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PÓS GRADUAÇÃO EM Shutterstock. ID: 236774299 ACESSIBILIDADE, DIVERSIDADE E INCLUSÃO Copyright © 2022 Editora Futurecer Rua XV de Novembro, 1609 CEP 83601-030 - Campo Largo - PR Telefone (41) 3539-7341 CONDIÇÕES ERGONÔMICAS E MOBILIDADE Sh ut te rs to ck . ID : 16 72 94 65 8 CONDIÇÕES ERGONÔMICAS E MOBILIDADE AULA 1: ERGONOMIA Prof.a Malva V. A. Ouriques CONVERSA INICIAL O objetivo da disciplina de Condições Ergonômica e Mobilidade é discutir a mobilidade e a acessibili- dade do ponto de vista da Ergonomia e do Desenho Universal. Os princípios do Desenho Universal norteiam a NBR 9050/2020, que visa estabelecer normas e critérios técnicos a serem observados na elaboração de pro- jetos de edificações, mobiliários e equipamentos urbanos que garantam acessibilidade ao maior nú- mero possível de pessoas, independente de idade, estatura ou limitação de mobilidade ou percepção. Um bom conhecimento a respeito da Ergonomia e Antropometria se faz necessário para melhor com- preensão dos princípios do Desenho Universal e aplicação da NBR 9050/2020. A Ergonomia é a disciplina que estuda as interações humanas com o ambiente e os objetos, a fim de que ocorram de forma segura, confortável e eficiente. Esta aula propõe discutir o conceito de Ergonomia, apresentar sua evolução ao longo da história e sua importância para a sociedade, bem como, sua rela- ção com a Antropometria, ciência responsável pelas questões relacionadas às dimensões do corpo hu- mano. CONTEXTUALIZAÇÃO Os avanços sociais e tecnológicos vividos pela socie- dade moderna causam mudanças significativas no dia a dia das pessoas, as relações do homem com a tecnologia, trabalho, moradia e espaços urbanos exigem constante adaptação. Estima-se que hoje cerca de 85% da população bra- sileira habite os espaços urbanos. Os avanços da medicina e o aumento da expectativa de vida está possibilitando que as pessoas vivam mais, mesmo apresentando alguma dificuldade, seja ela física ou cognitiva, o que exige maior acolhimento e adapta- ção da sociedade, do ponto de vista físico e social. A Ergonomia se preocupa com o entendimento das habilidades, necessidades e limitações do indiví- duo, dessa forma, sua colaboração nos mais diver- sos ramos como arquitetura, engenharia, design etc, na concepção de projetos ligados a mobilidade e acessibilidade só vem a colaborar para o desenvol- vimento de uma sociedade mais acolhedora e livre de barreiras. TEMA 1 – A IMPORT NCIA DA ERGO- NOMIA PARA SOCIEDADE A Ergonomia, também conhecida como Fatores Hu- manos (Human Factors), nasceu com a necessidade de estudar as relações do homem com o trabalho tendo como objetivo melhorar a eficiência e reduzir os danos ao trabalhador. O olhar ergonômico reti- rou o foco da máquina e o lançou para o indivíduo. A análise ergonômica das suas capacidades e habi- lidades humanas, movimentos e postura durante a realização das tarefas e tomadas de decisões permi- tem as corretas adaptações de máquinas e espaços. O avanço das novas tecnologias, suas questões cog- nitivas e afetivas, e o aumento das preocupações da sociedade com a qualidade de vida das pessoas trouxe para a Ergonomia uma abordagem mais am- pla. Para Dul e Weerdmeester (2012) muitas situações do trabalho e vida cotidiana podem ser prejudiciais à saúde. Essas situações podem estar ligadas a proje- tos mal desenvolvidos, uso incorreto de equipamen- tos etc. A Ergonomia pode colaborar com estudos voltados à melhora de desempenho e prevenção de erros, trazendo soluções para grande parte dos pro- blemas sociais relacionados com saúde, segurança, conforto e eficiência. Para Buarque e Iida (2016) a Ergonomia estuda os diferentes fatores que influenciam o desempenho do sistema produtivo e procura reduzir as consequ- ências nocivas desse sistema sobre o trabalhador, procurando reduzir fadiga, estresse, erros e aciden- tes, tendo por objetivo básico preservar a saúde, se- gurança, satisfação, eficiência e produtividade dos trabalhadores. A saúde e a segurança estão amparadas quando as capacidades e limitações do trabalhador são res- peitadas. As atividades laborais, os equipamentos e ambientes de trabalho devem ser projetados res- peitando os limites fisiológicos e cognitivos e com a intenção de evitar as situações de fadiga, estresse, acidentes e doenças ocupacionais a curto e longo prazo. A satisfação é atendida quando se proporciona ao trabalhador a sensação de segurança, conforto e bem-estar através do atendimento de suas necessi- dades e expectativas. Apesar das questões subjetivas que envolvem a sensação de satisfação, situações pontuais como ambientes físico e social saudáveis, treinamento contínuo visando a possibilidade de crescimento pessoal e profissional, remuneração justa e programas de incentivo a promoção e carrei- ra colaboram para a satisfação e, consequente, au- mento do engajamento, produtividade e comporta- mentos mais seguros dos trabalhadores. A eficiência e produtividade devem ser vistas como uma consequência das ações empregadas. São re- sultado de um bom planejamento, organização do trabalho, emprego de tecnologias e disseminação do conhecimento e devem ser tratadas sempre com muita cautela para que não impliquem na adoção de práticas que comprometam a segurança e saúde. A Ergonomia evoluiu e cresceu junto com a socie- dade passando a contribuir com o desenvolvimento e melhoria de projetos ligados a diversos setores: ambientes de trabalho, ambientes organizacionais, desenvolvimento de produtos, desenvolvimento de sistemas, espaços, mobilidade e acessibilidade. Podendo estar presente em todas as etapas do de- senvolvimento projetual, desde a pesquisa e o pla- nejamento, passando pelo acompanhamento e, fi- nalmente, avaliação e análise dos resultados. A ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia) adota, desde 2000, a definição da IEA – International Ergonomics Association (Associação Internacional de Ergonomia): “Ergonomia (ou Fatores Humanos) é a disciplina científica que trata da compreensão das interações entre os seres hu- manos e os outros elementos de um sistema, é a profissão que aplica teorias, princípios, dados e métodos, a projetos que visam otimizar o bem-estar humano e a performance global dos sistemas. Os praticantes da Ergonomia - Ergono- mistas - contribuem para o planejamento, projeto e avalia- ção de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas para torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas.” Ainda dentro das definições da IEA é possível desta- car três distintas áreas de domínio, conforme descri- to por Falzon (2007): “Ergonomia física: trata das características anatômicas, an- tropométricas, fisiológicas e biomecânica do homem em sua relação com a atividade física. Os temas mais relevantes compreendem as posturas de trabalho, a manipulação de objetos, os movimentos repetitivos, os problemas osteo- musculares, o arranjo físico do posto de trabalho, a seguran- ça e a saúde.” “Ergonomia cognitiva: trata dos processos mentais, tais como a percepção, a memória, o raciocínio, e as respos- tas motoras, com relação às interações entre as pessoas e outros componentes de um sistema. Os temas centrais compreendem a carga mental, os processos de decisão, o desempenho especializado, a interação homem-máquina, a confiabilidade humana, o estresse profissional e a forma- ção, na sua relação com a concepção pessoa-sistema.” “Ergonomia organizacional: trata da otimização dos siste- mas sociotécnicos, incluindo sua estrutura organizacional, regras e processos. Os temas mais relevantes compreendem a comunicação, a gestão dos coletivos, a concepção do tra- balho, a concepção dos horários de trabalho, o trabalho em equipe, a concepção participativa, a ergonomia comunitá- ria, o trabalho cooperativo, as novas formas de trabalho, a cultura organizacional, as organizações virtuais, o teletraba- lho e a gestão pela qualidade.” Os estudos ergonômicosestão sempre voltados para as necessidades, habilidades e limitações do indivíduo, sejam elas físicas ou cognitivas, objetivan- do adequar as tarefas para se obter máximo desem- penho e produtividade com mínimo risco e dano. Falzon (2007) descreve dois objetivos bastante dis- tintos para a Ergonomia. O primeiro, centrado nas organizações e seu desempenho, que resulta em eficiência, produtividade, confiabilidade, qualida- de, durabilidade. O segundo, centrado no indivíduo, que visa a segurança, saúde, conforto, satisfação e interesse pelo trabalho, entre outros. Rebelo (2017) define para a Ergonomia dois âmbitos de intervenção bem distintos: a Ergonomia de Pro- dução e a Ergonomia de Produto. A primeira, vol- tada para as condições de trabalho, necessidades, características e limitações dos trabalhadores, em nível organizacional, físico e ambiental. O segundo, associado ao design de produtos, desde a etapa ini- cial de conceituação, passando pelas etapas de pro- dução, comercialização e consumo. Linden (2007) acredita que o papel da Ergonomia, que vem se ampliando ao longo dos anos, teve iní- cio com foco nas relações homem-máquina dentro dos sistemas industrial e militar e hoje se envolve com diferentes áreas e saberes ligados ao desenvol- vimento de: • produtos: Design e Engenharia de Produto; • processos: Engenharia de Produção, Administra- ção, Psicologia do Trabalho; • ambientes: Arquitetura, Engenharia de Seguran- ça; A fim de que esses venham a ser mais seguros, con- fortáveis e que alcancem o maior número possível de pessoas. Por ter nascido dentro das áreas de indústria e mili- tar a Ergonomia ainda encontra seus estudos e con- ceitos muito enraizados nas dinâmicas laborais e na vida do trabalhador. Porém, as notórias contribui- ções ergonômicas para os demais campos da socie- dade vêm, aos poucos, quebrando esse paradigma. São crescentes os estudos e publicações que afir- mam um novo e mais amplo papel dessa disciplina. TEMA 2 – HISTÓRICO A evolução da Ergonomia é marcada por eventos bastante importantes ocorridos ao longo da história. O pensamento ergonômico acompanha o homem desde a pré-história, estando sempre ao seu lado, se adaptando e procurando atender suas necessida- des frente às mudanças sociais e tecnológicas. 2.1 Pré-história A forma rudimentar que os homens pré-históricos moldavam seus utensílios de caça e as peles que os protegiam das intempéries climáticas já apre- sentavam, mesmo que de forma muito intuitiva e rudimentar, um pensamento ergonômico. Havia uma preocupação em moldar as armas de forma a se adequar a empunhadura. Pedras e ossos, que no início eram usados em sua forma bruta, com o tem- po passam a ser lapidadas. Essa forma intuitiva de moldar e construir os pró- prios objetos acompanhou o homem ao longo do tempo e foi evoluindo empiricamente conforme suas necessidades. No início tudo era construído de forma artesanal. O barro passou a ser utilizado para a construção de utensílios domésticos e fibras vegetais eram trama- das e percebidas como mais uma possibilidade de vestimenta. A descoberta do fogo trouxe ainda mais possibilida- des e o homem pode forjar o metal. A construção de instrumentos para auxiliar no plan- tio dos alimentos permitiu que o homem pudesse se fixar em uma terra. Surgem casas, vilas e cidades, e aumenta a necessidade por utensílios e espaços mais adequados ao novo modo de viver. 2.2 Revolução Industrial A primeira Revolução Industrial surgiu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e foi marcada pela descoberta da máquina a vapor. As produções, até o momento realizadas de forma artesanal, pas- sam a adquirir um caráter de manufatura. Mais velo- cidade permitindo maior produção. Temos como grande exemplo os teares manuais que foram substituídos pelos industriais, movidos à va- por, passando a ter uma produção muito mais ace- lerada de tecidos, suprindo as demandas de forma mais rápida e permitindo oferta mais diversificada. Porém as condições de trabalho eram muito precá- rias, marcadas por insalubridade, longas jornadas exaustivas de trabalho, grande número de aciden- tes e mortes. Cabia ao trabalhador se adequar ao maquinário e ao ambiente de trabalho que lhe era oferecido. Esse cenário chama a atenção de pensadores e in- ventores para as relações do homem com o trabalho e as linhas de produção. Nasce então a Ergonomia, não oficialmente batiza- da, mas já voltada para o pensamento das relações homem-máquina. 2.3 Grandes Guerras Durante a II Guerra Mundial (1939-1945), “o impul- so acelerativo das mudanças tecnológicas – avi- ões cada vez mais velozes e radares para detectar aviões inimigos, submarinos e sonares – colocam o homem em extrema pressão ambiental, física e psicológica. Exacerbando-se as incompatibilidades entre o humano e o tecnológico. Os equipamentos militares exigem dos operadores decisões rápidas e execução de atividades novas em condições críticas, que implicam quantidade de informações, novida- de, complexidade e decisões que envolvem risco para o homem e para o sistema.” É nesse cenário, tão bem descrito por Moraes e Mont’Alvão (2009), que engenheiros, psicólogos e filósofos se unem para estudar as inovações tec- nológicas desenvolvidas pela indústria bélica e de aviação na tentativa de adequá-las às características humanas físicas, cognitivas e psíquicas. Nesse mo- mento a Ergonomia, também chamada de Fatores Humanos, nasce como campo de saber específico e passa a estudar, discutir e publicar sobre o sistema homem-tarefa-máquina. 2.4 Segunda metade do século XX Segundo Buarque e Iida (2016), é nesse período que podemos observar quatro importantes fases bas- tante distintas pelas quais passou a Ergonomia. São elas: 1. 1950-1960: Por se tratar de uma fase pioneira, li- gada diretamente com o início das sociedades de Ergonomia e das primeiras publicações importantes da área, os estudos ainda estavam muito restritos ao binômio homem-máquina. Os especialistas da disciplina ainda não faziam parte de uma equipe de projeto, as ações tinham foco em problemas bastan- te específicos e as intervenções aconteciam sempre após a ocorrência do incidente. 2. 1970: Os estudos passam a considerar o sistema homem-máquina-ambiente. Nessa fase variáveis do meio ambiente como temperatura, ruído e ilu- minação passam a ser vistas também como fatores de influência na relação do homem com o trabalho. Também nessa fase o pensamento ergonômico vol- ta a atenção para o desenvolvimento de sistemas complexos de trabalho, não se tratava mais de ana- lisar apenas a operação das máquinas, mas qual a real participação humana no sistema e seu desem- penho. 3. 1980: Resultante do crescimento da informática e automação, esta fase se caracteriza pela necessida- de da Ergonomia de ocupar-se dos aspectos cogni- tivos que envolvem as ações humanas: percepção, processamento de informações e tomada de deci- sões. O homem deixa de apenas operar, mas pas- sa também a programar e controlar as máquinas e grande parte do trabalho físico e pesado é transfe- rido para elas. As novas formas digitais de armaze- namento e acesso às informações também modifi- caram as formas de trabalho permitindo e exigindo tomadas de decisão mais rápidas e mais eficientes. 4. 1990: Nessa fase a Ergonomia se expande ain- da mais, deixando de focar de individualmente so- bre o trabalhador e seu posto de trabalho passa a agir também sobre os aspectos organizacionais da empresa, passando a trabalhar definitivamente em equipe e colaborando também com a concepção de projetos e organização da produção, de forma mais permanente, integrada ao sistema produtivo e em nível mais estratégico. TEMA 3 – A ERGONOMIA NO BRASIL O ano de 1983 é um marco para a Ergonomia no Brasil. Nesse ano é fundada a ABERGO - Associação Brasileira de Ergonomia. Anterior a essa data, alguns cursos e eventos acadêmicos sobre o tema já eram realizados, o primeiro, em 1974 na cidade do Rio de Janeiro, nomeadoI Seminário Brasileiro de Ergono- mia, como descreve Bitencourt (2011). O Brasil ainda não dispõe de cursos superiores em Ergonomia, a formação do ergonomista se dá em nível de pós-graduação. Porém o número de pes- quisas e publicações científicas vem aumentando ao longo das últimas décadas e a disciplina de ergo- nomia está presente na grade curricular dos cursos superiores das áreas do Design, Arquitetura e Enge- nharia. Vale ressaltar as publicações por parte de órgãos re- gulamentadores, das normas e legislações nacionais que apresentam os conhecimentos ergonômicos consolidados na forma de documentos normativos. Esses documentos estabelecem regras e diretrizes descritas na forma de normas regulamentadoras, normas técnicas, especificações técnicas, códigos de prática e regulamentos. As Normas Regulamentadoras (NR) são utilizadas para fins de fiscalização e são elaboradas por ór- gãos do Governo Federal. O Ministério do Trabalho e Emprego possui 37 NRs, sendo a NR 17- Ergonomia, com última atualização vigente desde 03 de janei- ro de 2022 a que aborda especificamente os temas aqui discutidos. As Normas Técnicas, são de caráter não compulsó- rio e elaboradas pela Associação Brasileira de Nor- mas Técnicas (ABNT) instituição não governamental reconhecida pela ISO (International Organization for Standardization) e com a participação de pesqui- sadores, instituições de ensino, representantes do governo, fabricantes e consumidores. São muitas as normas técnicas que abordam questões voltadas à Ergonomia e que colaboram com diversos setores da sociedade como indústria, serviços, saúde, tra- balho, segurança, acessibilidade etc. TEMA 4 – PRINCIPAIS SETORES DE APLICAÇÃO DA ERGONOMIA Como foi descrito anteriormente, a Ergonomia se fir- mou como uma disciplina científica voltada à indús- tria e ao setor militar e aeroespacial. Com o tempo sua contribuição passou a ser aplicada em diversos outros setores como agricultura, construção civil, serviços, design e acessibilidade. Para isso é neces- sário ter sempre o usuário como parte importante do sistema, considerando suas características, ne- cessidades e limitações em contraponto às caracte- rísticas e restrições técnicas, ambientais e sistêmicas do setor. A expansão para outros setores além da indústria e militar exigiu uma busca por novos conhecimentos não só dos diferentes setores, mas também dos di- ferentes grupos populacionais presentes na socie- dade. 4.1 Indústria A colaboração da Ergonomia para a indústria se dá através do aperfeiçoamento do sistema homem- -máquina-ambiente, atenção aos aspectos físicos e cognitivos do trabalhador e da colaboração a nível organizacional e estratégico do trabalho. O aperfeiçoamento do sistema homem-máquina- -ambiente ocorre a partir de intervenções diretas nos postos de trabalho, projeções de máquinas e equipamentos e do controle das características do ambiente de trabalho no que diz respeito à ruído, temperatura, iluminação, vibração, gases tóxicos etc. A nível organizacional a Ergonomia se preocupa com as questões ligadas à fadiga, jornadas de traba- lho, motivação, treinamento e clima organizacional. 4.2 Militar Na área militar as colaborações ergonômicas ocor- rem a nível de aperfeiçoamento homem-máquina, visando a melhor adaptação do arsenal bélico e às características e limitações dos soldados. Os fatores ergonômicos físicos e cognitivos devem ser muito bem trabalhados, uma vez que as ativida- des militares apresentam altos níveis de estresse e velocidade para tomadas de decisão. 4.3 Agricultura, mineração, pesca e cons- trução civil São setores que envolvem tarefas de grande desgas- te físico e ainda muito sujeitas a acidentes e doen- ças ocupacionais, além de baixa remuneração e bai- xa qualificação. Os trabalhadores geralmente estão sujeitos a ambientes de trabalho aberto e expostos às variações climáticas. Já é possível identificar uma preocupação e ações no que diz respeito principalmente às questões de segurança, porém ainda há muito o que se fazer nes- ses setores quanto às questões ergonômicas de tra- balho. Nesse cenário a agricultura tem se mostrado como a área que apresenta mais pesquisas e ade- são às novas tecnologias e consequente avanços na área da Ergonomia voltada ao trabalhador. 4.4 Serviços O setor de serviços constituído pelo comércio, trans- porte, saúde, educação, beleza, tecnologia, seguran- ça, manutenção e lazer, entre outros, é o que mais cresce devido ao deslocamento da mão de obra oriunda da agricultura e indústria e do contínuo sur- gimento de novas profissões decorrentes dos avan- ços tecnológicos. Todo esse movimento exige forte contribuição da Ergonomia na concepção de projetos e organização de sistemas complexos ligados a centros de contro- le operacional, sistemas de informação e processa- mentos de dados. 4.5 Design O trabalho conjunto entre a Ergonomia e o Design tem se mostrado muito forte e eficiente. As contri- buições da Ergonomia para o Design no desenvol- vimento de produtos e projetos estão diretamente ligadas ao princípio da usabilidade e engloba as questões de conforto e eficiência. Para Buarque e Iida (2016) a usabilidade é definida por eficiência, facilidade, comodidade e segurança no uso dos pro- dutos. Produtos ou serviços com boa usabilidade garantem perfeita interação entre objeto, usuário, tarefa e ambiente. 4.4 Vida diária e acessibilidade O aumento da expectativa de vida, melhor acesso à alimentação e saúde e as políticas de inclusão tem propiciado aos idosos e pessoas com necessidades especiais uma participação maior no mercado de trabalho, esporte e lazer. Cada vez mais a Ergonomia tem colaborado com es- tudos ligados à mobilidade, transporte e acessibili- dade e tem voltado o seu olhar para as necessidades de grupos populacionais minoritários como idosos, crianças, obesos, pessoas com deficiência, entre ou- tros. TEMA 5 – APLICAÇÕES ERGONÔMICAS As aplicações ergonômicas podem ser implemen- tadas em diferentes etapas de um projeto e classi- ficam-se como: Ergonomia de Concepção, Ergono- mia de Correção, Ergonomia de Conscientização e Ergonomia de Participação. 5.1 Ergonomia de Concepção A intervenção ergonômica ocorre na etapa de de- senvolvimento do projeto, sendo ele de máquina, produto, ambiente ou sistema. Nessa fase as deci- sões são tomadas em situações hipotéticas, pois trabalha sobre o que ainda está sendo concebido. Pesquisa prévia, busca por situações semelhantes já implementadas e realização de protótipos físicos ou digitais, são requisitos importantes para minimizar os possíveis erros e alcançar bons resultados. 5.2 Ergonomia de Correção Aplicada com intenção de solucionar um problema real manifestado em uma máquina, produto, am- biente ou sistema já em atividade. Essa etapa exige levantamento de dados e análise in loco para de- tecção dos fatores causadores do erro, seguido da apresentação de soluções e acompanhamento da implementação das correções propostas. 5.3 Ergonomia de Conscientização Visa envolver e capacitar o trabalhador ou usuário na detecção e solução do problema, muitas vezes ligados a questões de manutenção e adaptação. A intervenção ergonômica ocorre na forma de treina- mento e capacitação e pode ser aplicada de forma individual ou coletiva, dependendo da situação. No caso de produtos, esta intervenção é feita através dos manuais de utilização dos equipamentos, que além de apresentarem as formas de montagem e manuseio, trazem possíveis problemas e soluções a serem aplicadas. 5.4 Ergonomia de Participação Procura trazer o trabalhador ou usuário para todas as etapas do desenvolvimento do projeto. Colabo- rando de forma ativa com as etapas de concepção, correção e conscientização. Os conhecimentos e práticas dos usuários dire- tos dos sistemas podem contribuir com sugestões, ideias e retroalimentação das informações ligadas ao uso no dia a dia. SAIBA MAIS Depois de discutir o alcance que a Er- gonomia tem no diaa dia das empre- sas, trabalhadores, consumidores e usuários, fica mais fácil perceber sua presença no nosso dia a dia. Você já pa- rou para pensar no estudo ergonômico necessário no desenvolvimento de pro- jetos ligados à mobilidade? Leia o estudo do ergonomis- ta Lindomar Tavares Bomfim que em 2008 realizou um levantamento das ca- racterísticas ergonômicas dos ônibus urbanos da cidade de Curitiba e sua relação com a acessibilidade, o estudo está disponível no link1. A Ergonomia de Participação colabora com os princípios do Design Centrado no Usuário e tem se mostrado muito valiosa em caso de proje- tos ligados a minorias populacionais, onde são abordadas necessidades e limitações muito es- pecíficas. A participação desses usuários em to- das as etapas de desenvolvimento, colaborando através dos relatos de suas experiências, tem se mostrado muito valiosa por trazer um ponto de vista mais específico e objetivo para a criação de produtos e sistemas com foco na acessibilidade. TEMA 5 – ANTROPOMETRIA Dentro da visão ergonômica, o homem e sua in- teração com os dispositivos são o foco central para o desenvolvimento de máquinas, produtos, ambientes e sistemas. Uma boa adaptação do produto exige que ele seja adequado às medidas do usuário, de forma mais precisa possível. Boueri (2008) define a Antropometria como “a aplicação de métodos científicos de medidas físi- cas nos seres humanos, buscando determinar as diferenças entre indivíduos e grupos sociais, com a finalidade de se obter informações utilizadas nos projetos de arquitetura, urbanismo, desenho industrial, comunicação visual e de engenharia, e, de um modo geral, para melhor adequar esses produtos a seus usuários”. A Antropometria colabora com a Ergonomia e com o Design através do estudo das medidas fí- sicas do corpo humano, sendo possível obter, de forma precisa, informações a respeito das medi- das médias de determinadas populações, bem como, suas variações, e estudos sobre os fatores determinantes das diferenças de medidas entre os indivíduos e grupos. Para Boueri (2008) o perfil antropométrico pode ser definido por idade, sexo, biótipo, etnia, capa- cidade física, ocupação ou atividade. Caracte- rísticas anatômicas e fisiológicas, inerentes aos seres humanos, determinam diferenças físicas de medidas, formas e desenvolvimento entre os corpos femininos e masculinos ao longo de toda a vida. Algumas atividades desenvolvidas em determinados períodos da vida podem influen- ciar na formação corporal, como nos casos das práticas esportivas. Diferenças antropométricas também podem ser observadas de acordo com a genética ou a etnia de determinado grupo popu- lacional. Outro fator relevante influenciador das medidas antropométricas é o acesso à alimenta- https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/34909/LINDOMAR%20TAVARES%20BONFIN.pdf?sequence=1 NA PRÁTICA Agora que você já tem bastante conhe- cimento sobre a importância da aplica- ção ergonômica no desenvolvimento de produtos, espaços e serviços, es- colha um dos cômodos da sua casa e faça um levantamento da disposição dos móveis, objetos e organização. Identifique 3 situações que você julga estarem bem adaptadas do ponto de vista ergonômico (facilidade de circula- ção, ambiente organizado, organização dos objetos armazenados em armários, prateleiras etc., objetos posicionados de forma acessível, iluminação) e 3 si- tuações que poderiam estar melhor adaptadas ergonomicamente (móvel ou objeto que atrapalhe a passagem ou circulação no ambiente, móveis ou objetos mal posicionados e de difícil acesso, iluminação, organização). Em seguida, discuta com outras pessoas que também utilizam o mesmo am- biente se elas concordam ou discor- dam da sua análise. ção, tanto a deficiência alimentar como o acesso indiscriminado podem resultar em variações sig- nificativas. A ABNT dispõe de normas técnicas que auxiliam no entendimento e realização de medições cor- porais, são elas: • NBR ISO 7250-1: 2010 - Medidas básicas do corpo humano para projetos técnicos; parte 1: definição de medidas corporais e pontos anatô- micos; Objetivo: fornecer descrição das medidas antropométricas que podem ser utilizadas como base para comparação de grupos populacionais. • NBR 15535:2015 titulada, Requisitos gerais para o estabelecimento de bases de dados antro- pométricos; Objetivo: fornecer requisitos gerais para bancos de dados antropométricos e os rela- tórios associados a estes que contenham medi- das tomadas em conformidade com a ABNT NBR ISO 7250-1, bem como, dispor das informações necessárias como características da população usuária, métodos de amostragem, itens de me- dição e estatística, para tornar possível a com- paração internacional entre diversos segmentos populacionais. São três os tipos de medidas que podem ser ob- tidas: as medidas estáticas, dinâmicas e funcio- nais. • As medidas estáticas são obtidas através da medição do corpo parado. A maioria das tabe- las de medidas disponíveis tratam das medidas estáticas do corpo, essa medição é realizada em pontos anatômicos específicos do corpo. • As medidas dinâmicas são obtidas através da medição de pontos anatômicos de segmentos corporais em movimento. Muito importante para obter medidas relativas ao alcance corporal. Sua aplicação associada às medidas estáticas tor- nam os projetos mais precisos uma vez que o corpo está em constante movimento durante a realização das tarefas. • Para projetos mais complexos, onde movi- mentos do corpo devem ser dimensionados de forma não segmentada, utiliza-se as medidas funcionais. Os estudos de medida funcional po- dem fornecer dados relativos à posição, veloci- dade, aceleração, alcance e força corporal. As medidas são obtidas no momento em que o cor- po realiza momentos específicos, escolhidos de acordo com o projeto para o qual se destina. REFERÊNCIAS ABERGO - Associação Brasileira de Ergonomia ht- tps://www.revistaacaoergonomica.org/revista/in- dex.php/ojs/article/view/305/300 ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas https://www.abntcatalogo.com.br BITENCOURT, F. Ergonomia e conforto humano: uma visão da arquitetura, engenharia e design de interiores. 1ª edição. Rio de janeiro: Rio Book’s, 2011. BOUERI, J.J. F. Antropometria aplicada à arquitetu- ra, urbanismo e desenho industrial. 1ªedição. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2008. BUARQUE, L. IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 3ª edição. São Paulo: Blucher, 2016 DUL, J.; WEERDMEESTER, B. Ergonomia Prática. 3ª edição. São Paulo: Blucher 2012. FALZON, P. Ergonomia. São Paulo: Editora Blucher, 2007. LINDEN, J. V. Ergonomia e design: prazer, conforto e risco no uso de produtos. Porto Alegre: UniRitter Ed., 2007. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO – NR 17 https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/ composicao/orgaos-especificos/secretaria-de-tra- balho/inspecao/seguranca-e-saude-no-trabalho/ ctpp-nrs/norma-regulamentadora-no-17-nr-17 MORAES, A.; MONT’ALVÃO, C. Ergonomia: conceitos e aplicações. 4ª edição. Rio de Janeiro: 2AB, 2009. REBELO, F. Ergonomia no dia a dia. 2ª edição. Lis- boa: Edições Sílabo, 2017. LINKS 1. https://acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/34909/ LINDOMAR%20TAVARES%20BONFIN.pdf?sequence=1 PÓS GRADUAÇÃO EM ACESSIBILIDADE, DIVERSIDADE E INCLUSÃO CONDIÇÕES ERGONÔMICAS E MOBILIDADE