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Bento Herculano Duarte Neto
Paulo Henrique dos Santos Lucon
Sergio Torres Teixeira
Teoria Geral do Processo
Teoria Geral do Processo
www.iesde.com.br
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-2805-4
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
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mais informações www.iesde.com.br
Bento Herculano Duarte Neto
Paulo Henrique dos Santos Lucon
Sergio Torres Teixeira
IESDE Brasil S.A.
Curitiba
2012
Teoria Geral do Processo
5.ª edição
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A., 
mais informações www.iesde.com.br
© 2005-2010 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por 
escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Capa: IESDE Brasil S.A.
Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.
IESDE Brasil S.A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Todos os direitos reservados.
04
/1
2
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
_________________________________________________________________________
D873t
5.ed.
 
Duarte Neto, Bento Herculano
 Teoria geral do processo / Bento Herculano Duarte Neto, Paulo Henrique dos 
Santos Lucon, Sergio Torres Teixeira. - 5.ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 
2012. 
 236p. : 21 cm(PEJ - Direito processual civil)
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-387-2805-4
 
 1. Direito processual. 2. Direito processual - Brasil. 3. Processo civil - Brasil. 
I. Lucon, Paulo Henrique dos Santos. II. Teixeira, Sergio Torres. III. Título. 
IV. Série. 
12-3105. 
 CDU: 347.91/.95(81)
11.05.12 18.05.12 035436 
_________________________________________________________________________
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mais informações www.iesde.com.br
Doutor em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Cató-
lica de São Paulo (PUC-SP). Professor da Universidade Federal do Rio Grande do 
Norte (UFRN), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e da Universidade 
Potiguar (UnP). Professor convidado de cursos de Pós-Graduação na Universi-
dade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), no Centro Universitário de João Pessoa 
(Unipê), na Universidade da Amazônia (Unama), no Centro Universitário Nilton 
Lins (UniNiltonLins-AM), no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF) e na 
Universidade Federal de Feira de Santana (UEFS). Membro da Academia Nacio-
nal de Direito do Trabalho (ANDT) e do Instituto Brasileiro de Direito Processual 
(IBDP). Juiz do Trabalho da 21.ª Região.
Bento Herculano Duarte Neto
Doutor e Mestre em Direito Processual pela Faculdade de Direito da Uni- 
versidade de São Paulo (USP). Especialista em Direito Processual Civil pela 
Universidade Estatal de Milão. Professor Doutor de Direito Processual Civil da 
USP. Diretor do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP). Membro do 
Instituto Ibero-Americano de Direito Processual (IIDP) e da International Asso-
ciation of Procedural Law. Juiz do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São 
Paulo. Advogado. 
Paulo Henrique dos Santos Lucon
Doutor em Direito Público pela Universidade Federal de Pernambuco 
(UFPE). Professor de Graduação e Pós-Graduação da UFPE. Professor da Escola da 
Magistratura de Pernambuco (Esmape) e coordenador da Escola Superior da Ma-
gistratura Trabalhista de Pernambuco (Esmatra). Juiz do Trabalho da 6.ª Região.
Sergio Torres Teixeira
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Sumário
Evolução histórica do Direito Processual ............................9
Introdução ......................................................................................................................................9
Antecedentes do moderno modelo processual ............................................................ 11
Fases da doutrina processual ................................................................................................ 14
Evolução do modelo processual brasileiro ...................................................................... 18
Princípios de Direito Processual Civil ................................ 23
Considerações introdutórias ................................................................................................. 23
Os princípios jurídicos e a evolução do Processo Civil brasileiro ............................. 24
Os princípios processuais – autonomia em face do direito material ...................... 26
Conceito de princípio jurídico .............................................................................................. 27
Princípios processuais – considerações antecedentes ................................................ 36
Princípios constitucionais de Direito Processual Civil .................................................. 37
Princípios informativos gerais do Direito Processual Civil .......................................... 55
Princípios informativos específicos do Direito Processual Civil ................................ 63
Instrumentalidade do processo, 
efetividade processual e acesso à Justiça ........................ 85
Introdução ................................................................................................................................... 85
Escopos do processo jurisdicional ...................................................................................... 89
Instrumentalidade do processo ........................................................................................... 90
Efetividade processual ............................................................................................................. 93
Acesso à Justiça .......................................................................................................................... 98
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Jurisdição ..................................................................................103
Introdução .................................................................................................................................103
Jurisdição: generalidades .....................................................................................................106
Escopos da jurisdição .............................................................................................................108
Poderes compreendidos na jurisdição ............................................................................109
Características da jurisdição ................................................................................................110
Princípios inerentes à jurisdição ........................................................................................112
Divisibilidade e indivisibilidade da jurisdição ...............................................................117
Tutela jurisdicional objetivada ..........................................123
Ação e tutela jurisdicional objetivada .............................................................................123
Quatro gêneros ........................................................................................................................123
Ações de conhecimento .......................................................................................................125Competência ............................................................................141
Introdução .................................................................................................................................141
Competência: generalidades ..............................................................................................142
Classificação da competência .............................................................................................143
Competência interna .............................................................................................................145
Ação: elementos e condições ............................................151
Introdução .................................................................................................................................151
Ação: generalidades ...............................................................................................................151
Natureza da ação .....................................................................................................................152
Elementos da ação ..................................................................................................................156
Ação e suas condições ..........................................................161
Conceito constitucional ........................................................................................................161
Acesso à Justiça, celeridade e segurança jurídica .......................................................161
Pressupostos de admissibilidade ao julgamento de mérito ...................................162
Teorias .........................................................................................................................................162
Matéria de ordem pública e extinção do processo .....................................................164
Hipóteses em que não há extinção do procedimento principal ...........................164
Momento da apreciação .......................................................................................................165
Condições da ação ..................................................................................................................165
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Defesa e exceção ....................................................................171
Introdução .................................................................................................................................171
Resposta do réu .......................................................................................................................172
Atitudes do réu .........................................................................................................................177
Processo .....................................................................................181
Introdução .................................................................................................................................181
Processo: generalidades .......................................................................................................182
Natureza jurídica do processo ............................................................................................183
Características da relação processual ..............................................................................186
Processo e procedimento .....................................................................................................187
Pressupostos processuais .....................................................................................................189
Atos, termos e prazos processuais ...................................193
Introdução .................................................................................................................................193
Ato processual: generalidades ...........................................................................................194
Termo processual ....................................................................................................................196
Prazos processuais ..................................................................................................................197
Comunicação dos atos processuais ..................................................................................200
Vícios e nulidades do ato processual ..............................205
Introdução .................................................................................................................................205
Requisitos de validade do ato processual ......................................................................206
Espécies de vícios do ato processual................................................................................207
Nulidades no âmbito processual ......................................................................................213
Referências ................................................................................219
Anotações .................................................................................233
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9
Sergio Torres Teixeira
Introdução
Em qualquer comunidade humana, é inevitável o surgimento de conflitos 
intersubjetivos envolvendo os respectivos integrantes. Por mais pacífico e civi-
lizado que seja um grupo de pessoas, nem sempre haverá harmonia dentro da 
diversidade de vontades e opiniões que marcam a humanidade. O entrecho-
que de interesses de sujeitos distintos, portanto, é algo inerente à vida social. 
E, assim, em qualquer coletividade haverá, mais cedo ou mais tarde, a colidên-
cia entre o interesse de um sujeito e o interesse de outro indivíduo. 
Trata-se, por conseguinte, de uma realidade inerente ao ambiente hu-
mano. Uma característica inafastável da vida social.
A inevitável ocorrência de lides no âmbito da coletividade, por sua vez, 
impõe à comunidade a necessidade de proporcionar aos litigantes meios 
de pacificação de tais conflitos, em virtude da evidente tensão social gerada 
e do natural desgaste decorrente de tal tensão. É de fundamental relevância 
para a própria sobrevivência da comunidade, reconhecer e disciplinar essas 
vias de composição dos litígios.
São três os caminhos básicos da composição: a autodefesa, a autocompo-
sição e a heterocomposição. 
Na autodefesa (ou autotutela), uma das partes da relação conflituosa 
impõe a prevalência do seu interesse sobre o do seu adversário, usando ou 
ameaçando usar qualquer espécie de força para assegurar o triunfo de sua 
pretensão. Há, assim, composição do conflito de forma intra partes, sem a 
intervenção de um terceiro1, mediante a materialização ou a ameaça de con-
Evolução histórica 
do Direito Processual
1 Na realidade, é possível existir na autodefesa a intervenção de um terceiro estranho à relação litigiosa originária, mas 
não na qualidade de um terceiro imparcial. O “terceiro”, assim, seria alguém com interesse em favorecer um dos lados. 
Ocorre, por exemplo, quando alguém se intromete numa disputa entre dois adversários para ajudar um dos litigantes 
a impor a sua vitória, mediante o uso ou ameaça de uso da força. A figura de um terceiro imparcial, assim, é estranha 
à autodefesa. 
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Evolução histórica do Direito Processual
cretização de alguma forma de coerção, seja esta força de natureza física, moral, 
intelectual, política ou econômica.2Na autocomposição, a solução também é intra partes3, ou seja, definida pelos 
próprios litigantes, mas (ao menos na sua forma pura4) não há uso ou ameaça de 
uso de qualquer espécie de força. Em tal forma de composição, a lide é encerrada 
de forma pacífica, sem a tensão decorrente da índole coativa inerente à autode-
fesa. A autocomposição, por seu turno, pode ser decorrente de ato unilateral ou 
ato bilateral. Nesta última forma, ocorre a pacificação mediante uma negociação 
(ou seja, transação), na qual os litigantes, por meio de concessões recíprocas, 
chegam a um denominador comum. Na autocomposição unilateral, por outro 
lado, um dos litigantes simplesmente se despoja do seu interesse em conflito, 
havendo a renúncia (quando quem desiste é o titular da pretensão originalmente 
manifestada) ou a submissão (quando quem abre mão do interesse é aquele que 
estava oferecendo uma resistência à pretensão do seu adversário) de um em favor 
do outro.5
Na heterocomposição, por fim, a solução do litígio decorre da intervenção pro-
vocada de um terceiro, estranho à relação material conflituosa, mas a quem se 
outorga o poder de decidir a contenda. Um ou ambos os litigantes, assim, invoca 
a atuação de um terceiro imparcial para definir qual o interesse a ser preservado 
e qual aquele a ser sacrificado. Tradicionalmente, são apontadas duas subespécies 
de heterocomposição, o processo judicial e o processo arbitral. Nesta, as partes 
optam por estabelecer por contrato que eventual conflito será dirimido por um 
árbitro (convenção arbitral) ou, após o surgimento do conflito, elegem um árbitro 
2 A moderna legislação pátria ainda admite tal fórmula primitiva de compor conflitos, mas de modo restrito, considerando 
hipóteses legais tipificadas pelo legislador e sempre admitindo a revisão judicial dos atos praticados em autotutela de interesses, 
como a legítima defesa, a greve e o esforço imediato em questões possessórias. Tal disciplina, por sua vez, decorre da natural 
preocupação do Estado com as consequências da permissão para atos de “Justiça Privada”, bem como a ausência de compro-
misso com a justiça, uma vez que na autodefesa o vencedor nem sempre é aquele que tinha razões legítimas para tanto. 
3 A autocomposição é uma forma de solução intra partes, uma vez que a definição da composição é incumbência do(s) próprio(s) 
litigante(s). No entanto, nada obsta que haja a presença de um terceiro atuando como simples elo entre os litigantes, sem 
qualquer poder de decisão. Trata-se da chamada autocomposição assistida. É o que ocorre na mediação e na conciliação, 
quando o mediador ou conciliador atua com o intuito de levar os adversários a um acordo, mas não revela poder para impor 
uma solução.
4 Em alguns casos, aquilo que é apresentado como uma forma de autocomposição, na realidade representa apenas uma espécie 
de autodefesa “camuflada”. Ocorre quando uma transação ou desistência unilateral se materializa não pela livre e espontânea 
vontade do participante, mas sim por causa de uma ameaça velada da parte adversa.
5 Ao contrário da sua postura diante da autodefesa, o Estado moderno estimula a autocomposição de conflitos, especialmente 
mediante a via negocial, prevendo restrições apenas em relação a conflitos envolvendo interesses indisponíveis, quando não 
admite a transação ou desistência. Tal postura, favorável à autocomposição, decorre de dois fatores: trata-se de uma forma pouco 
dispendiosa de solucionar conflitos e, via de regra, as partes saem satisfeitas com o respectivo resultado, já que a definição partiu 
da sua própria atuação.
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Evolução histórica do Direito Processual
11
(ou um colegiado de árbitros) para decidir o conflito, assumindo então o compro-
misso de acatar a respectiva decisão (compromisso arbitral)6. Naquela, uma das 
partes em conflito provoca o Estado mediante o exercício do seu direito de ação, 
invocando a atuação dele diante de determinado caso concreto envolvendo um 
conflito de seu interesse, com o intuito de obter uma prestação jurisdicional.
No contexto do presente estudo sobre o Direito Processual, interessa especi-
ficamente o exame dessa última modalidade de heterocomposição, conhecida 
como processo judicial ou processo jurisdicional7. Antes de proceder à análise 
dos seus principais elementos e suas instituições estruturais, entretanto, torna-se 
necessário realizar uma abordagem acerca dos seus conceitos históricos.
O estudo da história do Direito Processual, por sua vez, passa pela visualização 
de seus sistemas antecedentes, de seu desenvolvimento doutrinário e, na ótica 
do direito brasileiro, das evoluções legislativas dos modelos processuais aqui ado-
tados. As próximas seções, assim, tratarão de tais elementos históricos.
Antecedentes do moderno modelo processual
Modelos “processuais”, nos quais ocorre a disciplina de uma fórmula de hete-
rocomposição reconhecida como oficial pela comunidade humana, remonta aos 
primórdios da civilização. Mesmo antigos diplomas normativos como os Códigos 
de Hamurábi e de Manu estipulavam, dentre as suas regras, diversas normas de 
caráter “processual”, envolvendo o modo de proceder na composição de conflitos 
perante um representante da comunidade respectiva, normalmente um ancião 
(pela sua experiência) ou um sacerdote (pela sua proximidade com os deuses). 
Mesmo reconhecendo a riqueza da diversidade de sistemas processuais da 
Antiguidade, contudo, a doutrina tradicional, com especial destaque para as 
obras do processualista italiano Giuseppe Chiovenda8, apresenta apenas três 
modelos processuais como as principais fontes de inspiração para o moderno sis-
tema processual ocidental, inclusive aquele adotado pelo direito brasileiro. São 
eles os modelos relativos ao processo romano, ao processo germânico e ao pro-
cesso comum medieval.
6 No Brasil, a arbitragem é disciplinada pela Lei 9.307/96.
7 As denominações processo judicial e processo jurisdicional, aqui consideradas como expressões sinônimas, são utilizadas para 
diferenciar a fórmula de heterocomposição estatal com outras modalidades de “processos” não necessariamente destinados 
a compor conflitos, como o processo legislativo, o processo administrativo etc.
8 Vide a obra de Chiovenda (1998, p. 135).
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12
Evolução histórica do Direito Processual
O processo romano, desenvolvido como método de composição de litígios 
durante as várias fases do Império Romano9, era de excepcional técnica, atin-
gindo considerável nível de aprimoramento. Sendo aperfeiçoado a cada geração 
de jurisconsultos, com elaborações profundas à luz da lógica, mas com inegável 
senso prático, o processo romano abrangia procedimentos bem delineados e 
aptos a satisfazer as exigências da comunidade romana, alcançando o objetivo 
de realizar a justiça, e, assim, “dar a cada um o que é seu”. O escopo do processo 
romano, assim, “[...] consistia na atuação da vontade da lei em relação a determi-
nado bem da vida (res in iudicio deducta)” (ALVIM, 2004, p. 28).
Os elementos processuais, na disciplina do processo romano, eram bem defi-
nidos. O magistrado (ou pretor) exerce uma função pública (o iurisdictio), decor-
rente da soberania, cuja principal atribuição era obter ciência dos fatos (notio) e, 
em seguida, fazer atuar o direito material (iudicio), estando entre o povo e a lei. A 
prova, por sua vez, revela como meta levar ao magistrado o conhecimento acerca 
dos fatos litigiosos para permitir a definição da sua convicção, cabendo ao juiz pro-
latar o seu julgamento livremente segundo a sua visão do quadro fático extraído 
do conjunto probatório. A forma do processo, por seu turno, era oral, com o intuito 
de impor a imediação do julgador com as partes eas provas, de modo a assegurar 
identidade entre o magistrado e os elementos subjetivos e objetivos da demanda 
e, de igual forma, a celeridade do procedimento e a publicidade dos atos.
O processo germânico, por outro lado, demonstra mais diferenças do que 
semelhanças com o modelo romano. O sistema germânico de composição de 
lides ganhou grande repercussão com a queda do Império Romano Ocidental e as 
invasões dos bárbaros do norte. Estes, culturalmente primitivos em comparação 
com os romanos, adotavam uma fórmula de solução de conflitos mais simplista, 
“[...] um processo rudimentar de fundo místico-religioso” (ALVIM, 2004, p. 27). Com 
as invasões, os conquistadores impuseram esse modelo diferente10, tecnicamente 
inferior ao processo romano.
O processo germânico apresentava um escopo distinto do processo romano. 
Enquanto este almejava fazer atuar a lei, o modelo germânico, influenciado pela 
9 Na realidade, as transformações pelas quais passou o modelo processual durante as diversas fases do Império Romano levam 
alguns doutrinadores a considerar a existência de “processos romanos”, abrangendo uma pluralidade de modelos sucessivos.
10 Mesmo em face da posição dos bárbaros, naturalmente interessados em impor o seu método de composição, alguns focos de 
resistência existiram, com o intuito de resguardar a fórmula romana de compor lides. A Igreja desenvolveu esforços nesse sen-
tido, em virtude da preocupação relativa à manutenção de institutos de direito romano-canônico. Houve, portanto, um período 
de coexistência dos dois modelos.
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Evolução histórica do Direito Processual
13
fragilidade das ideias acerca do Estado e da lei para os bárbaros, objetivava pro-
mover a paz social pela pacificação dos sujeitos da lide. O fim maior seria propor-
cionar a conciliação dos litigantes. O processo germânico, destarte, tinha como 
meta dirimir a lide e não especificamente julgar o litígio. A solução, assim, estava 
menos vinculada à decisão de um juiz e mais a certas experiências consideradas 
como “juízos de Deus”.
A função do juiz, por conseguinte, era primordialmente atuar como “coordena-
dor” da atuação dos sujeitos em lide durante assembleias, nas quais eram desen-
volvidas as atividades judiciais. Não havia, assim, o poder típico do pretor romano, 
de conhecer para decidir, mas uma atuação de coordenação entre os litigantes. 
O juiz do processo germânico apenas definia qual o objeto e os meios da prova, 
em seguida, supervisionava a produção probatória e, ao final, atuava de forma 
mecânica na certificação do seu produto. A prova, como consequência, tinha 
como objetivo principal convencer o adversário, sendo os elementos probatórios 
destinados mais à parte adversa do que propriamente ao magistrado. 
Como no processo romano, entretanto, a forma do processo era oral. Agora, 
a oralidade não tinha por fundamento a busca de causas nobres como a imedia-
ção, a celeridade e a publicidade. Representava, isso sim, a consequência natural 
de um quadro de limitações: os invasores bárbaros eram, em sua grande maioria, 
analfabetos.
O terceiro modelo apontado como “sistema antecedente” do moderno sistema 
processual ocidental foi o processo comum medieval. Trata-se de uma fórmula de 
composição decorrente de uma verdadeira construção doutrinária11, que surgiu 
em face da evolução de estudos iniciada com o aparecimento das primeiras uni-
versidades no final do século XI d.C. Os chamados glosadores e em seguida os 
pós-glosadores revelaram grande dedicação ao estudo dos institutos do direito 
romano, resultando na concepção de um novo modelo processual, “[...] de fundo 
canônico, mas impregnado de elementos germânicos e de novos institutos 
espontaneamente formados pelo uso” (ALVIM, 2004, p. 27).
No processo comum medieval, o escopo maior seria a resolução da questão 
litigiosa e das questões vinculadas à esta. Incidentes processuais, assim, eram 
considerados de menor relevância. A função do magistrado, por sua vez, era 
semelhante àquela prevista no processo romano: conhecer as questões litigiosas. 
11 Importante destacar que o processo, à época, era considerado como um instituto de atividade privada, e, como consequência, 
era estudado sob a óptica do Direito Privado.
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14
Evolução histórica do Direito Processual
A atribuição do juiz, contudo, não envolvia a avaliação e valoração dos elemen-
tos probatórios, mas simplesmente a verificação mecânica do resultado, consi-
derando juízos prévios acerca do peso de cada prova produzida, regulados por 
um conjunto normativo formal que disciplinava de forma minuciosa a admissibili-
dade e o valor dos elementos numa espécie de “verdade legal” e “sistema da prova 
legal” (ou da “hierarquia legal das provas”). Em harmonia com o formalismo do 
sistema probatório, a forma do processo comum medieval era integralmente por 
escrito. Não havia preocupação com a imediação, a celeridade e a publicidade. O 
desenvolvimento do processo era lento, com várias fases nas quais podiam atuar 
diversos magistrados com pouco ou nenhum contato direto com os litigantes.
Apesar das diferenças entre os modelos, todos os três sistemas antecedentes 
influenciaram o modelo processual atual, sendo possível constatar os seus refle-
xos em diversos elementos da presente sistemática processual, desde a técnica 
apurada do processo romano à valoração da pacificação social pelo processo 
germânico, desde a conscientização da importância (mesmo que excessiva) da 
forma do processo comum medieval aos fundamentos da oralidade do sistema 
romano. 
Fases da doutrina processual
O estudo dos sistemas antecedentes é de grande relevância para a compre-
ensão dos fundamentos do moderno sistema processual. Tão relevante quanto, 
entretanto, é o exame da evolução da doutrina processual, ou seja, da literatura 
especializada desenvolvida pelos doutos durante as várias etapas da história do 
Direito Processual.
Apesar da existência de divergências quanto aos números, uma análise crítica 
da doutrina processual revela a existência de seis fases relativamente bem defi-
nidas: a fase Primitiva, a fase da Escola Judicialista, a fase do Praxismo (tendência 
dos práticos), a fase do Procedimentalismo, a fase do Processualismo Científico (fase 
Autonomista) e a fase Contemporânea, conhecida como fase Instrumentalista ou 
da Escola Crítica.
Na evolução da doutrina processual, a fase considerada como Primitiva cor-
responde ao período anterior ao final do século XI da Era Moderna. Na reali-
dade, não se trata, rigorosamente, de uma fase doutrinária do Direito Proces-
sual, pois não houve o desenvolvimento de uma linha específica de estudos 
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Evolução histórica do Direito Processual
15
sobre o fenômeno processual. Apenas ocorreu a produção de obras descone-
xas, com natureza e origens distintas, tratando de questões de relevância para 
o estudo do processo, como os trabalhos dos pensadores gregos sobre a ideia 
de justiça.
A fase da Escola Judicialista teve início junto com o surgimento da primeira 
universidade em Bolonha (Itália)12, no ano 1088. A etapa foi batizada com tal 
denominação em virtude das obras da época. Essas obras destacaram, acima 
de tudo, o estudo da figura do “juízo” (iudicum), com seus elementos subjetivos 
e objetivos. Teve início, com tal fase doutrinária, uma série de tratados de consi-
derável qualidade, dedicados ao processo e seus institutos e, especialmente, ao 
desenvolvimento do conceito de “juízo”. Os representantes da Escola Judicialista 
criaram obras usualmente fundadas sobre o direito comum (do qual se originou 
o sistemacontinental europeu), de raiz romano-canônico, mas também desen-
volveram escritos com fundo medieval italiano e roupagem canônica. Dentre 
os principais trabalhos do período, destacam-se a Ordo Iudicarius, de Tancredo, 
e o Speculum Iudiciale, de Duranti.
A fase do Praxismo ou “tendência dos práticos” surgiu na Espanha no início 
do século XVI e teve acolhida até o começo do século XIX. Nesse período, surgiu 
uma doutrina baseada na experiência empírica dos juristas, de forma a prevale-
cer a praxis sobre a theoria nas principais obras sobre o Direito Processual. Este, 
na realidade, era então considerado como um complexo de recomendações prá-
ticas sobre como agir em juízo, isto é, um conjunto de instruções oriundas da 
prática descrevendo a forma de proceder diante de um tribunal. Os estudos da 
teoria assumiram uma importância secundária: importante era a fórmula prática 
de desenvolver um processo judicial. As obras revelavam uma preocupação com 
as atividades forenses, ou seja, questões eminentemente práticas, visando permi-
tir a condução natural do processo. À época, obras como Regimentos de Juízes e 
Espelho das Ações se destacaram.
A fase do Procedimentalismo teve início na França do século XVIII (convivendo 
em parte, assim, com a fase do Praxismo), alcançando a segunda metade do século 
XIX. Como consequência da influência da Revolução Francesa e das codificações 
napoleônicas, surgiram obras doutrinárias nas quais se destacam uma análise 
exegética dos textos legais e um método descritivo dos fenômenos processuais, 
12 Para Chiovenda, Bolonha representou para o Direito Processual o que Roma representou para o Direito Civil.
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Evolução histórica do Direito Processual
segundo a legislação pertinente, com especial concentração em elementos como 
a organização judiciária, a competência e o procedimento diante dos órgãos judi-
ciários. Com o Procedimentalismo, o processo deixou de ter a sua regulamenta-
ção na prática forense e passou a ser compreendido como um instituto de fundo 
legal, valorizando a regulamentação normativa do fenômeno. Dentre outras, 
a obra Tratado das Provas Judiciais, de Jeremy Bentham, provocou forte repercus-
são no estudo da ciência processual.13
A fase Conceitual (também conhecida como fase do Processualismo Científico) 
tem como marco inicial a publicação, no ano de 1868 em Giesen (Alemanha), da 
obra Tratado das Exceções Processuais e os Pressupostos Processuais, de Oskar von 
Bülow. Houve uma completa revisão científica do Direito Processual que, pela pri-
meira vez, foi tratado como um “sistema de princípios”, com autonomia em relação 
aos diversos ramos do Direito Material. O citado processualista alemão, ao invés 
de tentar descrever o processo segundo a prática forense (como no Praxismo) 
ou de acordo com a legislação regulamentadora (como no Procedimentalismo), 
defendeu o estudo do fenômeno processual a partir do próprio fenômeno e suas 
peculiaridades, destacando que o Direito Processual ainda tinha muito que evo-
luir em comparação com outros ramos, uma vez que boa parte dos seus institutos 
permanecia intocada sob a óptica do estudo científico. Dentre outras ideias, Von 
Bülow descreveu o processo como uma relação jurídica da qual surgem direitos, 
deveres, obrigações e poderes entre os seus sujeitos, diferenciando o processo 
(liame jurídico) do procedimento (forma de agir compreendendo complexo de 
atos).
Seguindo a linha de Von Bülow, diversos outros doutrinadores passam a defen-
der a autonomia do Direito Processual frente aos demais ramos do Direito. Na 
Alemanha surge mais um nome, o de Adolph Wach, cuja obra Manual de Direito 
Processual Civil Alemão (1885) revelou grande influência do seu conterrâneo, 
tendo como principal contribuição à ciência processual o estudo da autonomia 
do direito de ação em face do direito subjetivo material. Posteriormente, na Itália 
surgem nomes como Giuseppe Chiovenda, Francesco Carnelutti e Piero Cala-
mandrei, cada um com diversas obras de imensurável envergadura no âmbito do 
Direito Processual, oferecendo ao novo ramo um impulso considerável em dire-
ção ao avanço científico. 
13 Foi durante a fase do Procedimentalismo, merece ser destacado, que se desenvolveu a famosa “polêmica da actio” entre os 
juristas Windsheid e Muther (1856 e 1857).
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Evolução histórica do Direito Processual
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Os reflexos de tal movimento doutrinário, por sua vez, são sentidos na Amé-
rica do Sul. Do Uruguai, o processualista Eduardo Couture assume a ponta como 
doutrinador de maior nome, gerando repercussões no Brasil. Aqui, em meados 
do século XX, os trabalhos de Enrico Tullio Liebman (italiano radicado no país 
a partir da Segunda Guerra Mundial) passaram a influenciar toda uma geração 
de grandes processualistas brasileiros. As obras sobre Direito Processual, passam 
a demonstrar inquestionável valor científico, gerando um avanço cuja celeridade 
era até então desconhecida por qualquer outro ramo do Direito.
Constata-se, durante toda a fase do Processualismo Científico, uma grande 
preocupação em demonstrar para todos que, além de ser um ramo autônomo, 
o Direito Processual é ainda mais avançado de que os demais. Apesar dos bene-
fícios inegáveis de tal postura dos processualistas, a concentração excessiva na 
visão científica resultou em um efeito colateral negativo: o esquecimento da rea-
lidade processual.
O processo judicial estudado na academia passou a ser completamente dis-
tinto daquele vivenciado na prática forense. Na sala de aula e nas obras doutriná-
rias, o processo é estudado como um fenômeno praticamente sem imperfeições. 
No dia a dia dos tribunais, entretanto, a realidade era de um sistema esgotado, 
lento, cheio de mazelas. E, como consequência, a frustração da sociedade em face 
da insatisfação natural decorrente de um instrumento incapaz de produzir os 
resultados esperados pela população.
Começou a tomar corpo durante a década de 60, do século passado, assim, 
uma nova fase da doutrina processual, a chamada fase Instrumentalista (ou 
fase da Escola Crítica). Com a publicação de obras com preocupações autênti-
cas acerca de tal realidade de insatisfação, especialmente em relação ao desti-
natário dos serviços processuais do Judiciário (ou seja, o cidadão que procura 
justiça na Justiça), surge uma nova linha de pensamento, fundada em críticas 
construtivas, destinada a encontrar as deficiências do sistema processual e de 
seus institutos e propor mudanças em busca de um modelo processual concre-
tamente eficiente, apto a alcançar os seus escopos e gerar satisfação àqueles 
que procuram o Judiciário.
É apontada como grande marco dessa nova fase a obra Acesso à Justiça, de 
Mauro Cappelletti e Bryant Garth, relatando os resultados das pesquisas do pro-
jeto com o mesmo título, envolvendo os obstáculos à concretização do direito de 
acesso a um ordenamento jurídico justo. Durante a década de 80, do século pas-
sado, os primeiros reflexos doutrinários são sentidos no Brasil, com a publicação 
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Evolução histórica do Direito Processual
de trabalhos de processualistas como José Carlos Barbosa Moreira, Ada Pellegrini 
Grinover, Kazuo Watanabe e, especialmente, Cândido Rangel Dinamarco. A obra 
Instrumentalidade do Processo, de autoria deste último, pode ser apontada como a 
principal contribuição brasileira a essa nova (e atual fase) da doutrina processual.
A fase da Instrumentalidade Processual traduz um momento de grande poten-
cial reformista no âmbito da legislação processual e na seara institucional do Judi-
ciário, potencial este amplificado consideravelmentenos últimos anos, com diver-
sas inovações instrumentais como as ações coletivas (ação civil pública, mandado 
de segurança coletivo etc.), a ação monitória e a figura da antecipação de tutela. 
Sendo a atual fase da doutrina processual, entretanto, tal etapa contemporânea 
ainda não exauriu as suas metas, e, assim, terá ainda grandes contribuições para 
o desenvolvimento do Direito Processual. 
Evolução do modelo processual brasileiro
O estudo da história do Direito Processual não poderia ser concluído sem uma 
abordagem das etapas da evolução do modelo processual brasileiro, ou seja, uma 
análise dos diversos diplomas normativos que disciplinaram o processo jurisdi-
cional no país desde a sua independência política.
A independência conquistada pelo Brasil, em 1823, não teve como consequên-
cia a revogação imediata de toda a legislação portuguesa. Na realidade, o Decreto 
de 20 de outubro de 1823 assegurou a continuidade da vigência do sistema nor-
mativo lusitano em tudo aquilo que não contestasse a soberania ou contrariasse 
o regime brasileiro. No âmbito processual, assim, o novo país herdou de Portu-
gal o modelo processual disciplinado nas Ordenações Filipinas (promulgada por 
Felipe I, em 1603) e algumas leis complementares.
Enquanto o Livro V das Ordenações Filipinas regulava o Processo Criminal, o 
seu Livro III disciplinava o Processo Civil, sendo este último modelo marcado pelo 
princípio dispositivo (exigindo a movimentação pelo impulso das partes litigan-
tes) e por um procedimento no qual prevalecia a forma escrita e a divisão em 
diferentes fases bem delineadas. O primeiro modelo de processo civil brasileiro 
(à época, abrangendo toda a sistemática do processo judicial, exceto aquilo sub-
metido ao processo criminal), portanto, foi na realidade um produto do modelo 
português.
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Evolução histórica do Direito Processual
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Em 1832, foi editado o Código de Processo Criminal do Império, alterando 
completamente a anterior sistemática do processo criminal. O novo código foi 
resultado de influências dos modelos inglês e francês, sendo considerado um 
sistema eclético que obteve grande aceitação em virtude de sua objetividade 
e espírito liberal. 
O modelo processual civil, por outro lado, foi afetado por inovações ocorridas 
durante o ano de 1850, quando, depois de sancionado o Código Comercial bra-
sileiro, foi editado o famoso Regulamento 737 (de 25 de novembro de 1850). Tal 
diploma, destinado a disciplinar “a ordem do juízo no processo criminal” (artigo 
27 do Código do Comércio), corresponde ao primeiro código nacional de Pro-
cesso Civil, criando um novo modelo de inegável técnica processual, merecendo 
especial destaque as suas inovações envolvendo a economia processual e a sim-
plicidade procedimental.
De início, o Regulamento 737 somente se aplicava às causas comerciais, per-
manecendo as causas cíveis sob a disciplina das Ordenações Filipinas (e algumas 
leis modificadoras destas). A Lei 2.033, de 20 de setembro de 1871 (regulada pelo 
Decreto 4.824, de 22 de novembro de 1871), com o intuito de restabelecer o espí-
rito liberal que havia consagrado o Código de Processo Criminal do Império, levou 
o Governo a designar o conselheiro Antônio Joaquim Ribas a realizar um trabalho 
de reunião das normas processuais civis, resultando na Consolidação das Leis do 
Processo Civil14, diploma que passou a ter eficácia de lei mediante a Resolução 
Imperial de 28 de dezembro de 1876.
Com o surgimento da República, novas mudanças foram operadas. O novo 
governo republicano, mediante o Decreto 763, de 16 de setembro de 1890, esten-
deu (com algumas limitações) a disciplina do Regulamento 737 às demandas 
cíveis. Em seguida, mediante o Decreto 848, de 11 de outubro de 1890, foi criada 
a Justiça Federal, cujos processos também passaram a ser disciplinados pelas 
normas do Regulamento 737. 
A Constituição Republicana, de 24 de fevereiro de 1891, ao consagrar o sis-
tema da dualidade de Justiças (Federal e Estadual), repartiu a competência legis-
lativa para legislar sobre processo civil. O resultado foi a diversidade de mode-
14 Na realidade, a Consolidação das Leis do Processo Civil não se limitou a ser uma simples reunião de leis preexistentes, como 
as regras oriundas das Ordenações Filipinas e sua legislação complementar. O Conselheiro Ribas acabou contribuindo com 
a criação de novas regras, de acordo com sua interpretação pessoal, constantemente fundamentando suas posições em textos 
de direito romano e em obras de grandes doutrinadores.
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Evolução histórica do Direito Processual
los processuais adotados no âmbito do país. Um, o modelo federal, decorrente 
da consolidação da legislação federal sobre o Processo Civil, realizado por José 
Higino Duarte Pereira e aprovado pelo Decreto 3.084, de 5 de novembro de 1898. 
Outra categoria, composta por modelos estaduais, disciplinados pelas leis de 
cada estado da federação. Na sua maior parte, os modelos estaduais seguiam 
as diretrizes do modelo federal, mas havia algumas exceções, destacando-se os 
modelos de São Paulo e da Bahia, inspirados nas doutrinas processuais da Itália e 
da Alemanha.
A Constituição Federal (CF), de 16 de julho de 1934, eliminou a dualidade 
de competência legislativa, concentrando tal poder na esfera da União Federal. 
Como consequência, surgiu o Código de Processo Civil (CPC), de 18 de setem-
bro de 1939, cujo anteprojeto originalmente foi concebido pelo advogado Pedro 
Batista Martins e posteriormente alterado por Francisco Campos, Guilherme 
Estellita e Abegar Renault. O respectivo diploma foi desenvolvido com inspiração 
nos modelos processuais da Áustria, Alemanha e Portugal, prevalecendo dentro 
do modelo a regra da oralidade e da pluralidade de procedimentos especiais.
Décadas depois, quando já bastante visíveis as limitações práticas do modelo 
previsto no CPC/1939, o governo federal designou o professor da Universidade de 
São Paulo (USP), Alfredo Buzaid, para elaborar um anteprojeto de um novo código. 
O resultado, após ser revisto por uma comissão formada pelos destacados juristas 
Luís Antônio de Andrade, Luís Machado Guimarães e José Frederico Marques, foi 
levado ao Congresso Nacional sob a designação Projeto 810/72. Após ser subme-
tido, durante seu curso, a diversas emendas modificadoras do seu conteúdo, o 
“Anteprojeto Buzaid” foi aprovado e transformado na Lei 5.869, promulgada em 
11 de janeiro de 1973, como o novo CPC.
O CPC/73 é dividido em cinco livros (I - do processo de conhecimento, II - do 
processo de execução, III - do processo cautelar, IV - dos procedimentos especiais 
e V - das disposições finais e transitórias). É apresentada uma sistemática forte-
mente influenciada pela doutrina processual italiana que antecedeu à sua criação. 
Além da evidente posição favorável à existência de três espécies básicas de tutela 
jurisdicional (cognitiva, executiva e cautelar), merece especial destaque, dentro 
do respectivo modelo, a excepcional disciplina sistemática e científica oferecida 
ao processo cautelar e à acentuada pluralidade procedimental consagrada no seu 
texto.
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Evolução histórica do Direito Processual
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Em que pese o reconhecido valor técnico do diploma de 1973, os reflexos 
da fase Instrumentalista da doutrina processual levaram a sociedade, liderada 
pelos principais nomes do Processo Civil brasileiro, a clamar por mudanças em 
busca da evolução do modelo processual pátrio. Algumas leis extravagantes já 
evidenciam tais mudanças, como a Lei 7.347/85, introduzindo a figura da ação 
civil pública como novo instrumentode defesa de interesses transindividuais em 
juízo. O próprio CPC, assim, não tardou a sentir tais repercussões.
Como consequência, desde 1992, o CPC tem passado por profundas mudan-
ças em uma verdadeira “reforma por etapas”, mediante diversas alterações em 
seu conteúdo. A evolução provocada por tais transformações é visível na cons-
tatação da existência de novos institutos (como a antecipação de tutela e ação 
monitória), de modificações em instituições antes existentes (como as sanções 
por litigância de má-fé e os provimentos mandamentais) e de mudanças radi-
cais na própria sistemática processual (como no sistema recursal e, mais recente-
mente, no sistema de execução fundada em títulos executivos judiciais). 
O modelo processual brasileiro, por conseguinte, não se encontra pronto e aca-
bado. Trata-se de um sistema em plena evolução, sofrendo uma série sucessiva de 
modificações com o intuito de eliminar deficiências e progredir para alcançar um 
grau de efetividade capaz de satisfazer a todos. Tal modelo de utopia processual, 
entretanto, ainda está longe de ser alcançado.
A história do Direito Processual brasileiro, destarte, ainda guarda muitos capí-
tulos a serem escritos.
Ampliando seus conhecimentos
A “dica” do professor é realizar um exame comparativo entre os sistemas ante-
cedentes ao moderno modelo processual, bem como entre as diversas fases da 
doutrina processual, destacando, no primeiro caso, as influências dos antigos 
métodos sobre o atual sistema, e, na segunda hipótese, as inovações produzidas 
pela atual fase Instrumentalista. 
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Bento Herculano Duarte Neto
Considerações introdutórias
O Direito, sendo uma ciência decorrente da expressão cultural de um 
povo, em tese, não se coaduna com o fenômeno da sistematização, sendo 
este inerente às ciências ditas explicativas, que buscam construir princípios 
e regras de validade universal. Os fenômenos da natureza restam demonstra-
dos, ocorrendo ou não ocorrendo, existindo ou não existindo, sendo ou não 
sendo. Já o Direito, enquanto dever-ser, reveste-se de caráter hermenêutico, 
portanto sendo interpretativo, em geral destinando-se a situações individu-
ais, o que dificulta, naturalmente, qualquer tentativa de sistematização.
Não obstante, os teóricos do Direito insistem em usar do critério da sis-
tematização, a ponto de serem criadas as chamadas famílias jurídicas, cons-
truídas a partir da existência de características e princípios comuns, como 
bem consubstanciam os sistemas da civil law, da common law, os socialistas 
e aqueles de cunho filosófico ou religioso (SILVA; GOMES, 2000, p. 9-10).
O certo, outrossim, é que os princípios jurídicos fundamentam todos os 
compartimentos do Direito, de modo a se tornarem alicerce das mais diversas 
construções legislativas. Os princípios, também na ciência jurídica, funcionam 
como a moldura que enquadra a obra, limitando-a e complementando-a, 
simultaneamente e com uma importância muitas vezes não enxergada. 
Os princípios de qualquer ciência, pois, configuram a essencialidade de 
um real conhecimento, a partir deles se alcança a gênese de cada norma 
ou de cada instituto. Assim, também ocorre no âmbito do Direito, pois os 
princípios jurídicos embasam o mais amplo conhecimento de seus fenôme-
nos formadores, o que muito importa no momento da aplicação da norma. 
A existência de princípios jurídicos específicos, aliás, é o que de maneira mais 
consistente justifica a autonomia de cada ramo da ciência jurídica. 
Princípios de 
Direito Processual Civil
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Princípios de Direito Processual Civil
Torna-se imperioso, destarte, àqueles que buscam compreender, verdadeira-
mente, o nosso sistema processual, estudar com profundidade os princípios que 
o alicerçam, pois são eles que delineiam as opções tomadas pelo legislador, tanto 
no plano constitucional como no infraconstitucional. Aquele que bem conhecer 
os princípios do Direito Processual saberá melhor compreender seus dispositivos 
e institutos, decifrando aparentes enigmas, que em verdade encerram códigos de 
fácil decodificação.
Se o aplicador do direito, v. g., tem o real conhecimento do sentido e do alcance 
do princípio do devido processo legal, terá melhor condição de enxergar quando 
resta ele violado por um ato praticado pelo juiz da causa, o que, no caso em con-
creto, é essencial a que se garanta a efetivação de uma ordem jurídica identificada 
com os valores da cidadania e da democracia. O juiz que alcança o real sentido da 
ampla defesa processual, ainda v.g., certamente saberá decidir quanto a permitir 
ou não a juntada de um documento, a conhecer ou não um recurso, a ouvir ou 
não uma testemunha. 
Enfim, uma investigação principiológica de nosso sistema processual será de 
grande valia para que o conheçamos de forma mais consistente, interpretando 
e aplicando de forma adequada as normas que o informam, afastando as con-
cepções derivadas de um conhecimento perfunctório, por vezes gerando graves 
distorções.
Nesse quadrante, como tarefa primeira, buscar-se-á o conceito de princípio 
jurídico, como consequência emergindo as suas múltiplas funções. Depois, tra-
taremos dos princípios processuais encontrados na Constituição Federal (CF), 
para em seguida enfocarmos os princípios informativos gerais do processo, cul-
minando com a abordagem dos princípios específicos de nosso Direito Proces-
sual. Quanto a estes, em que pese estarmos inseridos no âmbito da teoria geral 
do processo, portanto reconhecendo a sua unidade, abordar-se-ão os princípios 
informativos do Direito Processual Civil.
Os princípios jurídicos 
e a evolução do Processo Civil brasileiro
Como já colocado, o Direito não se encontra no campo das ciências da natu-
reza, ao contrário consistindo na expressão cultural de uma certa sociedade. 
O Direito, apesar dos argumentos jusnaturalistas, situa-se no campo do dever- 
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Princípios de Direito Processual Civil
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-ser, formulando-se a partir de escolhas, elaboradas por aqueles que compõem 
o que se pode chamar de elite política. A construção do Direito provém de uma 
atividade de poder, sendo elaborado de acordo com as opções e conveniências 
das forças dominantes, ainda que, em um plano ideal, as normas editadas repre-
sentem a vontade majoritária do todo social.1 
No campo específico do Direito Processual acentua-se tal característica, pois o 
processo judicial possui o escopo político de garantir a integridade da organiza-
ção social, na medida em que a imposição de regras de comportamento, preesta-
belecidas pelo Estado, impede a autotutela, inevitável condutor à desagregação 
social. Como bem dizem Ada Pellegrini Grinover, Antônio Carlos Araújo Cintra 
e Cândido Rangel Dinamarco (2005, p. 26), “a pacificação é o escopo magno da 
jurisdição e, por consequência, de todo o sistema processual”.
Nesse diapasão, há de se concluir que o Direito e seus princípios se constroem 
a partir da influência política de uma determinada época, o que de forma pecu-
liarmente forte ocorre com o Direito Processual. Significa dizer que os princípios 
de nosso processo judicial, inclusive o civil, têm passado por mutações ao longo 
do tempo, conforme o enfoque político que lhe é destinado.
As mutações do ordenamento jurídico são inerentes à dinâmica social e 
política. Historicamente, basta olhar para o direito romano. Este, como se sabe, 
passou por três fases distintas, com características e institutos diversos. Ademais, 
como também é notório,o direito romano foi, em certo momento, influenciado 
fundamentalmente pelo direito germânico, daí nascendo a família jurídica roma-
no-germânica, implantando-se uma nova visão hegemônica do processo judicial 
e do próprio Poder Judiciário, por mais incipiente que fosse a sua organização.
Hodiernamente, verifica-se que a preocupação política essencial do Estado 
ocorre no sentido de se propiciar máximas celeridade e efetividade processual, 
a ponto de a Emenda Constitucional 45 (EC 45/2004) (Reforma do Poder Judiciá-
rio) inserir na Carta Magna, ainda que programaticamente, como um direito fun-
damental, o direito a um processo – administrativo e judicial – em tempo razoável 
(CF, art. 5.º, LXXVIII). Tal dispositivo constitucional bem exemplifica a influência 
política que rege os princípios jurídicos, na medida em que estes formam o ali-
cerce do texto normativo. Se há algum tempo o bem maior em perseguição era 
1 A legitimidade da norma é a correspondência que ela possui, desde a sua gênese, com os reais interesses da coletividade, 
atingindo-se o interesse público e o social, este considerado em sentido amplo.
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Princípios de Direito Processual Civil
a segurança jurídica, glorificando-se a ampla defesa e o contraditório, hoje se 
cuida, em primeiro plano, dos meios para que o processo seja eficiente no tempo 
e em sua concretude.
A máxima de que justiça tardia é injustiça qualificada, cada vez tem sido mais 
lembrada, com o Direito Processual Civil sendo constantemente alterado, sempre 
com o norte da necessidade de um processo judicial mais simples e, principal-
mente, mais célere. Assim, há que se reconhecer que os princípios processuais de 
hoje nem sempre são os mesmos de antes, pois os escopos políticos de agora, em 
parte, são diversos daqueles de outrora.
Os princípios processuais – 
autonomia em face do direito material
O ordenamento jurídico-processual, de forma genérica, somente evoluiu, a 
ponto de configurar um verdadeiro sistema, quando se reconheceu a autono-
mia do Direito Processual, o que passa, inevitavelmente, pela questão da auto-
nomia do direito de ação. 
É cediço que, até algum tempo, o direito de ação não era tido como um exer-
cício autônomo, sendo condicionado ao direito material, portanto considerado 
como um simples complemento deste. Oskar von Bülow, com a publicação, em 
1868, da Teoria das Exceções e dos Pressupostos Processuais,2 deu valiosa contribui-
ção ao reconhecimento do Direito Processual enquanto uma ciência autônoma, 
daí evoluindo-se até se chegar à moderna teoria do direito de ação. 
O direito de ação hoje é visto como um direito autônomo e abstrato, ainda que, 
conforme se fincou mais recentemente, deva se enfatizar o seu caráter instrumen-
tal. O direito de ação existe de forma autônoma, ainda que não configure algo 
absoluto, como bem demonstra a existência das chamadas condições da ação. 
O fato é que o direito de demandar independe do direito material, na medida em 
que aquele subsiste mesmo quando se verifica, pelo processo, que o segundo 
nunca existiu.
2 Von Bülow buscou, na obra citada, demonstrar que há certos pressupostos, positivos e negativos, que devem ser considerados 
para que se obtenha êxito em uma demanda processual, ainda que o direito material seja favorável ao autor. Com isso, de forma 
inequívoca, demonstra-se a autonomia do direito de ação frente ao direito material. Em verdade, o autor alemão deu um enfo-
que principiológico ao Direito Processual Civil, com isso fundamentando a sua autonomia frente ao Direito Civil.
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Princípios de Direito Processual Civil
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De tal sorte, os princípios de Direito Processual são diversos daqueles do direito 
material, ainda que o processo sirva para efetivar a norma material. O processo, 
como se deve sempre demonstrar, não é um fim em si próprio, possuindo caráter 
meramente instrumental. Não obstante, o Direito Processual é autônomo frente 
ao direito material, o que conduz à conclusão, por demais lógica, que os prin-
cípios processuais são diversos e autônomos em face dos (princípios) materiais. 
Aliás, ainda que eventualmente ocorra uma certa simetria entre a norma material 
e a processual, jamais se pode perder de vista a autonomia desta.
Os princípios processuais, por conseguinte, possuem grande e peculiar relevo 
para o Direito Processual como um todo, na medida em que a existência de prin-
cípios específicos é que justificam a concepção de um Direito Processual autô-
nomo. 
Conceito de princípio jurídico
Com origem no latim principium, o termo princípio, em sentido vulgar, signi-
fica o começo da vida ou o primeiro instante em que as coisas começam a existir; 
quer dizer, o começo ou a origem de qualquer coisa (SILVA, 1996, p. 447). Em sen-
tido aristotélico, princípio é aquilo por intermédio de que uma coisa existe ou se 
conhece. Em acepção jurídica, os princípios significam as 
[...] normas elementares ou requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de 
alguma coisa, revelando o conjunto de regras ou preceitos que se fixaram para servir de norma 
a toda espécie de ação jurídica, traçando a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica 
(SILVA, 1996, p. 447). 
Os princípios seriam autênticos axiomas, superando em importância mesmo 
a norma ou regra jurídica, constituindo pontos básicos que alicerçam o Direito 
(SILVA, 1996, p. 447).3 
Clóvis Bevilácqua (apud CARRION, 1994, p. 66), tratando dos princípios gerais 
de Direito, os define como “fundamentos e pressupostos do direito universal, 
não só do direito nacional, como dos elementos fundamentais de cultura jurídica 
humana em nossos dias; e que se extrai das ideias que formam a base da civiliza-
ção hodierna”. 
3 Segundo Nelson Nery Junior, apenas os princípios informativos possuem caráter axiomático, constituindo verdades absolutas, 
pois os mesmos, sendo ideais inerentes a todo e qualquer aparelho processual, prescindem de verificação (1992, p. 21).
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Princípios de Direito Processual Civil
Miguel Reale (1996, p. 300), por sua vez, também se referindo aos princípios 
gerais de Direito, os define como “enunciações normativas de valor genérico, que 
condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para 
a sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas”.
Os princípios jurídicos, portanto, revestem-se do caráter de proposições ideais, 
colocadas na base do ordenamento, e como tal atuando, no sentido de informar 
o sistema jurídico, consagrando as opções exaradas da atividade legislativa. Os 
princípios jurídicos, em síntese, constituem a verdade fundante do sistema nor-
mativo.
Sob um prisma funcional, os princípios, de um lado, consistem em regras 
gerais, de atuação dentro de um contexto normativo, e, de outro, servem como 
supedâneo ao esclarecimento de normas obscuras. Antes, são informadores das 
normas de conduta; depois, são elementos supletivos de aplicação do Direito 
(DUARTE NETO, 1998, p. 50).
Por outro lado, o que caracteriza um princípio jurídico, em contraponto à sim-
ples regra, é o maior alcance daquele. Tal explicação, embora simplista, é a que 
mais didaticamente distingue uma norma principiológica de uma mera regra de 
ordem legislativa. 
No âmbito do Direito Processual, pode se resumir os princípios enquanto pre-
ceitos fundamentais que dão forma e caráter aos sistemas processuais (GRINO-
VER et al, 2005, p. 52). José de Albuquerque Rocha, ao definir o que seja princípio 
geral de Direito Processual, triparte o conceito definindo isoladamente: princí-
pio, geral e direito processual.Segundo ele, princípio designa fundamento, base 
ou ponto de partida de um raciocínio, argumento ou proposição; geral relacio-
na-se ao caráter universal e abstrato do princípio; a locução direito processual 
delimita seu âmbito de validade material (ROCHA, 2005, p. 44). Identifica, Rocha 
(2005), os princípios com os valores morais, políticos e jurídicos de determinada 
sociedade, proclamados por normas de direito, que denominamos normas prin-
cipiológicas.
A nosso ver, em primeiro lugar deve se distinguir os princípios jurídicos dos 
princípios morais, éticos e políticos. Aqueles, ainda que influenciados pelos valo-
res morais e éticos, decorrem de uma opção tomada por quem detém o poder de 
elaborar a norma, com uma função ordenadora com caráter impositivo. Quanto 
aos princípios de Direito Processual, seriam eles as normas que estruturam o pro-
cesso judicial, delineando os aspectos principais de seu funcionamento.
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Princípios de Direito Processual Civil
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Por derradeiro, nos parece absolutamente oportuno diferenciar, inclusive con-
ceitualmente, os princípios informativos do processo daqueles denominados de 
fundamentais, por alguns também chamados de princípios gerais do Direito Pro-
cessual. Trataremos, mais adiante, de assim fazer.
Funções dos princípios jurídicos
Para que servem os princípios jurídicos? A resposta a essa indagação apresen-
ta-se indissociável da abordagem realizada quando do conceito de princípio. Mas 
se torna importante, todavia, que de forma mais direta tratemos da(s) utilidade(s) 
dos princípios jurídicos,4 pois tal ferramenta frequentemente é olvidada pelo apli-
cador do Direito, que por vezes se vicia em buscar disposições legislativas literais, 
em sua difícil tarefa de subsunção, ou seja, de encontrar a norma jurídica ade-
quada e aplicá-la ao caso em concreto. Tal proceder, a nosso ver, significa amiu-
dar-se o mister de aplicador do Direito.
De plano, registre-se que os princípios são inerentes à própria natureza cientí-
fica daquilo que se elege como objeto de investigação. Qualquer conhecimento, 
para que se tenha como científico, deve estar estruturado a partir de princípios.5 
Assim, como bem coloca Rui Portanova (2003, p. 13), não se faz ciência sem prin-
cípios, pois a ciência é o conjunto de conhecimentos ordenados coerentemente 
segundo princípios.6 
Pela lição de Maurício Godinho Delgado (1995, p. 472), “os princípios, na ciên-
cia jurídica, não somente preservam irrefutável realidade, como se destacam pela 
qualidade de importantes contributos à compreensão global e integrada de qual-
quer inteiro universo normativo”. Já Paulo Nader (1992, p. 215) assevera que 
[...] na vida do Direito os princípios são importantes em duas fases principais: na elaboração 
das leis e na aplicação do Direito, pelo preenchimento das lacunas da lei. Os princípios, con-
forme acentuam Mouchet e Becu, guiam, fundamentam e limitam as normas positivas já san-
cionadas.
4 Ressalve-se que alguns doutrinadores questionam a utilidade e a eficácia dos estudos e mesmo da aplicação dos princípios 
jurídicos. Não obstante, pensamos como Nery Junior, no sentido de que a melhor opinião é a que entende “que devem ser manti-
dos os estudos sobre os princípios, a despeito de que, ao sabor do tempo e do lugar, possam provocar consequências diferentes 
daquelas imaginadas e queridas por seus idealizadores e, máxime, pela lei que os adotou”. (1992, p. 22-23).
5 No mesmo sentido, Flóscolo da Nóbrega diz que nenhum conhecimento é possível sem base em princípios, que são pressupos-
tos identificados como verdades, ainda que não experimentados (1975, p. 131).
6 Claus-Wilhem Canaris define sistema jurídico como “ordem axiológica ou teleológica de princípios jurídicos gerais”, o que de-
corre de uma concepção estruturante dos princípios (apud PORTANOVA, 2003, p. 13).
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Princípios de Direito Processual Civil
Coincidentemente, Albuquerque Rocha (2005, p. 43), arrola como funções dos 
princípios: 
fundamentadora; �
orientadora da interpretação; �
fonte subsidiária. �
A primeira estaria no momento da elaboração do ordenamento, as demais 
seriam lançadas quando da aplicação da norma.
Enxergamos as seguintes funções inerentes aos princípios jurídicos:
orientadora; �
interpretativa; �
integrativa; �
normativa. �
Quanto às duas últimas, elas partem de uma mesma essência, de caráter nor-
mativo, mas com graus de incidência diversos, já que a função integrativa conduz 
o princípio a uma função meramente supletiva, preenchendo lacunas (aparentes) 
no ordenamento, enquanto a função normativa propriamente dita gera uma apli-
cação direta. Por isso, subdividimos o caráter normativo dos princípios em duas 
funções diversas.
Função orientadora 
Também denominada de função fundamentadora, conforme Albuquerque 
Rocha, significa que os princípios orientam o legislador no momento em que ele 
vai elaborar a norma jurídica. Parte da concepção de que os princípios, até por 
definição, constituem a raiz de onde deriva a validez intrínseca do conteúdo das 
normas jurídicas. Os princípios, conforme Rocha (2005, p. 42), seriam “as ideias 
básicas que servem de fundamento para o direito positivo”.
Nesse sentido, os princípios se aproximam da ideia de valor moral e de valor 
ético, assim como da ideia de interesse social e de bem comum. Supõe-se que 
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Princípios de Direito Processual Civil
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o legislador pretende concretizar uma norma jurídica revestida de sentido 
moral, voltada ao interesse da sociedade como um todo, ainda que se destine 
a determinado(s) grupo(s) social(is).7 
Geraldo Ataliba, citando Agostinho Gordillo (apud PORTANOVA, 2003, p. 13), 
afirma que os princípios são mais que normas, sendo uma diretriz do sistema, “é 
um rumo apontado para ser seguido por todo o sistema”.
De forma objetiva, diríamos que os princípios jurídicos constituem o resultado 
do senso comum do que é mais benéfico para a sociedade. O legislador, assim, 
percebe quais são as regras de comportamento que melhor atendem ao todo 
social, a partir daí positivando-as. É, por isso, que alguns doutrinadores chamam 
os princípios de proposições ideais.
No campo do Direito Processual, quais são os objetivos que a sociedade espera 
de um processo judicial? Economia, igualdade, eficiência, segurança jurídica, 
celeridade, efetividade. Assim, o legislador tem tais princípios como bússola para 
cumprir com a sua função de regrar o funcionamento do processo.
Estabelece que todos devem ter o direito de defesa e assinala um prazo razo-
ável para o réu apresentar sua contestação. Por outro lado, impõe prazos relati-
vamente curtos para a prática de determinados atos no processo. Vela, pois, pela 
amplitude da defesa, por um lado, mas de outro cuida de que o processo seja o 
mais célere possível.
Enfim, os princípios, quando concebidos como “nortes” orientadores do legis-
lador, decorrem da percepção de quais são os valores que devem ser tutelados. 
Aquele que detém tal função, ou seja, de editar normas, deve sempre auscultar a 
sociedade e seu próprio íntimo, de forma a exarar regras que sejam legítimas, pois 
direcionadas ao melhor convívio social, com a preservação de valores identifica-
dos com a igualdade, a justiça e o bem comum.
7 Contudo, os princípios jurídicos não se confundem com os morais e os éticos. Estes não contêm a essência normativa daqueles, 
com uma feição impositiva não existente na ética e na moral, cujos valores decorrem de preceitos estabelecidos, porém optados 
conforme as conveniências pessoais. Grinover, Cintra e Dinamarco (2005,p. 52) afirmam que alguns princípios gerais de Direito 
Processual colocam-se entre a epistemologia (ciência do direito positivo) e a deontologia (que estuda os valores éticos); entre a 
norma e o valor ético, no limiar de ambos.
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Princípios de Direito Processual Civil
Função interpretativa
Sinteticamente, diz Rocha que os princípios servem de guia e orientação na 
busca de sentido e alcance das normas (2005, p. 43). Ataliba (apud PORTANOVA, 
2003, p. 13), por sua vez, afirma que o princípio rege toda a interpretação do sis-
tema e a ele deve se curvar o intérprete, sempre que se debruçar sobre os precei-
tos contidos no sistema.
Em verdade, muitas vezes o aplicador do Direito depara-se com a situação 
de encontrar-se em grave dilema interpretativo. Não está convicto, pois, de qual 
o real e melhor sentido a se emprestar à norma jurídica, ou, por outro quadrante, 
qual é a norma a ser aplicada àquele caso concreto. Deve socorrer-se, o aplica-
dor do Direito, quando em tal situação e sempre que possível, dos princípios 
jurídicos.8 
Se o magistrado tem dúvida em aceitar um recurso erroneamente interposto, 
conhecerá do mesmo, apesar do equívoco, se enxergar qual o apelo adequado 
e atender ao princípio da instrumentalidade das formas. No mesmo caso, poderá 
invocar, supletivamente ou por igual, o princípio da ampla defesa, coligado ao 
duplo grau de jurisdição.
Vamos supor, em uma outra situação, que a parte não arrola uma testemunha, 
quando tinha tal dever, porém ela comparece a juízo. Será que o juiz deve aceitar 
o depoimento respectivo? Se prestigiar a verdade real e o princípio do impulso 
oficial interpretará a norma de forma a que não haverá preclusão pelo não arro-
lamento.
Por fim, será que um documento somente deve ser juntado com a inicial e a 
defesa? Comporta-se tal interpretação, a teor dos artigos 283 e 297 do CPC. Mas se 
o magistrado também se orientar pela necessidade da primazia da verdade real; 
pelo reconhecimento do caráter instrumental do processo; pela vantagem de se 
fazer justiça em sentido material; pelo poder de comando que detém na instrução 
processual (vide CPC, art. 262); pela vedação ao enriquecimento indevido; verá 
que todos esses aspectos constituem normas principiológicas que lhe induzirão a 
aceitar, dependendo da hipótese em particular, o documento exibido.
8 No direito italiano, há norma expressa no sentido de se orientar a interpretação consoante os princípios: “Se il caso rimane 
ancora dubbio, si decide secondo i principi generali dell’ordinamento giuridico dello Stato.”
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Função integrativa
Prevê, o artigo 4.º da Lei de Introdução ao Código Civil (LICC): 
Art. 4.º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes 
e os princípios gerais de direito.
O CPC/39, em seu artigo 113, dispunha que 
Art. 113. O juiz não poderá, sob pretexto de lacuna ou obscuridade da lei, eximir-se de proferir 
despachos ou sentenças. 
Já o CPC vigente, datado de 1973, vai além, ao prescrever, em seu artigo 126: 
Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. 
No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analo-
gia, aos costumes e aos princípios gerais de direito.
De tal sorte, resta claro que ao magistrado, incluindo aí os tribunais, não se 
permite a negativa em decidir a causa, sob o argumento da inexistência de norma 
jurídica aplicável ao caso em concreto. Tal negativa em julgar, aliás, violaria o prin-
cípio da inafastabilidade da jurisdição, consagrado pelo artigo 126 do CPC, em 
aliança ao contido no artigo 5.º, XXXV, da CF.9 
Como se vê, portanto, particularmente o digesto processual civil pátrio aponta 
uma importante função inerente aos princípios jurídicos; integrar as lacunas do 
ordenamento jurídico10. Tais lacunas, aliás, são ditas aparentes justamente em 
face da existência de meios que visam preencher um suposto vazio normativo.11 
E há de se ressaltar que a detecção de lacunas e a necessidade de integração 
ocorrem não apenas no plano do direito material, também alcançando o sistema 
processual.
Diversamente de épocas remotas, quando o julgador poderia declarar non 
liquet ou mesmo extinguir o processo, ainda que sem julgamento de mérito, seja 
por não ter convicção quanto aos fatos, seja por não vislumbrar o direito, nos sis-
9 “A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.”
10 Foi Aristóteles quem primeiro detectou e tratou, de forma consistente, do problema das lacunas do ordenamento jurídico, na 
obra Ética a Nicômaco (PERELMAN, 1996).
11 Concordamos com a assertiva de alguns teóricos do Direito, a exemplo da professora Maria Helena Diniz, no sentido de que 
as lacunas do ordenamento jurídico são meramente aparentes, pois existem instrumentos que suprem a ausência de norma 
específica para determinado caso concreto. Dentre tais mecanismos encontram-se, exponencialmente, os princípios jurídicos. 
Ver, da citada autora, a obra Lacunas do Direito (Editora Saraiva).
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Princípios de Direito Processual Civil
temas jurídicos contemporâneos há a imperiosa necessidade de se emitir um pro-
vimento jurisdicional, sempre que solicitado pelo cidadão, ainda que esse deci-
sum não atinja o meritum causae. Assim, a legislação material, como a processual, 
prevê aquilo que se rotula como técnica de integração do ordenamento jurídico, 
pois visa consertar vazios normativos.
Em nosso direito, o uso dos princípios gerais é colocado como uma técnica 
prioritária de integração do ordenamento normativo, ao lado dos costumes e 
da analogia. Difere-se, pois, do direito português, cujo Código Civil (CC), se refe-
rindo aos princípios de direito natural, diz que apenas serão eles lançados quando 
a analogia não integrar a lacuna (CC, art. 16).
Na Itália, o CC/1865, inspirado no Código Sardo ou Albertino, por igual diz que 
a analogia deve ser o primeiro mecanismo para a integração da lacuna, apenas 
em caráter terciário possibilitando-se o uso dos princípios gerais de direito (CC, 
art. 3.º). Assim também o é no Uruguai (CC, art. 16); na Áustria falando-se na utili-
zação dos princípios jurídicos naturais para o julgamento de casos duvidosos.
O que importa ressaltar, outrossim, é que os princípios consubstanciam 
importante mecanismo para que o julgador possa decidir a causa, ainda que não 
encontre, para aquele caso em apreciação, uma hipótese normativa adequada. 
Têm, os princípios, nesse contexto, a função de integrar o ordenamento, tanto 
o material, como o jurídico-processual. 
Por outro lado, ainda que os dispositivos se refiram aos princípios gerais de 
direito, como meios de integração do ordenamento, todo e qualquer princípio 
jurídico, não importando o setor em que atue, serve para fechar os espaços inevi-
táveis de ocorrer.
Por fim, cumpre-nos reconhecer que a função integrativa dos princípios jurí-
dicos pode se confundir com a sua função normativa, na medida em que, com 
a integração pela via principiológica, há inegável exercício normativo. É cediço 
que os princípios, aplicados com força obrigacional, possuem natureza norma-
tiva. Contudo, optamos por abordar em separado a função normativa e a de inte-
gração, pois esta aparece apenas supletivamente, já que a legislação limita o uso 
dos princípios à ausência de dispositivo legal, enquanto que a função normativa 
conduz à consideração deles (princípios) não como fontes secundárias ou objeto 
de técnica processual, mas sim comofontes primárias de Direito.
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Princípios de Direito Processual Civil
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Função normativa
Sem dúvida que esta é a função mais relevante dos princípios jurídicos. Mas 
é, também, aquela que suscita os maiores questionamentos, embora moderna-
mente já se tenha alcançado um quase consenso acerca da força normativa dos 
princípios de Direito.
Será que o juiz pode decidir com base apenas em um princípio jurídico? E se 
este conflitar com o dispositivo legislativo destinado à hipótese em particular?
Primeiro, há que se considerar que os princípios jurídicos são, em geral, extra-
ídos do próprio ordenamento jurídico positivado, ou seja, da lei. Podem ser eles 
encontrados na CF, em leis federais, estaduais etc. O fato é que, extraídos de uma 
norma, só podem ter natureza normativa. Por isso mesmo, nos parece, permissa 
venia, absolutamente equivocado o pensamento no sentido de que os princípios 
jurídicos teriam caráter abstrato, daí elidindo-se uma eventual força normativa.
O princípio do devido legal, v.g., está positivado no âmbito da Lex Legum, 
quando se enuncia que ninguém pode ser privado de seus bens ou de sua liber-
dade sem um processo judicial. A ampla defesa e o contraditório, ainda v.g., 
também estão assegurados pela norma constitucional. O respeito à coisa julgada 
ou a proibição à prova ilícita, por igual, estão previstos na ordem constitucional 
positivada.
No plano infraconstitucional, o princípio dispositivo está previsto em diversos 
artigos contidos no CPC. A validade da comunicação oral e a irrecorribilidade ime-
diata das decisões interlocutórias são princípios enunciados pela legislação, por 
consequência sendo incoerente retirar um intrínseco e natural sentido normativo. 
Se o princípio nasce da norma como ele não teria caráter normativo?
A polêmica, a nosso ver, fica circunscrita a algumas reduzidas situações. 
Evidentes são as hipóteses em que o dispositivo legal específico aponta em um 
sentido, todavia o princípio indicando um rumo diverso. A Lei Processual Civil, v.g., 
diz que os documentos devem ser juntados com a inicial e a defesa. Entretanto, 
eventualmente o juiz admite a juntada posterior, prevalecendo os princípios da 
ampla defesa e da primazia da verdade real.
Vislumbra-se, ainda, aqueles princípios construídos de forma não expressa, ou 
pelo menos erguidos a partir de vários dispositivos. São exemplos os princípios 
do duplo grau de jurisdição, da celeridade e da efetividade processual, da boa-fé 
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Princípios de Direito Processual Civil
processual. O princípio do devido processo legal, ainda v.g., enseja uma aplicação 
primária, na medida em que configura verdadeiro standard de um sistema judicial 
democrático.
Em síntese, concluímos no sentido de que os princípios processuais, como os 
jurídicos em geral, não podem ser relegados a um patamar secundário, servindo 
apenas para integrar lacunas ou para auxiliar o julgador na tarefa interpretativa. 
Quando muito alcançariam a condição de fonte secundária de direito.
As normas denominadas de principiológicas, por possuírem um maior alcance, 
não só podem como devem ser aplicadas diretamente, ainda que exista uma 
regra legislativa específica à matéria. Há de se permitir mesmo a subsunção à luz 
de princípios jurídicos, ainda que se eclipsando o sentido literal da lei. 
O juiz que julga à luz de princípios terá uma argumentação naturalmente con-
sistente, para tanto devendo investigar de forma mais profunda e ampla o sistema 
normativo, o que alcança a ordem jurídico-processual. É como bem coloca Ronald 
Dworkin (apud DIDIER JUNIOR, 2006, p. 31), com peculiar percuciência: “conduzir 
uma argumentação utilizando princípios necessariamente resulta na tentativa de 
estabelecer algum direito fundamental envolvido na questão”. A decisão fundada 
em princípios, ao invés de ser ressalvada, há de ser prestigiada, pois em geral 
estará alicerçada mais firmemente. 
Enfim, os princípios não seriam apenas normas, mas sim supernormas; não 
seriam apenas bússolas jurídicas, mas sim tanto o ponto de partida como o de 
chegada; não implicariam apenas em uma solução paliativa, mas sim em uma 
evidência definitiva.
Princípios processuais – 
considerações antecedentes
Antes de arrolarmos e tratarmos dos princípios de Processo Civil encontrados 
em nosso sistema normativo, faz-se mister que teçamos algumas considerações 
explicativas antecedentes.
De plano, coloque-se que iremos dividir esta parte (final) do estudo, o que, em 
verdade, consubstancia a essência do tema princípios de Processo Civil, em três 
partes distintas.
Primeiro, trataremos dos princípios de processo encontrados na CF. Segundo, 
enfocaremos os princípios que informam todos os sistemas processuais. Por der-
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Princípios de Direito Processual Civil
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radeiro, dissertaremos sobre os princípios ditos fundamentais do Processo Civil 
pátrio, portanto, a este interligados. 
Não abordaremos, ao menos detidamente, os princípios setoriais do Direito 
Processual, como aqueles inerentes à jurisdição, às provas, aos recursos, à execu-
ção, ou às nulidades processuais. 
Assim, não se invadirá áreas do Direito Processual situadas fora do âmbito da 
teoria geral do processo. O que não significa dizer, porém, que en passant não 
se enfrente alguns princípios ditos setoriais. Até porque, de certo modo, todo 
e qualquer enfoque principiológico não deixa de se relacionar com a teoria geral 
da ciência respectiva, em face de seu caráter propedêutico.
Princípios constitucionais 
de Direito Processual Civil
De início, registre-se que o estudo dos princípios constitucionais do processo 
situa-se no campo do Direito Constitucional Processual, e não no do Direito Pro-
cessual Constitucional, sendo este mais restrito, circunscrito aos meios de con-
trole jurisdicional de constitucionalidade das normas.12
As normas processuais de caráter principiológico, encontradas na CF, possuem 
um inegável caráter de fundamentalidade, tanto que, na Carta Magna brasileira, 
os princípios de Direito Processual estão enunciados em seu artigo 5.º, portanto, 
não somente dentro do título dos direitos fundamentais, como especificamente 
no capítulo dos direitos e garantias individuais e coletivas.
Como oportunamente coloca Fredie Didier Junior (2006, p. 31), pode se falar, 
em nossa experiência normativa, em estudo do processo à luz dos direitos funda-
mentais, sendo que a CF vigente deu grande impulso a tal tendência, pois inclui 
no rol dos direitos e garantias fundamentais uma série de dispositivos de natureza 
processual, inclusive em número sem precedente em nossa história constitucional.
Didier Junior (1992), amparado no relevo dado ao processo judicial na órbita 
constitucional13, vê como irrecusável a autonomia didática da disciplina Direito 
Processual Constitucional, aqui se identificando com o Direito Constitucional Pro-
cessual.
12 Para Nery Junior, o Direito Processual Constitucional é “a reunião dos princípios para o fim de regular a jurisdição constitucio-
nal”, não se tratando de ramo novo do Direito Processual (1992, p. 15).
13 Por Didier Junior denominada de “tutela constitucional do processo”.
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Princípios de Direito Processual Civil
O fato é que, por um prisma científico entendemos pouco razoável falar-se em 
autonomia do processo constitucional, pois faltar-lhe-iam princípios próprios, em 
padrão suficiente à concessão de uma almejada autonomia. Contudo, a generosi-
dade constitucionaltida para com o processo judicial estabelece a necessidade de 
um estudo em separado das normas e institutos (processuais) contidos na CF.
Vamos inclusive adiante, aqui comungando com o pensamento de Didier 
Junior, no sentido de que os princípios constitucionais processuais devem ser 
encarados como garantidores de verdadeiros direitos fundamentais processuais. 
Como consequência, o magistrado deve interpretar tais direitos de modo a lhes 
dar o máximo de eficácia, inclusive afastando regras que obstaculizem a sua efe-
tividade, para tanto invocando, quando necessário, o princípio da proporcionali-
dade, pelo qual deve prevalecer, sem colisão real, o valor mais elevado, conforme 
apurado no caso concreto.14 
Feito o registro da importância dos princípios processuais encontrados em 
nossa ordem constitucional, passemos a enumerá-los e enfocá-los.
Princípio do devido processo legal
Tal princípio, também chamado de due process of law, face à sua origem no 
direito britânico, é tido por muitos como o único e verdadeiro princípio de Direito 
Processual contido na CF/88. Nesse contexto, todos os demais princípios, ou como 
tal apontados, seriam subprincípios decorrentes do devido processo legal. Assim, 
os princípios da ampla defesa, do contraditório, da publicidade dos atos proces-
suais, da proibição à prova ilícita etc., seriam na verdade meros corolários do prin-
cípio do devido processo legal, e não princípios autônomos.15 O devido processo 
legal seria, conforme locução de Didier Junior, a norma-mãe, e esta gerando – 
aqui por nossa conta – normas-filhas.16 
O due process of law é consagrado na CF/88, por força do inciso LIV do artigo 
5.º, quando se prevê que:
14 Sobre o princípio da proporcionalidade, ver estudos de Robert Alexy e de Gomes Canotilho.
15 Essa é a posição, por exemplo, de Nery Junior, esboçada na obra Princípios de Processo Civil na Constituição Federal (1992).
16 Conforme Nery Junior (1992, p. 35), são os seguintes os direitos decorrentes do devido processo legal: 
a) comunicação e conhecimento do teor da acusação; 
b) juiz imparcial; 
c) produzir provas; 
d) deduzir defesa oral perante o juiz; 
e) ter um defensor perante o juiz ou Tribunal; 
f ) reperguntar às testemunhas e contrariar provas; 
g) decisão fundamentada, conforme o contido nos autos. 
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Princípios de Direito Processual Civil
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Art. 5.º [...]
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;17
Como se vê, o devido processo legal é a garantia maior do cidadão em face do 
arbítrio, dando-se a ele o direito, antes de ser submetido à sanção estatal, de ser 
submetido a um processo judicial cercado de garantias e precauções. É incompa-
tível, pois, a democracia, com a inexistência de um processo judicial revestido de 
garantias individuais.18-19
Não enxergamos, portanto, qualquer plausibilidade na prisão definitiva de 
alguém, sem que este alguém possa se defender no âmbito de um processo judi-
cial. Conforme a nossa Carta Política, também ninguém poderá sofrer a expro-
priação forçada de um bem, sem que possa se defender da acusação de dívida. 
Nos países em que se permite a pena de morte e é estabelecido o due process em 
sua plenitude, certamente ninguém poderá perder a sua vida sem que possa se 
defender plenamente.
Conforme a doutrina de Nery Junior (1992, p. 26), o primeiro ordenamento que 
teria feito menção ao princípio do devido processo legal, ainda que sem men-
cionar tal nome, foi a Magna Carta de João Sem Terra, quando se referiu à law 
of the land (lei da terra). A expressão due process of law, por sua vez, somente foi 
utilizada pela primeira vez em uma lei inglesa de 1354, de autor desconhecido, 
denominada Statute of Westminster of the Liberties of London.
O princípio do devido processo legal possui três dimensões: a genérica, a 
material e a processual.
Genericamente, o due process of law caracteriza-se pela defesa ao trinômio 
vida-liberdade-propriedade. Como sintetiza Nery Junior, a norma estabelece 
o direito de tutela daqueles bens da vida em seu sentido mais amplo e gené-
rico (1992, p. 28). Protege-se o direito à liberdade de expressão, de religião, de 
imprensa etc.
17 Alguns doutrinadores identificam o devido do processo legal com o princípio da legalidade, a exemplo de Jônatas Luiz Mo-
reira de Paula (2002b, p. 163).
18 Por isso mesmo, a edição nos EUA de recente norma possibilitando a detenção preventiva de suspeitos da prática de atos 
de terrorismo, sem qualquer razão mais concreta, conquanto possa se argumentar favoravelmente com a gravidade do célebre 
atentado de 11 de setembro de 2001, a nosso ver não se justifica, pois o bem jurídico sacrificado nos parece gerar uma relação 
custo versus benefício desfavorável, principalmente para a cidadania. 
19 Também se questiona a recente alteração no Processo Civil pátrio, por meio da Lei 11.277, de 7 de fevereiro de 2006, que acres-
centou o artigo 285-A ao CPC, possibilitando que o juiz de primeiro grau julgue improcedente a pretensão deduzida na inicial, 
sem que necessite citar o réu, desde que a matéria controvertida seja unicamente de direito e no juízo houver sido proferida 
sentença de total improcedência em outros casos idênticos, reproduzindo-se o teor da sentença anteriormente prolatada.
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Princípios de Direito Processual Civil
Em sentido material, o due process significa a tutela de direitos materiais, 
o que importa reconhecer o alargamento do instituto.20 Em seu aspecto material, 
o devido processo legal manifesta-se em todos os campos do direito, por inter-
médio de princípios como o da legalidade, no direito administrativo, o da auto-
nomia da vontade, na área de contratos privados, e o da anualidade, em matéria 
tributária.
No plano processual, que neste estudo especificamente nos interessa, gene-
ricamente devido processo legal consubstancia o direito das pessoas serem sub-
metidas a um processo judicial, para que se possibilite alguma espécie de expro-
priação, seja de sua liberdade ou de seu patrimônio.
O direito à submissão a um processo judicial, visto a partir de quem se sente 
ameaçado, impõe proteger todo e qualquer bem jurídico, pelo que, quando se 
fala em defesa do patrimônio, este há de ser concebido em sentido amplo e não 
pelo prisma meramente material. Um pai que pretende a guarda de um filho, por 
exemplo, ao não tê-la deve ter tido o direito de expor judicialmente a sua preten-
são e as suas razões.
Mas não basta, para se concretizar o devido processo legal, que se garanta 
o acesso a um processo judicial. Verdadeiro due process of law, como baliza a dou-
trina mais moderna, somente ocorre quando o processo vem cercado de certas 
normas e características que lhe garantam a condição de um mecanismo eficiente 
de proteção social. Assim, o processo deve ser público, célere, efetivo, igualitário 
e bilateral, com amplitude de defesa etc.
Passou-se, portanto, do sentido meramente de Direito a um processo em uma 
acusação criminal, ao sentido pleno de devido processo legal, com uma inegá-
vel evolução não só da doutrina como mesmo da jurisprudência, protegendo o 
direito das pessoas a um processo eficiente e justo do ponto de vista material. Se 
isso tem sido alcançado é uma outra circunstância, mas o fato é que atualmente, 
quando se fala em direito ao processo, não há o contentamento com o simples 
acesso a um processo judicial, buscando-se algo a mais, como bem exemplifica 
a postura do legislador constitucional, que inseriu o inciso LXXVIII no artigo 5.º da 
CF, dizendo da necessidade do processo judicial ocorrer “em tempo razoável”.
20 Vide, de Carlos Roberto de Siqueira Castro, a obra O Devido ProcessoLegal e a Razoabilidade das Leis na Nova Constituição do 
Brasil (Rio de Janeiro, editora Forense).
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Princípios de Direito Processual Civil
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Princípio da igualdade 
(isonomia, imparcialidade) processual 
O princípio da igualdade é o primeiro dos princípios processuais derivados do 
devido processo legal contido na CF. Na verdade, o princípio da isonomia é um 
princípio geral de direito, inerente a toda e qualquer nação democrática. Tal prin-
cípio é consagrado já no caput do artigo 5.º da Carta Magna, ao dispor que todos 
são iguais perante a lei. A nível infraconstitucional há de se ressaltar a orientação 
contida no artigo 125, I, do CPC, que reza que o juiz dirigirá o processo conforme 
as disposições do Código, competindo-lhe assegurar às partes igualdade de tra-
tamento.
O juiz é, por excelência, um terceiro imparcial, que tem a função de decidir 
o conflito. De sua imparcialidade advém a sua autoridade específica, pelo que 
o Estado lhe fornece poder de polícia, de forma a que as decisões judiciais pos-
suem essencial coercibilidade. A imparcialidade é, assim, uma nota característica 
da atividade jurisdicional. Conforme Ada Pellegrini Grinover (2005, p. 53), “o cará-
ter da imparcialidade é inseparável do órgão da jurisdição. O juiz coloca-se entre 
as partes e acima delas: esta é a primeira condição para que possa exercer sua 
função dentro do processo”.
É importante ressaltar-se, entretanto, que a verdadeira igualdade de trata-
mento somente ocorre quando são tratados igualmente os iguais e desigualmente 
os desiguais. Pela lição de Nery Junior (2002, p. 40), “dar tratamento isonômico 
às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na 
exata medida de suas desigualdades”. Em verdade, quando o juiz tenta ser neutro 
a ponto de não atenuar a desigualdade jurídica entre as partes, não estará sendo 
isonômico, mas sim aprofundará a desigualdade existente.
De tal sorte, o magistrado deve considerar a capacidade jurídica de cada liti-
gante, o que não lhe fará parcial, desde que mantenha a equidistância necessária 
em relação ao resultado do processo. A assepsia conceitual que às vezes se exige 
do julgador é, a nosso ver, incompatível com uma visão moderna e instrumental do 
processo.
Falar-se em protecionismo processual, pois, não significa entronizar-se uma 
exagerada neutralidade judicial. Aliás, a própria legislação, eventualmente, per-
mite o favorecimento processual a uma das partes, conforme sua posição na rela-
ção jurídico-processual. O Código de Defesa do Consumidor (CDC) possui norma 
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Princípios de Direito Processual Civil
emblemática em tal sentido, ao prever, em seu artigo 6.º, VIII, a possibilidade de 
inversão do ônus da prova, a critério do juiz, mas sempre favorecendo o consu-
midor. 
O princípio in dubio pro reo, no Processo Penal, implica em um favorecimento 
processual. No processo do trabalho, o juiz não deve perder de vista a hipossufici-
ência do empregado.21 No Processo Civil, o magistrado deve, ao aquilatar a prova 
produzida, considerar a capacidade probatória das partes, ensejando uma outra 
dimensão do que seja prova possível.
No tocante às prerrogativas processuais concedidas à Fazenda Pública e ao 
Ministério Público (MP), como o prazo em dobro para recorrer e em quádruplo 
para contestar (CPC, art. 188), desde que a norma não enseje um privilégio não 
vemos violação ao princípio isonômico, já que este não pode ser, como já dito, 
observado pelo plano formal. A dispensa de preparo para interposição de recurso 
(CPC, art. 511, §1.º) e a concessão de tutela cautelar em arresto independente de 
justificação prévia (CPC, art. 816, I) também exemplificam prerrogativas proces-
suais.
Pessoalmente, todavia, entendemos que normas que dão vantagem proces-
sual exagerada ao ente público são eivadas de inconstitucionalidade.22 
Princípio do juiz e do promotor natural
Este princípio também é inerente à jurisdição, configurando uma garantia em 
prol do cidadão, de forma a que seja protegido em face de eventual parcialidade 
judicial.
Com efeito, a CF prevê, em seu artigo 5.º, que 
Art. 5.º [...] 
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; 
[...] 
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
21 Ver, a respeito, nossa monografia intitulada Poderes Específicos do Juiz do Trabalho: direção e protecionismo processual (DUARTE 
NETO, 1998). Deve-se ressalvar, contudo, que alguns doutrinadores, a exemplo de Valentin Carrion, não admitem protecionismo 
processual, entendendo que o princípio da proteção é exclusivo do Direito do Trabalho.
22 A Medida Provisória 2.180, por exemplo, ao conceder, dentre outros privilégios, o prazo de 30 dias para a Fazenda Pública em-
bargar a execução, além de não ter legitimidade, por força de não se ter atendido ao requisito da urgência, concede um privilé-
gio desacompanhado de razoabilidade. Contudo, a jurisprudência dominante tem acatado a constitucionalidade de tal norma.
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Princípios de Direito Processual Civil
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Juízo ou tribunal de exceção é aquele designado ou criado por alguma delibe-
ração, de ordem legislativa ou não, para julgar determinado caso, tenha ele ocor-
rido ou não, sendo irrelevante à já existência de juízo ou tribunal competente. 
A permissibilidade de juízo de exceção ensejaria, eventualmente, o direciona-
mento dos julgamentos. 
Historicamente, nada mais odioso que a criação de tribunais ad hoc, quer dizer, 
órgãos judicantes a que se confere o julgamento de crimes ex post facto. Tal proi-
bição se estende ao Processo Civil, no sentido de que o juiz competente, para 
apreciar determinado caso, não pode ser dele afastado, determinando-se a com-
petência de outro órgão julgador. 
Normas que estabelecem prerrogativas, como a que determina o domicílio do 
alimentando, para a fixação de competência territorial nas ações de alimentos (CPC, 
art. 100, II), ou o da residência da mulher, nas ações de divórcio e de anulação de 
casamento (CPC, art. 100, I), ou mesmo as que concedem foro privilegiado a certas 
autoridades públicas, não significam violação ao princípio do juiz natural.
Também não constituem juízos ou tribunais de exceção aqueles de natureza 
especial, pois, como alertam Celso Ribeiro Bastos e Ives Gandra da Silva Martins 
(1989, p. 205), “não são de exceção os juízos ou tribunais previstos na própria 
constituição”. 
O que o princípio do juiz natural visa proteger, e que deve ser estendido à 
designação inerente ao MP, é o favorecimento mediante a indicação de juízes 
ou tribunais para julgar casos determinados. O dispositivo constitucional, assim, 
objetivou tal proteção, não comportando relativização ao princípio do juiz natu-
ral. E é de bom alvitre reiterar que o juiz natural deve ser entendido não apenas 
como o juiz de primeiro grau, alcançando os tribunais.
De forma analítica, Gomes Canotilho aponta dimensões fundamentais para 
que se estabeleça um juiz natural, por ele denominado juiz legal:
deve haver a individualização das competências dos órgãos jurisdicionais, �
por meio de leis gerais;
a justiça material há de ser garantida pela neutralidade e imparcialidade �
do juiz;
há de se ter princípios de fixação de competência, com regras precisas; �
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Princípios de Direito Processual Civil
a distribuição de processos deve observar certos critérios, pois de nada va- �
lerá o princípio do juiz natural permitindo-se o direcionamento processual(apud BASTOS; MARTINS, 1989, p. 205).
Princípio da inafastabilidade 
da jurisdição (princípio do acesso à Justiça)
Este princípio também é chamado de princípio da inafastabilidade do controle 
jurisdicional ou de princípio do direito de ação.
Em nosso ordenamento jurídico-constitucional, o princípio da inafastabilidade 
da jurisdição está consagrado pelo inciso XXXV do artigo 5.º que dispõe que 
Art. 5.º [...] 
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; 
Ordinariamente, o princípio em análise está consubstanciado pela previsão 
do artigo 126 do CPC, no sentido de que o juiz não pode, a pretexto de lacuna 
ou obscuridade da lei, eximir-se de proferir decisão. De forma complementar, 
o artigo 4.º da LICC dá conteúdo ao princípio da inafastabilidade da jurisdição, ao 
estipular técnicas de integração do ordenamento jurídico, pelo uso da analogia, 
dos princípios gerais de direito, dos costumes etc.
Esse princípio, de acordo com Grinover et al. (2005, p. 147), “ganha especial 
relevo na doutrina processual moderníssima, revestindo-se da conotação de sín-
tese da garantia constitucional de acesso à Justiça”.
O fato é que o princípio da inafastabilidade da jurisdição é imprescindível a 
que tenha uma verdadeira democracia. O Estado, dentre outras, possui uma 
função jurisdicional, de forma a que não pode se eximir de dirimir os conflitos de 
interesses que lhe são submetidos. Deve-se, aliás, garantir o acesso do cidadão 
ao Judiciário, de forma a que possa provocar a jurisdição e ser respondido em sua 
provocação, em princípio não importando o conteúdo da resposta exarada.23-24 É 
23 Defende, Savigny, a plenitude lógica do ordenamento, pela qual todas as manifestações de comportamento do homem frente 
ao Direito devem ser resolvidas pelos institutos no ordenamento jurídico, sendo que a doutrina moderna combate seu pensa-
mento, dizendo que as lacunas contidas no Direito Positivo hão de ser preenchidas pelo trabalho construtivo da jurisprudência 
(NERY JUNIOR, 1992, p. 99).
24 Também é certo que a doutrina processual moderna não se contenta com uma decisão qualquer, entendendo-se que um 
real acesso à Justiça atrai a ideia fundamental de tutela jurisdicional adequada. Nesse sentido, dentre outros, Luiz Guilherme 
Marinoni, Grinover (PUCHTA, 2005, p. 15). 
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Princípios de Direito Processual Civil
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por isso que o objeto imediato de toda e qualquer ação é a emissão de um provi-
mento jurisdicional, sendo o mediato o acolhimento da pretensão.
É, sem dúvida, de nefasta memória o advento do Ato Institucional 5 (AI-5) que 
dispôs excluídos da apreciação do Poder Judiciário todos os atos praticados pelo 
comando da Revolução de 31 de março de 1964, que instituiu um regime dita-
torial no Brasil. Vencido o período de exceção, com a redemocratização do país 
mais uma vez consagrou-se o princípio da inafastabilidade da jurisdição,25 garan-
tia vital de uma plenitude democrática.
Não se tem como violadoras do princípio em comento as normas que condi-
cionam o exercício do direito de ação, com isso inviabilizando a provocação juris-
dicional. Assim, a estipulação de condições genéricas da ação (CPC, art. 267, VI)26, 
sendo que não preenchidas a causa não receberá uma sentença de mérito, não 
viola o princípio da inafastabilidade da jurisdição. Da mesma forma, a previsão de 
pressupostos processuais é perfeitamente compatível com o acesso à jurisdição.
O compromisso arbitral, por igual, não afronta a garantia de acesso à jurisdição. 
Condições específicas da ação, como aquelas destinadas ao mandado de segu-
rança (prazo decadencial para o ajuizamento da ação mandamental, demonstra-
ção de direito líquido e certo) ou à ação de revisão, não afrontam o inciso XXXV 
do artigo 5.º constitucional, já que o acesso à Justiça pode ser condicionado, não 
podendo é ser evitado.
Por outro lado, comungamos com o pensamento de João Batista Lopes (2005, 
p. 40), no sentido de que normas impeditivas de liminares em casos de tutela de 
urgência violam o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional.
Pelo ângulo do acesso à Justiça, a inafastabilidade da jurisdição depende de 
outras regras ou princípios, como o da gratuidade, o da assistência judiciária aos 
necessitados (CF, art. 5.º, LXXIV) e o da tutela dos interesses transindividuais. Con-
forme Mauro Cappelletti e Bryant Garth (1999), as três ondas que possibilitaram 
o acesso à Justiça foram: 
a gratuidade judiciária; �
a coletivização das ações; e �
a aceleração processual. �
25 Foi a CF/46 que primeiro previu a inafastabilidade da jurisdição, ao dispor que “a lei não poderá excluir da apreciação do Poder 
Judiciário qualquer lesão de direito individual”.
26 Interesse processual, legitimidade ad causam e possibilidade jurídica do pedido.
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Princípios de Direito Processual Civil
Ainda conforme os citados juristas, a legislação deve cuidar de possibilitar um 
real acesso à Justiça, corrigindo desigualdades e distorções, pois pessoas ou orga-
nizações que possuam recursos financeiros consideráveis a serem utilizados têm 
vantagens óbvias ao propor ou defender demandas. Primeiro, elas podem pagar 
para litigar; depois, suportar as delongas do litígio. Cada uma dessas capacidades, 
em mãos de uma única das partes, pode ser uma arma poderosa; a ameaça de lití-
gio torna-se tanto plausível quanto efetiva. De modo similar, uma das partes pode 
ser capaz de fazer gastos maiores que a outra e, como resultado, apresentar seus 
argumentos de maneira mais eficiente (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p. 21). Assim, 
instrumentos como a lei que regulamentou o benefício da justiça gratuita e a que 
criou a ação civil pública devem ser prestigiados, pois inerentes a um processo 
judicial mais acessível e democrático. 
Princípios da ampla defesa e do contraditório
A nossa Lex Legum é enfática, ao dispor que 
Art. 5.º [...] 
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegu-
rados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
A uma primeira vista, por ampla defesa há de se entender o asseguramento 
que é feito ao réu de condições que lhe possibilitem trazer para o processo todos os 
elementos tendentes a esclarecer a verdade (BASTOS; MARTINS, 1989, p. 266). Con-
tudo, apesar da nomenclatura ampla defesa, esta transcende à figura do réu, pois 
mesmo o autor deve ter assegurado tal direito, como na hipótese de serem ouvi-
das as testemunhas por si arroladas ou de se permitir a juntada de prova docu-
mental.
O direito à ampla defesa, como, aliás, todas as normas processuais previstas na 
CF, não pode ser visto como algo absoluto, portanto permitindo o regramento de 
seu exercício. Como bem leciona Lopes (2005, p. 44), “ao referir-se à ampla defesa, 
pretende a Constituição consagrar a garantia da defesa pertinente, necessária e 
adequada, já que o abuso de direito é vedado pelo sistema jurídico”. 
Diversas normas, contidas na legislação infraconstitucional, demonstram que 
a ampla defesa não pode permitir a má-fé processual, como colidir com o princí-
pio da eficiência do processo. Por isso mesmo, os recursos protelatórios, as lides 
temerárias, o ato atentatório à jurisdição, tudo isso enseja a condenação do liti-
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Princípios de Direito Processual Civil
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gante que, em nome de um pretenso direito de defesa, litiga de má-fé. Também 
deve se indeferir a prova desnecessária, com intuito protelatório ou não, sem que 
se viole a ampla defesa. No Processo Civil, é possível citação por edital,quando 
não encontrado o réu.
De se notar que a Carta de 1988 inovou profundamente, pois estendeu o 
direito à ampla defesa do Processo Penal para o Processo Civil e o Administrativo, 
embora a doutrina constitucional, como a processual, já interpretasse a norma 
pretérita em tal sentido. 
Contraditório, consoante a definição de Joaquim Canuto Mendes de Almeida 
(apud LOPES, 2005, p. 42), é “a ciência bilateral dos atos e termos processuais 
e possibilidade de contrariá-los”. Nesse sentido, Ovídio Baptista da Silva denomina 
o contraditório como princípio da audiência bilateral. Deixaremos para apreciar 
tal garantia, ainda que prevista constitucionalmente, quando tratarmos dos prin-
cípios fundamentais do Direito Processual. 
Princípio da independência do Poder Judiciário
Este princípio também é setorial da jurisdição, entretanto aqui merecendo 
referência, pois é a CF, por um lado, que prevê a separação dos poderes (CF, art. 
2.º), e de outro estabelece garantias inerentes aos juízes (CF, art. 95).
A independência, pois, tanto há ser da instituição Poder Judiciário, como do 
juiz, enquanto pessoa física. Ambas, em verdade, concedem garantia em favor 
do jurisdicionado e da sociedade como um todo. Um Poder Judiciário que se ajo-
elhe perante o Poder Executivo, sendo este um poder político, não poderá ser o 
guardião dos direitos fundamentais dos cidadãos, ficando ele sujeito ao arbítrio 
e à injustiça. Garantia como a inamovibilidade do juiz, embora a este favoreça 
diretamente, é essencial para que o cidadão conte com um Judiciário altivo e 
imune a pressões políticas, já que o magistrado estará em tese protegido contra 
eventual perseguição.
Princípio da proteção à coisa julgada
A teor do inciso XXXVI do artigo 5.º da CF: 
Art. 5.º [...]
XXXVI - a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;
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Princípios de Direito Processual Civil
Tal dispositivo constitucional ratifica a norma infraconstitucional que prevê 
a imutabilidade da coisa julgada, pois, segundo o artigo 463 do CPC, depois de 
publicada a sentença o juiz somente poderá modificá-la para corrigir inexatidões 
materiais ou mediante embargos de declaração.
A proteção à coisa julgada é o principal elemento que compõe o princípio da 
segurança jurídica. Uma vez decidida a lide, a parte tem, em geral, inúmeros recur-
sos processuais a serem manejados. Se, todavia, há inércia da parte, ou se a deci-
são originária foi mantida pelas instâncias recursais, há que se respeitar o decidido 
pelo Poder Judiciário. Muitas vezes, inclusive, verifica-se a posteriori o equívoco 
cometido pelo decisum. Todavia, há de se preservar o instituto da coisa julgada, 
em prol de um bem jurídico maior, que é a segurança jurídica da coletividade.
A coisa julgada pode se dar no plano formal ou no plano material, sendo 
aquela a decisão judicial com trânsito em julgado. Em relação à sentença não mais 
recorrível, somente pode se verificar uma real modificação em seu conteúdo por 
intermédio da via da ação rescisória. Tecnicamente, a ação rescisória, por se tratar 
de uma ação e não de um recurso, não relativiza a coisa julgada. Entretanto, do 
ponto de vista material a ação rescisória pode desconstituir um julgado já com 
trânsito em julgado, ensejando a possibilidade de uma nova decisão em sentido 
antagônico à desconstituída.
A legislação infraconstitucional, de forma até expressa, relativiza a coisa jul-
gada, como exemplifica a lei da ação popular, pois se a demanda for total ou par-
cialmente procedente os réus não poderão modificar o julgado; mas se o pleito 
der pela improcedência da pretensão, nem por isso restam vedadas novas tenta-
tivas de anular o ato lesivo. 
Equívoco comumente cometido decorre da afirmação de que a decisão pro-
ferida em ação de alimentos não faz coisa julgada, pois pode haver um posterior 
pedido de revisão judicial. Ora, se o pedido revisional se funda na modificação do 
estado de fato, há uma nova situação que altera a causa de pedir, o que afasta o 
instituto da coisa julgada, já que esta pressupõe a tríplice identidade entre partes, 
pedido e causa petendi.27
27 CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE SENTENÇA. AÇÃO DE DESPEJO. PENHORA DE BEM DO FIADOR QUE NÃO FOI 
PARTE. 
1. Não subsiste ato de constrição de bem de fiador em contrato de locação, em caso em que, desfeito do contrato por alienação 
do imóvel, da ação de despejo por denúncia feita pelo adquirente não participa o fiador, contra a qual, portanto, não se constitui 
o título executivo judicial. 2. Perdura “querella nullitatis insanablis”, solucionável em via ordinária, quando constatada a inexistên-
cia de citação do fiador para a execução, de intimação da penhora sobre bem seu e da designação de datas para arrematação. 
(STJ, REsp 19.241, Rel. Min. Dias Trindade, 3.ª T., DJ 01/06/1992, p. 8.046).
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Princípios de Direito Processual Civil
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Por derradeiro, temos que registrar o crescimento da teoria da relativização 
da coisa julgada. Essa teoria, em síntese, consiste na ideia de que a coisa julgada, 
quando afronta os princípios constitucionais da moralidade e da legalidade, não 
se torna imutável, sendo passível de revisão pela via da ação declaratória de nuli-
dade insanável, que remonta ao direito romano (querella nullitatis insanablis).
Em que pese a defesa da teoria da relativização da coisa julgada ser defendida 
por juristas do tomo de Humberto Theodoro Júnior, Teresa Arruda Alvim Wam-
bier, José Miguel Garcia Medina, Cândido Rangel Dinamarco28 e José Augusto Del-
gado, não a contemplamos de forma simpática, pois ela reduz o já pequeno nível 
de segurança jurídica que temos a nos proteger. 
É certo que, em situações extremas, pode até se aceitar a teoria em comento, 
como na hipótese do não pai – assim demonstrado por exame de DNA – que foi 
declarado judicialmente pai daquela criança. Mas, a hipertrofia que tem alcan-
çado tal teoria, a ponto de se asserir que não faz coisa julgada a decisão judicial 
que viola o princípio de justiça – algo, conceitualmente, por demais abstrato –, 
vemos uma relação custo versus benefício desfavorável ao nosso ordenamento 
jurídico-processual.
Princípio da proibição da prova ilícita
Não iremos nos deter na abordagem deste princípio, pois ele configura princí-
pio setorial da prova judicial. Não obstante, por se encontrar no plano constitucio-
nal, ainda que perfunctoriamente haveremos de aqui abordá-lo.
O texto constitucional vigente é taxativo, ao declarar que 
Art. 5.º [...]
LVI - são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos; 
Prova ilícita é aquela que é obtida com violação ao direito material, diversa-
mente da prova ilegítima, que é aquela produzida desatendendo aos ditames da 
norma processual. As duas são espécies do gênero prova ilegal.
28 Dinamarco aponta a relativização da coisa julgada por intermédio da ampliação da ação rescisória.
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Princípios de Direito Processual Civil
É verdadeiro que a doutrina e a jurisprudência já não aceitavam a prova 
obtida ilicitamente, interpretando o disposto no artigo 332 do CPC, que estipula 
que serão admitidas, no processo, as provas legais e as moralmente legítimas.29 
Todavia, não menos verdadeiro que a contundência do inciso LVI do artigo 5.º 
constitucional deu outro status ao preceito legal. Em tese, não há como se relati-
vizar o comando contido no dispositivo constitucional.
A jurisprudência atual do Egrégio Supremo Tribunal Federal (STF), orientada 
pelo preceito constitucional vigente, considera inválida qualquer prova obtidapor meios ilícitos, não se admitindo exceção de espécie alguma. 
Antes, o Egrégio STF separava o resultado obtido (prova) do meio de sua 
obtenção. Assim, uma confissão obtida mediante tortura não restava viciada, pois 
a confissão em si não é algo ilícito. Em um segundo momento, a jurisprudência 
do Egrégio STF balizava-se pela ponderação de bens. Assim, a escuta clandestina, 
realizada para a descoberta da autoria de um pequeno furto, não era admitida 
enquanto prova; mas a escuta desautorizada para a descoberta de um sequestro 
era tida como uma prova válida. Os mais recentes julgados de nossa mais alta 
Corte de Justiça, porém, não somente não aceitam qualquer prova produzida ilici-
tamente, considerado o momento de sua obtenção, como vão além, ao não acei-
tar provas decorrentes daquela obtida com violação ao direito material (PAULA, 
2002b, p. 168-169). Tem-se, pois, a teoria denominada de teoria dos frutos da árvore 
envenenada (the fruit of the poisonous tree). De tal sorte, um documento obtido 
a partir de uma gravação não autorizada não pode ser considerado no processo, 
ainda que seja essencial a um julgamento juridicamente justo. A única exceção 
dá-se quanto à prova ilícita que inocente o réu no Processo Penal. 
Pessoalmente, somos adeptos da teoria advinda do direito alemão (verhält-
nismässigkeitsmaxime), denominada de teoria da proporcionalidade, no sentido 
de que o juiz ou tribunal, ao decidir sobre a admissibilidade da prova ilícita, deve 
ponderar sobre o que será mais proveitoso para processo, se a invalidação da 
prova ou a sua aceitação. Adotamos, portanto, o entendimento de Nery Junior 
e José Carlos Barbosa Moreira, no sentido de que existem outros princípios que 
devem ser preservados, como o da dignidade da pessoa humana, o da substan-
cialidade da relação jurídica material, o da proteção à verdade real, o do substrato 
ético das relações jurídicas e o da vedação ao enriquecimento sem causa.
29 Nesse sentido Grinover e José Celso de Mello Filho. Também assim já se posicionou o Egrégio STF, em hipótese em que des-
considerou prova de adultério consistente em fita magnética obtida por meio de gravação clandestina.
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Princípios de Direito Processual Civil
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Vamos supor que uma pessoa vendeu o seu único imóvel, onde morava com 
sua família e, com todo o valor recebido e o restante de suas economias adquiriu 
uma outra residência. Ocorre que essa pessoa não providenciou para si cópia do 
recibo de pagamento referente ao novo imóvel adquirido. Desesperado, furtou 
a via original do recibo. Na ausência de qualquer outra prova, será que o juiz 
sentir-se-á confortável em decidir favoravelmente àquele que age de má-fé, dei-
xando uma família sem moradia? E que dizer do pai que não detém a guarda das 
filhas menores e, mediante gravação clandestina, faz prova de que a mãe, que tem 
a guarda das crianças, as está prostituindo? O juiz manterá a guarda com a mãe 
porque o pai obteve a prova ilicitamente? Qual será o mal maior?
A nosso ver, o mais plausível é responsabilizar o agente pelo ilícito cometido, 
mas, analisando-se cada caso em concreto, eventualmente acatar-se provas obti-
das ilicitamente.
Princípio da publicidade dos atos processuais
O princípio da publicidade dos atos processuais é consubstanciado pelo dis-
posto no artigo 5.º, LX e no artigo 93, IX, da CF.
Diz a norma contida no artigo 5.º, LX, da CF:
Art. 5.º [...]
LX - a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade 
ou o interesse social o exigirem; 
E reza o artigo 93, IX, também da CF: 
Art. 93. [...] 
IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas 
as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às 
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do 
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
A razão da regra da publicidade dos atos processuais, sem dúvida, consiste na 
maior possibilidade de sua fiscalização. Quanto mais se tornar público o serviço 
prestado, maior será o seu acompanhamento e fiscalização. Em sendo, a atividade 
jurisdicional, uma atividade de natureza pública, portanto é essencial ao seu con-
trole que os atos praticados no processo sejam devidamente publicizados. 
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52
Princípios de Direito Processual Civil
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948, prevê, em seu artigo 
10, a publicidade popular dos juízos, mas foi na Revolução Francesa de 1789 que 
primeiro se reagiu contra os juízes secretos e de caráter inquisitivo.
A recente reforma do Poder Judiciário (EC 45/2004), inclusive, determinou 
que até mesmo as sessões administrativas dos tribunais se tornassem públicas, 
o que só vem contribuir para com uma maior transparência da atividade juris-
dicional. Deve se dar condições a que todos, sem exceção, possam fiscalizar o 
mister judicante, o que não há de interferir na liberdade de julgar. A nosso ver, 
todo e qualquer serviço público, por mais específico que seja, deve ser objeto de 
controle e fiscalização pela população, e não seria diferente no âmbito do Poder 
Judiciário, até porque, como bem sintetizam Grinover, Cintra e Dinamarco (2005, 
p. 71), “em última análise o povo é o juiz dos juízes”.
A publicidade dos atos processuais, contudo, comporta exceções, como pre-
veem as próprias normas constitucionais. O artigo 5.º, LX, fala em intimidade e 
em interesse social, capazes de fazer o processo correr em segredo de justiça. Se 
nos autos, por exemplo, encontra-se uma fotografia que retrata um relaciona-
mento amoroso que, em face de determinadas circunstâncias, se pretende que 
permaneça sigiloso, o juiz deve atender ao pedido de restrição da publicidade. Já 
o artigo 93, IX, fala de interesse público, o que, a nosso ver, em essência coincide 
com interesse social.30 Ressalve-se, porém, que o artigo 93 fala em restrição à pre-
sença de terceiros e até das partes a determinados atos processuais, enquanto o 
artigo 5.º se refere à não publicidade dos atos processuais.
O artigo 444 do CPC dispõe que a audiência não será pública nas hipóteses 
do artigo 155, que dizem respeito a interesse público (inciso I), casamento, filia-
ção, separação dos cônjuges, conversão desta em divórcio, alimentos e guarda de 
menores (inciso II). Um processo que tem por objeto uma investigação de pater-
nidade, v.g., não é nem deveria ser passível de manuseio por terceiros.
Por derradeiro, registre-se que a publicização dos atos processuais não signi-
fica que se dê notoriedade aos mesmos. A publicidade se dá pela publicação no 
Diário Oficial ou no átrio do fórum, pela notificação às próprias partes, pela pos-
sibilidade de consulta no cartório e até mesmo pela disponibilização de informa-
ções pela internet.
30 Jônatas Luiz Moreira de Paula (2002, p. 168) exemplifica, como casos de segredo por interesse público, as hipóteses que 
versem sobre questões de soberania nacional.
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Princípios de Direito Processual Civil
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Princípio da motivação das decisões judiciais
De acordo com o artigo 93, IX, da CF, toda e qualquer decisão judicial deve ser 
fundamentada, sob pena de nulidade. Tal dispositivo é essencial a que se possa 
ter um verdadeiro sistema judicial, como também a que ele tenha um cunho 
democrático.
No plano infraconstitucional estabelece o artigo 165 do CPC que 
Art. 165. As sentenças e acórdãos serão proferidos com observância ao disposto no artigo 458 31; 
as demais decisões serão fundamentadas,ainda que de modo conciso. 
Do cotejo entre o artigo 93, IX, da CF, e o artigo 165, do CPC, conclui-se que 
a exigibilidade de fundamentação não alcança somente as sentenças e acórdãos, 
compreendendo também as decisões interlocutórias e mesmo os despachos de 
mero expediente. Quanto a estes, manda a lógica que o próprio teor acaba impli-
cando em seu fundamento. No tocante às decisões interlocutórias, todavia, não 
vemos o porquê da complacência de nossos tribunais, em aceitar julgamentos do 
estilo defiro a liminar porque verifico os pressupostos para a sua concessão.
A motivação das decisões judiciais significa um mínimo de satisfação que 
merece ser destinada ao jurisdicionado, eventualmente concedendo-lhe conforto 
psicológico e possibilitando que recorra a uma instância superior. 
Ressalve-se que o dever de fundamentar não impõe ao magistrado que ela-
bore autênticas peças literárias, com uma linguagem rebuscada, recheada de 
termos raros e de latinismos despropositados. O juiz deve fundamentar sua deci-
são conforme a complexidade de cada causa, de forma a que seus elementos de 
convicção fiquem bem postos, passíveis inclusive de impugnação, o que em nada 
desmerece o julgador (a interposição recursal). 
Nos processos submetidos à Justiça do Trabalho ou aos Juizados Especiais 
Cíveis, nestes, nas causas até 20 (vinte) salários mínimos, sendo permitido o jus 
postulandi, ou seja, a atuação direta da parte sem a assistência de advogado, o juiz 
deve lançar mão de uma linguagem mais acessível, possível de ser compreendida 
pelo litigante sem representação judicial.
31 Art. 458. São requisitos essenciais da sentença: 
I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais 
ocorrências havidas no andamento do processo; 
II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; 
III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões, que as partes lhe submeterem.
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Princípios de Direito Processual Civil
Princípio do duplo grau de jurisdição
Para alguns, o princípio do duplo grau de jurisdição32 se trata de um princí-
pio doutrinário, para outros se tratando de um princípio de fundo legislativo. Há 
quem o entenda como um princípio expresso na CF, enquanto outros o veem 
como um princípio estabelecido implicitamente na legislação infraconstitucional. 
Em nossa opinião, se trata de um princípio de índole claramente legislativa, estan-
do explicitado em nossa organização judiciária prevista constitucionalmente. 
Este princípio remonta à Constituição do Império, de 25 de março de 1824, 
cujo artigo 158 dispunha, expressamente, sobre a garantia absoluta do duplo 
grau de jurisdição, permitindo que a causa fosse apreciada, sempre que a parte o 
quisesse, pelo Tribunal da Relação – depois de Apelação, e hoje de Justiça (NERY 
JUNIOR, 1992, p. 149).
A CF vigente prevê a existência de diversos órgãos jurisdicionais, estipulando- 
-lhes as suas respectivas competências funcionais, predominando a competên-
cia recursal no âmbito dos tribunais. Os juízes de primeiro grau, salvo quando 
apreciam embargos de declaração, ou compõem turmas recursais em juizados 
especiais, não detêm competência recursal. Os tribunais, por outro lado, por exce-
lência detêm competência recursal.
O duplo grau de jurisdição consiste em uma garantia concedida ao jurisdicio-
nado, destinada a lhe propiciar uma maior segurança. Se, por um lado, a possibi-
lidade de recorrer concede um maior conforto psicológico àquele que resta ven-
cido, por outro impõe uma maior segurança jurídica.
Há de se reiterar, outrossim, que a competência recursal é exercida, por exce-
lência, por órgãos colegiados, o que implica, em tese, em uma melhor apreciação 
da matéria. Mesmo com a nova redação dada ao artigo 557 do CPC (Lei 9.756/98), 
conferindo ao relator do recurso o poder de, monocraticamente, dar-lhe provi-
mento ou negar-lhe seguimento, não se elimina a característica da instância 
recursal funcionar sob a forma de órgão colegiado, pois o parágrafo 1.º do citado 
dispositivo dispõe que da decisão monocrática caberá agravo, no prazo de cinco 
dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso.33 
32 Oreste Nestor Laspro critica o termo duplo grau de jurisdição, porque não existem várias jurisdições, mas apenas uma (apud 
LOPES, 2005, p. 53).
33 Art. 557. O relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente, prejudicado ou em confronto 
com súmula ou com jurisprudência dominante do respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior. 
§1.º-A. Se a decisão recorrida estiver em manifesto confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do Supremo Tribu-
nal Federal, ou de Tribunal Superior, o relator poderá dar provimento ao recurso.
§1.º Da decisão caberá agravo, no prazo de cinco dias, ao órgão competente para o julgamento do recurso, e, se não houver 
retratação, o relator apresentará o processo em mesa; proferindo voto; provido o agravo, o recurso terá seguimento.
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Princípios de Direito Processual Civil
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O direito de recorrer não é um direito absoluto, podendo ser condicionado ou 
mesmo relativizado. Uma vez que o duplo grau de jurisdição é uma decorrência 
do princípio da ampla defesa (PINTO, 1995), alguns processualistas criticam tudo 
o que vem a condicionar o direito de recorrer. 
Não obstante, coerentemente com o pensamento por nós já esposado, temos 
absoluta convicção de que o fato do duplo grau jurisdicional consistir em um prin-
cípio constitucional não lhe concede caráter absoluto. Assim, são válidas normas 
como as que estipulam preparo para se conhecer de recurso, ou a que sanciona 
aquele que recorre com intuito meramente protelatório. As ações de competên-
cia originária do STF, por outro lado, estão imunes ao duplo grau de jurisdição.
O que importa concluir é que o duplo grau de jurisdição, adotado pela gene-
ralidade dos sistemas jurídicos contemporâneos, é um instituto essencial a que se 
propicie maior segurança ao jurisdicionado. O uso inadequado de recursos deve 
ser combatido conforme mecanismos inclusive já existentes, como a sanção à liti-
gância de má-fé, mas não devemos aceitar a tese de que os recursos são os exclu-
sivos responsáveis por um sistema judicial deficiente.
Princípios informativos 
gerais do Direito Processual Civil
Os princípios informativos do Direito Processual, por alguns chamados forma-
tivos, já que dão forma ao sistema, conforme expressiva parcela de nossa doutrina 
processual são aqueles que têm como característica principal o fato de não se 
relacionarem com opções valorativas, tendo o significado de aspirações ideais. 
Tais princípios seriam inerentes a todos os sistemas processuais, uma vez que se 
identificariam com a razão de ser do processo enquanto um instrumento para 
a realização de direitos. Nesse contexto, os princípios informativos estão na 
gênese de todo e qualquer sistema processual, já que o processo tem uma fina-
lidade comum, no sentido de oferecer um mecanismo de solução de conflitos, 
mediante os critérios mais adequados.
Conforme tal doutrina, os princípios informativos seriam aqueles que, de uma 
forma genérica, representam uma aspiração de melhoria do aparelhamento pro-
cessual, sendo de ordem lógica, política, jurídica e econômica, adiante se falando 
em instrumentalidade e em efetividade. Tais normas ideais atuariam na formação 
dos princípios específicos do sistema processual, de modo a que 
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Princípios de Direito Processual Civil
[...] os princípiosgerais, apesar do forte conteúdo de que são dotados, não se limitam ao campo 
da deontologia e perpassam toda a dogmática jurídica, apresentando-se ao estudioso do direito 
nas suas projeções sobre o espírito e a conformação do direito positivo. (GRINOVER et al, 2005, 
p. 52-53).
Preferimos, todavia, a classificação adotada por José Eduardo Carreira Alvim 
(2002, p. 219), no sentido de que os princípios informativos do processo são todos 
aqueles que o regem, todavia podendo ser divididos em gerais e específicos. Os 
princípios informativos gerais informam qualquer sistema e são princípios indis-
pensáveis para que o sistema processual funcione bem. Os demais princípios, que 
são os específicos, variam conforme a orientação política ou filosófica que o legis-
lador imprime a um determinado sistema.
Os princípios informativos gerais, como normas ideais, possuem caráter dog-
mático, sendo irrefutáveis, já que buscam o atendimento dos escopos comuns 
e inevitáveis do processo judicial, tais como a finalidade política e jurídica da 
existência de um mecanismo estatal capaz de solucionar conflitos de interesses, 
preservando-se uma autoridade essencial à manutenção da paz social. Tome-se 
como exemplo a necessidade relativa a todo e qualquer sistema processual – 
independente dos valores eregidos pelo legislador como prioritários – de consis-
tir em um meio acessível àqueles desprovidos de recursos econômicos. 
Princípio lógico
Conforme Portanova (2003, p. 21), o processo deve desenvolver-se com os atos 
e as formas mais aptas para descobrir a verdade e evitar o erro. Assim, conside-
rando-se o processo como um conjunto de atos que visam um pronunciamento 
jurisdicional que resolva a demanda, seja com apreciação de mérito ou não, tais 
atos devem ordenar-se com a observância de uma certa lógica operacional. Da 
necessidade dos atos processuais seguirem essa lógica, seja quanto à sua formu-
lação, prática ou à sequência estabelecida na lei, dá-se o nome de princípio lógico 
do processo.
Para se iniciar uma demanda impõe-se a necessidade de uma formulação 
denominada de petição inicial. O juiz deve, quando necessário, instruir o pro-
cesso ouvindo as partes e suas testemunhas, para descobrir a verdade. Como os 
juízes são falíveis, permite-se recurso, a órgãos compostos por magistrados mais 
experientes. Ao impugnado pelo recurso oportuniza-se a chance de também 
argumentar perante o juízo revisor. Se o condenado por uma sentença recusar-se 
a cumprir, voluntariamente, a decisão, consubstanciar-se-á uma fase de execução. 
Como se vê, tudo segue uma certa lógica existencial e procedimental.
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Princípios de Direito Processual Civil
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Por outro diapasão, relativo à sequência lógica do processo, a defesa pro-
cede à inicial, a instrução deve ocorrer após a contestação e preceder a sentença. 
O juiz, ao apreciar a causa, deve primeiro decidir as questões preliminares, preju-
diciais do exame do mérito, para somente depois neste ingressar; os recursos são 
interpostos em face e, óbvio, após a prolação da decisão judicial que extingue 
o processo de cognição. 
Também é lógico que, ao se estabelecer um procedimento próprio às deman-
das de menor valor, este deve ser voltado a uma maior simplicidade e a uma maior 
celeridade. A existência, no Processo Civil, de um procedimento sumário, entre o 
ordinário e o sumaríssimo, também advém de um sentido lógico de busca de um 
processo adequado às suas peculiaridades. A execução movida contra a Fazenda 
Pública seguindo regras diversas daquelas estabelecidas para a execução contra 
particulares; a coletivização de certas pretensões; o maior rigor para com a ver-
dade real no processo penal, tudo isso está conforme uma construção lógica ine-
rente ao processo. 
Princípio econômico
O princípio da economia processual está consubstanciado na necessidade de 
se obter o máximo de resultado com o mínimo de esforço. Esse princípio está 
intrinsecamente ligado à celeridade, à simplificação e até à instrumentalidade 
processual. Quanto à locução menor esforço, esta possui duplo significado, tanto 
possuindo um sentido econômico como um sentido operacional.34 
Segundo o professor Arruda Alvim, o princípio econômico significa que o pro-
cedimento, como qualquer atividade econômica, deverá ser estruturado para 
render ao máximo, com a menor atividade possível, tudo para uma maior celeri-
dade da atividade judicial (apud PORTANOVA, 2003, p. 24).
O processo judicial deve ser acessível aos carentes, e em relação àqueles com 
recursos financeiros o ato de demandar também não deve importar em elevado 
dispêndio econômico. Como alertam Grinover, Cintra e Dinamarco (2005, p. 74), 
se o processo é instrumento, não pode exigir um dispêndio exagerado com rela-
34 Portanova (2003, p. 25) aponta quatro vertentes quanto ao alcance do termo economia: economia de custos, de tempo, de 
atos e de administração judiciária.
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Princípios de Direito Processual Civil
ção aos bens que estão em disputa. E mesmo quando não se trata de bens mate-
riais deve haver uma necessária proporção entre fins e meios, para equilíbrio do 
binômio custo versus benefício.
De tal sorte, normas como as voltadas à gratuidade judiciária (Lei 1.060/50 por 
exemplo), a que impõe um valor proporcional e razoável às custas processuais, a 
que determina a reunião de processos nas hipóteses de continência ou de cone-
xão (CPC, art. 105), as que preveem e disciplinam a reconvenção etc., atendem 
ao princípio econômico do processo. Também decorre do princípio da economia 
processual a norma que determina o aproveitamento dos atos processuais, até 
em casos de nulidade (CPC, art. 250),35 assim como as regras de fungibilidade 
(recursal ou não). Atende à economia e à celeridade processual o entendimento 
de que uma sentença extra ou ultra petita não enseja nulidade, sendo sanável pela 
mera extirpação de parte da decisão.
Princípio político
O princípio político, também chamado de princípio participativo, significa que 
o jurisdicionado tem, ao seu alcance, um instrumento que serve à emissão de um 
provimento estatal, capaz de resolver o conflito que lhe incomoda, em tese apazi-
guando o seu espírito. No dizer de Portanova (2003, p. 31), “pelo processo, o cida-
dão tem a seu dispor instrumento capaz de prover os direitos privados de máxima 
garantia social com mínimo sacrifício das liberdades individuais e coletivas”. 
Consoante ainda à doutrina de Portanova (2003, p. 33), são as seguintes as 
conclusões inerentes ao princípio político do processo: 
na democracia participativa, o processo, além de garantir as liberdades pú- �
blicas, é instrumento político relevante de participação; 
toda decisão do juiz configura compromisso político e ético, pois, como de- �
tentor do poder político, tem as responsabilidades a ele inerentes; 
é preciso reintroduzir o direito no conceito social: o direito está no fato, �
reafirmando assim a sua dimensão política; 
35 Norma aplicável aos Processos Civil, Penal e Trabalhista.
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Princípios de Direito Processual Civil
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a moderna percepção do processo evidencia, além do escopo jurídico, os �
escopos políticos (preservação do princípio do poder, garantia da liberda-
de e oportunidade de participação) e sociais, principalmente a pacificação 
com justiça; 
o direito de ação apresenta conotação política evidente na medida em que �
se relaciona com o exercício de função estatal; e 
tal característica é bastante acentuada nas demandas concernentes à tute- �
la de interesses difusos e coletivos, nas hipóteses da ação popularconstitu-
cional e da ação direta de inconstitucionalidade pode se falar em autêntico 
direito político de ação.
Com efeito, o processo é político desde o seu nascedouro, na medida em que 
ele é o mecanismo ensejado pelo Estado para preservar a paz social. A jurisdição, 
por outro lado, é uma das funções estatais, ao lado das funções legislativa e admi-
nistrativa. Ainda que se preconize a necessidade de uma neutralidade política 
dos juízes, tal não importa na retirada de sua condição de detentor de um poder, 
e este é político pela sua própria natureza. Ademais, o interesse público, como 
o social, deve estar em toda atividade jurisdicional.
Em seu sentido participativo, realça-se que o processo judicial serve como um 
meio de participação popular no núcleo do Estado (PORTANOVA, 2003, p. 34). 
Instrumentos como a Ação Popular e a Ação Civil Pública, sem dúvida, constituem 
essenciais mecanismos para que as pessoas exerçam a cidadania.
Princípio jurídico
O princípio jurídico está consubstanciado na necessidade de se oferecer às 
partes um processo com igualdade de tratamento, com um equilíbrio essencial 
à realização de uma verdadeira justiça. “Entende-se, por princípio da igualdade, 
a equiparação de todos que estejam submetidos a uma dada ordem jurídica no 
que se refere ao respeito, ao gozo e à fruição de direitos, assim como à sujeição a 
deveres.” (PORTANOVA, 2003, p. 34).
Vale dizer que o princípio jurídico do processo identifica-se com o princípio da 
igualdade processual, reiterando a premência de se observar a lógica aristotélica, 
no sentido de que a igualdade não decorre de uma paridade pura, mas sim no ato 
de tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de 
suas desigualdades.
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Princípios de Direito Processual Civil
Todo e qualquer sistema processual, para atingir o seu fim essencial, deve se 
guiar pela igualdade entre os litigantes. Todavia, muitas vezes são estabelecidos 
privilégios a alguma das partes. Tais privilégios são de ordem legislativa (legal) 
ou judicial. Exemplo de privilégio legal está o prazo em dobro para recorrer e em 
quádruplo para contestar, relativo à Fazenda Pública. Privilégio judicial é a opor-
tunidade de que apenas uma das partes se manifeste sobre um laudo pericial.
Os privilégios processuais justificam-se quando consistem em meras prerro-
gativas, estas decorrendo da legítima tutela de algum valor. O prazo em dobro 
para recorrer é, à primeira vista, corolário da especial necessidade de se proteger 
o erário (público). No plano judicial, o princípio jurídico está intrinsecamente rela-
cionado ao princípio do contraditório. 
Princípio instrumental
O Direito Processual, há algum tempo, era visto como algo dependente do 
Direito Material. O processo judicial, por sua vez, era tido como um mecanismo 
acessório das normas materiais, destas sendo amplamente dependente. Foi, com 
o reconhecimento da autonomia do direito de ação, que se verificou que o Direito 
Processual possui autonomia científica e funcional, com isso granjeando inequí-
voco prestígio.
Ocorre que o prestígio que se concedeu ao Direito Processual o conduziu 
a uma hipertrofia que culminou com a concepção do processo como um fim em 
si próprio. A autonomia orgânica do Direito Processual, outrossim, teve como 
consequência o equívoco de se esquecer da sua função natural, qual seja, a de 
servir de instrumento para a aplicação do direito material. Com a cada vez maior 
complexidade que atinge o Direito Processual,36 tal fenômeno tem crescido, oca-
sionando enormes distorções em sua aplicação.
Sob certo modo, foi colocando-se em posição intermediária entre a depen-
dência e a autonomia do Direito Processual (embora, por óbvio, reconhecendo 
a tese da autonomia) que surgiu o princípio da instrumentalidade do processo. Tal 
princípio foi construído a partir da premissa de que, embora o Direito Processual 
tenha inegável autonomia científica, o processo judicial é um mero – termo usado 
sem sentido pejorativo – instrumento para a efetivação das normas materiais.
36 O professor Carlos Alberto Carmona, no seminário Novas Reformas do Processo Civil, ocorrido em Brasília-DF, de 3 a 5 de abril 
de 2006, defendeu que o aumento da complexidade do processo decorre, naturalmente, da maior complexidade das relações 
jurídicas de direito material.
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Princípios de Direito Processual Civil
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Por nosso prisma, o princípio da instrumentalidade gera o resgate à sua fina-
lidade precípua. Pela expressão de Carlos Alberto Carmona, a essência da última 
reforma do Processo Civil brasileiro (Leis 11.187/2005, 11.232/2005, 11.276/2006, 
11.277/2006 e 11.280/2006, ensejando, ainda que parcialmente, a chamada re-
forma infraconstitucional do Poder Judiciário, posterior à promulgação da EC 
45/2004) consistiu em deixar de lado “a beleza estética do processo e tentar algo 
que funcione”.37 E nos parece que o caminho é esse, ou seja, deve se sublimar 
algumas formulações teóricas ancoradas na autonomia do Direito Processual, 
devendo se interpretar a ciência jurídica processual conforme seu caráter instru-
mental e sua efetividade.
Como bem afirma o professor João Batista Lopes (2005, p. 65), “deve se abolir 
o excesso de formalidades e procurar de forma mais objetiva e transparente 
alcançar o resultado final, ou seja, a tutela jurisdicional”. Assim, normas como a 
que admite o aproveitamento de atos processuais, ainda que ocorra nulidade 
(CPC, art. 250), ou a que prevê a fungibilidade entre os pedidos de tutela cautelar 
e tutela antecipada (CPC, art. 273, §7.º).38 
De tal sorte, o princípio da instrumentalidade pode ser visto por duas dimen-
sões, consubstanciando-se em duas diversas oportunidades. Primeiro, deve 
o legislador cuidar para que as normas processuais não dificultem a efetividade 
do direito material; segundo, na aplicação da lei processual o julgador deve ter 
sempre em mente que o processo visa a concretização das normas de conduta, 
não sendo um fim em si próprio.39 
Princípio efetivo
Princípio efetivo, segundo Lopes (2005, p. 65), é aquele que se desenvolve com 
respeito às garantias constitucionais e que reconhece a quem tem um direito 
tudo o que lhe assegura a ordem jurídica. Portanova, por outro ângulo, identi-
fica o princípio da efetividade com a busca por uma justiça social. A sinonímia 
de princípio efetivo, para Portanova (2003, p. 54), seria a expressão princípio da 
supremacia do interesse social no processo.
37 Novas Reformas do Processo Civil (Brasília-DF, 3 a 5 de abril de 2006).
38 O juiz entende o pedido de tutela antecipada como o de tutela cautelar, se este era o pedido adequado, e vice-versa.
39 A obra A Instrumentalidade do Processo (Revista dos Tribunais), de Dinamarco, consiste em um marco quanto à visão instru-
mental do processo.
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62
Princípios de Direito Processual Civil
Enxergamos, como princípio da efetividade, não a efetividade social citada por 
Portanova, mas sim a realização do processo judicial em seu sentido mais estrito, 
ou seja, o processo deve resultar no recebimento do bem jurídico legitimamente 
postulado. O processo judicial não deve resultar em um mero provimento decla-
ratório, salvo se essa for a natureza pretendida pela parte, mas há de ser um ins-
trumento que efetivamente dê o direito àquele que tem o direito.
Faltará efetividade ao processo cuja demora esvazie a utilidade da pretensão, 
pois, como disse Ruy Barbosa, justiça tardia é em verdade injustiça qualificada. Uma 
pessoa doente gravemente, v.g., pleiteia que seu plano de saúde autorize suainter-
nação e arque com os custos de seu tratamento. Se o juiz muito demorar em decidir 
a causa, o provimento jurisdicional de internação poderá sequer encontrar desti-
natário. A morosidade, como sabemos todos, desautoriza a justiça e corrói todo 
o sistema.
Também não haverá efetividade no processo no qual se reconhece um crédito, 
mas não se consegue fazer com que o credor o receba. O pai que consegue, judi-
cialmente, a guarda de uma criança, tendo a mãe se evadido com o menor para 
lugar desconhecido, faz com que o provimento não se efetive. Ganhar, mas não 
levar, seria o sentido vulgar da falta de efetividade processual.
Com efeito, praticamente todas as reformas mais recentes do Processo Civil 
brasileiro foram feitas no sentido de se propiciar maior efetividade e mais cele-
ridade processual. Assim o foi, v.g., com a generalização da possibilidade do juiz 
antecipar os efeitos da tutela de mérito pretendida (CPC, art. 273), complemen-
tando-se com a fungibilidade já citada (CPC, art. 273, §7.º). A possibilidade de alie-
nação do bem penhorado, mediante caução, mesmo em sede de execução pro-
visória; medidas cautelares como o arresto e o sequestro; todas elas são normas 
que demonstram a preocupação legislativa para com a efetividade do processo. 
O legislador tem cuidado para que o processo não resulte em Vitória de Pirro, ou 
mesmo que se inviabilize naturalmente.
É inegável que, desde há algum tempo, a opção tomada pelo legislador pro-
cessual se deu na direção da celeridade e da efetividade processual, muitas vezes 
em detrimento até mesmo do bem segurança jurídica. A norma que possibilita 
o julgamento liminar de processos repetitivos (Lei 11.277/2006, que acresceu 
o art. 285-A ao CPC), sem que o réu seja sequer citado, é emblemática da incan-
sável luta por uma maior efetividade processual. No caso da lei, por que citar-se o 
réu, se o resultado em seu favor é absolutamente previsível?
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Princípios de Direito Processual Civil
63
Por fim, esclareça-se que os princípios da efetividade e da celeridade proces-
sual, embora intrinsecamente ligados, não são coincidentes.
O princípio da efetividade é mais amplo que o da celeridade, na medida em 
que abrange este, todavia não havendo reciprocidade. Ora, um processo pode ser 
célere, mas não ser efetivo, como exemplifica uma demanda que é rapidamente 
julgada, mas cuja falta de executoriedade é vista de plano, em face da insolvência 
do condenado. Já em sentido inverso, um processo lento em demasia não pode 
ser tido como efetivo.
Princípios informativos 
específicos do Direito Processual Civil
Os princípios formadores do Direito Processual, extraídos da legislação infra-
constitucional, são denominados, por alguns, como princípios fundamentais do 
processo, pois fundamentam este (Ovídio Baptista da Silva, José Eduardo Carreira 
Alvim). Outros preferem chamá-los de princípios gerais, arrolando-os ao lado 
daqueles encontrados na CF (GRINOVER et al., 2005), havendo quem trate todos 
os princípios processuais simplesmente como princípios informativos do pro-
cesso (Lopes). 
Reconhecendo que todos os princípios jurídicos têm uma função informadora, 
optamos por aqui usar da denominação princípios informativos específicos do 
Direito Processual Civil. Registre-se, outrossim, que os princípios que iremos agora 
abordar são princípios informativos específicos do Direito Processual Civil, dife-
renciando-se dos princípios informativos gerais, já abordados. Enquanto os prin-
cípios informativos gerais são encontrados em todo e qualquer sistema proces-
sual, os princípios específicos são encontrados conforme a ideologia do sistema 
processual, remetendo à legislação respectiva. Iremos, pois, abordar os princípios 
encontrados na legislação processual civil brasileira, em nível infraconstitucional.
Princípio dispositivo
Se há Processo Civil, este depende, em princípio, de provocação pelo indivíduo 
(termo usado em sentido amplo, admitindo-se, por óbvio, a demanda coletiva ou 
por pessoa jurídica). A essa necessidade de provocação para que a jurisdição se 
instaure, dá-se o nome de princípio dispositivo do processo.
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Princípios de Direito Processual Civil
O princípio dispositivo do Processo Civil decorre da regra geral da disponibili-
dade do direito material. Como bem coloca Othmar Jauernig (2002, p. 131), o fato 
do indivíduo, e não por ventura o Estado, ter que decidir sobre a existência do 
processo, explica-se pela configuração da ordem jurídica civil (substantiva). Esta 
reconhece ao indivíduo determinados direitos e, em regra, basicamente no seu 
interesse. Por causa deste predomínio do interesse individual, tem de ser deixado 
ao indivíduo, consequentemente, também a decisão se ele quer ou não efetivar 
os seus direitos perante o tribunal. 
E continua o jurista alemão, no sentido de que da ordem jurídica civil se revela 
a faceta processual da autonomia privada, do elemento estrutural dominante da 
nossa ordem jurídica. Segundo ele (JAUERNIG, 2002, p. 131), “a decisão de não 
acionar pode ser muito insensata: a ordem jurídica respeita-a, porque reconhece 
a autodeterminação do indivíduo na formação das suas relações jurídicas, por-
tanto, a autonomia privada segue o princípio individualista”. 
De tal sorte, o princípio dispositivo tem como fundamento o individualismo 
jurídico idealizado pela Revolução Francesa, de forma a se garantir liberdade indi-
vidual ao cidadão. Se o interesse é diretamente individual, cabe ao indivíduo deci-
dir se deve ou não pleiteá-lo judicialmente. 
Tal individualismo, contudo, por vezes gera o inconveniente da dificuldade de 
acesso à Justiça, uma vez que o particular, isoladamente, está sujeito a coação, 
assim como eventualmente enfrenta maior dificuldade durante o desenvolvi-
mento da relação jurídico-processual. É, portanto, como forma de proteger o 
acesso ao processo, que o legislador criou mecanismos de tutela coletiva de inte-
resses, tal como a ação civil pública, como tem ampliado o instituto da substi-
tuição processual, pelo qual um ente como um sindicato pode atuar em nome 
próprio, ainda que pleiteando direito alheio. 
O princípio dispositivo está configurado, também, pela adstrição do magistrado 
às alegações das partes, assim como só pode decidir conforme o pleiteado no pro-
cesso. Para Ovídio Baptista da Silva e Fábio Luiz Gomes (2000, p. 46), pelo princípio 
dispositivo “o juiz deve julgar a causa com base nos fatos alegados e provados 
pelas partes (iudex iudicare debet allegata et probata partium), sendo-lhe vedada a 
busca de fatos não alegados e cuja prova não tenha postulada pelas partes”.
Com efeito, o princípio dispositivo está consubstanciado, inicialmente, pela 
necessidade de provocação da jurisdição (CPC, art. 2.º) e pela limitação do juiz 
à chamada litiscontestatio. Nos termos do artigo 128 do CPC, o juiz haverá de deci-
dir a lide nos limites em que foi proposta.
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Princípios de Direito Processual Civil
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De tal modo, o juiz fica adstrito ao que pleiteia o autor, do mesmo modo como 
fica preso, em tese, ao alegado pelo réu em sua defesa. Se A pede B, C e D, resta 
defeso ao magistrado deferir X. Se a parte, v.g., ingressa em juízo pedindo a con-
denação do réu em 200, não pode o juiz deferir 300, sob pena de decidir de forma 
ultra petita, ou seja, além do pedido. Se o locador pede a decretação do despejo 
do locatário, não pode o juiz determinar ainda o pagamento de alugueres venci-
dos, sob pena de julgar extra petita, isto é, fora do pedido.
Pelo princípio dispositivo também fica o juiz adstrito às alegaçõesdas partes. 
Assim, o juiz deve, de plano, observar a causa de pedir (causa petendi) deduzida 
pelo autor. De tal modo, se o locador pede o despejo por falta de pagamento, não 
pode o juiz decretá-lo por motivo diverso, mesmo que o verifique, a exemplo de 
uma infração contratual como a sublocação. 
No tocante às alegações do réu, todavia, o princípio dispositivo deve ser inter-
pretado de forma relativa. Se o réu, v.g., não alega, na contestação, que pagou 
a dívida, mas o juiz verifica que, inequivocamente, ela foi quitada, deve julgar 
improcedente a pretensão, em nome da prevalência da verdade real, evitando 
o enriquecimento indevido de alguém. A nosso ver, o juiz só assim não deve 
decidir na hipótese do réu, claramente, estiver dispondo de seu direito material, 
demonstrando a sua intenção de pagar a dívida, ainda que já quitada.
No âmbito da prova, refutamos a ideia pela qual, a teor do princípio disposi-
tivo, o juiz fica proibido de produzir provas ex officio. Conforme o artigo 130 do 
CPC, o juiz tem o poder-dever de buscar as provas que entender necessárias para 
descobrir a verdade. Não pode é o juiz assim agir de forma a violar a sua imparcia-
lidade. A propósito, quanto à prova há diversos dispositivos no CPC que preveem 
a possibilidade de ela ser produzida ex officio pelo juiz (inquirição de testemu-
nha referida, tomada de depoimento das partes em qualquer estado do processo, 
exibição de coisa ou documento). Ademais, há que se considerar o disposto no 
artigo 262 do CPC, pelo que o processo nasce por iniciativa das partes, mas se 
desenvolve por impulso oficial. 
Aliás, é com fundamento nos artigos 130 e 262 do CPC que alguns defen-
dem que o princípio de nosso Processo Civil é o inquisitório e não o dispositivo. 
Entretanto, o que define o nosso sistema como dispositivo é o fato de que cabe 
ao indivíduo provocar a jurisdição, assim como a adstrição do juiz ao pleiteado 
e aduzido pelas partes. Em se tratando de direito material disponível, a parte pode 
dispô-lo livremente no âmbito do Processo Civil. O comandado pelos artigos cita-
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Princípios de Direito Processual Civil
dos refere-se à proteção da verdade substancial no processo, o que é outra coisa, 
apesar de apontar uma certa inquisitoriedade. Não esqueçamos, inclusive, de que 
nenhum sistema processual é puramente dispositivo ou puramente inquisitório, 
prevalecendo, a defini-lo, investigar-se se a regra geral é pela disponibilidade ou 
pela indisponibilidade do direito material. 
Princípio de demanda40
A doutrina, em geral, identifica o princípio de demanda com o princípio dispo-
sitivo, no sentido de que seriam ambos a mesma coisa. Há, contudo, autores que 
distinguem os princípios citados, sendo o princípio de demanda aquele relacio-
nado à necessidade de provocação da jurisdição e a adstrição do juiz ao alegado 
e pleiteado, enquanto o princípio dispositivo é aquele relacionado à necessidade 
de atuação das partes para o desenvolvimento do processo na esfera civil. 
Para Silva e Gomes (2000, p. 49), 
[...] enquanto o princípio dispositivo diz respeito aos poderes da parte em relação a uma causa 
determinada, o princípio de demanda refere-se ao alcance da própria atividade jurisdicional. 
O primeiro deles corresponde à determinação dos limites dentro dos quais se há de mover o 
juiz, para o cumprimento de sua função jurisdicional, e até que ponto há de ficar ele na depen-
dência da iniciativa das partes na condução da causa e na busca do material formador de seu 
convencimento; ao contrário, o princípio de demanda baseia-se no pressuposto da disponibili-
dade não da causa posta sob julgamento, mas do próprio direito subjetivo das partes, segundo 
a regra básica de que ao titular do direito caberá decidir livremente se o exercerá ou deixará 
de exercê-lo.
Em que pese entendermos que o conteúdo do chamado princípio de demanda 
está inserido no princípio dispositivo, sendo uma faceta deste, isso não nos impe-
dirá de abordar isoladamente o primeiro. Ressalve-se, contudo, a inevitável repe-
tição de alguns conceitos e argumentos, já colocados quando da abordagem do 
princípio dispositivo.
O princípio de demanda possui conteúdo similar ao princípio setorial da inér-
cia da jurisdição, só mudando o prisma da análise. Enquanto a inércia é anali-
sada pelo lado passivo, já que é a jurisdição que aguarda a iniciativa da parte, a 
demanda é vista pelo lado ativo, pois é a parte que movimenta a jurisdição que, 
por princípio, é inerte (SILVA; GOMES, 2000, p. 115).
40 Também chamado, por Portanova (2003, p. 114), de princípio da ação; princípio da disponibilidade; princípio do pedido; 
princípio da liberdade de ação; princípio da iniciativa da parte; princípio monopolístico do cidadão de movimentar o Poder 
Judiciário; princípio da promoção do processo, nemo iudex sine actore.
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Princípios de Direito Processual Civil
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A regra matriz do princípio de demanda, acatada a tese de sua diversidade em 
relação ao princípio dispositivo, está no artigo 2.º do CPC, que diz que nenhum 
juiz poderá prestar a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado 
a requerer, nos casos e nas formas legais. Assegurado a todos, por normas consti-
tucionais, o direito de peticionar (CF, art. 5.º, XXXIV) e de ver sua petição subme-
tida à apreciação do Poder Judiciário (CF, art. 5.º, XXXV), o princípio de demanda 
nos parece plenamente justificado. 
Como norma complementar, consubstanciando o princípio de demanda, 
o artigo 128 também do CPC estabelece que o juiz há de ficar adstrito ao pedido 
do autor, decidindo a lide nos limites em que ela haja sido proposta, sendo-lhe 
defeso conhecer de questões não suscitadas, a cujo respeito a lei exija a inicia-
tiva da parte.41 O artigo 294 do CPC, por sua vez, veda novos pedidos posteriores 
à petição inicial e após a defesa do réu, sem o consentimento deste. Já o artigo 
460, ainda do digesto Processual Civil, diz ser vedado ao juiz proferir sentença, 
favorável ao autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em 
quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe fora demandado (SILVA; 
GOMES, 2000, p. 49-50).
Pergunta frequente diz respeito à possibilidade de relativização do princípio 
de demanda no Processo Civil. A resposta, embora seja complexa e controvertida, 
nos parece negativa, pois todas as hipóteses levantadas pela doutrina, toman-
do-se em consideração a legislação processual vigente, demonstram-se mera-
mente aparentes.
Hipóteses como a abertura ex officio de inventário, quando os legitimados 
não o fazem em 60 dias após aberta a sucessão (CPC, art. 983); da determina-
ção de exibição de testamento pelo seu detentor (CPC, art. 1.129); da arrecadação 
de bens na herança jacente (CPC, art. 1.142) ou se tratando de bens de ausentes 
(CPC, art. 1.160), não excepcionam o princípio de demanda, por se tratarem de 
hipóteses de jurisdição voluntária e esta, segundo a enorme maioria da doutrina 
processual, não possui natureza jurisdicional.42 Na primeira hipótese, ademais, o 
juiz não abre o processo de inventário e partilha, em verdade provocando a ini-
ciativa do(s) interessado(s).
41 As questões de ordem pública devem ser declaradas de ofício, como autoriza o próprio CPC, em algumas situações previstas 
em seu artigo 267. O CPC, aliás, seguindo norma contida no CC, sofreu recente alteração, no sentido de que a prescrição, ainda 
que não suscitada e versando sobre direito patrimonial, deve ser declarada de ofício pelo juiz.
42 Não havendo conflito de interesses não se pode falar, na denominada jurisdição voluntária, em atividade jurisdicional do 
Estado, tendo ela natureza administrativa, pelo que não se excepcionao princípio da inércia da jurisdição.
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68
Princípios de Direito Processual Civil
Verdadeira hipótese de relativização do princípio de demanda estava contida 
na norma que determinava que o juiz, ao indeferir o pedido de concordata pre-
ventiva, teria que decretar automaticamente e de ofício a falência da empresa, 
com a abertura do processo respectivo (DL 7.661/45, art. 162). Tal norma, con-
tudo, foi revogada recentemente.
Registre-se, por fim, a previsão contida no Código de Processo Penal (CPP), de 
que o juiz, cível ou criminal, pode dar ordem de habeas corpus, sem necessitar de 
provocação de qualquer interessado (CPP, art. 654, §2.º). 
Princípio da audiência bilateral (contraditório)
O princípio da audiência bilateral corresponde ao direito ao contraditório, pre-
visto na CF já tratado neste trabalho, quando tratamos dos princípios de Processo 
Civil contidos na Carta Magna. Aqui iremos nos deter a um enfoque específico do 
princípio do contraditório, visto à luz da legislação infraconstitucional. Mas antes 
de retomarmos a abordagem sobre o direito ao contraditório, reitere-se a impor-
tância desse princípio, para muitos sendo a norma cardeal para a determinação 
do próprio conceito de função jurisdicional (SILVA; GOMES, 2000, p. 55).43 
Em verdade, contraditório e ampla defesa são figuras conexas, sendo que esta 
qualifica aquele, já que não há contraditório sem defesa, como a recíproca é ver-
dadeira, já que não há defesa sem contraditório. A ampla defesa se realiza por 
meio do contraditório (MENDONÇA JUNIOR, 2001, p. 55).
Com efeito, quando o CPC dá ao réu o direito de se defender, está garantin-
do-lhe o contraditório. Também está resguardado o contraditório quando o juiz 
oferece ao requerido a oportunidade de pronunciar-se sobre pedido de liminar 
contra si dirigido, ou mesmo quando concede prazo para a parte falar sobre docu-
mentos colacionados aos autos pelo ex adverso. Se o réu junta, com a contesta-
ção, um número exorbitante de documentos, qualquer que seja o rito procedi-
mental seguido deve o magistrado oferecer ao autor um prazo dilatado para se 
pronunciar sobre a documentação acostada. O direito ao contraditório, portanto, 
funciona como essencial garante da ampla defesa e até da igualdade processual, 
devendo o juiz zelar pela oportunidade de impugnação, pelo(s) interessado(s), 
a tudo que ingresse nos autos.
43 Segundo ele, a história do princípio do contraditório confunde-se com a própria história do Processo Civil, desde o direito 
romano primitivo.
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Princípios de Direito Processual Civil
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O princípio do contraditório, entretanto, apesar de seu inegável prestígio, não 
deve ser tido como uma norma absoluta, passível de atrapalhar a efetividade do 
processo. De plano, como ressalva Nery Junior (1992, p. 123-124),
[...] o princípio deve ser observado em consonância com as peculiaridades do processo sobre 
o qual esteja sendo aplicado, alcançando diferente incidência no penal e no civil. Para o pro-
cesso penal significa contraditório efetivo; real e substancial. No processo civil não tem essa 
amplitude. É suficiente que seja dada oportunidade aos litigantes para se fazerem ouvir no 
processo, por intermédio do contraditório recíproco, na paridade de tratamento e da liberdade 
de discussão da causa.
Por outro lado, a própria legislação processual civil admite a relativização do 
contraditório, como exemplifica a possibilidade de concessão de liminar inaudita 
altera parte, no processo cautelar, quando da ouvida do requerido resultar a inefi-
cácia da medida (CPC, art. 804), ou mesmo a concessão de liminar em antecipação 
de tutela (CPC, art. 273), que também pode ser concedida sem que o requerido 
seja escutado. Seria o caso de liminar dada contra um plano de saúde, para a inter-
nação de um paciente em estado grave, que não pode esperar o tempo, por mais 
exíguo que seja, para manifestação; ou do sequestro de quantia certa, usando-se 
do elemento surpresa para se evitar provável evasão.
Observe-se, contudo, que nas hipóteses citadas a relativização do contraditó-
rio não implica em sua eliminação, na medida em que o requerido será ouvido 
posteriormente, podendo o juiz, a qualquer tempo, revogar a liminar concedida. 
Todavia, pode a parte abrir mão de seu direito ao contraditório, o que o fará de 
forma expressa ou não. Também se considere que nas hipóteses das liminares 
satisfativas e irreversíveis, concedidas inaudita altera parte, o posterior contraditó-
rio apresenta-se esvaziado, pois a medida judicial atingiu a parte requerida e esta 
não pode reverter o quadro (o exemplo dado da liminar contra plano de saúde 
pode ensejar tal quadro).
Princípio da oralidade
O que é princípio da oralidade? É ele princípio processual ou de procedimento? 
O nosso Processo Civil é oral? Quais as consequências do princípio da oralidade? 
Como se vê, o princípio da oralidade é bastante complexo, merecendo especial 
atenção.
Princípio da oralidade, segundo Silva e Gomes (2000, p. 52), significa a preva-
lência da palavra como meio de expressão, ao invés da escrita. No entender de 
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Princípios de Direito Processual Civil
José Eduardo Carreira Alvim (2002, p. 224), no procedimento oral existe uma pre-
dominância quantitativa de atos escritos, porém em combinação com a palavra 
falada, “como expressão dos atos relevantes e decisivos na formação da convicção 
do juiz”. Para Giuseppe Chiovenda (apud ALVIM, 2002, p. 224), oralidade significa 
que as deduções das partes devem normalmente fazer-se a viva voz na audiência, 
isto é, no momento e no lugar em que o juiz se senta para ouvir as partes e dirigir 
a marcha do processo.
A oralidade não significa que os atos processuais sejam todos orais. Também 
não a obstaculiza o fato da transcrição dos atos processuais. Ora, o que não está 
nos autos não está no mundo, pelo que todos os atos processuais, sendo orais, 
devem ser reduzidos a termo. Assim se dá com o ajuizamento direto e verbal nos 
juizados especiais ou na Justiça do Trabalho, como em relação a qualquer depoi-
mento prestado em juízo.
A oralidade decorre, a nosso ver e em essência, da validade da comunicação 
oral. Assim, embora convindo que a natureza predominante dos atos praticados 
no processo, se oral ou escrita, será por demais importante à definição do princí-
pio adotado pelo legislador; se o da oralidade ou o da escritura, não é esse o fator 
decisivo para tal.
O princípio da oralidade, como cremos já ter ficado claro, é um princípio de 
procedimento. Contudo, mesmo os princípios procedimentais têm natureza pro-
cessual, na medida em que o procedimento, embora difira do processo, encon-
tra-se dentro deste.
Quanto à natureza do procedimento pátrio, pairam-se dúvidas no âmbito dou-
trinário. Alguns entendem que, reconhecendo-se a inexistência de procedimento 
oral na forma pura, via de regra adota-se um procedimento misto, combinando a 
oralidade e a escritura (ALVIM, 2002, p. 224). No caso do procedimento utilizado 
pelo nosso Processo Civil, porém, este é guiado pela oralidade, já que a comuni-
cação verbal é, em regra, válida. Registre-se, todavia, que dependendo do tipo de 
procedimento haverá maior ou menor oralidade. O procedimento dos juizados 
especiais cíveis, obviamente têm uma carga maior de oralidade.
Conforme a doutrina processual pátria, o princípio da oralidade é consubs-
tanciado pelos subprincípios da imediatidade, da identidade física do juiz, da 
concentração, da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias e do livre 
convencimento do juiz.
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Princípios de Direito Processual Civil
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Princípio da imediatidade
O juiz que vai julgar deve ter contato direto com as partes e as provas produzi-
das. Ora, se uma das grandes vantagens da oralidade é a maior percepção do juiz 
quanto à verdade, ele deve estar o mais próximo das partes e das provas.
Princípio da identidade física do juiz
No mesmo sentido do princípio da imediatidade, apenas visto por um prisma 
diverso, o princípio da identidade física do juiz significa que, no Processo Civil, 
o juiz que vai julgar deve ser aquele que presidiu a instrução. Se o juiz se apo-
senta, morre, é exonerado ou colocado em disponibilidade, removido ou promo-
vido, torna-se impossível o julgamento por aquele que instruiu o processo, por 
isso falando-se em relativização do princípio em comento. No mesmo sentido, a 
instrução pode ser feita mediante carta precatória, o que impossibilita a aplicação 
do princípio.
Princípio da concentração
No dizer de Morato, princípio da concentração consiste em apertar o feito num 
período breve de tempo, reduzindo-o a uma audiência ou a poucas audiências, 
a curtos intervalos; concentrar as atividades processuais, de modo que o juiz, 
colhendo as provas e ouvindo as alegações finais, decida sob as impressões ainda 
frescas na memória (apud ALVIM, 2002, p. 225). Esta é, na visão de Chiovenda 
(apud ALVIM, 2002), a característica principal do princípio da oralidade.
A nosso ver, a concentração dos atos processuais tanto favorece a descoberta 
da verdade, como favorece uma paridade entre os litigantes. Na legislação pro-
cessual civil pátria o saneamento em audiência (CPC, art. 331), como os procedi-
mentos sumário e sumaríssimo prestigiam a concentração dos atos processuais.
Princípio da irrecorribilidade 
imediata das decisões interlocutórias 
Com o intuito de se assegurar a efetividade da oralidade, na medida em que 
ela se vincula à concentração, deve se cuidar para que a marcha do processo não 
seja interrompida. Nesse diapasão, a Lei 11.187/2005, que limitou a recorribili-
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Princípios de Direito Processual Civil
dade imediata das decisões interlocutórias à hipótese de decisão suscetível de 
causar à parte lesão grave e de difícil reparação, trouxe inegável contribuição à 
oralidade processual. Doravante, a regra geral é a de que a parte somente pode 
impugnar decisão interlocutória por ocasião do aviamento da apelação.
Princípio do livre convencimento do juiz
De nada adiantaria a oralidade, nem a imediatidade, se o magistrado não 
pudesse julgar a causa conforme seu livre convencimento. Assim, o sistema ado-
tado pelo CPC, da persuasão racional ou livre convencimento motivado, ade-
quou-se ao princípio da oralidade. 
No mais, é lembrar a natural vantagem da oralidade, magistralmente diagnos-
ticada por Jeremy Bentham (apud SILVA; GOMES, 2000, p. 52): 
Não pode o juiz conhecer por suas próprias observações esses caracteres de verdade tão rele-
vantes e tão naturais que se revelam na fisionomia, no som da voz, na firmeza, na prontidão, 
nas emoções de medo, na simplicidade da inocência, no embaraço da má-fé, pode-se dizer que 
ele (o juiz do processo escrito) cerrou a si próprio o livro da natureza e que ele se tornou cego 
e surdo em casos nos quais é necessário tudo ver e tudo ouvir.
Princípio da adequação do procedimento
A tutela jurisdicional há de ser adequada. As causas de menor valor e de menor 
complexidade são da competência dos juizados especiais cíveis, submetendo-se 
a um rito mais célere e simplificado. A Ação Civil Pública e a Ação de Improbi-
dade Administrativa seguem ritos próprios, voltados aos objetivos específicos 
dos dois institutos citados. O MP, por outro lado, tem intervenção obrigatória nas 
ações de incapazes (CPC, art. 82, I). A competência territorial nas ações de alimen-
tos não segue a regra geral da fixação pelo domicílio do réu. Tudo isso significa 
que o legislador processual busca adequar o procedimento às peculiaridades da 
demanda, seja por critério subjetivo, objetivo ou teleológico.
Como bem coloca Didier Junior (2006, p. 64), 
[...] o princípio da adequação pode ser visualizado em dois momentos: a) o pré-jurídico, legisla-
tivo, como informador da produção legislativa ao procedimento em abstrato; b) o processual, 
permitindo ao juiz, no caso concreto, adaptar o procedimento de modo a melhor afeiçoá-lo às 
peculiaridades da causa. 
Como o citado autor, trataremos a segunda hipótese de princípio da adaptabi-
lidade, analisado em separado.
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Princípios de Direito Processual Civil
73
Segundo Galeno Lacerda, a adequação subjetiva do processo se opera em 
razão dos litigantes, a exemplo da intervenção obrigatória do MP nas ações de 
incapazes e a diferenciação de regras de competência. Já a adequação teleológica 
faz-se de acordo com as diversas funções que visa o processo específico, como 
demonstra o procedimento simplificado dos juizados especiais, que é adequado 
à celeridade e à efetividade processual; e os procedimentos próprios ao processo 
cautelar e à fase de execução. A adequação objetiva do procedimento, por sua 
vez, se dá a partir de três critérios:
natureza do direito material, cuja relevância importa em uma modalidade �
de tutela mais efetiva;
forma como se apresenta o direito material; �
situação processual da urgência ( � apud DIDIER JUNIOR, 2006, p. 65-66).
Seriam exemplos de adequação procedimental estabelecida em função da 
natureza do direito material os ritos próprios das ações possessórias, de alimen-
tos, de busca e apreensão e rito para a concessão de liminar em ação civil pública. 
Exemplos de adequação em face da forma como se apresenta o direito, são os 
ritos estabelecidos para o mandado de segurança, para a ação monitória e para 
a concessão de tutela antecipada. Hipóteses de adequação pela urgência da situ-
ação são os procedimentos especiais das ações de alimentos e do mandado de 
segurança preventivo (apud DIDIER JUNIOR, 2006, p. 65-66).
Para Luiz Guilherme Marinoni (2003), a adequação é imposição do direito fun-
damental à efetividade, sendo tecnicamente adequado atender-se à necessidade 
do direito material. Para o citado processualista, a efetividade requer adequação 
e a adequação deve acarretar efetividade, pelo que os dois conceitos devem ser 
decompostos, explicando a necessidade de adequação da técnica às diferentes 
situações de direito substancial. 
Princípio da adaptabilidade do procedimento44
O juiz, mesmo no Processo Civil, assume a condição de diretor do processo, 
pois ao Estado interessa o resultado da lide. Assim, ele pode conformar o pro-
cedimento às peculiaridades do caso, desde que a lei o permita. O magistrado, 
44 Carlos Alberto Alvaro de Oliveira o chama de princípio da adequação formal.
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Princípios de Direito Processual Civil
portanto, muitas vezes autorizado expressamente pela lei, adapta o rito do ato 
processual ou até do processo em si. Outras vezes, ainda que a lei prescreva deter-
minado rito, se o juiz verificar, no caso em concreto, que o procedimento estabe-
lecido afrontará princípios como o da ampla defesa e o do contraditório, deve 
praticá-lo conforme os princípios citados.
O artigo 265-A do CPC português consagra expressamente tal princípio, ao 
dispor que, “quando a tramitação processual prevista na lei não se adequar às 
especificidades da causa, deve o juiz oficiosamente, ouvidas as partes, determi-
nar a prática dos atos que melhor se ajustem ao fim do processo, bem como as 
necessáriasadaptações”.
De acordo com Didier Junior (2006, p. 67), pelo princípio em comento criam-se 
técnicas que permitem ao magistrado adaptar o procedimento, já iniciado o pro-
cesso. De tal modo, consubstanciam o princípio da adaptabilidade do procedi-
mento as seguintes regras (técnicas) legislativas: 
inversão do ônus da prova, favorecendo o consumidor (CDC, art. 6.º, VIII); �
conversibilidade do procedimento sumário em ordinário, em face da com- �
plexidade da prova técnica ou do valor (CPC, art. 277, §§ 4.º e 5.º); 
julgamento antecipado da lide (CPC, art. 330); �
dispensa de audiência preliminar, se o direito é indisponível (CPC, art. 331); �
as variantes procedimentais da Lei de Ação Popular (Lei 4.717/65, art. 7.º �
e ss.); 
fixação do prazo para contestação de ação rescisória, conforme critério do �
relator (CPC, art. 491) etc.
É importante que, quando o magistrado, amparado na lei, a segue desviando 
o rio de seu curso normal, comunique previamente às partes, assegurando-lhes 
a ampla defesa e o contraditório. Se o juiz, v.g., inverte o ônus da prova, em favor 
do consumidor, como lhe autoriza o artigo 6.º do CDC, deve, ao iniciar a instru-
ção, comunicar a inversão. No exemplo dado, assim que o juiz verificar a hipótese 
de inversão deve comunicar às partes; se a instrução já foi encerrada há de se 
reabri-la. 
Diríamos, a concluir, que a diferença entre a adequação e a adaptabilidade do 
procedimento está que a primeira tem caráter abstrato, enquanto a última tem 
um caráter concreto, já que parte sempre de um contexto legislativo. 
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Princípios de Direito Processual Civil
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Princípio da aceleração processual
É fato que todo e qualquer sistema processual visa uma agilidade na trami-
tação processual, sob pena de retirar-se sua efetividade. Nesse diapasão, medi-
das legislativas têm sido tomadas, no caso pátrio, visando que o processo judicial 
atinja ao seu escopo de fazer justiça em tempo hábil, sob pena de esvaziamento.
De tal sorte, o princípio da aceleração processual pode ser visto a partir de dois 
ângulos: o do escopo de se buscar uma agilidade do processo e o da existência de 
mecanismos legislativos que propiciem uma efetiva rapidez na prestação jurisdi-
cional. Pelo prisma da vontade de se ter um processo judicial célere, merece realce 
o fato do princípio ter ganhado contorno constitucional expresso (EC 45/2004), 
a teor do artigo 5.º, LXXVIII, que incluiu, no rol dos direitos individuais fundamen-
tais, o direito a um processo judicial em tempo razoável. 
Ainda sob prisma legislativo, a celeridade processual tem sido objeto de perse-
guição pelo legislador reformador pátrio, criando mecanismos como os juizados 
especiais, a regra da irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias etc.
Importa, por outro lado, que se desmistifique a lógica de que o processo célere 
é, por si só e em todas as situações, sinônimo de justiça bem feita e de boa qua-
lidade. Às vezes, o processo, pelas suas particulares circunstâncias, não pode ser 
resolvido rapidamente, sem comprometimento da qualidade da atividade jurisdi-
cional. Não raro, rapidez e profundidade casam-se mal.
Princípio da verossimilhança
A segurança jurídica, indubitavelmente, é objeto de perseguição de todo e 
qualquer sistema processual. Não menos verdade, tem-se que tal segurança é 
dependente da convicção alcançada pelo julgador. Assim, certeza e segurança são 
conceitos intrinsecamente ligados, sendo ambos buscados no processo judicial.
Ocorre, todavia, que se torna até filosoficamente complicado falar-se em cer-
teza no âmbito do Direito, por se tratar ele de uma ciência inexata.45 Destarte, a 
busca por verdades absolutas, no Direito, é fruto de uma herança racionalista, que 
há de ser adequadamente sopesada.
45 A propósito, merece destaque a assertiva filosófica de Voltaire, para quem mesmo as verdades históricas não passam de meras 
probabilidades.
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Princípios de Direito Processual Civil
Não temos dúvida que a partir de 1994, quando se introduziu de forma gené-
rica o instituto da antecipação de tutela em nosso ordenamento processual civil 
(CPC, art. 273), consagrou-se o princípio da verossimilhança. Tal dispositivo pos-
sibilita a antecipação dos efeitos da tutela de mérito pretendida, a partir do reco-
nhecimento da mera verossimilhança da alegação do autor. Embora não seja a 
verossimilhança o único pressuposto para a antecipação da tutela, diríamos que 
ela é o núcleo do instituto.
Princípio da lealdade processual
As partes, como seus advogados, devem agir com lealdade durante todo 
o curso do processo. Além das questões de ordem ética e moral, a dogmática 
jurídica processual (civil) prevê diversos mecanismos que combatem a má-fé pro-
cessual.
O artigo 14 do CPC, ao estabelecer os deveres das partes e de seus procura-
dores, prevê expressamente o dever de proceder com lealdade e boa-fé (inciso 
II). Não obstante, os demais incisos contidos no artigo 14 do CPC, ainda que de 
forma não expressa, também impõem o dever de lealdade às partes e seus procu-
radores: expor os fatos em juízo conforme a verdade (inciso I); não formular pre-
tensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento (inciso 
III); não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração 
ou defesa do direito (inciso IV); cumprir com exatidão os provimentos manda-
mentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza 
antecipatória ou final (inciso V). 
O artigo 17, também do CPC, em caráter complementar, diz que:
Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que:
I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;
II - alterar a verdade dos fatos;
III - usar o processo para conseguir objetivo ilegal;
IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
VI - provocar incidentes manifestamente infundados;
VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.
De tal modo, embora não seja uma prática corrente, o juiz deve condenar, v.g., 
ainda que de ofício, o autor que falseia os fatos, por ser litigante de má-fé.
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Princípios de Direito Processual Civil
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Pelo aspecto cominatório, o artigo 16 do CPC dispõe que 
Art. 16. Responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé como autor, réu ou interve-
niente. 
E o artigo 18, caput, prevê, concretamente, multa não excedente a 1% (um 
por cento) sobre o valor da causa e indenização relativa ao prejuízo sofrido em 
favor da parte adversa. Tal cominação pode ser aplicada inclusive de ofício (CPC, 
art. 18, caput), apenas ressaltando-se que a indenização depende de provocação, 
na medida em que precisa ser demonstrada. Esclareça-se, ademais, que a indeni-
zação prevista no artigo 18 não pode ultrapassar a 20% (vinte por cento) sobre 
o valor da causa, e que o litigante de má-fé ainda deve ser condenado na sucum-
bência (honorários advocatícios e demais despesas processuais).
Em relação à execução do julgado (cumprimento de sentença que reconhece 
obrigação de pagar quantia), especificamente, o artigo 601 do CPC prevê que 
o devedor que atenta contra a dignidade da Justiça deve sofrer multa de até 
20% (vinte por cento) do valor atualizado do débito em execução, revertida 
em favor do credor e sem prejuízo de outras sanções de natureza processual. 
O artigo 600 do Código de Ritos, por sua vez, considera atentatórios à digni-
dade da Justiça o ato do devedor que frauda a execução (inciso I); se opõemaliciosamente à execução, empregando ardis e meios artificiosos (inciso II); 
resiste injustificadamente às ordens judiciais (inciso III); não indica ao juiz onde 
se encontram os bens sujeitos à execução (inciso IV). Assim, o executado que 
não oferece bens à penhora, o que não é incomum, deve ser cominado com 
a pena prevista no artigo 601 do CPC. Na execução, aliás, merece registro que a 
Lei 11.232/2005, que acresceu ao CPC o artigo 475-J, prevê uma multa de 10% 
(dez por cento) caso o condenado a pagar a quantia não cumpra voluntaria-
mente, no prazo de 15 dias.
Outra norma que estabelece o princípio da lealdade processual está contida 
no parágrafo único do artigo 538 do CPC, que prevê multa de até 1% (um por 
cento) sobre o valor da causa, na hipótese de embargos declaratórios manifes-
tamente protelatórios. Na reiteração dos embargos, elevar-se-á a multa até 10% 
(dez por cento) do valor da causa.46
Em caso da reiteração de embargos de declaração, ou quando se cria, de outra 
forma, embaraços à jurisdição, o magistrado pode aplicar à parte multa admi-
46 Trata-se, a nosso ver, da extensão da multa anteriormente aplicada.
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Princípios de Direito Processual Civil
nistrativa de até 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa (CPC, art. 14, pará-
grafo único, acrescido pela Lei 10.358/2001). Assim, quando a parte recorre por 
diversas vezes, cria reiteradamente incidentes processuais etc., o juiz deve aplicar 
a multa inserida na contempt of court, instituto originário do direito anglo-saxão. 
Tal multa, por possuir caráter administrativo, revertendo-se em favor da Fazenda 
Pública, pode ser cominada concomitantemente com a multa e a indenização 
previstas no artigo 18 do CPC, sem que se configure bis in idem. 
Por fim, o artigo 129 do CPC prevê que o juiz, ao verificar a tentativa de fraude 
por intermédio do processo judicial, com a prática de ato simulado ou com o fito 
de se alcançar fim proibido por lei (tentativa de colusão), deve proferir sentença 
que obste o objetivo dos litigantes.
O fato é que muitos são os mecanismos processuais à disposição do magis-
trado, permitindo o combate à litigância de má-fé. Ocorre que há uma deficiência 
cultural, no seio da magistratura pátria, no sentido de penalizar-se, de ofício ou 
não, aqueles que praticam litigância de má-fé. Não são poucos os litigantes que, 
muitas vezes até influenciados por seus advogados, tentam praticar estelionato 
pela via processual. Cabe ao Judiciário, precipuamente, velar pela lealdade pro-
cessual, eventualmente sendo duro, por razões de ordem jurídica e até pedagó-
gica.
Princípio da congruência
Congruência significa a harmonia de algo com o fim a que se destina. Traz, por-
tanto, ideia de coerência. No âmbito do Direito Processual, em diversos momen-
tos verifica-se a manifestação do princípio da congruência. Não obstante, alguns 
doutrinadores enfocam a congruência de forma isolada, o que merece, data venia, 
algum reparo.
João Batista Lopes, por exemplo, em seu Curso de Direito Processual, afirma 
a necessidade de congruência entre o pedido formulado pelo autor e a sentença 
exarada pelo juiz. Por tal contexto, portanto, o princípio da congruência se iden-
tifica com o princípio de demanda, exaltando-se a adstrição do juiz à iniciativa 
da parte.
Acontece que o princípio da congruência pode ser visto em outras oportuni-
dades da relação processual, não se limitando ao ato decisório. Como diz Nilo Fer-
reira Pinto Júnior (2003, p. 37), o princípio da congruência deve ser resguardado 
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Princípios de Direito Processual Civil
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[...] em todo o curso do processo, ou seja, no procedimento e em providências tomadas pelo 
juiz, que são requisitos indispensáveis para se obter a verdade e chegar ao convencimento sobre 
a pretensão, daí então sentenciar de forma justa, até porque seria ilógico que, a partir de premis-
sas incongruentes, pudesse chegar a uma conclusão congruente. 
A petição inicial há de ser apta ao que se pretende, havendo congruência 
entre a forma utilizada e a pretensão deduzida; o pedido constante da inicial deve 
ser coerente com a exposição dos fatos; o procedimento utilizado deve ser con-
gruente com a matéria tratada; o recurso a ser lançado há de ser congruente com 
o tipo de decisão impugnada; a prova pretendida deve atentar ao objeto da con-
trovérsia; os atos processuais devem ser praticados oportunamente.
Como se vê, o princípio da congruência se manifesta durante toda a relação 
jurídico-processual, se identificando, ocasionalmente, com outros princípios 
e normas processuais. Da decisão definitiva de primeiro grau, v.g., o recurso há ser 
interposto é o de apelação ou o de embargos de declaração; se pretendo provar 
o fato A devo apresentar prova relativa ao fato A; se por acaso exponho que loquei 
um objeto e não recebi o aluguel, em tese devo solicitar o despejo e o pagamento 
do aluguel vencido, e não formular pretensão desconexa. Tudo isso tem a ver com 
congruência processual. 
Princípio da preclusão
O processo consiste no conjunto de atos praticados em juízo, voltados a um 
determinado fim. Assim, o processo é um caminhar à frente, que não deve ser 
interrompido. Tudo deve ser feito para o processo seguir o seu caminho, evitando 
interrupções e retrocessos.
De tal maneira, sempre que possível deve se aproveitar os atos processuais já 
praticados, pelo que, uma das regras inerentes às nulidades processuais é a que 
determina que a parte deve argui-la de imediato, sob pena de preclusão (CPC, art. 
245). A preclusão temporal consiste na perda do direito processual, pelo seu exer-
cício tardio, portanto inoportuno. Se a parte requer a inquirição de testemunha 
e o juiz indefere, no silêncio do autor não se permite a arguição de cerceamento de 
defesa apenas quando do aviamento de apelação; se a parte juntou documento 
falso, devo impugná-lo logo que tenha conhecimento de seu ingresso nos autos.
Além da preclusão temporal, existem ainda os institutos da preclusão lógica 
e da preclusão consumativa. A primeira decorre da faculdade em face da incom-
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Princípios de Direito Processual Civil
patibilidade entre o ato que se pretende praticar e o já praticado. Se fulano já 
apelou da decisão, não pode interpor embargos de declaração; se já quitou, sem 
ressalva, a execução, não pode impugná-la.
Já a preclusão consumativa ocorre com a prática do ato processual, não impor-
tando o resultado deste. Se a parte já interpôs a apelação cível, não pode nova-
mente interpô-la; se já apresentou rol de testemunhas, não pode, como regra, 
formular novo rol.
Princípio da cooperação
O princípio da cooperação “orienta o magistrado a tomar uma decisão de agen-
te-colaborador do processo, de participante ativo do contraditório e não mais de 
um mero fiscal de regras” (DIDIER JUNIOR, 2006, p. 71). Tal princípio, prestigiado 
nos direitos alemão, francês e português, dentre outros, não se limita ao reconhe-
cimento da ampliação do poder instrutório concedido ao juiz cível.47 Também não 
resta ele confinado à questão da efetivação das decisões judiciais. Como bem diz 
Didier Junior, o princípio da cooperação parte da necessidade do juiz adotar uma 
postura de diálogo com as partes e os demais sujeitos do processo (2006, p. 71).
Em verdade, apesar da natureza privada do direito material posto no Processo 
Civil, todo e qualquer processo judicial e, por consequência, o Direito Proces- 
sual Civil, possui indiscutível natureza pública. O escopo primordial do Processo 
Civil é a correta distribuição de justiça, o que extrapola os interessesprivados.
Ainda conforme Didier Junior (2006, p. 72), o princípio da colaboração gera os 
seguintes deveres para o magistrado:
dever de esclarecimento; �
dever de consultar; e �
dever de prevenir. �
Pelo dever de esclarecimento, o juiz deve se esclarecer junto às partes quanto 
às dúvidas que tenha sobre as suas alegações, pedidos ou posições em juízo (apud 
DIDIER JUNIOR, 2006, p. 72). O dever de consultar está ligado ao direito ao contra-
ditório, devendo o juiz consultar as partes sobre as questões de fato ou de direito, 
47 O artigo 130 do CPC prevê o amplo poder instrutório do juiz.
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Princípios de Direito Processual Civil
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antes de decidir a lide. O dever de prevenção “vale genericamente para todas as 
situações em que o êxito da ação possa ser frustrado pelo uso inadequado do 
processo” (apud DIDIER JUNIOR, 2006, p. 74).
Ampliando seus conhecimentos
Recomendamos a leitura das obras citadas abaixo.
Teoria Geral do Processo, de Ada Pellegrini Grinover, Antonio Carlos de Araújo 
Cintra e Cândido Rangel Dinamarco, editora Malheiros.
Princípios de Processo Civil na Constituição Federal, de Nelson Nery Junior, edi-
tora Revista dos Tribunais.
Princípios do Processo Civil, de Rui Portanova, editora Livraria do Advogado.
Teoria Geral do Processo Civil, de Ovídio A. Baptista da Silva e Fábio Luiz Gomes, 
editora Revista dos Tribunais.
Verificação de aprendizagem
1. Qual o conceito de princípio jurídico? Para que servem os princípios jurídicos? 
Quais as suas funções? Os princípios servem apenas para colmatar lacunas 
aparentes do sistema ou podem atuar como normas primárias?
2. O que se entende por princípio do devido processo legal? Quais as suas di-
mensões? Qual a extensão do princípio do devido processo legal? O novel 
artigo 285-A do CPC viola o due process of law?
3. Como se consubstancia o princípio da inafastabalidade da jurisdição? O que 
se entende por acesso à Justiça? Qual a relação entre contraditório e ampla 
defesa? Em que limite se estabelece a proteção à coisa julgada?
4. Quais os princípios informativos gerais do Direito Processual Civil? O que se 
entende por princípio da instrumentalidade processual? Efetividade é o mes-
mo que celeridade processual? Qual a relação entre celeridade e economia 
processual? O que é princípio lógico do processo? Princípio político é o mes-
mo que princípio participativo? Justifique.
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Princípios de Direito Processual Civil
5. Qual a diferença entre princípio dispositivo e princípio de demanda? Em que 
situações pode se relativizar o princípio de demanda? Quais os limites impos-
tos ao juiz em face do princípio dispositivo? O Processo Civil brasileiro atende 
ao princípio da demanda ou ao princípio do inquisitório? O que se entende 
por princípio da audiência bilateral?
6. A oralidade é um princípio inerente ao processo ou ao procedimento? O que 
caracteriza um procedimento como oral? O Processo Civil brasileiro atende ao 
princípio da oralidade ou da escritura? Como se caracterizam os princípios da 
adaptabilidade e da adequação do procedimento?
7. Em que momento o princípio da congruência se manifesta na relação jurídi-
co-processual? Quais os principais mecanismos previstos no CPC que visam 
combater a má-fé processual? O que significa contempt of court? O que signi-
fica preclusão? O que é princípio processual da cooperação?
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Sergio Torres Teixeira
Introdução
Mesmo na mais harmoniosa das sociedades do homem, o conflito é um 
elemento inevitável. A comunidade em permanente paz, sem conflitos inter-
nos, é um mito1. Como o é a ideia de uma ordem jurídica capaz de conter 
o surgimento de lides, simplesmente por ser formada por normas impera-
tivas e de ordem pública. Se assim fosse, a pena do legislador seria o mais 
poderoso dos instrumentos do homem.2
A lei material não muda a realidade dos fatos sociais. Não estabelece o 
“ser”. Apenas define o “dever-ser”. Apenas a vontade dos homens, quando 
bem dirigida, é capaz de transformar a realidade social em algo melhor, evo-
luir em direção àquele mundo que todo homem de bem deseja deixar como 
herança para os seus filhos. 
A visão do mito do sistema normativo autossuficiente, capaz por si só de 
evitar conflitos, consegue apenas alienar o homem, frustrado com a realidade 
de conflitos que caracteriza a vida social desde os primórdios da humanidade. 
Acreditar cegamente na perfeição de um modelo jurídico é, certamente, 
o primeiro passo em direção ao fracasso. Visualizar um sistema melhor dentro 
das possibilidades da condição humana, por outro lado, é de fundamental 
importância para a evolução do homem, pois o pensamento utópico serve 
1 Vide Jürgen Habermas (2002) e Paulo Ferreira da Cunha (2003).
2 Logo na primeira linha introdutória da obra-prima que representa o principal marco da atual fase do Direito Processual, 
Mauro Cappelletti e Bryant Garth (1988, p. 7) afirmam que “[...] nenhum aspecto de nossos sistemas jurídicos modernos 
é imune à crítica”.
Instrumentalidade do processo, 
efetividade processual e acesso à Justiça
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
não apenas para favorecer a crítica consciente da realidade, mas igualmente 
representa uma fórmula de agir, ou melhor, um poder progressista do homem em 
busca da realização de suas aspirações. Inclusive quanto a modelos jurídicos.3
A utopia de uma sociedade menos conflituosa, regida por um sistema nor-
mativo mais próximo do ideal de justiça social, é, portanto, um projeto concre-
tizável. Dentro desse contexto, o mito descomprometido deve ser enterrado e a 
utopia consciente e concretizável deve ser elevada para servir de norte aos agen-
tes de transformação social. Até evoluir do modelo atual para aquele que deseja 
o homem consciente e defensor dos valores de justiça social, entretanto, um 
longo caminho precisa ser percorrido e muitos obstáculos precisam ser supera-
dos, notadamente aqueles criados pelos interessados na manutenção do sistema 
atual ou, ainda, dos que desejam mudanças, mas para pior.
Durante o percurso desse caminho evolutivo, os instrumentos de tutela atual-
mente disponíveis não podem ser relegados, pois no decorrer dessa caminhada 
os conflitos continuarão a surgir e as medidas jurisdicionais encontradas no atual 
modelo processual serão os únicos meios capazes de promover o “justo possível” 
de hoje, enquanto as ferramentas imprescindíveis não chegam à produção do 
desejado “justo possível” de amanhã.
No plano do processo jurisdicional, no entanto, surge outro mito. É o do sistema 
processual perfeito, plenamente capaz de atender adequadamente aos anseios 
da população em toda e qualquer circunstância. Um instrumento capaz de cum-
prir com maestria todos os seus objetivos, inclusive o de restabelecer a harmonia 
social, satisfazendo a todos que o utilizam na defesa de seus interesses. 
Outro sonho impossível, fora do alcance da condição humana. Uma miragem, 
e que, como consequência de qualquer fantasia descomprometida com a reali-
dade, acaba alienando aqueles que o acolhem.
3 A importância da utopia no âmbito do Direito, enquanto representação de um modelo ainda inexistente mas que pode vir 
a ser concretizado, é de enorme relevância. SegundoJoão Baptista Herkenhof (1999, p. 15), “[...] no Direito, um papel decisivo 
está reservado ao pensamento utópico. É a utopia que dá luzes para ver e julgar o direito vigente na sociedade em que vivemos 
e para estigmatizá-la como um direito que apenas desempenha o papel de regulamentar a opressão; um direito da desigual-
dade; um direito injusto, porque no processo da produção, privilegia o capital; um direito que, consagrando essa distorção 
básica, faz que dela decorra uma rede de distorções que maculam todos os institutos jurídicos. É a utopia que dá instrumentos 
para ver e construir, pela luta, o direito do amanhã: o direito de igualdade; o direito das maiorias, aquele que beneficiará quem 
produz, o direito dos que hoje são oprimidos; o direito que proscreverá a exploração do homem pelo homem, o direito fraterno, 
e não o direito dos lobos; o direito que o povo vai escrever depois que conquistar o poder, o direito que nascerá das bases”.
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
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Como instrumento criado pelo homem, o processo jurisdicional é, natural-
mente, tão falível quanto o seu criador. E mais. Além de ser uma ferramenta con-
cebida pela mente humana, e, portanto, ser marcada pela falibilidade do legis-
lador que transformou o projeto teórico em um modelo dogmático, o sistema 
processual somente é desenvolvido através da necessária intervenção do homem, 
mediante as figuras dos sujeitos processuais, surgindo como consequência outra 
esfera humana de falibilidade, sucessiva à primeira. Criado e manuseado pelo 
homem, a imperfeição do modelo processual é inevitável. Em virtude de tais limi-
tações, derivadas diretamente da própria condição humana, não há como esperar 
outro resultado. 
A falibilidade, destarte, como característica inerente ao homem, também se 
reflete no sistema processual, seja qual for o modelo a ser adotado. Agora, tal 
quadro de limitações não significa que o sistema atual não pode ser aperfeiçoado. 
Longe disso.
O momento contemporâneo da doutrina processual, chamado de fase Instru-
mentalista4, é caracterizado pela postura de forte crítica ao modelo brasileiro de 
processo jurisdicional, procurando mostrar o completo divórcio existente entre 
o sistema na teoria e aquele vivenciado na prática perante os tribunais. 
O movimento Instrumentalista teve origem na Europa, durante a década de 
60 do século passado. A doutrina tradicional aponta como seu marco inicial os 
estudos publicados pelo trabalho de pesquisa sociojurídica desenvolvido sob 
a direção do professor italiano Mauro Cappelletti, como consequência de sua 
participação na série de estudos Acesso à Justiça, intitulado Projeto de Florença. 
No Brasil, as primeiras repercussões da fase Instrumentalista foram sentidas na 
década de 1980, com a publicação de trabalhos críticos desenvolvidos por, dentre 
outros, autores de renome como Ada Pellegrini Grinover, Kasuo Watanabe e Cân-
dido Rangel Dinamarco. Juntos, tais doutrinadores realizaram um evento cien-
tífico de grande repercussão, chamado de Participação e Processo, que resultou 
em obra conjunta com o mesmo título, publicada em 1988. Dinamarco, inclusive, 
após ser aprovado em concurso à cátedra de Direito Processual Civil na Faculdade 
de Direito da Universidade de São Paulo, com a tese A Instrumentalidade do Pro-
cesso, passou a ser apontado como o principal nome do movimento crítico no 
4 Vide Dinamarco (1999) e, para uma visão mais histórica da chamada Escola Crítica do Processo, Jônatas Luiz Moreira de Paula 
(2002).
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
país. Posteriormente, a tese foi transformada no livro com igual nomenclatura, 
cuja primeira edição foi publicada em 1987, sendo hoje considerada a maior obra 
representativa do movimento no país.
A doutrina instrumentalista, por sua vez, não se restringe a apontar as falhas 
existentes no moderno modelo processual. Procura promover a sua evolução, 
mas não mais no sentido técnico-dogmático e sim na sua missão institucional de 
restabelecer a paz e produzir justiça. Trata-se de uma fase da história do Direito 
Processual que revela como traço marcante a preocupação com os resultados 
práticos do modelo processual e com a satisfação dos seus destinatários, alme-
jando atender aos anseios tanto dos operadores do Direito como, especialmente, 
dos consumidores dos serviços judiciários (vide ainda ALVIM, 2004).
A fase Instrumentalista, assim, assumiu a missão de buscar a evolução do 
atual modelo processual, mas por meio da crítica construtiva, concentrando seus 
esforços na detecção das deficiências do sistema para apontar os caminhos para 
o seu aperfeiçoamento, sempre à luz dos anseios dos destinatários dos serviços 
do processo jurisdicional. O trio de doutrinadores formado por Antônio Carlos 
Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco (2002, p. 43), 
após tratar das duas primeiras fases metodológicas fundamentais da história do 
Direito Processual (fase de sincretismo e fase autonomista ou conceitual), afir-
mam o seguinte:
[...] a fase instrumentalista, ora em curso, é eminentemente crítica. O processualista moderno 
sabe que, pelo aspecto técnico-dogmático, a sua ciência já atingiu níveis muito expressivos de 
desenvolvimento, mas o sistema continua falho na sua missão de produzir justiça entre os mem-
bros da sociedade. É preciso agora deslocar o ponto de vista e passar a ver o processo a partir de 
um ângulo externo, isto é, examiná-lo nos seus resultados práticos. Como tem sido dito, já não 
basta encarar o sistema do ponto de vista dos produtores do serviço processual (juízes, advoga-
dos, promotores de justiça): é preciso levar em conta o modo como os seus resultados chegam 
aos consumidores desse serviço, ou seja, a população destinatária. 
O atual modelo brasileiro é, natural e evidentemente, impregnado de defeitos, 
quase sempre marcas de uma tendência a favorecer determinados segmentos da 
sociedade no país5. Mas, mirando na utopia de um sistema processual mais apto 
5 Normalmente, a norma técnica deve representar uma regra caracterizada pela neutralidade ideológica, de forma a permitir 
a sua aplicação em qualquer época ou local sem influir no resultado procedimento. A lei processual, apesar de ser essencial-
mente uma norma técnica, não revela tal neutralidade. Por ser uma norma jurídica, reconhecida como tal pela sociedade, orga-
nizada após o devido processo legislativo, a lei processual naturalmente reflete a ideologia que dominava o legislador à época 
de sua criação. É certo que, sendo o legislador, é quase sempre mais suscetível à influência dos segmentos específicos da respec-
tiva comunidade, é o interesse desses que vai definir o modelo processual adotado. No Brasil, onde o predomínio da influência 
da classe empresarial é notório, é natural que o sistema de processo jurisdicional venha a ser projetado de forma a favorecer os 
interesses capitalistas, como será analisado adiante. 
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
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a promover a justiça social desejada pela população como um todo, mesmo que 
com as deficiências naturais ao homem, há espaço para uma grande evolução.6
Escopos do processo jurisdicional
O termo escopo significa “função, finalidade, objetivo, meta”. Na doutrina pro-
cessual, quando se fala em “escopos do processo”, está expondo os objetivos 
básicos do processo jurisdicional, ou seja, as funções que tal instituto se propõe 
a cumprir na sua atuação como instrumento da jurisdição eda ação.
Uma análise do moderno modelo processual revela a presença de quatro esco-
pos gerais e um escopo magno. Este, o fim maior do processo. Aqueles, seus obje-
tivos nos planos jurídico, político e social.
O escopo jurídico do processo é servir de veículo para a atuação do direito subs-
tancial, isto é, proporcionar a realização do direito material que não foi observado 
espontaneamente por um ou ambos os litigantes. O processo judicial apresenta 
como sua função jurídica, evidentemente, o objetivo de promover a concretiza-
ção do direito substancial, fazer atuar a vontade da lei. 
A norma abstrata, não observada espontaneamente, é materializada mediante 
o exercício da jurisdição. Aplicando a lei coercitivamente por meio dos atos judi-
cantes do Estado-juiz, o processo cumpre a sua finalidade jurídica.
O escopo político do processo jurisdicional, por seu turno, corresponde ao seu 
objetivo de conservar a autoridade do ordenamento jurídico e preservar os valo-
res fundamentais nele consagrados. Violada a norma integrante da ordem jurí-
6 Após destacar as “três ondas renovatórias” produzidas durante a fase Instrumentalista (aperfeiçoamento da assistência ju-
diciária, tutela de interesses supraindividuais e mudanças no modo de ser do processo), Cintra, Grinover e Dinamarco (2002, 
p. 43) sustentam que “[...] a terceira fase está longe de exaurir o seu potencial reformista. Durante ela já foi possível tomar cons-
ciência do relevantíssimo papel deontológico do sistema processual e de sua complexa missão perante a sociedade e o Estado, 
e não só em face da ordem jurídico-material (os variados escopos do processo). Foi possível ainda localizar os pontos sensíveis 
do sistema, o que constitui passo significativo para a definição das estratégias de reforma”. Mas adiante (2002, p. 44) confessam 
que ainda resta muito a fazer, acrescentando que “[...] a fase Instrumentalista não terá desempenhado o relevante papel que 
se propõe para o aprimoramento do serviço de pacificação social, enquanto não tiver cumprido razoavelmente os propósi-
tos expressos nas três ‘ondas renovatórias’ desenvolvidas em sede doutrinária. Se temos hoje uma vida societária de massa, 
com tendência a um direito de massa, é preciso ter também um processo de massa, com a proliferação dos meios de proteção 
a direitos supraindividuais e relativa à superação das posturas individuais dominantes; se postulamos uma sociedade pluralista, 
marcada pelo ideal isonômico, é preciso ter também um processo sem óbices econômicos e sociais ao pleno acesso à Justiça; 
se queremos um processo ágil e funcionalmente coerente com seus escopos, é preciso também relativizar o valor das formas 
e saber utilizá-las e exigi-las na medida em que sejam indispensáveis à consecução do objetivo que justifica a instituição de 
cada uma delas”.
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
dica, o processo surge como veículo apto a assegurar que o modelo jurídico será 
tutelado e o “dano” à sua estrutura será eliminado. O processo, nessa óptica, atua 
como um instrumento de manutenção da ordem jurídica.
O escopo social do processo jurisdicional, por sua vez, corresponde a uma meta 
de caráter pedagógico: educar os litigantes e a sociedade em geral acerca do exer-
cício dos seus direitos, demonstrando o que é certo e o que é errado, ou melhor, 
ensinando mediante os seus julgados qual a conduta que deve ser sancionada 
e qual o comportamento admitido pelo ordenamento jurídico. 
Por meio das decisões dos tribunais, não apenas as partes dos respectivos pro-
cessos mas toda a comunidade acaba aprendendo, evidenciando uma atuação 
pedagógica da jurisdição.
Além dos seus escopos jurídico, político e social, o processo jurisdicional apre-
senta um fim maior, um objetivo primordial, um escopo magno que resume toda 
a sua importância: pacificar com justiça. 
Tendo o Estado moderno a função, em síntese, de promover o bem comum, 
no âmbito processual tal finalidade se projeta mediante o objetivo de pacificar 
com justiça. É mediante a atividade jurisdicional que o Estado assegura o restabe-
lecimento da paz, atingida pelo surgimento de um conflito, mediante critérios de 
justiça. A função maior da jurisdição, destarte, é restabelecer o equilíbrio violado 
com o surgimento do conflito, restaurar a harmonia social à luz de um ideal de 
justiça. 
É este escopo magno do processo jurisdicional, é esta missão social pacifica-
dora, destarte, que deve servir de diretriz orientadora para os protagonistas do 
processo: juiz, partes, Ministério Público (MP) e terceiros intervenientes.7
Instrumentalidade do processo
Modernamente, o processo jurisdicional é concebido como o instrumento 
mediante o qual o Estado-juiz exerce o seu dever jurisdicional, tendo por escopo 
magno a função de, após materializada a lide, promover a paz na sociedade afe-
tada pelo conflito, resolvendo este à luz de critérios de justiça. Pacificação com 
justiça, por conseguinte, é a sua missão primordial. 
7 Para um estudo mais profundo acerca dos escopos do processo jurisdicional, vide Dinamarco (1999).
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
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Dentro desse contexto, o processo judicial corresponde a um instrumento 
de acesso à Justiça, como meio de assegurar a efetividade das normas adota-
das pela comunidade a qual serve, concretizando coercitivamente o direito abs-
trato mediante a intervenção provocada do Estado e instruindo a todos acerca 
da conduta correta a ser observada no meio social. Como consequência da sua 
instrumentalidade, portanto, serve ainda às tarefas de aplicar o direito material 
ao caso concreto, conservar o ordenamento jurídico e educar os litigantes e toda 
a comunidade envolvida. São esses, conforme anteriormente examinado, os seus 
escopos jurídico, político e social.8
Leciona Dinamarco (1999, p. 265-266) que
[...] a instrumentalidade de que se fala não é a do processo, como instituto do direito proces-
sual, a um outro instituto do próprio direito processual, que é a jurisdição. É comum e absoluto 
acerto a afirmação de que o processo, como conjunto de formas ordenadas no procedimento 
e pautadas pela garantia do contraditório, constitui o método estabelecido pelo direito para 
que a jurisdição seja exercida de modo correto adequado e seguro; trata-se da “dinâmica do 
poder”, entendido este em sua manifestação sub specie jurisdictionis. O caráter instrumental do 
“processo”, enquanto categoria jurídica, constitui, no entanto, uma característica endossistemá-
tica que não coincide nem tem a riqueza desta outra de que se cuida e que é a instrumentali-
dade do processo, entendido agora como a expressão resumida do próprio sistema processual; 
essa, sim, é uma perspectiva exterior, em que o sistema é examinado pelo ângulo externo, na 
sua inserção na ordem jurídica, política e social. 
A correta compreensão da expressão instrumentalidade do processo, destarte, 
pressupõe a conscientização de que o processo representa a via de consecução 
de escopos vitais para o Estado e a sociedade. É por meio do processo que são 
desenvolvidos os objetivos de fazer atuar a vontade do Direito (escopo jurídico), 
preservar a autoridade do ordenamento jurídico e os valores nele consagrados 
(escopo político), e, ainda, educar os litigantes e toda a população acerca do 
exercício dos seus direitos (escopo social). A pacificação com justiça, entretanto, 
assume a posição de sua missão maior (escopo magno). 
O sistema processual, portanto, se apresenta como o instrumento mediante 
o qual tais fins são perseguidos. Não se trata apenas de uma ferramenta da juris-
dição estatal, à disposiçãodo lesado (ou ameaçado de sofrer lesão), utilizável para 
assegurar a correção do desvio e a reparação do dano à luz das diretrizes da res-
pectiva ordem jurídica. Compreende um caráter instrumental próprio do modelo 
processual, considerando o processo como instrumento de concretização dos 
escopos do próprio sistema.
8 Vide ainda Grinover, Cintra e Dinamarco (2002, p. 24).
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
Dentro de tal contexto, é possível visualizar tanto um aspecto negativo como 
um aspecto positivo da instrumentalidade processual.
O aspecto negativo corresponde “[...] à negação do processo como valor em 
si mesmo e repúdio aos exageros processualísticos a que o aprimoramento da 
técnica pode insensivelmente conduzir”. (DINAMARCO, 1999, p. 319). Deriva, 
como efeito colateral, do grande avanço científico experimentado durante a fase 
do Processualismo Científico que resultou em gritantes exageros no culto ao for-
malismo processual. Preocupações ilimitadas com a forma do processo, como 
o consequente esquecimento do caráter instrumental do processo judicial, le- 
vam ao menosprezo da diretriz segundo a qual as formas são meros meios para 
a consecução dos objetivos do processo. A conscientização de tal quadro, pois, 
serve como medida de contenção de distorções geradas pelo apego excessivo 
aos aspectos formais em detrimento dos escopos do próprio sistema processual.
A instrumentalidade do processo, sob tal manto, representa um endereça-
mento negativo, revelando utilidade como forma de advertir os operadores das 
limitações funcionais dos atos que, em seu complexo, formam o processo judicial. 
Nesse sentido, o reconhecimento de tais falhas e limitações inerentes ao sistema 
evita os exageros e os excessos na formalização da técnica processual.9
O aspecto positivo da instrumentalidade do processo, por outro lado, com-
preende a preocupação em obter do sistema processual, enquanto instrumento, 
o máximo de potencialidade quanto à concretização dos seus escopos. 
A conscientização de que o processo jurisdicional serve de instrumento para 
a consecução de tais fins institucionais, portanto, representa um passo em dire-
ção ao melhor aproveitamento do respectivo veículo de satisfação, agora reco-
nhecido como meio para a realização de fins maiores. A adequada compreensão 
do seu aspecto positivo, por sua vez, exige do operador o domínio das funções 
instrumentais do processo judicial, correspondentes aos seus escopos.
Nesse sentido, o processo jurisdicional, considerado na sua instrumentalidade, 
serve:
9 Como consequência de tal quadro negativo, prevalece no modelo processual brasileiro o princípio da instrumentalidade das 
formas processuais.
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sob o ponto de vista de sua função puramente jurídica, como um instru- �
mento a serviço da concretização do direito material e da vontade do le-
gislador;
no plano de sua função estritamente política, como um instrumento a ser- �
viço da preservação da autoridade do ordenamento jurídico e dos valores 
fundamentais nele consagrados;
sob o ponto de vista social, como um instrumento educacional, ensinando �
aos membros da sociedade questões acerca do exercício dos seus direitos 
e obrigações;
sob uma visão ampla e geral, como instrumento de pacificação social me- �
diante critérios de justiça. 
Efetividade processual
Consciente das limitações de qualquer modelo processual, como consequên-
cia inevitável da condição humana, os principais doutrinadores da fase Instru-
mentalista no Brasil passaram a desenvolver uma utopia processual, ou seja, um 
modelo ideal, mas concretizável, de processo jurisdicional. Sem serem abalados 
pelo desafio herculiano, nomes como Dinamarco10, Grinover11, José Carlos Barbosa 
Moreira12 e Watanabe13, assumiram a frente no desenvolvimento de uma utopia 
processual, enquanto sistema idealizado, mas concretizável, capaz de servir de 
norte para um novo modelo brasileiro de processo jurisdicional. Por meio de críti-
cas construtivas e sugestões expostas em suas obras, procurando diagnosticar os 
“pontos sensíveis” do sistema e oferecer propostas para o seu aperfeiçoamento, 
os respectivos doutrinadores da instrumentalidade e defensores de um processo 
jurisdicional de resultados satisfatórios deram um novo rumo aos estudos pro-
cessuais, visando tornar o modelo pátrio um sistema de real efetividade na con-
secução dos seus escopos. 
10 Vide três obras clássicas do autor: A Instrumentalidade do Processo (1999), Instituições de Direito Processual Civil (2001) e Funda-
mentos do Processo Civil (2000).
11 Além da já citada obra em autoria conjunta com Dinamarco e Araújo Cintra, merece destaque o livro A Marcha do Processo 
(2000).
12 Vide, O Novo Processo Civil brasileiro (2002).
13 Vide, Da Cognição no Processo Civil (2000).
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
A efetividade do modelo processual, destarte, corresponde ao seu grau de efi-
ciência na consecução de tais metas, ou seja, o nível de sua verdadeira eficácia na 
realização dos seus objetivos. Se apto, concretamente, a cumprir os seus escopos, 
autêntica será a sua efetividade.14
A efetividade do sistema processual enquanto instrumento de concretização 
dos seus escopos, por sua vez, não é apenas útil. É, sem sombra de dúvida, abso-
lutamente imprescindível à efetividade da própria ordem jurídica15. Os direitos 
materiais do cidadão somente terão garantia de aplicabilidade na medida em que 
o processo jurisdicional oferecido pelo Estado for realmente eficaz. Sem a efetivi-
dade do modelo processual, não há como assegurar a efetividade das regras do 
direito material. Este não pode prescindir daquele. 
Não se limita, contudo, apenas à capacidade do modelo processual de pro-
porcionar resultados que satisfaçam a pretensão de direito material deduzida em 
juízo e preservem a legitimidade do ordenamento jurídico, isto é, não se restringe 
à eficiência da execução das funções jurídica e política do sistema processual, de 
aplicar o direito material e conservar a ordem jurídica. Abrange também a sua 
aptidão para atingir os seus escopos sociais, servindo de canal de instrução aos 
litigantes e aos demais membros da sociedade, e, acima de tudo, ratificando 
a aptidão do modelo processual de concretizar a sua meta maior de pacificar com 
justiça, amparando adequadamente o cidadão como instrumento assecuratório 
do acesso à Justiça.16
14 O termo efetividade, segundo o Novo Aurélio século XXI: o dicionário da Língua Portuguesa (1999, p. 720) significa “qualidade 
de efetivo” ou “atividade real; resultado verdadeiro”. De acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa (2001, p. 1.102), 
corresponde ao “caráter, virtude ou qualidade do que é efetivo” ou “capacidade de produzir o seu efeito habitual, de funcio-
nar normalmente; capacidade de atingir o seu objetivo real”. A expressão efetividade do processo, segundo Dinamarco (1999, 
p. 270), “[...] constitui expressão resumida da ideia de que o processo deve ser apto a cumprir integralmente toda a sua função sócio- 
-político-jurídica, atingindo em toda a plenitude os seus escopos institucionais”, acrescentando em seguida (1999, p. 271) que “[...] 
a efetividade, entendida como se propõe, significa sua almejada aptidão a eliminar insatisfações, com justiça e fazendo cumprir 
o direito, além de valer como meio de educação geral para o exercício e respeito aos direitos e canal de participação dos indi-víduos nos destinos da sociedade e assegurar-lhes a liberdade. Sempre, como se vê, é a visão dos objetivos que vem iluminar 
os conceitos e oferecer condições para o aperfeiçoamento do sistema”. Vide ainda Ricardo Rodrigues Gama (1999) e Delosmar 
Mendonça Júnior (2001).
15 Ao comentar tal realidade, Rosana Josefina Martins Dias (1994, p. 14) afirma que “[...] com efeito, é imperativo que tais regras 
sejam individualizadas caso a caso e, se for necessário, que sua observância seja imposta por meios coercitivos. Eis que um ramo 
do Direito está precisamente destinado ao objetivo de garantir a eficácia prática efetiva do ordenamento jurídico, mediante 
a instituição dos órgãos públicos que possibilitam que esta garantia atue e regulam modalidades e formas de tal atividade. 
Aprimorar o serviço jurisdicional prestado através do processo, dando efetividade aos seus princípios, é uma tendência universal 
na atualidade”.
16 Em tal sentido, Dinamarco (1999, p. 306).
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
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Por isso, a relevância em avaliar constantemente o nível de aptidão do sistema 
processual adotado em qualquer sociedade, de forma a acompanhar a evolução 
(ou involução) de sua eficiência. E a medição do grau de eficiência de qualquer 
modelo processual, segundo a melhor doutrina17, deve ser realizada mediante 
a aferição dos óbices encontrados em quatro “pontos sensíveis”:
admissão ao processo; �
modo de ser do processo; �
justiça das decisões; �
utilidade das decisões. �
O primeiro ponto refere-se à questão do ingresso em juízo, do grau de dificul-
dade que um indivíduo enfrenta para propor uma ação perante o Judiciário. Para 
de fato servir de meio à pacificação com justiça, o modelo processual deve asse-
gurar a facilidade de admissão na máquina judiciária, neutralizando os obstáculos 
que regularmente dificultam a propositura de postulações no âmbito jurisdicio-
nal do Estado18. 
O modo de ser do processo, por sua vez, corresponde à dinâmica normativa, 
ou seja, à legislação procedimental na seara do processo jurisdicional, destacan-
do-se os institutos colocados à disposição dos sujeitos processuais para promo-
ver a marcha do processo segundo as garantias do devido processo legal. Para 
assegurar a real efetividade do processo, a sua dinâmica deve observar a fórmula 
de agir prevista em lei como a adequada para produzir o resultado almejado (paz 
e justiça), considerando como suficientes e eficazes as ferramentas processuais 
previstas pelo legislador (vide CANABARRO, 1997). 
O terceiro “ponto sensível”, a justiça das decisões, se refere à qualidade dos jul-
gados proferidos pelos juízes, que devem sempre se pautar pelo critério da justiça 
durante o exercício da função judicante, mesmo que forçados a julgar de forma 
aparentemente antagônica à vontade do legislador.19 
17 Vide Cintra, Grinover e Dinamarco (2002, p. 34).
18 José Cichocki Neto (1998, p. 99) divide as limitações a questões exoprocessuais e endoprocessuais, segundo a sua origem 
interna ou externa em relação ao sistema.
19 Quanto à respectiva temática, vide João Batista Herkenhof (1994), J. J. Calmon de Passos (1999), Amilton Bueno de Carvalho 
(2003) e Edgar Carlos de Amorim (1992).
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
E, por fim, a utilidade das decisões20, correspondendo ao grau de serventia 
do provimento judicial concedido, avaliando o nível de satisfação produzido pela 
tutela jurisdicional na parte vencedora, que deve receber tudo e exatamente 
aquilo que deve receber segundo o ordenamento jurídico, como se nunca tivesse 
existido o litígio. 
Considerando tais pontos sensíveis de aferição, à luz do atual contexto social 
brasileiro, o presente modelo processual pátrio sofre fortes restrições da maior 
parte dos juristas e da quase totalidade dos consumidores do serviço jurisdicional 
do Estado. Inúmeras pesquisas21 de opinião evidenciam o desalento dos operado-
res e dos consumidores do processo com o atual sistema jurisdicional brasileiro. 
Perguntar qual o grau de eficiência do atual modelo processual no país a um juiz, 
a um advogado, a um membro do MP ou a qualquer das partes processuais, é 
quase um convite ao insulto. 
Efetividade do processo jurisdicional no Brasil? Não, na voz da população 
a qual serve.22
São tantas as deficiências que se torna difícil enumerá-las sem cometer uma 
falha por omissão. Mesmo a tarefa de relacionar, de forma concisa, os principais 
problemas, se torna árdua em virtude da dimensão destes, oriundos de todas 
as ordens. Problemas de cunho social, desde o simples desconhecimento dos 
seus direitos básicos por parte da população mais humilde (os “excluídos”), até 
os obstáculos financeiros como as cobranças de despesas processuais (custas 
20 Dinamarco (1999, p. 297) utiliza a expressão efetividade da decisão, ao se referir ao fato de que “[...] é indispensável que o 
sistema esteja preparado para produzir decisões capazes de propiciar a tutela mais ampla possível aos direitos reconhecidos”.
21 Em pesquisa realizada durante o desenvolvimento das aulas da disciplina Sociologia Jurídica, ministrada pelo professor Cláu-
dio Souto, no Curso de Doutorado em Direito da UFPE, foi gritante a insatisfação tanto dos operadores como dos consumidores 
do serviço processual. Os resultados da pesquisa, publicados no bojo do artigo Efetividade Social do Processo Trabalhista na 
Revista do TRT da 6.ª Região (1999), são inequívocos. 
22 Não são apenas os consumidores do processo que estão insatisfeitos. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) defla-
grou em 2003 o denominado “Movimento pela Eficiência do Poder Judiciário Brasileiro”, com a finalidade de formular propostas 
para agilizar a prestação jurisdicional à população brasileira. A entidade associação criou uma “Comissão de Efetividade”, cuja 
função passou a ser sistematizar as sugestões recebidas e formalizar as propostas de mudanças administrativas aos tribunais 
e de modificações legislativas ao Congresso Nacional. Recentemente, em seminário intitulado “Efetividade da Justiça” realizado 
no dia 11 de dezembro de 2003 na sede da associação em Brasília, foram debatidas, dentre outras, as seguintes propostas de 
mudança: a) indeferimento de petições iniciais quando fundadas em tese contrária a súmulas dos tribunais superiores; b) criação 
da súmula impeditiva, vedando a interposição de recurso de decisão em harmonia com súmulas dos tribunais superiores; c) im-
posição do efeito meramente devolutivo como regra geral na apelação; d) instituição da obrigatoriedade de depósitos recursais 
em determinados casos; e e) criação de mecanismo de progressividade de juros em casos de recursos desprovidos.
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e honorários advocatícios, por exemplo) como pressupostos de admissibilidade 
da ação judicial, passando ainda pela deficiência nos serviços de assistência judi-
ciária na maior parte dos Estados da federação. Problemas técnicos, pertinentes a 
questões procedimentais que dificultam a defesa de interesses em juízo, desde o 
excesso de formalismo exigido por meio de requisitos dispensáveis, até a simples 
inaptidão de certos remédios processuais para cumprir adequadamente as suas 
funções. Problemas estruturais, como o reduzido número de órgãos jurisdicio-
nais e, especialmente, o quadro insuficiente de servidores especializados (juízes, 
membros do MP, defensores públicos e serventuários da justiça). Problemas de 
ordem institucional,tanto de fundo interno, como o exagerado e normalmente 
maléfico “espírito de corpo” das respectivas categorias de profissionais, como os 
de origem externa, como as injunções políticas indevidas dos demais poderes na 
seara do Judiciário, cuja independência financeira existe apenas em tese. Proble-
mas de cunho ético e índole moral, como os abusos cometidos pelos profissio-
nais do Direito com o intuito de intencionalmente procrastinar os feitos judiciais, 
quando não usam de má-fé o processo como instrumento de injustiça23. 
Incontáveis problemas, de imensuráveis dimensões.
O atual modelo processual brasileiro, evidentemente, se encontra em crise. 
Criticado pelos seus operadores, rejeitado pelos seus destinatários. Defendido, 
mesmo que discretamente, apenas pelos poucos privilegiados pelas deficiências 
do sistema.
O seu processo de aperfeiçoamento, entretanto, está em curso. Mudan-
ças estão ocorrendo em todos os planos, mesmo que de forma mais tímida em 
algumas esferas mais “delicadas”. A reforma do atual modelo está em curso, com 
a utopia de um sistema mais efetivo lhe servindo de paradigma.24
23 Vide Rui Stoco (2002) e Moreira (2000).
24 As mudanças mais destacadas pelos operadores do Direito Processual são aquelas oriundas de modificações legislativas, no-
tadamente as pertinentes à chamada Reforma por Etapas, do CPC, iniciada em 1992. Desde tal data, o principal diploma proces-
sual brasileiro tem sofrido seguidas alterações nos seus dispositivos, com a mudança de antigas ferramentas processuais, como 
o agravo e a ação de consignação em pagamento, e a inclusão de novos instrumentos, como a ação monitória e a antecipação de 
tutela genérica. A edição de leis pertinentes à legislação complementar do CPC, por sua vez, igualmente resultou em novidades, 
como os juizados especiais civis (Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995) e os juizados especiais federais (Lei 10.259, de 12 de julho 
de 2001), e, ainda, a utilização de sistema de transmissão de dados para a prática de atos processuais (Lei 9.800, de 26 de maio de 
1999). Para uma visão crítica acerca da reforma, vide Dinamarco (2003) e José da Silva Pacheco (1999).
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
Acesso à Justiça
Considerados os institutos da instrumentalidade do processo e da efetividade 
processual, constata-se que o direito do cidadão ao acesso à Justiça, destarte, não 
pode prescindir desse instrumento conhecido como o processual jurisdicional, no 
seu modelo atual, mesmo em face das deficiências deste. 
Acesso à Justiça, por sua vez, não se confunde com acesso ao Judiciário ou 
admissão em juízo. Este trata da facilidade ou dificuldade que um cidadão enfrenta 
para propor uma ação judicial. Vincula-se à questão de obstáculos ao exercício do 
direito de ação. Acesso à Justiça, por outro lado, revela uma concepção bem mais 
abrangente.
Segundo a moderna doutrina processual, a expressão acesso à Justiça cor-
responde ao direito do cidadão de ter acesso a um ordenamento jurídico justo, 
ou seja, de viver dentro de uma sociedade na qual os seus direitos básicos serão 
respeitados e, caso não sejam observados espontaneamente, serão por meio de 
instrumentos aptos a assegurar a concretização da paz e da justiça. Compreende, 
em síntese, o direito de inserção numa comunidade em qual prevalece, abstra-
tamente no ordenamento jurídico e concretamente na prática, a justiça em toda 
a sua plenitude.
Nesse sentido, o processo jurisdicional representa um instrumento por meio 
do qual se propicia às partes litigantes a inserção dentro de uma ordem jurídica 
justa, resolvendo a lide de forma justa através da concretização coercitiva das 
regras contidas em um sistema normativo adotado pela respectiva comunidade. 
Segundo Dinamarco (1999, p. 304), 
[...] mais de que um princípio, o acesso à Justiça é a síntese de todos os princípios e garantias do 
processo, seja em nível constitucional ou infraconstitucional, seja em sede legislativa ou doutri-
nária e jurisprudencial. Chega-se à ideia do acesso à Justiça, que é o polo metodológico mais 
importante do sistema processual na atualidade, mediante o exame de todos e de qualquer um 
dos grandes princípios. 
Cappelletti e Garth (1988, p. 9), em obra com o título Acesso à Justiça, desta-
cam a evolução do respectivo conceito teórico. Nos estados liberais “burgueses” 
dos séculos XVIII e XIX, correspondia simplesmente ao direito formal do indivíduo 
prejudicado de propor ou contestar a demanda. Não era preocupação do Estado 
assegurar o acesso efetivo à proteção judicial, mas apenas o acesso formal. Obstá-
culos como a consciência das pessoas acerca dos seus direitos e o conhecimento 
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
99
dos meios para adequadamente defendê-los na prática, bem como a disponibi-
lidade de recursos para enfrentar a lide, simplesmente não eram considerados 
como de responsabilidade do Estado. 
Posteriormente, com a evolução do conceito de direitos humanos, as socie-
dades modernas passaram a reconhecer a existência de direitos e deveres sociais 
do Estado e das coletividades, que necessariamente devem preceder aos direi-
tos individuais como meios de tornar efetivos estes últimos. Passou a prevale-
cer, assim, a visão de um direito ao acesso efetivo à justiça, como pressuposto 
essencial aos novos direitos individuais e sociais.
Paulo Cézar Pinheiro Carneiro (1999), por sua vez, aponta a existência de quatro 
princípios que informam o acesso à Justiça:
acessibilidade � , segundo o qual se pressupõe a existência de sujeitos de direi-
to aptos a ingressar em juízo, sem obstáculos de índole financeira, de modo 
a assegurar, na prática, a efetivação de direitos individuais e coletivos;
onerosidade � , significando a atuação mais ética e produtiva possível dos 
envolvidos na composição do conflito, para assegurar o efetivo acesso 
à Justiça;
utilidade � , no sentido de que o processo deve assegurar à parte vencedora 
tudo aquilo que a ela faz jus, do modo mais célere e com a maior serventia 
possível, com menor sacrifício para a parte vencida; e
proporcionalidade � , pelo qual se impõe ao juiz, quando diante de situação 
complexa e controvertida envolvendo interesses relevantes mais antagô-
nicos, a escolha daquele interesse mais valioso, no sentido de se harmoni-
zar com os princípios e fins que norteiam o respectivo campo do direito.25 
Conclui-se, por fim, que o direito de acesso à Justiça faz parte da concepção 
ampla de cidadania26. 
25 Para ter uma visão panorâmica do acesso à Justiça na óptica de cada um dos diversos operadores do Direito Processual, vide 
Hugo Nigro Mazzilli (1998), José Renato Nalini (2000) e Cinthia Robert e Elida Lúcia Sá Séguin (2000). Vide ainda Justiça: promessa 
e realidade – o acesso à Justiça em países ibero-americanos (1996).
26 Vide José Alfredo de Oliveira Baracho (1995).
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Instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça
Ampliando seus conhecimentos
A “dica” do professor é proceder a um estudo dos significados das expressões 
instrumentalidade do processo, efetividade processual e acesso à Justiça, com base 
em obras como as de Cândido Rangel Dinamarco (Instrumentalidade do processo) 
e Mauro Cappelletti (Acesso à Justiça).
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Sergio Torres Teixeira
Introdução
A composição de conflitos apresenta três modalidades básicas: a autode-
fesa, a autocomposição e a heterocomposição. 
A autodefesa (ou autotutela) é considerada a modalidade mais primitiva 
de composição de conflitos. Ela se destaca pela presença da coação parti-
cular, ou seja, da chamada “justiça privada”. Ocorre quando uma das partes 
da relação litigiosa impõe a prevalência do seu interesse sobre o da parte 
adversa, efetivamente ou ameaçando usar qualquer espécie de força para 
assegurar a vitória de sua pretensão. 
Trata-se, portanto, de uma forma de composição intra partes, sem a inter-
venção de um terceiro (a não ser quando um terceiro parcial intervém exclu-
sivamente para auxiliar uma das partes, tomando partido sem considerar 
as peculiaridades do conflito). Há, dentro da autotutela, a materialização ou 
a ameaça de concretização de alguma forma de coerção, seja esta força de 
natureza física, moral, intelectual, política ou econômica.
No Brasil, o legislador ainda admite tal fórmula primitiva de compor con-
flitos, mas de forma restrita, estipulando em lei as condições para a sua prá-
tica e sempre admitindo a revisão judicial dos atos praticados em autotutela 
de interesses como modo de averiguar eventual desvio ou excesso. Nesse 
sentido, a legislação brasileira prevê figuras de autodefesa como a legítima 
defesa, a greve e o desforço imediato em questões possessórias. 
Tal disciplina restrita (e, ainda, com previsão de revisão judicial para apu-
ração de eventual abuso), por sua vez, decorre da natural preocupação do 
Estado com as consequências da permissão para atos de “justiça privada”. 
De igual forma, as limitações impostas pelo legislador são fundadas em 
uma questão política: a total ausência de compromisso da autodefesa com 
os modernos ideais de justiça, uma vez que na autodefesa o vencedor nem 
sempre é aquele que tinha razões legítimas para tanto.
Jurisdição
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Jurisdição
A autocomposição, por sua vez, se aproxima da autodefesa quando conside-
rada na sua forma autêntica1, que também é uma forma de solução intra partes, 
ou seja, definida pelos próprios litigantes. Mesmo nas modalidades de autocom-
posição assistida, a mediação e a conciliação, o terceiro que se coloca entre as 
partes não tem poder de decisão, atuando como mero intermediário. A definição 
do conflito, pois, cabe aos próprios envolvidos.
Na autocomposição, entretanto, não há uso ou ameaça de uso de qualquer 
espécie de força como ocorre na autodefesa. A autocomposição se caracteriza 
como um método pacífico de solução, na qual a lide é encerrada sem a tensão 
decorrente da índole coativa inerente à autodefesa. 
A autocomposição, por seu turno, pode ser decorrente de ato unilateral ou 
bilateral. Nesta última forma, ocorre a pacificação mediante uma negociação (ou 
seja, transação), na qual os litigantes, por meio de concessões recíprocas, chegam 
a um denominador comum. Na autocomposição unilateral, por outro lado, um 
dos litigantes simplesmente se despoja do seu interesse em conflito, havendo 
a renúncia (quando quem desiste é o titular da pretensão originalmente manifes-
tada) ou a submissão (quando quem abre mão do interesse é aquele que estava 
oferecendo uma resistência à pretensão do seu adversário) de um em favor do 
outro.
A autocomposição bilateral pode ser desenvolvida diretamente entre os adver-
sários, sem qualquer assistência de terceiro, ou, conforme anteriormente salien-
tado, pode haver a intervenção de um terceiro para atuar como simples interme-
diário, como ocorre na mediação e na conciliação. 
A mediação corresponde a uma forma de autocomposição assistida, na qual 
a negociação entre litigantes é auxiliada por um terceiro imparcial, estranho à 
lide e sem poder de decisão, após provocação consentida por ambos os sujeitos2. 
O mediador se coloca entre as partes, servindo de elo nas tentativas de transa-
1 Em alguns casos, aquilo que é apresentado como uma forma de autocomposição na realidade representa apenas uma espécie 
de autodefesa “camuflada”. Ocorre quando uma transação ou desistência unilateral se materializa não pela livre e espontânea 
vontade do participante, mas sim por causa de uma ameaça velada da parte adversa.
2 Segundo Teixeira Filho (2002, p. 1.189), “[...] a mediação é o processo dinâmico de convergência induzida ao entendimento. Visa 
à progressiva redução do espaço faltante para o atingimento do ponto de equilíbrio em torno do qual o consenso das partes se 
perfaz, livrando-as do impasse ou retirando-as da posição do conflito. A mediação é conduzida por um terceiro, estranho às tra-
tativas interrompidas. Sua atribuição é mover as partes da posição em que se encontram, fazendo-as afunilar para uma proposta 
aceitável. Para tanto, as tentativas formuladas pelo mediador, de eliminação da distância que separa as partes, são despojadas 
de efeito vinculante sobre os mediados e decorrentes da evolutividade própria do processo. Essas características tornam o me-
canismo extremamente flexível e de fácil redirecionamento.”
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Jurisdição
105
ção desenvolvidas por ambas, formulando propostas aos litigantes, instigando-os 
a decidir em conjunto e utilizando o seu poder de persuasão para convencê-los 
das vantagens de tal forma de resolução de litígios.
A mediação difere da conciliação apenas extrinsecamente, quanto à imposição 
do seu uso e à escolha do interveniente. Em que pese a posição de alguns doutri-
nadores, que defendem uma posição mais passiva do conciliador, em compara-
ção com uma atuação mais intensa do mediador (vide ROCHA, 2003), na prática 
tal critério de distinção é falho, pois se vincula apenas à forma de agir do terceiro, 
e não com características próprias de cada via autocompositiva. A intensidade da 
atuação do condutor em ambas as formas de autocomposição assistida, portanto, 
depende apenas da dinâmica daquele, de forma que tanto o conciliador como 
o mediador podem viabilizar a solução mediante intervenções habilidosas e con-
vincentes. Na realidade, a distinção entre as duas vias se resume à definição da 
pessoa do terceiro interveniente (na mediação, de livre escolha das partes; na 
conciliação, definida por critério alheio à vontade dos litigantes) e na obrigatorie-
dade da submissão à via conciliatória quando presentes os requisitos exigidos em 
lei, em detrimento do caráter sempre voluntário da mediação (TEIXEIRA FILHO, 
2002, p. 1.189). 
Qualquer uma das formas de autocomposição, merece ser repetido, se carac-
teriza pela ausência da coação privada típica da autodefesa. Ao contrário da sua 
postura diante desta última modalidade, o Estado moderno incentiva a autocom-
posição de conflitos, especialmente mediante a via negocial, prevendo restri-
ções apenas em relação a conflitos envolvendo interesses indisponíveis, quando 
não admite a transação ou desistência. Tal postura favorável à autocomposição 
decorre de dois fatores: primeiro, trata-se de uma forma pouco dispendiosa de 
compor conflitos e, segundo, como regra geral, as partes acabam satisfeitas com 
o respectivo resultado, já que a definição resultou da sua própria atuação. 
A terceira das modalidades dos meios de solução de conflitos é a chamada 
heterocomposição. Tal espécie é caracterizada pela intervenção provocada de um 
terceiro imparcial, investido no poder de decidir pelas próprias partes (na arbitra-
gem) ou pela soberania estatal (no processo judicial), surgindo para os litigantes 
o dever de aceitar a respectiva decisão.
Na heterocomposição, assim, a solução do litígio decorre de ato de terceiro(o árbitro ou o juiz), estranho à relação material conflituosa, mas a quem se outorga 
o poder de decidir a contenda. Um ou ambos os litigantes, portanto, invoca a atu-
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Jurisdição
ação de um terceiro imparcial para definir qual o interesse a ser preservado e qual 
aquele a ser sacrificado. A intervenção do terceiro incumbido de decidir, portanto, 
é provocada, ou seja, depende da iniciativa de ao menos um dos interessados (no 
processo judicial) ou de ambos os litigantes (no processo arbitral).
São duas as subespécies de heterocomposição, o processo judicial e o pro-
cesso arbitral. Em ambos há a presença provocada de um terceiro, estranho à lide 
material, porém com poder de decisão, mas enquanto na arbitragem a escolha do 
julgador (o árbitro) é definida pelos próprios litigantes, no processo judicial a defi-
nição do juiz segue critérios objetivos vinculados ao princípio do juiz natural. Na 
arbitragem (disciplinada no Brasil pela Lei 9.307/96), as partes optam por estabe-
lecer por contrato que eventual conflito será dirimido por um árbitro (convenção 
arbitral) ou, após o surgimento do conflito, elegem um árbitro (ou um colegiado 
de árbitros) para decidir o conflito, assumindo então o compromisso de acatar 
a respectiva decisão (compromisso arbitral). No processo judicial, uma das partes 
exerce o seu direito de ação para provocar a atuação do Estado, em busca de uma 
prestação jurisdicional.
O processo jurisdicional corresponde à heterocomposição estatal dos confli-
tos, isto é, à solução das lides mediante a provocação do Estado-juiz, materiali-
zada mediante a atuação do Poder Judiciário, com o intuito de obter deste uma 
tutela jurisdicional. 
A jurisdição, por sua vez, corresponde ao instituto que, simultaneamente, 
representa uma manifestação do poder soberano do Estado, um dever do Estado e 
uma atividade do Estado. E é tal instituição que será objeto do presente estudo. 
Jurisdição: generalidades
A etimologia (estudo da origem das palavras) é uma ótima forma de iniciar 
o exame de um novo elemento. O termo jurisdição, por sua vez, provém da junção 
de duas palavras do latim, iuris e dicere. 
Iuris significa direito; dicere, dizer (ou declarar).
Dizer ou declarar o direito, assim, seria uma síntese simplificada da expressão 
jurisdição. Os conceitos encontrados na doutrina processual, entretanto, tradu-
zem o verdadeiro alcance do instituto.
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Jurisdição
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Nesse sentido, a jurisdição foi conceituada por Giuseppe Chiovenda como a
[...] função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da 
substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos 
públicos, já no afirmar a existência da vontade da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva.
Alvim (2004, p. 55), por sua vez, a conceitua como a “[...] função do Estado, pela 
qual este atua o direito objetivo na composição dos conflitos de interesses, com o 
fim de resguardar a paz social e o império da norma de direito”.
Ada Pellegrini Grinover, Antônio Carlos Araújo Cintra e Cândido Rangel Dina-
marco, por seu turno, apresentam na sua obra Teoria Geral do Processo (2002, 
p. 131) o seguinte conceito para jurisdição: “[...] uma das funções do Estado, 
mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para, 
imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve, com justiça”.
Por meio do processo judicial e após a devida provocação mediante o exercí-
cio do direito de ação pela parte interessada, assim, o Estado exerce a jurisdição, 
modalidade de heterocomposição, de origem estatal e natureza pública, desti-
nada a proporcionar a aplicação do direito material e, acima de tudo, restabelecer 
a paz e consagrar a justiça.
A jurisdição se apresenta, assim, como um instituto de múltiplas faces. Simul-
taneamente poder, função e atividade do Estado.
Trata-se de uma forma de manifestação do poder soberano do Estado na 
medida em que representa a sua capacidade em decidir, coercitiva e imperati-
vamente, as questões submetidas à apreciação do Judiciário e, ainda, de impor o 
cumprimento de tais decisões e a satisfação das respectivas obrigações. O Estado-
juiz, ao exercer a jurisdição, executa o seu poder soberano outorgado pela socie-
dade em prol do bem comum. 
De igual forma, a jurisdição representa uma função do Estado, um verdadeiro 
encargo estatal, assumido como consequência do monopólio da administração 
da Justiça Pública. Ao exercer a jurisdição por meio do processo judicial, o Estado- 
-juiz cumpre um dever perante os jurisdicionados: o dever de toda vez que for 
regularmente provocado, intervir no conflito para declarar e impor o direito e, ao 
final, pacificar com justiça.
E, ainda, a jurisdição compreende uma atividade do Estado, na medida em 
que compreende um complexo de atos materializados pela atividade judicante 
dos magistrados. Representa, pois, um conjunto de atos praticados pelos juízes 
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Jurisdição
dentro do processo, mediante os quais os respectivos agentes políticos cumprem 
as funções e exercem os poderes previstos na lei.
Como poder, como função e como atividade, a jurisdição corresponde a uma 
atuação do Estado-juiz, em reação a uma provocação (exercício do direito da ação 
pelo interessado) e por meio de um instrumento adequadamente estruturado 
para servir de veículo a tais metas (o processo jurisdicional).
Escopos da jurisdição
A jurisdição, na doutrina processual tradicional, era costumeiramente retratada 
sob bases exclusivamente jurídicas, sem considerar a sua relevância sob o ponto 
de vista sociopolítico. Modernamente, entretanto, a doutrina contemporânea da 
fase Instrumentalista tem demonstrado grande preocupação em expor a jurisdi-
ção considerando a sua importância para a sociedade, a nação e seus institutos.
Nesse sentido, da mesma forma como o próprio processo judicial, a jurisdição, 
além do seu tradicional escopo jurídico, também revela escopos na esfera política 
e no campo social.
A jurisdição apresenta como sua função jurídica, evidentemente, o objetivo 
de proporcionar a concretização do direito material, ou seja, fazer atuar a von-
tade da lei. A norma abstrata, não observada espontaneamente, é materializada 
mediante o exercício da jurisdição. Aplicando a lei coativamente por meio dos 
atos judicantes do Estado-juiz, a jurisdição cumpre a sua finalidade jurídica.
O escopo político da jurisdição, por sua vez, compreende a meta de conservar 
o ordenamento jurídico e preservar os valores nele consagrados. Desrespeitada 
norma integrante do sistema normativo, a jurisdição surge como meio de assegu-
rar que o modelo jurídico será protegido e o “dano” à sua estrutura será eliminado. 
A jurisdição, nesse sentido, atua como um instrumento de manutenção da ordem 
jurídica.
O escopo social da jurisdição, por seu turno, corresponde a uma meta de cará-
ter pedagógico: ensinar aos litigantes e à sociedade em geral o que é certo e 
o que é errado, ou melhor, educar no sentido de definir qual a conduta que deve 
ser sancionada e qual o comportamento admitido pelo ordenamento jurídico. 
Por meio dos julgamentos dos tribunais, não apenas as partes dos respectivos 
processos mas toda a comunidade acaba aprendendo, evidenciando uma atua-
ção pedagógica da jurisdição.
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Jurisdição
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Além dos seus escopos: jurídico, político e social, a jurisdição apresenta um 
objetivo maior, um escopo magno que resumetoda a sua importância: pacificar 
com justiça. É mediante a atividade jurisdicional que o Estado assegura o restabe-
lecimento da paz, atingida pelo surgimento de um conflito, mediante critérios de 
justiça. A função maior da jurisdição, destarte, é assegurar a harmonia mediante 
a paz social, sempre à luz de um ideal de justiça. 
E tal escopo magno, merece ser salientado, jamais deve ser esquecido pelo 
operador do direito, pois serve de fundamento à própria existência da jurisdição, 
bem como da importância de todo o Direito Processual.
Poderes compreendidos na jurisdição
A jurisdição compreende, necessariamente, três espécies de poderes: o poder 
de decisão, o poder de coerção e o poder de documentação.
O poder de decisão corresponde ao notio (conhecimento) e iudicio (definição 
do direito aplicável) dos romanos. Consiste, portanto, no poder do Estado-juiz 
de conhecer a matéria litigiosa mediante a coleta das provas disponíveis e, em 
seguida, decidir qual o direito aplicável ao respectivo caso concreto, com a defini-
ção do interesse a ser sacrificado e do interesse a ser preservado dentro do con-
flito submetido à sua apreciação. 
Jurisdição, conforme se deduz de sua etimologia, implica dizer o direito, decla-
rar o direito. É por meio do poder de decisão, por conseguinte, que o Judiciário 
afirma a existência (ou não) da vontade concreta da lei. Sem tal poder, o Estado- 
-juiz não teria como cumprir a sua missão de resolver as lides, aplicar o direito, 
restabelecer a paz e consagrar a justiça.
O poder de coerção, por sua vez, representa o poder de determinar medidas de 
constrição judicial, impondo coercitivamente o cumprimento de suas decisões, 
sejam estas incidentais ou finais. Para assegurar a concretização dos seus esco-
pos, não basta ter o poder de decidir. É imprescindível ter a força de impor tais 
decisões.
Da mesma forma como a deusa da Justiça, Themis, tem em uma das suas mãos 
uma balança, representando a imparcialidade e o equilíbrio nos julgamentos, na 
outra existe a espada, representando a força que poderá ser usada para impor 
o cumprimento das decisões judiciais.
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110
Jurisdição
O poder de coerção se manifesta com maior intensidade na fase executiva, ou 
seja, na etapa de execução forçada, quando se visa à satisfação da obrigação cons-
tante de uma sentença condenatória. Tal poder, entretanto, abrange também as 
medidas de constrição que podem ser determinadas pelo juiz durante o curso do 
processo, como as pertinentes a provimentos mandamentais determinados inci-
dentalmente ou medidas de caráter probatório, como a exibição de documentos 
e a busca e apreensão de coisas ou pessoas.
O poder de documentação, por fim, representa o poder-dever que o magistrado 
possui de determinar o devido registro de todos os atos processuais, de forma a 
documentar toda a tramitação do processo judicial. Resulta da necessidade de 
assegurar publicidade aos atos processuais. Como consequência dessa incum-
bência, ao juiz é atribuída a função de assegurar a documentação dos atos pro-
cessuais mediante o devido registro da sua prática. 
Características da jurisdição
A doutrina não revela uniformidade quanto ao elenco de características da 
jurisdição. É normal cada doutrinador apresentar uma relação própria, com ele-
mentos peculiares segundo a sua concepção pessoal. Uma análise das principais 
obras da literatura especializada, entretanto, permite a identificação de ao menos 
alguns caracteres dominantes. E, assim, é possível caracterizar a jurisdição como 
uma atividade de natureza substitutiva/secundária, de caráter declarativo e/ou 
executivo, de índole instrumental, de essência imparcial e de cunho provocado.
Primeiro, a jurisdição revela um caráter substitutivo. Tal característica decorre 
do fato de que o Estado-juiz, ao atuar em um processo judicial, substitui com tal 
atividade estatal a atividade das partes litigantes, intervindo para decidir e impor 
a sua decisão. Ao ser provocado, o Judiciário intervém na relação litigiosa, ingressa 
na órbita individual dos litigantes e declara, em substituição aos próprios envolvi-
dos, qual o interesse a ser sacrificado e qual o interesse a ser preservado.
Nesse sentido, assim, jurisdição envolve uma atividade secundária em relação 
à atividade primária que seria o cumprimento espontâneo do ordenamento jurí-
dico ou a resolução direta dos conflitos pelos próprios litigantes. Por meio da juris-
dição, assim, o Estado-juiz concretiza coativamente uma atividade que deveria ter 
sido realizada primariamente, e de modo pacífico e espontâneo, pelos sujeitos em 
conflito.
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Jurisdição
111
A jurisdição também apresenta como característica uma feição instrumental, 
em virtude do seu escopo jurídico de atuação do direito, ou seja, sua função de 
proporcionar atuação prática às normas jurídicas. Como consequência da própria 
natureza instrumental do processo judicial, a jurisdição almeja servir de veículo 
para a concretização do direito abstrato consagrado no ordenamento jurídico. 
Ao atuar como tal, faz as vezes de uma ferramenta de realização das normas do 
direito substancial.
A jurisdição também se caracteriza por ser uma atividade declarativa e/ou 
executiva, uma vez que o seu exercício enseja a declaração do direito ao caso 
concreto e, caso não cumprida voluntariamente a respectiva decisão, a concreti-
zação coativa do comando sentencial mediante o processo de execução forçada. 
Compreende a jurisdição, pois, uma natureza declarativa (sempre) e uma índole 
executiva (quando praticados atos que almejam o adimplemento forçado das 
obrigações constantes das decisões judiciais).
A jurisdição é enquadrada como uma atividade imparcial na medida em que é 
exercida por órgãos estatais desinteressados que atuam com o objetivo de con-
cretizar a vontade da lei. Nesse sentido, os magistrados que cumprem uma ativi-
dade desinteressada do conflito, pondo em prática a vontade concreta da lei, que 
se dirige aos sujeitos em lide e não propriamente aos órgãos julgadores. O juiz, 
assim, deve se manter imparcial, equidistante dos litigantes e interessado apenas 
na materialização da lei e na realização da justiça.
Por fim, a jurisdição compreende uma atividade provocada uma vez que ao 
magistrado é vedado iniciar, de ofício, a relação processual, sendo obrigado a 
aguardar a devida provocação pela parte legítima e interessada. Ne procedet iudex 
ex officio. Apesar de corresponder a um dever do Estado, a jurisdição precisa ser 
invocada adequadamente para que o Judiciário possa agir e se desvencilhar do 
seu encargo judicante. É nesse sentido, inclusive, o artigo 2.º do Código de Pro-
cesso Civil (CPC):
Art. 2.º Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado 
a requerer, nos casos e forma legais.
Como consequência, mesmo quando o próprio Estado for parte em um con-
flito, não incumbe ao magistrado atuar ex officio e iniciar a demanda judicial. 
Incumbirá a outro órgão estatal atuar em defesa dos interesses estatais, perma-
necendo o juiz com o compromisso de, quando devidamente invocada a sua 
atividade jurisdicional, agir em consonância com seu compromisso de realizar 
justiça. 
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Jurisdição
Princípios inerentes à jurisdição
Dentre os diversos princípios orientadores do Direito Processual, alguns se 
destacam por abordarem diretamente questões pertinentes à jurisdição. São eles 
os princípios da inafastabilidade (indeclinabilidade), investidura legal na jurisdi-
ção, juiz natural, inércia, aderência ao território (improrrogabilidade), indelegabi-lidade, inevitabilidade e do perpetuatio iurisdicionais.
O princípio da inafastabilidade da jurisdição é também conhecido como prin-
cípio da indeclinabilidade, princípio do acesso ao judiciário, princípio do controle 
jurisdicional e princípio da ubiquidade. Trata-se do postulado que garante a todos 
o acesso aos órgãos jurisdicionais e estabelece como diretriz o dever estatal de 
apreciar as questões submetidas ao Judiciário e proporcionar aos postulantes 
a prestação jurisdicional, eliminando qualquer obstáculo de acesso aos órgãos 
jurisdicionais. A jurisdição, assim é indeclinável no sentido de que o órgão judi-
cial investido no poder jurisdicional assume o dever, e não mera faculdade, de se 
pronunciar sobre a questão litigiosa deduzida em juízo. Não pode o magistrado 
declinar do seu ofício, recusando-se a proferir uma decisão, mesmo no caso de 
inexistência ou obscuridade da lei (CPC, art. 126).3 
O postulado da inafastabilidade encontra seu fundamento jurídico no artigo 
5.º, XXXV, da Constituição Federal (CF) de 1988 :
Art. 5.º [...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Por meio de tal princípio, há a vedação do non liquet, isto é, a proibição diri-
gida ao Estado de se abster de julgar uma causa adequadamente submetida à sua 
apreciação. Não pode o Estado-juiz, quando adequadamente provocado, se recu-
sar a entregar a prestação jurisdicional cabível. É certo que, quando existir vício 
processual insanável (carência da ação, litispendência etc.) ou a concretização de 
uma hipótese legal que prejudica a apreciação da contenda (como a confusão 
entre autor e réu), o processo judicial será extinto sem resolução do mérito nos 
termos do artigo 267 do CPC. Ocorre que, em que pese o encerramento prema-
turo da relação processual, não houve uma recusa do Estado-juiz para julgar a 
causa, mas a ocorrência de obstáculo capaz de impedir o pronunciamento do juiz 
sobre a questão de fundo.
3 Em casos de impedimento ou suspeição do juiz (CPC, arts. 134 e 135, respectivamente), o magistrado pode ser recusado por 
qualquer das partes ou pode suscitar sua própria suspeição ou impedimento, mas nesse caso haverá a simples substituição do 
juiz e não a exclusão da apreciação pelo Judiciário.
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Jurisdição
113
O princípio da investidura legal na jurisdição, por sua vez, compreende o pos-
tulado segundo o qual somente podem praticar atos jurisdicionais aqueles regu-
larmente investidos no cargo de magistrado. A jurisdição somente poderá ser 
exercida de forma legítima, assim, por quem tenha sido nela devidamente inves-
tido por meio de autoridade competente segundo as diretrizes da Constituição. 
A pessoa que, com o intuito de exercer a atividade jurisdicional, pratica um ato 
judicante sem estar regularmente investido na função jurisdicional comete delito 
tipificado no Código Penal (CP) como usurpação de função pública (CP, art. 328).4
Como consequência, somente um juiz devidamente empossado no respectivo 
cargo pode exercer a jurisdição. Para tanto, será necessário observar o devido pro-
cesso legal de investidura, envolvendo procedimentos solenes, tanto no âmbito 
dos órgãos de primeiro grau (aprovação em concurso público de provas e títu-
los, nomeação, posse e exercício), como nos tribunais (promoção para o cargo de 
desembargador por critério de merecimento ou de antiguidade para os juízes de 
carreira, nomeação para cargos de desembargadores do chamado quinto constitu-
cional para aqueles oriundos da advocacia ou do Ministério Público (MP) e nomea-
ção dos ministros dos tribunais superiores segundo os critérios previstos na CF). 
O princípio do juiz natural é uma das garantias decorrentes do postulado do 
devido processo legal. Também conhecido como princípio do juiz legal ou do juiz 
constitucional, trata-se da garantia de que o julgamento da causa será realizado 
por um juiz competente, definido segundo critérios objetivos pré-definidos de 
organização judiciária, sem qualquer manipulação. Todo cidadão, assim, tem 
o direito de obter dentro do processo judicial um julgamento realizado por um 
magistrado independente e imparcial, selecionado segundo as regras previstas 
na legislação constitucional e infraconstitucional. 
A escolha do(s) magistrado(s), assim, não terá interferência de qualquer das 
partes ou de um eventual terceiro interessado. O juiz natural é aquele que, no 
momento no qual foi materializado o conflito deduzido em juízo, era compe-
tente segundo as normas então em vigor, ou seja, tinha a sua competência já 
prevista na CF e nas normas de organização judiciária. A definição do julgador, 
portanto, não ocorre posteriormente ao surgimento do conflito, segundo as 
conveniências de uns ou outros, mas será realizada segundo as regras objetivas 
previamente definidas para tal fim.
4 Os magistrados aposentados e aqueles colocados em disponibilidade, por sua vez, são equiparados às pessoas não investidas 
na jurisdição. Apesar de gozarem de algumas prerrogativas próprias dos juízes da ativa, deixam de exercer a jurisdição quando 
assumem a aposentadoria ou são postos em disponibilidade.
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Jurisdição
Tal postulado, por sua vez, se encontra consagrado em dois incisos do artigo 
5.º da CF:
Art. 5.º [...]
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; 
[...] 
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
Para que o processo seja equilibrado, é imprescindível que não haja um “juízo 
de exceção”, ou seja, um órgão julgador selecionando ou criado por uma das 
partes ou por terceiro interessado após o surgimento do conflito, com o intuito de 
manipular o julgamento. O juiz encarregado de julgar uma causa deve ser aquele 
competente segundo as normas estruturais previamente definidas, escolhido 
à luz de regras objetivas alheias à vontade das partes.5 
Mesmo diante de juízes absolutamente probos e honestos, merece ser res-
saltado, a manipulação da escolha do julgador pode influenciar o resultado final 
do julgamento. Suficiente é a escolha de um juiz segundo o perfil histórico do 
magistrado, de forma a criar uma situação propícia para um julgamento con-
forme a tendência do respectivo profissional. A escolha de um julgador que, 
segundo a linha das decisões anteriormente proferidas durante o decorrer da 
sua carreira, revela uma posição conservadora, ensejará, naturalmente, grande 
probabilidade de um julgamento novamente conservador. 
A garantia do juiz natural, portanto, se apresenta como imprescindível ao exer-
cício da jurisdição.
Outro princípio de grande relevância na seara da jurisdição é o princípio da 
inércia, também conhecido como princípio da ação ou da demanda. Como desta-
cado anteriormente, a jurisdição se caracteriza como uma atividade provocada, 
ou seja, a atuação jurisdicional do Estado-juiz precisa ser invocada por uma parte 
legitimada e interessada, mediante o exercício do direito da ação, para que o pro-
cesso judicial possa ser iniciado. Não pode haver, assim, jurisdição sem ação.
5 É certo que o artigo 111 do CPC admite o chamado foro de eleição, autorizando as partes a fixarem, em contrato, qual o juízo 
com competência relativa (em razão do lugar ou em razão do valor da causa) para julgar eventual demanda decorrente do 
respectivo negócio jurídico. Agora, tal dispositivo admite apenas a escolha do órgão jurisdicional no tocante à competência ter-
ritorial e/ou em razão do valor da causa, não permitindo modificação na esfera da competência absoluta (em razão da matéria, 
da pessoa ou da função) e, tampouco, a escolha da pessoa do juiz. 
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Jurisdição
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Trata-se de um postulado destinado a assegurar a imparcialidade do juiz. 
O magistrado, portanto, não pode iniciar a relação processual de ofício. Neces-
sariamente terá que aguardar a provocação de um interessado e legitimado. Ne 
procedet iudex ex officio.6 
A inércia será rompida, no entanto, quando a parte legitimada e interessada 
exercer o seu direito de ação. E, uma vez provocado, o Estado-juiz inicia a sua ativi-
dade jurisdicional, assume a direção do processo e o conduz, por meio de impulso 
oficial, em direção ao cumprimento do seu dever jurisdicional.7
O princípio da aderência ao território corresponde ao postulado que orbita ao 
redor da ideia de que o exercício da jurisdição é necessariamente vinculado a 
um determinado espaço físico, ou seja, pressupõe um território sobre o qual será 
exercida. O exercício da jurisdição, assim, impõe a estipulação de determinada 
área territorial dentro da qual o Judiciário pode manifestar o poder soberano 
estatal, e, como regra geral, não pode o Estado-juiz ultrapassar os limites de tal 
âmbito espacial. 
O juiz, ao exercer a jurisdição, se encontra limitado a determinado território 
cujas fronteiras não pode atravessar. Os limites do espaço físico no qual se exerce 
a jurisdição, assim, seriam improrrogáveis. Notadamente no âmbito da jurisdição 
do Judiciário brasileiro como um todo, é importante destacar a relevância do prin-
cípio em tela, restringindo a atuação jurisdicional às fronteiras do país. O princípio 
da aderência ao território, pois, manifesta-se na limitação decorrente da própria 
soberania nacional e de sua vinculação ao território brasileiro.
Importante ressaltar, no entanto, que no âmbito da disciplina da competência 
pelo CPC, não é admissível a prorrogação da competência absoluta (em razão da 
matéria, da pessoa e da função), mas admite-se a prorrogação da competência 
territorial (bem como da competência em razão do valor da causa) de um órgão 
dentro da estrutura do Judiciário brasileiro. Assim, por exemplo, proposta uma 
demanda perante um juízo que não revela competência territorial originária para 
6 Existem, contudo, exceções ao princípio da inércia. Nesse sentido, o juiz pode de ofício decretar a falência de um empresário, 
caso no curso de um processo sejam constatadas as condições para tanto. No processo trabalhista, por sua vez, a execução força-
da de sentença condenatória independe de provocação do interessado, podendo ser iniciada ex officio pelo juiz do trabalho.
7 Como consequência do princípio da inércia, surgem os princípios do dispositivo e da congruência, pelos quais o magistrado 
terá que restringir sua atuação aos limites em que foi postulada a tutela jurisdicional, sendo vedado proferir julgamento além, 
aquém ou fora do pedido.
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Jurisdição
julgar a causa, a inércia da parte adversa no momento adequado para suscitar 
a incompetência ensejará a prorrogação do juízo originalmente incompetente, 
nos termos do artigo 114 do citado diploma processual. 
O princípio da indelegabilidade, como revela a própria denominação, traduz 
a ideia de que o poder jurisdicional não pode ser objeto de delegação pela pessoa 
na qual esta foi legalmente investida. A jurisdição, portanto, deve ser exercida 
pessoalmente pelo juiz, enquanto órgão do Estado. Uma vez investido na juris-
dição, o juiz não pode transferir o seu poder a outrem, não pode atribuir a outro 
a competência para atuar nos processos que lhe foram distribuídos. Não pode o 
magistrado, assim, delegar o ofício judicante a alguém que não foi regularmente 
investido na jurisdição.
É natural que, quando necessária a prática de atos jurisdicionais fora do 
âmbito territorial no qual o juiz exerce a sua jurisdição, haja a solicitação do auxí-
lio de outro magistrado, como ocorre por meio de carta precatória entre juízes de 
comarcas distintas. Em tais hipóteses, entretanto, não há “delegação” do poder 
jurisdicional (pois o juiz deprecado já se encontra investido na jurisdição), mas 
apenas “solicitação de colaboração” entre agentes que já integram a magistratura 
e que exercem a jurisdição, mesmo que em âmbitos territoriais distintos. 
O princípio da inevitabilidade, por seu turno, compreende o postulado segundo 
o qual a jurisdição é inevitável, no sentido de que a sua incidência não está con-
dicionada à anuência daquele em face de quem foi proposta a ação. A autoridade 
dos órgãos do Poder Judiciário, destarte, emana do próprio poder soberano do 
Estado-juiz, como eficácia imperativa, independente da concordância dos litigan-
tes ou da existência de qualquer pacto por meio do qual os respectivos sujeitos se 
comprometem a aceitar o resultado do julgamento. 
Proposta a ação pelo autor, o réu se submete à jurisdição mesmo contra a 
sua vontade, sendo inevitável a sua incidência quando devidamente provocada. 
Mesmo considerando o dever estatal decorrente do princípio da indeclinabili-
dade, a posição de ambas as partes processuais (especialmente a parte ré) perante 
o órgão judicial é de sujeição, sendo impossível impedir que sobre, os litigantes, 
se imponha o poder jurisdicional.8
8 Alguns juristas apontam os fenômenos da “imunidade de jurisdição dos entes públicos externos e dos seus representantes 
diplomáticos” e da “imunidade parlamentar”, o primeiro previsto em tratados internacionais e o segundo na própria Constituição 
da República (CF, art. 53), como exceções ao princípio da inevitabilidade.
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Jurisdição
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O princípio do perpetuatio iurisdicionais (perpetuação da jurisdição), por fim, 
traduz a ideia de que, no momento da propositura da demanda, ocorre a defini-
ção do juízo competente para julgar a respectiva causa segundo as regras então 
em vigor, de forma que a jurisdição se perpetua no tempo, considerado tal con-
texto. 
O citado postulado se encontra consagrado, no âmbito da legislação proces-
sual brasileira, no artigo 87 do CPC, ora transcrito:
Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as 
modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimi-
rem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia.
Divisibilidade e indivisibilidade da jurisdição
Considerada abstratamente, enquanto função do Estado e manifestação do 
poder soberano estatal, a jurisdição é una e indivisível. Considerada em si mesma, 
a jurisdição emana da soberania do Estado, e, como a soberania é única, igual 
integridade guarda a jurisdição. Caso contrário, haveria dentro de um mesmo 
Estado, paradoxalmente, uma diversidade de soberanias. Como consequência, 
a jurisdição não admite divisões, sendo a manifestação de um poder unitário. 
A jurisdição abrange, assim, toda a atividade judicante envolvendo a decla-
ração e concretização do direito nos casos submetidos ao Poder Judiciário, não 
comportando seções ou divisões. Independentemente da natureza da causa sub-
metida ao Estado-juiz ou do órgão específico que vai proferir o julgamento, é uma 
só jurisdição que estará sendo exercida. Em que pese tal natureza de instituição 
indivisível, a jurisdição é na prática dividida segundo determinadas categorias 
e de acordo com certos critérios, seja pela doutrina, seja pelo próprio legislador.
Nesse sentido, a literatura especializada revela a presença de diversas clas-
sificações da jurisdição, segundo critérios didáticos, com o intuito de facilitar 
a aprendizagem e a compreensão do respectivo instituto. 
No tocante à matéria apreciada, assim, é comum encontrar na doutrina a 
divisão da jurisdição em jurisdição cível, jurisdição penal e jurisdição trabalhista,dentre outras modalidades. De acordo com a especialidade do organismo que a 
exerce, a jurisdição pode ser enquadrada como especial (restrita a determinada 
matéria, como é o caso da jurisdição exercida pelos órgãos da Justiça do Trabalho) 
e comum (categoria residual, como aquela exercida pela justiça estadual). Quanto 
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Jurisdição
ao grau ou gradação do órgão que a exerce, por sua vez, fala-se em jurisdição 
superior (a exercida pelos tribunais) e jurisdição inferior (a exercida pelos órgãos de 
primeiro grau). Alguns autores apontam outras classificações menos conhecidas, 
como a que divide a jurisdição, segundo a fonte do direito aplicado, em jurisdição 
de direito (envolvendo a aplicação de normas jurídicas ao caso concreto) e jurisdi-
ção de equidade (aplicável em casos em que a lei permite ao juiz julgar de acordo 
com sua visão pessoal de justiça para a respectiva hipótese). 
O legislador, por seu turno, divide a jurisdição segundo a natureza da atividade 
jurisdicional a ser desenvolvida e, ainda, quanto ao seu exercício, distribuindo-a 
dentre os órgãos que integram o Poder Judiciário.
No primeiro caso, trata-se da divisão envolvendo a jurisdição contenciosa e ju-
risdição voluntária. No âmbito do CPC, tal divisão é explicitada logo no artigo 1.º
Art. 1.º A jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território 
nacional, conforme as disposições que este Código estabelece.
E, posteriormente, nos Títulos I (CPC, arts. 890 a 1.102-C) e II (CPC, arts. 1.103 
a 1.210) do Livro IV do Código, tratando, respectivamente, dos procedimentos 
especiais de jurisdição contenciosa e dos procedimentos especiais de jurisdição 
voluntária.9
A jurisdição contenciosa é a jurisdição típica, envolvendo a composição de 
conflitos submetidos à apreciação do Estado-juiz mediante o exercício do direito 
de ação. Trata-se da jurisdição propriamente dita, envolvendo a função estatal de 
solucionar lides e pacificar com justiça. Apresenta como pressuposto, portanto, 
o litígio, no meio do qual os litigantes defendem interesses em conflito.
A jurisdição voluntária, por sua vez, compreende o que a doutrina costuma 
descrever como a administração pública de interesses privados. Ao Judiciário é 
destinado não apenas o dever de compor conflitos, mas também a função de 
atuar como gestor público de interesses particulares, porém considerados como 
de grande relevância pelo legislador. Seu objeto não são as lides, e sim os interes-
ses privados previstos como merecedores de uma tutela especial, a ser exercida 
pelos órgãos do Poder Judiciário, como forma de evitar abusos e desvios. 
9 Diversos doutrinadores, por outro lado, negam que a jurisdição voluntária seja uma forma verdadeira de jurisdição, e, ainda, 
negam que ela seja de fato voluntária. Afirmam que não se trata de atuação jurisdicional do Estado, mas simples administração 
de atos pelos juízes. Negam a natureza voluntária, pois sustentam que o legislador impõe a intervenção dos juízes para que os 
respectivos atos produzam efeitos. Outros juristas, entretanto, formam a chamada corrente “revisionista”, sustentando o caráter 
jurisdicional da jurisdição voluntária. Vide Alvim (2004, p. 73-78).
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Jurisdição
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Tal espécie de jurisdição, também conhecida como jurisdição administrativa ou 
jurisdição graciosa, não pressupõe a existência de um conflito. Predomina a natu-
reza administrativa da atividade exercida pelo órgão jurisdicional, procurando 
observar um procedimento solene previsto pelo legislador como meio de asse-
gurar a adequada proteção ao respectivo interesse. Almeja, assim, realizar uma 
função preventiva e constitutiva. 
A atividade do juiz no exercício da jurisdição voluntária, portanto, é material-
mente de índole administrativa, em que pese ser enquadrada como de natureza 
judiciária na esfera subjetivo-orgânica. Envolve uma atividade essencialmente 
negocial, na qual a atuação do magistrado assume feições de cunho constitutivo 
ou integrativo, com a finalidade de proporcionar eficácia ao negócio almejado 
pelos interessados. O juiz atua de forma semelhante a um tabelião, uma vez que a 
intervenção do órgão jurisdicional se apresenta como condição para que o negó-
cio venha a se tornar eficaz. Não há, assim, lide nem partes litigantes, mas tão 
somente um negócio jurídico processual envolvendo o Estado-juiz e as partes.10
Exemplos de interesses submetidos à jurisdição voluntária são aqueles relati-
vos à adoção, à interdição, ao casamento civil e o divórcio.
Outra forma de divisão da jurisdição adotada pelo legislador se refere à distri-
buição do seu exercício. A jurisdição, portanto, é dividida quanto à definição do 
âmbito de seu exercício pelos diversos órgãos que integram o Poder Judiciário. 
Trata-se, assim, do instituto da competência, correspondendo ao âmbito dentro 
do qual o juiz exerce a função jurisdicional, ou, simplesmente, o limite ou a medida 
da jurisdição. 
A jurisdição não é exercida por um único órgão estatal, mas sim por uma plura-
lidade de órgãos que integram a estrutura do Judiciário. Como uma consequência 
lógica da necessidade de dividir o trabalho judicante para obter maior eficiên-
cia na prestação jurisdicional, a jurisdição é distribuída entre aqueles órgãos que 
formam o respectivo Poder. 
10 A doutrina tradicionalmente aponta quatro distinções entre a jurisdição contenciosa e a jurisdição voluntária: a) enquanto 
na jurisdição contenciosa a lide é um pressuposto, na voluntária não há lide, mas simples interesse privado a ser tutelado; b) 
enquanto na jurisdição contenciosa existem partes litigantes, na voluntária existem apenas interessados; c) enquanto na juris-
dição contenciosa a observância rígida à garantia do contraditório é imposta pelo devido processo legal, na voluntária existe 
a necessidade de dar ciência a eventuais interessados, mas não com o intuito de convocar para se defender, como é típico do 
contraditório; e d) enquanto na jurisdição contenciosa o julgamento do mérito da causa faz surgir a imutabilidade da sentença 
em decorrência da formação da coisa julgada material, na jurisdição voluntária as sentenças não produzem essa mesma eficácia 
de imutabilidade.
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120
Jurisdição
Há, assim, uma divisão da jurisdição quanto ao seu exercício. O estudo da res-
pectiva temática, entretanto, envolve um exame de outro instituto fundamen-
tal da doutrina processual (a competência), que será desenvolvido em outro 
momento.
Ampliando seus conhecimentos
A “dica” do professor é proceder a um exame minucioso entre os princípios 
fundamentais da jurisdição, procurando destacar a relevância dos respectivos 
postulados no desenvolvimento da atividade jurisdicional do Estado-juiz.
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Paulo Henrique dos Santos Lucon
Ação e tutela jurisdicional objetivada
A ação também pode ser vista a partir da tutela jurisdicional objetivada, 
cuja prestação constitui o objeto do processo. Todo ato jurídico tem certas 
notas essenciais que o distinguem de outros atos jurídicos e fornecem ele-
mentos necessários à sua definição (MOREIRA, 2004, p. 7).
Quatro gêneros
Ação cognitiva
Será de conhecimento a ação que der ensejo a um processo de cognição 
e tiver por objetivo um provimento lógico que imperativamentedeclare qual 
das partes tem razão. 
Ação executiva
Será de execução a ação que der início ao processo executivo e tiver por 
fim a satisfação do exequente (desfecho unívoco da execução). Essa satisfa-
ção realiza-se mediante o pagamento de quantia, a entrega de coisa certa 
ou incerta (determinável pelo gênero e quantidade) ou ainda mediante uma 
conduta comissiva (fazer) ou omissiva (abstenção – tutela inibitória). A tutela 
executiva tem o escopo de efetivar a prática de um comando contido em 
título executivo. Em toda atuação executiva, a realização dos objetivos da lei 
pelo Estado consiste na efetivação de tal comando nos casos em que o obri-
gado não o cumpre espontaneamente.
O juiz limita-se simplesmente a coordenar os atos tendentes à satisfação 
do exequente e estabelecidos a partir da sanção resultante do título, não jul-
Tutela jurisdicional objetivada
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Tutela jurisdicional objetivada
gando o pedido deduzido no processo de execução. Esse é chamado fim único 
da execução, embora não se negue a possibilidade de o julgador extinguir a exe-
cução em razão de alguma causa impeditiva, modificativa ou extintiva fundada 
em prova pré-constituída. Todavia, nesses casos, há um julgamento com base em 
uma cognição sumária. Nessa modalidade de tutela, o ato ao qual se pretende dar 
eficácia é preexistente, não sendo produzido no processo de execução ou mesmo 
na fase executiva.
Fase liquidativa ou executiva. 
Código de Processo Civil (CPC), arts. 461 e 461-A e Lei 11.232/2005
Estes dispositivos põem fim ao processo de liquidação, bem como ao processo 
de execução fundado em título judicial.
Ação cautelar
Será cautelar a ação que dá início ao processo cautelar e tem por escopo 
garantir os resultados objetivados nos processos de conhecimento e execução. A 
ação cautelar destina-se a evitar dano oriundo da inobservância do Direito pelo 
inevitável retardamento dos processos de conhecimento e executivo e viabiliza 
o processo cautelar. A sua função é instrumental e tem o escopo de permitir 
o resultado útil dos processos principais. 
Ainda que não haja coincidência entre o objeto do processo principal e a 
medida cautelar, essa circunstância não impede de considerar a tutela jurisdicio-
nal cautelar uma forma de proteção dos direitos. Aliás, o caráter eminentemente 
jurisdicional das medidas cautelares funda-se no nexo existente entre a tutela 
cautelar e a situação substancial protegida (DENTI, 1948, p. 6 e ss.; MANDRIOLI, 
1955, p. 635 e ss.; FAZZALARI, 1957, p. 150 e ss.).
Parte da doutrina sustenta a existência de cautelares satisfativas. Em tais casos, 
não haveria a necessidade da instauração de um processo principal, de conhe-
cimento ou de execução, objetivando um provimento definitivo (de mérito ou 
satisfativo) (SILVA, 1998, p. 67-81).
Em determinadas hipóteses – algumas previstas na lei, outras afirmadas pela 
doutrina –, o vínculo de instrumentalidade entre o processo cautelar e o principal 
diminui, a ponto de conceder uma certa autonomia à tutela cautelar. Se um provi-
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Tutela jurisdicional objetivada
125
mento reputado cautelar atinge o grau de total autonomia, deixa de ser cautelar; 
o processo aqui não tem mais a função instrumental, pois, passando a outorgar 
os mesmos resultados do principal, deve ser assim considerado. As denominadas 
cautelares satisfativas não são propriamente cautelares, porque a sua missão não 
é garantir o resultado de outro processo, mas assegurar uma proteção jurisdicio-
nal célere, muitas vezes em cognição sumária. 
Ação monitória
Há ainda um quarto gênero, consistente na ação monitória, que permite uma 
tutela jurisdicional diferenciada (PISANI, 1996). O portador de prova documental 
que não seja título executivo, mas que demonstre a existência de uma obrigação 
de pagar ou de entregar coisa, pode dar início ao processo monitório. Constitui 
um gênero distinto na medida em que permite primeiro um comando judicial, 
que, se cumprido, põe fim à relação jurídica. Não havendo oposição de embargos 
ao mandado, converte-se o título monitório em título executivo judicial. Todavia, 
com o seu oferecimento, suspende-se o cumprimento do mandado e inicia-se, 
nos embargos ao mandado, uma nova relação jurídica processual que poderá se 
encerrar com uma sentença de mérito reconhecendo judicialmente a existência 
da obrigação. Evidentemente, aqui haverá uma certeza jurídica maior acerca da 
real existência do direito material.
Ações de conhecimento
Classificação
As ações de conhecimento podem ser desmembradas em ações meramente 
declaratórias, constitutivas e condenatórias. Essa é a denominada classificação tri-
nária das ações de conhecimento. Há também quem sustente a chamada classi-
ficação quinária, que põe ao lado dessas três já mencionadas, as ações executivas 
lato sensu e mandamentais.
Tal classificação considera não somente a eficácia preponderante ou a natureza 
da tutela jurisdicional desejada (conteúdo), como também leva em conta o modo 
pelo qual a cognição se desenvolve. Todavia, sendo o provimento jurisdicional 
resultado da atividade cognitiva desenvolvida no processo, a mera alusão à cog-
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Tutela jurisdicional objetivada
nição não tem o condão de indicar a natureza do provimento, mas a forma pela 
qual o processo se desenvolve e em que momento da atividade de conhecimento 
poderá ou não ser outorgada a prestação desejada pelo autor, com a procedência 
ou a antecipação da tutela, ou pelo réu, com o decreto de improcedência.
Atividades no processo de conhecimento
No processo de conhecimento, são desenvolvidas atividades destinadas a 
permitir a ampla alegação dos fatos, a recolher as provas, a enquadrar os fatos 
nas normas de direito material; tudo isso para que o juiz possa conhecer no caso 
concreto qual é a situação substancial existente. Sempre que presentes os pressu-
postos de admissibilidade ao julgamento de mérito, ou seja, os pressupostos de 
constituição e desenvolvimento do processo em conjunto com as condições da 
ação, o juiz terá, com fundamento na convicção formada acerca dos fatos, condi-
ções de emitir a sentença desejada pelo autor ou rejeitar total ou parcialmente a 
demanda.
Não obstante essa subclassificação, é certo que toda sentença civil tem natu-
reza declaratória, pois sempre seu objetivo é definir qual a vontade concreta da lei 
a atuar entre os sujeitos da relação jurídica, que vem submetida à decisão do juiz. 
Por sua vez, o juiz não é chamado, como usualmente se diz, a aplicar a lei, a espe-
cificar a norma, mas simplesmente a declarar se e como a lei é por virtude propria-
mente aplicada, a declarar se e como a norma, tendo contato com determinada 
fattispecie concreta, é destinada a definir uma situação substancial, antes mesmo 
da existência do processo. Compete ao juiz fixar na decisão de mérito o objeto 
último de sua investigação, ou seja, a vontade da lei já previamente concreta, já 
especializada àquela situação substancial (CALAMANDREI, 1976, p. 35). Portanto, 
o processo não tem por escopo criar direitos novos, mas limita-se à declaração 
de direitos preexistentes. O único caso em que o processo constitui fonte autô-
noma de direitos refere-se à condenação em honorários advocatícios e despesas 
processuais, pois a sentença “produz um direito a uma prestação” (CHIOVENDA, 
1998, p. 240): o simples desencadeamento do processo gera para uma das partes, 
qualquer que seja o seu resultado, o direito à sucumbência.
As funções de declarar, condenar ou constituir, positiva ou negativamente, 
são coordenadas para a tutela de direitoslesados, insatisfeitos. Caberá ao deman-
dante deduzir pedido que repute mais idôneo à tutela que objetiva, e essa parece 
ser a maior dificuldade presente nos casos concretos: a formulação correta da 
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Tutela jurisdicional objetivada
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demanda de modo a tutelar o titular de um direito. A demanda deve ser apta 
a propiciar um provimento capaz de definir corretamente a situação substancial 
existente entre as partes, projetando efeitos externos ao processo. Daí a eficácia 
das decisões ter um papel fundamental na efetividade do processo.
Tutela jurisdicional declaratória
As ações meramente declaratórias devem ser utilizadas quando o deman-
dante almeja a solução de uma crise de certeza e sua propositura está condicio-
nada ao interesse processual na declaração imperativa da existência ou inexis-
tência de uma relação jurídica ou da autenticidade de um documento (LUCON, 
2000, p. 154). A eliminação do estado de incerteza afasta a insegurança jurídica, 
e todas as sentenças de mérito, no processo de conhecimento, têm um conteúdo 
declaratório, pois o reconhecimento do direito é a elas intrínseco. O interesse pro-
cessual decorre da dúvida objetiva emergente de uma relação jurídica concreta, 
com fatos bem delineados, precisos e determinados. Estão fora da tutela jurisdi-
cional simplesmente declaratória meras conjecturas e suposições, típicas de uma 
dúvida subjetiva. 
No que se refere ao momento da eficácia, em geral a sentença meramente 
declaratória é ex tunc: seus efeitos não são apenas produzidos após o trânsito em 
julgado da decisão, mas também em relação ao passado. Pense-se, por exemplo, 
numa sentença declaratória de paternidade: o réu não se torna pai somente com 
a formação da coisa julgada, mas é pai desde o momento da concepção.
Tutela jurisdicional constitutiva
A ação constitutiva objetiva uma modificação da situação jurídica substancial 
por obra do juiz. A sentença constitutiva possui dois momentos lógicos: o primei-
ro é declaratório, pois o juiz declara a existência do poder substancial da parte de 
produzir a modificação por meio de um pronunciamento jurisdicional; o segundo 
é o constitutivo, resultante da própria declaração, pois diz respeito ao poder-dever 
do juiz de operar a modificação pedida pela parte (FERRI, 1970, p. 212-213). 
Mediante a tutela constitutiva, o juiz constitui uma situação jurídica de conte-
údo novo. Calamandrei (1976, p. 78-82) a ela se referia como uma atividade mista 
de jurisdição e administração, já que o seu cumprimento, na maioria das vezes, 
exige um ato junto a órgãos com funções em inentemente administrativas (por 
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Tutela jurisdicional objetivada
exemplo: registro civil nas causas relativas a estado; registro no cartório de imó-
veis nos casos de sentença substituindo declaração faltante na venda e compra 
de imóveis relativamente à transferência da propriedade; registro da anulação de 
decisão assemblear junto ao órgão de comércio competente). 
No entanto, em alguns casos, a função administrativa simplesmente não é 
necessária e, por isso, inexistente – v. g., a rescisão de um ato jurídico. Tradicio-
nalmente, as sentenças constitutivas são classificadas como positivas e negati-
vas. Outra classificação propõe que as sentenças de natureza constitutiva podem 
ser: constitutivas em sentido estrito; constitutivas extintivas; constitutivas modi-
ficativas (ZAFRA VALVERDE, 1962, p. 249 e ss.). Um exemplo bem elucidativo de 
sentença com eficácia constitutiva negativa é aquele da sentença que rescinde 
promessa de venda e compra de imóvel. Obviamente, nos casos em que o con-
trato dispõe de cláusula resolutiva expressa, a sentença tem eficácia meramente 
declaratória, já que há mero acertamento dos efeitos da resolução operada no 
passado. Caso contrário, a sentença terá eficácia constitutiva. Esse também seria 
um exemplo de sentença constitutiva extintiva, já que o provimento jurisdicional 
extingue a situação existente entre as partes no processo. 
Outros exemplos são: a dissolução de sociedade (total e não parcial, que é fruto 
da procedência de demanda condenatória de apuração de haveres); a anulação 
de casamento. Exemplo claro de eficácia constitutiva positiva é o provimento que 
concede a declaração de vontade faltante, pois o juiz por meio desse ato jurisdi-
cional proporcionará os efeitos desejados pelo demandante com a modificação 
do estado jurídico; o ato emanado do juiz “[...] produz um efeito inovativo da rela-
ção jurídica substancial” (YARSHELL, 1997, p. 174). Por isso, 
[...] apesar da localização no texto do Código, o assunto de que tratam os arts. 639/641 nada tem 
que ver com o processo de execução, que, por supérfluo, nem sequer chega a formar-se. Aque-
les dispositivos regulam questões pertinentes à atividade cognitiva do órgão judicial. O lugar 
apropriado seria o capítulo referente aos efeitos da sentença. (MOREIRA, 1996, p. 215). 
Na obrigação de emitir a declaração de vontade, a sentença constitutiva não 
produz o resultado equivalente, mas a própria tutela desejada. Daí, não haver 
necessidade de “medidas de apoio” ou mesmo de aplicação da multa (CPC, art. 
461, §§ 2.º, 4.º e 5.º), porque não há atuação sobre a esfera jurídica do obrigado 
(YARSHELL, 1993, p. 44-55; 1997, p. 174). De acordo com a segunda classifica-
ção, referido provimento jurisdicional seria uma sentença constitutiva em sentido 
estrito. Nessa mesma categoria se inclui também a constituição de servidão por 
decisão judicial. Ainda dentro da segunda classificação, são exemplos de senten-
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Tutela jurisdicional objetivada
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ças constitutivas modificativas aquelas que impõem o divórcio dos cônjuges ou a 
que decreta a interdição. Pela classificação tradicional, no primeiro dos exemplos, 
a sentença seria constitutiva negativa, pois extingue a situação substancial exis-
tente entre as partes; em contrapartida, no segundo exemplo, seria constitutiva 
positiva, por criar uma nova situação jurídico-substancial. 
As duas classificações são formas distintas de enxergar um fenômeno essen-
cialmente único, pois em todos os casos analisados, a partir de uma visão ampla, 
o provimento jurisdicional faz nascer uma situação jurídica nova. Portanto, a 
sentença constitutiva tem a eficácia preponderante de criar essa nova situação 
mediante a criação, modificação e extinção de uma determinada relação jurídica. 
Além dessa eficácia, tal modalidade de sentença declara a subsistência do direito 
a uma modificação destinada a criar uma nova situação jurídica substancial por 
obra do juiz. 
As constitutivas podem ser necessárias, ou seja, para se conseguir determi-
nado efeito o processo torna-se indispensável. Tais casos referem-se a direitos 
considerados indisponíveis pelo legislador e ocorrem todas as vezes que uma 
controvérsia tenha por objeto uma relação jurídica, que por lei não pode ser defi-
nida livremente pelas partes, senão com uma sentença judicial. Assim ocorre com 
a anulação do casamento e o divórcio. 
A atuação das sentenças constitutivas é estabelecida a partir de atos inde-
pendentes da participação do obrigado. Com o trânsito em julgado da sentença 
de natureza constitutiva, não há a instauração de um processo de execução. Seu 
grau de efetividade é de tal ordem elevado que apenas a sentença é apta a pro-
porcionar o resultado prático desejado. Quando muito, pode-se afirmar que há 
a necessidade de uma execução imprópria.1 O bem da vida desejado, consistente 
na modificação da situação jurídica substancial, é proporcionado pelo próprio 
provimento jurisdicional. Em alguns casos, paraa integral satisfação do direito, 
torna-se necessária a prática de singelos atos materiais, realizados pelo próprio 
titular da posição jurídica de vantagem. Todavia, tais atos estão muito longe de 
impor a instauração de um processo executivo. 
1 Segundo Liebman (1980, p. 6), execução imprópria é “[...] a atividade desenvolvida por órgãos públicos não pertencentes ao 
Poder Judiciário e consistente na transcrição ou inscrição de um ato em registro público (registro civil, imobiliário), mesmo se 
ordenado pelo juiz. Escopo dessas atividades é conferir publicidade aos atos respectivos, e tem por isso caráter executivo ou não, 
conforme o ato seja (ex.: penhora) ou não de execução”.
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Tutela jurisdicional objetivada
No que concerne ao momento da eficácia, normalmente a sentença consti-
tutiva é ex nunc: seus efeitos só são produzidos após o trânsito em julgado da 
decisão, não havendo projeção de efeitos no passado. Excepcionalmente, porém, 
a eficácia pode retroagir a situações jurídicas pretéritas à formação da coisa jul-
gada. Isso ocorre com a sentença de interdição, que, mesmo com a interposição 
de recurso de apelação (CPC, art. 1.184), produz efeitos desde logo. 
Tutela jurisdicional condenatória
Destina-se a ação condenatória a obter um provimento que obrigue o réu 
a cumprir determinado ato comissivo ou omissivo. Ou seja, com essa ação o 
demandante pede a condenação do réu ao cumprimento de uma prestação. Com 
a procedência da demanda, o juiz ordena alguém a dar, fazer ou não fazer (pagar 
uma soma de dinheiro, entregar certo bem móvel, desocupar determinado bem 
imóvel etc.). A ação condenatória tem por objetivo uma sentença condenatória 
que, como título (CPC, art. 584, I), pode ser fundamento da execução. Por óbvio, 
ela somente vai ter lugar se o réu não se conforma com a sentença, deixando de 
cumpri-la voluntariamente.
A sentença condenatória contém também declaração acerca da relação jurí-
dica controvertida, embora a eficácia seja prevalentemente condenatória, pois 
impõe a sanção executiva, estabelecida pela lei diante do ato contrário ao direito 
praticado pela outra parte: “[...] a condenação traduz-se na sujeição do devedor 
às medidas executivas previstas pela lei para a obrigação que ele não cumpriu.” 
(LIEBMAN, 1985, p. 183). E sujeição nada mais é que aquela situação em que se 
encontra um dos sujeitos parciais do processo, forçado a suportar os efeitos de um 
provimento jurisdicional (LIEBMAN, 1985, p. 123). Em resumo, a sentença conde-
natória declara a existência de um direito e sua insatisfação, condenando a parte 
devedora ao adimplemento; a condenação pode ser genérica ou ordinária.2 
Indica a sentença condenatória ordinária todos os elementos a respeito da 
obrigação, pois declara a existência da obrigação, a natureza dos bens que consti-
tuem seu objeto e a quantidade desses bens. Além disso, aplica a já mencionada 
sanção executiva. Por isso se diz que o provimento condenatório contém dois 
momentos lógicos: enquanto o primeiro diz respeito à eficácia meramente decla-
2 A expressão condenação ordinária deve ser atribuída a Rognoni (1957, p. 117), adotada pela primeira vez na doutrina brasileira 
por Dinamarco (1998, p. 504).
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Tutela jurisdicional objetivada
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ratória, o segundo refere-se à sanção executiva. E é esse o segundo momento 
lógico que distingue a sentença condenatória das demais espécies tradicional-
mente concebidas: apenas na declaratória não há a sanção executiva; na consti-
tutiva, o segundo momento lógico refere-se à modificação jurídica desejada pelo 
demandante. 
Já a sentença condenatória genérica é incompleta, visto que, embora declare 
a existência do direito (an debeatur), não contém o acertamento referente ao 
valor da obrigação, ainda controvertido entre os sujeitos parciais do processo. 
O quantum debeatur deverá ser objeto de outra relação jurídica processual. Será, 
portanto, na liquidação que serão quantificados os bens devidos, tornando com 
isso possível a instauração do processo de execução.3 
É preciso ainda fazer referência à condenação para o futuro, só admitida excep-
cionalmente, nas hipóteses previstas pelo legislador em que, embora não tenha 
havido o vencimento da obrigação, considera-se muito forte a possibilidade de 
que não haja seu cumprimento espontâneo. Em razão da grande probabilidade 
de inadimplemento e da própria característica da obrigação, permite-se uma con-
denação antecipada, somente válida para o momento em que se operar o ven-
cimento. Tal ocorre nos casos de obrigação periódica na qual não mais se exige 
do credor uma contraprestação (por exemplo, alimentos, aluguéis etc.). Todavia, 
estando prevista uma contraprestação do credor para poder ser reclamada, fica 
claro que inexiste o direito de exigir o cumprimento da obrigação.4 
3 No sistema jurídico italiano, a sentença condenatória genérica vem expressamente prevista no artigo 278, I: “[...] quando è già 
accertata la sussistenza di un diritto, ma è ancora controversa la quantità della prestazione dovuta, il collegio, su istanza di parte, può 
limitarsi a pronunciare con sentenza la condanna generica alla prestazione, disponendo con ordinanza che il processo prosegua per 
la liquidazione”. (“[...] quando declarada a existência do direito, mas é ainda controvertida a quantidade de prestação devida, 
o juiz, mediante provocação da parte, pode limitar-se a pronunciar sentença com condenação genérica em relação à prestação, 
dispondo por decisão que o processo prossiga para a liquidação”. Tradução livre). Tal sentença é fruto da criação jurisprudencial 
e tem a manifesta vantagem de fixar em um menor espaço de tempo a existência do an debeatur. Sobre o tema, ver Calamandrei 
(1976, p. 503 e ss.); Gualandi (1959, p. 1.141 e ss.); Montesano (1965, p. 44 e ss.); Rognoni (1957, p. 7 e ss.); Satta (1959-1960, p. 
720 e ss.); Dinamarco (1998, p. 517).
Na ação coletiva para a defesa de interesses individuais homogêneos, prevista no Código de Defesa do Consumidor (CDC, Lei 
8.078, de 11 de setembro de 1990), a sentença condenatória genérica tem um grau de completude menor comparativamente ao 
sistema do CPC, pois lá, parte do an debeatur é objeto de acertamento em ulterior processo de liquidação.
No CDC, o processo condenatório desenvolve-se coletivamente, tendo por escopo a obtenção de uma sentença de mérito que 
declare a responsabilidade civil do réu, bem como a obrigação de indenizar pelos danos causados, e aplique a sanção executiva; 
já o processo de liquidação desenvolve-se individualmente, tendo por escopo a obtenção de uma sentença de mérito que 
declare a condição de lesado do titular do direito (destinatário da sentença condenatória genérica), bem como a extensão da 
reparação. Somente a partir daí, poder-se-á desenvolver a execução do decisum. Sobre o tema, ver Ada Pellegrini Grinover (1998, 
art. 95, CDC, p. 687-688).
4 Sobre a condenação futura, ver principalmente a já mencionada obra de Rognoni (1957) e o ensaio de Paolini (1976, p. 507 
e ss.).
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Tutela jurisdicional objetivada
A tutela condenatória destina-se a solucionar a crise de inadimplemento. Essa 
é, sem dúvida, a que apresenta maior dificuldade. Vedado o exercício arbitrário das 
próprias razões e permitida a autotutela em situações excepcionais (por exemplo, 
o desforço imediato nas possessórias e o embargo na nunciação de obra nova), 
a efetividade da tutela condenatória é a que exige maior interregno temporal. 
Isso porque as crises de inadimplemento não são dirimidas pela sentença conde-
natória, que simplesmente declara a existênciado direito e a sua violação e cria 
condições para se executar (sanção executiva). O bem da vida não foi, de forma 
objetiva, outorgado ao jurisdicionado, permanecendo o estado de insatisfação. 
Daí por que se exige do poder estatal uma providência jurisdicional concreta, por 
meio de atos práticos e materiais de execução forçada. Apenas com a tutela exe-
cutiva pode o juiz determinar a substituição do comportamento que se esperava 
de uma pessoa para atingir a satisfação de certa pretensão de outra, mediante 
atos de agressão legítima ao patrimônio. Nesses casos, o resultado útil somente 
se atinge com a conjugação das atividades de conhecimento e execução. O estrei-
tamento dessas duas atividades, com a proteção das garantias constitucionais, 
tem sido um dos grandes objetivos e uma das maiores dificuldades do Processo 
Civil moderno.
Ações executivas lato sensu
Deve ser atribuída, no Brasil, a Pontes de Miranda (1970, p. 212; 1978, p. 3-21; 
1978, p. 140-144)5 a formulação dessa categoria de sentença, que não exige uma 
execução ex intervallo dependente da propositura de uma nova demanda (exe-
cutiva), ou seja, o cumprimento do comando emergente da decisão realiza-se 
na própria relação jurídica processual em que foi proferido o ato decisório, sem 
a necessidade da instauração de um processo de execução. A expressão senten-
ças executivas lato sensu merece ser criticada, já que não se sabe quais seriam as 
“executivas stricto sensu”. Na verdade, a sentença executiva lato sensu é um pro-
vimento jurisdicional portador de eficácia condenatória com uma força a mais: 
com ela não há necessidade de um novo processo, agora executivo, ou seja, o 
juiz simplesmente determina a realização prática do comando emergente da sen-
tença de natureza condenatória, dispensando-se a iniciativa da parte para o início 
da execução. Isso significa que a sentença é apta a conduzir à efetiva satisfação 
5 No direito italiano, Satta utiliza a expressão esecuzione in senso improprio para designar “[...] in sostanza un uniformarsi delle parti 
o di terzi alla volontà espressa nella sentenza”. (1961, p. 346). Sobre o tema, ver ainda Ovídio Baptista da Silva (1997, p. 72-93; 1998, 
p. 21-22; 1988, p. 101-102) e Wambier (1997, p. 77-78).
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Tutela jurisdicional objetivada
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do titular da situação jurídica de vantagem. O juiz na própria sentença de proce-
dência emite um comando, ordenando a realização de atos práticos e materiais 
a serem executados de imediato por auxiliares do Poder Judiciário, sem a neces-
sidade de o demandante-exequente propor demanda executiva com a citação 
pessoal do executado (CPC, art. 222, “d”). Além disso, não poderão ser opostos 
embargos à execução, pois todas as defesas devem ser necessariamente apre-
sentadas no processo cognitivo, cumprindo lá o demandado o ônus da impugna-
ção específica dos fatos apresentados pelo demandante (CPC, art. 302). Exemplos 
de provimentos jurisdicionais com essa eficácia são as sentenças proferidas nas 
ações possessórias e de despejo. No que se refere às demandas de despejo de 
imóveis urbanos, consoante o disposto no artigo 65, caput, da Lei 8.245, de 18 de 
outubro de 1991, fica muito clara a eficácia preponderante da sentença: 
Art. 65. Findo o prazo assinado para a desocupação, contado da data da notificação, será efetu-
ado o despejo, se necessário com emprego de força, inclusive arrombamento. 
Na verdade, o provimento jurisdicional de despejo nada mais é que uma sen-
tença complexa, que rescinde (desconstitui) a relação locatícia e determina (con-
dena) o demandado a restituir o bem.
A diferenciação dessa categoria de sentença traz enormes repercussões práti-
cas, sendo as mais significativas aqui sistematizadas (WATANABE, 1996, p. 23):
inadmissibilidade de embargos à execução, em razão de inexistir demanda �
executiva;
imposição de ser deduzida toda a defesa na fase de conhecimento, inclusi- �
ve aquela relativa ao direito de retenção por benfeitorias, e não por meio de 
embargos na fase executiva; 
execução realizada mediante a simples expedição de mandado, após a in- �
timação do réu para a desocupação no prazo fixado, sem a necessidade de 
propositura de demanda executiva e a consequente instauração de uma 
nova relação jurídica processual.
Ações mandamentais
A eficácia mandamental surgiu a partir da concepção de uma outra catego-
ria ou espécie de sentença. Diferenciava-se tal categoria das demais em razão de 
conter um mandamento dirigido a outro órgão estatal. A origem da referida cate-
goria está na ideia de que o Estado não sofreria atos executivos propriamente 
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Tutela jurisdicional objetivada
ditos, com efetiva agressão patrimonial e atos de sub-rogação. Em função de as 
prestações devidas pelos agentes estatais serem cumpridas por meio de simples 
comando, a sentença mandamental cumpriria esse desiderato sem a necessidade 
da instauração de um processo executivo.6 
A moderna e atual ideia acerca das sentenças mandamentais é muito mais 
ampla e não apenas dirigida aos órgãos ou agentes estatais, mas também ao 
particular. Segundo esse enfoque, tal modalidade de sentença, como a anterior, 
proporciona uma tutela independentemente da instauração do processo de exe-
cução. Para a efetivação do comando (ou ordem ou mandamento) integrante da 
sentença, não há necessidade de ação executiva, ulterior e autônoma que dê 
ensejo a um processo executivo. Essa concepção destaca também a inegável dife-
rença entre condenar e ordenar: com a condenação, há apenas um título executivo 
judicial, que permite nova demanda, denominada executiva ou de execução; com 
a ordem, há a determinação efetiva de cumprimento específico do comando do 
juiz (SILVA, 1998, p. 348-351). 
Ao comando emergente constante da sentença mandamental, normalmente 
vem imposta uma medida coercitiva a ser aplicada no caso de renitência do 
demandado no descumprimento da ordem. Algumas medidas coercitivas vêm 
especificadas no próprio ordenamento jurídico; outras são partes integrantes 
dos poderes do juiz. De qualquer modo, o escopo de todas elas é único: fazer 
com que as decisões dos órgãos jurisdicionais sejam cumpridas. As modalida-
des de medidas coercitivas mais conhecidas e aplicadas são a multa ou astreintes 
e, com menor frequência, a prisão civil. Em casos extremos (e só nesses casos), 
o descumprimento da ordem judicial pode configurar crime de desobediência ou, 
dependendo da autoridade pública destinatária do comando, crime de respon-
sabilidade. Todos os meios lícitos de pressão psicológica devem ser admitidos. 
Assim, sanções penais, políticas e administrativas podem ser impostas a partir 
da provocação do próprio interessado ou do juiz, recaindo sobre o obrigado ou 
a autoridade recalcitrante. 
Como facilmente se percebe, as medidas coercitivas têm por finalidade impor 
o cumprimento da obrigação na sua forma específica, exercendo sobre o ânimo 
6 A sentença mandamental foi concebida por Kuttner, no ano de 1914, e mais tarde retomada por Goldschmidt (1936, p. 113-
115). No Brasil, foi Pontes de Miranda o grande defensor da sentença mandamental e da executiva lato sensu (1970, p. 133-135 
e 211; 1976, p. 4-12).
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Tutela jurisdicional objetivada
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do obrigado verdadeira e legítima pressão psicológica. No entanto, não obstante 
a possibilidade de sua aplicação, não devem ser descartadas medidas sub-roga-
tórias destinadas a conduzir ao resultado prático equivalente ao adimplemento. 
O relevante, ao se admitir a cumulação de tais medidas, é possibilitar o acesso ao 
bem da vida desejado no menor espaçode tempo possível. Com essa preocupa-
ção, dispõe o artigo 461, parágrafo 5.º, do CPC, introduzido pela Lei 8.952, de 13 
de dezembro de 1994:
Art. 461. [...]
§5.º Para a efetivação da tutela específica ou a obtenção do resultado prático equivalente, 
poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas necessárias, tais como a 
imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de pessoas e coisas, 
desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com requisição de 
força policial. 
O rol dessas medidas é meramente exemplificativo, podendo o juiz adotar 
quaisquer outras, observados sempre os limites da adequação e da necessidade 
(utilidade). Por isso, essas medidas sub-rogatórias dão ensejo à verdadeira execu-
ção indireta e podem ser consideradas exceções à regra segundo a qual é vedado 
inovar após a sentença, pois são medidas de apoio destinadas a permitir a efetiva 
realização da situação jurídica desejada. Se, de um lado podem ser consideradas 
um meio (e esse é um atributo seu que sempre está presente), de outro, essas 
medidas podem ser em alguns casos consideradas um fim no sentido prático, já 
que vão propiciar em alguns casos a própria situação substancial pretendida pela 
parte. 
O provimento mandamental do artigo 461, concedido na sentença ou mesmo 
mediante tutela antecipada (CPC, art. 461, §3.º), não exige um processo separado 
de execução e deve, por si só, ser apto a proporcionar a tutela específica preten-
dida pelo demandante por meio da colaboração do obrigado. A imposição de 
medida coercitiva deve ser uma alternativa indireta e a configuração de crime 
de desobediência (ou de responsabilidade), uma alternativa excepcional, na hipó-
tese de eventual descumprimento do comando judicial.7
7 Ver Kazuo Watanabe (1996, p. 45); CDC, art. 84, p. 652-660; Grinover (1995, p. 261-264). Os antecedentes legislativos do novo 
artigo 461 do CPC são o artigo 11, da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985 (Lei da Ação Civil Pública), e o artigo 84 da Lei 8.078, de 
11 de setembro de 1990 (CDC).
Na Itália, Tarzia (2000), assim como a maior parte da doutrina daquele país, opõe-se à criminalização do inadimplemento da 
medida cautelar, sustentando que a sanção correta é aquela da astreinte, da multa, tal como se verifica da nova redação do artigo 
461 do Código brasileiro. Por isso, parece certo o entendimento segundo o qual a configuração de crime de desobediência (ou 
de responsabilidade) deva ser uma hipótese excepcional.
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Tutela jurisdicional objetivada
Outros exemplos ilustrados pela doutrina são as sentenças proferidas em man-
dado de segurança e na ação de nunciação de obra nova.8
Para parte da doutrina, nas sentenças executivas lato sensu, estão englobadas 
as mandamentais, já analisadas. Assim ocorre com a sentença proferida com fun-
damento no aludido artigo 461 do CPC. No sentido de considerá-la um exemplo 
de executiva lato sensu 
[...] quando aplicadas as medidas sub-rogatórias previstas em seu parágrafo 5.º (a sentença), 
é de natureza condenatória, mas atípica, pois os atos executórios são praticados no próprio 
processo de conhecimento. O que nada mais é do que reconhecer a existência de sentenças 
condenatórias imediatamente executivas, ou, em outras palavras, de sentenças executivas lato 
sensu. (GRINOVER, 1995, p. 261). 
No sentido de também considerar o mencionado provimento como manda-
mental:
[...] mas hoje as coisas mudaram: a prestação jurisdicional invocada pelo credor da obrigação de 
fazer ou não fazer deve ser a expedição de ordem judicial, a fim de que a tutela se efetue em sua 
forma específica. Bem o demonstra o teor do parágrafo 4.º do artigo 461, que permite ao juiz 
impor ao obrigado multa diária (desde que suficiente ou compatível com a obrigação), inde-
pendentemente de pedido do autor: o pedido deste, portanto, terá sido de expedição de uma 
ordem para que, por meios sub-rogatórios, se chegue ao resultado prático equivalente ao adim-
plemento. Por outro lado, o destinatário da sentença não é mais exclusivamente a autoridade 
pública ou o agente de pessoa jurídica no exercício das atribuições do Poder Público (segundo 
o art. 5.º, LXIX, da Constituição vigente), como ocorre no mandado de segurança, mas sim qual-
quer demandado, titular de obrigação de fazer ou não fazer. O artigo 84 do CDC e, agora, o 
artigo 461 CPC demandam uma profunda revisão da crítica à existência da sentença manda-
mental, hoje realidade incorporada ao processo civil comum. (GRINOVER, 1995, p. 263-264).9
Para outra parte da doutrina moderna, que também afasta como destinatá-
ria única da sentença mandamental a autoridade pública ou o agente de pessoa 
jurídica no exercício das atribuições do Poder Público, o caráter distintivo exis-
tente entre a sentença mandamental e a sentença executiva lato sensu está no 
8 Sobre o tema da eficácia mandamental, conforme Pontes de Miranda (1970, p. 133-135, 211; 1976, p. 4-12); Araken de Assis 
(1989, p. 83-84); Kazuo Watanabe (1996, p. 21-29, p. 24-27); e Ovídio Baptista da Silva (1993, p. 164-192, p. 164; 1998, v. 2, p. 333-
431; 1996, p. 85-87; 1988, p. 78-79 e p. 102-104), que foi, sem dúvida, quem mais se dedicou ao tema.
9 Com esse mesmo entendimento, vide Zavascki (1997, p. 117-118). Deve ser também mencionado o artigo 52, V, da Lei dos 
Juizados Especiais (Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995), que tem como novidade a referência expressa às obrigações de 
entrega de coisa: 
Art. 52. [...] 
V - nos casos de obrigação de entregar, de fazer, ou de não fazer, o juiz, na sentença ou na fase de execução, cominará multa 
diária, arbitrada de acordo com as condições econômicas do devedor, para a hipótese de inadimplemento. Não cumprida a 
obrigação, o credor poderá requerer a elevação da multa ou a transformação da condenação em perdas e danos, que o juiz de 
imediato arbitrará, seguindo-se a execução por quantia certa, incluída a multa vencida de obrigação de dar, quando evidenciada 
a malícia do devedor na execução do julgado.
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Tutela jurisdicional objetivada
137
plus existente na primeira, que, além de condenar, ordena, manda; eventual des-
cumprimento de um comando mandamental do juiz configura crime (de desobe-
diência ou de responsabilidade). Isso sem prejuízo de medidas que o juiz deverá 
determinar, dentro dos limites estabelecidos pela lei, a fim de assegurar o resul-
tado prático equivalente, como os meios sub-rogatórios mais adequados para 
o específico cumprimento do comando judicial. Procura-se, antes de tudo, a tutela 
específica e não aquela meramente ressarcitória. Portanto, como se depreende, 
a eficácia mandamental pode vir conjugada à eficácia executiva lato sensu ou à 
eficácia condenatória, sendo certo que nos artigos 273 e 461 pode ser verificada 
a conjugação de muitas das eficácias já mencionadas.10
Na verdade, as sentenças mandamentais e as sentenças executivas lato sensu 
parecem ser assimiláveis nas espécies contidas na classificação tradicional. De 
toda forma, representam um modo diverso de verificação da eficácia externa das 
decisões no processo e têm a inegável função de melhor elucidar o fenômeno da 
atuação do direito. Além disso, aproximam a atividade de conhecimento da con-
creta realização dos direitos e contribuem para relativizar a dicotomia entre pro-
cesso de conhecimento e processo de execução, ou seja, para superar a ultrapas-
sada hendíadis condenação-execução. Essa, sem dúvida, parece constituir a maior 
vantagem da distinção. 
O importante na classificação da eficácia das decisões é esclarecer, da melhor 
maneira possível, o efeito do ato jurisdicional no plano do direito substancial, 
assim o objetivoprecípuo é o de integrar cada vez mais o processo com o direito 
material ameaçado ou violado. Parecem ser de todo ultrapassados os critérios 
diferenciadores das diversas modalidades de tutela a partir de um enfoque unica-
mente processual.11
Declaração e condenação
Outros provimentos de natureza jurisdicional possuem força executiva que 
lhes é atribuída por disposição normativa explícita ou pelo próprio sistema. 
E devem ser equiparados às sentenças civis condenatórias.
10 Nesse sentido, Kazuo Watanabe (1996, p. 24-29); Teresa Arruda Alvim Wambier (1997, p. 78).
11 Com esse entendimento, Rapisarda (1987, p. 216-219). Esse é um dos motivos pelo qual se sustenta a tutela inibitória como 
uma outra categoria, distinta das demais tradicionalmente conhecidas.
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138
Tutela jurisdicional objetivada
Na verdade, todas as sentenças proferidas no Processo Civil que definam de 
modo completo uma norma jurídica, contendo prestação exigível, são títulos 
que, até por decorrência constitucional, ensejam ao credor a postulação de tutela 
satisfativa de direito.
Se a sentença meramente declaratória contiver todos os elementos identifica-
dores da obrigação (sujeitos, prestação, liquidez e exigibilidade), não há como se 
negar sua eficácia executiva. Impor uma nova cognição para que sentença futura 
imponha apenas a sanção executiva atenta contra o bom-senso e a economia 
processual. O processo tornar-se-ia atividade burocrática e despicienda.12
Tudo isso de modo a tomar consciência de que o processo não vale tanto pelo 
que ele é, mas fundamentalmente pelos resultados que produz. Mesmo porque 
a preocupação com a técnica é justificável, apenas e tão somente, enquanto meio 
para atingir fins. 
A tutela jurisdicional deve ser concebida como algo além de uma mera garan-
tia de acesso ao Poder Judiciário, mas principalmente de outorga, a quem tiver 
razão, de uma tutela jurisdicional efetiva, adequada e tempestiva. Com serviços 
jurisdicionais de boa qualidade, obtém-se uma tutela adequada, compatível 
e aderente aos interesses em jogo no processo. 
O título executivo é o ato ou fato documental que torna adequada a tutela 
jurisdicional executiva. É documento, mas não prova a real existência do direito 
material; prova os predicados essenciais de um direito passível de ser executado: 
certeza (an debeatur, consistente na precisa indicação do direito), liquidez (quan-
tum debeatur – valor do direito) e exigibilidade. Assim, se a sentença apresenta 
todos os elementos descritivos da obrigação, não há como se negar a sua possibi-
lidade de dar ensejo à execução de imediato.13
12 Nessa linha, Zavascki (1999, p. 101-102).
13 Ver Zavascki (2005, p. 56).
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Tutela jurisdicional objetivada
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Ampliando seus conhecimentos
Dicas de leitura:
Instituições de Direito Processual Civil, de Cândido Rangel Dinamarco, editora 
Malheiros.
Execução Provisória, de Paulo Henrique dos Santos Lucon, editora Revista dos 
Tribunais.
Curso de Direito Processual Civil, de Ovídio Baptista da Silva e Fábio Luiz Gomes 
editora Revista dos Tribunais.
Sugestões aos alunos:
Verificar a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça a respeito de provi-
mentos declaratórios com eficácia executiva.
Examinar também na jurisprudência os efeitos do julgado no tempo, ou seja, 
em que situações os provimentos retroagem seus efeitos (efeitos ex tunc) e em 
que casos isso não ocorre (efeitos ex nunc).
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Sergio Torres Teixeira
Introdução
A jurisdição, considerada abstratamente como função do Estado e mani-
festação do seu poder soberano, é una e indivisível. 
Considerada em si mesma, a jurisdição emana da soberania do Estado, e, 
como a soberania estatal é única, idêntica unicidade revela a jurisdição. Se não 
houvesse tal indivisibilidade, haveria dentro de um mesmo Estado, de modo 
paradoxal, uma diversidade de soberanias. Como consequência, a jurisdição, 
enquanto manifestação de um poder unitário, não admite divisões. 
Nessa linha de pensamento, a jurisdição abrange toda a atividade judi-
cante envolvendo a declaração e concretização do direito nos casos subme-
tidos ao Poder Judiciário. Seja qual for a índole da causa submetida ao órgão 
jurisdicional específico que vai proferir o julgamento, é uma só jurisdição que 
estará sendo exercida pelo Estado-juiz. 
Em que pese tal natureza de instituição indivisível, a jurisdição é, na prá-
tica, dividida segundo determinadas categorias e de acordo com certos crité-
rios, criados pelos acadêmicos e pelos parlamentares.
A doutrina processual revela, assim, a presença de diversas classificações 
da jurisdição, segundo critérios didáticos, com o intuito de facilitar a apren-
dizagem e a compreensão do respectivo instituto (jurisdição civil e juris-
dição penal, jurisdição superior e jurisdição inferior etc.). O legislador, por 
seu turno, divide a jurisdição segundo a natureza da atividade jurisdicional 
a ser desenvolvida (jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária), e, ainda, 
quanto ao seu exercício, distribuindo-a dentre os órgãos que integram o 
Poder Judiciário.
É esta última modalidade de divisão da jurisdição que interessa ao tema 
do presente estudo.
Competência
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142
Competência
A jurisdição não é exercida por um único órgão estatal, mas sim por uma plura-
lidade de órgãos que integram a estrutura do Judiciário. Como uma consequência 
lógica da necessidade de dividir o trabalho judicante para obter maior eficiên-
cia na prestação jurisdicional, a jurisdição é distribuída entre aqueles órgãos que 
formam o respectivo poder, considerando a extensão territorial do país e a distri-
buição da população, bem como peculiaridades acerca das próprias causas. 
A jurisdição, por conseguinte, é dividida quanto à definição do âmbito de seu 
exercício pelos diversos órgãos que integram o Poder Judiciário. Trata-se, assim, 
do instituto da competência, de fundamental importância dentro do estudo do 
Direito Processual. 
Competência: generalidades
O termo competência, segundo a melhor etimologia, revela origem no latim 
competentia, significando proporção ou simetria. 
Numa acepção mais popular, competência corresponde à capacidade ou apti-
dão de uma pessoa de cumprir adequadamente determinado ofício ou atividade. 
Nas conversas usuais do brasileiro, assim, é comum chamar de “competente” o 
profissional bem conceituado em virtude de suas habilidades no exercício de 
suas atribuições e em face da qualidade do seu trabalho. No seu sentido técnico- 
-processual, entretanto, o termo competência não guarda ligações com a quali-
dade da atividade desenvolvida, mas sim com a legitimidade da sua execução 
dentro do âmbito de atuação definida pelo legislador.
A doutrina processual apresenta um rico elenco de conceitos, dentre os quais 
se destacam, no plano da literatura estrangeira, o de Francesco Carnelutti (1999, 
p. 256-257), “[...] poder pertencente ao ofício ou ao oficial considerado na sua sin-
gularidade”, e, no plano pátrio, os de Moacyr Amaral Santos (2002, p. 199), “[...] 
poder de exercer a jurisdição nos limites estabelecidos pela lei ou o âmbito dentro 
do qual o juiz pode exercer a jurisdição” e de Humberto Theodoro Júnior (2005, 
p. 176), “[...] critério de distribuir entre os vários órgãos judiciários as atribuições 
relativas ao desempenho da jurisdição.”
Na técnica processual, portanto,competência corresponde à medida ou ao 
limite da jurisdição em relação à atuação judicante de um órgão jurisdicional, ou 
seja, o âmbito dentro do qual o magistrado exerce o seu poder jurisdicional.
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Competência
143
Classificação da competência
No âmbito tanto da doutrina como da legislação processual, a competência 
é classificada segundo diversos critérios.
Quanto à matéria a ser apreciada pelo órgão jurisdicional, por exemplo, é 
comum ver a doutrina tratar de modalidades como competência civil, compe-
tência penal, competência trabalhista etc. Trata-se de uma classificação segundo 
a natureza da relação controvertida ou a índole do objeto litigioso, utilizada para 
facilitar a visualização do âmbito de atuação do respectivo órgão e suas eventuais 
subdivisões.
No que tange à prorrogabilidade, por sua vez, a competência é classificada em 
absoluta e relativa. Tal divisão apresenta como critério de distinção a possibilidade 
– ou não – de um órgão originalmente incompetente para julgar a causa passar 
a ter ampliada a sua esfera de atuação para alcançar a respectiva causa em virtude 
da verificação de causa de modificação legalmente prevista. A causa justificadora 
dessa divisão é que o legislador, ao distribuir o exercício da jurisdição entre os 
órgãos do Judiciário, nem sempre se limitou a observar o interesse público acerca 
da eficiência da função jurisdicional, mas também o interesse particular refletido 
em eventuais conveniências da(s) parte(s) litigante(s).
Tal divisão, assim, encontra amparo no âmbito do Código de Processo Civil 
(CPC) nos termos do seu artigo 111, caput:
Art. 111. A competência em razão da matéria e da hierarquia é inderrogável por convenção das 
partes; mas estas podem modificar a competência em razão do valor e do território, elegendo 
foro onde serão propostas as ações oriundas de direitos e obrigações.
Nesse sentido, a competência relativa é aquela que se revela prorrogável, ou 
seja, modificável em relação ao seu âmbito original, seja por vontade dos litigan-
tes, seja por causas legais de modificação. Envolve, como regra, a competência 
definida segundo critérios vinculados ao território ou ao valor da causa, uma vez 
que em princípio é o interesse privado das partes que prevalece na distribuição 
da jurisdição no plano territorial1 ou no âmbito do valor atribuído à demanda.
1 Existem, contudo, exceções legais à prorrogabilidade de determinadas hipóteses de competência territorial. É o caso, por 
exemplo, das ações imobiliárias relativas a direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras 
e nunciação de obra nova (CPC, art. 95).
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144
Competência
Um juízo originalmente incompetente em razão do lugar para julgar uma 
causa, por exemplo, poderá ter sua competência prorrogada para julgá-la 
quando, proposta perante tal órgão originalmente sem competência territorial, a 
parte adversa não suscita oportunamente a questão mediante a oposição de uma 
exceção processual (CPC, art. 114), ou ainda, quando as partes tiverem previa-
mente celebrado um contrato escrito cujo objeto seja a modificação da compe-
tência territorial originária mediante um “foro de eleição” (CPC, art. 111), no qual 
as partes elegem aquele juízo como o competente (em termos territoriais) para 
julgar demandas envolvendo direitos e obrigações pertinentes a determinado 
negócio jurídico.
De igual forma, existem motivos legais de prorrogação de competência rela-
tiva, como a conexão ou a continência de causas (CPC, arts. 102 a 105), ou, ainda, 
a existência de vínculo de dependência entre uma ação principal e uma acessória 
ou incidental (CPC, arts. 108 e 109). 
Competência absoluta, por outro lado, é a competência improrrogável, ou 
seja, aquela que não pode ser modificada em relação ao seu âmbito original, seja 
por vontade das partes, seja por motivo legal de prorrogação. Como prevalece 
o interesse público (conveniência da função jurisdicional) quanto à distribuição 
da jurisdição no plano hierárquico e segundo as especializações de cunho mate-
rial dos órgãos julgadores, não é suscetível de alteração a competência fixada 
segundo a função do órgão ou a matéria a ser apreciada.
No tocante ao âmbito de especificação, a competência pode ser exclusiva 
(apenas determinado órgão jurisdicional se revela competente para apreciar 
a questão) ou concorrente (mais de um órgão jurisdicional se apresenta, simul-
taneamente, como competente para julgar a causa). Exemplo de competência 
exclusiva é aquela prevista no artigo 89 do CPC, estipulando que unicamente 
um órgão jurisdicional brasileiro terá competência para julgar ações envolvendo 
imóveis localizados no Brasil ou herança e partilha de bens localizados no Brasil. 
Exemplo de competência concorrente ocorre quando dentro de uma mesma 
comarca existem diversas varas com exatamente o mesmo âmbito de competên-
cia, ficando a divisão das causas sujeita a simples procedimento de distribuição. 
E, ainda, quanto ao âmbito institucional, é comum dividir a competência em 
competência internacional e competência interna. Esta se refere à distribuição do 
exercício do poder jurisdicional dentre os órgãos que formam o Poder Judiciá-
rio brasileiro. A competência internacional, por outro lado, se refere àquela posta 
diante da jurisdição do Poder Judiciário de outro país.
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Competência
145
Como o Brasil não é o único país no mundo, e, como consequência, convive 
dentro de uma comunidade internacional de nações, é imprescindível estipular 
diretrizes para definir qual o âmbito de atuação dos órgãos jurisdicionais pátrios 
em comparação com juízos estrangeiros. Com fundamento nos princípios da so-
berania (visando assegurar a soberania brasileira e evitar conflitos internacionais 
com outros países) e da efetividade (assegurar a viabilidade do cumprimento das 
decisões judiciais proferidas pelos juízes brasileiros), torna-se indispensável esti-
pular tais limites da competência do Judiciário pátrio em termos internacionais.
A disciplina da competência internacional no plano do Processo Civil, por sua 
vez, é extremamente simples. Segundo o artigo 88 do CPC, existe competência 
internacional cumulativa (competência tanto de órgãos judiciais brasileiros como, 
eventualmente, de órgãos estrangeiros) para o Judiciário pátrio julgar causas em 
que o réu (independentemente da sua nacionalidade) estiver domiciliado no 
Brasil, em que a obrigação tiver que ser cumprida no Brasil e em que o fato ou ato 
que suscitou o conflito tenha ocorrido no Brasil. O autor da ação poderá propor a 
demanda diante do Judiciário brasileiro em qualquer uma de tais hipóteses, sem 
prejuízo de um tribunal estrangeiro também reconhecer sua competência para 
julgar a causa.
O artigo 89 do CPC, por outro lado, estabelece a competência exclusiva do 
Judiciário brasileiro para julgar causas envolvendo bens imóveis localizados no 
país e para processar e julgar o inventário e partilha de bens aqui localizados, inde-
pendentemente da nacionalidade e do local de residência do autor da herança. 
Em tais hipóteses, eventual sentença estrangeira simplesmente não terá eficácia 
jurídica dentro do Brasil e sequer poderá ser homologada. 
O artigo 90 do CPC, merece destaque ainda, dispõe que na hipótese de com-
petência concorrente (CPC, art. 88), a propositura de ação perante órgão jurisdi-
cional estrangeiro não enseja o surgimento dos efeitos da litispendência, e, assim, 
não haverá obstáculo ao acesso ao judiciário brasileiro em virtude da duplicidade 
de ações em tais moldes.
Competência internaConforme anteriormente destacado, a competência interna compreende a dis- 
tribuição do poder jurisdicional dentre os diversos órgãos que compõem o Judi- 
ciário brasileiro. Dentro da estrutura da Justiça Nacional, existem milhares de ór-
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146
Competência
gãos judiciais, quando considerados tanto os juízes de primeiro grau como os 
órgãos colegiados dos vários tribunais, e, assim, tanto em virtude da lógica da 
eficiência pela divisão do trabalho como em face da necessidade de proporcionar 
o aperfeiçoamento da atividade de entrega da prestação jurisdicional, o legisla-
dor promove tal distribuição segundo critérios racionais.
Segundo Humberto Theodoro Júnior (2005, p. 182), tal “divisão” da jurisdição, 
assim, é promovida à luz dos seguintes elementos da estrutura judiciária do país: 
a existência de diversas ramificações da Justiça, nos termos delineados pela �
Constituição Federal (CF) de 1988; 
a existência, em cada uma dessas “Justiças”, de órgãos de grau superior e de �
grau inferior; 
a existência de normas de organização judiciária dividindo os órgãos de �
primeiro grau em seções judiciárias e comarcas; 
a possibilidade de existirem órgãos com competência concorrente; e �
a possibilidade de existirem juízes de cargos variados, alguns dos quais �
com competência reduzida.
Com base em tais elementos, o legislador promove a distribuição do poder 
jurisdicional mediante uma série de operações lógicas para proporcionar a mais 
equilibrada fórmula de atribuição de competência (GRINOVER; CINTRA; DINA-
MARCO; 2002, p. 231). Dentre tais procedimentos racionais, destacam-se os 
seguintes: 
a constituição diferenciada de órgãos jurisdicionais (alguns monocráticos, �
outros colegiados etc.); 
a formulação de � massas de causas em grupos considerando as peculiarida-
des da causa e do respectivo processo; e 
a atribuição de cada um de tais classes de causas ao órgão que se apre- �
senta como mais adequado e idôneo para julgar as respectivas demandas, 
à luz de critérios legislativos que refletem tais características e os do próprio 
juízo.
Dentro de tal contexto, existem no âmbito do Processo Civil brasileiro basi-
camente cinco elementos considerados para fins de critérios de distribuição de 
competência: 
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Competência
147
a matéria litigiosa; �
as pessoas em lide; �
a função do órgão jurisdicional; �
o lugar; �
o valor da causa. �
A competência material ou em razão da matéria (ratione materiae) é definida 
segundo a natureza da relação jurídica ou causa ou então pela índole do objeto 
da lide. 
A competência pessoal ou em razão da pessoa (ratione personae), por sua vez, 
é delimitada segundo a qualidade da pessoa dos litigantes, ou seja, segundo 
a condição dos sujeitos em lide. Compete aos juízes federais, assim, o julgamento 
de causas em que a União for interessada como parte, assistente ou oponente, 
exceto as de falência, de acidente do trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e 
à Justiça do Trabalho, nos termos do artigo 109 da CF.
A competência funcional (hierárquica ou em razão da função), por outro lado, 
é definida segundo a função que o órgão jurisdicional é chamado a exercer em 
relação a uma determinada demanda. Tal critério se desenvolve tanto no sentido 
vertical (em relação a órgãos de graus distintos) como no plano horizontal (dentre 
órgãos de um mesmo grau). Nesse sentido, enquanto a causa é originalmente 
julgada perante um juiz de primeiro grau (órgão a quo), o julgamento de eventual 
apelação se encontra dentro da competência funcional (vertical) do respectivo Tri-
bunal (órgão ad quem). De igual forma, enquanto o recurso originalmente passa 
por exames e atos praticados pelo desembargador designado como relator e por 
outro designado como o revisor do recurso, a competência funcional (horizontal) 
para julgar o recurso é da turma à qual pertencem os respectivos magistrados. 
A competência territorial ou em razão do lugar (ratione loci ou territorii), por 
seu turno, se relaciona com a circunscrição territorial na qual o órgão exerce a sua 
atividade. Várias são as hipóteses que podem ser consideradas, destacando-se as 
seguintes: 
segundo o lugar onde se encontram ou residem os sujeitos; �
segundo o lugar onde se encontra o objeto litigioso; �
segundo o lugar onde a obrigação deve ser cumprida; �
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148
Competência
segundo o lugar que deu origem à lide; �
segundo o lugar em que foram produzidos os efeitos do ato que originou �
a lide.
A competência em razão do valor da causa, por fim, é definida segundo o valor 
econômico do objeto da demanda ou segundo o valor da relação litigiosa. É o que 
ocorre no âmbito dos juizados especiais cíveis, quando a competência do órgão 
jurisdicional se limita a determinado teto quantitativo quanto ao valor atribuído 
à causa.
Tais critérios definidores da competência, entretanto, não devem ser vistos 
como elementos isolados. Pelo contrário, devem ser considerados no seu con-
junto.
Nesse sentido, o legislador usualmente utiliza de modo simultâneo diversos 
desses elementos para definir a competência de um órgão jurisdicional para 
determinadas massas de causa. Suficiente para confirmar tal quadro é o exame 
do artigo 100, caput, I, do CPC:
Art. 100. É competente o foro:
I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em divór-
cio, e para a anulação de casamento;
O termo foro se refere ao órgão de primeiro grau (competência funcional). 
O termo residência, por seu turno, se vincula a uma referência espacial (competên-
cia territorial). O termo mulher, por sua vez, indica um critério ligado à qualidade 
de uma das partes (competência pessoal). E, por fim, a expressão ação de separa-
ção dos cônjuges e a conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento 
se refere à natureza da matéria litigiosa (competência material).
Coexistem dentro de um mesmo dispositivo do principal diploma brasileiro de 
Processo Civil, destarte, elementos pertinentes a quadro das espécies de critérios 
utilizadas na seara da competência interna.
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Competência
149
Ampliando seus conhecimentos
A “dica” do professor é proceder a um estudo dos critérios definidores da com-
petência, mediante exercícios práticos envolvendo hipóteses de julgamento de 
causas, à luz de obras como Jurisdição e Competência, de Athos Gusmão Car-
neiro.
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151
Sergio Torres Teixeira
Introdução
Jurisdição. Ação. Processo.
Três elementos. Distintos, mas indissociáveis. Os grandes pilares do Direito 
Processual.
A atividade jurisdicional do Estado é, por excelência, uma atividade provo-
cada. Originalmente inerte, o juiz, para agir, precisa ser suscitado, no sentido 
de que incumbe à parte legitimada e interessada suscitar a intervenção do 
Judiciário, convocando-o a cumprir sua função de proporcionar uma ade-
quada prestação jurisdicional. 
Ao poder-dever da jurisdição, portanto, se posiciona de forma diametral-
mente como elemento de correspondência recíproca de um direito do cida-
dão: o direito de provocar o exercício de tal poder estatal para que o Estado 
cumpra seu dever. Trata-se de um contraponto à jurisdição, essencial à sua 
dinâmica.
Com a devida invocação, o Estado-juiz iniciaa sua atuação concretizadora 
do direito, realizando sua missão maior de pacificar com justiça. 
É mediante o exercício do direito de ação, por sua vez, que o sujeito legi-
timado e interessado concretiza tal provocação, formulando sua pretensão 
processual ao magistrado para que este intervenha na situação litigiosa, 
resolvendo a lide de modo a resguardar o império da Lei.
O estudo da ação, de sua natureza e dos seus elementos, corresponde 
a um dos capítulos mais relevantes da ciência processual.
Ação: generalidades
A palavra ação deriva primitivamente do latim actio, que significa ação, 
agir. Numa acepção popular, ação compreende o ato de agir, mas num sen-
Ação: elementos e condições
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152
Ação: elementos e condições
tido técnico-processual, corresponde ao direito público subjetivo da parte, exer-
cido como forma de invocar a atuação do Judiciário para que tal poder possa cum-
prir o seu dever constitucional de declarar o direito e realizar justiça. 
Trata-se, em síntese, do direito de provocar a atuação judicial do Estado-juiz 
e obter uma prestação jurisdicional.
A doutrina processual apresenta uma série imensurável de conceitos acerca 
do direito de ação. Desde a Roma Antiga, o pensador Celso já lecionava que 
actio autem nihil aliud este quam ius persequendi in iudicio quod sibi debetur (“em 
verdade, a ação nada mais é do que o direito de perseguir em juízo o que nos 
é devido”). Mais adiante, já no meio da fase do Processualismo Científico, Fran-
cesco Carnelutti o descrevia como o “direito subjetivo que tem o indivíduo como 
cidadão, para obter do Estado a composição do litígio”.
Na literatura brasileira, Ada Pellegrini Grinover (2002, p. 250), conceitua a ação 
como o “[...] direito ao exercício da atividade jurisdicional ou o poder de exigir 
esse direito”, enquanto Santos (2002, p. 159) a define como “[...] o direito de invo-
car o exercício da função jurisdicional; é um direito subjetivo público; é o direito 
de pedir do Estado a prestação de sua atividade jurisdicional.”
A ação judicial, por conseguinte, representa simplesmente o direito à juris-
dição. Em outras palavras, trata-se do direito, subjetivo e público, de provocar o 
Estado-juiz para que este possa exercer o seu poder-dever de entregar a presta-
ção jurisdicional.
Natureza da ação
A questão envolvendo a definição da natureza jurídica da ação constitui uma 
das mais relevantes discussões teóricas da evolução da doutrina processual.
Modernamente, nenhum doutrinador discute a autonomia do direito de ação, 
mas, até chegar a tal ponto, um longo e tortuoso caminho de polêmicas foi per-
corrido e, mesmo nos dias atuais, controvérsias ainda persistem acerca de como 
deve ser interpretada tal autonomia.
Inicialmente, as primeiras teorias que surgiram foram denominadas de “civilis-
tas” ou “imanentistas”, por terem origem em teses de Direito Civil que considera-
vam a ação algo imanente ao direito material, não possuindo vida própria.
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Ação: elementos e condições
153
As teorias em tela, tendo como núcleo a ideia de que a ação seria o próprio 
direito material, uma mera qualidade deste direito, negavam, pois, a autonomia 
do direito de ação, considerando a ação um simples reflexo do próprio direito 
substancial, reagindo contra sua violação, que mediante tal elemento se fazia 
valer em juízo.
Como traduz o conceito de Celso, transcrito na seção anterior, a ação seria o 
direito de pedir em juízo aquilo que é devido ao autor. Não existiria ação sem direito 
e tampouco direito sem ação. Esta, pois, seria algo inerente àquele, seguindo sua 
natureza e índole. A identificação da ação com o direito material, inclusive, levou 
a respectiva matéria a ser estudada como parte do Direito Civil.
Savigny, Unger e Mattirolo estão entre os doutrinadores estrangeiros que ado-
taram tal linha de pensamento. No direito brasileiro, havia resquícios de tais teo-
rias no artigo 75 do antigo Código Civil (CC) brasileiro, que estipulava: “[...] a todo 
direito corresponde uma ação, que o assegura.” Dentre os processualistas pátrios 
que adotavam o pensamento imanentista, destaca-se o nome de João Monteiro.
O ponto inicial do surgimento da teoria autonomista foi a famosa “polêmica 
do actio”, ocorrida na Alemanha entre os anos de 1856 e 1857, envolvendo os 
doutrinadores Windsheid e Muther. Após a publicação de um artigo de lavra de 
Windsheid, abordando o actio romano e o klage alemão, Muther escreveu outro 
trabalho criticando algumas colocações daquele, procurando distinguir o direito 
violado e o direito de ação e apontando a existência de dois direitos públicos 
distintos, que nascem da ação: o direito à tutela jurisdicional do Estado (dirigido 
ao Estado) e o direito à eliminação do dano (dirigido ao adversário). Em seguida, 
Windsheid escreveu novo artigo para refutar algumas das colocações de Muther, 
mas ao final concordou com a tese da existência de um “direito de agir”, que o 
lesado poderia exercer contra o Estado e contra o agressor.
Apesar da célebre polêmica, as ideias dos dois doutrinadores não eram exclu-
dentes, mas sim harmoniosas. Com as colocações publicadas em periódicos da 
época, a discussão acabou por dar grande impulso ao estudo do Direito Proces-
sual e desenvolveu uma nova visão acerca do direito de ação.
Após a “polêmica do actio”, diversos processualistas passaram a desenvolver 
estudos em defesa da autonomia do direito de ação, distinguindo-o do direito 
substancial lesado e reconhecendo a ação como um direito público subjetivo. As 
teorias propostas a partir de tal ponto, contudo, passaram a dividir-se em duas 
correntes distintas.
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154
Ação: elementos e condições
Uma vertente, compostas por teorias “concretistas”, tinha por princípio a ideia 
básica de que a ação era um direito autônomo em relação ao direito substan-
cial, mas ambos eram interdependentes, de forma que somente existiria o direito 
de ação se existisse também o direito material. Outra, a corrente das teorias do 
“direito autônomo e abstrato”, desvinculava a concreta existência do direito mate-
rial como pressuposto de existência do direito de ação. 
Dentre os adeptos da primeira linha, destacam-se nomes de processualistas 
alemães como Oskar von Bülow e Adolph Wach e o do italiano Giuseppe Chio-
venda. Para tais processualistas da fase do Processualismo Científico, prevalece 
a tese de que o direito de ação seria um direito “autônomo e concreto”. 
Para Bülow, a ação representa o direito de exigir a tutela normativa, propor-
cionada por uma decisão justa. Segundo Wach, a ação corresponde a um direito 
público e concreto à tutela jurídica, exercida contra o Estado com o objetivo de 
exigir a proteção prevista na ordem jurídica e contra o adversário para exigir a sua 
sujeição. Agora, como a existência de tutela jurisdicional somente pode ser pro-
porcionada in concreto, para Wach somente com uma sentença favorável é que 
seria reconhecida a existência do direito de ação.
Para Chiovenda, igualmente filiado às ideias concretistas, a ação não seria um 
direito público como defende Wach, pois não é dirigido contra o Estado e sim 
contra a parte adversa. Segundo a visão do famoso processualista italiano, a ação 
é um direito autônomo e potestativo do autor (aquele que tem o direito), diri-
gida contra o réu (aquele que não tem razão), com o intuito de imputar a este 
último a sujeição. Compreende, pois, “[...] o poder jurídico de dar vida à condi-
ção para a atuação da vontade da lei” (GRINOVER; CINTRA; DINAMARCO, 2002, 
p. 251). Dentro de tal contexto, a ação representa umdireito de obter uma decisão 
favorável, e, assim, revela nítida feição “concretista”: somente existirá a ação se 
o direito material for reconhecido como existente e, consequentemente, se houver 
a atuação da vontade concreta da lei. 
Dentre os processualistas brasileiros que aderiram à corrente concretista 
merece destaque o nome de Celso Agrícola Barbi.
Paralelamente aos estudos de Bülow e de Wach (ou seja, antes mesmo 
do desenvolvimento da teoria de Chiovenda), outro jurista alemão, Heinrich 
Degenkolb, elaborou a teoria originária da ação como direito autônomo de abs-
trato. De acordo com tal tese, a ação não se confunde com o direito material e a 
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Ação: elementos e condições
155
sua existência independe da existência efetiva deste. O direito de ação é o direito 
de obter um pronunciamento jurisdicional do Estado, seja este positivo ou nega-
tivo em relação ao interesse material do postulante. Em outras palavras, mesmo 
quando reconhecida (pelo juiz) a inexistência do direito material apontado pelo 
autor, a ação terá existido.
No pensamento de Degenkolb, a sentença de improcedência, na qual se reco-
nhece a inexistência do direito substancial, não prejudica a existência da ação. 
Suficiente para configurar o direito de ação é a menção, pelo demandante, de um 
interesse seu, tutelado abstratamente pela ordem jurídica. Preenchido tal pressu-
posto, o Estado terá que atender à provocação e cumprir seu dever de proporcio-
nar um pronunciamento, mesmo que seja de forma desfavorável ao postulante. 
A ação, assim, é dirigida ao Estado, competindo a este se pronunciar acerca da 
questão litigiosa, sendo irrelevante (para a existência da ação) se a decisão é favo-
rável ou não.
A teoria de Degenkolb influenciou diversos processualistas, notadamente os 
italianos Alfredo Rocco e Francesco Carnelutti. Enquanto este defende a ideia 
de que a ação é um direito abstrato e de índole pública dirigida contra o juiz 
(e não contra o Estado), aquele sustenta que a ação é exercida contra o Estado, 
mas apresenta uma visão curiosa: o exercício do direito de ação, com o intuito 
de proporcionar tutela jurídica a interesses lesados ou ameaçados, faz surgir um 
novo interesse, agora do próprio Estado, em tutelar o interesse do postulante. 
Existe, para Rocco, um interesse principal (o interesse protegido pela ordem jurí-
dica) e um interesse secundário (o interesse à proteção do interesse principal). 
A existência do direito de ação, nesse sentido, está condicionada à simples menção 
de um interesse principal tutelado pelo ordenamento jurídico. 
No Brasil, uma variação da teoria abstrata, defendida por Enrico Tullio Liebman 
(professor italiano que lecionou na Universidade de São Paulo durante meados 
do século passado), teve forte reflexos nos processualistas pátrios. A chamada 
teoria eclética aponta a ação como um poder, de origem constitucional, correlato 
à sujeição e vinculado, instrumentalmente, a uma pretensão substancial.
Enquanto para Degenkolb, o direito de ação se encontra completamente 
desvinculado de qualquer pressuposto ou condição, sendo o simples direito de 
demandar, para Liebman o direito de ação se encontra vinculado às condições da 
ação, de forma que somente existe o direito de ação se as condições estiverem 
presentes no respectivo caso concreto. 
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156
Ação: elementos e condições
No final do século passado, passou a ganhar corpo no Brasil a chamada Reela-
borada Teoria Abstrata do Direito de Ação, adotada por doutrinadores como Cân-
dido Rangel Dinamarco, Kasuo Watanabe, José Carlos Barbosa Moreira e Alfredo 
Buzaid. Para tais processualistas, tanto a teoria originária (de Degenkolb) como 
a eclética (de Liebman) peca por excessos. 
A ação não é simplesmente o direito de demandar, o direito de invocar a atua-
ção do Estado-juiz sem qualquer exigência salvo a de apontar um direito material 
tutelado pela ordem jurídica, mas supostamente ameaçado pelo adversário; e, 
tampouco, o direito de ação é um poder cuja existência pressupõe a demonstra-
ção concreta das condições da ação.
Para a Reelaborada Teoria Abstrata do Direito de Ação, as condições da ação são 
pressupostos de apreciação do mérito da causa, não pressupostos de existência 
da ação. As condições da ação, nesse sentido, são aferidas in statu assertionis, ou 
seja, mediante um exame das afirmações deduzidas em juízo, não de acordo com 
o que vier a ser efetivamente provado no processo.
A ação corresponde, assim, a um direito autônomo e abstrato, do qual é inves-
tido todo cidadão, sendo dirigido imediatamente em face do Estado e mediata-
mente em face do réu, e cuja finalidade é obter um pronunciamento jurisdicional, 
sendo necessário, para que haja o julgamento do mérito da causa, que as condi-
ções da ação sejam aferidas mediante um exame in statu assertionis. 
Elementos da ação
Segundo a doutrina processual tradicional, a ação apresenta três elementos 
identificadores: 
as partes; �
o objeto (pedido); e �
a causa de pedir. � 1
1 São tais elementos de identificação, por sua vez, que permitem a definição da existência de ações idênticas para fins de li-
tispendência e coisa julgada (CPC, art. 301, §§ 1.º, 2.º e 3.º).
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Ação: elementos e condições
157
Tal é, inclusive, a técnica do artigo 301, parágrafo 2.º, do Código de Processo 
Civil (CPC):
Art. 301. [...]
§2.º Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o 
mesmo pedido.
As partes processuais são o(s) autor(es) e o(s) réu(s), e, eventualmente, o Minis-
tério Público (MP) (como parte pública especial) e os terceiros intervenientes.
Importante destacar que o direito de ação é exercido, numa visão mais abran-
gente, tanto pelo autor como pelo réu. Este, mesmo quando se defende mediante 
a apresentação de uma contestação, não deixa de formular um pedido de tutela 
jurisdicional dirigido ao Estado-juiz. Há, assim, uma pretensão processual corpori-
ficada na defesa do demandado.
O objeto da ação, por outro lado, se refere ao pedido formulado pela parte 
postulante (seja esta o autor ou o réu). 
O pedido é costumeiramente subdividido em pedido imediato, relativo 
à pretensão processual e dirigido ao Estado-juiz, e o pedido mediato, vincu- 
lado à pretensão material e direcionado à parte adversa.
A causa de pedir, por sua vez, se relaciona aos fatos e fundamentos jurídicos 
do pedido. No Processo Civil se aplica a teoria da substanciação, segundo a qual 
é necessário ao postulante indicar tanto o quadro fático como a fundamentação 
jurídica de sua pretensão (CPC, art. 282, III). 
A causa de pedir, por sua vez, é subdividida na doutrina em remota e próxima. 
Esta corresponde ao fato gerador que ensejou o conflito de interesses (por exem-
plo, o descumprimento da obrigação de pagar uma quantia prevista em contrato). 
Aquela, por outro lado, é o liame fático e/ou jurídico que vincula os sujeitos (por 
exemplo, a própria relação obrigacional entre as partes decorrente do contrato 
assinado por ambas).
Os chamados elementos de identificação da ação, merece ser destacado, não se 
confundem com as condições da ação. 
O regular exercício do direito de ação, segundo a sistemática do modelo pro-
cessual brasileiro, impõe a satisfação de determinadas exigências. Não se trata de 
elementos essenciais à existência da ação, mas sim de elementos cuja presença 
é necessária para que o Estado-juiz possa se pronunciar sobre o mérito da causa.
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158
Ação: elementose condições
As condições da ação, assim, não são requisitos exigidos para que a ação exista 
no mundo empírico, mas requisitos necessários para o julgamento da causa. 
Representam, pois, exigências de ordem processual, sem cujo atendimento o 
Estado-juiz não poderá examinar a lide e dar aos litigantes uma solução que com-
ponha definitivamente o conflito intersubjetivo de interesses.
Ampliando seus conhecimentos
A “dica” do professor é proceder a um estudo das diferentes teorias acerca da 
natureza da ação, e, ao final, escolher aquelas em relação às quais o aluno consi-
derou mais bem fundamentadas.
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Paulo Henrique dos Santos Lucon
Conceito constitucional
A ação é o poder de exigir do Estado um provimento jurisdicional.
A ação, do ponto de vista constitucional, é uma garantia constante do 
inciso XXXV do artigo 5.º, segundo o qual
Art. 5.º [...]
XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário qualquer lesão ou ameaça a 
direito;
É, portanto, instituto ligado ao Direito Processual Constitucional, método 
particular de exame do processo a partir dos princípios, garantias e regras 
constantes da Constituição Federal (CF).
A ação pode ser vista como uma garantia de acesso aos órgãos jurisdicio-
nais. Nessa linha, a ação aproxima-se do acesso à Justiça pelo aspecto formal, 
de ingresso junto aos órgãos jurisdicionais. Difícil não é garantir, nos órgãos 
jurisdicionais estatais, a porta de entrada, mas a porta de saída, com uma 
solução justa e célere. Por isso é que a ação por esse enfoque reduzido seria 
vista apenas como o direito incondicional, genérico e abstrato de que todos 
têm acesso aos órgãos jurisdicionais e, assim, a ação representaria o poder de 
demandar.
Acesso à Justiça, 
celeridade e segurança jurídica
A ação é vista como o direito de exigir um provimento jurisdicional justo 
e célere. Por essa linha, a ação aproxima-se do acesso efetivo à Justiça ou 
acesso à ordem jurídica justa e procura coadunar dois postulados relevantes e 
Ação e suas condições
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162
Ação e suas condições
aparentemente incompatíveis: celeridade e segurança jurídica.1 O acesso à ordem 
jurídica justa é a abertura de caminhos com vista à obtenção de soluções justas 
para os conflitos por meio da correta interpretação e aplicação das normas de 
direito material.
A ação somente se efetiva mediante um processo célere, sem dilações indevi-
das (VIGORITTI, 1986, p. 319),2 e com a fiel observância do direito material inter-
pretado em consonância com os atuais padrões éticos e sociais de toda a nação. 
É importante que o direito constitucional de ação suplante aspectos processuais, 
admitindo-se, por exemplo, que o juiz incompetente conceda medidas urgen-
tes: o objetivo é tutelar o jurisdicionado e não priorizar aspectos processuais que 
podem ser relevados sem a ofensa de princípios e garantias superiores. 
Pressupostos de admissibilidade 
ao julgamento de mérito
Para o exercício efetivo da ação, devem estar presentes os pressupostos de 
admissibilidade ao julgamento de mérito3, que são as condições da ação e os pres-
su-postos de constituição e de desenvolvimento do processo. 
Teorias
Teoria eclética
O Código de Processo Civil (CPC), de 11 de janeiro de 1973, adotou a teoria 
eclética da ação de Enrico Tullio Liebman. Segundo essa teoria, a ação estaria 
sujeita a certas condições, sem as quais há a extinção do processo sem resolu-
ção do mérito (CPC, art. 267, VI). Possibilidade jurídica do pedido, interesse pro-
cessual e legitimidade ad causam são as condições da ação que integram, em 
conjunto com os pressupostos processuais, os pressupostos de admissibilidade ao 
julgamento do mérito. Sem qualquer uma delas, o demandante será considerado 
carecedor da ação. 
1 A expressão ordem jurídica justa é atribuída ao processualista Kazuo Watanabe (1987, p. 161 e ss.).
2 Sobre o direito ao processo sem dilações indevidas, ver Cruz e Tucci (1993, p. 99 e ss.; 1998, p. 63-88) e Gimeno Sendra (1998, 
p. 137-139).
3 Essa expressão deve ser atribuída a Alfredo Buzaid (1958, p. 111).
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Ação e suas condições
163
A referida teoria sustenta a sua presença no ordenamento jurídico tal como 
preconizado inicialmente por seu idealizador, Liebman. É importante ressaltar 
que Liebman, a partir da terceira edição de seu Manual de Direito Processual Civil 
(1985, p. 160-161, nota 106 do tradutor Cândido Rangel Dinamarco), afasta a 
possibilidade jurídica do pedido como condição da ação no momento em que o 
ordenamento jurídico italiano passa a aceitar o divórcio.4 Outras situações de pro-
vimentos jurisdicionais não admitidos pela lei passaram a ser tidas como ausência 
de interesse de agir.5 Nessa visão, as condições da ação podem ser aferidas a qual-
quer tempo no processo e impedem efetivamente o exame do mérito da causa, 
viabilizando a repropositura da demanda. Essa teoria potencializa as condições 
da ação, quando se sabe que hoje elas procuram ser cada vez mais relativizadas. 
Teoria da asserção
Há ainda os adeptos da denominada teoria da afirmação, segundo a qual as 
condições da ação devem ser aferidas in statu assertionis. Segundo essa particu-
lar visão, as condições da ação somente podem ser aferidas a partir das afirma-
ções (asserções) feitas pelo demandante. Se, a partir dos elementos constantes da 
petição inicial, o juiz constatar a ausência de uma das condições da ação, deverá 
extinguir o processo sem resolução do mérito (CPC, art. 267, VI). Depois de imple-
mentado o contraditório e a partir das razões apresentadas pelo demandado, se 
presentes os demais pressupostos de admissibilidade ao julgamento do mérito, 
o juiz poderá apenas extinguir o processo com resolução do mérito (CPC, art. 269). 
Assim é que as condições da ação se transformariam no próprio mérito da causa. 
Esse particular enfoque do fenômeno deixa sem explicação adequada aquelas 
situações de carência de ação superveniente (por exemplo, muitos casos de perda 
de interesse processual). 
Teoria das questões de mérito
Uma outra visão do fenômeno liga, corretamente, as condições da ação às 
questões de mérito que devem ser lógicas e necessariamente analisadas a fim de 
4 Ironicamente entrou em vigor no mesmo ano o CPC brasileiro, contendo a possibilidade jurídica do pedido (ou da demanda) 
entre as condições da ação e consagrando legislativamente a teoria original de Liebman. 
5 Cândido Rangel Dinamarco (1998, p. 393), defensor das três condições da ação, explica a razão pela qual não poderia haver 
essa confusão: “[...] o interesse de agir é apenas processual e corresponde à utilidade do provimento. A possibilidade jurídica 
é conceito que recebe mais intensos influxos do direito substancial e constitui projeção processual dos limites da área que o 
próprio direito substancial cobre”.
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164
Ação e suas condições
permitir que o pedido deduzido pelo demandante possa ser apreciado. Nessa 
linha, as condições da ação aproximam-se do mérito, mas não o integram. A 
ausência de qualquer uma delas provoca a extinção do processo e o provimento 
emanado tem, na maior parte das situações, repercussões externas ao processo. 
Por isso, as condições da ação, embora não se referiam propriamente ao mérito, 
que é o objeto do processo e estáligado à pretensão processual, inserem-se em 
uma ideia maior de técnica processual, na medida em que propiciam uma solu-
ção célere para o conflito, e prestigiam a integração do fenômeno direito material 
e processo. 
Matéria de ordem 
pública e extinção do processo
Possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade ad causam 
são requisitos de ordem pública, sem os quais o processo pode instaurar-se, mas 
não chegará jamais ao provimento postulado (no processo de conhecimento, 
é a sentença de mérito). 
Ausentes quaisquer desses requisitos, conhecidos por condições da ação, o juiz 
declara o demandante carecedor de ação. Isso significa que, para o caso concreto, 
não tinha o poder de exigir o provimento de mérito, no processo de conheci-
mento, ou o provimento satisfativo, no processo de execução. Tinha, como todos 
têm, o poder de acionar os órgãos da jurisdição para receber aquela declaração. 
Esse poder é o direito de petição, direito de demandar incondicionado, ou direito 
à administração da justiça, ou, ainda, ação em sentido impróprio, que não se sujeita 
a condição alguma e está garantida pela CF (Art. 5.º, XXXV). 
O não preenchimento de tais condições determina a carência da ação e acar-
reta a extinção anormal do processo, sem resolução do mérito (CPC, art. 267, VI). 
Hipóteses em que não há 
extinção do procedimento principal
Evidentemente, o processo não se extinguirá se o juiz indeferir em parte a peti-
ção inicial. Isso ocorre em situações bem delineadas, quando os motivos de inde-
ferimento dizem respeito:
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Ação e suas condições
165
a algum dos sujeitos da relação jurídica processual; �
a parte dos fundamentos da demanda; ou �
à parcela do pedido. �
Em todas essas situações, parte da demanda permanece íntegra, de modo a 
ser possível identificar os elementos da ação (partes, causa de pedir e pedido). 
As causas extintivas de natureza processual não foram suficientes para extinguir 
o processo, que pode prosseguir. 
Momento da apreciação
O momento da apreciação dessas condições, a eficácia dessas decisões, enfim, 
tudo é subordinado à disciplina do processo de conhecimento: a inicial pode ser 
rejeitada (indeferimento), o processo pode ser extinto na fase ordinatória, antes ou 
depois da audiência prevista no artigo 331 do CPC etc. Todavia, importa destacar 
que as condições da ação não são resultantes da mera alegação do demandante, 
mas da situação substancial trazida a julgamento. Apesar dessa observação, pelo 
sistema descrito no CPC e sob um enfoque puramente legalista, a decisão é sobre 
o processo e não de mérito, na medida em que faltam pressupostos para o julga-
mento deste. Nessa linha, com a extinção do processo sem julgamento de mérito, 
o autor não está impedido de repropor a demanda, já que a coisa julgada material 
não se operou – mas é claro que um processo não será idêntico ao outro; se isso 
acontecer, a causa determinante para extinção terminativa do processo será idên-
tica àquela do processo anterior. 
Condições da ação
Legitimidade ad causam
A primeira das condições da ação, legitimidade ad causam, que supõe a capa-
cidade, é a idoneidade do sujeito, como atributo do sistema jurídico,
[...] para a prática de determinado ato ou para suportar seus efeitos, emergente em regra da 
titularidade de uma relação jurídica ou de uma situação de fato com efeitos jurígenos, asse-
guradora da plena eficácia desse mesmo ato, e, pois, da responsabilidade pelos seus efeitos, 
relativamente àqueles atingidos por estes. (ARMELIN, 1979, p. 13).
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166
Ação e suas condições
Em resumo, “[...] a legitimidade é uma qualidade do sujeito aferida em função 
do ato jurídico, realizado ou a ser praticado”. (ARMELIN, 1979, p. 11).
Tanto no processo de conhecimento quanto no processo de execução, parte 
legítima é aquela que está autorizada por uma determinada situação legitimante 
estabelecida no direito material ou no próprio direito processual. A legitimidade 
ad causam é a relação de pertinência subjetiva ou objetiva (decorrente de lei) com 
a causa de pedir apresentada pelo demandante.
Interesse processual
O interesse processual ou interesse de agir refere-se sempre à utilidade que 
o provimento jurisdicional pode trazer ao demandante. Como observou Liebman 
(1985, p. 155), o interesse processual é “[...] a relação de utilidade entre a afirmada 
lesão de um direito e o provimento de tutela jurisdicional pedido”.
Para a comprovação do interesse processual, primeiramente, é preciso a 
demonstração de que sem o exercício da jurisdição, por meio do processo, a pre-
tensão não pode ser satisfeita. Daí surge a necessidade concreta da tutela jurisdi-
cional e o interesse em obtê-la, (interesse-necessidade). 
O interesse processual pressupõe, além da correta descrição da alegada lesão 
ao direito material, a aptidão do provimento solicitado para protegê-lo e satisfa-
zê-lo. Portanto, cabe ao demandante escolher o procedimento e o provimento 
adequados à situação fática deduzida (interesse-adequação). Somente assim 
o exame de sua pretensão poderá ocorrer. 
Possibilidade jurídica
Em alguns casos, o sistema jurídico, como um todo, não admite ou não dá 
lugar à qualidade da parte, à causa de pedir ou ao provimento jurisdicional pre-
tendido. A impossibilidade jurídica, portanto, pode se referir à parte, à causa de 
pedir ou ao pedido. 
Parte � : impossibilidade jurídica de execução por expropriação forçada con-
tra a Fazenda Pública.
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Ação e suas condições
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Causa de pedir � : impossibilidade jurídica da ação de cobrança fundada em 
dívida de jogo; reexame do mérito do ato administrativo; ação revisional 
ajuizada antes de decorrido o prazo legal; ação rescisória com alegação di-
versa daquela autorizada no artigo 485 do CPC.
Pedido � : mandado de segurança normativo (ele só é cabível contra ato com 
efeitos concretos, nunca para ditar normas).
Daí porque a expressão impossibilidade jurídica do pedido é equivocada. Suge-
re-se então impossibilidade jurídica dos elementos da demanda (partes, causa de 
pedir e pedido).
Independentemente da apreciação das demais condições da ação, determi-
nadas situações da vida não poderão ser objeto de tutela alguma simplesmente 
porque, previamente, o ordenamento jurídico já apresenta tal impossibilidade. 
A norma de direito material ou o próprio sistema jurídico veda em tese a tutela 
jurisdicional pretendida, não havendo qualquer análise acerca das peculiaridades 
do caso concreto.
No Processo Civil, a possibilidade jurídica diz respeito à inexistência de veda-
ção abstrata, no ordenamento jurídico positivado, àquele provimento pleiteado 
judicialmente. Consequentemente, inexistindo qualquer vedação legal expressa, 
a demanda será, em tese e desde que presentes os demais pressupostos, admis-
sível.6
A possibilidade jurídica é sempre apurada no ordenamento jurídico a priori, 
no plano abstrato, independentemente da apreciação do interesse de agir e da 
legitimidade de parte. 
Para aqueles que defendem a teoria da asserção, apenas quando o juiz puder 
constatar logo no início do processo essa impossibilidade jurídica, com base na 
causa petendi exposta na inicial, haveria uma sentença meramente terminativa. 
Por outro lado, se o autor esconde os dados que levariam a essa consequência, 
sendo apurados pelo juiz apenas após a contestação, eventualmente até após 
instrução probatória, então seria proferida uma sentença de mérito.
6 Não é atual, portanto, a lição de Buzaid (1958, p. 109), redator do projeto do CPC/73, segundo o qual“[...] com a expressão pos-
sibilidade jurídica se indica a existência, dentro do ordenamento jurídico, de um tipo de providência, tal como a que se pede”. 
A situação é diametralmente inversa: tudo o que não é proibido é permitido.
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168
Ação e suas condições
Ampliando seus conhecimentos
Dicas de leitura:
Condições da Ação, de Susana Henriques da Costa, editora Quartier Latin.
Instituições de Direito Processual Civil, de Cândido Rangel Dinamarco, editora 
Malheiros.
Curso de Direito Processual, de Ovídio Baptista da Silva, editora Revista dos Tri-
bunais.
Outras sugestões:
Examinar, na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, os casos de extin-
ção por carência de ação.
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171
Sergio Torres Teixeira
Introdução
A ação judicial é proposta pelo autor em face do Estado-juiz, com o intuito 
de provocar a atuação jurisdicional deste. Caso seja reconhecido o direito 
apontado pelo demandante, entretanto, a sentença proferida com o acolhi-
mento da pretensão do autor e deferimento do seu pedido produzirá efeitos 
materiais em face de um outro sujeito da relação processual: o réu. O provi-
mento almejado pelo autor, assim, se destina a operar efeitos sobre a esfera 
jurídica de outra pessoa.
É nesse sentido que a doutrina trata do fenômeno denominado “bilaterali-
dade da ação”, que por sua vez enseja a bilateralidade do processo.1
A ação revela caráter bilateral à medida que apresenta, em polos opostos, 
o demandante e o demandado. E, em virtude do antagonismo entre o inte-
resse do autor e o interesse do réu, a bilateralidade da ação (e do processo) 
se manifesta como uma forma recíproca de contradição. A demanda judicial, 
pois, é essencialmente dialética, devendo o julgamento da causa ser sempre 
precedido de oportunidades amplas de debate acerca das pretensões apre-
sentadas diante do juízo.
À ação originalmente proposta pelo autor, corresponderá alguma reação 
do réu. Este, pois, igualmente apresenta uma pretensão diante do Estado- 
-juiz: a pretensão de ver o pedido do autor ser julgado improcedente. A pre-
tensão (ou contrapretensão) do réu, pois, se contrapõe à pretensão do autor, 
e, da mesma forma como o demandante deduziu sua pretensão diante do 
Judiciário ao propor a ação, o demandado deduz sua (contra)pretensão em 
face do juiz ao responder à provocação realizada mediante a sua citação para 
integrar a relação processual.
Defesa e exceção
1 Importante ressaltar que a bilateralidade pode, na realidade, se transformar em plurilateralidade, quando considerados 
outros sujeitos da relação processual, como os terceiros intervenientes.
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Defesa e exceção
É nesse contexto que reside o fundamento natural do princípio do contradi-
tório. Trata-se do direito recíproco de, no âmbito processual, ter ciência de todos 
os atos processuais e de ter a oportunidade para agir em face destes. Tal garantia, 
derivada do postulado do devido processo legal, encontra sede constitucional no 
artigo 5.º, LV, da Carta Política de 1988:
Art. 5.º [...]
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegu-
rados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Como consequência da bilateralidade da ação e da garantia constitucional do 
contraditório, destarte, ao réu é assegurado o direito de responder à ação, dedu-
zindo em juízo uma pretensão que usualmente se contrapõe à do autor.
Resposta do réu
A resposta do réu corresponde à fórmula de exercício do seu direito de reagir 
em face da ação proposta pelo autor. O réu, ao receber a citação, toma conhe-
cimento da existência da ação e é convidado a apresentar resposta a esta em 
juízo. 
É comum encontrar na doutrina termos como defesa e exceção para denomi-
nar a reação do réu. 
Tais termos são frequentemente utilizados como sinônimos de contradizer. Em 
sentido amplo, compreende o poder jurídico que o Estado outorga ao réu para 
que ele se oponha à ação proposta pelo demandante. Como a ação, a defesa ou 
exceção tem amparo no postulado constitucional do devido processo legal, e, 
mais ainda, envolve a densificação do princípio do contraditório. Trata-se de uma 
espécie de réplica à ação, correspondendo a um direito (público e subjetivo, como 
é o direito de ação) de postular do magistrado um pronunciamento de negação 
à tutela pretendida pelo autor. Enquanto este usa a ação para instrumentalizar 
um pedido imediatamente em face do Estado e mediatamente em face do réu, 
aquele utiliza a exceção como meio de materializar um pedido de indeferimento 
do pleito daquele. 
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Defesa e exceção
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Como consequência, a defesa ou exceção é um instituto analisado e estudado 
paralelamente à ação.2
Na sua resposta à ação, o réu pode adotar um (ou mais) de variados caminhos. 
O demandado pode simplesmente se manter inerte, ferindo o contraditório ao 
não atender à convocação judicial para apresentar resposta. O réu pode, pelo 
contrário, admitir explicitamente que a postulação do autor deve ser acolhida. 
Outra opção é contra-atacar o demandante, propondo uma ação em face deste 
dentro da mesma relação processual. E, por fim, a mais frequente das escolhas: 
o réu pode simplesmente se defender, apresentando impugnações a questões 
processuais ou, mediante alegações fáticas e/ou jurídicas, negar a consequência 
pretendida quanto ao mérito da causa.
A moderna doutrina processual civil, por sua vez, apresenta três modalidades 
de resposta do réu:
a exceção processual; �
a contestação; �
a reconvenção (junto com o pedido contraposto). �
Tais espécies, por sua vez, serão agora examinadas à luz das diretrizes do insti-
tuto da defesa (ou exceção) do demandado. 
Exceção 
O termo exceção apresenta diversas acepções. Pode ser utilizado como deno-
minação do próprio direito do réu de responder à ação, englobando toda e qual-
quer defesa destinada a negar o direito pretendido pelo autor, bem como para 
designar meios de impugnação oferecidos pelo réu durante o curso do processo 
para questionar temas específicos. Nesta última conotação, a doutrina costuma 
apontar a existência de “exceções substanciais”, envolvendo teses de direito mate-
2 No tocante à natureza da defesa ou exceção, a questão é polêmica. Alguns doutrinadores a equiparam à ação, considerando 
a defesa ou exceção uma verdadeira ação autônoma. Outros negam a ideia da defesa como uma “ação do réu”, sustentando 
que na exceção não haveria interesse de agir além da contrapretensão, de modo que o réu não amplia os limites da lide ao se 
defender, simplesmente resistente à pretensão do autor. Na realidade, a definição da natureza da defesa/exceção depende da 
posição assumida perante o modo de entender a ação.
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Defesa e exceção
rial como aquelas fundadas em fatos obstativos à pretensão do autor, e de “exce-
ções processuais”, que se destinam a desafiar questões de índole essencialmente 
processual, como a competência do juízo ou a imparcialidade do juiz.3 
No âmbito do Processo Civil, o legislador pátrio disciplinou no CPC três espé-
cies de exceção processual: a exceção de incompetência, a exceção de suspeição 
e a exceção

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