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M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 1 M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) PROBLEMA 2 – “SENSAÇÃO DE MORTE” Joanilda, 23 anos, solteira, foi encaminhada para avaliação psiquiátrica por seu cardiologista. Nos 2 meses anteriores ela esteve no PS por 4 vezes devido a queixas agudas de palpitações, falta de ar, sudorese, tremores e sensação de morte. Cada um desses eventos teve início rápido e as avaliações médicas realizadas após os episódios revelavam achados normais nos exames físicos e complementares. A paciente revelou que os sintomas iniciavam ao dirigir, ao assistir TV, e durante o trabalho o que a levou a tirar dias de folga, evitar exercícios, dirigir e beber café. Quando teve um episódio durante o sono, concordou em procurar um psiquiatra. Nega tratamentos psiquiátricos prévios, e relata ser muito ansiosa, e estar sempre tensa e cansada. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1.Identificar a Síndrome Clínica apresentada no Caso (Síndrome ansiosa). 2.Caracterizar a ansiedade (conceito e fisiopatologia). 3. Classificar e caracterizar os Transtornos de Ansiedade (Transtorno de Pânico; Transtorno de Ansiedade de Separação; Fobia específica; TAG; Fobia Social), TOC, TEPT, Transtornos dissiociativos/conversivos) e o Transtorno de Despersonalização/Desrealização 4.Discutir as medidas terapêuticas (medicamentosa e psicoterapia) para os transtornos de ansiedade. 📚 Fontes: Dalgalarrondo; Psicofármacos (consulta rápida); Alvarenga; DSM-5. 1.Identificar a Síndrome Clínica apresentada no Caso (Síndrome ansiosa). EPIDEMIOLOGIA As sds ansiosas representam os transtornos mentais + frequentes e apresentam prevalência na vida em torno de até 17-30% e, no último ano, em torno de até 11 a 18% (Dalgalarrondo). CLASSIFICAÇÃO As síndromes ansiosas “puras” são ordenadas inicialmente em 2 grandes grupos: M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 2 quadros em que a ansiedade é constante e permanente (ansiedade generalizada, livre e flutuante) quadros em que há crises de ansiedade abruptas e +/- intensas. São as chamadas crises de pânico, que podem configurar, se ocorrerem de modo repetitivo, o transtorno de pânico. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA OS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE (DSM- 5 e CID-11) 2.Caracterizar a ansiedade (conceito e fisiopatologia). ANSIEDADE (PEDRO ALVARENGA) A ansiedade pode ser definida como uma sensação de desconforto mental, de inquietação interna, de temor ou preocupação quanto ao futuro, acompanhada M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 3 de sensações corporais como, por exemplo: tontura, secura na boca, sensação de vazio no estômago, aperto no peito, batimentos cardíacos acelerados, sudorese, calafrios, tremores, formigamentos, cãibras, urgência para urinar e cólicas abdominais na ausência de outras doenças ou condições médica que as justifiquem. O medo é diferenciado da ansiedade pela presença de um objeto desencadeante. Medo (adaptivo, ou seja, favorece à sobrevivência) = reação a um perigo específico, observável (DSM-5: resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida) ⇒ Relacionado a algo que o provocou, uma sensação de espanto ou terror (Dalgalarrondo). Associado ao ↑ excitabiliade autonômica (SNAs = luta ou fuga) (DSM-5). Ansiedade = apreensão difusa, sem objeto claramente definido (DSM-5: antecipação de ameaça futura) ⇒ Tbm tem desencadeantes identificáveis, apenas menos evidentes do que os do medo (Dalgalarrondo) . Associada à tensão muscular e vigilância em preparação para perigo futuro e comportamentos de cautela ou esquiva!! (DSM-5). Obs.: A ansiedade e o medo tornam-se patológicos quando estas emoções passam a trazer prejuízos sociofuncionais e/ou sofrimento importante para o indivíduo. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA DA ANSIEDADE (PEDRO ALVARENGA) PERSPECTIVA EVOLUTIVA: A principal função do medo e da ansiedade é atuar como uma sinalização de perigo ou ameaça desencadeando uma resposta adequada e adaptativa. Os animais podem aprender a temer situações nas quais foram expostos a dor ou estresse ou apresentar reações de medo inatas. Blanchard e Blanchard (1988): diz que ansiedade é uma emoção relacionada ao comportamento de avaliação de risco que ocorre em situações em que o perigo é incerto (ameaça potencial), por exemplo, em ambientes desconhecidos ou nos quais um predador esteve presente no passado. Já o medo estaria relacionado a estratégias de defesa que o ocorrem a uma certa distância do predador (ameaça distal). Gray e McNaughton (2000): para que ocorra ansiedade é necessário que haja um conflito de aproximação-evitação. Caso não haja tendência para aproximação e a única motivação é para escapar, o que ocorre é o medo. M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 4 Por fim, pânico é o que corresponde à emoção relacionada à intensa reação de fuga desencadeada por um perigo muito próximo (ameaça proximal). NEUROBIOLOGIA: A experiência afetiva e as respostas comportamentais do medo e da ansiedade possuem relação com circuitos cerebrais específicos. Primeiras reações comportamentais em situações de medo ou ansiedade: ativação SNA + ↑ estado de alerta + inibição de comportamentos em andamento. Locus ceruleus (LC): estrutura do tronco cerebral, papel no estado de alerta e responsiva a estímulos eliciadores de estresse. O LC possui 2 tipos de ativação: Ativação tônica/ basal: Gera uma análise atenciosa do ambiente com resultados comportamentais diversas e variáveis Ativação fásica: Gera a focalização da atenção e respostas estereotipadas Segundo o modelo de Gray e McNaughton (2000), a vulnerabilidade à ansiedade está relacionada à atividade do sistema de inibição comportamental septo- hipocampal (SICS) ⇒ Um dos principais sistemas emocionais que incluem também o sistema de aproximação comportamental e o sistema de luta e fuga. Obs.: Função básica do SICS: comparar o estímulo real e o esperado. Se houver discrepância, ou se o estímulo esperado for aversivo, os comportamentos em andamento são inibidos e ocorre um ↑ alerta e da atenção direcionada ao ambiente. Sistema noradrenérgico ascendente e o SICS: possuem funções complementares: Sistema noradrenérgico: mantém estado alerta basal e reage a perigos próximos SICS: ↑ estado de alerta frente a sinais de punição (estímulos condicionados) ou estímulos novos. Nos mamíferos, existem 3 regiões cerebrais que quando estimuladas eliciam respostas completas de medo ⇒ Juntas formam o CIRCUITO EXECUTIVO DO MEDO (deflagra reações de congelamento, luta e fuga, e as reações autonômicas): Áreas laterais e centrais da amígdala M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 5 Hipotálamo anterior e medial Áreas específicas da substância cinzenta periaquedutal (SCP). Obs.: SCP= relacionada ao transtorno do pânico; O circuito executivo do medo recebe projeções serotoninérgicas, o que diminui reações de pânico ⇒ Isso explica a ação anti-pânico de drogas serotonérgicas. Mobbs et al (2007): padrão ativação cerebral em seres humanos varia de acordo com a proximidade da ameaça: Ameaças + distantes: ↑ atividade do córtex pré-frontal e na amígdala lateral (relaciona-dos com a ansiedade antecipatória) Ameaças + próximas: ↑ atividade na substância cinzenta periaquedutal/SCP (relacionada com o pânico) Frederico Graeff: propõe uma ação dual da serotonina na ansiedade, postulando que a 5-HT aumentaria o medo condicionado na amígdala ao mesmo tempo em que inibiria reações inatas de medo mediadas pela SCP. A via serotonérgica ascendente originaria no núcleo dorsal da rafe (NDR) que enerva a amígdala e o córtex frontal facilitaria o medo condicionado, enquanto a via NDR-periventricular que enerva a SCP inibiria reações de luta e fuga inatas. Desta forma, a serotonina parece ter papel modulador na ansiedade, favorecendo respostas complexas e aprendidas em detrimento de respostas estereotipadas e inatas. Por fim, em quadros de ansiedade, RM funcional nos mostra: Hiperatividade da amígdala:condicionamento do medo e a atividade autonômica Hipoatividade do lobo pré-frontal: suprime a amígdala (↓ medo). FATORES GENÉTICOS: Estudos de família indicam um forte componente familiar. O risco de ocorrência de transtorbo do pânico (TP) em parentes de 1º grau de pessoas com TP é de cerca de 10%, enquanto em parentes não de 1º grau foi de 2,1%. Os estudos com gêmeos: 30%-40% da variabilidade na expressão do TP atribuível à genética + restante atribuível a fatores ambientais. M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 6 3. Classificar e caracterizar os Transtornos de Ansiedade (Transtorno de Pânico; Transtorno de Ansiedade de Separação; Fobia específica; TAG; Fobia Social), TOC, TEPT, Transtornos dissiociativos/conversivos) e o Transtorno de Despersonalização/Desrealização CLASSIFICAÇÃO DOS TRANSTORNOS DE ANSIEDADE (DSM-5) O DSM-5 classifica os transtornos de ansiedade em 12 categorias: 1) Transtorno de Ansiedade de Separação; 2) Mutismo Seletivo; 3) Fobia Específica; 4) Transtorno de Ansiedade Social (Fobia Social); 5) Transtorno de Pânico; 6) Especificador de Ataque de Pânico; 7) Agorafobia; 8) Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG); 9) Transtorno de Ansiedade Induzido por Substância/ Medicamento; 10) Transtorno de Ansiedade Devido a Outra Condição Médica; 11) Outro Transtorno de Ansiedade Especificado; 12) Transtorno de Ansiedade Não Especificado. Obs.: Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós- traumático (TEPT) e transtornos dissociativos/conversivos não estão classificados como transtornos de ansiedades na DSM-5 (sds com importante componente de ansiedade, segundo Dalgalarrondo). Cada transtorno de ansiedade é diagnosticado somente quando os sintomas não são consequência dos efeitos fisiológicos do uso de uma substância/medicamento ou de outra condição médica ou não são mais bem explicados por outro transtorno mental. O indivíduo com transtorno de ansiedade de separação é apreensivo ou ansioso quanto à separação das figuras de apego até um ponto em que é impróprio para o nível de desenvolvimento. Os indivíduos com fobia específica (a animais, ambiente natural, sangue- injeção-ferimentos, situacional) são apreensivos, ansiosos ou se esquivam de objetos ou situações circunscritos. O mutismo seletivo é caracterizado por fracasso consistente para falar em situações sociais nas quais existe expectativa para que se fale (p. ex., na escola), mesmo que o indivíduo fale em outras situações. No transtorno de ansiedade social (fobia social), o indivíduo é temeroso, ansioso ou se esquiva de interações e situações sociais que envolvem a possibilidade de ser avaliado. M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 7 No transtorno de pânico, o indivíduo experimenta ataques de pânico inesperados recorrentes e está persistentemente apreensivo ou preocupado com a possibilidade de sofrer novos ataques de pânico ou alterações desadaptativas em seu comportamento devido aos ataques de pânico (p. ex., esquiva de exercícios ou de locais que não são familiares). Os ataques de pânico são ataques abruptos de medo intenso ou desconforto intenso que atingem um pico em poucos minutos, acompanhados de sintomas físicos e/ou cognitivos ⇒ Podem estar presentes em outros transtornos mentais, que não de ansiedade. Os indivíduos com agorafobia são apreensivos e ansiosos acerca de 2 ou + das seguintes situações: usar transporte público; estar em espaços abertos ou estar em lugares fechados; ficar em uma fila ou estar no meio de uma multidão; ou estar fora de casa sozinho em outras situações. As características principais do TAG são ansiedade e preocupação persistentes e excessivas acerca de vários domínios (desempenho no trabalho e escolar) que o indivíduo encontra dificuldade em controlar. Além disso, são experimentados sintomas físicos, incluindo inquietação ou sensação de “nervos à flor da pele”; fatigabilidade; dificuldade de concentração ou “ter brancos”; irritabilidade; tensão muscular; e perturbação do sono. O transtorno de ansiedade induzido por substância/medicamento envolve ansiedade devido a intoxicação ou abstinência de substância ou a um tratamento medicamentoso. No transtorno de ansiedade devido a outra condição médica, os sintomas de ansiedade são consequência fisiológica de outra condição médica. FOCAREMOS NOS SEGUINTES TRANSTORNOS NESSA TUTORIA: TRANSTORNO DE PÂNICO CRISE DO PÂNICO X TRANSTORNO DE PÂNICO: Em muitos pacientes, a ansiedade se manifesta sob a forma de crises intermitentes, com a eclosão de vários sintomas ansiosos, em nº e intensidade significativos. Associados às crises, pode ou não haver sintomas constantes de ansiedade generalizada. Assim, as crises de pânico são crises marcantes de ansiedade, nas quais ocorre importante descarga do SNA ⇒ Batedeira ou taquicardia, suor frio, M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 8 tremores, desconforto respiratório ou sensação de asfixia, náuseas, formigamentos membros, dedos e/ou lábios. Nas crises intensas, os pacientes podem experimentar a despersonalização, que se revela como sensação de a cabeça ficar leve, de o corpo ficar estranho, sensação de perda do controle, estranhar-se a si mesmo. Pode ocorrer também a desrealização, ou seja, a sensação de que o ambiente, antes familiar, parece estranho, diferente, não familiar. Além disso, nas crises de pânico o pcte tem medo de ter um ataque do coração, um infarto, de morrer e/ou enlouquecer. As crises são de início abrupto (chegam ao pico em 5-10 minutos) e de curta duração (duram 15 min, raramente mais de 1h). São muitas vezes desencadeadas por determinadas condições (aglomerados humanos, ficar “preso” em congestionamentos no trânsito, supermercados com muita gente, shopping centers ou estar em situações de ameaça) (Dalgalarrondo). ... Já o TRANSTORNO DE PÂNICO... Denomina-se o quadro de transtorno de pânico caso as crises sejam recorrentes, com desenvolvimento de medo de ter novas crises, preocupações com possíveis implicações da crise (perder o controle, ter um ataque cardíaco ou enlouquecer) e sofrimento subjetivo significativo. O transtorno de pânico pode ou não ser acompanhado de agorafobia (muito desconforto e fobia de lugares amplos e aglomerações). Transtornos da personalidade (TPs) que ocorrem com frequência associados ao transtorno de pânico: TP borderline, evitativa e paranoide (Dalgalarrondo). M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 9 É necessário determinar se os ataques são situacionais ou são espontâneos e ocorreram ao longo quadro. Ter ataques situacionais é essencial para diagnosticar transtorno de pânico. • Ataques situacionais/ esperados: Possuem fatores desencadeantes específicos, como situações sociais ou presença de objetos específico (inseto, animal, por exemplo). • Ataques espontâneos/ inesperados: O ataque não ocorre por motivo aparente M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 10 Dxs diferenciais: • Outro transtorno de ansiedade especificado ou transtorno de ansiedade não especificado • Transtorno de ansiedade devido a outra condição médica • Transtorno de ansiedade induzido por substância/medicamento • Outros transtornos mentais com ataques de pânico como característica associada. Desenvolvimento e curso: • Doença da idade adulta. Idade de início possui distribuição bimodal: Pico entre 15-24 anos e Pico entre 45-54 anos • Maioria ataques pânico inesperados acontecem durante ou um pouco depois da puberdade e sua incidência é 2x maior em mulheres do que em homens. Fatores de risco: Temperamentais: Afetividade negativa (neuroticismo); Sensibilidade à ansiedade; Histórico de “períodos de medo” Ambientais: Abuso sexual; Abuso físico; Tabagismo; Estressores interpessoais e estressores relacionados com o bem estar-físico (drogas ilícitas, de prescrição, doença/ morte familiar) Genéticos e fisiológicos: Vários genes causam suscetibilidade; Filhos de pais com transtorno de ansiedade, depressivoe bipolar; Distúrbios respiratórios, como asma. TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO Sobretudo em crianças, pode haver medo e ansiedade importantes relacionados a separar-se de pessoas significativas, percebidas como protetoras. Tipicamente, a criança chora muito, fica muito ansiosa e amedrontada. Exemplo 1: a criança muitas vezes pede ou exige que a mãe fique com ela na sala de aula. Exemplo 1: dificuldades em dormir sozinha e/ou ter pesadelos relacionados à separação. Em adultos, isso pode ocorrer com o(a) companheiro(a) romântico(a) (separar-se do[a] namorado[a] ou esposo[a]). Para o dx, os sintomas devem durar muitos meses e ser graves, prejudicando desenvolvimento escolar, pessoal e social da criança, adolescente ou adulto (Dalgalarrondo). M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 11 Dx diferenciais: • Transtorno de ansiedade generalizada • Transtorno de pânico • Agorafobia • Transtorno da conduta • Transtorno de ansiedade social • Transtorno de estresse pós-traumático • Transtorno de ansiedade de doença • Luto • Transtorno depressivo e bipolar • Transtorno de oposição desafiante • Transtornos psicóticos • Transtornos da personalidade. Fatores de risco: Ambientais: Estresse vital, em especial, uma perda (morte de parente, morte de animal de estimação, doença de um parente, mudança de escola, mudanças de bairro, imigração, sair da casa dos pais, tornar-se pai); Superproteção parental; Intromissão parental M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 12 Genéticos e fisiológicos: O transtorno de ansiedade de separação em crianças pode ser herdado; Herdabilidade em 73%, com maiores taxas em meninas; Sensibilidade aumentada à estimulação respiratória usando ar enriquecido com CO2. FOBIA ESPECÍFICA/SIMPLES Caracteriza-se por medo intenso, persistente, desproporcional e irracional, como medo de animais (barata, sapo, cobra, passarinho, cachorro, cavalo, entre outros), medo de ver objetos cortantes, como seringas, faca, vidros quebrados, ou medo de ver sangue. A exposição ao objeto ou animal fobígenos geralmente deflagra um estado de angústia, que pode chegar a uma crise de pânico. Os indivíduos acometidos reconhecem o caráter irracional e desproporcional de seus medos (Dalgalarrondo). M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 13 Dxs diferenciais: • Agorafobia • Transtorno de ansiedade social • Transtorno de ansiedade de separação • Transtorno de pânico • Transtorno obsessivo-compulsivo • Transtornos relacionados a trauma e estressores • Transtornos alimentares • Transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos. Fatores de risco: Temperamentais: Afetividade negativa; Inibição comportamental Ambientais: Superproteção parental; Perda parental; Separação parental; Abuso físico; Abuso sexual Genéticos e fisiológicos: Pode ter suscetibilidade genética para determinada categoria de fobia específica (EX: Paciente com parente 1º grau com fobia específica de animal tem mais chance de desenvolver essa mesma fobia do que outras); Pacientes com fobia sangue-injeção-ferimentos possuem mais chance de síncope vasovagal na presença dos estímulos fóbicos. TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA (TAG) O quadro de TAG caracteriza-se pela presença de sintomas ansiosos excessivos, na maior parte dos dias, por vários meses. A pessoa vive angustiada, tensa, preocupada, permanentemente nervosa ou irritada (Dalgalarrondo). Nesses quadros, são frequentes sintomas como insônia, dificuldade em relaxar, angústia constante, ↑ irritabilidade, dificuldade em concentrar-se, cefaleias, M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 14 dores musculares, dores ou queimação no estômago, taquicardia, tontura, formigamento e sudorese fria. Termos populares para esses estados: “gastura”, “repuxamento dos nervos” e “cabeça ruim”. Para se fazer o dx de uma síndrome ansiosa, é necessário verificar se os sintomas causam sofrimento significativo e prejudicam a vida pessoal, social e ocupacional do indivíduo. Transtornos da personalidade (TPs) que ocorrem com frequência associados ao TAG: TP borderline e paranoide (Dalgalarrondo). Diferenças entre TAG e ansiedade não patológica: TAG: preocupações são excessivas e interferem na funcionalidade M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 15 Ansiedade não patológica: preocupações não são excessivas e são manejáveis Dxs diferenciais de TAG: • Transtorno de ansiedade devido a outra condição médica • Transtorno de ansiedade induzido por substância medicamento • Transtorno de ansiedade social • Transtorno obsessivo-compulsivo • Transtorno de estresse pós-traumático e transtornos de adaptação • Transtornos depressivo, bipolar e psicótico. Desenvolvimento e curso: • Idade média de início: 30 anos • Raramente começa antes da adolescência • Os sintomas tender a ser crônicos e possuem remissões e recidivas durante a evolução • A remissão total é incomum • A manifestação clínica tende a ser consistente, o que muda entre as faixas etárias é o conteúdo da preocupação: Crianças e adolescentes: Preocupam mais com escola e desempenho esportivo Adultos: Preocupam com o bem-estar familiar e de sua saúde física Fatores de risco para TAG: Temperamentais: Inibição comportamental; Afetividade negativa; Evitação de danos Ambientais: Adversidade na infância; Superproteção parental Genéticos e fisiológicos: 1/3 do risco de TAG é genético (DSM-5). FOBIA SOCIAL A ansiedade social e a fobia social caracterizam-se por medo intenso e persistente de situações sociais que envolvam expor-se ao contato interpessoal, demonstrar capacidade de desempenho ou participar de situações competitivas e de cobrança. � “Ansiedade social” e “fobia social” são termos usados muitas vezes como sinônimos, mas tende-se a ver a fobia social como um quadro mais grave que a ansiedade social. O indivíduo sente intensa angústia ao ter de falar em público, apresentar um seminário, fazer uma palestra, chegando a apresentar dificuldade até em utilizar banheiros públicos, alimentar-se em refeitórios públicos ou assinar cheques na frente de pessoas desconhecidas. M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 16 O medo da exposição é mais forte com pessoas estranhas ou tidas, por algum motivo, como hierarquicamente em posição superior (chefes no trabalho, diretor da escola, professores). O indivíduo tenta evitar tais situações e reconhece o caráter absurdo de seus temores. Há, geralmente, grande sofrimento com tais dificuldades, que pode comprometer a carreira estudantil e profissional das pessoas acometidas e limitar sua vida social, emocional e de lazer. Transtornos da personalidade (TPs) que ocorrem com frequência associados à fobia social: TP evitativa (Dalgalarrondo). Dxs diferenciais: • Timidez normal • Agorafobia • Transtorno de pânico • Transtorno de ansiedade generalizada • Transtorno de ansiedade de separação • Fobias específicas • M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 17 Mutismo seletivo • Transtorno depressivo maior • Transtorno dismórfico corporal • Transtorno delirante • Transtorno de espectro autista • Transtornos da personalidade • Outros transtornos mentais. Fatores de risco: Temperamentais: Inibição comportamental; Medo de avaliação negativa Ambientais: Maus-tratos; Adversidades na infância Genéticos e fisiológicos: Crianças com alta inibição comportamental são mais propensas às influências ambientais; A fobia social pode ser herdada; Parentes 1º grau possuem 2-6x de chance maior de ter a fobia social. TRANSTORNO OBSCESSIVO COMPULSIVO (TOC) Os quadros de TOC se caracterizam por ideias, fantasias e imagens obsessivas e por atos, rituais ou comportamentos compulsivos. Esses quadros são vividos como uma pressão sobre o indivíduo, como algo que o obriga e a que se submete. Os quadros obsessivo-compulsivos dividem-se em dois subtipos básicos: aqueles nos quais predominam as ideias obsessivas aqueles nos quais predominam os atos eos comportamentos compulsivos. Quadros obsessivos: caracterizam-se por ideias, pensamentos, fantasias ou imagens persistentes que surgem de forma recorrente na consciência; são vivenciados com angústia e como algo que “invade” a consciência. Exemplo: Um paciente jovem, de 24 anos, relatava: “embora eu seja muito católico, vêm repetidamente à minha mente ideias como de que a Virgem Maria é uma prostituta, ou me imaginava tendo relação sexual com minha irmã. É horrível, mas tais ideias não param de vir à minha mente”. O indivíduo reconhece o caráter irracional e absurdo desses pensamentos e tenta, às vezes, lutar contra eles ou neutralizá-los com outros pensamentos ou com atos e rituais específicos. No entanto, geralmente, tais tentativas fracassam. Quadros compulsivos: predominam comportamentos e rituais repetitivos, como lavar as mãos inúmeras vezes, tomar muitos banhos, verificar se as portas e janelas estão trancadas dezenas de vezes, colocar todos os objetos do quarto em certa ordem, etc., assim como atos mentais, como repetir palavras mentalmente em silêncio, fazer listas mentais, fazer determinadas contas, em M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 18 geral em resposta a uma ideia obsessiva (“Devo estar com câncer, aids ou sífilis; então tenho que me lavar constantemente”). Os comportamentos e os atos compulsivos também podem surgir como forma de cumprir regras mágicas que precisam ser rigidamente seguidas. Outras razões para os atos e os rituais compulsivos são pensamentos mágicos que vinculam a realização do ato compulsivo com o afastamento de algum evento temível ou indesejado (“Se eu der 15 voltas no quarteirão antes de entrar em casa, ninguém da família morrerá”). Na prática clínica, nem sempre é fácil demarcar com precisão o limite entre a obsessão e a fobia (p. ex., obsessão por limpeza, fobia de sujeira ou contaminação) ou entre a ideia delirante e a obsessão com pouca crítica e insight. Da mesma forma, em alguns casos, é difícil diferenciar entre o ato compulsivo (vivenciado como obrigatório e desprazeroso) e o ato impulsivo. Pessoas com TOC têm com frequência TP, sobretudo do grupo C: TP obsessivo-compulsiva, TP evitativa e TP dependente. Também podem apresentar TP paranoide e TP narcisista (Dalgalarrondo). M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 19 Dxs diferenciais: Transtornos de ansiedade Transtorno depressivo maior Outros transtornos obsessivo-compulsivos e transtornos relacionados Transtornos alimentares Tiques (no transtorno de tique) e movimentos estereotipados Transtornos psicóticos Outros comportamentos do tipo compulsivo. TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO (TEPT) O TEPT é um transtorno com forte componente de ansiedade que se desenvolve após a exposição do indivíduo a um ou mais eventos extremamente ameaçadores, traumáticos e horríveis (como estupro, sequestro, assalto, homicídio, desabamentos, incêndios, catástrofes naturais, eventos de guerra, entre outros). O TEPT se caracteriza por lembranças ou recordações vívidas que invadem a consciência do indivíduo que passou pelo trauma, os chamados flashbacks (ou em forma de pesadelos). Estes, com frequência, se acompanham por emoções fortes e profundas, com ansiedade, medo e/ou horror e sensações físicas marcantes. Ocorrem, assim, de forma recorrente, a intensa sensação física e/ou sentimentos de que se está imerso nas mesmas emoções de quando se experimentou o evento traumático. M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 20 No TEPT, o indivíduo experimenta um estado de contínua sensação de ameaça; tende a estar hipervígil ou pronto para reagir a estímulos, como ruídos inesperados. Os sintomas duram muitas semanas ou meses e causam grande sofrimento (Dalgalarrondo). M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 21 M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 22 M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 23 TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS/CONVERSIVOS CONVERSÃO: Na conversão, ocorrem tipicamente alterações das funções sensoriais ou das funções motoras, que lembram sintomas neurológicos. M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 24 Conversão aqui significa, portanto, “salto” do plano psíquico para o plano de sintomas corporais. Em relação às funções sensoriais, pode haver anestesias de partes do corpo, perda da visão, do olfato ou da audição. Em relação às funções motoras, pode haver fraqueza ou paralisias, contraturas, movimentos anormais, perturbações do andar e no ficar de pé (astasia-abasia) e rouquidão psicogênicas ou perda total da voz (afonia conversiva) ⇒ Correspondem à representação mental e simbólica do corpo (pois são psicogênicas), e não à neuroanatomia objetiva ou à função neurológica!!!!! Por exemplo, as paralisias de braços ou das pernas, nos quadros conversivos, não têm padrão neurológico, ou seja, no exame neurológico da região não correspondem a nenhuma síndrome neurológica. No DSM-5, os transtornos conversivos são também chamados de transtornos de sintomas neurológicos funcionais – denominação infeliz, pois não são, de fato, sintomas neurológicos. Chama atenção, eventualmente, nesses pacientes, o fato de, ao notarem seus distúrbios corporais aparentemente muito graves, reagirem com certa indiferença ⇒ la belle indifférence des hystériques (a bela indiferença das histéricas). DISSOCIAÇÃO: Na dissociação, ocorre a perturbação, a separação e o isolamento de aspectos da mente e da personalidade. Aqui, dissociação significa “separação”, “rechaço”, de uma parte da mente inaceitável para o indivíduo. A dissociação pode ocorrer por meio de crises em que se perde parcialmente a consciência (a pessoa se “desliga” do ambiente e de si mesma, com desmaio parcial e abalos musculares), ou em episódios em que parte da memória é momentaneamente apagada, como a memória retrógrada de eventos traumáticos do passado. TRANSTORNOS CONVERSIVOS: No DSM-5, são quadros em que um ou mais sintomas de alteração de função motora ou sensorial psicogênica estão presentes. Os sintomas devem causar sofrimento e/ou disfunção e não são explicados por causas neurológicas ou médicas somáticas. Assim, no DSM-5, os transtornos conversivos são de: 1. fraqueza ou paralisia (das pernas, de um braço, de uma mão); M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 25 2. movimentos anormais (tremores, distonias, mioclonias, distúrbios da marcha); 3. dificuldades ou impossibilidade de deglutição; 4. alterações da fala (afonia ou disfonia, rouquidão ou fala arrastada); 5. ataques semelhantes a uma convulsão epiléptica (“crise histérica”); 6. anestesia ou perda sensorial (cegueira ou visão em túnel, perda auditiva ou olfativa); 7. sintomas mistos. TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS: Se caracterizam por perda na continuidade da experiência subjetiva e perturbação da integração normal (por isso, dissociação), da consciência, da memória, da identidade, das emoções, das percepções, da representação corporal, do controle motor e/ou do comportamento (Dalgalarrondo). M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 26 Dividido em 5 subtipos: Transtorno Dissociativo de Identidade; Amnésia Dissociativa; Transtorno de Despersonalização/Desrealização; Outro Transtorno Dissociativo Especificado; Transtorno Dissociativo Não Especificado. TRANSTORNOS DE DESPERSONALIZAÇÃO/DESREALIZAÇÃO A despersonalização é definida como estranhamento e sensação de irrealidade em relação ao próprio Eu. A pessoa percebe seu self como algo estranho ou irreal, sente-se “distante de si mesma”, como se fosse um observador externo de si, dos seus sentimentos, pensamentos, ações e sensações corporais. Já a desrealização é caracterizada por perceber o mundo ao redor, pessoas e objetos conhecidos e familiares como se fossem irreais ou estranhos, como se estivessem em um sonho, em cenas distantes ou nubladas, sem cor ou visualmente distorcidas. Para o dx, é necessário que o indivíduo tenha seu senso de realidade bem preservado. Assim, nãodeve estar psicótico ou apresentar sintomas psicóticos associados (como delírios e/ou alucinações) (Dalgalarrondo). Dxs diferenciais: • Transtorno de ansiedade de doença • • Transtorno obsessivo-compulsivo • Outros transtornos dissociativos • Transtornos de ansiedade • Transtornos psicóticos • M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 27 Transtorno induzido por substância/ medicamento • Transtornos mentais devidos a outra condição médica. Desenvolvimento e curso: • Média de idade na primeira manifestação: 16 anos • A manifestação inicial pode ser desde muito súbita até gradual. Duração: varia horas até anos • As exacerbações podem ser desencadeadas por estresse, piora dos sintomas de humor e ansiedade ou ambientes hiperestimulantes e fatores físicos como iluminação e privação de sono Fatores de risco: Ambientais: Traumas interpressoais na infância, como abuso e negligencia; Abuso físico; Testemunho de violência doméstica; Crescer com pai/mãe com doença mental grave; Morte ou suicídio inesperado de um familiar ou amigo próximo; Abuso sexual (menos comum); Estresse grave; Depressão; Ansiedade; Uso de drogas ilícitas. 4.Discutir as medidas terapêuticas (medicamentosa e psicoterapia) para os transtornos de ansiedade. TTO TRANSTORNO DE PÂNICO M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 28 TTO TRANSTORNO DE ANSIEDADE DE SEPARAÇÃO Usamos principalmente a TCC. Não há estudo que comprovem a eficácia de terapia medicamentosa para crianças. Podemos usar tto medicamentoso (se benefício > riscos). TTO FOBIA ESPECÍFICA • 1ª escolha: TCC, a fim de dessensibilizar o paciente do objeto fobicogênico, reduzindo comportamentos de fuga/evitação e o sofrimento causando pelo enfrentamento • Em alguns pacientes, a exposição a situações sociais é realizada ⇒ Usar Propranolol minutos antes da exposição ⇒ ↓ efeitos periféricos da adrenalina, como tremor e taquicardia. • Em casos extremos de enfrentamento inadiável, pode-se usar benzodiazepínicos um pouco antes do contato com a situação fobicogênica. Deve ficar claro que os benzodiazepínicos causam prejuízo à cognição e motricidade, além de prejudicar o efeito das terapias de exposição. Por isso, deve ser usado com cautela. TTO TAG M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 29 TTO FOBIA SOCIAL (semelhante ao da fobia específica (que é a TCC)) M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 30 TTO TOC M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 31 TTO TEPT M1P2T6- Transtornos de ansiedade (Thaís Garcia) 32 TTO TRANSTORNOS DISSOCIATIVOS/CONVERSIVOS ⇒ Principal: TCC, mas pode ser usado, em alguns casos, ISRSs.