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Introdução à Saúde Coletiva • Conceituação de Saúde Coletiva • Conceituação de Odontologia em Saúde Coletiva • Evolução Histórica do Conceito de Saúde • Organização Mundial da Saúde • Visão Ampliada de Saúde · Compreender sobre a saúde coletiva, histórico, conceitos básicos, bem como sua inter-relação com a saúde bucal, levando em consideração os determinantes sociais, econômicos, políticos e culturais de saúde das populações. OBJETIVO DE APRENDIZADO Introdução à Saúde Coletiva UNIDADE Introdução à Saúde Coletiva Conceituação de Saúde Coletiva Entende-se saúde coletiva como um novo paradigma no âmbito da saúde pública e é definida como sendo um campo científico no qual se produzem saberes e conhecimentos sobre saúde e na área de práticas, efetivando ações em vários espaços que são identificados como setores de saúde. O desenvolvimento da área sofreu influência direta dos movimentos sociais, democratização e da reforma sanitária principalmente no nosso país. Nessa perspectiva, o marco conceitual da saúde coletiva se deu na década de 1970, quando ocorreram os principais projetos de reformas políticas e de saúde, relacionados aos movimentos sociais. A composição da saúde coletiva ainda está em construção, se concretizando ao longo das últimas décadas com um entendimento conjunto a outras áreas como a medicina social e a saúde pública. Relacionada à esfera do conhecimento, a saúde coletiva baseia-se no estudo de processos saúde/doença das populações, investigando a evolução e distribuição das enfermidades na sociedade. Analisa as ações em saúde na conjuntura das práticas sociais e procura compreender e identificar os reais problemas e necessidades em saúde da sociedade. Importante! O domínio da saúde coletiva apresenta um caráter interdisciplinar no campo da saúde, que preconiza uma integração de conhecimentos, reunindo vários profissionais com diferentes formações em saúde, favorecendo o desenvolvimento da área do saber. Contempla o desenvolvimento das práticas de investigação sobre a condição sanitária da população, estuda o universo das políticas de saúde, a associação entre os processos de trabalho e enfermidades, bem como as intervenções de grupos e classes sociais relacionados à saúde. Em Síntese Referente as práticas, engloba um conjunto de ações baseadas na ciência, ideo- logia, cultura, política e economia que podem ser desenvolvidas em diversos espa- ços com o intuito de desenvolver pesquisas ou projetos de reestruturação da saúde. Atualmente, o fenômeno saúde tem sido considerado também como expressão do modo de vida dos indivíduos, englobando estilo e condições de vida, associadas às condições de trabalho, perfil epidemiológico da população e meio ambiente. O conhecimento sobre as condições de saúde, analisando a condição de vida do indivíduo, favorece o estudo de quatro dimensões sociais: herança genética, interação dos indivíduos com o meio ambiente, cultura e comportamento e condições econômicas. Com base nos estudos das necessidades relacionadas às quatro dimensões, é possível traçar estratégias de intervenções sanitárias individuais ou coletivas, por grupo de risco ou grupos sociais. 8 9 Conceituação de Odontologia em Saúde Coletiva A odontologia em saúde coletiva pode ser conceituada como uma esfera de conhecimentos e ações que compõem um grupo mais amplo, denominado saúde coletiva, integrando também a área da odontologia. A saúde bucal coletiva defende que a saúde bucal do indivíduo ou coletividade não depende apenas de práticas odontológicas, mas também de concepções e práticas sociais. Importante! A saúde bucal coletiva tem como pretensão a substituição de atitudes tecnicistas muito presentes na área odontológica, elaborando a reestruturação teórica, de modo vinculado à concepção e práticas relacionadas à saúde coletiva, intensifi cando o comprometimento com a promoção da saúde e qualidade de vida da população. Importante! Para que seja possível essas transformações, o campo de odontologia em saúde coletiva necessita organizar programas que levem em consideração acontecimen- tos importantes nessa área específica. A construção do novo sistema de saúde no Brasil, o SUS, que é uma importante conquista social, possibilitou a realização de ações e práticas em saúde que propor- cionaram atender às necessidades de toda a população, respeitando o princípio de universalidade. Viabilizou o acesso a todos os procedimentos odontológicos consi- derando a integralidade e, organizou o atendimento aos indivíduos de acordo com as suas necessidades, evidenciando a equidade. O destaque na promoção da equidade de atenção à saúde, no contexto da edu- cação e construção da cidadania, reduziu as desigualdades e ampliou a oferta de ações e práticas de saúde, assegurando a universalidade do acesso aos mais sus- ceptíveis às desigualdades sociais. Nesse sentido, espera-se que o direito à saúde, incluindo a saúde bucal, deixe de ser apenas uma política e passe a compor a vida das pessoas, facilitando o acesso integral aos serviços odontológicos. Com o objetivo de exercer o maior controle social e gestão participativa, houve a necessidade de indicar a constituição de mecanismos que ampliassem a participa- ção dos gestores, usuários e profissionais da saúde, gerando cenários solidários e a possibilidade de formação de vínculos entre as instituições. 9 UNIDADE Introdução à Saúde Coletiva Importante! As práticas de saúde bucal coletiva, sejam elas de assistência odontológica, ou de educação em saúde, precisam ser direcionadas aos Programas de Saúde Bucal. Considera-se a saúde bucal como parte integrante da saúde geral dos indivíduos, sendo assim, os programas educativos, ou de atenção odontológica, precisam ser considerados componentes fundamentais para os programas de saúde geral. Importante! Evolução Histórica do Conceito de Saúde Desde o princípio das civilizações e história da humanidade, o conceito de saúde vem sendo desenvolvido, organizado e inspirado pelas características de cada período histórico. O indivíduo, a todo momento, questionou sobre o princípio da vida, as bases da sua existência e a importância de se ter saúde. Nos primórdios da sociedade, para esclarecer os eventos de sua vida, os povos acreditavam em magia e eventos sobrenaturais. Consideravam ter saúde como recompensa por boa conduta, enquanto a doença era consequente de fatores externos, devido a desconsideração das suas crenças. O desenvolvimento do conceito de saúde se fez importante com a cultura grega, pois eles aceitavam uma explicação racional para os fatos e consideravam a importância do ambiente, posição social e trabalho do indivíduo. Durante a Idade Média, houve um período de paralização e recessão devido à ação do cristianismo, que atribuía as doenças aos pecados. A partir da introdução da máquina a vapor nas fábricas durante a Idade Moderna, houve um aumento expressivo de mão de obra, e as grandes cidades avançaram nas periferias, atraindo a atenção dos dirigentes para as péssimas condições de moradia e trabalho, propiciando o surgimento das primeiras políticas e regulações em saúde. Por meio do progresso da medicina, devido à descoberta do microscópio e da ascensão da bacteriologia nos séculos XVII e XVIII, foi eleita como política de saúde a polícia sanitária. Nesse tipo de política, a autoridade policial obrigava os indivíduos sadios a terem uma atuação mais adequada com relação à saúde, enquanto os doentes deviam se separar dos indivíduos sãos. Esse período facilitou o desenvolvimento e estabelecimento da medicina científica, investigando-se a causa das doenças e buscando-se explicar os fenômenos naturais. No século XIX teve destaque a Revolução Industrial, e os progressos científicos prosseguiram, essencialmente nas áreas de fisiologia, microbiologia, patologia e medicina clínica. Com o aumento da mortalidade infantil e geral, surgiram os primeiros conceitos de saúde coletivae medicina social. No final desse século, os laboratórios revelaram a existência de microorganismos que produziam algumas doenças, o que viabilizou a incorporação de vacinas e soros, resultando em uma enorme evolução denominada Revolução Pasteuriana. 10 11 Historicamente, antes da Segunda Guerra Mundial e formação da Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização Mundial da Saúde (OMS), não havia uma concepção geral relacionada à saúde. Somente em abril de 1948, com a publicação da carta de princípios da OMS, esta foi estabelecida como sendo: o completo estado de bem-estar físico, mental e social, e não meramente ausência de doença ou enfermidade, o que implicou no reconhecimento do direito à saúde e a obrigação do estado na promoção e proteção da saúde. Com o processo de globalização e mudanças econômicas consequentes do capitalismo, passou-se a considerar a competição e o individualismo, o que também influenciou na concepção de saúde com acentuada crítica ao modelo biomédico. Foram destacados os conceitos propostos pela Promoção da Saúde, expondo uma visão holística e completamente relacionada aos direitos dos cidadãos, com a atuação popular na gestão em saúde, consolidando o poder dos usuários. As transformações que ocorreram no decorrer do tempo na sociedade influenciaram fundamentalmente o pensar e agir sobre vários assuntos, incluindo a saúde. Os serviços de saúde mostram-se cada vez mais atentos para a importância da subjetividade e empoderamento dos usuários. Admite-se a interferência do indivíduo no ambiente em que vive, e também a ação do ambiente sobre sua saúde geral. O que define o resultado dessa interação depende do que o indivíduo tem feito para si e para com o meio onde ele vive. Dispor de saúde não implica apenas em ausência de doenças, indo além até mesmo do conceito proposto pela Organização Mundial da Saúde. Faz-se necessário atribuir a concepção proposta pela promoção da saúde como estratégia de reorientação do modelo de saúde, introduzindo o indivíduo e coletividade conforme suas necessidades, determinantes e condicionantes em saúde e, seu modo de viver. A promoção da saúde conduz para novas propostas de políticas públicas de saúde, com o envolvimento estruturado entre governo e população, pressupondo que a participação social é decisiva no desenvolvimento de ações que possibilitem o atendimento das reais necessidades dos usuários e que atuem no meio ambiente, nas condições de saúde e na qualidade de vida das pessoas. Importante! Na atualidade, o conceito de saúde é extremamente abrangente e, representa as condições sociais, econômicas, políticas e culturais. Irá depender, portanto, da época, lugar, classe social, valores individuais e concepções científi cas, religiosas, fi losófi cas. Em Síntese 11 UNIDADE Introdução à Saúde Coletiva Organização Mundial da Saúde Histórico da Organização Mundial da Saúde A Organização Mundial da Saúde (OMS) é um órgão especializado das Nações Unidas que possui como objetivo tratar questões relacionadas à saúde mundial. No contexto da criação da ONU, havia intenção de criar uma organização mundial dedicada exclusivamente aos assuntos de saúde. A data de fundação consta de 7 de abril de 1948, quando 26 membros das Nações Unidas aprovaram os estatutos com o propósito básico de garantir o nível mais elevado de saúde para toda a população. A OMS apresenta um conceito sobre saúde como sendo um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não consiste apenas na ausência de doença ou de enfermidade. Importante! Como forma de determinar o acesso universal à saúde, a OMS promove várias atividades, por intermédio da cooperação técnica concomitantemente com seus membros, direcionadas para melhorias relacionadas às seguintes temáticas: - Saneamento básico; - Saúde familiar; - Capacitação de trabalhadores na área de saúde; - Fortalecimento dos serviços médicos; - Formulação de políticas sobre medicamentos e pesquisas biomédicas; - Luta contra as doenças. Você Sabia? A Organização Mundial da Saúde também é responsável por comandar ques- tões de saúde mundiais, definindo a agenda de pesquisas em saúde, estabelecendo normas e condutas, articulando opções políticas, fornecendo apoio técnico aos países e, monitorando e avaliando as tendências relacionadas à saúde. A OMS conta com cerca de 8.500 pessoas trabalhando em diversos setores, representando mais de 150 nacionalidades que trabalham em 147 países. Dispõe de seis escritórios regionais, onde são reunidos os Estados-Membros, e uma sede localizada em Genebra, Suíça. Cada região tem um escritório regional: Américas, África, Sudeste da Ásia, Europa, Mediterrâneo Oriental e o Pacífico Ocidental. O Secretariado é constituído por volta de 8000 especialistas em saúde e em outras áreas. A Organização é liderada pelo Diretor-Geral, que é indicado pela Assembleia Mundial da Saúde. Ex pl or 12 13 A Assembleia Mundial da Saúde é o órgão supremo de decisões da OMS. Em geral, as reuniões ocorrem no mês de maio, na sede em Genebra, com a participação de comissões dos 194 Estados-Membros. Sua função essencial é definir as políticas do órgão e supervisionar as políticas financeiras. Os Estados-Membros da Constituição da Organização Mundial da Saúde decla- ram, em concordância com a Carta das Nações Unidas, uma lista de fundamentos que são essenciais para o bem-estar de todos os povos, para as suas relações har- moniosas e segurança. Nesse contexto, a OMS, tem como principais atribuições: • Intervir como autoridade e conduzir trabalhos internacionais no âmbito da saúde; • Envolver-se em parcerias nas quais a ação conjunta será significativa; • Incentivar o desenvolvimento, tradução e divulgação de conhecimentos. E os objetivos são: • Determinar normas, promovendo e acompanhando a sua implementação; • Articular opções políticas éticas e científicas de base; • Fornecer apoio técnico, estimulando transformações e promovendo capacita- ção institucional sustentável; • Acompanhar a situação de saúde e avaliar as suas tendências. Importante! A OMS tem como metas promover, em conjunto com outros órgãos especializados, a mel- horia da alimentação, habitação, saneamento, condições econômicas e de trabalho dos povos, além de outros fatores como: o cuidado com o meio ambiente, a assistência para os grupos científi cos e profi ssionais que contribuem para a evolução da saúde e o desenvolvi- mento das normas de ensino e de formação prática dos profi ssionais da saúde. Importante! Visão Ampliada de Saúde Ao longo do tempo, inúmeras iniciativas têm sido realizadas na intenção de elaborar uma concepção mais dinâmica e integral sobre saúde, proporcionando a utilização das competências de cada pessoa ou população, levando em consideração a formação contínua do ser humano e sua habilidade de preservar a sua existência. Nessa perspectiva, a compreensão sobre saúde, tal como dos fatores deter- minantes e condicionantes sociais, apresenta um alto grau de subjetividade, visto que a saúde depende da circunstância, condição, cenário ou do referencial que é atribuído. Não se consegue entender ou alterar a condição de saúde do indivíduo ou população sem levar em conta, que esta é estabelecida nas associações entre o meio físico, psíquico, econômico, político, social, cultural e ambiental de uma sociedade. Dentre os vários fatores determinantes da situação de saúde, integram- -se também os condicionantes biológicos como características pessoais, condições geográficas e meio socioeconômico. 13 UNIDADE Introdução à Saúde Coletiva Tabela 1 Fatores Determinantes da Saúde Meio físico Meio psíquico Fatores sociais Política Economia Cultura Meio ambiente Dentre os diversos modelos propostos para a compreensão dos fatores deter- minantes em saúde, destaca-se o esquema de Dahlgren e Whitehead que permite visualizar as relações hierárquicas entres os diversos determinantes da saúde: Figura 1 Fonte: Whitehead& Dahlgren, 2006 Tabela 2 Fatores Condicionantes da Saúde Herança genética Características pessoais Idade Sexo Meio físico Condições geográficas Características da ocupação humana Fontes de água para consumo Disponibilidade e qualidade dos alimentos Condições de habitação Meio socioeconômico e cultural Níveis de ocupação e renda Acesso à educação formal Acesso ao lazer Liberdade Hábitos e formas de relacionamento interpessoal Possibilidade de acesso aos serviços voltados para a promoção e recuperação da saúde Qualidade da atenção nos serviços prestados 14 15 Compreende-se que, para promover saúde, é necessário que o indivíduo tenha acesso à educação, adote estilos de vida mais saudáveis, desenvolva habilidades individuais, produza um ambiente saudável e, essas medidas estão diretamente associadas às políticas públicas que objetivam possibilitar uma modificação positiva nos fatores determinantes e condicionantes de saúde, com enfoque na melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. A percepção abrangente dos fatores interferentes da saúde (determinantes e condicionantes) resulta de obrigações políticas e ações governamentais, sendo instrumentos necessários voltados às exigências e características de cada comunidade e são direitos estabelecidos pela constituição federal brasileira. Contudo, mesmo com esses direitos garantidos por lei, o Brasil ainda é um país que enfrenta grandes desigualdades socioeconômicas. Nesse contexto, os serviços de saúde, após a concepção do Sistema Único de Saúde brasileiro, exercem um papel importante no conceito de visão ampla de saúde, pois tentam trabalhar os seguintes princípios: de universalidade, garantindo acesso à saúde a todo e qualquer cidadão; equidade, atendendo às reais necessidades de cada indivíduo e integralidade, relacionada à condição integral de compreensão do indivíduo. Seguindo a filosofia da integralidade, no ano de 2006, o Ministério da Saúde lançou as bases da Política Nacional de Promoção da Saúde, objetivando promover o bem-estar e qualidade de vida, reduzindo os riscos e a vulnerabilidade associada à saúde, atuando nos aspectos relativos aos determinantes e condicionantes, condições sociais e de trabalho, habitação, meio ambiente, educação, cultura, lazer e acesso a bens e serviços fundamentais. Devido ao seu objetivo amplo, compreende-se que apesar dos avanços científicos e culturais da área, a atuação profissional ainda é carente de suporte estrutural e humano para o desenvolvimento das ações e práticas preconizadas pela política de promoção da saúde. Nesse sentido, se faz necessária a participação de outros setores da sociedade, estimulando a participação social, educação e saúde. A Política Nacional de Promoção da Saúde será abordada com maior profundi- dade no conteúdo da Unidade V. 15 UNIDADE Introdução à Saúde Coletiva Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Conceito de Saúde https://youtu.be/kgomz8tiw3g Leitura Conceitos de Saúde e Doença ao Longo da História Sob o Olhar Epidemiológico e Antropológico https://goo.gl/FKz2S3 Abordagens Contemporâneas do Conceito de Saúde https://goo.gl/sWQk81 Organização Mundial da Saúde https://goo.gl/gsG3iG 16 • Histórico da Assistência Odontológica no Brasil • Sistema Único de Saúde (SUS) e Saúde Bucal • Brasil Sorridente • Centro de Especialidades Odontológicas - CEO • Pactos do SUS • Saúde Bucal e Saúde da Família · Assimilar a implantação do Sistema Único de Saúde; · Compreender os principais aspectos que definem a cronologia, fundamentos e modelos de políticas de saúde bucal no país. OBJETIVO DE APRENDIZADO Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil UNIDADE Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil Histórico da Assistência Odontológica no Brasil O desenvolvimento histórico das políticas públicas de saúde e saúde bucal vincula-se de modo direto com o avanço político, social e econômico da sociedade brasileira. O conceito de saúde no Brasil, assim como no mundo, ainda está sendo estruturado. Observa-se que desde a época do descobrimento até a metade do século XX, o entendimento sobre saúde era direcionado para o modelo biomédico, no qual existiam os hospitais filantrópicos, sustentados pela Igreja Católica, para acolher a população carente, e a medicina liberal, em que médicos e cirurgiões dentistas atendiam em consultórios particulares. As discrepâncias sociais e econômicas historicamente vigentes entre as dife- rentes classes sociais se definem como determinantes principais das péssimas condições de saúde bucal da população brasileira. A regulamentação da odontologia no Brasil teve início no período colonial, quando foram estabelecidas as primeiras legislações direcionadas à profissão, pois os primeiros mestres e cirurgiões barbeiros portugueses, que em 1521, chegaram para exercer a profissão, necessitavam de uma permissão que era concedida pelo Cirurgião-Mor da Corte Portuguesa. No século XVII, surgiu a primeira legislação portuguesa referente à odontologia: a Carta Régia de Portugal, de 09 de novembro de 1629. Porém, somente em 1884, foram fundados os cursos de odontologia anexos às Faculdades de Medicina do Rio de Janeiro e da Bahia, dando início ao ensino da profissão. A partir de 1900, as campanhas de saúde pública seguiam modelos militares, totalmente opressores. Tanto que no ano de 1904, Dr. Oswaldo Cruz, Diretor Geral de Saúde Pública da época, determinou a vacinação em massa obrigatória contra varíola, provocando uma insatisfação geral na população, resultando na intitulada Revolta da Vacina. Seguindo esse mesmo modelo, há alguns escassos registros de atuações odontológicas em 1910, relativas aos serviços sanitários então existentes, ou a faculdades públicas com os cirurgiões dentistas ocupando cargos de inspetores dentários ou de higiene escolar. Nos anos seguintes, houve várias situações de greves operárias, porém, em 1923, foi idealizada a Lei Elói Chaves, que regulamentava as caixas de aposentadorias e pensões, financiadas pelas empresas, trabalhadores e união. Através dessa lei, os trabalhadores do mercado formal passaram a ter assistência médica e, após alguns anos de trabalho, poderiam se aposentar com dignidade. 8 9 No governo de Getúlio Vargas, em 1930, houve uma ampliação do sistema de proteção social com a criação do Instituto de Aposentadorias e Pensões (IAP), por categorias profissionais, para trabalhadores do mercado formal fracionados por grupo ocupacional, possibilitando assistência médica e aposentadoria. Entretanto, esse sistema era extremamente fragmentado e desproporcional. A assistência médica no Brasil era essencialmente curativista, com ênfase em médicos especialistas. Após o afastamento de Vargas em 1945, ocorreu um período de grande vulnerabilidade democrática, em um cenário político de governos liberais e populistas, que resultou, em 1953, na criação do Ministério da Saúde, com a finalidade de consolidar as ações da saúde pública e de medicina preventiva. Com o golpe militar em 1964, em um cenário político de reforma administrativa, crise política e abertura lenta e gradual, os Institutos de Aposentadorias e Pensões foram unificados no Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e, com a privatização da assistência médica, foi instituído o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), centralizando o sistema de saúde e beneficiando o setor privado. A partir de 1976, houve o consentimento para a criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, relacionados a movimentos sociais e, em 1979, a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, originou o movimento sanitário nas universidades públicas. Em relação à assistência pública odontológica, desde o seu surgimento, na década de 1950, até por volta de 1970, as práticas em saúde bucal eram esporádicas, e se equiparavam mais a campanhas do que a programas, caracterizadaspor ações de baixa complexidade. A população brasileira tinha um acesso restrito aos serviços odontológicos. Devido às crises econômicas, sociais e à inadequação do método de atenção clínica e preventiva, a odontologia se configurava como uma das áreas da saúde com extrema exclusão social. Com o desenvolvimento industrial no século XX, a inconstância política e o processo de redemocratização, a idealização de reforma sanitária no país se fez presente, motivada pela sociedade civil, com uma concepção política e ideológica que defendia a saúde como questão social e política a ser discutida nos espaços públicos e, em 1986, durante a VIII Conferência Nacional da Saúde, foi estruturado um novo conceito de saúde como sendo um direito do cidadão, lançando as bases para a criação de um Sistema Único de Saúde (SUS), homologado em 1988, com a promulgação da Constituição Federal Brasileira. 9 UNIDADE Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil Sistema Único de Saúde (SUS) e Saúde Bucal O SUS, em vigor em nosso país, é uma nova elaboração política e organizacional para a estruturação dos serviços e práticas em saúde, instituído pela Constituição Federal de 1988. Foi aprovado e regulamentado em 19 de setembro de 1990, com a Lei Orgânica da Saúde de número 8080, estabelecendo “saúde direito de todos e dever do Estado”. Tem por diretrizes: a universalidade, que assegura atenção à saúde por parte do sistema a todo e qualquer cidadão; a equidade, que garante ações e serviços de todos os níveis de acordo com a complexidade de cada caso; e a integralidade, que certifica assistência completa a cada indivíduo. Os princípios que regem a organização do SUS são a regionalização e hierarquiza- ção, com níveis de complexidade tecnológica sempre crescentes, constituindo o nível primário de atenção os postos de saúde. Resolutividade com um serviço capacitado a enfrentar e atender às necessidades de saúde da população. Descentralização, re- distribuindo a responsabilidade dos serviços de saúde e complementariedade do setor privado. E em destaque, o controle social com a participação popular. A oferta dos serviços de saúde no SUS possui três níveis: primário ou básico, secundário e terciário ou hospitalar. O nível primário ocorre nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), que têm como propósi- to disponibilizar ingresso a todo e qualquer cidadão, além de estruturar e aumentar a cobertura para os níveis mais complexos de atenção e desempenhar ações de promoção à saúde e prevenção de doenças. A atenção secundária, com a prestação de serviços especializados é mais difícil, pois a oferta nos municípios é limitada. E, o nível terciário ou hospitalar, abrange os procedimentos de alto custo, realizados em hospitais públicos. Ex pl or A introdução da saúde bucal no SUS ocorreu em 1989, com a elaboração da Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB), sugerindo diretrizes de universalidade e integralidade de atenção e com prioridades políticas indicadas por grupos populacionais, tipos de serviços, recursos humanos, financiamento do setor e modelos de organização. Porém, os governos posteriores, não adotaram a política. Com a finalidade de estender a atenção primária, em 1994, no final do governo de Itamar Franco, o Ministério da Saúde desenvolveu o Programa Saúde da Família (PSF), sob a influência da medicina familiar elaborada em Cuba. Apenas no ano 2000, 12 anos após a constituição do Sistema Único de Saúde (SUS), com a Portaria número 1.444 do Ministério da Saúde, foi determinada uma nova compreensão sobre a Política Nacional de Saúde Bucal, que tinha como pressuposto a atuação centrada na vigilância à saúde, garantia da integralidade das ações, utilização da epidemiologia e informações subsidiando o planejamento e acompanhamento do impacto das ações através dos indicadores e, com estímulo 10 11 financeiro, inserindo Equipes de Saúde Bucal (ESB) por meio do Programa Saúde da Família (PSF), permitindo uma postura mais satisfatória de atenção primária em saúde bucal. Essa portaria regulamentava duas modalidades de Equipe de Saúde Bucal no PSF: a modalidade I composta por 01 cirurgião dentista (CD) e 01 auxiliar de consultório dentário (ACD) e a modalidade II com 01 cirurgião dentista, 01 auxiliar de consultório dentário e 01 técnico em higiene dentária (THD). A partir de 2006, o programa passou a ser intitulado Estratégia Saúde da Família (ESF), no qual foram introduzidas equipes multiprofissionais em Unidades Básicas de Saúde, para trabalharem com práticas de promoção, prevenção, recuperação, reabilitação e na conservação da saúde da população. Em 2008, para aumentar ainda mais o acesso e contribuir com o progresso das redes de referência e contra-referência regional, foram desenvolvidos os Núcleos de Apoio a Saúde da Família (NASF). Importante! Brasil: um século de história 1900 - Sanitarismo Campanhista 1904 - Revolta da Vacina – Dr. Oswaldo Cruz 1923 - Criação das CAPs (Caixas de Aposentadorias e Pensões - organizadas por empresas, sendo mantidas e geridas pelos patrões e empregados). 1933 - Constituição dos IAPs (Institutos de Aposentadorias e Pensões) 1964 – Golpe militar - Ditadura 1966 - Unifi cação dos IAPs e formação do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) 1975 - Lei 6.229 que cria o Sistema Nacional de Saúde (O SINPAS = IAPAS parte fi nanceira da Previdência) + INAMPS (assistência médica) 1986 – VIII Conferência Nacional da Saúde 1988 – Constituição Federal: Sistema Único de Saúde (SUS) 1989 – Elaboração da Política Nacional de Saúde Bucal (PNSB) 1994 – Criação do Programa Saúde da Família (PSF) 2000 – Inclusão da Equipe de Saúde Bucal no PSF 2004 – Programa Brasil Sorridente Em Síntese Brasil Sorridente Conforme discutido anteriormente, por muito tempo, a odontologia esteve à margem das políticas públicas de saúde. O acesso dos brasileiros à Saúde Bucal era bastante limitado, com isso as pessoas só procuravam atendimento odontológico em casos de dor. A demora para o atendimento, associada aos poucos serviços odontológicos ofertados, fazia com que o principal tratamento oferecido pela rede pública fosse a exodontia, mantendo a visão da odontologia mutiladora e curativista. 11 UNIDADE Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil No ano de 2003, foi realizado no país um Levantamento Nacional de Saúde Bucal (SB 2003) e, segundo dados coletados, aproximadamente 13% dos adolescentes do país nunca haviam ido ao dentista, 20% da população já havia perdido todos os dentes e 45% dos brasileiros não possuíam acesso à escova dental. Para transformar esse panorama, em 17 de março de 2004, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional de Saúde Bucal – Programa Brasil Sorridente. Importante! O Programa procurou solucionar a desigualdade em saúde bucal através da reestru- turação da ação assistencial e da qualificação dos serviços concedidos, associou o conceito de Atenção Primária à Saúde, relacionado à Estratégia Saúde da Família e ampliou o acesso a atenção à saúde bucal em todo o território nacional, seguindo os princípios do SUS de universalidade, equidade e integralidade e, com o acréscimo de gestão participativa, ética, acesso à toda demanda, acolhimento, vínculo e responsa- bilidade profissional, oferta de atenção secundária e também a viabilização da adição de flúor nas estações de tratamento de águas de abastecimento público. Importante! O Brasil Sorridente fundamenta-se em várias medidas que objetivam assegurar ações de promoção e proteção da saúde que se destinam a reduzir os fatores de risco à saúde, com atividades de natureza educativo-preventivas individuais ou coletivas e, com a construção de políticas públicas saudáveis, estabelecendo um ambiente propício para que as pessoas possam viver vidas saudáveis, como por exemplo, o acesso à água fluoretada, a prevenção através de educação em saúde bucal para o indivíduo ou coletividade e a recuperação da saúde bucal envolvendo o diagnóstico e tratamentodas doenças bucais da população brasileira. Os incentivos financeiros oferecidos pelo governo federal para a inserção das Equipes de Saúde Bucal na Estratégia Saúde da Família são: Mod. I ou II: R$7.000,00 Parcela única Mod. I: 1 Consultório Mod. II: 2 Consultórios Doação Indireta Mod. I: R$2.230,00 Mod. II: R$2.980,00 Doação Indireta Recurso de Implantação Doação de Equipamentos Custeio Mensal Fonte: Passo a Passo das Ações da Política Nacional de Saúde Bucal – Ministério da Saúde Centro de Especialidades Odontológicas - CEO Devido à ampliação do conceito de atenção básica e aumento na oferta de tratamentos, foi necessário organizar a atenção secundária para atender a demanda de média e alta complexidade, respeitando o princípio de integralidade do SUS, isso se fez através de Centros de Especialidades Odontológicas (CEO), que foram constituídos por intermédio das Portarias no. 1.570/GM de 29/07/04 e 283/ GM de 22/02/05, que estenderam a proposta de atendimentos especializados 12 13 de endodontia, periodontia, a pacientes com necessidades especiais, cirurgia oral menor dos tecidos duros e moles e diagnóstico bucal com ênfase na detecção do câncer bucal. Existem três tipos de CEO: o CEO Tipo I com 03 cadeiras odontológicas, CEO Tipo II com 04 a 06 cadeiras e o CEO Tipo III com 07 ou mais cadeiras odontológicas e, cada um deles recebe um valor de incentivo para implantação e custeio, repassado pelo Ministério da Saúde. PASSO 1 PASSO 2 Contrução, ampliação, reforma, aquisição de instrumental e equipamentos odontológicos: (parcela única) R$ 60.000,00 por CEO Tipo I para implantação R$ 75.000,00 Tipo II para implantação R$ 120.000,00 por Tipo III para implantação Recurso Mensal de Custeio: R$ 8.250,00 por mês para CEO Tipo I R$ 11.000,00 por mês para CEO Tipo II R$ 19.250,00 por mês para CEO Tipo III Fonte: Passo a Passo das Ações da Política Nacional de Saúde Bucal – Ministério da Saúde Adesão do CEO à Rede de Cuidados à Pessoa com Defi ciência Em 2012, houve a adesão do CEO à Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, pela Portaria MS/GM nº 793, de 24 de abril. A Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD), na esfera da saúde bucal, recomenda garantir o atendimento odontológico especializado a todos os pacientes com deficiência. O atendimento desses pacientes deve ser iniciado na atenção básica, que referenciará para o nível secundário (CEO), ou terciário (atendimento hospitalar) os casos que apresentarem necessidades especiais para o atendimento. Os CEOs cadastrados, independentemente do tipo, terão que oferecer no mínimo 40 horas semanais para assistência à pessoa com deficiência. A Portaria Ministerial nº 1.341, de 29 de junho de 2012, instituiu incentivos extras para os CEOs que aderirem à Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência (RCPD). Os incentivos são: TIPO I TIPO II TIPO III R$ 1.650,00 por mês R$ 2.200,00 por mês R$ 3.850,00 por mês Fonte: Passo a Passo das Ações da Política Nacional de Saúde Bucal – Ministério da Saúde 13 UNIDADE Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil Ortodontia/Ortopedia e Implante Dentário no CEO A Portaria MS/SAS nº 718 de 20 de dezembro de 2010, estabeleceu novos tratamentos na tabela SUS: aparelhos ortodônticos/ortopédicos e implantes dentários osteointegrados (incluindo a prótese sobre o implante). Esses proce- dimentos poderão ser realizados nos Centros de Especialidades Odontológicas e os pagamentos são liberados conforme a produção. Laboratório Regional de Prótese Dentária (LRPD) Os laboratórios de prótese dentária são estabelecimentos que servem para confeccionar próteses totais, removíveis ou fixas unitárias. Os municípios podem cadastrar unidades próprias, ou terceirizadas, e receber incentivos financeiros para a produção de próteses dentárias que passam a receber em conformidade com a sua produção mensal. Entre 20 e 50 próteses por mês: R$ 7.500,00 Entre 51 e 80 próteses por mês: R$ 12.00,00 Entre 81 e 120 próteses por mês: R$ 18.000,00 Acima de 120 próteses por mês: R$ 22.000,00 Fonte: Passo a Passo das Ações da Política Nacional de Saúde Bucal – Ministério da Saúde Brasil Sorridente Indígena Em 2011, a Coordenação de Saúde Bucal do Ministério da Saúde lançou o programa Brasil Sorridente Indígena, que teve como propósito expandir o aten- dimento odontológico para as populações indígenas nas aldeias. Importante! Através do Brasil Sorridente, houve a expansão da assistência odontológica e a organização do modelo assistencial. Iniciou-se a introdução de uma rede assistencial de saúde bucal articulada aos três níveis de atenção e também com ações multidisciplinares e intersetoriais. As ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, individuais ou coletivas são desenvolvidas por meio de práticas democráticas e participativas, através do trabalho em equipe e destinadas a populações que se comprometem com o cuidado com a saúde bucal, assimilando que esta é de fundamental importância para a saúde geral e qualidade de vida. Em Síntese 14 15 Em síntese, atualmente, a Política Nacional de Saúde Bucal se organiza em seis componentes estruturantes conforme o quadro abaixo: Política Nacional de Saúde Bucal Reorganização da Atenção Básica em Saúde Bucal Equipe de saúde bucal - Estratégia saúde da família Unidade odontológica móvel Centros de especialidades odontológicas Laboratórios regionais de prótese dentária Fluoretação das águas de abastecimento público Kits de higiene bucal Doação de equipamentos odontológicos Incentivo à pesquisa em saúde bucal coletiva Centros colaboradores de vigilância em saúde bucal Emissão pelo cirurgião- -dentista da autorização de internação hospitalar Tratamento odontológico para pacientes com de�ciência Atenção odontológica no credenciamento de CACON e UNACON Ampliação e Quali�cação da Atenção Especializada Assistência da Atenção Terciária Promoção e Prevenção Restauração e Quali�cação Vigilância e Monitoramento Pactos do SUS A relevância das estratégias do Sistema Único de Saúde (SUS) vem progredindo no Brasil, sob a perspectiva referente à conquista de direitos individuais e coletivos e, do campo das práticas, ressaltando a valorização dos fatores que envolvem a ação popular nos processos determinantes em saúde. As tentativas de desenvolvimento de estratégias que levem ao aperfeiçoamento dos serviços públicos de saúde no acesso dos usuários aos três níveis de atenção são muitas, porém as desigualdades sociais, econômicas, culturais e geográficas são questões extremamente complexas a serem consideradas. Apesar do êxito de um fundamento jurídico consistente para o reconhecimento do SUS, através das leis orgânicas, foi necessária a regulamentação prática do sistema. Inicialmente ocorreram as normas reguladoras, intituladas Normas Operacionais Básicas (NOB), elaboradas para atuar nas alterações previstas na Constituição e na Lei Orgânica da Saúde. Após consideráveis iniciativas de mudança dos obstáculos operacionais no SUS, mediante a luta pela descentralização, regionalização e hierarquização das práticas e serviços, há um constante processo em busca da equidade social na saúde, com isso o Pacto pela Saúde surge em um momento histórico da saúde pública no Brasil. O Pacto pela Saúde, de 2006, pretende qualificar e implementar o processo de descentralização, organização e gestão do SUS, através do desenvolvimento e aperfeiçoamento do pacto entre os gestores. Objetiva destacar, aprimorar e estabelecer compromissos sanitários e de gestão através de três elementos importantes: o Pacto pela Vida, o Pacto em Defesa do SUS e o Pacto de Gestão. 15 UNIDADE Políticas Públicas de Saúde Bucal no Brasil Pacto pela Vida O Pacto pela Vida é composto por um conjunto de acordos sanitários, expressos em propósitos de métodos e resultados sobre a análise da situação de saúde no Brasil e das prioridades estabelecidas pelas esferas federais, estaduais e municipais. É expressosobre a ação prioritária relacionada à saúde que deverá ser realizada com base em resultados dos compromissos orçamentários e financeiros. Pacto em Defesa do SUS Envolve práticas concretas e estruturadas pelos governos federal, estaduais e municipais, na perspectiva de fortalecer o SUS, e preservar os princípios dessa política de saúde. A efetivação do Pacto pela Saúde é uma estratégia de mobilização social com envolvimento da comunidade brasileira e relacionada ao processo de organização da saúde como direito dos cidadãos, apresentando o financiamento público como ponto principal. Pacto de Gestão Estabelece as responsabilidades de cada governo, contribuindo para a consolida- ção da gestão compartilhada da política de saúde do país. Descentraliza e fortalece a territorialização da saúde como eixo para organização dos sistemas, constituindo colegiados de gestão regional. Reconhece a relevância da participação e do con- trole social e evidencia as diretrizes para o sistema de financiamento público tripar- tite. Por fim, determina diretrizes para a gestão do Sistema Único de Saúde, com destaque na descentralização, regionalização, financiamento, regulação, controle social e planejamento. Pactos do SUS e a Saúde Bucal Com relação à saúde bucal, a partir do Pacto pela Saúde, em 2006, as receitas destinadas às equipes de saúde bucal na estratégia Saúde da Família foram englo- badas no financiamento da atenção básica. Resumidamente, no que se refere ao financiamento, as inovações ocasionadas pelo Pacto de Gestão 2006 foram capazes de estabelecer maior independência ao gestor local com relação aos recursos financeiros. Porém, com relação à atenção à saúde bucal, essas modificações não alteraram as linhas existentes de financia- mento federal. 16 17 Saúde Bucal e Saúde da Família O modelo de atenção básica em saúde bucal no nosso país possui como estratégia de atuação a saúde da família, cujas diretrizes levam à reorientação do modelo assistencial da política de saúde em vigor. Com isso há a previsão de expansão e qualificação da atenção básica, viabilizando o acesso a todos os indivíduos e a oferta de serviços, o que possibilita atendimentos nos níveis secundário e terciário, de modo a alcançar a integralidade da atenção, além da equidade e universalização do acesso às práticas e serviços de saúde bucal. Conforme as diretrizes do SUS e a Política Nacional de Saúde Bucal, a linha de cuidado abrange o conceito de integralidade dos serviços, agrupando as ações de prevenção, práticas curativas e de reabilitação, proporcionando ao usuário todos os recursos necessários, desde visitas domiciliares, à procedimentos hospitalares de alta complexidade. Com isso, os profissionais da Equipe de Saúde Bucal possuem o compromisso de coordenar o cuidado e planejar ações para todas as faixas etárias: crianças, adolescentes, adultos e idosos. 17 • Epidemiologia em Saúde Bucal • Epidemiologia da Cárie Dentária • Epidemiologia da Doença Periodontal • Epidemiologia do Câncer Bucal • Epidemiologia do Traumatismo Dentário • Epidemiologia da Fluorose Dentária • Epidemiologia do Edentulismo • Epidemiologia da Má-Oclusão · Entender a importância da epidemiologia no conhecimento e enfrentamento dos principais problemas de saúde bucal da população. · Para maiores informações sobre esses assuntos e para aprofundar seus conhecimentos, a sugestão é a leitura do capítulo 3 do livro Saúde Coletiva: Políticas, Epidemiologia da Saúde Bucal e Redes de Atenção Odontológica, do autor Samuel Jorge Moysés, e do capítulo 5 do livro Saúde Bucal Coletiva, do autor Vitor Gomes Pinto. · Também, é muito importante que você leia e assista aos vídeos do material complementar sugeridos para esta unidade. · Durante a realização desta Unidade, não esqueça: · Fique atento à realização da Atividade de Sistematização, não deixe para resolvê-la na última hora, e, caso necessite de ajuda, entre em contato com seu professor tutor. · Realize a atividade de Reflexão, que é uma produção de texto. · Participe do Fórum de Discussão. Ele é uma ferramenta importante de interação entre você, seus colegas e seu professor tutor. OBJETIVO DE APRENDIZADO Epidemiologia em Saúde Bucal UNIDADE Epidemiologia em Saúde Bucal Epidemiologia em Saúde Bucal Epidemiologia, sua origem deriva do grego, onde epi=sobre, demos=povo e logos =estudo, portanto, a definição mais aceita é a proposta por Last (1988) como o estudo da frequência, da distribuição e dos determinantes de estados ou eventos relacionados à saúde em populações específicas, e a aplicação desses estudos no controle dos problemas de saúde. A epidemiologia no SUS (Sistema Único de Saúde) está prevista na Lei 8080 de 1990, em seu capítulo II, artigo 7, onde enfatiza: “a utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática” A Epidemiologia em saúde bucal, portanto, é o estudo das doenças bucais numa população, identificando mudanças na distribuição de doenças no tempo ou espaço, além de reconhecer os grupos populacionais com maior necessidade em saúde. Através desse estudo busca-se conhecer todos os aspectos dessas doenças e sua inter-relação com os determinantes biopsicossociais para que seja possível alcançar os princípios do SUS de universalidade, integralidade e equidade. Importante! A epidemiologia favorece a tomada de decisões para que sejam realizadas ações de saúde pautadas na realidade local, apontando os grupos que necessitam de priori- dade de atenção, possibilitando, assim, a avaliação dos impactos das ações que foram desenvolvidas. Em Síntese É importante definir alguns conceitos relacionados à epidemiologia: • Índices: são expressados em valores numéricos precisos. Os índices geralmente são empregados em estudos de prevalência e incidência. • Prevalência: é o número de casos da doença em um determinado local e em determinado período de tempo. É definida pela fórmula: Nº de casos existentes de uma doença ocorridos numa população em determinado período x 10n Total da população • Incidência: número de casos novos da doença que surgiram em determinado período de tempo em determinada população. É definida pela fórmula: Nº de casos novos de uma doença ocorridos numa população em determinado período x 10n Total da população 8 9 • Indicadores: possuem um sentido mais amplo e podem incluir tanto alguns índices, quanto informações qualitativas como condições de vida, acesso a serviços de saúde etc. São os dados já analisados. Uma mesma doença pode apresentar: • Baixa incidência e alta prevalência – como na hipertensão. • Alta incidência e baixa prevalência – como no surto recente de febre amarela. Ex pl or Algumas doenças bucais são identificadas como problemas de saúde pública, por isso, merecem destaque em sua epidemiologia. Dentre elas: a cárie, uma das doenças mais prevalentes em todo o mundo; a doença periodontal; alterações de oclusão dentária e outros agravos de saúde bucal que serão comentados a seguir. Epidemiologia da Cárie Dentária Cárie dentária é uma condição multifatorial dependente de biofilme-açúcar, na qual a lesão do esmalte é decorrente do acúmulo de bactérias sobre os dentes e da ingestão frequente de açúcar, provocada pelo desequilíbrio de fatores considerados fisiológicos, pertencentes à biodiversidade da cavidade bucal. A presença de biofilme sobre os dentes é um fator necessário para ocorrência da cárie, a ingestão de açúcares na dieta e a sua frequência são fatores determinantes positivos para o aparecimento da lesão. Pode-se, ainda, enfatizar os fatores moduladores, dentre eles os salivares e os comportamentais que podem alterar o processo de des-remineralização, levando ao início da desmineralização. O sucesso na prevenção da cárie está diretamente relacionado ao conhecimento do ambiente e à realidade da população estudada, o que explica e justifica a necessidade do conhecimento de suaepidemiologia. Os fatores que interferem na Epidemiologia da Cárie Dental são: Idade: há uma possível correlação positiva entre a doença e a idade; Sexo: maior prevalência no sexo feminino até os 18 anos, provavelmente porque nas mulheres a dentição erupciona mais cedo; Grupo étnico: a prevalência independe do grupo étnico. Indíces de cárie: • Knust: Divide-se os indivíduos em dois grupos: aqueles que já apresentaram ou apresentam lesões de cárie e os livres de cárie. O resultado é expresso em percentual. • CPO-D: Esse índice mede o ataque de cárie. Foi formulado por Klein e Palmer em 1937, e ainda é considerado o índice mais utilizado para o diagnóstico das condições dentais, e para criação e avaliação de programas de saúde bucal. Suas iniciais CPO significam (Cariado, Perdido, Obturado). 9 UNIDADE Epidemiologia em Saúde Bucal • ceo-d: Para a dentição decídua são utilizados as letras minúsculas c cariado, e extração indicada e o obturado. A extração indicada é utilizada devido às perdas dentárias que ocorrem naturalmente pela esfoliação. Para obtenção do CPO-D e ceo-d, faz-se necessário a realização de um levantamento epidemiológico no qual as condições apresentadas são anotadas em um formulário, disponibilizado pela OMS, na 4ª. edição do Manual de Instruções para Levantamento Epidemiológico Básico em Saúde Bucal (WHO, 1997). São utilizados letras (dentes decíduos) e números (dentes permanentes) para o registro da cárie dentária, recebendo cada dente apenas uma codificação. Quando há, simultaneamente, a presença de decíduos e permanentes, só a condição do permanente deve ser considerada. Tabela 1 Código Condição/EstadoDentes Decíduos Dentes Permanentes Coroa Coroa Raiz A 0 0 Hígido B 1 1 Cariado C 2 2 Restaurado mas com cárie D 3 3 Restaurado e sem cárie E 4 Não se aplica Perdido devido à cárie F 5 Não se aplica Perdido por outras razões G 6 Não se aplica Apresenta selante H 7 7 Apoio de ponte ou coroa K 8 8 Não erupcionado – Raiz não exposta T T Não se aplica Trauma (fratura) L 9 9 Dente excluído Os critérios de diagnóstico e sua codificação são os que seguem abaixo, extraídos na íntegra do Manual de equipe de campo do último levantamento epidemiológico realizado no Brasil, SB BRASIL 2010. 0(A) – Coroa Hígida. Não há evidência de cárie. Estágios iniciais da doença não são levados em consideração. Os seguintes sinais devem ser codificados como hígidos: • manchas esbranquiçadas; • manchas rugosas resistentes à pressão da sonda OMS; • sulcos e fissuras do esmalte manchados, mas que não apresentam sinais visuais de base amolecida, esmalte socavado, ou amolecimento das paredes, detectáveis com a sonda OMS; • áreas escuras, brilhantes, duras e fissuradas do esmalte de um dente com fluorose moderada ou severa; • lesões que, com base na sua distribuição ou história, ou exame táctil/visual, resultem de abrasão. Raiz Hígida. A raiz está exposta e não há evidência de cárie ou de restauração (raízes não expostas são codificadas como “8”). Nota: Todas as lesões questionáveis devem ser codificadas como dente hígido. 10 11 1(B) – Coroa Cariada Sulco, fissura ou superfície lisa apresenta cavidade evidente, ou tecido amolecido na base, ou descoloração do esmalte, ou de parede, ou há uma restauração temporária (exceto ionômero de vidro). A sonda OMS deve ser empregada para confirmar evidências visuais de cárie nas superfícies oclusal, vestibular e lingual. Na dúvida, considerar o dente hígido. Na presença de cavidade originada por cárie, mesmo sem doença no momento do exame, deve-se, como regra de decisão, considerar o dente atacado por cárie, registrando-se cariado. Entretanto, este enfoque epidemiológico não implica admitir que há necessidade de uma restauração. Raiz Cariada. A lesão pode ser detectada com a sonda OMS. 2(C) – Coroa Restaurada, mas cariada. Há uma ou mais restaurações e, ao mesmo tempo, uma ou mais áreas estão cariadas. Não há distinção entre cáries primárias e secundárias, ou seja, se as lesões estão, ou não, em associação física com a(s) restauração(-ões). Raiz Restaurada, mas cariada. Idem coroa restaurada, mas cariada. 3(D) – Coroa Restaurada e Sem Cárie. Há uma ou mais restaurações definitivas e inexiste cárie primária ou recorrente. Um dente com coroa colocada devido à cárie inclui-se nesta categoria. Se a coroa resulta de outras causas, como suporte de prótese, é codificada como 7 (H). Raiz Restaurada e Sem Cárie. Idem coroa restaurada e sem cárie. Em situações onde coroa e raiz estão envolvidas, a localização mais provável da lesão primária é registrada como restaurada. Quando não é possível avaliar essa probabilidade, tanto a coroa quanto a raiz são registradas como restauradas. Nota: Com relação aos códigos 2(C) e 3(D), apesar de ainda não ser uma prática consensual, a presença de ionômero de vidro em qualquer elemento dentário será considerada, neste estudo, como condição para elemento restaurado. 4(E) – Dente Perdido Devido à Cárie. Um dente permanente ou decíduo foi extraído por causa de cárie e não por outras razões. Essa condição é registrada na casela correspondente à coroa. No caso de dentes decíduos, deve-se aplicar apenas quando o indivíduo está numa faixa etária na qual a esfoliação normal não constitui justificativa suficiente para a ausência. Nesses casos, o código registrado na casela correspondente à raiz é 9 ou 7 (quando tiver um implante no lugar). Em algumas idades pode ser difícil distinguir entre dente não irrompido (código 8) e dente perdido (códigos 4 ou 5). Fazer relações (cronologia da erupção, experiência de cárie etc.) pode ajudar na tomada de decisão. 5(F) – Dente Perdido por Outra Razão. A ausência se deve a razões ortodônticas, periodontais, traumáticas ou congênitas. Nesses casos, o código registrado na casela correspondente à raiz é “7” ou “9”. O código para decíduos (F) nestes casos, deverá ser utilizado com certa cautela, uma vez que, a partir dos 5 anos, geralmente o espaço vazio se deve à exfoliação natural, devendo ser codificado como coroa não erupcionada (código “8”). 11 UNIDADE Epidemiologia em Saúde Bucal 6(G) – Selante. Há um selante de fissura ou a fissura oclusal foi alargada para receber um compósito. Se o dente possui selante e está cariado, prevalece o código 1 ou B (cárie). 7(H) – Apoio de Ponte ou Coroa. Indica um dente que é parte de uma prótese fixa. Este código é também utilizado para coroas instaladas por outras razões que não a cárie, ou para dentes com facetas estéticas. Dentes extraídos e substituídos por um elemento de ponte fixa são codificados, na casela da condição da coroa, como 4 ou 5, enquanto o código 9 deve ser lançado na casela da raiz. Implante: Registrar este código (7) na casela da raiz. 8(K) – Coroa Não Erupcionada. Quando o dente permanente ou decíduo ainda não foi erupcionado, atendendo à cronologia da erupção. Não inclui dentes perdidos por problemas congênitos, trauma etc. Raiz Não Exposta. Não há exposição da superfície radicular, isto é, não há retração gengival para além da junção cemento-esmalte. T(T) – Trauma (Fratura). Parte da superfície coronária foi perdida em consequência de trauma e não há evidência de cárie. Restaurações decorrentes de fratura coronária devem ser registrados como Trauma (T). 9(L) – Dente Excluído. Aplicado a qualquer dente permanente que não possa ser examinado (bandas ortodônticas, hipoplasias severas etc.). Quando há 5 ou mais dentes com bandas o portador será excluído da amostra. Braquetes, em qualquer número, não inviabilizam os exames e, assim, não constituem obstáculo para aproveitamento do elemento amostral. Indica-se ainda que, junto com a análise das condições dentárias, sejam realizadas as necessidades de tratamento, conforme a tabela abaixo: Tabela 2 Código Tratamento 0 Nenhum 1 Restauração de 1 superfície 2 Restauração de 2 ou mais superfícies 3 Coroa por qualquer razão 4 Faceta estética 5 Tratamento pulpar e restauração 6 Extração7 Remineralização de mancha branca 8 Selante 9 Sem informação 12 13 Importante! O CPO-d será a somatória da quantidade de dentes com os números: 1+2+3+4. O ceo-d será a somatória da quantidade de dentes com as letras: B+C+D+E. Trocando ideias... Nos gráficos abaixo é possível avaliar a situação epidemiológica frente à doença cárie. Os dados foram obtidos durante o último levantamento epidemiológico realizado no Brasil, SB-2010. 3,5 3,16 2,63 1,72 2,06 2,63 2,07 Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste Brasil 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 Cariado Obt/Cariado Obturado Perdido CPO-D e componentes aos 12 anos, segundo a região Figura 1 2,43 2,07 4,25 16,75 27,53 5 anos 12 anos 15 a 19 anos 35 a 44 anos 65 a 74 anos 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 0,0 Cariado Obt/Cariado Obturado Perdido Média do CEO/CPO e respectivos componentes, segunto o grupe etário Figura 2 13 UNIDADE Epidemiologia em Saúde Bucal Importante! No final de 1993, durante o “4° Congresso Mundial de Odontologia Preventiva”, realizado em Umea (Suécia), a OMS propôs novas metas para o ano 2010 em relação à saúde bucal: • 90% de pessoas sem cárie na idade de 5 a 6 anos; • CPOD menor que 1 aos 12 anos de idade; • Não haver perda dental aos 18 anos de idade; • Entre as idades de 35 a 44 anos não haver mais que 2% de desdentados. Você Sabia? Epidemiologia da Doença Periodontal A doença periodontal é caracterizada por ser uma condição inflamatória, de caráter crônico e de origem bacteriana. Sua extensão pode ser limitada ao tecido de suporte (gengiva), ou avançar e atingir os tecidos de sustentação (cemento, ligamento periodontal e osso) dos dentes envolvidos. O índice mais utilizado para avaliar a condição periodontal é o CPI (Índice Periodontal Comunitário), proposto pela OMS, que é complementado pelo exame da Perda de Inserção Periodontal (PIP) para a população adulta e idosa. • Índice Periodontal Comunitário: permite avaliar a condição perio- dontal quanto à higidez, sangra- mento e presença de cálculo ou bolsa. Para realização dos exames utiliza-se a sonda da OMS. • Dentes-Índices – Até 19 anos: 16, 11, 26, 36, 31 e 46. - 20 anos ou mais: 17, 16, 11, 26, 27, 37, 36, 31, 46 e 47. 3,5 mm 5,5 mm 8,5 mm 11,5 mm 3,5 mm 5,5 mm 8,5 mm 11,5 mm Figura 3 Fonte: saude.gov.br O registro das condições deve ser feito de forma separada para sangramento, cálculo e bolsa, do seguinte modo: Tabela 3 0 1 2 X 9 Sangramento Normal Presença ---- Sextante excluído Não examinado Cálculo Dentário Normal Presença ---- Sextante excluído Não examinado Bolsa Periodontal Normal Presença de Bolsa Rasa (entre 4 e 5 mm) Presença de Bolsa Profunda (maior que 6 mm) Sextante excluído Não examinado • Índice de Perda de Inserção Periodontal: permite avaliar a condição da inserção periodontal, tomando como base a visibilidade da junção cemento- esmalte (JCE). 14 15 Tabela 4 oirétirC oãçidnoC ogidóC 0 Perda de inserção entre 0 e 3 mm JCE não visível e CPI entre 0 e 3. 1 Perda de inserção entre 4 mm e 5 mm JCE visível na área preta da sonda CPI. 2 Perda de inserção entre 6 mm e 8 mm JCE visível entre limite superior da área preta da sonda CPI e a marca de 8,5 mm. 3 Perda de inserção entre 9 mm e 11 mm JCE visível entre as marcas de 8,5 mm e 11,5 mm. 4 Perda de inserção de 12 mm ou mais JCE visível além da marca de 11,5 mm X setneserp oãtse sianoicnuf setned siod ed sonem odnauQ odíulcxE etnatxeS 9 oãtseuq me edadi à acilpa es oãn odnauQ odanimaxe oãN Exemplos 00 1 2 3 4 W H O 9 62 20 Fonte: saude.gov.br No SB Brasil 2010, notou-se que a presença de cálculo foi a condição mais expressiva, presente em 28,6% dos adultos examinados. E que 19,4% tinham bolsas periodontais, sendo 15,2% rasas e 4,2% profundas. Outra condição que merece destaque é a presença de sangramento gengival, que foi apresentada por um quarto dos adolescentes de 12 anos de idade, um terço dos adolescentes de 15 a 19 anos, aproximadamente a metade dos adultos entre 35 a 44 anos de idade e menos de um quinto dos idosos. Doença Periodontal: https://youtu.be/zryZWS_PDrk Ex pl or Epidemiologia do Câncer Bucal O câncer bucal é aquele que afeta lábios e o interior da cavidade oral. Dentre os fatores de risco destaca-se o tabagismo, sendo relatado pelo INCA que 90% dos portadores desse tipo de tumor são fumantes. Outros fatores que devem ser levados em consideração são: hábito de ingerir bebidas alcoólicas, radiação solar e o vírus HPV (papilomavírus humano). 15 UNIDADE Epidemiologia em Saúde Bucal O câncer bucal representa o 6º câncer mais comum no mundo, constituindo-se em um grande problema de saúde pública. A estimativa do INCA (Instituto Nacional de Câncer) para 2016 é de 15.490 casos novos da doença, sendo 11.140 homens e 4.350 mulheres. No ano de 2013 foram registradas 5.401 mortes. Figura 5 Fonte: Acervo do conteudista Epidemiologia do Traumatismo Dentário O trauma dentário pode ser de natureza térmica, química ou mecânica. Um dente traumatizado não possui reparo biológico, o que o diferencia de qualquer outro órgão do organismo. No último levantamento epidemiológico, o SB-2010, foi inédita a avaliação da presença de traumatismo na idade de 12 anos, sendo utilizados critérios para identificar sinais de fratura coronária e avulsão dentária em incisivos superiores e inferiores permanentes. Os códigos utilizados encontram-se na tabela abaixo: Tabela 5 oãçircseD oirétirC ogidóC 0 Nenhum traumatismo Nenhum sinal de fratura ou ausência dentária devido a traumatismo 1 Fratura de esmalte Perda de pequena porção da coroa envolvendo apenas esmalte, ou fratura envolvendo esmalte. 2 Fratura de esmalte e dentina Perda de porção maior da coroa envolvendo esmalte e dentina (nota-se a diferença de coloração, sendo mais amarelada para a estrutura dentinária) ou fratura envolvendo esmalte e dentina 3 Fratura de esmalte e dentina com exposição pulpar Perda de porção maior da coroa envolvendo esmalte, dentina (nota-se a diferença de coloração, sendo mais amarelada para a estrutura dentinária) e exposição da polpa, sangramento ou ponto escuro na porção central da estrutura de dentina exposta ou fratura envolvendo esmalte, dentina e polpa 4 Ausência do dente devido a traumatismo Ausência do dente devido à avulsão ou dente perdido devido a traumatismo 9 Exame não realizado O dente não pode ser examinado devido a uso de aparelho ortodôntico ou outro motivo. Fonte: saude.gov.br 16 17 Para o Brasil, a prevalência de traumatismo dentário foi 20,5%. O tipo de lesão mais frequente foi a fratura de esmalte. A fratura de esmalte e dentina foi identificada em 4,0% das amostras, e somente 0,2% dos examinados apresentaram fratura de esmalte e dentina com exposição pulpar. A perda dentária causada por um traumatismo foi de 0,1%. Confira na tabela abaixo: Tabela 6 Região n Nenhum traumatismo Fratura de esmalte Fratura de esmalte / dentina Fratura c/ exposição pulpar Ausência devida a trauma % IC (95%) % IC (95%) % IC (95%) % IC (95%) % IC (95%) L.I. L.S. L.I. L.S. L.I. L.S. L.I. L.S. L.I. L.S. Norte 1.695 74,7 69,8 79,0 21,8 18,3 25,8 2,9 1,8 4,9 0,5 0,1 1,7 0,1 0,0 0,2 Nordeste 2.014 77,6 73,6 81,1 17,7 14,8 21,0 4,2 3,1 5,8 0,2 0,1 0,7 0,3 0,1 1,2 Sudeste 1.331 81,2 78,7 83,5 14,7 12,5 17,2 4,0 2,4 6,6 0,0 0,0 0,0 0,1 0,0 0,3 Sul 998 79,0 72,9 84,0 17,6 13,4 22,8 2,8 1,1 6,9 0,6 0,1 2,5 0,0 0,0 0,2 Centro-Oeste 1.170 75,5 71,6 79,0 21,1 17,7 25,0 3,0 1,9 4,6 0,4 0,1 1,5 0,1 0,0 0,4 Brasil 7.208 79,5 77,7 81,3 16,5 14,9 18,3 3,7 2,6 5,2 0,2 0,1 0,3 0,1 0,0 0,2 Fonte: saude.gov.br Epidemiologia da Fluorose Dentária A fluorose dentária é caracterizada pela presença de manchas brancas, ou de defeitos de maior grau de severidade, que acontecem na mineralização do esmalte, causada pela exposição crônica à altas concentrações de flúor durante o processo de formação do germe dentário. As pesquisas epidemiológicas sobre fluorosedentária são importantes para avaliarem as medidas de saúde pública de prevenção à cárie, dentre elas, a fluoretação das águas e o uso de creme dental fluoretado. A Fluorose Dentária, no SB BRASIL 2010, foi avaliada em crianças de 12 anos. A análise foi feita através da classificação conhecida como Índice de Dean onde, seguindo as recomendações da OMS, anota-se o escore dos dois dentes mais afetados. Os critérios e códigos para registro estão descritos no quadro a seguir: Tabela 7 Classificação Valor Critério de diagnóstico Normal 0 O esmalte apresenta translucidez usual com estrutura semi-vitriforme. A superfície é lisa, polida, cor creme clara. Questionável 1 O esmalte revela pequena diferença em relação à translucidez normal, com ocasionais manchas esbranquiçadas. Usar este código quando a classificação “normal” não se justifica. Muito Leve 2 Áreas esbranquiçadas, opacas, pequenas manchas espalhadas irregularmente pelo dente, mas envolvendo não mais que 25% da superfície. Inclui opacidades claras com 1mm a 2 mm na ponta das cúspides de molares (picos nevados). Leve 3 A opacidade é mais extensa, mas não envolve mais que 50% da superfície. Moderada 4 Todo o esmalte dentário está afetado e as superfícies sujeitas à atrição mostram-se desgastadas. Pode haver manchas castanhas ou amareladas freqüentemente desfigurantes. Grave 5 A hipoplasia está generalizada e a própria forma do dente pode ser afetada. O sinal mais evidente é a presença de depressões no esmalte, que parece corroído. Manchas castanhas generalizadas. Sem Informação 9 Quando, por alguma razão (próteses, p. ex.), um indivíduo não puder ser avaliado quanto à fluorose dentária. Utilizar este código também nas situações em que o exame não estiver indicado (65 a 74 anos, p.ex.). Fonte: saude.gov.br 17 UNIDADE Epidemiologia em Saúde Bucal Figura 6 Fonte: fluoridesandhealth.ie Epidemiologia do Edentulismo O edentulismo, em sua definição, é a ausência parcial ou total de dentes, sendo considerado como problema de saúde pública de suma importância, devido à sua alta prevalência e por acarretar danos estéticos, funcionais, psicológicos e sociais. A importância de avaliar o edentulismo, em levantamentos epidemiológicos, é tanto para analisar a gravidade do problema como para realizar o planejamento a partir da análise das necessidades. O edentulismo, no SB Brasil 2010, foi avaliado nos grupos etários de 15 a 19, 35 a 44 e 65 a 74 anos. Foram avaliadas as próteses presentes e as necessidades de prótese, seja por ausência, ou por troca de uma antiga que não estivesse mais adequada para o uso. Os resultados em relação à necessidade de prótese estão apresentados na tabela abaixo: Tabela 8 Região n Não Necessita Necessidade de Prótese Parcial 1 maxilar Parcial 2 maxilar Total 1 maxilar Parcial + Total Total 2 maxilar % IC (95%) % IC (95%) % IC (95%) % IC (95%) % IC (95%) % IC (95%) L.I. L.S. L.I. L.S. L.I. L.S. L.I. L.S. L.I. L.S. L.I. L.S. 15 a 1 9 an os Norte 1.342 71,0 63,9 77,1 21,7 16,2 28,5 7,3 4,8 11,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Nordeste 1.409 83,0 79,2 86,3 12,5 9,9 15,8 4,4 2,9 6,6 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Sudeste 900 88,1 83,1 91,7 8,9 6,1 12,8 3,1 1,7 5,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Sul 808 90,8 86,3 93,9 6,8 4,3 10,3 2,5 1,2 5,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Centro-Oeste 878 88,5 84,2 91,7 10,3 7,1 14,9 1,2 0,7 2,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 Brasil 5.337 86,3 83,3 88,9 10,3 8,3 12,6 3,4 2,4 4,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 35 a 4 4 an os Norte 2.275 16,7 13,5 20,5 47,5 40,9 54,2 34,0 26,6 42,3 0,4 0,2 1,0 1,1 0,5 2,4 0,3 0,1 1,4 Nordeste 2.204 21,1 18,4 24,1 45,6 42,5 48,7 31,2 28,4 34,1 0,7 0,4 1,4 1,1 0,6 2,2 0,3 0,1 0,6 Sudeste 1.471 33,2 28,2 38,6 39,5 35,1 44,1 26,1 22,6 29,8 0,7 0,3 1,6 0,2 0,1 0,9 0,3 0,1 0,7 Sul 1.489 37,1 30,3 44,6 41,8 35,7 48,2 19,9 16,8 23,5 0,4 0,1 1,2 0,4 0,1 1,2 0,3 0,1 1,4 Centro-Oeste 1.297 26,6 22,4 31,4 44,0 40,1 48,0 27,9 24,5 31,6 0,5 0,2 1,2 0,8 0,4 1,9 0,1 0,0 0,7 Brasil 8.736 31,2 27,9 34,8 41,3 38,3 44,3 26,1 23,8 28,6 0,6 0,3 1,1 0,4 0,3 0,7 0,3 0,2 0,5 65 a 7 4 an os Norte 985 2,8 1,3 5,6 36,3 28,8 44,5 15,4 11,2 20,9 23,4 17,2 30,9 4,6 3,1 6,7 17,6 13,4 22,8 Nordeste 1.303 3,9 2,6 5,8 29,0 25,3 33,1 26,0 22,0 30,5 18,3 14,5 22,8 6,7 4,9 9,0 16,1 12,6 20,4 Sudeste 613 7,3 4,4 11,7 33,0 25,4 41,6 20,8 15,0 27,9 17,9 14,2 22,4 4,2 1,8 9,2 16,9 11,5 24,2 Sul 523 12,7 8,6 18,4 45,7 39,3 52,1 14,3 10,3 19,5 14,3 9,4 21,1 6,1 3,0 12,1 6,9 3,8 12,1 Centro-Oeste 501 5,2 3,2 8,5 26,9 21,5 33,2 21,3 15,4 28,8 20,3 15,3 26,5 8,2 5,2 12,6 18,0 12,2 25,9 Brasil 3.925 7,3 5,3 9,9 34,2 29,3 39,5 20,1 16,4 24,4 17,9 15,4 20,8 5,0 3,3 7,7 15,4 11,9 19,8 Fonte: saude.gov.br 18 19 As desigualdades regionais relativas às perdas dentárias são marcantes, principalmente entre jovens e adultos. De maneira geral, residentes nas regiões Norte e Nordeste apresentam maiores perdas e, portanto, maiores necessidades de prótese dentária. Esses dados refletem a diferença das ações de prevenção e o acesso ao tratamento dentário entre as diferentes regiões do país. O IBGE realizou, em 2013, uma Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), em convênio com o Ministério da Saúde e visitou cerca de 80 mil domicílios, em 1.600 municípios de todo o país. O resultado foi que o Brasil tem 11% da sua população sem nenhum dente, o que corresponde a um montante de 16 milhões de pessoas. Das pessoas com 60 anos ou mais, 41,5% já perderam todos os dentes. E 22,8% dos brasileiros sem nenhuma instrução, ou sem ensino fundamental concluído, estão completamente desdentados. Além disso, 23% dos brasileiros perderam 13 dentes ou mais, e 33% usam algum tipo de prótese dentária. https://goo.gl/6TrQxe Ex pl or Epidemiologia da Má-Oclusão A má-oclusão é a desarmonia das estruturas dentofaciais, bem como qualquer inconveniente estético ou funcional que possa interferir no relacionamento do indivíduo, ou na função mastigatória. No levantamento SB-2010, a oclusão dentária foi avaliada nas idades de 12 anos e na faixa etária entre 15 a 19 anos, através da DAI (sigla derivada da expressão inglesa ‘Dental Aesthetic Index’) que em seu conjunto, expressa o estado oclusal do indivíduo e sua respectiva necessidade de tratamento ortodôntico. Isso é devido à composição do índice, que considera o comprometimento estético, além da oclusão. Ao todo, são obtidas 11 medidas, considerando- se três grandes dimensões que devem ser avaliadas: a dentição, o espaço e a oclusão propriamente dita. A oclusão na dentição decídua foi avaliada através da Chave de caninos. Os resultados relevantes foram: • 77,1% das crianças de 5 anos apresentaram oclusão normal para chave de caninos (classe I); • 60% das crianças, aos 12 anos de idade, apresenta a oclusão considerada normal; • 7,1% de prevalência de oclusopatia severa aos 12 anos de idade; • 6,6% de prevalência de oclusopatia severa dos 15 aos 19 anos de idade; • 10,3% de prevalência de oclusopatia muito severa dos 15 aos 19 anos de idade. 19 • Introdução • Importância da Educação em Saúde Bucal na Odontologia • Educação em Saúde Bucal Individual e Coletiva • Público Alvo e Educação em Saúde Bucal ao Longo das Diferentes Fases do Ciclo de Vida • Instrumentos Educativos, Objetivos Educacionais e Métodos e Técnicas Utilizados · Perceber a importância da educação em saúde bucal no controle saúde-doença e contribuir para o empoderamento individual ou coletivo com vistas à melhoria da qualidade de vida dos indivíduos. OBJETIVO DE APRENDIZADO Educação em Saúde Bucal UNIDADE Educação em Saúde Bucal Introdução A concepção de saúde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) não se restringe à ausência de doença ou enfermidade, mas também considera que o indivíduo necessita de qualidade de vida para ser saudável. Compreendendo, assim, uma ideia subjetiva de bem-estar que engloba características positivas e negativas resultantes de aspectos sociais, políticos,econômicos e culturais da sociedade. Desse modo, intervir nos determinantes sociais da saúde de maneira a viabilizar a equidade e a justiça social surge como assunto relevante na elaboração das políticas públicas de saúde. Nesse contexto, as Políticas Nacionais de Promoção da Saúde e Atenção Básica definidas pelo Ministério da Saúde no ano de 2006 propuseram que a organização da atenção envolvesse ações e serviços que atuassem tanto nos determinantes da doença como também na conjuntura de vida dos indivíduos. Importância da Educação em Saúde Bucal na Odontologia Gradualmente, a odontologia foi adquirindo espaço no serviço público, porém, suas condutas ainda permaneciam centradas em práticas mutiladoras, enfatizando o atendimento de urgência para alívio da dor. A odontologia, praticada no serviço público, reproduzia o serviço particular com a mínima atenção na prevenção das doenças, sem se preocupar com ações de promoção da saúde. Apesar do enorme desenvolvimento nas últimas décadas, a transformação dos paradigmas na odontologia ainda encontra resistência. A saúde bucal continua a ser considerada principalmente por parâmetros clínicos, não apontando os reais problemas que acometem a saúde geral dos indivíduos. Entretanto, na atualidade, faz-se necessário a avaliação do estado de saúde sob uma concepção holística, associando a qualidade de vida das pessoas com a saúde bucal. Inserida em uma perspectiva abrangente de saúde, a promoção da saúde bucal ultrapassa o aspecto técnico da prática odontológica, sendo incorporada às demais ações de saúde coletiva. As práticas de promoção e proteção à saúde destinam-se à diminuição dos fatores de risco das doenças bucais e a estratégias direcionadas para a melhoria da situação de saúde bucal, através da transformação dos padrões de vida da população. A promoção de saúde bucal deve ser assegurada por intermédio da realização de diversas estratégias, atuando nos determinantes sociais e em diferentes ambientes como, por exemplo, escolas, centros comunitários, domicílios e, nesse sentido, a educação em saúde tem sido apontada como um importante elemento do processo de promoção da saúde dos indivíduos. 8 9 Importante! Compreende-se como educação em saúde tanto a transferência de conhecimentos, quanto mudanças de atitudes comportamentais. É um processo dinâmico, que ocorre pela busca progressiva por conhecimento, podendo ser enriquecido com base na troca de informações e experiências pessoais. A educação em saúde é uma ação social, sendo uma metodologia que auxilia na construção e evolução da consciência crítica das pessoas, relacionada aos problemas de saúde, além de estimular a busca por soluções e a organização de ações coletivas. Importante! Historicamente, a finalidade da educação em saúde na odontologia sempre esteve pautada na prevenção da cárie dentária e doença periodontal, pois eram as doenças bucais de maior incidência na população. O modelo era baseado nas condutas de ensino do modelo curativista, visto que especialistas acreditavam existir um padrão de evolução das enfermidades, e medidas preventivas precisariam ser tomadas para evitar a manifestação, ou o agravo da doença. Por ser uma profissão que evoluiu com características tecnicistas marcantes, a odontologia ainda enfrenta problemas para promover ações coletivas relacionadas à educação em saúde de acordo com as necessidades da coletividade, atuando nos determinantes sociais da população. Entretanto, a partir da nova organização do modelo de Atenção Básica, por intermédio da Estratégia Saúde da Família, a educação em saúde alcança destaque como estratégia de autonomia comunitária no âmbito da saúde. As alterações ocorridas na esfera das políticas públicas de saúde têm colocado em discussão o perfil de formação e as ações dos profissionais. Há a necessidade de profissionais capacitados para exercer a profissão com qualidade e resolutividade no campo da saúde pública, com o desafio de estabelecer projetos adequados à realidade da sociedade brasileira. Ao identificar a necessidade de melhorar a qualidade de vida dos indivíduos, especialmente relacionada à saúde bucal, a educação em saúde bucal se faz importante, pois se destina a estimular a participação da comunidade com comprometimento consciente na promoção da saúde, assegurando que forças políticas e sociais construam um novo paradigma de saúde. Importante! A educação em saúde bucal é um elemento do conceito de Promoção da Saúde de caráter específi co, tanto como prática, quanto como área de conhecimento, desenvolvendo habilidades e atitudes, e construindo valores que levem o sujeito a agir em benefício da própria saúde e da coletividade. É um processo destinado a preservar e elevar a qualidade de saúde bucal dos cidadãos. Pode ser defi nida como ações sociais que se estabelecem entre profi ssionais que atuam em instituições de saúde e usuários. Importante! 9 UNIDADE Educação em Saúde Bucal A base da prática educativa é o conhecimento contínuo dos indivíduos, viabi- lizado por uma escuta atenta e interessada, de forma a criar um vínculo de con- fiança e respeito mútuo e promover a coparticipação no processo de resolução dos problemas. Importante! Existem alguns itens fundamentais para o sucesso da transmissão de conhecimentos relacionadas à saúde bucal como, por exemplo, um diálogo esclarecedor entre os sujeitos, sendo este a síntese da educação, a humanização e o desenvolvimento de uma percepção holística do indivíduo, trabalhando aspectos biológicos, sociais e culturais. As ações precisam ser dinâmicas e participativas, valorizando a aprendizagem, e desenvolvendo competências como criatividade, solidariedade e habilidade para solucionar problemas. Em Síntese Importante! Objetivos gerais das ações educativas em saúde bucal: • Ampliar conhecimentos, auxiliando na compreensão sobre os fatores protetores e determinantes dos processos saúde-doença, com a intenção de contribuir para a adoção das medidas de prevenção individuais e coletivas; • Enfatizar a autoestima e o autocuidado; • Consolidar os vínculos sociais e a participação da comunidade; • Desenvolver competências e habilidades para a implantação de hábitos saudáveis e controlar os fatores de risco às doenças bucais. Importante! Educação em Saúde Bucal Individual e Coletiva A sistemática educativa relacionada à saúde bucal altera conforme a população ou indivíduo que se pretende atingir. Pode ser destinada, por exemplo, à toda população, à uma comunidade limitada, a frequentadores de um centro de saúde, a escolares, a familiares de pacientes, ou individualmente, durante a consulta odontológica. Educação em Saúde Bucal Coletiva Considerando que as práticas de promoção e proteção da saúde são diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal, as ações de educação em saúde bucal direcionadas à população objetivam a propagação do conhecimento sobre o processo saúde- doença, que engloba os fatores de risco e de proteção relativos à saúde bucal, observando as diferenças sociais e peculiaridades culturais. 10 11 A educação em saúde bucal dispõe de um excelente potencial de transformação do panorama de saúde populacional, entretanto, para tal, deve inevitavelmente gerar novos e saudáveis comportamentos numa maioria significativa da população. A Organização Mundial da Saúde recomenda que a prioridade para o controle e prevenção das doenças bucais seja atribuída a problemas relacionados aos fatores de risco mais comuns na população, ligados à sua qualidade de vida. As estratégias direcionadas para educação em saúde bucal, com dimensões populacionais, precisam aumentar o interesse da sociedade e o seu apoio às políticas públicas saudáveis, influenciar na modificação dos hábitos e do meio ambiente, tornando-os mais apropriados e, além disso, prevenir e controlar a incidência das principais doenças bucais. Educação em Saúde Bucal Individual Os espaços de atendimentos
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