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PENI A pneumonia é uma infecção do parênquima pulmonar. As pneumonias historicamente eram classificadas como adquiridas na comunidade (PAC), adquiridas no hospital (PAH) ou associadas à ventilação mecânica (PAV). Uma quarta categoria, a pneumonia associada aos serviços de saúde (PASS), foi recentemente introduzida. Essa categoria foi criada para abranger aqueles casos de PAC causados por patógenos resistentes a múltiplos fármacos (MDR, de multidrug-resistant) normalmente associados com PAH. A pneumonia ocorre quando uma infecção do parênquima pulmonar causa sintomas respiratórios inferiores e quando se detecta um infiltrado pulmonar na radiografia de tórax. As pneumonias são comumente classificadas como adquiridas na comunidade, associadas aos cuidados de saúde e nosocomiais. As pneumonias associadas aos cuidados de saúde ocorrem em pacientes que se encontram institucionalizados, que estiveram hospitalizados durante mais de 2 dias nos 90 dias precedentes, que têm contato frequente com instituições de saúde (p. ex. hemodiálise, tratamento de feridas, antibióticos intravenosos ou quimioterapia) ou que estão imunossuprimidos. A pneumonia nosocomial surge, pelo menos, 48 horas depois da admissão hospitalar ou desenvolve-se pouco tempo após a alta hospitalar. FISIOPATOLOGIA A pneumonia resulta da proliferação dos patógenos microbianos nos espaços alveolares e da resposta do hospedeiro a esses agentes patogênicos. Os microrganismos chegam às vias aéreas inferiores por vários mecanismos. O mais comum é a aspiração das secreções orofaríngeas. A aspiração de volumes pequenos ocorre frequentemente durante o sono (especialmente nos idosos) e nos pacientes com níveis deprimidos de consciência. A pneumonia evidencia-se apenas quando a capacidade dos macrófagos alveolares de ingerirem ou destruírem os microrganismos é superada. Nessa condição, os macrófagos alveolares ativam a resposta inflamatória para reforçar as defesas das vias aéreas inferiores. A resposta inflamatória do hospedeiro, mais do que a proliferação dos microrganismos, desencadeia a síndrome clínica da pneumonia. A liberação de mediadores inflamatórios como a interleucina (IL) 1 e o fator de necrose tumoral provoca febre. As quimiocinas como a IL-8 e o fator estimulador das colônias de granulócitos estimulam a liberação dos neutrófilos e sua atração ao pulmão, e isso causa leucocitose periférica e secreções purulentas aumentadas. Os mediadores inflamatórios liberados pelos macrófagos e pelos neutrófilos recém-recrutados acarretam extravasamento alveolocapilar semelhante ao que é observado na síndrome da angústia respiratória aguda (SARA), embora na pneumonia esse processo fique localizado (ao menos inicialmente). Até mesmo as hemácias conseguem atravessar a membrana alveolocapilar, e isso causa hemoptise. O extravasamento capilar é responsável pelos infiltrados radiográficos e pelos estertores detectáveis à ausculta, enquanto a hipoxemia é atribuída ao preenchimento dos espaços alveolares. Além disso, alguns patógenos bacterianos parecem interferir na vasoconstrição hipoxêmica, que normalmente ocorreria se os alvéolos fossem preenchidos por líquidos; essa interferência pode causar hipoxemia grave. O aumento do drive respiratório na síndrome da resposta inflamatória sistêmica causa alcalose respiratória. A dispneia tem como causas a redução da complacência pulmonar secundária ao extravasamento capilar, a hipoxemia, a hiperestimulação do centro respiratório, as secreções profusas e, ocasionalmente, o broncospasmo desencadeado pela infecção. Se a doença for suficientemente grave, as alterações da mecânica pulmonar secundárias às reduções do volume e da complacência pulmonares, bem como o shunt intrapulmonar do sangue, podem causar insuficiência respiratória e morte. A presença de uma microbiota alveolar normal aumenta a possibilidade de uma via alternativa para o desenvolvimento de pneumonia. Essa microbiota é semelhante àquela da orofaringe; ambas são predominantemente Gram-positivas em contrapartida ao meio Gram-negativo da microbiota gastrintestinal normal. Em vez de a invasão de um trato respiratório inferior estéril por patógenos causar pneumonia, alterações nas defesas do hospedeiro podem permitir o crescimento exagerado de um ou mais componentes da flora bacteriana normal. O fato de muitos patógenos causadores de PAC serem componentes da microbiota alveolar normal sustenta esse modelo alternativo de patogênese. As duas causas mais prováveis de alteração na microbiota alveolar são as infecções virais do trato respiratório superior para a PAC e a terapia antibiótica para a PAH/PAV. Outros fatores predisponentes incluem desnutrição, que fragiliza o sistema imunitário; consumo excessivo de álcool, que diminui o reflexo de tosse e afeta a migração dos leucócitos; tabagismo, que aumenta as secreções pulmonares e altera a função ciliar; doença hepática ou renal, que diminui a formação de anticorpos e a função dos leucócitos; diabetes melito, que diminui a função dos leucócitos; e deficiência de imunoglobulinas de qualquer causa. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A pneumonia caracteriza-se, em geral, por início agudo de febre, tosse frequentemente produtiva e um infiltrado pulmonar novo detectado na radiografia de tórax. Contudo, pacientes com pneumonia podem não tossir, nem sempre apresentam expectoração, podem estar apiréticos quando são observados pela primeira vez e podem não apresentar infiltrados pulmonares óbvios, especialmente caso se trate de pacientes adultos de alto risco com doença pulmonar crônica, obesos ou se forem avaliados apenas com uma radiografia portátil. Em adultos jovens com pneumonia bacteriana, mal-estar intenso e uma sensação subjetiva de febre são comuns, muitas vezes com calafrios, tosse e produção de expectoração ou pelo menos sensação de necessidade de produzir expectoração. Alguns pacientes apresentam dor torácica pleurítica. Quando existe expectoração, esta pode ser hemoptoica. Com o avançar da idade, os pacientes muitas vezes apresentam apenas algumas ou mesmo poucas dessas manifestações típicas de pneumonia, em parte porque produzem níveis mais baixos de citocinas e porque podem apresentar uma resposta menos vigorosa a elas mesmas. Como resultado, os pacientes idosos com pneumonia podem apresentar desorientação, confusão, fadiga ou alterações mais sutis do estado mental. A diarreia, que pode ser uma manifestação importante na pneumonia por Legionella, é também frequente na pneumonia pneumocócica e em outras pneumonias bacterianas, devido à resposta gastrointestinal não específica às citocinas circulantes. A pneumonia viral tem a tendência para apresentar sintomas respiratórios superiores tais como rinorreia ou odinofagia e tosse seca. Os pacientes referem com frequência contato com alguém manifestando infecção respiratória. DIAGNÓSTICO Exame Físico Pacientes mais jovens com pneumonia bacteriana ou por influenza apresentam-se agudamente doentes, ao contrário dos indivíduos idosos e frágeis, que podem estar simplesmente apáticos. Uma frequência respiratória superior a 20 ciclos por minuto é anormal, e a frequência superior a 25 ciclos por minuto deve causar preocupação. Saturação de oxigênio (SaO2) inferior a 92% indica com muita probabilidade uma pressão parcial de oxigênio muito baixa, e saturação baixa juntamente com frequência respiratória elevada sugere comprometimento respiratório grave. Em um paciente com pneumonia e taquipneia, SaO2 inferior a 90% levanta a suspeita de desconforto respiratório iminente. Na pneumonia bacteriana, crepitações ou estertores estão geralmente presentes na área afetada. Sons respiratórios brônquicos e egofonia, quando presentes, sugerem fortemente pneumonia, mas não são sensíveis para o diagnóstico. A macicez à percussão da área afetada pode ser detectada em cerca de metade dos casos. O aumento da transmissão das vibrações vocais está muitas vezes presente e é especialmente útil na distinção entre infiltrado pulmonar e derrame pleural, no qual o frêmito se encontradiminuído ou ausente. A impossibilidade de detectar a excursão diafragmática pela percussão sugere derrame. Infelizmente, a sensibilidade e especificidade do exame físico para a pneumonia são relativamente baixas. Como resultado, o diagnóstico de pneumonia necessita de validação radiográfica. Achados Radiográficos A pneumonia é geralmente diagnosticada pela presença de um infiltrado na radiografia de tórax ou excluída pela ausência de um infiltrado. A consolidação densa que envolve um segmento ou um lobo do pulmão reflete muito provavelmente uma infecção bacteriana aguda. Muitos pacientes com pneumonia bacteriana, contudo, apresentam infiltrados radiográficos que não são claramente segmentares. A tomografia computadorizada (TC), é muito mais sensível. A pneumonia rapidamente progressiva de qualquer causa pode resultar em infiltrados pulmonares difusos compatíveis com síndrome do desconforto respiratório agudo do adulto. Embora o aspecto ou o aumento dos infiltrados após a hospitalização possam ser atribuídos a reposição de fluidos, tal progressão reflete mais provavelmente uma continuação da resposta inflamatória. A TC torácica pode ajudar a esclarecer a natureza de um infiltrado e determinar se estamos perante um derrame ou uma massa, mas não é geralmente necessária no momento da admissão hospitalar nos pacientes em que se consegue obter uma radiografia de tórax de boa qualidade. Achados Laboratoriais A maioria dos pacientes com pneumonia bacteriana apresenta contagem de leucócitos superior a 11.500/μL no momento da admissão hospitalar e cerca de um terço apresenta contagens de leucócitos superiores a 15.000/μL. A contagem baixa de leucócitos não deve ser interpretada como tranquilizadora porque contagens de leucócitos de 6.000/μL ou menos podem ser observadas em infecções bacterianas fulminantes. Quando infecções bacterianas fulminantes suprimem a contagem de leucócitos, as formas celulares imaturas (bastões) estão quase sempre elevadas. Cerca de 40% dos pacientes não infectados que recorrem ao hospital com uma síndrome compatível com pneumonia adquirida na comunidade, como os pacientes com edema pulmonar ou câncer do pulmão, também apresentam contagens de leucócitos superiores a 11.500/μL. Portanto, a elevação da contagem de leucócitos não é, de maneira alguma, específica de pneumonia. No entanto, contagens de leucócitos superiores a 20.000/μL são incomuns em condições pulmonares agudas além da pneumonia bacteriana. Elevações leves não específicas da bilirrubina sérica, do nível das aminotransferases e da lactato desidrogenase (LDH) são frequentemente observadas. A elevação do valor sérico da procalcitonina aumenta a probabilidade de infecção bacteriana, enquanto um nível baixo contraria esse diagnóstico. Diagnóstico Microbiológico O trato respiratório elimina o exsudado inflamatório através da ação ciliar das células que revestem os brônquios e a traqueia juntamente com o reflexo da tosse. A expectoração é composta por este exsudado — plasma, leucócitos e bactérias — com maior ou menor mistura de saliva. A presença de grandes quantidades de um único tipo de bactéria em uma amostra inflamatória que apresenta ausência relativa de células epiteliais contaminantes sugere fortemente que esse organismo é o agente etiológico responsável pela pneumonia. O Haemophilus, a Moraxella e os bacilos Gram-negativos são ainda mais característicos no aspecto microscópico. Se não tiverem sido administrados antibióticos previamente, a ausência de organismos visíveis em uma amostra inflamatória sugere que a causa da pneumonia é uma bactéria que não cora com a coloração de Gram (p. ex. Legionella ou Mycobacteria) ou outro tipo de organismo como o Mycoplasma, Chlamydophila ou um vírus que não possui a parede bacteriana típica e não cora com a coloração de Gram. Os relatórios que atribuem baixa sensibilidade da expectoração na detecção de bactérias refletem a inclusão de amostras que são impróprias ou que foram obtidas após o início da terapia antibiótica. Uma vez que a sensibilidade desses testes microbiológicos padrão diminui drasticamente passadas 18 horas do início da terapia antibiótica, as amostras são úteis para o diagnóstico apenas se colhidas no tempo correto. O exame direto da expectoração com coloração de Gram é também útil caso não mostre a presença de bactérias. Os testes de reação em cadeia da polimerase (PCR) da expectoração são uma técnica altamente sensível que pode ser não específica, uma vez que pode detectar colonização, e não infecção. Para os organismos que normalmente não colonizam as vias aéreas superiores, a PCR é específica e sensível. A PCR no esfregaço da faringe pode detectar de modo adequado Chlamydophila e Mycoplasma, bem como 15 vírus respiratórios (incluindo vírus influenza, parainfluenza, vírus sincicial respiratório, metapneumovírus humano, coronavírus e adenovírus) com sensibilidade e especificidade muito elevadas. Como consequência, a PCR substituiu, de modo geral, a cultura de vírus como o “padrão ouro” para o diagnóstico de infecções por vírus da gripe. A PCR da expectoração pode também detectar o M. tuberculosis e faz agora parte da avaliação recomendada para pacientes com suspeita desse diagnóstico. CRITÉRIOS DE INTERNAÇÃO PENI URA CUDE ETIOLOGIA A lista numerosa de agentes etiológicos potenciais das PACs inclui bactérias, fungos, vírus e protozoários. Entre os patógenos identificados recentemente estão os metapneumovírus, os coronavírus responsáveis pela síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e pela síndrome respiratória do Oriente Médio (SROM) e as cepas de MRSA adquiridas na comunidade. Streptococcus pneumoniae é o mais comum. A separação dos agentes potenciais em patógenos bacterianos “típicos” ou microrganismos “atípicos” pode ser útil. Esse primeiro grupo inclui S. pneumoniae, Haemophilus influenzae e (em determinados casos) S. aureus e bacilos Gram-negativos, como Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa. Entre os microrganismos “atípicos” estão Mycoplasma pneumoniae, Chlamydia pneumoniae e as espécies de Legionella, assim como os vírus respiratórios, como influenza, adenovírus, metapneumovírus humano e vírus sinciciais respiratórios. Os mais comuns entre esses vírus são influenza, parainfluenza e vírus sincicial respiratório. Os microrganismos atípicos não podem ser isolados pelas técnicas de cultura em meios convencionais e nem podem ser detectados pela coloração de Gram. Eles são intrinsecamente resistentes a todos os antibióticos β-lactâmicos e devem ser tratados com um macrolídeo, uma fluoroquinolona ou uma tetraciclina. As pneumonias causadas por anaeróbios geralmente são complicadas por formação de abscessos e por empiemas significativos ou derrames parapneumônicos. A pneumonia causada por S. aureus é uma complicação bem conhecida da infecção pelo vírus influenza. Dois fatos importantes são responsáveis por esse problema: a disseminação do MRSA dos hospitais para as comunidades e o desenvolvimento de cepas geneticamente diferentes do MRSA na comunidade. As cepas de MRSA adquirido na comunidade (MRSA-AC) podem infectar pessoas sem associação com serviços de saúde. Infelizmente, é difícil prever com algum grau de certeza o agente etiológico da PAC; em mais de 50% dos casos, não é possível determinar uma etiologia específica. No entanto, os elementos epidemiológicos e os fatores de risco podem sugerir o envolvimento de determinados patógenos. EPIDEMIOLOGIA Junto com a influenza, a PAC é a oitava causa de morte. Em geral, 80% dos pacientes afetados são tratados ambulatorialmente e 20% são internados. As taxas de incidência são maiores nas faixas etárias extremas. Os fatores de risco para PAC em geral e para pneumonia pneumocócica em particular têm implicações nos esquemas terapêuticos recomendados. Entre os fatores de risco para PAC estão alcoolismo, asma, imunossupressão, institucionalização e idade ≥ 70 anos. Em idosos, fatores como redução dos reflexos da tosse e vômito e redução derespostas de anticorpos e receptores semelhante ao Toll aumentam a probabilidade de pneumonia. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A apresentação da PAC pode ser indolente ou fulminante e sua gravidade pode variar de leve a casos fatais. As manifestações de progressão e gravidade incluem achados constitucionais e aqueles limitados aos pulmões e a estruturas associadas. O paciente frequentemente tem febre e taquicardia, ou pode apresentar calafrios e/ou sudorese. A tosse pode ser seca ou produtiva com escarro mucoide, purulento ou sanguinolento. A hemoptise franca é sugestiva de pneumonia por MRSA-AC. Dependendo da gravidade, o paciente pode apresentar dispneia grave. Se houver acometimento da pleura, o paciente pode referir dor torácica pleurítica. Até 20% dos pacientes podem apresentar queixas gastrintestinais, como náuseas, vômitos e/ou diarreia. Outros sintomas podem incluir fadiga, cefaleia, mialgias e artralgias. As anormalidades do exame físico podem variar com a gravidade da condensação pulmonar e a existência ou ausência de derrame pleural significativo. É comum observar aumento da frequência respiratória e utilização dos músculos acessórios da respiração. A palpação pode detectar acentuação ou atenuação do frêmito toracovocal, e a percussão pode evidenciar submacicez e macicez, que refletem a condensação pulmonar ou o líquido pleural subjacente, respectivamente. A ausculta pode detectar estertores, sopros brônquicos e, possivelmente atrito pleural. A apresentação clínica pode não ser tão evidente nos idosos que, inicialmente, apresentam confusão mental de início súbito ou agravada e poucos sinais clínicos adicionais. O risco de complicações cardíacas secundárias ao aumento da inflamação e da atividade pró-coagulante é maior. Essas complicações incluem infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e arritmias, particularmente em idosos. Na PAC pneumocócica, o risco aumentado de eventos coronarianos agudos pode ser parcialmente devido à pneumólise, a qual aumenta a ativação plaquetária. Até 90% das síndromes coronarianas agudas ocorrem na primeira semana após o início da PAC, e o risco de ICC de início recente em idosos hospitalizados com PAC pode se estender até 1 ano. DIAGNÓSTICO Diagnóstico clínico O diagnóstico diferencial inclui distúrbios infecciosos e não infecciosos, como bronquite aguda, exacerbações agudas da bronquite crônica, insuficiência cardíaca, embolia pulmonar, pneumonite de hipersensibilidade e pneumonite pós-radiação. A história detalhada tem importância. Infelizmente, a sensibilidade e a especificidade das alterações detectadas pelo exame físico são baixas. Os idosos podem inicialmente se apresentar apenas com confusão. Por essa razão, as radiografias de tórax geralmente são necessárias para ajudar a diferenciar entre PAC e outros distúrbios. Os achados radiográficos servem como parâmetro para comparações futuras e podem incluir fatores de risco sugestivos de maior gravidade (p. ex., cavitações ou padrão multilobar). Para os pacientes ambulatoriais, a avaliação clínica e radiológica geralmente é suficiente antes de iniciar o tratamento para PAC, porque a maioria dos resultados dos exames laboratoriais não fica disponível a tempo, de forma a influenciar significativamente o tratamento inicial. Em determinados casos, a disponibilidade dos testes diagnósticos rápidos realizados ambulatorialmente pode ser muito importante (p. ex., o diagnóstico rápido da infecção pelo vírus influenza pode indicar o uso de fármacos específicos para esse microrganismo e a profilaxia secundária). Diagnóstico etiológico É comum que a etiologia da pneumonia não possa ser determinada somente com base na apresentação clínica. Com exceção dos casos de PAC internados em UTIs, não existem dados demonstrando que o tratamento dirigido a um patógeno específico seja estatisticamente superior ao tratamento empírico. Entretanto, algumas razões podem ser citadas para justificar a tentativa de chegar ao diagnóstico etiológico. A identificação de um patógeno inesperado pode restringir o uso do esquema empírico inicial, reduzir pressão seletiva dos antibióticos e diminuir o risco de resistência. Os patógenos com implicações importantes para a saúde pública, como Mycobacterium tuberculosis e vírus influenza, podem ser identificados em alguns casos. Por fim, sem culturas e testes de sensibilidade, não é possível acompanhar cuidadosamente as tendências da resistência e é mais difícil planejar esquemas terapêuticos empíricos apropriados. COLORAÇÃO DE GRAM E CULTURA DE ESCARRO O objetivo principal da coloração do escarro pelo Gram é confirmar que uma amostra é apropriada para cultura. A coloração pelo Gram pode ajudar a identificar alguns patógenos (p. ex., S. pneumoniae, S. aureus e bactérias Gram-negativas) por seu aspecto característico. A sensibilidade e a especificidade da coloração pelo Gram e da cultura do escarro são muito variáveis. Muitos pacientes, principalmente os idosos, podem não conseguir fornecer amostras adequadas. Outros podem já ter iniciado o tratamento com antibióticos e isso pode interferir nos resultados. A incapacidade de fornecer escarro pode resultar de desidratação e a sua correção pode aumentar a expectoração e acentuar o aspecto de um infiltrado na radiografia de tórax. Nos pacientes internados em UTI e intubados, o material obtido por aspirado traqueal ou lavado broncoalveolar (obtido por broncoscopia ou por outras técnicas) tem positividade alta na cultura quando a amostra é enviada ao laboratório de microbiologia no menor tempo possível. Como as etiologias da PAC grave são um pouco diferentes das que se observam na doença mais leve, as vantagens principais da coloração e da cultura das secreções respiratórias são alertar o médico para patógenos insuspeitos e/ou resistentes e permitir a modificação apropriada do tratamento. Outras técnicas de coloração e cultura (p. ex., colorações específicas para M. tuberculosis ou fungos) também podem ser úteis. HEMOCULTURAS A positividade das hemoculturas, mesmo quando as amostras são obtidas antes de se iniciar o tratamento antibiótico, é decepcionantemente baixa. Em razão da positividade baixa e da inexistência de impacto significativo, as hemoculturas não são mais consideradas obrigatórias para todos os pacientes hospitalizados com PAC. Alguns pacientes de alto risco – incluindo aqueles com neutropenia secundária à pneumonia, asplenia, deficiências de complemento, doença hepática crônica ou PAC grave – devem fazer hemoculturas. TESTE DE ANTÍGENOS URINÁRIOS Existem dois testes disponíveis no comércio para detectar antígenos pneumocócicos e de Legionella na urina. A sensibilidade e a especificidade do teste para antígeno da Legionella sorotipo 1 na urina podem chegar a 70 e 99%, respectivamente. O teste para antígeno pneumocócico na urina também é muito sensível e específico (70 e > 90%, respectivamente). Esses dois testes podem detectar os antígenos mesmo depois de ter sido iniciado o tratamento antibiótico apropriado. REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE Os testes de PCR, que amplificam o DNA ou o RNA dos microrganismos, estão disponíveis para alguns patógenos. O PCR de swabs de nasofaringe, por exemplo, se tornou o padrão para diagnóstico de infecções respiratórias virais. Além disso, a PCR pode detectar o ácido nucleico de espécies de Legionella, M. pneumoniae, C. pneumoniae e micobactérias. Porém, a custo-efetividade da PCR ainda não foi estabelecida. SOROLOGIA A elevação de quatro vezes no título dos anticorpos IgM específicos entre as amostras de soro das fases aguda e de convalescença geralmente é considerada diagnóstica da infecção pelo patógeno em questão. Recentemente eles passaram a ser menos usados devido ao tempo necessário para obter um resultado final para a amostra da fase de convalescença e à dificuldade de interpretação. BIOMARCADORES Várias substâncias podem servir como marcadores de inflamação grave. Os dois mais comumente usados são a proteína C-reativa e a procalcitonina (PCT). Os níveis desses reagentesde fase aguda aumentam na presença de uma resposta inflamatória, particularmente com patógenos bacterianos. A proteína C-reativa pode ser útil na identificação de piora da doença ou falha do tratamento, e a PCT pode ajudar para diferenciar entre infecções bacterianas e virais e determinar a necessidade de terapia antibacteriana, ou ainda para decidir quando suspender o tratamento. O teste de PCT pode reduzir o uso de antibióticos na PAC sem aumento concomitante no risco de falha terapêutica ou de morte. Esses testes não devem ser usados sozinhos, mas, quando interpretados em conjunto com outros achados podem ajudar na escolha da antibioticoterapia e manejo adequado de pacientes gravemente enfermos com PAC. TRATAMENTO LOCAL DE CUIDADOS Alguns pacientes podem ser tratados em casa, enquanto outros necessitam de hospitalização, mas essa decisão é difícil em alguns casos. Embora existam várias regras para essa previsão, as duas mais frequentemente usadas são o Índice de Gravidade da Pneumonia (IGP), um modelo prognóstico utilizado para identificar os pacientes com risco baixo de morte, e os critérios do CURB-65, que avaliam a gravidade da doença. Para determinar o IGP, o médico atribui pontos a 20 variáveis, inclusive idade, doenças coexistentes e anormalidades do exame físico e das análises laboratoriais. Com base no escore resultante, os pacientes são classificados em cinco grupos com as seguintes taxas de mortalidade: grupo 1: 0,1%; grupo 2: 0,6%; grupo 3: 2,8%; grupo 4: 8,2%; e grupo 5: 29,2%. A determinação do IGP costuma não ser possível em um setor de emergência lotado devido ao número de variáveis. - Porém, experiências clínicas demonstraram que a utilização rotineira do IGP possibilita a redução dos índices de hospitalização dos pacientes dos grupos 1 e 2. - Os pacientes no grupo 3 poderiam idealmente ser internados em unidade de observação até que se possa tomar novas decisões. Os critérios CURB-65 incluem cinco variáveis: confusão (C); ureia > 7 mmol/L (U); frequência respiratória ≥ 30/minuto (R); pressão arterial, sistólica ≤ 90 mmHg e diastólica ≤ 60 mmHg (B); e idade ≥ 65 anos (65). - Os pacientes com escore 0, entre os quais a taxa de mortalidade em 30 dias é de 1,5%, podem ser tratados ambulatorialmente. - Com um escore de 1 ou 2, o paciente deve ser hospitalizado a menos que o escore seja totalmente ou em parte atribuível a uma idade ≥ 65 anos. Em tais casos, a hospitalização pode não ser necessária. - Entre os pacientes com escores ≥ 3, a taxa de mortalidade global é de 22% e esses indivíduos podem necessitar de internação em UTI. É difícil dizer qual desses instrumentos de avaliação é melhor. Qualquer que seja o sistema utilizado, esses critérios objetivos sempre devem ser ajustados pela análise cuidadosa dos fatores relevantes a cada caso, inclusive a capacidade de concluir confiavelmente um ciclo de antibióticos orais e os recursos disponíveis ao paciente fora do hospital. Nem o IGP nem o CURB-65 são ideais para determinar a necessidade de cuidar do paciente em uma UTI. O choque séptico ou a insuficiência respiratória no setor de emergência são indicações óbvias para cuidados em UTI. RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS No caso das PACs, as questões principais de resistência atual envolvem o S. pneumoniae e o MRSA-AC. ● S. pneumoniae: Os cortes na concentração inibitória mínima (CIM) para a penicilina na pneumonia são de ≤ 2 μg/mL para suscetibilidade, > 2 a 4 μg/mL para intermediário e ≥ 8 μg/mL para resistente. A resistência dos pneumococos aos antibióticos β-lactâmicos é atribuída unicamente à baixa afinidade das proteínas ligadoras de penicilina. Ao contrário da resistência à penicilina, a resistência aos macrolídeos está aumentando por vários mecanismos. A resistência dos pneumococos às fluoroquinolonas (p. ex., ciprofloxacino e levofloxacino) também foi descrita. O fator de risco mais importante para infecção por pneumococos resistentes aos antibióticos é a utilização de um antimicrobiano específico nos 3 últimos meses. Desse modo, a história de tratamento antibiótico anterior é um fator crucial para evitar a utilização de um antibiótico inadequado. ● M. pneumoniae O M. pneumoniae resistente aos macrolídeos tem sido relatado em vários países. ● MRSA-AC A maioria das infecções causadas por PAC é adquirida direta ou indiretamente pelo contato com os serviços de saúde. Porém, em alguns hospitais, as cepas de MRSA-AC estão se tornando mais importantes que as cepas clássicas adquiridas nos hospitais – uma tendência sugestiva de que as cepas mais novas possam ser mais resistentes e dificultar essa diferenciação. A resistência do S. aureus pela meticilina, que codifica a resistência a todos os antibióticos β-lactâmicos. As cepas isoladas de MRSA-AC tendem a ser menos resistentes que as adquiridas nos hospitais e, em geral, são sensíveis ao sulfametoxazol-trimetoprima, à clindamicina e à tetraciclina, além de à vancomicina e à linezolida. ● Bacilos Gram-negativos A resistência às fluoroquinolonas entre as cepas de Escherichia coli isoladas da comunidade parece estar aumentando. Em geral, as espécies de Enterobacter são resistentes às cefalosporinas, e os antibióticos preferidos para tratar essas bactérias geralmente são fluoroquinolonas ou carbapenêmicos. Do mesmo modo, quando há suspeita ou comprovação de infecções causadas por bactérias que produzem β-lactamases de espectro estendido (ESBLs, de extended-spectrum β-lactamases), deve-se utilizar uma fluoroquinolona ou um carbapenêmico. TRATAMENTO ANTIBIÓTICO INICIAL Como o médico raramente conhece a etiologia da PAC antes de iniciar o tratamento, o esquema antibiótico inicial geralmente é empírico e tem como propósito cobrir os patógenos mais prováveis. Em todos os casos, o tratamento inicial deve ser iniciado o mais rapidamente possível. Nos Estados Unidos, as diretrizes para o tratamento das PACs representam decisões consensuais da IDSA e da ATS; as diretrizes canadenses foram definidas pela Canadian Infectious Disease Society e pela Canadian Thoracic Society. De acordo com todas essas diretrizes, a cobertura sempre deve incluir pneumococos e patógenos atípicos. Por outro lado, as diretrizes adotadas por alguns países europeus nem sempre incluem cobertura para patógenos atípicos, de acordo com os dados epidemiológicos locais. A cobertura para patógenos atípicos oferecida pelo acréscimo de um macrolídeo a um β-lactâmico ou pelo uso isolado de uma fluoroquinolona foi associada claramente à redução expressiva das taxas de mortalidade, quando comparadas com os pacientes tratados apenas com β-lactâmicos. MEDIDAS ADJUNTAS Hidratação adequada, oxigenoterapia para a hipoxemia, vasopressores e ventilação assistida quando necessária são fundamentais para um tratamento bem-sucedido. Os ensaios clínicos têm mostrado benefícios no tratamento de pacientes hospitalizados e de pacientes com PAC grave com o uso de prednisona e metilprednisolona, respectivamente. INEXISTÊNCIA DE MELHORA Os pacientes que demoram a responder ao tratamento devem ser reavaliados em torno do terceiro dia (ou antes, quando suas condições pioram em vez de simplesmente não melhorar), e várias possibilidades devem ser consideradas. Alguns distúrbios não infecciosos podem simular pneumonia, inclusive edema ou embolia pulmonar, carcinoma do pulmão, pneumonites pós-radiação e de hipersensibilidade e doenças do tecido conectivo com acometimento dos pulmões. Se o paciente realmente tiver PAC e o tratamento for dirigido ao patógeno certo, a inexistência de resposta pode ser explicada de algumas formas. O patógeno pode ser resistente ao antibiótico escolhido ou um foco sequestrado (p. ex., abscesso pulmonar ou empiema) pode estar impedindo o acesso do(s) fármaco(s) ao patógeno. O paciente pode estar piorando porque o fármaco, a dose ou a frequência de administração estão incorretos. Também pode acontecer de a PAC ser o diagnóstico certo, mas o agente etiológico ser um patógeno diferente (p. ex., MRSA-AC, M. tuberculosis ou um fungo). As superinfecções nosocomiais– pulmonares e extrapulmonares – são explicações plausíveis para a falta de melhora ou o agravamento em um paciente hospitalizado. Em todos os casos de resposta lenta ou piora clínica, o paciente deve ser reavaliado cuidadosamente e os exames apropriados devem ser iniciados, possivelmente incluindo TC ou broncoscopia. COMPLICAÇÕES As complicações comuns da PAC grave incluem insuficiência respiratória, choque e falência de múltiplos órgãos, coagulopatia e exacerbação das comorbidades existentes. Três complicações particularmente dignas de nota são infecções metastáticas, abscesso pulmonar e derrame pleural complicado. A infecção metastática (p. ex., abscesso cerebral ou endocardite) é muito incomum e necessitará de um alto índice de suspeição e de uma avaliação detalhada para um tratamento adequado. O abscesso pulmonar pode estar associado à aspiração ou às infecções causadas por um único patógeno da PAC, inclusive MRSA-AC, P. aeruginosa ou (raramente) S. pneumoniae. Os derrames pleurais significativos devem ser puncionados com finalidades diagnósticas e terapêuticas. ACOMPANHAMENTO Em geral, a febre e a leucocitose regridem em 2 a 4 dias nos indivíduos com PAC e saudáveis sob outros aspectos, mas as anormalidades do exame físico podem persistir por mais tempo. As anormalidades das radiografias de tórax demoram mais a regredir e podem necessitar de 4 a 12 semanas para desaparecer, com a rapidez de regressão dependendo da idade do paciente e da doença pulmonar subjacente. Os pacientes podem ser liberados do hospital quando suas condições clínicas, incluindo comorbidades, estiverem estáveis. Nos pacientes hospitalizados, recomenda-se uma radiografia de acompanhamento em aproximadamente 4 a 6 semanas. Se for demonstrada uma recaída ou recidiva, principalmente no mesmo segmento pulmonar, deve-se considerar a possibilidade de uma neoplasia subjacente. PROGNÓSTICO O prognóstico da PAC depende da idade do paciente, das suas comorbidades e do local em que o tratamento é efetuado (ambulatório ou hospital). Os pacientes jovens sem comorbidades evoluem bem e, recuperam-se por completo depois de aproximadamente 2 semanas. Os pacientes idosos e os que apresentam comorbidades podem demorar várias semanas ou mais para se recuperarem totalmente. PREVENÇÃO A medida profilática principal é a vacinação. As recomendações do Advisory Committee on Immunization Practices devem ser seguidas quanto às vacinas para influenza e pneumococos. PENI OCA À NAÇÃ MÂIC A pneumonia nosocomial é definida como infecção do parênquima pulmonar que ocorre depois de aproximadamente 48 horas de internação. A maior parte da pesquisa de pneumonia nosocomial se concentrou na PAV. Entretanto, as informações e os princípios baseados nesses estudos também podem ser aplicados à PAH (exceto UTI). A diferença principal entre estudos de PAV e PAH é a dependência do escarro expectorado para firmar o diagnóstico microbiológico na PAH (como na PAC). Assim, a maior parte da literatura se concentrou na PAH que resultou em intubação, quando o acesso ao trato respiratório inferior facilita um diagnóstico etiológico. ETIOLOGIA Entre os agentes etiológicos potenciais da PAV estão patógenos bacterianos MDR e não MDR. O grupo dos patógenos não MDR é praticamente idêntico ao dos microrganismos associados à PAC grave. Entretanto, se os pacientes tiverem outros fatores de risco, os patógenos MDR devem ser considerados, mesmo nos primeiros dias da internação hospitalar. A maioria dos hospitais tem problemas com P. aeruginosa e MRSA, enquanto os outros patógenos MDR frequentemente são específicos de cada instituição. Em casos menos comuns, os fungos ou os vírus patogênicos causam PAV, que geralmente ocorre nos pacientes com imunodepressão grave. Em casos raros, os vírus que circulam nas comunidades causam mini epidemias, geralmente quando são introduzidos pelos profissionais de saúde. EPIDEMIOLOGIA A pneumonia é uma complicação comum entre os pacientes que necessitam de ventilação mecânica. Em qualquer UTI, em média 10% dos pacientes têm pneumonia – PAV na grande maioria dos casos. Três fatores são fundamentais à patogênese da PAV: colonização da orofaringe por microrganismos patogênicos, aspiração desses patógenos da orofaringe para as vias aéreas inferiores e comprometimento dos mecanismos de defesa normais do hospedeiro. A maioria dos fatores de risco e suas medidas profiláticas correspondentes referem-se a um desses três fatores. O fator de risco mais evidente é o tubo endotraqueal, que neutraliza os fatores mecânicos normais que impedem a aspiração. Embora a presença do tubo endotraqueal possa evitar aspirações volumosas, a microaspiração na verdade é agravada pelas secreções acumuladas acima do balonete. O tubo endotraqueal e a necessidade concomitante de aspirar podem lesar a mucosa da traqueia e facilitar a colonização traqueal. Além disso, as bactérias patogênicas podem formar um biofilme de glicocálice na superfície do tubo, que as protege dos antibióticos e dos mecanismos de defesa. As bactérias também podem ser desalojadas durante a aspiração e reinocular a traqueia, ou fragmentos minúsculos de glicocálice podem embolizar para as vias aéreas distais, levando consigo as bactérias. Os fatores de risco mais importantes são as pressões seletivas dos antibióticos, a infecção cruzada transmitida por outros pacientes infectados/colonizados ou por equipamentos contaminados e a desnutrição. Os patógenos como P. aeruginosa quase nunca causam infecção nos pacientes que não foram tratados antes com antibióticos. A ênfase recente na higiene das mãos reduziu o índice de infecções cruzadas. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Em geral, as manifestações clínicas da PAV são as mesmas dos outros tipos de pneumonia: febre, leucocitose, aumento das secreções respiratórias e condensação pulmonar no exame físico, além de alterações ou aparecimento de novos infiltrados na radiografia de tórax. A frequência das radiografias torácicas anormais antes do início da pneumonia nos pacientes intubados e as limitações da técnica de radiografia no leito tornam a interpretação mais difícil que nos pacientes que não estão intubados. Outras manifestações clínicas podem ser taquipneia, taquicardia, deterioração da oxigenação e aumento da ventilação por minuto. DIAGNÓSTICO Não há um conjunto de critérios únicos que possa ser utilizado confiavelmente para estabelecer o diagnóstico de pneumonia nos pacientes submetidos à ventilação mecânica. A dificuldade de identificar de maneira acurada esses pacientes compromete os esforços no sentido de evitar e tratar a PAV e até mesmo coloca em dúvida as estimativas do impacto dessa complicação nas taxas de mortalidade. A utilização de critérios clínicos típicos para PAC quase sempre resulta na superestimação da PAV, principalmente em razão de três situações comuns encontradas nos pacientes de alto risco: (1) colonização traqueal frequente por bactérias patogênicas nos pacientes com tubos endotraqueais; (2) diversas causas possíveis para os infiltrados radiográficos dos pacientes mantidos em ventilação mecânica; e (3) frequência alta de outras causas de febre entre os pacientes em estado crítico. O diagnóstico diferencial da PAV inclui alguns distúrbios como edema pulmonar atípico, contusão pulmonar, hemorragia alveolar, pneumonite de hipersensibilidade, SARA e embolia pulmonar. Nos pacientes submetidos à ventilação mecânica com febre e/ou leucocitose, as manifestações clínicas podem ter outras causas, inclusive diarreia associada aos antibióticos, infecção de acesso venoso central, rinossinusite, infecção urinária, pancreatite e febre induzida por fármacos. As diretrizes mais recentes da IDSA/ATS para PAH/PAV fazem uma recomendação fraca para a abordagem clínica baseada na disponibilidade de recursos, custo e disponibilidade de experiência. As diretrizes reconheceram que o uso de uma abordagem quantitativa pode resultar em menos uso de antibióticos, o que pode ser fundamental para o manejodo uso de antibióticos na UTI. Assim, a abordagem de cada instituição (ou potencialmente para cada paciente) deve equilibrar a frequência de doenças complexas que são associadas com (1) maior frequência de causas alternativas para as manifestações clínicas, (2) maiores taxas de colonização, e (3) terapia antibiótica prévia mais frequente versus disponibilidade e experiência com técnicas invasivas para culturas quantitativas. Abordagem de culturas quantitativas O fundamento da abordagem baseada em culturas quantitativas é a diferenciação entre colonização e infecção verdadeira por meio da determinação da carga bacteriana. Quanto mais distal for o segmento analisado do sistema respiratório, maior a especificidade dos resultados e, por essa razão, menor o limiar de proliferação necessária para diagnosticar pneumonia e excluir colonização. Pelo contrário, a sensibilidade diminui à medida que são obtidas secreções mais distais, especialmente quando são recolhidas às cegas (i.e., por outra técnica além da broncoscopia). Outros exames que podem aumentar a positividade diagnóstica são a coloração de Gram, contagens diferenciais de células, colorações para microrganismos intracelulares e detecção de níveis locais altos de proteínas em resposta à infecção. Em resumo, a experiência com as técnicas de cultura quantitativa é fundamental, com obtenção dos espécimes logo que se suspeitar de pneumonia e antes de se iniciar ou alterar o tratamento com antibióticos. Abordagem clínica O reconhecimento geral da falta de especificidade de um diagnóstico clínico de PAV e os resultados de estudos com culturas quantitativas invasivas melhoraram a abordagem clínica ao diagnóstico de PAV. Os aspirados traqueais geralmente resultam em pelo menos o dobro de patógenos potenciais em comparação com as culturas quantitativas. Porém, o patógeno causador está quase sempre presente. A ausência de bactérias em aspirados endotraqueais corados pelo Gram faz da pneumonia uma causa improvável para a febre ou os infiltrados pulmonares. Combinados com a percepção aguçada dos diagnósticos alternativos possíveis nos pacientes sob suspeita de PAV, esses resultados podem evitar o sobre tratamento inadequado dessa doença. Além disso, a ausência de um patógeno MDR nas culturas do aspirado traqueal elimina a necessidade de cobertura para esses microrganismos, permitindo que a terapia antibiótica empírica seja desescalonada. Como os principais benefícios das culturas quantitativas broncoscópicas são as pressões seletivas reduzidas dos antibióticos (que diminuem o risco de infecção subsequente por patógenos MDR) e a detecção de focos infecciosos alternativos, uma abordagem clínica que incorpore esses princípios poderia conseguir resultados semelhantes. TRATAMENTO Muitos estudos demonstraram taxas de mortalidade mais altas com os esquemas antibióticos empíricos inicialmente inadequados. O elemento fundamental do tratamento antibiótico adequado da PAV é a consideração dos padrões de resistência dos patógenos mais prováveis em determinado paciente. RESISTÊNCIA AOS ANTIBIÓTICOS Se não fosse pelo risco de infecção por patógenos MDR, a PAV poderia ser tratada com os mesmos antibióticos utilizados nos casos graves de PAC. A PAV causada por esses patógenos surge durante o tratamento de outras infecções e a resistência sempre é evidenciada por ocasião do diagnóstico inicial. TERAPIA EMPÍRICA O tratamento deve ser iniciado logo depois da obtenção dos espécimes diagnósticos. O fator principal na escolha dos fármacos é a existência de fatores de risco para patógenos MDR. As escolhas entre as várias opções listadas dependem dos padrões locais de resistência e – um fator muito importante – da exposição pregressa do paciente aos antibióticos. O conhecimento do antibiograma e da incidência local de patógenos MDR-específicos (p. ex., MRSA) no hospital – e mesmo na UTI específica – é fundamental na seleção da terapia antibiótica apropriada. A maioria dos pacientes sem fatores de risco para infecção por patógenos MDR pode ser tratada com um único antibiótico. Infelizmente, a proporção de pacientes sem fatores de risco para MDR é < 10% em algumas UTIs e ela é desconhecida para pacientes com PAH. A recomendação padronizada para os pacientes com fatores de risco para infecção por patógenos MDR consiste em três antibióticos: dois direcionados para P. aeruginosa e um para MRSA. Um agente β-lactâmico fornece a melhor cobertura, mesmo que o agente de espectro mais amplo – um carbapenêmico – ainda ofereça terapia inicial inadequada em até 10 a 15% dos casos em alguns centros. O surgimento de resistência a carbapenêmicos em algumas instituições necessita da adição de polimixinas às opções de terapia combinada. TRATAMENTO ESPECÍFICO Quando o diagnóstico etiológico é conhecido, o tratamento empírico de espectro amplo pode ser modificado para tratar especificamente o agente patogênico identificado. Para pacientes com fatores de risco para MDR, os regimes antibióticos podem ser reduzidos a um único agente na maioria dos casos. Apenas uma minoria dos pacientes precisa concluir o tratamento com dois ou três antibióticos. Uma cultura negativa no aspirado traqueal ou o crescimento abaixo do limiar para culturas quantitativas para amostras obtidas antes de qualquer mudança nos antibióticos sugere fortemente que os antibióticos devem ser suspensos ou que se deve buscar um diagnóstico alternativo. A identificação de outros focos infecciosos suspeitos ou confirmados pode exigir a manutenção do tratamento antibiótico, mas o espectro patogênico (e as opções de antibióticos correspondentes) pode ser diferente do que se observa com a PAV. Um curso de tratamento por 7 ou 8 dias é tão eficaz quanto o de 2 semanas e está associado ao desenvolvimento menos frequente de cepas resistentes aos antibióticos. A controvérsia principal em torno do tratamento específico da PAV refere-se à necessidade de manter o tratamento combinado para pneumonias por Pseudomonas. As diretrizes atuais recomendam que não se utilize a terapia combinada continuada na maioria dos casos de pneumonia por Pseudomonas. INEXISTÊNCIA DE MELHORA As falhas terapêuticas são comuns na PAV, principalmente quando a infecção é causada por patógenos MDR. A PAV causada por MRSA está associada ao índice de falência clínica de 40% quando os pacientes são tratados com vancomicina nas doses convencionais. Uma das soluções propostas mas não comprovadas é administrar tratamento com um único fármaco em doses altas, embora o risco de toxicidade renal aumente com essa abordagem. A linezolida parece ser 15% mais eficaz até mesmo que a vancomicina em doses ajustadas e é claramente o antibiótico preferido para pacientes com insuficiência renal e indivíduos infectados por MRSA com CIM alta. A PAV causada por Pseudomonas tem taxa de falha de 40 a 50%, independentemente do esquema utilizado. As causas do insucesso clínico variam conforme o(s) patógeno(s) e o(s) antibiótico(s). Em geral, o tratamento inicial inadequado pode ser minimizado pela utilização do esquema combinado recomendado. Porém, a emergência de resistência aos β-lactâmicos durante a terapia é um problema importante, especialmente em infecções por espécies de Pseudomonas e Enterobacter. A PAV recorrente causada pelo mesmo patógeno é possível, pois o biofilme nos tubos endotraqueais permite a reintrodução do microrganismo. A pneumonia causada por uma superinfecção recente, a existência de focos infecciosos extrapulmonares e os efeitos tóxicos dos fármacos devem ser incluídos no diagnóstico diferencial da falência terapêutica. As medidas seriadas dos níveis de procalcitonina parecem refletir com precisão a resposta clínica, enquanto as culturas quantitativas repetidas podem definir a resposta microbiológica. COMPLICAÇÕES Além das mortes, a complicação principal da PAV é o prolongamento da ventilação mecânica com aumentos correspondentes da permanência na UTI e no hospital. Em casos raros, a pneumonia necrosante (p. ex., causada por P. aeruginosa) causa hemorragiapulmonar significativa. Mais comumente, as infecções necrosantes causam complicações de longo prazo como bronquiectasia e sequelas parenquimatosas com pneumonias recidivantes. Outras complicações de longo prazo das pneumonias são subestimadas. A pneumonia provoca um estado catabólico nos pacientes que já se encontram sob risco nutricional. A perda muscular e a debilitação geral associadas a um episódio de PAV frequentemente exigem reabilitação prolongada e, nos indivíduos idosos, comumente são responsáveis pela incapacidade de readquirir a independência funcional e pela necessidade de internação em um asilo. ACOMPANHAMENTO Quando ocorre, a melhora clínica geralmente é evidenciada nas primeiras 48 a 72 horas depois de iniciar o tratamento antimicrobiano. Como as alterações das radiografias do tórax comumente pioram no início do tratamento, elas não são tão úteis quanto os critérios clínicos como indicadores da resposta clínica da pneumonia grave. PROGNÓSTICO A PAV está associada com taxas gerais de mortalidade de até 50 a 70%, mas o problema real é a mortalidade atribuível. Muitos pacientes com PAV têm doenças coexistentes que poderiam levar à morte, mesmo que não desenvolvessem esse tipo de pneumonia. Em geral, os patógenos MDR estão associados às taxas de mortalidade atribuíveis significativamente maiores que os demais microrganismos. A pneumonia causada por alguns patógenos (p. ex., S. maltophilia) é simplesmente um indício de que o sistema imune do paciente está tão deprimido que a morte é praticamente inevitável. PREVENÇÃO Em vista da importância do tubo endotraqueal como fator de risco para PAV, a intervenção profilática mais importante é evitar a intubação endotraqueal ou pelo menos abreviar sua duração. A ventilação não invasiva bem-sucedida evita muitos dos problemas associados aos tubos endotraqueais. As tentativas agressivas de extubar precocemente podem causar reintubações, que aumentam o risco de PAV. A sedação profunda contínua aumenta o risco de PAV, mas a auto extubação possibilitada pela sedação insuficiente também é perigosa. O conflito de decisão também se aplica ao tratamento antibiótico. A profilaxia antibiótica de curto prazo pode reduzir o risco de PAV dos pacientes comatosos que necessitam de intubação e alguns dados sugerem que os antibióticos reduzem a incidência dessa complicação em geral. Entretanto, o efeito benéfico mais expressivo parece ser a redução da incidência da PAV de início precoce, que geralmente é causada por microrganismos não MDR menos patogênicos. Por outro lado, os ciclos prolongados de antibióticos sempre aumentam o risco de PAV causada por patógenos MDR mais letais. Apesar da sua virulência e da mortalidade associada, a PAV causada por Pseudomonas é rara entre os pacientes que não foram tratados recentemente com antibióticos. A redução da microaspiração ao redor do balonete do tubo endotraqueal também é uma estratégia para evitar PAV. A elevação da cabeceira do leito (no mínimo a 30° acima da linha horizontal, mas de preferência a 45°) reduz a incidência da PAV. Os tubos endotraqueais especialmente modificados, que permitem a remoção das secreções acumuladas acima do manguito, também podem evitar a PAV. A relação risco-benefício de transferir o paciente da UTI para realizar exames ou procedimentos diagnósticos deve ser cuidadosamente analisada, porque a incidência da PAV é maior entre os pacientes transportados. Treinamento e lembretes quanto à importância da lavagem cuidadosa das mãos e outras práticas de controle das infecções podem diminuir esse risco. PENI URA HIT Embora tenha sido muito menos estudada que a PAV, a PAH dos pacientes não intubados – dentro e fora da UTI – é semelhante à PAV. As diferenças principais são as frequências mais altas dos patógenos não MDR e as condições de imunidade geralmente melhores dos pacientes não intubados. A frequência mais baixa dos patógenos MDR permite utilizar a monoterapia em uma porcentagem maior dos casos de PAH, em comparação com os de PAV. Embora sejam mais comuns em pacientes com PAH, os anaeróbios geralmente contribuem apenas para as pneumonias polimicrobianas. Assim como ocorre com o tratamento da PAC, o tratamento específico para anaeróbios provavelmente não seja necessário, porque muitos dos antibióticos recomendados são ativos contra os anaeróbios. Nos pacientes que não estão intubados, o diagnóstico da PAH é ainda mais difícil que o da PAV. As amostras das vias aéreas inferiores apropriadas para cultura são muito mais difíceis de obter dos pacientes que não estão intubados. Algumas das doenças subjacentes que predispõem o paciente à PAH também estão associadas à incapacidade de tossir adequadamente. Como as hemoculturas dificilmente são positivas (< 15% dos casos), a maioria dos pacientes com PAH não tem resultados de cultura nos quais se possam basear as modificações do tratamento antibiótico. Por essa razão, a redução do tratamento é menos provável nos pacientes com fatores de risco para patógenos MDR. Apesar dessas dificuldades, as defesas mais eficazes dos pacientes que não estão em UTI resultam em taxas de mortalidade menores que as associadas à PAV. Além disso, o risco de falha do tratamento antibiótico é menor na PAH. INÇÕS UMES - NÓIC ERAL NUA DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O Streptococcus pneumoniae, que é a origem infecciosa identificada mais comum de pneumonia adquirida na comunidade. O H. influenzae, o S. aureus, a P. aeruginosa e outros bacilos Gram-negativos são, a seguir, as causas mais frequentes de pneumonia adquirida na comunidade. O Haemophilus, em geral causa pneumonia apenas em pessoas que apresentam doença broncopulmonar prévia. A Pseudomonas e outros bacilos Gram-negativos geralmente causam pneumonia em pacientes que apresentam doença estrutural do pulmão e que estejam sob corticoterapia ou sejam imunossuprimidos por outras razões. Quando o vírus influenza está ativo em uma comunidade, é identificado numa proporção substancial de pacientes admitidos na unidade de tratamento intensivo devido à pneumonia adquirida na comunidade. O rinovírus é detectado com frequência, mas seu papel como causa da pneumonia não está bem estabelecido. O vírus sincicial respiratório, o coronavírus e o metapneumovírus humano estão claramente implicados como causas de pneumonia e são, a seguir, os vírus mais frequentemente identificados em adultos hospitalizados por pneumonia. Surtos de pneumonia por adenovírus podem ocorrer em recrutas militares. Uma vez que bactérias coinfectantes podem também ser detectadas em cerca de metade dos casos de pneumonia viral documentada, a identificação de um vírus por PCR em um paciente com pneumonia não prova que o vírus é a causa ou a única causa de doença. Outras características, tais como o histórico, a gravidade da doença, a produção de expectoração, a natureza do infiltrado pulmonar, a contagem de leucócitos e o nível de procalcitonina podem ajudar a inferir ou a refutar o diagnóstico de pneumonia viral. Embora o Mycoplasma e a C. pneumoniae sejam causas comuns de pneumonia em ambulatório, estes são com menos frequência responsáveis por hospitalizações. A pneumonia causada por esses organismos caracteriza-se por tosse não produtiva prolongada, febrícula e infiltrados pulmonares dispersos. A PCR é preferível em relação às sorologias para o diagnóstico de infecções por Chlamydophila ou Mycoplasma. Outras causas de Síndrome Pneumônica A síndrome composta por febre, tosse e produção de expectoração sem infiltrado pulmonar é denominada bronquite aguda. Em pessoas que não apresentam doença pulmonar crônica, a bronquite aguda é geralmente uma doença viral autolimitada, mas a infecção bacteriana, por exemplo por H. influenzae, pode causar bronquite em pacientes que têm DPOC. Tosse seca persistente durante várias semanas, sem febre ou expectoração, sugere tosse convulsa ou uma síndrome pós-infecção viral devido, por exemplo, a adenovírus. O contextoepidemiológico pode sugerir causas infecciosas específicas de pneumonia. O Coccidioides immitis, encontrado em regiões áridas das Américas, ou o Histoplasma capsulatum, encontrado em todo o mundo, mas especialmente nas bacias dos rios da América do Norte, causam uma proporção variável de pneumonias adquiridas na comunidade em regiões endêmicas. A exposição a animais de pecuária ou a residência no período estival tardio em zonas de fazenda quentes e secas sugere Coxiella burnetii (febre Q), especialmente em pacientes com cefaleias importantes e com alterações das enzimas hepáticas. A exposição a psitacídeos deve levantar a suspeita de Chlamydia psittaci. A tuberculose deve ser suspeitada em pacientes que moraram em regiões endêmicas, em pacientes que foram reclusos ou são sem-teto e em pacientes imunossuprimidos, particularmente em pacientes com AIDS. O Mycobacterium kansasii pode causar uma síndrome idêntica em pacientes sem nenhum fator de risco descrito. O Mycobacterium avium, frequentemente denominado Mycobacterium avium-intracellulare (MAI) ou complexo Mycobacterium avium (MAC), causa pneumonia bilateral difusa em pacientes imunossuprimidos. O Mycobacterium intracellulare também é conhecido por causar pneumonia em adultos, especialmente em homens com bronquiectasias ou cicatrizes pulmonares extensas devido a enfisema ou a tuberculose previamente tratada. Esse organismo também causa doença em mulheres de meia-idade que não apresentam tais fatores de risco; nessas pacientes, infiltrados sutis podem passar despercebidos na radiografia torácica de rotina. Pacientes com infecção por HIV são suscetíveis a uma variedade de infecções pulmonares, dependendo do grau de imunossupressão que apresentam. Essas infecções oportunistas incluem micobactérias tuberculosas típicas e atípicas e micobactérias não tuberculosas, o Pneumocystis, o Histoplasma e o Cryptococcus. Os pacientes com AIDS têm também um risco aumentado em 50 a 100 vezes para o desenvolvimento de doença pneumocócica. Mesmo após uma avaliação exaustiva, o agente etiológico não é identificado em cerca de metade dos pacientes hospitalizados por sintomas, achados no exame físico, alterações laboratoriais e alterações radiológicas compatíveis com pneumonia adquirida na comunidade. Presume-se que uma infecção bacteriana seja responsável pela maioria dessas pneumonias, dado que, geralmente, elas respondem à terapia com antibióticos. Considerações Não Infecciosas Muitas condições não infecciosas causam síndromes compatíveis com pneumonia aguda ou subaguda. A pneumonia em organização criptogênica, a pneumonia intersticial aguda, a pneumonia eosinofílica e outras pneumonias intersticiais são condições incomuns que quase sempre são erroneamente diagnosticadas de modo inicial como pneumonias adquiridas na comunidade. A hemorragia pulmonar e a vasculite podem também causar infiltrados pulmonares e febre. Na vasculite granulomatosa associada a ANCAs, esses infiltrados podem também associar-se a lesões cavitadas. Um histórico criterioso pode revelar história mais prolongada de sintomas e a revisão atenta das radiografias de tórax iniciais pode revelar a existência de alterações radiográficas prévias, compatíveis com um processo crônico, não infeccioso. Êmbolos pulmonares com infarto podem causar dor torácica pleurítica e infiltrados pulmonares, com expectoração que contém neutrófilos mas poucas ou nenhuma bactéria. Os pacientes com êmbolos sépticos devem ser avaliados para determinar a presença de outro foco de infecção, como uma válvula cardíaca infectada ou um dispositivo intravascular. O edema pulmonar é a causa não infecciosa mais comum de uma síndrome semelhante à pneumonia adquirida na comunidade e de pacientes de meia-idade e mais velhos. O diagnóstico deve ser baseado no histórico, no exame físico, nos achados radiográficos e apoiado por níveis elevados de peptídeo natriurético tipo B. Pacientes com câncer pulmonar frequentemente apresentam-se com febre e infiltrado pulmonar que, por vezes, é atribuído à pneumonia pós-obstrutiva. A síndrome do desconforto respiratório agudo na sequência de uma infecção não pulmonar grave é muitas vezes indistinguível de uma pneumonia porque normalmente apresenta-se com febre, crepitações pulmonares, elevação da contagem de leucócitos e infiltrados pulmonares. À luz dessas possibilidades, devem ser consideradas, pelo menos, outras infecções ou causas não infecciosas antes de se tratar presuntivamente uma pneumonia adquirida na comunidade com a terapia empírica recomendada pelas diretrizes.
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