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492 Thiago Coelho (@taj_studies) CADERNO – IED PROCESSUAL – DIANA PEREZ 2022.2 AULA 01 – APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA E INTRODUÇÃO DO CONTEÚDO 1. Observações iniciais: Metodologia: Cada assunto tem um slide a ser seguido + exemplos; Bibliografia: Textos disponibilizados no Ágata (preferencialmente) ou livros: DIDIER JR., Fredie. Curso de Direito Processual Civil. Salvador: Juspodium, v.1. (linguagem mais complexa); SCARPINELLA, Bueno Cassio. Curso sistematizado de Direito Processual Civil volume 1 (linguagem mais simples); Importante ter uma base consolidada a partir de IED Processual; Avaliações: 28/09 e 30/11 (discursivas, com três questões e sem consulta); As respostas das avaliações devem ser objetivas; Baremas detalhistas (tudo o que poderia ser dito naquela questão); 1ª parte do semestre: mais abstrata em comparação à 2ª parte do semestre A AV1 é mais teórica em comparação à AV2 (mais prática); Em relação à segunda chamada da AV2, o assunto é cumulativo, isto é, do semestre inteiro; No final de cada assunto, terão textos sobre o assunto que devem ser lidos, contemplando uma diversidade de autores; Em virtude dos feriados em dias de quarta, provavelmente serão necessárias aulas de reposição (sexta de tarde e/ou sábado de manhã); Uma questão de avaliação será sobre os princípios do Direito Processual; 2. Conceitos básicos: Necessidade: Trata-se da falta de algo, bem como uma situação de carência. Representa a quebra do equilíbrio humano, requerendo, portanto, de alguma coisa. Em síntese, necessidade se traduz como a situação de carência. Os homens apresentam diversas necessidades. Nós precisamos de diversos elementos, seja para a nossa sobrevivência, seja para o nosso aperfeiçoamento. Esses elementos são chamados de bens. 493 Thiago Coelho (@taj_studies) Bens: São elementos capazes de satisfazer as nossas necessidades. Os bens podem ser materiais ou imateriais, sendo todos capazes de atender às nossas necessidades. Utilidade: Trata-se da capacidade do bem de atender às nossas necessidades. Para se auferir a utilidade de um bem é necessário um juízo valorativo sobre tal. A partir daí, chega-se à conclusão de se um bem é útil ou não. Caso o bem seja útil, emerge a ideia de interesse; Interesse: Vínculo que une o homem a um determinado bem. Além disso, interesse pode ser compreendido como a posição favorável à satisfação de uma necessidade. Interesse imediato x Interesse mediato: O interesse é dito imediato quando um bem é capaz de satisfazer imediatamente determinada necessidade (ex: a ingestão de água através de um copo). Por outro lado, tem-se um interesse mediato, quando um bem satisfaz indiretamente determinada necessidade (ex: dez reais para comprar uma garrafa d’água para matar a sede); Interesse individual x Interesse coletivo: O interesse é dito individual quando satisfaz a necessidade de uma única pessoa (uma pessoa de forma isolada) – ex: um copo d’água é capaz de matar a sede de Diana. Por outro lado, tem-se um interesse coletivo quando um bem é capaz de atender as necessidades de um grupo – ex: a construção de uma barragem ou de um sistema de irrigação gera um interesse coletivo (população local). Durante muito tempo, a Teoria do Processo foi voltada para o interesse individual (Thiago vs Bruno, por exemplo); entretanto, atualmente, se fala bastante em processo coletivo, o qual apresenta peculiaridades em comparação ao processo individual. Nessa conjuntura, é comum que ocorram conflitos de interesses. O conflito de interesses se subdivide em: Subjetivo: Ocorre quando um homem apresenta diversos interesses – ex: ter dinheiro para comprar um único par de sapato, mas gostar de muitos da loja; Intersubjetivo: Aqui há um conflito de interesses entre duas ou mais pessoas, o qual recebe maior atenção do nosso ordenamento jurídico; Pretensão: É a exigência de subordinação do interesse do outro ao seu interesse. Se há um ato favorável à pretensão, há uma situação pacífica. Por outro lado, pode-se ter maiores complicações caso haja uma conduta contrária à pretensão. 494 Thiago Coelho (@taj_studies) Resistência: Também conhecido como insatisfação, trata-se de uma conduta contrária à pretensão. LIDE: Conflito de interesse intersubjetivo qualificado por uma pretensão jurídica resistida ou insatisfeita deduzida em juízo. Trata-se, em suma, de um conflito de interesses relevante para o Direito, o qual é levado a juízo tendo, de um lado, uma pretensão; e do outro, uma resistência ou insatisfação. Uma pretensão é dita resistida quando é discutida a titularidade do bem. Tem-se casos em que a pretensão é insatisfeita, ou seja, o que se discute não é a titularidade de um bem (a qual é certa), mas a fruição desse bem. Ex: Ermínia pegou R$ 100.000,00 (cem mil reais) emprestado e no dia 05/08 iria pagar Diana, mas acabou não pagando. Ermínia diz que vai pagar, mas não tem condições até o final do ano. A pretensão aqui não foi resistida, mas insatisfeita. A LIDE precisa ser solucionada, composta. 3. Composição da LIDE (forma mais comum): Jurisdição: Forma estatal e mais comum de resolver o conflito (pensamento majoritário). A doutrina se divide acerca da seguinte questão: “para haver jurisdição, é necessário conflito?”, já que algumas questões levadas ao Judiciário não são conflituosas (como um divórcio entre A e B com concordância de ambas as partes). Daí, alguns doutrinadores (parte minoritária) defendem que a jurisdição é a forma de resolver problemas, os quais podem ser conflituosos ou não. A jurisdição, em regra, é inerte, ou seja, não começa sozinha. A jurisdição precisa de um “pontapé” inicial: a ação. Ação: A ação corresponde ao poder apto a provocar a jurisdição. Processo: 495 Thiago Coelho (@taj_studies) Meio ou instrumento pelo qual o direito de ação e a jurisdição se exercem. Este trata-se do objeto de estudo do Direito Processual. A jurisdição, a ação e o processo compõem o que chamamos de Trilogia Processual. 4. Direito Material x Direito Processual O Direito Material estipula as regras de conduta (do dever-ser). Se esse direito é cumprido de forma voluntária por todos, não há necessidade de processo. Às vezes acontecem ameaça ou violação ao direito material, necessitando da atuação do Direito Processual. Supondo que A, inquilino de B, não cumpre com a obrigação de pagar o aluguel. Neste caso, B pretende cobrar a quantia de A. B exerce o seu direito de ação e procura o Poder Judiciário para que este reconheça a cobrança e “obrigue” A a quitar a dívida. Esse fenômeno é instrumentalizado através de um processo. Esse processo precisa ser normatizado, ou seja, devem existir normas que regulem como o processo deve ocorrer (competência, prazo, realização de provas, requisitos da sentença, recursos cabíveis da sentença...). Sujeitos do conflito x Sujeitos do processo: Em geral, estes coincidem. Entretanto, caso o MP, por exemplo, interfira em uma causa envolvendo dois sujeitos, constata-se que os sujeitos do conflito (A e B) não se confundem com os sujeitos do processo (MP e B). Instrumentalidade do processo: O Direito Processual serve de instrumento para a concretização do Direito Material, daí a razão para se falar em instrumentalidade do processo. O processo é o meio de instrumentalização do direito material. OBS: Ser instrumental não significa ser menor/secundário. Não há uma relação de hierarquia entre o Direito Material e o Direito Processual, mas uma relação circular. AULA 02 – TUTELA JURÍDICA 1. Sociedade e tutela jurídica: É imprescindível, para a vida em sociedade, a existência de normas. Dá-se o nome de tutela jurídica a realização da paz social mediantea atuação de normas jurídicas. A tutela jurídica pode apresentar duas naturezas: 496 Thiago Coelho (@taj_studies) Momento estático – Direito Material: Traz as regras do dever-ser, estipulando direitos e obrigações; Momento dinâmico – Direito Processual (tutela jurisdicional): Instrumentalização do Direito Material através de um processo, tendo em vista a necessidade de movimentar a máquina judiciária. Trata-se, portanto, de um momento dinâmico da tutela jurídica. Esse momento dinâmico também é denominado de tutela jurisdicional. Tutela jurídica não se confunde com tutela jurisdicional. Nos casos em que o processo se extingue sem analisar o mérito, o Direito Material, não houve tutela jurisdicional, uma vez que não houve tal reconhecimento. Ex: A mãe do locador resolve entrar com um processo contra o locatário/inquilino devedor, havendo um vício de forma, uma vez que apenas o próprio locador pode entrar com uma ação. Destarte, não há tutela jurisdicional nessa ação, somente jurisdição. Tutela jurisdicional x jurisdição: Embora intimamente relacionados, não se confundem. A tutela jurisdicional é o objetivo almejado pela jurisdição. Quando se exercita a jurisdição, se quer que o juiz diga quem tem razão (autor ou réu). O reconhecimento do Direito Material pode se dar em favor do autor? Sim, a ação, neste caso, foi julgada procedente; caso contrário (na hipótese do réu ganhar), a ação foi julgada improcedente. Também nos casos de sentença improcedente, há tutela jurisdicional. Há o reconhecimento, só que em favor do réu. Em suma, tanto nos casos de procedência quanto nos casos de improcedência há tutela jurisdicional em virtude da análise do mérito (o reconhecimento de uma situação jurídica amparada pelo Direito Material). Questão de prova: Julgue o trecho abaixo: O conceito de tutela jurisdicional se confunde com o de jurisdição. Pode-se afirmar que terá direito à tutela jurisdicional, quem tiver razão perante o Direito Material. R: Falso na 1ª parte e correto na 2ª parte (não especifica autor ou réu, mas já houve a análise do mérito). 497 Thiago Coelho (@taj_studies) Julgue o trecho a seguir: Todos têm direito à jurisdição, mas não à tutela jurisdicional. R: Verdadeiro. Para se ter direito à tutela jurisdicional, é necessário ser acatado o mérito do Direito Material, caso contrário ter-se-á somente tutela jurídica. Julgue o trecho abaixo: Só haverá jurisdição se houver coisa julgada? Só haverá tutela jurisdicional se houver coisa julgada? R: Não. Sim. 2. Tutela jurisdicional diferenciada: Acontece que nem sempre a tutela jurisdicional se esgota com a simples sentença de mérito. Existem casos em que o Judiciário precisa ir além. Além de reconhecer o Direito Material, é necessário efetivá-lo. Nesse sentido, é necessário que aquele direito concedido produza um resultado prático. As relações intersubjetivas regidas pelo Direito Material são as mais variadas possíveis (cível, família, tributária, etc). Conforme já dito, o processo é instrumento de efetivação do Direito Material. O Direito Processual precisa se adequar a essa diversidade de relações materiais, já que serve para efetivar os direitos materiais (não sendo o processo um fim em si mesmo). No caso de um filho que processa o pai para assegurar o direito à alimentação, esse processo precisa ser célere e, portanto, dinâmico, uma vez que alimentação corresponde a uma condição de subsistência do ser humano. Existem determinados procedimentos que são criados para atender a essas específicas demandas. A proteção normativa a determinadas situações que, dadas as suas peculiaridades, fogem da normalidade é denominada de tutela jurisdicional diferenciada. 3. Acepções do termo processo: O termo processo apresenta diversas acepções, sendo visto sob diferentes ópticas. 498 Thiago Coelho (@taj_studies) Processo como fenômeno da Teoria Geral do Direito: Toda norma advém de um debate prévio. Esse debate prévio é que chamamos de processo. Desse modo, a norma jurídica sempre se constrói processualmente. Processo é, nessa perspectiva, um meio pelo qual se cria as normas jurídicas e, por conseguinte, o próprio Direito. Processo como fato jurídico (plano da existência): O processo trata-se de um fato jurídico, no qual a vontade humana compõe o suporte fático – ou seja, um ato jurídico, mais especificamente um ato jurídico complexo (devido à existência de inúmeros direitos e deveres). Em suma, partindo desse pressuposto, processo trata- se de um ato de vontade humana tendente a produzir efeitos. Além disso, pode-se afirmar que, nesta acepção, o processo é um procedimento, isto é, uma série de atos que se prolongam no tempo. Processo como relação jurídica (plano da eficácia): O processo aqui é visto como uma consequência do fato jurídico. Do fato processo surge uma relação jurídica processual, mais especificamente, uma relação jurídica complexa. Questão de prova: O processo pode ser visto ora como ato, ora como o seu efeito, além de ser uma forma de controle do exercício da jurisdição. R: Sim. São justamente as três acepções discutidas anteriormente. 4. Teoria Geral do Processo (?) Há um debate doutrinário acerca da viabilidade da existência de uma Teoria Geral do Processo. Será, realmente possível, falar em uma Teoria Geral do Processo com conceitos universais para abarcar todos os ramos do processo? Há uma lógica por trás da disciplina se chamar Introdução ao Estudo do Direito Processual (IED Processual) ao invés de Teoria Geral do Processo (TGP). O professor Fredie Didier Jr., o qual organizou o curso de processo na Faculdade Baiana de Direito, tem uma obra denominada “Sobre a Teoria Geral do Processo, essa desconhecida”. AULA 03 – A TEORIA GERAL DO PROCESSO E A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PROCESSUAL 499 Thiago Coelho (@taj_studies) 1. A Teoria Geral do Processo (?) A Teoria não seria necessariamente geral, podendo ser geral ou particular. A Teoria é individual quando esta se restringe a um objeto específico. A Teoria particular tem como objeto de estudo um grupo de elementos que possui características semelhantes. Ex: Teoria dos Estados de Civil law. A Teoria Geral tem esse caráter universal (geral), tendendo, portanto à universalização. Ex: Teoria Geral do Estado – de todo e qualquer Estado. No âmbito do direito, o conceito pode ser: Jurídico-positivo: Engloba as construções normativas com base em um real e determinado ordenamento jurídico. Ex: O conceito de recurso extraordinário (para compreendê-lo é necessário ter conhecimento do ordenamento jurídico brasileiro); Lógico-jurídico: Engloba aqueles construídos A priori, independentes de um determinado ordenamento jurídico. São conceitos, portanto, dotados de uma pretensão universal, devendo ser aplicado a todos. Ex: O conceito de decisão judicial; Não se é possível falar em uma Teoria Geral do Processo em virtude de ser inviável aderir a uma perspectiva universal que englobe todos os ramos do Direito Processual. De acordo com Fredie Didier Jr., somente os conceitos lógico-jurídicos devem ser levados em consideração na formulação da Teoria Geral do Processo. DIREITO PROCESSUAL CIÊNCIA DO DIREITO PROCESSUAL TEORIA GERAL DO PROCESSO Tem caráter normativo, correspondendo ao conjunto de normas e disciplinas vinculadas ao Direito Processual (ex: o CPC). Ramo do pensamento dogmático que visa à sistematização, à elaboração e à articulação de conceitos jurídico-positivos. Apresenta, destarte, cunho doutrinário. Tem como objeto de estudo o Direito Processual e elabora, como já dito, conceitos jurídico-positivos. Tem cunho doutrinário, todavia, de viés filosófico (epistemológico). A Teoria Geral do Processo é uma ciênciaque estuda a ciência. Tem por objeto de estudo a Ciência do Direito Processual. Visa à sistematização, à 500 Thiago Coelho (@taj_studies) elaboração e à articulação de conceitos lógico-jurídicos. Na prática, há uma confusão entre Teoria Geral do Processo (estuda a ciência do Direito Processual) e a Ciência do Direito Processual (estuda o Direito Processual). Muitas vezes, dessa forma, a TGP é distorcida na prática. 2. Fases metodológicas da evolução da Ciência do Processo: Sincretismo/Praxismo/Imanentismo: Dura até meados do século XIX; O Direito Processual não era visto como autônomo em relação ao Direito Material; O Direito Processual era, nesse contexto, o próprio direito material violado (levado a juízo – “em pé de guerra”); Não se estuda o processo enquanto ciência, havendo uma preocupação somente com a prática (daí o nome Praxismo); Sincretismo, uma vez que não havia a distinção entre o Direito Processual e o Direito Material por estarem imanentes (sincretizados, unidos); Autonomia/Processualismo/Cientificismo: Dura até a década de 1950; A relação de Direito Material é distinta da relação de Direito Processual. Tal perspectiva dá origem a uma nova fase: o Cientificismo. Nesta fase, o Direito Processual passa a ser estudado enquanto ciência, ganhando sua autonomia/distinção em relação ao Direito Material; Há uma separação abrupta entre Direito Material e Direito Processo e, nessa fase, esse rompimento abrupto era necessário; Teoria Dualista (Chiovenda): Há uma cisão evidente entre esses dois ramos – o Direito Processual não cria nada de novo, o processo apenas declara o que já está previsto no Direito Material. Nesse sentido, o processo apresenta um viés meramente declaratório, apenas declarando a vontade do Direito Material. Teoria Unitária (Carnelutti): O processo serve para complementar os comandos da lei, participando da criação do Direito (criação da norma individualizada do 501 Thiago Coelho (@taj_studies) caso concreto). Destarte, o processo não apresenta um caráter meramente declaratório, mas constitutivo – isto é – participa da construção do Direito. Aqui não se pode falar, ainda, em um “ativismo judicial”, devido à forte influência exercida pelo Positivismo Jurídico; Instrumentalismo: O processo não é um fim em si mesmo, mas instrumento de concretização do Direito Material; Há uma reaproximação entre o Direito Processual e o Direito Material, não para confundi-los; Compreende-se a autonomia de ambos ao mesmo tempo em que se constata a necessidade desses serem estudados em conjunto; Surgem as ondas de acesso à justiça (Mauro Capelletti) – fases não excludentes, mas acumuladoras: 1ª onda: Reflete a preocupação com o acesso à justiça aos necessitados (hipossuficientes); 2ª onda: Reflete a preocupação com a proteção de interesses coletivos, uma vez que nosso processo, historicamente, foi concebido para proteger interesses individuais. Passa-se a pensar nos interesses de determinados grupos (idosos, consumidores e demais interesses coletivos). Se fez necessária a criação de instrumentos aptos a proteger esses interesses coletivos; 3ª onda: Reflete a necessidade de se respeitar certo padrão (formalismo) no que tange aos trâmites processuais em prol da celeridade. O problema corresponde ao formalismo exacerbado (extremo), ou seja, à priorização da forma em detrimento do conteúdo; Neoprocessualismo/ Formalismo-valorativo: Nas últimas duas décadas, temos ingressado na fase do Neoprocessualismo, muito entrelaçado com o Neoconstitucionalismo; Percebe-se a existência de mudanças para lidar com o Direito, o que impacta no Direito Processual; Passa-se a estudar o Direito Processual a luz de novos paradigmas, revisitando velhos conceitos do ramo e adequá-los à nova realidade; Há a inserção de aspectos éticos no processo (ética processual); O formalismo precisa ser valorado para impedir “a forma pela forma” do Instrumentalismo; 3. O Direito Processual contemporâneo: 502 Thiago Coelho (@taj_studies) Texto x Norma: A norma é o resultado da interpretação do texto (o texto interpretado). Norma, desse modo, não se confunde com texto (de um mesmo texto pode surgir diversas normas). Daí decorrem duas consequências: quando juiz julga, este está criando uma norma (papel criativo do magistrado); e, além disso, ele cria precedentes judiciais (capacidade de uma decisão influenciar futuras decisões). Princípio como norma: Na ausência de uma regra, outrora, aplicava-se um princípio. O princípio era visto como um mero mecanismo de integração do Direito. Atualmente, os princípios são vistos como normas autônomas em relação às regras (vide os princípios da eficiência, cooperação, boa-fé objetiva, proporcionalidade, ampla defesa, entre outros). Diversos princípios regulam nosso ordenamento jurídico e são dotados de exigibilidade, devendo ser aplicados. Jurisprudência como fonte: A jurisprudência corresponde ao conjunto de decisões reiteradas ao longo dos anos. A jurisprudência tem exercido um papel muito importante nos últimos anos. Apesar disso, a jurisprudência consiste em uma fonte não vinculante, ou seja, desde que devidamente fundamentado, é possível adotar um posicionamento contrário à jurisprudência (embora esta detenha grande força no ordenamento jurídico vigente). A jurisprudência pode ensejar nas súmulas (persuasivas ou vinculantes). Conceitos jurídicos indeterminados/ cláusulas gerais: Muitas vezes, a técnica legislativa se mostrava insuficiente a atender às demandas sociais. Nesse cenário, passa-se a elaborar textos mais amplos, abertos e fluídos, contendo conceitos jurídicos indeterminados e cláusulas gerais. Permite-se, desse modo, uma maior discricionariedade ao magistrado, ou seja, um maior poder de decisão. Alguns autores tratam conceitos jurídicos indeterminados como sinônimo de cláusulas gerais. A distinção é tênue, mas pode ocorrer: os conceitos jurídicos indeterminados são abertos na hipótese (ex: “justo motivo”), já o consequente normativo, fechado; no que tange às cláusulas gerais, há uma abertura tanto na hipótese quanto no consequente. Força normativa da Constituição (direitos fundamentais): A Constituição erradia os seus efeitos em todo o ordenamento, ou seja, todos os ramos devem ser interpretados conforme à Constituição. O processo é o garantidor dos direitos fundamentais, ou seja, da concretização e da não violação desses. O processo é um mecanismo, portanto, de efetivação dos direitos fundamentais, uma vez que precisou se adequar à nova realidade. Ademais, existem direitos fundamentais processuais (explícitos e implícitos) – como o devido processo legal, contraditório, ampla defesa, fundamentação, entre outros. 503 Thiago Coelho (@taj_studies) Processo civil x processo penal (reaproximação): Até um período recente, tais ramos eram antagônicos - o Processo Civil marcado pelo princípio dispositivo (juiz como um mero coadjuvante) enquanto o Processo Penal era marcado pelo Princípio Inquisitivo (o Ius puniendi estatal prevalecia em demasia). Não se pode relegar o papel do magistrado em segundo plano no processo civil, assim como não se pode negligenciar os direitos das partes em um processo penal. Hoje, o Processo Civil deve ser ligado pelo princípio cooperativo, ou seja, todos os sujeitos envolvidos no processo devem cooperar para o regular andamento do processo, para que a prestação jurisdicional se dê de maneira mais efetiva. Identifica-se, assim, conceitos comuns ao Direito Processual Civil e ao Direito Processual Penal. Tutela individual x tutela coletiva: Originariamente, o Direito Processual foi formulado para a proteção de interesses individuais (Caio v Thício), não havendo tantapreocupação com os interesses coletivos. Atualmente, tem-se superado essa perspectiva. A medida que os interesses coletivos foram aflorando, o Direito Processual precisou se adequar a essa nova realidade. Foram criados, por conseguinte, mecanismos para tutelar os interesses coletivos. Civil law x Common law: Os precedentes vinculantes são típicos do sistemas de Common law, todavia, assim como diversos outros aspectos, foram incorporados pelos sistemas de Civil law. Nesse sentido, é possível afirmar que a dicotomia entre Civil law e Common law foi superada. 4. A evolução histórica da ciência do processo no Brasil: A evolução do Direito Processual brasileiro foi tardia, já que a perspectiva cientificista se consolidou mais rapidamente no continente europeu. Quando tratamos da evolução histórica do Direito Processual no Brasil, é importante compreender os marcos de tal desenvolvimento. Ordenações do Reino: As Ordenações Filipinas regulamentavam o nosso Direito Processual. Código de Processo Criminal (1832): Eram previstos penas e castigos cruéis – inclusive corporais. A primeira Constituição, a de 1824, tentou minimizar as desumanidades que eram praticadas. Dois anos após o surgimento do Código Penal, surgiu o Código de Processo Criminal, ocorrendo, futuramente, a supressão dessas desumanidades. Enquanto isso, o Processo Civil continuava sendo regulado pelas Ordenações Filipinas. Regulamento 737 (1850) – Código Comercial: Regulamentava as relações comerciais, surtindo efeitos excelentes no ramo do Direito Comercial. Entretanto, esse código foi criado 504 Thiago Coelho (@taj_studies) apenas para regular questões comerciais. Ao longo do tempo, foram surgindo diversas leis esparsas que foram reunidas na Consolidação das Leis de Processo. Consolidação das Leis de Processo (ou Consolidação Ribas) (1876): Joaquim Ribas exerceu papel importante na elaboração dessa consolidação. Extensão do Regulamento 737 às causas cíveis: Com o governo republicano, uma das primeiras medidas foi estender o Regulamento 737 às causas cíveis, como uma forma de garantir a uniformidade dos sistemas. Constituição Republicana de 1891: Dualidade de processos – estendeu a prerrogativa da União de elaborar os códigos de processo aos Estados-membro. Apesar de terem existido bons códigos processuais estaduais, tal delegação representou um verdadeiro caos. Constituição de 1934: Determinou que a competência para legislar sobre processo é privativa da União (e é assim até hoje), cabendo aos Estados-membro apenas legislar acerca de procedimentos. Teve-se, nesse viés, a necessidade de elaborar um Código de Processo a nível nacional. Código de Processo Civil de 1939: Elaborado a nível nacional. Vinda de Enrico Tullio Liebman para o Brasil (1940): Professor italiano que veio para o Brasil e foi ministrar aulas em São Paulo. Liebman fundou a Escola Processual de São Paulo, incentivando os alunos a estudar o Direito Processual. Com Liebman ou a partir dele, passa- se a estudar o processo enquanto ciência. A vinda de Liebman representa a transição da fase do praxismo para a fase do processualismo no Brasil. Código de Processo Civil de 1973 (Código Buzadi): O Código de 1939 tinha tantos defeitos e não se adequava mais à realidade social que impactou na elaboração de um novo Código. Jânio Quadros encarregou Alfredo Buzadi a essa missão. Constituição de 1988 e reformas processuais: Com a criação da Lei da ACP (1985) e da Constituição Cidadã (1988), percebeu-se a necessidade de se elaborar um novo CPC a fim de se adequar à fase do instrumentalismo. O CPC/73 passou por uma série de reformas. Novo Código de Processo Civil de 2015: O CPC/73, cada vez mais desfigurado, ainda mais após a transição do instrumentalismo para o neoprocessualismo, deu lugar a um novo CPC: o Código de Processo Civil de 2015. AULA 04 – NORMA PROCESSUAL (1ª parte) 1. Aspectos gerais: 505 Thiago Coelho (@taj_studies) Norma consiste em uma regra de conduta de atribuição de bens. As normas jurídicas apresentam peculiaridades e são aquelas dotadas de imperatividade e que se sobrepõem independentemente da vontade das partes. As normas jurídicas podem ser: Materiais: Trazem as regras de condutas que devem ser cumpridas por todos. Processuais: Disciplinam o exercício da atividade jurisdicional do direito de ação e entram em cena quando as normas do direito material não são cumpridas de forma voluntária pela sociedade. Quando há uma ameaça ou lesão a uma norma material, incidirão as normas processuais. A técnica para a resolução de conflitos, portanto, é dada por normas processuais. As normas jurídicas materiais e processuais compõem o que chamamos de tutela jurídica. O objeto das normas processuais é a disciplina do Poder Jurisdicional, o qual qualifica a norma como processual. Institutos bifrontes são institutos que possuem dupla regência, ou seja, são estudos regidos tanto pelo Direito Material quanto pelo Direito Processual. Ex: Tanto o Código de Processo Penal quanto o Código Civil discorrem sobre provas. Além disso, pode-se citar a legitimidade, penhora e a capacidade como institutos bifrontes. As normas que regem os institutos bifrontes, muitas vezes presentes em diplomas de Direito Material, para uma parcela da doutrina, são conhecidas como normas heterotópicas. Embora presentes em diplomas de Direito Material, essas normas não perdem o caráter de normas processuais (houve um “equívoco” do legislador). Por outro lado, outra parcela doutrinária defende a existência de um caráter híbrido (normas processuais-materiais), não se admitindo a perspectiva de “normas processuais puras”. 2. Espécies das normas processuais: Normas de organização judiciária: Normas que tratam da criação e estrutura dos órgãos judiciários e seus auxiliares. Hoje prevalece a corrente que encara o processo como um instituto complexo, ou seja, processo = procedimento + a relação jurídica. O legislador trouxe competência legislativa para legislar sobre processo (privativa da União) e sobre procedimento (competência concorrente entre União, estados e DF). A distinção entre normas processuais e procedimentais é feita pela doutrina, entre elas a de Cândido Rangel Dinamarco. 506 Thiago Coelho (@taj_studies) Normas processuais em sentido estrito: A relação jurídica processual é aquela que une sujeitos em um processo. Tudo o que disser respeito aos direitos, deveres, estado de sujeição, ônus, faculdade, dos sujeitos do processo é norma processual em sentido estrito. E sendo norma processual em sentido estrito, a competência para legislar sobre tal matéria é privativa da União. Normas procedimentais: Procedimento é a série de atos que se prolonga no tempo. Em tudo o que disser respeito a procedimento, ao tempo, ao lugar, à forma pelas quais os atos são praticados, têm-se normas procedimentais. Para Marcelo Abelha Rodrigues, as matérias que apresentam efeitos isonômicos uniformes para todo o território nacional são tratadas por normas processuais (competência privativa da União). Se não viola a isonomia, os estados-membro podem legislar: normas procedimentais. Rosemiro Pereira Leal afirma que tudo o que disser respeito a normas fundamentais (ex: princípio do contraditório, devido processo legal, ampla defesa) são normas processuais. Essa distinção entre normas processuais e procedimentais traz efeitos práticos, não sendo, na prática, tão fácil de fazer essa diferença. Uma norma contida em uma Lei Complementar do estado da Bahia de 2009 que determina a realização de intimação pessoal para os procuradores do Estado é uma norma procedimental (diz respeito à forma pela qual o ato vai ser praticado). Na prática, conforme já referido, é extremamente difícil diferenciar processo de procedimento pois de atos nascem relações jurídicas.Nesse sentido, alguns operadores do Direito argumentam tratar- se de uma norma inconstitucional por ser processual e, por conseguinte, competência privativa da União. Em virtude dessa dificuldade prática, inclusive envolvendo o STF, é comum, infelizmente, juízes fazerem grandes confusões: Justificar uma norma como processual em virtude de aspectos como a forma do ato (o que é atributo de uma norma procedimental). Justificar uma norma como procedimental em virtude de princípios inerentes como o devido processo legal e a ampla defesa (o que são atributos de uma norma processual). O STF decidiu, com divergências, tratar-se de norma inconstitucional uma norma da Lei 11.819/2005 de SP, que permitia o interrogatório via vídeo conferência. 507 Thiago Coelho (@taj_studies) ADI n. 882/MT envolveu a LC 20/92 do MS. O STF decidiu a lei como inconstitucional por envolver prerrogativa de um direito e, portanto, norma processual, competência privativa da União. ADI 22922/RJ envolveu o acordo na ação de alimentos com partição da Defensoria Pública, declarada constitucional pelo STF. Paula Sarno pegou todos os julgados do STF sobre o tema e sustentou a precária argumentação do órgão, mesmo quando declaram a constitucionalidade de uma norma. Assistência judiciária em investigação de paternidade (ADI n. 3394/AM – sem custos para as partes no que concerne à descoberta da paternidade). Foi entendido como norma processual por envolver direitos e, consequentemente, como competência privativa da União. Sistema de gerenciamento de depósitos judiciais (ADI n. 2909/RS), o STF entendeu como inconstitucional, já que não se poderia apartar a figura do depósito judicial das categorias processuais. 3. Normas processuais cogentes x normas processuais dispositivas: Outrora, era sustentada a máxima de que normas processuais são sempre normas de Direito Público, uma vez que há uma interferência direta do Estado. Entretanto, apesar de serem normas que compõem o Direito Público, não são necessariamente normas de ordem pública, isto é, normas cogentes (que não podem ser afastadas pela vontade das partes – imperatividade absoluta). Desde o CPC/73, contudo, já era possível encontrar normas processuais de natureza dispositiva (efeitos podem ser moldados pela vontade das partes). Quando se estuda competência, há normas de competência absoluta (voltadas para o interesse público) e normas de competência relativa (exemplo de normas processuais dispositivas). O novo CPC (2015) acabou com essa discussão, abrindo a possibilidade de negócio jurídico processual atípico (arts. 190 e 191 – CPC/2015 permitem que as partes possam deliberar sobre procedimentos, ônus, bônus, direito, estado de sujeição). O processo, atualmente, corresponde a um instituto bastante flexível. Cai-se, portanto, a tese de que não existem normas processuais dispositivas. Existem sim, embora haja a predominância de normas processuais cogentes. 4. Fontes do Direito Processual: 508 Thiago Coelho (@taj_studies) Constituição Federal: Irradia os seus efeitos por todos os ramos do Direito, incluindo, portanto, o Direito Processual (vide o art. 1º do CPC/2015). Art. 1º - CPC/2015: O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil , observando-se as disposições deste Código. Tratados Internacionais: O Brasil é signatário de diversos tratados internacionais que versam sobre questões processuais. Em um mundo globalizado como o de hoje, as relações internacionais são cada vez mais frequentes, existindo normas que regulam a cooperação entre os Estados estrangeiros. Leis Federais: Como processo é competência privativa da União, faz sentido que a maioria das leis que disciplinam processo seja federal – com raras exceções, sobretudo no que envolve procedimentos (competência concorrente entre União, estados e DF). Constituição e Leis Estaduais: Também consistem em fontes do Direito Processual. Regimentos internos dos Tribunais: Conhecendo o regimento interno dos tribunais, o operador do Direito pode se beneficiar. Jurisprudência: Reiteração de normas diante de casos concretos semelhantes. A jurisprudência serve, também, como fonte do Direito Processual. Existem súmulas vinculantes de natureza processual (as súmulas nascem da jurisprudência) – julgar uma ADI é competência do pleno do tribunal, por exemplo. Negócios jurídicos processuais: As partes podem convencionar sobre o processo, procedimento, direitos, deveres, estado de sujeição. É possível, nessa perspectiva, que normas processuais advenham de negócios jurídicos processuais – inclusive atípicos. Usos e costumes: Um cacique representar uma tribo indígena trata-se de um costume enraizado nessa cultura, embora não seja expresso em dispostos normativos. A outro título exemplificativo pode-se citar o pedido de reconsideração, embora não seja expresso. 509 Thiago Coelho (@taj_studies) Doutrina: Serve como uma fonte importante para o Direito Processual – vide o debate entre norma processual em sentido estrito e norma procedimental estudada anteriormente. Resoluções de tribunais: Existem resoluções de tribunais – como as resoluções do CNJ – que versam sobre questões processuais. Gera-se um debate acerca dos limites dessas resoluções (até onde elas podem ser consideradas fontes?). Ex: Uma resolução do CNJ que determina que o pagamento de precatório deve ocorrer diretamente na conta do credor (cliente). 5. Interpretação e integração: Norma é o resultado da interpretação dada ao texto. Texto, como já estudado, não se confunde com norma. Todo texto, por mais claro que seja, precisa ser interpretado para virar norma. Não podemos mais pensar princípios como mecanismos integrativos de direito, mas, consoante as contribuições de Robert Alexy, como normas jurídicas que compõem o ordenamento juntamente com as regras. Às vezes de um texto, podem surgir diversas normas. No âmbito do Direito Processual não é diferente. Não é correto afirmar, desse modo, que “na clareza cessa a interpretação”. Nesse sentido, faz-se necessário analisar os métodos de interpretação e integração do Direito Processual: Método literal/gramatical/exegético: Pautado no sentido literal das palavras, afastando a razão de ser da norma; Método lógico-sistemático: Estudo de uma norma a luz de um sistema a qual essa se encontra inserida. Método histórico: Compreensão do contexto histórico em que a norma se insere. Método comparativo: Confronto com o ordenamento jurídico de Estados estrangeiros. Método axiológico/teleológico: Telus = fins, portanto, visa-se a uma interpretação voltada para a finalidade da elaboração da norma jurídica. 510 Thiago Coelho (@taj_studies) OBS: O juiz não pode se negar a julgar alegando a incompletude do ordenamento jurídico (vedação do non liquet), dispondo, portanto, dos mecanismos de integração do Direito. 6. Resultados possíveis da interpretação: Resultado declarativo: O intérprete chega à conclusão de que a lei significa exatamente aquilo que está escrito. Resultado restritivo: O legislador disse mais do que queria dizer. Resultado extensivo: Há a extensão do sentido da lei, já que o legislador disse menos do que queria (há uma amplificação do sentido da norma). Resultado abrrogante: O intérprete conclui pela incompatibilidade da norma com o sistema. 7. A lei processual no espaço: No âmbito do Direito Processual, vige a territorialidade em sentido estrito. Impede-se, portanto, que legislações processuais estrangeiras sejam aplicadas diretamente em nosso ordenamento. Tem-se, portanto, uma rigidez processual, mas não conflitacom a possibilidade de extraterritorialidade da lei substancial (como a penal, por exemplo). A lei estrangeira pode solucionar um litígio, mas a norma processual é brasileira. A territorialidade em sentido estrito proíbe a aplicação de norma processual estrangeira no Brasil, mas nada discorre a respeito da aplicação de normas processuais brasileiras no exterior. A uma norma de índole material-processual (vide o instituto bifronte) não se aplica a rigidez que é constatada no âmbito processual. 8. A lei processual no tempo: Vige o princípio da irretroatividade da lei processual como regra (tempus regit actum). A norma processual, por conseguinte, se aplica de agora em diante. Existem processos demorados e que, durante a tramitação, surge uma nova norma. Daí surge o questionamento sobre o que acontece. 511 Thiago Coelho (@taj_studies) Processos findos: Processos já finalizados e, portanto, não se aplica a lei nova; Processos futuros: Para processos que ocorrerão no futuro, se aplica a lei nova; Processos pendentes: Aqui há um “problema” pois esses processos estão em curso. Em relação a processos pendentes, o que acontecerá? Ex: Um processo X estava sob a égide da lei A e durante a sua tramitação entrou em vigência a lei B. Continuará a se aplicar a lei A? Se aplicará a lei B? As duas serão aplicadas? Para resolver esse impasse, emergiram três teorias: a) Unidade processual: O processo é um todo indivisível, somente podendo se aplicar uma única lei. b) Fases processuais: O processo é dividido em fases e a lei nova se aplica à fase seguinte, tendo em vista que o processo é uma série de atos que se prolongam no tempo. c) Isolamento dos atos processuais: Sistema adotado em nosso ordenamento. Para os adeptos desse sistema, se surge uma lei nova, essa lei já se aplica ao ato seguinte (e não à fase). Ex: Entre as produções de provas (fase), existe a prova pericial (ato). No âmbito processual, existem atos complexos, ou seja, que não começam e terminam de imediato (ex: ouvida das testemunhas – pode levar tardes inteiras). Ex: Se um juiz está ouvindo uma testemunha e há uma falta de luz no meio, retomando esse ato horas depois. Mesmo que durante esse lapso temporal seja promulgada uma nova lei, a lei antiga será aplicada no ato em curso. Para a próxima aula: Exceções da Teoria do isolamento dos atos processuais + Acesso à justiça. AULA 05 – NORMA PROCESSUAL (CONTINUAÇÃO) E ACESSO À JUSTIÇA 1. A lei processual no tempo (continuação): 512 Thiago Coelho (@taj_studies) De acordo com Dinamarco, a regra do isolamento dos atos processuais pautada no tempus regit actum não pode ser aplicada em todos os casos. Caso a lei nova inviabiliza o acesso à justiça, essa não pode ser aplicada a processos futuros. Questões atinentes à aplicação da lei processual no tempo: Em relação ao prazo: A lei nova não incide sobre atos que já iniciaram seus prazos. O CPC estabeleceu que a contagem dos prazos ocorreria com base nos dias úteis; Em relação à validade: Quando pratiquei um determinado ato, aquele era reputado válido pelo ordenamento. Posteriormente, vem uma nova lei e diz que tal ato praticado é invalidado. O ato já foi praticado e, portanto, a lei não pode retroagir para alcançá-lo. Regra: Art. 1.046 – CPC/2015: Ao entrar em vigor este Código, suas disposições se aplicarão desde logo aos processos pendentes, ficando revogada a Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Exceções: § 1º As disposições da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, relativas ao procedimento sumário e aos procedimentos especiais que forem revogadas aplicar-se-ão às ações propostas e não sentenciadas até o início da vigência deste Código. O parágrafo primeiro do art. 1046, CPC, se adequa mais à Teoria das fases processuais. A Lei nº 5.869/73 é mais conhecida como CPC/73. No novo CPC não existe mais o procedimento sumário e alguns procedimentos especiais. Todavia, tem-se uma exceção desse sistema no § 1º do art. 1046, CPC/2015, ocorrendo a aplicação do antigo CPC/73. O CPC/73 ainda poderá ser aplicado com base nos arts. 1047 (provas requeridas ou determinadas antes da vigência do CPC/2015) e 1052 (execuções contra devedor insolvente). 2. Acesso à justiça: Noções gerais A tutela jurisdicional deve ser entendida sobre três prismas: Enquanto decisão (o direito do jurisdicionado de obter do juiz uma sentença); Obter um resultado (a decisão deve surtir efeitos); 513 Thiago Coelho (@taj_studies) Democratizado por procedimento eficiente (redução do formalismo exacerbado em prol de uma linguagem mais compreensível); O acesso à justiça não pode ser visto somente como o direito de bater às portas do Judiciário e obter uma decisão. O acesso à justiça se vincula às ondas revolucionárias (Mauro Cappelletti) da fase instrumentalista do Direito Processual (o processo como instrumento de efetivação do Direito Material). No Brasil, a fase instrumentalista se consolidou em meados da década de 80, quando há a preocupação, justamente, com os aspectos sociais do processo. 3. Obstáculos para o acesso à justiça e tentativas de superação: O custo do processo: Existe toda uma máquina por trás do serviço da prestação jurisdicional (internet, telefone, oficial de justiça, perito, tradutor, intérprete, escritório...). O jurisdicionado precisa pagar pelo serviço. Valor da causa (arts. 291-293 CPC): À medida que se aumenta o valor da causa, aumenta-se o valor de custa. Despesas, honorários advocatícios (contratuais e sucumbenciais) e multas (arts. 82-97 CPC): Independente de ganhar ou não, a contratação de um advogado tem custos. Quem perde (sucumbe) a ação, tem que arcar com os honorários advocatícios da parte contrária (varia entre 10 a 20% do valor da causa). Além de perder a causa, um cidadão tem que arcar com um ônus financeiro para o advogado da parte contrária proporcional ao valor da causa. Ademais, pode haver condenação em multa no caso de ato atentatório contra a justiça ou ação de má-fé. Soluções: Gratuidade de acesso à justiça Benefício da justiça gratuita (arts. 98-101 CPC): Os hipossuficientes são isentos das custas processuais; Art. 98 – CPC: A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei (...) Assistência judiciária: Atuação da Defensoria Pública, de ONGs, de Núcleos de Práticas Jurídicas...; 514 Thiago Coelho (@taj_studies) Assistência jurídica: Mais ampla e pode envolver a atuação dos entes já citados; Ex: Criação da Defensoria Pública e de Núcleos de Práticas Jurídicas, bem como a atuação do Ministério Público. A duração do processo: A morosidade estrangula direitos fundamentais, fazendo com que muitas vezes o indivíduo se submeta a acordos absurdos. Essa demora faz com que cidadãos decidam não entrar na justiça. A estrutura deficitária faz com que os processos sejam mais lentos. As tutelas jurisdicionais diferenciadas são capazes de reduzir essa questão da duração do processo – a judicialização de tratamentos a base de determinados medicamentos envolvendo planos de saúde – e podem acelerar e tornar o processo mais célere. Os precedentes vinculantes e as súmulas vinculantes também são fatores que ajudam na diminuição da duração do processo, uma vez que a complexidade hermenêutica é menor. Outra tentativa trata-se dos chamados processos coletivos, bem como técnicas especializadas (a conciliação, a mediação e a arbitragem). Disparidades entre litigante habitual e litigante eventual: Bancos, planos de saúde, operadoras de telefonia são litigantes habituais. São litigantes diferentes de uma pessoa que ingressoucom uma única ação ao longo de toda a sua vida. Na prática, há uma disparidade extensa entre os litigantes habituais e eventuais. Os primeiros saem em vantagem por apresentarem mais experiência (compreendendo, inclusive, o posicionamento do juiz X, Y, Z). Esses têm maior aproximação com os servidores, o que facilita, também, a celeridade processual (não necessariamente aqui se menciona uma desonestidade). Vale ressaltar que o prejuízo no caso de perda para um litigante eventual é muito mais significativo em comparação a um litigante habitual, devido ao fato de que este apresenta inúmeros processos (os quais pode vencer). Tentando-se superar essa disparidade, pode ocorrer uma participação mais ativa do magistrado, o que não se confunde com parcialidade. O fato dele ser mais apurante, de promover a igualdade (paridade de armas) entre as partes não implica em parcialidade. 515 Thiago Coelho (@taj_studies) A figura do conciliador, do mediador e do árbitro permite reduzir o desequilíbrio nesse processo. Problema cultural: Temos dificuldade no que tange ao reconhecimento do Direito e tal problema não se resume somente à grande quantidade de normas jurídicas. A falta de educação (conhecimento básico) interfere bastante, uma vez que essas pessoas, em um número significativo de ocasiões, possuem dificuldade para reconhecer os seus direitos. Logo, se não os conhecem, não sabem como e porquê lutar. Os meios de comunicação – como as redes sociais – impulsionaram a educação no que concerne à justiça, o que ajuda muito. Contudo, ainda podemos evoluir mais. Questão psicológica: Muitas vezes, as pessoas têm medo da justiça. Existe uma questão psicológica: a justiça como algo inalcançável (principalmente no que tange às pessoas pobres e negras esclarecidas, as quais se sentem intimidadas pelo Poder Judiciário). Qualquer intimação, como ser convocado como testemunha, é motivo de pânico para determinados indivíduos. Essa noção de desigualdade é reforçada por alguns magistrados, inclusive através de uma formalidade excessiva dos trajes. De fato, é necessário se adequar ao ambiente (não entrar de biquíni no tribunal), todavia, deve-se levar em consideração as condições econômicas das pessoas para tal exigência (como exigir um terno de um produtor rural humilde?). Deve ocorrer a aproximação do cidadão por parte do Poder Judiciário (viés mais humano), além de estratégias eficientes voltadas para a educação e esclarecimento da população. Tutela individual: 516 Thiago Coelho (@taj_studies) O fato de o processo ter sido concebido, originalmente, para proteger interesses individuais torna-se um obstáculo ao acesso à justiça. O nosso ordenamento é pautado na proteção de interesses individuais (Thárcio v Thício). Com o tempo, surgiram demandas coletivas (de grupos, de coletividades) – como idosos, mulheres vítimas de abuso, crianças, consumidores, pessoas com deficiência -, todavia, o processo não tinha um aparato para abranger essas questões. Com o passar dos anos, houve uma perceptível transformação do direito, em prol de adequar às tutelas coletivas (mandado de segurança coletivo, processos estruturantes e a ação civil pública). Formalismo exacerbado: O processo precisava se firmar enquanto ciência (vide a fase do cientificismo). Entretanto, para se formar as bases do Direito Processual se preocupava em demasia com o formalismo desse ramo autônomo do Direito. Forma é essencial, o formalismo é indispensável para o processo. Esse formalismo exacerbado, por outro lado, corresponde a um empecilho no que concerne ao acesso à justiça. Os operadores do direito precisam flexibilizar o Direito. Referência: Texto de Mussum Alves (professor da UFBA) sobre acesso à justiça. Para a próxima aula: Normas fundamentais do processo civil. AULA 06 – NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL 1. Normas fundamentais do processo civil – introdução: Art. 1º - CPC: O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil , observando-se as disposições deste Código. O rol (os 12 primeiros artigos do CPC) não é taxativo, ou seja, não esgota as normas fundamentais do processo civil. 517 Thiago Coelho (@taj_studies) 2. O devido processo legal: Princípio expresso no art. 5º, LIV, CF/88 e no art. 8º, CPC. Art. 5º, LIV – CF: Ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. Trata-se de um “princípio-mãe” pois desdobra na criação de diversos outros princípios. Tudo que passa pelo trinômio vida, liberdade e propriedade deve passar pelo devido processo legal. O termo “devido” é vago, geral e amplo, motivo pelo qual este se encontra em vigência há muito tempo. Essa amplitude permite a moldagem desse princípio às circunstâncias temporais e espaciais. Hoje se fala em “devido processo legal eletrônico”, inimaginável no século passado. O devido processo legal abrange relações públicas e privadas. O devido processo legal se refere às garantias processuais mínimas: motivação das decisões judiciais, publicidade, ampla defesa, contraditório. Dimensões: Formal/procedimental: Se refere à forma; Substancial/material: Se refere ao controle da razoabilidade das normas (conteúdo). Alguns afirmam se tratar de sinônimo do princípio da proporcionalidade/razoabilidade; O CPC trata, no art. 8º, do princípio do devido processo legal: Art. 8º - CPC: Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. No âmbito processual, compreende-se que o respeito à dignidade da pessoa humana se relaciona ao respeito ao princípio do devido processo legal. 3. Princípio da efetividade: 518 Thiago Coelho (@taj_studies) Não se encontra previsto de forma explícita na Constituição (trata-se de um princípio constitucional implícito). Art. 4º - CPC: As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. O direito, além de ser reconhecido, precisa ser efetivado, isto é, produzir efeitos práticos. A doutrina, há certo tempo, tem sustentado a perspectiva da existência de direito fundamental à tutela executiva. Trata-se do direito de obter uma decisão satisfatória. 4. Eficiência: Expresso no caput do art. 37 da CF/88 e no art. 8º do CPC (2ª parte). Art. 37 – CF: A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] Art. 8º - CPC: Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. (grifos nossos) O magistrado tem o dever de gerir o processo de maneira eficiente. Alguns doutrinadores sustentam a concepção de que o princípio da eficiência é uma menção ao princípio da economicidade. Não é possível ser eficiente sem ser efetivo. 5. Duração razoável do processo/tempestividade/processo sem dilações indevidas Expresso no Art. 5º, LXXVIII, CF/88 e no art. 4º, CPC. Art. 5º, LXXVIII - CF/88: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. 519 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 4º - CPC: As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluídaa atividade satisfativa. Esse conceito de razoabilidade é aberto e indeterminado, gerando impasses em virtude da sua conotação subjetiva (o que pode ser razoável para um, pode não ser para outro). Cada processo tem a sua peculiaridade, sendo difícil determinar em abstrato a duração razoável do processo. Destarte, deve ocorrer uma análise casuística, isto é, pautada no caso concreto. Existem fatores que interferem na duração do processo. Fredie Didier Jr. lista critérios para compreender se um processo está tendo uma duração razoável: Estrutura do Poder Judiciário: Influencia diretamente no tempo do processo. Determinados cartórios apresentam poucos servidores, os quais precisam se desdobrar para atender a uma grande demanda; Comportamento das partes: A forma como as partes agem no processo influencia diretamente o andamento deste. Às vezes, uma das partes atua de “sacanagem” para que o processo atrase; Complexidade da causa: Nas causas mais complexas, é natural que o processo dure mais. Alguns doutrinadores utilizam o termo celeridade ao invés de “duração razoável”. Parcela da doutrina não adere a essa expressão “princípio da celeridade”, ou seja, não considera-a como sinônimo de “duração razoável”, uma vez que celeridade se vincula a uma ideia de corrida. O processo não precisa ser célere, precisando de tempo para ser maturado. Em nome da celeridade (“corre-corre”), há o risco de se violar direitos e garantias fundamentais, sendo necessária, portanto, a cautela. Paula Sarno levantou debates sobre a seguinte questão: “o tempo é amigo ou inimigo do processo?”. Para Diana Rios, o tempo é um aliado, existindo problemas quando esse acaba se prolongando. OBS: Razoabilidade e celeridade são termos relacionados, mas não se confundem! As formas de concretização da duração razoável do processo foram trabalhadas na aula anterior, encontrando-se, entre elas, a tutela coletiva. 520 Thiago Coelho (@taj_studies) 6. Igualdade/paridade de armas: No âmbito processual, o princípio da igualdade é mais conhecido como princípio da paridade de armas. É expresso na CF/88, mais precisamente no caput do art. 5º, bem como no art. 7º do CPC. Art. 5º - CF: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Art. 7º - CPC: É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. A igualdade que se busca aqui não é meramente formal, mas substancial (material). O juiz deve reconhecer quando há desigualdades e permitir a paridade de armas (isso não significa adotar uma postura parcial). O art. 6º, VIII, CDC permite a inversão do ônus da prova, compreendendo que o consumidor é a parte hipossuficiente (vulnerável) do processo. A regra é que quem alega, tem que provar; entretanto, no Código de Defesa do Consumidor, cabe à outra parte (empresa/fornecedor) provar a legalidade nas suas condutas. Tal artigo não viola a igualdade - justamente o contrário: a ratifica. Art. 6º - CDC: São direitos básicos do consumidor: VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências; Prazos diferenciados da Fazenda Pública (art. 183, CPC): Art. 183 – CPC: A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal. Ex: Cidadão tem 15 dias para pleitear uma ação; o Estado tem 30 (o dobro). Emerge a seguinte discussão: o disposto no art. 183, CPC, viola o princípio da igualdade? 521 Thiago Coelho (@taj_studies) De acordo com Diana Rios, a demanda contra a Fazenda Pública é infinitamente maior e muitas vezes não há funcionários suficientes para atender essa expressiva demanda. Além disso, há um entrave burocrático que justifica esse “prazo em dobro”. Remessa necessária (art. 496, CPC): Mesmo não havendo recurso, para que uma decisão surta efeito, o processo precisa ser reapreciado por um órgão colegiado (no caso do Estado ser condenado). Para Diana Rios, a supremacia do interesse público sobre o privado é a justificativa para essa regra, fazendo uma ressalva em relação às hipóteses em que há a intenção de prejudicar uma das partes. 7. Contraditório/ audiência bilateral: Positivado no art. 5º, LV, CF/88 e nos arts. 7º, 9º e 10º, CPC. Art. 5º, LV – CF: aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Art. 7º - CPC: É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Art. 9º - CPC: Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. Art. 10 – CPC: O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. (grifos nossos) Deve-se garantir às partes o direito de ser ouvido, isto é, de participar (dimensão formal) e de influenciar o juiz (dimensão substancial). O princípio do contraditório, na sua dimensão substancial, impede a prolação de decisão surpresa, ou seja, a parte não pode ser surpreendida com um tema não manifestado 522 Thiago Coelho (@taj_studies) anteriormente. Ademais, serve de fundamento para o direito da parte de ser acompanhada por um advogado (alguém com conhecimento técnico). Existem casos em que, pela urgência da situação, não é dada à parte contrária o direito de se manifestar (ex: casos envolvendo planos de saúde). Ex: A precisa de uma cirurgia urgente para evitar a morte. O plano de saúde de A nega. O juiz concede uma liminar em menos de 48h, mas não ouviu o plano de saúde. Ascende o questionamento: a concessão dessas medidas viola ou não o princípio do contraditório? Para Diana Rios, a doutrina considera que o que há é uma postergação do direito ao contraditório - e não uma violação. Desse modo, o plano de saúde terá a oportunidade de, em momento posterior, manifestar as razões pelas quais não deve cobrir o procedimento cirúrgico. Existem matérias processuais que podem ser conhecidas de ofício, ou seja, conhecidas pelo magistrado independentemente da alegação de qualquer das partes. Deve o juiz solicitar a manifestação das partes, ou seja, o exercício do direito ao contraditório pelas partes. Mesmo sobre essas questões, elas devem ser submetidas ao contraditório. 8. Ampla defesa: Trata-se do conjunto de meios adequados para o exercício do contraditório. Não é possível influenciar uma decisão sem os meios necessários para tal, ou seja, sem a ampla defesa. A ampla defesa, dessa forma, é o princípio do contraditório em sua dimensão substancial. Em síntese, o contraditório e a ampla defesa se fundiram. 9. Publicidade: Positivado nos arts. 5º, LX e 93, IX e X, CF/88, bem como nos arts. 8º e 11, CPC. Salvo as questões que tramitam em segredo de justiça, o processo deve ser publicizado,isto é, ser tornado público. Art. 5º, LX – CF: a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem; 523 Thiago Coelho (@taj_studies) Art. 93, IX – CF: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; Art. 8º - CPC: Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Art. 11 – CPC: Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. O juiz não pode impedir acesso às partes envolvidas no processo. Existem, contudo, casos, em que pessoas alheias ao processo não podem acessá-lo (processos que correm em segredo de justiça já mencionados anteriormente). A restrição possível se encontra na dimensão externa. 10. Inafastabilidade do controle jurisdicional: Princípio expresso na Constituição, mais precisamente no art. 5º, XXXV, bem como no CPC, art. 3º. Art. 5º, XXXV - CF: a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito; Art. 3º - CPC: Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. Observa-se que o CPC é mais abrangente ao utilizar a expressão “apreciação jurisdicional”, a qual não se limita ao Poder Judiciário, mas admite outras técnicas de solução de conflitos - tais como a arbitragem. Vedação ao non liquet (art. 140, CPC): Art. 140 – CPC: O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico O juiz, portanto, não pode deixar de decidir. 524 Thiago Coelho (@taj_studies) A arbitragem viola o princípio constitucional? Não. “a lei não excluirá (...)” - art. 5º, XXXV - ou seja, as partes podem buscar solucionar o conflito sem a interferência do Judiciário (exercício da autonomia privada). O STF compreendeu que a arbitragem é constitucional. No Brasil, não se permite a jurisdição condicionada/ instância administrativa forçada. A única exceção constitucional se refere ao âmbito da justiça desportiva (art. 217, § 1º, CF/88). Art. 217, § 1º - CF: O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei. 11. Juiz natural: Positivado no art. 5º, XXXVII e LIII, CF/88. Art. 5º – CF: LXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção; LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; O juiz natural se divide em duas dimensões: Formal/objetiva: Refere-se à competência (há, também, a vedação da criação de tribunais de exceção); Substancial/subjetiva: Remete à imparcialidade/independência do juiz, ou seja, o magistrado deve ser imparcial - não deve ter interesse direto na solução da causa (imparcialidade objetiva), mantendo-se equidistante das partes envolvidas; Para a próxima aula: Impedimento e suspeição (arts. 144 e 145, CPC). AULA 07 – NORMAS FUNDAMENTAIS DO DIREITO PROCESSUAL 525 Thiago Coelho (@taj_studies) 1. Juiz natural: O juiz deve ser competente e as regras de competência devem ser previamente estabelecidos, razão pela qual o nosso ordenamento veda os tribunais de exceção. Art. 5º, XXXVII e LIII – CF/88: XXXVIII – não haverá juízo ou tribunal de exceção; LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente; Dimensões: Formal/objetiva: O juiz deve ser competente; Substancial/subjetiva: O magistrado não deve ter interesses na causa (imparcialidade objetiva) e o magistrado deve se manter equidistante das partes (imparcialidade subjetiva). Impedimento e suspeição (arts. 144 e 145, CPC): O magistrado seria impedido ou suspeito no caso de comprovação de parcialidade do juiz. Nessas hipóteses é vedado ao magistrado exercer o controle jurisdicional, havendo a presunção de que ele é parcial (violação ao princípio do juiz natural). As hipóteses de impedimento e suspeição serão estudadas na disciplina Direito Processual Civil I. OBS: Imparcialidade não se confunde com neutralidade, uma vez que os pré-conceitos interferem na interpretação humana. Varas especializadas: É possível a criação de varas para julgar causas especiais – varas de proteção à mulher vítima de violência, varas de proteção ao idoso, entre outras. Essas varas especializadas não ferem o princípio do juiz natural, já que as regras do CPC são vagas e abstratas. Promotor natural: O promotor também precisa ser imparcial. Alguns doutrinadores defendem que o princípio do juiz natural se estende ao juiz natural justamente pelo fato da constituição mencionar “autoridade competente” e não “juiz competente”. Todavia, decisão recente do STF declarou expressamente que não há que se falar em “princípio do promotor 526 Thiago Coelho (@taj_studies) natural”, mas tão somente em “juiz natural”. Mesmo assim, no âmbito administrativo, a perspectiva do promotor natural se faz presente. Fredie Didier Jr. é um defensor da aplicação do princípio do juiz natural no âmbito administrativo. 2. Princípio da motivação das decisões judiciais e livre convencimento motivado/ persuasão racional do juiz: Expresso no art. 93, IX, CF e no art. 11, CPC. Art. 93, IX – CF: todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) O art. 93, IX, CF engloba, também, o princípio da publicidade, conforme discutido na aula passada. Art. 11 – CPC/15: Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. Em suma, o juiz precisa explicitar as razões pelas quais decidiu de uma forma e não de outra. A fundamentação corresponde ao embasamento da decisão judicial. Esse princípio é importante para que as partes compreendam o porquê um pleito foi negado e, dessa forma, podem mais facilmente fundamentar suas razões recursais. Ademais, tal fundamentação é importante para o órgão que vai revisar aquela decisão. Há, também, um controle social (ponto de vista externo) no que concerne à imparcialidade do juiz. Do princípio da motivação das decisões judiciais decorre o livre convencimento motivado. Destarte, o magistrado é livre para apreciar os autos, desde que fundamentado. Art. 371 – CPC/15: O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na decisão as razões da formação de seu convencimento. 527 Thiago Coelho (@taj_studies) Livre convencimento: meio-termo entre o sistema de prova tarifada (cada prova, um valor/peso) e o sistema da íntima convicção (o magistrado pode julgar através da sua íntima convicção, independentemente das provas). Nesse viés, o juiz, desde que fundamente a sua decisão, pode preferir uma prova testemunhal a pericial. 3. Adequação/flexibilidade/elasticidade: Princípio implícito e decorrente de uma série de outros princípios (como o da inafastabilidade e o da eficiência).Processo não é um fim em si mesmo, servindo de um mecanismo de efetivação do direito material. De acordo com o princípio da adequação, o processo deve se adequar ao direito que está sendo discutido, sob pena de se negar a efetividade da tutela jurisdicional. Esse princípio apresenta algumas dimensões: Legislativa (Dimensão prévia e abstrata): O legislador, no momento em que está elaborando as normas processuais, deve levar em conta o direito material que vai ser objeto de proteção. Por exemplo, as leis relacionadas ao pagamento de pensão alimentícia apresentam procedimentos mais simples e céleres; Jurisdicional: Se dirige à figura do julgador, ao órgão jurisdicional. Um magistrado, a luz do caso concreto, pode realizar adaptações que julgar necessário. Por exemplo, quando o magistrado inverte o ônus da prova em virtude da vulnerabilidade de uma das partes ou realiza a concessão de uma tutela antecipada; Negocial: A adequação deriva dos negócios jurídicos processuais. As partes podem, portanto, negociar sobre diversos procedimentos processuais, adaptando-os a luz do caso concreto; O princípio da adequação se manifesta sob diferentes critérios/aspectos: Subjetivo: O processo deve se adequar aos sujeitos do processo. Os processos em que idosos, a título exemplificativo, figuram como partes têm prioridade de tramitação. Alguns escritórios ainda costumam fazer a distinção entre “idosos” e “superidosos”; 528 Thiago Coelho (@taj_studies) Teleológico (telus = fins): O processo deve se adequar aos fins sociais que visa. Ex: A Lei dos Juizados Especiais foi criada para tutelar causas menos relevantes (princípio da informalidade, princípio da oralidade...) fora da Justiça Comum; Objetivo: O processo deve se adequar (I) à natureza do direito material que está sendo discutido (ex: ações de alimentos), (II) à evidência do direito material discutido (ex: mandado de segurança – as provas devem ser apresentadas logo) e (III) à situação de urgência (ex: concessão de tutela antecipada). 4. Boa-fé processual: Há uma preocupação dos operadores do direito em inserir aspectos éticos no processo. Expresso no art. 5 do Código de Processo Civil. Art. 5º - CPC/15: Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. O princípio da boa-fé processual reflete a fase de evolução do Direito Processual conhecida como Neoprocessualismo (uma das marcas do NCPC). A boa-fé aqui mencionada é a boa-fé objetiva, ou seja, uma norma de conduta, um padrão mínimo ético de conduta que deve ser observado no curso do processo. As partes devem agir de boa-fé para com o juiz e para também em relação à outra parte. A boa-fé objetiva trata-se de uma cláusula geral, uma vez que se trata de um conceito extremamente amplo e genérico. Dessa cláusula geral, nascem algumas regras de proteção ao princípio da boa-fé, inclusive como forma de concretizá-lo. Nesse viés, ascendem deveres de cooperação – entre as partes e perante as autoridades. 5. Cooperação: Expresso no art. 6 do CPC, corresponde a um desdobramento do princípio da boa-fé objetiva. Art. 6º - CPC/15: Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Esse artigo engloba, também, os princípios da duração razoável do processo e da efetividade. 529 Thiago Coelho (@taj_studies) Princípio dispositivo x Princípio inquisitivo: Antes, havia a predominância do princípio dispositivo no Direito Civil; e a do princípio inquisitivo, no Direito Penal. Com o tempo, passou-se a compreender o papel atuante do magistrado no Direito Civil, assim como há garantias fundamentais das partes no Direito Penal que merecem destaque. Hoje, a visão predominante é a do processo cooperativo, ou seja, todos devem contribuir para a produção de processo justo e efetivo (partes e o juiz = união dos princípios dispositivo e inquisitivo). Processo cooperativo = princípio dispositivo + princípio inquisitivo. São deveres das partes: Esclarecimento, lealdade e proteção; São deveres do órgão jurisdicional: Esclarecimento, consulta, prevenção e auxílio. DEVERES DAS PARTES DEVERES DO ÓRGÃO JURISDICIONAL ESCLARECIMENTO LEALDADE PROTEÇÃO ESCLARECIMENTO CONSULTA PREVENÇÃO AUXÍLIO As partes precisam ser claras no que estão propondo. As partes não podem litigar de má-fé no processo. As partes não devem causar danos ao processo (como praticar um ato para procrastiná -lo). O magistrado, diante de alguma dúvida, deve pedir esclarecimentos às partes e esclarecer as suas próprias decisões. O magistrado tem o dever de consultar as partes sobre matérias que elas ainda não tiveram a oportunidade de se manifestar no processo O magistrado tem o dever de prevenir às partes de eventuais irregularidades processuais. Além de apontar esses defeitos, o magistrado tem o dever de advertir às partes acerca das consequências da não observância de determinados ônus processuais. Dever que o magistrado tem de ajudar a parte a superar obstáculos existentes no processo. Parte da doutrina considera-o inexistente devido à violação do princípio do juiz natural. 6. Proteção da confiança: Subprincípio implícito do princípio da segurança jurídica. 530 Thiago Coelho (@taj_studies) Um indivíduo tem a sua ação pautada na confiança de uma norma legal, a qual não pode ser posteriormente frustrada. Se um indivíduo pratica uma conduta com base em um ato legal. Se posteriormente esse ato for declarado ilegal, não se pode frustrar a confiança do indivíduo na prática daquela conduta (efeitos irretroativos). 7. Autorregramento da vontade: Princípio implícito em virtude da ausência de previsão legal. Decorre do direito fundamental à liberdade, sendo muito forte no âmbito do direito material. Trata-se do direito dos indivíduos regularem suas ações com base na sua vontade. Essa liberdade se estende ao Direito Processual. O autorregramento da vontade já existia no CPC/73, mas se tornou mais evidente a partir do CPC/15. Ex: Negócios jurídicos processuais (art. 190 – NCPC), estímulo à resolução consensual de conflitos (art. 3º, §§ 2º e 3º - NCPC), arbitragem (art. 3º, § 1º - NCPC), etc. Art. 190 – CPC/15: Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Art. 3º - CPC/15: § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. Nesse viés, a conciliação, a mediação e arbitragem não são impostas, mas resultantes do autorregramento da vontade das partes envolvidas no litígio. 531 Thiago Coelho (@taj_studies) 8. Primazia da decisão de mérito: O órgão julgador deve priorizar o julgamento do mérito (análise de mérito). Expresso nos arts. 4º e 6º do NCPC. Art. 4º - CPC/15: As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Art. 6º - CPC/15: Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Art. 317 – CPC/15: Antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir o vício. 9. Duplo grau de jurisdição: Há uma discussão doutrinária acerca da natureza
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