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BBPM VI 6 CLÍNICA MÉDICA 1 Pneumonia Comunitária Laura R. T6 DEFINIÇÃO e epidemiologia · Pneumonia adquirida na comunidade (PAC) é aquela que acomete o paciente fora do ambiente hospitalar ou surge nas primeiras 48h na admissão. · A doença é caracterizada por inflamação aguda que afeta os espaços aéreos e pode ser causada por vírus, bactéria e fungos · 12:1.000 habitantes e é maior nos extremos de idade (35:100.000 habitantes abaixo de 5 anos e acima de 75 anos). · Corresponde à primeira causa de internações no Brasil (com exceção de partos) a maioria das internações ocorreram entre os meses de março e julho · A maioria das internações e óbitos ocorrem em pessoas acima de 65 anos · A PAC é tratada ambulatoriamente em 80% dos casos, com taxa de mortalidade de 5%. Nos pacientes que requerem internação, esse índice aumenta para 15% e para 50% nas PAC graves que necessitam de terapia intensiva · Um em cada 3 pacientes que recebem alta de pneumonia intra-hospitalar morrem no ano seguinte Etiopatogenia · Deve-se levar em consideração as características clínicas, radiológicas e laboratoriais apresentadas pelos pacientes. · Os patógenos mais frequentemente relacionados com a PAC são: · S. pneumoniae 22 a 40% dos casos · É importante ressaltar que, dos casos de PAC em que são realizadas pesquisas para identificação etilógica, apenas 30 a 40% têm resultado positivo. Na maioria dos casos de PAC o agente não é identificado Fisiopatologia · Os microrganismos podem atingir os pulmões de maneiras diversificadas: por inalação direta de partículas infectadas do ar ambiente ou por aspiração de material infectado; por depósito na vasculatura pulmonar, levando à disseminação hematogênica; por penetração exõgena do tecido pulmonar (após cirurgias e broncoscopia); e por continuidade (passagem de microrganismos do abdome e para a cavidade torácica, como em casos de abscessos hepáticos). · As vias inalatória e aspirativa são as vias de transmissão mais frequentes. · O epitélio das vias respiratórias superiores é denominado pseudoestratificado cilíndrico ciliado. · Recobrindo as células do epitélio existe uma camada de secreções composta por duas porções: a) uma aquosa, que mistura água e eletrólitos, em contato direto com as células (fluido periciliar) b) e um gel, que permanece em contato com a via respiratória: tem função de aderir partículas e ocorre apenas nas vias respiratórias superiores. As partículas são aderidas à fase gel das secreções que são transportadas em direção à orofaringe pelo batimento ciliar e pelo mecanismo de tosse. Portanto, estes são os fatores mecânicos de defesa das vias respiratórias que impedem a entrada de agentes nocivos para o sistema respiratório inferior. Quando estes mecanismos estão prejudicados, como por exemplo, por uma infecção viral, há predisposição para infecções bacterianas, uma vez que o excesso de muco e de secreções favorece a multiplicação desses patógenos. Persistindo tais eventos, segue-se a pneumonia · No sistema respiratório inferior (bronquíolos e alvéolos), os mecanismos de defesa são biológicos específicos (produção de anticorpos) e inespecíficos (produção de susbtâncias diluídas nas secreções respiratórias). As bactérias depositadas nos alvéolos sofrem ação do surfactante liberado pelos penumócitos II (que tem características antibacterianas) e das imunoglobulinas e do complemento, que facilitam a ação dos macrófagos alveolares · Caso um número considerável de germes atinja os alvéolos e se multiplique, o sistema macrofágico será superado, dando início a uma grande resposta inflamatória Quadro clínico · A apresentação clínica habitual de pneumonia se faz de maneira abrupta, com febre, calafrios, tosse, expectoração inicialmente e dor do tipo pleural, de intensidade variável · A maioria dos pacientes relata infecção de vias respiratórias superiores (gripes) precedendo os sintomas mais evidentes · A febre pode chegar a mais de 40° e a tosse, que de início pode ser seca, evolui para expectoração de um escarro agregado amarelo, ferruginoso ou esverdeado · Os achados clínicos mais encontrados são tosse (82%), febre (78%), dispneia (40 a 90%) e estertores (80%). · Idoso: taquipneia e taquicardia presente em 2/3. Tosse, febre e dispneia são menos prevalentes. Confusão mental e descompensação de uma doença de base são apresentações clínicas mais usuais · Exploração propedêutica: diminuição do murmúrio vesicular, estertores crepitantes e macicez ou submacicez à percussão da região condensada. Sopro brônquico, broncofonia aumentada e pterilóquia fônica ou afônica também podem ser identificadas à ausculta. Na fase de resolução, os estertores aumentam significativamente diminuindo aos poucos à medida que o murmúrio vesicular normal vai reaparecendo · Obs: estertores são ruídos pulmonares anormais causados pela passagem de ar por vias aéreas estreitas ou cheias de fluidos · Som vocal é a ausculta da voz no tórax (pedir pro paciente falar 33 em voz falada e cochichada). Ressonância vocal é a transmissão da voz no tórax que pode estar normal, diminuída ou aumentada. Quando o aumento é na intensidade chama broncofonia, e quando o aumento for na nitidez chama pectorilóquia. Essa última tem dois tipos: fônica, quando o aumento da nitidez é na voz falada e afônica quando aumento da nitidez for na voz cochichada. · A pneumonia por S. aureus é comum em diabéticos que usam insulina subcutânea, usuários de drogas injetáveis e pacientes com abscessos de pele · Pneumonias por K. pneumoniae acometem mais pacientes adultos, frequentemente alcoólatras ou com doença pulmonar obstrutiva crônica · Infecções por Legionella sp. são associadas a alta mortalidade e morbidade, ao passo que infeções por M. pneumoniae e C. pneumoniae podem ter curso variado, às vezes grave. Mycoplalsma sp. É mais frequentemente identificado em pacientes com menos de 50 anos e sem comorbidades · Infecções por bacilos gram-negativos raramente causam PAC em indivíduos hígidos. Pacientes com suspeita de aspiração, admissão prévia ao hospital, uso de antibióticos ou corticoides prévios e com comorbidades apresentam maior susceptibilidade infecções por esses bacilos, como P. aeruginosa. Pneumonia adquirida na comunidade grave · Estado clínico que necessita de tratamento em terapia intensiva · Preditores independente de mortes: sexo masculino, diabetes melito, doenças neoplásicas e neurológica, taquipneia, hipotensão, hipotermia, leucopenia, bacteriemia e infiltrado multilobar · Quadro clínico: insuficiência respiratória, sepse grave u choque séptico · Corresponde a 10% das pneumonias tratadas em hospital · Os agentes etilógicos mais frequentes são: S. pneumoniae (20%), bacilos gram-negativos (10%), Legionella pneumophila (7%), H. influenzae (6%), S. aureus (5%) e P. aeruginosa (3%) Pneumonia adquirida na comunidade atípica · Representa uma síndrome clínica que inclui diversas entidades e tem valor clínico limitado · A resposta do hospedeiro influencia a expressão clínica da pneumonia, independentemente do agente etiológico · Atualmente utiliza-se o termo “agentes atípicos” para designar em conjunto Mycoplasma pneumoniae, Chlamydophila pneumoniae (antes Chlamydia pneumoniae) e Legionella sp · Os termos pneumonia “típica” e “atípica” não são mais utilizados, há que vários estudos demonstraram não haver diferenças entre as apresentações clínicas entre as duas DIAGNÓSTICO · É fundamentado no quadro clínico-radiológico: tosse, dispneia ou dor torácica, achado focais no exame físico do tórax, pelo menos um achado sistêmico (confusão, cefaleia, sudorese, calafrios, febre), infiltrado radiológico não existente previamente. · A exclusão de outras doenças deve ser sempre feita. Diagnóstico radiológico · A radiografia de tórax deve ser feita em posições posteroanterior (PA) e de perfil e é essencial para o diagnóstico e avaliação da gravidade · A radiografia de tórax é útil para identificar um comprometimento multilobular, sugerir um abscesso pulmonar ou tuberculose, identificarobstruções brônquicas ou derrame pleural e avaliar a evolução da doença · A ocorrência de cavidade sugere etilogia por aneróbios, S. aureus e eventualmente, bacilos gram-negativos. Tuberculose deve ser sempre pesquisada. · O abaulamento da cissura é um achado inespecífico, embora classicamente seja descrito na etiologia por Klebsiella pneumoniae · A tomografia computadorizada é utilizada quando há dúvidas quanto à presença de infiltrado radiológico, e o quadro clínico é exuberante com radiografia de tórax normal, quando há suspeita de derrame pleural e para diferenciar infiltrado de massas pulmonares · É preciso lembrar que derrames pleurais maiores que 5 cm em decúbito dorsal ou loculados precisam ser puncionados para afastar a ocorrência de empiema ou derrame pleural parapneumônico complicado. Nesse caso, a ultrassonofrafia de tórax pode ser útil para localizar o derrame · A resolução radiológica é lenta, após a recuperação clínica, em cerca de 2 semanas, mas pode estender-se até 6 semanas. · Em pacientes de baixo risco, não há necessidade e qualquer outro exame além da radiografia de tórax Exames complementares · Saturação periférica de O2: deve ser obtida de rotina. Saturação menor ou igual a 90% com altos fluxo de O2 sugere remoção para a UTI · Ureia: maior que 65 mg/dl é um indicador de gravidade · Hemograma: tem baixa sensibilidade e especificidade. É útil como critério de gravidade e de resposta terapêutica. Leucopenia é sinal de mau prognóstico. · O diagnóstico etiológico tem valor limitado em pacientes internados, mas deve ser buscado em pacientes com PAC grave · Escarro: deve ser coletado em pacientes internados com PAC que não tenham recebido antibiótico prévio. Porém a sensibilidade para pneumococo é baixa e tem baixo impacto clínico · Hemoculturas: duas amostras. São normalmente falso-positivas e raramente alteram a conduta. Devem ser coletadas apenas em pacientes em estado grave que não respondem ao tratamento · Broncoscopia: possibilita a detecção de anormalidades das vias respiratórias, coleta de material para culturas quantitativas (têm boa especificidade e sensibilidade) e a realização de biopsias transbrônquicas em pacientes que não respondem ao tratamento ou PAC grave · Testes sorológicos: não são úteis na avaliação inicial e não devem ser solicitados. Devem ser pedido em casos de PAC grave e de pacientes que não respondem ao tratamento. Títulos de IgG elevados 4x ou de IgM maiores ou iguais a 1:16 fazem diagnóstico · Antígenos urinários: deve ser solicitada em casos de PAC grave ou com suspeitas em bases epidemiológicas · Toracocentese: pacientes com mais de 50 mm de derrame pleural · Proteína C reativa (PCR): quando coletada constantemente (no soro sanguíneo) está correlacionada aos resultados e à duração do tratamento. Níveis de PCR costumam ser aumentados em pacientes com pneumonias causadas por pneumococo e por Leionella, o que não acontece em pneumonias causadas por vírus e patógenos atípicos · Pró-calcitonina (PCT): seus valores etão aumentados em pacientes com menor risco de morte quando há infecção bacteriana grave, porém não em infecções virais. Avaliação da gravidade · Serve para determinar o local onde o paciente será tratado · Pneumonia Severity Index (PSI): regra preditiva baseada em idade, doenças, achados clínicos e laboratoriais · A sociedade brasileira de pneumologia adorou a regra CRUB-65 por ser mais simples: · C = confusão mental · U = ureia elevada · R = frequência respiratória · B = pressão arterial · 65 = idade superior a 65 anos · Isso resultou em um escore de 6 pontos fundamenta na informação disponível na avaliação inicial no pronto-socorro. Pacientes com escore de 0-1, se apenas a idade pontuar, podem ser tratados em domicilio. Pacientes com escores mais altos devem ser internados. · Após a avaliação dos fatores prognósticos, torna-se necessária a avaliação de comorbidades descompensadas que podem indicar internação como, por exemplo, DPOC, diabetes, alcoolismo, insuficiência cardíaca e insuficiência renal. Os fatores psicossociais devem ser ressaltados · São considerados casos de PAC grave quando estes têm o potencial de evoluir com deterioração do quadro clínico ou com alto risco de mortalidade. Os pacientes devem ser encaminhados para a UTI quando apresentarem dois critérios menores ou um critério maior, segundo a tabela abaixo tratamento · Os pacientes são classificados como portadores de riscos baixo (ambulatórias), intermediário (enfermaria) e alto (unidade de terapia intensiva). O tratamento não deve ultrapassar 8 dias nos pacientes respondedores pacientes não internados · São tratados empiricamente · A escolha do antibiótico é baseada no patógeno mais provável · Os agentes mais comuns são: Streptococcus pneumoniae, C. pneumoniae e H. influenzae. · Os antibióticos mais efetivos são os macrolídios e as fluoroquinolonas respiratórias · A terapia combinada não é a mais eficaz do que a monoterapia em pacientes de baixo risco · Os macrolídios são utilizados para tratamento ambulatorial de pacientes previamente sadios. A azitromicina e a claritromicina são eficazes contra a maioria dos patógenos, inclusive os atípicos · O uso de macrolídios associados a um betalactâmico ou uma fluoroquinolona sozinha (levofloxacina e moxifloxacino) é reservado para o tratamento inicial empírico de pacientes com doenças associadas, como DPOC, diabetes, nefropatia crônica e insuficiência cardíaca, que não necessitem de internação · O uso de batalactâmico com inibidor de betalactamase também é indicado em pacientes de baixo risco e em pacientes com suspeita de aspiração e infecção por anaeróbios. Em caso de alergia ao betalactâmico, este pode ser substituído por clindamicina Pacientes internados · A terapia empírica de pacientes internados com PAC é feita de acordo com o patógeno mais provável após a classificação da gravidade pela doença e pela existência de comorbidades · Terapia combinada reduz mortalidade e o tempo de internação se comparado com a monoterapia · A primeira dose de antibiótico deve ser em, no máximo 4h em PAC grave Pacientes em enfermarias · Antibioticoterapia deve ser intravenosa · Para pacientes sem uso prévio de antibióticos: · Macrolídio (azitro ou claritromicina) com um betalactâmico (cefotaxima, ceftrixona, ampicilina com sulbatam) · ou fluoroquinlona isolada Pacientes em unidade de terapia intensiva PACIENTES EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA · Tratamento para pacientes com PAC sem fatores de risco para PAC grave, sem risco para Pseudomonas, é semelhante ao de pacientes internados em enfermarias (macrolídio com um betalactâmico ou uma fluoroquinolona isolada) · P. aeruginosa raramente causa PAC (3%), porém, quando há fatores de risco, o tratamento anti-pseudomonas deve ser instituído: · Piperacilina-tazobactam, Imipeném, Meropeném, Cefepima associados a ciprofloxacino; ou · Aminoglicosídio com ação antipseudomônonas associado a macrolídio ou quinolona respiratória · O risco de lesão renal por aminoglicosídios é de 10 a 20% · Para aquelas com fatores de risco para pseudômonas e com alergia para betalactâmicos, devem ser introduzidos aztreonam com quinolonas, com ou sem aminoglicosídio. · O uso de corticoides sistêmicos não está recomendado no tratamento de pneumonias · Em relação à ventilação não invasiva, ela é útil nos pacientes com PAC grave que apresentam hipoxemia e nsuficiência respiratória Critérios de mudança no tratamento oral · Normalmente a melhora clínica acontece após o 3° dia de antibiótico · Pacientes clinicamente deteriorados não são candidatos à mudança do regime intravenoso para o oral Falha terapêutica · Considera-se falha terapêutica precoce quando o paciente não tem resposta em 48 a 72h de uso de antibióticos, a falha é considerada tardia após 72h · Possíveis causas de deterioração clínica: · Seleção antimicrobiana inadequada · Infecção por patógenos não usuais (descartar tuberculose, microbactérias atípicas, fungos e pneumocistose) · Ocorrência de complicações (meningite, artrite,endocardite, pericardite, empiema). É necessário repetir exames de imagem · Relatos de doenças não infeciosas, como embolia pulmonar, IC congestiva, carninoma bronquioalveolar, linfoma, hemorragia intrapulmonar eosinofílicas e doença pulmonar induzida por fármacos · Pacientes com falhas terapêuticas devem ser investigados com testes não invasivos (escarro, antígenos urinários para pesquisa de S. pneumoniae e Legionella, hemoculturas e sorologias) e invasivos (aspirado endotraqueal, broncoscopia e biópsia a céu aberto) Uso de ertapeném em pacientes internados · É um betalactâmico, estruturalmente semelhante ao meropeném, indicado para pacientes com infecções moderadas a graves por patógenos gram-positivos e gram-negativos aeróbios e anaeróbios. É usado para o tratamento de infecções (em tecidos moles, infecções abdominais, pélvicas agudas e do trato urinário), PAC e sepse. No entanto, não está indicado em infecções por S. aureus resistente à meticilina, S. penumoniae resistente à penicilina, Pseudomonas spp e Acinetobacter spp. · Pode ser usado em pacientes com PAC que utilizaram antibióticos recentemente Laura R. T6
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