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HIDROCEFALIA SBCMC II - 2021.1 Neurocirurgia É o acúmulo de líquor cefalorraquidiano dentro do SNC, mais especificamente dentro da caixa craniana. ANATOMIA DA CIRCULAÇÃO LIQUÓRICA (não vai cair, mas precisa saber para entender a aula) Produção e Reabsorção: ● O líquor é produzido constantemente por capilares presentes no plexos coróides, os quais estão presentes nos ventrículos laterais, no III e no IV ventrículo. ● É um filtrado do sangue arterial que chega aos plexos coróides e circula entre os ventrículos (laterais → III → IV) e destes, para o espaço subaracnóideo, onde vai circular até alcançar as granulações aracnóideas, no seio sagital superior, para ser reabsorvido. ○ O sangue arterial é convertido no filtrado do LCR através da ação da enzima Anidrase Carbônica ○ O espaço subaracnóideo está localizado entre as meninges pia-máter e aracnóide, e está presente nas convexidades do encéfalo e na raqui Ventrículos: ● Laterais: ○ São 02 (direito e esquerdo) ○ Correspondem às cavidades do telencéfalo ○ São divididos em 05 porções: corno frontal, corpo do ventrículo lateral, átrio do ventrículo, corno occipital e corno temporal. ● III Ventrículo: ○ É uma cavidade única ○ Está presente no diencéfalo, no meio dos dois tálamos ● IV Ventrículo: ○ É uma cavidade única ○ É a cavidade da fossa posterior Passagem do Líquor: ● Dos Ventrículos Laterais para o III ventrículo, a passagem se dá pelos forames Interventriculares/forame de Monro. ● Do III ventrículo para o IV a passagem é pelo aqueduto cerebral ou aqueduto de Sylvius ● Do IV ventrículo para o espaço subaracnóideo passa pelos forames de Luschka e o de Magendie. ○ Forames de Luschka → 02, laterais ○ Forame de Magendie → 01 único, medial HIDROCEFALIA É um distúrbio anormal da circulação do líquor dentro do crânio, provocando seu aumento e consequente hipertensão intracraniana. Causas: acúmulo de LCR ● Hiperprodução liquórica (causa rara, está geralmente relacionada à neoplasias de plexo coróide) ● Bloqueio do trânsito ● Déficit de absorção CLASSIFICAÇÃO Quanto à origem: congênita ou adquirida ● A hidrocefalia congênita é aquela que o indivíduo já nasce com ela, geralmente está relacionada com defeitos na formação do SNC. ● A hidrocefalia adquirida, como o próprio nome já diz, é aquela que o indivíduo adquire ao longo da vida, por uma infecção ou tumor, por exemplo Quanto à natureza: comunicante/não obstrutiva ou obstrutiva ● Na hidrocefalia comunicante, a comunicação dos ventrículos entre si e dos ventrículos entre o espaço subaracnóideo está normal ○ O problema está no seio sagital superior, nas granulações aracnóideas. ● Na hidrocefalia obstrutiva, o problema é a obstrução dos canais de comunicação, o qual pode ser, por exemplo, uma tumoração. Obs: se na prova, ele perguntar qual é o tipo de hidrocefalia, a gente precisa dar nome e sobrenome! Ou seja, classificar quanto à origem e quanto à natureza, ex: congênita obstrutiva. QUADRO CLÍNICO É diferente para as congênitas e as adquiridas, já que na hidrocefalia congênita o paciente nasce com a doença e seu crânio ainda é elástico, enquanto nas adquiridas o paciente já tem a estrutura da caixa craniana consolidada, isso determina diferenças nas manifestações da doença. Congênita: ● Macrocrania ○ A estrutura do crânio ainda não se consolidou, e por isso o acúmulo de líquor pode gerar dilatação e afastamento dos ossos. ● Síndrome de Parinaud (olhar do sol poente) ○ Consiste na dificuldade de fazer um olhar conjugado para cima ○ Os ventrículos laterais são revestidos pelo corpo caloso, pelo aumento do volume do líquor, ocorre uma dilatação desses ventrículos e consequentemente do corpo caloso, a porção posterior do corpo caloso dilatado se expande inferiormente e vai comprimir a porção posterior do mesencéfalo, que é a chamada lâmina quadrigêmea, onde estão localizados os colículos superiores e inferiores, os quais conectam as fibras responsáveis pela motricidade ocular. Ao comprimirmos os colículos e, consequentemente, as fibras ali localizadas, ocorre a síndrome de Parinaud - também aparece na hidrocefalia adquirida. ● Dilatação de veias do couro cabeludo ○ Como o crânio cresce muito, vai haver um certo aumento da pressão nas veias do couro cabeludo, que ficam dilatadas (“hipertensão do sistema venoso do couro cabeludo”) ● Aumento e tensão das fontanelas Adquirida: ● Sintomas de HIC - cefaléia, náusea e vômito, distúrbios de equilíbrio, sonolência, rebaixamento do nível de consciência ● Déficit do VI nervo craniano ● Sinal de Parinaud ● Papiledema ETIOLOGIA Hidrocefalia Congênita; ● Hipoplasia/agenesia do aqueduto cerebral: ○ É a causa mais frequente de hidrocefalia ○ A criança nasce com ausência ou com um afilamento do aqueduto cerebral, dificultando a passagem do líquor. ● Holoprosencefalia: ○ É uma malformação rara e grave do SNC, onde muitas vezes não há o desenvolvimento do telencéfalo, às vezes quase em sua totalidade, o que dificulta a circulação liquórica, podendo levar à hidrocefalia. ● Secundária à mielomeningocele ○ Mielomeningocele é uma malformação congênita caracterizada pelo fechamento incompleto do tubo neural, principalmente da região lombossacra ○ Não se sabe o porque, mas essa malformação vai alterar a circulação liquórica levando à hidrocefalia em algum momento da vida em quase 100% dos casos ● Outras Hidrocefalia Adquirida: ● Tumores ○ Obstrução direta ou indireta da comunicação entre os ventrículos ○ Determinam, na maioria das vezes, casos de hidrocefalia obstrutiva. ● Infecções ○ Promove um processo inflamatório do líquor, que aumenta sua celularidade deixando-o mais viscoso, além de promover fibrose das granulações aracnóideas, dificultando a absorção do líquor. ○ Vão gerar quadro de hidrocefalia comunicante adquirida, com desenvolvimento tardio ao processo infeccioso. ● Hemorragias ○ Da mesma maneira que as infecções, as hemorragias provocam um processo inflamatório do líquor (deixando-o mais viscoso) o que leva a obstrução das granulações aracnóideas ⇒ hidrocefalia comunicante. ○ Ocorre da hidrocefalia ser obstrutiva quando pelo quadro hemorrágico ocorre a formação de coágulo/hematoma no interior de um dos ventrículos, determinando uma obstrução. ● Trauma DIAGNÓSTICO Ultrassom Transfontanelar: ● É indicado para crianças de até 01 ano - acima de 01 ano, não é possível visualizar nada, pois as fontanelas já se fecharam e estão cobertas pelos ossos do crânio. ● Nos dá o diagnóstico de hidrocefalia, mas não a causa. Tomografia: ● Muitas vezes, também é insuficiente para nos dar a causa. ● Achados: ● Dilatação dos ventrículos ● Dilatação do corno frontal ● Hipodensidade do parênquima bem a frente do corno frontal - Edema Transependimário ○ O aumento da pressão no ventrículo é tamanho que força o líquor contra o epêndima, então ocorre um extravasamento de líquor para além do epêndima, que acaba infiltrando o interstício do parênquima normal. Ressonância Magnética: ● É o método capaz de nos mostrar a causa da hidrocefalia ● É realizada em 02 janelas: a janela T1 nos mostra o líquor na cor escura e a T2 nos mostra o líquor na cor branca. ● Hidrocefalia Obstrutiva: algum ventrículo se mantém em tamanho normal enquanto outro/outros estão dilatados. TRATAMENTO Retirada do fator obstrutivo: ● Quando possível, é a melhor opção. ○ Ex: tumores ● Retirando a obstrução, o fluxo se reestabelece Sistema de derivação: ventrículo-peritoneal, ventrículo- atrial ou ventrículo-pleural: ● Consiste na colocação de um sistema que permite a drenagem contínua do líquor por interposição de uma válvula, que permite o escoamento do excesso de líquor de dentro do crânio (ventrículo lateral) para alguma cavidade, preferencialmente o peritônio. ○ A preferência é pelo peritônio, pois o átrio e a pleural costumam desenvolver muitas complicações ● Pode ser utilizada em qualquer caso. ● Válvulas: (não vai cair na prova) ○ Baixa Pressão: drena entre 5-10 mmHg ○ Média Pressão: drena entre 9-12 mmHg ○ Alta Pressão: drena entre 10-15 mmHg - a PICprecisa estar muito alta e a drenagem é pouca) ○ Programada: é específica para o paciente, já que a pressão intracraniana pode variar de pessoa para pessoa. ■ É a melhor escolha, porque além da questão de poder programar a PIC, tem o fato de poder ser “calibrada” em consultório, por um aparelho, ao contrário das demais que diante de qualquer problema o paciente precisa ser levado para o centro cirúrgico para troca da válvula. O problema é que é muito cara. Terceiro ventriculostomia endoscópica: !!! ● Só pode ser utilizada se o problema obstrutivo estiver do aqueduto cerebral até os forames de Luschka e Magendie (IV ventrículo) ○ Se o problema estiver na porção posterior do III ventrículo também dá para resolver por TVE, caso a anatomia estiver preservada ● Consiste na abertura de um orifício no assoalho do III ventrículo para que o líquor acumulado nos ventrículos laterais ou III ventrículo escoe pela abertura para o espaço subaracnóide e possa ser reabsorvido. ○ Faz-se uma trepanação na região occipital, penetra o ventrículo lateral, deste para o forame de Monro, alcançando o III ventrículo. No assoalho do III ventrículo, a frente dos corpos mamilares e atrás do infundíbulo (depressão formada pela haste da hipófise com o III ventrículo), abre-se um orifício para a passagem do líquor para o espaço aracnóideo, utilizando o cateter de Fogarty. ○ Dá-se preferência para a passagem do cateter no corno anterior do ventrículo lateral, pois é o único em que não há plexos coróides - os plexos coróides se aderem ao cateter e geram um processo inflamatório. ● É a melhor opção porque o paciente não precisa usar nenhum dispositivo e é feita por um neuroendoscópio através de uma incisão, que fica muitas vezes escondida pelo cabelo e sobrancelhas. Derivação Ventricular Externa: ● A drenagem do líquor é para uma bolsa externa ● É sempre temporário ● Indicação: ○ Infecção vigente (ex: meningite) ○ Sangramento ventricular agudo - a chance do sangramento entupir o cateter é alta. ○ Pré-operatório para alívio rápido de HIC HIDROCEFALIA DE PRESSÃO NORMAL (HPN) - SÍNDROME DE HAKIN-ADAMS ● Também conhecida como hidrocefalia idiopática do adulto ● Mais comum em idosos acima dos 60-70 anos de idade Tríade Clássica: ● Distúrbio de marcha (marcha em pequenos passos) ● Incontinência urinária ● Distúrbio cognitivo ○ É a única forma tratável de demência Fisiopatogenia: ● Perda da pulsatilidade cerebral levando a estase da circulação do LCR, resultado em déficit de reabsorção do LCR ○ A pulsação do cérebro “empurra” o líquor pelos ventrículos, facilitando sua reabsorção. Com a idade essa pulsação sofre uma baixa, então o líquor fica estasiado. ○ Como os ventrículos do idoso são fisiologicamente dilatados devido à atrofia cerebral, o líquor vai se depositando nos ventrículos, consequentemente a PIC não aumenta. Diagnóstico: ● Quadro clínico + ● TC/RM apontando hidrocefalia comunicante + ● Tap-test: punção lombar 30-50 mL/dia ⇒ se o paciente melhora, confirma o diagnóstico ○ Tira o excesso de líquor ○ A melhora é principalmente da marcha Tratamento: DVP. **Não adianta fazer TVE - o problema não é obstrutivo, e sim a velocidade de circulação do líquor
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