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Profa. Ana Lúcia Machado UNIDADE I Semiótica Objetivos gerais: Apresentar as perspectivas semióticas e o processo de construção de sentido dos textos imagéticos, visuais e verbais; Proporcionar a base teórica e metodológica para a análise semiótica de textos multimodais. Objetivos específicos: Introduzir as noções das várias perspectivas semióticas e as categorias de análise; Apresentar as categorias analíticas da Semiótica Social para o estudo das linguagens. Semiótica Semiótica e as suas várias linhas teóricas: 1. Semiótica peirceana; 2. Discursiva de linha francesa: o percurso narrativo do sentido; 3. Semiótica da cultura: semiótica russa; 4. Semiótica social e a multimodalidade. Propósito da semiótica = estudo da linguagem. Semiótica – “Ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como o fenômeno de produção, de significação e de sentido”. (SANTAELLA, 2003, p. 13) Semiótica e as suas vertentes Charles Sanders Peirce (1839-1914): filósofo norte-americano, além de matemático do campo da lógica. Peirce é considerado um dos primeiros pensadores da semiótica. A palavra “semiótica” vem do grego σημειωτικός (sēmeiōtikos) e quer dizer “a ótica dos sinais”. A semiótica estuda todos os fenômenos culturais como os sistemas sígnicos; em outras palavras, os sistemas de significação. A semiótica desenvolvida por Peirce é uma ampliação dos estudos linguísticos de Ferdinand de Saussure. A semiótica não fica presa às análises das palavras e dos textos; ela vai além disso e acompanha as artes visuais, a música, a fotografia, o cinema, a culinária, o vestuário, os gestos, a religião, a ciência etc. Semiótica peirceana Fonte: https://relacoesexteriores.com.br/ glossario/pragmatismo/ Semiose: modo como o signo age e/ou é interpretado; a ação do signo, que é a ação de ser interpretado, apresenta com perfeição o movimento autogerativo, pois ser interpretado é gerar um outro signo que gerará outro e, assim, infinitamente. Fenomenologia: fenômeno é tudo o que está diante de nossa mente em qualquer sentido, ou seja, o fenômeno é, simplesmente, o que é em função de sua apresentação, tornando-se não o que “verdadeiramente” é, mas o que parece aparecer – eis o conceito de representação. Signo: qualquer coisa que, de um lado, é assim determinado por um objeto e, de outro, determina uma ideia na mente de uma pessoa. Semiótica peirceana Signo-objeto – Exemplo: a palavra “carro”, o desenho de um carro, o esquema de um carro, a fotografia de um carro, a escultura de um carro. São todos signos do objeto carro ou as representações dele. Signo: “é alguma coisa que representa outra coisa: o seu objeto (ideia ou coisa) para alguém sob algum aspecto de qualidade. Então, tanto a palavra quanto o desenho, o esquema, a fotografia ou a escultura de um carro não são o próprio carro. São signos dele, um representante. Cada um deles, de certo modo, representa a realidade do carro”. (MARTINS, 1998, p. 38) Signo-objeto Signo-objeto interpretante: ao ser comunicado a alguém, o signo produz, na mente desse intérprete, um segundo signo, que traduz o significado do primeiro. Chama-se o signo, assim criado, de interpretante do primeiro signo. O significado de um signo é sempre outro signo. Isto ocorre porque há uma relação entre o próprio signo (um representante), o objeto (aquilo a que o signo se refere e é por ele representado) e o interpretante (conceito, imagem mental construída na mente do receptor do signo). Signo-objeto interpretante SIGNO Aquilo que visualizamos do objeto Cheiro de café sendo coado OBJETO INTERPRETANTE Uma coisa ou um fato A interpretação do fato Hora da pausaCafé Para ocorrer a semiose ou o fenômeno da significação, é necessário que exista o signo e que haja um interpretante, o sujeito que irá interpretar a mensagem. A semiose ocorre no momento da ação em que o pensamento procura desvendar o significado oculto do signo e buscar os interpretantes. Um exemplo de semiose: Se você levanta pela manhã e encontra sobre a mesa um singelo bilhete dizendo: “Querido, fui à padaria e volto já...”, você entende logo que a sua mulher foi à padaria e, ainda, subentende que ela foi comprar pão, leite ou qualquer produto para o desjejum. Considerando, ainda, que a padaria é na esquina, ela deverá voltar em cerca de 15 minutos. Esse seu entendimento brilhante e imediato é uma ocorrência flagrante da semiose. Semiose e signo A respeito da Semiótica de Peirce, analise as asserções a seguir: I. Signo é tudo que representa outra coisa ou objeto; II. A semiótica estabelece uma relação triádica entre o objeto, o signo e o interpretante; III. O signo tem dois elementos: significado e significante. Estão corretas as seguintes alternativas: a) I. b) II e III. c) I e III. d) I, II e III. e) III. Interatividade A respeito da Semiótica de Peirce, analise as asserções a seguir: I. Signo é tudo que representa outra coisa ou objeto; II. A semiótica estabelece uma relação triádica entre o objeto, o signo e o interpretante; III. O signo tem dois elementos: significado e significante. Estão corretas as seguintes alternativas: a) I. b) II e III. c) I e III. d) I, II e III. e) III. Resposta Índice: ocorre quando o signo e o referente apresentam uma relação de proximidade, sendo que o signo indica o referente e aponta para ele. Há uma relação direta. Há uma relação de causalidade sensorial que indicará o seu significado. Ex.: a fumaça que indica a existência de fogo. Na língua, o índice pode ser a coesão textual – o uso de pronomes demonstrativos e advérbios (os pronomes relativos). Rastro de pneus (indica que algum automóvel passou por ali). Som de chamada do celular no momento em que estiver tocando. Céu com nuvens escuras (indica que poderá chover). Ruas molhadas (indica que choveu ou alguém molhou a rua). Três modos de o signo ser o mediador dos significados (sentidos) Ícone: consiste em um parâmetro que tem uma semelhança ao objeto. Podemos citar como exemplo uma foto ou, como ícones verbais, temos as onomatopeias. Ele se apresenta com simples qualidade na sua relação com o seu objeto. Há alguma semelhança com o objeto representado por meio de formas e sentimentos, podendo ser substituto de algo que a ele apresenta uma relação de semelhança. Placas de banheiro masculino com desenho (representa uma pessoa, porque tem alguns traços de semelhança visual com ela). A imagem da lixeira, na área de trabalho do seu computador, representa a lixeira porque é, de fato, a figura de uma lixeira, tal como nos é possível reconhecê-la. Placas com o desenho de garfo, faca e prato (pode representar um restaurante). Sorvete de morango (representa o morango, porque tem alguns traços de semelhança gustativa com o morango). Ícone Símbolo: representação arbitrária do objeto por força de uma associação de ideias. Trata-se de uma aceitação coletiva, relação convencional. Há símbolos verbais e não verbais. Como exemplo de símbolo não verbais, temos a cruz que pode ter várias simbolizações (religião, hospital e outras): Bandeira branca, indicando a paz; Logotipo (representa simbolicamente uma empresa, uma pessoa, um serviço, um conceito, porque foi divulgado assim); Pessoa atravessando a rua na faixa de segurança, (representa o correto; caso contrário, pode acontecer um acidente). Símbolo No livro Semiótica, Peirce traz as concepções de divisão dos signos; os termos “Primeiridade”, “Secundidade” e “Terceiridade”, elaborados, inicialmente, por Peirce, não foram adotados por outros pensadores da semiótica, que preferem os termos “ícone”, “índice” e “símbolo”. Peirce afirma que: “Os signos são divisíveis em uma tricotomia”; na primeira parte, o signo em si mesmo,por uma simples qualidade, um existente concreto ou uma lei geral; na segunda, conforme a relação do signo para com o seu objeto, consiste no fato de o signo ter algum caráter em si mesmo, ou manter alguma relação existencial com esse objeto ou em relação com um interpretante; na terceira, conforme o seu interpretante representá-lo como um signo de possibilidade, ou como um signo de fato ou como um signo de razão. Divisão dos signos Aspectos puramente qualitativos e pré-reflexivos (cor, forma, textura, som). “A grama é verde” - está em primeiridade. Verde é, apenas, uma qualidade. “A liberdade é azul”. Não está em primeiridade. A frase se refere a algo que não é azul. Primeiridade Factual, existente, manifestante. Existir: entrar em relação com o outro, inserido fisicamente no tempo e no espaço. Secundidade SIM, está em secundidade; a frase aponta um fato SINGULAR NÃO, está em secundidade; aponta para um TERCEIRO termo, a INTENÇÃO. “X bateu em Z”. “X bateu em Y com Z por causa de A”. Potencial, previsão, conexão entre a qualidade e o fato. Terceiridade qualidade fato previsão É qualquer coisa que, de algum modo e em qualquer sentido, apareça à mente. É separado em três categorias universais. Primeiridade Se relaciona com tudo que está na mente de alguém no instante presente e imediato; qualidade, sentimento. Secundidade É factual; é o ato de existir, a experiência singular, o aqui e o agora. Terceiridade É a interpretação de um fenômeno, uma mediação intelectual; significar algo. Observe a imagem ao lado: a) É um índice, pois representa uma sinalização. b) Está no grau da primeiridade, uma vez que é, apenas, uma qualidade de cor. c) Representa a nossa consciência sobre o significado da cor. d) Trata-se de um símbolo, cujo sentido é a paz. e) Está no grau da secundidade, em confronto entre quem visualiza e a imagem. Interatividade Observe a imagem ao lado: a) É um índice, pois representa uma sinalização. b) Está no grau da primeiridade, uma vez que é, apenas, uma qualidade de cor. c) Representa a nossa consciência sobre o significado da cor. d) Trata-se de um símbolo, cujo sentido é a paz. e) Está no grau da secundidade, em confronto entre quem visualiza e a imagem. Resposta Julien Greimas (1917-1992) – Escola Semiótica de Paris: Semântica Estrutural – Estudo do Discurso – estrutura narrativa se manifesta em qualquer tipo de texto; Semiótica: não é uma “teoria dos signos”, mas uma “teoria da significação”; Investiga a geração de sentido; Método: descrição e explicação do processo de geração de sentido; Base no estruturalismo de Saussure; Conteúdo e diferentes modos de expressão; Diferentes linguagens. Semiótica discursiva ou estrutural Texto: É uma relação entre um plano de expressão e um plano de conteúdo; Plano de conteúdo: significado do texto; Plano de expressão: manifestação do conteúdo em um sistema de significação verbal, não verbal ou sincrético; Sistema verbal: línguas naturais; Sistema não verbal: música e artes plásticas; Sistema sincrético: várias linguagens (canções, filme etc.). Semiótica visual: os percursos do olhar Plano de conteúdo: negação (significado). Plano de expressão: manifestação do conteúdo em um sistema de significação em diferentes modos de expressão/linguagens: Prefixo des-/in-; Palavra “não”; Dedo indicador; Gesto de cabeça; Cor vermelha no semáforo. Exemplo Estilo linear: traçado feito por meio de linhas; próprio do Classicismo (Botticelli). Estilo pictórico: traçado feito por meio de manchas; próprio do Barroco (Caravaggio). Plano da expressão Fonte: PIETROFORTE, A. Análise do texto visual. São Paulo: Contexto, 2007, p. 54. CaravaggioBotticelli Disposição de imagens representadas em planos. Formas fechadas pelas linhas. Pluralidade de elementos descontínuos. Clareza na disposição. Estilo linear Fonte: PIETROFORTE, A. Análise do texto visual. São Paulo: Contexto, 2007, p. 54. O nascimento de Vênus, de Botticelli Plasticidade com manchas. As manchas formam a profundidade. Imagens com formas abertas, sem os limites das linhas do estilo linear. Formas abertas criam uma unidade entre os elementos mostrados por meio de uma obscuridade de sombras. Estilo pictórico Davi com a cabeça de Golias, de Caravaggio Fonte: PIETROFORTE, A. Análise do texto visual. São Paulo: Contexto, 2007, p. 54. I. Na tirinha, o ritmo no plano do conteúdo e no plano da expressão é o mesmo: aceleração; II. A relação entre os elementos da abóbora e do gato é linear; III. A relação entre os elementos é planar: colocação dos elementos uns em torno dos outros. Está correto o que se afirma em: a) I. b) II. c) II e III. d) III. e) I e II. Interatividade Fonte: DAVIS, J. Garfield e seus amigos . Rio de Janeiro: Pixel, 2015, p. 17. I. Na tirinha, o ritmo no plano do conteúdo e no plano da expressão é o mesmo: aceleração; II. A relação entre os elementos da abóbora e do gato é linear; III. A relação entre os elementos é planar: colocação dos elementos uns em torno dos outros. Está correto o que se afirma em: a) I. b) II. c) II e III. d) III. e) I e II. Resposta Fonte: DAVIS, J. Garfield e seus amigos . Rio de Janeiro: Pixel, 2015, p. 17. Trajetória gerativa: Geração de discursos de qualquer sistema semiótico; Produção discursiva: vários níveis de profundidade; Componentes da sintática e semântica; Processo começa em um nível profundo com as estruturas elementares e se estende às estruturas mais complexas em níveis mais elevados; Estruturas: organização do discurso anterior à sua manifestação em uma língua natural dada. Áreas gerais autônomas da semiótica textual: Estruturas textuais (substância de expressão); Estruturas sêmio-narrativas (plano de conteúdo); Estruturas discursivas (plano de conteúdo). Geração de sentido Estruturas sêmio-narrativas: Combinam as estruturas semânticas e sintáticas através de uma gramática fundamental do discurso. Nível profundo: Semântica: tema global (quadrados semióticos); Sintaxe: sequências narrativas temáticas. Nível superficial: Semântica: temas são instanciados em personagens; Sintaxe: sintagmas narrativos elementares sobre as ações dos personagens (programas narrativos). Estruturas discursivas: Semântica: personagens são individualizados; Sintaxe: descreve as ações dos personagens no tempo e no espaço. Níveis Estruturas e níveis Fonte: autoria própria. Semiótica discursiva: percurso gerativo de sentido Fonte: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosilel/pt/arquivos/silel2011/819.pdf Beleza X feiura: categorias semânticas do texto. Nível fundamental Quadrado semiótico Fonte: autoria própria. Dois tipos de objeto almejado: objetos modais: o querer, o dever, o poder e o saber, necessários para a obtenção dos objetos de valor: o objetivo último da ação narrativa. Na tirinha: o objeto modal do sapo é o beijo da Magali; meio pelo qual obterá o seu objeto de valor, que é a condição de ser um belo príncipe. Para a Magali, o beijo também se constitui como um objeto modal; no entanto, o seu objeto de valor é divergente, já que, motivada por sua gula, o que objetiva, ao final, é a “comida”. Nível narrativo Estrutura: sequência canônica de fases: manipulação, competência, performance e sanção. Manipulação: tentação por parte do sapo. Ele consegue com que a Magali o beije, com a afirmação de que, por meio do beijo, ela obteria uma recompensa; no caso, uma surpresa. Competência: o sapo ganhar um beijo para que, então, ela possa beijá-lo e realize a transformação. Performance da Magali: manipulada pelo sapo, opera a transformação do texto quando beija o sapo e ele se transforma em um príncipe; passando de seu estado de sapo(animal feio) ao estado de príncipe (dotado de beleza). Sanção do sapo: a performance ocorreu; tornou-se um belo príncipe. Apesar disso, ele se espanta com a reação de Magali, quando ela demonstra que a sua gula é maior do que o seu romantismo. Narrativa complexa O sapo pretende estar em conjunção com o seu objeto de valor: ser um belo príncipe. Magali busca encontrar, na surpresa oferecida pelo sapo, o seu objeto de valor, comida, e pretende, assim, entrar em conjunção com um pipoqueiro, padeiro ou qualquer outro profissional que possa lhe oferecer a comida – vindo a decepcionar-se depois, por não ter obtido o que desejava. Nível discursivo Na semiótica discursiva de Greimas, qual é a característica fundamental do processo gerativo de sentido? a) Oposição entre as unidades semânticas presentes na estrutura profunda. b) Intenção do emissor em comunicar determinado conteúdo. c) Estilo retórico e estratégias persuasivas para o convencimento. d) Narrativa articulada na forma de uma boa história. e) Repertório interpretativo do leitor ou do receptor. Interatividade Na semiótica discursiva de Greimas, qual é a característica fundamental do processo gerativo de sentido? a) Oposição entre as unidades semânticas presentes na estrutura profunda. b) Intenção do emissor em comunicar determinado conteúdo. c) Estilo retórico e estratégias persuasivas para o convencimento. d) Narrativa articulada na forma de uma boa história. e) Repertório interpretativo do leitor ou do receptor. Resposta MARTINS, Mirian Celeste. Didática do ensino de arte: a língua do mundo; poetizar, fruir, e reconhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. SANTAELLA, L. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2003. Referências ATÉ A PRÓXIMA!
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