilhamento de recursos e desenvolvimento de coleções (v. 22, n. 4), emprés­
timo entre bibliotecas e fornecimento de documentos (v. 23, n. 1/2), sobre os 
padrões emergentes do desenvolvimento de coleções em um ambiente de 
compartilhamento de recursos, informação eletrônica e em rede (v. 24, n. 1/ 
2). 
K1M Fung Yip. Selecting Internet resources: experience at Hong Kong Uni­
versity of Science and Technology (HKusr) Library. The Electronic Library, v. 
15, n. 2, p. 91-98, 1997. - Apesar de retratar uma experiência específica de 
seleção, situada em um local diferente do nosso, as considerações que tece 
sobre a problemática da selecão de materiais na internet são perfeitamente 
aplicáveis às bibliotecas brasileiras. O apêndice apresenta os principais ins­
trumentos de identificação de documentos disponíveis na Rede. 
LIBRARY TRENDs. Charnpaign, IL: Graduate School of Library and Informati­
on Science, 19 . - Um dos periódicos mais conceituados em bibliotecono­
mia e ciência da informação que busca apresentar e discutir as principais 
tendências na área. De interesse como leitura complementar deste livro são 
o v. 39, n. 1/2, de 1990, sobre censura e liberdade intelectual; o v. 41, n. 2, de
1991, sobre ética e disseminação da informação, e o v. 45, n. 1, de 1996,
sobre liberdade intelectual dos usuários.
RAo, S. Subba. Information retrieval services: role of optical technologies. 
New Libran1 World, v. 98, n. 1132, p. 16-24, 1997. - Descreve as principais 
tecnologia� para acesso de informação, com especial enfoque nas caracte­
rísticas dos co-ROMs, salientando sua análise em termos de custo-efetividade, 
serviços de bases de dados em vários assuntos e relaciona algumas bases 
de dados nesse suporte. 
ULIANA, Dina Elisabete; VERGUEIRO, Waldomiro C. S. Gibitecas: estrutura, 
organização e acervo. Informação Cultural, n.10, p. 2-10, jun. 1990. - Pro­
vavelmente a primeira tentativa efetuada no país visando enfocar as histórias 
em quadrinhos do ponto de vista das bibliotecas. Procura descrever todos 
os formatos existentes e apresenta algumas proposições para seu tratamento 
técnico. 
Documentos e listas de discussão em redes eletrônicas 
ACQNET - The Acquisitions Librarians Electronic Network (http:// 
lists.ibiblio.org/mailman/listinfo/acqnet-1)-Iniciada em 1990, é dedicada a 
114 
bibliotecários responsáveis pela aquisição de materiais, mas possibilita a 
troca de informações sobre vários aspectos da atividade de seleção. 
BooKWIRE D1RECTORY (http://www.bookwire.com/bookwire/book wire.html) 
- Um guia para os recursos bibliográficos disponíveis na Internet, com links
para sítios relacionados com livros (editoras, bibliotecas, agentes) em to­
das as partes do mundo.
COLLDV-L - LIBRARY COLLECTION DEVELOPMENT LIST (http://serials. 
infomotions.com/colldv-1/) - Embora dedicada à discussão do desenvolvi­
mento de coleções em geral, a seleção é uma presença constante nas dis­
cussões desta lista. Certamente, seu acompanhamento pode ser proveitoso 
para os bibliotecários que atuam na área. Mensagens de inscrição devem 
ser enviadas para listproc@usc.edu. 
ERIL - ELECTRONIC RESOURCES IN LIBRARIES (http://listserv.binghamton.edu/ar­
chives/eril-l.html) - Um forum de discussão para bibliotecários comparti­
lharem opiniões e experiências sobre a aquisição e como lidar com os re­
cursos eletrônicos. Entre os assuntos cobertos pela lista estão políticas de 
desenvolvimento de coleção, manutenção de revistas eletrônicas, estatísti­
cas de uso, licenciamento e negociação, instruções sobre produtos específi­
cos, etc. 
NEWJouR (http://old.library.georgetown.edu/newjour/)- Divulga os novos 
periódicos disponíveis na internet. 
COLLIBS-L ( collibs@is.su.edu.au)- Lista de discussão sobre desenvolvimen­
to de coleções. Embora ambicione discutir questões relacionadas com bi­
bliotecas universitárias e de pesquisa situadas no território australiano, é 
aberta para a participação de qualquer interessado. Para inscrever-se, en­
viar mensagem para listserv@is.su.edu.au. 
INTERNET RESOURCES NEWSLETTER - Periódico eletrônico publicado mensal­
mente pela biblioteca da Heriot-Watt University, da Inglaterra, desde ou­
tubro de 1994. Destinada a acadêmicos, estudantes, engenheiros e cientis­
tas, busca aumentar o conhecimento sobre novas fontes de informação na 
internet, particularmente aquelas relevantes para a pesqüisa universitária. 
Cada número traz seções contendo ,os novos sítios disponíveis na Rede, em 
ordem alfabética, novas listas de discussão, notícias sobre redes eletrôni­
cas e novos livros na área. Pode ser acessada em: http://www.hw.ac.uk./ 
libWWW/irn/irn.html/. Encerrada em dezembro de 2009. 
115 
Anexo 1 
Formulário para indicação de títulos 
Autor 
Título 
Local de publicação 
ISBN/ISSN 
Editora 
Fonte da qual obteve os dados 
Indicado por 
Endereço 
Telefone 
Anexo 2 
Data de publicação 
Preço 
Profissão 
Esquema do documento de política de seleção 
1. Introdução
1.1 Identificação da biblioteca e instituição mantenedora
1.2 Descrição dos objetivos da biblioteca e caracterização do públi­
co-alvo 
1.3 Identificação dos responsáveis pela seleção, inclusive a compo­
sição da comissão de seleção, quando existir 
1.4 Descrição pormenorizada das atividades de seleção 
2. Instrumentos auxiliares utilizados
2.1 Catálogos de editoras
2.2 Bibliografias
2.3 Resenhas
2.4 Outras fontes de seleção
3. Critérios gerais de seleção
3.1 Assuntos de interesse
3.2 Aspectos qualitativos
3.3 Aspectos físicos
4. Políticas específicas
3.1 Coleções especiais (filmes, áudio, diapositivos, etc.)
3.2 Documentos eletrônicos
116 
3.2 Doações 
3.3 Duplicação de materiais 
3.4 Substituições 
3.5 Reconsideração de decisões 
Anexos 
a) Fluxograma das atividades de seleção
b) Formulário para sugestões
c) Formulário para doações
d) Recibo de doações
e) Formulário para reclamações ou reconsideração de decisões
Anexo 3 
Modelo de política para doações 
Materiais oferecidos em doação só serão aceitos com o entendimento 
explícito de que poderão ser incorporados ao acervo, vendidos, per­
mutados, doados a outras bibliotecas ou descartados visando atender 
às prioridades estabelecidas pela Biblioteca ______ ____ _ 
para o desenvolvimento de suas coleções. As doações serão incorpora­
das ao acervo em sua sequência normal, evitando-se ordenações dife­
renciadas, pois coleções separadas (especiais) limitam o uso pelo pú­
blico e dificultam a localização dos documentos. Os itens doados terão 
sua procedência devidamente reconhecida, podendo ser identificados 
por um ex-líbris ou etiqueta especial. 
Anexo 4 
Formulário para doação de materiais 
Eu, __________ _, carteira de identidade (Rc) nº ___, 
residente na rua cidade de esta-
do de
___, 
abaixo assinado, por este intrumento transfiro incondi­
cionalmente à Biblioteca -----------------' situada na rua 
cidade de estado de to-
dos os meus direitos sobre os materiais doados nesta data, conforme 
relação em anexo. Declaro, também, ter tomado ciência e estar de acor­
do com a política adotada pela biblioteca em relação às doações. 
Data Assinatura-------------
117 
Anexo 5 
Recibo de aceitação de doações 
A Biblioteca aceita e reconhece como doação 
incondicional à sua coleção o(s) item(ns) abaixo relacionados, doados 
por residente na rua _______ _ _ __ __, 
cidade de estado de _____, e concorda em administrá-
lo(s) de acordo com as políticas formalmente estabelecidas para as 
doações. 
Data 
Assinatura ___ _ _ _ ______ __ _ 
Relação dos materiais doados 
1. ------------------------ ---
2. -------------------------- -
Anexo 6 
Formulário para reconsideração de decisões 
Autor Título ____________ _ _ _ _ 
Editor Data de publicação _ __ Tipo de material: 
D Livro D Revista D Filme D Fita ou disco D Outro: ___ _ 
Solicitação feita por - - -----� carteira de identidade (RG) nº� 
residente na rua cidade de estado de __, 
telefone 
Vocêrepresenta: D a si mesmo D grupo ou organização. 
Nome do grupo ou organização --- - - - - - - - -------
Motivo do pedido de reconsideração: por favor, explicite nas linhas seguintes 
os motivos por que considera que o material deve ser retirado do acervo: 
Assinatura- - --------------- Data _ _ _ _ _ _ _ 
A Biblioteca agradece sua preocupação com 
a constituição de seu acervo e se compromete a analisar detalhadamente sua 
solicitação à luz dos critérios de seleção utilizados. Uma decisão a respeito lhe 
será comunicada no prazo de_ dias. Obrigado. 
118 
Indice 
adequabilidade do livro 100-101 
adequação da seleção 22-23 
Andrade, D. llO 
área de a luação da biblioteca 11 
assunto da biblioteca 13 
assuntos polêmicos 15 
Atkinson, R. 108, 113 
ato de doação 76 
atualidade 20-21 
autoridade 18-19 
Barker, K. 110 
base de dados 49-51 
bibliotecário 
poder de decisão 5-6 
participação na seleção 7-9, 61-63 
Blu-Ray 38 
Bonk, W. 24 
Borges, J.L. 3, 4, 102 
Broadus, R.N. 111 
Broderick, D. 111 
características dos documentos 23-25 
Carter, M. 24 
catálogos de editoras 67 
CD-ROMS 45-49
censura 83-88 
Chemical Abstracts 48 
classificação decima 1 11 
cobertura de assunto 21 
comissão de seleção 59-61 
compact disc 39-40 
COMUT 92 
conveniência para o usuário 22 
cooperação bibliotecária 88-92 
Cox, B.J. 113-114 
Crawford, W. 108 
critérios de seleção 10-25, 68, 69, 71, 73 
Curley, A. 111 
custos 15, 24, 45, 101-102 
Davis, B. 85 
Deiró, M.L.C. 34, 42 
demanda reprimida 57 
desiderata 57 
desintermediação 100, 103 
diapositivos 40-41 
Dickinson, G.K. 111 
direitos autorais 93-95 
discos 38-40 
doações 75-76 
documento de política 71-74, 117-118 
documentos 
eletrônicos 43-51 
na internet 51-56 
relevância 22 
DVOS 38, 98 
DVD-ROMS 45-49
Eco, U. 20, 34, 42 
editoras de prestígio 19 
Ellison, J.W. 111 
empréstimo entre bibliotecas 89-93 
endereço eletrônico 52, 56 
Ercília, M. 56 
especialização da biblioteca 11 
estilo dos documentos 23 
Evans, G.E. 111 
Fenner, A. 112 
Figueiredo, N.M. de l12 
filmes 38-40 
fitas 
de áudio 38-42 
de vídeo 98 
formulário 63-65, 78 
para doação de materiais 118 
para indicação de títulos 63, 117 
para reconsideração de decisões 119 
fotocópia 94 
furtos 15 
Fulas, E. 112 
119 
futuro da seleção 99-108 
gibitecas 31-33 
Gorman, M. 108 
Graeff, A. 56 
graphic novels 31-32 
hipermídia e hipertexto 53 
histórias em quadrinhos 30-32 
home page 53, 56 
1-Iughes, M.J. 112 
identificação, avaliação e registro 63 
idioma dos documentos 22 
imparcialidade 20 
indicação e seleção de títulos 63-65 
informação eletrônica 100, 102-108 
Instituto Brasileiro de Informação em 
Ciência e Tecnologia (m1cr) 92 
instrumentos auxiliares 65-67, 73 
internet 51-56, 102 
Johnson, P. 112,113 
Katz, 13. 112 
Kim Fung Yip 54, 56, 114-115 
Lee, S.D. 113 
lei de direito autoral 94-95 
liberdade intelectual 84-85 
lista 
de desiderala 57 
de sugestões 57 
de discussão 52-53, 115-116 
livro 
adequabilidade l 00 
custo 101-102 
didático 20-21, 34 
infanta-juvenil 32-35 
MacEwan, 13. 112, 113 
McLuhan, M. 27 
materiais audiovisuais e especiais 26-42 
mecanismos de busca 56 
Miranda, A. 113 
modelo de política parn doações 118 
Momento de decisão (filme) 5 
multimeios 26-33 
Nisonger, T.E. 107, 108 
No despertar da tormenta (filme) 85 
objetividade no processo de seleção 9 
Orkut 53 
Ortega y Gasset, J. 107 
Osburn, C. 113 
Pattie, L.W. 113-114 
periódicos 27-32, 95-96, 114-115 
Perota, M.L.L.R. 40, 114 
política 
de seleção 17-25, 73 
para doação 75-76 
precisão 19-20 
Probst, L.K. 108 
processo de seleção 57-67 
Rao, S.S. 115 
recibo de aceitação de doações 119 
reclamações 77 
reconsideração da decisão 77-78 
redes eletrônicas 53, 102, 115-116 
relevância dos documentos 22 
responsáveis pela seleção 72-73 
Rosemberg, F. 34, 42 
Rowley, J. 108 
Saponaro, M.Z. 111 
Saracevic, T. 107, 108 
seleção e formação profissional 80-83 
Shaughnessy, T.W. 108 
Spiller, O. 114 
Uliana, D.E. 115 
Universidade de São Paulo 90-91 
Usherwood, 13. 26 
usuário 12, 13-14 
vandalismo 15 
Vergueiro, W.C.S. 4, 110, 114, 115 
vídeos 35-38 
Voltaire 85 
World Wide Web 52 
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