Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Kamilla Galiza / 5º Período Objetivos 1. Revisar os mecanismos fisiológicos do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal 2. Identificar a etiologia e os fatores de risco da SC. 3. Compreender a fisiopatologia e as manifestações clinicas da SC 4. Discorrer os critérios diagnósticos e as condutas terapêuticas da SC. Fisiologia das glândulas adrenais Os principais hormônios secretados pela face cortical das glândulas adrenais são os mineralocorticoides (aldosterona), glicocorticoides (cortisol) e uma pequena quantidade de hormônios androgênicos. Os mineralocorticoides receberam este nome porque afetam, os eletrólitos dos líquidos extracelulares, sobretudo sódio e potássio. Os glicocorticoides têm este nome por seus importantes efeitos que aumentam a concentração sanguínea de glicose e apresentam efeitos adicionais nos metabolismos proteico e lipídico. O córtex das adrenais é dividido em: Zona Glomerulosa, Fasciculada e Reticular. A Zona Glomerulosa é a responsável por produzir a maior quantidade de Aldosterona, sendo modulada pela Angiotensina II e pela concentração de K+. A Zona Fasciulada tem por função produzir a maior quantidade de cortisol e corticoesterona, ambos glicocorticoides, e em menor quantidade androgênios, sendo controlada pelo ACTH produzido na face anterior da hipófise, ou adenohipófise. A zona reticular produz a maior parte dos androgênios como DHEA e androestediona e é regulada pelo ACTH e pelo hormônio estimulante do androgênio cortical, produzido pela hipófise. Porém, esses mecanismos de controle ainda não são tão bem entendidos. Todos os hormônios esteroides humanos, incluindo os produzidos pelo córtex adrenal, são sintetizados a partir do colesterol. Embora as células do córtex adrenal possam apresentar síntese, de novo, de pequenas quantidades de colesterol a partir do acetato, aproximadamente 80% do colesterol usado para a síntese dos esteroides é fornecido por lipoproteínas de baixa densidade (LDL) no plasma circulante. O transporte do colesterol para as células adrenais é regulado por mecanismos de feedback que podem alterar, acentuadamente, a quantidade disponível para a síntese dos esteroides. Por exemplo, o ACTH, que estimula a síntese de esteroides adrenais, aumenta o número de receptores de LDL nas células adrenocorticais, bem como a atividade das enzimas que liberam o colesterol da LDL. Uma vez que o colesterol entra na célula, é transportado para as mitocôndrias, onde é clivado pela enzima colesterol desmolase, formando pregnenolona e os hormônios em sequência. Os hormônios adrenocorticais plasmáticos ligam-se a proteínas plasmáticas, especialmente uma globulina chamada globulina ligadora de cortisol ou transcortina, e, em menor quantidade, à albumina. Esse alto grau de ligação às proteínas plasmáticas reduz a velocidade de eliminação do cortisol do plasma e faz com que ele permaneça por mais tempo no organismo. Esses hormônios são metabolizados no fígado e o cortisol, está presente em alta quantidade no início da manhã e entra em declínio durante o dia. síndrome de Kamilla Galiza / 5º Período Aldosterona Sem os mineralocorticoides, a concentração de íons potássio, no líquido extracelular, eleva-se acentuadamente, sódio e cloreto são rapidamente eliminados do organismo, e os volumes totais do líquido extracelular e do sangue são muito reduzidos. Rapidamente se desenvolve redução do débito cardíaco, que evolui para um estado semelhante ao choque, seguido de morte. O cortisol, apesar de ser um glicocorticoide, também pode ligar-se a receptores de mineralocorticoides, atuando como um. Funções → Aumentar a reabsorção tubular renal de sódio; → Aumentar a secreção de potássio; → O excesso de aldosterona aumenta o volume do líquido extracelular e a pressão arterial, mas apresenta pequeno efeito na concentração plasmática de sódio (Na+ reabsorvido junto com água); → O excesso de aldosterona provoca hipocalemia (perda excessiva de K+) e fraqueza muscular; → O déficit de aldosterona provoca hipercalemia e toxicidade cardíaca; → O Excesso de aldosterona aumenta a secreção tubular de íon H+ e provoca Alcalose; A regulação da secreção de aldosterona pelas células da zona glomerulosa é quase inteiramente independente da regulação do cortisol e dos androgênios pelas zonas fasciculada e reticular. São conhecidos os seguintes quatro fatores que desempenham papéis essenciais na regulação da aldosterona: 1. A elevação da concentração de íons potássio no líquido extracelular aumenta muito a secreção de aldosterona. 2. A elevação da concentração de angiotensina II no líquido extracelular também aumenta acentuadamente a secreção de aldosterona. 3. A elevação da concentração de íons sódio no líquido extracelular reduz muito pouco a secreção de aldosterona. 4. O ACTH formado pela hipófise anterior é necessário para a secreção de aldosterona, mas tem pequeno efeito no controle da secreção. Glicocorticoides Pelo menos 95% da atividade glicocorticoide das secreções adrenocorticais resulta da secreção de cortisol, também chamado hidrocortisona. Além disso, uma pequena, mas significativa, quantidade de atividade glicocorticoide é produzida pela corticosterona. Funções → Agem no metabolismo dos carboidratos estimulando a gliconeogênese (Produz carboidratos a partir de outras substâncias); → O cortisol antagoniza os efeitos da insulina para inibir a gliconeogênese hepática; → Redução da utilização celular de glicose; → Elevação da concentração sanguínea de glicose e “Diabetes Adrenal”; → Redução de proteínas celulares; →Mobilização de ácidos graxos e aumento da sua concentração plasmática; → Excesso pode causar obesidade; → Resistência ao estresse e à inflamação; → Efeito Anti-inflamatório; → Bloqueia a resposta inflamatória a reações alérgicas; O ACTH Estimula a Secreção de Cortisol e é produzido pela hipófise anterior. Ele é controlado pelo fator liberador de corticotropina do hipotálamo (FLC) e o ACTH ativa as Células Adrenocorticais para Produzir Esteroides pelo Aumento do AMPc. O Estresse Fisiológico Aumenta a Secreção Adrenocortical e de ACTH. O aspecto fundamental desse controle do cortisol é a estimulação do hipotálamo por diferentes tipos de estresse. Esses estímulos ativam todo o sistema, provocando a rápida liberação de cortisol, que, por sua vez, inicia uma série de efeitos metabólicos, cujo objetivo é aliviar a natureza lesiva do estado de estresse. Também existe o processo de feedback negativo direto do cortisol no hipotálamo e na hipófise anterior, reduzindo a concentração de cortisol no plasma, nos momentos em que o organismo não está em estado de estresse. Kamilla Galiza / 5º Período Contudo, os estímulos de estresse são preponderantes; eles sempre podem se impor ao feedback inibitório direto do cortisol, provocando exacerbações periódicas de sua secreção em múltiplos momentos ao longo do dia ou sua secreção prolongada em situações de estresse crônico. Síndrome de Cushing Esse distúrbio é causado por condições que produzem níveis elevados de glicocorticoides. Em geral, a síndrome de Cushing pode ser dividida em causas exógenas e endógenas. A maioria dos casos de síndrome de Cushing resulta da administração de glicocorticoides exógenos (síndrome de Cushing “iatrogênica”, ou seja, resultado de um tratamento médico). As causas endógenas podem, por sua vez, ser divididas naquelas que são dependentes do ACTH e naquelas que são independentes do ACTH. Os adenomas hipofisários secretores de ACTH são responsáveis por aproximadamente 70% dos casos de hipercortisolismo endógeno, sendo a forma hipofisária é conhecida como doença de Cushing. Hipercortisolismo exógeno A prescrição de um Glicocorticoide (GC) sistêmico pode estar relacionada a diversas situações (doenças crônicas e emergenciais). Quadros de emergência(choque anafilático, nefrite lúpica, choque séptico, síndrome enxerto X hospedeiro, broncoespasmo grave etc.) podem necessitar do uso de GC. Nesses casos, geralmente a administração é realizada por via parenteral, em altas doses e por poucos dias (pulsoterapia) até que a terapia primária estabelecida apresente eficácia. A terapia crônica com GC é empregada em diferentes doenças anteriormente descritas e é nessa situação que o médico deve estar atento aos riscos da corticoterapia prolongada e abusiva. Assim, alguns critérios devem ser obedecidos ao iniciar uma terapia crônica com GC. Iniciar somente se existem evidências clínicas estabelecidas na literatura do seu benefício terapêutico Utilizar somente frente à falência de outras terapias específicas Utilizar critérios de resposta objetivos Administrar uma dose necessária por um tempo suficiente para se atingir à resposta desejada Identificar um objetivo terapêutico específico Muitos dos efeitos colaterais da corticoterapia podem ser confundidos com os achados da SC propriamente dita. A principal diferença entre a SC exógena e a endógena é que esta última apresenta maior ação mineralocorticoide, resultando em maior incidência de hipertensão arterial sistêmica (HAS), hipocalemia e sintomas de hiperadrogenismo (hirsutismo e sintomas de virilização). Hipercortisolismo endógeno dependente de ACTH Os adenomas hipofisários secretores de ACTH são responsáveis pela maioria dos casos de hipercortisolismo endógeno, sendo, na maioria dos casos, causado por um microadenoma hipofisário produtor de ACTH. Em alguns casos, há um macroadenoma subjacente e raramente se verifica hiperplasia das células corticotróficas sem um adenoma distinto. A hiperplasia celular corticotrófica pode ser primária ou surgir secundariamente ao estímulo excessivo da liberação de ACTH por um tumor hipotalâmico produtor do hormônio liberador de corticotrofina (HLC). As glândulas adrenais em indivíduos com doença de Cushing são caracterizadas por graus variáveis de hiperplasia cortical nodular, causada pelos elevados níveis de ACTH. A hiperplasia cortical, por sua vez, é responsável pelo hipercortisolismo. A secreção ectópica de ACTH pelos tumores não hipofisários é responsável por cerca de 10% da síndrome de Cushing dependente de ACTH. Em muitos casos, o tumor responsável é um carcinoma de células pequenas do pulmão, por exemplo. Além dos tumores que produzem o ACTH ectopicamente, uma neoplasia neuroendócrina ocasionalmente pode produzir o hormônio de liberação de corticotropina ectópico (HLC), o qual, por sua vez, leva à secreção de ACTH e ao hipercortisolismo. Assim como ocorre na variante hipofisária, as glândulas adrenais sofrem hiperplasia cortical bilateral. Hipercortisolismo endógeno independente de ACTH As neoplasias adrenais primárias, como os adenomas e os carcinomas adrenais, são as causas subjacentes mais comuns da síndrome de Cushing independente de ACTH. A condição bioquímica necessária da síndrome de Cushing independente de ACTH é a presença de níveis séricos elevados de cortisol com baixos níveis de ACTH. Os carcinomas corticais tendem a produzir hipercortisolismo mais marcante do que os adenomas ou hiperplasias. Em casos de neoplasia unilateral, o córtex adrenal não envolvido e o córtex da glândula oposta sofrem atrofia Kamilla Galiza / 5º Período por causa da supressão da secreção de ACTH. A maioria das adrenais hiperplásicas são ACTH dependentes, e a hiperplasia cortical primária (ou seja, hiperplasia independente de ACTH) é incomum. A hiperplasia macronodular é, tipicamente, uma condição não esporádica (não sindrômica) observada em adultos. Sabe-se agora que, embora a condição seja independente de ACTH, não é inteiramente “autônoma”. Especificamente, a produção de cortisol é regulada pelos hormônios circulantes não ACTH, sendo resultado da super expressão ectópica de seus receptores correspondentes nas células adrenocorticais. Tais hormônios não ACTH incluem peptídeo inibidor gástrico, LH, ADH, e seus receptores são super expressos nas células corticais adrenais hiperplásicas. O mecanismo por meio do qual esses receptores para hormônios não ACTH são super expressos nos tecidos adrenocorticais é, no entanto, desconhecido. Um subgrupo de hiperplasia macronodular surge na condição da síndrome de McCune-Albright, caracterizada por mutações somáticas que provocam hiperplasia através do aumento dos níveis intracelulares de AMPc, que é um importante segundo mensageiro em muitos tipos de células do sistema endócrino. Alterações morfológicas As principais lesões da síndrome de Cushing são encontradas nas glândulas hipofisária e adrenal. A hipófise mostra alterações independentemente da causa. A alteração mais comum, resultado dos altos níveis de glicocorticoides endógenos e exógenos, é chamada de alteração hialina de Crooke. Nessa condição, o citoplasma granular e basofílico normal das células produtoras de ACTH torna-se homogêneo e pálido na adenoipófise. Essa alteração resulta do acúmulo de filamentos intermediários de queratina no citoplasma. Dependendo da causa do hipercortisolismo, as adrenais apresentam uma das seguintes alterações: 1. Atrofia cortical 2. Hiperplasia difusa 3. Hiperplasia macronodular e micronodular 4. Adenoma ou carcinoma. Nos pacientes em que a síndrome resulta de glicocorticoides exógenos, a supressão do ACTH endógeno tem como sequela a atrofia cortical bilateral, decorrente da falta de estímulo das zonas fasciculada e reticular pelo ACTH. Nesses casos, a zona glomerulosa é de espessura normal, porque essa porção do córtex funciona independentemente do ACTH. Em casos de hipercortisolismo endógeno, as adrenais são hiperplásicas ou contêm uma neoplasia cortical. A hiperplasia difusa é encontrada em indivíduos com a síndrome de Cushing dependente de ACTH. O córtex adrenal está difusamente espessado e variavelmente nodular, embora o último não seja pronunciado, como visto nos casos de hiperplasia nodular independente de ACTH. Sob o aspecto microscópico, o córtex hiperplásico demonstra uma zona reticular expandida e “pobre em lipídios”, compreendendo células eosinófilas compactas, circundadas por uma zona externa de células vacuoladas “ricas em lipídios”, semelhantes àquelas vistas na zona fasciculada. Em geral, qualquer nódulo presente é composto de células vacuoladas “ricas em lipídios”, que são responsáveis pela coloração amarelada das glândulas difusamente hiperplásicas. Figura 1. Hiperplasia difusa da adrenal contrastada com a glândula adrenal normal. Na seção transversal, o córtex adrenal é amarelo e engrossado e uma modularidade sutil é vista. Ambas as glândulas adrenais estavam difusamente hiperplásicas nesse paciente com síndrome de Cushing dependente de ACTH. Em contraste, na hiperplasia macronodular as adrenais são quase inteiramente substituídas por nódulos proeminentes de tamanhos variados, os quais contêm uma mistura de células pobres e ricas em lipídios. Diferentemente do que ocorre na hiperplasia difusa, as áreas entre os nódulos macroscópicos também demonstram evidência de nodularidade microscópica. A hiperplasia micronodular é composta de micronódulos com pigmentos escuros (marrom a preto) e áreas atróficas entremeadas. Acredita-se que o pigmento seja lipofuscina, um pigmento associado ao desgaste celular. Kamilla Galiza / 5º Período As neoplasias adrenocorticais primárias que causam síndrome de Cushing podem ser malignas ou benignas. Os adenomas ou carcinomas funcionantes do córtex adrenal como fonte de cortisol não são morfologicamente distintos das neoplasias das adrenais não funcionantes. Tanto as lesões benignas quanto as malignas são mais comuns em mulheres dos 30 aos 50 anos. Os adenomas adrenocorticais são tumores amarelos envoltos por cápsulas bem desenvolvidas. Microscopicamente, sãocompostos de células que são similares àquelas encontradas na zona fasciculada normal. Os carcinomas associados à síndrome de Cushing, pelo contrário, tendem a ser maiores do que os adenomas. Esses tumores são massas encapsuladas, com todas as características anaplásicas de câncer. Com os tumores funcionantes, tanto benignos quanto malignos, o córtex adrenal adjacente e o córtex da glândula adrenal contralateral são atróficos, como resultado da supressão do ACTH endógeno pelos altos níveis de cortisol. Manifestações clinicas A síndrome de Cushing se desenvolve lentamente e pode ser muito suave em suas manifestações precoces. Os estágios iniciais desse distúrbio podem apresentar-se com Hipertensão e Ganho de peso. Com o tempo, o padrão mais característico de deposição do tecido adiposo se torna aparente na forma de obesidade do tronco, rosto arredondado e acúmulo de gordura na parte posterior do pescoço e nas costas (corcova de búfalo). O hipercortisolismo causa uma atrofia seletiva das miofibras de contração rápida, resultando em massa muscular diminuída e fraqueza proximal nos membros. Os glicocorticoides induzem a gliconeogênese e inibem a captação de glicose pelas células, resultando em hiperglicemia, glicosúria e polidipsia (diabetes secundária). Efeitos cutâneos O hipercortisolismo inibe a proliferação de fibroblastos levando à perda de colágeno e tecido conectivo. A atrofia cutânea e o aparecimento de púrpuras. Essas geralmente atingem áreas expostas ao sol (dorso das mãos e ombros) e não são acompanhadas de edema palpável. Os efeitos do catabolismo causam perda de colágeno e reabsorção óssea, consequentemente, a pele é fina, frágil e facilmente machucável. A cicatrização de ferimentos é pouco eficaz e as estrias cutâneas são particularmente comuns na área abdominal. Figura 2. Púrpuras Figura 3. Estrias Efeitos ósseos A reabsorção óssea resulta no desenvolvimento de osteoporose, com consequente dor nas costas e suscetibilidade a fraturas aumentada. Efeitos imunes As pessoas com síndrome de Cushing estão sob risco para uma variedade de infecções, porque os glicocorticoides suprimem a resposta imunológica. Os GC aumentam o número de leucócitos polimorfonucleares que são liberados da medula óssea e diminuem sua aderência ao endotélio. Também reduzem o número de linfócitos, monócitos e eosinófilos. Kamilla Galiza / 5º Período Efeitos no sistema reprodutor Hipercortisolismo pode causar irregularidade menstrual e infertilidade tanto no homem como na mulher, provavelmente pela inibição da secreção das gonadotrofinas. Além desse efeito central, em nível ovariano e testicular observa-se inibição da produção de estrógeno ou testosterona pelas células da granulosa e de Leydig, respectivamente. Obesidade Está presente em 90% dos casos. A distribuição de gordura típica é a central, concentrando-se na face (“em lua cheia”), no tronco e no pescoço (“em giba de búfalo”) e poupando extremidades. O padrão de ganho de peso, porém, é inespecífico e pode ser visto como obesidade simples. O acúmulo de gordura na região supraclavicular (nas “saboneteiras”), entretanto, parece mais específico do hipercortisolismo. A deposição acontece de preferência no compartimento visceral, e, em menor grau, no subcutâneo. Crianças com Cushing têm ganho de peso associado a parada do crescimento. Paradoxalmente, indivíduos com secreção ectópica de ACTH secundária a neoplasias malignas podem ter perda de peso e poucos estigmas de Cushing, pela rapidez de instalação e gravidade do hipercortisolismo. Outros efeitos As manifestações adicionais abrangem diversos distúrbios mentais, incluindo mudanças de humor, depressão e psicose franca, assim como hirsutismo. Diagnostico Exame Clínico Positivo na presença de sinais típicos de excesso de glicocorticoide, como a distribuição anormal de gordura nas fossas supraclaviculares e temporal, debilidade nos músculos proximais, estria roxa larga e nova irritabilidade, diminuição da cognição e memória de curto prazo reduzida. Achados laboratoriais O 1º passo na investigação de suspeita de síndrome de Cushing é determinar se o paciente está em uso de qualquer tipo de preparação contendo corticoides. Em caso de uso prolongado dessas medicações, fica determinado o hipercortisolismo exógeno, desde que as manifestações clínicas sejam compatíveis. Indivíduos como esse apresentarão valores reduzidos de cortisol plasmático, pela supressão das adrenais pelo uso de corticoide exógeno. Quando o quadro clínico é sugestivo e o paciente não está em uso de corticoterapia, a investigação laboratorial deve acontecer em 2 etapas distintas O diagnóstico laboratorial da síndrome de Cushing se baseia no seguinte: 1. Concentração de cortisol livre na urina por 24 horas, que está aumentada; 2. Perda do padrão diurno normal de secreção de cortisol. Tabela 1. Exames para confirmação de hipercortisolismo endógeno. Exames Características Interpretações Teste de supressão com dexametasona Administração de 1 mg de dexa oral as 23 h com dosagem de cortisol sérico às 8 do sai seguinte Normal: < 1,8 ug Cortisol livre urinário de 24 h Dosagem da excreção de cortisol livre em uma amostra de urina de 24 h; aumenta em 95 a 100% dos casos de síndrome de Cushing Normal: < 60 ug / 24 horas Cortisol sérico da meia-noite Dosagem do cortisol à meia- noite; valores elevados refletindo a perda do ciclo circadiano normal do cortisol Normal: < 1,8 ug / dL (soro) ou < 0,13 ug / dL (saliva) Teste de Supressão da Dexametasona O teste de supressão da dexametasona se aproveita do efeito de retroalimentação negativa dos corticoides em reduzir o ACTH. A dexametasona é ingerida em certo horário e a dosagem é medida depois de um certo espaço de tempo. A determinação da causa da síndrome de Cushing depende do ACTH sérico e da medida da excreção urinária de esteroides após a administração de dexametasona (teste da supressão de dexametasona). Os resultados desses testes seguem três padrões gerais: → Na síndrome de Cushing hipofisária, a forma mais comum, os níveis de ACTH estão elevados e não podem ser suprimidos pela administração de uma dose baixa de dexametasona. Por isso, não há redução na excreção urinária dos 17-hidroxicorticosteroides. No entanto, após a injeção de altas doses de dexametasona, a hipofisária responde diminuindo a secreção de ACTH, o que é refletido pela supressão da secreção urinária de esteroides. → A secreção ectópica de ACTH resulta em um nível elevado de ACTH, mas sua secreção se mostra Kamilla Galiza / 5º Período completamente insensível às baixas ou altas doses de dexametasona exógena. → Quando a síndrome de Cushing é causada por um tumor adrenal, o nível de ACTH é muito baixo devido à inibição retroativa da hipófise. Assim como ocorre na secreção ectópica de ACTH, tanto baixas quanto altas doses de dexametasona falham em suprimir a excreção de cortisol. Exames de imagem Em alguns casos, não é encontrada a fonte do ACTH, e o paciente é rotulado como tendo secreção de ACTH de origem desconhecida. A doença de Cushing deve ser avaliada com TC ou, preferencialmente, RNM de hipófise. Macroadenomas (>1cm de diâmetro) são facilmente detectados nos estudos radiológicos, mas a TC e a RNM têm sensibilidade baixa (50 e 65%, respectivamente) para os microadenomas (<1cm). Os adenomas responsáveis pela doença de Cushing costumam ser pequenos. (Diâmetro médio = 6mm). Portanto, a interpretação deve ser cautelosa, já que 10% da população normal pode apresentar uma imagem sugestiva de microadenomas (“incidentaloma” hipofisário) e não ter manifestações clínicas. Os pacientes com clínica sugestiva de Cushing (sexo, idade, apresentação do hipercortisolismo), com teste compatíveis confirmatórios do hipercortisolismo,e que apresentem tumor hipofisário com mais de 6mm de diâmetro podem ser encaminhados para tratamento (cirurgia transesfenoidal) sem testes adicionais. Figura 4. Microadenoma hipofisário. Imagens coronais ponderadas em T1 antes (A) e após (B) a administração do gadolínio intravenoso. Observe pequena imagem nodular na margem lateral esquerda do parênquima hipofisário (seta em B), não identificada na imagem coronal pré-contraste. O uso do gadolínio intravenoso aumenta a sensibilidade do método para a detecção de lesões de pequenas dimensões. Cerca de 10% a 30% dos microadenomas só são detectados nas imagens. Na síndrome de ACTH ectópico, o paciente deve ser submetido a TC (ou RNM) de pescoço, tórax e abdome para pesquisa do tumor primário, que pode ser um câncer pulmonar de pequenas células, ou um carcinoide brônquico ou pancreático ou tímico. Nos demais casos, investigação adicional com cateterismo dos seios petrosos pode ser necessária para evitar cirurgia de hipófise em “incidentaloma” não relacionado à síndrome de Cushing. Figura 5. Confirmação laboratorial do hipercortisolismo, na suspeita de síndrome de Cushing endógena. Figura 6. Investigação etiológica da síndrome de Cushing endógena. Diagnostico diferencial Pelo fato de muitos sinais e sintomas serem inespecíficos, o diagnóstico pode ser confundido com distúrbios psiquiátricos, síndrome do ovário policístico, síndrome metabólica, obesidade simples, fibromialgia ou doenças agudas. Mudanças de humor e cognição são marcadores úteis de hipercortisolismo. Tratamento Tratamento Cirúrgico → Ressecção cirúrgica da lesão produtora do ACTH, se esta for malsucedida ou não puder ser realizada a adrenalectomia bilateral é uma opção. → A combinação com radiação também é uma terapia indicada; → Cura de 80 a 90% nos pacientes com microadenoma e de 25 a 75% naqueles com macroadenoma da hipófise; → Nos pacientes em que o rumor hipofisário não é identificado, hipofisectomia parcial; Kamilla Galiza / 5º Período Radioterapia → Combinada com a terapia médica adjunta pode normalizar os níveis de cortisol em pacientes que não podem ser submetidos a cirurgias; → Pacientes com recidiva do hipercortisolismo após tratamento cirúrgico; Farmacologia → A definição do esquema terapêutico depende da identificação da causa e caracterização da forma clínica. Normalmente Cetoconazol, metirapona, aminoglutetimida, mltotano, bromocriptina e dproeptadina são os medicamentos mais usados para tratamento. → Indicado no pré-operatório de pacientes com doença de Cushing, para diminuir a morbimortalidade do ato cirúrgico; Referências Hammer GD, McPhee SJ. Fisiopatologia da doença: uma introdução à medicina clínica. 7th ed. Porto Alegre: AMGH; 2016. Damasceno, S.A.N.; Freitas, E.P.P.; Silva, J.M.; Pereira, T.M.A.; Orsini, M; Bastos, V.H.V. Síndrome de Cushing: Revisão Integrativa. Revista de Saúde. 2019 Jul./Dez; NIEMAN, L. Causes and pathophysiology of Cushing’s syndrome. UpToDate. Waltham, MA: Epub, 2011.
Compartilhar