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Autores: Prof. Luiz Henrique Cruz de Mello Profa. Fernanda Torello de Mello Colaborador: Prof. Adilson Rodrigues Camacho Geologia e Paleontologia Professores conteudistas: Luiz Henrique Cruz de Mello / Fernanda Torello de Mello Luiz Henrique Cruz de Mello Doutor (2004) e mestre (1999) pela Universidade de São Paulo (USP) em Geologia Sedimentar/Paleontologia, e bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) de Botucatu em 1995. Especialista em Sistemática de invertebrados marinhos fósseis, atuando como pesquisador, educador e professor universitário. Lecionou na Unesp/Bauru, Universidade Federal de Sergipe e Universidade Paulista (UNIP). Fernanda Torello de Mello Doutora (2004) e mestra (1999) pela Universidade de São Paulo (USP) em Geologia Sedimentar/Paleontologia, e bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp) de Botucatu em 1994. Especialista em Tafonomia de invertebrados fósseis, atuando como pesquisadora, educadora e professora universitária. Lecionou na Unesp/Bauru, Universidade Federal de Sergipe e Universidade Paulista (UNIP). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M527z Mello, Luiz Henrique Cruz de. Geologia e Paleontologia. Luiz Henrique Cruz de Mello, Fernanda Torello de Mello. 2. ed. São Paulo: Editora Sol, 2020. 176 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Geologia. 2. Paleontologia. 3. Dinâmica terrestre. I. Mello, Fernanda Torello de. II. Título. CDU 551/56 U420.61 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Kleber Nascimento de Souza Aline Ricciardi Sumário Geologia e Paleontologia APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 ORIGEM DO PLANETA .................................................................................................................................... 11 1.1 Origem do tempo e espaço .............................................................................................................. 11 1.2 Origem da matéria ............................................................................................................................... 14 1.3 Estrelas e a evolução do universo .................................................................................................. 14 1.4 O sistema solar ...................................................................................................................................... 17 2 ESTRUTURA DO PLANETA ............................................................................................................................. 22 2.1 Movimentos planetários .................................................................................................................... 23 2.2 Caracterização do planeta ................................................................................................................ 26 2.2.1 Características externas ....................................................................................................................... 27 2.2.2 Características internas ........................................................................................................................ 34 2.2.3 Estrutura interna ..................................................................................................................................... 37 3 COMPOSIÇÃO DO PLANETA......................................................................................................................... 41 3.1 Mineralogia ............................................................................................................................................. 41 3.2 Petrologia ................................................................................................................................................. 47 3.2.1 Rochas magmáticas ............................................................................................................................... 48 3.2.2 Rochas sedimentares ............................................................................................................................. 57 3.2.3 Rochas metamórficas ............................................................................................................................ 67 3.2.4 Rochas e recursos naturais ................................................................................................................. 69 3.3 Ciclo das rochas .................................................................................................................................... 75 4 DINÂMICA TERRESTRE .................................................................................................................................. 75 4.1 Dinâmica externa – formação das rochas e da paisagem ................................................... 75 4.2 Dinâmica interna .................................................................................................................................. 81 4.2.1 A teoria da deriva dos continentes ................................................................................................. 81 4.2.2 A teoria da tectônica de placas ou tectônica global ................................................................ 85 4.2.3 Os efeitos da tectônica de placas ..................................................................................................... 90 Unidade II 5 O TEMPO GEOLÓGICO..................................................................................................................................100 6 PALEONTOLOGIA ............................................................................................................................................104 6.1 Aspectos iniciais ..................................................................................................................................104 6.2 Tafonomia ..............................................................................................................................................108 Unidade III 7 ÉON PRÉ-CAMBRIANO ................................................................................................................................117 7.1 O surgimento da vida na Terra......................................................................................................117 7.2 O registro primitivo de vida ...........................................................................................................120 7.3 Biotas primitivas .................................................................................................................................1227.3.1 Biota do Sílex Gunflint ...................................................................................................................... 122 7.3.2 Associação biológica de Ediacara .................................................................................................. 123 8 ÉON FANEROZOICO ......................................................................................................................................125 8.1 Era Paleozoica ......................................................................................................................................125 8.1.1 A explosão Cambriana ....................................................................................................................... 126 8.1.2 Evolução inicial das plantas ............................................................................................................ 129 8.1.3 Evolução inicial dos animais ............................................................................................................131 8.1.4 Extinções em massa na Era Paleozoica ....................................................................................... 133 8.2 Era Mesozoica ......................................................................................................................................133 8.2.1 Evolução das plantas .......................................................................................................................... 135 8.2.2 Evolução dos animais ......................................................................................................................... 135 8.2.3 Extinções em massa ............................................................................................................................ 142 8.3 Era Cenozoica .......................................................................................................................................143 8.3.1 Evolução das plantas .......................................................................................................................... 143 8.3.2 Evolução dos animais ......................................................................................................................... 143 7 APRESENTAÇÃO A Geologia é uma das áreas das ciências da Terra. Contribui para desenvolver o conhecimento sobre nosso planeta de vários pontos de vista diferentes. Fornece informações sobre a estrutura e composição da Terra e elas nos ajudam a entender quão dinâmica ela é. Estuda as rochas e os minerais, muitos dos quais são matérias-primas para nós e para os demais seres vivos. O solo e o relevo são dois componentes da paisagem que afetam diretamente as características dos ecossistemas terrestres e aquáticos considerando a origem e a modificação dos continentes, podemos fazer especulações sobre a origem da vida e sua evolução. Enfim, cuida da caracterização do nosso planeta, aquele que é usado pelos seres vivos como moradia e com o qual eles interagem. O mesmo que nós, seres humanos, habitamos e do qual retiramos recursos para nosso cotidiano. Assim, o indivíduo, e também sua evolução, estão intimamente relacionados aos elementos da Terra. Por sua vez, a Paleontologia é um ramo da ciência que se utiliza do conhecimento gerado em diferentes áreas para construir seu próprio entendimento. Costuma-se dizer que surge da união entre Biologia e Geologia, tanto que está presente nos cursos de graduação dessas duas áreas. Trabalha com os indícios da vida pré-histórica, ajudando a entender como ocorreu a evolução biológica ao longo do tempo de existência do planeta e, também, auxiliando a compreender um pouco de sua evolução. Assim, reveste-se de importância, pois nos coloca em contato com os fatores históricos dos seres vivos e dos locais habitados por eles, ou seja, os ecossistemas. Essas duas áreas juntas nos ajudam a conhecer o passado do planeta e dos seus habitantes, abrindo uma janela espacial e temporal com ricas informações que seriam impossíveis de serem obtidas apenas observando o cenário atual da Terra. Desse ponto de vista, são matérias fundamentais para o estudo da evolução biológica, permitindo observar possíveis ancestrais e linhagens já extintas de seres vivos. Algo semelhante se nota para os ambientes que também passaram por mudanças ao longo da existência do planeta. Assim, nossa disciplina tem como objetivo tratar de parte da história do planeta e de seus habitantes, identificando a origem, estrutura, composição e dinâmica da Terra, entendendo como os ecossistemas são constituídos e modificados. Adicionalmente, a disciplina também abordará os registros da vida pré-histórica e o cenário que eles ajudam a construir. Para tanto, o aluno terá contato com informações sobre os processos que resultaram na origem da Terra, a estrutura interna e externa do planeta, os componentes minerais, os processos modificadores internos e externos, a origem e formação dos registros biológicos pré-históricos e a caracterização do tempo geológico. Todas essas informações ajudam a compor um conhecimento amplo sobre o planeta e a vida, muito útil no restante do curso e na vida profissional do biólogo, bacharel ou licenciado. Para iniciar sua orientação por esses caminhos, destacamos que o livro-texto tratará da origem do planeta e sua caracterização tanto externa quanto interna. Para tanto, serão estudadas informações sobre as camadas internas, as características externas, as rochas e os minerais. A união de todas essas informações permitirá a discussão da dinâmica terrestre e seus efeitos para os ambientes naturais e em nossa própria vida. Outrossim, irá caracterizar o tempo geológico, cuja dimensão ultrapassa muito nossa noção de tempo. Terá início, ainda, o estudo dos processos que levam à formação do registro fossilífero, 8 incluindo os principais tipos de fósseis existentes. E, por fim, trará a composição dos cenários biológicos, ambientais e evolutivos que se desenvolveram no planeta ao longo de sua existência. INTRODUÇÃO Somos animais e, como tal, reivindicamos nosso lugar. Todo ser vivo, bem verdade, faz isso. Mas nenhum com tanta intensidade e abrangência quanto os seres humanos. Apesar disso, o planeta tem atendido a todos pacientemente e com equilíbrio. Porém até quando? Desde quando? Para responder a essas perguntas, é necessário conhecer o nosso planeta. Tal pensamento depende do entendimento de que existem diferentes elementos envolvidos e de que eles estão em constante interação. Os objetos em questão podem ser agrupados formando as quatro esferas do planeta, ou seja, hidrosfera, litosfera, atmosfera e biosfera (RICKLEFS, 2012). En erg ia Energia En erg ia Biosfera Litosfera Hidrosfera Atmosfera Figura 1 – Interações dos elementos formadores do planeta Embora haja essa divisão muito bem-estabelecida dos elementos naturais, a palavra-chave é interação. Cada uma das esferas citadas fornece elementos seus para as demais, de modo que permita uma série de processos e fenômenos que modelam e controlam a evolução de nosso planeta. Grande parte deles são os chamados ciclos biogeoquímicos (por exemplo, ciclo da água, das rochas, do carbono, do nitrogênio). Sobre esse assunto, é interessante darmos uma olhada do que trata a Hipótese ou Teoria de Gaia. Ainda no século XX, a vida no planeta era considerada subordinada aos chamados eventos naturais (como clima, terremotos, composição da atmosfera etc.). Um divisor de águas nesse pensamento surgiu justamente com a Teoria de Gaia, formulada por James Lovelock, William Golding e Lynn Margulis, na década de 1970. Segundo essa teoria, haveria uma complexa interação dos elementos formadores do planeta, o que resultaria em suas características de dinamismo e capacidade de autorregulação, quase como um metabolismo (VEIGA, 2012). Daí essa teoria ser considerada por muitos como a hipótese que estabelece o planeta Terra “como um ser vivo”, pelo fato de apresentarautorregulação. 9 Assim, para conhecermos o planeta, é necessário entendermos quais são seus componentes, como estão organizados e como interagem para definir suas características e sua dinâmica. É preciso, contudo, lembrarmos que esses componentes se dividem em elementos abióticos e bióticos. Outro aspecto que precisa ser incorporado no raciocínio sobre o planeta é o componente histórico. Isso significa que a Terra, e todos os seus componentes, existe há muito tempo e que nem sempre ela teve as mesmas características que apresenta hoje. Esse contexto histórico amplia nossa visão sobre o planeta e nos ajuda a entender processos de longa duração que moldaram o planeta tal qual ele se apresenta atualmente. Esse é, também, um bom ponto de apoio para previsões do que acontecerá no futuro. Na tentativa de construir uma visão mais interativa e completa da Biologia e de seus componentes bióticos e abióticos, terá início o estudo do planeta e da vida ao longo do tempo geológico. 11 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA Unidade I 1 ORIGEM DO PLANETA Boa parte das características atuais do planeta Terra está relacionada com sua origem e evolução. Contudo, antes de ser trabalhada a origem do planeta, serão fornecidas informações sobre um tempo ainda mais remoto, referente à origem do próprio universo. Além de ser um assunto correlato e que explica algumas das questões fundamentais da composição e estrutura do planeta, apresenta temas explorados nas aulas de Ciências, Geografia e Biologia dos Ensinos Fundamental e Médio. 1.1 Origem do tempo e espaço Um pensamento bastante difundido entre alunos, professores e, até mesmo, na população em geral, é a Teoria do Big Bang. Entretanto as informações referentes a esse tema devem ser tratadas com cuidado para que não tragam mais confusão do que esclarecimento. Observação Chamamos de teoria os conhecimentos elaborados cientificamente sobre determinado assunto. A teoria foi formulada no século XX e tenta explicar a origem e evolução inicial do Universo. Isso implica, também, que o tempo, o espaço e a matéria tenham surgido a partir desse mesmo momento. Seu nome faz referência à expressão inglesa que corresponde a uma grande explosão. Não se sabe exatamente o que existia antes desse acontecimento, mas de acordo com a teoria, tudo estava comprimido em um único ponto que não seria muito maior do que uma laranja. Nesse ponto, as condições se tornaram muito instáveis e houve a explosão. Isso teria ocorrido há cerca de 15 bilhões de anos (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). A Teoria do Big Bang foi construída ao longo de boa parte do século XX através da soma de contribuições de muitos pesquisadores. No entanto, talvez possamos apontar como pai dessa teoria o astrônomo Edwin Hubble. Em 1923, Hubble usou um poderoso telescópio recém-construído e fez descobertas importantes em um observatório em Los Angeles (EUA). Ele identificou galáxias e estrelas fora da nossa própria galáxia (Via Láctea) e conseguiu calcular a distância em que elas se encontravam, provando que a Via Láctea é apenas uma entre muitas outras no espaço. A partir dessas observações, identificou que a distância entre nossa galáxia e as outras estava aumentando e, quanto mais longe, maior parecia ser a velocidade de afastamento (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 12 Unidade I A comprovação foi feita através do reconhecimento do fenômeno conhecido como desvio para o vermelho, ou red shift. De maneira simplificada, ele pode ser explicado como sendo a tonalidade avermelhada apresentada pelas estrelas quando elas se movem para longe de um ponto fixo de observação, no caso, a Terra. É um acontecimento famoso por ondas luminosas e sonoras, por exemplo, e que pode ser facilmente reproduzido em laboratório (Efeito Doppler). Ele comprova o afastamento entre as galáxias e torna possível, inclusive, calcular a velocidade dessa separação. Se, ao contrário, elas estivessem se aproximando, a coloração da luz seria azul e não vermelha. Essa é, até hoje, uma das observações mais importantes para a Cosmologia moderna (TREFIL, 2013). Figura 2 – Visão parcial do universo com nebulosa e estrelas Saiba mais Existem vários documentários sobre as contribuições do telescópio Hubble, que foi um marco na astronomia moderna. Destacaremos aqui: HUBBLE – A última missão. Dir. Dana Berry. EUA: National Geographic, 2008. 47 minutos. Vale a pena conferir! O cenário construído através das observações de Hubble foi o de um universo em expansão, que serviu de base para outras conclusões. Se pensarmos que houve um começo, ou um ponto de partida, poderemos crer no movimento contrário das galáxias, ou seja, ao invés de afastamento, cogitaremos a aproximação. Juntando-se a essa ideia os cálculos de velocidade e tempo de afastamento, foi possível calcular há quanto tempo, no passado, o ponto de partida teria acontecido, ou seja, quando o big bang teria acontecido. E esse valor gira em torno de 15 bilhões de anos (TREFIL, 2013). 13 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA Observação Uma interessante e fácil atividade pode representar a expansão do universo. Basta desenhar pequenas manchas em uma bexiga (balão de festa) vazia e depois enchê-la. As manchas representam as galáxias. Encher a bexiga representa a expansão do universo. É possível observar que as manchas vão ficando cada vez mais distantes conforme a bexiga se enche. Saber que a expansão do universo é uma realidade foi um grande avanço no conhecimento sobre o planeta e o universo como um todo. Contudo ajudou a gerar outras dúvidas sobre o processo e os vários momentos que sucederam a explosão. O que foi formado na explosão? Quanto tempo levou até a formação de estrelas e planetas? Como se originaram os elementos químicos? Essas são apenas algumas das questões trabalhadas desde então, e para as quais existem respostas, ainda que parciais. Tudo isso diz respeito à história do universo (TREFIL, 2013). A explosão, que caracteriza o big bang, teria gerado apenas energia e não matéria. Os momentos que se seguiram a ela são minuciosamente estudados, porque correspondem a uma sucessão muito rápida de eventos que acabaram criando as bases daquele universo em grande e rápida expansão. Tão rápida que os acontecimentos são registrados em pequeníssimas frações de segundos (TREFIL, 2013). Grandes estruturasDesacoplamento Primeiras estrelas Origem do O. C. N. Fe Formação de átomos pesados Formação das moléculas Primeiras galáxias Inflação Big Bang Fusão H HA Big Bang Luz e partículas 400 mil anos Armação dos astros e evolução química Caos Figura 3 – Representação dos momentos iniciais do desenvolvimento do universo 14 Unidade I 1.2 Origem da matéria Embora pareça um detalhamento exagerado identificar eventos que ocorreram a 10-35 segundos, ou mesmo 1 milissegundo, esse é um procedimento fundamental para quem tem interesse na origem da matéria e das forças que governam o universo. Estima-se que o resultado imediato do big bang tenha sido energia e temperatura extremamente elevada. Foi a partir desses elementos disponíveis que surgiu tudo o que conhecemos atualmente na Terra e no universo. Conforme o universo se expandia, a elevada temperatura diminuiu, e a energia deu origem à matéria (TREFIL, 2013). Observação A famosa fórmula de Albert Einstein, E=mc2, mostra a relação existente entre matéria e energia. Diz que, se tivermos energia suficiente, poderemos criar matéria a partir dela. De acordo com as pesquisas, transcorridos 0,001 segundo (um milissegundo) da explosão inicial, partículas fundamentais da matéria conhecidas como quarks, entre muitas outras, puderam se formar. A contar delas e das forças existentes no espaço, houve um momento de organização e estabilidade, sendo que, no intervalo entre 0,001 segundo e 3 minutos, o universo esteve dominado pela interação entre partículas elementares. Resultaram daí os primeiros núcleos atômicos e o plasma. A isso tudo, seguiu-seum período de cerca de 400 a 500 mil anos até o surgimento dos primeiros átomos, em um processo chamado nucleossíntese (TREFIL, 2013). Muitos outros acontecimentos se sucederam nesse período, mas não serão aqui relatados por estarem relacionados a outros ramos da ciência como Astronomia e Astrofísica. Observação Cometas são corpos formados por gases congelados e que viajam pelo sistema solar. 1.3 Estrelas e a evolução do universo Os primeiros átomos foram de elementos químicos leves como hidrogênio (H; número atômico 1), hélio (He; número atômico 2), lítio (Li; número atômico 3) e berílio (Be; número atômico 4). Embora houvesse pouca diversidade, havia muita quantidade e o universo se encheu com esses gases. Contudo se pensarmos em nosso planeta, poderemos compreender facilmente que uma diversidade muito maior de elementos químicos seja necessária para formar tudo o que conhecemos. A água, por exemplo, é formada por átomos de hidrogênio e oxigênio, sendo que o último não foi formado naquele momento inicial (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Outra constatação é feita a partir da tabela periódica dos elementos químicos, que contém o registro de 118 elementos químicos conhecidos. 15 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA Sendo assim, seria necessária a formação dos demais elementos para que surgissem os diversos componentes do universo, do planeta e, até mesmo, do nosso corpo. Essa origem está relacionada com as estrelas e justificou a famosa frase do cientista Carl Sagan: “Somos feitos da poeira das estrelas”. Observação Carl Sagan é uma das mentes brilhantes do século XX que merece ser conhecida por todos. Ficou famoso pela série/documentário Cosmos: odisseia no espaço, da década de 1980, mas sua contribuição é muito maior. Em diversas regiões desse universo em expansão, os elementos químicos começaram a formar agregados e a se combinar, aumentando consideravelmente a temperatura devido às colisões que ocorrem entre os átomos de hidrogênio e hélio. Diante dessa situação, foram criadas as condições ideais para que houvesse a fusão nuclear dos átomos de hidrogênio formando hélio. É um processo interessante, porque precisa de uma quantidade muito grande de energia para acontecer, mas, quando realizado com elementos químicos leves, acabará liberando muito mais energia do que consome. Esse é o processo que ocorre, pelo menos inicialmente, em todas as estrelas. Foi assim que os primeiros componentes do universo, as estrelas, se formaram (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Como sabemos disso? Esse é o processo que ocorre hoje em dia no interior das estrelas e não há motivos para supor que tenha sido diferente, haja vista que os elementos necessários já estavam presentes. Figura 4 – O Sol, estrela de nosso sistema planetário. Seu funcionamento e as formações em sua superfície são regidas pelas reações nucleares Temos, portanto, que hidrogênio é o combustível inicial das estrelas. Pensando nessas primeiras estrelas, conforme o hélio se formava pela fusão nuclear, seus átomos passavam a colidir cada vez mais com os demais, criando elementos químicos diferentes e mais pesados (por exemplo, oxigênio, carbono, sódio, magnésio), aumentando a diversidade química no universo. Esse processo segue acontecendo enquanto a estrela tiver massa suficiente ou até que se formem elementos químicos tão pesados 16 Unidade I (como o ferro) que o processo passe a consumir mais energia do que produz, o que a levará ao colapso (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Saiba mais Uma série de documentários merece ser vista por aqueles que se interessam pelo universo e nosso planeta. Trata-se de Cosmos: odisseia no espaço, em suas duas versões: a original, da década de 1980, e sua edição mais recente, de 2014, esta última repetidas vezes exibida nos canais National Geographic. COSMOS. Dir. Adrian Malone. EUA: KCET e Carl Sagan Productions, 1980. 60 minutos (13 episódios). COSMOS. Dir. Brannon Braga; Bill Pope; Ann Druyan. EUA: Cosmos Studios e Fuzzy Door Productions, 2014. 44 minutos (13 episódios). A fusão nuclear é o que mantém as estrelas funcionando. Sua luminosidade é controlada pela quantidade de energia gerada. Além disso, há também a temperatura, extremamente elevada, chegando a cerca de 5500º C na superfície do Sol. Prova disso é o controle que o Sol, a estrela mais próxima de nosso planeta, exerce no clima terrestre. No entanto, não existe apenas um tipo de estrela. Elas são muito variáveis, em diversos aspectos, tais como tamanho, massa, temperatura, coloração, brilho etc. Todas suas características estão relacionadas e são controladas pela quantidade de combustível disponível. Geralmente os diferentes tipos de estrelas são representados através do diagrama Hertzsprung-Russell (ou simplesmente diagrama H-R), no qual informações como magnitude, temperatura, luminosidade e classe espectral são combinadas, permitindo identificar tipos bem específicos (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Saiba mais O documentário O Sol é uma ótima fonte de informações sobre nosso astro rei: O SOL. Dir. Michael Flachmann. EUA: Discovery Channel, 2006. 45 minutos. Costuma-se fazer uma analogia com os seres vivos, considerando-se que as estrelas nascem (conforme já descrito), se desenvolvem e morrem. Depois que elas transformam a maior parte do hidrogênio/hélio em elementos químicos mais pesados, entram em um momento descendente de sua existência, mas tudo depende de sua massa. As menores irão se contrair formando esferas maciças de ferro ou qualquer outro elemento químico que esteja disponível em grande quantidade, são as chamadas anãs negras. Para as estrelas muito massivas, o final esperado é outro. Essa é a 17 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA fase de supernova. Deve haver uma gigantesca e súbita implosão de seu núcleo, produzindo mais energia que o Sol irá produzir em toda sua vida, e, como consequência, muitas reações nucleares importantes ocorrem. Impulsionados pela implosão e quantidade extra de energia liberada, os átomos dos elementos existentes conseguem se fundir, gerando elementos químicos mais pesados do que o ferro e completando a lista de componentes químicos da tabela periódica. Esses novos elementos são espalhados pelo universo. No local da antiga estrela, podem restar uma estrela de nêutrons ou um buraco negro. Dependendo de suas características, as estrelas podem durar muitos bilhões de anos. Para o Sol, estima-se uma idade de 5 bilhões de anos tendo a mesma quantidade de tempo ainda pela frente (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Observação Chamamos de nucleogênese a formação de elementos químicos no interior das estrelas, seja ao longo de sua existência ou como consequência de uma supernova. 1.4 O sistema solar Com os elementos formados começaram a ocorrer as primeiras reações químicas, tendo como consequência a formação de moléculas. A partir daí, ficaram disponíveis os componentes fundamentais para a formação dos planetas. Para tratar desse tema, tomaremos como exemplo o nosso sistema planetário, conhecido como Sistema Solar (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Um sistema como esse é formado por uma estrela com planetas e outros objetos celestes (por exemplo, satélites naturais, cometas) se movendo ao seu redor. Juntamente com eles, o Sistema Solar torna-se parte de algo maior: uma galáxia chamada Via Láctea. O centro da Via Láctea é formado por um conjunto de estrelas e um buraco negro, e dele partem braços que dão a ela um aspecto espiralado. Outras galáxias podem ter diferentes formatos (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 5 – Representação da Via Láctea indicando a posição do Sistema Solar 18 Unidade I Observação A estrela Dalva é, na realidade, o planeta Vênus que pode ser visto ao anoitecer como um ponto mais brilhante, bem perto da Lua. Sua luminosidade se deve ao reflexo da luz do Sol. No início, há cercade 5 bilhões de anos, nosso sistema planetário era representado apenas pelo Sol, nossa única estrela central, e um disco de poeira e gás girando ao redor (disco protoplanetário). A energia emanada pelo Sol fez com que os materiais mais leves do disco planetário fossem empurrados para longe do centro, e os mais pesados continuaram próximos ao Sol. Com o passar do tempo, houve aumento do grau de organização, e o disco de poeira se dividiu em anéis. O material de cada um deles deu origem aos planetas, e o seu traçado original corresponde agora às órbitas planetárias (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Observação É muito comum as pessoas confundirem Astronomia e Astrologia. Astronomia é o estudo científico dos astros que formam o universo, enquanto Astrologia é a utilização dos astros para fazer previsões. Além do Sol, nosso Sistema Solar é formado por oito planetas reconhecidos pela União Astronômica Internacional. São eles, em ordem a partir do Sol: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Todas as órbitas (traçado fixo percorrido pelos planetas) são concêntricas, elípticas e não se cruzam. Vários outros corpos celestes estão sendo analisados para ver se reúnem as características necessárias para serem considerados planetas. Satélites naturais, cometas, asteroides, poeira e gases são os outros integrantes do Sistema Solar (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 6 – Sistema Solar: Sol ao centro e planetas com suas órbitas representadas 19 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA Observação Plutão deixou de ser planeta em 2006 e foi atribuído à categoria de planeta-anão. Devido à diferença na composição de cada anel planetário, bem como na quantidade de material disponível, os planetas adquiriram características distintas. Os quatro primeiros deles têm diferenças marcantes em relação aos demais (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Com base nessas peculiaridades, existe a seguinte classificação: • planetas rochosos: também chamados de telúricos ou sólidos; ocupam as primeiras quatro posições a partir do Sol (Mercúrio, Vênus, Terra e Marte). São relativamente pequenos quando comparados aos do outro grupo. Têm composição sólida, correspondendo a diferentes tipos de rochas, e maior densidade. Da mesma forma se caracterizam pelo pequeno número de satélites naturais (luas), sendo que Mercúrio e Vênus não têm nenhum, a Terra tem um e Marte tem dois (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009); • planetas gasosos: conhecidos como jovianos ou gigantes gasosos; ocupam as últimas quatro posições a partir do Sol (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno). São muito maiores do que os do outro grupo. Têm composição gasosa (principalmente hidrogênio, hélio e metano) em sua espessa superfície que recobre um pequeno núcleo sólido. A densidade é menor, embora a massa seja grande. Possuem grande número de satélites naturais (luas), sendo que Júpiter tem 60, Saturno, 30; Urano, 24 e Netuno, 11 (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 7 – Representação da composição e estrutura de alguns planetas do Sistema Solar 20 Unidade I Observação Satélite natural é uma expressão que se refere aos corpos celestes em órbita dos planetas, como a nossa Lua. Cuidado, pois existem os satélites artificiais, que são construídos pelo homem para coletar informações. Uma estrela cadente, na realidade, é um meteoro que entra na atmosfera terrestre e começa a se fragmentar, deixando um rastro de luz por onde passa. Terra Lua Marte Fobos Deimos Júpiter Io Enceladus Mimas Tethys Dione Rhea Titan Myperion Oberion Titania Umbriel Ariel Miranda Puck Triton Nereida Iapetus Phoebe Europa Ganymede Calisto Saturno Urano Netuno Figura 8 – Alguns satélites naturais dos planetas do Sistema Solar. Saiba mais Para saber mais sobre Astronomia, planetas ou qualquer outro tema relacionado, recomenda-se a página do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG-USP), que disponibiliza material muito interessante na forma de vídeos e textos, incluindo livros para download. Procure na aba “Cultura e Extensão” no endereço: INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFÍSICA E CIÊNCIAS ATMOSFÉRICAS (IAG). Astronomia. São Paulo, [s.d.]. Disponível em: <http://www.iag.usp.br/ astronomia/>. Acesso em: 25 out. 2016. 21 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA Conforme mencionado, o Sol tem aproximadamente 5 bilhões de anos. Portanto, o restante do Sistema Solar deve ter se formado após esse período. De fato, informações obtidas através da datação radiométrica de meteoritos indicam que a idade mais antiga seja pouco mais de 4,5 bilhões de anos. Mas como os planetas se formaram? Utilizaremos o exemplo da Terra para representar os demais planetas telúricos. Sua constituição costuma ser explicada por um processo chamado acreção planetária (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Lembrete Asteroides são corpos rochosos ou metálicos que vagam pelo Sistema Solar. Ainda no estágio inicial do Sol, as pequenas partículas sólidas (poeira cósmica), que formavam os anéis protoplanetários, se chocavam com grande violência e se uniam, liberando pequenas quantidade de energia na forma de calor e formando agregados de poeira cada vez maiores. O mesmo fenômeno se repetia com os agregados de poeiras, que se juntavam e formavam corpos sólidos um pouco maiores e assim sucessivamente, ano após ano, crescendo lentamente até consumir todo o material existente no anel protoplanetário e formar um planeta. O mesmo processo se repete ainda hoje, embora numa frequência muito menor, quando alguns asteroides caem na superfície da Terra (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 9 – Representação do processo de formação do planeta, indicando a colisão entre os asteroides e a Terra Observação Os anéis de Saturno são constituídos essencialmente por uma mistura de gelo, poeira e material rochoso, por vezes comparados a uma pista de patinação. Embora possam atingir algumas centenas de milhares de quilômetros de diâmetro, não ultrapassam 1,5 km de espessura. 22 Unidade I Esse processo libera muita energia na forma de calor. Como no início existia bastante desse material formando os anéis protoplanetários, as colisões eram frequentes, e a quantidade de calor liberada muito grande, fazendo com que os planetas rochosos se tornassem fluidos e quentes, constituídos inteiramente por um material semelhante ao magma. Tomando a Terra como exemplo, nesse momento, ela apresentava o aspecto de uma grande esfera de material incandescente, sem os continentes e oceanos que conhecemos atualmente. Essa condição durou até o momento em que as colisões diminuíram e pararam de fornecer calor para o sistema. A partir daí, os planetas foram se resfriando lentamente, de fora para dentro. Esse processo deve ter começado há cerca de 3,8 bilhões de anos e continua até hoje (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Observação A distância entre a Terra e a maioria das estrelas é muito grande, sendo medidas, em anos-luz, ou seja, um ano-luz corresponde à distância percorrida pela luz em um ano (aproximadamente 9.460.500.000.000 km). Portanto, quando olharmos o céu à noite, poderemos estar vendo o brilho de estrelas que já explodiram, já que apenas a sua luminosidade viaja pelo espaço. 2 ESTRUTURA DO PLANETA Durante o processo de resfriamento da Terra, a diferença de temperatura entre o centro e a superfície, associada à fluidez de seus componentes, causou uma distribuição diferencial dos componentes químicos no interior do planeta, sendo que os mais densos, como o ferro e o níquel, foram se acumulando no interior, enquanto os mais leves formaram partes mais superficiais. Como resultado temos, hoje em dia, um planeta com estrutura interna conspícua, conforme será detalhado posteriormente (ASSUMPÇÃO; DIAS NETO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Observação A luz do Sol demora aproximadamente 8 minutos e 18segundos para chegar até a Terra. A Terra é o terceiro planeta em distância do Sol, estando há aproximadamente 149,6 milhões de km de distância dele. Esse é um valor médio, pois há variação entre o verão e o inverno. Tal proximidade é fundamental para que o planeta receba quantidade de energia suficiente para manter uma temperatura média de 15º C, influenciar processos biogeoquímicos, definir o clima, permitir a existência de água líquida e também de vida (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 23 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA 2.1 Movimentos planetários Observação Pelo fato de a palavra Terra representar um nome próprio, o mais correto é escrevê-la com a primeira letra maiúscula. Em órbita da Terra, há aproximadamente 384 mil km, está seu único satélite natural: a Lua, responsável pelo controle da variação do nível do mar conhecido como maré (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Terra Lua Figura 10 – Representação do movimento de translação da Lua ao redor da Terra Em conjunto, Terra-Lua formam um sistema que desenvolve o movimento de translação ao redor do Sol, tendo duração de 365 dias e 6 horas (ou seja, um ano). A órbita terrestre é elíptica e, portanto, há momentos em que está mais perto ou mais distante do Sol (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 11 – Representação do movimento de translação terrestre 24 Unidade I Observação Asteroides, meteoros e meteoritos são palavras diferentes para representar o mesmo material em várias partes do Sistema Solar. Chamamos asteroides quando estão fora da atmosfera terrestre. Meteoros quando foram capturados pela gravidade terrestre e entram na atmosfera. Meteoritos quando caem na superfície da Terra. A combinação da translação com a inclinação do eixo do planeta produz a variação das condições climáticas que costumamos identificar como estações do ano (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 12 – Inclinação dos planetas do Sistema Solar em relação ao plano de sua órbita (valores representados em graus) A Terra também tem seu movimento próprio desenvolvido ao redor do eixo imaginário. É chamado de movimento de rotação, o ciclo completo, ou seja, um giro completo de 360º, tem duração de cerca de 24 horas ou um dia (precisamente são 23 horas, 56 minutos, 4 segundos e 9 centésimos). Essa atividade determina a variação entre períodos de luminosidade (dia) e escuridão (noite). Há que se destacar que o planeta como um todo ainda realiza outros deslocamentos, como a nutação e precessão de equinócios, mas que não serão detalhados por serem ciclos de duração mais longa e não afetarem sobremaneira o funcionamento do planeta (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 25 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA Figura 13 – Representação do movimento de rotação da Terra (setas) Cada planeta do Sistema Solar apresenta características específicas relacionadas à inclinação do eixo vertical, assim como a duração dos movimentos de translação e rotação, apresentando valores bem diferentes daqueles apresentados para a Terra (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). A interação entre Sol, Lua e Terra produz fenômenos cíclicos chamados eclipses, que, além de chamarem a atenção da população, acabam afetando alguns processos biológicos. Consideramos eclipse a perda momentânea, parcial ou total, da luminosidade emitida ou refletida por um astro celeste, no caso, a Lua e o Sol. Ele ocorre devido ao alinhamento entre os três astros envolvidos. O eclipse lunar ocorre quando a Terra está entre a Lua e o Sol, bloqueando parte da luz solar que atingiria a Lua e causando uma sombra sobre ela (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Sol Terra Lua Sombra Penumbra Figura 14 – Representação do eclipse lunar Já quando a Lua está entre a Terra e o Sol, acaba obstruindo a luminosidade proveniente do Sol, o que para nós fica visível na forma de uma cobertura total ou parcial do Sol. O fenômeno é chamado de eclipse solar (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 26 Unidade I Sol Terra TerraLua Sombra Penumbra Figura 15 – Representação do eclipse solar 2.2 Caracterização do planeta O planeta Terra pode ser caracterizado externa e internamente com base em sua organização, estrutura ou composição. De qualquer um desses pontos de vista, corresponde a um planeta único no Sistema Solar, condição derivada de seu processo de formação e de sua posição em relação ao Sol (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Ao longo dos séculos, os cientistas vêm trabalhando para aumentar cada vez mais o conhecimento sobre o planeta. Essas informações tentam atender a objetivos diversos, como previsão de fenômenos naturais decorrentes da dinâmica terrestre (por exemplo, terremotos e erupções vulcânicas) e obtenção de recursos naturais (minérios, pedras preciosas e petróleo). A Geologia é o ramo da ciência que se dedica à maioria desses estudos, possuindo uma grande lista de áreas de especialização, como mineralogia, petrologia, geologia ambiental, hidrogeologia, geomorfologia, vulcanologia, entre muitas outras. O profissional dedicado a alguma dessas áreas é genericamente chamado de geólogo. Obter informações sobre o planeta nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente se elas forem relacionadas ao interior do planeta. As características externas podem ser obtidas, com alguma facilidade, sobrevoando ou caminhando pelo planeta, ou analisando os materiais que estão na superfície, como rochas e montanhas. Contudo as informações sobre o seu interior nem sempre estão acessíveis de maneira direta e precisam de métodos especiais para serem obtidas, conforme será detalhado a seguir. De qualquer forma, conhecer o planeta em sua totalidade tem implicações importantes na vida do ser humano, mas também influencia cada ser vivo no planeta, uma vez que a Terra é a casa de todos eles. É dela que se obtém recursos naturais (nutrientes). É nela que encontram abrigo (nas cavernas). É ela, inclusive, que afeta o processo de evolução biológica quando, através de sua dinâmica, separa populações de seres vivos e faz com que elas evoluam de maneira independente (separação dos continentes). Enfim, o conhecimento dos seres vivos passa, obrigatoriamente, pelo conhecimento do lugar onde eles vivem e pelas condições que podem ter conduzido sua evolução. 27 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA 2.2.1 Características externas O planeta Terra tem aproximadamente 4,5 bilhões de anos, sendo descrito como um geoide de rotação, ou seja, tem um formato aproximadamente esférico, levemente achatado nos polos, e que realiza o movimento de rotação. Contudo, o achatamento é tão discreto que não causa grande alteração no formato do planeta e, portanto, pode ser considerado uma esfera (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 16 – Imagem do planeta Terra a partir de satélite O achatamento nos polos causa uma diferença entre o diâmetro medido em diferentes partes do planeta. Por isso existe o diâmetro polar, representado por uma linha reta ligando os polos geográficos norte e sul, passando pelo centro do planeta, e mede aproximadamente 12.713 km. O diâmetro equatorial é um pouco maior devido ao achatamento. Corresponde à linha que une dois pontos quaisquer sobre a Linha do Equador, trespassando pelo centro do planeta. Mede aproximadamente 12.756 km. A diferença é muito pequena (cerca de 0,03%), de modo que, se formos desenhar a Terra com um compasso, poderíamos usar a medida de 10,00 cm para o diâmetro equatorial e 9,97, para o diâmetro polar (CORDANI; PICAZZIO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Observação A medida do raio de uma circunferência corresponde à metade de seu diâmetro. 28 Unidade I Externamente à Terra, existem cinco conjuntos de características representadas por: • seres vivos (Biosfera); • atmosfera; • água (Hidrosfera); • relevo (parte da crosta terrestre); • litosfera. O planeta é envolvido por uma camada de gases e vaporde água (nuvens) chamada Atmosfera A parte não coberta pela água forma os continentes e as ilhas, a camada sólida da terra. É a chamada Crosta Terrestre ou Litosfera A terra é recoberta em sua maior parte pelas águas dos oceanos, lagos, rios e geleiras. Essa camada é a Hidrosfera. Figura 17 – Representação de importantes conjuntos de elementos que caracterizam a parte externa do planeta Os seres vivos, até onde se sabe, são exclusivos do nosso planeta e interagem com ele a todo momento. Estão distribuídos desde as altas montanhas até as profundezas oceânicas, do ar até o interior do solo. Formando coberturas extensas, como nas florestas tropicais, ou ocorrendo de maneira restrita, como os procariontes de fontes termais (extremófilos), são habitantes antigos do planeta, com os primeiros registros datados em cerca de 3,5 bilhões de anos (WICANDER; MONROE, 2009). Figura 18 – Representação da biosfera, uma das características externas do planeta 29 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA A atmosfera corresponde à camada de gases que envolve o planeta. Nela, ocorrem fenômenos climáticos (chuva, variação de temperatura) e ciclos biogeoquímicos (ciclo da água e do carbono). Sua origem está, provavelmente, relacionada ao próprio processo de formação do planeta, mais especificamente, o longo período em que ele vem se resfriando (CORDANI; PICAZZIO, 2009). Atmosfera Nuvem leve Mares e oceanos Vapor d’água Vapor d’água Vapor Evaporação Transpiração das plantações Transpiração da vegetação natural Plantações Figura 19 – Interações entre atmosfera, biosfera, hidrosfera e litosfera Aos poucos, à medida que os impactos de asteroides diminuíram, o planeta foi se resfriando de fora para dentro e sofrendo o processo de desgaseificação (também chamado de degaseificação por alguns autores). Assim, os gases contidos no material em fusão foram sendo liberados conforme o material endurecia, ficando acumulados ao redor da Terra e formando nossa atmosfera primitiva (CORDANI; PICAZZIO, 2009; KARMANN, 2009; GARRISON, 2010). Entre os gases, estaria a água na forma de vapor. Todo esse raciocínio surgiu por analogia a um processo semelhante que ocorre desde aquela época. Quando o magma extravasar do interior do planeta pela abertura de um vulcão e chegar à superfície terrestre, haverá liberação de gases contidos no material em fusão, à semelhança do ocorrido durante a desgaseificação nos primórdios do planeta. Esses gases correspondem a uma rica combinação de substâncias variadas como monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2), nitrogênio (N2), hidrogênio (H2), amônia (NH3), água (H2O), entre outros (SALGADO-LABOURIAU, 2001; CORDANI; PICAZZIO, 2009; OLIVEIRA; CORDANI; FAIRCHILD, 2009), algo muito semelhante ao que teria existido em nossa atmosfera primitiva. 30 Unidade I Figura 20 – Vulcão liberando gases que irão compor a atmosfera, entre eles, muito vapor de água No entanto, nossa atmosfera atual tem a composição e a proporção de gases bastante diferente daquelas que deve ter sido sua primeira versão, mostrando que essa é uma parte do planeta em constante evolução conforme ocorrerem as interações com os elementos da hidrosfera, litosfera e, principalmente, biosfera (SALGADO-LABOURIAU, 2001; CORDANI; PICAZZIO, 2009). Mais adiante, ao tratarmos da Era Pré-cambriana, serão feitas observações adicionais sobre a evolução da atmosfera e sua relação com os seres vivos. Saiba mais Uma boa fonte de informações sobre a origem da atmosfera é o documentário: TERRA: o poder do planeta. Episódio Atmosfera. Dir. Annabel Gillings. Reino Unido: BBC, 2007. 60 minutos. Outra característica externa importante é a presença de água, especialmente na forma líquida. A água pode ser encontrada em estado líquido, gasoso e sólido desde a atmosfera (vapor de água, nuvens), a até uma profundidade de cerca de 10 km dentro da litosfera. Pelo que se sabe, água em estado líquido existe apenas na Terra. Isso é possível devido à combinação de uma série de fatores como composição do planeta e distância do Sol (CORDANI; PICAZZIO, 2009; KARMANN, 2009). Mas como e quando a água líquida chegou à superfície? A água se manteve na atmosfera na forma de vapor enquanto a temperatura do planeta esteve alta o suficiente para impedir que houvesse a condensação (CORDANI; PICAZZIO, 2009; KARMANN, 2009). Conforme mencionado anteriormente, a Terra estava em processo de resfriamento de fora para dentro, o que atingiu a atmosfera que foi resfriando até o momento (algo entre 4,4 e 4 bilhões de anos no passado) em que a água líquida se formou e as primeiras gotas de chuva caíram sobre a superfície e puderam infiltrar no solo e acumular-se nas suas depressões formando os primeiros lagos, rios e oceanos. Há autores que sugerem que essas primeiras chuvas do planeta tenham caído por cerca de 20 milhões de anos em grande quantidade e de maneira incessante (GARRISON, 2010). 31 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA Ao longo dos anos de pesquisa científica, foram surgindo evidências de que os corpos rochosos que vagam no espaço (isto é, asteroides e cometas) e chegam até a superfície da Terra contêm pequenas e variadas quantidades de água em sua composição (MARTY, 2012). Cometas são formados por gases congelados e entre eles pode haver vapor de água. Os asteroides, por sua vez, são materiais sólidos de natureza rochosa ou metálica e podem conter água na forma de minerais hidratados (KARMANN, 2009). Isso corresponderia à origem extraterrestre da água no planeta, embora seja difícil calcular a exata contribuição dessa fonte (MARTY, 2012). Vale lembrar, entretanto, que a Terra foi formada pela colisão e fusão de asteroides e que durante muito tempo ela sofreu com os impactos frequentes desses corpos. Sendo assim, essa pode ter sido uma importante fonte de água do planeta (GENDA; IKOMA, 2008; MARTY, 2012). A) B) Figura 21 – Corpos celestes que viajam pelo Sistema Solar e podem ter contribuído para a formação da hidrosfera terrestre. A) cometa, B) meteoro metálico Saiba mais Para obter informações sobre a origem do planeta e de seus constituintes assista: CONSTRUINDO o planeta Terra. Dir. Yavar Abbas. Reino Unido: Handel Productions e Pioneer Productions, 2011. 96 minutos. Há estimativas de que o volume de água do planeta tem se mantido praticamente o mesmo há bilhões de anos (KARMANN, 2009). Nos períodos em que a Terra esteve mais quente, a cobertura de gelo diminuiu (o gelo derreteu) e a água líquida foi transformada em vapor. Por outro lado, em momentos mais frios, a cobertura de gelo aumentou na superfície do planeta (FAIRCHILD, 2009). Observação Abaixo da superfície congelada da Antártica, existe um continente com rochas e formas de relevo. Por outro lado, o gelo do Ártico se forma diretamente sobre o oceano. 32 Unidade I Grande parte da superfície sólida do planeta corresponde a rochas da crosta terrestre, representadas pelos continentes e pelo fundo oceânico. Nela, destacam-se os relevos variados, como é o caso de montanhas, cordilheiras, planaltos, vales, planícies, depressões entre outras. Até mesmo o fundo dos oceanos possui relevo bastante diversificado, com basicamente as mesmas formas encontradas nos continentes). A) B) Figura 22 – Diferentes tipos de relevos continentais. A) Cordilheira (cadeia de montanhas); B) Planalto Observação A maior montanha do planeta, que tem a sua base em um continente, é o Monte Everest, com 8848 m de altura, na divisa entre China e Nepal. Figura 23 – Mapa reunindo características de relevo dos continentes e do fundo oceânico (dorsais/cordilheiras e bacias/depressões) 33 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA A observação atenta do mapa-múndi permite notar a distribuição desigual de continentes pelo Hemisfério Norte e Sul, com maior quantidade no primeiro (compare as porções do mapa acima e abaixo da Linha do Equador). Consequentemente, há maior cobertura de oceano no Hemisfério Sul (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Tal distribuiçãoapresenta reflexos importantes nas correntes marítimas e no clima de cada uma dessas regiões. Figura 24 – Mapa-múndi Observando imagens de satélites e a distribuição do relevo terrestre, foi possível notar que a superfície da Terra não é uma cobertura única. Ao contrário, ela está dividida em várias placas de diferentes tamanhos e formatos conhecidos como placas litosféricas (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Atualmente conseguimos visualizar através dos mapas e imagens de satélite que a Terra tem cerca de 2/3 de sua superfície cobertas por oceanos. Com base nessa constatação, algumas pessoas chegam a sugerir, mesmo que apenas de maneira informal, a alteração do nome do nosso planeta de Terra para Água. Contudo, tal observação não está correta e o motivo está nas características internas do planeta (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 34 Unidade I Superfície da Terra (510.000.000 km2) Massas líquidas (361.000.000 km2) Pacífico Atlântico Índico Glacial Ártico Oceanos e mares Massas sólidas (149.000.000 km2) Ásia América África Europa Oceania Antártica Continentes e ilhas Figura 25 – Proporção da cobertura da superfície da Terra por massas sólidas ou líquidas 2.2.2 Características internas O conhecimento sobre o interior do planeta não veio de forma fácil. Foram necessários séculos de investigações e a utilização de tecnologia de ponta para termos uma descrição detalhada dos materiais e das condições existentes em seu interior. Grande parte das dificuldades advém do fato de que a Terra não pode ser cortada como se faz com uma maçã ou uma melancia. Um dos empecilhos é o tamanho, o outro, a sua constituição extremamente rígida. Não desenvolvemos tecnologia para escavar (na verdade perfurar) mais do que 15 km em direção ao centro da Terra. Já que o raio do planeta é cerca de 6.375 km (diâmetro 12.756 km), significa dizer que temos acesso a pouco mais de 0,23% do interior de nosso próprio planeta. Isso ocorre por pura falta de tecnologia adequada à perfuração do material existente no interior do planeta além dessa profundidade. Essa informação se torna mais impressionante quando lembramos que o homem já foi à Lua, distante 384 mil km da Terra! Sendo assim, conseguimos viajar 384 mil km para fora da Terra, mas não conseguimos escavar mais do que 15 km do planeta. É o equivalente a querer conhecer uma maçã por dentro fazendo apenas um arranhão em sua superfície (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 2.2.2.1 Abordagens Apesar dessa constatação, o fato é que conhecemos a composição, a estrutura e a dinâmica do interior do planeta. Mas como? De onde vieram as informações? A resposta mais uma vez esbarra na tecnologia. Os estudos realizados para conhecer o interior da Terra são divididos em: • abordagens diretas: quando se tem acesso ao interior do planeta ou a um material proveniente dele. São exemplos as escavações, o magma, os gases emanados pelos vulcões, as cavernas, o solo etc. (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). • abordagens indiretas: momento em que são feitas observações, medições e testes em uma divisão da Geologia conhecida como geofísica. Há estudos, também, de materiais que vieram de fora do planeta e que, apesar de sólidos como os meteoros, não vieram diretamente do interior do planeta. Através delas, dados como temperatura, condutividade elétrica e propagação de 35 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA ondas mecânicas são interpretadas e ajudam a completar o quadro do interior da Terra (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Cada uma das abordagens apresenta prós e contras. As diretas são fundamentais para testes em laboratório e investigações químicas, mas dependem do acesso ao material através de escavações ou de processos naturais como erupções vulcânicas. Já as indiretas muitas vezes também são feitas a partir de fenômenos naturais como os terremotos, mas podem ser obtidas por métodos mais rápidos envolvendo simulações de explosões na superfície ou logo abaixo dela (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 2.2.2.2 Sismologia A principal ferramenta para investigação do interior da Terra tem sido as ondas sísmicas, também conhecidas como sismos. Quando ocorrem de maneira natural, costumamos chamar de terremotos ou abalos sísmicos. Ondas sísmicas podem ser produzidas artificialmente e seu deslocamento, pelo interior da Terra, acompanhado por instrumentos (ASSUMPÇÃO; DIAS NETO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Saiba mais O Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo mantém um registro atualizado, em tempo real, dos eventos sismológicos significativos na América Latina. O acesso está disponível em: TERREMOTOS. Centro de Sismologia – USP, 2015. Disponível em: <http://moho.iag.usp.br/eq/>. Acesso em: 6 set. 2016. Um terremoto corresponde à grande quantidade de energia liberada pela movimentação (ruptura ou acomodação) de parte da estrutura interna da Terra. Pode acontecer porque uma rocha quebrou após sofrer esforços, ou porque houve desmoronamento de uma caverna, ou uma erupção vulcânica ou, ainda, por movimentação brusca das placas litosféricas. Em qualquer caso, a energia liberada gera ondas elásticas que se propagam (se deslocam) para todas as direções. Sendo assim, um terremoto pode ser virtualmente sentido em qualquer ponto do planeta. A propagação é acompanhada, medida e registrada por aparelhos chamados de sismógrafos (ASSUMPÇÃO; DIAS NETO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 26 – Representação simplificada da estrutura e registro realizado por um sismógrafo. P, S e L representam os tipos de ondas sísmicas registradas 36 Unidade I De acordo com a intensidade do movimento, a quantidade de energia liberada é maior ou menor, fazendo com que os terremotos tenham diferentes magnitudes (representadas pela escala de Richter) e intensidades (apresentadas pela escala de Mercalli). Intensidade e magnitude são as duas maneiras de se escrever um terremoto. Intensidade relaciona-se aos danos visíveis decorrentes do abalo, enquanto magnitude, com a quantidade de energia liberada. Geralmente os noticiários se referem à magnitude, quando na verdade deveriam se referir à intensidade (ASSUMPÇÃO; DIAS NETO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). De 3,5 a 5,4 É percebido, mas causa poucos danos De 5,5 a 6,0 Danifica edifícios De 6,1 a 6,9 Muito perigoso para áreas populosas De 7,0 a 7,9 Pode causar grande destruição Acima de 8,0 Tem potencial para dizimar cidades inteiras Intensidade do terremoto do japão 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 9,0 8,9 6,0 7,0 8,0 Figura 27 – Escala de Mercalli utilizada para representar a intensidade dos terremotos com base em seus efeitos sobre as construções humanas Observação A escala de Richter é logarítmica, portanto seus valores mudam de forma logarítmica e não linear. Em um exemplo prático um terremoto de magnitude 3 é dez vezes maior do que um de magnitude 2 e assim por diante. Todo terremoto emite o mesmo conjunto de ondas em todas as direções, como se fosse uma crescente esfera a se desenvolver a partir do ponto inicial. Três importantes exemplos de ondas longitudinais produzidas são Primária (ou P), Secundária (ou S) e Love (ou L). As duas primeiras são as mais importantes para o entendimento do interior do planeta (ASSUMPÇÃO; DIAS NETO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 37 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA Ondas transversais se propagam apenas nos meios sólidos Ondas longitudinais se se movem tanto no sólido quanto no líquido Centro do terremoto Figura 28 – Representação da propagação de ondas em um terremoto Essas ondas interagem com os materiais através dos quais se deslocam, alterando suas características conforme o material também mudar. Pensando no interior da Terra, formado por diferentes tipos de rochas, sedimentos, gases e líquidos, essa é uma característica extremamente útil. As ondas P são longitudinais e apresentam velocidade maior, além de conseguir atravessar materiais líquidos, sólidose gasosos. As ondas, S são transversais, têm velocidade menor e se propagam apenas nos materiais sólidos. Contudo, ambas apresentam variação de velocidade de acordo com a densidade do material atravessado, ou seja, materiais com densidade baixa diminuem a velocidade das ondas enquanto aqueles com densidade alta aumentam sua velocidade (ASSUMPÇÃO; DIAS NETO, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Conhecendo essas e outras características das ondas, foi possível aos cientistas interpretarem os comportamentos registrados pelos sismógrafos e compreender os aspectos dos locais por onde as ondas passaram. Hoje sabemos a distribuição, constituição e outras características dos materiais que formam o interior da Terra. 2.2.3 Estrutura interna Em linhas gerais, a organização interna do planeta pode ser descrita como apresentando três camadas concêntricas. De fora para dentro elas são: crosta terrestre (ou crusta), manto e núcleo (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 38 Unidade I Hidrosfera Atmosfera Crosta Manto Núcleo interno Núcleo externo Figura 29 – Representação das camadas internas do planeta A crosta terrestre é a camada mais externa, que fica em contato com a atmosfera, a biosfera e a hidrosfera. Montanhas, cavernas, reservas de petróleo, aquíferos e vulcões são alguns dos elementos naturais existentes nela. Podem ser identificados dois tipos de crosta: continental (corresponde aos continentes e também pode ser chamada de sial) e oceânica (relativa ao fundo dos oceanos e também denominada de sima) (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Camada basáltica Crosta oceânica Camada granítico-metamórfica Litosfera Astenosfera Crosta continental Figura 30 – Representação das crostas oceânica e continental Além da posição, é possível diferenciar os dois tipos de crosta pela composição. A continental é formada por uma grande variedade de rochas (sedimentares, metamórficas, ígneas) e sedimentos 39 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA (areias, lamas). Sua composição varia de acordo com o tipo de ambiente que se tem e as modificações que ocorreram em cada local ao longo da história do planeta. Sua espessura varia entre 10 e 80 km, sendo composta pelas rochas mais antigas do planeta, com idades da ordem de bilhões de anos (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). A oceânica, por sua vez, tem a composição um pouco mais simples. É formada por uma base espessa de rocha ígnea do tipo basalto (rica em ferro) recoberta por diferentes espessuras de sedimentos e rochas sedimentares. Sua espessura máxima fica entre 10 a 15 km. Ambas têm como elementos mais abundantes o alumínio (Al), oxigênio (O), ferro (Fe), magnésio (Mg) e silício (Si) (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Abaixo da crosta, está o manto, o contato entre os dois recebe o nome de descontinuidade de Mohorovicic (ou simplesmente Moho). Embora também seja formado por rochas, elas são diferentes daquelas encontradas na crosta, sendo ricas em óxidos e sulfetos. Corresponde a cerca de 85% do volume do planeta, chegando a profundidades próximas dos 2900 km. Alguns livros e estudos mais detalhados costumam dividir o manto em superior, intermediário e inferior, mas essa nomenclatura não será usada nesse estudo (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 31 – Representação detalhada do interior da Terra com destaque para a organização do manto terrestre. No detalhe (círculo à esquerda), note a Astenosfera exposta como uma camada entre a Litosfera e o Manto superior Devido às pressões e temperaturas que passam a reinar ao longo do manto, algumas partes dele começam a derreter, ou em uma linguagem mais geológica, a fundir total ou parcialmente. Um desses casos ocorre logo no início do manto, por volta dos 150-200 km de profundidade, e se chama astenosfera. Ela se apresenta como uma camada e é formada por rocha sólida, porém maleável devido 40 Unidade I ao derretimento de alguns de seus constituintes. Analogamente seria semelhante a um colchão, que é um material sólido, porém pode mudar de forma. Mas cuidado: ela é constituída por rocha sólida e não corresponde ao magma que sai pelos vulcões (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Observação Cuidado, a palavra astenosfera é muito semelhante à atmosfera, mas ambas não têm qualquer relação direta. Para a Geologia, todas as rochas representadas acima da astenosfera formam a litosfera, ou seja, é composta pela crosta e parte do manto que está acima da astenosfera. A interação entre astenosfera e litosfera é a principal responsável pela dinâmica da superfície terrestre e será detalhada quando for abordada a Teoria da Tectônica de Placas (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Abaixo do manto, está o núcleo. Ele forma a esfera central do planeta onde predominam materiais muito quentes compostos quase exclusivamente de níquel (Ni) e ferro (Fe), corroborando o que foi mencionado a respeito da concentração dos materiais mais pesados no centro do planeta ocorrido durante o processo de resfriamento. O contato entre o manto e o núcleo é chamado de descontinuidade de Gutenberg. Internamente é possível notar a diferenciação do manto em externo (entre 2.900 e 5.100 km) e interno (entre 5.100 e 6.375 km). Além da posição, ambos diferem quanto à temperatura (maior no núcleo interno) e à consistência do material constituinte, haja vista o núcleo externo ser líquido e o interno ser sólido. Mais uma vez, cuidado! O núcleo externo, apesar de líquido, não é a fonte do magma para os vulcões. Isso se nota facilmente pela composição, uma vez que ele é formado predominantemente por níquel e ferro, dois elementos químicos com concentrações baixas nos magmas que saem pelos vulcões (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Pesquisas revelaram que o núcleo apresenta seu próprio movimento de rotação. Além de ter velocidade diferente da rotação do planeta, consegue ser acelerado e freado de tempos em tempos. Independentemente da velocidade, o movimento do núcleo é o gerador do campo eletromagnético do planeta, conhecido como magnetosfera. É ele que define os polos magnéticos norte e sul, podendo ser detectado pelas bússolas (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Observação Existe uma pequena diferença na localização dos polos magnéticos e geográficos do planeta. A posição dos polos geográficos é definida pelo eixo terrestre que forma um ângulo de 90º com a Linha do Equador. Por outro lado, os magnéticos são determinados pelas linhas do campo magnético. O campo magnético terrestre tem um papel fundamental para a vida, uma vez que age como um escudo que desvia a radiação solar de alta energia, correspondente aos ventos solares. Sem serem 41 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA atingidos por essa radiação, os seres vivos mantém sua estrutura molecular estável e a vida se torna viável em nosso planeta (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 32 – Representação da magnetosfera Conforme se observa o interior do planeta, torna-se possível notar que a temperatura e a pressão aumentam em direção ao centro da Terra. A temperatura do centro é a mais alta do planeta, ficando ao redor dos 5 mil graus centígrados. Parte desse calor ainda é herança do início do planeta gerado pelo impacto dos asteroides. Outra parte tem sido gerada gradualmente, inclusive hoje em dia, pelos isótopos de elementos químicos que liberam energia no processo de decaimento. A temperatura do planeta em cada ponto de seu interior é chamada de grau geotérmico (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Assim, após se observar as estrutura e as características da Terra, pode-se compreender que a sugestão de troca do nome do nosso planeta não encontra sustentação científica, uma vez que a água forma uma camada com média de espessura de 3 km sobre a superfície do planeta. Abaixo dessa camada líquida, estão aproximadamente 6.375 km de rochas e outros materiais sólidos, ou seja, mais de 2.000 vezes a espessurade água (PACCA; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 3 COMPOSIÇÃO DO PLANETA Conforme comentado anteriormente, não se tem acesso direto ao material que compõe o manto e o núcleo da Terra. Sendo assim, o conhecimento que existe sobre a composição do planeta vem da exploração da crosta terrestre. Os materiais que revelam os detalhes do presente e passado correspondem a minerais, rochas e solos. 3.1 Mineralogia É o ramo da Geologia que trata da descrição e identificação dos minerais e de suas formas naturais mais elaboradas: os cristais. Adicionalmente, estuda suas propriedades físicas e químicas visando explicar sua origem, papel na natureza e aplicações para os seres humanos. Minerais fazem 42 Unidade I parte do nosso dia a dia e estão em praticamente tudo com o que temos contato, desde a hora que acordamos até a de dormir. Alguns exemplos disso são materiais como: tijolo, bloco, fiação elétrica, lâmpada, fundações de concreto, ferragens, vidro, louça sanitária, azulejo, piso cerâmica, isolante/lã de vidro, isolante-agregado, eletrodomésticos, sofá, impermeabilizante/betume, cama e cômoda, caixa de água, tinta, além dos sais minerais que ingerimos com a alimentação e tantos outros (SANTOS; BESERRA; TAVARES JR., 2016). Os minerais são as unidades básicas das rochas e dos solos. São definidos como materiais que apresentam as seguintes características (MADUREIRA FILHO; ATENCIO; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009): • naturais: de ocorrência natural no planeta, sem ter sido produzido pelo homem, como vidro, aço, tijolo, asfalto etc.; • inorgânicos: nenhum mineral pode ter sido manufaturado por um ser vivo ou em um processo biológico. Exemplos de materiais semelhantes a minerais, mas com origem orgânica, são: pérola, concha, âmbar, chifre, unha, coral, marfim, petróleo etc.; • cristalizados: significa ter estrutura atômica organizada tridimensionalmente. Geralmente corresponde a um material sólido, embora haja exceções; • elementos ou compostos químicos: quando formados por apenas um tipo de elemento químico, são chamados de elementos nativos. É o caso do diamante e grafita (constituídos por carbono), do ouro, enxofre, cobre, prata, platina. No entanto, a grande maioria corresponde mesmo a compostos químicos de composição definida, dentro de certos limites, como quartzo, topázio, ametista, hematita, magnesita etc. É importante destacar que se apenas uma dessas características não estiverem presentes no material examinado, ele já não será considerado um mineral. Nesses casos, diz-se que ele, ou a substância, é um mineraloide (MADUREIRA FILHO; ATENCIO; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Existem por volta de 3.800 tipos de minerais diferentes (chamados de espécies minerais), e todo ano cerca de 30 novos são identificados. Cada um deles pode ocorrer na natureza de maneira amorfa (a mais comum), ou como um cristal (a forma mais rara). Contudo é importante que se compreenda que “todo cristal é um mineral, mas nem todo mineral é um cristal”, justamente pela raridade com que estão presentes na natureza (MADUREIRA FILHO; ATENCIO; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 43 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA A) C) Carbono = C O diamante é puro carbono B) Figura 33 – Aparência dos minerais. A) amorfo. B) cristal. C) representação química do diamante, composto apenas de átomos de carbono Observação Chamamos de minérios aqueles minerais dos quais podem ser extraídos um ou mais elementos úteis com finalidades lucrativas (econômicas). Um cristal é um mineral que teve tempo suficiente, durante o processo de formação, para realizar o melhor arranjo possível de seus átomos, produzindo uma estrutura cristalina perfeita. Com isso, apresentam-se como formas geométricas tridimensionais. Isso exige muito mais tempo do que os cristais, normalmente os minerais têm para se constituir e, quando isso não acontecer ficarão sem uma forma definida. Cada grupo de cristal (por exemplo, cúbicos, hexagonais, ortogonais, ortorrômbicos etc.) é definido pelas relações entre suas arestas e seus ângulos, de modo a compor um importante critério de classificação (MADUREIRA FILHO; ATENCIO; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). 44 Unidade I A) C) B) D) Figura 34 – Diferentes tipos de cristais. A) quartzo; B) magnetita; C) pirita; D) enxofre Observação No estado de Chihuahua, no México, existem as minas de Naica com cavidades que abrigam cristais gigantes do mineral selenita. Minerais se formam o tempo todo na natureza, mas nem sempre pelo mesmo processo. Um deles é o resfriamento e endurecimento do magma que ocorre no interior ou na superfície da Terra. Trata-se do mesmo procedimento que origina rochas magmáticas, entretanto, dependendo da composição do magma e das condições de resfriamento, pode formar agrupamentos de um ou mais minerais. Alguns exemplos de minerais constituídos nessas condições são magnetita, ilmenita, cromita, pirrotita, calcopirita, pentlandita, entre muitos outros (MADUREIRA FILHO; ATENCIO; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Um caso bastante interessante diz respeito aos geodos, encontrados no interior de rochas magmáticas do tipo basalto. Tais estruturas variam muito em forma e tamanho, mas são, no geral, 45 GEOLOGIA E PALEONTOLOGIA ocas com as paredes revestidas por cristais de quartzo, ametista ou algum outro silicato. As ágatas são variações desses geodos que aparecem totalmente preenchidos por minerais de diferentes colorações que compõem camadas concêntricas ou não. Ambos os casos correspondem a antigas bolhas contendo gases de composição variada que ficaram aprisionadas no interior do magma durante o processo de resfriamento. Como o vapor não conseguiu escapar, acabou resfriando e gerando uma solução aquosa rica em minerais dissolvidos. Com o passar do tempo, esse líquido deu origem aos minerais no interior da cavidade (MADUREIRA FILHO; ATENCIO; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). A) B) Figura 35 – Geodos. A) revestimento de ametista. B) preenchimento de ágata Outro processo é conhecido como sublimação, em que gases se convertem diretamente em cristais sólidos. Esses gases podem estar na própria atmosfera ou serem emanados do interior da Terra vindos, por exemplo, do magma acumulado no subterrâneo. Devido à diferença de pressão e/ou temperatura, o vapor muda de estado físico e se torna sólido. Exemplos disso são a neve ou o gelo que se origina a partir do vapor de água da atmosfera, ou o enxofre, que se forma nas paredes de aberturas vulcânicas chamadas de fumarolas (MADUREIRA FILHO; ATENCIO; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Observação Quando o mineral for usado para a confecção de joias e bijuterias, receberá a classificação de gema ou pedra preciosa. Um terceiro tipo de processo ocorre a partir de soluções aquosas existentes na natureza, como acontece em lagos ou mares restritos. A água age como solvente e mantém o soluto em sua forma iônica até que alguma condição ambiental mude (por exemplo, pressão, temperatura) fazendo com que o soluto precipite e forme um sólido. Uma alteração bastante comum é a evaporação que faz com que o solvente deixe a solução, concentrando cada vez mais o soluto e causando a precipitação. Esse 46 Unidade I processo é particularmente usual nas margens do Mar Morto, localizado no Oriente Médio, onde as altas temperaturas e a pouca chuva fazem com que a solução fique saturada e cause a precipitação de sais nas partes mais rasas. Alguns dos minerais gerados sob tais condições são sulfatos (anidrita, gipsita etc.), carbonatos (calcita, aragonita etc.) e halogenetos (halita, silvita etc.) (MADUREIRA FILHO; ATENCIO; MCREATH, 2009; WICANDER; MONROE, 2009). Figura 36 – Margem do mar Morto deixando evidente os depósitos de minerais (sal) na superfície Um dos trabalhos básicos dentro da mineralogia é a identificação dos minerais. Essa não é uma tarefa fácil, uma vez que minerais diferentes podem ser muito semelhantes, compartilhando características
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