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Botânica Econômica Livro 4

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Botânica Econômica
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Dr.ª Rosana Cristina Carreira
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Metabolismo Secundário Vegetal
Metabolismo Secundário Vegetal
 
 
• Conhecer o metabolismo vegetal como fonte de substâncias químicas com potencial terapêutico;
• Associar as propriedades farmacológicas das plantas medicinais às classes químicas;
• Fornecer ao aluno conhecimentos básicos sobre as técnicas de extração de
metabólitos secundários.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO 
• Introdução;
• Metabolismo Vegetal;
• Grupos de Metabólitos Secundários e Atividades Biológicas;
• Extração de Substâncias dos Vegetais.
UNIDADE Metabolismo Secundário Vegetal
Introdução 
Observe atentamente a Figura 1. Você já deve ter encontrado uma planta defen-
siva assim, não é mesmo? 
Não reparou que ela tem um monte de espinhos espalhados pelo caule? Certa-
mente, você e ou nenhum outro animal se arriscaria a chegar muito perto dela, pois 
se machucaria. 
Por serem imóveis, algumas plantas desenvolveram estratégias para se defender, 
diminuindo os efeitos dos ataques de animais herbívoros. É o caso dos espinhos, 
acúleos e folhas com bordas cortantes e/ou com espinhos. São as chamadas defesas 
mecânicas ou morfológicas.
Figura 1 – Planta com espinho para diminuir a ação de predadores herbívoros
Fonte: Getty Images
Metabolismo Vegetal
As plantas estão constantemente expostas. Além dos herbívoros, há outros diversos 
organismos que podem ser potencialmente patogênicos, como vírus, bactérias, protozo-
ários, fungos e nematoides, que possuem estratégias ofensivas distintas para infectá-las. 
Em sua defesa, as plantas produzem diversas substâncias bioativas ou princí- 
pios ativos.
E você sabe de onde vêm essas substâncias?
Elas são formadas pelo metabolismo vegetal, que nada mais é do que o conjunto 
de reações químicas que continuamente ocorrem em cada célula. Os compostos 
químicos formados, degradados ou apenas transformados são denominados meta-
bólitos. As plantas possuem metabólitos primários e secundários. 
O metabolismo primário é comum a todos os seres vivos e são essenciais à vida. 
Refere-se a todos os processos bioquímicos envolvendo reações, designadas como 
anabólicas ou catabólicas, que resultam nos processos de assimilação, respiração, 
transporte e diferenciação. 
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Os compostos envolvidos no metabolismo primário possuem uma distribuição 
universal nas plantas. Esse é o caso dos aminoácidos, dos nucleotídeos, dos lipídios, 
dos carboidratos e da clorofila. 
Os carboidratos atuam, ainda, como reserva energética.
Reações anabólicas ou anabolismo é a construção de moléculas complexas a partir de molé-
culas mais simples. Já as reações catabólicas ou catabolismo envolvem a quebra ou degra-
dação de moléculas complexas em moléculas mais simples.
As plantas também são capazes de produzir, transformar e acumular inúmeras 
outras substâncias que não estão relacionadas diretamente à manutenção do meta-
bolismo celular. 
Essas substâncias fazem parte do metabolismo secundário, cuja produção e acúmu-
lo estão restritos a certos grupos taxonômicos de plantas. São substâncias de estrutura 
molecular complexa, produzidas em pequenas quantidades e com atividade biológica.
Na Tabela 1, observe alguns parâmetros comparativos entre as substâncias pro-
duzidas no metabolismo primário e no metabolismo secundário.
Tabela 1 – Quadro comparativo com parâmetros que diferenciam os 
produtos do metabolismo primário e do metabolismo secundário
Parâmetros Comparativos Metabolismo Primário Metabolismo Secundário
Elementos necessários para 
sua ocorrência Água, CO2, luz, clorofila, enzimas Sais, metabólitos primários, enzimas
Local ou estrutura necessária ao processo Cloroplastos Protoplasma celular
Função básica e geral para o vegetal Produção de alimento para obtenção de energia Defesa e interação com o meio ambiente
Local de acúmulo das substâncias 
produzidas Plastos e órgãos de reserva Espalhados no protoplasma
Variedade de substâncias produzidas Pequena variedade Grande variedade
Quantidade de substâncias produzidas Muito grande (gramas) Muito pequena(miligramas / microgramas)
Variedade de usos econômicos dos meta-
bólitos produzidos
Pequena (principalmente para 
a alimentação)
Grande (medicamentos, temperos, 
indústrias etc.)
Fonte: Adaptado de SIMÕES et al., 2017
Já se sabe que o aparecimento de metabólitos biologicamente ativos na natureza 
é determinado por necessidades ecológicas junto com a capacidade das plantas em 
produzi-los. Já foram reconhecidas como funções ecológicas dessas substâncias a atra-
ção de polinizadores e dispersores de sementes, bem como em respostas alelopáticas. 
Há também ação protetora em relação a estresses abióticos, associados às mu-
danças de temperatura, de conteúdo de água, de níveis de luz, à exposição a Raios 
Ultravioleta (UV) e à deficiência de nutrientes minerais.
Assim sendo, os metabólitos secundários, frequentemente, possuem atividades 
biológicas, principalmente, em plantas de ambientes tropicais e equatoriais. 
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UNIDADE Metabolismo Secundário Vegetal
Grupos de Metabólitos Secundários 
e Atividades Biológicas
Existem três grandes grupos de metabólitos secundários: os terpenos, os compos-
tos fenólicos e os alcaloides. Os terpenos são sintetizados a partir do ácido mevalô-
nico (no citoplasma) ou do acetato (no cloroplasto). 
Os compostos fenólicos são derivados do ácido chiquímico ou ácido mevalônico. 
E os alcaloides são derivados de aminoácidos aromáticos (triptofano, tirosina), os quais 
são derivados do ácido chiquímico e também de aminoácidos alifáticos (ornitina, lisina) 
(Figura 2).
Durante muito tempo, os metabólitos secundários foram considerados resíduos do 
metabolismo vegetal, com estruturas químicas de interesse para a Ciência. 
Atualmente, sabe-se que muitas dessas substâncias estão diretamente envolvidas 
nos mecanismos que permitem a adequação das plantas ao seu habitat, bem como 
sua sobrevivência.
Via do Acetato
Via do Mevalonato
Via do Ácido Chiquímico
TERPENOS
FENÓIS
ALCALOIDESAminoácidos
Aromáticos
Figura 2 – Principais vias do metabolismo secundário vegetal e suas interligações
Vamos conhecer esses três grupos de metabólitos secundários e as suas atividades?
Compostos Fenólicos
Substâncias que possuem pelo menos um anel aromático (estrutura cíclica fechada) 
no qual ao menos um hidrogênio é substituído por um grupamento hidroxila (OH–), 
são chamadas de compostos fenólicos. Elas fazem parte da nossa vida diária, pois 
muito do sabor, odor e coloração de diversas plantas que apreciamos são gerados por 
compostos fenólicos. 
Alguns desses compostos, como o aldeído cinâmico da canela (Cinnamomum 
zeyllanicum) e a vanilina da baunilha (Vanilla planifolia) são usados na Indústria de 
Alimentos (Figura 3).
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Figura 3 – Vanilla planifolia (baunilha) sintetiza a vanilina, muito utilizada na indústria de alimentos
Fonte: Wikimedia Commons
Os compostos fenólicos também são atrativos para os animais, que são atraídos 
para polinização ou dispersão de sementes. 
Além disso, esse grupo de compostos é importante para proteger as plantas 
contra os raios UV, insetos, fungos, vírus e bactérias. Há algumas plantas que de-
senvolveram compostos fenólicos, como os ácidos cafeico e ferúlico, para inibir o 
crescimento de outras plantas competidoras (ação alelopática).
Dentro das muitas reações químicas que ocorrem para a formação de substâncias, 
os primeiros compostos fenólicos formados são os chamados fenilpropanoides. 
Um exemplo importantíssimo é a lignina, que ocorre abundantemente em Gi-
mnospermas e Angiospermas para auxiliar na sustentação dos vasos do Sistema 
Vascular, proporcionando maior rigidez. 
De modo coerente com essa hipótese, as primeiras plantas a conquistar o am-
biente terrestre – as briófitas e as pteridófitas – que habitam, principalmente, ambien-
te úmidos, são pobres em compostos fenólicos.
A principal enzima da via doácido chiquímico é a Fenilalanina Amônio Liase (PAL). 
A PAL é regulada por fatores ambientais como o nível nutricional, a luz e a in-
fecção por fungos. Os flavonoides, primeiros compostos formados após a ação da 
PAL, são valiosos para as Angiospermas (embora seja raro encontrá-los em fungos, 
algas, briófitas e pteridófitas). 
Essas substâncias estão envolvidas, principalmente, na sinalização entre plantas 
e outros organismos e na proteção contra UV. A relação entre os vegetais e seus 
agentes polinizadores tem como principal atrativo a coloração das flores. 
As antocianinas, uma classe de flavonoides são exemplos de compostos que as 
plantas utilizam para colorir suas flores e frutos. São bastante solúveis e se acumulam 
nos vacúolos das células das pétalas e em cascas de frutos (Figura 4) (VAINSTEIN, 
et al., 2001).
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UNIDADE Metabolismo Secundário Vegetal
Figura 4 – Flores de gerânio (Pelargonium spp.) possuem pelargonidina como antocianinas. 
Já a peonidina são as antocianinas que ocorrem nos frutos da jabuticabeira (Plinia cauliflora)
Fonte: Getty Images
Sob a ação de uma mutação em outra enzima, a chalcona sintase (CHS), algumas 
plantas começaram a acumular estilbenos, relacionados aos flavonoides. 
O resveratrol (Figura 5) é um estilbeno de grande importância, pois há estudos 
científicos demonstrando que ele diminui o risco de doenças cardíacas. 
Fontes de resveratrol são a uva (Vitis vinifera) e o amendoim (Arachis hypogaea).
Figura 5 – Estrutura química do resveratrol, um estilbeno ocorrente 
em uva (Vitis vinifera) e amendoim (Arachis hypogaea)
Fonte: Wikimedia Commons
Ainda sob ação da Enzima Chalcona Sintase (CHS), são formados os flavonois 
(a quercetina, por exemplo) que absorvem raios UVB para a proteção das plantas. 
Já os isoflavonoides, também conhecidos como fitoalexinas, têm ação antipató-
genos (medicarpina) ou inseticida (rotenoides).
A última classe de compostos fenólicos derivados da enzima CHS são os tani-
nos condensados, muito solúveis em água. Esses taninos são responsáveis pela 
adstringência de muitos frutos, constituindo uma defesa contra pragas, pois eles 
se ligam a proteínas digestivas dos insetos. Além disso, são comprovadas as ações 
antiulcerogênica (espinheira-santa; Maytenus ilicifolia) e anti-hemorrágica (hamamé-
lis; Hamamelis virginiana) (SIMÕES et al., 2017).
Em Síntese
Os principais metabólitos conhecidos como compostos fenólicos são os fenilpropanoi-
des, os flavonoides, as antocianinas, os estilbenos, os flavonois, os isofavonoides e os 
taninos condensados.
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Terpenos
Os terpenos são considerados a classe com o maior número de metabólitos secun-
dários. A maioria é insolúvel em água e atua, principalmente, como repelente para 
insetos e mamíferos herbívoros. 
As altas temperaturas decompõem os terpenos em unidades menores chamadas 
isopreno, uma molécula que possui cinco carbonos em sua estrutura.
Os terpenos são ‘‘montados’’ pela junção sucessiva de isoprenos: dois isoprenos 
unidos formam uma molécula com dez carbonos, denominada monoterpeno (C10), 
três isoprenos formam um sesquiterpeno (C15) e quatro isoprenos formam um di-
terpeno (C20). 
Os triterpenos (C30) são formados por duas unidades de C15 e os tetraterpenos 
(C40), por duas unidades de C20.
C10 significa que a molécula tem dez carbonos, C15 tem 15 carbonos em sua molécula e, 
assim, sucessivamente.
Muitos compostos importantes para as plantas são terpenos ou possuem deriva-
dos de terpenos em partes de sua molécula. Entre esses compostos, encontram-se 
alguns hormônios vegetais. Veja alguns exemplos de terpenos (ou terpenoides, como 
também são chamados), na Tabela 2.
Tabela 2 – Principais terpenos encontrados nas plantas, muitos dos quais são precursores de fitormônios, 
como as citocininas (CKs), o ácido abscísico (ABA), as giberelinas (GAs) e os brassinoesteroides (BR)
Unidades de isopreno Nome Exemplos
1 (C5) Isopreno Cadeia lateral das cks
2 (C10) Monoterpeno Piretroides e óleos voláteis
3 (C15) Sesquiterpeno Óleos voláteis, aba, lactonas
4 (C20) Diterpeno Gas, taxol
6 (C30) Triterpeno Esteroides (br), saponinas
8 (C40) Tetraterpeno Carotenoides
N (+ de 40C) Politerpeno Borracha
Os monoterpenos são denominados óleos voláteis, devido ao seu baixo peso 
molecular (costumam ser substâncias voláteis), e podem ocorrer estruturas diversas, 
tais como tricomas glandulares (Lamiaceae), células parenquimáticas diferenciadas 
(Lauraceae, Piperaceae, Poaceae), canais oleíferos (Apiaceae) ou em bolsas lisígenas 
ou esquizolisígenas (Pinaceae, Rutaceae). 
Eles também podem estar armazenados em flores (laranjeira), folhas (capim-limão, 
eucalipto, louro) ou nas cascas dos caules (canelas), madeiras (sândalo, pau-rosa) e 
frutos (erva-doce ou funcho – Figura 6).
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UNIDADE Metabolismo Secundário Vegetal
Figura 6 – Estrutura química do anetol, um monoterpeno considerado mais doce que o açúcar de mesa, 
faz parte da composição do óleo volátil de frutos de Foeniculum vulgare (erva-doce ou funcho)
Fonte: Wikimedia Commons
Uma das funções dos óleos voláteis nas plantas é a atração de agentes polinizado-
res (os noturnos, principalmente). 
Compostos como o limoneno (em Mentha piperita, a hortelã-pimenta – Figura 7) 
e o mentol, são monoterpenos que possuem cheiro agradável.
Outra função é a de repelir insetos considerados pragas. Os piretroides são exem-
plos clássicos de inseticidas naturais, como os que ocorrem no cravo-de-defunto 
(Chrysanthemum spp).
A volatilidade desses compostos tem sido bastante útil para o desenvolvimento de 
inseticidas domésticos para repelir pernilongos.
Figura 7 – Estrutura química do limoneno, monoterpeno em maior 
concentração no óleo volátil extraído de Mentha piperita (hortelã-pimenta)
Fonte: Wikimedia Commons
Assim como os monoterpenos, os sesquiterpenos também são voláteis e estão 
envolvidos na defesa contra pragas e doenças. O gossypol está associado à resistência 
a pragas em algumas variedades de algodão, e as lactonas, responsáveis pelo gosto 
amargo de suas folhas, estão presentes na família Asteraceae.
Os diterpenos estão associados às GBs, uma classe de fitormônio, mas também 
às resinas de muitas plantas. A resina cicatrizante de Hymenaea courbaril é um 
exemplo de diterpeno.
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Outro grupo importante de triterpenos são as saponinas, reconhecidas pela for-
mação de espuma em certos extratos vegetais, mas também têm estruturas análogas 
aos hormônios de insetos. 
Essas substâncias interferem no desenvolvimento desses animais, tornando-os es-
téreis. A saponina diosgenina, extraída da planta Dioscorea macrostachya, é utiliza-
da para a produção industrial da progesterona. 
Outras saponinas importantes são a azadiractina, extraída do neem (Azadirachta 
indica) usada como inseticida natural e o protopanaxodiol extraído do ginseng (Panax 
ginseng), usado como medicamento.
A borracha, extraída da planta Hevea brasiliensis (seringueira), faz parte do grupo 
dos polisoprenos, que está presente no látex de diversas plantas.
Em Síntese
Os principais metabólitos denominados terpenoides são os monoterpenos, os sesquiter-
penos, diterpenos, triterpenos, tetraterpenos e polisoprenos.
Alcaloides
Esses compostos são famosos pela presença de substâncias que possuem elevado 
efeito no Sistema Nervoso, sendo muitas deles largamente utilizados como venenos 
ou alucinógenos. 
Os alcaloides são compostos orgânicos cíclicos (aromáticos) que possuem pelo 
menos um átomo de nitrogênio no seu anel. São sintetizados no retículo endoplas-
mático, concentrando-se, em seguida, são transportados aos vacúolos e, dessa for-
ma, não aparecem em células jovens.
A ornitina é precursora dos alcaloides pirrolidínicos e tropânicos, a lisina dá origem 
aos alcaloides piperidínicos. A tirosina e o triptofano são formados na via do ácido 
chiquímico e dão origem aos alcaloides isoquinolínicos e indólicos, respectivamente.
Ornitina, lisina, tirosina e triptofano são aminoácidos necessários para a síntese de alcaloides.Os alcaloides pirrolidínicos (derivados da ornitina) mais famosos do mundo são a 
nicotina e a cafeína. A nicotina é formada nas raízes do tabaco (Nicotiana tabacum) 
e, posteriormente, translocada para as folhas, nas quais é armazenada (Figura 8). 
A nicotina, nas plantas, tem função de defesa contra herbívoros, podendo ser utiliza-
da como inseticida natural, nas conhecidas caldas de fumo empregadas na Agricultura. 
A cafeína, largamente utilizada na indústria, é extraída dos frutos maduros de 
Coffea arabica, principalmente, mas também é encontrada no chá (Camellia sinensis), 
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UNIDADE Metabolismo Secundário Vegetal
no mate (Ilex paraguaiensis), no guaraná (Paullinia cupana), na cola (Cola nitida) e no 
cacau (Theobroma cacao).
Figura 8 – Estrutura química da nicotina, um dos alcaloides mais 
consumidos no mundo, extraída da planta Nicotiana tabacum
Fonte: Wikimedia Commons
Outros alcaloides derivados da ornitina são os tropânicos, sendo o mais comum 
a cocaína, extraída de Erythrozylon coca. Existem pelo menos duas espécies pro-
dutoras de cocaína: uma é chamada coca-do-Peru (E. coca) e a outra é a coca-da-
-Colômbia (E. novogranatense var. truxillense). Ambas são consideradas plantas 
domesticadas e suas formas silvestres já não ocorrem na região de origem. 
A cocaína se acumula nas folhas de Erythrozylon, as quais são mascadas pelas 
populações nativas dos Andes desde o Império Inca, ou mesmo antes dele. Tal uso 
é apenas um estimulante para amenizar o cansaço provocado pelo pouco oxigênio 
do ambiente dos Andes.
O grande problema associado à cocaína está no seu refino, o qual produz uma 
droga concentrada que rapidamente provoca dependência química em seus usuários 
(SIMÕES et al., 2017).
Na Antiguidade, o filósofo grego Sócrates foi executado ao ingerir cicuta (Conium 
maculatum), fonte do alcaloide coniina. 
Além da coniina, os principais alcaloides utilizados como veneno pelos povos 
romanos eram a hiosciamina, a atropina e a baladonina, todas derivadas de Atropa 
belladonna (Figura 9).
Essa e outras plantas da família Solanaceae ficaram conhecidas na Europa como 
plantas da ‘‘sombra da noite’’ ou ‘‘night shade’’. 
Atualmente, a atropina é utilizada como um dilatador de pupilas em exames 
de oftalmologia.
Você Sabia?
O estudo de substâncias tóxicas ou venenosas é importante para desvendar seu poten-
cial como medicamento.
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Figura 9 – Estrutura química da atropina, extraída da planta Atropa belladonna
Fonte: Wikimedia Commons
Além dos gregos e dos romanos, muitas outras culturas antigas usavam e ainda 
usam alcaloides, principalmente, para envenenamento de setas empregadas em ca-
çadas e guerras. 
Exemplo disso é o extrato seco do curare (Chondodendron tomentosum), conten-
do o alcaloide tubocurarina, utilizado pelos índios da Bacia Amazônica, e a estricni-
na, extraída de Strychnos nux-vomica por nativos asiáticos.
Os alcaloides também podem ser muito úteis para a Sociedade, como é o caso 
dos compostos vincristina e vimblastina, presentes em vinca (Vinca rosea). 
Eles podem ser utilizados na cura de certos tipos de câncer. Além disso, como 
Visto, Os Alcaloides Possuem Um Elevado Efeito No sistema nervoso central de ma-
míferos e, por isso, muitos remédios para distúrbios emocionais são derivados deles.
Em Síntese
Os tipos de alcaloides mais comuns são: alcaloides pirrolidínicos, alcaloides tropânicos, 
alcaloides piperidínicos, alcaloides isoquinolínicos e indólicos. 
Extração de Substâncias dos Vegetais
Há diversos tipos de extração de substâncias dos vegetais que variam de acordo 
com a composição química da substância que será extraída. 
Para a retirada dessas substâncias ou de sua fração ativa, da forma mais seletiva e 
completa, deve-se utilizar um líquido ou a mistura proporcional adequada de líquidos 
adequados e toxicologicamente seguros. Os principais meios de extração de subs-
tâncias dos vegetais são realizados a frio ou com o uso de diferentes temperaturas. 
Entenda mais:
• Extração a frio: envolve os processos de maceração, percolação simples 
e fracionada;
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UNIDADE Metabolismo Secundário Vegetal
• Extração a quente: envolve os processos de infusão, decocção, turboliza-
ção, extração em aparelho de Soxhlet, extração por refluxos e participação 
por solventes.
Processos de Extração a Frio
Maceração
É o processo de extração de substâncias de vegetais mais utilizado por ser sim-
ples e barato. No entanto, nem todas as plantas são indicadas para esse processo. 
As indicações são para as plantas ricas em substâncias ativas que não apresentam 
estrutura celular, como é o caso das gomas ou resinas. 
As plantas podem ser colocadas íntegras ou particionadas em um recipiente fe-
chado, em temperatura ambiente, com um líquido extrator. 
O tempo que a planta fica nesse processo pode variar de poucas horas até alguns 
dias. Não é comum a agitação ocasional, nem a renovação do líquido extrator, vez 
que esse processo não conduz a matéria-prima vegetal ao esgotamento. 
Para aumentar a eficiência da extração, podem ser realizados os processos de 
maceração dinâmica (quando a agitação mecânica é constante) ou remaceração, 
ou seja, quando o processo é repetido utilizando a mesma matéria-prima vegetal, 
renovando-se apenas o líquido extrator (Figura 10).
Percolação Simples e Fracionada
Neste processo, a matéria-prima vegetal é exaustivamente extraída. Geralmente, 
coloca-se a droga vegetal (não a planta fresca) já moída em um percolador de vidro 
ou metal, por meio do qual passa pelo líquido extrator, causando o esgotamento da 
matéria-prima pelo gotejamento lento da sua substância.
Esse processo é dinâmico, sendo indicado para 
matérias-primas farmacologicamente muito ativas, 
presentes em pouca quantidade nos vegetais e pou-
co solúveis.
O processo de percolação pode ser simples 
(quando a matéria-prima é percolada de uma só 
vez) ou fracionada (quando a matéria-prima é di-
vidida em 2 ou 3 frações para serem percoladas 
separadamente) (link a seguir).
Equipamentos para extração de substâncias por percolação. 
Disponível em: https://bit.ly/33c3PdT
Figura 10 – Maceraçao da planta 
Azadirachta indica (nem)
Fonte: Getty Images
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Processos de Extração a Quente
Infusão
Para esse processo, a matéria-prima vegetal fica em contato com água fervente, 
em um recipiente fechado. Podem ser colocadas estruturas não-rígidas da planta 
(folhas e flores), que são cortadas para que a água penetre facilmente.
Com esse método, podemos também fazer bebidas revitalizantes e relaxantes, 
como os chás, com várias plantas medicinais costumeiramente utilizadas (Figura 11).
Figura 11 – Exemplo de um recipiente para se utilizar no processo de infusão
Fonte: Getty Images
Decocção
Ao contrário da infusão, a decocção é utilizada em partes mais rígidas das plantas, 
como caules e algumas raízes com crescimento secundário. Ela consiste em manter a 
matéria-prima vegetal em contato com a água em ebulição (em poucos casos, pode 
ser utilizado outro solvente). 
No entanto, sua utilização é mais restrita, pois muitas substâncias ativas são alte-
radas pelo aquecimento prolongado.
Turbolização
No processo de turbolização há o aproveitamento da redução do tamanho das 
partículas (Figura 12) para a extração das substâncias ativas. Pode-se utilizar nesse pro-
cesso, por exemplo, um liquidificador. A diminuição das partículas em conjunto com 
o rompimento das células vegetais favorece a rápida dissolução das substâncias ativas. 
Isso significa menores tempos de extração (alguns minutos), causando quase o 
esgotamento total da matéria-prima vegetal.
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UNIDADE Metabolismo Secundário Vegetal
Figura 12 – Quanto menor o tamanho das partículas, maior 
o contato do solvente para a extração das substâncias ativas
Fonte: Getty Images
Extração em Aparelho de Soxhlet
Esse processo é utilizado para extrair substâncias sólidas com solventes voláteis. 
Para tanto, utiliza-se o aparelho de Soxhlet (Figura 13). Em cada ciclo desse pro-
cesso, a matéria-primavegetal entra em contato com o solvente que é renovado em 
cada ciclo, possibilitando uma extração mais eficiente.
A vantagem desse método é a menor quantidade de solvente utilizada e os resul-
tados são semelhantes aos obtidos com outros métodos.
Figura 13 – Aparelho de Soxhlet
Fonte: Wikimedia Commons
Extração por Refluxos
Processo utilizado para a extração de óleos voláteis vegetais que possuem tensão 
mais elevada que a água e são arrastados pelo seu vapor. A matéria-prima fica em 
contato com um solvente em ebulição, acoplado a um condensador. O solvente eva-
porado é recuperado e retorna ao conjunto inicial de matéria-prima vegetal.
É um método muito eficiente, por necessitar de quantidade reduzida de solvente. 
No entanto, deve-se manter um controle atento à sua temperatura de vaporização.
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Figura 14 – Extração de substâncias vegetais por refluxos
Fonte: Getty Images
Participação por Solventes
É o processo de extração de substâncias vegetais que implica um rompimento 
seletivo e distribuição entre as fases dos dois solventes imiscíveis (Figura 15). Este 
método é mais refinado e pode ser aplicado com o objetivo de separar os diferentes 
componentes de uma matéria-prima vegetal.
A concentração de cada um dos componentes, em cada fase desse processo, está 
relacionada à participação, à distribuição ou ao coeficiente apresentado por cada 
substância vegetal.
Figura 15 – Extração de substâncias vegetais em participação por solventes imiscíveis
Fonte: Getty Images
O conhecimento da Química das plantas é muito importante e também é neces-
sário conhecer os diferentes processos metodológicos para extrair suas substâncias 
ativas e divulgá-las corretamente. 
Com isso, diminuiremos o número de casos de intoxicações por plantas, visto 
que, no dito popular, “Tudo o que é natural, não faz mal”. 
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UNIDADE Metabolismo Secundário Vegetal
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Sites
Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas
https://bit.ly/3hOizUk
 Livros
Plantas Medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas
LORENZI, H.; MATOS, F. J. A. Plantas medicinais no Brasil – Nativas e Exóticas. 
2.ed. Nova Odessa: Plantarum, 2008, O livro é uma das principais obras de 
caráter técnico-científico no Brasil e faz uma compilação de mais de 300 plantas 
medicinais, com seus nomes científicos, nomes populares, características botânicas 
e propriedades farmacológicas.
 Leitura
A Corrida Armamentista
Plantas e insetos representam um caso clássico de co-evolução – um que é quase 
sempre mutualístico. Muitas plantas e seus polinizadores são tão dependentes uns dos 
outros e seu relacionamento é tão exclusivo que biólogos têm boas razões para acreditar 
que essa “aliança” entre os dois seja o resultado de um processo co-evolucionário.
https://bit.ly/307RC7O
Metabólitos secundários encontrados em plantas e sua importância
Esse texto de autoria de Vizzoto, Krolow e Weber apresenta visão geral da formação 
dos metabólitos secundários pelas plantas e suas funções, além de quando ingeridos 
pelos consumidores. Muitos dos metabólitos secundários são compostos bioativos e 
podem atuar na prevenção de diversas doenças crônicas não transmissíveis quando 
consumidos regularmente.
https://bit.ly/3jPIBZ5
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Referências
AOYAMA, E. M.; LABINAS, A. M. Características estruturais das plantas contra a 
herbivoria por insetos. Enciclopédia Biosfera, Goiânia, v.8, n.15, p. 365-386, 
nov. 2012.
FERREIRA, A. G.; ÁQUILA, M. S. A. Alelopatia uma área emergente da ecofisiologia. 
Revista Brasileira de Fisiologia Vegetal, São Paulo, v. 12, edição especial, 175-204.
OLIVEIRA, F.; AKISUE, G.; AKISUE, M. K. Farmacognosia. Rio de Janeiro: 
Atheneu, 2005.
PINTO, Â. C. et al. Produtos naturais: atualidades, desafios e perspectivas. Química 
Nova, São Paulo, v. 25, supl. 1, p. 45-61, 2002.
RIZZINI, C. T.; MORS, W. B. Botânica econômica brasileira. São Paulo, EPU, 
EDUSP, 1976. p. 119.
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2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2017, 502p.
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