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Prévia do material em texto

HISTÓRIA 
MEDIEVAL
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
GRADUAÇÃO
Unicesumar
Acesse o seu livro também disponível na versão digital.
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; PEREIRA, Luciene Maria Pires. 
História Medieval. Luciene Maria Pires Pereira. 
Maringá-Pr.: Unicesumar, 2019. Reimpresso 2021.
208 p.
“Graduação - EaD”.
1. História. 2. Medieval . 3. Idade Média 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1772-4
CDD - 22 ed. 940.1
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Minco�
James Prestes
Tiago Stachon 
Diretoria de Graduação
Kátia Coelho
Diretoria de Pós-graduação 
Bruno do Val Jorge
Diretoria de Permanência 
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Curadoria e Inovação
Tania Cristiane Yoshie Fukushima
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas
Gerência de de Contratos e Operações
Jislaine Cristina da Silva
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Supervisora de Projetos Especiais
Yasminn Talyta Tavares Zagonel
Coordenador de Conteúdo
Priscilla Campiolo Manesco Paixão
Designer Educacional
Ana Claudia Salvadego
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Ilustração Capa
Bruno Pardinho
Editoração
Arthur Murilo Heicheberg
Qualidade Textual
Meyre Barbosa da Silva
Ilustração
Bruno Pardinho
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando profissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quan-
do investimos em nossa formação, seja ela pessoal 
ou profissional, nos transformamos e, consequente-
mente, transformamos também a sociedade na qual 
estamos inseridos. De que forma o fazemos? Crian-
do oportunidades e/ou estabelecendo mudanças 
capazes de alcançar um nível de desenvolvimento 
compatível com os desafios que surgem no mundo 
contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógi-
ca e encontram-se integrados à proposta pedagógica, 
contribuindo no processo educacional, complemen-
tando sua formação profissional, desenvolvendo com-
petências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos 
em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no 
mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm 
como principal objetivo “provocar uma aproximação 
entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o 
desenvolvimento da autonomia em busca dos conhe-
cimentos necessários para a sua formação pessoal e 
profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fó-
runs e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe 
das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma 
equipe de professores e tutores que se encontra dis-
ponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em 
seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe 
trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória 
acadêmica.
A
U
TO
R
A
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
Possui graduação em História pela Universidade Estadual de Maringá (2004). 
Possui o título de especialista em História Econômica, obtido na Universidade 
Estadual de Maringá, onde iniciou um estudo acerca das questões que 
envolveram a distribuição de terras no Brasil no início da colonização. Possui 
mestrado na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP/
Campus de Assis-SP, onde desenvolveu uma pesquisa financiada pelo CNPq, 
na qualidade de bolsista, na qual analisou o sistema de sesmarias implantado 
no Brasil na época de sua colonização, com o objetivo de entender a 
formação da propriedade territorial no Brasil. Doutoranda no Programa de 
Pós-graduação em História da Universidade Estadual de Maringá - UEM. 
Possui Especialização em Educação Especial, Atendimento Educacional 
Especializado e em Psicopedagogia Institucional, realizadas no Instituto 
Paranaense de Ensino, na cidade de Maringá/PR. Atualmente, integra o 
corpo docente do curso de História da UNICESUMAR - Centro Universitário, 
instituição na qual orienta alunos de iniciação científica e coordena projetos 
de ensino na área de História e Educação Inclusiva. Membro do Laboratório 
de Estudos do Império Português (LEIP-UEM).
Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/6032407633174633>
SEJA BEM-VINDO(A)!
Caríssimo(a) aluno(a) do curso de História da UniCesumar, o livro que você está pres-
tes a estudar foi elaborado com muita satisfação e tem por objetivo auxiliá-los no 
processo de aprendizagem de um dos períodos mais fascinantes da história, o perí-
odo medieval.
O objetivo deste material é possibilitar que você adquira o conhecimento necessário 
sobre o período medieval, para que possa atuar como professor(a) de História. Nesse 
sentido, o livro conta com informações fundamentadas em autores clássicos, especia-
listas no período, e considerados os mais importantes medievalistas. Além disso, tra-
zemos sugestões de livros, documentos históricos, filmes, sites e atividades de análise 
e reflexão que enriquecerão a sua aprendizagem.
Compreender a Idade Média em todos os seus aspectos não é tarefa simples. Por essa 
razão, é importante que você, aluno(a), tenha disciplina e dedicação para vencer os 
assuntos e as atividades propostas ao longo de todo o livro, além de buscar aprovei-
tar ao máximo os recursos e as dicas apresentadas aqui e também as oferecidas pela 
UniCesumar. Com o livro que apresento, junto com o seu esforço e dedicação, tenho 
certeza de que nossa viagem pela Idade Média ocorrerá de maneira prazerosa, e você 
conseguirá apreender as nuances que caracterizaram esse rico período da história da 
civilização humana.
De início,gostaria de ressaltar que não há, entre os estudiosos da Idade Média, um 
consenso em relação à periodização exata do período. O que os estudiosos afirmam 
é que a Idade Média corresponde a um espaço de tempo entre o fim da antiguidade 
clássica e o início do período moderno, e as datas exatas que marcam o início e o fim 
dessa época variam de acordo com a abordagem adotada.
Neste livro, caro(a) aluno(a), trabalharemos com a periodização adotada por estudio-
sos do período medieval que situam a Idade Média entre os séculos V e o século XV. A 
escolha do século V para marcar o início da Idade Média está relacionada à queda do 
imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, no ano de 476, após a invasão dos Ostro-
godos. Já a escolha do século XV para acentuarmos o fim da Idade Média relaciona-se 
com a tomada de Constantinopla (capital do Império Romano do Oriente), em 1453, 
pelos turcos.
Dentro desse período que será adotado por nós, para nossos estudos, há, ainda, uma 
divisão da Idade Média em Alta Idade Média – período que vai do século V ao século 
X e corresponde ao período de instalação da Idade Média, consolidação de suas bases 
e auge da sua prosperidade – Idade Média Central – entre os séculos XI e XIII – e Bai-
xa Idade Média –, período que vai do século XIII ao século XV e é caracterizado pelo 
nascimento de instituições que transformaram os aspectos políticos, econômicos e 
socioculturais do mundo medieval.
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA MEDIEVAL
Para o estudo da história medieval, o historiador conta, principalmente, com as fon-
tes escritas cuja abundância se demonstra pela existência de obras históricas, lite-
rárias, filosóficas, documentos biográficos, jurídicos, religiosos, oficiais e privados. O 
historiador que se interessa pela Idade Média pode contar, também, com as fontes 
arqueológicas que se referem às construções do período – como castelos, igrejas, 
casas etc. –, às obras de arte produzidas no período e/ou, ainda, os utensílios e aos 
objetos materiais usados naquela época.
Em nosso livro, adotamos, sobretudo, as fontes escritas, apresentando lhe textos 
produzidos por grandes nomes da historiografia que se refere à Idade Média, além 
de documentos de época, para que você possa habituar-se ao trabalho com esse 
tipo de fonte. Ao longo deste livro, veremos como se deu o início da Idade Média, 
partindo da análise da desestruturação do Império Romano após a instalação dos 
povos bárbaros nesse território. Esse assunto, abordado na primeira Unidade, é 
importante para compreendermos como se processou a formação da sociedade 
medieval, sendo, essa resultado, proveniente da fusão de elementos culturais dos 
antigos romanos e dos povos bárbaros.
Na segunda Unidade, discorreremos acerca do nascimento do cristianismo e o cres-
cente poder e influência da Igreja Cristã do Ocidente até sua consolidação como 
instituição mais poderosa e influente da Idade Média. Essa discussão é imprescindí-
vel para compreendermos os elementos que caracterizaram, cultural e socialmente, 
a Idade Média.
A terceira Unidade é dedicada ao estudo do processo de feudalização da Europa 
medieval, fato que deixará a Idade Média com a imagem que dela possuímos. O 
processo de feudalização é importante para analisarmos as bases de organização da 
sociedade medieval e suas diferenças com as sociedades antiga e moderna.
Na quarta Unidade, nosso objeto de estudo será o surgimento das Cruzadas, a partir 
do século XI, e a análise dos fatores que contribuíram para seu início. Além disso, 
destacaremos as mudanças que esse movimento provocou na sociedade medieval.
Na quinta e última Unidade de nosso livro, discutiremos as transformações que 
marcaram a Baixa Idade Média e que lançaram as bases da transição para o mundo 
moderno.
Cabe ressaltar, caro(a) aluno(a), que o foco de nossa disciplina será a Europa Oci-
dental e que, ao iniciarmos nosso estudo, não podemos nos esquecer de que não é 
papel do historiador julgar o passado com os olhos e valores atuais, e sim analisar-
mos os fatos, levando sempre em consideração a época e o contexto no qual estão 
inseridos, sem perder de vista os princípios, costumes e valores existentes no perí-
odo estudado. Lembrando-nos sempre disso, podemos dar início à nossa viagem à 
Idade Média.
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
AS INVASÕES BÁRBARAS: O CONTATO ENTRE “BÁRBAROS” E 
ROMANOS E A TRANSFORMAÇÃO DO ANTIGO IMPÉRIO ROMANO
15 Introdução
16 Aspectos da Organização e da Cultura dos Povos Bárbaros 
18 Política, Economia e Sociedade no Mundo Bárbaro 
22 Os Bárbaros e os Limites do Império Romano 
25 A Relação Entre as Invasões Bárbaras e a Desestruturação do Império 
Romano
32 O Reino dos Francos e a Formação do Império Carolíngio 
40 Considerações Finais 
46 Glossário 
48 Referências 
50 Gabarito 
SUMÁRIO
10
UNIDADE II
ASPECTOS DA FORMAÇÃO E DA CONSOLIDAÇÃO DA IGREJA CRISTÃ 
MEDIEVAL
53 Introdução
54 O Nascimento do Cristianismo e o Fortalecimento da Doutrina Cristã e da 
Igreja Católica
63 Consolidação e Influência da Igreja Católica na Idade Média 
74 A Igreja Medieval e o Controle Social: A Dominação pela Fé 
81 Considerações Finais 
87 Glossário 
88 Referências 
89 Gabarito 
SUMÁRIO
11
UNIDADE III
ANÁLISE DO PROCESSO DE FEUDALIZAÇÃO: ESTRUTURAS SOCIAIS, 
POLÍTICAS E ECONÔMICAS
93 Introdução
94 Características do Feudalismo e Elementos da Sociedade Feudal 
103 Fragmentação do Poder Político na Europa Feudal: A Formação da 
Nobreza Senhorial
109 Modo de Produção Feudal 
113 Aspectos Culturais da Sociedade Feudal 
117 Considerações Finais 
123 Glossário 
124 Referências 
125 Gabarito 
UNIDADE IV
AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
129 Introdução
130 O Nascimento do Islamismo e a Expansão dos Muçulmanos 
136 Os Cavaleiros Medievais 
144 As Cruzadas: Contexto e Motivações 
151 As Cruzadas no Oriente e no Ocidente 
157 Considerações Finais 
SUMÁRIO
12
163 Glossário
164 Referências 
165 Gabarito 
UNIDADE V
A BAIXA IDADE MÉDIA E AS TRANSFORMAÇÕES NO OCIDENTE 
MEDIEVAL
169 Introdução
170 O Renascimento Comercial e Urbano 
179 O Surgimento das Universidades Medievais 
184 A Peste Negra 
188 As Raízes Medievais dos Estados Nacionais Modernos 
193 Considerações Finais 
200 Glossário 
201 Referências 
202 Gabarito 
203 CONCLUSÃO
U
N
ID
A
D
E I
Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
AS INVASÕES BÁRBARAS: O CONTATO 
ENTRE “BÁRBAROS” E ROMANOS 
E A TRANSFORMAÇÃO DO ANTIGO 
IMPÉRIO ROMANO
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conhecer as tribos bárbaras que adentraram as fronteiras do antigo 
Império Romano e as regiões nas quais se instalaram, verificando 
de que maneira essas tribos contribuíram para a transformação do 
Império Romano do Ocidente.
 ■ Analisar as características dos povos bárbaros, evidenciando sua 
organização política, econômica, social e cultural.
 ■ Discorrer acerca do primeiro contato entre os bárbaros e os romanos, 
evidenciando a fusão dos elementos das duas culturas e sua 
consequência para a formação da sociedade medieval.
 ■ Analisar a formação do Império Carolíngio, acentuando sua 
relevância dentro do período medieval.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Aspectos da organização e cultura dos povos bárbaros
 ■ Os bárbaros e os limites do Império Romano
 ■ A relação entre as invasões bárbaras e a desestruturação do Império 
Romano
 ■ O reino dos Francos e a formação do Império Carolíngio
INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), entre os fatores que contribuíram para as transformações 
observadas no antigo Império Romano, a partir do século III, destaca-se a chegada 
das tribos bárbaras às fronteiras do Império e sua posterior invasão. O medieva-
lista Jacques Le Goff (1995, p. 29) aponta as invasões bárbaras como o elemento 
essencial da crise do Império Romano no século III, destacando que a chegada 
desses povos aos limites do antigo Império foi o “acontecimento que propiciouas transformações, que lhes dá um aspecto catastrófico e que lhes modifica pro-
fundamente a aparência”.
Diante da relevância desses povos para a formação da sociedade medieval 
e tendo em vista que é da fusão entre os elementos da cultura dos povos que 
viviam fora dos limites do Império e da cultura romana que a sociedade do perí-
odo medieval foi moldada, é preciso que nosso estudo tenha início com uma 
compreensão acerca dos elementos que caracterizavam esses povos, vistos pelos 
antigos romanos como bárbaros.
Após conhecermos os elementos que compunham o conjunto de caracterís-
ticas dos povos bárbaros, analisaremos as conjunturas que marcaram a relação 
entre bárbaros e romanos nos limites do Império, buscando compreender os 
fatores que motivaram as invasões e suas consequências.
Por fim, analisaremos o desenvolvimento do reino dos Francos e a formação 
do Império Carolíngio, bem como demonstraremos a sua relevância para o nas-
cimento da sociedade medieval e sua relação com a Igreja Católica. Tudo isso, 
enfatizando a aliança entre Estado e Igreja por meio da coroação de Carlos Magno 
e as consequências dessa aliança para o desenvolvimento da sociedade medieval.
A partir das discussões realizadas nesta unidade, será possível a compre-
ensão do processo de organização da sociedade medieval na medida em que as 
características mais conhecidas em relação a Idade Média refletem elementos e 
aspectos herdados dos diversos povos bárbaros que ocuparam o Ocidente e for-
maram os chamados reinos bárbaros a partir do século V.
Introdução
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ASPECTOS DA ORGANIZAÇÃO E DA CULTURA DOS 
POVOS BÁRBAROS
Prezado(a) aluno(a), nesta aula, nosso objetivo é apontar e analisar os aspectos e 
os elementos que caracterizavam os povos bárbaros que ultrapassaram as fron-
teiras do Império Romano, aceleraram sua desestruturação e inauguraram um 
novo capítulo na história da civilização ocidental.
Os povos bárbaros correspondiam aos povos de origem indo-europeus que 
habitavam a Europa e a Ásia, na época do Império Romano, e possuíam diferentes 
ascendências, entre as quais destacamos germânicos, celtas, eslavos, tártaro-mon-
góis e escandinavos. Pode-se afirmar que os deslocamentos e as migrações desses 
povos desenvolveram-se ao longo das margens dos rios Reno, Danúbio e Oder 
e do mar Báltico, até romperem os limites de Roma e se estabelecerem nos ter-
ritórios do antigo Império. 
Diante dessa miscelânea de povos de ascendências distintas e que, ao longo de 
seu desenvolvimento, mesclaram-se uns aos outros, buscar uma uniformização exata 
de seus aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais não é uma tarefa fácil, 
mesmo existindo um número considerável de trabalhos acerca dos povos bárbaros.
Serrano (1995) chama atenção para o fato de que é comum considerar e 
denominar a totalidade dos povos bárbaros que chegaram a Roma como ger-
manos, denominação que pode levar a uma generalização dos elementos que 
AS INVASÕES BÁRBARAS: O CONTATO ENTRE “BÁRBAROS” E ROMANOS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Aspectos da Organização e da Cultura dos Povos Bárbaros
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compunham esses povos e que contradizem suas ações diante dos romanos. De 
acordo com a autora, é preciso cuidado com generalizações desse tipo, pois elas 
nos levam a desconsiderar outras formas de atividades e de organizações, e até 
mesmo a repensar a ideia do estabelecimento de relações e interesses comuns 
entre bárbaros e romanos.
Apenas para ilustrarmos uma discussão que será retomada e aprofundada 
no próximo tópico, vale destacar que os bárbaros mantinham uma relação com-
plexa com os romanos, caracterizada pela alternância de momentos conflituosos 
– devido às incursões bárbaras ao Império Romano – e de momentos de rela-
tiva harmonia entre ambos os povos, períodos nos quais eram realizadas, até 
mesmo, trocas e comércio entre as duas culturas, por meio das fronteiras. Além 
disso, muitos bárbaros eram contratados para integrarem o exército romano. 
Desse modo, podemos observar a intenção de Serrano (1995), apresentada 
anteriormente, ao chamar nossa atenção para generalizações, pois, ao difundir 
a ideia de que aos povos bárbaros descendiam todos da mesma etnia, podemos 
incorrer no risco de relativizar as características e as conjecturas que marcaram 
o desenvolvimento das relações entre as duas culturas, características que, assim 
como veremos mais adiante, foram fundamentais para a criação de uma cultura 
oriunda do contato entre bárbaros e romanos.
Após considerarmos os apontamentos 
acerca dos perigos de generalizarem a origem 
e a ascendência dos povos bárbaros sob o risco 
de nos equivocarmos ao tratarmos de suas 
características, podemos avançar no estudo 
dos elementos que compunham esses povos. 
Para começarmos, é interessante voltarmo-nos 
ao emprego da palavra “bárbara” para denomi-
narmos os povos que viviam fora das fronteiras 
de Roma.
Os romanos utilizaram a palavra “bárbara” 
com um sentido pejorativo para denomina-
rem os povos que viviam fora de seus limites, 
devido ao fato de que esses povos possuíam 
Figura 1 - Diferenças entre as 
vestimentas e armas correspondentes a 
diferentes tribos bárbaras
Fonte: Portal do Professor (2011, on-
line)1.
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25555
AS INVASÕES BÁRBARAS: O CONTATO ENTRE “BÁRBAROS” E ROMANOS 
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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características e cultura diferentes da sua. É preciso atentar para esse aspecto, 
porque, quando não compreendemos o significado da palavra “bárbara” naquele 
contexto, corremos o risco de associá-la apenas à desordem que ocorreu no final 
do Império Romano, quando, na verdade, naquele momento histórico, a pala-
vra era empregada com outro significado.
Nesse sentido, embora os povos bárbaros tivessem um papel de destaque no 
processo de transformação do Império Romano, não podemos associá-los a ati-
tudes de desorganização política e social, desordem e destruição. Ao contrário, 
como veremos aqui, esses povos possuíam uma estrutura de organização bem 
definida. Além disso, um desses povos, os Francos, serão, posteriormente, res-
ponsáveis pela formação de um vasto império, capaz de submeter outros reinos 
ao seu domínio e elevar o prestígio da Igreja Católica.
POLÍTICA, ECONOMIA E SOCIEDADE NO MUNDO 
BÁRBARO
Ao iniciarmos a apresentação dos elementos organizacionais dos povos bárbaros, 
precisamos ter em mente, caro(a) aluno(a), assim que, como já discutido, o con-
ceito de bárbaro não se refere à falta de desenvolvimento ou de organização dos 
povos que viviam fora das fronteiras fortificadas de Roma. Ao contrário, esses 
povos, em consequência da diversidade étnica, dos deslocamentos e dos contatos 
constantes com diferentes civilizações, conseguiram aprender e evoluir, apreen-
dendo e adaptando elementos de outras culturas às suas necessidades e realidades.
Em relação à organização econômica desses povos, a agricultura era a ativi-
dade mais comum, mas não a única. Alguns povos também praticavam a caça, 
É muito complexo singularizar povos, costumes e culturas que não estão 
definitivamente definidas nem histórica, nem arqueologicamente.
 (Rosa Sanz Serrano)
Política, Economia e Sociedade no Mundo Bárbaro
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a pesca e a pecuária, e mesmo aqueles que tinham, na agricultura, sua atividade 
econômica principal, também se envolveram com outras atividades para com-
plementar suas necessidades.
Sobre a agricultura,pode-se dizer que 
se tratava de uma agricultura precária, 
desenvolvida sem grandes investimentos 
técnicos, devido à falta de conhecimento 
dessas técnicas e, também, ao fato de esses 
povos serem nômades ou seminômades, 
o que não possibilitava um investimento 
na terra que permitisse a sua reutilização 
após uma colheita. Os principais produtos 
cultivados pelos bárbaros eram a cevada, o 
trigo, a aveia, o milho e o centeio, alimentos 
que eram a base da sua alimentação. Assim, observamos que as atividades eco-
nômicas consistiam, basicamente, na manutenção da sobrevivência das tribos.
Vale ressaltar, caro(a) aluno(a), que os povos bárbaros tinham, como carac-
terística marcante, a preocupação militar, isto é, a preocupação com a guerra, 
atividade que demandava atenção e dedicação dos homens da tribo, sobre-
tudo devido aos resultados obtidos com as pilhagens praticadas. Além disso, o 
reconhecimento da coragem durante um conflito rendia alguns privilégios aos 
homens. Por essa razão, a agricultura era uma atividade realizada, também, pelas 
mulheres da tribo, principalmente nos períodos de guerra, quando os homens 
voltavam sua atenção para o combate.
A base política e social dos bárbaros assentava-se na organização tribal, na 
qual não existia o conceito de Estado e a família era o alicerce dessa estrutura. 
A família era composta por membros mais próximos: maridos, esposas, filhos 
e seus dependentes, como os escravos e semilivres. A manutenção e a proteção 
da ordem familiar eram vitais para o funcionamento da vida em sociedade dos 
povos bárbaros e, dentro dessa organização familiar, o respeito era um elemento 
importante, sendo que a ofensa a qualquer um dos membros da família repre-
sentava uma ofensa a toda família.
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Embora houvesse a figura do rei, os povos bárbaros eram divididos em tribos, 
as quais eram governadas por chefes militares que governavam de acordo com 
uma democracia militar, isto é, as decisões eram tomadas em conjunto. Ao chefe 
eleito pela assembleia, cabia o dever de dirigir o exército em tempos de guerra 
e decidir sobre as questões políticas juntamente com a comunidade. Em detri-
mento do fato de que os homens bárbaros eram grandes militares, aqueles que 
não participassem das guerras ou abandonassem uma batalha, era lhe retirado o 
direito de participar das assembleias.
Os povos bárbaros eram politeís-
tas e não possuíam uma organização 
religiosa baseada em complexas hie-
rarquias e/ou rituais, como no caso 
do cristianismo. Entre esses povos, 
cabia, aos chefes das tribos e outros 
membros da família, a realização 
ou a condução das práticas adota-
das por eles. Entre os elementos de 
adoração dos bárbaros, destacam-se 
os elementos da natureza, animais e 
seres mitológicos, além de alguns 
objetos os quais acreditavam pos-
suir algum tipo de poder. Entre as 
divindades, a mais importante era 
Odin, deus da guerra.
Na cultura bárbara, a família desempenhava um papel central na organiza-
ção desses povos, cujo respeito e a proteção a essa instituição representa-
vam o sucesso da vida em sociedade. Em contraste, na atualidade, como 
entendemos o conceito de família? 
Figura 2 - Deus nórdico Odin com corvos e espadas. 
Ilustração gráfica no anel. Ornamento celta.
Fonte: Shutterstock
Política, Economia e Sociedade no Mundo Bárbaro
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Agora que conhecemos a organização dos povos bárbaros, podemos avançar no 
estudo desses povos, visando compreender a complexidade das relações estabe-
lecidas entre eles e os romanos, e as consequências dessas relações, sobretudo a 
formação da sociedade medieval.
Tabela 1 - Organização dos povos bárbaros
ECONOMIA
 ■ Agricultura: atividade mais comum, precária e com poucos 
investimentos técnicos.
 ӽ Caça.
 ӽ Pesca.
 ӽ Pecuária.
POLÍTICA
 ■ Organização tribal.
 ■ Não conheciam o conceito de Estado.
 ■ A família era o alicerce dessa estrutura.
 ■ Hierarquia militar.
RELIGIÃO ■ Politeístas.
Fonte: a autora.
Devido à diversidade dos povos bárbaros e ao fato de se constituírem como 
povos nômades, conhecer e descrever todos os aspectos e divindades des-
ses povos não é uma tarefa fácil. Em consequência do fato de que os bárba-
ros eram descendentes de diversas etnias oriundas de várias regiões, seus 
princípios e suas características de religiosidade também constituem uma 
vasta gama de elementos distintos. 
Fonte: a autora.
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OS BÁRBAROS E OS LIMITES DO IMPÉRIO ROMANO
Neste momento de nosso estudo, caro(a) aluno(a), após conhecermos os ele-
mentos que caracterizavam os povos bárbaros, buscaremos entender a relação 
entre eles e os romanos até o século IV, e analisar os interesses mútuos que fun-
damentaram essa relação.
Observamos, anteriormente, que é difícil 
estabelecer o caminho percorrido pelos 
povos bárbaros até chegarem ao Império 
Romano, porque, ao longo desse trajeto, 
muitos povos foram submetidos e incor-
porados por outros mais fortes. O que 
podemos observar é que, ao encontra-
rem-se nos limites de Roma, esses povos 
foram penetrando nas regiões do Império, 
gradativamente. Com a aproximação dos 
povos bárbaros, o Império Romano bus-
cou formas de manter sua soberania e 
sua supremacia política e militar, pois, na 
medida em que já se sentia os sinais da 
crise do Império, a ameaça de um ataque de 
povos oriundos de outras regiões tornou-se 
uma preocupação a mais para os romanos.
Fonte: Shutterstock
Figura 3 - Saque de Roma pelos Vândalos, em 455 d.C. Por 
Heinrich Leutemann
Fonte: Wikipedia ([2018], on-line)2.
https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Heinrich_Leutemann&action=edit&redlink=1
Os Bárbaros e os Limites do Império Romano
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A historiografia aponta as variações no clima, o aumento e o empobrecimento 
das populações, a pressão exercida por outros povos, a pilhagem e o desejo de 
enriquecimento como razões para o deslocamento e a busca por novos territó-
rios pelos bárbaros. Impelidos por esses fatores, essas populações, oriundas de 
regiões como a Germânia, a Escandinávia e entre outras, avançaram até os limi-
tes de Roma e ali se organizaram e se fixaram até o momento da primeira onda 
de invasões no século IV.
O contato entre romanos e bárbaros sempre foi intenso e, desde o século 
I, os primeiros precisaram lidar com a ameaça de uma invasão bárbara e lutar 
para tentar submeter os inimigos ao seu domínio. Assim como os romanos pre-
cisavam manter a segurança de seus domínios, os bárbaros também precisavam 
lutar contra outros povos bárbaros para manter o domínio das regiões recém-
-alcançadas e, para isso, chegaram a formar alianças com os romanos para evitar 
o avanço de outros povos.
Perceba que essa aproximação e instalação em regiões próximas ou dentro 
dos limites de Roma, caro(a) aluno(a), permitiu a organização de alianças entre 
bárbaros e romanos, que foram, simultaneamente, a salvação e a desarticulação 
do Império Romano. Além disso, por meio desse contato, foram possibilitadas 
as trocas culturais relevantes para a formação da sociedade medieval, que, como 
já fora abordado, é o reflexo da fusão entre essas duas culturas.
Diante disso, caro(a) aluno(a), é perceptível que as relações entre bárbaros 
e romanos, desde os primeiros contatos, desenvolveram-se de maneira com-
plexa e de acordo com as conjunturas históricas do momento. Percebemos, 
também, que o fato de os bárbaros estarem fora dos limites do Império não os 
tornavam aliados entresi. Ao contrário, a história desses povos mescla uma 
política de alianças entre eles contra os romanos ou contra outros povos bár-
baros, e de alianças com os romanos contra os próprios bárbaros. Tudo isso, 
permeado pelas circunstâncias históricas do momento e de acordo com os 
interesses de todos os envolvidos.
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Conforme aponta Musset (1975, p. 30):
O Império do Oriente primeiro manteve relações pacíficas com os re-
cém-chegados e talvez favoreceu seu estabelecimento na Bacia Panónia 
até 390. Enquanto os visigodos de Alarico representaram o principal 
perigo nos Balcãs, a amizade com os hunos constituiu um fator favorá-
vel (tradução nossa).
Não foi apenas a partir de acordos e alianças políticas e militares que bárba-
ros e romanos desenvolveram suas relações. O comércio entre esses dois povos 
também se fez presente nesse complexo cenário de aproximação. Em troca de 
mercadorias, como escravos e peles, por exemplo os romanos entregavam, aos 
bárbaros, metais preciosos, vinho (bebida que não era consumida pelos bárba-
ros) e até mesmo tecidos e utilidades domésticas.
Como resultado desse contato entre bárbaros e romanos, as fontes historiográ-
ficas nos mostram, caro(a) aluno(a), que tanto romanos quanto bárbaros adotaram 
e adaptaram, para a sua cultura, hábitos e costumes uns dos outros. Elementos 
presentes na vestimenta, na alimentação, nas técnicas agrícolas e de construção, 
nas artes e no vocabulário foram incorporados ao cotidiano de ambos os povos.
De acordo com Serrano (1995), com os romanos, os bárbaros conheceram o 
conceito de monarquia, diplomacia e propriedade privada, assim como entraram 
em contato com suas instituições jurídicas. Já os romanos, ao entrarem em con-
tato com os bárbaros, além de poderem contar com a força e a estratégia deles 
em seu exército, também aprenderam novas táticas militares e adotaram novos 
cortes de cabelo e tipos de vestimenta. Além disso, o comércio com os bárbaros 
significava uma alternativa para o escoamento dos produtos romanos.
Essa “colcha de retalhos” em que se transformaram as relações entre bárbaros 
e romanos traz, em si, os pormenores do contato entre esses dois povos, os quais, 
ao lançarmos um olhar mais atento e profundo, podem nos revelar os aspectos que 
compunham cada povo e a maneira como cada qual lidava com as estruturas sociais.
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A RELAÇÃO ENTRE AS INVASÕES BÁRBARAS E A 
DESESTRUTURAÇÃO DO IMPÉRIO ROMANO
Nesse momento de nosso estudo, prezado(a) aluno(a), discorreremos acerca dos 
momentos em que os bárbaros romperam os limites do Império Romano e pro-
vocaram transformações em sua estrutura, mesclando suas características com 
as dos romanos e possibilitando a formação de uma nova sociedade.
De acordo com a historiadora Rosa Serrano (1995, p. 32), romanos e bárbaros, 
na realidade, assemelhavam-se na medida em que ambos possuíam uma atitu-
de baseada na prepotência, invasão e saque de recursos.
Fonte: a autora.
Atenção!
Fonte: Shutterstock.
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Estudamos, anteriormente, que, a princípio, os bárbaros desenvolveram uma 
relação com os romanos que, por diversas vezes, mostrou-se vantajosa para ambos 
os lados. A aproximação e a infiltração dos bárbaros nas instituições romanas, da 
forma como aconteceu até o século IV (lembremo-nos da participação bárbara 
no exército romano), somada às condições e às situações enfrentadas pela admi-
nistração do Império, permitiram que esses povos estabelecessem uma dinâmica 
que lhes rendeu o controle do território que já foi considerado um dos maiores 
impérios da civilização ocidental.
Le Goff (1995) destaca que, já no século III, Roma encontrava-se em um 
período de crise que, agravada pela chegada dos bárbaros, provocou a ruptura e 
a divisão do Império em Império Romano do Ocidente, com capital em Roma, 
e Império Romano do Oriente, com capital em Constantinopla, sendo que o 
Ocidente entrou em um período de estagnação que contribuiu para o avanço 
dos povos bárbaros em seu território.
Os povos que participaram da primeira onda migratória conseguiram deses-
tabilizar e modificar as estruturas do Império Romano do Ocidente no século 
V, enquanto o Império Romano do Oriente conseguiu resistir às invasões e se 
manter firme até o século XV.
Figura 4 - Império Romano após a divisão no século IV
Fonte: Wikimedia Commons (2016, on-line)3.
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Os bárbaros atingiram as fronteiras do Império Romano em três períodos diferen-
tes, os quais os historiadores denominam de ondas migratórias. Já observamos, 
prezado(a) aluno(a), que não existe consenso em relação à periodização da Idade 
Média. Isso também ocorre com relação às periodizações das ondas migratórias 
dos bárbaros ao Império Romano. Para nosso estudo, adotaremos a periodiza-
ção indicada por Musset (1975).
De acordo com esse autor, a primeira onda de invasões ocorreu entre os 
séculos IV e V e foram lideradas pelos Hunos, Alanos, Godos, Vândalos, Suevos 
e Burgúndios. A segunda onda de invasões ocorreu entre os séculos V e VI e 
teve, como destaque, a chegada dos Francos, Alamanos e Bávaros. Na terceira 
onda de invasões, ocorrida entre os séculos VI e VII, foi a vez dos Lombardos e 
dos Ávaros ocuparem o território do antigo Império Romano (MUSSET, 1975)
Figura 5 - Invasões Bárbaras: ondas migratórias (séculos II a VI)
Fonte: Wikimedia Commons (2016, on-line)4. 
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Tabela 2 - Invasões bárbaras (Séculos IV-VII)
PRIMEIRA ONDA 
(SÉCULOS IV-V)
Desmembramento Oriental Hunos; Alanos; Godos
Desmembramento Ocidental Vândalos; Suevos; Burgúndios
SEGUNDA ONDA 
(SÉCULOS V-VI)
Francos; Alamanos; Bávaros
TERCEIRA ONDA 
(SÉCULOS VI-VII)
Lombardos 
Ávaros
Fonte: Musset (1975).
As fontes indicam que uma série de fatores contribuiu para a penetração dos bár-
baros no território do Império Romano. De acordo com medievalistas, a primeira 
onda de invasões foi provocada, sobretudo, pela proximidade entre bárbaros e 
romanos desde o momento em que os primeiros passaram a ocupar pontos pró-
ximos à fronteira e a ocupar cargos no exército romano.
É importante destacarmos aqui, caro(a) aluno(a), que a aproximação dos 
primeiros povos bárbaros ao território de Roma ocorreu devido às pressões exer-
cidas sobre eles por outros povos, mais fortes ou cruéis. Isto é, mesmo entre os 
que viviam em territórios distantes das fronteiras do Império havia tensão e con-
flitos que obrigavam os mais fracos a fugirem em busca de novas regiões para se 
estabelecerem. Essa luta entre os povos bárbaros é um aspecto importante a ser 
considerado nos estudos acerca da invasão do Império Romano, uma vez que, ao 
fugirem de seus territórios de origem, os bárbaros uniam-se uns aos outros, mes-
clando seus elementos culturais e avançando até chegarem ao Império Romano.
Dentre os povos bárbaros que contribuíram para o deslocamento de outros 
povos, destacam-se os Hunos. Os Hunos eram os mais cruéis entre os povos 
que desencadearam a primeira onda migratória e são descritos como indi-
víduos fortes tanto no aspecto físico quanto no aspecto psicológico, sendo 
comparados aos animais mais cruéis conhecidos. 
Fonte: LeGoff (1995).
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Consta, ainda, entre as razões que contribuíram para a chegada dos bárbaros ao 
território romano, fatores, tais como o deslocamento em busca de novas terras, 
devido às mudanças climáticas em suas regiões de origem e ao aumento popu-
lacional, que levou à procura de regiões que pudessem atender às necessidades 
de seus indivíduos. Impulsionados por esses fatores, em maior ou menor grau, 
os bárbaros atingiram o território do Império Romano, ultrapassaram seus limi-
tes e modificaram as bases desse Império.
Tabela 3 - Território Ocupado pelas Principais Tribos Bárbaras
POVO BÁRBARO TERRITÓRIO OCUPADO
Alanos Península Ibérica e o norte da África
Visigodos Gália, Itália e Espanha
Ostrogodos Constantinopla e Itália
Vândalos Norte da África e Península Ibérica
Suevos Espanha
Burgúndios Sudoeste da França
Francos Atual França, Itália e Alemanha
Alamanos Atual Alemanha e Suíça
Lombardos Norte da Península Itálica
Saxões Ilhas Britânicas
Anglo-Saxões Atual Inglaterra
Fonte: a autora.
Se, em um primeiro momento, os bárbaros que chegaram a Roma estabeleceram 
relações que lhes permitiram o assentamento no território, com o tempo, esses 
povos buscaram a sua emancipação, na medida em que, embora estivessem em 
Roma, não eram, necessariamente, cidadãos romanos, pois tinham seus próprios 
líderes e costumes. Gradativamente, esses povos tornaram-se inimigos de Roma 
e começaram a fundar seus próprios reinos, fato que levará a transformações 
na estrutura político-administrativa do Império, tendo em vista a dificuldade 
do exército romano em conseguir defender as fronteiras do território diante do 
crescente avanço dos bárbaros.
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Ao atravessarem a fronteira do Império Romano e se instalarem nas regiões antes 
dominadas por Roma, os bárbaros praticavam a pilhagem e deixavam um rastro 
de desordem e de destruição nos locais por onde passavam. De acordo com Le 
Goff (1995), não era raro esses povos encontrarem apoio entre cidadãos romanos:
A estrutura social do Império Romano, em que as camadas populares 
eram cada vez mais esmagadas por uma minoria de ricos e poderosos, 
explica o êxito das invasões bárbaras. Ouçamos Saviano: “Os pobres 
estão despojados, as viúvas gemem e os órfãos são pisados a pés, a tal 
ponto que muitos, incluindo gente de bom nascimento e que recebeu 
educação superior, se refugiam junto dos inimigos. Para não perecer 
à perseguição pública, vão procurar entre os Bárbaros a humanidade 
dos romanos, pois não podem suportar mais, entre os Romanos, a de-
sumanidade dos Bárbaros. São diferentes dos povos onde buscam re-
fúgio; nada têm das suas maneiras, nada têm da sua língua e, seja-me 
permitido dizer, também nada têm do odor fétido dos corpos e das 
vestes dos Bárbaros; mas preferem sujeitar-se a essa dissemelhança de 
costumes a sofrer, entre os Romanos, a injustiça e a crueldade [...] (LE 
GOFF, 1995, p. 36).
Diante disso, caríssimo(a) aluno(a), fica evidente que, embora as invasões tenham 
um peso significativo no processo de decadência e no fim do Império Romano, 
as estruturas do Império já estavam abaladas e comprometidas antes da che-
gada destes povos. Embora os bárbaros buscassem ocupar e dominar o território 
Figura 6 - Invasão dos Hunos
Fonte: Wikipedia Commons (2014, on-line)5. 
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romano, após as invasões e a instalação dos reinos, muitos povos adotaram alguns 
costumes dos romanos e até convidaram romanos para tomarem parte na admi-
nistração desses reinos. Além disso, os bárbaros não se mostraram desfavoráveis 
a todas as instituições romanas, ao contrário, optaram por manter algumas delas 
durante sua administração.
Com a chegada e a instalação dos bárbaros, ocorreu uma transformação nas 
estruturas de Roma que levou ao fim da organização político-administrativa, 
conhecida como Império Romano do Ocidente. Surge, a partir dessas invasões, 
um novo mapa da Europa, configurado, agora, pela formação dos reinos bárbaros.
Entre essas transformações, destacamos a descentralização do poder, a deca-
dência das cidades romanas em decorrência de um processo de ruralização, 
haja vista que, como vimos, os povos bárbaros tinham, na agricultura, a sua 
principal atividade econômica, e a fragmentação monetária, que também é 
uma característica da economia dos povos bárbaros. Outras consequências 
das invasões bárbaras ao território romano serão estudadas nas próximas 
Figura 7 - Reinos Bárbaros no século VI
Fonte: Eis o homem ([2018], on-line)6.
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unidades, caro(a) aluno(a), a fim de que você compreenda o desenvolvi-
mento do feudalismo na Europa medieval.
O REINO DOS FRANCOS E A FORMAÇÃO DO 
IMPÉRIO CAROLÍNGIO
O reino dos Francos merece destaque em nossos estudos, caro(a) aluno(a), devido 
ao fato de ter se transformado no reino mais poderoso entre os povos germâni-
cos e constituído um império que submeteu vários outros povos ao seu domínio. 
Além disso, estabeleceu uma aliança com a Igreja Católica, fortalecendo o poder 
dos seus reis, fato que teve, como consequência, a coroação de um “bárbaro” 
como imperador do Império Romano no século IX.
Os Francos estabeleceram-se no território do antigo Império Romano no 
século V e dominaram a região da Gália. Foram, até o século VIII, expandindo 
A civilização romana, na realidade, suicidou-se, e este suicídio nada teve de 
natural nem de belo; e não está morta, pois as civilizações não são mortais. 
A civilização romana sobreviveu, mediante os bárbaros, ao longo de toda a 
Idade Média e para além dela. 
(Jacques Le Goff)
O Reino dos Francos e a Formação do Império Carolíngio
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seus domínios até formarem um poderoso império, no qual adotaram várias 
características dos antigos romanos e estabeleceram alguns dos costumes e dos 
princípios característicos da Idade Média.
A história da dominação franca de outros povos bárbaros tem início com a 
fundação da dinastia merovíngia, entre os séculos V e VI, pelo rei Clóvis (481-
511). O nome “merovíngio” deriva do rei franco Meroveu (447-458), embora 
Clóvis seja considerado o inaugurador da dinastia merovíngia. Em seu governo, 
Clóvis adotou uma postura conquistadora e expansionista de seus domínios, 
que seria a marca de seus descendentes e que levaria o reino Franco ao status 
de império. O prestígio de Clóvis, advindo de sua prática guerreira, foi forta-
lecido quando ele se converteu ao cristianismo, iniciando uma aliança com a 
Igreja Católica que foi de grande importância para a história dos francos. Ao 
converter-se, Clóvis possibilitou que a Igreja Católica ampliasse sua influência 
nas questões políticas e renovasse seu poder no Ocidente.
Teremos, mais adiante, caro(a) aluno(a), a oportunidade de estudar mais 
profundamente as diferenças entre Ocidente e Oriente ao longo da história e com-
preendermos as razões das divergências 
religiosas e políticas entre as duas partes 
do império. Cabe ressaltar, neste momento, 
que, quando o rei franco Clóvis deu início à 
dinastia dos merovíngios e ampliou o domí-
nio de seu povo em Roma, por meio de 
guerras e da aliança com a Igreja, o impera-
dor do Oriente, Anastácio, reconheceusua 
legitimidade enquanto rei dos francos, mas 
não de um reino, e em nome do imperador. 
Isto é, reconheceu o prestígio e o trabalho 
de Clóvis, mas não o considerava uma ame-
aça à sua suposta autoridade no Ocidente.
Com a morte de Clóvis, os territórios 
conquistados e dominados por ele foram 
divididos entre seus filhos Teodorico, 
Clodomiro, Childeberto e Clotário. Eles Fonte: Wikimedia Commons (2018,on-line)7.
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continuaram a política expansionista e dominadora do pai, conseguindo ampliar 
seu domínio por toda Germânia. No ano de 561, Clotário, após a morte de seus 
irmãos e descendentes, era o único governante do território conquistado desde 
Clóvis e, após a sua morte, novamente, o território dos francos foi dividido entre 
seus herdeiros: Sigeberto I, Chariberto I, Gontrán e Chilperico I.
As divisões do território dominado pelos francos, ao longo de sua história, 
levaram a uma desestruturação do poder real, na medida em que ele se relacio-
nava com a extensão de seu domínio. Diante disso, abriu-se espaço para que 
a aristocracia ganhasse força na administração do reino. Esse fato gerou uma 
mudança de cenário na política franca. Os francos atribuíam grande valor ao 
princípio do juramento e da fidelidade, princípios que serão a base das relações 
ao longo da Idade Média.
A partir do desfalecimento do poder dos reis, devido a várias divisões do 
território franco e da ascensão ao cenário político-administrativo da aristo-
cracia que habitava aquela região, a 
dinastia merovíngia entrou em declí-
nio e novos personagens surgiram na 
tentativa de tomar o poder. Dentre 
esses personagens, chama-nos a aten-
ção Pepino de Herstal, por ser ele o 
indivíduo que conseguiu chegar ao 
poder e assumir o comando da dinas-
tia merovíngia.
Com Pepino, a história dos 
francos assume uma nova direção 
e, quando seu filho bastardo, Carlos 
Martel, após a sua morte, assume o 
governo, os francos retomaram sua 
política expansionista, sendo Martel 
o responsável por ampliar os domí-
nios dos francos, com destaque 
para a Batalha de Poitiers, em 732, 
quando derrotou os muçulmanos 
Figura 8 - Reconstituição de um antigo guerreiro franco
Fonte: Wikimedia Commons (2014, on-line)8.
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que tentavam chegar ao Ocidente. O filho de Carlos Martel, Pepino, o breve, 
foi quem herdou a administração do vasto território franco depois que seu 
irmão Carlomano decidiu seguir a vocação religiosa. Pepino deu início à dinas-
tia Carolíngia após se tornar rei dos francos e reforçar a aliança com a Igreja.
Caro(a) aluno(a), chegamos a um ponto de nosso estudo que merece muita 
atenção, visto que passamos a discutir, a partir de agora, as características e os 
princípios que marcaram um período importante da história medieval, ou seja, 
o período de formação e de dominação da dinastia Carolíngia. Nesse período, 
muitos dos costumes que marcaram a Idade Média se fortaleceram, dentre os 
quais destacamos as bases em que se fundamentaram as relações pessoais e o 
crescente poder da Igreja Católica cujas bases se fortaleceram a partir da união 
entre Carlos Magno e o Papa Leão III. Desse modo, caro(a) aluno(a), dispense 
uma maior atenção a partir deste momento.
Carlos Magno assumiu o governo dos francos em 771, após a morte de seu 
pai Pepino, o Breve, e de seu irmão Carlomano. Carlos Magno era reconhecido 
por sua postura guerreira e política, caracterizada pela bravura e inteligência, 
o que lhe garantiu o respeito de seus companheiros e do líder da Igreja. Prova 
disso é que, no século VIII, Carlos Magno foi considerado “dono do Ocidente” 
(HALPHEN, 1992, p. 103) e o único capaz de recuperar o poder e a glória dos 
tempos do Império Romano.
Quando Leão III assumiu o comando da Igreja em 795, após a morte do Papa 
Adriano, ele entendeu a necessidade de conquistar o apoio de Carlos Magno para a 
expansão do poder e do prestígio da Igreja Católica aos povos que ainda não haviam 
se convertido ao cristianismo. Por essa razão, Leão III colocou-se como aliado e, 
mais importante, como subordinado de Carlos Magno. Com esse posicionamento, 
Leão III possibilitou que Carlos Magno tomasse parte nas questões religiosas, na 
medida em que não mostrou oposição aos seus ideais. A aproximação entre Carlos 
Magno e Leão III criou as bases para que o primeiro conquistasse o objetivo que já 
fora de Pepino, ou seja, de ser imperador do Ocidente. Após Carlos Magno ajudar 
Leão III a vencer os conflitos oriundos da oposição à sua eleição como Papa, ele 
iniciou o processo que culminou na coroação de Carlos Magno, no Natal de 800.
A historiografia chama atenção para uma discussão sobre o processo de coro-
ação de Carlos Magno. Alguns historiadores afirmam que a sua coroação não 
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foi pensada ou planejada, sendo uma surpresa, inclusive, para ele. No entanto, 
Halphen (1992) chama a atenção para o fato de que Carlos Magno não só sabia 
que seria coroado no Natal de 800, como planejou cada passo nos dias que ante-
cederam a coroação. Além disso, a coroação representava um agradecimento da 
Igreja a Carlos Magno pelas doações valiosas que ele e seus antecedentes fizeram 
à Igreja. Surpresa ou não, fato é que a coroação de Carlos Magno por um Papa 
foi algo inédito no Ocidente e representou o início de uma nova era ocidental.
Não podemos nos esquecer, caro(a) estudante, de que já existia um impe-
rador na parte oriental de Roma, o qual só reconheceu a autoridade de Carlos 
Magno enquanto imperador do Ocidente mediante a entrega dos territórios loca-
lizados no mar Adriático para Bizâncio. Depois de realizada a entrega, Carlos 
Magno conseguiu o total reconhecimento da sua autoridade enquanto impera-
dor e pôde dar sequência aos seus planos de expansão e de constituição de um 
vasto e poderoso império.
Figura 9 - Expansão do Reino Franco
Fonte: Wikimedia Commons (2007, on-line)9.
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A administração de Carlos Magno foi pautada na consolidação de alianças de 
fidelidade que lhe garantiram alcançar seus objetivos sem sofrer fortes oposi-
ções ou traições. Nesse sentido, investiu na formação de um clero capaz de lhe 
auxiliar na formação religiosa dos povos por ele governados, além de promover 
o que os autores contemporâneos chamam de “renascimento carolíngio”, isto é, 
buscou, segundo (VIEIRA, 2010, p. 1):
Reverter parte do processo de degradação da cultura greco-romana 
que marcou o referido período histórico, consequência das sucessivas 
ondas de invasões dos povos que, outrora, foram caracterizados pelos 
romanos de bárbaros.
Em relação aos territórios conquistados pelos francos, desde o século V e depois, 
sob o domínio de Carlos Magno, o imperador entendeu que, para manter a uni-
dade de povos diferentes e com características próprias, era necessário intensificar 
os juramentos de fidelidade. Esses juramentos eram realizados entre os habitan-
tes do sexo masculino do Império e o imperador, e consistiam em uma promessa 
de fidelidade ao imperador em troca de proteção:
Juro, desde este dia, ser fiel ao senhor Carlos, imperador muito piedoso, 
filho do rei Pepino e da rainha Berta, sinceramente, sem fraude e má in-
tenção e pela honra de seu reinado, como por direito um homem deve 
ser a seu senhor e dono. Assim, Deus e os santos, cujas relíquias estão 
aqui, me protejam, pois todos os dias de minhavida, com toda minha 
vontade e com toda a inteligência que Deus me conceda, me dedicarei 
e me consagrarei a seu serviço (HALPHEN, 1992, p. 138).
É importante lembrar, caro(a) aluno(a), que estamos nos referindo a uma época 
em que a palavra era um bem precioso e tinha o peso de um contrato nos tem-
pos de hoje. Assim, ao fazer o juramento, o indivíduo oferecia, como garantia, 
ao imperador, o que de mais precioso ele tinha: sua palavra.
Essa relação de fidelidade, assim como o princípio da vassalagem, ambos pre-
sentes no governo de Carlos Magno, serão a base das relações na Idade Média, 
assim como a ruralização da economia – processo iniciado com as invasões bár-
baras – e a propriedade da terra vão conferir as bases do feudalismo medieval.
AS INVASÕES BÁRBARAS: O CONTATO ENTRE “BÁRBAROS” E ROMANOS 
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Carlos Magno morreu em 814 e, mais uma vez, o território conquistado e 
ampliado pelos francos desde o século V foi dividido entre seus herdeiros, sendo 
que Luís, o Piedoso, foi quem acabou herdando todo o território após a morte de 
seus irmãos. Luís governou até 840 e não conseguiu manter o êxito de seu pai, 
devido à sua falta de carisma e de estratégia. Diante da fragilidade de Luís, o Império 
Carolíngio começou a entrar em declínio, ocorrendo a fragmentação do poder 
central. Outro fato que contribuiu para a desestruturação do Império Carolíngio 
foi a invasão dos vikings e dos árabes, entre os séculos IX e X.
Com a morte de Luís, seus filhos passaram a disputar os territórios herdados do 
pai, e somente em 843, com a assinatura do Tratado de Verdun, os limites que cabiam 
a cada um foram definidos: a França Ocidental ficou com Carlos, o Calvo; a França 
Oriental coube a Luís, o Germânico, e a Itália Setentrional e o Mar do Norte passaram 
às mãos de Lotário. Essas regiões correspondem à atual França, Alemanha e Itália.
Figura 10 - Divisão do Império Carolíngio após o Tratado de 
Verdun (843)
Fonte: Wikimedia Commons (2013, on-line)10.
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Diante do que foi exposto até aqui, caro(a) aluno(a), é possível observamos a 
relevância da formação e do desenvolvimento do Império Carolíngio para a for-
mação da sociedade medieval, haja vista ter sido, neste período, que os alicerces 
da sociedade do período em questão foram consolidados. Além disso, a aliança 
entre Estado e Igreja, firmada no governo de Carlos Magno, será mantida ao 
longo de toda Idade Média.
QUADRO EXPLICATIVO
Idade Média (Séculos V a XV)
PERÍODO EVENTOS CONSEQUÊNCIAS
Alta Idade Média 
(Séculos V a X)
Formação e consolidação dos 
Reinos Bárbaros. 
Formação do Império Carolíngio.
Fortalecimento da Igreja Cristã 
Medieval.
Desestruturação do Império 
Romano. 
Fortalecimento das característi-
cas da sociedade medieval. 
Controle político, social e cultural.
Baixa Ida-
de Média 
(Séculos X a 
XV)
Consolidação do feudalismo. 
Cruzadas. 
Renascimento Comercial e 
Urbano. 
Nascimento das primeiras Uni-
versidades Medievais. 
Peste Negra.
Raízes medievais dos Estados 
Nacionais Modernos. 
Tomada de Constantinopla pelos 
turcos (fim do Império Romano 
do Oriente).
Transformações políticas, econô-
micas e sociais.
Ampliação do contato entre Oci-
dente e Oriente = trocas culturais 
e comerciais. 
Desenvolvimento das atividades 
comerciais e reavivamento dos 
centros urbanos. 
Transformações culturais. 
Crise política, econômica e social. 
Fim do Império Romano do 
Oriente.
Fonte: a autora.
AS INVASÕES BÁRBARAS: O CONTATO ENTRE “BÁRBAROS” E ROMANOS 
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final da discussão dos primeiros elementos que 
compõem o processo de formação da sociedade medieval, ou seja, da instalação dos 
chamados povos bárbaros no território do antigo Império Romano. Essa discus-
são torna-se necessária na medida em que é do contato entre bárbaros e romanos 
que serão criadas as bases do mundo medieval, um período marcado por cos-
tumes, valores e princípios muito diferentes dos que eram conhecidos até então.
Observamos que, ao ultrapassarem as fronteiras do Império Romano, os 
bárbaros já encontraram um império desestabilizado e enfraquecido, o que con-
tribuiu para o avanço e o deslocamento desses povos dentro do Império, assim 
como a sua instalação em diversas regiões antes dominadas por Roma. O contato 
entre bárbaros e romanos foi marcado por guerras e conflitos, mas também pelo 
estabelecimento de relações comerciais e até mesmo pela incorporação de indi-
víduos não romanos no exército e em outros cargos administrativos do Império.
Essa infiltração gradativa de elementos bárbaros na vida política, adminis-
trativa e cultural de Roma possibilitou a aceleração da desintegração do Império 
Romano e a criação de uma realidade marcada pela descentralização do poder e 
o esfalecimento de atividades econômicas importantes, as quais foram estabeleci-
das em outros momentos. Essa nova realidade permitiu aos povos não romanos 
o estabelecimento e o fortalecimento dos seus elementos culturais junto à cul-
tura romana, desenvolvendo as bases do período conhecido como Idade Média.
Nesse sentido, podemos observar a importância da formação dos reinos 
bárbaros para os rumos da civilização ocidental, sobretudo se levarmos em con-
sideração a história da formação e do desenvolvimento do reino dos Francos e 
o consequente estabelecimento do Império Carolíngio, o qual, sob o governo de 
Carlos Magno, conseguiu transformar as bases da sociedade e contribuir para a 
criação de uma sociedade pautada nos laços de fidelidade e no poder da Igreja 
Católica.
41 
1. “Após o desaparecimento do Império Romano do Ocidente, formalmente assi-
nalado pelo episódio de deposição do Imperador infante Rômulo Augusto por 
Odoacro, chefe da confederação de tribos germânicas dos hérulos (4 de setem-
bro de 476), observa-se a formação dos diversos reinos romano-germânicos, 
ou seja, reinos com populações fundamentalmente de etnia e cultura galo-ro-
mana, hispano-romana, ítalo-romana, mas onde o poder ficou sob controle do 
rei germânico [...]. Então o Ocidente, profundamente marcado por este enorme 
encontro e confronto de civilizações, apresentou, com relação ao período an-
terior, um quadro complexo e variado de continuidades e descontinuidades” 
(BIBIANI; TÔRRES, 2002, p. 3-13).
Levando-se em consideração as discussões apresentadas nesta unidade, ela-
bore um texto dissertativo (máximo de 15 linhas) destacando as características 
dos povos bárbaros que chegaram ao território romano a partir do século IV 
e como esses povos se relacionaram com os antigos romanos a partir dos pri-
meiros contatos.
2. “Sucedendo a um período de crise e anarquia militar, os imperadores membros 
da tetrarquia procuraram realizar as mais variadas reformas administrativas [...]. 
O mais dotado para a administração, Diocleciano, estendeu e retomou essas 
medidas durante pelo menos uma dezena de anos, antes de sistematizar uma 
obra que foi, ainda, completada por Constantino. Os perigos externos tanto 
dos povos ‘bárbaros’ quanto dos persas sassânidas era uma das principais pre-
ocupações dessa época” (FUNARI, 2007, p. 17-24).
Após a leitura do enunciado e do estudo cuidadoso desta unidade, estabeleça 
as relações entre a chegada dos povos bárbaros ao Império Romano e a sua 
desestruturação e consequente fim.
42 
3. A imagem a seguir representa o reino dos Francos no século VI. Com base na 
imagem e nas discussões propostas nesta unidade, assinale a alternativa cor-
reta:
Fonte: Wikimedia Commons (2015, on-line)11.
a) Em seu governo, Clóvis adotou uma postura conquistadora e expansionista 
de seus domínios, mas seu poder ficouabalado quando ele se recusou a se 
converter ao cristianismo, perdendo o apoio da Igreja.
b) As divisões do território dominado pelos francos, ao longo de sua história, 
levaram a uma desestruturação do poder real na medida em que ele se re-
lacionava com a extensão de seu domínio, fato que contribuiu para que os 
romanos cristãos avançassem e reconquistassem seus antigos domínios.
c) Carlos Magno assumiu o governo dos francos em 771, após a morte de seu 
pai Pepino e de seu irmão Carlos Magno. Carlos Magno mostrou-se um go-
vernante forte e poderoso, mas não foi capaz de estabelecer relações amigá-
veis com a Igreja, o que prejudicou a expansão de seu império.
d) A aproximação entre Carlos Magno e o Papa Leão III criou as bases para que 
o primeiro conquistasse o objetivo de ser imperador do Ocidente. O papa 
aliou-se a Carlos Magno, devido ao interesse de expandir o cristianismo, o 
que seria possível na medida em que Carlos Magno fosse conquistando ou-
tros povos e regiões e submetendo todos à conversão.
e) A relação estabelecida entre o Império Carolíngio e a Igreja não agradou os 
bárbaros sob o domínio de Carlos Magno, e eles se organizaram e iniciaram 
uma guerra contra o imperador e a Igreja. O resultado desse conflito foi o 
rompimento de Carlos Magno com a Igreja, o que levou à adoção de uma 
política anticlerical por parte do imperador.
43 
4. O mapa a seguir se refere ao deslocamento das tribos bárbaras e os locais que 
ocuparam para atingirem os limites do Império Romano. Diante das discussões 
apresentadas nesta unidade, assinale a alternativa que reflete os fatos e as con-
sequências da aproximação entre bárbaros e romanos:
Fonte: Wikimedia Commons (2012, on-line)12.
a) A Europa passou por profundas transformações, a partir da chegada dos 
bárbaros aos limites do Império Romano. No entanto, essas transformações 
não foram suficientes para alterar uma estrutura de organização alicerçada 
séculos antes.
b) Os povos chamados bárbaros possuíam costumes distintos dos romanos. A 
aproximação entre os dois povos e, consequentemente, das duas culturas, 
possibilitou uma troca cultural que levou a uma dominação social e cultural 
dos romanos sobre os bárbaros.
c) Os reinos bárbaros foram, gradativamente e ao longo da história, entrando 
em contato com o cristianismo e se convertendo, sobretudo, após a forma-
ção do Império Carolíngio. Com isso, o poder da Igreja Católica fortaleceu-se 
e a aliança entre Estado e Igreja foi uma das marcas da Idade Média.
d) Ao ultrapassarem as fronteiras do Império Romano, os bárbaros encontra-
ram um império forte e organizado, o que dificultou a penetração e o avan-
ço desses povos dentro do Império, assim como a sua instalação em diversas 
regiões dominadas por Roma.
e) A assimilação total da cultura romana pelos bárbaros possibilitou a forma-
ção de uma sociedade que em nada se diferenciava da conhecida até então. 
Os elementos políticos, sociais e culturais da Antiguidade Clássica mantive-
ram-se presentes no modelo de organização dessa nova sociedade, deixan-
do de lado os aspectos culturais dos bárbaros.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Migra%C3%A7%C3%A3o_dos_Povos_B%C3%A1rbaros.png
44 
5. O processo de transição da Antiguidade Clássica para a Idade Média tem, como 
base, transformações de aspectos tanto político e econômicos quanto cultu-
rais. Desde o nascimento do Cristianismo e a partir da sua expansão e consoli-
dação enquanto religião oficial do Império (século IV), a forma como o romano 
enxergava a realidade e suas atitudes frente a essa passou por um processo de 
transformação, que se refletia nas bases de constituição da sociedade. Dessa 
forma, observamos que alguns dos elementos que formaram os alicerces da 
sociedade medieval foram criados na Antiguidade Clássica e se mantiveram 
presentes ao longo dos séculos medievais. assinale a alternativa correta:
a) As raízes da sociedade medieval surgiram mediante a formação dos reinos 
germânicos.
b) A conversão de Constantino ao cristianismo e a expansão dessa tradição re-
ligiosa representaram uma transformação do “ser romano”.
c) A transição da Antiguidade para o período medieval caracterizou-se pelo 
fortalecimento das instituições do Estado, devido à união entre bárbaros e 
romanos.
d) Pode-se afirmar que, na passagem da antiguidade para a Idade Média, o 
Ocidente organizou-se com o objetivo de combater e desestruturar os rei-
nos bárbaros.
e) A presença de tribos germânicas no Ocidente, a partir do século II, possibi-
litou uma reavaliação dos romanos acerca da organização e administração 
do Império, tendo, como consequência, o aprimoramento do aparelho ad-
ministrativo do Império Romano do Ocidente.
45 
Renascimento Carolíngio?
A Idade Média foi vista pelos intelectuais do período renascentista e pelos iluministas 
como um período de obscuridade e no qual houve pouco ou nenhum avanço cultural 
se comparado ao período anterior, ou seja, à Antiguidade Clássica. Desse modo, a Idade 
Média ganhou a alcunha de “Idade das Trevas”, ideia nascida a partir da utilização da 
expressão “tenebrae” por Petrarca, no século XIV, ao referir-se aos seus contemporâneos.
Apesar dessas visões acerca da Idade Média, Vieira (2010, p. 80) destaca que os Francos 
foram importantes para a formação da sociedade medieval e para um desenvolvimen-
to cultural que unia elementos germânicos e romanos por meio da interferência cristã. 
Esse desenvolvimento cultural foi incentivado por Carlos Magno, que entendia que a 
“otimização das instituições do reino estava diretamente relacionada à capacidade de 
promoção da melhoria educacional da aristocracia” (VIEIRA, 2010, p. 82). Com esse pen-
samento, Carlos Magno buscou, em todo Ocidente, intelectuais, letrados e estudiosos, a 
fim de promover o aperfeiçoamento da elite franca, entendida, aqui, como os membros 
da aristocracia e do clero. 
A essa atitude de Carlos Magno, Vieira (2010) dá o nome de movimento cultural e inte-
lectual carolíngio e apresenta uma discussão historiográfica, a fim de analisar se esse 
investimento de Carlos Magno pode ser considerado um renascimento, nas mesmas 
proporções ou conjunturas em que ocorreu o renascimento italiano.
Não há dúvida de que Carlos Magno preocupou-se em organizar seus domínios de ma-
neira a manter o processo de conquista e ampliação do seu Império, organização que 
passava pela formação de um clero e de dirigentes capazes de auxiliá-lo em seus ob-
jetivos. No entanto, os investimentos do imperador nesse sentido foram direcionados 
apenas a parte da sociedade de seu império, o que, em última análise, não diferia muito 
do que ocorreu ao longo de toda a Idade Média. 
Fonte: Vieira (2010, p. 79-86).
GLOSSÁRIO
Bárbaros: Povos de origem indo-europeus que habitavam a Europa 
e Ásia na época do Império Romano e possuíam diferentes ascendên-
cias.
Batalha de Poitiers: Batalha ocorrida em 732 entre os Francos lide-
rados por Carlos Martel e os mouros que tentavam ocupar a Europa 
Ocidental. 
Dinastia Merovíngia: Fundada entre os séculos V e VI pelo rei Clóvis 
(481-511). 
Idade Média: Período correspondente aos séculos V e XV e que pode 
ser dividida em Alta Idade Média (séculos V ao X) e Baixa Idade Média 
(séculos X ao XV). 
Império Carolíngio (século IX ao século X): Organização político-ad-
ministrativa que compreendia a região da Europa Central. Teve início 
com a coroação e Carlos Magno no ano de 800. 
Invasões Bárbaras: Movimento de deslocamento e assentamento 
dos povos bárbaros para o interior do Império Romano. 
Ondas Migratórias: Movimento de deslocamento dos povos bárba-
ros de suas regiões de origem até a região compreendida pelo Impé-
rio Romano. 
Reinos Bárbaros: Organização política dos povos bárbaros no Oci-
dente. 
Renascimento Carolíngio: Esforço de Carlos Magno para promover o 
aperfeiçoamento da cultura e intelectualidade da elite franca. 
Tratado de Verdun (843): Estabelecia a divisão do Império Carolíngio 
entre os três netos herdeiros de Carlos Magno.
MaterialComplementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
As Invasões Bárbaras
Pierre Riche
Editora: Publicações Europa-América
Sinopse: o autor retoma o processo de chegada dos povos bárbaros 
aos limites do Império Romano e sua posterior invasão e dominação, 
destacando as conjunturas que marcaram esse processo e as 
consequências do contato entre bárbaros e romanos para o futuro da 
sociedade europeia.
Átila, o rei dos Hunos
Ano: 1954
Sinopse: o filme mostra a trajetória de um dos personagens mais 
famosos do período das invasões bárbaras, o líder dos Hunos, Átila, 
que luta pela conquista de territórios romanos. Abordando aspectos 
da relação de Átila com seu povo e as batalhas travadas com o 
exército romano e outros povos bárbaros, o filme retrata, de maneira 
coerente, o período que marcou o fim do Império Romano, inclusive 
a relação entre os bárbaros e o cristianismo.
Os Bárbaros contra Roma: Tribos Germânicas.
O documentário apresenta a relação conflituosa entre as tribos bárbaras e os romanos no período 
que compreende a transição da Antiguidade Clássica para a Idade Média.
Link de acesso: <https://www.youtube.com/watch?v=klrpb7yk_lY&t=319s>.
REFERÊNCIAS
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FUNARI, P. P. A. Romanos e germânicos: lutas, guerras, rivalidades na Antiguidade 
Tardia. Brathair Revista de Estudos Celtas e Germânicos, Maranhão, v. 7, n. 1, p. 
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MUSSET, L. Las invasiones el segundo asalto contra la europa cristiana (siglos 
VII-XI). Barcelona: Editorial Labor S. A., 1975. 
SERRANO, R. S. Las migraciones bárbaras y la creación de los primeros reinos de 
Occidente. Madrid: Editorial Sintesis, 1995. 
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http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25555
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fran%C3%A7ois-Louis_Dejuinne_(1786-1844)_-_Clovis_roi_des_Francs_(465-511).jpg
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REFERÊNCIAS
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8 Em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Francos#/media/File:Carolingian_Warrior.
jpg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
9 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Frankish_Empire_481_to_814-pt.
svg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
10 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carolingian_empire_843-pt.svg>. 
Acesso em: 21 nov. 2018.
11 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Le_royaume_des_Francs_en_
548-pt.svg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
12 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Migra%C3%A7%C3%A3o_dos_
Povos_B%C3%A1rbaros.png>. Acesso em: 21 nov. 2018.
https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carolingian_empire_843-pt.svg
GABARITO
1. As relações entre bárbaros e romanos, desde os primeiros contatos, desenvol-
veram-se de maneira complexa e de acordo com as conjunturas históricas do mo-
mento. Percebemos, também, que o fato de estar fora dos limites do Império não 
tornavam os bárbaros aliados entre si. Ao contrário, a história desse povo mescla 
uma política de alianças entre eles contra os romanos ou contra outros povos bárba-
ros, e de alianças com os romanos contra os próprios bárbaros. Tudo isso, permeado 
pelas circunstâncias históricas do momento e de acordo com os interesses de todos 
os envolvidos. Não foi apenas a partir de acordos e alianças políticas e militares que 
bárbaros e romanos desenvolveram suas relações. O comércio entre esses dois po-
vos também se fez presente nesse complexo cenário de aproximação. Em troca de 
mercadorias, como escravos e peles, os romanos entregavam aos bárbaros metais 
preciosos, vinho (bebida que não era consumida pelos bárbaros) e até mesmo teci-
dos e utilidades domésticas. Se, em um primeiro momento, os bárbaros que chega-
ram a Roma estabeleceram relações que lhes permitiram o assentamento no terri-
tório, com o tempo, esses povos buscaram a sua emancipação, na medida em que, 
embora estivessem em Roma, não eram, necessariamente, cidadãos romanos, pois 
tinham seus próprios líderes e costumes. Paulatinamente, esses povos tornaram-se 
inimigos de Roma e começaram a fundar seus próprios reinos, fato que levará à 
ruína do Império, visto a dificuldade do exército romano em conseguir defender as 
fronteiras do território diante do crescente avanço dos bárbaros.
2. Com a chegada e a instalação dos bárbaros, ocorreu uma transformação nas es-
truturas de Roma que levaram ao fim da organização político-administrativa conhe-
cida como Império Romano do Ocidente. Surge, a partir dessas invasões, um novo 
mapa da Europa, configurado, agora, pela formação dos reinos bárbaros. A chegada 
dos bárbaros ao território do Antigo Império Romano contribuiu para o quadro de 
instabilidade política e econômica no qual encontrava-se a região desde principal-
mente século III.
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Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
ASPECTOS DA FORMAÇÃO 
E DA CONSOLIDAÇÃO DA 
IGREJA CRISTÃ MEDIEVAL
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Conhecer o processo de nascimento do cristianismo e o contexto 
histórico que permeou seu desenvolvimento.
 ■ Compreender os fatores que levaram à divisão da Igreja Católica e os 
aspectos e consequências dessa divisão.
 ■ Analisar e discutir o poder e a influência da Igreja Católica ao longo 
da Idade Média.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O nascimento do cristianismo e o fortalecimento da doutrina cristã e 
da Igreja Católica
 ■ Consolidação e influência da Igreja Católica na Idade Média
 ■ A Igreja Medieval e o controle social: a dominação pela fé
 ■ O Tribunal do Santo Ofício: A Inquisição
Introdução
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INTRODUÇÃO
Prezado(a) aluno(a), nesta unidade, analisaremos a consolidação do poder da 
Igreja Católica na Idade Média e discorreremos acerca da influência que essa ins-
tituição exerceu na vida dos medievos. Sagrando-se a instituição mais poderosa 
da Idade Média, a Igreja Católica desempenhou um papel fundamental na for-
mação das instituições medievais e no desenvolvimento dessa sociedade. 
O cristianismo surgiu ainda na Antiguidade Clássica, em Roma, e seus 
princípios e ensinamentos espalharam-se pelo mundo, contribuindo para as 
transformações que ocorreram desde o seu nascimento. Nesse sentido, a histó-
ria de Roma está, intrinsecamente, relacionada à história do cristianismo e da 
Igreja Católica. Embora, nos dias atuais,a Igreja Católica e o Estado formem dois 
elementos sem ligação entre si, na Idade Média, assim como veremos, ambas as 
instituições ora se misturavam, ora se sobrepunham, construindo e determinando 
as bases sobre as quais o mundo medieval constituiria-se. Ao exercer o poder 
temporal e espiritual, a Igreja Católica foi o elemento unificador da sociedade 
medieval, visto que, nesse período, a descentralização do poder político-admi-
nistrativo era uma característica marcante da sociedade medieval. 
Diante disso, caro(a) aluno(a), nosso objetivo, agora, será investigar e anali-
sar os princípios do cristianismo e as bases sob as quais nasceu a Igreja Católica 
e as conjunturas que permearam seu desenvolvimento até a consolidação do seu 
poder na Idade Média, bem como os elementos que fundamentaram a atuação 
e o domínio dos membros do clero sobre os medievos. Para tanto, peço que, ao 
iniciarem o estudo desta unidade, dispam-se de seus valores, ensinamentos e pre-
conceitos religiosos. No estudo e na prática de um historiador, não cabe analisar 
o passado com os olhos do presente. Portanto, livres de todos (pré)conceitos do 
presente, voltemos nosso olhar para o passado da Igreja cristã.
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IIU N I D A D E54
O NASCIMENTO DO CRISTIANISMO E O 
FORTALECIMENTO DA DOUTRINA CRISTÃ E DA 
IGREJA CATÓLICA
Caro(a) aluno(a), você já estudou, na primeira unidade do nosso livro, o con-
texto que levou à queda do Império Romano. Constatou que o Império Romano 
passou por momentos de perturbação da paz e por um período de transforma-
ções que ameaçavam sua unidade e poderio, e que foram aprofundadas com a 
chegada das tribos bárbaras.
O Império Romano constituía uma sociedade marcada por uma estrutura social 
pouco dinâmica e em um contexto permeado pela desigualdade social e guerras 
constantes, com o objetivo de defender os limites e a supremacia do Império. Foi 
nesse contexto que um homem, de origem simples e sem ligações com o governo 
ou a administração imperial, conseguiu atrair a atenção de um número significativo 
de romanos descontentes com o governo imperial, que não garantia a igualdade 
de oportunidades, de recursos e de investimentos a todos e de maneira indistinta. 
Esse homem era Jesus Cristo. Jesus Cristo – ou Jesus de Nazaré – foi um líder polí-
tico e religioso que se transformou na figura central do cristianismo.
Não há precisão em relação ao nascimento de Jesus. No livro sagrado do cris-
tianismo, qual seja a Bíblia, encontramos a informação de que Jesus nasceu em 
Belém, na Judeia, porém, na historiografia, essa informação não é um consenso. É 
possível encontrarmos alguns historiadores, teólogos e filósofos que afirmam que o 
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local de nascimento de Jesus corresponde a Nazaré, uma região da Galileia. Assim 
como o local, a data de nascimento de Jesus também não pôde ser fixada com exa-
tidão pela historiografia. Acredita-se que ele tenha nascido durante o reinado de 
Herodes, por volta do ano 4 a.C. Com a consolidação do cristianismo, determi-
nou-se que o nascimento de Jesus marcaria o início de uma nova era e, portanto, 
a data de seu nascimento seria considerada o I ano da Era Cristã.
Não é nosso objetivo, aqui, caro(a) acadêmico(a), estudar a vida do Jesus reli-
gioso, descrito na Bíblia como o filho de Deus, ou como um homem santo. Ao 
contrário, nosso objetivo é proceder à investigação e à análise da figura humana 
de Jesus, ou seja, os aspectos apontados nos documentos históricos e nas entre-
linhas dos evangelhos descritos na Bíblia. O que buscamos é a personalidade 
contestadora de Jesus que o levou a questionar o mundo e a realidade que o cer-
cava, tornando possível o nascimento daquela que seria a maior e mais importante 
instituição da Idade Média: a Igreja Católica.
Por essa razão, volto a lembrá-lo(a) que, como futuro(a) historiador(a) e 
professor(a) de História, é preciso que deixe de lado a imagem santa e mítica de 
Jesus Cristo, bem como os ensinamentos e/ou doutrinação religiosa que possa 
ter recebido ao longo da vida, para que a análise da História não seja compro-
metida por valores e por conceitos relativos a um momento histórico diferente 
daquele sobre o qual nos debruçamos neste momento.
[...] a fonte de conhecimento de Jesus, de sua obra e mensagem, continuam 
sendo os evangelhos, embora não sejam relatos históricos (no sentido em 
que o entendemos, tais relatos surgiram apenas nos últimos séculos da Eu-
ropa Ocidental). Os evangelhos são testemunho e proclamação de fé, e não 
mera reportagem de ciência histórica [...]; não são história, mas não podem 
prescindir dela, pois a interpretação crente ou teológica, em contraste com 
os apócrifos, trabalha sobre dados reais, e, portanto, a pressupõe como sua 
condição de possibilidade.
Fonte: Mondoni (2006, p. 20).
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IIU N I D A D E56
AS RAÍZES JUDAICAS DO CRISTIANISMO
Não restam dúvidas de que o cristianismo tem suas raízes em outra religião, o 
judaísmo, até mesmo porque Jesus era judeu. De acordo com Blainey (2012, p. 16), 
“o termo ‘judeu’ vem de ‘Judá’, território que ocupava metade da estreita faixa de 
terra à margem do Mar Mediterrâneo, há muito conhecida como Palestina”. No 
período em que estamos tratando, ou 
seja, do nascimento de Jesus ao advento 
do cristianismo, essa região era domi-
nada pelo Império Romano.
Jerusalém era considerado territó-
rio sagrado para os judeus, sendo que 
lá fora, construído pelo rei Salomão, o 
templo de adoração da religião judaica. 
Conforme aponta Blainey (2012), com 
a morte do rei Salomão, seu reinado foi 
dividido em dois: Israel, ao norte, e Judá 
ao sul. Em 587 a.C., os poderosos babi-
lônios conquistaram Jerusalém em um 
dos eventos traumáticos na longa his-
tória de um povo que suportou vários 
infortúnios e desastres.
Os Evangelhos são interpretações teológicas a respeito de Jesus Cristo, ela-
borados no seio das comunidades cristãs do século I, com o objetivo de 
atender às necessidades e responder aos questionamentos dessas comu-
nidades. 
(Danilo Mondoni)
Figura 1 - Mapa mostrando a região da Judéia (ao 
sul de Samaria e da Galiléia) no primeiro século 
EC, quando era uma província romana.
Fonte: Wikimedia Commons (2017, on-line)1.
https://es.wikipedia.org/wiki/Judea
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Após um período de dominação por outros povos, em 142 a.C., os judeus recu-
peraram seu território e viveram livres da dominação estrangeira até o ano de 
63 a.C., quando os romanos chegaram e ocuparam seu território. Mesmo sob o 
domínio dos romanos, os judeus conseguiram manter suas tradições e religião, 
embora demonstrassem respeito e lealdade ao governante romano.
Como já exposto, os judeus eram monoteístas, isto é, acreditavam em um 
só Deus:
(...) invisível e imortal, detentor de enorme poder e conhecimento e de 
uma imensa capacidade de sentir amor e raiva. Tendo criado o ser hu-
mano à sua imagem, e tendo-o dotado de livre-arbítrio, concedeu-lhe o 
direito de escolher entre o bem e o mal. Se obedecesse às leis de Deus, 
seria ajudado por Ele (BLAINEY, 2012, p. 18).
Jesus cresceu frequentando sinagogas e se tornou um estudioso da religião. 
Conheceu a história e a luta do povo judeu, tomou conhecimento dos Dez 
Mandamentos e aprendeu a crer na sabedoria dos profetas e na união entre os 
homens.Nas conversas e nas discussões que mantinha tanto com líderes religio-
sos quanto com os mais humildes, Jesus demonstrou ter suas próprias opiniões 
sobre a história de dominação de seu povo e defendia que o caminho para a 
restauração da ordem e para o encontro com Deus passava por uma vida justa, 
dedicada ao bem e amor ao próximo.
Como é possível observar, caro(a) aluno(a), a descrição apresentada do enten-
dimento judaico sobre a figura de Deus e de qual o caminho os homens devem 
Os judeus são um povo que, historicamente, sofreu perseguições e foi obri-
gado a deixar o território de origem e migrar por várias regiões, sem con-
seguir fundar um Estado no seu sentido completo. Atualmente, os judeus 
sionistas brigam pela criação de um Estado judeu independente em um 
conflito que envolve palestinos e israelenses. 
Para saber mais sobre o conflito israelo-palestino, acesse: <http://www.
humanas.ufpr.br/portal/nepri/files/2012/04/O-Outro-Lado-da-Moeda-Isra-
elenses-Judeus-Sans-Sionismo.pdf>.
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IIU N I D A D E58
seguir na Terra enquanto aguardam a chegada do Messias e o dia do julgamento 
final não é diferente daquela que é ensinada no cristianismo. Portanto, alguns 
dos preceitos difundidos pelo cristianismo têm suas origens na religião judaica.
É claro que, embora o cristianismo e o judaísmo tenham suas semelhanças, 
não podemos esquecer de que não formam um único corpo religioso, visto que 
se distanciam em vários outros aspectos, como a crença de que Jesus é o salva-
dor enviado por Deus. Para os judeus, ao contrário do que acreditam os cristãos, 
Deus ainda não enviou seu Messias.
A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO PELO IMPÉRIO ROMANO
Jesus, como uma maioria significativa daqueles que habitavam a Galileia, per-
tencia a uma família humilde, tornou-se carpinteiro e não fazia parte da elite 
da sociedade e, portanto, não exercia influência no poder político da região em 
que vivia. No contexto de sofrimento, miséria e descaso que esses indivíduos 
se encontravam, Jesus encontrou as bases para desenvolver o seu pensamento 
questionador e disseminar suas ideias, que abrangiam tanto questões políticas 
quanto religiosas, já que ambas as questões, no momento em que vivera, esta-
vam entrelaçadas.
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Influenciado pelas ideias de João Batista, que acredita-se que, era seu primo, e 
pelos princípios do judaísmo, Jesus iniciou sua pregação falando, inicialmente, 
para pequenos grupos que o seguiam tanto nas sinagogas quanto em espaços 
públicos. Com um discurso que mostrava a situação da Palestina e que endos-
sava a teoria judaica de que, em breve, Deus enviaria um messias para livrar o 
povo daquela situação, não demorou muito para que Jesus conseguisse atrair um 
número considerável de pessoas interessadas em ouvir suas teorias e o seguir 
nas suas andanças.
Cabe ressaltar, aqui, caro(a) aluno(a), que, diante do contexto histórico em 
que os habitantes da Palestina encontravam-se, é fácil compreender porque 
Jesus conseguiu tantos seguidores a ponto de transformar-se em uma ameaça à 
unidade do Império Romano, assim 
como veremos a seguir. Quando um 
indivíduo encontra-se em uma situ-
ação ruim e sem esperança, acreditar 
em alguém que ofereça um caminho 
para o fim do seu sofrimento, cami-
nho este, embasado por uma oratória 
que encantava, é quase inevitável.
Questionando a situação social 
do seu tempo, pregando a adoração 
de um único Deus, Dele dizendo-se 
filho e difundindo o amor e a união 
A figura de Jesus Cristo, no âmbito histórico, possui aspectos que não são de-
monstrados na Bíblia e, por essa razão, atrai o interesse de vários estudiosos.
Para conhecer um pouco mais sobre o processo de formação do “Jesus his-
tórico” em contraste com o Jesus retratado na Bíblia, acesse: <http://revistas.
pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/2229/1380>. 
Figura 2 - Ruínas da antiga cidade de Roma, um dos 
maiores pontos turísticos da Europa
Fonte: Shutterstock.
http://revistas.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/2229/1380
http://revistas.pucgoias.edu.br/index.php/fragmentos/article/view/2229/1380
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IIU N I D A D E60
entre os homens, Jesus passou a ser considerado perigoso pelo governo de Roma. 
Afinal, suas pregações iam de encontro à forma de administração do Império e 
toda sua organização, o que oferecia um risco à manutenção da ordem vigente.
Diante da divulgação das ideias de Jesus e do crescimento do número de seguidores 
que ele conquistava, o governo imperial decidiu que seria mais cauteloso impedir 
que a fama de Jesus – a essa altura, também já conhecido por operar milagres e 
curas – crescesse ainda mais e colo-
casse em risco a união do Império. 
Desse modo, Jesus foi preso e sub-
metido a um julgamento no qual foi 
considerado culpado por blasfemar 
contra a doutrina judaica – pois se 
declarava filho de Deus e questio-
nava a postura de vários sacerdotes 
judaicos diante da situação social – 
e, por fim, foi condenado à morte 
pela crucificação.
Embora a acusação, no julga-
mento, fosse a de ferir os preceitos 
judaicos, havia também moti-
vações políticas para a prisão e 
A primeira geração dos cristãos era tida como relacionada com os judeus, 
e o Judaísmo era reconhecido pelo governo como religião permitida, ape-
sar de os judeus viverem separados dos costumes idólatras e não comerem 
alimentos usados nas festas dos ídolos. Esta suposta relação preservou os 
cristãos por algum tempo da perseguição. Entretanto, após a destruição de 
Jerusalém, no ano 70, o Cristianismo ficou isolado, sem nenhuma lei que 
protegesse seus seguidores do ódio dos inimigos. 
Fonte: Hurlbut (2002, p. 59).
Figura 3 - Jesus foi condenado à crucificação
Fonte: Shutterstock.
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condenação de Jesus, pelos motivos que já apresentamos anteriormente. 
Por isso, a morte de Jesus representou também a “contenção de uma ameaça 
política” (SOUZA, 2011, p. 555).
A morte de Jesus não significou o fim da difusão de suas ideias. Ao contrário, 
após a sua morte, os apóstolos (os doze seguidores fiéis de Jesus) encarregaram-
-se de difundir suas teorias para todos os cantos do mundo, conquistando mais 
adeptos e fundando uma nova religião, o cristianismo.
Desde o início da pregação de Jesus, 
aqueles que partilhavam do mesmo pensa-
mento foram perseguidos pelos imperadores 
romanos. Com a morte de Jesus e o cresci-
mento do cristianismo pelo Ocidente, essa 
perseguição se intensificou até o século IV, 
quando o imperador Constantino, deter-
minou o fim das perseguições aos cristãos, 
assinando o Edito de Milão, também deno-
minado Edito da Tolerância, em 313 d.C. 
Foi, ainda, no século IV, como imperador 
Teodósio I, que os cristãos fortaleceram-
-se, a partir da publicação do Edito da 
Tessalônica, em 380, que tornava o cristia-
nismo a religião oficial do Império Romano.
Figura 4 - Teodósio I
Fonte: Wikimedia Commons ([2018], on-
line)2.
Após o cristianismo se tornar a religião oficial do Império Romano, mudanças 
significativas ocorreram e beneficiaram o crescimento da religião e o fortale-
cimento da Igreja Católica. Dentre essas mudanças, destacamos a restauração 
dos templos e das igrejas cristãs destruídas durante o período de perseguição 
dos cristãos, e do fato de que doações passaram a ser feitaspara a Igreja e aos 
membros do clero, os quais também passaram a contar com uma série de 
privilégios, como a isenção de pagamento de impostos, por exemplo. 
Fonte: a autora.
https://es.wikipedia.org/wiki/Judea
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A Igreja e o Estado tornaram-se uma só entidade quando o Cristianismo foi ado-
tado como religião oficial do império em 380. Dessa união, surgiram males sem 
conta nas províncias orientais e ocidentais. No Oriente, o Estado dominava de 
tal modo a Igreja, que ela perdeu todo o poder que possuía. No Ocidente, assim 
como veremos adiante, a Igreja, pouco a pouco, usurpou o poder secular, e o 
resultado não foi Cristianismo, e sim o estabelecimento de uma hierarquia, mais 
ou menos corrompida, que dominava as nações da Europa, fazendo da Igreja 
uma máquina política (HURLBUT, 2002).
Figura 5 - Estátua do Imperador Constantino à frente da Catedral de Iorque, na Inglaterra
Fonte: Shutterstock.
Consolidação e Influência da Igreja Católica na Idade Média
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CONSOLIDAÇÃO E INFLUÊNCIA DA IGREJA 
CATÓLICA NA IDADE MÉDIA
Com o fim do Império Romano, a Europa entrou em um período marcado pela 
fragmentação política e pelo domínio de várias tribos que, apenas gradativa-
mente, transformaram-se em Estados. Durante quase cinco séculos, a Europa 
esteve envolta de um modelo político-administrativo caracterizado pela mis-
celânea de povos e de tribos que habitavam o território, em que antes estava 
organizado um dos impérios mais poderosos da história da civilização. 
Apenas com a coroação de Carlos Magno, rei dos Francos, no século IX, a 
Europa consegue retomar uma forma de organização baseada na centralização 
do poder nas mãos do imperador e com o apoio da Igreja. Desde a coroação de 
A estrutura sob a qual se organizaram as primeiras igrejas, após o cristianis-
mo tornar-se oficial, será o alicerce de organização da igreja medieval.
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IIU N I D A D E64
Carlos Magno, no Natal de 800, as relações entre Estado e Igreja estreitaram-se 
e se fortaleceram, conferindo, ao cristianismo e à Igreja, um poder que seria o 
elemento marcante da sociedade medieval. Embora a história da Igreja Cristã, 
na Idade Média, esteja marcada por disputas de poder tanto no âmbito externo 
– entre o clero e o imperador – quanto no âmbito interno – divergências e con-
flitos doutrinários, filosóficos e ideológicos – a Igreja não perderá sua influência 
até o século XVI e será o elo entre os indivíduos no período medieval.
Saídos de um período marcado pela dominação de povos estrangeiros e 
aprendendo a conviver com elementos culturais diversos, os indivíduos que 
viveram sob a égide da Idade Média encontraram, na Igreja e seus ensinamen-
tos, o conforto e a esperança para organizarem suas vidas e atividades. Mesmo 
que, aos nossos olhos, o direcionamento que a Igreja Cristã oferecia aos súditos 
medievais não se assemelhe às nossas concepções, não significa que estivessem 
erradas ou que os indivíduos daquele período fossem ignorantes a ponto de acei-
tarem o que, para nós, parece absurdo. Apesar das atitudes hoje consideradas 
questionáveis e corruptas, não podemos nos esquecer, caro(a) acadêmico(a), de 
que o ofício do historiador reside em despir-se de todos os preconceitos, valo-
res e quaisquer julgamentos que nos acompanhem hoje, para olharmos para os 
acontecimentos do passado com os olhos do passado, ou seja, analisar os fatos 
dentro do contexto histórico em que ocorreram e com imparcialidade.
Ao longo da Idade Média, o desenvolvimento da Igreja foi marcado por perío-
dos de disputas pelo poder entre príncipes e imperadores, pela corrupção dos 
membros do clero e por reformas que visavam combater as práticas corruptas 
No século 21, os ocidentais, em sua maioria, costumam aceitar imediata-
mente os conceitos que apresentam uma base racional (...). Na Idade Média, 
ao contrário, as pessoas tendiam a deixar-se impressionar por mitos, misté-
rios e rumores, acreditando neles de imediato. 
(Geoffrey Blainey)
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de seus membros e colocar a Igreja, aos olhos dos indivíduos, como uma ins-
tituição séria e forte. Nesse sentido, observamos que a adoção de medidas e de 
instrumentos pela Igreja tinha, por objetivo, regular a vida em sociedade e, nos 
períodos quando a ausência de um poder central forte ameaçava a ordem esta-
belecida, mostrar, aos medievos, o caminho a ser seguido para a consolidação 
de uma vida harmoniosa, de sucesso e marcada pelos ensinamentos divinos. 
Será diante dessas conjunturas que a Igreja Cristã desenvolverá, ao longo de 
toda a Idade Média, uma estrutura eclesiástica e administrativa que servirá como 
reguladora para a vida em sociedade. Dentro dessa estrutura, encontraremos a 
criação de inúmeros mosteiros e abadias que tinham por objetivo levar a dou-
trina cristã a todas as regiões da Europa. Assistiremos, também, o surgimento 
de várias ordens religiosas que, cada uma com suas particularidades, tinham por 
objetivo ampliar o alcance dos ensinamentos cristãos.
Como resultado da ascensão da igreja ao poder, não se veem os ideais do 
Cristianismo transformando o mundo; o que se vê é o mundo dominando 
a igreja. 
(Jesse Lyman Hurlbut)
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O SACRO IMPÉRIO ROMANO GERMÂNICO
Como vimos, caro(a) estudante, a Igreja Cristã exerceu grande poder e forte 
influência na condução e na organização da vida dos indivíduos da era medie-
val. E, em uma sociedade na qual o poder político encontrava-se fragmentado, 
a Igreja representava um elemento aglutinador dos povos e costumes do perí-
odo, desempenhando um papel central nas relações político-administrativas 
dos reinos medievais.
Estudamos, na unidade anterior, a formação dos reinos bárbaros nos limites 
do antigo Império Romano e o surgimento de um líder bárbaro que se tornaria 
figura central na formação das bases da sociedade medieval, qual seja, Carlos 
Magno, que se tornou imperador no século IX, com o apoio do Papa Leão III, e 
iniciou um processo de conquista sobre outros povos bárbaros, ampliando seus 
domínios e consolidando a força e poderio do chamado Império Carolíngio. Com 
a ampliação de seus domínios, Carlos Magno ampliou, também, os domínios 
do cristianismo e promoveu a conversão de vários outros povos. Encontra-se, 
neste fato, a razão pela qual o Papa Leão III apoiou a ascensão de Carlos Magno 
a chefe do Império, isto é, o Papa viu, na política expansionista de Carlos Magno, 
a possibilidade de ampliar, também, o poderio e a influência do cristianismo.
A partir de Carlos Magno, as relações entre Igreja e Estado estreitaram-se e a 
figura do imperador representava, 
também, uma autoridade religiosa. 
No entanto, cabe lembrar, caro(a) 
aluno(a), que, embora o impera-
dor exercesse um papel importante 
nas questões religiosas, a Igreja era 
comandada pelo Papa e cabia a ele 
exercer o poder espiritual.
A aproximação entre Igreja 
e Estado, a partir da coroação de 
Carlos Magno, originou o Sacro 
Império Romano Germânico, que 
retratava a união dos territórios da 
Fonte: Wikimedia Commons (2016, on-line)3.
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Europa sob a autoridade de um imperador, escolhido e apoiado pelo chefe da 
Igreja. Cabe ressaltar que, embora a aproximação representada pelo Sacro Império 
Romano Germânico faça parecer que o território de Roma também estava incluso 
nessa união, a cidade de Roma ficou de fora dessa organização. Na verdade, a 
menção à Roma, na denominação citada, nada mais é do que uma homenagem 
ao que o antigo Império Romano representou na Europa.
Com a morte de Carlos Magno, seu Império desintegrou-se e os territórios foram 
divididos, sucessivamente, entre seus herdeiros. A região do Ocidente, que hoje 
compreende o território da França, permaneceu nas mãos dos Francos, enquanto 
a parte oriental caiu nas mãos de outras tribos germânicas.
No século X, subiu ao trono o imperador 
Oto I, responsável por restabelecer o pode-
rio do Império no Ocidente, conquistado 
nos tempos de Carlos Magno. Novamente, 
a Igreja, representada na figura de João XIII, 
aliou-se ao imperador com o objetivo de 
proteger seus domínios, seu poder e prestí-
gio. Com a ascensão de Oto I ao trono, teve 
início um período de fortes conflitos entre 
o imperador e o Papa, na medida em que 
tanto Oto I quanto aqueles que o sucede-
ram tentavam subjugar a figura do Papa e 
exercer o controle da Igreja nos territórios 
do Sacro Império.
Essa proximidade entre Igreja e Estado pode parecer confusa aos nossos 
olhos. No entanto, não podemos perder de mente que, no momento ao qual 
nos referimos, a aliança entre essas duas instituições era importante e repre-
sentava o fortalecimento e o crescimento de ambas.
Figura 6 - O Sacro Império Romano 
Germânico
Fonte: Wikimedia Commons (2008, on-
line)4.
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Um aspecto importante dessa disputa diz respeito à chamada questão da 
investidura. Diante da força e do prestígio que a Igreja possuía na Idade Média, 
ambos fortalecidos com a desintegração do Império Carolíngio, os imperadores 
sabiam que era importante ter a Igreja, representada pelos membros do clero, 
como aliada. Por essa razão, até o século XI, os imperadores eram os responsá-
veis por nomear clérigos para os mais altos cargos eclesiásticos. Agindo dessa 
maneira, os imperadores garantiam o apoio da Igreja diante das questões que 
lhes beneficiariam.
Essa situação se manteve até o século XI, quando o Papa Gregório VII promo-
veu uma reforma na Igreja, conhecida como reforma gregoriana, que consolidou 
o poder papal sobre o poder dos imperadores. Com essa reforma, Gregório VII 
colocou fim à questão das investiduras, proibindo que os imperadores nomeas-
sem aqueles que ocupariam os cargos importantes dentro da estrutura eclesiástica.
A partir da reforma gregoriana, a Igreja retomava o caminho de líder suprema 
do poder espiritual na Terra, sendo os papas submissos apenas a Deus, e não 
mais aos imperadores. Dessa maneira, a Igreja, ao mesmo tempo em que buscava 
retomar o caminho dos ensinamentos de Cristo, objetivava, também, suplantar 
o poder exercido pelos senhores feudais.
IGREJA DO OCIDENTE E IGREJA DO ORIENTE
No século IV, Constantino 
optou por transferir a capital do 
Império Romano para a cidade 
de Bizâncio, na sua parte orien-
tal. Mais tarde, Bizâncio passou 
a se chamar Constantinopla e, 
após a divisão do Império, em 
395, pelo imperador Teodósio I, 
tornou-se a capital do Império 
Romano do Oriente.
Figura 7 - Panorama de Constantinopla 
Fonte: Wikimedia Commons ([2018], on-line)5.
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Com a divisão do Império Romano, a história do cristianismo também foi 
influenciada, pois, enquanto a metade ocidental do Império lutava para se manter 
erguida diante do ataque das tribos bárbaras, a partir do século IV, a metade oriental 
expandia-se e fortalecia seu domínio sobre outras regiões, promovendo, conse-
quentemente, o crescimento e a expansão do cristianismo. Embora o cristianismo 
fosse a religião oficial adotada nas duas metades do Império, as características reli-
giosas de ambas as regiões não eram as mesmas. As práticas da igreja cristã, no 
Oriente, tinham certas particularidades consequentes, sobretudo, das caracterís-
ticas do modelo político-administrativo do governo imperial do Oriente. 
Enquanto o Ocidente, após a dominação bárbara, tinha, como característica, 
a fragmentação do poder político e administrativo, no Oriente, o poder estava 
centralizado nas mãos do imperador, que controlava todos os aspectos da organi-
zação do Império, inclusive, no que dizia respeito à religião. Em outras palavras, 
enquanto, no Ocidente, a Igreja mantinha-se autônoma, no Oriente, ela estava 
subordinada ao poder imperial. Dessa maneira, o imperador do Oriente pos-
suía o poder temporal e religioso, governando em nome de Deus e com poder 
de nomear os membros do clero.
Embora existisse uma divisão territorial que trazia em si características 
políticas e religiosas próprias, a Igreja cristã mantinha sua unidade por meio da 
nomeação de bispos das cidades de Roma, Constantinopla, Jerusalém, Antioquia 
e Alexandria – as cinco cidades mais importantes do Império Romano – que 
deveriam chefiar a Igreja conjuntamente. Mais tarde, o bispo de Roma tornou-se 
Papa e passou a reivindicar a autoridade sobre o comando da Igreja, entrando 
em conflito com o imperador de Constantinopla, o qual se denominava chefe 
da Igreja no Oriente.
Desde a fundação de Constantinopla e após a divisão do Império Romano, 
as diferenças entre Ocidente e Oriente marcaram a relação entre as duas metades 
do Império e determinaram os rumos da Igreja ao longo da história. O cristia-
nismo, ao longo da história de sua formação e de sua consolidação, precisou 
enfrentar e vencer obstáculos, tais como a perseguição quando houve seu surgi-
mento e a luta contra o paganismo. Além disso, internamente, também precisou 
solucionar conflitos ideológicos que colocavam em risco a unidade da religião.
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Resolvidas tais questões, o cristianismo e a Igreja enfrentaram uma nova crise 
quando houve a fundação de Constantinopla e a divisão do Império Romano. 
As diferenças entre as civilizações que compunham as duas metades do Império 
tanto no aspecto político quanto no aspecto social e cultural foram fatores impor-
tantes para que a unidade da Igreja fosse rompida:
Tanto o Estado romano como as Igrejas Cristãs foram profundamente 
influenciadas pela cultura grega. E ambos contribuíram para sua dis-
seminação mais ampla. As instituições governamentais do Estado ro-
mano do Oriente sofreram a influência das tradições das monarquias 
mais recentes de Alexandre e seus sucessores, uma concepção de mo-
narquia que diferia de muitas maneiras importantes, da adotada pelos 
césares romanos. Na religião, igualmente, os primeiros cristãos interes-
savam-se por sutilezas filosóficas de um tipo que por um longo tempo 
atraíram os gregos, mas nunca haviam perturbado demais romanos ou 
judeus (LEWIS, 1996, p. 44).
Essas diferenças políticas e socioculturais tiveram, como consequência, divergên-
cias ideológicas que ultrapassaram os limites da Igreja e provocaram uma crise 
sem precedentes no cristianismo. Essas divergências foram discutidas nos con-
cílios realizados pela Igreja Católica desde que o cristianismo tornou-se religião 
oficial. Nesses concílios, todas as questões discutidas tiveram uma resposta e, 
pelo menos, aparentemente, foram resolvidas. No entanto, assim como veremos, 
caro(a) aluno(a), essas questões permanecerão vivas no decorrer da Idade Média.
Figura 8 - Igreja Ortodoxada ressurreição de Cristo em Podgorica Montenegro
Fonte: Shutterstock.
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A Igreja do Ocidente, com sede em Roma, após o século IV, passou por transfor-
mações e se adaptou à nova realidade resultante da chegada dos povos bárbaros 
e da sua instalação no antigo Império Romano. Como já foi exposto na uni-
dade anterior, caro(a) aluno(a), a dominação dos povos bárbaros no território 
do Império Romano resultou na modificação das estruturas de organização da 
sociedade e na criação das bases sobre as quais se ergueu a civilização da Idade 
Média, que uniu elementos dos povos recém-chegados com elementos da cul-
tura romana. E, quando tratamos da união de elementos da cultura de ambos 
os povos, referimo-nos, também, à questão da religião.
O cristianismo, no Ocidente, conviveu durante muito tempo com o polite-
ísmo dos povos bárbaros e, depois, com o paganismo. Mesmo quando atingiu o 
status de religião oficial 
do governo de Roma, as 
discussões e os conflitos 
não cessaram. Debates 
e divergências acerca da 
doutrina cristã domina-
ram a Igreja Católica ao 
longo da antiguidade e 
acentuaram as diferen-
ças entre as Igrejas do 
Ocidente e do Oriente. 
Desde a elevação do cristianismo como religião oficial, vários encontros, 
denominados concílios, foram realizados, a fim de resolver as divergências 
ideológicas, filosóficas e doutrinárias da Igreja.
Para conhecer as datas e os assuntos discutidos nos concílios realizados pela 
Igreja desde o século IV, acesse: <http://www.ecclesia.com.br/biblioteca/
dialogo_ecumenico/os_concilios_da_igreja.html>. 
Figura 9 - A Igreja Ortodoxa Grega dos Santos Apóstolos ou Igreja dos 
Apóstolos Igreja no centro do Mosteiro ortodoxo grego em Cafarnaum 
perto da costa do Mar da Galileia em Israel
Fonte: Shutterstock.
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No Oriente, a Igreja não sofreu as influências dos povos bárbaros ou passou 
pelos mesmos embates que a Igreja do Ocidente. Com o poder espiritual, de 
fato, sendo exercido pelo imperador – ao que denominamos de cesaropapismo 
–, a Igreja do Oriente manteve-se ligada aos elementos da antiguidade clássica, 
sobretudo, aos costumes e à cultura grega.
Tabela 1 - Principais diferenças entre a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa
ELEMENTOS 
DOUTRINÁRIOS E 
FILOSÓFICOS 
IGREJA CATÓLICA 
APOSTÓLICA ROMANA
IGREJA ORTODOXA
 Figura do Papa
O Papa está sempre 
correto em suas delibe-
rações.
Não aceita a doutrina da 
infalibilidade do Papa.
 O Espírito Santo
É a terceira pessoa da 
Santíssima Trindade 
e procede do Pai e do 
Filho.
O Espírito Santo procede 
apenas do Pai.
 Purgatório
Admite o conceito do Ju-
ízo Particular, logo após 
a morte.
Admite apenas o Juízo 
Universal e, portanto, 
não acredita no Limbo e 
no Purgatório.
 Nossa Senhora Concebida sem pecado original.
Concebida com o pecado 
original.
Festas de Devo-
ção
São realizadas festas 
de devoção, como a de 
Corpus Christi.
Não existem festas de 
devoção.
 Imagens Religio-
sas 
Na Igreja, são aceitas 
imagens de santos.
Só aceitam ícones nos 
templos.
 Celibato Os sacerdotes são celiba-tários.
Os sacerdotes podem 
optar pelo celibato ou 
matrimônio.
Fonte: a autora.
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As diferenças entre as duas Igrejas desenvolveram-se ao longo da antiguidade e 
se acentuaram na Idade Média, quando o patriarca do Oriente, Miguel Cerulário, 
iniciou uma campanha contra as Igrejas de orientação latina (como era conhe-
cida a Igreja do Ocidente), em Constantinopla. Somando-se a essa perseguição às 
divergências doutrinárias entre as duas Igrejas, o diálogo entre elas chegou a um 
impasse. Diante dessa situação, o Papa Leão IX enviou a Constantinopla, em 1054, 
o cardeal Humberto, com o objetivo de resolver o impasse. O resultado foi que o 
cardeal Humberto excomungou o patriarca de Constantinopla, Miguel Cerulário. 
Entendendo esse ato do cardeal Humberto como um desrespeito a toda 
Igreja do Oriente e não reconhecendo a autoridade da Igreja de Roma no seu 
território, Cerulário excomungou o cardeal Humberto e todo o séquito enviado 
por Roma. Esse fato marcou a ruptura definitiva entre a Igreja do Ocidente e a 
Igreja do Oriente, e ficou conhecido como o Grande Cisma do Oriente. A partir 
do Grande Cisma do Oriente, formaram-se a Igreja Católica Ortodoxa Grega, 
no Oriente, e a Igreja Católica Apostólica Romana, no Ocidente.
A ruptura entre a Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente, ocorrida em 1054 
e que deu origem à Igreja Católica Ortodoxa e à Igreja Católica Apostólica 
Romana, permanece até os dias atuais. Em 2007, o Vaticano divulgou um 
documento o qual sinalizava a intenção de promover a reconciliação en-
tre as duas Igrejas. Em 2016, ocorreu um encontro histórico entre o líder da 
Igreja Católica Romana e o líder da Igreja Ortodoxa Russa. 
Para saber mais sobre esse encontro, acesse: <https://www.bbc.com/portu-
guese/noticias/2016/02/160212_papa_uniao_lk>. 
Os bizantinos nunca se arrogaram o título de bizantinos. Davam a si mesmos 
o nome de romanos e eram governados por um imperador romano que ale-
gava cumprir as leis romanas. É bem verdade que havia diferenças. O impera-
dor e seus súditos eram cristãos, e não pagãos, e, embora os cidadãos de Bi-
zâncio chamassem a si mesmo de romanos, não falavam latim, mas grego (...). 
Fonte: Lewis (1996).
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A IGREJA MEDIEVAL E O CONTROLE SOCIAL: A 
DOMINAÇÃO PELA FÉ
Caro(a) acadêmico(a), já foi explicado inúmeras vezes, nesta unidade, que a 
Igreja medieval desempenhou um papel de mantenedora da unidade da socie-
dade medieval, na medida em que o poder político encontrava-se dividido em 
vários momentos. Nesse momento, o que faremos é buscar compreender de que 
maneira a Igreja Cristã Medieval conseguiu consolidar seu poder e exercer uma 
influência incisiva no direcionamento da vida dos indivíduos do período medie-
val, dominando seus pensamentos e suas atitudes.
Diante de uma realidade caracterizada pela ausência de um poder polí-
tico central forte e único, por uma divisão social muito bem marcada e por um 
modelo econômico que favorecia e valorizava os grandes proprietários de terra 
– chamados senhores feudais –, os medievos conheciam um mundo onde a fé 
era o elemento apaziguador e condutor da vida cotidiana. Com o poder adqui-
rido desde o nascimento do cristianismo e após ele ser adotado como religião 
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oficial do Ocidente, a Igreja cristã transformou-se em grande proprietária de 
terras no período medieval, o que conferiu a ela um poder ainda maior, visto 
que, no período em que estamos tratando, ser detentora de terras era sinônimo 
de status e riqueza. 
Com esse crescente poder, a Igreja moldou a sociedade medieval de acordo 
com sua visão, não admitindo 
oposição, perseguindo e eli-
minando todos aqueles que 
se opunham ao seu projeto 
político, econômico e social. 
Por meio da criação dos 
Tribunais do Santo Ofício, 
que estudaremos logo mais, 
ela conseguiu manter o con-
trole sobre os indivíduos e 
regulamentar todos os aspec-
tos da vida medieval.
AS HERESIAS NA IDADE MÉDIA
Desde o momento em que o cristianismo surgiuenquanto doutrina filosófica e 
teológica, as divergências acerca de seus princípios e de seus ensinamentos fize-
ram-se presentes. Assim, desde a Antiguidade e ao longo de toda a Idade Média, 
os defensores e os senhores da Igreja precisaram lutar contra aqueles que pos-
suíam um pensamento diferente ao postulado pelo cristianismo e pela Igreja.
Os que questionavam a doutrina cristã em vários de seus aspectos ou os 
que tinham um entendimento diferente do cristianismo difundido pela Igreja 
Católica foram chamados de hereges, e as suas ideias, posições e opiniões, de 
heresias. Para combater os hereges e as heresias durante a Idade Média, a Igreja 
criou mecanismos que tinham, por objetivo, perseguir e eliminar aqueles que 
postulassem contra a doutrina Católica.
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Dentre as ideias consideradas heresias pela Igreja, destacamos o arianismo, o 
ebionismo, o maniqueísmo e o catarismo. Além dessas teorias, no decorrer da 
Idade Média, a Igreja teve que enfrentar e combater o avanço do islamismo e 
a invasão dos muçulmanos aos territórios considerados sagrados pelo cristia-
nismo, bem como as críticas dirigidas ao clero secular, devido às suas práticas 
abusivas e corruptas, o que colocava em dúvida o papel da Igreja enquanto guia 
espiritual dos indivíduos. Essas críticas, quando não combatidas e refutadas, 
gradativamente, minavam a imagem da Igreja Católica e representavam uma 
ameaça ao poder dessa instituição.
Tabela 2 - Heresias Cristãs Medievais
NOME CARACTERÍSTICAS
Maniqueísmo Pregava a existência de forças do bem e do mal, ambas igual-
mente poderosas.
Ebionismo Seita com raízes no judaísmo, que não aceitava a divindade 
de Cristo.
[...] para considerar de início a história mais remota das heresias, vale lem-
brar que a partir do final do século II as heresias começam a ser cataloga-
das por aqueles que conseguiram fazer prevalecer seus posicionamentos 
nestes séculos iniciais de formação da Igreja cristã – tanto na sua vertente 
oriental como ocidental. No século V, já teremos um texto importante de 
Santo Agostinho denominado De heresibus, que a certa altura lista nada 
mais nada menos que 88 heresias, transmitindo esta listagem para períodos 
mais avançados da Idade Média. Do mesmo modo, Santo Isidoro enumera 
nas Etimologias, escritas no século VII, 70 heresias. Isto nos dá uma ideia do 
gesto de arbitrariedade que de algum modo pauta a intenção de classificar 
pensamentos heréticos que se desviam da “ortodoxia”, isto é, do pensamen-
to que pretensamente descenderia em linha reta do pensamento de Cristo 
ou dos primeiros Padres da Igreja conforme as autoridades eclesiásticas do-
minantes.
Fonte: Barros (2010, p. 4-5).
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NOME CARACTERÍSTICAS
Arianismo Ário afirmava que Cristo não era igual a Deus, colocando-o 
abaixo de Deus e negando a ideia de que era eterno.
Catarismo Defendia a existência de um deus bom (que criou os espíri-
tos) e de um deus mal (que criou a matéria).
Fonte: a autora.
Para conter o avanço das heresias e garantir a sua hegemonia no período medie-
val, a Igreja Católica lançou mão de medidas, tais como a instalação do Tribunal 
do Santo Ofício ou Tribunal da Santa Inquisição e as Cruzadas.
O TRIBUNAL DO SANTO OFÍCIO: A INQUISIÇÃO
Diante do crescimento e difusão de teorias que 
contradiziam os princípios e ensinamentos da 
Igreja Católica e das práticas pouco virtuosas 
do clero secular, o Papa Gregório IX, no século 
XIII, adotou uma medida punitiva aos hereges 
que marcaria para sempre a história do cris-
tianismo e da Igreja Medieval. Recrutando o 
apoio dos dominicanos, Gregório IX criou um 
tribunal permanente que tinha por objetivo 
eliminar a heresia e conferia aos inquisido-
res o poder de prender, julgar e condenar 
qualquer acusado de heresia, sem direito à 
apelação. Desse modo, no ano de 1233, ini-
ciou-se a inquisição.
A inquisição, durante todo o seu tempo de existência, foi um instrumento 
de controle do pensamento e da atitude dos indivíduos do período medieval 
que se mostrou extremamente eficiente, devido, sobretudo, às técnicas de inves-
tigação e de julgamento adotadas pelos membros do Tribunal do Santo Ofício. 
Pensada em um primeiro momento para ser uma forma de acabar com as críti-
cas ao cristianismo derivado de São Pedro e sua doutrina e recuperar a imagem 
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da Igreja Católica perante a sociedade, acabando com os vícios do clero secular, 
a inquisição transformou-se, ao longo de sua duração, em instrumento utilizado 
com interesses políticos e econômicos tanto por membros do clero quanto por 
cidadãos comuns.
Baigent e Leigh (2001, p. 47-48) descrevem como eram realizados os proce-
dimentos da inquisição. De acordo com os autores:
Às vezes, um Inquisidor e seu séquito baixavam sem aviso numa cida-
de, aldeia, universidade, ou, como em O Nome da Rosa, numa abadia. 
O mais comum era que sua chegada fosse prodigamente preparada de 
antemão. Era proclamada em ofícios nas igrejas, anunciadas em elabo-
radas proclamações nas portas das igrejas e quadros de avisos públicos; 
e os que sabiam ler logo informavam aos que não sabiam [...]. Depois, 
de assim orquestrar seu aparecimento, ele colocava todos os moradores 
e eclesiásticos locais, aos quais pregava um solene sermão sobre sua 
missão e o objetivo de sua visita. Convidava então [...] todas as pessoas 
que quisessem confessar-se culpadas de heresia a apresentar-se. Os sus-
peitos de heresia recebiam um “tempo de graça” [...] para denunciar-se.
Depois do julgamento de um indivíduo con-
siderado herege, havia algumas opções de 
punição pelos seus “pecados”. Dependendo 
da heresia, o condenado recebia desde medi-
das chamadas disciplinares – algo que pode 
ser comparado a uma penitência nos dias 
atuais – até a pena de morte.
Caro(a) estudante, é possível que você 
já tenha escutado algo a respeito das práti-
cas adotadas pelos inquisidores para obter a 
confissão de um indivíduo acusado de heresia. 
Os interrogatórios eram longos e os inquisi-
dores não mediam esforços para conseguir a 
confissão, fazendo o que fosse necessário para 
conseguir fazer o acusado falar o que queriam 
ouvir. Nesse sentido, as torturas a que os acusados eram submetidos representaram 
uma prática comum nos processos de investigação do Tribunal do Santo Ofício.
A Igreja Medieval e o Controle Social: A Dominação pela Fé
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Com a instalação dos Tribunais da Inquisição, o que temos a observar, caro(a) 
aluno(a), é que os indivíduos do período medieval foram levados a guardar os 
pensamentos que representavam seus anseios diante da realidade em que viviam. 
Conforme a inquisição ganhava força, na Europa medieval, tornou-se perigoso 
expressar ideias e emoções sob o risco de elas irem de encontro ao que pregava 
a Igreja Católica, ou até mesmo de serem usadas como artifícios por outros indi-
víduos motivados pela inveja e pela ganância. 
Instrumento criado para combater a corrupção do clero secular e restaurar 
o antigo prestígio da Igreja Católica e seus membros, a inquisição tornou-se um 
meio de perseguição a todos aqueles que ousaram pensar e questionar a sociedade 
em que viviam. Padres, bispos e outros membros do clero foram excomunga-
dos, ordens religiosas foram extintas, indivíduos foram acusados de bruxaria e 
outras práticas consideradas pagãs, judeus foram obrigados a converterem-se ou 
a fugir desuas regiões, tudo em nome da manutenção do poderio daquela que 
se consolidou como a maior e mais importante instituição do período medieval.
Vimos que o propósito inicial do Tribunal do Santo Ofício era o de atuar 
na punição dos padres, dos bispos, dos monges e do clero em geral, que apre-
sentavam um comportamento que não condizia com o que se esperava de um 
homem do clero e que colocava em dúvida a função e importância da Igreja 
Católica medieval. Portanto, apesar de, aos nossos olhos, a história da inquisição 
parecer absurda e condenável, aos olhos de muitos dos medievos, os Tribunais 
do Santo Ofício foram criados com um propósito plausível e que correspondia 
à realidade do momento.
O interesse último da inquisição era pela quantidade. Estava disposta a ser 
branda com um transgressor, ainda que culpado, desde que pudesse colher 
uma dúzia ou mais de outros, ainda que inocentes.
(Michael Baigent e Leigh Richard)
ASPECTOS DA FORMAÇÃO E DA CONSOLIDAÇÃO DA IGREJA CRISTÃ MEDIEVAL
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IIU N I D A D E80
QUADRO EXPLICATIVO
Consolidação da Igreja Cristã Medieval
NASCIMENTO DO 
CRISTIANISMO
- Jesus Cristo - Contestação da realidade político-so-cial da Roma Antiga.
EXPANSÃO DO 
CRISTIANISMO
- Constantino: Édito 
de Milão (313).
- Teodósio I: Édito 
de Tessalônica 
(380).
- Liberdade de Culto e fim da persegui-
ção aos cristãos.
 - Cristianismo torna-se a religião oficial 
do Império Romano.
IGREJA 
MEDIEVAL
- Divisão do Impé-
rio Romano (395).
- Coroação de Car-
los Magno, no Natal 
de 800.
- Cisma do Oriente 
(século XI).
- Formação do Sacro Império Romano 
Germânico.
 - Igreja do Ocidente = autônoma.
- Igreja do Oriente = subordinada ao 
Imperador.
 -Ocidente: Igreja Católica Apostólica 
Romana.
- Oriente: Igreja Ortodoxa.
INQUISIÇÃO
- Heresias.
- Tribunal do Santo 
Ofício.
- Ideias e/ou atitudes que negavam ou 
contrariavam a doutrina cristã.
 - Investigar e julgar as acusações de 
heresia e os hereges.
- Controle político e social.
Fonte: a autora.
Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegamos ao fim de mais uma unidade. Espero que tenha aproveitado ao máximo 
a nossa viagem às origens do Cristianismo e compreendido como a Igreja Cristã 
transformou-se, desde o seu nascimento até sua consolidação, como a institui-
ção mais importante do período medieval.
Revisitamos a Antiguidade Clássica para compreendermos o contexto no 
qual o Cristianismo surgiu e pudemos observar como essa corrente doutriná-
ria e filosófica foi importante para o processo de transição da Antiguidade para 
a Idade Média, servindo de elemento unificador da sociedade.
Ao longo da Idade Média, a postura do Cristianismo e da Igreja Católica foi 
fundamental para a estruturação da sociedade medieval na medida em que foi 
sobre os seus princípios que os indivíduos do período organizaram-se, política, 
econômica e socialmente.
Embora os intelectuais de épocas posteriores à Idade Média considerem a 
Igreja Católica a responsável pela estagnação do processo de desenvolvimento 
cultural no período, devido ao forte controle sobre a vida e o pensamento dos 
indivíduos, não podemos negar que, mesmo exercendo um papel centralizador 
e controlador, a Igreja medieval foi responsável pela manutenção da ordem em 
um período de desorganização política, criando os alicerces de uma sociedade 
com características diferentes do que se vira até então.
Além disso, caro(a) aluno(a), se nos aprofundarmos no assunto e procedermos 
a uma investigação mais detalhada, descobriremos que, no período medieval, 
inúmeras obras e documentos importantes foram elaborados.
Portanto, não cabe a nós julgarmos a história do Cristianismo e da Igreja 
Católica medieval, assim como toda a Idade Média, caracterizando-os como 
elemento de atraso cultural ou social. À sua maneira, a Igreja, no Ocidente, foi 
responsável pela criação de uma perspectiva de análise capaz de resistir ao tempo 
e permanecer ainda viva no mundo atual. 
82 
1. A imagem a seguir refere-se ao Muro das Lamentações, localizado na cidade de 
Jerusalém e que representa o resquício do templo de Herodes, construído no 
lugar do primeiro templo de Jerusalém, destruído pelos romanos, no ano de 
70. Com base no que foi estudado, estabeleça as relações entre o cristianismo 
e o judaísmo, destacando as principais semelhanças e diferenças entre as duas 
religiões.
2. A figura de Jesus Cristo e a doutrina difundida por ele e seus seguidores não 
conquistaram, de imediato, o apoio do governo romano, visto que os primeiros 
anos do Cristianismo foram marcados pela perseguição dos adeptos às ideias 
difundidas por Jesus Cristo. Aponte e explique os motivos pelos quais os impe-
radores romanos promoveram uma verdadeira caça aos cristãos, o que resul-
tou na morte de Jesus Cristo.
3. “Mais ainda do que no campo da história política ou econômica, é muito di-
fícil dizer, no que diz respeito à vida espiritual, quando acaba a Antiguidade 
e quando começa a Idade Média. Entretanto, muitos elementos nos levam a 
pensar que a passagem de um tipo de religiosidade para outro foi bastante tar-
dia. De fato, o essencial da herança cultural do cristianismo foi assumido, pelo 
menos em um primeiro tempo, pelos reinos bárbaros que se edificaram sobre 
as ruínas do Império Romano, e às vezes até’ enriquecido por eles, como se 
constata na Espanha visigótica” (VAUCHEZ, 1995, p. 11). Analise as afirmações a 
seguir sobre o processo de consolidação da Igreja Cristã na Idade Média:
I. Pode-se afirmar que a expansão do Cristianismo, na Idade Média, ganhou 
força a partir da coroação de Carlos Magno pelo Papa Leão III, no ano de 800, 
sendo Carlos Magno o primeiro Imperador a querer criar um império cristão.
II. No decorrer da Idade Média, após a fragmentação do Império Carolíngio, 
a Igreja perdeu espaço para outras correntes filosóficas que, aos olhos dos 
medievos, ofereciam melhores respostas aos seus anseios, diante de uma 
sociedade sem uma figura política forte.
Fonte: Wikimedia Commons (2011, on-line)6.
83 
III. A divisão do Império Romano repercutiu na história da Igreja Cristã, na Ida-
de Média, influenciando o processo que resultou na divisão da Igreja em 
Igreja Católica Apostólica Romana, com sede em Roma, e Igreja Ortodoxa, 
com sede em Bizâncio.
IV. Após o Cisma do Oriente, as divergências doutrinárias e filosóficas entre as 
duas Igrejas foram sanadas e ambas passaram a ser comandadas por um 
único papa, que ficava em Roma. 
Está correto o que se lê em:
a) II e IV, apenas.
b) I, II e III, apenas.
c) I e IV, apenas.
d) I e III, apenas.
e) III e IV, apenas.
4. “Heresias, na sua origem, eram divergências que se estabeleceram no próprio 
seio do Cristianismo por oposição a um pensamento eclesiástico que tivera su-
cesso em se fazer considerar ‘ortodoxo’. A palavra ‘Ortodoxia’, neste caso, estará 
em referência à idéia de um ‘caminho reto’ associado a um pensamento funda-
dor original, no caso do Cristianismo a um pretenso pensamento que derivaria 
do Cristo e de seus apóstolos, bem como dos textos bíblicos naquelas de suas 
interpretações que se queriam considerar as únicas corretas” (BARROS, 2010, 
p. 3-4). Após a leitura e análise do contexto de criação dos Tribunais do Santo 
Ofício, na Idade Média, assinale a alternativa correta:
a) Os Tribunais do Santo Ofício foram criados no contexto da secularização do 
clero e da adoção de práticas, por parte desse setor da Igreja Católica, que 
deturpavam a visão que os medievos tinham dessa instituição.
b) A inquisição foi usada como um instrumento puramente cultural, com o 
objetivo de oferecer uma resposta aos anseios da sociedade medieval, na 
medida em que ela se encontrava enfraquecida política e economicamente.
c) O processo inquisitorial ocorria de maneira a evitar que indivíduosacusados injusta-
mente fossem condenados e perdessem seus bens em favor daquele que o acusou.
d) A sociedade medieval foi marcada pelo desenvolvimento cultural e liberdade 
de pensamento e expressão, sendo que os Tribunais do Santo Ofício não repre-
sentavam ameaça àqueles que procuravam levar o conhecimento aos indivídu-
os, ou mesmo esclarecer dúvidas relacionadas à fé e ao papel da Igreja Católica.
e) O Tribunal do Santo Ofício não teve vida longa na Idade Média. À medida que 
os séculos avançam, a Igreja percebe que não é preciso a manutenção dessa 
instituição, pois seu poderio e influência são fortalecidos ao longo do tempo.
84 
5. A imagem a seguir refere-se à Igreja de St Gregory do Monastério de Tatev, du-
rante o pôr do sol, na Província de Syunik, na Armênia. O mosteiro apostólico 
armênio, construído no século IX, hospedou, nos séculos 14 e 15, uma das mais 
importantes universidades medievais armênias, a Universidade de Tatev, que 
contribuiu para o avanço da ciência, religião e filosofia, reprodução de livros e 
do desenvolvimento de pintura em miniatura:
Considerando as discussões acerca do Cristianismo e da Igreja Cristã Medieval, 
assinale a alternativa correta.
a) A forte religiosidade do medievo representa um elemento significativo do 
imaginário medieval e importante para a compreensão da sociedade me-
dieval.
b) Uma das características mais relevantes do Cristianismo Medieval foi o seu 
poder de dividir a sociedade de acordo com suas crenças.
c) As instituições católicas, na Idade Média, no que diz respeito à sua arquite-
tura, procuravam representar a simplicidade que marcava da vida do clero.
d) Os bispos representavam a autoridade religiosa, sendo, os mosteiros, insti-
tuições presentes tanto no campo quanto nas cidades medievais.
e) O cristianismo medieval foi o elemento responsável por manter viva as ins-
tituições e costumes da Antiguidade Clássica tanto no que diz respeito aos 
aspectos políticos e econômicos quanto aos socioculturais na Idade Média.
Fonte: Wikimedia Commons (2016, on-line)7.
85 
Inquisição e as Minorias na Idade Média
O estudo e análise da atuação do Tribunal do Santo Ofício no período medieval nos leva 
a avaliar até onde a Igreja Cristã chegou para evitar e combater as críticas à sua atuação 
no período em questão. Com a criação da inquisição, todo aquele que negasse os prin-
cípios do cristianismo propagados pela Igreja Católica ou que questionasse e criticasse 
tais princípios eram vistos como hereges, traidores e merecedores de punição.
Com o desenrolar dos processos inquisitoriais e a evolução natural do indivíduo, a Igreja 
precisou acirrar as medidas reguladoras daquela que ela considerava ser a ordem natu-
ral das coisas, passando a enxergar qualquer ação ou pensamento que fugisse às regras 
impostas por ela como ameaças ao seu poderio. Nesse contexto, as práticas religiosas 
que não condiziam com o cristianismo da Igreja Católica – como o judaísmo, o islamis-
mo e a bruxaria –, comportamentos diferentes dos considerados aceitáveis para a so-
ciedade do período – como o homossexualismo e a prostituição – e até mesmo negros 
e mulheres passaram a ser alvos da Igreja Católica, em uma perseguição que perdurou 
toda a baixa Idade Média.
A chegada da Peste Negra, no século XIV, instaurou, em toda a Europa, um clima de 
medo e questionamento em relação à existência de Deus e Seus propósitos, pois a epi-
demia levou as sociedades ao caos, e valores, como tolerância, piedade e ajuda, foram 
colocados à prova. Diante desse cenário, a Igreja viu sua imagem abalada e seu poder 
questionado. A solução para contornar a situação foi reforçar e garantir que o modo de 
vida considerado ideal por ela continuasse a existir e, por essa razão, seu olhar voltou-se 
para a parcela da população que vivia fora dos padrões estabelecidos pela Igreja.
Portanto, diante das conjunturas sociais dos séculos finais da Idade Média, as minorias 
sofreram com a postura controladora e dominadora da Igreja Católica e dos poderosos, 
por representarem uma ameaça à estrutura social estabelecida. 
Fonte: Richards (1993).
MATERIAL COMPLEMENTAR
O Nome da Rosa
Umberto Eco
Editora: Nova Fronteira
Sinopse: no século XIV, um frade franciscano é enviado a um mosteiro 
beneditino, na Itália, para investigar uma série de mortes que ocorreram 
em um curto intervalo de tempo. O livro narra os elementos que permeiam 
essa investigação e mostra aspectos da Igreja Cristã Medieval e o poder que ela exercia sobre a 
vida e o pensamento do homem medieval.
Giordano Bruno
Ano: 1973
Sinopse: o filme aborda o julgamento e condenação do matemático e 
filósofo Giordano Bruno. Acusado de defender teorias que iam contra as 
doutrinas da Igreja Católica, Giordano Bruno foi julgado pelo Tribunal do 
Santo Ofício na Itália e condenado à morte em 1600.
Embora o filme aborde um processo inquisitorial após o fim da Idade 
Média, é possível compreender como essa instituição funcionou desde a 
sua criação, assim como a postura da Igreja Católica diante daqueles que ousaram questionar 
seus princípios.
Inquisição na América Latina: Documentário que analisa o desenvolvimento da inquisição 
na América Latina, investigando as relações e interesses que marcaram a história do Igreja e do 
cristianismo nesta região.
Link: <https://www.youtube.com/watch?v=KowmeR45Krc>.
GLOSSÁRIO
87
Clero Secular: Membros do clero que desempenhavam funções junto à população.
Cesaropapismo: Prática em que o chefe de Estado é, também, o chefe supremo da 
Igreja. Representa a máxima aliança entre Estado e religião.
Concílios: Reunião entre os líderes eclesiásticos com o objetivo de discutir e resol-
ver questões relacionadas a doutrinas, fé e costumes.
Cristianismo: Teoria religiosa desenvolvida a partir das ideias de Jesus Cristo, o filho 
de Deus.
Dominicanos: Ordem religiosa composta por frades e criada na França, durante a 
Idade Média, com o objetivo de expandir o cristianismo.
Edito de Milão: Promulgado pelo imperador Constantino, em 313. Determinava a 
liberdade de culto aos cristãos e o fim das suas perseguições.
Edito da Tessalônica: Promulgado em 380 pelo imperador Teodósio I, estabelecia o 
Cristianismo como religião oficial do Império Romano.
Galileia: Região montanhosa ao norte de Israel na qual Jesus teria vivido por, apro-
ximadamente, 30 anos.
Heresia: Ideias ou costumes que negam e/ou se contrapõem a uma doutrina esta-
belecida.
Herege: Indivíduo que pratica heresia. Na Idade Média, eram considerados hereges 
aqueles que eram contrários aos dogmas cristãos.
Herodes: Governador da Judeia na época em que Jesus teria nascido.
Jerusalém: Uma das mais antigas do mundo e considerada sagrada pelo cristianis-
mo, judaísmo e islamismo. 
Jesus Cristo: Figura central do Cristianismo, que questionava a realidade política e 
social de seu tempo com ideias opostas ao governo romano.
Questão da Investidura: Conflito entre Igreja e Estado, no período medieval, fun-
damentado no direito de nomeação para cargos eclesiásticos considerados impor-
tantes.
Reforma Gregoriana: Reforma religiosa realizada no século XI pelo Papa Gregório 
VII, que submeteu os imperadores medievais ao poder papal.
Sacro Império Romano Germânico: Organização administrativa constituída no sé-
culo IX e que representava a união dos territórios da Europa sob a autoridade de um 
imperador escolhido e apoiado pela Igreja.
Tribunal do Santo Ofício: Órgão eclesiástico criado para investigar e julgar as prá-
ticas heréticas na Idade Média.
REFERÊNCIAS
BAIGENT, M.; LEIGH, R. A inquisição. Rio de Janeiro: Imago, 2001.
BARROS, J. A. Heresias na Idade Média: considerações sobre as fontes e discussão 
historiográfica. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, a. II, n. 6, fev. 
2010.
BLAINEY, G. Uma breve história do cristianismo. São Paulo: Fundamento Educa-
cional, 2012.
HURLBUT J. L. História da Igreja Cristã. Belo Horizonte: Betânia, 2002.
LEWIS, B. O Oriente Médio: do advento do cristianismo aos dias de hoje.Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 1996.
MONDONI, D. História da Igreja na Antiguidade. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
______História da Igreja na Antiguidade. 2. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2006.
RICHARDS, J. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Rio de Janeiro: 
Jorge Zahar, 1993.
SOUZA, C. B. Jesus na origem do cristianismo. Revista Fragmentos de Cultura, Goi-
ânia, v. 21, n. 10/12, p. 553-565, out./dez. 2011.
VAUCHEZ, A. A espiritualidade na Idade Média ocidental: (século VIII a XIII). Rio de 
Janeiro: Jorge Zahar, 1995.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:First_century_palestine-es.svg>. 
Acesso em: 21 nov. 2018.
2 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Theodosius.jpg>. Acesso em: 21 
nov. 2018.
3 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sacre_de_Charlemagne.jpg>. 
Acesso em: 21 nov. 2018.
4 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Holy_Roman_Empire_1000_ma-
p-es.svg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
5 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Panorama_of_Constantinople,_
Melchior_Lorck,_Sheet_14,_1559.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
6 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Muro_das_Lamenta%C3%A7%-
C3%B5es.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
7 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Monasterio_de_Tatev,_Arme-
nia,_2016-10-01,_DD_83-85_HDR.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2018.
GABARITO
89
GABARITO
1. O entendimento judaico sobre a figura de Deus e de qual o caminho os homens 
devem seguir na Terra, enquanto aguardam a chegada do Messias e o dia do 
julgamento final, não é diferente daquela que é ensinada no Cristianismo. Por-
tanto, alguns dos preceitos difundidos pelo Cristianismo têm suas origens na 
religião judaica. Embora o Cristianismo e o Judaísmo tenham suas semelhanças, 
não podemos nos esquecer de que não formam um único corpo religioso, visto 
que se distanciam em vários outros aspectos, como a crença de que Jesus é o 
salvador enviado por Deus. Para os judeus, ao contrário do que acreditam os 
cristãos, Deus ainda não enviou seu Messias.
2. Questionando a situação social do seu tempo, pregando a adoração de um úni-
co Deus, Dele dizendo-se filho e difundindo o amor e a união entre os homens, 
Jesus passou a ser considerado perigoso pelo governo de Roma, afinal, as prega-
ções de Jesus iam de encontro à forma de administração do Império e toda sua 
organização, o que oferecia um risco à manutenção da ordem vigente. Diante da 
divulgação das ideias de Jesus e do crescimento do número de seguidores que 
ele conquistava, o governo imperial decidiu que seria mais cauteloso impedir 
que a fama de Jesus – a essa altura também já conhecido por operar milagres 
e curas – crescesse ainda mais e colocasse em risco a união do Império. Desse 
modo, Jesus foi preso e submetido a um julgamento no qual foi considerado cul-
pado por blasfemar contra a doutrina judaica – pois se declarava filho de Deus 
e questionava a postura de vários sacerdotes judaicos diante da situação social 
– e, por fim, foi condenado à morte pela crucificação.
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Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
ANÁLISE DO PROCESSO DE 
FEUDALIZAÇÃO: ESTRUTURAS 
SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender o conceito de feudalismo.
 ■ Analisar o processo que resultou na feudalização da Europa.
 ■ Conhecer e compreender os elementos que compõem a estrutura 
social da sociedade feudal.
 ■ Verificar a organização política e econômica da Europa medieval a 
partir do advento do feudalismo.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Características do feudalismo e elementos da sociedade feudal
 ■ Fragmentação do poder político na Europa feudal: a formação da 
nobreza senhorial
 ■ Modo de produção feudal
 ■ Aspectos culturais da sociedade feudal
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, entenderemos o processo de formação do feuda-
lismo, elemento fundamental para compreendermos as rupturas e permanências 
que marcaram a transição da Antiguidade para o mundo medieval. 
O período medieval representou a transformação da terra em sinônimo de 
riqueza e, consequentemente, o aumento da agricultura como atividade princi-
pal meio de subsistência da sociedade em detrimento do comércio. De acordo 
com Fourquin (1991), as invasões bárbaras contribuíram para o declínio das ati-
vidades comerciais, fato que desestruturou a economia ocidental. 
Esses fatores explicam, também, porque as cidades nascidas outrora se fecharam 
em muralhas, favorecendo e fortalecendo a vida rural, situação que perdurou por 
um longo período até que o crescimento das cidades e o renascimento comercial 
começassem a modificar a mentalidade daqueles que viam, na terra, sua principal 
fonte de riqueza. Nesse sentido, “os senhorios dos tempos feudais apresentaram-se 
como uma instituição bastante complexa” (DUBY, 1988 p. 13) e de forte influên-
cia sobre a propriedade, constituindo o centro da economia feudal.
A Igreja também exercia um papel de destaque nessa sociedade e se apre-
sentava como a maior proprietária de terras, adquiridas por meio de doações 
realizadas por proprietários, a fim de pagar penitências ou, até mesmo, por 
pessoas que desejavam participar das Cruzadas. Assim, a Igreja, no início do 
feudalismo, enriquecia-se às custas da fé dos homens, possuindo mais terras do 
que necessitava e do que era capaz de administrar sozinha, sendo preciso dele-
gar a terceiros a tarefa de administrar suas possessões.
Nesse cenário marcado pela valorização da terra e pelo “crescimento” da agri-
cultura, as diferenças entre os mais poderosos e os mais humildes acentuaram-se e 
provocaram uma divisão na sociedade que levou em consideração a importância 
de cada classe dentro da organização do mundo feudal: a do clero, a da nobreza 
guerreira e a dos trabalhadores, formando uma sociedade que, segundo Le Goff, 
“relacionava-se com novas estruturas sociais e políticas” (LE GOFF, 1989, p. 76).
Introdução
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CARACTERÍSTICAS DO FEUDALISMO E ELEMENTOS 
DA SOCIEDADE FEUDAL
O Feudalismo, ou sistema feudal, consolidou-se na Idade Média, por volta do 
século X, e foi o resultado das transformações pelas quais o Ocidente estava 
passando desde a antiguidade clássica. Nesse sentido, podemos afirmar que o 
feudalismo tem suas raízes nos elementos que compunham a sociedade romana 
desde os séculos II e III.
Já discutimos, nas unidades anteriores, caro(a) aluno(a), que a chegada dos 
povos bárbaros ao Império Romano e a cristianização do Ocidente foram fatores 
fundamentais para as mudanças que ocorreram na sociedade antiga e fornece-
ram os elementos sobre os quais a sociedade medieval formou-se. Elementos, tais 
como a ruralização da economia, a adoção de uma religião única e a separação 
entre Igreja e Estado formaram os aspectos que moldaram o mundo medieval e 
determinaram a dinâmica de funcionamento de todos os aspectos desse período, 
sendo, então, relevante que compreendamos como esses elementos se fundiram 
na criação de uma nova sociedade.
ANÁLISE DO PROCESSO DE FEUDALIZAÇÃO: ESTRUTURAS SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Características do Feudalismo e Elementos da Sociedade Feudal
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Primeiramente, é preciso destacar, caro(a) acadêmico(a), que focaremos nossa 
análise no desenvolvimento do Feudalismo em regiões da Europa Ocidental, a 
saber: as Ilhas Britânicas, a região que compreende a atual França, a Alemanha 
Ocidental, a Áustria e os Reinos do norte da Itália. A Península Ibérica, como 
veremos posteriormente, no momento que nos interessa, está sob o comando 
dossarracenos – denominação dos árabes antes da conversão ao Islamismo.
Caro(a) aluno(a), para que possamos prosseguir com nosso estudo, é neces-
sário que tenhamos em mente o que vem a ser um feudo na medida em que o 
entendimento desse conceito é fundamental para compreendermos a organiza-
ção da sociedade feudal.
De acordo com Ganshof (1976, p. 141):
O elemento real nas relações feudo-vassálicas continua a ser na Idade Clás-
sica o mesmo que era na época carolíngia, pelo menos se o reduzirmos 
aos seus elementos essenciais: uma concessão feita gratuitamente por um 
senhor ao seu vassalo para que este último pudesse dispor de sustento le-
gítimo e ficasse em condições de fornecer ao seu senhor o serviço exigido.
Embora a concessão de propriedades de terras fosse o mais comum no momento 
do estabelecimento da vassalaria, outros elementos e/ou objetos tinham o mesmo 
valor que a terra, no que diz respeito às relações de direitos e obrigações entre suse-
ranos e vassalos. Entre os elementos e/ou objetos considerados feudos, encontramos, 
além da terra, um castelo, a concessão da autoridade pública, uma função de direito, 
o feudo de bolsa, feudo de Loriga, uma 
propriedade alodial, feudo de fiança, 
feudo de reprise e entre outros.
A concessão de um feudo possuía 
um caráter hereditário e representava, 
também, a hereditariedade dos laços 
de fidelidade, embora, após a morte 
de um vassalo, pudesse ser realizada 
uma nova cerimônia de homenagem 
com o seu herdeiro, a fim de que os 
votos de juramento e de fidelidade fos-
sem renovados. Figura 1 - Castelo MedievalFonte: Shutterstock.
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Tabela 1 - Tipos de feudo
FEUDO CARACTERÍSTICA
Terra Concessão de uma propriedade de terra cujo tamanho variava.
Castelo A concessão de um castelo não implicava, necessariamente, a concessão da terra.
Autoridade 
Pública Concessão do direito de ocupar um cargo público.
Função de 
Direito
Concessão do direito de exercer o poder de justiça em determi-
nada região.
Feudo de Bolsa Concessão do direito de receber uma renda em prazos deter-minados.
Feudo de 
Loriga Elementos que compunham a armadura de um cavaleiro.
Feudo de 
Fiança
Um devedor concedia um bem ao seu credor, como uma espé-
cie de penhor.
Propriedade 
Alodial Propriedade isenta de obrigações feudais.
Feudo de 
Reprise
Um proprietário renuncia a sua propriedade em benefício de 
outro senhor, tornando-se vassalo deste. Em seguida, recebe 
novamente a propriedade como feudo.
Fonte: a autora.
Franco Jr. (1985) destaca quatro fatores que contribuíram para a formação do 
sistema feudal, sendo eles: 
1. O processo de transição de uma economia baseada na agricultura para o 
desenvolvimento comercial na Antiguidade e, com a chegada dos bárba-
ros, a decadência das atividades comerciais e a retomada da agricultura 
como atividade principal. 
2. O enrijecimento da hierarquia social. 
3. A fragmentação do poder central. 
4. O desenvolvimento das relações de dependência pessoal. 
A esses fatores, somam-se a chegada de povos, como os Sarracenos, os Vikings 
e os Húngaros, ao continente europeu, entre os séculos VIII e X, e a conso-
lidação do poder da Igreja cristã (processo que estudamos na Unidade II). 
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Esses elementos foram os responsáveis pela modificação da configuração do 
Ocidente ao longo dos séculos III ao XV (período que compreende formação, 
consolidação e crise do feudalismo) e, por essas razão, vamos estudá-los sepa-
radamente ao longo desta unidade.
SOCIEDADE TRIPARTIDA
A nobreza senhorial ou nobreza feudal, nascida da necessidade de proteção do 
Sacro Império Romano Germânico contra novos invasores, a partir do século 
VIII, desenvolveu-se e se tornou uma camada social rica, importante e influente 
dentro da sociedade medieval. Diante da posição conquistada e consolidada 
desde o século VIII, os indivíduos aos quais era conferido o título de nobre dis-
tinguiram-se dos demais indivíduos, o que, de acordo com Le Goff (1993), gerou 
a necessidade da proteção da legislação de poderes e direitos.
Dessa maneira, os indivíduos da época medieval assentaram-se sobre um 
esquema de divisão social denominado sociedade tripartida, ou seja, estavam 
divididos em três ordens ou classes sociais, a saber: ordem clerical (membros do 
clero, também denominados oratores), nobreza (proprietários de terras e cavalei-
ros, também chamados de bellatores) e, por fim, os demais indivíduos da sociedade 
medieval (camponeses livres, servos e burgueses, denominados laboratores).
Essa divisão social é característica da sociedade feudal, apresentando-se 
como uma estrutura rígida e imutável, isto é, sem a possibilidade de mobilidade 
social, seja por meio de uniões matrimoniais, políticas, seja pela aquisição da 
posse da terra (conforme veremos em breve, a terra não era um bem alienável o 
qual poderia ser adquirido por qualquer indivíduo).
Dentro dessa sociedade fortemente hierarquizada, cada ordem ou camada 
social tinha sua importância e seu papel bem definidos. Podemos afirmar que a 
sociedade tripartida definiu tanto o feudalismo e o período medieval, a partir do 
século X, quanto o início do período moderno, pois foi um elemento relevante 
para a formação do Estado moderno, assunto sobre o qual nos debruçaremos 
em outro momento.
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Já estudamos, neste livro, a conso-
lidação do poder e da influência 
do cristianismo e da Igreja ao 
longo do período medieval. 
Portanto, o fato de o clero ser a 
camada social com mais poder 
e prestígio dentro dessa divisão 
social a qual nos referimos não 
nos causa espanto.
Aos membros da Igreja, era 
delegada a função de orar e cuidar 
das questões religiosas da socie-
dade medieval, buscando ajuda 
divina para assegurar a proteção 
espiritual dos medievos. Os mem-
bros do clero também desempenhavam um papel importante no aspecto cultural 
do período, haja vista o fato de que possuíam formação erudita e, por essa razão, 
eram os responsáveis pela elaboração dos documentos sagrados do período, 
transmitindo, por meio de livros e textos, conhecimento e informações impor-
tantes para o estudo e entendimento da história do cristianismo, da Igreja e da 
própria sociedade medieval.
Sobre o papel do clero e da Igreja, Franco Júnior (2001, p. 120-121) destaca:
Foi por intermédio dela que se deu a conexão entre os vários elementos 
(já anteriormente presentes) que comporiam aquela formação social. 
A casa de Deus que parece uma é, portanto, tripla: uns rezam, outros comba-
tem e outros trabalham. Todos os três formam um conjunto e não se sepa-
ram: a obra de uns permite o trabalho dos outros dois, e cada qual, por sua 
vez, presta seu apoio aos outros.
(Hilário Franco Júnior)
Figura 2 - Representação das três classes sociais: clero, 
nobreza, povo
Fonte: Oliveira ([2018], on-line)1.
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Foi ela a maior detentora de terras naquela sociedade essencialmente 
agrária, destacando-se, portanto, no jogo de concessão e recepção de 
feudos. Foi ela a controlar as manifestações mais íntimas da vida dos 
indivíduos: a consciência através da confissão; a vida sexual através do 
casamento; o tempo através do calendário litúrgico; o conhecimento 
através do controle sobre as artes, as festas, o pensamento; a própria 
vida e a própria morteatravés dos sacramentos (só se nascia verdadei-
ramente com o batismo, só se tinha o descanso eterno no solo sagrado 
do cemitério). Foi ela a legitimadora das relações horizontais sacrali-
zando o contrato feudo-vassálico, e das relações verticais justificando 
a dependência servil. Aliás, como produtora de ideologia*, traçava a 
imagem que a sociedade deveria ter de si mesma.
 Dividida em Alto Clero (composto pelo papa, bispo e abade), Baixo Clero (for-
mado pelo padre e o vigário) e, ainda, em Clero Secular (aqueles que exerciam suas 
funções perto do povo) e Clero Regular (membros que ficavam reclusos nos mos-
teiros e nas abadias), a Igreja fez-se presente não só no que tange à espiritualidade 
dos medievos, mas também em todos os outros aspectos da vida em sociedade.
A segunda ordem ou camada 
que compõe a sociedade medie-
val é a ordem dos bellatores, ou 
seja, a nobreza militar, e o que 
nos interessa, neste momento, é 
como ela se organizou e exerceu 
sua função dentro da sociedade 
medieval. Os nobres, grandes 
proprietários de terras e também 
chamados de senhores feudais, 
como afirmado anteriormente, 
tinham, entre suas obrigações, 
a função de proteger o território 
do Ocidente em períodos de guerras. Em suas terras, construíram grandes caste-
los cercados por muralhas que também serviam à proteção.
Essa nobreza encastelada era a responsável, dentro dos limites de suas ter-
ras, pela segurança também daqueles que a servia. Desse modo, cabia ao senhor 
feudal garantir a paz e a segurança de sua família e de seus servos. A ele, tam-
bém era atribuído o poder de exercer a justiça cível e criminal.
Figura 3 - Bruxelas, Bélgica, 19/07/2016. Janelas de vitral 
medievais na Igreja Católica de Nossa Senhora abençoada de 
Sablon (Eglise Notre Dame Du Sablon). A Igreja é conhecida 
por suas duas magníficas capelas barrocas.
Fonte: Shutterstock.
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Como se observa, a nobreza senho-
rial da Idade Média gozava de um 
poder universal, na medida em 
que tinham autonomia para diri-
gir a vida de todos que viviam em 
seus domínios. Essa autonomia 
político-administrativa foi a res-
ponsável pela fragmentação do 
poder monárquico, visto que o 
monarca pouco interferia na admi-
nistração de um domínio feudal. 
Em decorrência do seu papel mili-
tar e da sua significância política e 
econômica, a nobreza feudal trans-
formou-se em classe poderosa e, ao lado do clero, determinou os rumos da 
sociedade medieval.
A última camada que compunha a pirâmide social da Idade Média era a ordem 
dos laboratores. Essa ordem englobava os indivíduos que não pertenciam ao 
clero, nem faziam parte da nobreza, o que significa dizer que era a ordem na 
qual estava inserida a maior parte da população medieval. Eram os camponeses 
livres, os servos e os burgueses.
Historiadores, tais como Le Goff (1993), Duby (1998) e Franco Júnior (2001) 
demonstram, em suas análises, que esse setor da sociedade medieval era o res-
ponsável pela manutenção da ordem econômica do período. Sem o trabalho, 
Figura 4 - Representação de um nobre medieval e seu 
castelo
Fonte: Shutterstock.
Os cavaleiros medievais sempre despertaram a curiosidade e o interesse 
dos estudiosos, devido aos aspectos guerreiro e religioso que marcaram sua 
existência. Sobre os costumes e a cultura dos cavaleiros na Espanha, na Baixa 
Idade Média, acesse: <http://seer.ufrgs.br/aedos/article/view/9837/5664>. 
http://seer.ufrgs.br/aedos/article/view/9837/5664
http://seer.ufrgs.br/aedos/article/view/9837/5664
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sobretudo, dos servos camponeses, não seria possível manter a estrutura que 
se desenhou desde a fragmentação do Império Carolíngio. Sobre esses indiví-
duos, recaiu a responsabilidade do trabalho, essencial para a manutenção da 
ordem vigente.
Eram os camponeses, sob o regime de servidão, que garantiam o cuidado com 
a terra e o consequente sustento tanto seu e de sua família quanto da nobreza 
guerreira e do clero. Esses indivíduos colocavam-se sob a proteção de um senhor 
(em uma relação cujos laços estudaremos a seguir) em troca de cuidar de suas 
propriedades. A eles, também era cedido o direito a um pedaço de terra no qual 
podiam morar e do qual deveriam tirar seu sustento, mediante o pagamento de 
taxa ou imposto ao seu senhor, proprietário da terra.
Tabela 2 - Obrigações, Taxas e Impostos que os servos deviam aos senhores feudais
TAXA OU IMPOSTO TIPO DE PAGAMENTO
Corvéia Obrigação dos servos em trabalhar nas terras do 
senhor feudal.
Talha Obrigação de entregar metade de sua produção 
para o senhor feudal.
Banalidades Taxa paga pelo uso da estrutura do feudo (como 
moinhos ou fornos, por exemplo).
Mão Morta Imposto que o filho de um camponês deveria 
pagar ao senhor para permanecer na terra após a 
morte de seu pai.
Dízimo 10% da produção do servo deveria ser entregue 
à Igreja.
Taxa de Justiça Taxa paga para serem julgados.
A servidão era um regime de trabalho baseado na obrigação de um homem 
com outro, obrigações as quais eram pagas em forma de taxas e impostos. 
Grosso modo, o servo pertencia à terra, enquanto o escravo pertencia a um 
homem.
Fonte: a autora.
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IIIU N I D A D E102
Não nos debruçaremos, neste momento, sobre o papel da burguesia dentro 
dessa sociedade. Isso, porque esse assunto será retomado em outra unidade, 
na qual poderemos estudar mais a fundo o desenvolvimento desse setor da 
sociedade e analisar o seu significado na Idade Média.
Dentro da categoria dos camponeses, é preciso diferenciarmos os campo-
neses livres e os servos. O servo estava preso à terra pelos laços da servidão e 
não podia desvincular-se dela. Os camponeses livres eram chamados vilões 
e não estavam presos à terra ou a um senhor feudal, podendo deslocar-se 
a qualquer momento. Esses últimos deviam apenas algumas obrigações ao 
dono da terra, mas não estavam submetidos a todas as taxas e impostos que 
o servo.
Fonte: a autora.
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FRAGMENTAÇÃO DO PODER POLÍTICO NA EUROPA 
FEUDAL: A FORMAÇÃO DA NOBREZA SENHORIAL
Entre os séculos VIII e X, a Europa Ocidental sofreu uma nova onda de invasões, 
dessa vez, dos Vikings (também denominados Normandos), os quais ocuparam 
o litoral europeu; dos Húngaros, que se instalaram em regiões da Europa Central; 
e dos Sarracenos, que conquistaram a parte meridional da Europa Ocidental, 
ocupando regiões consideradas sagradas pelos cristãos, por fazerem parte da 
história de Jesus Cristo e do cristianismo.
A chegada desses povos provocou uma desordem na Europa Ocidental, con-
tribuindo para o enfraquecimento do poder real, abalado diante do cenário de 
destruição que as invasões causaram. Diante da nova onda de invasões, aque-
les que comandavam o Ocidente precisaram adotar medidas, a fim de proteger 
o Sacro Império ao longo desses três séculos. Diante disso, coube, à nobreza, a 
tarefa de proteger os limites do Sacro Império contra os novos invasores.
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IIIU N I D A D E104
É importante definir, neste momento, caro(a) aluno(a), como podemos caracte-
rizar a nobreza no período medieval. Bloch (2009, p. 330) afirma que:
Para merecer tal nome, eladeve, ao que parece, reunir duas condições: 
primeiro, a posse de um estatuto jurídico próprio, que confirma e ma-
terializa a superioridade a que aspira; em segundo lugar, é preciso que 
esse estatuto se perpetue pelo sangue-salvo, no entanto, se se admitir, em 
favor de algumas novas famílias, a possibilidade de lhe ser aberto o aces-
so, mas em número restrito e conforme normas regularmente estabeleci-
das... Por outras palavras, nem o poder do facto era suficiente, nem mes-
mo esta forma de hereditariedade, que, na prática, era tão eficaz, decorre 
tanto da transmissão das fortunas como do auxílio prestado à criança por 
pais com boa posição; é preciso ainda que sejam reconhecidas de direito 
as vantagens sociais e a hereditariedade [...]. Naquele tempo, tal como 
nas nossas democracias, quando os privilégios legais desaparecem, é a 
sua lembrança que alimenta a consciência de classe: só é nobre autênti-
co aquele que pode provar a nobreza dos seus antepassados. Ora, neste 
sentido, que é o único legítimo, a nobreza no Ocidente fez uma aparição 
relativamente tardia. Os primeiros esboços da instituição só começaram 
a desenhar-se antes do século XII. Apenas no século seguinte se fixou, 
enquanto que o feudo e a vassalagem estavam já no declínio.
Figura 5 - Ocupação escandinava entre os séculos VIII e X escandinavos nos séculos VIII a X 
Fonte: Wikimedia Commons (2014, on-line)2. 
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Embora Bloch (2009) afirme que a nobreza, dentro do seu entendimento do termo 
nobre, apareça apenas após o século XII, ele mostra que o termo já era usado 
desde o século IX para distinguir os indivíduos de acordo com seu nascimento 
e sua fortuna. Por essa razão, corriqueiramente, encontramos, nos documentos 
acerca da Idade Média e do feudalismo, o título de nobre associado à linhagem 
de homens detentores de grandes propriedades rurais.
O historiador Franco Júnior (1985, p. 37) demonstra que os homens que 
compunham a nobreza, no período medieval, tinham origem diversa. De acordo 
com o autor:
Os guerreiros, detentores de terras e monopólio da violência, isto é, da 
força militar, tinham dupla origem. O estrato mais alto dos bellatores 
era constituído por indivíduos pertencentes a antigas linhagens. Mui-
tas vezes essas famílias remontavam a grandes servidores, importantes 
personagens da época carolíngia. Assim, a verdadeira nobreza feudal 
era um pequeno grupo de pessoas com descendentes importantes e 
conhecidos. O segundo nível da camada dos bellatores era formado 
por elementos de origem humilde, armados e sustentados por um po-
deroso senhor, que geralmente lhes cedia uma certa extensão de terras 
com os correspondentes trabalhadores. Assim surgiram os cavaleiros 
(FRANCO JÚNIOR, 1985, p. 37).
 A esses homens, cujos laços com seus antepassados atribuíam-lhes as prerroga-
tivas que os caracterizavam como nobres, foi atribuída a função de combater os 
inimigos do Sacro Império Romano Germânico. Em troca dessa função, monarca, 
príncipes e duques transferiam a eles grandes possessões de terras, transforman-
do-os em senhores feudais.
Essa nobreza, formada a partir da concessão de propriedades e de direitos, 
constituirá, dentro da sociedade medieval, uma camada social a quem o poder de 
justiça e de administração de fato corresponde, transformando a figura do monarca, 
representado por reis, príncipes e duques, distante da realidade dos medievos. Isso, 
porque cada propriedade, cada feudo, contava com um senhor feudal responsável 
por determinar as direções que a vida naquela comunidade deveria seguir.
Diante disso, a Idade Média, ao longo do período de existência do feudalismo, 
contou com um modelo político administrativo fundamentado na existência de 
poderes locais, e uma das consequências foi a desunião dos súditos e o enfraque-
cimento das instituições que caracterizam um Estado de fato.
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VASSALAGEM E FIDELIDADE
Observamos que as relações, na Idade Média, estavam fundamentadas em deve-
res e obrigações tanto entre os indivíduos de uma mesma camada social quanto 
de uma camada com outra. Nesse momento, desvendaremos as regras que carac-
terizavam essas relações:
Ser «o homem» de outro homem: no vocabulário feudal, não existia 
aliança de palavras mais difundida do que esta, nem mais rica de sen-
tido. Comum aos falares românicos e germânicos, servia para exprimir 
a dependência pessoal, em si. E isto, fosse qual fosse, aliás, a natureza 
jurídica exacta do vínculo e sem ter em conta qualquer distinção de clas-
se. O conde era «o homem» do rei, tal como o servo o era do senhor da 
sua aldeia. Por vezes, era até no mesmo texto que, com poucas linhas de 
intervalo, condições sociais radicalmente diferentes eram assim evoca-
das, uma após outra: tal como, cerca do final do século XI, a petição de 
monjas normandas que se queixavam de que os seus «homens» - isto 
é, os seus camponeses- fossem obrigados por um alto barão a trabalhar 
nos castelos dos «homens» deste: entenda-se, os cavaleiros, seus vassalos. 
O equívoco não era chocante pois apesar do abismo entre as camadas 
sociais, a acentuação exercia-se sobre o elemento fundamental comum: 
a subordinação de indivíduo a indivíduo. Todavia, se o princípio deste 
laço humano impregnava toda a vida social, as formas que revestia não 
deixavam de ser singularmente diversas. Com transições, por vezes qua-
se insensíveis, das classes mais elevadas às mais humildes. Acrescente-se 
que, de país para país, havia muitas divergências (BLOCH, 2009, p. 178).
Os laços que uniam os homens, na sociedade feudal, eram denominados feu-
do-vassálicos e consistiam em uma espécie de contrato pelo qual um indivíduo 
colocava-se sob a proteção de outro em troca da prestação de serviços de várias 
espécies. Aquele que oferecia seus serviços em troca de proteção era chamado 
de vassalo, e o que oferecia e garantia essa proteção era chamado de suserano.
As relações feudo-vassálicas estabeleceram-se tanto entre o monarca e seus 
súditos quanto entre os súditos, especificamente os nobres. No caso da relação 
entre o monarca e os nobres, ele se apresentava como o suserano, concedendo, 
em troca das obrigações militares dos nobres, a transferência de possessões, um 
feudo e o reconhecimento dos direitos deles enquanto senhores dessas proprie-
dades. Desse modo, o nobre tornava-se vassalo do monarca, seu suserano.
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Em relação à suserania e vassalagem entre os nobres e as camadas inferiores, 
elas vinham acrescentadas de obrigações que não só as militares. Aqueles que se 
colocavam a serviço e sob a proteção de um nobre deveria, também, trabalhar para 
garantir o sustento deste e o perfeito funcionamento de sua propriedade. Com isso, 
as fontes nos mostram que os servos e os camponeses deveriam trabalhar no cultivo 
das terras, na construção e na manutenção das estruturas da propriedade – como 
a construção de estradas, por exemplo –, além dos serviços dentro do castelo. Ao 
nobre suserano, cabia garantir a proteção e o sustento do seu vassalo, garantindo 
as condições para que ele pudesse desempenhar suas funções.
As relações feudo-vassáli-
cas eram instituídas por meio 
de cerimônia com caráter tam-
bém religioso, visto que, como 
já discutido em vários momen-
tos, a Igreja e a fé eram elementos 
intrínsecos à vida dos medievos. 
Essa cerimônia era chamada de 
homenagem e consistia em um 
ritual de juramento de fidelidadee da investidura do feudo.
A cerimônia que instituía 
os laços de suserania e vassala-
gem era composta por três atos, 
conforme observamos neste 
documento:
Na sexta-feira (7 de Abril) foram de novo prestadas homenagens ao 
conde, as quais eram feitas por esta ordem, em expressão de fidelida-
de e garantia. Primeiro prestaram homenagem desta maneira: o conde 
perguntou (ao vassalo) se ele desejava tornar-se o seu homem, sem re-
servas, ele respondeu: “Quero”; então, tendo juntas as mãos, colocou-as 
entre as mãos do conde e aliaram-se por beijo. Em segundo lugar, aque-
le que havia prestado homenagem jurou fidelidade ao porta- voz do 
conde, com estas palavras: “Comprometo-me por minha fé ser fiel da-
qui por diante ao conde Guilherme e a cumprir integralmente a minha 
homenagem, de boa fé e sem dolo, contra todos”; e, em terceiro lugar, 
Figura 6 - Rolando jura lealdade a Carlos Magno, a partir 
de um manuscrito do século XIV
Fonte: Wikimedia Commons (2014, on-line)3. 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rolando
https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Magno
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IIIU N I D A D E108
jurou o mesmo sobre as relíquias dos santos. Finalmente, com uma va-
rinha que segurava na mão, o conde deu a investidura a todos aqueles 
que por este fato tinham prestado lealdade, homenagem e juramento 
(BRUGENSE, 1856, p. 591 apud PEDRERO-SÁNCHEZ, 2000, p. 96).
Figura 7 - Símbolos de elementos que compunham a cerimônia de vassalagem
Fonte: Shutterstock.
A instituição das relações feudo-vassálicas representa um elemento impor-
tante da sociedade medieval na medida em que caracteriza a continuidade 
de um aspecto oriundo das sociedades germânicas, prova da fusão entre a 
cultura desses povos com a cultura romana. Além disso, a prestação de ju-
ramentos de fidelidade e obrigatoriedade da garantia de proteção tanto do 
vassalo quanto do suserano, bem como a presença de elementos religiosos, 
demonstram que o medo devido à falta de um poder político central forte 
era uma característica da sociedade feudal. 
Fonte: Bloch (2009).
Modo de Produção Feudal
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MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL
Quando discutimos a chegada e a instalação dos bárbaros no território do Império 
Romano na Unidade I, ressaltamos que a sua penetração na Europa Ocidental 
provocou mudanças na estrutura de organização das sociedades, contribuindo 
para a formação do mundo medieval. Entre os aspectos que sofreram influência 
com a criação dos reinos bárbaros e a desintegração do antigo Império Romano 
no Ocidente, com certeza a economia merece um destaque especial.
Você já estudou, na disciplina de História Antiga, a organização econômica 
do período e todas as suas características. Neste momento, o que pretendemos é 
mostrar de que maneira o sistema econômico existente na Antiguidade se trans-
formou, de maneira a fazer com que o modo de produção escravo, característico 
deste período, cedesse lugar ao modo de produção feudal.
Para tanto, em primeiro lugar, é necessário que você, caro(a) aluno(a), tenha 
em mente o conceito de feudalismo. Em detrimento do fato de que, na História, não 
existem verdades absolutas, a definição do termo feudalismo é tema de inúmeras dis-
cussões entre os historiadores, os quais têm diversas definições para o termo. Para 
nosso estudo, adotaremos a definição elaborada pela historiografia tradicional, cujo 
entendimento é o de que feudalismo corresponde aos elementos econômicos, polí-
ticos, sociais e culturais da sociedade medieval, entre os séculos X e XV, e que tem, 
na propriedade da terra e nas relações feudo-vassálicas, as bases de sua organização.
ANÁLISE DO PROCESSO DE FEUDALIZAÇÃO: ESTRUTURAS SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Essa transformação do modo de produção no Ocidente tem origem na crise 
do Império Romano, quando o contexto de inquietações desse período levou à 
valorização das propriedades rurais em detrimento das atividades comerciais. A 
consolidação dos reinos bárbaros acelerou o processo de esfalecimento comer-
cial, provocando o crescimento das atividades ligadas à agricultura na medida 
em que os povos bárbaros, em sua grande maioria, já há muito exerciam ativi-
dades agropastoris. Desse modo, assistiu-se a um retorno às atividades ligadas 
ao uso da terra como forma principal de sustento dos indivíduos.
Diante da ruralização da economia Ocidental, a terra passou a ter um papel 
fundamental na organização da sociedade, visto que seria por meio dela que 
esse novo modelo de sociedade se estruturaria. Por essa razão, a posse ou a pro-
priedade da terra se tornou um elemento de segurança e status social, ou seja, 
o valor e a importância de um indivíduo dentro da sociedade passaram a ser 
determinados pela posse da terra.
Concluído esse processo, 
determinou-se uma das 
principais características do 
mundo medieval e que pos-
sibilitou o desenvolvimento 
das relações pessoais discu-
tidas anteriormente. Nesse 
sistema, temos os membros 
da nobreza senhorial como 
articuladores das atividades 
a serem desenvolvidas. Em 
sua propriedade, perceberemos o funcionamento dos elementos que caracteri-
zam a economia e a sociedade medieval.
O USO DA TERRA E AS ATIVIDADES COMERCIAIS
Diante da importância que a terra adquiriu com o advento do feudalismo, a posse 
ou propriedade dela se tornou inalienável e indivisível, isto é, um proprietário não 
Figura 8 - Campos agrícolas, prados e madeiras ao redor da 
cidade medieval de Gruyères 
Fonte: Shutterstock. 
Modo de Produção Feudal
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poderia, em tempo algum ou sobre qualquer circunstância, desfazer-se de sua 
propriedade. As regras sobre a posse e o uso da terra seguiam as leis do direito 
consuetudinário, que estabelecia, por meio do morgadio, que a posse da terra seria 
hereditária, sendo, o filho mais velho e do sexo masculino, o único com direito a 
herdar a propriedade da terra. Os demais filhos do sexo masculino, geralmente, 
ingressavam na Igreja a fim de buscar colocação como membro do clero, o que 
lhes garantiria uma renda.
A propriedade territorial 
de um nobre englobava em 
torno do castelo – residência 
do senhor – uma organização 
voltada para a manutenção de 
todo o reino e na qual os espa-
ços eram bem demarcados a fim 
de manter a hierarquia estabe-
lecida pela sociedade tripartida. 
As possessões de um nobre eram 
cercadas por uma grande mura-
lha que tinha por objetivo impedir ataques e invasões.
De acordo com Duby (1988, p. 31), 
Organizavam-se todas à volta de uma <<casa>>, o ponto de ligação da 
família: a partir do século XI, o nome desta residência serviu de apelido 
comum a todos os membros da linhagem. Não era uma fortaleza, mas 
um centro de exploração agrícola, cheio de criados e de animais. A 
igreja paroquial era geralmente erguida ao lado desta casa. Construída 
pelos antepassados manteve-se na posse da família até o momento em 
que as obrigações dos padres reformadores a obrigaram a separar-se 
dela (...). À casa encontrava-se diretamente associado um bom domí-
nio. Enfim, dispersas por aqui e por ali, mas raramente muito longe, 
encontravam-se as explorações camponesas dela dependentes.
Dentro dessa estrutura é que as atividades agrícolas e pastoris se desenvolviam. 
As técnicas de produção eram rudimentares e, por esse motivo, a produção era 
baixa, o que comprometia a produção de excedentes que pudessem ser, poste-
riormente, comercializados. Não cabia aos senhores proprietários da terra o seu 
cultivo. Esse trabalho era de responsabilidade dos servos,os quais eram, também, 
Figura 9 - Castelo medieval de Loarre, Aragão, Espanha
Fonte: Shutterstock.
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dependentes do senhor feudal, a quem deviam pagar a corveia, uma das formas 
de manutenção das rendas dos senhores feudais.
Até o século XI, não houve avanços das técnicas de produção. Por isso, o 
sistema de produção baseava-se em um esquema de rotação trienal de culturas, 
que facilitava a produção e evitava o desgaste do solo, garantindo a produção e 
o sustento de toda a unidade feudal. As rendas oriundas das atividades agríco-
las eram destinadas ao senhor e também à Igreja. Desse modo, essa instituição 
tornou-se extremamente rica, sendo a maior proprietária de terras do período.
Até esse momento, a economia feudal caracterizava-se por ser de subsistência e 
sem o uso de moeda, sendo que a troca de produtos era o meio pelo qual se realizava 
a compra dos produtos que não eram produzidos na propriedade. O fato de estar-
mos nos referindo a um período de descentralização do poder político e marcado 
pela falta de um sistema jurídico e monetário único para toda a Europa colabo-
rou para que as atividades comerciais demorassem a voltar a se desenvolverem.
A partir da segunda metade do século XI, inicia-se uma mudança nas estru-
turas dos senhorios, uma vez que o uso da moeda começou a se intensificar. Essa 
mudança veio acompanhada 
da mudança na mentalidade 
da época e por inovações téc-
nicas que os historiadores 
chamaram de revolução agrí-
cola. A revolução significou um 
maior investimento nas técni-
cas de produção, o que levou ao 
consequente aumento da pro-
dução e ao aparecimento de 
um excedente que passou a ser 
comercializado.
Essa atividade de comércio do excedente da produção foi a responsável 
pelo renascimento comercial e urbano, um dos elementos que contribuiu para 
o declínio da Idade Média e o nascimento da época moderna, fato sobre o qual 
voltaremos a discutir na última unidade deste livro.
Figura 10 - Moedas de prata utilizadas na Europa 
Medieval
Fonte: Shutterstock.
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ASPECTOS CULTURAIS DA SOCIEDADE FEUDAL
Caro(a) aluno(a), ao longo desta unidade, discorremos acerca dos elementos 
que caracterizaram o período feudal e pudemos perceber que, constantemente, 
citamos a participação da Igreja, seja na condução, seja como beneficiária das 
instituições que caracterizaram o momento. Se a Igreja esteve presente nos 
aspectos econômicos, políticos e sociais, não é de causar estranheza o fato de 
que ela também influenciou os aspectos culturais do período. Embora, durante 
muito tempo, os intelectuais modernos considerassem a Idade Média como um 
período de trevas e de obscuridade, levando em consideração que o progresso 
cultural ficou estagnado neste momento, não podemos compactuar com essa 
posição, sobretudo, se temos em mente que foi nesse período que surgiram as 
primeiras universidades.
Sobre o surgimento das primeiras universidades, poderemos discutir em 
outro momento, com a profun-
didade que o assunto merece. 
Neste momento, vamos nos ater 
aos aspectos que moldaram a cul-
tura e o pensamento da época 
em questão, buscando olhar 
para esse assunto com um olhar 
menos pessimista em relação aos 
nossos antecessores.
Fonte: Shutterstock
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No período medieval, a maioria da população era analfabeta e os membros 
do clero eram os únicos que recebiam a educação formal, embora seja mais de 
cunho teológico, requisito indispensável para a prática religiosa. Sendo, o clero, 
o maior detentor do saber no período em que estudamos, recaía sobre ele a res-
ponsabilidade de transmitir aos demais cidadãos o conhecimento, reforçando o 
papel da Igreja enquanto guia mantenedora da ordem na sociedade. Diante disso, 
os livros produzidos na época, bem como o ensino, estavam nas mãos da Igreja.
Nesse contexto, o período medieval desenvolveu uma forma de explicar as 
questões relativas à sua realidade fundamentada na retomada da leitura dos 
princípios da filosofia antiga. Tratava-se da escolástica. Analisemos agora 
essa definição realizada por Loyn (1997) : Os escolásticos procuraram dar 
sustentação teórica à verdade da doutrina cristã, assim como reconciliar 
pontos de vista contraditórios na teologia cristã; e, para esse fim, desenvol-
veram um método extremamente requintado de investigação das questões 
filosóficas e teóricas. Na história inicial da escolástica, muito material teo-
lógico foi organizado de forma sistemática. No século XII, os escolásticos 
estavam coligindo Sentenças, que eram citações ou sumários de dogmas 
compilados da Bíblia e da literatura patrística; ao interpretá-los (expositio, 
catena, lectio), eles adotaram gradualmente uma discussão sistemática de 
textos e problemas (quaestio, disputatio). Isso deu finalmente lugar a um 
sistema que tentou oferecer uma visão abrangente da “toda a verdade atingí-
vel” (summa), um desenvolvimento que coincidiu com uma clara progressão 
no sentido da autonomia intelectual, com pensadores da envergadura de 
Alberto Magno e Tomás de Aquino. Os escritos sobre lógica tiveram um 
Os membros do clero eram aqueles que detinham o saber, produziam os 
livros e controlavam o ensino no período medieval. Essa é uma das razões 
pelas quais os estudiosos dos séculos seguintes consideraram a cultura me-
dieval atrasada em relação ao período greco-romano.
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importante efeito sobre a escolástica; por volta de 1200, a “nova lógica” de 
Aristóteles, baseada em traduções de seus Analíticos, Tópicos e Refutações 
Silogísticas, tinha produzido uma teologia “científica” em contraste com 
os escritos bíblicos do século XII. Tomás de Aquino, por exemplo, acredi-
tava que só a razão era necessária para entender verdades básicas acerca 
de Deus e da alma, embora a revelação divina ampliasse tal conhecimento 
(LOYN, 1997, p. 324).
O aparecimento da escolástica, no período medieval, possibilitou a 
tradução de obras de grandes filósofos gregos, escritas na Antiguidade 
para o latim, em uma tentativa de a Igreja de utilizar tais textos para vali-
dar a doutrina cristã. As escolas criadas na Idade Média e até as primeiras 
universidades serviram como meio de difusão da cultura cristã medieval. 
Nesse sentido, colocaram a existência de um único Deus como o centro 
para todas as questões, ou seja, a escolástica reafirmava a máxima de Deus 
como centro do universo por meio de uma argumentação racional base-
ada na filosofia.
Aqueles que questionaram o 
pensamento escolástico e propu-
seram novas interpretações do 
mundo medieval enfrentaram a ira 
da Igreja e acabaram sendo acusa-
dos de heresias, sendo submetidos 
ao julgamento do Tribunal do 
Santo Ofício. Muitos daqueles que 
passaram pelo crivo da Inquisição 
foram condenados e mortos por 
não corroborarem com o pensa-
mento amplamente difundido e 
amparado pela fé cristã.
Somente com o advento e a ampliação das universidades e a iminên-
cia do mundo moderno é que os indivíduos foram capazes de combater as 
ideias defendidas pela Igreja medieval e respaldadas pela escolástica, sem 
terem como fim a fogueira da Santa Inquisição.
Figura 11 - São Tomás de Aquino, um dos grandes nomes 
da filosofia escolástica medieval, na Igreja da Magdalena / 
Sevilha, Andaluzia, Espanha
Fonte: Wikimedia Commons (2017, on-line)4.
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QUADRO EXPLICATIVO
Sociedade e Modo de Produção Feudal
FEUDALISMO Século X a XV.
Conjunto de elementos 
econômicos, políticos, 
sociais e culturais basea-
do no uso da terra e nas 
relações feudo-vassálicas.
SOCIEDADE 
FEUDAL
Sociedade Tripar-
tida.
Fragmentação 
Política.
Ruralização da Eco-
nomia.
Clero (oratores).
Nobreza (bellatores).
Servos, camponeses 
livres e burgueses (labo-
ratores).
Senhores Feudais.
Atividades baseadas no 
uso da terra.
IGREJA CATÓLICA
Influência política, 
econômica, social e 
cultural.
Elo entre os medievos e 
as instituições medievais.
Controle social.
Pensamento Escolástico.
Tomás de Aquino foi um teólogo e filósofo importante dentro da Igreja 
Católica no século XIII. Suas teorias influenciaram o desenvolvimento do 
pensamento e filosofia escolástica, contribuindo para o avanço do ensino 
cristão, na Idade Média.
Para conhecer o pensamento de Tomás de Aquino e sua relação com o pen-
samento escolástico, consulte o artigo de Terezinha Oliveira, A Escolástica 
como Filosofia e Método de Ensino na Universidade Medieval: uma reflexão 
sobre o Mestre Tomás de Aquino, disponível em: <http://www.hottopos.
com/notand32/03terezinha.pdf>. 
Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), nesta unidade, direcionamos nossos esforços no estudo da socie-
dade feudal, buscando compreender os elementos que caracterizaram esse sistema 
no qual o mundo dos medievos foi moldado.
Estudamos como se desenhou a formação social, com o crescente poderio da no-
breza senhorial, formada e fortalecida a partir das invasões do século VIII. Nesse as-
pecto, é importante ressaltar as influências externas sobre a formação da sociedade 
medieval, bem como o fato de que alguns aspectos que se fizeram presentes nes-
sa sociedade são heranças dos primeiros povos bárbaros que chegaram ao antigo 
Império Romano, como a cerimônia de juramento de fidelidade e investidura, que 
instituíam as relações feudo-vassálicas e que foram de suma importância para a ma-
nutenção da ordem constituída.
A formação de uma camada social com poderes militares, políticos e administrati-
vos foram decisivos para que o poder real, já enfraquecido após a queda do Império 
Carolíngio, ficasse abalado e fosse reduzido, deixando os medievos sem a figura de 
um representante único e forte. Nesse contexto, as instituições essenciais para a 
consolidação de um estado unificado não puderam se desenvolver até o século XIV, 
tais como o desenvolvimento do comércio, visto que o poder fragmentado e deixa-
do nas mãos dos senhores de terra criou uma diversidade nos valores monetários.
Diante da fragmentação política, a Igreja medieval emergiu como a resposta para 
uma sociedade que não contava com a figura do monarca enquanto representante 
de seus interesses e protetor em tempos de guerra. Essa instituição viu seu poder e 
influência crescer e se aproveitou da situação para difundir e reafirmar sua doutrina.
Com o domínio do conhecimento, apropriando-se dos princípios da filosofia elabo-
rados na Antiguidade, a Igreja usou as escolas e as primeiras universidades como 
um meio para difundir seus dogmas e consolidar seu poderio. Assim, conseguiu 
impor sua autoridade em todos os aspectos da vida dos medievos, dominando a 
sociedade da época.
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1. “Delegando a função sacerdotal, os bispos estendem sobre toda a sua diocese 
uma ordem de que são pais espirituais. Adalberão vê o clero de Laon como 
uma ordem. Os reis fazem o mesmo, instituindo rectores, os nobres, que con-
sideram gerados por eles. A justo título, porque os reis não são assexuados e 
porque, genitores pela carne, são efectivamente os chefes de uma vastíssima 
parentela que se identifica com a nobreza, onde se recrutam todos os chefes 
de guerra. Dois ofícios, pois, mas que se transmitem de forma diversa. O ofício 
de orante, que provém da sagração, o da ordem, sinal imaterial que não rom-
pe a relação com o universo celeste, porque este provém da lei divina: por tal 
razão, todos aqueles que beneficiam desta delegação estão ‘ordenados’. Pelo 
contrário, o ofício de guerra, transmitido pelo sangue, provém da genética, da 
‘natureza’: não há a ordem dos guerreiros. A pessoa real fica como que esquar-
telada, na junção dos dois ofícios” (DUBY, 1994, p. 74). 
Com relação a esse sistema de organização da sociedade medieval, analise as 
seguintes afirmações:
I. Embora a concessão de propriedades de terras fosse o mais comum no mo-
mento do estabelecimento da vassalaria, outros elementos e/ou objetos ti-
nham o mesmo valor que a terra no que diz respeito às relações de direitos 
e de obrigações entre suseranos e vassalos.
II. A divisão social é característica da sociedade feudal, apresentando-se como 
uma estrutura flexível, na qual a mobilidade social é viabilizada por meio da 
união entre indivíduos de camadas sociais distintas. Essas uniões podiam 
ser constituídas tanto na forma de casamentos quanto na forma de associa-
ções políticas.
III. Embora a Igreja medieval ocupasse uma posição central na Idade Média, com 
relação ao estabelecimento das relações pessoais, os princípios cristãos não se 
fizeram presentes, sendo que estas relações eram baseadas nos laços de fide-
lidade estabelecidas entre os homens e com caráter essencialmente político.
IV. O regime de servidão estabelecido entre o senhor feudal e o camponês 
pode ser compreendido dentro dos princípios básicos da escravidão, na 
medida em que, assim como o escravo, o servo estava preso ao seu senhor 
pelos laços de fidelidade. 
 Assinale a alternativa que corresponde à(s) afirmação(ões) correta(s): 
a) Apenas I está correta.
b) Apenas III está correta.
c) Apenas I e II estão corretas.
d) Apenas II e IV estão corretas.
e) Apenas III e IV estão corretas.
 
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2. “Pelo menos até o século X, ‘nação’ tinha conotação apenas étnica: natione vem 
de ‘nascimento’. Na Primeira e na Alta Idade Média, prevaleceu o princípio ju-
rídico germânico da personalidade das leis, quer dizer, cada pessoa era regida 
pelos costumes de seu povo, independentemente do lugar em que estivesse. 
O princípio jurídico romano da territorialidade das leis, ou seja, a submissão aos 
costumes locais, qualquer que fosse a origem da pessoa, reganharia força aos 
poucos, sobretudo a partir do século XII. Somente então ‘nação’ passou a ter 
caráter também geográfico e político” (FRANCO JÚNIOR, 2001, p. 65). O poder 
político, na Idade Média, encontrava-se fragmentado, sendo os senhores feu-
dais os responsáveis pela administração política e jurídica de seu feudo. Após o 
estudo dos aspectos políticos da sociedade feudal, é correto afirmar que:
a) O fortalecimento da nobreza senhorial, no período medieval, efetivou-se no 
contexto de instalação do feudalismo, apresentando-se como elemento ne-
cessário para o desenvolvimento das atividades comerciais.
b) Dentro da estrutura de organização da sociedade tripartida, os senhores 
feudais ocupavam um lugar importante na pirâmide social medieval. No 
entanto, seus poderes eram limitados pelo clero, a quem cabia o dever de 
organizar e de comandar, politicamente, o Ocidente medieval.
c) O feudalismo contou com um modelo político-administrativo fundamenta-
do na existência de poderes locais, em que uma das consequências foi a de-
sunião dos súditos e o enfraquecimento das instituições que caracterizam 
um Estado de fato.
d) As relações feudo-vassálicas caracterizavam-se por um ritual no qual o mo-
narca (reis, duques, príncipes ou imperadores) reconheciam a fragilidade de 
seus poderes e se submetiam ao comando da nobreza senhorial, jurando-
-lhe lealdade e fidelidade.
e) Dentro da estrutura do feudalismo, o clero desempenhava papel secundá-rio, já que sua atuação limitava-se às questões ligadas à fé dos indivíduos. 
Até mesmo seu poder econômico era reduzido, pois, de acordo com a dou-
trina cristã, a posse de terras ou de bens valiosos era condenada.
3. “Dos vários estágios do desenvolvimento histórico relacionados por Marx no 
Prefácio de The critique of political economy - os modos de produção ‘asiático, 
o antigo, o feudal e o burguês moderno’, o feudal e o capitalista foram aceitos 
sem problemas sérios, enquanto a existência ou universalidade dos outros dois 
tem sido contestada ou negada. Por outro lado, o problema da transição do 
feudalismo para o capitalismo provavelmente deu origem a discussões mar-
xistas mais numerosas do que qualquer outro relacionamento com a periodi-
zação da história mundial” (HOBSBAWM, 1977, p. 201). Baseado na leitura da 
unidade, referente aos aspectos econômicos do mundo medieval, destaque as 
características do modo de produção feudal.
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4. “Apesar de sua extrema importância, dentre todos os temas relativos ao me-
dievo, existem muito poucos estudos acadêmicos sobre o imaginário me-
dieval. O lançamento do livro Heróis e maravilhas da Idade Média, de Jacques 
Le Goff, vem, em parte, compensar esta lacuna, escrito por um dos grandes 
medievalistas mundiais e pioneiro na investigação deste assunto, em especial 
desde os anos 1970” (LANGER, 2010, p. 209). A partir das discussões decorren-
tes da disciplina, elabore um texto dissertativo demonstrando criticamente o 
desenvolvimento do pensamento no período medieval.
5. “Dentre todos os períodos pelos quais a civilização ocidental já passou, a Ida-
de Média parece ser aquele que mais aguça a curiosidade e a imaginação do 
homem através dos tempos. Todos os períodos subsequentes voltaram, de al-
guma forma, seus olhos para a Idade Média, com maior ou menor simpatia. Do 
Renascimento à Modernidade, passando pelo Romantismo, o homem ociden-
tal tentou discutir e analisar este estágio de sua história, seja para criticá-lo, seja 
para resgatar seus aspectos positivos” (AMIM, 2017, p. 01) A partir dos estudos 
acerca da Idade Média, assinale a alternativa correta:
a) A organização da sociedade medieval, sobretudo a partir do século X, pres-
supõe a soberania do monarca para a manutenção da ordem política e eco-
nômica.
b) O período clássico do feudalismo representa um período de hierarquização 
da sociedade que significou a decadência da moral cristã, devido às relações 
estabelecidas entre os indivíduos.
c) O ofício do historiador exige que as estruturas medievais sejam compreen-
didas a partir de conceitos construídos na atualidade e que nos levam a en-
tender a complexidade daquela sociedade.
d) A sociedade feudal caracterizou-se, também, pelo espírito guerreiro de 
nobres e cavaleiros. o que teve, como consequência, episódios épicos que 
despertam o interesse de um número significativo de pesquisadores.
e) O interesse pela Idade Média por estudiosos justifica-se pela riqueza de fon-
tes e facilidade em encontrá-las e de se trabalhar com as mesmas.
121 
Os Princípios da Igreja Medieval e suas Relações com as Atividades Comerciais
O comércio foi uma atividade desenvolvida e exercida pelos antigos romanos e que, 
com o advento da Idade Média, ficou restrita a um local secundário dentro do contexto 
das atividades econômicas do sistema feudal, até o período final da Idade Média.
Com a doutrina da Igreja cristã permeando cada setor da sociedade medieval, seus 
princípios lutaram durante todo o feudalismo contra o desenvolvimento das ativida-
des comerciais cujo fundamento assentava-se na obtenção do lucro. O lucro, de acordo 
com a filosofia cristã medieval, era condenável e uma forma de pecado, e aqueles que 
exerciam atividades com tal finalidade eram considerados hereges e foram perseguidos 
pela Santa Inquisição.
Mesmo sendo a instituição mais rica da Idade Média, a Igreja condenava práticas que 
visavam à obtenção do lucro, principalmente a atividade de empréstimo de dinheiro a 
juros, comum a partir de finais do século XI, quando os senhores feudais começaram a 
endividar-se. Essa atividade foi, geralmente, associada aos judeus e serviu como mais 
um motivo para persegui-los após a instalação dos Tribunais do Santo Ofício. A Igreja 
baseava seu repúdio à prática da usura no pensamento de Santo Ambrósio, que pregava 
que essa prática deveria ser condenada por representar uma discrepância entre o paga-
mento ou a doação e o valor recebido em troca.
Em uma sociedade onde a terra ocupou um lugar central, a oposição da Igreja e a con-
sequente perseguição àqueles que se voltaram para atividades comerciais, o desenvol-
vimento do comércio precisou percorrer um longo caminho para recuperar o lugar que 
já fora ocupado na Antiguidade.
Fonte: Le Goff (1989).
MATERIAL COMPLEMENTAR
História da Idade Média: textos e testemunhas
Maria Guadalupe Pedrero-Sanches
Editora: UNESP
Sinopse: o livro apresenta uma série de documentos sobre os mais 
variados temas relativos à Idade Média. O trabalho com documentos 
de época é fundamental para a formação do profissional de História, 
na medida em que enriquece qualquer análise e/ou estudo acerca do 
passado. Por meio dos documentos apresentados no livro, é possível 
nos aprofundarmos nos estudos do período medieval a partir da realidade da época. Obra 
indispensável para historiadores.
O Senhor da Guerra
Ano: 1965
Sinopse: o filme narra a história de um nobre cavaleiro enviado 
para defender o território do Duque da Normandia, invadido 
por bárbaros. A história se passa no século XI e é uma excelente 
oportunidade de observar a sociedade do período, sobretudo os 
aspectos da nobreza guerreira.
Vida Medieval - Documentário produzido pelo History Channel e que tem por objetivo 
apresentar aspectos da vida cotidiano dos medievos.
Web: <https://www.youtube.com/watch?v=ADAWkyDLKBc>.
GLOSSÁRIO
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Clero Regular: Membros da Igreja que ficavam reclusos nos mosteiros e abadias.
Direito Consuetudinário: Direito resultante dos costumes e das tradições de uma 
sociedade.
Escolástica: Forma de pensamento elaborada na Idade Média, com o objetivo de 
explicar a doutrina cristã, por meio de textos clássicos da filosofia antiga.
Feudalismo: Conjunto de elementos econômicos, políticos, sociais e culturais da 
sociedade medieval entre os séculos X e XV e que tinha, na propriedade da terra e 
nas relações feudo-vassálicas, as bases de sua organização.
Feudo: Concessão feita, gratuitamente, por um senhor ao seu vassalo em troca de 
prestação de serviços.
Inalienável: Que não pode ser vendido ou transferido.
Morgadio: Forma de organização familiar que garantia o direito às propriedades 
senhoriais por meio da hereditariedade.
Nobreza Senhorial ou Nobreza Feudal: Indivíduos que possuíam propriedades de 
terra e que exerciam também funções militares.
Península Ibérica: Região situada no sudoeste europeu e que compreende os atu-
ais territórios de Portugal e Espanha.
Relações Feudo-vassálicas: Base das relações entre os indivíduos, na sociedade 
medieval. Fundamentada em uma espécie de contrato pelo qual um indivíduo co-
locava-se sob a proteção de outro em troca da prestação de serviços de várias es-
pécies.
Revolução Agrícola: Período que corresponde aos investimentos nas técnicas agrí-
colas medievais que possibilitaram o aumento da produção. 
Sarracenos: Conceito utilizado pelos medievos cristãos para designarem árabes e 
muçulmanos. 
Servidão: Regime de trabalho baseado na obrigação de um homem para com outro. 
Sociedade Tripartida: Modelo de divisão social sob o qual os direitos e deveres 
dos medievos eram determinados, de acordo com a camada social na qual estavam 
inseridos. 
Suserano: Indivíduo que se colocava como senhor de outro, por meio de conces-
sões feudais e garantia de proteção em troca de fidelidade e prestação de serviços.
Vassalo: Indivíduo que, por meio de uma cerimônia, jurava fidelidade a outro ho-
mem, seu suserano, em troca de um feudo e/ou proteção.
REFERÊNCIAS
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FOURQUIN, G. História econômica do ocidente medieval. Lisboa: Edições 70, 
1991. 
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GANSHOF, F. L. Que é feudalismo? 4. ed. Portugal: Publicações Europa-América, 
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Ocidente. Lisboa: Estampa, 1993. 
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htm>. Acesso em: 23 nov. 2018.
2 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Viking_Expansion-pt.svg>. Aces-
so em: 26 nov. 2018.
3 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rolandfealty.jpg?uselang=pt-
-br>. Acesso em: 26 nov. 2018.
4 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Tom%C3%A1s_de_Aquino.jpg>. 
Acesso em: 26 nov. 2018.
GABARITO
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2. C
3. Ruralização da economia, poder político fragmentado e descentralizado, socie-
dade tripartida, baseada na prestação de homenagens e juramentos de fidelida-
de (relações feudo-vassálicas).
4. Espera-se que o aluno apresente uma análise destacando que o imaginário me-
dieval tem características próprias do contexto do período, influenciado pelas 
questões relativas à religião e ao desenvolvimento da Igreja Cristã Medieval.
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Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
AS CRUZADAS E AS 
TRANSFORMAÇÕES NA 
EUROPA MEDIEVAL
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Analisar o contexto histórico no qual a religião islâmica nasceu. 
Compreender o processo que marcou o desenvolvimento e a 
expansão dos muçulmanos pelo Oriente e Ocidente, evidenciando as 
conjunturas que marcaram a ascensão do Império Muçulmano.
 ■ Discorrer acerca da formação da cavalaria medieval, enfocando a 
análise no processo de formação das ordens militares e suas funções 
dentro da sociedade medieval.
 ■ Analisar o contexto e as conjunturas que levaram ao surgimento 
das Cruzadas no século XI, enfatizando as motivações e os objetivos 
desse movimento, bem como seus aspectos políticos, econômicos e 
sociais.
 ■ Verificar as transformações ocorridas na Europa Medieval após as 
Cruzadas, destacando os aspectos sociais e culturais da interação 
com a cultura islâmica.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O nascimento do Islamismo e a expansão dos muçulmanos
 ■ Os cavaleiros medievais
 ■ As Cruzadas: contexto e motivações
 ■ As Cruzadas no Oriente e no Ocidente
INTRODUÇÃO
Prezado(a) acadêmico(a), na unidade anterior, abordamos o processo de feuda-
lização da Europa Ocidental, focando nossa análise sobre a definição do conceito 
de Feudalismo e as implicações e as transformações que a consolidação desse 
sistema provocou no Ocidente, a partir do século X. Nesta unidade, vamos dis-
correr acerca das consequências que o início do feudalismo gerou na sociedade 
medieval a partir de seu fortalecimento, levando-se em consideração os aspec-
tos políticos, econômicos e socioculturais do período em questão.
Nesse sentido, voltaremos nossos olhares para o surgimento das Cruzadas, 
um movimento de caráter militar e religioso iniciado no século XI, que tinha, 
dentre seus objetivos, combater inimigos da cristandade, sobretudo os muçul-
manos que ocuparam territórios até então submetidos ao cristianismo.
Dentro desse contexto da Europa Ocidental a partir do século X, devemos 
destacar a formação da nobreza guerreira dentro do esquema de uma sociedade 
tripartida. Depois das invasões ocorridas entre os séculos VIII e X, houve um 
momento de relativa tranquilidade em parte da Europa, o que causou uma certa 
insatisfação na nobreza, cuja função dentro dessa sociedade era a de guerrear.
A questão da inquietude da nobreza militar é apenas um aspecto a ser levado 
em consideração no estudo sobre as Cruzadas. Temos que pensar, ainda, caro 
(a) aluno(a), na expansão do cristianismo e na consolidação do poder da Igreja 
Cristã na Idade Média, assunto já abordado. Diante desse cenário, nesta unidade, 
iniciamos nossa análise abordando o nascimento da religião islâmica que repre-
sentará uma ameaça à ordem imposta pelo cristianismo e, por esse motivo, vai 
se transformar no principal alvo das Cruzadas iniciadas no século XI.
Seguiremos nosso estudo discutindo a formação das ordens militares e 
religiosas, instituições que desempenharão papel importante no contexto das 
Cruzadas. Em seguida, vamos discorrer sobre cada uma das Cruzadas organi-
zadas e verificar as consequências que esse movimento trouxe para o Ocidente.
Prontos para começar?
Introdução
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O NASCIMENTO DO ISLAMISMO E A EXPANSÃO DOS 
MUÇULMANOS
O islamismo é uma religião nascida no século VII, a partir da visão do profeta 
Maomé, e é fundamentada nos ensinamentos do Alcorão. Apesar de possuir 
semelhanças com o judaísmo e o cristianismo, ao longo da Idade Média, essa 
tradição religiosa representou a maior rival da doutrina cristã, transformando-
-se no principal alvo das Cruzadas, a partir do século XI.
A Península Arábica era uma região com extensos desertos, nos quais viviam tri-
bos nômades e pagãs denominadas beduínos. Os beduínos desenvolviam atividades 
ligadas ao pastoreio e também ao comércio, sobretudo com os comerciantes da região 
litorânea da Península. Nesse período, a cidade de Meca destacava-se como um impor-
tante posto comercial, pois, por ela, passavam as mais importantes rotas de comércio 
da região. Desse modo, a Península Arábica era dominada pelo Império Persa e pelo 
Império Bizantino, que disputavam a região devido à sua importância comercial.
Figura 1 - Sultão Ahmet Camii, também conhecida como 
Mesquita Azul turca, marco islâmico, com seis minaretes, 
principal atração da cidade de Istambul, Turquia.
Fonte: Shutterstock.
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Figura 2 - Península Arábica
Fonte: Shutterstock.
Foi nesse contexto econômico e social da Península Arábica que, em 570, nas-
ceu Maomé, ou Mohamed, um comerciante que se tornou o responsável pelo 
nascimento do Islamismo e iniciou a expansão da nova religião. No ano de 610, 
Maomé teve uma revelação que mudou os rumos não só de sua vida, mas também 
de toda sociedade árabe. De acordo com Armstrong (2001, p. 42), “(...) Maomé, 
ao acordar, se percebeu subjugado por uma presença devastadora, que o estrei-
tava firmemente até ele ouvir as primeiras palavras de um novo livro sagrado 
árabe que saiam de seus próprios lábios”.
Somente dois anos após essa visão, Maomé iniciou sua pregação, a qual 
refletia, também, as preocupações políticas e sociais do profeta. Com o desen-
volvimento do comércioe a prosperidade da cidade de Meca, Maomé acreditava 
que os valores humanos haviam se perdido. Além disso, as doutrinas religiosas 
praticadas pelos impérios persa e bizantino, ou seja, judaísmo e cristianismo, 
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respectivamente, não correspondiam às crenças religiosas das tribos politeístas. 
Diante disso, as palavras transmitidas por Maomé ao povo árabe tinham, por 
objetivo, restaurar os antigos valores pautados no amor e na igualdade, além de 
oferecer uma resposta aos anseios daquela sociedade. 
Convertido ao mono-
teísmo, Maomé passou 
a pregar, então, a fé em 
um único Deus, o mesmo 
Deus adorado por judeus e 
cristãos. Suas visões conti-
nuaram a acompanhá-lo e 
lhe revelaram que seu des-
tino era reunir os árabes sob 
a égide do islam, palavra 
cujo sentido é “submeter-se”. 
Aqueles que seguissem Maomé seriam chamados de muslim ou muçulmano, que 
significa aquele que se submete por inteiro a Alá (ARMSTRONG, 2001, p. 44).
Os princípios e ensinamentos difundidos por Maomé foram reunidos no 
Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, cuja essência baseava-se na constituição 
de uma sociedade pautada nos princípios da compaixão e da igualdade, demons-
trando, claramente, a preocupação social que inquietava Maomé ao longo de sua 
vida. Tendo passado a vida em uma região pressionada por cristãos e judeus, 
Maomé sofreu influências de ambas as religiões e, por essa razão, é possível per-
cebermos algumas semelhanças entre o islamismo, o cristianismo e o judaísmo.
Em relação ao cristianismo, podemos citar, como exemplo das semelhanças, 
o fato de que a mensagem de Deus e as revelações ouvidas por Maomé foram 
transmitidas pelo anjo Gabriel, o mesmo anjo que apareceu para Maria e lhe 
revelou que ela seria mãe de Cristo. Além disso, ambas as religiões pregam o 
amor ao próximo como a base de uma sociedade que vive de acordo com a von-
tade e os ensinamentos de Deus. Islamismo e judaísmo compartilham a ideia de 
que existe uma força maior que comanda todos os elementos da vida humana. 
Ambas as religiões têm, como um dos seus princípios, a prática do jejum como 
forma de sacrifício e de purificação.
Fonte: Shutterstock.
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A historiografia acerca da vida do profeta Maomé da religião islâmica destaca que 
o islamismo foi mais do que uma religião, transformando-se em uma força política 
capaz de constituir um império comandado, politicamente, por um líder religioso. 
A formação desse império é o assunto sobre o qual nos debruçaremos agora.
A FORMAÇÃO E EXPANSÃO DO IMPÉRIO MUÇULMANO
Após a morte de Maomé, em 632, iniciou-se um conflito entre seus seguidores 
para definir quem ocuparia o lugar do profeta como líder político e religioso. 
Os muçulmanos estavam divididos em dois grupos que divergiam sobre a esco-
lha do sucessor do profeta.
Os sunitas formavam um grupo que representava a maioria dos muçulmanos 
e que defendia a ideia de que o sucessor de Maomé poderia ser escolhido entre 
qualquer seguidor do islamismo. Em oposição a esse grupo, estavam os xiitas, 
representantes, em média, de apenas 10% da população islâmica do período e 
defensores de que a sucessão de Maomé deveria ser feita por meio da linha here-
ditária, ou seja, o sucessor do profeta deveria ser o seu parente mais próximo.
A visão do primeiro grupo foi a que prevaleceu, e Abu Bakr, sogro de Maomé, 
assumiu a liderança dos muçulmanos após a morte de Maomé, adotando o título 
de Khalifa, e iniciou o governo que ficou conhecido como califado. Foi durante o 
governo dos califas, iniciado com Abu Bakr, que o islamismo expandiu-se, trans-
formando a Península Arábica em um poderoso império, ampliando os limites de 
alcance da religião islâmica.
Assim como para judeus e para cristãos, a cidade de Jerusalém também ti-
nha um valor especial para Maomé e os muçulmanos. Por essa razão, quan-
do os descendentes e seguidores de Maomé iniciaram seus planos de ex-
pandir a palavra de Deus e a nova religião islâmica, Jerusalém tornou-se alvo 
dos desejos dos árabes muçulmanos.
Fonte: a autora.
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O califa Abu Bakr deu continuidade à expansão islâmica iniciada por Maomé, 
e seu primeiro trunfo foi conter os conflitos e as revoltas de algumas tribos da 
Península Arábica que tentaram afastar-se da comunidade criada por Maomé. 
Assim, Abu Bakr conseguiu unificar a Península Arábica, concluindo o desejo 
do profeta Mohammed.
O sucessor de Abu Bakr, o califa Umar ibn al-Khattab, governou a Península 
Arábica entre 634 e 644 e foi o responsável pela ocupação de territórios vizinhos, 
pois invadiu as regiões do Egito, da Síria, do Iraque, dominando regiões dos Impérios 
Persa e Bizantino. Jerusalém, cidade importante para os muçulmanos, não foi facil-
mente conquistada, porque estava fortemente protegida pelas forças bizantinas. 
Somente em 638, os muçulmanos conseguiram submeter a cidade ao seu comando.
Os muçulmanos continuaram avançando no objetivo de divulgar e de expan-
dir a fé e os ensinamentos do islamismo. Assim, no século VIII, o islamismo 
rompeu as fronteiras do Oriente e alcançou os territórios do Ocidente com a 
ocupação da Península Ibérica.
Figura 3 - Expansão muçulmana
Fonte: Wikimedia Commons (2018, on-line)¹.
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Esse movimento de expansão dos muçulmanos e o seu alcance aos territórios 
do Ocidente vão ser os elementos que irão deflagrar os conflitos com os cristãos. 
Dispostos a recuperar os territórios conquistados pelos muçulmanos, os cristãos 
iniciam uma campanha militar, revestida de caráter religioso, contra o avanço 
dos muçulmanos, que ficou conhecida como Reconquista Cristã.
Entretanto, é preciso deixar claro que, quando irromperam Arábia afora, os 
árabes não estavam sendo impelidos pela ferocidade do Islã (...). Essa é uma 
errônea interpretação das guerras de expansão muçulmanas.
Fonte: (Karen Armstrong)
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OS CAVALEIROS MEDIEVAIS
No contexto das Cruzadas medievais, a nobreza, com sua função militar e investida 
do título de cavaleiros, desempenhou um papel significativo para o desenvol-
vimento da luta contra os inimigos do Ocidente cristão, sobretudo, contra os 
infiéis muçulmanos cuja trajetória acabamos de apresentar.
Conforme já discutimos na unidade anterior, cabia à nobreza feudal a tarefa 
de defesa dos limites do reino e da Igreja contra os invasores externos que che-
garam ao Ocidente a partir do século VIII. Por essa razão, os nobres medievais 
receberam o título de cavaleiros, que trazia em si a personificação do papel de 
um nobre e também representava uma distinção social, visto que os cavaleiros 
representavam uma camada social importante e que se sobrepunha aos demais 
indivíduos, estando abaixo somente do clero.
Um documento do período fornece-nos uma ideia do que representava ser 
um cavaleiro no período medieval:
Não é bastante para a grande honra que pertence ao cavaleiro a sua 
escolha, o cavalo, as armas e o senhorio, mas é mister que tenha es-
cudeiro e troteiro que o sirvam e cuidem dos seus cavalos; e que as 
Fonte: Shutterstock.
Os Cavaleiros Medievais
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gentes lavrem, cavem, arranquem a maleza da terra, para que dê fru-
tos de que vivam o cavaleiro e os seus brutos; e que ele ande a cavalo, 
trate-se como senhor e viva comodamente daquelas coisas em que os 
seus homens passam trabalhos e incomodidades (LÚLIO, 1948, apud 
PEDRERO-SÁNCHEZ, 2000, p. 101).
Merece destaque, ainda, caro(a) aluno(a), que, além da distinção social, tornar-se 
um cavaleiro era um marco na vida do indivíduo, pois significava que ele estava 
deixando a fase adolescente para ingressar na vida adulta e assumir as responsa-
bilidades que essa condição exigia. Nesse sentido, não nos surpreende o fato de 
que essa passagem fosse marcada por um ritual que, como não poderia deixar 
de ser, também possuía um caráter 
religioso. Sendo assim, o cavaleiro 
era reconhecido pela Igreja, a qual 
também lhe atribui algumas funções.
Ser um cavaleiro significava acei-
tar e seguir os deveres e as obrigações 
descritos no Código da Cavalaria, 
os quais foram descritos por Bloch. 
Segundo esse autor,
Clérigos e laicos - estão de acordo em exigirem do cavaleiro aquela 
piedade sem a qual o próprio Filipe-Augusto entendia que não existia 
verdadeiro «prudhomme». Deve ir à missa «todos os dias», ou pelo 
menos, «com frequência»; deve jejuar às sextas-feiras. Todavia, o herói 
cristão permanece, por natureza, um guerreiro. Não se esperava que 
a bênção das armas, principalmente, as tornasse eficazes? As orações 
exprimem claramente esta crença. Mas a espada assim consagrada - se 
ninguém pensa em proibir que se pegue nela, sendo preciso, contra 
inimigos pessoais ou contra os de um senhor - o cavaleiro recebeu-a, 
acima de tudo, para a colocar ao serviço das causas nobres. Já as velhas 
bênçãos do século X que terminava acentuam este tema, que as litur-
gias posteriores desenvolvem largamente. Assim, uma discriminação 
de interesse capital introduzia-se no velho ideal de guerra pela guerra, 
ou pelo lucro: com este gládio, o investido defenderá a Santa Igreja, es-
pecialmente contra os pagãos. Protegerá a viúva o órfão e o pobre. Per-
seguirá os malfeitores. A estes preceitos gerais, os textos laicos acres-
centam ainda algumas recomendações mais especiais que se referem à 
conduta durante o combate: não matar o adversário indefeso; - a práti-
ca dos tribunais e da vida pública não participar num falso julgamento 
Fonte: Shutterstock.
AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
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ou numa traição; se não puder evitá-lo, acrescenta modestamente, a 
Ordene de Chevalerie, abandonar o local; finalmente os incidentes da 
vida quotidiana: não dar maus conselhos a uma dama ajudar «se for 
possível», o seu próximo na aflição (BLOCH, 2009, p. 369-370).
Conforme aponta Magnoli,
Mas a guerra não era apenas um meio de afirmação social e política: 
proporcionava também um gênero de vida, e jamais compreendere-
mos o espírito que animava os homens daquele tempo se não levarmos 
em conta esse aspecto. Havia algo de mágico, de sagrado na atividade 
bélica, e morrer em batalha era a maior glória que se podia esperar 
do guerreiro. Essa “alegria da guerra”, ainda presente nas canções de 
gesta do século XI, expressava-se no ardor do combate e na dureza dos 
golpes, motivo pelo qual os escritores não tinham nenhum escrúpulo 
em narrar a maneira pela qual braços e pernas eram cortados, elmos e 
escudos eram fendidos e o sangue do inimigo jorrava diante dos golpes 
cortantes das espadas (MAGNOLI, 2006, p. 93).
Como é possível observar, caro(a) aluno(a), o cavaleiro do período medieval, ao 
receber sua armadura e ter sua espada abençoada por representantes do clero, 
deveria manter a ordem vigente, promovendo a proteção e a defesa da socie-
dade e da Santa Igreja. 
ORDENS MILITARES E RELIGIOSAS
Com o avanço dos muçulmanos, húngaros e vikings pelo Oriente e pelo Ocidente, 
os cavaleiros do período medieval tiveram sua importância elevada. Com o iní-
cio das Cruzadas, eles passaram a constituir ordens de cavaleiros, que, grosso 
modo, podemos definir como organizações militares e religiosas.
Como já dito inúmeras vezes ao longo de nosso estudo, a sociedade medie-
val é resultado da fusão de elementos da cultura bárbara com a cultura romana, 
e o aspecto guerreiro dos cavaleiros medievais está fortemente entrelaçado com 
a cultura bárbara. O caráter militar dessas ordens descendia dos povos bárba-
ros, os quais analisamos na primeira unidade deste livro e observamos sua forte 
ligação com as guerras.
O advento das Cruzadas, a partir do século XI, e a criação das ordens mili-
tares e religiosas representou um alívio, se assim podemos dizer, daqueles que 
Os Cavaleiros Medievais
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nasceram para combater e eram tomados por uma onda de insatisfação e ques-
tionamento quando a paz e a tranquilidade tomavam a realidade da sociedade 
medieval.
Diante dessa realidade, várias 
ordens foram criadas, assumindo 
funções militares e assistencia-
listas legitimadas pela Igreja. 
Destacamos, dentre essas ordens, 
a dos Pobres Cavaleiros de Cristo 
e do Templo de Salomão, mais 
conhecida como Ordem dos 
Cavaleiros Templários, a Ordem 
dos Cavaleiros Hospitalários e a 
Ordem dos Cavaleiros Teutônicos de Santa Maria de Jerusalém.
OS POBRES CAVALEIROS DE CRISTO E DO TEMPLO DE 
SALOMÃO
A Ordem dos Cavaleiros Templários surgiu no século XII e foi fundada em 
Jerusalém, no contexto das guerras de reconquista dessa região. De acordo com 
Silva (2001), os templários surgiram a partir da motivação de um grupo de cava-
leiros cristãos em proteger os peregrinos que viajavam até Jerusalém fugindo dos 
ataques dos muçulmanos.
A ordem foi fundada por Hugo de Paynes, cavaleiro francês que partici-
pou da primeira Cruzada e contou com o apoio de São Bernardo, discípulo de 
Santo Agostinho, e de outro cavaleiro de nome Godofredo de Saint-Omer. Esses 
homens elaboraram os princípios da Ordem baseados na ideia de que a morte 
em Deus é válida e justificável, assim como matar o inimigo de Deus não pode-
ria ser considerado um ato criminoso.
Essa ideia foi aceita pela Igreja e, em 1129, durante o Concílio de Troyes, 
a Ordem foi reconhecida e legitimada pela Igreja Cristã. A partir desse ato, os 
membros dessa ordem elaboraram o conjunto de regras que fundamentariam 
Fonte: Shutterstock.
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sua existência e seus objetivos. 
As regras criadas pelos cava-
leiros templários mostravam 
a necessidade de recuperar 
os valores que eles acredita-
vam terem sido esquecidos 
pelos cavaleiros ao longo do 
período medieval, tais como a 
busca pela justiça e a defesa da Igreja e dos indivíduos em situações desfavoráveis.
Os cavaleiros templários transformaram-se em uma ordem militar e religiosa 
rica e poderosa, chegando até mesmo a conceder empréstimos a vários monar-
cas da Europa que se encontravam em dificuldade. Destacavam-se, também, na 
luta contra os muçulmanos, contribuindo para o avanço das forças cristãs no 
processo de reconquista. Embora tenham experimentado um período de êxito e 
conquistado o respeito da Igreja nos primeiros séculos de sua existência, o des-
tino da Ordem dos Templários foi marcado pela decadência a partir do século 
XIV, que culminou na sua extinção.
A perda do apoio da Igreja aconteceu no século XIV, quando o mestre Jacques 
de Molay não aceitou submeter-se à vontade do papa Clemente V, que desejava 
reunir todas as ordens religiosas e militares. O desejo do papa era endossado 
pelo rei da França Filipe, o Belo, que pretendia liderar as ordens reunidas em 
Figura 4 - Selo dos Templários
Fonte: Wikimedia Commons (2010, on-line)².
A Ordem dos Cavaleiros Templários habita o imagináriode muitos estudio-
sos do período medieval. Ao longo da história, muitas lendas em torno dessa 
ordem foram criadas, transformando os Templários em personagens envol-
tos por grandes mistérios. A teoria mais difundida é a de que os cavaleiros 
Templários tinham, como missão, encontrar e proteger o Santo Graal, um 
importante símbolo do cristianismo e de grande valor para a Igreja Cristã. 
Fonte: a autora.
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uma nova Cruzada. Com a recusa dos Templários, Filipe orquestrou a extinção 
da ordem, mandando prender todos os seus membros e confiscando seus bens.
Os cavaleiros templários foram acusados de heresia em 1312 e, por meio de uma 
bula papal, o Papa Clemente V determinou a extinção da Ordem dos Cavaleiros 
Templários.
A ORDEM DOS CAVALEIROS HOSPITALÁRIOS OU ORDEM DE 
SÃO JOÃO
Jerusalém, no período o qual concentramos nosso estudo, tornou-se um lugar 
sagrado e destino de peregrinações das três tradições religiosas mais importantes 
da época. Habitada e visitada por judeus, cristãos e islâmicos, a cidade foi palco 
de conflitos inter-religiosos que atravessaram os séculos e, ainda hoje, assistimos 
a manifestações e guerras na região, justificados pela religião.
Situada em um cenário como esse, a cidade sagrada de Jerusalém foi o berço 
de muitas ordens militares e religiosas no período que se estende do século XI ao 
século XIV. A Ordem dos Cavaleiros Templários surgiu naquela região, assim como 
a Ordem dos Cavaleiros Hospitalares, também chamada de Ordem de São João.
Figura 5 - A primeira sede dos cavaleiros templários, a Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, o monte do 
Templo. Os cruzados chamaram-lhe de o Templo de Salomão, já que ele foi construído em cima das ruínas 
do templo original, e foi a partir desse local que os cavaleiros tomaram seu nome de templários
Fonte: Wikimedia Commons (2010, on-line)³.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Mesquita_de_Al-Aqsa
https://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_do_Templo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Monte_do_Templo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Templo_de_Salom%C3%A3o
AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
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rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E142
A Ordem dos Hospitalários, ao 
contrário da Ordem dos Cavaleiros 
Templários, não surgiu como uma 
ordem militar. Fundada entre 
o final do século XI e início do 
século XII, os hospitalários nasce-
ram como uma instituição voltada 
para o atendimento assistencial dos 
peregrinos que viajavam até a Terra 
Santa. Em suma, era uma instituição religiosa dedicada aos cuidados dos visi-
tantes de Jerusalém. Sua história entrelaça-se com a fundação de hospitais e de 
hospícios que abrigavam os peregrinos que viajavam até Jerusalém. Esses esta-
belecimentos foram construídos com a ajuda de fiéis e, sobretudo, dos príncipes, 
todos preocupados em “purificar” suas almas dos pecados terrenos. Carlos Magno 
foi um dos imperadores que financiaram a construção de um hospício, no século 
IX, nessa região, após um acordo com o califa Harum al-Rachid.
No seculo XI, um acordo entre Constantino VIII e o califa Al-Qadir permi-
tiu a reconstrução de igrejas e mosteiros católicos destruídos na época da invasão 
muçulmana, em 638. Com esse acordo, várias igrejas, mosteiros e conventos 
foram reconstruídos nas proximidades da Terra Santa, e data dessa época o pri-
meiro hospital, edificado próximo ao Santo Sepulcro, cuja administração ficou a 
cargo dos beneditinos até o momento da primeira Cruzada, no final do século XI.
Gerardo hospitaleiro era um leigo a quem os beneditinos confiaram a admi-
nistração do primeiro hospital construído em Jerusalém e, após a primeira 
Cruzada, ele construiu o segundo hospital, maior que o primeiro, ao anexar 
a igreja de São João Batista. No século XII, o Papa Pascoal II emitiu uma bula 
reconhecendo a independência do Hospital em relação aos beneditinos e deter-
minava que a Santa Sé seria a responsável direta pelo Hospital. A partir desse 
momento, todos os hospitais e hospícios passariam a integrar uma ordem que 
responderia diretamente ao papa.
Nascida sobre a égide da religiosidade e com caráter assistencialista, a Ordem 
dos Hospitalários transformou-se em ordem militar diante da necessidade de pro-
teção da Terra Santa, no século XII. Apesar do caráter militar e do envolvimento 
Figura 6 - Bandeira da Ordem
Fonte: Wikimedia Commons (2006, on-line)⁴.
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em quase todas as Cruzadas entre os 
séculos XII e XIII, os hospitalários não 
deixaram de desempenhar seu papel 
assistencialista e, ao contrário dos 
Templários, a Ordem não sucumbiu 
às conjunturas dos conflitos entre cris-
tãos e muçulmanos.
ORDEM DOS CAVALEIROS TEUTÔNICOS DE SANTA MARIA DE 
JERUSALÉM
Os cavaleiros teutônicos compõem uma ordem religiosa-militar reconhecida 
pelo Papa Clemente III, no século XII e, portanto, no contexto das Cruzadas. 
Assim como as demais ordens existentes no período, os cavaleiros teutônicos 
também possuíam domínios territoriais e riquezas advindas das doações da 
nobreza e dos monarcas.
Formada em Acre, Israel e com sede em Montfort, em Jerusalém, os teutônicos 
se fizeram presentes ao longo dos séculos XI e XIII nas regiões que compreen-
dem a Prússia e outras regiões da Alemanha, e os 
membros da monarquia desses reinos ingressaram 
na ordem no período em questão. É importante 
ressaltarmos que, entre os teutônicos, apenas os 
membros da nobreza eram aceitos.
Os teutônicos deixaram a região de Jerusalém 
quando os cristãos perdiam forças e os muçulma-
nos conseguiam avançar. Instalaram-se, então, para 
as regiões ao centro e ao norte da Europa, onde se 
propuseram a combater os infiéis dessa região. A 
Ordem dos Cavaleiros Teutônicos também sobre-
viveu ao período das Cruzadas, existindo com esse 
Figura 7 - Brasão de Armas dos Cavaleiros 
na fachada da igreja de San Giovannino dei 
Cavalieri, Florença
Fonte: Wikimedia Commons (2013, on-line)⁵.
Figura 8 - Brasão da Ordem
Fonte: Wikimedia Commons (2011, 
on-line)⁶.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Floren%C3%A7a
AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
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nome até o ano de 1809, quando Napoleão Bonaparte determinou sua extinção 
e confiscou suas propriedades.
No ano de 1929, no entanto, o Papa Pio XI emitiu uma bula na qual trans-
formava a antiga Ordem Teutônica em ordem clerical cujos membros seriam 
sacerdotes, padres e freiras. Hoje, a Ordem Teutônica tem sede na cidade de 
Viena, na Áustria.
AS CRUZADAS: CONTEXTO E MOTIVAÇÕES
Caro(a) aluno(a), estudamos, até este momento, aspectos da sociedade medieval 
que se formaram dentro do contexto do feudalismo. A feudalização do Ocidente 
medieval gerou as conjunturas que possibilitaram a instituição das Cruzadas, devido 
às transformações políticas, econômicas e sociais que esse processo provocou.
Para iniciarmos nossa discussão sobre as Cruzadas, relembraremos o con-
ceito de Cruzadas, já apresentado na introdução desta unidade, usando, para 
isso, as palavras do historiador Hilário Franco Júnior (1997), o qual afirma que,
Fonte: Shutterstock.
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A expressão “Cruzada”, quando surgiu, derivava do fato de seus parti-
cipantes considerarem-se “soldados de Cristo”, “marcados pelo sinal da 
cruz”, e por isso bordarem uma cruz na sua roupa. Mas, o que foram 
as Cruzadas? (...) simplificadamente podemos dizer que foram expedi-
ções militares empreendidas contra os inimigosda Cristandade e por 
isso legitimadas pela Igreja, que concedia aos seus participantes privilé-
gios espirituais e materiais (FRANCO JÚNIOR, 1997, p. 7-8).
Franco Jr. (1997) define o conceito de Cruzadas levando em consideração o seu 
aspecto religioso, o qual imprimiu a marca das Cruzadas e forneceu a justifica-
tiva sobre a qual se alicerçou o movimento. No entanto, além do caráter religioso 
e do ideal de reconquista da Terra Santa, os indivíduos que participaram das 
Cruzadas também foram impelidos por razões materiais que se enquadram no 
contexto de formação e de desenvolvimento do feudalismo.
Antes de discutirmos essas razões, é importante destacarmos quem eram os indi-
víduos que participaram das Cruzadas. Na unidade anterior, ao abordarmos o 
processo de feudalização da Europa Ocidental, vimos que a sociedade feudal era 
caracterizada pela divisão dos indivíduos em três grupos ou camadas sociais, 
quais sejam os membros do clero, a nobreza e um terceiro grupo ou camada for-
mada pelos servos, camponeses livres e a burguesia.
No início desta unidade, caro(a) aluno(a), abordamos o nascimento da cul-
tura islâmica, sua expansão por territórios antes sob domínio do cristianismo e 
a formação do Império Muçulmano. Neste momento, discutiremos como se deu 
o confronto entre cristãos e muçulmanos na disputa por territórios localizados 
Mas os soldados de Cristo combatem confiantes nas batalhas do Senhor, 
sem nenhum temor de pecar por pôr-se em perigo de morte e por matar o 
inimigo. Para eles, morrer ou matar por Cristo não implica qualquer crime, 
pelo contrário, traz a máxima glória.
(San Bernardo de Claraval)
AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
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no Oriente Médio, considerados importantes e sagrados por ambas as religiões. 
Oficialmente, entre os séculos XI e XIII, foram organizadas oito Cruzadas com o 
objetivo de recuperar a Terra Santa e combater os infiéis. Elas eram organizadas 
pelo papa e lideradas, então, pela Igreja Cristã. Desses movimentos, participa-
ram representantes das três ordens que compunham a sociedade medieval, cada 
qual inspirados por motivações religiosas e interesses pessoais.
Os membros do clero, além do claro propósito religioso, estavam interes-
sados em conter as guerras entre a nobreza que tinham, como consequência, 
a deterioração de seus bens e patrimônios, no caso da invasão de terras que se 
encontravam em seu domínio. Desse modo, a Igreja conseguiria acalmar o espí-
rito violento dos bellatores. Para a nobreza, além do aspecto religioso que envolvia 
a absolvição dos pecados cometidos, a participação nas Cruzadas representava 
a possibilidade de ampliar seus territórios e, consequentemente, suas fortunas. 
Além disso, os filhos da nobreza que não tinham direito à herança da terra e aos 
bens da família enxergaram nas Cruzadas a chance de conquistar suas próprias 
terras e evitar um destino incerto.
Os indivíduos da terceira ordem da sociedade feudal foram motivados, tam-
bém, pela oportunidade de absolvição dos pecados e pela possibilidade do acesso 
à terra, no caso dos servos e camponeses livres, e, no caso da burguesia, a chance 
de expandir o comércio por meio do 
acesso às mercadorias e aos artigos 
de luxo provenientes do Oriente e até 
mesmo pelo estreitamento das rela-
ções com os mercadores dessa região. 
As Cruzadas, organizadas com o obje-
tivo de retomar a Terra Santa, ficaram 
conhecidas como guerra santa, uma 
alusão ao fato de a Igreja Cristã legiti-
mar e apoiar uma prática que levaria 
à morte milhares de pessoas.
No decorrer da formação das 
Cruzadas, representantes das três 
camadas sociais da Idade Média 
Figura 9 - Janela de vitral que descreve um rei católico 
falando com seus soldados na Catedral de Tours, na 
França / Fonte: Shutterstock.
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participaram do movimento cruzadista, cada qual impulsionado pelo aspecto 
religioso e pelos interesses pessoais, os quais passamos a discutir a partir de agora.
OS ASPECTOS POLÍTICOS E MATERIAIS DAS CRUZADAS
Para entendermos os motivos de ordem material que levaram os medievos a 
participarem das Cruzadas, é necessário que tenhamos em mente algumas carac-
terísticas presentes na sociedade medieval após o nascimento do feudalismo. Com 
o fim da onda de invasões ocorridas entre os séculos VIII e X, a Europa Ocidental 
entrou em um período de paz e estabilidade, permitindo que o feudalismo se con-
solidasse, e a economia, de caráter basicamente agrário, desenvolvesse-se. Esse 
período de tranquilidade, somado ao avanço técnico no setor agrícola, também 
contribuiu para o crescimento populacional, visto que a qualidade de vida dos 
medievos sofreu melhorias significativas.
Como consequência desse crescimento populacional, a procura por terras 
ainda não cultivadas aumentou, e esse foi um fator importante no contexto das 
Cruzadas, pois muitos indivíduos decidiram participar das Cruzadas na esperança 
de conquistar novas terras para si. Entre esses indivíduos, destacamos os filhos 
da nobreza senhorial que, por não serem os primogênitos, não tinham direito 
à herança das propriedades da família. É necessário lembrar que, na sociedade 
feudal, era ao filho primogênito do sexo masculino a quem recaía o direito da 
posse da terra quando da morte de um senhor feudal.
Além do aumento populacional e a consequente busca por novas terras, o 
desenvolvimento da economia medieval também provocou um impulso nas ativida-
des comerciais. O comércio, como já dexposto, com o fim do Império Romano do 
Ocidente, ficou relegado ao segundo plano dentro do cenário econômico medieval, 
pois, até o período que agora abordamos, a produção agrícola não era suficiente-
mente forte e desenvolvida para alimentar as atividades comerciais.
Com a estabilidade da economia e o desenvolvimento das técnicas agrícolas, 
entretanto, a produção foi dinamizada a ponto de gerar um excedente que pôde 
ser comercializado. Diante dessa nova situação, a Itália, devido à sua localiza-
ção geográfica privilegiada e que facilitava suas relações com o Oriente – região 
AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
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onde adquirira produtos aos quais não tinha acesso no Ocidente –, foi favore-
cida. Portanto, é fácil compreendermos o apoio italiano e a participação desses 
nas Cruzadas, pois, de acordo com Franco Jr.:
Entende-se assim que Veneza tenha desempenhado importante papel 
nas Cruzadas, pois tinha no Oriente interesses a defender e estender. 
(...) Assim, para ela os interesses comerciais e o combate ao infiel eram 
uma mesma coisa, o que facilmente a identificou com as Cruzadas. Na 
verdade seu apoio aos cruzados (transporte, provisões, empréstimos) 
estava sempre condicionado ao recebimento de privilégios comerciais 
nas cidades conquistadas por eles (FRANCO JR. 1997, p. 19).
As Cruzadas foram movimentos militares incitados e organizados pela Igreja sob 
a justificativa da luta contra o inimigo infiel que tomara conta da Terra Santa. 
Entretanto, havia outros interesses dos membros da Igreja por trás da organiza-
ção dessas lutas.
Já destacamos que a socie-
dade feudal estava fundamentada 
sobre um esquema tripartido, no 
qual uma das camadas sociais era 
a ordem dos bellatores. Essa ordem 
era composta pelos nobres pro-
prietários de terras a quem cabia a 
tarefa de proteger os limites dos ter-
ritórios. Sendo assim, essa nobreza 
moldou-se e se tornou uma ordem 
militar cuja função era guerrear.
O período de paz e tranquili-
dade, oriundo da consolidação do 
feudalismo, pouco deu a esses guerreiros motivos para exercerem suas ativida-
des, fato que, se, por um lado, possibilitou o desenvolvimentoeconômico, por 
outro lado, gerou a instalação de conflitos entre a própria nobreza, causando 
certa agitação social.
Diante dessa realidade, a Igreja criou a Paz de Deus, no século X, e a Trégua 
de Deus, no início do século XI, movimentos que tinham por objetivo conter os 
conflitos no período medieval, visto que eles colocavam em risco os patrimônios 
Figura 10 - Tomada de Jerusalém durante a Primeira 
Cruzada
Fonte: Wikimedia Commons ([2018], on-line)⁷. 
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da Igreja, sobretudo suas propriedades, que eram constantemente invadidas 
pelos agitadores. Por essa razão, quando o papa Urbano II organizou a primeira 
cruzada no século XI, ele também estava preocupado em conter o aumento dos 
conflitos no Ocidente, levando a guerra para longe de suas possessões.
Cabe ressaltar aqui, caro(a) aluno(a), que, apesar das motivações de cunho 
material, a Igreja não deixou de lado o aspecto religioso das Cruzadas. Ao con-
trário, o elemento espiritual e a ideia de combater os inimigos da cristandade 
foram levados em consideração no momento de organização do movimento 
cruzadista, até mesmo porque essa luta significava a possibilidade de ampliar o 
alcance do cristianismo e da Igreja Cristã.
Portanto, mais uma vez devemos estar atentos, caro(a) aluno(a), para o 
elemento agregador dos indivíduos nas Cruzadas: o apelo religioso, do qual tra-
taremos agora.
OS ASPECTOS SOCIAIS E CULTURAIS DAS CRUZADAS
No período medieval, as relações entre os indivíduos eram caracterizadas pelos 
laços feudo-vassálicos, pelos quais os cidadãos permaneciam ligados entre si 
por meio de obrigações e de direitos. Os direitos e as obrigações cabíveis a cada 
um eram determinados pela camada social na qual estava inserido: os membros 
rezavam e serviam como guias espirituais da sociedade; à nobreza senhorial, 
cabia o papel de combater e de 
proteger os territórios da Europa 
Ocidental dos inimigos externos; e 
aos demais indivíduos que compu-
nham a sociedade medieval, grosso 
modo, recaía a responsabilidade do 
trabalho necessário para manter a 
ordem estabelecida.
A manutenção dessa situação 
só foi possível graças à crença, a 
uma fé cega nas situações vividas 
Figura 11 - Símbolos do Cristianismo
Fonte: Shutterstock.
AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
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que se enraizaram nos indivíduos e permitiu a criação de um universo no 
qual cada indivíduo conhecia sua origem e seu papel dentro dele, exercen-
do-o sem maiores contestações.
Na base dessa mentalidade, estava o elemento religioso. O poder e o controle 
que a Igreja exercia sobre os medievos, já abordados nas unidades anteriores, 
ajudam-nos a compreender a dinâmica social e cultural da Idade Média.
É à luz da religiosidade que devemos analisar os acontecimentos do período 
medieval, não cabendo a nós julgar, e sim analisar de maneira imparcial e livre 
de (pré)conceitos. A função do historiador é a de buscar conhecer o passado sem 
incorrer no risco de transformá-lo em algo que não corresponde à realidade por 
meio de analogias sem sentido.
A mentalidade e o pensamento pouco questionador dos medievos vai ser o 
cerne em torno do qual se construirá a crítica dos intelectuais dos períodos 
posteriores. O domínio da Igreja sobre os indivíduos desse período e a sub-
missão quase que total às doutrinas impostas pela Igreja e pelo cristianis-
mo, na visão dos intelectuais dos séculos XVI ao XVIII, são os elementos res-
ponsáveis pelo atraso no progresso cultural da Idade Média, em contraste 
com a realidade existente na antiguidade clássica, período no qual viveram 
grandes nomes da história e da filosofia que contribuíram para a crítica da 
realidade.
Fonte: a autora.
A fé dos medievos nos ajuda a entender inúmeros aspectos daquele perío-
do e nos permite levantar hipóteses de análises que servem de base para o 
trabalho de um historiador.
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AS CRUZADAS NO ORIENTE E NO OCIDENTE
A primeira Cruzada foi organizada quando o imperador bizantino Aleixo I 
(1088-1118) solicitou a ajuda do Ocidente para combater e expulsar os muçul-
manos que ocuparam os territórios da Ásia Central, da Síria e da Palestina. A 
intenção de Aleixo I era que o Ocidente enviasse soldados que seriam pagos e 
liderados por ele mesmo. 
A resposta do Ocidente veio em 1095, quando o papa Urbano II, no con-
cílio de Clermont Ferrant, na França, convocou os fiéis a se unirem e partirem 
para o Oriente para libertar o Santo Sepúlcro. Atendendo ao apelo do papa, os 
medievos começaram a se organizar e, em 1096, partiram para o Oriente. Dessa 
Primeira Cruzada, participaram apenas membros da nobreza, que estavam a ser-
viço da Santa Sé e eram supervisionadas pelo pontífice.
O fato de os Cruzados se recusarem a se submeter às imposições feitas por 
Aleixo I, como a promessa de que os territórios reconquistados fossem devolvi-
dos ao Império Bizantino, gerou uma tensão entre os dois lados, acentuando as 
diferenças existentes entre Ocidente e Oriente.
Os primeiros cruzados alcançaram Jerusalém no ano de 1099, após enfren-
tarem os muçulmanos e retomarem os territórios da Síria, o principado 
de Antioquia, o condado de Trípoli e o condado de Edessa. Em Jerusalém, 
Figura 12 - Vitral retratando a Primeira Cruzada e Godofredo de Bouillon, na 
catedral de Bruxelas, em 26 julho de 2012
Fonte: Shutterstock.
AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
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promoveram um combate sangrento com muçulmanos e judeus que lá se encon-
travam, conseguindo, dessa maneira, retomar a cidade. Após essas vitórias, os 
cristãos reorganizaram esses territórios, formando os Estados francos, os quais 
seriam independentes do Império Bizantino.
A resposta dos muçulmanos às vitórias dos cruzados foi a convocação de 
uma Jihad, ou seja, uma guerra santa contra os cristãos do Ocidente na tentativa 
de recuperar os territórios perdidos. A estratégia dos muçulmanos funcionou 
e eles conseguiram recuperar os domínios do principado de Antioquia – que, 
posteriormente, foi reconquistado pelo imperador cristão Manuel I – e o con-
dado de Edessa, em 1114.
Diante do avanço dos muçulmanos, foi organizada a Segunda Cruzada, em 
1147, da qual destacamos a participação do rei da França, Luís VII, e o impera-
dor do Sacro Império Romano Germânico, Conrado III. Apesar de conseguir 
expulsar os muçulmanos de Lisboa, ao passar pela Península Ibérica, a Segunda 
Cruzada não conseguiu atingir seus objetivos e os cristãos foram derrotados. 
Além disso, em 1187, Jerusalém foi novamente tomada pelos muçulmanos.
A Terceira Cruzada foi organizada pelo papa Gregório VIII, em 1189, após 
a perda de Jerusalém, e ficou conhecida como Cruzada dos Reis, pois dela par-
ticiparam o rei da França, Filipe Augusto, o rei da Inglaterra, Ricardo coração 
de Leão, e o imperador do Sacro Império Romano Germânico, Frederico I 
Barbarroxa. As forças compostas nessa Cruzada não foram suficientemente 
fortes ou organizadas como o contingente islâmico comandado por Saladino. 
Por esse motivo, o resultado dessa Cruzada foi o estabelecimento de um acordo 
entre cristãos e muçulmanos no qual os cristãos estavam autorizados a retomar 
as peregrinações a Jerusalém.
A partir da Quarta Cruzada, convocada pelo papa Inocêncio III, em 1202, 
ocorreu uma mudança no perfil dos combates. Embora ainda pautada na justifica-
tiva do combate ao islamismo, a Quarta Cruzada e as subsequentes demonstram 
o ideal e os interesses comerciais dos mercadores italianos, visto que estestive-
ram papel importante no financiamento dessa expedição. Esses cruzados tinham, 
por objetivo, consolidar os laços comerciais com o Império Bizantino e, por 
essa razão, atenderam ao pedido do príncipe bizantino Aleixo de ajudá-lo a 
tomar Constantinopla, conquistada por um usurpador, e devolver o comando 
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do Império a seu pai. Assim, em 1203, os cruzados chegaram a Constantinopla, 
conseguindo expulsar o usurpador.
As Cruzadas que se seguiram, embora preservassem o objetivo de recon-
quista dos territórios sagrados ocupados pelos muçulmanos, foram realizadas 
dentro do contexto de transformação da sociedade medieval, o qual foi provo-
cado em grande medida pelas próprias Cruzadas, conforme veremos em breve. 
De acordo com Fernandes (2006),
A reconquista de Jerusalém terrestre, considerada pelos religiosos a 
imagem de Jerusalém celeste, continuaria a ser o objetivo oficial das 
Cruzadas. No entanto, o discurso da Igreja em relação às Cruzadas 
tornara-se anacrônico num contexto de enriquecimento comercial e 
urbano que caracteriza o século XIII (FERNANDES, 2006, p. 127 apud 
MAGNOLI, 2006).
Em 1212, foi organizada uma Cruzada composta apenas por crianças, pois se 
acreditava que a pureza das suas almas garantiria o sucesso da expedição. Essa 
Cruzada, formada, principalmente, por filhos de camponeses, como é possível 
imaginar, fracassou, e os participantes foram mortos, sequestrados ou escravi-
zados antes mesmo de cruzarem o Oriente.
A Quinta Cruzada organizou-se após o IV Concílio de Latrão (1215). O 
objetivo dessa Quinta Cruzada, que teve início em 1217, era o de atingir o Egito 
para, depois, alcançar Jerusalém. Devido a erros de estratégia, os cruzados foram 
novamente derrotados pelos muçulmanos. Em 1228, organizou-se uma nova 
Cruzada, a sexta, liderada por Frederico II, imperador alemão que estabeleceu 
um acordo de paz com o sultão do Egito Al-Kamir. Por esse acordo, chamado 
Tratado de Jafa, os cristãos novamente recuperaram o direito de realizar peregri-
nações a Jerusalém. Além disso, outros territórios foram devolvidos aos cristãos.
No ano de 1248, organizou-se a Sétima Cruzada sob o pretexto da neces-
sidade de combater os mongóis que haviam tomado Jerusalém, em 1244. Essa 
nova Cruzada, determinada anos antes no Concílio de Lyon (1245), foi lide-
rada por Luís IX, da França, que tentou ocupar o Egito para, depois, dirigir-se 
à Palestina. Mais uma vez, os cristãos são derrotados e, devido a uma série de 
eventos, Luís IX é obrigado a voltar para a Europa. Dessa maneira, os muçul-
manos avançaram e derrotaram os mongóis, conquistando o litoral da Síria e a 
Palestina entre 1263 e 1268.
AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E154
A Oitava e última Cruzada também foi liderada por Luís IX, com o apoio 
do Duque de Anjou, de Jaime I de Aragão e do príncipe inglês, Eduardo. Ela 
teve início em 1270 e o objetivo era chegar à Tunísia para estabelecer relações 
comerciais e conseguir privilégios comerciais, além de organizar um ataque aos 
inimigos. Mais uma vez, os cruzados fracassaram. Dessa vez, foram derrotados 
por uma epidemia que assolou a região.
O MOVIMENTO CRUZADISTA NO OCIDENTE
No Ocidente, as lutas contra os infiéis muçulmanos foram chamadas de 
Reconquista Cristã e se desenrolaram ao mesmo tempo em que os conflitos no 
Oriente aconteceram. Ao contrário do que ocorrera no Oriente, o apelo do pro-
cesso de Reconquista Cristã, ao menos no início, tinha um caráter mais voltado 
à necessidade da busca por novas terras, decorrentes do crescimento populacio-
nal. Sendo assim, a maioria dos indivíduos que participaram desse processo até 
o século X eram pessoas ligadas à posse ou ao trabalho na terra, isto é, os senho-
res de terra e, sobretudo, os camponeses.
O elemento religioso da Reconquista Cristã se fortalece no século XI, quando o 
papa Alexandre II recorreu à ajuda dos cristãos para combater os muçulmanos que 
ocupavam a Península Ibérica. A partir de então, observamos, no lado ocidental, o 
aparecimento dos mesmos elementos que caracterizaram as Cruzadas do Oriente.
Pelo fato de já discutimos exaustivamente os detalhes acerca das motivações 
políticas, econômicas e sociais dos embates entre cristãos e muçulmanos nos 
tópicos anteriores, não nos deteremos novamente a eles nesse momento. Basta 
lembrar, caro(a) aluno(a), que os mesmos elementos estiveram presentes nos 
conflitos entre as duas culturas no Ocidente, a partir do século XI.
O processo de Reconquista Cristã no Ocidente não teve o mesmo final que as 
Cruzadas no Oriente. Ao contrário do que ocorreu naquela região, os cristãos do 
Ocidente conseguiram, ao longo dos séculos XI e XV, expulsar os muçulmanos 
da Península Ibérica, livrando as regiões que hoje compreendem os territórios 
de Portugal e Espanha.
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De acordo com Franco Jr.,
Nas suas grandes linhas, a Reconquista deu-se assim: em meados do 
século IX o pequeno reino das Astúrias, ao norte, alarga seus territó-
rios ocupando a Galícia e no século X Leão. Paralelamente o reino de 
Navarra conquistava as regiões ao norte do rio Ebro. O grande avan-
ço cristão do século XI culminou com a tomada de Toledo em 1085, 
mas o estabelecimento dos impérios Almorávida e Almoada brecaram 
temporariamente a Reconquista. A aliança entre vários reis ibéricos 
cristãos permitiu a grande vitória de Las Navas de Tolosa (1212) e o 
reinício de uma acentuada penetração cristã para o sul da península. 
Desta forma, em fins do século XIII apenas o reino de Granada per-
manecia muçulmano, e assim ficaria até ser conquistado em 1492 [...] 
(FRANCO JR., 1997, p. 63-64).
Figura 13 - Oviedo, Espanha - 17 de julho de 2015: Vitral retratando Pelágio (Pelayo) na catedral de Oviedo, 
Espanha. Pelágio começou a Reconquista Cristã da Espanha aos mouros
Fonte: Shutterstock.
AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IVU N I D A D E156
QUADRO EXPLICATIVO
As Cruzadas e as Transformações na Europa Medieval
Nascimento e 
Expansão do 
Islamismo
 ■ Século VII
 ■ Século VIII
 ■ Maomé.
 ■ Formação do Império Muçulma-
no, na Península Arábica.
 ■ Os muçulmanos chegam à Pe-
nínsula Ibérica.
Cruzadas no 
Oriente e no 
Ocidente (Recon-
quista Cristã)
 ■ Séculos XI a XIII
 ■ Clero
 ■ Nobreza
 ■ Burguesia
 ■ Servos e camponeses 
livres
 ■ Expedições militares e religiosas 
organizadas com o objetivo de 
expulsar os muçulmanos da 
Terra Santa.
 ■ Salvação espiritual, impedimen-
to dos conflitos entre a nobre-
za e que prejudicavam seus 
domínios.
 ■ Salvação espiritual e conquista 
de novas terras.
 ■ Salvação espiritual, compra de 
mercadorias e estreitatamento 
dos laços comerciais com o 
Oriente.
 ■ Salvação espiritual e conquista 
de terras.
 Cavaleiros Me-
dievais
 ■ Membros da Nobreza
 ■ Ordens Militares e 
Religiosas
 ■ Função militar.
 ■ Proteção do espaço feudal.
 ■ Função militar e de assistência 
aos peregrinos cristãos que 
visitavam Jerusalém.
Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Caro(a) aluno(a), buscamos, nesta unidade, apresentar o processo que marcou 
o conflito entre duas tradições religiosas do período medieval, isto é, cristia-
nismo e islamismo. Entender as relações estabelecidas entre essas duas culturas 
é importante na medida em que ambas apresentam-se, ainda hoje, como as 
religiões como maior número de fiéis pelo mundo, sendo que seus princípios, 
doutrinas e seguidores dividem, muitas vezes, o mesmo espaço em convivência 
nem sempre pautada pelo respeito mútuo.
Cabe a nós, historiadores e futuros historiadores, conhecer a história para 
aprender com ela e sermos capazes de olhar para os dilemas que se apresentam 
diante de nossos olhos e procedermos à análise crítica consciente e com funda-
mentação teórica e histórica, desenvolvendo nosso senso crítico.
O mundo moderno também é resultado das Cruzadas iniciadas no século 
XIII. O contato entre o Ocidente cristão e o Oriente muçulmano provocou trans-
formações na Europa medieval, decorrentes do intercâmbio cultural entre as duas 
regiões, que possibilitou a apreensão de novos conceitos, hábitos e ideias tanto 
pelos ocidentais quanto pelos orientais.
O desenvolvimento comercial e urbano, o desenvolvimento de novas téc-
nicas de navegação, a introdução de novos hábitos alimentares e de vestuários 
são aspectos que contribuíram para o nascimento do mundo moderno e que só 
foram possíveis a partir do contato entre o mundo cristão e o mundo islâmico.
É claro que a intolerância religiosa também faz parte do legado que as 
Cruzadas e a Reconquista Cristã nos deixaram. No entanto, até mesmo essa 
intolerância nos mostra a importância de se conhecer a história para não repe-
tirmos os erros do passado e trabalhar para a construção de formas coerentes 
de existência.
Sobre as transformações na Europa medieval, decorrentes das Cruzadas e 
do processo de Reconquista Cristã, discutiremos na próxima unidade.
158 
1. “Explorar os lugares santos com os pés, os olhos, o coração e as lembranças. 
Foi assim que ao longo dos séculos muitos homens saíram de suas terras de 
origem em busca de perdão ou redenção. [...] Movidos pela devoção religiosa, 
a trajetória que traçam é, em princípio, em busca de compreender sua própria 
existência e o seu papel no grande plano divino do qual estavam convencidos 
de que faziam parte: o plano da salvação” (FRANÇA, 2017, p. 10). As peregrina-
ções na Idade Média fazem parte do contexto das Cruzadas e do desenvolvi-
mento das relações entre Ocidente e Oriente. Baseado na leitura e na interpre-
tação desta unidade, descreva as suas impressões sobre a situação do Oriente 
Médio, enfatizando a origem das divergências entre cristãos e muçulmanos e o 
desdobramento dessas divergências durante o período das Cruzadas.
2. “Ofício de cavaleiro é manter e defender o seu senhor terrenal, pois nem rei, 
nem príncipe, nem alto barão poderão, sem ajuda, manter a justiça entre os 
seus vassalos. Por isto, se o povo ou algum homem se opõe aos mandamentos 
do rei ou príncipe, devem os cavaleiros ajudar o seu senhor, que, por si só, é 
um homem como os demais. E assim, é mau cavaleiro aquele que mais ajuda o 
povo que o seu senhor, ou que quer fazer-se dono e tirar os estados do seu se-
nhor, não cumprindo com o ofício pelo qual é chamado cavaleiro. [...]” (LÚLIO, 
1948, p. 114-115 apud PEDRERO-SÁNCHEZ, 2000). Após a leitura do documen-
to, retome as discussões apresentadas nesta unidade sobre os cavaleiros me-
dievais e as ordens militares-religiosas e discorra sobre a relação entre o papel 
da Igreja Cristã e as atividades militares no contexto das Cruzadas.
3. “[...] longe de abrandar os costumes, a violência da Guerra Santa tinha levado 
as cruzadas aos piores excessos desde os progrons perpetrados em sua rota até 
os massacres e pilhagens [...]” (LE GOFF, 2005, p. 66). O movimento conhecido 
como Cruzadas, iniciado no século XI, tinha como elemento principal a ideo-
logia cristã, que pregava a luta contra o infiel, representado, naquele contexto, 
pelos muçulmanos. Levando-se em consideração as discussões promovidas 
nessa unidade, assinale a alternativa que corresponde às conjunturas históri-
cas das Cruzadas:
a) O processo de feudalização da Europa Ocidental não pode ser considerado 
no contexto de surgimento das Cruzadas, devido ao fato de que não pro-
duziu os elementos necessários para a instalação de um conflito do alcance 
desse movimento.
b) Os burgueses, ao participarem das Cruzadas, tinham em mente a possibili-
dade de conquistar terras e não dependerem mais do comércio, atividade 
que não recebia a atenção e os investimentos dos monarcas.
c) Os servos e os camponeses livres tomaram a iniciativa de participar das Cru-
zadas devido à ideia de que essa participação lhes garantiria a obtenção de 
uma renda com a qual poderiam comprar sua liberdade e se estabelecer em 
outras regiões, livres dos domínios da nobreza senhorial.
159 
d) A participação dos nobres cavaleiros da sociedade medieval nas Cruzadas 
está relacionada ao direito consuetudinário e à lei do Morgadio, segundo os 
quais o direito à herança da terra não atingia os filhos, que não os primogê-
nitos, e também impedia a alienação das terras.
e) A intenção da Igreja, ao convocar as Cruzadas, era a de expandir o cristianis-
mo e, ao mesmo tempo, adquirir mais propriedades de terras para que, por 
meio do poder econômico, pudesse opor-se aos nobres e adquirir o direito 
de comandar as atividades políticas e econômicas da sociedade.
4. “Ao longo da Idade Média, houve várias vitórias para os dois lados; no entanto 
houve também um domínio muçulmano, na Península Ibérica, o que perdurou 
até o século XV. O desfecho foi a Guerra da Reconquista, quando os reis Fernan-
do e Isabel comandaram a vitória cristã contra os muçulmanos” (CARVALHO, 
2016, p. 101). A guerra santa, no Oriente, e o processo de Reconquista Cristã, no 
Ocidente, fazem parte de um contexto de transformações pelo qual a Europa 
começou a passar, a partir da desestruturação do Império Carolíngio. Acerca 
desses conflitos entre os cristãos e os infiéis inimigos da cristandade, assinale 
a alternativa correta:
a) Apesar das motivações de cunho material, a Igreja não deixou de lado o 
aspecto religioso das Cruzadas, até mesmo porque essa luta significava a 
possibilidade de ampliar o alcance do cristianismo e da Igreja Cristã.
b) Os direitos e as obrigações cabíveis a cada um eram determinados pela ca-
mada social na qual estava inserido. Na base dessa mentalidade, estava o 
elemento econômico, que determinava o nível de liberdade, poder e influ-
ência que um medievo exerceria ao longo da vida, fator determinante para 
as lutas nas Cruzadas.
c) A Primeira Cruzada foi organizada sem o apoio papal, que se recusou a aju-
dar o imperador do Oriente a combater seus inimigos, uma vez que as rela-
ções entre Ocidente e Oriente estavam estremecidas.
d) Não seria errado afirmar que as oito Cruzadas organizadas e o processo de 
Reconquista Cristã ao longo dos séculos XI e XIII tiveram como objetivo, úni-
co e exclusivo, o combate ao islamismo, evitando, assim, que ele se expan-
disse pelo Ocidente cristão.
e) Os conflitos entre cristãos e muçulmanos entre os séculos XI e XIII foram 
superados e, atualmente, o Ocidente Cristão e o Oriente islâmico estabele-
ceram uma política baseada no respeito e na confiança mútuos.
160 
5. “Desde essa época, a história do mundo muçulmano ultrapassa os limites ge-
ográficos do Oriente Médio. Praticamente contemporâneos do Renascimento 
na Europa, três ‘impérios da pólvora’ se consolidaram no Oriente: o Império 
Otomano, nos antigos territórios bizantinos e no mundo árabe; o Império Sa-
fávida, na Pérsia; e o Império dos Grão-Mughals, na Índia. Sultanatos menores 
existiram em outras regiões da Índia, em partes da África, em Java e na Sumatra 
entre outras” (DEMANT, 2011, p. 53). A história do islamismo se mescla com 
o desenvolvimento da sociedade medieval e foi parte importante de um dos 
momentos mais conhecidos do período medieval, as Cruzadas. Em relação ao 
islamismo e aos muçulmanos, na Idade Média, assinale a alternativa correta:
a) A proximidade entre cristãos e muçulmanos possibilitou o desenvolvimento 
de uma relação pacífica no decorrer da Idade Média.
b) A expansão muçulmana representava um obstáculo para os interesses da 
IgrejaCristã medieval e, para impedir o avanço do islamismo no Ocidente, 
a Igreja Cristã formou uma aliança com os muçulmanos, garantindo sua su-
premacia.
c) A expansão islâmica se relaciona com os interesses políticos e econômicos, 
sendo as questões de fé apenas justificativas utilizadas para legitimar ações 
violentas contra inimigos políticos e rivais econômicos.
d) Analisar o processo de expansão do islamismo e as relações estabelecidas 
entre os muçulmanos e outros povos e culturas tanto no Ocidente quanto 
no Oriente permite compreender a formação sociocultural do Ocidente Me-
dieval.
e) As Cruzadas representam o momento histórico no qual a cultura islâmica se 
sobrepôs à cultura cristã no Ocidente e no Oriente, levando ao esfalecimen-
to da Igreja Cristã medieval.
161 
Relações entre Oriente e Ocidente na Atualidade
As relações entre o “mundo islâmico” e o “mundo cristão” estão fundamentadas em 
uma divergência de doutrinas, princípios e valores que geraram conflitos desde o 
momento em que esses dois mundos se entrelaçaram. Isso é o mesmo que dizer 
que esses conflitos remontam ao século VII, quando Maomé iniciou sua pregação 
e fundou uma religião que se diferenciava do cristianismo conhecido até então.
Embora com influências da religião cristã, o islamismo possuía elementos próprios 
e seus entendimentos acerca da existência de Deus e dos ensinamentos que Ele 
deixou possuíam suas particularidades. Assim, no momento em que os seguido-
res de Maomé e da religião inaugurada por ele avançaram sob os territórios de 
domínio cristão, instalou-se um conflito que separou cristãos e muçulmanos e que 
atravessou o período medieval, ainda existindo nos dias atuais.
Saindo da Idade Média para a contemporaneidade, as relações entre o Oriente 
islâmico e o Ocidente cristão sofreram um novo abalo no dia 11 de setembro de 
2001, quando a cidade de Nova York, nos Estados Unidos, foi alvo de um atentado 
terrorista cuja responsabilidade foi assumida por um grupo terrorista ligado ao 
islamismo. É claro que não podemos responsabilizar todos os muçulmanos pelos 
ataques e consequentes mortes de inocentes em 2001. No entanto, no campo das 
relações políticas e diplomáticas, os olhares do Ocidente voltaram-se para o Orien-
te em busca de explicações para as hostilidades entre as duas culturas.
Especialistas e estudiosos do mundo todo buscaram, no passado, o processo que 
caracterizou o desenvolvimento das relações entre a cultura islâmica e a cultura 
cristã, e que culminaram em conflitos que, ainda hoje, extrapolam os limites das 
duas regiões.
Fonte: Lewis (2003).
MATERIAL COMPLEMENTAR
O Caçador de Pipas
Khaled Hosseini
Editora: Nova Fronteira
Sinopse: o livro aborda a o reencontro de Amir com seu passado. 
Quando criança, Amir viveu no Afeganistão com seu pai e tinha, como 
melhor amigo, o garoto Hassan, filho de um dos empregados de seu 
pai. A amizade entre os dois garotos fica estremecida quando Hassan 
é atacado e violentado por um grupo de meninos. Amir assiste a cena 
escondido e não ajuda o amigo. Tomado pelo remorso, Amir acusa Hassan de roubar seu relógio 
e o menino acaba indo embora com o pai. Anos depois, já adulto e morando nos E.U.A., Amir é 
avisado de que deve voltar ao Afeganistão para ajudar o filho de Hassan, assassinado por milícias. 
A história se desenrola mostrando a luta de Amir para resgatar o filho de Hassan, sequestrado 
por membros ligados ao regime Talibã. Embora a história se passe na atualidade do século XX, 
é interessante por mostrar os conflitos que ainda existem no Oriente e que têm, como pano de 
fundo, divergências religiosas.
O Sétimo Selo
Ano: 1956
Sinopse: o filme de Ingmar Bergman tem, como contexto, as 
Cruzadas na Idade Média e é ambientado na região da Suécia. 
O roteiro permite observar e analisar aspectos do período e do 
indivíduo medieval, além de elementos da cultura e imaginário 
medieval, uma vez que o filme foi inspirado na sinfonia de Carl Orff, 
Carmina Burana.
A Ordem dos Cavaleiros Templários - Documentário History Channel Brasil
Documentário acerca da história da Ordem dos Cavaleiros Templários. Aborda as origens da 
ordem e sua participação nas Cruzadas promovidas pela Igreja Cristã, além de discutir o mistério 
que envolve a relação da Ordem dos Templários e o Santo Graal.
Web: <https://www.youtube.com/watch?v=X0j8Dmajyrs>.
GLOSSÁRIO
163
Alcorão: Livro sagrado da religião islâmica.
Beduínos: Tribos nômades e pagãs que habitavam o deserto da Península Arábica.
Cavaleiros Medievais: Indivíduos pertencentes à nobreza sobre quem recaía as 
funções militares, no período medieval.
Cruzadas: Expedições de caráter militar e religioso cujo objetivo era o de combater 
os inimigos da cristandade.
Guerra Santa: Conflito resultante de diferenças religiosas e fundamentada no uso 
da violência como forma de expandir teorias religiosas.
Islam: Submeter-se.
Jihad: Na Idade Média, o conceito era utilizado pelos árabes para representar o es-
forço e empenho para disseminar o islamismo. De acordo com o Dr. Fábio Augusto 
Darius, autor do livro História das Religiões, o termo representa uma guerra santa 
interna “de você contra você mesmo, em suas particularidades, que sabe que não 
são boas e precisa mudar” (2014, p. 81).
Muslim: Muçulmano; aquele que se submete a Alá.
Paz de Deus: Períodos de paz obrigatórios, determinados pela Igreja no século X.
Reconquista Cristã: Conflito entre cristãos e muçulmanos na Península Ibérica, a 
partir do século VIII.
Santo Sepulcro: Local onde, de acordo com a tradição cristã, Jesus foi crucificado 
e sepultado.
Sunitas: Grupo formado pelos muçulmanos que defendiam a escolha do sucessor 
de Maomé entre qualquer seguidor do islamismo.
Terra Santa: Compreende os lugares onde Jesus nasceu e viveu.
Xiitas: Grupo formado pelos muçulmanos que defendiam a hereditariedade como 
princípio para a escolha do sucessor de Maomé.
REFERÊNCIAS
ARMSTRONG, K. O islã. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001. 
BLOCH, M. A sociedade feudal. Lisboa: Edições 70, 2009. 
CARVALHO, C. História Medieval. Curitiba: InterSaberes, 2016. 
COSTA, R. A Cruzada renasceu? In: BLASCO VALLÈS, A.; COSTA, R. (Coord.). A Idade 
Média e as Cruzadas. jan./jun 2010, p. XIII.
DEMANT, P. O mundo muçulmano. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2011. 
FRANÇA, S. S. L. Peregrinos e centros de peregrinação. In: FRANÇA, S. S. L. et al. Pere-
grinos e peregrinação na Idade Média. Rio de Janeiro: Vozes, 2017. p. 10.
FRANCO JÚNIOR, H. As cruzadas. 6. ed. São Paulo: Brasiliense, 1997. 
LE GOFF, J. A civilização do ocidente medieval. Bauru: EDUSC, 2005. 
LEWIS, B. O Islã e o Ocidente: uma nova ordem política e religiosa pós-11 de setem-
bro. São Paulo: Edições Loyola, 2003.
MAGNOLI, D. (Org.). História das guerras. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006. 
PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G. História da idade média: textos e testemunhas. São 
Paulo: Editora UNESP, 2000. 
SILVA, P. História e mistério dos templários. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.
REFERÊNCIAS ON-LINE
1 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Map_of_expansion_of_Calipha-
te-pt.svg. Acesso em: 28 nov. 2018.
2 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Seal_of_Templars.jpg>. Acesso 
em: 28 nov. 2018. 
3 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jerusalem_Al-Aqsa_Mosque_
BW_2010-09-21_06-38-12.JPG>. Acesso em:28 nov. 2018. 
4 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Flag_of_the_Order_of_St._John_
(various).svg>. Acesso em: 28 nov. 2018. 
5 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:San_Giovannino_dei_Cavalieri_
stemma_Cavalieri_di_Malta.JPG>. Acesso em: 28 nov. 2018. 
6 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Insignia_Germany_Order_Teuto-
nic.svg>. Acesso em: 28 nov. 2018. 
7 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1099jerusalem.jpg>. Acesso em: 
28 nov. 2018. 
GABARITO
165
1. O aluno deve apresentar uma análise das características religiosas do Oriente e 
destacar o que ele entende como ponto de divergência entre cristãos e muçul-
manos, e que influenciaram no início domovimento cruzadista.
2. O advento das Cruzadas, a partir do século XI, e a criação das ordens militares 
e religiosas representou um alívio para aqueles que nasceram para combater e 
eram tomados por uma onda de insatisfação e questionamento quando a paz 
e a tranquilidade tomavam a realidade da sociedade medieval. Essa insatisfa-
ção representava uma ameaça para os monarcas e para a própria Igreja, pois os 
nobres guerreiros começaram a questionar a necessidade das grandes doações 
que faziam tanto para o reino quanto para a Igreja, se não havia ações militares 
que as justificassem. Diante dessa realidade, várias ordens foram criadas, assu-
mindo funções militares e assistencialistas e legitimadas pela Igreja. Os mem-
bros do clero, além do claro propósito religioso, estavam interessados em conter 
as guerras entre a nobreza que tinham, como consequência, a deterioração de 
seus bens e patrimônios, no caso da invasão de terras que se encontravam em 
seu domínio. Desse modo, a Igreja conseguiria acalmar o espírito violento dos 
bellatores. As Cruzadas, organizadas com o objetivo de retomar a Terra Santa, 
ficaram conhecidas como guerra santa, uma alusão ao fato de a Igreja Cristã le-
gitimar e apoiar uma prática que levaria à morte milhares de pessoas. Quando 
o Papa Urbano II organizou a primeira cruzada, no século XI, ele também estava 
preocupado em conter o aumento dos conflitos no Ocidente, levando a guerra 
para longe de suas possessões. Apesar das motivações de cunho material, a Igre-
ja não deixou de lado o aspecto religioso das Cruzadas. Ao contrário, o elemento 
espiritual e a ideia de combater os inimigos da cristandade foram levados em 
consideração no momento de organização do movimento cruzadista, até mes-
mo porque essa luta significava a possibilidade de ampliar o alcance do cristia-
nismo e da Igreja Católica.
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Professora Me. Luciene Maria Pires Pereira
A BAIXA IDADE MÉDIA E 
AS TRANSFORMAÇÕES NO 
OCIDENTE MEDIEVAL
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Analisar as transformações ocorridas no Ocidente medieval com o 
advento das Cruzadas.
 ■ Verificar o processo de renascimento urbano e comercial que atingiu 
a Europa medieval após o século XI, evidenciando de que maneira as 
relações interpessoais foram influenciadas por esse processo.
 ■ Compreender o contexto de nascimento das primeiras universidades 
na Idade Média e de que maneira a mentalidade da época 
foi influenciada pelo modelo de ensino proposto por essas 
universidades.
 ■ Entender os efeitos causados pela chamada Peste Negra, ocorrida 
no século XIV, e de que maneira essa epidemia alterou as bases da 
sociedade medieval.
 ■ Analisar o processo de desestruturação do feudalismo e a formação 
dos Estados Nacionais Modernos e o seu significado dentro do 
contexto medieval.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O renascimento comercial e urbano
 ■ O surgimento das universidades medievais
 ■ A Peste Negra
 ■ As raízes medievais dos Estados Nacionais Modernos
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), chegamos à última parte de nosso estudo e, neste momento, 
dedicaremo-nos em analisar as mudanças políticas, econômicas e socioculturais 
que ocorreram na Idade Média com o advento das Cruzadas, a partir do século XI.
As Cruzadas possibilitaram um contato maior entre indivíduos de culturas 
diferentes, o que favoreceu o intercâmbio de ideias, costumes, valores, produtos 
e mercadorias. Esse contato entre culturas diversas, tal como ocorreu no final 
da Antiguidade, abriu espaço para que novas formas de organização política, 
econômica e social entrassem no Ocidente medieval, modificando, gradativa-
mente, suas bases estruturais.
Nesse sentido, podemos dizer que, ao mesmo tempo em que as Cruzadas 
representaram uma tentativa do Ocidente em conter o avanço e expulsar os 
muçulmanos de territórios sob seu domínio ou de seu interesse, representaram, 
também, o meio pelo qual a sociedade feudal ocidental sofreu transformações 
que seriam as bases para o advento do período moderno.
O contato da nobreza senhorial, até então ligada à terra, com novos pro-
dutos, a apreensão de novas técnicas de navegação, as inovações agrícolas, as 
relações comerciais estabelecidas entre burgueses do Ocidente e mercadores 
do Oriente e o consequente desenvolvimento urbano são resultados do contato 
entre Ocidente e Oriente, favorecido pelas Cruzadas.
Somada a fatores internos, as relações desenvolvidas entre esses dois mundos 
e entre essas duas culturas caracterizaram o período conhecido como Baixa Idade 
Média, que Huizinga (2010) chamou de “outono da Idade Média” e que significou um 
período de transição, se assim podemos dizer, entre o feudalismo e o renascimento.
Nesta unidade, apresentaremos os principais aspectos desse período, desta-
cando as transformações nas áreas da política, da economia e as modificações 
sociais e culturais que permearam a Idade Média entre os séculos XI e XV.
Introdução
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O RENASCIMENTO COMERCIAL E URBANO
Com o fim das Cruzadas no século XIII, o Ocidente medieval entrou em um 
período de tranquilidade que desencadeou o processo de desenvolvimento 
comercial e urbano. O comércio, que ficou em segundo plano no cenário das ati-
vidades econômicas medievais, ganhou um novo fôlego a partir da introdução 
de novas técnicas agrícolas adotadas, o que possibilitou um aumento na produ-
ção, gerando um excedente que passou a ser comercializado.
A participação dos comerciantes nas Cruzadas também contribuiu para o 
reavivamento dessa atividade econômica, na medida em que eles tiveram acesso 
aos mercados do Oriente, onde adquiriram produtos e artigos diversos – como 
especiarias, tecidos e outros artigos de luxo – que despertavam o interesse dos 
indivíduos no Ocidente, sobretudo, dos membros do clero e da nobreza. Além 
disso, com a participação nas Cruzadas, os comerciantes puderam adquirir essas 
mercadorias em seus territórios de origens ou próximo a eles, reduzindo os cus-
tos com transporte e com intermediários.
O aumento da circulação dos artigos vindos do Oriente, no interior do Ocidente, 
aqueceu o comércio naquela região, visto que o interesse por essas mercadorias 
aumentou consideravelmente. A nobreza refinou-se e passou a se interessar pelas 
mercadorias trazidas do Oriente, não poupando esforços para adquiri-las. Será 
nesse contexto que o comércio medieval se desenvolverá e contribuirá para o nas-
cimento das primeiras cidades medievais. Nesse cenário, o campo gradativamente 
perdeu espaço para o mundo urbano, até que, com o fim da Idade Média, a terra 
já não era a principal fonte de status na sociedade. As atividades citadinas passa-
ram a ditar as regras do poder.
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O crescimento das atividades comerciais despertou o interesse de muitos 
medievos que até aquele momento estavam ligados às atividades relacionadas 
ao uso da terra. Até mesmo alguns nobres começaram a deixar suas proprieda-
des e se deslocaram para os nascentes centros urbanos para estreitarem os laços 
com os comerciantes e conseguir suas mercadorias. Essa mudança de compor-
tamento da nobreza veio acompanhada de uma crise na agricultura, visto que 
as terras passaram a ser administradas de longe pelos seus donos. Além disso, 
camponeses livres também tentaram se dedicar às atividades relacionadas ao 
comércio, fazendo com que, paulatinamente, a agricultura cedesse lugar ao 
comércio enquanto atividade principal da sociedade ocidental.Outro fator que contribuiu para o renascimento comercial foi o resultado 
positivo dessas atividades. Os lucros obtidos com o comércio fizeram com que 
essa atividade fosse vista por um novo ângulo. A possibilidade de enriquecimento 
levou inúmeros medievos a trocarem o trabalho na terra pelo trabalho nas nas-
centes cidades. É claro, caro(a) aluno(a), que nem todo aquele que se dedicou 
ao comércio no período que abordamos conseguiu obter sucesso. No entanto, à 
medida que o Ocidente aproximava-se do século XVI, podemos observar a ascen-
são da classe comerciante, ou seja, da burguesia, que ganhou espaço e se tornou 
um elemento de suma importância para o rompimento com as antigas estruturas.
Diante desse cenário que aos poucos vamos desenhando e compreendendo, 
caro(a) acadêmico(a), é importante termos em mente que o renascimento comer-
cial e urbano é um fator que merece destaque quando estudamos a Baixa Idade 
Média e o fim do feudalismo. No entanto, ele não foi o único responsável pelo 
contexto de transformações que se instalou na Europa medieval a partir do 
século XIV. Assim como veremos nas próximas páginas, uma série de fatores 
contribuiu para a transformação do mundo medieval tal como o conhecemos 
ao longo de nosso estudo.
Dessa maneira, é preciso ressaltar aqui, que esse não é um processo que ocorre 
em um curto espaço de tempo. Entre o processo de desenvolvimento comercial 
e urbano e a desestruturação do feudalismo com o consequente fim da Idade 
Média decorre um período de tempo que abrange cinco séculos.
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AS FEIRAS MEDIEVAIS
O comércio desenvolvido a partir do século XI era realizado pelos mercadores 
que negociavam tanto com a população do Ocidente, nas aldeias e nos bur-
gos, quanto com os comerciantes do Oriente, de onde traziam diversos tipos 
de mercadorias. Assim, com o renascimento do comércio foram criadas duas 
rotas principais por onde se estabeleciam as atividades, fazendo a ligação entre 
as duas metades da Europa.
A primeira rota compreendia o mar do Norte e o mar Báltico, ligando a 
Inglaterra à Rússia e à Escandinávia. Os produtos comercializados por essa rota 
eram a lã, o sal, os cereais, o vinho e entre outros. A segunda rota fazia a ligação 
entre o Ocidente e o Oriente. Nessa região, as cidades italianas de Gênova e Veneza 
destacaram-se, nesse período, como importantes centros comerciais. Por meio do 
mar Mediterrâneo, essas cidades estabeleceram o comércio com regiões da África, 
Alexandria e Bizâncio, e os principais produtos comercializados eram as especia-
rias, o marfim, o ouro e os produtos procedentes da índia e da China.
A criação dessas rotas 
comerciais possibilitou o nas-
cimento das chamadas feiras 
medievais, que se caracterizavam 
pelo encontro de mercadores 
oriundos de diversas regiões da 
Europa em uma determinada 
região, com o objetivo de reali-
zar trocas comerciais e estreitar 
as relações comerciais entre os 
diversos pontos da Europa. As 
feiras eram realizadas várias vezes ao ano e sempre nas proximidades das pro-
priedades feudais, geralmente, próximas às estradas. As mais importantes entre 
os séculos XI e XIII foram as feiras de Champanhe, na França, em Flandres, atual 
Bélgica, e as de Gênova, na Itália.Essa aglomeração nas proximidades das pro-
priedades de senhores feudais está no germe de formação das cidades medievais.
Figura 1 - Especiarias
Fonte: Shutterstock.
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Os senhores feudais, assim 
como os príncipes e duques, esti-
mulavam o estabelecimento de 
feiras próximas aos seus territórios, 
com a intenção de adquirir os pro-
dutos, além de enxergarem, nessas 
feiras, uma possibilidade de novos 
rendimentos, já que, para funciona-
rem, os mercadores e comerciantes 
deveriam pagar uma taxa aos prín-
cipes ou aos duques. Em troca, os 
dirigentes ofereciam as garantias 
necessárias para o funcionamento das atividades comerciais, como proteção, 
condições de armazenamento dos produtos e salvo-conduto para os comerciantes.
A importância dessas feiras revela-se, também, no aspecto monetário. A 
moeda passou a ser o elemento de troca entre os mercadores e, levando-se em 
consideração a concentração de comerciantes das diversas partes da Europa, 
existiam, também, vários tipos de moeda, o que, em certa medida, dificultava 
as trocas comerciais, devido às diferenças de pesos e de valores.
O período auge das feiras medievais se deu entre os séculos XII e XIII. A 
partir do século XIV, as feiras medievais começaram a perder força, devido à 
fixação dos comerciantes em determinadas regiões, fazendo com que desapa-
recesse a necessidade de deslocamento para promoverem as trocas comerciais.
Figura 2 - Representação de uma Feira Medieval
Fonte: Wikimedia Commons (2018, on-line)¹.
Figura 3 - Moedas Medievais
Fonte: Shutterstock.
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A EVOLUÇÃO E EMANCIPAÇÃO DAS CIDADES
Ao longo da nossa discussão, evidenciamos o fato de que, com o advento da 
Idade Média, as atividades comerciais desenvolvidas na Antiguidade perderam 
espaço para a agricultura, em um processo de ruralização da economia cuja maior 
expressão foi a consolidação do feudalismo na Europa Ocidental. No entanto, 
não podemos deixar de estar atentos ao fato de que o comércio nunca desapare-
ceu por completo na Idade Média, enquanto atividade econômica. Mesmo com 
o surgimento de um cenário político-econômico marcado pelo uso da terra e 
o nascimento de uma nobreza senhorial, a sociedade medieval contava, ainda, 
com pessoas ligadas às atividades que não estavam condicionadas, ao menos de 
maneira direta, ao uso da terra. 
Desse modo, na base da pirâmide social que descrevemos na unidade sobre 
o feudalismo, encontravam-se, além dos servos e dos camponeses livres, os 
artesãos, pequenos inventores e, certamente, os mercadores e comerciantes. O 
trabalho desses indivíduos não estava atrelado às atividades agrícolas ou ao uso 
da terra. Eles permaneceram no que sobrou das antigas cidades existentes antes 
das primeiras invasões bárbaras e que, após esse episódio, perderam autonomia 
e sofreram transformações profundas na sua organização.
A partir do início da Idade Média e, sobretudo, da feudalização da Europa 
Ocidental, as antigas cidades romanas ficaram ligadas às propriedades feudais, 
estando, sua administração, sob o domínio dos senhores feudais. Além disso, 
funcionavam mais como centros religiosos e as atividades econômicas nelas 
desenvolvidas tinham caráter secundário dentro do contexto econômico do perí-
odo medieval (PIRENNE, 2009).
A cidade medieval permanece mesclada ao campo, deixando de fora de 
suas muralhas subúrbios e um arrabalde plantados no campo, acolhendo 
no interior de seus muros, em compensação, pedaços do campo (...).
(Jacques Le Goff) 
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Essas cidades, agora, encontravam-se cercadas por grandes muralhas, construídas 
como medidas de proteção aos ataques externos. Além de servirem como cen-
tros religiosos, eram fortificadas e cercadas por muralhas e serviram de repouso 
para os mercadores e suas famílias, oferecendo, também, um local seguro para 
guardar as mercadorias comercializadas nas feiras.
Conforme aponta Pirenne,
A organização comercial da Idade Média, tal como nos esforçamos por 
descrever, tornava indispensável o estabelecimento em lugar fixo de 
mercadores-viajantes em que repousava. Nos intervalos das suas via-
gens, e sobretudodurante a estação má, que tornava o mar, os rios e 
os caminhos inabordáveis, deviam necessariamente aglomerar-se em 
certos pontos do território. Foi naturalmente em pontos cuja situação 
facilitava as comunicações e onde podiam ao mesmo tempo pôr em 
segurança o seu dinheiro e os seus bens que eles se concentraram ini-
cialmente. Transportaram-se então para as cidades ou para os burgos 
que melhor respondiam a essas condições (PIRENNE, 2009, p. 112).
A concentração dos homens de negócio da Idade Média entre as muralhas das 
antigas cidades romanas, transformadas, no período que abordamos, em centros 
religiosos e administrativos, fez nascer os burgos e os portus, espécie de bairros 
de caráter comercial, que se expandiriam com o desenvolvimento comercial e 
modificariam as características das cidades medievais.
Os burgos e os portus, na medida em que as atividades comerciais cresciam e seus 
habitantes aumentavam, buscaram conquistar a independência em relação aos 
senhores feudais. Lembre-se, caro(a) estudante, de que já mencionamos que as 
Já antes do fim do século XI, estes homens passaram a ser designados atra-
vés do novo termo burguês, porque desde muito cedo, o aglomerado dos 
mercadores (concentrado em função dos “burgos” ou das velhas cidades) 
foi também rodeado por uma muralha ou por uma paliçada indispensável à 
sua segurança, tornando-se assim, por seu turno, um “burgo”.
(Guy Fourquin)
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antigas cidades romanas passaram ao domínio dos príncipes e estavam ligadas 
às propriedades feudais. Do mesmo modo, os burgos e portus também estavam 
submetidos à autoridade dos senhores feudais, que lhes ofereciam proteção e 
outros benefícios já descritos, em troca do pagamento de impostos.
Os espaços ocupados pelos artesãos e mercadores comerciantes ganhavam 
importância e se transformavam, pouco a pouco, em importantes centros eco-
nômicos. Sendo assim, esses indivíduos reivindicavam a liberdade e a autonomia 
para comandarem esse desenvolvimento livres do julgo da nobreza feudal. A 
inquietação deles criou um movimento para pressionar os senhores feudais a 
concederem a liberdade político-administrativa das regiões que viriam a se con-
solidar enquanto cidades. A esse movimento, os historiadores chamaram de 
movimento comunal, pois consistia na tentativa de obtenção de uma comuna, 
ou uma carta de franquia, a qual representava o elemento de independência em 
relação aos senhores feudais.
De acordo com Fourquin,
Algumas causas da <<revolução comunal>> foram de ordem jurídi-
ca (vontade de escapar aos tribunais senhoriais, duros e inadaptados e 
que aplicavam um direito que ignorava o comércio e os mercadores), e 
outras de ordem política: a sociedade de negociantes já ricos procurou 
sacudir o jugo de uma sociedade <<territária>>, dotando-se de ins-
tituições próprias bem diferenciadas das do meio rural. Mas diversas 
outras causas eram puramente económicas: o desenvolvimento comer-
cial era prejudicado pela ineficácia da proteção senhorial em favor das 
trocas, dos mercadores de feira que frequentavam o mercado urbano e 
as exacções, que muitos senhores exerciam sobre o mundo do negócio, 
eram também um obstáculo sério (FOURQUIN, 1991, p. 245).
A conquista da emancipação da tutela dos senhores feudais ocorreu tanto pelo 
pagamento de uma taxa ao senhor feudal responsável pela administração da 
cidade ou do burgo quanto pelas vias armadas. Nesse último caso, houve situa-
ções em que os reis e príncipes apoiaram os habitantes das cidades ou dos burgos 
na luta contra a nobreza, no intuito de lhes mostrar a sua superioridade.
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Seja por meio do pagamento, seja por meio 
de conflitos armados, entre os séculos XI e 
XIII, inúmeras cidades e burgos conquista-
ram a liberdade, emancipando-se do domínio 
da aristocracia feudal. As cidades emancipa-
das foram chamadas de comunas e buscaram, 
imediatamente, após a liberdade, organizar 
seus sistemas de administração pública, que 
consistia, basicamente, na criação de um con-
selho que contava com representantes dos 
artesãos, dos comerciantes e de grupos ou 
de famílias de pessoas importantes. A esses 
homens, cabiam as decisões acerca dos rumos 
das cidades, bem como o controle das recei-
tas das cidades e a sua aplicação.
AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO E AS ATIVIDADES ECONÔMICAS 
NAS CIDADES MEDIEVAIS
As cidades recém-emancipadas organizaram-se sob um modelo diferente do que 
vigorava no mundo feudal, sobretudo no que dizia respeito às atividades econômicas.
Nos centros urbanos, a existência das chamadas corporações de ofício regu-
lava as atividades dos artesãos e dos comerciantes, coordenando e organizando 
Não podemos homogeneizar a maneira pela qual as cidades medievais se 
desenvolveram, na medida em que, como já exposto em outros momentos, 
as conjunturas sobre as quais se desenrolou o período medieval não eram 
exatamente iguais em toda a Europa.
Figura 4 - Vista da cidade medieval de 
Toledo, na Espanha
Fonte: Commons Wikimedia (2011, on-
line)2.
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o desenvolvimento das atividades econômicas das cidades. Segundo Heilbroner 
e Milberg (2008), as corporações de ofício eram:
[...] organizações comerciais, profissionais e artesanais com origem em 
Roma. Elas eram as “unidades de negócios” da Idade Média; na verda-
de, as pessoas só podiam abrir “seu negócio” se este estivesse vincula-
do a uma corporação de ofício. As corporações de ofício, assim, eram, 
uma espécie de união exclusiva, não de trabalhadores, mas de mestres 
(HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 47).
Assim, as corporações de ofício representavam uma instituição da cidade medie-
val com o objetivo de regular e orientar tanto o trabalho quanto à postura dos 
indivíduos a elas vinculados. Essas corporações também tinham, por finalidade, 
evitar a concorrência entre os comerciantes e os artesãos das cidades, pois impe-
diam que uma associação de profissionais de um mesmo setor se instalasse em 
regiões onde já havia uma corporação do mesmo setor produtivo. As corpora-
ções de ofício foram, portanto, unidades importantes para a regulamentação das 
atividades comerciais nas cidades medievais.
Embora tenham conquistado autonomia em relação aos senhores feudais, as 
cidades medievais ainda eram submetidas ao poder monárquico. Nesse sentido, 
os direitos adquiridos por elas eram limitados. Um exemplo disso é o fato de 
que as cidades não tinham o direito de cunhar sua própria moeda. Ela era emi-
tida pelo monarca, sendo que seu peso e valor variavam de cidade para cidade, 
de região para região, o que dificultava as relações comerciais.
Por causa da existência de várias moedas nesse período da Idade Média, os 
comerciantes optaram pelo uso das chamadas letras de câmbio, na tentativa de 
facilitar as trocas comerciais e evitar fraudes ou prejuízos. As letras de câmbio 
funcionavam como uma garantia de que os comerciantes receberiam o valor cor-
reto das mercadorias em qualquer região em que atuassem.
As letras de câmbio da Idade Média podem, em certa medida, ser compa-
radas a uma nota promissória como a usada na atualidade. No caso da Idade 
Média, o comerciante entregava a mercadoria a um comprador de uma deter-
minada região em troca de um papel assinado. Ao voltar para sua cidade, com 
esse papel, ele resgatava o valor correspondente da mercadoria entregue.
Desse modo, o renascimento comercial e urbano foram os responsáveis, direta 
e indiretamente, pelo aparecimento de uma figura social até então inexistente: o 
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banqueiro. Os bancos e os banqueiros tornaram-se essenciais quando o comércio 
voltou a se desenvolver e as cidades se transformaram em centros econômicos. 
Sem eles, as relações comerciais seriam muito mais complexas, devido à diver-
sidade de moedas existentes na época.
Como é possível observar, caro(a) aluno(a), o renascimento comercial e 
urbano contribuiu para a modificação das estruturas econômicas e sociais da 
sociedade medieval, lançando as bases para o fim da Idade Média.
O SURGIMENTO DAS UNIVERSIDADES MEDIEVAIS
Caro(a) aluno(a), já discutimos em unidades anteriores as características do pensa-
mento medieval, um pensamento fortemente ligado e influenciado pelo cristianismo 
e pela doutrina católica. Nesse momento, vamos nos aprofundar um pouco mais 
nesse aspecto da cultura medieval e discorrer acerca do nascimento das primeiras 
universidades na Idade Média e a consequente evolução do pensamento.
As primeiras escolas criadas na Idade Média eram todas ligadas à Igreja, fato 
que limitava a expansão do pensamento e o desenvolvimento de um senso crí-
tico. Nessas escolas, os alunos recebiam uma educação de caráter religioso, pois 
eram preparados para a vida eclesiástica. Os alunos que frequentavam essas esco-
las eram jovens interessados nos ensinamentos de mestres famosos ou, ainda, 
aqueles filhos da nobreza prejudicados pelo direito de primogenitura.
Nessas escolas, prevalecia o ensino da gramática, da dialética, retórica, mate-
mática, geometria, música e astronomia e, conforme aponta Verger:
O método era sempre o mesmo: o mestre lia o texto a ser estudado (lec-
tio) interrompendo em alguns trechos sua leitura para um comentário 
que precisava o sentido literal (sensos) da passagem, depois extraía seu 
sentido profundo e oculto (sententia). Em seu Didascalion, Hugo de 
São Vitor, que foi, na primeira metade do século XII, o principal mestre 
da escola canônica de Saint-Victor de Paris, forneceu um quadro muito 
preciso do que devia ser esse método da lectio, aplicado tanto às Artes 
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liberais quanto à Teologia; mostra, entre outros, como a utilização das 
artes do trivium e do quadrivium pode ajudar a extrair os diferentes 
sentidos da Sagrada Escritura; através de sua exposição, percebe-se que 
essa pedagogia do início do século XII atingira um nível notável de 
acuidade e de rigor mas permanecia, contudo, muito submissa à letra 
dos textos explicados (VERGER, 1990, p. 21).
Embora, dentre as disciplinas existentes nessas primeiras escolas europeias do 
período medieval, a dialética fizesse-se presente, cabe ressaltar que seu princípio 
básico não era incentivado, na medida em que, como já dissemos, essas esco-
las estavam ligadas à Igreja, portanto voltadas para uma educação doutrinária e 
que não abria espaço para argumentações ou para questionamentos, sob o risco 
de uma acusação de heresia.
O renascimento comercial e urbano contribuiu para que esse cenário se modi-
ficasse. O desenvolvimento das cidades foi essencial para que o pensamento 
escolástico lançasse mão da dialética e da construção de um saber mais equili-
brado entre a teologia e a filosofia
Foi nesse contexto do renascimento comercial e urbano que as obras dos 
grandes pensadores da antiguidade clássica foram retomadas pelos medievos, 
iniciando-se uma onda de tradução dessas obras, mesmo que, muitas vezes, essas 
Dialética era, na Grécia antiga, a arte do diálogo. Aos poucos passou a ser a 
arte de, no diálogo, demonstrar uma tese por meio de uma argumentação 
capaz de definir e distinguir claramente os conceitos envolvidos na discus-
são.
[...]
Na acepção moderna, entretanto, dialética significa outra coisa: é o modo 
de pensarmos as contradições da realidade, o modo de compreendermos 
a realidade como essencialmente contraditória e em permanente transfor-
mação
Fonte: Konder (1981, p. 01).
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traduções não fossem de qualidade, o que prejudicava o seu entendimento. Além 
disso, é importante destacarmos, caro(a) aluno(a), que, como observamos quando 
discutimos o pensamento escolástico, a Igreja tentou usar os princípios elabora-
dos por Platão, Aristóteles e outros, como meio de justificativa para seus dogmas.
O desenvolvimento urbano também 
foi importante, porque fez com que o 
número de alunos nas escolas aumentasse, 
provocando a demanda de mais estabeleci-
mentos de ensino nas cidades, bem como 
de mestres aptos a lecionar nesses estabe-
lecimentos. Segundo Verger (1990), o III 
Concílio de Latrão, em 1179, estabeleceu 
os princípios de criação de novas escolas 
e da escolha de novos mestres que ocupa-
riam o posto de docentes nessas escolas.
A ampliação dos estabelecimentos de 
ensino, somada à concessão de direito de 
lecionar a novos mestres e a ampliação das 
traduções de obras de grandes pensadores 
clássicos, contribuiu para que se iniciasse 
uma mudança nos métodos de ensino e na 
própria forma de pensar dos indivíduos. 
A dialética ganhou espaço e, com isso, o 
ensino tomou novos rumos na Europa, ao longo do século XII.
O progresso comercial também foi importante nesse cenário de ampliação 
das escolas e de mudanças no processo de ensino. Isso, porque, à medida que as 
relações comerciais e a conquista de autonomia das cidades cresciam, a exigên-
cia por indivíduos melhor qualificados para ocuparem cargos relativos tanto à 
administração das cidades quanto à administração dos próprios reinos também 
aumentava. Os próprios monarcas passaram a procurar intelectuais com melhor 
formação para auxiliá-los na administração.
Figura 5 - Platão 427 a.C. Suas obras e de 
outros pensadores foram utilizadas como 
base para o pensamento escolástico no 
período medieval
Fonte: Wikimedia Commons (2013, on-
line)³.
A BAIXA IDADE MÉDIA E AS TRANSFORMAÇÕES NO OCIDENTE MEDIEVAL
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rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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A EVOLUÇÃO DAS ESCOLAS E A CRIAÇÃO DAS PRIMEIRAS 
UNIVERSIDADES MEDIEVAIS
A evolução das escolas medievais e o nascimento das primeiras universidades 
estão diretamente ligados, conforme já afirmamos, ao desenvolvimento comer-
cial e urbano. Os comerciantes, os artesãos, os mercadores e os banqueiros 
reconheciam a necessidade de ampliar seus conhecimentos, a fim de melhor 
conduzirem seus negócios. Em uma realidade onde a maioria significativa das 
escolas estavam ligadas à Igreja e voltada para uma formação eclesiástica, esses 
homens precisaram recorrer à pressão e à busca de apoio para que as escolas lei-
gas se multiplicassem e pudessem atender a todos.
Outro fator relevante para o nascimento das universidades foi a associação 
de mestres que lecionavam nas escolas e que pretendiam ter uma autonomia 
maior em relação à Igreja, objetivando um aprofundamento da dialética enquanto 
método de ensino, o que não era bem visto pela Igreja Cristã medieval. Os monar-
cas também estavam interessados na ampliação e na evolução das escolas, visto 
que essas instituições poderiam formar as mentes intelectuais que eles busca-
vam para ajudá-los na administração dos seus territórios.
Embora não visse com bons olhos a criação de centros de ensino basea-
dos em uma metodologia com teor mais argumentativo e questionador, a Igreja 
também apoiou a instalação de universidades, desde que elas mantivessem seu 
caráter religioso. Para a Igreja, as universidades representavam a possibilidade 
de ampliar o alcance do cristianismo.
Como podemos observar, caro(a) aluno(a), a partir do século XII, as conjuntu-
ras econômicas e sociaiscontribuíram para a evolução do ensino e o florescimento 
O desenvolvimento comercial e urbano proporcionou a expansão do ensi-
no, contribuindo para a procura maior por indivíduos melhor instruídos, fato 
que se assemelha aos dias de hoje, em que o mercado exige profissionais 
qualificados.
O Surgimento das Universidades Medievais
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das universidades, instituições que se transformariam em verdadeiros centros 
de produção do saber, tornando-se mais um elemento de desestruturação do 
mundo medieval.
De acordo com Oliveira,
No início do século XIII, o papa e os príncipes encaravam essas insti-
tuições como importantes pontos de apoio político e cultural. Em fun-
ção disso, editaram leis e bulas com o objetivo de instituí-las, protegê-
-las e nelas intervir, tanto no ensino como nas relações entre estudantes 
e mestres e entre estes e a comunidade (OLIVEIRA, 2007, p. 120).
Cada qual pensando em seus 
próprios interesses, o governo 
monárquico e a Igreja Cristã foram 
os responsáveis pela criação das 
primeiras universidades na Idade 
Média, a partir do século XIII. As 
mais importantes foram a de Paris 
e a de Bolonha, ambas estabeleci-
das enquanto Universidades entre 
os séculos XII e XIII e reconhecidas 
pela historiografia como represen-
tações das mudanças sociais pelas quais a Europa medieval passava nos séculos 
em questão. O conhecimento intelectual, filosófico e científico sobrepujava o 
caráter religioso e doutrinário do conhecimento produzido até então.
Figura 6 - Universidade Sorbonne, em Paris, em 14 de 
setembro de 2013. O nome é derivado da Faculdade de 
Sorbonne, fundada por Robert de Sorbon (1257) - uma 
das primeiras Universidades medievais
Fonte: Shutterstock.
Nas primeiras Universidades criadas na Idade Média, o ensino foi influen-
ciado pelos princípios cristãos. Hoje, podemos comparar os princípios que 
norteiam a Educação Superior com as ambições daqueles que investiram na 
instituição de centros de saber no Período Medieval?
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A PESTE NEGRA
Caro(a) aluno(a), até este momento, nós estudamos as transformações que 
ocorreram na Europa medieval a partir do século X e que representaram o 
(re)nascimento de instituições que, de acordo com os intelectuais do Período 
Renascentista e do Iluminismo, representaram um avanço em uma sociedade 
até então dominada pela cultura imposta pelos dogmas religiosos.
A partir do século XI, o Ocidente medieval viu as atividades relacionadas ao 
comércio voltarem a se desenvolver e, com isso, os centros urbanos também flo-
resceram. Surgiram novos atores sociais e toda essa atmosfera possibilitou uma 
mudança na mentalidade medieval, sobretudo, com o advento das primeiras 
universidades. A Europa medieval vivia, então, períodos de prosperidade, que 
mudaram as conjunturas de uma sociedade nascida sob o signo da agricultura e 
da imobilidade social.
Esse período de progresso e de desenvolvimento teve seu auge entre os séculos 
XI e XIII. Entretanto, quando o século XIV chegou, ele trouxe consigo acontecimen-
tos que novamente provocariam mudanças significativas na sociedade medieval. 
A historiografia descreve o século XIV como um século conturbado no período 
medieval, e que contribuiu para que os alicerces dessa sociedade sofressem um 
abalo, visto que foi um século marcado por epidemias, crises de abastecimento e 
guerras, elementos que se apresentaram como transformadores da ordem vigente.
Fonte: Shutterstock.
A Peste Negra
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Dentre esses acontecimentos, destacaremos, aqui, o surto epidêmico que 
assolou a Europa no século XIV e foi o responsável pela pausa nos avanços que 
estavam acontecendo na Europa desde o século XI. Essa epidemia foi chamada 
de Peste Negra, devido às marcas deixadas pelos corpos daqueles que por ela 
foram acometidos.
A descrição da doença quem nos apresenta é Tuchman:
Os marinheiros doentes tinham estranhas inchações escuras, do tama-
nho de um ovo ou uma maçã, nas axilas e nas virilhas, que purgavam 
pus e sangue e eram acompanhadas de bolhas e manchas negras por 
todo o corpo, provocadas por hemorragias internas. Sentiam dores e 
morriam rapidamente cinco dias depois dos primeiros sintomas. Com 
a disseminação da doença, outros sintomas, como febre constante e 
escarro sangrento, surgiram em lugar das inchações ou bubões. As ví-
timas tossiam, suavam muito e morriam ainda mais depressa, dentro 
de três dias ou menos, por vezes, 24 horas. Nos dois casos, tudo o que 
saía do corpo – hálito, suor, sangue dos bubões e pulmões, urina san-
guinolenta e excrementos enegrecidos pelo sangue – cheirava mal. A 
depressão e o desespero acompanhavam os sintomas físicos e “a morte 
se estampava no rosto” (TUCHMAN, 1999, p. 87).
Como é possível observar por meio da descrição da autora, a doença que tomou 
conta da Europa no século XIV trouxe consigo o medo e o desespero diante de 
algo nunca visto até então.
Sobre a Peste Negra ou, ainda, peste bubônica, acredita-se que tenha se origi-
nado em regiões do Oriente e da África, sendo trazida para a Europa Ocidental 
pelos navios mercantes que circulavam entre essas regiões desde o século XI. A 
doença podia atingir a corrente sanguínea, sendo a contaminação feita por meio 
Pesquisas recentes apontam para o fato de que a Peste Negra pode ter sido 
transmitida por humanos. Para saber mais sobre essas pesquisas, acesse: 
<https://www.bbc.com/portuguese/geral-42697733>. 
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do contato com as ínguas que surgiam no corpo, ou se apresentava em forma 
virulenta e pneumônica, atingindo os pulmões e sendo transmitida pelas vias 
respiratórias (TUCHMAN, 1999, p. 87).
A chegada da Peste Negra na Europa criou um estado de pânico, medo e depressão 
nos indivíduos. Os historiadores do período o descreveram como uma época em 
que as relações pessoais deixaram de existir. Sentimentos e emoções entre as pessoas 
foram colocados de lado e tudo se resumia em se afastar dos doentes, mesmo que 
isso significasse deixar para trás cônjuges, filhos, irmãos, não importava quem fosse.
Tal reação devia ao fato de que a doença agia de forma rápida. Espalhou-se 
rapidamente pela Europa e matou com a mesma rapidez. Estima-se que cerca de 
um terço da população europeia tenha sido afetada pela doença. Além da rapidez 
com que a doença se espalhou, a reação das pessoas estava intimamente ligada 
com o medo do desconhecido. A medicina, muito rudimentar ainda nesse perí-
odo, não conseguiu encontrar as respostas que pudessem ajudar na cura ou até 
mesmo na elaboração de remédios para conter o avanço da doença.
Figura 7 - Mapa de alcance da Peste Negra no período medieval
Fonte: Wikimedia Commons (2005, on-line)⁴.
A Peste Negra
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Os indivíduos se fecharam em suas casas diante de algo que não conheciam 
e que representava a dor e a morte. Cronistas da época diziam que a Peste Negra 
gelou o coração dos homens, que significou o fim, a morte das relações pessoais, 
da solidariedade e da caridade. Como não conheciam as causas ou a cura para 
a epidemia que sobre eles recaiu, acreditavam que aquela situação era fruto de 
uma imposição divina. Sendo assim, os indivíduos buscavam formas de peni-
tência para se redimirem diante de Deus.
Diante desse quadro, toda 
a Europa sofreu. Devido ao 
grande número de mortes e à 
indisposiçãodos indivíduos 
para o trabalho, a economia 
entrou em colapso. No campo, 
a agricultura foi deixada de lado, 
as colheitas se perderam. Nas 
cidades, o comércio ficou estag-
nado diante da realidade que se 
vivia. Pelas cidades, antes zonas 
de intensas atividades, encon-
travam-se os corpos dos mortos 
de quem ninguém se preocupou 
em enterrar, fato que contribuiu 
ainda mais para a dissemina-
ção da doença. Os comerciantes, 
mercadores, banqueiros, sobretudo, os judeus, foram hostilizados e, sobre eles, 
recaiu uma parcela de culpa pelo que acontecia. Suas atividades, que visavam à 
obtenção de lucro, e sua ganância foram considerados os motivos pelos quais 
Deus castigava a humanidade. Desse modo, o século XIV trouxe, ainda, para 
esses indivíduos, o ódio e a perseguição dentro da sociedade. Não era possível, 
nessas condições, haver progresso e desenvolvimento.
Figura 10 - Gravura representando a morte no período da 
Peste Negra
Fonte: Shutterstock.
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AS RAÍZES MEDIEVAIS DOS ESTADOS NACIONAIS 
MODERNOS
Prezado(a) aluno(a), observamos, no início desta unidade, o processo de renas-
cimento comercial e urbano ocorrido a partir do século XI, em grande medida, 
como consequência das Cruzadas. Foi exposto que o comércio voltou a se destacar 
enquanto atividade econômica e que cada vez mais as atividades relacionadas ao 
uso da terra perdiam espaço. Assim, entraram em cena os indivíduos que, até então, 
pouco se destacavam, permanecendo na base da pirâmide social da Idade Média.
Mesmo após o surgimento das universidades diante da maior adversidade 
pela qual a sociedade medieval passou, os olhares se voltaram para a reli-
gião, em busca de uma explicação e de uma solução para o mal que atingiu 
esses indivíduos.
Fonte: Shutterstock.
As Raízes Medievais dos Estados Nacionais Modernos
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Esses indivíduos, chamados de burgueses, contrapunham-se à nobreza 
senhorial, pois suas atividades supunham modelos ou sistemas de organização 
política distintos. Para a nobreza, o feudalismo representava o sistema político 
ideal para seus interesses. Nesse sistema, a sociedade estava organizada de forma 
que o poder político fosse transferido das mãos dos monarcas – reis, príncipes ou 
duques – para as mãos dos grandes proprietários de terras, os senhores feudais. 
Essa organização permitia que a nobreza feudal administrasse seus territórios 
de maneira a defender e proteger seus interesses.
Se, por um lado, o modo de produção feudal beneficiava a nobreza senhorial, 
por outro, dificultava o desenvolvimento de outros setores que não dependiam 
diretamente do uso da terra, como as atividades desempenhadas pelos artesãos 
e pelos comerciantes. Somente com a ampliação do contato com o Oriente, pos-
sibilitado com a instalação das Cruzadas, é que esses indivíduos conseguiram 
ver suas atividades se desenvolverem.
Com isso, a partir do século XI e, sobretudo, nos séculos XII e XIII, as ati-
vidades comerciais ganharam novo fôlego e os burgueses passam a lutar por 
mudanças que facilitassem a expansão de seus setores. Nesse contexto, o feuda-
lismo e o domínio dos senhores feudais representavam um entrave às atividades 
econômicas burguesas e era preciso superá-los.
É da necessidade de superar o modelo imposto pelo feudalismo e o domínio 
da nobreza senhorial que os burgueses se aliarão aos monarcas para fragilizar o 
poder concedido a essa classe. Assim, por meio de uma aliança que beneficiava 
tanto uma classe quanto a outra, burguesia e monarquia estabeleceram as regras 
que acabariam com o poder político dos senhores feudais. Para os monarcas, 
essa aliança era vantajosa na medida em que os ajudariam a recuperar o poder 
político, perdido desde o fim do século IX e início do século X, com a consoli-
dação do feudalismo. Para a burguesia, a aliança levaria ao enfraquecimento dos 
senhores feudais e a centralização do poder nas mãos do rei, fato que permiti-
ria que o rei organizasse a sociedade de maneira a criar os elementos essenciais 
para o crescimento comercial.
Nesse sentido, a classe comercial necessitava de um governo que organizasse 
a sociedade de maneira a eliminar as diferenças regionais que impunham um 
sistema monetário diverso, assim como um sistema de pesos e medidas também 
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desigual. Além disso, os impostos e as taxas cobrados em vários territórios difi-
cultavam e ameaçavam a prosperidade comercial. Somente a centralização do 
poder seria capaz de eliminar as barreiras impostas ao comércio. As necessida-
des da burguesia comercial e sua aliança com os monarcas serão as bases para o 
processo de formação das monarquias nacionais, características do século XVI. 
Esse não seria um processo fácil.
Durante séculos, os indivíduos se habituaram a organizar-se em torno de famí-
lias cujo poder se fundamentava na posse da terra, e as relações eram baseadas na 
prestação de homenagens e juramentos de fidelidade. Por isso, não seria fácil romper 
com essa tradição e fazer que os indivíduos reconhecessem a autoridade de um rei.
Além do reconhecimento da figura do rei como autoridade máxima por parte 
dos indivíduos, para que os poderes locais sejam diluídos e um Estado seja for-
mado, é preciso, também, que o rei assuma o comando das instituições existentes, 
além do comando jurídico, civil e militar sobre os cidadãos. Para que isso acon-
tecesse, foi preciso que os reis fizessem valer sua autoridade sobre os senhores 
feudais. Tal conquista foi garantida por meio da criação de um exército fixo e 
permanente que substituiu os cavaleiros que ainda existiam.
Strayer aponta, ainda, que:
Terá de haver instituições capazes de sobreviver às alterações da lide-
rança e às flutuações do grau de cooperação entre os vários subgrupos, 
instituições que permitam um certo grau de especialização nas ques-
tões políticas, aumentando assim a eficiência do processo político, ins-
tituições que fortaleçam o sentimento de identidade política do grupo. 
Quando tais instituições surgem, atingiu-se um ponto-chave na consti-
tuição do estado (STRYER, 1986, p. 12-13).
Um estado existe, sobretudo no coração e no espírito do seu povo; se este 
não acreditar na existência do estado, nenhum exercício de lógica lhe pode-
rá dar a vida.
(Joseph R. Stryer) 
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As instituições citadas por Strayer são aquelas cujos laços são impessoais, ao 
contrário do que acontecia na sociedade medieval e, até mesmo, do que aconte-
cia anteriormente. Por essa razão, o Estado nascido no final da Idade Média era 
algo novo e que tomaria forma e se consolidaria no decorrer dos anos seguin-
tes ao período medieval.
Embora tenhamos mencionado que a formação dos Estados Modernos tenha 
beneficiado a burguesia comerciante, isso não significa que a nobreza feudal foi 
totalmente desfavorecida. Essa camada social passou a ver com bons olhos a cen-
tralização do poder quando, no século XIV, as revoltas camponesas eclodiram 
e colocaram em risco a ordem e suas propriedades. Além disso, o século XIV 
trouxe um período de crise, já discutido anteriormente, e que ocasionou queda 
na produção agrícola, principal fonte de renda desses nobres. Assim, os nobres 
recorriam ao rei em busca de alternativas para superar os momentos de adver-
sidade, fortalecendo a sua condição de líder.
Com o apoio da burguesia comerciante, da nobreza e da classe intelectual 
– que manifestavaseu apoio por meio da publicação de obras que destacavam 
a importância da figura do rei e as funções que cabiam a ele desempenhar – a 
monarquia europeia buscou se organizar, a fim de retomar o poder e prestígio 
que tivera em outros tempos.
Os Estados Nacionais Modernos, como a própria denominação destaca, só 
se consolidariam após o século XV. Nosso objetivo, neste tópico, foi demons-
trar que suas raízes se encontram na Idade Média e que as transformações pelas 
quais a sociedade passou na chamada Baixa Idade Média lançaram as bases para 
sua constituição e consolidação.
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VU N I D A D E192
QUADRO EXPLICATIVO
Baixa Idade Média
RENASCIMENTO 
COMERCIAL
Revolução Agrícola
Cruzadas
Feiras Medievais
Produção de excedentes.
Fortalecimento das relações 
comerciais entre Ocidente e 
Oriente.
Próximas às propriedades 
feudais.
Ponto de encontro entre os 
mercadores medievais.
RENASCIMENTO 
URBANO
Movimento Comunal
Corporações de Ofício
Emancipação das cidades 
da dominação dos senhores 
feudais.
Instituições que regulavam 
e orientavam as relações e o 
trabalho de artesãos e comer-
ciantes.
NASCIMENTO DAS 
UNIVERSIDADES
Evolução das escolas 
medievais
Primeiras Universidades
Ligadas à Igreja Cristã.
Formação dogmática.
Escolástica.
Necessidade de indivíduos me-
lhor capacitados.
Desenvolvimento da dialética.
PESTE NEGRA Século XIV
Surto epidêmico.
Fim do período do desenvolvi-
mento da sociedade medieval.
Crise política, econômica e 
social.
ESTADOS 
NACIONAIS 
MODERNOS
Raízes Medievais
Apoio da burguesia
Apoio ao monarca no processo 
de centralização política.
Constituição de elementos que 
beneficiavam as atividades da 
burguesia.
Considerações Finais
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Prezado(a) acadêmico(a), nesta unidade, buscamos salientar as transformações 
ocorridas na Europa medieval, no período denominado de Baixa Idade Média. 
Nosso objetivo foi demonstrar a trajetória percorrida pela sociedade medieval 
a partir do final do século X, evidenciando os aspectos que caracterizaram esse 
período e de que maneira eles estão relacionados.
Nesse sentido, iniciamos nossa análise discorrendo acerca do processo de 
renascimento comercial e urbano, elemento chave para o desenvolvimento de 
outros processos e instituições que contribuíram para as mudanças que vimos 
ocorrer na sociedade a partir de então.
Com o renascimento comercial e urbano, novos atores sociais entraram 
em cena, e outros, que já estavam ali presentes, ganharam espaço e se torna-
ram essenciais para o funcionamento dessa nova estrutura que se desenhava. 
Esses atores, dentre os quais destacamos os mercadores e os banqueiros, estão 
no cerne de uma revolução, se assim podemos dizer, que possibilitou o advento 
de novas formas de organização da vida e também, como consequência desse 
cenário, novas formas de pensar.
A criação das Universidades, mesmo quando apoiadas pelos monarcas e pela 
Igreja, fez nascer um grupo de intelectuais questionadores e dispostos a romper 
com antigos dogmas e paradigmas. Ainda que sob a insígnia do cristianismo e 
diante do espectro da inquisição, esses intelectuais lançaram os alicerces para a 
formação de uma sociedade mais livre e voltada para uma análise social que não 
levasse em consideração apenas os princípios religiosos.
Observamos, portanto, que até o século XIII, a sociedade medieval conheceu 
um período de progresso e desenvolvimento de formas e instituições que repre-
sentavam uma alternativa à realidade imposta pelo feudalismo séculos antes.
Esse progresso e desenvolvimento foram interrompidos no limiar do século 
XIV, quando a epidemia de Peste Negra atingiu a Europa e, mais uma vez, modi-
ficou as estruturas econômicas e sociais vigentes. O surto de Peste Negra fez a 
Europa entrar em um período de estagnação que levaria, ainda, algum tempo 
para ser superado.
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1. “Uma última transformação será levada a cabo quando a renda em espécie 
tende a ceder lugar à renda em dinheiro. Mas isto corresponde já a uma fase 
de dissolução da sociedade feudal que se realiza em datas bastante distintas 
segundo as regiões. No século XIII, no Ocidente europeu, indicamos já de que 
modo os senhores desejavam cada vez mais dispor de dinheiro líquido e pre-
tendiam exigir mais tributos-dinheiro que produtos” (SANTIAGO, 2015, p. 30-
31). As Cruzadas representaram um elemento de transformação da sociedade 
medieval e sua dinâmica foi um dos fatores que influenciaram no renascimen-
to comercial e urbano. Em relação ao florescimento das atividades comercias e 
o desenvolvimento das cidades entre os séculos XI e XII, assinale a alternativa 
correta:
a) As Cruzadas influenciaram no desenvolvimento comercial a partir do século 
XI, na medida em que possibilitaram que os servos adquirissem poder eco-
nômico e pudessem se dedicar às atividades comerciais.
b) O comércio foi incentivado por uma mudança na postura da nobreza se-
nhorial, que provocou uma crise na agricultura, visto que muitos senhores 
se mudaram para as cidades e passaram a administrar suas terras de longe. 
Essa nobreza se sentiu atraída pelos artigos comercializados e estimularam 
o mercado, tornando-se consumidores.
c) A instalação das feiras medievais pouco influenciou o renascimento urbano, 
pois sua dinâmica não permitia, aos comerciantes e mercadores, fixarem-se 
em uma região, e o seu deslocamento constante era a marca dessas ativida-
des comerciais no período.
d) O processo de emancipação das cidades medievais se desenvolveu de ma-
neira tranquila, na medida em que os próprios nobres se tornaram citadinos 
e auxiliaram no processo de organização política das nascentes cidades.
e) Nas cidades medievais, o poder de alcance da Igreja Cristã foi estendido aos 
citadinos, uma vez que os burgueses seguiam os princípios do cristianismo 
e organizavam suas atividades de acordo com a doutrina cristã.
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2. A imagem refere-se à Universidade de Praga, fundada em 1348. Sobre o proces-
so de fundação das universidades medievais, analise as afirmações seguintes:
Fonte: Shutterstock.
I. As primeiras escolas criadas na Idade Média eram todas ligadas à Igreja, fato 
que limitava a expansão do pensamento e o desenvolvimento de um sen-
so crítico. Nessas escolas, os alunos recebiam educação de caráter religioso, 
pois eram preparados para a vida eclesiástica.
II. O renascimento comercial e urbano, ocorrido entre o final do século XI e iní-
cio do século XII, contribuiu para que esse cenário se consolidasse. O desen-
volvimento das cidades permitiu que a Igreja Cristã expandisse seu alcance 
e domínio, agindo de perto sobre o pensamento dos indivíduos.
III. A ampliação dos estabelecimentos de ensino, somada à concessão de direi-
to de lecionar para novos mestres e a ampliação das traduções de obras de 
grandes pensadores clássicos, contribuiu para que se iniciasse a mudança 
nos métodos de ensino e na própria forma de pensar dos indivíduos.
IV. As Universidades medievais são reconhecidas pela historiografia como re-
presentações das mudanças sociais pelas quais a Europa medieval passava 
nos séculos em questão. O conhecimento intelectual, filosófico e científico 
sobrepujava o caráter religioso e doutrinário do conhecimento produzido 
até então.
É correto afirmar que: 
a) Apenas a II está correta.
b) Apenas a I e III estão corretas.
c) Apenas a II e IV estão corretas.
d) Apenas a IV está correta.
e) Apenas I, III e IV estão corretas.
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3. “No ano do Senhor, 1348, aconteceu sobre quase toda a superfície do globo 
uma tal mortandade que raramente se tinha conhecido semelhante. Os vivos, 
de fato, quase não conseguiam enterrar os mortos, ou os evitavam como hor-
ror. Um terror tão grande tinha-se apoderado de quasetodo o mundo, de tal 
maneira que no momento que aparecia em alguém uma úlcera ou um inchaço, 
geralmente embaixo da virilha ou da axila, a vítima ficava privada de toda as-
sistência, e mesmo abandonada por seus parentes”. A partir da leitura do do-
cumento apresentado, identifique o tema de que ele trata e o relacione com a 
crise na Baixa Idade Média.
Fonte: PAPA CLEMENTIS VI. Vitae Paparum Avenionensium Clementis VI. Primavita. In:______. 
MOLLAT, G. (Ed.) Paris: [s.n.), 1915-1922. p. 252.
4. A imagem representa a cidade medieval de Pitigliano, na Toscana, Itália. Con-
siderando o reavivamento urbano na Baixa Idade Média, assinale a afirmativa 
correta:
Fonte: Shutterstock.
a) A origem das cidades medievais está diretamente relacionada com o nasci-
mento dos Estados Nacionais.
b) O renascimento urbano teve, como característica, a emancipação dos citadi-
nos em relação às influências da Igreja Cristã.
c) As atividades comerciais desenvolvidas nas cidades medievais traziam em
si, também, uma relação com as atividades e moradores do campo.
d) O cotidiano medieval permaneceu inalterado entre os séculos X e XIV, uma
vez que a reurbanização das cidades não provocou mudanças significativas
na estrutura da sociedade.
e) Os monarcas do período entendiam o renascimento comercial e urbano
como um obstáculo aos seus objetivos de promover a centralização política, 
devido ao fortalecimento das autoridades locais.
197 
5. “A ciência medieval apresenta-se-nos sob uma capa desconcertante, tão des-
concertante que tememos a levar a sério. É que, ao contrário das nossas ciên-
cias exactas, ela não é unicamente apanágio do intelecto; o seu domínio per-
manece ligado ao da imaginação e da poesia. [...] A ciência medieval conserva 
este carácter folclórico, o que explica muitas das suas contradições. [...] Quererá 
isto dizer que a Idade Média não teve curiosidade científica?”
(Fonte: PERNOUD, Regine. Luz sobre a Idade Média. Publicações Europa-América. 1997. p. 29).
Considerando o excerto apresentado e os estudos acerca da Idade Média, disser-
te sobre os aspectos culturais e científicos característicos do período medieval.
198 
As transformações da Baixa Idade Média
O período que compreende a chamada Baixa Idade Média corresponde a um tempo em 
que o Ocidente medieval conheceu épocas de progresso, desenvolvimento, criação de 
novas instituições e, em seguida, entrou em colapso devido à instalação de uma crise 
que marcou os séculos XIV e XV, contribuindo para a desestruturação do feudalismo e o 
fim da Idade Média.
A historiografia tradicional acostumou-se a considerar esse período como de atraso e/
ou estagnação tanto das formas produtivas como das relações da sociedade medieval. 
No entanto, é preciso considerarmos, caro(a) aluno(a), que esse período também criou 
as condições que tornaram possível a passagem da sociedade medieval para a socieda-
de moderna.
Sem o renascimento comercial e urbano ou sem o advento das Universidades – respon-
sáveis por novas direções de ensino -, por exemplo, as bases do mundo moderno teriam 
levado ainda muito tempo para se constituírem. Sendo assim, é correto compartilhar-
mos da ideia de que a Idade Média representou um período de obscuridade, atraso, ou 
foi mesmo a “idade das trevas”, como a acostumaram denominar?
É fato que a religiosidade foi uma característica marcante de toda a Idade Média e que, 
consequentemente, durante muito tempo, os medievos se viram compelidos a orga-
nizar e alicerçar os vários aspectos de sua vida com os ensinamentos difundidos pela 
Igreja Cristã. Entretanto, assim como estudamos nesta unidade, a evolução das escolas 
levou à consequente evolução do pensamento, que, a partir da criação das Universida-
des, pôde se expandir e se dotar de novos métodos de ensino.
Diante dessas conjunturas, podemos afirmar que a Idade Média produziu muito mais do 
que lhe foi geralmente atribuído. A visão amplamente difundida de “idade das trevas” 
não condiz com sua realidade. Se houve períodos de crise, eles não podem se sobrepôr 
aos períodos de desenvolvimento que nasceram no seio da Baixa Idade Média. 
Fonte: Wolff (1988).
Material Complementar
MATERIAL COMPLEMENTAR
Decameron
Giovanni Boccaccio
Editora: L&PM
Sinopse: por meio da narrativa de dez jovens que procuram se isolar 
para fugirem da epidemia de Peste Negra que acometeu as cidades 
europeias no século XIV, este livro descreve a realidade europeia 
naquele momento, enfatizando as características que marcaram 
a sociedade medieval nos séculos finais da Idade Média. A obra 
descreve o cenário de pânico e questionamentos que se instalou na 
Europa com a chegada da Peste, destacando os elementos características da passagem da Idade 
Média para a Idade Moderna.
Em Nome de Deus
Ano: 1988
Sinopse: o filme aborda a história do romance entre o teólogo, 
mestre e filósofo Abelardo e a jovem Heloísa. Sendo Abelardo um 
homem da Igreja, seu romance com Heloisa cria conflitos sociais 
e filosóficos, que são o cerne da discussão proposta pelo filme. A 
história se passa no século XII, período no qual a doutrina cristã 
domina o pensamento e conduz os meios de ensino e nos leva a 
refletir acerca das mudanças promovidas a partir do nascimento das Universidades e da retomada 
da dialética como forma de ensino.
A Peste Negra
Documentário que aborda a história da maior epidemia ocorrida durante a Idade Média e que 
contribuiu para o enfraquecimento do feudalismo e a desestruturação da sociedade medieval. 
Web: <http://www.youtube.com/watch?v=QnIhFXh8lZkr>.
GLOSSÁRIO
Burgos: Pequenos pontos de comércio próximos das muralhas de um feudo e que, 
a partir do renascimento comercial, estão na origem das cidades medievais.
Burguesia: Camada de indivíduos que se dedicavam às atividades comerciais na 
Idade Média.
Comuna: Cidade medieval emancipada da dominação feudal.
Corporações de Ofícios: Instituições presentes nos centros urbanos medievais que 
tinham, por objetivo, regular e orientar o processo produtivo, bem como o trabalho 
e as relações dos artesãos e comerciantes.
Dialética: Método de análise baseado no diálogo e no confronto de ideias, por meio 
do levantamento de questionamentos e elaboração de hipóteses.
Feiras Medievais: Locais de encontro entre os mercadores e comerciantes da Idade 
Média para o desenvolvimento das atividades e relações comerciais.
Movimento Comunal: Movimento iniciado pelos habitantes das cidades medie-
vais, a fim de se tornarem livres da dominação dos senhores feudais.
Renascimento Comercial: Crescimento e desenvolvimento das atividades comer-
ciais no decorrer da Baixa Idade Média.
Renascimento Urbano: Desenvolvimento das cidades medievais ocorrido a partir 
do renascimento comercial.
REFERÊNCIAS
201
FOURQUIN, G. História Econômica do Ocidente Medieval. Lisboa: Edições 70, 
1991. 
HEILBRONER, R. L.; MILBERG, W. A construção da sociedade econômica. 12. ed. 
Porto Alegre: Bookman, 2008. 
KONDER, Leandro. O que é dialética. 25. ed. São Paulo: Brasiliense, 1981. (Coleção 
Primeiros Passos). 
LE GOFF, J. O Apogeu da Cidade Medieval. São Paulo: Martins Fontes, 1992.
OLIVEIRA, T. Origem e memória das universidades medievais: a preservação de uma 
instituição educacional. Revista Varia História, Belo Horizonte, v. 23, n. 37, p. 113-
129, jan./jun. 2007. 
PIRENNE, H. As cidades da Idade Média. Portugal: Publicações Europa-América, 
2009. 
SANTIAGO, T. (Org.). Do feudalismo ao capitalismo: uma discussão histórica. 11. 
ed. São Paulo: Contexto, 2015. 
STRYER, J. R. As origens medievais do Estado Moderno. Lisboa: GRADIVA, 1986.
TUCHMAN, B. W. Um espelho distante: o terrível século XIV. Rio de Janeiro: José 
Olympio, 1999. 
VERGER, J. As universidades na idade média. São Paulo: UNESP, 1990.
WOLFF, P. Outono da Idade Média ou Primavera dos Tempos Modernos? São 
Paulo: Martins Fontes, 1988.
REFERÊNCIAS ONLINE
1 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/ File:Sc%C3%A8ne_de_foire_-_
ca_1400_-_BNF_ Fr12559_f167.jpg>. Acesso em: 29 nov. 2018.
2 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vista_de_Toledo,_Espanha.JPG>.Acesso em: 29 nov. 2018.
3 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Escultura_Plat%C3%A3o.jpg>. 
Acesso em: 29 nov. 2018.
4 Em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Bubonic_plague_map.PNG>. 
Acesso em: 29 nov. 2018.
GABARITO
1. B.
2. E.
3. O documento refere-se à disseminação da Peste Negra na Europa Ocidental a 
partir do século XIV. Esse evento foi o responsável por uma transformação, so-
bretudo, no cenário econômico e sociocultural da Idade Média, uma vez que 
representou uma pausa no processo de desenvolvimento pelo qual o Ocidente 
medieval vinha passando desde o renascimento comercial e urbano. Nesse sen-
tido, o tempo da Peste Negra foi um tempo de crise na produção agrícola e co-
mercial, tendo, como consequência, a escassez de alimentos e outros produtos, 
além de modificar o sentido das relações pessoais entre os indivíduos.
4. C.
5. O aluno deve expressar a sua compreensão acerca do desenvolvimento e cien-
tífico na Idade Média, considerando o contexto permeado pelo pensamento es-
colástico.
CONCLUSÃO
203
Caro(a) aluno(a), chegamos ao final de nossa jornada. Encerramos a disciplina de 
História Medieval e espero que você tenha conseguido apreender todas as discus-
sões aqui apresentadas. Encerrar uma disciplina não significa que você deve deixar 
o tema deste livro de lado enquanto segue no caminho da sua formação. Ao con-
trário. Assim como você percebeu ao longo do curso, a história está interligada, e 
o conhecimento e a retomada de assuntos já discutidos são o meio pelo qual você 
conseguirá absorver todas as informações que lhe serão apresentadas no processo 
de sua formação. Sendo assim, é importante que tenha realizado as atividades de 
estudo propostas no final de cada unidade, a fim de melhor entender todos os as-
pectos abordados neste livro.
No decorrer de nosso estudo, aprendemos como se deu o início da Idade Média, 
partindo da análise da desestruturação do Império Romano após a instalação dos 
povos bárbaros nesse território. Discutimos esse assunto em nossa primeira Unida-
de e não devemos deixar de notar as influências que os povos bárbaros legaram à 
sociedade medieval, bem como os elementos antes presentes na Roma Antiga que 
permaneceram vivos no mundo medieval.
Na segunda Unidade, analisamos o nascimento do Cristianismo e o crescente poder 
e a influência da Igreja Cristã do Ocidente até, sua consolidação como instituição 
mais poderosa e influente da Idade Média. Com essa análise, pudemos compreen-
der as motivações dos medievos quanto aos fatos que se apresentavam diante de-
les, bem como o seu entendimento do sentido da vida.
Na terceira Unidade, discorremos acerca do processo de feudalização da Europa 
medieval, uma discussão necessária na medida em que sempre relacionamos Idade 
Média com feudalismo. Observamos como esse sistema moldou a sociedade me-
dieval e contribuiu para que ela se diferenciasse do que existiu no passado.
Na quarta Unidade, nosso objeto de estudo foi o surgimento das Cruzadas a partir 
do século XI e a análise dos fatores que contribuíram para seu início. Nesse proces-
so, destacamos como esse movimento envolveu todos os setores da sociedade e 
desencadeou um processo que contribuiu para a desestruturação do mundo feudal.
Na quinta e última Unidade de nosso livro, caro(a) aluno(a), apresentamos as trans-
formações que marcaram a Baixa Idade Média e que lançaram as bases para a tran-
sição para o mundo moderno.
ANOTAÇÕES
ANOTAÇÕES
205
ANOTAÇÕES
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207
ANOTAÇÕES
	AS INVASÕES BÁRBARAS: O CONTATO ENTRE “BÁRBAROS” E ROMANOS 
	E A TRANSFORMAÇÃO DO ANTIGO IMPÉRIO ROMANO
	Introdução
	Aspectos da Organização e da Cultura dos Povos Bárbaros
	Política, Economia e Sociedade no Mundo Bárbaro
	Os Bárbaros e os Limites do Império Romano
	A Relação Entre as Invasões Bárbaras e a Desestruturação do Império Romano
	O Reino dos Francos e a Formação do Império Carolíngio
	Considerações Finais
	Glossário
	Referências
	Gabarito
	UNIDADE II
	ASPECTOS DA FORMAÇÃO E DA CONSOLIDAÇÃO DA IGREJA CRISTÃ MEDIEVAL
	Introdução
	O Nascimento do Cristianismo e o Fortalecimento da Doutrina Cristã e da Igreja Católica
	Consolidação e Influência da Igreja Católica na Idade Média
	A Igreja Medieval e o Controle Social: A Dominação pela Fé
	Considerações Finais
	Glossário
	Referências
	Gabarito
	UNIDADE III
	ANÁLISE DO PROCESSO DE FEUDALIZAÇÃO: ESTRUTURAS SOCIAIS, POLÍTICAS E ECONÔMICAS
	Introdução
	Características do Feudalismo e Elementos da Sociedade Feudal
	Fragmentação do Poder Político na Europa Feudal: A Formação da Nobreza Senhorial
	Modo de Produção Feudal
	Aspectos Culturais da Sociedade Feudal
	Considerações Finais
	Glossário
	Referências
	Gabarito
	UNIDADE IV
	AS CRUZADAS E AS TRANSFORMAÇÕES NA EUROPA MEDIEVAL
	Introdução
	O Nascimento do Islamismo e a Expansão dos Muçulmanos
	Os Cavaleiros Medievais
	As Cruzadas: Contexto e Motivações
	As Cruzadas no Oriente e no Ocidente
	Considerações Finais
	Glossário
	Referências
	Gabarito
	UNIDADE V
	A BAIXA IDADE MÉDIA E AS TRANSFORMAÇÕES NO OCIDENTE MEDIEVAL
	Introdução
	O Renascimento Comercial e Urbano
	O Surgimento das Universidades Medievais
	A Peste Negra
	As Raízes Medievais dos Estados Nacionais Modernos
	Considerações Finais
	Glossário
	Referências
	Gabarito
	Conclusão

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