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Unidade 1 - Produção de ruminantes Apresentação Os animais ruminantes ocupam grande parte da área relativa à produção de alimentos no mundo por serem capazes de converter pastagens e alimentos de baixa qualidade em diversos tipos de produtos. Em termos de área de produção, recurso escasso e cada vez mais caro, eles ocupam regiões de terra mais barata para os sistemas de produção de cria e que, muitas vezes, não oferecem condições para a produção de grãos ou de culturas mais exigentes. Apesar da imagem negativa da produção de bovinos de corte em alguns mercados consumidores e de desafios relacionados a ineficiências produtivas e a técnicas de manejo, os bovinos também são indicados para a conservação de regiões de pastagens naturais. Além disso, representam uma das principais proteínas produzidas e consumidas no Brasil e no mundo, uma vez que os bovinos de leite oferecem proteína de baixo custo a uma grande camada da população e oferecem alternativa de renda a pequenos produtores familiares. Os pequenos ruminantes oferecem opções de produção em áreas ainda mais inóspitas, como no semiárido do Nordeste brasileiro, aproveitando inclusive a cultura da palma forrageira. Assim, tais animais oferecem uma alternativa importante para os produtores da região e para os consumidores, que têm grande necessidade de nutrientes. A carne e leite de ovinos também têm potencial nos mercados diferenciados e sua lã oferece material de qualidade para o mercado têxtil de luxo. OBJETIVOS DA UNIDADE • Conhecer características gerais dos bovinos domésticos; • Reconhecer bovinos europeus e bovinos indianos; • Analisar características zootécnicas dos bovinos de corte e de leite; • Observar características zootécnicas de caprinos e ovinos de produção; • Avaliar os sistemas de produção dos ruminantes; • Dominar os princípios da produção de ruminantes domésticos. TÓPICOS DE ESTUDO Bovinocultura de corte e leite // Produção de bovinos de corte // Produção de bovinos de leite Caprinocultura e ovinocultura // Produção de caprinos // Produção de ovinos Bovinocultura de corte e leite Os bovinos domésticos são aproveitados na produção de itens fundamentais para a humanidade, uma vez que suas cadeias produtivas entregam alimentos (carne e leite) roupas (couro) e medicamentos (heparina) aos consumidores finais. Os bovinos são mamíferos ruminantes capazes de aproveitar carboidratos complexos (como a celulose que confere dureza às plantas) e o nitrogênio não proteico, conforme mostra o sistema digestivo apresentado na Figura 1. Essa capacidade faz com que sejam capazes de transformar recursos, como pastagens e outros alimentos de menor qualidade, em carne e leite, diferente de outros animais de produção monogástricos (suínos e aves), que demandam alto uso de grãos em suas dietas. Figura 1. Sistema digestivo simplificado de bovinos. Fonte: Adobestock. Acesso em: 15/06/2021. Como ruminantes, os bovinos são capazes de digerir uma variedade de vegetais pela fermentação, realizada pelos microrganismos que vivem de forma comensal – relação entre duas espécies que beneficia ambas sem prejuízo a nenhuma delas – no rúmen desses animais. As principais opções de alimentação dos bovinos em pasto são as pastagens de gramíneas, naturais ou plantadas, e de trevos, mas também podem ser alimentados com forragem conservada, como feno e silagem, ou com grãos de cereais em dietas de alta energia. Esses grandes ruminantes são encontrados em quase todo o mundo, com exceção das terras inóspitas nos Polos Norte e Sul. Os bovinos fazem parte do grupo de animais domesticados durante a Revolução Agrícola, há mais ou menos 9000 anos, sendo considerado o grupo mais importante do ponto de vista econômico. Nesse período, os humanos passaram a investir grande parte do tempo em controlar e melhorar as espécies de plantas e animais para consumo. Apesar da controvérsia entre os pesquisadores quanto à origem dos bovinos, acredita-se que eles descendam de raças locais do Auroque (Bos primigenius), um animal agressivo e muito grande, extinto por volta do século XVII, como relatado por Caramelli em artigo para a revista Human Evolution, em 2006. Como o animal era encontrado em diversas partes do mundo, é provável que sua adaptação aos diversos ambientes tenha dado origem aos antepassados das subespécies e raças de bovinos conhecidas hoje. Os dois tipos de bovinos domésticos desse gênero, Bos indicus e Bos taurus, foram considerados como espécies na classificação de Lineu, baseada na semelhança entre os animais oriunda da proximidade geográfica e do isolamento desses grupos de animais. Contudo, novas abordagens questionam essa classificação e sugerem que elas sejam consideradas como subespécies, visto que é possível reproduzir bovinos das duas “espécies” e gerar descendentes também férteis, como é a base de quase todos os cruzamentos comerciais utilizados na produção de bovinos. Esses pesquisadores compararam o material genético encontrado em fósseis aos dos bovinos atuais e comprovaram que os auroques foram os progenitores tanto do gado europeu (Bos taurus) quanto do zebuíno (Bos indicus), propondo denominá-los então de Bos primigenius taurus e Bos primigenius indicus, conforme escrito por Hiendleder, Lewalski e Janke, em artigo publicado em 2008 na revista Cytogenetic and genome research. Embora isto faça sentido num viés didático e filogenético, essa proposição ainda não é de todo aceita nas ciências agrárias, que denominam as subespécies como Bos taurus taurus e Bos taurus indicus. Além disso, pelos benefícios oferecidos pelo cruzamento entre as duas subespécies e pelo fato de que a maior parte do rebanho mundial é comercial e reproduzido com assistência e planejamento zootécnico, é improvável que um dia exista distanciamento genético suficiente para garantir a especiação, ou seja, a diferenciação desses animais em duas espécies. Segundo Rischkowsky e Pilling, no livro The state of the world's animal genetic resources for food and agriculture - in brief, de 2007, as raças que compõem a subespécie Bos taurus são também chamadas de raças europeias e representam animais mais adaptados a climas temperados, sendo bovinos que, em geral, não possuem cupim, com chifres inexistentes ou curtos, pele clara e pelos mais longos. No Brasil, são animais adaptados ao clima mais ameno dos campos da Região Sul, porém, seus reprodutores e sêmen são comercializados, para outras regiões e climas brasileiros e internacionais, para cruzamento. Essas raças apresentam bons índices de produtividade, precocidade e qualidade de carne, mas também são menos resistentes a parasitas e condições ambientais adversas, como calor e seca. Por outro lado, os mesmos autores caracterizam as raças zebuínas (Bos taurus indicus) como adaptadas às temperaturas mais elevadas das regiões tropicais. Os zebuínos, maioria do rebanho brasileiro, são animais mais reativos, com cupim/giba, barbela (pele do pescoço) abundante e pregueada, pele com pigmentação mais escura e solta da musculatura, orelhas longas e pendulares, além de pelos curtos e finos. A capacidade de adaptação a condições adversas desses animais possibilitou sua expansão em território nacional, em conjunto com o desenvolvimento tecnológico, genético e de manejo de pastagens, que contribuiu para que o Brasil atingisse sua posição de grande produtor e exportador internacional de carne. EXPLICANDO A corcova, cupim ou giba, característica dos bovinos indianos, serve como uma reserva energética para situações de necessidade, como nos camelos e dromedários. A característica mais evidente do cupim, além de servir para alimentação humana, é o fato dele ser entremeado de gordura. Conhecendo as características morfofisiológicas gerais de Bos tauruse Bos indicus, expostas na Figura 2, é possível identificar, em uma simples análise, à qual subespécie pertencem as raças de bovinos, com destaque para cupim, orelhas pendulares e barbela. Tal percepção facilita o entendimento das características e condições gerais de produção demandadas por cada raça, bem como dos tipos zootécnicos de cada animal, suas aptidões e indicadores gerais de produção. Figura 2. Características externas de bovinos de origem indiana (Bos taurus indicus). Fonte: GEENTY; MORRIS, 2017. (Adaptado). Os bovinos de produção também podem ser divididos conforme seu propósito, isto é, suas características zootécnicas, visto que, com base no tipo zootécnico, eles podem ser mais eficientes ou entregar produtos em melhor qualidade e/ou volume. Assim, é possível ter uma divisão geral de bovinos de leite e de corte, especializados para a melhor produção desses produtos. Além deles, existem animais de dupla aptidão, que apresentam bons índices de produção para carne e para leite, mas cujos resultados não se comparam aos dos animais especializados. Apesar de vários atributos fisiológicos semelhantes, a produção de bovinos de corte e de leite é tratada de forma separada, inclusive com a formação de especialistas e técnicas específicas. Cada tipo zootécnico tem características externas distintas, como constituição corporal, deposição de musculatura ao longo do corpo, bem como tamanho do úbere, além de capacidade de volume e constituição do leite. PRODUÇÃO DE BOVINOS DE CORTE Os bovinos de corte representam o maior rebanho de bovinos no Brasil e, em geral, são criados em áreas de pastagens naturais em todos os biomas brasileiros. A aparência externa desses ruminantes indica sua aptidão para a deposição e desenvolvimento dos músculos processados para a produção a ser entregue ao consumidor final, ou seja, a carne bovina. Essa conformação é identificada, em geral, por um pescoço curto, corpo musculoso e sem ossos aparentes quando em bom estado de saúde, bem como um tronco comprido e bem preenchido por músculos ao longo de sua extensão. Assim, é possível delinear um grande retângulo ao visualizar esses animais de lado, como ilustrado na Figura 3, que mostra a lateral direita de um touro da raça Hereford, com destaque para a conformação comum aos bovinos do tipo corte. Figura 3. Touro da raça Hereford. Fonte: MCCRACKEN; KAINER; SPURGEON, 2013, p. 32. (Adaptado). A produção de carne bovina inclui um ciclo de produção de bovinos que vai do nascimento dos bezerros até que os animais estejam prontos para o abate, conforme os objetivos, perfil dos produtores e características da propriedade. Nesse sentido, são desenvolvidas todas ou algumas dessas fases de produção: 1. Etapa de cria Envolve grandes rebanhos de vacas de cria, bezerros, que são vendidos ou mantidos para se tornarem touros, bezerras a serem vendidas ou mantidas para substituírem as vacas que não produzem mais bezerros e material genético de touros via monta natural, com esses animais na propriedade, ou via inseminação artificial, com sêmen comprado de centrais de reprodução ou coletado na propriedade. Os produtores dedicados a essa etapa fornecem bezerros, já adaptados a viverem sem as mães, a outros produtores para seguir o ciclo de produção. Uma parte muito importante dessa etapa, observando o ponto de vista econômico, são as vacas de descarte, fêmeas que não oferecem um bezerro por ano, o grande objetivo dessa etapa. Apesar dos motivos de descarte variarem conforme cada produtor, esses animais representam uma entrada de recursos financeiros importante para as propriedades no Brasil. Além disso, ainda que essa etapa seja a base de toda a cadeia produtiva da carne bovina, ela é alocada nas piores pastagens, com os piores recursos nutricionais. Esse cenário, junto ao alto capital engessado em animais no rebanho (matrizes), explica porque essa etapa enfrenta os maiores desafios econômicos para os produtores; 2. Etapa de recria Compreende o período em que os bezerros são desmamados, separados das mães, até o momento em que atingem o peso adulto e estão aptos para a engorda ou para a reprodução. Essa etapa é um momento de investimento em crescimento e ganho de peso dos animais, mas também de muita eficiência de conversão do que eles comem em peso (musculatura e gordura). Portanto, muitos produtores se dedicam a essa etapa ou a ela em conjunto com a terminação, investindo muito em estratégias de negociação e bons fornecedores de bezerros; 3. Etapa de terminação Também denominada de engorda, terminação ou invernada em algumas regiões brasileiras, essa fase representa o momento de ganho de peso e deposição de gordura, que ocorre em todo o corpo do animal. A forma e quantidade de gordura depositada dependem não apenas da nutrição dos animais, mas do sexo, raça, idade e local do corpo do animal, bem como de sua regulação hormonal. A gordura pode ser distribuída em quatro locais diferentes, com composição, função e influências diferentes na carne bovina, sendo denominada conforme essa deposição: gordura interna (entre e envolvendo os órgãos), gordura intramuscular (entre os músculos), gordura de cobertura (embaixo da pele, importante para a proteção da carcaça durante o resfriamento) e gordura de marmoreio ou intramuscular (associada à maciez da carne bovina); 4. Ciclo completo Produtores que optam por produzir os animais ao longo de todas as etapas de produção descritas acima. Apesar de não dependerem tanto da negociação com outros produtores para a aquisição de animais, da garantia de oferta e características dos animais de interesse, gerenciar todas as etapas da produção é uma demanda complexa, com muitos desafios até chegar à competitividade. Em relação à estratégia de produção dos animais, há três tipos principais de sistemas de produção: sistemas extensivos, semi- intensivos ou intensivos. A escolha do mais adequado depende do perfil do produtor, das características físico-químicas da propriedade, da raça selecionada, da etapa de produção a ser desenvolvida e do mercado consumidor que se pretende atender. Apesar de cada tipo de sistema ter seus benefícios e desafios, os sistemas extensivos são cada vez mais complicados a longo prazo, pois oferecem baixos índices de produtividade e rentabilidade, ao passo que o preço de recursos naturais como a terra estão cada vez mais elevados e escassos. SISTEMAS EXTENSIVOS Os sistemas de produção de bovinos de corte mais comuns no Brasil são os extensivos, nos quais os animais são criados a pasto, ou seja, soltos em campos naturais ou plantados, em geral com o uso de suplementos minerais e/ou proteicos a fim de atender às necessidades nutricionais em pastagens de menor qualidade. Na maioria dos casos, são grandes propriedades, localizadas longe dos centros de consumo e distribuição de alimentos e cujo principal investimento nesses sistemas consiste em melhorar o manejo dos animais e das pastagens. Esses sistemas de produção demandam menos capacidade de controle da produção e menor intensidade de manejo dos animais, porém, o tempo de produção do nascimento ao abate tende a ser muito maior, considerando a dificuldade de deposição de gordura na terminação a pasto. A carne dos animais produzidos a pasto tem atributos associados à produção natural, orgânica e/ou sustentável, contanto que os processos de produção dessas classificações e certificações seja atendido. Esses produtos são voltados a consumidores mais exigentes e tem potencial de receber valores mais elevados, porém, esse é um mercado ainda em desenvolvimento no Brasil, já que os compradores valorizam mais o preço e volume de produto na culinária cotidiana. A carne a pasto também tem sabor particular e gordura mais amarelada do que dos animaisterminados em confinamento, o que alguns consumidores podem associar à carne de animais mais velhos, não gostar ou não estar acostumados, como nos Estados Unidos da América e no Japão, locais que, em sua maioria, criam gado em confinamento. SISTEMAS SEMI-INTENSIVOS Os sistemas semi-intensivos são implementados em propriedades menores e compõem a maioria dos sistemas de produção de leite bovino, mais próximos dos centros urbanos. Em produção de carne, requerem investimento para aumentar a produtividade dos sistemas extensivos, com ênfase em relação à suplementação alimentar dos animais nos períodos de menor oferta dos campos, como secas e invernos rigorosos. SISTEMAS INTENSIVOS Sistemas intensivos ou confinamentos em sua maioria são focados na etapa de terminação os animais, ou seja: depois que eles já estão plenamente desenvolvidos, é necessário um aporte maior para a deposição de gordura subcutânea, embaixo da pele, que é fundamental para proteger as carcaças dos animais do frio das câmaras frigoríficas. Porém, também podem ser utilizados para bezerros desmamados, e outras categorias de bovinos de corte em épocas de alta necessidade ou para animais com baixo escore de condição corporal. Nesses sistemas, os animais são mantidos em lotes com muitos animais por área, em piquetes ou currais fechados e com alimentação altamente energética em cochos. A carne de confinamento também apresenta um sabor particular e altamente associado aos produtos utilizados no confinamento, o que pode ser aproveitado, utilizando produtos para transmitir sabores e aromas especiais a carne, mas também pode apresentar sabores negativos se utilizados certos produtos em alta quantidade, como o caroço de algodão. DICA O SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) produziu um guia, intitulado Bovinocultura: manejo e alimentação de bovinos de corte em confinamento, que aborda o adequado manejo e alimentação de bovinos de corte em confinamento. Em geral, as raças de bovinos de corte reúnem a capacidade de entregar um bom bezerro por vaca por ano e animais capazes de bons ganhos de peso, com boa capacidade de deposição de gordura ao longo da vida produtiva (Quadro 1). Quadro 1. Raças de bovinos de corte em produção do Brasil. A eficiência na produção de bovinos de corte está muito associada ao uso dos recursos naturais, em especial na área de produção. Assim, as ações dos produtores devem buscar: Eficiência nutricional: Suplementação mineral e proteica com base nas necessidades dos animais, manejo adequado das pastagens e dos solos mediante análise de suas características, manutenção de carga animal (animais por área) adequada, conservação dos excedentes forrageiros ou intensificação em momentos de cser_educacionl, como secas e invernos rigorosos, organização dos lotes de animais conforme necessidades nutricionais, avaliação do ganho de peso e estado nutricional, com ênfase em momentos críticos, como o período pré e pós parto das fêmeas, além da engorda antecipada, pois são mais valorizados e ficam menos tempo na propriedade, gerando menos custos de produção; Eficiência reprodutiva: Planejar a reprodução, considerando a facilidade ao parto e o cuidado com bezerros muito grandes para fêmeas, capacitar os funcionários para auxiliar no momento do parto, dar suporte nutricional adequado às fêmeas para a reprodução, como suplementação ou separação antecipada do bezerro (desmane proeoce), descartar as fêmeas que não produzem um bezerro por ano, fazer a seleção adequada dos touros ou do sêmen a ser utilizado, manter o rebanho saudável, além de oferecer condições para que as fêmeas entrem em puberdade e estejam aptas à reprodução mais cedo, o que, apesar de demandar maior suporte nutricional, possibilita uma maior vida reprodutiva; Eficiência de gestão e manejo: Capacitar os recursos humanos, com programas de bonificação e valorização dos funcionários, padronizar os animais e organizar os lotes conforme dos custos de produção, dos índices zootécnicos e dos preços de mercado para facilitar a tomada de decisões mais informada possível, além de estabelecer estratégias adequadas de comercialização. Alguns indicadores zootécnicos importantes são: • Ganho Médio Diário (kg/dia): peso atual – peso anterior/dias entre as duas pesagens; • Taxa de prenhez (%): bezerros nascidos por vacas colocadas em reprodução; • Taxa de desmame (%): bezerros desmamados por vacas colocadas em reprodução; • Produtividade (kg/ha): quilos de peso vivo dos animais produzido por hectare; • Carga animal (kg/ha): quilos de peso vivo dos bovinos por área; • Margem bruta por hectare (R$/ha): Receita - Custo Total/área em pastagem; • Taxa de mortalidade (%): número de animais mortos por ano; • Lucratividade (%): margem bruta/receita; • Taxa de desfrute: número de animais abatidos/animais do rebanho. Da mesma forma, têm importância a idade e o peso médios dos animais que têm diagnósticos de prenhez positivo e dos que são vendidos. PRODUÇÃO DE BOVINOS DE LEITE Os bovinos de leite são animais de produção importantes, dada a relevância de seus produtos para alimentação e saúde dos seres humanos. Esses ruminantes oferecem a maioria dos laticínios presentes nos hábitos alimentares cotidianos de diversas culturas, dentre os quais se destacam leite, manteiga, queijos, creme de leite, leite em pó, bebidas lácteas e outros itens. Os produtos derivados do leite evoluíram com a sociedade, a exemplo do leite condensado, tentativa de desidratar o leite para durar por mais tempo e muito utilizado pelos soldados durante a Guerra Civil Americana e a Segunda Guerra Mundial, haja vista a quantidade de calorias e a facilidade no transporte sem perder suas boas condições. Por serem muito perecíveis, os derivados do leite devem ser mantidos a temperaturas baixas até o processamento, demandando rígidos cuidados sanitários e higienização dos animais, do sistema de produção e dos equipamentos de ordenha, bem como do armazenamento e processamento de lácteos. Os derivados do leite são uma importante fonte de cálcio que contribui para a prevenção da osteoporose, além de ser uma boa e barata fonte de proteínas, vitaminas do complexo B e minerais. Apesar de vários bovinos apresentarem bons índices de leite, mesmo não sendo de raças de dupla aptidão ou do tipo leite, algumas características físicas das vacas são muito associadas a animais produtivos. Embora as características do úbere (tamanho, conformação, irrigação sanguínea e inserção) sejam fundamentais para um bom volume de produção (litros de leite ordenhados por vaca por dia), animais com boa conversão dos nutrientes e capacidade digestiva são vitais para uma adequada produção de leite. Não obstante, as características e composição do leite são às vezes mais importantes do que o volume produzido, ainda mais para a produção de queijos e iogurtes. A conformação externa das vacas leiteiras lembra o aspecto de um triângulo em que a parte posterior é mais desenvolvida do que a parte anterior do animal, algo que se observa na Figura 4. O corpo apresenta baixo desenvolvimento muscular e, na região posterior, em especial sobre o dorso e a garupa, é desejado que os animais apresentem estrutura muscular mais desenvolvida, capaz de suportar o úbere, que deve ser grande, largo e com inserção alta na parte posterior, sem que os tetos fiquem baixos o bastante para serem sujos ou machucados com a movimentação dos animais. Figura 4. Características externas da vaca holandesa. Fonte: MCCRACKEN; KAINER; SPURGEON, 2013, p. 33. (Adaptado). Como quase toda a produção que depende de forma direta dos animais, os produtores de leite enfrentam o crescente desafio de buscar maior rentabilidade num ambiente competitivo, enquanto se adaptam a umcenário cada vez mais exigente em relação à saúde humana, sanidade e bem-estar animal, além de preservar os recursos naturais. Apesar de ser um produto de uso primário, o leite bovino é um dos alimentos com menor valor por unidade, que costuma ser alcançado em outros produtos como queijos finos, iogurtes e afins. Ainda assim, é dependente do processamento e da cadeia de frio para entregar o leite em condições adequadas. Por isso, os produtores ficam distantes dos consumidores e com poucas alternativas para aumentar o quanto recebem do preço final do leite. As vacas devem ser ordenhadas em horários e condições adequadas, processo que demanda atenção e presença constante dos produtores que, além de receberem pouco, trabalham muito e quase não conseguem desenvolver outras atividades concomitantes, como em bovinos de corte. Características como essas dificultam ainda mais a permanência de jovens na atividade, o que compromete a resiliência dessa atividade a longo prazo. Como a maioria das propriedades de leite são de pequenos produtores familiares, o fato das famílias diminuírem o número de filhos, que não têm mais interesse em continuar nessa vida difícil e demandante com os pais, é um desafio complexo para o futuro da produção. Esses desafios fazem com que muitos produtores deixem a atividade, porém, embora o número de produtores e de vacas ordenhadas por ano tenha diminuído, graças à utilização de técnicas que aumentaram a produtividade dos rebanhos leiteiros, em especial pela intensificação dos sistemas de produção, a produção de leite no Brasil aumentou de maneira considerável. Todavia, o País ainda enfrenta grandes desafios em relação à qualidade do produto e à eficiência na produção, panorama que tem aumentado o número de propriedades médias e grandes que se beneficiam das vantagens de produzir em escala, como melhores negociações de compra e de venda, além de custos fixos mais baixos. Os bezerros são retirados das mães e alimentados com substitutos ao leite materno após tomarem o colostro, primeiro leite secretado após o parto, por três a quatro dias. Os recém-nascidos devem tomar o colostro para adquirir imunidade que, ao contrário de outros mamíferos, não recebem das mães via placenta, em função da conformação diferenciada dos bovinos. Os machos são vendidos para o abate bem jovens, com poucos animais muito diferenciados mantidos para a reprodução. Para as fêmeas, um percentual um pouco maior é mantido para a reposição do rebanho. Ao final da vida produtiva, todos os animais em condições são enviados para o abate por preços inferiores aos praticados no mercado de bovinos de corte. Em geral, fatores como genética dos animais, sanidade, alimentação e o processo de ordenha determinam a produtividade e qualidade do sistema de produção. A ordenha segue uma ordem de ações fundamentais, como desinfetar o teto com água potável corrente, tratada com desinfetante adequado, e testar possíveis inflamações sem sintomas aparentes (subclínicas) dos tetos, antes da ordenha, através de uma caneca telada com fundo escuro, descartando os três primeiros jatos de leite e coletando os próximos três na caneca. Avaliação semelhante é realizada pelo Califórnia Mastite Teste (CMT), que consiste numa raquete com um compartimento para cada teto (quatro no total). Em quadros positivos, nos dois testes, o leite interage com o reagente, ficando com aspecto de gel ou apresentando grumos. Ao final, é importante secar o teto com papel toalha descartável. No que se refere aos cuidados após a ordenha, é fundamental desinfetar os tetos com uma solução de iodo glicerinado, a fim de fechar o canal do teto, e oferecer bons alimentos palatáveis, a fim de que a vaca não se deite por pelo menos uma hora, pois os canais ficam abertos e podem se contaminar. Em sistemas convencionais, as vacas são ordenhadas duas vezes ao dia, contudo, como o processo de ordenha aumenta a produção de leite, a ordenha é realizada três vezes ao dia em algumas propriedades, podendo ser executadas de duas formas: manual ou mecanizada. A ordenha manual é o sistema mais antigo e muito frequente em pequenas propriedades familiares. Como não demanda muito investimento, o custo é menor, mas exige mais da pessoa que realiza a ordenha. Pode ser realizada no galpão ou ambiente de recolhimento das vacas, com ou sem equipamentos para contenção, porém, a imobilização é importante para evitar lesões no animal ou na pessoa que o está manipulando. O mais usual é conter as patas traseiras das vacas para evitar coices ou que os equipamentos e balde de coleta sejam derrubados ou danificados. Mais eficiente e rápida do que a manual, a ordenha mecânica permite ordenhar vários animais ao mesmo tempo pelo mesmo funcionário que acompanha o processo. Caso obedecidas as orientações técnicas, os cuidados e o uso dos equipamentos adequados, haverá menor risco de contaminação do leite. Possui um espaço determinado e específico para a ordenha (sala de ordenha), cujo tamanho e estrutura varia conforme as estratégias do sistema de produção, tipo de ordenha e tamanho do rebanho. Em geral, possui um sistema de coleta a vácuo que simula um bezerro mamando com dois ciclos: massagem e ordenha. A ordenha mecânica pode ser realizada com o balde ao pé ou canalizada: BALDE AO PÉ Esse sistema realizado é a opção mecanizada mais econômica e simples. Possui uma linha com ponto de coleta individual a cada um metro e meio. Comparado aos outros sistemas, é menos eficiente pois o leite é coletado num recipiente e depois transferido para um tanque de refrigeração. Indicado para estabelecimentos com poucas vacas em ordenha; CANALIZADA Na ordenha canalizada, o leite é coletado num sistema que o transporta até o tanque de refrigeração. Como não entra em contato com o ambiente e nem precisa ser manipulado, apresenta um risco muito menor de contaminação, maior rendimento de ordenha e dos funcionários, podendo ser estruturada de várias formas. As formas de ordenha em canais mais comuns são: • Espinha de peixe: para grupos de até 10 vacas, posicionadas na diagonal, a fim de diminuir o espaço na lateral do fosso, local em que o funcionário e o sistema elétrico são posicionados. Apresenta desafios em identificar vacas problemáticas, uma vez que o ritmo de ordenha é determinado pelas vacas mais lentas, embora seja barato e eficiente; • Tandem: mais caro, as vacas ficam em fila e paralelas ao fosso. Permite a presença dos bezerros ao lado das mães e o ritmo de um animal não interfere na ordenha dos outros, mas é mais indicada para rebanhos pequenos por demandar longas salas e muito trabalho do ordenhador; • Lado a lado: o nome indica a posição das vacas que ficam de costas para o fosso, o que reduz o tamanho da sala, mas dificulta a visualização adequada dos tetos. Os sistemas mais eficientes também requerem maiores investimentos como o carrossel, sistema giratório, e o automatizado, em que todo o processo de ordenha e higienização é computadorizado. Com o passar dos anos, os produtores passaram da venda direta de porta em porta do leite cru, retirado diretamente das vacas, para a entrega do leite cru para o processamento e especialização da produção. Ao longo da jornada, vários processos se desenvolveram para diminuir os contaminantes no leite e aumentar a sua qualidade e tempo de prateleira, ou vida-de-prateleira, que é o período em que o alimento permanece seguro e conservando as características conforme a descrição dos rótulos e recomendações oficiais. De acordo com a legislação brasileira, há três classificações de leite bovino, os leites dos Tipos A, B e C, conforme o controle sanitário do rebanho, os padrões de higiene da produção, a microbiologia do leite, entre outros aspectos: LEITE TIPO A Todo o processo é efetivado dentroda granja leiteira, sem transporte entre as etapas, com leite proveniente de um rebanho único e sem contato direto do ser humano com o leite. A ordenha é mecanizada e o leite é transportado direto ao tanque no qual é pasteurizado e, logo em seguida, embalado para a venda. Por ter menos contaminantes, possui maior vida-de-prateleira; LEITE TIPO B Refrigerado na propriedade logo após a ordenha, por até 48 horas, e depois transportado até o local de processamento e envase; LEITE TIPO C Produzido em fazenda leiteira e beneficiado em outro local. A grande diferença em relação ao leite do tipo B é que não precisa ser resfriado na propriedade logo após a ordenha, sendo transportado até o local de processamento. O rebanho deve ser sadio e atestado por um médico veterinário. Pode ser coletado por ordenha manual, mas deve ser resfriado e pasteurizado. Por apresentar vários momentos e exposição do leite ao ambiente, transporte e manipulação por seres humanos, é o produto com maior contaminação dos três tipos de leite. Os princípios dos sistemas de produção de bovinos de leite são semelhantes aos de bovinos de corte, com a diferença de que o foco da produção é dar as condições para que as vacas aproveitem o seu período de lactação da melhor forma e pelo maior tempo possível: Sistema extensivo https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/ZOOTECNIA%20ESPECIAL%20AVAN%C3%87ADA/UNIDADE%201/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/ZOOTECNIA%20ESPECIAL%20AVAN%C3%87ADA/UNIDADE%201/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/bbcswebdav/library/Library%20Content/%28LMS%29%20-%20Do%20Not%20Delete/%28LMS%29%20DOL%20-%20Do%20Not%20Delete/SCORM/ZOOTECNIA%20ESPECIAL%20AVAN%C3%87ADA/UNIDADE%201/scormcontent/index.html Sistemas de baixo investimento em que os animais são criados a pasto, mas demandam manejo diferenciado, como rotação de piquetes ou irrigação, para manter boas condições nutricionais e não impactar a produtividade; Sistema semi-intensivo Animais criados também a pasto, mas com suplementação de volumosos, fornecidos em estábulo, no momento da ordenha, nas épocas de maior necessidade (pastagens ruins, secas ou inverno rigoroso). Para atender às demandas nutricionais ao longo de todo o ano, também podem ser utilizados feno, silagem ou outros volumosos no cocho. Como os animais recebem manejo mais intenso, o sistema facilita o manejo reprodutivo, como a inseminação artificial, mesmo em instalações simples; Sistema intensivo ou confinamento Mantém as vacas nos próprios estábulos de ordenha e são alimentadas com forragens conversadas (feno e silagem). Apesar de aumentarem muito a produtividade, são sistemas bem mais caros, com instalações onerosas e recursos humanos especializados. São indicados para animais de genética superior, capazes de alta produção para compensar os investimentos. Em sistemas com uso de ração ou com alto nível de alimentos concentrados nas dietas, é necessário manter o piso em boas condições, sem umidade e com espaço para que as vacas descansem, para evitar casos de laminite. A escolha da raça no sistema de produção deve levar em consideração diversos fatores, pois algumas raças são mais indicadas para a produção de grandes volumes de leite, outras para a produção de queijos. Em sistemas confinados, o ideal são raças maiores e com grande produção, mas, para sistemas em que os animais têm que se deslocar muito para pastar ou para chegar nos pontos com água, as vacas de porte médio são mais indicadas. As principais raças de bovinos de leite são animais capazes de boa produção leiteira e estão descritas no Quadro 2. Quadro 2. Raças de bovinos de leite em produção do Brasil. // Cuidados para maior produtividade Além do investimento na seleção dos animais e na genética do rebanho, a alimentação é um dos grandes gargalos da produção de leite, como visto nos sistemas alimentares já descritos. Porém, a produção de leite é também muito dependente da higiene e adequação técnica dos processos de manejo e ordenha. Assim, o momento de ordenha deve receber a maior atenção do produtor, de modo a manter bons níveis de qualidade do leite, evitar contaminações e controlar doenças no rebanho, como a mastite. Dentre os cuidados com a ordenha, estão a seleção e a capacitação dos recursos humanos envolvidos com o manejo dos animais, que envolve: • Vocação e paciência para lidar com os animais; • Tomar banhos diários, lavar as mãos com água limpa e sabão neutro após ir ao banheiro e depois usar solução sanitizante; • Não fumar ou tocar locais com sujeira, comunicar doenças e não ir trabalhar doente; • Usar uniformes e equipamentos de uso pessoal higienizados de cor clara e que devem ser trocados diariamente; • Manter unhas curtas, sem esmaltes e limpas, o rosto sem barba; • Prender o cabelo e mantê-lo escondido na touca; • Não usar acessórios. Caprinocultura e ovinocultura Os caprinos e ovinos são considerados os primeiros animais domesticados para pecuária, acompanhando os seres humanos desde os primórdios da civilização. Esses pequenos ruminantes são uma fonte relevante de carne, leite e lã para a produção têxtil, muito adaptados a cenários desafiadores de produção. Como os bovinos, possuem um sistema digestivo capaz de quebrar a celulose presente em alimentos vegetais e utilizá-los para seu desenvolvimento. Apesar de o público comum ainda ter dificuldade para distingui-los, os caprinos e ovinos constituem duas espécies diferentes, com características específicas tanto na anatomia quanto em relação às demandas zootécnicas e produtos oferecidos por essas produções. No Brasil, os rebanhos apresentam baixa produtividade, quando comparados a outros países, em especial nos locais mais secos e pobres da Região Nordeste, onde se destaca a produção de caprinos. Apesar dos desafios, os animais são muito importantes nesses locais como produção de subsistência, tipo de produção cujo principal objetivo é a sobrevivência do produtor, de sua família e comunidade. Na Região Sul, a atividade apresenta melhores índices, com a produção de ovinos, porém, são produzidos em propriedades pequenas ou como segunda produção nas propriedades de bovinos de corte. Os criadores enfrentam desafios comuns como falta de organização das cadeias produtivas, produção e demanda sazonais e falta de um mercado consumidor estável. Por apresentarem ciclos de produção mais curtos que os bovinos, essas espécies são alternativas muito interessantes para pequenos produtores, empresas familiares e produtores. Entretanto, demandam mais atenção e cuidado com os animais, além de recursos humanos capacitados. PRODUÇÃO DE CAPRINOS Apesar dos grandes desafios técnicos para o aumento da produtividade em algumas propriedades, a produção de caprinos tem investido em estratégias para o mercado de carnes diferenciadas. É tida como uma carne exótica, mas que ainda enfrenta dificuldades com a estabilidade da oferta de produtos e o estabelecimento de um mercado consumidor disposto a pagar mais por essa carne. A produção para esse mercado deve buscar entregar cabritos mais pesados no menor tempo possível, o que envolve a seleção adequada da raça, do manejo reprodutivo adequado e do sistema de produção mais adaptado ao ambiente e processos da propriedade rural, bem como do atendimento dos requisitos sanitários e nutricionais para que os animais atinjam seus potenciais zootécnicos. Entretanto, o mercado de carne caprina ainda é pouco explorado e conhecido, o que se dá pela falta de investimento na produção especializada, de frigoríficos adaptadospara o abate e pelo grande foco no abate de machos provenientes de rebanhos leiteiros, abatidos sem a preparação dos animais para a engorda. No Nordeste, eles são mais consumidos e compõem pratos tradicionais da cultura, porém, o consumo no Sudeste, além de baixo, só ocorre em épocas festivas. A produção de leite de cabra oferece um produto muito interessante, com bons índices de cálcio, principal componente ósseo fundamental para a formação do esqueleto e estrutura dentária dos humanos, e de fosfato, também aproveitado para o mesmo fim. Possui alta capacidade de tamponamento, que evita variações no pH e, por isso, é indicado para problemas de gastrite e úlcera em seres humanos. Além disso, é prescrito para pessoas alérgicas ao leite de vaca, porque o tamanho da partícula de gordura do leite de cabra é menor do que o de bovinos, sendo de digestão mais fácil. A estrutura da produção de leite de cabra no Brasil é bem diferente nos cenários brasileiros. No Nordeste, há investimentos para incentivar os produtores familiares a produzirem, com o objetivo de gerar alimento a populações em necessidade. Nas regiões Sudeste e Sul, a produção busca atender às demandas de produtos diferenciados comercializados para nichos de mercado, que são um pedaço selecionado do mercado consumidor ainda pouco explorado, no qual os consumidores têm demandas específicas pelas quais estão dispostos a pagar um preço mais elevado. A anatomia dos caprinos (capra hircus) apresenta barba na maioria das raças. Quando possuem chifres, esses são voltados para trás e, na base, apresentam as glândulas de Schietzel, que produzem o odor hircino muito característico, que aumenta durante o período reprodutivo e estimula o comportamento sexual das fêmeas caprinas. Os caprinos de produção são conhecidos como: Bodes: Machos adultos e inteiros que apresentam carne escura de odor forte, com baixo valor comercial; Cabras: Fêmea adulta cuja carcaça deve ter mais de 16kg; Cabritos/Cabritas: Em aleitamento, são muito sensíveis e dependentes das mães até os 30 dias de vida. Desmamados ou de recria, se alimentam sozinhos, crescendo e ganhando peso para entrar em reprodução ou terminação (engorda para abate) com cerca de 6 a 7 meses de idade até o peso adequado. Para a terminação, os cabritos devem ter entre 18 a 20 kg, desde que apresentam boas carcaças. A produção dos animais pode ser desenvolvida em sistemas extensivos, semi-intensivos e em confinamento ou intensivo. SISTEMAS EXTENSIVOS Mais simples e baratos de todos, os sistemas extensivos mantêm os animais no pasto, soltos e sem demandar instalações caras, mas apresentam baixa produtividade, pois precisam de grandes áreas de produção e representam altos riscos de ataque de predadores silvestres e de morte de cabritos, muito sensíveis ao nascer. Por isso, são mais aplicados para animais mais resistentes e com baixas exigências nutricionais. Podem ser manejados com a rotação do pastejo dos animais em piquetes, unidade de subdivisão de uma área de pastejo para facilitar o manejo estratégico dos animais e das pastagens. SISTEMAS SEMI-INTENSIVOS Nos sistemas semi-intensivos, os animais são mantidos em pastagens durante o dia (após as 9h da manhã), para diminuir a contaminação por vermes, sendo recolhidos ao final da tarde, para passar a noite em confinamento. Além do controle de verminose, esses sistemas apresentam melhores índices de produtividade e menores riscos de perda de animais por predação. Porém, além de precisarem de cercas para a divisão dos piquetes, demandam instalações mais caras para manter os animais durante a noite, além de bebedouros e cochos para a alimentação. SISTEMAS DE CONFINAMENTO OU INTENSIVOS Já os sistemas de confinamento ou intensivos mantêm os animais em currais restritivos, oferecendo água e alimentos em bebedouros e cochos. Apesar dos altos custos com alimentos e instalação, apresentam maior produtividade por animal, maior número de animais em produção por período produtivo e por área, permitindo um acompanhamento maior, o que reduz perdas por doenças, acidentes e problemas com cabritos recém-nascidos. Esse sistema é mais indicado para animais em preparação para o abate/engorda. Na Figura 5, é possível ver cabras num sistema de produção de leite em confinamento estilo Free Stall, no qual os animais ficam soltos numa área cercada, sendo restritas às baias no momento da ordenha. Figura 5. Cabras em sistema estilo Free Stall. Fonte: Adobestock. Acesso em: 15/06/2021. Para escolher o melhor sistema de produção, são ponderados os objetivos do produtor (carne, leite, pele ou produção de matrizes para a reprodução), as características da propriedade, o capital disponível e necessário para adequação das instalações, os recursos humanos disponíveis e a raça de caprinos selecionada. No Brasil, se destacam as raças nativas, mais resistentes e que apresentam alta rusticidade, o que as torna mais resilientes aos ambientes desafiadores do semiárido, no Nordeste. As raças nativas também são muito usadas em cruzamentos para animais destinados à engorda em sistemas de semiconfinamento e confinamento. A manutenção da genética desses animais é fundamental para preservar a adaptação dos animais ao ambiente, fator que diminui os custos de produção e aumenta a produtividade natural dos animais, como descrito no Quadro 3. Ao contrário dos grandes ruminantes, os caprinos possuem uma associação única de produtores, sem distinção entre as raças, a Associação Brasileira de Criadores de Caprinos. Quadro 3. Raças de caprinos em produção do Brasil. Apesar de serem animais muito interessantes para a produção, ainda enfrentam grandes desafios em relação ao preconceito com seus produtos que, se não forem bem manejados, podem apresentar aroma característico e considerado negativo pelos potenciais consumidores. Além disso, também enfrentam problemas com parasitas e de sanidade em geral em ambientes úmidos, apresentando preferência por uma dieta diversificada, o que torna o confinamento complexo. A ordenha dos animais utilizados para a produção de leite também é mais complexa do que a dos bovinos de leite e, como se trata de um produto diferenciado de maior preço, acaba tendo um mercado restrito e de difícil acesso em escala. PRODUÇÃO DE OVINOS Acredita-se que as ovelhas sejam originárias da Europa e da Ásia, estando entre os primeiros animais domesticados pelo homem. No início, eram criadas para a produção apenas de leite e do couro, contudo, ao longo do tempo de melhoramento e adaptação, as ovelhas passaram a trocar os pelos grossos por uma lã macia muito apreciada no mercado. Se considerado o tempo de domesticação desses animais, sua entrada como produto valorizado no mercado de carnes é recente. Em relação ao desenvolvimento regional, os ovinos são muito relevantes em regiões com condições muitas vezes adversas para outras culturas e produções, como no clima semiárido e em regiões montanhosas. Além disso, apresentam vantagens interessantes, como o fato de não precisar de instalações complexas ou de um número elevado de funcionários para o manejo, pois são ruminantes que se alimentam de diversos tipos de plantas, auxiliando no controle de algumas ervas daninhas, sem danificar as árvores, ao contrário das cabras, além de oferecer diversas fontes de rendas, conforme a raça (lã, carne, leite e até esterco), e ser uma opção de carne para o mercado indiano que, por motivos religiosos, não consome carne bovina. Não obstante, ele enfrenta desafios complexos em relação ao profissionalismo na gestão das propriedades, na coordenação da cadeia produtiva, sendo animais sujeitos a predadores selvagens e mais fáceis de serem roubados, o que demanda melhores cercas do que os bovinos. Como a carne desses animais éutilizada para alimentar os funcionários nas fazendas, utilizando animais velhos de descarte, muitas pessoas têm experiências negativas em relação à carne ovina. Além disso, a cadeia enfrenta instabilidade de oferta ao longo do ano, o que pode levar até o mercado produtos não padronizados em relação à qualidade, idade dos animais e características dos cortes, o que também deixa os consumidores inseguros em relação ao produto. No Brasil, a produção se concentra em duas Regiões, Sul e Nordeste, que apresentam características bastante distintas. No Sul, os ovinos são muito relevantes na renda dos produtores, com a produção de aptidão. Com a entrada de materiais sintéticos e mais baratos no mercado, a cadeia da lã entrou em cser_educacional, fazendo com que vários produtores deixassem que as atividades e os rebanhos fossem quase extintos. Após esse período, os produtores começaram a investir na produção de carne ovina como alternativa de renda, porém, ela ainda é vista em muitas propriedades como atividade secundária, gerenciada pelos filhos dos proprietários, muitas vezes para consumo próprio ou para a venda indireta a vizinhos ou pequenos comércios informais, o que prejudica sua profissionalização e competitividade da cadeia. No Nordeste, os ovinos se destacam pela contribuição para a sobrevivência dos produtores locais, pois são opção de comercialização e alimentação para as famílias com menores condições. Além disso, oferecem emprego e uma estratégia para diminuir o êxodo rural, criando oportunidades para os produtores e suas famílias permanecerem no campo. Apesar das vantagens, a produção nessa região ainda enfrenta grandes desafios sanitários (parasitoses) e de manejo dos sistemas de produção (seleção de reprodutores, manejo da estação reprodutiva e manejo nutricional). Figura 6. Merino australiano. Fonte: Adobestock. Acesso em: 15/06/2021. No aspecto físico, os ovinos domésticos são pequenos ruminantes ágeis e a maioria das raças apresenta pelagem crespa (lã), cauda curta, com grandes variações de cores do branco ao marrom escuro (ou malhadas), podendo ou não apresentar chifres em espiral para trás nos machos e em algumas raças de fêmeas (menores). Nos animais de aptidão para a lã, uma seleção ao longo do tempo levou à pelagem branca, mais fácil de tingir e predominante nos rebanhos. No entanto, o tipo, a espessura e a textura da lã variam entre animais e entre raças, sendo impactados também pela sanidade dos animais e alimentação do rebanho, como na Figura 6, que mostra um exemplar da raça Merino australiano, em que é possível visualizar as características externas dos ovinos e o tamanho do velo. // Tipos de produção A escolha do sistema de produção deve ser feita de forma racional e levar em consideração diversos fatores como o objetivo da propriedade (carne, leite, lã ou couro), a raça de ovelhas selecionadas para a produção, a estrutura do rebanho (manejo conforme a idade e planejamento, categorias de animais, lotação de animais que a estrutura física suporta (área de pastagens, espécies nativas e recursos hídricos disponíveis, recursos financeiros), além do período e condições em que os cordeiros nascem, são desmamados e tosquiados. Em geral, os sistemas de produção podem ser extensivos, semi-intensivos ou intensivos. SISTEMAS EXTENSIVOS Os sistemas extensivos criam grandes rebanhos soltos em pastagens durante o ano inteiro, com os cordeiros nascendo em períodos com boa oferta de alimentos e condições adequadas para a segurança dos cordeiros. São mais indicados para produtores tradicionais, familiares e sem muito capital disponível para investimento. Necessitam cuidados especiais na época de parição, no cuidado com os cordeiros e acompanhamento frequente da sanidade do rebanho em relação a parasitas. Não requerem instalações complexas, contudo, os animais precisam ter sombra e água com qualidade. Em função do pouco contato com os animais, apresentam menor produtividade do que outros sistemas. SISTEMAS SEMI-INTENSIVOS Nos sistemas semi-intensivos, os ovinos ficam soltos durante o dia e são recolhidos à noite. Devem ter água limpa e volumosa, ração concentrada e suplementação mineral. Os piquetes devem ser cercados e os animais devem ter baias de qualidade, de preferência, com cochos individuais. Como é um sistema que tem maior controle e oferta de alimentos, apresenta melhores resultados zootécnicos e econômicos. SISTEMAS INTENSIVOS Os sistemas intensivos permitem a produção de cordeiros durante todo o ano, uma grande vantagem, uma vez que um dos maiores problemas da cadeia da carne ovina é a oferta de produtos apenas em alguns períodos do ano, em função da atividade reprodutiva das ovelhas ser ativa apenas em determinados períodos do ano, sob forte influência do comprimento dos dias. Assim, elas entram no cio entre outono/inverno e os cordeiros nascem nos períodos mais quentes. Com o controle e acompanhamento dos confinamentos, é possível induzir o estro e a ovulação. Para esses sistemas, se indicam raças e exemplares de matrizes capazes de entregar mais de um cordeiro forte por gestação. ASSISTA No vídeo Sistemas de produção intensiva de ovinos de corte, o analista Anísio Lima Neto e o pesquisador Paulo Fernando Vieira falam sobre questões relacionadas à ecofisiologia das pastagens e de manejo animal, para permitir maximizar a produção vegetal e otimizar a produção animal com vistas a melhorar a eficiência do sistema intensivo de produção de ovinos da Raça Santa Inês. Em todos os sistemas, as necessidades nutricionais conforme categoria e condições corporais dos animais são essenciais. As ovelhas devem ser suplementadas durante a gestação, em especial no final da gestação, quando devem receber suplementação especial. Os cordeiros devem aproveitar o colostro das mães nas primeiras horas de vida, devendo ter o umbigo tratado com solução iodada, pesados e identificados. Além disso, as baixas temperaturas são um grande risco de hipotermia em cordeiros recém-nascidos, por isso, o ideal é que eles sejam recolhidos a instalações protegidas e limpas quando possível. Além do sistema, a escolha da raça é um dos pontos críticos para a produção de ovinos. Para essa decisão, são considerados o esforço de manejo que o produtor tem disponível para essa atividade, as condições ambientais e nutricionais disponíveis e o produto a ser comercializado. No caso da produção intensiva de carne, pode ser interessante utilizar uma combinação de raças para desenvolver um rebanho com bons índices de produtividade e rusticidade, como explicado no Quadro 4. Quadro 4. Exemplos de raças de ovinos em produção do Brasil. Independentemente da raça selecionada, alguns fatores devem receber a atenção dos produtores de cordeiros. Dentre eles: Crescimento dos cordeiros Apesar da tendência geral na produção de carne para entregar animais jovens maiores e mais pesados, o mercado brasileiro ainda associa cortes grandes a animais mais velhos, considerado negativo; Eficiência reprodutiva Dar preferência para as ovelhas de nascimentos gemelares, mas garantir atendimento às necessidades desses cordeiros; Rendimento da carcaça Mensurar, acompanhar e selecionar animais para as características que levam a melhores rendimentos de carcaça para que o retorno financeiro por animal seja o melhor possível; Lã Apesar da maioria da produção brasileira hoje não se destinar à produção de lã, ela representa parte importante da renda dos produtores e são características fáceis de melhorar a genética no rebanho, como peso do velo limpo. Além disso, o suporte aos cordeiros é fundamental para evitar a mortalidade. Portanto, é essencial o cuidado com as ovelhas antes do parto com o atendimento de suas necessidades nutricionais esanitárias, tosar e higienizar a região entre pernas e do úbere. Os cordeiros devem receber assistência individual em relação à temperatura corporal, que deve se manter entre 37 e 38 ºC. SINTETIZANDO Os ruminantes são animais muito importantes para a produção de alimentos e outros produtos vitais para a humanidade. Eles têm a capacidade de utilizar bases alimentares de baixa qualidade para outros animais de produção em produtos importantes, como carne e leite. Os bovinos de corte são grandes ruminantes produzidos em sistemas a pasto. A produção busca oferecer condições para que as vacas entreguem um bezerro por ano de vida em produção e que os animais ganhem peso de forma rápida e eficiente para o abate. Devem ter acabamento adequado de gordura nas carcaças para passar pelo processamento e entregar uma carne de qualidade ao consumidor final. Em bovinos de leite, é essencial o desenvolvimento de programas de valorização dos produtores e de acompanhamento para que eles alcancem bons índices de produtividade e qualidade do leite. A produção de pequenos ruminantes, apesar dos potenciais para atingir mercados diferenciados, ainda enfrenta problemas em relação à profissionalização da atividade e organização da cadeia produtiva. Entretanto, são animais fundamentais para a permanência de famílias no ambiente rural e para a subsistência de pessoas em situação de pobreza.