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ERGONOMIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO Dulce América de Souza Fatores humanos no trabalho Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Relacionar o papel do ser humano com o papel das máquinas. Aplicar o design ao espaço de trabalho. Avaliar o impacto do trabalho sobre a qualidade de vida. Introdução O mundo do trabalho estabelece relações entre o ser humano e as máquinas agenciadas pelas mais variadas atividades, relação esta que nem sempre promove o bem-estar, a segurança dos trabalhadores e a melhor produtividade. Nas últimas décadas, os estudos centrados nas características psicofísicas dos indivíduos e os processos de produção de forma sistêmica têm sido aplicados e assimilados pelos gestores, com resultados positivos. A ergonomia atua nesse campo multidisciplinar, implementando ferramentas para promover a adequação das máquinas às capacidades humanas. Neste capítulo, estudaremos a relação entre os seres humanos e as máquinas, e, sob a ótica ergonômica, conheceremos como os projetos de design devem articular as condicionantes humanas com a criação de máquinas, equipamentos, produtos, sistemas e ambientes. Os fatores envolvidos no projeto ergonômico dos ambientes — como o conforto ambiental, a percepção ambiental, as cores e texturas e as medidas antro- pométricas — são investigados, a fim de se desenvolver uma abordagem sistêmica e propor soluções integradas para a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e maior produtividade do trabalho. O ser humano e as máquinas O ser humano sempre buscou adaptar ferramentas e utensílios para facilitar seu cotidiano. De maneira artesanal, os instrumentos pré-históricos eram construídos para atender a uma necessidade básica: a sobrevivência do grupo. A relação homem–máquina é mediada pelas tecnologias disponíveis, que avançaram proporcionalmente às complexidades das demandas humanas. Historicamente, as adaptações realizadas nas máquinas, nos instrumentos e nos utensílios vêm gradativamente evidenciando os fatores humanos como fundamentais na concepção de novos sistemas. Moraes e Mont’Alvão (2000) destacam que as incompatibilidades entre o humano e o tecnológico eviden- ciaram-se no período da Segunda Guerra Mundial e, desde então, têm sido objeto de estudo da ergonomia. O homem como o “operador das máquinas” é o agente que interpreta as informações, e as capacidades humanas são as que permitem a realização efi ciente das tarefas, quaisquer que sejam elas. O ser humano deve ser contemplado em todas as etapas do projeto de uma máquina ou um equipamento, dos sistemas e de todos os ambientes, com especial atenção aos locais de trabalho. Iida (2005, p. 19) inclui o ser humano como um dos componentes do processo de projeto, destacando que “[...] as características desse operador devem ser consideradas conjuntamente com as características ou restrições das partes mecânicas, sistêmicas ou ambientais, para se ajustarem mutuamente umas às outras [...]”. O autor defende a relevân- cia da ergonomia e atribui a ela os mais significativos estudos de métodos e técnicas de pesquisa consagrados cientificamente, centrados no trabalhador enquanto este realiza a sua tarefa de trabalho. A Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO, 2019) pontua que, às várias definições de ergonomia existentes, alguns aspectos são comuns mundialmente: a natureza multidisciplinar; o fundamento nas ciências; e o principal objeto de estudo como sendo a concepção do trabalho. O homem é o centro da área de conhecimento da ergonomia, que, em algumas publicações, é designada como “fatores humanos”, termo que mereceu um capítulo próprio na publicação referencial do professor Iida (2005), “Ergonomia: projeto e produ- ção”. Neste estudo, Iida (2005, p. 341) examina as características do organismo humano que influem no desempenho do trabalho: “[...] a adaptação humana ao trabalho abrange as transformações que ocorrem quando o organismo passa do estado de repouso para a atividade e também aquelas transformações de caráter mais duradouro, devido ao treinamento [...]”. O projeto de design articula os conhecimentos das condicionantes físi- cas e psicológicas humanas à concepção de produtos, sistemas, interfaces Fatores humanos no trabalho2 e ambientes. Todos os segmentos que realizam análise e projetos para o desenvolvimento do trabalho humano devem considerar três aspectos muito importantes: a monotonia, a fadiga e a motivação. “Monotonia e fadiga estão presentes em todos os trabalhos e não podem ser totalmente eliminados, mas controlados e substituídos por ambientes mais interessantes e motivadores [...]” (IIDA, 2005, p. 341). Outras questões influem diretamente no desempenho do trabalho humano e têm atraído a atenção dos pesquisadores, são as relativas a idade, sexo e deficiências físicas dos trabalhadores. O paradigma do trabalhador tem se modificado, o padrão do homem adulto com idade entre 20 e 30 anos torna-se cada vez menos real, uma vez que a diversidade de segmentos da sociedade tem sido ampliada nas atividades produtivas. Qualquer que sejam os fatores humanos envolvidos, a ergonomia visa a garantir o conforto e a adaptação do homem interagindo com o ambiente, com o artefato ou a ferramenta de trabalho (TILLEY, 2005). Entendemos, portanto, que as condições de adaptação e conforto humano ao trabalho são almejadas nas três especificações sugeridas pela International Ergonomics Association (IEA, 2019): ergonomia física, ergonomia cogni- tiva e ergonomia organizacional. A ergonomia física estuda os aspectos de postura, segurança e saúde do trabalhador, área do conhecimento que enfatiza o corpo humano e o ambiente físico onde se desenvolve a atividade laboral; a ergonomia cognitiva centra-se na carga mental de trabalho, estudando as questões de memória, raciocínio e percepção; a ergonomia organizacional foca seus esforços na melhoria dos sistemas socio-técnicos que envolvem equipes, comunicação e gerenciamento de recursos humanos. As classificações da IEA (2019) contribuem na orientação dos projetos de desenvolvimento de produtos na área do design. De acordo com Gomes (2013, p. 13), “[...] esta classificação tem apenas finalidades didáticas para compre- ensão de conceitos. Uma realidade de trabalho é um sistema complexo onde cada um dos aspectos intervém a seu modo, porém de forma interdependente ou sistêmica [,,.]”. O conhecimento da aplicação do sistema homem–máquina–tarefa–am- biente (SHMTA) é condicionante para falarmos de ergonomia centrada nos fatores humanos. Trata-se da organização dos componentes “homem” (operador ou usuário) e “máquina” (qualquer objeto físico utilizado para a realização de uma atividade), de forma a trabalharem em conjunto para alcançar um objetivo comum, estando integrados por uma rede de comunicações (KROEMER; GRANDJEAN, 2005). Moraes e Mont’Alvão (2000, p. 41) afirmam que “[...] um sistema homem-máquina significa que o homem e a máquina têm uma 3Fatores humanos no trabalho relação recíproca um com outro [...]”. Segundo os autores, os principais com- ponentes desse sistema podem ser resumidos em: interação com utensílios; evolução constante das tecnologias, trazendo impactos aos operadores; forte presença dos aspectos cognitivos; são planejados, construídos e operados pelo homem; as máquinas são caracterizadas pela alta velocidade, precisão e força; e o homem é caracterizado pelo aspecto flexível e adaptável. O design no ambiente de trabalho A forma como um indivíduo se relaciona com o ambiente que o envolve é intermediada pelo projeto físico desse espaço. As condições do ambiente podem contribuir favoravelmente para determinada execução de tarefas, ou prejudicar o nível de produção, o conforto e a adaptação dos usuários ou trabalhadores. A aplicação das prescrições advindas da área da ergonomia nos projetos de postos de trabalho é fundamental para a qualidade espacial do ambiente construído, poisultrapassam o limite estritamente material do espaço, aprofundando a investigação na relação do usuário com o meio (FRASCARELI LELIS; FARIA; PASCHOARELLI, 2014). Para estabelecer inter-relações harmônicas entre o ambiente projetado e seu usuário, a arquitetura e o design adotam os estudos ergonômicos consolidados pela bibliografia de referência. Esses estudos contemplam a ergonomia física, em particular a antropometria, visto que incorporam as dimensões do corpo humano como unidade de medida para o projeto de ambientes, mobiliário e equipamen- tos. Panero e Zelnik (2008, p. 19) contribui significativamente com esse debate quando afirma que é preciso “[...] concentrar-se nos aspectos antropométricos da ergonomia e aplicar os relativos dados ao projeto de espaços interiores [...]”. O domínio da escala humana é essencial para projetistas, e Neufert (2013, p. 27) defende que o arquiteto “[...] deve saber qual a melhor posição funcional do mobiliário, permitindo assim ao homem a possibilidade de trabalhar com conforto tanto em casa, como no escritório ou oficina, assim como de repousar adequadamente [...]”. Reforçando a colocação, o autor destaca a importância de considerar os aspectos comportamentais dos indivíduos, devendo-se respeitar as características do corpo humano, seus sistemas sensorial e motor, além das suas condutas individuais e sociais. No que se refere aos ambientes construídos — com ênfase nos postos de trabalho —, a ergonomia é a disciplina que centra seus estudos em reconhe- cer a capacidade do ser humano para a realização do seu trabalho de forma confortável e segura, a fim de aliar bem-estar e produtividade. Entendemos, Fatores humanos no trabalho4 então, que os ambientes exercem influências sobre os usuários, devendo ser saudáveis, funcionais, acessíveis e confortáveis. A ergonomia deve estar incor- porada — desde as fases iniciais — ao projeto dos ambientes de trabalho, pois as metodologias ergonômicas dizem respeitos às satisfações e às insatisfações dos usuários, buscando respostas para contribuir com o processo projetual (BITENCOURT, 2011). Fatores envolvidos no projeto ergonômico dos ambientes Os estudos relacionados à ergonomia do ambiente construído levam em conside- ração condições de conforto ambiental (lumínico, térmico e acústico), percep- ção ambiental (aspectos cognitivos), adequação dos materiais (revestimentos e acabamentos), cores e texturas, acessibilidade, medidas antropométricas (leiaute e dimensionamento) e sustentabilidade (FRASCARELI LELIS; FARIA; PASCHOARELLI, 2014; MONT’ALVÃO; VILLAROUCO, 2011). É recomendá- vel a utilização de metodologias que permitam verifi car a adequação ergonômica dos espaços construídos, considerando os aspectos físicos e a identifi cação da percepção do usuário em relação ao espaço. Conforme sugerem Mont’Alvão e Villarouco (2011, p. 30): “Faz-se necessário uma abordagem sistêmica quando se trata de avaliar o ambiente sob a ótica da ergonomia [...]”. Em relação ao conforto ambiental nos espaços de trabalho, Slack et al. (1999, p. 218) relatam que: “O ambiente imediato no qual o trabalho acontece pode influenciar a forma como ele é executado. As condições de trabalho que são muito quentes ou frias, insuficientemente iluminadas, ou excessivamente claras, barulhentas ou irritantemente silenciosas. Todas vão influenciar a forma como o trabalho é levado avante [...]”. A bibliografia referencial de ergonomia voltada aos espaços ou ambientes destaca que as principais condições que um bom ambiente de trabalho deve possuir são: Temperatura: entre 20ºC e 24ºC; Umidade relativa: entre 40% e 60%; Ruído: até 80 decibéis não se observam danos ao aparelho auditivo do tra- balhador, podendo haver danos a partir deste nível; Iluminação: a iluminação pode variar em função do tipo de trabalho realizado, mas seja qual for o local de trabalho recomenda-se um mínimo de 300 lux como iluminação mínima de escritórios, 400 a 600 lux para trabalhos normais e 1.000 até 2.000 lux para execução de trabalho de precisão. Note-se que não adianta ultrapassar os 2.000 lux, pois, não haverá melhora para o operador, podendo existir fadiga visual para níveis de iluminação acima de 2.000 lux (MARTINS; LAUGENI, 2005, p. 105, grifos nossos). 5Fatores humanos no trabalho No domínio do conforto ambiental, destacamos aspectos que influem fisiológica e psicologicamente no desempenho dos trabalhadores. O primeiro aspecto é a iluminação, cujo planejamento adequado pode ampliar a sensação de satisfação no trabalho, reduzindo a fadiga e os acidentes e aumentando a produtividade (BOLETTI; CORRÊA, 2015; IIDA, 2005). Aproveitar a luminosidade natural é a solução mais adequada para ambientes de trabalho. Por exemplo, as mesas, quando locadas abaixo das janelas, proporcionam postos de trabalho com conforto visual e bom desempenho ótico, conforme ilustra a Figura 1. Figura 1. Iluminação natural. Fonte: ImageFlow/Shutterstock.com. Em grande parte dos locais de trabalho, faz-se necessária a utilização de iluminação artificial, e, nesses casos, há recomendações de posicionamento, de modo a evitar ofuscamentos. Segundo Iida (2005, p. 473), as luminárias “[...] devem situar-se acima de 30° em relação à linha de visão (horizontal) e, se possível, devem ser colocadas lateralmente ou atrás do trabalhador, para evitar a luz direta ou refletida nos seus olhos”. Devemos considerar que existem sistemas de iluminação diferentes e que podem ser combinados. Fatores humanos no trabalho6 Os mais comuns são: iluminação geral, iluminação localizada e iluminação combinada, como exemplifica a Figura 2. Figura 2. Sistemas de iluminação típicos em ambientes de trabalho. Fonte: Iida (2005, p. 473). Algumas condições devem ser atingidas para garantir conforto visual e bom desempenho ótico em um ambiente de trabalho: 1. Nível de luminância, ou seja, da quantidade de luz refletida ou emitida de uma superfície, adequado. 2. Equilíbrio espacial das luminâncias das superfícies. 3. Uniformidade temporal da iluminação. 4. Eliminação de ofuscamento com luzes apropriadas: nenhuma fonte de luz deve aparecer no campo visual dos trabalhadores durante as atividades de trabalho (KROEMER; GRANDJEAN, 2005 apud BOLETTI; CORRÊA, 2015, p. 48). 7Fatores humanos no trabalho Há dois tipos de ofuscamento que interferem drasticamente no trabalho visual e que podem ser evitados com ações ergonômicas adequadas, são eles: Ofuscamento direto: ocorre ao olhar diretamente para a fonte de luz, como o sol, os faróis de um carro ou a luminária de trabalho. Ofuscamento indireto: é refletido pela superfície, alcançando os olhos, como os faróis do veículo refletidos no espelho retrovisor, a luminária de trabalho ou a janela refletida na tela do computador (BOLETTI; CORRÊA, 2015, p. 50). O estudo das cores e da sua aplicação nos ambientes também tem sido frequente quando nos referimos à “humanização dos espaços”. Nos ambientes de trabalho, as cores podem interferir no ânimo do trabalhador e na sua conse- quente produtividade. Iida (2005, p. 483) aponta que: “Em todas as épocas, as cores e formas aparecem ligadas a diversos códigos e símbolos nas sociedades organizadas, sendo frequente atribuir-lhes até um certo caráter mágico [...]”. Do ponto de vista da percepção ambiental, há cores mais tranquilizantes (nor- malmente as cores frias) e cores mais vibrantes, que remetem ao movimento (cores quentes) (Figura 3). Figura 3. Ambientes de trabalho com cores quentes e cores frias, respectivamente. Fonte: ImageFlow/Shutterstock.com e Kalakutskiy Mikhail/Shutterstock.com As normas ISO padronizam a indicação para o uso das cores, considerando os requisitos de segurança do trabalho; os códigos de cores são informados, de acordo com Kroemer e Grandjean (2005), no Quadro 1. Fatores humanos no trabalho8 Fonte: Adaptado de Boletti e Corrêa (2015, p. 51). Cor Indicação Vermelho Perigo, parar e proibido; alertas para fogo (é empregada em extintorese equipamentos de combate a incêndio). Amarelo Perigo de colisão, atenção, alerta, risco de tropeço; em geral, as listras amarelas sobre um fundo preto indicam alerta nos transportes. Verde Nos serviços de resgate, indica a saída de segurança e que “as coisas estão em ordem”; refere-se a todas as formas de equipamento de resgate e primeiros socorros. Azul Mesmo não sendo considerada uma cor de segurança, serve para dar direções, avisos e indicações gerais. Quadro 1. Códigos de cor e sua indicação Para garantir boa qualidade ambiental, a seleção dos materiais e das cores de revestimentos de pisos, tetos, paredes e mobiliário é fundamental para controlar a variação do nível de reflexão. Para o projeto de ambientes de trabalho, as recomendações para a escolha de cores são: selecionar cores de luminâncias similares para as diferentes superfícies; evitar efeitos que chamem a atenção com contrastes de preto e branco; dar preferência ao tratamento de superfícies não polidas, inclusive para as cores (BOLETTI; CORRÊA, 2015). Outros importantes requisitos para a adequação ambiental de um espaço de trabalho são o controle do calor, dos ruídos e das vibrações. Iida (2005) alerta que condições desfavoráveis geram tensão no trabalho, sendo fatores que acarretam desconforto, riscos acentuados de acidentes e consequentes danos à saúde do trabalhador. As diferentes configurações espaciais para o desempenho da atividade laboral dificultam prescrições únicas ou totalizantes. Os ambientes voltados ao trabalho administrativo (desenvolvido em escritórios) e os ambientes destinados às atividades industriais, por exemplo, possuem programas arquitetônicos distintos e dimensões e estruturas específicas. O design de ambientes para locais de trabalho deve atender às normas técnicas, às resoluções legais e às orientações para projetos fornecidas pela bibliografia de referência da área do conforto ambiental. Os arranjos físicos podem otimizar as condições de trabalho, além de estimular o bem-estar e a produtividade dos usuários. Esse é um aspecto que deve ser bem observado pelos arquitetos e designers, uma vez que a 9Fatores humanos no trabalho distribuição física de um determinado espaço comercial, institucional ou de serviços precisa atender satisfatoriamente às necessidades dos usuários, tanto trabalhadores quanto clientes ou público em geral (CURY, 2005). Iida (2005) considera que, no quadro de objetivos de um bom arranjo físico (layout), está incluída a redução da fadiga. Sabemos que a boa disposição e a escolha do mobiliário e dos equipamentos, bem como o dimensionamento adequado das circulações, proporciona melhor interação com o ambiente e resultam em maior eficiência dos fluxos internos das atividades. O arranjo físico atua diretamente na percepção que temos de um ambiente, pois, do ponto de vista psicológico, o estímulo e o ânimo são potencializados em espaços criativos, contemporâneos e bem organizados. A Figura 4 apresenta um arranjo espacial estimulante. A iluminação natural, advinda das janelas nas duas faces do ambiente, é apoiada pela iluminação artificial, locada sobre cada ilha de trabalho, sendo que a sala também conta com iluminação geral. As circulações ocorrem de forma confortável por entre os módulos de trabalho de forma simétrica e regular, facilitando a interação e o movimento necessário no ambiente. As cores utilizadas definem áreas de trabalho específicas, diferenciadas pelos anteparos sobre as mesas: verde (cor fria) e cor de laranja (cor quente). As texturas do piso e do teto são contrastantes, com acabamento polido no piso e acabamento rústico no teto, cujo aspecto bruto confere um ar mais informal ao projeto de interiores. Figura 4. Arranjo espacial estimulante. Fonte: Mangostar/Shutterstock.com. Fatores humanos no trabalho10 Recomenda-se que o layout seja flexível, podendo ser alterado sempre que for necessário, para atender às constantes mudanças ocorridas nas empresas globais. A ergonomia como mediadora da qualidade de vida associada ao trabalho O trabalho humano é identifi cado em muitos processos como um signifi cativo intermediário nos diferentes convívios sociais e na saúde humana. Os múltiplos processos envolvidos na atividade laboral podem benefi ciar ou prejudicar grupos ou indivíduos de quaisquer modalidades de atividades produtivas. Kroemer e Grandjean (2005, p. 149) afi rmam que “Várias pesquisas favore- cem a hipótese que há uma ligação entre a qualidade de vida no trabalho e a qualidade de vida em geral [...]”. Sob o olhar da ergonomia, a monotonia e a falta de motivação no trabalho são os maiores estimuladores da fadiga no ambiente de trabalho. Embora nos encontremos em um momento em que tendências alternativas e flexíveis se façam presentes numa economia internacionalizada, ainda encontramos repetições de velhas fórmulas e métodos prejudiciais à produtividade e ao trabalhador. As velhas fórmulas e métodos são aquelas associadas ao taylorismo, que, segundo Kroemer e Grandjean (2005), produzem tédio no trabalhador, uma vez que reduzem suas habilidades mentais e físicas e desperdiçam seu potencial. Iida (2005, p. 280) utiliza o exemplo da indústria para definir a monotonia, identificando-a como “[...] a reação do organismo a um ambiente uniforme, pobre em estímulos ou com pouca variação das excitações. Os sintomas mais indicativos da monotonia são uma sensação de fadiga, sonolência, morosidade e uma diminuição da atenção. As operações repetitivas na indústria e o trá- fego rotineiro são condições propícias à monotonia [...]”. As tarefas repetidas tendem a promover a diminuição dos níveis de excitação cerebral, podendo ocorrer saturação psíquica, que provoca ansiedades e tensões (IIDA, 2005; WISNER, 1995). Conforme Kroemer e Grandjean (2005), as condições que desencadeiam o surgimento de estados de monotonia são: atividades repetitivas de longa duração e tarefas de observação de longa duração com obrigação de atenção permanente. Em ambos os casos, as atividades que apresentam mínimo grau de dificuldade ou pobreza de estímulos são consideradas as mais monótonas. Via de regra, a monotonia resulta em fadiga e falta de motivação (IIDA, 2005; KROEMER; GRANDJEAN, 2005; WISNER, 1995). 11Fatores humanos no trabalho Em relação à fadiga, Kroemer e Grandjean (2005) a relacionam com diminuição da capacidade de produção e perda de motivação para desempe- nhar qualquer atividade. A fadiga também pode estar relacionada aos fatores ambientais ou sociais. Conforme Iida (2005, p. 284): Fadiga é o efeito de um trabalho continuado, que provoca uma redução reversí- vel da capacidade do organismo e uma degradação qualitativa desse trabalho. A fadiga é causada por um conjunto complexo de fatores, cujos efeitos são cumulativos. Em primeiro lugar, estão os fatores fisiológicos, relacionados com a intensidade e duração do trabalho físico e intelectual. Depois, há uma série de fatores psicológicos, como a monotonia e a falta de motivação e, por fim, os fatores ambientais e sociais, como a iluminação, ruídos, temperaturas e o relacionamento social com a chefia e os colegas de trabalho. A motivação de um trabalhador pode ocorrer de diversas formas: desafios mais enriquecedores, participação mais efetiva nos processos produtivos, novas responsabilidades e reconhecimento profissional. A motivação, segundo Wisner (1995), é uma necessidade humana que se refere aos valores da mente e do espírito, portanto, é mais difícil de ser identificada pelos administradores. A evolução da indústria tecnológica ressaltou a necessidade de conhecer as capacidades e os limites humanos e, como resultado, promover o bem-estar do trabalhador. A ergonomia atua especificamente neste quesito: na busca de segurança, conforto e bem-estar, recuperando o sentido antropológico do trabalho. Como afirmam Moraes e Mont’alvão (2000, p. 15): A razão mais óbvia para estudar as relações entre seres humanos e artefatos e ambientesque eles usam (além da simples curiosidade) é a intenção de mudar as coisas para melhor – seja para incrementar o desempenho, produtividade, saúde ou segurança do usuário, ou simplesmente para tornar a experiência do usuário mais prazerosa e satisfatória. A relevância da ergonomia como mediadora na promoção da qualidade de vida do trabalhador é preconizada pela publicação da Norma Regulamentadora 17, que visa a definir os melhores padrões para o trabalhador em seu posto de trabalho, considerando suas características psicofisiológicas (BRASIL, 2009). Além da Norma (NR 17), as definições e conceitos dos autores mencionados nos encaminham para a compreensão da ergonomia enquanto um importante agente na busca da interação do usuário com o ambiente, o mobiliário, os equipamentos e as tarefas dentro de um sistema. Seria equivocado estudar e aplicar isoladamente esdes elementos, pois eles exercem influências entre si. Fatores humanos no trabalho12 A ergonomia, portanto, visa a agenciar mudanças na qualidade do trabalho humano, cujos procedimentos resultarão em benefícios não somente centrados no bem-estar da força de trabalho, mas de toda a sociedade. ABERGO. Site. [2019]. Disponível em: http://www.abergo.org.br/. Acesso em: 18 jul. 2019. BITENCOURT, F. (org.). Ergonomia e conforto humano: uma visão da arquitetura, enge- nharia e design de interiores. Rio de Janeiro: Rio Book’s, 2011. BOLETTI, R. R.; CORRÊA, W. M. Ergonomia: fundamentos e aplicações. Porto Alegre: Bookman, 2015. BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº 17: Ergonomia. 2009. Disponível em: http://trabalho.gov.br/seguranca-e-saude-no-trabalho/norma- tizacao/normas-regulamentadoras/norma-regulamentadora-n-17-ergonomia. Acesso em: 18 jul. 2019. CURY, A. Organização & métodos: uma visão holística. 9. ed. 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