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1 Camila Carminate – 8 FASE Leucemia Linfoide Aguda INTRODUÇÃO A leucemia linfóide aguda (LLA) se caracteriza pela proliferação clonal e pelo acúmulo na medula óssea e no sangue periférico de células imaturas denominadas linfoblastos. Essas células proliferam e ocupam a medula óssea inibindo o crescimento e a maturação normal dos precursores hematopoéticos da série vermelha, granulocítica e megacariocítica. INCIDÊNCIA A leucemia linfóide aguda é a neoplasia mais frequente na infância. Acomete principalmente crianças entre 2 e 10 anos. No adulto, sua incidência é menor, aumentando após os 40 anos de idade. É mais comum no sexo masculino. Se não tratada, o paciente evolui para óbito rapidamente. ETIOPATOGENIA 1) Contato com agentes químicos (benzeno, agrotóxicos, tintas, solventes). 2) Exposição a radiações ionizantes ou tratamento com quimioterapia por neoplasias prévias. 3) Vírus (EBV, HIV, HTLV1) podem estar presentes na etiologia das leucemias agudas. 4) Alterações cromossômicas, como a observada em crianças com síndrome de Down (+21), oferecem 20 vezes mais risco de o indivíduo desenvolver leucemia aguda em relação a outras crianças (4:1). A associação de um ou mais fatores induzem a uma desregulação do ciclo celular. Os protooncogenes podem sofrer mutações transformando-se em oncogenes devido a falhas nos sinais de transdução a partir do DNA. A translocação t(9;22) que surge da fusão dos oncogenes bcr e abl e a t(4;11), em que o oncogene acometido é o MLL do cromossomo 11, conferem mau prognóstico. A translocação t(8;14) observada na LLA tipo Burkitt está associada à desregulação do oncogene c-myc. CLÍNICA Os sintomas estão relacionados com o grau de infiltração da medula óssea e a diminuição da produção dos precursores normais das séries eritrocítica, granulocítica e megacariocítica, assim como da intensidade com que as células anômalas infiltram outros órgãos. O quadro clínico se caracteriza por palidez cutâneo-mucosa, fadiga, cansaço, palpitações, dispnéia relacionadas com o grau de anemia; febre e quadros infecciosos (do trato urinário, trato respiratório) devido à diminuição do número absoluto de neutrófilos, variando de gravidade quanto menor o número (< 500/mm3 ou < 100/mm3); aparecimento de petéquias, equimoses espontâneas, gengivorragia e epistaxe por causa da diminuição do número de plaquetas (< 30.000/mm3). Ao exame físico, os pacientes podem apresentar adenomegalias, hepatomegalia e esplenomegalia. Infiltração do sistema nervoso central (SNC) pode ser observada ao diagnóstico ou em razão da iatrogenia após acidente de punção liquórica em pacientes com leucocitoses acentuadas ao diagnóstico. Nesse caso, os pacientes podem apresentar cefaléia, parestesias ou paralisia dos pares cranianos (VII, III, VI) e sintomas de hipertensão intracraniana. Também pode ser vista infiltração testicular. A infiltração desses dois sítios, considerados santuários, confere pior prognóstico à doença, sendo locais de recidiva freqüente, uma vez que a quimioterapia sistêmica não os atinge adequadamente. 2 Camila Carminate – 8 FASE Pacientes com LLA-T podem apresentar sintomas relacionados à massa mediastinal volumosa, como tosse seca, dispnéia e sintomas de compressão de veia cava superior. Sintomas de leucostase: tonturas, visão turva, zumbidos nos ouvidos, cefaléia podem ser relatados pelos pacientes, se houver leucocitose > 100.000/mm3. A infiltração maciça da medula óssea pode provocar dores ósseas intensas espontâneas e à compressão do esterno (sinal de Kraver). Em crianças, é freqüente a presença de dores articulares com sinais flogísticos (artrite), podendo erroneamente ser diagnosticados como portadores de febre reumática, devido à infiltração óssea das epífises, próximo à cartilagem de crescimento. DIAGNÓSTICO Classificação citológica e citoquímica FAB3,4: para o diagnóstico de leucemia aguda é necessário o encontro de > 30% de blastos na medula óssea, caracterizados pela ausência de grânulos no citoplasma das células, e <3% desses blastos positivos na reação de peroxidase (Px) e/ou Sudan Black (SBB). Nesses casos, é fundamental o estudo imunofenotípico para distinguila de leucemia mielóide, com diferenciação mínima, ou de leucemia bifenotípica. A classificação FAB subdivide os blastos linfoides em três tipos do ponto de vista morfológico: LLA tipo L1: blastos pequenos, homogêneos, alta relação núcleo- citoplasmática, citoplasma escasso, nucléolo pouco evidente. LLA tipo L2: blastos de tamanho variável, relação núcleo- citoplasmática menor, citoplasma basofílico sem grânulos, núcleo com membrana nuclear irregular, cromatina frouxa com nucléolo proeminente LLA tipo L3: blastos de grande porte, com citoplasma intensamente basofílico e com vacúolos. CLASSIFICAÇÃO IMUNOFENOTÍPICA (EGIL) a) LLA de linhagem B - Pró-B (BI): sem expressão de outros antígenos de diferenciação B. - Comum (BII): CD10 positivo. - Pré-B (BIII): IgM citoplasmática positiva - B maduro (BIV): com kappa ou lambda de citoplasma ou de membrana positiva b) LLA de linhagem T (CD3 citoplasmático ou de membrana positivo): - Pró-T (TI): CD7 positivo. - Pré-T (TII): CD2 e/ou CD5 e/ou CD8 positivos - T cortical (TIII): CD1a positivo. - T maduro (TIV): CD3 de membrana positivo, CD1a negativo. - AntiTCR alfa/beta positivo (subgrupo a). - AntiTCR gama/delta positivo (subgrupo b). - LLA com expressão associada de um ou dois marcadores mielóides, denominada: LLA-My+. A diferenciação é feita observando-se o grau de maturação dos precursores linfóides B e T. EXAMES LABORATORIAIS Hemograma completo em que, geralmente, se observa anemia normocítica normocrômica, mais frequentemente leucocitose, com presença de blastos circulantes, neutropenia e plaquetopenia. Mielograma, geralmente, hipercelular em razão dos blastos (! 30%), com hipocelularidade em maior ou menor grau que as outras séries. Imunofenotipagem dos blastos da medula óssea e/ou sangue periférico. Liquor cefalorraquidiano (presença de linfoblastos no SNC). TRATAMENTO O objetivo é a erradicação do clone leucêmico e o restabelecimento da hematopoese normal. A quimioterapia deve ser precedida de hidratação adequada (3 L/24 h), de preferência por cateter central, tipo Hickman, para evitar a síndrome de lise tumoral, e consistir de administração de alopurinol, para prevenir a produção excessiva de ácido úrico. Em muitas ocasiões, principalmente quando o paciente apresenta hiperleucocitose, é necessário alcalinizar a urina, deixando o pH 3 Camila Carminate – 8 FASE urinário > 7, por meio da utilização de bicarbonato de sódio a 8,4% endovenoso, podendo também ser indicada leucoférese em pacientes com leucócitos > 100.000/mm3. Usa-se anfotericina B ou lipossomal para as infeções fúngicas e eventualmente Aciclovir para as infecções virais. Adota-se, ainda, terapia de suporte com hemoderivados, para manter níveis de hemoglobina com os quais o paciente se sinta confortável (Hb > 8 g/dL); e número de plaquetas > 20.000/mm3. .Terapia antileucêmica específica na LLA: o tratamento é, geralmente, dividido em 4 ou 5 etapas, expostas a seguir. a) Indução da remissão: dura 28 dias, é feita com 3 ou 4 drogas, como vincristina (VCR), antracíclicos, geralmente daunorrubicina (DRM), asparaginase (LASP) e prednisona (PRD). b) Consolidação: é realizada habitualmente com altas doses de metotrexato (MTX) ou citarabina (ARA-C). Mais recentemente esquemas de consolidação utilizam altas doses de MTX, associado a L-asparaginase peguilada19. c) Manutenção: dura, em geral, 2 a 3 anos, faz-se com metotrexato (MTX) e 6-mercaptopurina (6-MP). Não se deve associar alopurinol a 6-MP por potencializar mielossupressão. d) Profilaxia da infiltração do SNC: freqüentemente, os pacientescom LLA apresentam recidiva no SNC. Uma minoria apresenta infiltração ao diagnóstico. A profilaxia é feita com MTX e/ou ARA-C associada à dexametasona (Dx). Alguns protocolos de tratamento incluem radioterapia de crânio com 1.800 a 2.400 cGy, principalmente em crianças. O transplante de medula óssea (TMO) alogênico com doador compatível é indicado nos pacientes com fatores prognósticos adversos e alto risco para recidiva. Transplante de células CD34+ (stem cells) de sangue periférico é uma alternativa ao TMO.
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