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W BA 05 85 _v 1. 1 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES EM LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS © 2018 POR EDITORA E DISTRIBUIDORA EDUCACIONAL S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A. Presidente Rodrigo Galindo Vice-Presidente de Pós-Graduação e Educação Continuada Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Carolina Yaly Danielle Leite de Lemos Oliveira Giani Vendramel de Oliveira Juliana Caramigo Gennarini Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Guilherme Alves de Lima Nicésio Editorial Alessandra Cristina Fahl Daniella Fernandes Haruze Manta Flávia Mello Magrini Hâmila Samai Franco dos Santos Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Leite, Carlos Eduardo Damian L533c Competências e habilidade em linguagens, códigos e suas tecnologias/ Carlos Eduardo Damian Leite – Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2018. 100 p. ISBN 978-85-522-1339-0 1. Linguagem. 2. Comunicação. I. Leite, Carlos Eduardo Damian. II. Título. CDD 370 Thamiris Mantovani CRB: 8/9491 2018 Editora e Distribuidora Educacional S.A. Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza CEP: 86041-100 — Londrina — PR e-mail: editora.educacional@kroton.com.br Homepage: http://www.kroton.com.br/ http://www.kroton.com.br SUMÁRIO TEMA 1 ........................................................................................................................................................................4 Linguagem e Geração de Significados TEMA 2.....................................................................................................................................................................16 Linguagem Corporal: Identidade e Representação TEMA 3.....................................................................................................................................................................29 Produção, Construção e Recepção de Textos TEMA 4.....................................................................................................................................................................43 Recursos Expressivos em Diferentes Textos TEMA 5.....................................................................................................................................................................56 Argumentação na Produção Textual TEMA 6.....................................................................................................................................................................70 Aspectos Linguísticos da Língua Portuguesa TEMA 7.....................................................................................................................................................................83 Aspectos Linguísticos da Língua Portuguesa Linguagem e Geração de Significados Autor: Carlos Eduardo Damian Leite Objetivos • Analisar os principais aspectos do processo comunicacional. • Compreender o uso da língua materna em função da expressividade e geração de significados. • Verificar as formas de emprego da de linguagens e códigos em diálogos, bem como no processo de ensino-aprendizagem. 4 5 1. Aspectos de formação e uso da linguagem Desde os primórdios da civilização, o que nos diferencia dos outros animais, de acordo com as teorias de Campbell (2006), é o ato de falar – ato esse que nos proporciona a habilidade de dialogar entre nós e, com isso, construir processos comunicacionais. Independente de nossa língua materna, quando conhecemos outros países e, assim, outras culturas, interagimos através dos processos comunicacionais, embora em muitas situações através de gestos, nossa principal fonte de interação é o diálogo que, muitas vezes, ocorre de modo descontextualizado, porém, através da fala com o uso de signos e expressões. De acordo com Vygotsky (2011), o uso dos signos proporciona ao indivíduo o desenvolvimento da linguagem, por meio da qual estabelecem relações dotadas de significados criando, assim, uma teia comunicacional em que ocorre o posicionamento frente aos demais indivíduos e ao seu contexto sociocultural. Denominam-se tais diálogos, segundo Jakobson (1995), por Processo Comunicacional; para que tal processo ocorra são necessários quatro elementos essências, sendo eles: o emissor, o receptor, a mensagem ou sinal e o canal. A sequência de etapas obedece a seguinte ordem: 1. O emissor emite a mensagem e dá início ao processo comunicacional. 2. O receptor, ou receptores, são os que recebem a mensagem (ou sinal) por meio do canal e, de certo modo, irão disseminá-la aos demais envolvidos no processo – se for possível a ele(s) assimilar a mensagem. 3. Por fim, a mensagem será reenviada para o emissor por meio do canal, a fim de que o retorno lhe seja garantido (nesse caso o feedback ocorre de maneira imediata). O processo comunicacional ocorre quando o emissor direciona ao receptor o que podemos chamar de mensagem ou sinal, em que tal ação pode encontrar neste processo o que chamamos de ruído, que pode complicar diretamente o entendimento do receptor em relação à mensagem ou sinal emitido inicialmente. Tal fato ocorre de modo constante dentro deste processo, atrapalhando seu desenvolvimento devido ao tempo que se perde ao rever ações que poderiam ser simplesmente ser tomadas imediatamente pelo receptor. PARA SABER MAIS CASTELS, Manuel. O Poder da Comunicação. São Paulo: Saraiva, 2005. Nesta obra, Castels aponta os principais aspectos da comunicação, bem como sua importância sociocultural, diante do poder que exerce nas diversas realizações do ser humano no século XXI. Dentro do Processo Comunicacional, de acordo com Jakobson (1995), podemos detectar os seguintes processos: • Codificar: consiste em receber uma mensagem e codificá-la a ponto de que seja compreendida por todos os envolvidos no processo comunicacional, adequando-a aos signos que todos tenham domínio. • Descodificar: significa compreender a mensagem passada pelo emissor e repassá-la aos demais envolvidos nos processos organizacionais, de modo coerente. • Linguagem-verbal: consiste no diálogo, em que é importante que o emissor busque fazer-se compreender, utilizando de signos que sejam de conhecimento dos demais envolvidos no processo. 6 • Linguagem não verbal: não é apenas pela fala que podemos nos comunicar, como citado anteriormente, nos comunicamos também por gestos e expressões, sendo elas corporais ou faciais. • Feedback: consiste no retorno do receptor para com o emissor, sendo esse retorno positivo ou negativo à cerca do assunto a ser tratado. Devemos ter cautela em criticar a ocorrência de ruídos dentro das comunicações, pois embora possam comprometer o funcionamento do processo de modo cotidiano, pode-se também contar com o ruído para que não sejam tomadas decisões precipitadas quanto ao feedback. Nesse sentido, fica clara a necessidade deste no processo comunicacional, como veremos no decorrer desse módulo sobre a sua importância. Os processos comunicacionais, ou seja, a comunicação em si, pode ser considerada a base para que o feedback ocorra. Podemos afirmar que, sem tais processos não haveria âmbito para ocorrer e, para que ocorra a comunicação efetiva, é necessário que o emissor saiba se fazer entender, sendo objetivo com suasmensagens. Nesse sentido, o emissor deve compreender que não existe um processo unilateral em relação aos processos comunicacionais, em que ele apenas direciona aos demais os assuntos que acredita serem pertinentes. Na verdade, o emissor deve estar disposto a ter feedbacks positivos ou negativos, quando deverá então processar tais retornos, utilizando-os para o desenvolvimento pleno dos processos pertinentes à comunicação. ASSIMILE A comunicação possui, além das ações que lhe são específicas, importância relativa à forma com que é empregada em diversos contextos. No âmbito social, é 7 recurso efetivo para a transmissão efetiva de ideias voltadas a suas realizações e a de seus colaboradores. Um dos pontos pertinentes ao sucesso das relações no âmbito social é, certamente, o uso adequado da comunicação. As capacidades do indivíduo devem consistir na compreensão e na transmissão efetiva de ideias, e com a ascensão das tecnologias digitais, ou de informação e comunicação, a sociedade passou a se comunicar de forma muito mais efetiva e dinâmica. As tecnologias de informação são recursos considerados valiosos para a aprendizagem no contexto social e cultural, inclusive na contemporaneidade, devido à forma pela qual conteúdos são transmitidos para os indivíduos. É válido, portanto, que se considere a evolução dos recursos utilizados, ao longo da trajetória educacional. A comunicação, portanto, passou hoje a contribuir para a dinâmica das relações individuais, bem como as das organizações diante da sociedade. Diante de tais aspectos é que se pode pensar na importância do aprendizado de linguagens e códigos, com base no modo com que são constantemente empregados no contexto sociocultural, bem como no efetivo desenvolvimento comunicacional dos indivíduos ser relevante à aprendizagem. 2. Comunicação, significados e relações A evolução das mídias, principalmente do rádio e da televisão, propiciou novas formas de convivência e comunicação entre os indivíduos. Segundo Bobbio (2004), a concepção de comunicação tende a se tornar mais complexa, conforme as formas de divulgação de informações 8 também criam novos atrativos e novas possibilidades de atrair e convencer espectadores. A forma como se trabalha com os ruídos pode prejudicar diretamente o desenvolvimento da comunicação. Para Torquato (2002), as diversas fontes existentes têm dificuldades em dominar os temas, sem que sejam aprofundados, que não sejam compreendidos em sua profundidade ou sem que as ideias sejam devidamente propagadas, uma vez que ocorre tal dificuldade na expressão de ideias. Dentre as teorias dos processos comunicacionais, existem os funcionalistas Merton e Lazarsfeld, que desenvolveram o método Two Steps Flow (Fluxo de Duas Etapas). Tal teoria destaca o fato de que uma informação não mantém seu fluxo, mas que segue duas etapas na qual os emissores elaboram e disseminam a informação entre si, na íntegra, para que então, em um segundo momento, a informação seja transmitida de um modo alterado, para um grupo maior de receptores. Um dos pontos para que as relações dentro do âmbito sociocultural sejam bem-sucedidas é, certamente, o uso adequado da comunicação. As capacidades do indivíduo devem consistir na compreensão e na transmissão efetiva de ideias. Tal pensamento deve ser desenvolvido com base na premissa de que a educação se efetiva a partir do processo comunicacional, ainda que em seu nível mais básico. Existem outras redes de comunicação informal que operam na sociedade, inclusive no âmbito educacional, que acabam, por sua vez, gerando informações que adquirem significados próprios, já que elas não vêm com uma interpretação pré-definida, com os devidos esclarecimentos a um determinado fato para os demais indivíduos. Pode-se também analisar as concepções de Mattelart & Mattelart (1999) com relação ao conceito de gatekeeper, em função de um indivíduo, ou um grupo, que recebe as informações para que então venha a repassá-la 9 ►. com modificações, gerando reações de acordo com o interesse subjetivo daqueles que manipulam os conteúdos. Nesse sentido é que surgem os boatos dentro de um determinado contexto. Com relação à atuação docente como gatekeeper, destacam-se duas inteligências que são fundamentais para o convívio em bom andamento, sendo elas a inteligência intrapessoal e a interpessoal. Tais inteligências consistem nas habilidades e competências necessárias para o convívio social e também para que o desenvolvimento de projetos e objetivos nas escolas. Em relação à inteligência intrapessoal, podemos salientar que o professor deve estar primeiramente em harmonia com seu interior, tendo consciência em suas habilidades e competências, com certeza de suas aptidões profissionais e que, nesse sentido, se agrade de sua função para que possa exercê-la com maestria, sendo a inteligência interpessoal por sua vez pautada na relação com outro, na habilidade de interagir com os demais indivíduos em âmbito educacional, cooperando em muitos momentos, como o aprendizado e a resolução de conflitos. 3. Aspectos de formação e uso da linguagem Ao se analisar o processo comunicacional em âmbito escolar, verifica- se que a recepção é o principal aspecto com o qual se deve lidar para que o aprendizado seja efetivo. Para Drucker, “qualquer que seja o meio usado para a comunicação, a primeira pergunta a ser feita deve ser: ‘Esta comunicação está dentro dos limites de percepção do receptor? Ele é capaz de recebê-la?’” (2002, p. 127). A linguagem cumpre uma função primordial na comunicação, já que efetiva a mediação entre os elementos do contexto sociocultural e os símbolos que o ser humano encontra em meio às convenções e as regras estabelecidas para aquelas. Para Habermas, a linguagem tem um 10 aspecto universal ao possuir um conjunto de regras básicas que pode ser compreendido, além de possibilitar a comunicação entre os homens e permitir que “as fronteiras de mundo tidas como incomensuráveis ainda se mostrem permeáveis” (HABERMAS, 1990, p. 153). O feedback, que significa “retroalimentação”, é o elemento de retorno da comunicação, que possibilita à organização compreender as formas com que as mensagens são recebidas e interpretadas, garantindo desse modo que o processo seja sempre realizado com os mesmos padrões, resultando no sucesso da compreensão da mensagem. Dessa forma, cabe a compreensão da comunicação em âmbito educacional como uma série de procedimentos pertinentes à interação – ao ajustamento – entre o professor e seus alunos. “A qualidade desse ajustamento é o que determina a diferença entre falar e ser ouvido, entre palavras ao vento e ideias em comum” (KAPLAN, 1993, p. 12). A comunicação em sala de aula possui ainda uma função de compartilhamento (o próprio termo é uma junção da ação de tornar comum) e, nesse sentido, pode ainda efetivar a transmissão de uma mensagem de modo igualitário, a fim de que todos os indivíduos possam saber de uma informação com os mesmos detalhes, em função do sucesso das realizações individuais. Moreira (2010) afirma que a comunicação voltada para tornar o aprendizado efetivo representa em síntese um conjunto de estratégias, que têm como objetivo melhorar, ou gerar uma boa imagem para o âmbito educacional, e que a cada vez mais está relacionada com seus públicos, sejam eles professores, alunos, pais e/ou familiares. O relacionamento com os públicos depende da forma com que a comunicação é efetivada, para que as devidas concepções educacionais sejam disseminadas. Todos os envolvidos ganham com o feedback, pois a partir do momento em que professores e alunos estiverem 11 em sintonia, permite, de certo modo, avaliar as relações humanas e considerar o devido clima de empatia entre eles. Pode-se ainda afirmar que toda atividade de aprendizado é feita por meio da comunicação, sendo vista como um processo estratégico e tida comoprioridade para que tal meio alcance o desenvolvimento pleno de suas ações. Com a interação entre os indivíduos se desenvolve um relacionamento efetivo, em função da aceitação das premissas educacionais de uma forma construtiva. Hastings e Potter (2005, p. 101) salientam que “[...] precisamos construir sistemas de feedback precisos, francos e confiáveis”. Um professor, portanto, precisa criar em sala de aula um ambiente de aprendizagem, no qual os alunos sejam completamente valorizados, ouvidos e respeitados. Para Reis (2010), feedback é a base para a construção de um procedimento pessoal, ou para outras realizações propostas pela equipe de gestão escolar. Nesse contexto, o processo comunicacional pode ainda modificar o modus operandi dos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, de forma que os conteúdos sejam amplamente difundidos e compreendidos. TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação: você, professor, se depara com uma mensagem incorretamente transmitida por seus colegas, em um determinado contexto do âmbito educacional. Quais as suas atitudes para que as devidas informações sejam repassadas, a fim de que os esclarecimentos sejam oferecidos de forma efetiva? Apresente suas considerações em nosso fórum, realizando sua postagem e comentando as opiniões de seus colegas de curso. 12 Com o feedback, os envolvidos na instituição escolar podem se comunicar para, assim, alcançar os seus objetivos comuns no contexto da aprendizagem. É um meio para que os envolvidos não cometam erros com relação a todos os procedimentos necessários para o sucesso de professores e alunos. Além de que, o feedback constitui um termômetro de como a escola se relaciona com seus públicos, à medida que possibilita aos envolvidos compreenderem sua importância. Assim, o feedback pode sempre contribuir para a motivação dos alunos, que passam a se sentir efetivamente motivados ao aprendizado. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Complete a sentença com a alternativa que corresponde às palavras adequadas: “O processo comunicacional ocorre quando o ___________ direciona ao ____________ o que podemos chamar de _____________ ou sinal, onde tal ação pode encontrar neste processo o que chamamos de __________, que pode complicar diretamente o entendimento do que foi emitido inicialmente”. a.Meio; receptor; resposta; obstáculo. b.Emissor; receptor; mensagem; ruído. c. Receptor; emissor; mensagem; feedback. d.Emissor; receptor; mensagem; ruído. e.Emissor; meio; feedback; ruído. 2. Um indivíduo ou um grupo que recebe as informações, para que então venha a repassá-la com modificações – de acordo com interesses subjetivos –, e gera reações 13 de acordo com o interesse daqueles que manipulam os conteúdos: a.Gestor. b.Colaborador. c. Fornecedor. d.Acionista. e.Gatekeeper. 3. Qual significado do termo comunicação? a.Tornar comum. b.Tornar confuso. c. Tornar complicado. d.Tornar casual. e.Tornar completo. Referências Bibliográficas CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Atena, 2006. JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. Belo Horizonte: Cultrix, 1995. MATTELART, Armand & MATTELART, Michèle. História das teorias da comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 1999. MERTON, Robert K. Estructura burocratica y personalidad. In: RUITENBEEK, H. M. (org). Dilema de la sociedad de organización. Buenos Aires: Paidos, 1967. MOREIRA, B. L. Dicas de Feedback. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2010. TORQUATO, Gaudêncio. Tratado de comunicação organizacional e política. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. VYGOTSKY, Lev S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Atlas, 2011. 14 Gabarito Questão 1 – Resposta B Resolução: Os elementos que compõem o processo comunicacional são o emissor, o receptor, a mensagem e o ruído que, por sua vez, deve ser amenizado ou evitado. Questão 2 – Resposta E Resolução: Gatekeeper é o indivíduo que trabalha com a mediação das informações que lhe são repassadas. Questão 3 – Resposta A Resolução: A comunicação refere-se ao ato ou efeito de tornar comum. 15 Linguagem Corporal: Identidade e Representação Autor: Carlos Eduardo Damian Leite Objetivos • Analisar os principais aspectos da linguagem corporal. Compreender o uso da língua como integradora social e formadora de identidade. Verificar o uso da linguagem para representação do mundo e fortalecimento dos processos de identidade e cidadania. 16 17 1. A linguagem como elemento cultural A cultura do ser humano se caracteriza por elementos específicos, que também se fazem presente nas ações de outros seres vivos. Um exemplo é a dança realizada por abelhas para indicar perigo na colmeia, ou uma fonte de néctar apropriada, ou ainda o cortejo de machos às fêmeas, nessa e em outras espécies, constituindo, segundo Benveniste (1976)1, um sistema de comunicação efetivado por tais animais. A esses procedimentos, considerados comuns nas realizações animais no aspecto cultural, denomina-se elemento lúdico, ludicidade, lúdico ou ainda jogo, que também se faz presente nas atividades humanas. Claro que o elemento lúdico varia sua complexidade de acordo com a espécie, correspondendo desde a respostas instintivas em determinadas situações até reações mais elaboradas, envolvendo aspectos, por exemplo, do relacionamento interpessoal. Nesse sentido, destaca-se a ludicidade proporcionada pelo diálogo na cultura humana, a partir do momento em que o uso da linguagem se destaca como recurso simbólico de transmissão de conteúdos, valores e opiniões, com o entendimento humano presente como atitude específica do processo comunicacional (BENEVIDES, 1976)2. Na cultura humana, o lúdico assume aspectos exclusivos, que refletem a interpretação e representação da realidade por meio de símbolos, modo pelo qual o ser humano cria para si mesmo um padrão mental e/ ou visual relativo a seres, objetos e fenômenos de sua realidade. Esse processo cria, na cultura humana, um conjunto de referências que, por sua vez, formam a linguagem. A linguagem, segundo Huizinga (2000)3, é basicamente o reconhecimento cultural do agrupamento de símbolos, sendo que o uso 1 BENVENISTE, Émile. Problemas de Linguística Geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. 2 BENVENISTE, Émile. Problemas de Linguística Geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. 3 HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2000. dos mesmos em ocasiões diversas consiste no processo de comunicação humana. O processo comunicacional pode ser também considerado como de caráter lúdico, pois se baseia no esquema de regras e preceitos que norteiam a ação de transmitir informações, dentre conceitos, opiniões e valores, o que torna a comunicação essencial à sobrevivência e desenvolvimento dos indivíduos. Contudo, além da existência do jogo na comunicação, devem ser analisadas questões que são específicas do ser humano, que fazem com que a efetivação do elemento lúdico seja feita de modo diferenciado das outras espécies animais. Tais questões referem-se às condições biológicas do ser humano, especificamente em relação ao cérebro, órgão que possui características que facilitam a apreensão e compreensão das informações. Dentre as características do cérebro, segundo Vygotsky (2001)4, destaca- se a plasticidade, enquanto propriedade cerebral que diz respeito à capacidade do órgão se modificar de acordo com as informações apreendidas, independentemente da complexidade que as mesmas apresentam. Essa característica permite ao ser humano desenvolver a capacidade de representar sua realidade por meio de elementos simbólicos, compreender outros símbolos de outras realidades e aplicar na linguagem. É por meio da linguagem que a cultura humana se caracteriza, sendo que o desenvolvimento humano pode se dar, de forma única e diversificada, em diversoscontextos geográficos e socioculturais. O uso da linguagem na comunicação, por meio da fala e da escrita, permite ao homem compartilhar conceitos, valores e opiniões, tornando comuns tais elementos na sociedade em que estão inseridos. Dessa forma, no contexto simbólico, surgem outros aspectos igualmente enriquecedores para a cultura humana, tais como os mitos, os ritos e as crenças. 4 VYGOTSKY, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 18 Em uma perspectiva étnica, Vygotsky (2001)5 considera que as questões socioculturais são definidas dentro de parâmetros específicos, seguindo os preceitos que orientaram o ser humano desde os princípios da formação da linguagem, em meio à origem da organização da sociedade. Segue-se, portanto, um esquema na geração da cultura que se inicia com o jogo, que faz uso da representação simbólica, que serve de base para a linguagem, empregada como instrumento de transmissão dos símbolos e dos aspectos a que fazem referência. Com relação a esses aspectos, podem ser notados: a política, a economia e a organização social do ser humano. Em todos esses âmbitos, encontram-se os símbolos que justificam a importância da figura de um líder tribal, um monarca, um juiz, um presidente da república, relacionada não ao indivíduo em si, mas à representação que possui no contexto em questão. Além disso, também pode ser apontado com relação ao valor do dinheiro na sociedade capitalista, já que pequenos discos de metal e pedaços de papel tornam-se moedas e notas. A análise simbólica de mundo, portanto, não se reduz ao objeto, fenômeno ou pessoa, mas sim àquilo que, em um segundo momento, podem representar. A transmissão e utilização desses conteúdos relacionados ao símbolo são os atos que caracterizam as ideias que permeiam a cultura humana. Sua essência, paralelamente, está sempre ligada ao lúdico. Afinal, é por meio da ludicidade que o ser humano desenvolve regras específicas para lidar com o que é novidade, analisando o ser, objeto ou fenômeno da natureza em questão e criando um símbolo que será referência naquele contexto sociocultural, especificamente, ou mesmo em outros, familiares ou não. A sociedade tende a organizar tal processo, tal qual a si mesma, em um caráter sistêmico, no qual todos os indivíduos possuem funções específicas, em diversos setores políticos, econômicos, sociais e culturais. As interações são a base desse sistema, que ocorrem de 5 VYGOTSKY, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 19 ~ forma múltipla e dialética. Isso significa que o sistema social é aberto a mudanças, efetivadas por seus integrantes, com base no esquema de comunicação, enquanto transmissão e compreensão de mensagens. 2. Linguagem corporal e seus significados Ao analisar o discurso inerente ao contexto sociocultural, inclusive da perspectiva dos indivíduos em meio ao processo de letramento, podem ser consideradas produções escritas e orais, de diversas ocasiões, a fim de que se reconheça o significado principal (explícito) e os secundários (implícitos), em contato entre os indivíduos que fazem parte desse contexto, com conteúdos e formas de transmissão específicas, bem como os elementos que são complementares. No cotidiano, o discurso pode ser analisado também por seus detalhes, como a forma pela qual o emissor escolhe as palavras, termos e sentenças a serem transmitidos, utiliza aspectos de seu contexto para exemplificar ideias e situações, além dos valores que assume em suas considerações, junto aos gestos que utiliza, a chamada linguagem não-verbal. PARA SABER MAIS WEIL, Pierre; TOMPAKOW, Roland. O Corpo Fala. São Paulo: Summus, 2010. Nessa obra, os autores apresentam características diversas da linguagem corporal, bem como os significados gerados por cada postura ou gestualidade. Para quem analisa um discurso, as considerações sobre todos esses elementos formalizam suas características, tal qual as sentenças 20 que podem ser empregadas da devida maneira. Diante disso, um discurso pode ser classificado, por exemplo, como político, acadêmico/ educacional, religioso, científico e organizacional (ou corporativo). Ao focar a discussão nas características de cada discurso, é possível perceber suas características específicas. Assim como o discurso religioso se caracteriza por ter base nos ritos que promove e nos dogmas da religião em questão; o científico, no que é comprovado pelas hipóteses, experimentações e teses; o político nas ideologias socioculturais; o acadêmico, nas normas metodológicas; e o discurso corporativo baseia-se nos princípios de mercado e nas relações interpessoais envolvendo os colaboradores. Portanto, há de se considerar, nessa modalidade discursiva, a presença de termos técnicos, pertencentes a cada indivíduo, com suas funções específicas, inclusive no âmbito educacional. Além disso, os gestos podem ser observados, caso deseje interpretá-los. Por exemplo, se a pessoa se inclina para a frente é sinal de que está interessada no assunto; se cruza os braços, demonstra falta de interesse ou discordância com o que lhe foi dito. ASSIMILE São várias as possibilidades de interpretação em torno da linguagem não verbal, diante de olhares, posturas e gestos específicos. Uma enorme gama de sentimentos pode ser refletida por tais manifestações corporais e as mesmas devem ser analisadas, em função da compreensão efetiva da mensagem trazida por outrem. A partir da interpretação de falas, gestos e outras sutilezas do cotidiano, inseridos no contexto da cultura humana, pode-se analisar o discurso 21 por completo. Isso significa dizer que além de compreender as características do âmbito escolar, também se descobre, com a devida observação e análise de seu cotidiano, quais elementos mais chamam a atenção dos alunos, enquanto receptores, seja na modalidade oral ou escrita. No contexto escolar, não se pode esquecer de que, de acordo com a forma com que o poder é exercido e as relações interpessoais são efetivadas, e de acordo com a cultura da instituição e o modo como processa as exigências da sociedade, as crenças e valores acabam por servir de base a toda e qualquer concepção individual. Os conceitos diante da comunicação nas instituições escolares, enquanto elemento fundamental à propagação de sua cultura, são diversos de acordo com as concepções de cada uma, em relação à efetivação de seu próprio processo comunicacional. Com a implantação da cultura de comunicação, os profissionais da Educação puderam notar a importância, para todos os envolvidos no âmbito escolar, do devido desenvolvimento de ações pertinentes à divulgação clara, concisa e igualitária de informações. Os gêneros textuais começam a fazer parte da cultura e do cotidiano dos indivíduos, por meio de ações como a leitura e interpretação de textos, sejam verbais (palavra escrita) ou não verbais (imagens e sinais); além da produção textual, com base em gêneros específicos, de acordo com a finalidade comunicacional do que foi produzido. A partir da criação de uma autêntica cultura de comunicação e atendimento nas escolas, com a consequente valorização dos públicos interno (corpo docente/ discente, equipe pedagógica/ gestora) e externo (pais e/ ou familiares e comunidade), com a adoção de processos comunicacionais efetivos, o relacionamento da instituição escolar com os envolvidos em sua atuação ganhou um novo patamar, refletindo-se em novas iniciativas por parte, inclusive, dos professores. 22 3. Linguagem e socialização Em muitas das concepções filosóficas, o ser humano é tido como racional e social. Isto significa que é capaz de direcionar o pensamento lógico em função do relacionamento com outros indivíduos, em busca da formação de elos seguros, que garantam a sobrevivência de um modo geral, bem como o desenvolvimento de si e da coletividade. Nesse sentido, concebe-se o ser humano comosendo essencialmente voltado à socialização, à medida em que se esforça para estabelecer os devidos vínculos em torno de sua comunidade, garantindo sua participação em todas as ações pertinentes ao desenvolvimento da mesma, que influenciam de alguma forma sua própria importância no contexto em que se insere. Existe uma concepção bastante recorrente ao se verificar a forma como os relacionamentos humanos se efetivam, em torno das possibilidades de desenvolvimento das parcerias, da postura que se adota no processo comunicacional, nas formas com que se credita uma determinada informação, além da condução do relacionamento a longo prazo. A isso denomina-se negociação, que é conduzida de forma a efetivar o relacionamento entre dois ou mais indivíduos, à medida em que possuem um objetivo em comum, inclusive a propagação de uma informação, e procuram realizar a união de forças, de ideias ou ainda de direcionamento do grupo, a fim de que possam atingir o objetivo do qual comungam. Com o processo de negociação, ocorre também um conjunto de possibilidades pré-definidas, que podem ser efetivadas de acordo com os interesses comunicacionais dos envolvidos. Consiste em três possibilidades de negociação, denominadas ganha-ganha, ganha- perde e perde-perde, que se diferenciam de acordo com o lado beneficiado (ou não). 23 A negociação definida como ganha-ganha é caracterizada pelo fato de que, diante das necessidades das partes envolvidas, ambas tendem a ter saldos positivos, sem serem prejudicadas no processo. É importante destacar que tal predisposição para que essas partes possam ganhar a negociação depende, essencialmente, dos indivíduos que a realizam. Já a negociação definida como ganha-perde é caracterizada por apenas uma das partes envolvidas ter um saldo positivo, diante das necessidades de uma das partes envolvidas, que acaba se sobrepondo à outra, que se torna a prejudicada no processo. Isso ocorre quando as intenções de um dos negociadores se opõem a do outro, resultando na vantagem obtida por apenas uma das partes. Por fim, a negociação definida como perde-perde é aquela na qual ambas as partes envolvidas no processo obtêm um saldo negativo, sendo totalmente prejudicadas pelo processo. Uma negociação ganha- perde pode, inclusive, tornar-se perde-perde, caso os lados se oponham às intenções um do outro, mas nenhum deles atinja seus objetivos. Importante analisar essas três formas de negociação para que se compreenda como as relações humanas podem ser estabelecidas, principalmente quando estão em jogo interesses diversos, de duas ou mais pessoas. Assim, pode-se verificar o que ocorre em diversos momentos históricos, políticos, econômicos e socioculturais, quando as ideias entram em conflito e resultam em momentos em que se efetiva um equilíbrio e outras em que uma crise é desenvolvida, comprometendo os indivíduos que visam estabelecer relações. Com base nesses princípios, é importante considerar que isso ocorre no ambiente educacional. Afinal, o mesmo é formado por indivíduos (no caso, alunos, professores e equipe pedagógica/ gestora) e tais processos de negociação são feitos a todo momento, inclusive com resultados que afetam a instituição escolar e suas realizações. 24 TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação: você se depara com uma denúncia na instituição de ensino em que atua, na qual dois alunos dizem estar mentindo sobre um problema específico. Chamam você para conversar com esses alunos e você pode verificar que, enquanto um deles mantém o olhar fixo e postura estável, o outro permance com olhar instável, postura inquieta e fala titubeante. Qual deles você acredita estar mentindo? Você confia na detecção por conta apenas dessas atitudes? Por quê? Nesse sentido, o que se pode analisar é que as informações referentes à escola devem ser desenvolvidas da forma mais eficaz possível, tendo em vista as possibilidades de negociação e que, para o crescimento da organização e evolução dos professores e de seus alunos, o relacionamento entre eles deve ser pautado em ganho para ambas as partes. Dessa forma, uma consideração a ser feita com base na busca pelo processo de negociação caracterizado como ganha-ganha é garantir que os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem estejam verdadeiramente envolvidos com as ações da unidade de ensino, a fim de que esta, em sua totalidade, possa envolvê-los e estimulá-los constantemente. Com base nas concepções voltadas à negociação, pode-se ainda estabelecer parâmetros que auxiliem na compreensão do modo com que o relacionamento entre os indivíduos se estabelece, a partir da ideia de que sempre há interesses envolvidos, sejam eles objetos em comum ou não da relação que se estabelece entre as partes. Tais considerações envolvem uma manifestação com aspectos psicossociais e culturais. Trata-se do relacionamento interpessoal, uma 25 nomenclatura que define a ação humana de estabelecer e preservar contatos, não apenas diante da necessidade de uma criação aleatória de vínculos, mas também para efetivar os processos de negociação, de uma maneira constante e diversificada. A partir da análise feita da necessidade humana de se estabelecer vínculos para a sobrevivência, bem como para efetivar o processo de negociação, verifica-se que escolas podem se beneficiar de estímulos constantes à comunicação benéfica a todos os envolvidos, a fim de que possam harmonizar as relações interpessoais e serem propagadas, pelos próprios professores e alunos, como instituições com ambiente adequado à comunicação e ao convívio. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. É conduzida de forma a efetivar, inclusive em âmbito escolar, o relacionamento entre dois ou mais indivíduos, à medida em que possuem um objetivo em comum: a. Negociação. b. Competição. c. Comercialização. d. Amortização. e. Geração. 2. A linguagem humana pode ser caracterizada: a. Pela simplicidade com que foi formada, de acordo com a evolução humana. b. Como reconhecimento cultural do agrupamento de símbolos. 26 c. Como reconhecimento cultural do agrupamento de palavras. d. Exclusivamente pela capacidade humana de falar. e. Como reconhecimento cultural do agrupamento de letras. 3. O uso da linguagem na comunicação, por meio da fala e da escrita, permite ao homem: a. Compartilhar conceitos, valores e opiniões. b. Realizar a transmissão aleatória de informações. c. Gerar mensagens sem sentido para outrem. d. Expressar-se, mesmo que não haja propósito em sua ação. e. Postar mensagens nas mídias sociais, por meio da Internet. Referências bibliográficas BENVENISTE, Émile. Problemas de Linguística Geral. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976. HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2000. MATTELART, A. & M. História das Teorias da Comunicação. 2. ed. São Paulo: Loyola, 1999. TAVARES, M. das. G. de P. Cultura Organizacional: uma abordagem antropológica da mudança. São Paulo: Qualitymark, 2010. VYGOTSKY, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 27 Gabarito Questão 1 – Resposta A Resolução: A negociação é conduzida de forma a efetivar, inclusive em âmbito escolar, o relacionamento entre dois ou mais indivíduos, à medida em que possuem um objetivo em comum. Questão 2 – Resposta B Resolução: A linguagem humana pode ser considerada como agrupamento de símbolos, reconhecidos culturalmente. Questão 3 – Resposta A Resolução: A comunicação permite a difusão, por meio da leitura e da escrita, de conceitos, valores e opiniões. 28 Produção, Construção e Recepção de Textos Autor: Carlos Eduardo Damian Leite Objetivos • Analisar aspectos do texto literário. Considerar a função sociolinguística da linguagem. Compreender os procedimentos de construção do discurso e sua recepção enquanto produção textual.29 1. Aspectos do texto literário Tratando-se dos aspectos que direcionam o discurso humano e suas funções socioculturais, pode ser analisada sua relação com a compreensão filosófica da realidade. Sabe-se que a Filosofia é a forma pela qual o ser humano analisa o mundo ao seu redor, por meio da reflexão, questionando todas as coisas, por mais simples que sejam ou pareçam ser. Tornam-se corriqueiras, portanto, perguntas de cunho filosófico que investiguem a essência da humanidade ou o porquê da existência de todas as coisas. Tais questionamentos são sempre feitos com base na interpretação e compreensão simbólica de mundo, gerando, por sua vez, a linguagem, por meio da qual tipos diversificados de conhecimento são assimilados, gerando respostas que, aceitas pela sociedade, tornam-se crenças e valores, que por muito tempo vêm sendo propagados como comportamento (na Grécia Antiga, denominado ethos) do ser humano. Com o devido direcionamento, a transmissão de uma mensagem pode ser prévia e devidamente trabalhada em função da geração de discurso, que pode ser desenvolvido com base nas afirmações que antecedem o mesmo, já que o discurso propaga ideias em função dos saberes e realizações socioculturais. Também existe um conjunto de preceitos, que se referem à utilização do discurso, para a devida divulgação das mensagens aos mais diversos públicos, ao que se dá o nome de retórica. A retórica se refere, principalmente, ao devido emprego das palavras, em ocasiões variadas, na preocupação de que se propague uma mensagem do modo mais coerente e eficaz possível. Por estar voltada à devida utilização das palavras, teve origem na elaboração discursiva filosófica. Isso significa dizer que o emprego dos vocábulos na transmissão dos conceitos se faz fundamental, a fim de que o questionamento e a divulgação oral do saber pudessem ser potencializados, em função da comunicação sem ruídos. 30 Outra característica discursiva, desenvolvida paralelamente à retórica pelos filósofos gregos, foi a oratória: a preocupação em se esforçar para garantir que a mensagem transmitida, por meio do processo comunicacional, fosse plenamente compreendida pelos receptores. Tal esforço ainda é atual, inclusive no âmbito organizacional, em função do ato de falar em público. A oratória pode ser considerada como um poderoso recurso, a fim de que as ideias sejam apresentadas de forma clara e concisa, em um jogo vocabular que não apenas transmite a mensagem desejada, mas nota respostas nos receptores da mesma por meio de olhares, postura e questionamentos, que possibilitam a continuidade desse processo. Foram vários os meios de comunicação para que houvesse uma evolução relacionada à forma de se expressar e aos recursos empregados para tal. Contudo, mesmo com as novas tecnologias sendo usadas para fortalecer o processo comunicacional, ainda devem ser mantidas a devida precaução e as devidas regras na divulgação de ideias, o que faz com que a retórica e a oratória sejam empregadas junto a essas mídias inovadoras, principalmente no âmbito organizacional, em ações como palestras, reuniões e capacitações de colaboradores. PARA SABER MAIS ARISTÓTELES. Retórica. São Paulo: Folha, 2015. A obra do filósofo Aristóteles, apresenta a importância do bem falar para a transmissão de ideias, em torno da eficácia no se fazer compreender pelos outros, de modo atraente e efetivo, buscando o sucesso na comunicação. As técnicas de retórica e oratória ainda possuem relevância devido à preocupação constante do ser humano, ao longo de sua evolução 31 histórica e cultural de se comunicar da maneira mais eficaz e objetiva possível, a fim de que consiga a devida compreensão para com os receptores a quem direciona sua mensagem. O modo com que a comunicação sem ruídos ocorre, também muda de acordo com o contexto, pois são variados os fatores que prendam ou não a atenção dos receptores em meio a um discurso. É interessante perceber que é natural ao ser humano a apreensão de maneira seletiva, inclusive em meio à sociedade da informação, que disponibiliza uma quantidade enorme de informações por meio de várias fontes. O conhecimento é gerado com a apreensão do que realmente interessa ao receptor e, consequentemente, é o que será armazenado pelo cérebro de modo efetivo. Dentre as regras que se aplicam à retórica, pode-se evitar o emprego de palavras muito complexas, ainda mais se não fizerem parte do universo sociocultural do público em questão. Deve-se interpretar os termos técnicos que fizerem parte do discurso, principalmente se for sabido que os presentes não possuem o devido conhecimento ou o tiverem de modo superficial. Com tal iniciativa, sentenças que seriam difíceis de interpretar ficam facilmente passíveis de compreensão, garantindo a assimilação das ideias transmitidas, bem como a dinamicidade do processo comunicacional. Com relação à oratória, as regras são voltadas à utilização prática das palavras, ou seja, do discurso em si, no momento da fala. Para que a compreensão das palavras seja efetiva, basta que o orador, enquanto emissor preocupado com a transmissão de sua mensagem e com o feedback a ser obtido, trabalhe sua locução, atentando para o modo e a velocidade com que produz seu discurso. Por meio da eloquência e da interpretação dos termos técnicos, além da locução empregada da maneira mais clara e concisa possível, o emissor dos conteúdos, seja qual for o tipo de evento em que tiver contato com 32 seu público, terá sucesso em ser compreendido e suas ideias serão assimiladas de forma a produzir conhecimento efetivo. A retórica pode ainda ser utilizada em mídias escritas, produzindo gêneros textuais como cartas, relatórios e memorandos, utilizados constantemente no contexto organizacional, podendo ser elaborados, inclusive, considerando-se o poder de argumentação explícito no documento em questão. O julgamento das palavras a serem utilizadas é prévio, baseando-se no público a quem se destina a mensagem, a fim de que sejam efetivadas sua apreensão e compreensão. Portanto, da mesma forma que, no contexto organizacional, a retórica auxilia o orador na escolha das palavras corretas para momentos específicos, também contribui com a comunicação escrita, em relação aos gêneros textuais que a compõe. A descrição dos detalhes referentes à empresa também é um elemento específico dos documentos em âmbito organizacional, seja para relatar ideias sobre a criação ou renovação de um produto, seja para realizar um evento ou uma campanha promocional. Tal precaução garante que as ideias sejam compreendidas passo a passo nessas realizações organizacionais, fazendo com que os processos cotidianos não sejam prejudicados por uma atitude errada, um mal entendido por parte do colaborador. A retórica permite a este, portanto, que ao ler um documento sejam aplicadas todas as medidas necessárias, a partir das instruções transmitidas por escrito. ASSIMILE Retórica e oratória são elementos que fazem com que o texto seja devidamente produzido, inclusive com o cuidado adicional com as palavras a serem empregadas, bem como o sentido que as mesmas venham a gerar no leitor. 33 Com base nos símbolos, a fala gera um aspecto único e exclusivo da cultura humana: a linguagem, e, nesse conjunto formado pela imagem e a ação de falar, surge a forma como o homem pode sugerir/ produzir significados e resignificados para tudo em seu meio, a imaginação com o estabelecimento coletivo de crenças, aspectos culturais e interdiscursivos (a interpretação do que se lê e ouve). Ao longo do desenvolvimento humano, os questionamentos sobre tudo o que existe são constantes e variados. Em busca de respostas, o ser humano cria explicações por meio da imaginação, diante de valores e realizações de seus antecessores, disseminando-as coletivamente pela fala, formando a chamada tradição/ cultura oral. Essa tradição compreende aforma pela qual os conhecimentos são transmitidos por meio da fala, de geração para geração, sendo a forma pela qual muitos registros históricos, filosóficos, culturais e literários puderam ser mantidos até os dias atuais, a exemplo de gêneros conhecidos da tradição oral, como mitos, contos de fada, ditados populares e provérbios. 2. Aspectos culturais da fala e do texto A partir das constatações pertinentes sobre o uso da linguagem nos primórdios da evolução humana, pode-se considerar algumas ideias sobre a forma como as diversas culturas se utilizaram de símbolos e seus significados, a fim de representarem seres, objetos e fenômenos diversos. As mitologias, compreendendo formas fantásticas de explicação para os fenômenos naturais e as realizações humanas, constituem uma das primeiras manifestações da cultura oral na humanidade. Na narração dessas realizações, baseadas em valores como justiça, honra e coragem, surge a figura mítica do herói, junto de uma noção mundial do que seria o ato de heroísmo. 34 Em diversas culturas, as buscas realizadas por um objeto de valor, que traria poderes a quem o utilizasse com responsabilidade, ou pelo caminho de volta para casa ou ainda para derrotar um ou mais inimigos malignos ou mesmo pelo autoconhecimento, retratam os obstáculos necessários para a transfiguração de um mortal em herói. São exemplos de herói: na cultura greco-romana, Héracles (ou Hércules), Aquiles e Ulisses (ou Odisseu); na cultura nórdica (países como Noruega e Finlândia), Thor e Sigfried; na oriental, Krishna (reencarnação guerreira da deusa Vishnu) e Amaterasu (deusa-sol que se encarnou em forma de loba, para derrotar o dragão Orochi). As mitologias ainda fazem parte do imaginário do homem contemporâneo, sendo parte de diversas manifestações linguísticas e artístico culturais, como livros, obras cinematográficas e até mesmo em jogos eletrônicos. A jornada do herói é descrita, segundo Joseph Campbell, como um movimento cíclico, pertencente a mitologias de culturas diversas, nas quais o herói serve de exemplo ético para os demais indivíduos, ao sair em busca de um objeto ou conquista almejado, passar obstáculos e chegar ao seu objetivo, retornando ao seu lar após cumprir seu destino. A partir de uma ou mais etapas vencidas, era congratulado pelo heroísmo aquele que partia em sua busca e retornava, com conquistas materiais e/ ou espirituais, tornando-se um símbolo mítico dos valores relacionados ao ato heroico e um exemplo do comportamento em sociedade. A partir da compreensão do início da interpretação do mundo, feita pelo homem, a partir da representação em símbolos, podem ser abordadas questões referentes aos valores colocados pelo homem, como ideais para as suas realizações e a sua existência, assim como o processo para o desenvolvimento do raciocínio lógico. Se os heróis transmitiam, por meio de seus mitos, a conduta que deveria ser espelho para as realizações humanas, o comportamento 35 passou a ser uma discussão entre os homens, em busca de outro aspecto da existência dos mesmos: a vida em sociedade. Também na sociedade grega, além da imaginação e da linguagem permitirem que se desenvolvesse o pensamento mitológico, possibilitaram também outro tipo de reflexão sobre os homens e o mundo: o pensamento filosófico. A diferença desse modo de pensar estava na interpretação das coisas: enquanto o homem com a mitologia buscava significados além dos acontecimentos e realizações observados, revelando as respostas no contexto fantástico, com a Filosofia, ele se questionava e se questiona, racionalmente, sobre aquilo que era observado, procurando respostas nas características e/ ou ações próprias do objeto ou ser investigado. E foi analisando o convívio do ser humano em sociedade, considerando os valores que realmente contribuíam para o bem comum, que os filósofos (homens que questionavam o mundo pela razão) elaboraram um conjunto de preceitos para tal orientação social, denominada Ética, enquanto o conjunto de normas sociais que orientavam e orientam o homem em seu meio social a se portar de modo a não prejudicar a si mesmo e aos demais, no equilíbrio entre vícios e virtudes. A Ética orientava o ser humano, de acordo com a Filosofia, sobre quais atitudes seriam corretas e em quais ocasiões. Seria um dos produtos dos questionamentos filosóficos que, além dos preceitos morais, colocariam em cheque todos os elementos abordados pela mitologia. Contudo, o pensamento racional substituiu a fantasia, sendo a curiosidade a base; e a reflexão e a experimentação, as ferramentas para que a razão guiasse as descobertas realizadas em outras áreas em expansão na mesma época, como Matemática, Química, Física e Astronomia. 36 3. Considerações sobre a produção textual O texto, assim como o discurso, é produzido em gêneros textuais diversos, de acordo com as possibilidades vislumbradas em um determinado contexto. Com relação, por exemplo, aos meios de comunicação voltados ao público externo de uma organização, podem ser destacadas as peças publicitárias, as notícias corporativas, os sites, o atendimento ao consumidor e a pesquisa de opinião, por exemplo. Esses recursos externos, como pode ser notado, acompanham os públicos em seu cotidiano, diferentemente dos meios internos, que estão inseridos no cotidiano dos colaboradores e que, por sua vez, acompanham o dia a dia da organização. A peça ou anúncio publicitário, mídia conhecida por toda a população consumidora e reconhecida, inclusive internacionalmente, está voltada especificamente para quem consome os produtos e serviços organizacionais. Normalmente, seus dados se referem ao produto ou serviço oferecido pela organização, com destaque para suas funções e características (embalagem, qualidade e eficácia em satisfazer uma necessidade do consumidor). Hoje, além de trabalhar com o produto ou serviço em si, a peça publicitária ainda pode se referir à própria organização, associando seus valores e seus diferenciais de mercado a este meio de comunicação, como forma de se apresentar ao público consumidor. As notícias corporativas são desenvolvidas de acordo com as informações que são transmitidas pela organização para a imprensa. Esta, por sua vez, repassa os dados obtidos para a sociedade em geral. Tais notícias dizem respeito às realizações da empresa, assim como às medidas que venham a ser tomadas no caso de um lançamento de produto ou nas resoluções de uma crise. Tal mídia é gerada pela assessoria de imprensa da organização em questão, que pode trabalhar com o press-release ou a mídia espontânea. 37 O press-release é uma notícia curta e específica sobre a organização, com enfoque voltado ao que se deseja informar. A mídia espontânea por muitas vezes não é espontânea, mas sim planejada pela assessoria de imprensa para promover a organização, por meio de uma notícia referente a uma realização organizacional de destaque. O atendimento ao consumidor, os sites e a pesquisa de opinião, estão voltados ao público externo, em geral, com foco específico para os consumidores. O atendimento ao consumidor pode contar com um serviço específico por telefone, o Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), já que a relação entre organização e consumidor não termina no ato da compra, mas pode continuar em um serviço de troca ou assistência do produto, por exemplo. A pesquisa de opinião é o procedimento de verificar se a opinião do consumidor em relação a alguma realização da organização (produto, serviço ou imagem institucional), pode ser efetivada por meio de dados obtidos com o próprio SAC, dos sites ou ainda com uma pesquisa específica, dependendo da necessidade organizacional quanto a questões referentes a uma determinada atividade ou departamento. Contudo, os meios mais eficazes para garantir a participação dos colaboradores nas realizações organizacionais, bem comopara a divulgação positiva da instituição para com a sociedade, são os meios de comunicação interna. Podem ser citados, por exemplo: como interno, o mural de notícias, o jornal e a rádio; a revista institucional e a Intranet. O mural de informações é um quadro, fixado a uma parede, normalmente de um corredor ou local com alto fluxo de transeuntes. Seu tamanho é de acordo com o tamanho do local em que estará fixado. Quanto mais colaboradores transitarem e quanto maior for o ambiente, mais o mural terá de chamar a atenção com suas cores, tamanho e diagramação (forma como as informações se encontram dispostas no recurso em questão). 38 O jornal interno e a revista institucional são elaborados com o mesmo formato dessas mídias convencionais, mas com notícias que dizem respeito aos acontecimentos relevantes da organização. Pode até conter notícias que façam referência ao contexto político, econômico ou sociocultural, mas com enfoque nos dados estatísticos, as metas, as conquistas e os responsáveis por elas. Também são divulgados os eventos realizados pela organização. TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação: de que forma você acredita que a retórica possa ser usada em diversos momentos do contexto sociocultural? Você verifica algum modo eficaz da mensagem a ser passada ao leitor ou ouvinte? E quanto a informações falsas, as mesmas podem ser transmitidas a partir de ideias apresentadas de forma atraente e com riqueza de vocabulário, tendo como base as técnicas pertinentes à retórica e à oratória? Outra comunicação interna muito utilizada é a rádio interna, que obedece aos padrões de uma estação de rádio convencional, trabalhando muitas vezes com uma programação similar, de músicas a anúncios. Os acontecimentos internos são o foco dessa mídia, voltada principalmente a destacar aos colaboradores fatos e realizações diárias no âmbito organizacional. A Intranet é uma mídia interna com grandes potencialidades para a transmissão de informações. Funciona praticamente como a Internet, no que se refere à propagação de informações e ao modo de navegação, mas seu conteúdo é restrito a alguns sites ou apenas ao site da organização, bem como aos relacionados às realizações diárias 39 do colaborador (como site de notícias e/ ou pesquisa). Trata-se de um recurso de comunicação muito difundido, inclusive devido ao modo de operação ter como base os recursos da Internet. Discutindo-se a importância de cada mídia, pode-se verificar que os usos são específicos, de acordo com o alcance, o número de pessoas e a mensagem a ser propagada. Dentre as especificidades, também podem ser consideradas a apresentação da mídia e a forma pela qual será distribuída no ambiente organizacional. As considerações em torno dos gêneros textuais, produzidos no contexto do mercado de trabalho, abrem espaço para que sejam analisados os textos mais comuns, elaborados tanto na Literatura quanto na área do Jornalismo. Deve-se compreender que, se os textos organizacionais são elaborados para o público externo e interno destas instituições, há também outras formas textuais que garantem a veiculação de importantes conteúdos para outros âmbitos da sociedade. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Podem ser citados como exemplos de meios de comunicação interna, exceto: a. Mural de notícias. b. Jornal interno. c. Revista institucional. d. Rádio interna. e. Internet. 2. Conjunto de técnicas relacionadas à escolha de vocabulário e de ideias pertinentes à elaboração de um discurso eficaz: 40 a. Marketing. b. Retórica. c. Intranet. d. Organização. e. Filosofia. 3. Elemento formado por técnicas que permitem a escolha pertinente de elementos não verbais ao discurso: a. Comunicação. b. Mitologia. c. Oratória. d. Cultura. e. Ruído. Referências bibliográficas BAKHTIN, Mikhail. Os Gêneros do Discurso. Rio de Janeiro: 34, 2015. CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 2005. ___________. O Herói de Mil Faces. São Paulo: Cultrix, 2003. HUIZINGA, J. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva, 2000. MATTELART, Armand; MATTELART, Michèle. História das teorias da comunicação. São Paulo: Edições Loyola, 1999. VYGOTSKY, L. S. Psicologia Pedagógica. São Paulo: Martins Fontes, 2001. Gabarito Questão 1 – Resposta E. Resolução: Apenas a Internet não corresponde a uma produção textual pertinente à comunicação interna das organizações. 41 Questão 2 – Resposta B. Resolução: Retórica é o conjunto de técnicas que permite a escolha efetiva de ideias e de vocabulário para um discurso. Questão 3 – Resposta C. Resolução: Oratória é o conjunto de técnicas que auxiliam o reforço da mensagem transmitida por meio de um discurso. 42 ll►. Recursos Expressivos em Diferentes Textos Autor: Carlos Eduardo Damian Leite Objetivos • Analisar os principais aspectos da linguagem. Compreender o uso da língua como integradora social e formadora de identidade. Verificar o uso da linguagem como recurso expressivo e formador de diferentes textos, com enfoque no contexto sociocultural contemporâneo. 43 1. Aspectos do aprendizado e uso da linguagem Considerando-se os aspectos relevantes ao desenvolvimento do indivíduo de acordo com as capacidades biológicas e psicossociais, é importante analisar as concepções de Jean Piaget (1996)1, teórico cujo foco de pesquisa foi o desenvolvimento cognitivo, de acordo com períodos específicos juntamente dos estímulos exteriores e interiores. Isso com base nos estudos realizados pelo teórico, denominada Teoria da Epistemologia Genética, afirmando que a criança possui etapas de desenvolvimento específicas. Para o autor, tais etapas consistem em períodos definidos pela idade dos indivíduos, marcando o desenvolvimento cognitivo dos mesmos. São quatro períodos: o sensório motor (0 a 2 anos); o pré-operatório (2 a 7 anos); o das operações concretas (7 a 12 anos); o período das operações formais (12 anos completos em diante). Os três primeiros períodos são essenciais para a constituição do indivíduo, pois no sensório motor é o período onde o indivíduo tem um conhecimento primitivo de mundo, de acordo com suas necessidades vitais e instintos, no período pré-operatório. Já se iniciam novos conceitos, como o autoconhecimento, a imitação, um novo olhar de mundo, embora ainda não saiba o conceito de regras, onde são inicialmente construídas as noções da moral, da obediência, embora ainda não respeitem regras, pois o indivíduo ainda não possui um juízo definido, uma moral positivada, segundo Piaget (1996)2. Diante dessas considerações, pode-se compreender, a partir de Piaget (1996) que, a partir dos doze anos, a linguagem atua no desenvolvimento dos indivíduos como forma de estabelecer o convívio social, seja no âmbito familiar, escolar ou comunitário, bem como fortalece as concepções referentes à moral, inclusive por meio de testes, 1 PIAGET, J. A Construção do Real na Criança. 3. ed. São Paulo: Ática, 1996. 2 PIAGET, J. A Construção do Real na Criança. 3. ed. São Paulo: Ática, 1996. 44 como enfrentamentos ao comportamento considerado padrão – tão comuns em meio à rebeldia dos quinze, dezesseis e dezessete anos. Mediante esse pensamento, é confirmada a premissa de Piaget (1996) sobre apenas no período das operações concretas serem definida a moral, a ética do indivíduo em formação, iniciando-se a aquisição de regras, o que vai, paralelamente, ao encontro dos estímulos midiáticos. Ainda falando da teoria de Piaget (1996), tem-se os conceitos de assimilação e acomodação, onde fica claro como funciona a influência da leitura de mundo nas crianças: a assimilação consiste em uma nova informação, como se o cérebro fosse um sistema de fichas onde é inserida uma ficha nova. Todo esse sistema então é modificado e a acomodação seria a internalizaçãoda nova informação que processada dentro desse sistema, no caso o cérebro da criança, se torna um conceito ou até mesmo uma vontade. Isso significa dizer que o desenvolvimento humano diz respeito à relação que o sujeito estabelece com o objeto a ser devidamente contemplado e analisado. Tal ação torna comum a convivência homogênea entre os indivíduos e é necessária a busca por uma moral que respeite tal convívio, uma vez que tais apelos são internalizados. Ao serem verificadas outras concepções acerca do aprendizado, complementado pelo uso das novas tecnologias e a aplicação das mesmas no contexto educacional, é valiosa a contribuição do filósofo contemporâneo Pierre Lévy (1993)3 e a formação, em escala global, de um fenômeno cognitivo e sociocultural que ele denomina Inteligência Coletiva. O filósofo diz que o ser humano, por meio das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), se conecta ao mundo pelo contato, pela interação geral. “As fronteiras são as ruínas, ainda de pé, de um mundo em revolução. (...) O verdadeiro destino do homem é ser um planetário, participando ativamente da inteligência coletiva de sua espécie” (LÉVY, 1993, p. 03)4. 3 LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: 34, 1993. 4 LÉVY, P. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: 34, 1993. 45 Nessa sociedade, a educação permanente será um imperativo, no que se refere ao aprendizado efetivo e valorizado, surgindo assim um novo tipo de homem: o homo studiosus, que é a realização de um dos mais velhos sonhos humanistas, o homo universalis. “O homem universal, ou aquele que está munido de uma instrução completa e em condições de mudar de profissão e, portanto, também de posição no interior da organização social do trabalho” (LÉVY, 1993, p. 33-34). O autor ainda caracteriza o homem como ser social, fruto de uma comunidade que provoca efeitos no pensamento e no agir deste por meio da linguagem, pelo sistema de valores, pelas relações sociais. Vê-se a tecnologia, contribuindo para o aumento e a modificação das capacidades cognitivas do homem (LÉVY, 1993). A planetarização de Lévy descreve um fenômeno que se relaciona com a transformação do espaço e do tempo. Um fenômeno também relacionado com o surgimento de novos meios de comunicação, em que a diversão se confunde com a aprendizagem e novas formas de aprender aderem à ideia da “educação-entretenimento” (LÉVY, 1993). A entrada do computador na sala de aula, principalmente na contemporânea sociedade da informação, trouxe questões que dizem respeito não só ao uso das TICs, como, principalmente, sobre outros procedimentos relacionados à efetividade da educação. A questão é definir qual tecnologia é utilizável na educação, na convicção de que seu uso deve ser acompanhado da reflexão sobre a mesma. Determinar a importância desta ou daquela tecnologia, em termos de ajudar o aluno na construção do conhecimento, tem sido uma preocupação recorrente dos educadores. Diante das concepções de Lévy e da relevância na definição do uso das TICs na educação, verifica-se que o professor deve assimilar, com relação às suas técnicas, o papel de mediador entre o conhecimento 46 ~ científico e o aluno – sendo que a Inteligência Coletiva só se desenvolve a partir da colaboração entre os envolvidos. Isso significa que o docente deve estar atento às formas pelas quais o estudante deve assimilar as informações, com a devida análise crítica das fontes de pesquisa e dos conteúdos difundidos, como também desenvolvê-las e divulgá-las, a fim de apresentar sua colaboração na propagação virtual do conhecimento. Desse modo, a figura docente vem a ser responsável não apenas por aplicar as TICs no estímulo do processo de ensino aprendizagem, a partir da compreensão da Inteligência Coletiva, mas também de incentivar a inserção do aluno na cultura digital, a partir do momento em que este reconhece seu papel na elaboração e divulgação de conteúdos por meio da Internet. 2. Geração de textos O texto é produzido no contexto sociocultural a fim de que se reflitam as ideias e valores de uma sociedade, a partir do momento em que a mesma deseja efetivar a propagação por diversos grupos étnicos, reunindo indivíduos de diferentes idades, nível de escolaridade e socioeconômico. Um texto pode ainda ser produzido por meio da denotação, que é o significado diretamente relacionado à palavra ou sentença apresentada; e/ ou da conotação, que é o significado secundário, gerado por outros empregos que a palavra ou sentença apresentada possa ter. PARA SABER MAIS ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso. Campinas, SP: Papirus, 2010. 47 Nessa obra, a autora apresenta características básicas da formação do discurso enquanto texto grerado em ocasiões específicas, bem como as formas com que o mesmo pode ser analisado, diante dos significados propostos por aquele que o elabora. Segundo Orlandi (2010)5, o discurso deve ser analisado enquanto produção textual gerada em um determinado contexto, isto é, produzido de acordo com a historicidade em que o seu emissor se baseia para gerar as informações que deseja repassar ao seu público. Pode-se empregar elucubrações diversas, mas a perspectiva individual é sempre pautada no momento presente. ASSIMILE São várias as possibilidades de interpretação em torno do texto gerado, inclusive quando se percebe que o mesmo consiste em um discurso, pois está associado à linguagem verbal e não verbal. Já na modalidade escrita, os recursos empregados são voltados ao estímulo da imaginação do leitor, no que se refere a sua função. Por exemplo, ao se tratar de uma narrativa, os detalhes do ambiente e dos personagens devem ser descritos com detalhes, a fim de que o enredo seja ricamente apresentado. A partir da interpretação de falas, gestos e outras sutilezas do cotidiano, inseridos no contexto da cultura e da sociedade, pode-se analisar o discurso por completo: além de compreender as características do âmbito sociocultural, também se descobre, com a devida observação e análise 5 ORLANDI, Eni P. Análise de Discurso. Campinas, SP: Papirus, 2010. 48 de seu cotidiano, quais os elementos que mais chamam a atenção dos indivíduos, enquanto receptores, seja na modalidade oral ou escrita. Na arte, em geral, não são poucas as vezes que se estabelece a lição de criação artística por meio da própria linguagem empregada, isto é, não são poucas as vezes que um texto é utilizado para se delinear a maneira como se pode, ou deve, construí-la. Da mesma maneira, há registros delimitando os limites formais da construção textual. A teoria da comunicação nomeia tal qualidade como metalinguagem, de modo que a base para tal conceito fora expressada por Roman Jakobson definindo que a interpretação de um signo linguístico por meio de outros signos da mesma língua, sob certo aspecto homogêneos, é uma operação metalinguística. “O recurso à metalinguagem é necessário tanto para a aquisição da linguagem como para seu funcionamento normal”. (JAKOBSON, 2007, p. 78)6 Os gêneros textuais começam a fazer parte da cultura por meio de ações de criação de textos voltados à exposição de fatos (notícias e artigos de opinião), descobertas científicas (artigos, monografias, dissertações e teses), aos ideais poéticos e artísticos (poesias), às narrativas fictícias (romances) e não fictícias (contos e biografias). As questões relacionadas ao contato com as novas tecnologias ganharam uma nova importância, principalmente, após a devida reestruturação da cultura de comunicação, por meio de criações de políticas de comunicação nas mídias sociais. A partir da criação de uma autêntica cultura de comunicação, com a consequente valorização dos conteúdos apresentados, com a adoção de atributos fundamentais, por sua vez, à cultura organizacional, tais como profissionalismo,ética, transparência, dinamismo, criatividade e exercício pleno da cidadania, o relacionamento entre escritores, jornalistas e pesquisadores com seus públicos ganhou um novo patamar, refletindo-se em novas iniciativas por parte, inclusive, dos indivíduos. 6 JAKOBSON, R. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 2007. 49 3. O aprendizado pelos textos Se forem considerados os aspectos socioculturais, como a linguagem e o simbólico, faz-se relevante o uso da obra de Vygotsky (2001)7, pois o autor aponta como características de seu terceiro pressuposto, o sociointeracionista, a adoção do simbólico na interpretação da realidade e na apreensão de informações, capacidade humana possível apenas graças à plasticidade do cérebro (propriedade que lhe permite a adaptação em relação ao meio e ao conhecimento constantemente apreendido e inovado). Ainda segundo Vygotsky (2001), a partir das características observadas e das experiências obtidas, as informações apreendidas no mundo, em objetos, seres e fenômenos da natureza, são adaptadas para a representação simbólica, por meio da qual o que é estudado ganha uma denominação específica, para que sejam reconhecidos pelos demais seres humanos. Dante (2006)8 comenta que na área específica da alfabetização e letramento, os professores elaboram suas propostas pedagógicas sem reconhecer as potencialidades de seus alunos e, assim, não conseguem perceber “quais são os caminhos que eles aprendem com mais facilidade, ou ainda, não sabem detectar quais as razões que impedem alguns alunos de aprender” (DANTE, 2006, p. 59). Devido ao fato do professor, muias vezes, não compreender os diferentes mecanismos utilizados pelo aluno para aprender, acaba por rotulá-lo de incompetente. A partir do momento em que tais interpretações simbólicas são reunidas e utilizadas como um conjunto de combinações, surge a linguagem dentro de um sistema linguístico específico, de acordo com particularidades de cunho sociocultural. Tal colocação ganha importância na concepção de 7 VYGOTSKY, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 8 DANTE, Luiz R. Didática na Pré-Escola – Série Educação. São Paulo: Ática, 2006. 50 Wallon (2010)9, inclusive quando a linguagem é valorizada pelo professor sujeito desse trabalho, como elemento base do desenvolvimento do educando, em conjunto do reconhecimento desse em relação à sua capacidade e da forma como pode se expressar e/ ou se posicionar em determinadas situações ou contextos socioculturais. Surge então a necessidade de ampliar as vias educacionais, visando interagir com múltiplos meios de influências e linguagens diversificadas, com base no mundo tecnológico, proporcionando ao aluno com deficiência auditiva recursos que contribuam para seu aprendizado de forma prazerosa e lúdica. A aprendizagem é um processo constante e contínuo, não acontece de uma só vez, mas ocorre ao longo de nossas vidas em fases, em ciclos. É o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maturo, que se expressa, diante de uma situação- problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência (WALLON, 2010)10. TEORIA EM PRÁTICA Reflita sobre a seguinte situação: um texto possui mais importância do que o outro? Um gênero possui relevância maior ou menor quando comparado com outros? Por quê? Mais do que objetos de conhecimento, segundo Vygotsky (2001)11, as linguagens são meios para o conhecimento. O homem conhece o mundo por meio de suas linguagens e de seus símbolos. À medida que se torna mais competente nas diferentes linguagens, torna-se mais capaz de conhecer a si mesmo, sua cultura e o mundo em que vive. Com base nessa perspectiva, na escola, os estudos na área desenvolvem o 9 WALLON, H. Concepção Dialética do Desenvolvimento Infantil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. 10 WALLON, H. Concepção Dialética do Desenvolvimento Infantil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010. 11 VYGOTSKY, L. S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 51 conhecimento linguístico, musical, corporal, gestual, das imagens, do espaço e das formas. Esse conhecimento deve partir dos interesses dos indivíduos, de suas necessidades imediatas e do meio em que vivem, cabendo ao professor priorizar as habilidades naturais de cada faixa etária educacional, com atividades lúdicas que estimulem o desenvolvimento das habilidades de observação e análise, a fim de que seja feita a exploração do contexto em que vivem. Ao entrar na escola, os conhecimentos começam a ser aprofundados e organizados a partir de situações propícias para que as crianças ponham em prática os conhecimentos que possuem e, consequentemente, os ampliem. Com a leitura, inclusive, todos os principais conhecimentos são apreendidos e devidamente analisados. Para ter concretizado essa proposta, acredita-se ser necessário criar contextos didáticos que considerem e explorem os saberes dos estudantes a respeito dos conteúdos que aprenderão. Ao concluir esse trabalho sobre proposta de alfabetizar por meio da contação de histórias, ficou registrada a certeza de que essa proposta é fundamental para o desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Destaca-se o quanto é importante e necessário o professor despertar no aluno, em todas as áreas do conhecimento, interesse, criatividade e gosto, tendo em vista que o pensamento é expresso por palavras, gestos, oralidades, que se transforma em escrita. É preciso que possibilite ao educando momentos de leitura com prazer, interesse, crítica, e que o mesmo adquira o hábito de ler durante toda vida. A Educação precisa oferecer conhecimento que possibilite ampliar e explorar o interesse discente, relacionando as atividades de ensino com a curiosidade dos alunos, valorizando suas ideias espontâneas. É necessário que se recrie o método de ensino de forma que as novas 52 tecnologias sejam utilizadas pelos alunos como recursos voltados à construção efetiva do saber. Em meio às questões que surgem, o docente logo pode compreender seu papel de mediar as informações encontradas e o modo como as mesmas serão processadas, transformadas em conhecimento e apreendidas, para que todos tenham a chance/ oportunidade de se expressar, questionar o que já está aparentemente determinado, para que o aprendizado siga em processo valioso e contínuo. A cultura oral compreende a forma pela qual os conhecimentos são transmitidos por meio da fala, de geração para geração, sendo a forma pela qual muitos registros históricos, filosóficos e culturais puderam ser mantidos até os dias atuais. VERIFICAÇÃO DE LEITURA 1. Como pode ser definida a Inteligência Coletiva? a. Elaboração de conhecimentos científicos, gerados por grupos de renomados teóricos. b. Elaboração e difusão de conhecimentos variados de toda a sociedade, por meio de recursos presentes nas novas tecnologias. c. Elaboração de conhecimentos variados, por um número restrito de pesquisadores. d. Elaboração e difusão de conhecimentos científicos, por meio de sites de busca. e. Elaboração e difusão de conhecimentos científicos, por meio das redes sociais. 53 2. Assinale a alternativa que completa a premissa de Pierre Lévy (1993): O verdadeiro destino do homem é ser um ____________, participando ativamente da __________________________ de sua espécie. a. Planetário/ Inteligência Coletiva. b. Solitário/ Inteligência Coletiva. c. Planetário/ Inteligência Absoluta. d. Planetário/ Inteligência Individual. e. Solitário/ Inteligência Extrema. 3. O que vem a ser, segundo Lévy (1993), a união entre diversão e aprendizagem? a. Educação Entrosada. b. Educação Divertida. c. Educação Espetáculo. d. Educação Entretenimento. e. Educação Infantilizada. Referências bibliográficas DANTE, Luiz R. Didática na Pré-Escola
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