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Thais Alves Fagundes LEISHMANIOSE VISCERAL ETIOLOGIA Protozoário da família Trypanosomatidae, gênero Leishmania. • Subespécies: L. donovani, L. infantum e L. chagasi. VETOR Picada de flebótomos • Lutzomyia longipalpis: vetor da LV no Brasil → Leishmania infantum e Leishmania chagasi • Atividade hematófaga necessária para maturação dos ovos da fêmea,. RESERVATÓRIO Cão doméstico (pode ou não adoecer, apresentando emagrecimento, queda dos pelos, nódulos e ulcerações na pele, crescimento da unha, paralisia dos membros posteriores e cegueira); Raposa; Marsupiais. FISIOPATOLOGIA Amastigotas intracelulares → Triatomíneo: • Flebotomíneo adquire forma amastigota durante o repasto de indivíduos infectados. • Sugam macrófagos contendo forma amastigota. • Amastigota se multiplicam (reprodução sexuada), originando promastigota (infectante). • Promastigotas no intestino do inseto para diferenciação em promastigotas metacíclicos. • Promastigota migra até a probóscida do inseto, sendo inoculados no repasto sanguíneo. Inoculação → Promastigotas: • Promastigotas metacíclicas inoculadas durante o repasto sanguíneo por regurgitação. • Injeta saliva do vetor, contendo neuropeptídeos vasodilatadores (maxidilan): o Facilitam a entrada das formas infectantes. o Imunossuprimem o hospedeiro (estado imunossuprimido localizado). Promastigota → Amastigota: • Promastigota fagocitada por macrófago (flagelada), no local de inoculação do parasita. o Lesão inicial, por reação inflamatória localizada no local da picada. ▪ Histiocitoma (tegumentar) aparece em duas semanas a três meses. ▪ Leishmanioma (visceral): aparece em 2 a 6 meses. Após esse processo inicial, pode ocorrer cura ou disseminação hematogênica ou linfática e acometimento de vísceras. • Transforma-se em forma amastigota intracelular (sem flagelo). Amastigota → Amastigotas livres: • Amastigota se multiplicam (reprodução assexuada) e causam a ruptura do macrófago. • Formas amastigotas são liberadas na corrente sanguínea. o Infecçãao de outros macrófagos. o Disseminação para sistema retículo-endotelial: medula óssea, baço, fígado, linfonodos. Comprometimento do SRE, parasitos permanecem e multiplicam, SRE exibe hipertrofia e hiperplasia Resposta imune: • Resposta imune inata: macrófagos (ação microbicida) e células NK, tentam destruir o parasita. • Resposta imune adaptativa: o Expansão de dois subtipos de linfócitos CD4+ que se polarizam em padrões subtipo TH1 ou TH2. o TH1: evolui para cura (produção de IFN- γ e IL-12) ▪ IL-12 → reverte o padrão da resposta para o tipo TH1, suprime a resposta TH2. ▪ IFN- γ: potente indutor de macrófagos, associado à produção de citocinas pró-inflamatórias e à capacidade do hospedeiro em controlar a infecção. o TH2: não leva a cura (produção de IL-4 e IL-10) ▪ IL-10 → bloqueia produção de IL-12 e IFN-γ → progressão da doença ▪ IL-4: associada a citocinas estimuladoras de plasmócitos e produção de anticorpos. • Provocando hiperglobulinemia. • Inversão da relação albumina/globulinas (↓ albumina, insuficiência hepática). Fígado (hepatomegalia): hipertrofia e hiperplasia das células de Kupfer, densamente parasitadas pelas formas amastigotas. Evolução para “cirrose de Rogers”, que consiste em fibrose hepática difusa reversível. • Hipoalbuminemia, gerando redução da pressão oncótica e provocando edema de membros inferiores. • Diminuição da produção de fatores de coagulação, provocando sangramentos. Baço (esplenomegalia): hiperplasia e hipertrofia das células do sistema mononuclear fagocitário, com macrófagos densamente parasitadas pelas formas amastigotas. Congestão dos sinusoides hepáticos. Thais Alves Fagundes Medula óssea: Leucopenia às custas de neutropenia: redução da reserva medular, sequestro esplênico ou reações de autoimunidade. Anemia normocítica normocrômica: bloqueio de produção na medula, sequestro esplênico ou hemólise imune. Plaquetopenia: diminuição da maturação medular e da destruição periférica imune. • Pancitopenia: eritrocitopenia, plaquetopenia, leucopenia por destruição do parênquima medular. Pulmão (pneumonite intersticial): quadro de pneumonite intersticial, com pulmões aumentados de volume, congestos, com uma consistência mais elástica do que a habitual. Septos interalveolares espessados por infiltrado inflamatório, levando a edema. Parasita não tem ciclo pulmonar. • Tosse seca persistente, surge no início dos sintomas, prolonga-se no período de estado e desaparece com a cura. Rim (nefrite intersticial): aumento de volume e congestão, com infiltrado inflamatório. QUADRO CLÍNICO Infecção assintomática: • Maioria dos indivíduos vivem em áreas endêmicas. • Teste intradérmico positivo, sem história de doença clínica aparente. Infecções “subclínicas” ou oligossintomáticas: • Forma mais frequente em áreas endêmicas, pode evoluir para calazar clássico. • Sintomatologia inespecífica: febrícula, tosse seca, diarreia, sudorese, adinamia, discreta visceromegalia. Formas agudas (forma aguda disentérica): • Duração menor que dois meses de evolução. • Sintomatologia: febre alta, tosse e diarreia acentuada, discreta visceromegalia. • Alterações hematológicas discretas • Elevação de globulinas com grande quantidade de anticorpos específicos IgM e IgG anti-leishmânia. Calazar clássico: Período de incubação: 2 a 6 meses → evolução crônica Sintomas iniciais: tosse seca (pneumonite intersticial), febre, distúrbios gastrointestinais (diarreia, disenteria), adinamia, anorexia, prostração, sonolência, mal-estar, progressivo emagrecimento, manifestações hemorrágicas (epistaxes, petéquias, sangramento gengival – insuficiência hepática). Período de estado: • Febre irregular de 37 a 38°C. • Emagrecimento progressivo, levando a caquexia acentuada com o apetite preservado. • Palidez, cabelos secos e quebradiços, clássico sinal da bandeira (cabelos com 2 ou 3 colorações), cílios alongados. • Edema dos pés e das mãos. • Alterações de pele, que adquire coloração pardacenta ou de cera velha. • Desnutrição proteico-calórica: o Hipoalbuminemia. o Anorexia. o Distúrbios gastrointestinais: vilos intestinais edemaciados prejudicam a absorção. • Abdome volumoso, à custa de gigantesca hepatoesplenomegalia. o Hepatomegalia: hipertrofia e hiperplasia das células de Kupfer. o Esplenomegalia: hiperplasia e hipertrofia das células do sistema mononuclear fagocitário. • Epistaxes e gengivorragias: diminuição dos fatores de coagulação. Alterações laboratoriais: pancitopenia com globulinas bastante elevadas e inversão da relação globulinas/albumina. DIAGÓSTICO CLÍNICO Critérios epidemiológicos: procedência de área endêmica ou história de viagens nos últimos 12 meses. Critérios clínicos: • Febre irregular prolongada. • Hepatoesplenomegalia. • Anemia. • Manifestações hemorrágicas. • História de persistência de tosse. • Diarreia intermitente por mais de três semanas Thais Alves Fagundes EXAMES INESPECÍFICOS Hemograma - Pancitopenia: destruição do parênquima medular pelo parasito, causando anemia normocítica e normocrômica, leucopenia às custas de neutropenia e plaquetopenia. Enzimas hepáticas: • Transaminases: TGO/TGP duas vezes o valor normal. • Hipoalbuminemia • Inversão da relação albumina/globulina: globulinas bastante elevadas com albumina diminuída. • Tempo de protrombina aumentado. • Bilirrubina direta aumentada. Urina rotina: proteinúria, hematúria, aumento da excreção de proteína urinária em 24 horas, aumento de ureia e creatinina no soro, com diminuição do clearance de creatinina. EXAMES ESPECÍFICOS Exames parasitológicos: Mielograma (aspirado de medula óssea): identificação de amastigotas • Método padrão-ouro: técnica simples, de baixo custo, baixa sensibilidade. o Exame direto o Cultura: isolamento da leishmania Aspirado esplênico: exame direto por punção de baço. Tem alta sensibilidade, masnão é realizado, por alto risco de hemorragia, devido a alterações da coagulação (plaquetopenia). Teste de hipersensibilidade tardia (DTH) à antígenos de leishmania / Montenegro: não é utilizado para diagnóstico • DTH positivo: marcador de infecção, pode ser recente ou curada. • DTH negativo: descarta a hipótese de leishmaniose. Métodos sorológicos: positivo anos após a cura, recidivas não podem ser diagnosticadas por sorologia, realizar aspirado de medula óssea; negativo em coinfectados com HIV e imunossuprimidos; positivo em residentes de áreas endêmicas assintomáticos, na ausência da doença. • Teste de aglutinação direta (DAT) e imunofluorescência indireta (RIFI): aplicados em inquéritos epidemiológico o Utilizam como fonte de antígeno o parasita inteiro, limita sua especificidade – reações cruzadas. o Resultado sorológico negativo torna improvável a hipótese de LV. • Testes imunoenzimáticos (ELISA): instrumento para diagnóstico sorológico. • Teste rápido diagnóstico rK39 (imunocromatografia): execução simples, dispensa aparato laboratorial, permitindo diagnóstico precoce. Indicadora de doença ativa. Biologia molecular (PCR): sensível, rápido e específico, entretanto caro e restrito a alguns laboratórios de pesquisa. TRATAMENTO Pacientes assintomáticos: • Não devem ser tratados devido à toxicidade do tratamento. Pacientes sintomáticos: Tratamento de suporte: • Antibióticos em pacientes com LV com menos de 500 neutrófilos por mm³. • Suporte hemoterápico • Suporte nutricional • Hidratação • Antitérmicos Medicamentos: Antimonial pentavalente (glucantime) injetável • Contraindicações: o Insuficiência renal, hepática, cardíaca. o Uso concomitante de medicamentos que alteram o intervalo QT. o Gravidez. o Idade maior de 50 anos. • Monitorar enzimas hepáticas, função renal, amilase e lipase sérica. • Realizar eletrocardiograma no início, durante e ao final do tratamento para monitorar o intervalo QT corrigido, arritmias e achatamento da onda T. Thais Alves Fagundes Anfotericina B lipossomal • Contraindicações: hipersensibilidade aos componentes da formulação. • Monitorar função renal, potássio e magnésio séricos. Tratamento ambulatorial: • Indicações: escore clínico < 4 ou escore clínico-laboratorial < 6 • Anfotericina B lipossomal Acompanhamento laboratorial: hemograma, creatinina 2x/sem, sódio, potássio, magnésio, cálcio, ECG semanal. • Antimonial pentavalente (glucantime) Acompanhamento laboratorial: hemograma, provas renais e hepáticas e amilase semanal. , EGC dia sim dia não. Tratamento hospitalar: • Indicações: escore clínico ≥ 4 ou escore clínico-laboratorial ≥ 6 • Anfotericina B lipossomal injetável. • Antimonial pentavalente (glucantime) injetável. CRITÉRIOS DE CURA • Pacientes devem ser acompanhados mensalmente, durante seis meses. • Recidivas geralmente ocorrem entre o 4º e o 6º mês após a terapêutica. • Febre, se presente, desaparece. • Hemograma evidencia nítida resposta, com elevação da série vermelha e recuperação da série branca. • Redução da hepatoesplenomegalia lenta. Ao final do tratamento, pelo menos 50% de redução. • Negativação do aspirado esplênico ou medular. • Reação intradérmica a antígeno de Leishmania (leishmanina): positiva
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