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PATOLOGIAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE APLASIA DE GLÂNDULA SALIVAR: Anomalia de desenvolvimento rara; afeta 1 ou + glândulas salivares maiores. Pode ocorrer de forma isolada, embora seja geralmente um componente de diversas síndromes - disostose mandibulofacial, microssomia hemifacial e síndrome lácrimo-aurículodento-digital (LADD). CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: + frequente em homens. Alguns indivíduos são afetados por agenesia de todas as 4 glândulas maiores (parótidas e submandibulares); alguns podem ter ausência de apenas 1 a 3 glândulas. Face com a mesma aparência - sítios preenchidos por gordura e tecido conjuntivo. Intraoralmente - saídas dos dutos das glândulas ausentes. Sintoma de maior significância - xerostomia, língua espessada, risco elevado para desenvolvimento de cáries e erosão. Algum grau de lubrificação pode estar presente - glândulas salivares menores. CARACTERÍSTICAS RADIOGRÁFICAS: Ausência das glândulas salivares maiores confirmada por cintilografia com pertecnetato de tecnécio-99m, TC, ou por imagem de ressonância magnética (IRM). TRATAMENTO: Compensação da deficiência de saliva - substitutos salivares. Medicamentos sialogogos - ↑produção de saliva por tecido glandular residual. Fluxo salivar estimulado - goma de mascar sem açúcar ou balas azedas. Cuidados dentários preventivos regulares - evitar cáries da xerostomia e perda do esmalte. MUCOCELE - REAÇÃO AO EXTRAVASAMENTO DE MUCO: Ruptura de ducto de glândula salivar e extravasamento de mucina para dentro dos tecidos moles adjacentes. Geralmente resultante de trauma local. Não é um cisto verdadeiro - não tem revestimento epitelial circundante. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: Aumentos de volume mucosos em forma de cúpula. + comuns no lábio inferior, lateralmente à linha média. Crianças e jovens são + propensos a experiências de trauma que induz ao extravasamento de mucina. Mucina extravasada abaixo da superfície mucosa geralmente confere uma coloração azulada à lesão. Mucoceles profundas podem ser normocrômicas. Lesão flutuante, mas alguns são firmes à palpação. Aumentos de volume recorrentes que podem romper-se e liberar seu conteúdo fluido. Geralmente se rompem deixando úlceras rasas dolorosas que cicatrizam em poucos dias. Desenvolvimento das lesões próximo ao horário das refeições. Aparência vesicular - extravasamento de mucina superficial - separação entre o epitélio e o tecido conjuntivo. Recidiva frequente. CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS: Mucina extravasada circundada por tecido de granulação reacional. A inflamação usualmente inclui numerosos histiocitos espumosos (macrófagos). Um ducto salivar rompido pode ser identificado desembocando dentro da área. Glândulas salivares menores adjacentes geralmente contêm um infiltrado inflamatório crônico e ductos dilatados. TRATAMENTO: Lesões autolimitantes que se rompem e cicatrizam sozinhas. Muitas são de natureza crônica - excisão cirúrgica local necessária. O cirurgião deve remover qualquer glândula salivar menor que possa localizar-se dentro da lesão quando a área for excisada - minimizar o risco e recorrência. Tecido excisado deve ser submetido à histopatologia para confirmar o diagnóstico e descartar a possibilidade de tumores de glândula salivar. Algumas mucoceles podem recidivar se as glândulas subjacentes não tiverem sido removidas necessitando de reexcisão. PATOLOGIAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE RÂNULA: Mucoceles (extravasamento de muco) no soalho de boca. Do latim rana/ “rã” - o aumento de volume pode lembrar o ventre translúcido de uma rã. A origem da mucina extravasada é usualmente a glândula sublingual, mas as rânulas também podem se originar do ducto da glândula submandibular ou das glândulas salivares menores no soalho de boca. Grandes rânulas usualmente originam-se do corpo da glândula sublingual. Lesões pequenas podem se desenvolver ao longo da prega sublingual a partir dos ductos superficiais de Rivini. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: Aumento de volume flutuante, formato abaulado e coloração azulada no soalho de boca. Lesões profundas podem apresentar a coloração normal da mucosa. Mais frequentes em crianças e adultos jovens. Tendem a ser maiores que as mucoceles nas PATOLOGIAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE localizações orais, grandes massas que preenchem o soalho da boca e elevam a língua. Em geral, localiza-se lateralmente à linha média (diferencial do cisto dermoide da linha média). Podem se romper e liberar seu conteúdo mucinoso, e então se formam novamente. Rânula cervical ou mergulhante - mucina extravasada através do músculo milo-hióideo - aumento de volume dentro do pescoço. Imagens de TC e IRM das rânulas mergulhantes originárias da glândula sublingual geralmente exibem discreto envolvimento da lesão dentro do espaço sublingual (“sinal de cauda”) — não observada nas lesões que se desenvolvem a partir da glândula submandibular. CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS: Similar à mucocele. A mucina extravasada incita a formação de um tecido de granulação reacional que tipicamente contém histiócitos (macrófagos) espumosos. TRATAMENTO: Remoção da glândula sublingual e/ou marsupialização (remoção da porção superior da lesão intraoral, que pode ser bem-sucedida para as rânulas pequenas e superficiais associadas aos ductos de Rivini). Marsupialização geralmente não é bem-sucedida para as rânulas grandes que se desenvolvem a partir do corpo da glândula sublingual - a remoção da glândula afetada é importante na prevenção de recorrências da lesão. CISTO DO DUCTO SALIVAR - CISTO DE RETENÇÃO MUCOSO/ DUCTAL MUCOSO/ SIALOCISTO: Causa incerta. Cavidade delimitada por epitélio que surge a partir do tecido da glândula salivar. Cisto de desenvolvimento verdadeiro de retenção delimitado por epitélio que é separado dos ductos salivares normais adjacentes. Pode ocorrer a dilatação dos ductos salivares semelhantes a um cisto secundariamente a uma obstrução ductal (tampão de mucina), que cria uma pressão intraluminal aumentada. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: Usualmente ocorrem em adultos. Podem surgir tanto dentro das glândulas salivares maiores quanto das menores. Cistos das glândulas salivares maiores - mais comuns dentro da glândula parótida - aumento de volume de crescimento lento e assintomático. Qualquer localização onde há glândula salivar menor - maior frequência no soalho de boca, mucosa jugal e lábios. Se assemelham às mucoceles. Aumentos de volume flutuantes e de consistência amolecida, que podem apresentar coloração azulada, dependendo da profundidade do cisto em relação à superfície da mucosa. Alguns podem ser relativamente firmes à palpação. Cistos do soalho de boca geralmente surgem adjacentes ao ducto submandibular- coloração âmbar algumas vezes. Em raras ocasiões observa-se, em toda a mucosa oral, uma proeminente ectasia dos ductos excretores de muitas das glândulas salivares menores - “cistos de retenção mucosos”, embora provavelmente representem uma dilatação ductal multifocal. Lesões individuais geralmente apresentam nódulos dolorosos que exibem orifícios ductais dilatados na superfície mucosa. Drenagem de muco ou pus desses ductos dilatados. CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS: O revestimento do cisto do ducto salivar é variável - epitélio cuboidal, colunar, ou pavimentoso atrófico circundando o lúmen contendo uma secreção fluida ou mucóide. A ectasia ductal secundária à obstrução salivar é caracterizada por metaplasia oncocítica do epitélio de revestimento do ducto. Epitélio geralmente apresenta crescimentos papilares no sentido da luz do cisto. Proliferações muito exuberantes - cistadenomas papilíferos, embora muitas não sejam neoplasias verdadeiras. Lesões individuais dos pacientes com múltiplos “cistos de retenção mucosos” também exibem uma proeminente metaplasia oncocítica do epitélio de revestimento. PATOLOGIAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE PATOLOGIAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES- Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE TRATAMENTO: Cistos do ducto salivar isolados - excisão cirúrgica conservadora. Cistos nas glândulas salivares maiores - remoção parcial ou total da glândula. Não sofre recidivas. Ectasia ductal salivar multifocal (“cistos de retenção mucosos”) - excisão local nas lesões mais problemáticas - conduta cirúrgica não é recomendável para todas as lesões, as quais podem ser tão numerosas que cheguem a apresentar 100 lesões. Uso da eritromicina sistêmica e enxaguatórios bucais com clorexidina são de grande auxílio no alívio da dor e na redução da drenagem purulenta. Medicamentos sialogogos podem ser úteis na estimulação do fluxo salivar, prevenindo o acúmulo de mucina extravasada dentro dos ductos excretores dilatados. PATOLOGIAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE SIALOLITÍASE - CÁLCULO / PEDRAS SALIVARES: Estruturas calcificadas que se desenvolvem dentro do sistema ductal salivar. Causa incerta. Surgem da deposição de sais de cálcio ao redor de debris na luz do ducto - muco espesso, bactéria, células do epitélio do ducto ou corpos estranhos. Pode ser provocada pela sialadenite crônica e pela obstrução parcial. Não relacionado a nenhum transtorno do cálcio ou do metabolismo do fósforo. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: Majoritariamente dentro do sistema ductal da glândula submandibular; menos frequente dentro do sistema da glândula parótida. O longo, tortuoso e ascendente ducto da glândula submandibular (Wharton), secreção mucóide e espessa - maior tendência de formação de sialólito. Dentro das glândulas salivares menores - mais comumente nas glândulas do lábio superior e da mucosa jugal. Ocorrem comumente em adultos jovens e de meia-idade. Sialolitíase das glândulas salivares maiores - dor ou aumento de volume na glândula afetada, particularmente durante as refeições. A gravidade dos sintomas varia, depende do grau de obstrução e da quantidade de pressão negativa resultante produzida dentro da glândula. Cálculo próximo à porção terminal do ducto - aumento de volume duro pode ser palpado logo abaixo da mucosa. CARACTERÍSTICAS RADIOGRÁFICAS: Massa radiopaca. Nem todos os sialólitos são visíveis em radiografias convencionais (grau de calcificação). Localização ao longo do ducto ou dentro da própria glândula. Pedras na porção terminal do ducto submandibular - bem demonstradas com radiografias oclusais. Radiografias panorâmicas ou periapicais - calcificação pode aparecer superposta à mandíbula - cuidado para não confundir com lesões intra ósseas. Múltiplas pedras na parótida podem mimetizar radiograficamente linfonodos parotídeos calcificados, como os observados na tuberculose. Sialografia, ultrassonografia e TC - estudo imaginológico da sialolitíase. Sialolitíase das glândulas salivares menores geralmente é assintomática, mas pode produzir aumento de volume local ou dor na glândula afetada. Pequena radiopacidade - radiografia bem contrastada para tecido mole. PATOLOGIAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS: Duros aumentos de volume de formato arredondado, oval ou cilíndrico. Coloração amarelada, branca ou marrons-amareladas. Sialolitos submandibulares tendem a ser maiores comparados aos da glândula parótida ou das glândulas menores. São solitários; ocasionalmente 2 ou + pedras podem ser descobertas durante a cirurgia. Aumentos de volume calcificados exibem laminações concêntricas que podem circundar um ninho amorfo de debris. Caso o ducto associado também seja removido, geralmente ele irá exibir metaplasia escamosa, oncocítica ou mucosa. É evidente a inflamação periductal. Obstrução ductal frequentemente associada a uma sialadenite aguda ou crônica da glândula associada. PATOLOGIAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE TRATAMENTO: Sialólitos pequenos das glândulas maiores podem ser tratados de forma conservadora com massagens na glândula e esforço para expelir a pedra através do orifício do ducto. Sialogogos (drogas que estimulam o fluxo salivar), aplicação local de calor e o aumento da ingestão de líquidos - promover a saída da pedra. Sialólitos grandes - remoção cirúrgica. Dano inflamatório significativo dentro da glândula - deverá ser removida. Sialólitos das glândulas salivares menores - excisão cirúrgica, incluindo a glândula associada. Litotripsia de ondas de choque (extracorpórea ou intracorpórea), endoscopia da glândula salivar e remoção guiada radiograficamente - técnicas minimamente invasivas, de baixa morbidade que têm se mostrado efetivas na remoção dos sialólitos das glândulas salivares maiores - podem impedir a necessidade da remoção da glândula. SIALADENITE: Inflamação das glândulas salivares. Oriunda de causas infecciosas e não infecciosas. Infecção viral mais comum - caxumba. Outros vírus - Coxsackie A, ECHO, coriomeningite, parainfluenza e o citomegalovírus (CMV) (em recém-nascidos). A maioria das infecções bacterianas surge como resultado da obstrução ductal ou da diminuição do fluxo salivar, permitindo a disseminação retrógada das bactérias através do sistema ductal. O bloqueio do ducto pode ser causado por sialolitíase, estreitamentos congênitos, ou por compressão por tumor adjacente. A diminuição do fluxo salivar pode ser resultante da desidratação ou de medicações que inibem as secreções. Uma das causas mais comuns da sialadenite é uma cirurgia recente (especialmente cirurgia abdominal), após a qual pode surgir parotidite (caxumba cirúrgica) - paciente mantido sem alimentação e ingestão de fluidos (NPO) e ter recebido atropina durante o procedimento cirúrgico. Medicações que produzem xerostomia como efeito colateral podem predispor os pacientes a tal infecção. A maioria dos casos de sialadenite bacteriana aguda é causada pelo Staphylococcus aureus, estreptococos ou outros organismos. Causas não infecciosas de inflamação das glândulas salivares - síndrome de Sjögren, sarcoidose, radioterapia e diversos alérgenos. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS: Mais comum na glândula parótida. Glândula afetada com aumento de volume e dolorida, e a pele sobrejacente pode apresentar-se quente e eritematosa, febre baixa e trismo. Glândula massageada - drenagem purulenta a partir do orifício do ducto. Obstrução ductal persistente ou recorrente (comumente causada por sialólitos) pode levar à sialadenite crônica. Fluxo salivar estimulado, aumentos periódicos e dor dentro da glândula afetada próximo ao horário das refeições. Na glândula submandibular, um aumento persistente pode se desenvolver (tumor de Küttner) - difícil distingui-lo de uma neoplasia verdadeira. Sialografia geralmente exibe sialectasia (dilatação ductal) próxima à área de obstrução. Parotidite crônica - ducto de Stensen pode mostrar um padrão característico na sialografia “em forma de linguiça” - combinação de dilatações ductais com o estreitamento ductal pela formação de cicatrizes. Sialadenite crônica também pode ocorrer nas glândulas menores - bloqueio do fluxo ductal ou de trauma local. Sialadenite necrotizante subaguda - inflamação das glândulas salivares que ocorre comumente em adolescentes e jovens - usualmente envolve as glândulas salivares menores do palato duro e do palato mole - nódulo doloroso recoberto por mucosa eritematosa intacta. Ao contrário da sialometaplasia necrosante, esta lesão não ulcera ou destaca tecido necrótico - causas alérgicas ou infecciosas para esta condição. PATOLOGIAS DAS GLÂNDULAS SALIVARES - Letícia Kariny Teles Deusdará / Odontologia UFPE CARACTERÍSTICAS HISTOPATOLÓGICAS: Sialadenite aguda - acúmulo de neutrófilos dentro do sistema ductal e acinar. Sialadenite crônica - infiltração difusa/ focal no parênquima glandular por linfócitos e plasmócitos. É comum a atrofia dos ácinos, bem como a dilatação dos ductos. Sialadenite crônica esclerosante - fibrose associada. Sialadenite necrosante subaguda - intenso infiltrado inflamatório misto (neutrófilos, linfócitos, histiócitos e eosinófilos) - perda da maioriadas células acinares; maioria dos remanescentes exibe necrose. Os ductos tendem a estar atróficos e não apresentam hiperplasia ou metaplasia escamosa. TRATAMENTO: Tratamento da sialadenite aguda - antibioticoterapia e reidratação para estimular o fluxo salivar - drenagem cirúrgica pode ser necessária se houver formação de abscesso. Taxa de mortalidade de 20% a 50% em pacientes debilitados - disseminação da infecção e sepse. Conduta da sialadenite crônica - depende da gravidade da condição e varia de uma terapia conservadora até a intervenção cirúrgica. Conduta inicial - antibióticos, analgésicos, sialogogos e massagem glandular. Casos iniciais que se desenvolvam secundariamente à obstrução ductal podem responder à remoção do sialólito ou de outras causas de bloqueio. Sialectasia - ductos dilatados podem levar à estase das secreções e predispor a glândula à formação futura de sialólito. Sialadenoscopia e a irrigação ductal - técnicas que podem ser usadas para dilatar os estreitamentos ductais e eliminar sialólitos e tampões mucosos. Opções terapêuticas para parotidites crônicas - ligação do ducto de Stensen - elevada taxa de insucesso. Neurectomia timpânica - redução da secreção da glândula parótida por via da transecção das fibras secretoras parassimpáticas no plexo timpânico - melhora em 75% dos pacientes com parotidite crônica. Se os métodos conservadores não forem capazes de controlar a sialadenite crônica, a remoção cirúrgica da glândula afetada poderá ser necessária. Sialadenite necrosante subaguda - autolimitante, usualmente se resolve em 2 semanas sem que se realize o tratamento.
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