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Hidrocefali� Introdução Doença de grande importância, sobretudo na área de neuropediatria Acúmulo excessivo de líquido cefalorraquidiano nos ventrículos e espaços subaracnóides Esse acúmulo gera dilatação ventricular e aumento na pressão intracraniana (exceto na hidrocefalia de pressão normal que deve ser abordada separadamente - Outro resumo) Hidrocefalia ex-vácuo - Alargamento dos espaços ventriculares decorrente de atrofia cerebral. Epidemiologia Prevalência de 0,5 a 0,8 por 1000 nascidos vivos Mielomeningocele é a causa congênita mais comum Hemorragia é a causa adquirida mais comum Fatores de risco ● Muito baixo peso ao nascer (<15000 ● Prematuridade ● Diabetes materna ● Sexo masculino ● Raça e etnia (risco diminuído em asiáticos) Patogênese Hidrocefalia obstrutiva/ não comunicante - Ocorre devido a bloqueio ao fluxo normal do líquor dentro do sistema ventricular. (forma mais comum em crianças) ● Obstrução do aqueduto de Sylvius - Dilatação dos ventrículos laterais e terceiro ventrículo, enquanto que o quarto ventrículo pode estar normal ou diminuído Imagem de RM demonstrando neonato com estenose do aqueduto de Sylvius: Dilatação dos ventrículos laterais e terceiro ventrículo, enquanto que o quarto ventrículo encontra-se de tamanho diminuído ● Obstrução do corpo do ventrículo lateral - Dilatação do corno temporal distal Imagem de RM mostrando dilatação do corno temporal típica da obstrução do corpo do ventrículo lateral ● Obstrução do forame de Monro - Dilatação do ventrículo lateral do mesmo lado Imagem de RM demonstrando dilatação ventricular em apenas um lado, sugerindo obstrução do forame de Monro daquele mesmo lado. ● Obstrução da saída do quarto ventrículo - Dilatação dos quatro ventrículos (pode ser confundida com hidrocefalia comunicante) Imagem de RM demonstrando dilatação dos quatro ventrículos e das cisternas, sendo sugestivo de obstrução da saída do quarto ventrículo. Hidrocefalia comunicante - Ocorre devido a falha na reabsorção de liquor pelas granulações aracnoideas, ou, raramente, por aumento na produção do líquor. Nesse caso o sistema ventricular está dilatado como um todo. Imagem de RM demonstrando dilatação do sistema ventricular como um todo, sendo sugestivo de hidrocefalia comunicante. A medida que a doença progride, ocorre aumento da PIC e infiltração do líquido no próprio tecido cerebral, sendo denominado edema transependimário. Etiologia Defeitos do tubo neural - Mielomeningocele e encefalocele Hidrocefalia isolada - Estenose aquedutal por defeito congênito ou infecção intrauterina Hidrocefalia ligada ao X - Estenose do aqueduto de Sylvius, podendo ter outras anormalidade associadas (agenesia de corpo caloso, tronco cerebral pequeno, polimicrogiria, ausência de trato piramidal) e polegares aduzidos. Malformações do SNC ● Malformação de Chiari - Desordem que geralmente acompanha os defeitos do tubo neural, na qual partes do tronco cerebral e cerebelo são deslocadas caudalmente obstruindo o fluxo de líquor pela fossa posterior. ● Malformação de Dandy-Walker - Cisto na fossa posterior contínuo ao quarto ventrículo e desenvolvimento defeituoso do cerebelo. ● Malformação arteriovenosa de Galen - Provoca aumento na pressão venosa Formas endêmicas - Outras anomalias congênitas podem ter a hidrocefalia como um componente, bem com Trissomias (13, 18, 9 e 9p), Síndrome de Walker-Warburg (autossômico recessivo) Infecção intrauterina - Rubéola, citomegalovírus, toxoplasmose, coriomeningite linfocítica, sífilis, zika vírus Papiloma de plexo coróide - Aumento da secreção do líquido cefalorraquidiano Hidrocefalia pós-hemorrágica (HSA, trauma, coagulopatia, MAV, aneurismas rompidos) - A presença de sangue induz resposta inflamatória seguida de fibrose, prejudicando a reabsorção e causando certo grau de obstrução. Tumores do SNC (meduloblastomas, astrocitomas e ependimomas) - Obstruem o fluxo do líquor. Infecções do SNC - Meningite e caxumba Hidrocefalia de pressão normal Apresentação Clínica A forma de apresentação da doença vai depender de alguns fatores: ● Tempo de início (em relação ao fechamento das suturas cranianas) - Quando a doença se instala na criança mais nova, ou seja, antes do fechamento das suturas cranianas, a tendência é os sinais neurológicos serem menos severos. ● Tempo de evolução - A taxa com que o líquido se acumula também é um fator determinante para a doença. ● Presença de anormalidades estruturais associadas Sinais e sintomas: ● Macrocefalia e abaulamento das suturas ● Abaulamento da fronte ● Veias proeminentes no couro cabeludo ● Sinais de aumento da PIC - Dor de cabeça, náuseas/vômitos, alteração do estado mental, ataxia, fraqueza, diplopia, alteração do movimento ocular (compressão do terceiro ou sexto par craniano) e papiledema ● Sinal do por-do-sol - Resulta da compressão do mesencéfalo, provocando incapacidade de olhar para cima, com isso a esclera se torna visível acima da iris ● Mudança no comportamento ● Atraso no desenvolvimento ● Letargia ● Espasticidade ● Sinais de comprometimento do tronco cerebral - Bradicardia, hipertensão e alteração respiratória. Imagem da esquerda demonstrando criança com hidrocefalia: Macrocefalia, abaulamento da fronte e dilatação das veias do couro cabeludo. Imagem da direita demonstrando sinal do por-do-sol. Diagnóstico USG - Pode ser útil em situações em que as fontanelas ainda não estão fechadas e até mesmo no período pré-natal. No entanto apresenta a limitação de não conseguir avaliar a fossa posterior e pacientes com fontanelas já fechadas. RM e TC - Capazes de identificar os sinais sugestivos de hidrocefalia (ventriculomegalia, edema transependimário e outros sinais de aumento da PIC) e anormalidades estruturais associadas Punção lombar - Útil na identificação de causas infecciosas, mas está contraindicado quando há sinais de aumento da PIC. Medida da pressão intracraniana Tratamento Medidas temporárias - Usadas em pacientes que apresentam risco devido ao aumento da PIC e precisam de uma medida imediata ● Drenagem ventricular externa temporária (ventriculostomia)- Insere-se um cateter através do crânio até o ventrículo lateral, permitindo a drenagem do líquor Drenagem ventricular externa ● Diuréticos (furosemida e acetazolamida) - Geralmente são menos eficazes que a ventriculostomia, além disso, são contraindicados em hidrocefalia pós-hemorrágica em recém nascidos. ● Punções lombares em série - Não são indicadas rotineiramente Abordagem cirúrgica ● Desvio do liquor - Nesses caso o excesso de liquor é drenado para outras partes do corpo (sistema arterial, pleura ou peritonio) Procedimento de desvio do LCR ● Terceira ventriculostomia - Procedimento de abertura do piso do terceiro ventrículo, permitindo a drenagem do líquor para a cisterna pré-pontina e espaço subaracnóide. Esse tipo de tratamento só é usado nos casos de hidrocefalia obstrutiva, não sendo útil na hidrocefalia comunicante. Tratar a causa base: ● Embolização da malformação de Galen ● Ressecção de um tumor Referências ● Hydrocephalus in children: Physiology, pathogenesis, and etiology - UpToDate ● Hydrocephalus in children: Clinical features and diagnosis - UpToDate ● Hydrocephalus in children: Management and prognosis - UpToDate https://www.uptodate.com/contents/hydrocephalus-in-children-physiology-pathogenesis-and-etiology?search=hydrocephalus&source=search_result&selectedTitle=2~150&usage_type=default&display_rank=2 https://www.uptodate.com/contents/hydrocephalus-in-children-clinical-features-and-diagnosis?search=hidrocephalus&source=search_result&selectedTitle=3~150&usage_type=default&display_rank=3 https://www.uptodate.com/contents/hydrocephalus-in-children-management-and-prognosis?search=hydrocephalus&source=search_result&selectedTitle=4~150&usage_type=default&display_rank=4#H891153344