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N1 - Bioética

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UNIFACS Universidade Salvador
ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA COM ÊNFASE EM SAÚDE DA FAMÍLIA
DISCIPLINA: BIOÉTICA E HUMANIZAÇÃO EM SAÚDE
PROFESSOR: Maria Gabriela Delphino
TUTOR: Camila Oliveira
DISCENTE: Caliane Santos 
Bioética e humanização na saúde
	Bioética e Humanização são assuntos interligados e cada vez mais presentes no dia-a-dia das instituições de saúde, em linhas gerais, possuem o objetivo de melhorar o atendimento aos pacientes e as condições de trabalho dos colaboradores dessas instituições. A bioética trata- se da ética da vida, é a ciência “que tem como objetivo indicar os limites e as finalidades da intervenção do homem sobre a vida, identificar os valores de referência racionalmente proponíveis, denunciar os riscos das possíveis aplicações” (LEONE; PRIVITERA; CUNHA, 2001); em complemento a isso, humanizar na atenção à saúde é entender cada pessoa em sua singularidade, tendo necessidades específicas, e, assim, criando condições para que tenha maiores possibilidades para exercer sua vontade de forma autônoma, é tratar as pessoas levando em conta seus valores e vivências como únicos, evitando quaisquer formas de discriminação negativa, de perda da autonomia, enfim, é preservar a dignidade do ser humano. Humanizar refere-se à possibilidade de uma transformação cultural da gestão e das práticas desenvolvidas nas instituições de saúde, assumindo uma postura ética de respeito ao outro, de acolhimento do desconhecido, de respeito ao usuário entendido como um cidadão e não apenas como um consumidor de serviços de saúde. (ZABOLI, 2003).
No caso apresentado tivemos o relato da enfermeira Carmem, e como ela se comportou diante de Maura, uma jovem que acabou de testar HIV positivo em fase de desenvolvimento da AIDS. Carmem feriu sérios princípios da bioética que impactou diretamente em a vida da paciente. Por exemplo, Carmem ao divulgar o resultado do exame da paciente para os seus colegas de trabalho e até mesmo para alguns familiares da paciente, como a mãe e o irmão, feriu o princípio da justiça e da autonomia da paciente, não houve um consentimento para que essas informações fossem divulgadas, a paciente ainda nem mesmo sabia dos resultados dos seus exames, a paciente era de uma cidade pequena, onde todos a conhecia e com certeza isso geraria um impacto devastador na sua vida, no entanto Carmem em momento algum teve empatia para com a paciente, é dever do profissional de saúde, independente da função ou setor, ter sigilo quanto às informações recebidas do paciente durante a assistência médica como cumprimento de um direito desse paciente, bem como de sua proteção. A garantia da confidencialidade, além de estimular o vínculo profissional-paciente, pode favorecer a adesão ao tratamento e a tomada de decisões mais autônomas, ao assegurar ao paciente a não exposição de circunstâncias de sua vida pessoal que possam ensejar julgamentos que ele deseja evitar, mesmo aos entes mais próximos. (VILAS BOAS, 2015). 
O dever de guardar sigilo não é apenas ético, mas legal. No âmbito internacional, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, prevê em seu artigo XII: Ninguém será sujeito a interferência em sua vida privada, sua família, seu lar ou sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Todo homem tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques. Ainda na esfera internacional, o Código Internacional de Ética Médica, adotado pela Associação Médica Mundial (WMA) em 1949, estabelece que o médico deverá manter segredo absoluto sobre tudo o que sabe de um paciente, dada a confiança que nele depositou. (ONU, 1948). Já a Constituição Brasileira de 1988 assegura, no título referente aos princípios fundamentais: Art. 5º, X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação27. E o Código Penal qualifica como crime a violação do segredo profissional, nos seguintes termos: Art. 154 – Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem. Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa. (BRASIL, 1988). 
O sigilo é direito do paciente e dever do profissional, sobretudo no que tange às relações interpessoais na área de saúde. Sua garantia permite o exercício mais autônomo da diversidade e da individualidade, mediante a proteção contra pressões externas eventualmente coercitivas, com vistas à equalização majoritária ou mesmo minoritária, representativa do meio social. Somente com o respeito efetivo ao sigilo, em muitos casos será possível obter consentimento de fato livre, após o devido esclarecimento, cabendo unicamente ao paciente julgar suas próprias circunstâncias, sem o temor da repercussão que suas decisões pessoais em saúde possam ter em seu meio. (VILAS BOAS, 2015).
Outros princípios da bioética também infligidos pela enfermeira Carmen foram os da beneficência e não maleficência, isso ocorreu quando ela, ao saber dos resultados dos exames, rapidamente selecionou Maura como cobaia para responder a pesquisa de conclusão do seu curso de pós- graduação. Carmen precisa conscientizar- se que os pacientes não são meros “casos interessantes”, mas seres humanos, merecedores de todo o respeito, como tais, e de particular atenção, dada a condição de especial vulnerabilidade em que se encontram. (PESSINI et al., 2000).
De todo o exposto, conclui-se que, no tocante ao paciente, a garantia do cumprimento da bioética e humanização, funciona não apenas como fator de adesão ao tratamento, pela confiança depositada nos profissionais, mas também como espaço para a manifestação mais fidedigna da autonomia, representando mecanismo protetivo para o próprio exercício da liberdade. Isso porque o paciente, seguro de que seus dados médicos não serão divulgados senão mediante sua autorização e que todos os seus sentimentos serão respeitados, sente-se mais livre para expressar suas peculiaridades e seu particular modo de pensar, tomando suas decisões em saúde sem o temor do julgamento ou da repressão externa acerca dos aspectos mais íntimos de sua personalidade.	 
REFERÊNCIAS
LEONE, S.; PRIVITERA, S.; CUNHA, J.T. Dicionário de bioética. Aparecida: Editorial Perpétuo Socorro/Santuário, 2001.
ZOBOLI E. L. C. P. Bioética e atenção básica: um estudo de ética descritiva com enfermeiros e médicos do Programa de Saúde da Família. São Paulo, 2003. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo.
VILAS BOAS, M. E. O direito e dever do sigilo na proteção ao paciente. Artigos de atualização. Rev. Bioét. 23 (3). Set-Dez 2015. 
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. [Internet]. Resolução 217 A (III). Declaração Universal de Direitos Humanos 1948. (Acessado 19.09.2021 às 17:03. Disponível: http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001394/139423por.pdf).
World Medical Association. [Internet]. International Code of Medical Ethics. 2006 (Acessado 19.09.2021 às 17h50min. Disponível: http://www.wma.net/en/30publications/10policies/c8/index.htm).
BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil, de 5 de outubro de 1988. Brasília: Diário Oficial da União, v. 126, nº 191-A, p. 1-32, 5 out 1988.
BRASIL. Presidência da República. Decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal Brasileiro. 1940. 
 PESSINI, L.; BARCHIFONTAINE, C. P. Problemas atuais de bioética. 5ª ed. São Paulo: Centro Universitário São Camilo/Loyola; 2000.
GRACIA, D. Pensar a bioética: metas e desafios. São Paulo: Centro Universitário São Camilo/Loyola; 2010.
ABREU, C. B. B.; FORTES, P. A. C. Questões éticas referentes às preferências do paciente em cuidados paliativos. Rev. bioét. (Impr.). 2014;22(2):299-308.
PEDUZZI, M. Trabalho e equipe. Dicionário da Educação Profissional em Saúde, p. 271-276. 1998.

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