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MAURIZIO ANDOLFI _________ Organizador ·-·. ' ' . \ ... ~1-- .•--. g-j••i ' _•1 F :. ' r - , =- ::illl.i._._, .= ....... ~- , r - • _· . ..,,, __ ... A CRISE DO CASAL UMA PERSPECTIVA SISTÊMICO-RELACIONAL C932 A crise do casal: uma perspectiva sistêmico-relacional / organizado por Maurizio Andolfi; trad. Lauro Kahl e Giovanni Menegoz. - Porto Alegre : Artmed Editora, 2002. l. Terapia familiar. 1. Andolfi, Maurizio. II. Título. CDU 159.964.2-058.833 Catalogação na publicação: Mônica Ballejo Canto - CRB 10/1023 ISBN 85-7307-917-7 MAURIZIO ANDOLFI --------------------Organizador A CRISE DO CASAL UMA PERSPECTIVA SISTÊMICO-RELACIONAL Tradução: Lauro Kahl e Giovanni Menegoz Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição: Nira Lopes Acquaviva Psicóloga Cllnica Membro-fundador, Docente e Supervisora do DOMUS - Centro de Terapia de Casal e Família • 2002 Obra originalmente publicada sob o título La crisi della coppia: una prospettiva sistemico-relazionale © Raffaello Cortina Editore, 1999 Design de capa Flávio Wild Assistente de design Gustavo Demarchi Preparação do original Cláudia Bressan e Elisângela Rosa dos Santos Leitura Final Ana Boff de Godoy Supervisão editorial Mônica Ballejo Canto Projeto e editoração Armazém Digital - Roberto Vieira Reservados todos os direitos de publicação, em língua portuguesa, à ARTMED~ EDITORA LTDA. Av. Jerônimo de Omelas, 670 - Santana 90040-340 Pono Alegre, RS Fones (51) 3330-3444 Fax (51) 3330-2378 Av. Rebouças, 1073 - Jardins 05401-150 São Paulo, SP, Fones (11) 3085-7270 / 3085-4762 / 3085-5368 / 3062-9544 SAC 0800 703-3444 IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Autores Maurizio Andolfi (org.) -Neuropsiquiatra infantil, professor de Psicodinamica dello Sviluppo e delle Relazioni Familiari na Facoltà di Psicologia dell'Università La Sapienza di Roma. Diretor da Accademia di Psicoterapia della Famiglia a Roma. Alfredo Canevaro - Psiquiatra e presidente da Sociedad Argentina de Terapia Familiar, membro da American Family Therapy Academy, sócio ordinário da SIPPR. Anna Oliverio Ferraris - Psicoterapeuta, professora de Psicologia dello Sviluppo da Università La Sapienza di Roma. Antonio D' Andrea - Psicólogo e psicoterapeuta de fam!lia, professor da Accademia di Psicoterapia della Famiglia a Roma. Camillo Loriedo - Psiquiatra e psicoterapeuta, professor do Dipartimento de Scienze Psichiatriche e Medicina Psicologica da Università La Sapienza di Roma. Dino Mazzei - Responsável pela formação psicojurídica do ITF, Firenze. Froma Walsh - Professor de Psicologia da Università di Chicago, diretor do Joumal of Marital and Family Therapy. Giancarlo Francini - Psicólogo e psicoterapeuta, co-diretor do Istituto di Tera- pia Familiare di Siena. James L. Framo - Psicólogo clínico, um dos pioneiros da terapia familiar e um dos experts da terapia do casal e do divórcio. Jurg Willi- Professor associado de Medicina Psicosociale da Università di Zurigo. Luca Pappalardo - Responsável pelo Centri Co.Me.Te. degli ITF di Firenze, Siena e Lucca. VÍ Autores . Mary Hotvedt _ Antropóloga e ter~peuta _sexual do Tucson, Arizona; membro do Board of Directors della MMIT d1 Washington. No Rubinstein Nabarro - Co-fundadora e diretora clí~ica do Israel Institute for ramily and Personal Change, "Shinui lnstitute" di Herzeha Perla Strom - Psiquiatra e psicoterapeuta em Roma. Rodolfo de Bernart- Psiquiatra e psicoterapeuta, diretor do Istituto di Terapia Familiare di Firenze. Sara Ivanir - Psicoterapeuta do Israel Institute for Family and Personal Change, "Shinui Institute", di Herzelia. Vittorio Cigoli- Professor de Psicologia Sociale na Università Cattolica di Milano, professor do Centro Studi e Ricerche Sulla Famiglia di Milano. Prefácio Maurizio Andolfi A crise do casal é fruto de uma reflexão bastante aprofundada de estudi- osos e terapeutas da família sobre um problema cada vez mais dramático do ponto de vista social e familiar: a crescente fragilidade do sistema-casal, que parece estar em profunda crise enquanto instituição. O próprio desenvolvimento do casal parece ameaçado em seu interior, seja pela ruptura dos sólidos laços com as famílias de origem, que no passado representavam uma base segura à qual recorrer em situações de dificuldade; seja pela maior "precaução" com que cada parceiro inicia uma vida a dois, consciente de que não há certezas nem previsões plausíveis sobre como man- ter viva a ligação do casal ao longo do tempo. A metáfora do "amor cego" de antigamente foi substituída por uma visão sem dúvida menos romântica, po- rém mais concreta do "amor prudente", em que é necessário manter uma porta aberta para sair da relação, ao mesmo tempo em que se está empenha- do para construí-la. Esse comportamento também parece reforçado pelo cres- cimento ver.tiginoso do número de rompimentos de casal nos últimos 10 anos, o que representa um sinal de alarme até mesmo para os casais mais experien- tes e mais unidos. O mais desconcertante é a constatação de que não existe mais um período crítico na evolução do relacionamento de casal: assistimos a separações precoces de relacionamentos em fase de "teste", ou mesmo depois de um brevíssimo período de convivência, rompimentos de casal depois da chegada de um primeiro ou segundo filho, separações dolorosas após 20 ou 30 anos de vida em comum e, ainda mais inacreditável, em idade avançada. Lembro-me de um casal com ambos os cônjuges acima de 75 anos de idade, trazidos à terapia por cinco filhos (o mais jovem deles tinha 35 anos!) exaus- tos com as brigas dos pais, que queriam separar-se a todo custo para recons- truir suas vidas! Vfil Prefácio A tudo isso acrescenta-se o fato de que os filhos .re~resentam um projeto cada vez mais postergado, seja por dificulda~es econ~m1cas (quanto custa um filho tomou-se um quesito central para muitos casais, capaz de ofuscar ou- tros, talvez mais importantes, como o estar disponível para ~companh~-lo e~ seu crescimento), seja por problemas de trabalho ou carreira dos pais. Tais fatores resultam na drástica redução numérica, tanto que falar em sistema de innãos toma-se cada vez menos freqüente. O número de irmãos adquiridos cresce no momento em que se assiste a fenômenos de recomposição familiar, nos quais se passa de um primeiro núcleo mais restrito a uma configuração mais ampliada, com a presença de crianças e/ou adolescentes nascidos e cres- cidos em duas casas diferentes. Não há dúvida de que construir uma família na época em que vivemos não é fácil. Significa enfrentar o mito predominante na sociedade ocidental de hoje, que faz da liberdade individual a meta principal a ser alcançada a todo custo, freqüentemente perseguida como valor absoluto e irrenunciável, pelo qual tudo o que ameaça a exigência pessoal de auto-realização, os laços familiares in primis, é mantido distante. E, embora a liberdade seja um valor essencial para todos, o problema é como libertar-se do "complexo de liberda- de" para então gozar também do senso de limite. Todas essas mudanças, de um lado, e os velhos estereótipos sociais de outro, radicado_s ainda em visões idealizadas e tradicionais da formaçã~ de um casal! contribuem para aumentar a confusão e favorecem um processo de progressiva fragmentação familiar. Este trabalho interroga-se sobre questões atuais apresentadas a nós terapeuta~ estudiosos da família, por tantos casais em dificuldades em con~ textos soc1a1s e culturais muito diversos. ' 6 f>: crise do casal é um sinal muito forte do malestar relacional que todos n s vivemos. A~_mesmo :empo, permite-nos refletir sobre as profundas mu- ianças d?s papeis sexuais. e familia~es e sobre a possibilidade de encontrar h~J:~ sólidas sobre as quais construir e manter um relacionamento de casal Parece amplamente superado o luga fu d manutenção do laço de qual uer . r-comum n ado na hipocrisia da e respeito recíproco. Se, enlo n~~~~ira, mesmo qua~d~ falta autenticidadeaparências, é mais fácil que se ~he ue permanece m~1s Junto para salvar as falta o entendimento do casal M g ª. uma separaçao no momento em que tempo, por outro lado dema~da ante_r viva ~ma relação conjugal ao longo do ambiciosa: exige abandonar um tmt~ mais ~o~p:omisso e a aposta é mais ~ntigo di~o "seja a minha metade"~n~~~t~ de mt!m1dade fusional, segundo o duas unidades" capazes de d'al p d escobnr como fazer para encontrar esse P:ojet~ falhasse e os côn·~ ~~:- e modo ~armônico e duradouro. Se uma s1tuaçao insustentável é ~r~v. ~o conseg~1ssem tomar consciência de , ave que os filhos, de um modo ou de ou- Prefácio ix tro, colocassem o "dedo na ferida", forçando o sistema familiar na direção de uma solução, qualquer que fosse ela. Quem tem experiência no trabalho terapêutico com casais sabe bem quando os sintomas de uma criança ou de um adolescente refletem as difi- culdades relacionais do casal e como, se bem-examinados, permitem aos pais refletir sobre o próprio comportamento, ativando, assim, recursos para uma mudança. A crise do casal é um livro dirigido àqueles que operam em diversos níveis com os casais, seja no tocante aos seus processos de desenvolvimento normal, seja em situações de dificuldade: psicólogos, sociólogos, educadores, assis- te~tes sociais, conselheiros matrimoniais, sexólogos, mediadores familiares, ps1coterapeutas, advogados e juízes de família. Também pode ser de extrema utilidade para quem está vivendo a complexa aventura de apaixonar-se e de construir uma relação de casal, bem como a todos aqueles que estão em difi- culdades para manter uma relação conjugal vital ou de encontrar a coragem e a correta modalidade para separar-se do companheiro, seja "fora" ou "den- tro", aceitando a perda de alguma coisa. Assim, também podem encontrar idéias e sugestões úteis aqueles que, superado o sentimento de falência e de frustração pela conclusão de uma primeira experiência conjugal, encontram recursos para viver bem consigo mesmos, para si mesmos (os verdadeiros solteiros), ou até a vontade e a curiosidade de viver novas formas de família. Enfim, ainda pode resultar uma leitura útil à crescente geração de filhos de pais divorciados, que entre as páginas deste livro podem encontrar muitos pontos de conexão com o sofrimento experimentado na tentativa de manter unidos os próprios pais e, algumas vezes, com a raiva e a dor por serem arras- tados como "bagagem" de uma casa a outra, sem conhecer ou partilhar o itinerário e o ponto de chegada. Quem sabe se este livro chegasse às mãos de um leitor idoso ... poderia redescobrir tantos aspectos da sua história, da sua experiência de vida e dos mitos transmitidos de geração em geração. Poderia ler nas entrelinhas com maior di_s~anciamento e ser,en_idade que outros leitores adultos, e com~reen- der as dificuldades destes ulnmos para afastar-se de necessidades tantas ve- zes nega?as ou mascaradas de dependência das próprias famílias de origem, causa, nao raro, de graves sofrimentos conjugais. Esta obra segue um percurso evolutivo, muito acessível e de fácil leitura para qualquer um que deseje adentrar no delicado universo das relações hu- manas, tomando como unidade de observação o casal no seu devir através das _etapa~ de dese_nvolvime~to, separações e novas formas de agregação afetiva. Nao é um livro de psicoterapia stricto sensu, porque, mesmo descre- vendo as várias modalidades de intervenção clínica, os protagonistas conti- nuam sendo os dois parceiros e os recursos são procurados em seu mundo familiar e social. X Prefácio ·a é realmente uma ocasião para refletir P 0 ara nós, terap;utas, ª eito aos nossos laços de casal e às nossas sobre 'onde estamos no _que z !sas transformações pessoais, somos pro- famílias. Por essas reflexoes e por n 1 m função de suas próprias dificulda-fundame?te ~ratos a que~:C~r~~~~u ar!:a estrada, indica o caminho também des relac1ona1s, porque, P . ncontro entre dois mundos fa- para nós. Nesse sentido, a terapia torna-se o e mi!iares que partilham um percurso comum. Sumário 1. Casais saudáveis e casais disfuncionais: qual a diferença? ..... .. 13 Froma Walsh 2. A terapia dos casais de meia-idade em crise devido a uma relação extraconjugal .............................................. 29 Noga Rubinstein Nabarro, Sara Ivanir 3. Uma abordagem transgeracional à terapia de casal, à terapia familiar e à terapia individual ....... ............. ..... .............. 73 James L. Framo 4. Nec sine te nec tecum vivere possum Terapia trigeracional para as simbioses de casal ...... ......................... .. .. ... 79 Alfredo Canevaro 5. A terapia de casal como processo transformativo ...................... 99 Maurizio Andolfi * 6. Os processos de transmissão transgeracional nos casais e o tratamento das problemáticas ligadas às famílias de origem ........................................................................ 123 Camillo Loriedo, Perla Strom 7. A técnica da diferenciação do constructo na terapia de casal ................................................ ........................... 139 Jurg Willi 12 Sumário 8. O Casamento intercultural O encontro terapêutico .. .. .. .. .. .. .. ... .. ............... .... ...... ....... ....... ................ 153 Mary Hotvedt 9. O rompimento do pacto Tipologia do divórcio e rituais de passagem .. .. .. .. .. .... .. .... .... ...... .. ........ .. 171 Vittorio Cigoli 10. Quando o casamento acaba a família pode continuar? Intervenções psicojurídicas na crise e no rompimento do casal.. ........ ... 201 Rodolfo de Bemart, Giancarlo Francini, Dino Mazzei, Luca Pappalardo 11. O casal adotante .......... ........ .. .. .. ...... ... .. .. .. .. ...... .. .... .................. ...... .. 233 Antonio D' Andrea 12. ~ilho~ de famílias divorciadas e reconstituídas : An 1denuda~e e his.tória familiar .. .. ................ ........ .... ..... ... ..... .. .... ..... 249 na Ohveno Ferrans 1 Casais Saudáveis e Casais Disfuncionais: Qual a Diferença? Froma Walsh As enormes mudanças sociais que, em nossos dias, repercutem na rela- ção de casal apresentam novos desafios para a terapia familiar. Resultado da pesquisa sobre famílias "normais", este estudo tem como núcleo as caracterís- ticas dos casais saudáveis e dos casais disfuncionais, evidenciando os modos pelos quais eles criam e mantêm uma relação satisfatória e adaptam-se às mudanças impostas pelo ciclo vital. São dadas sugestões clínicas, visando a promover um funcionamento saudável nos casais e a construir novos paradig- mas relacionais, em que o tradicional quid pro quo conjugal não funciona mais, como, por exemplo, no caso de casais em que ambos os cônjuges este- jam ocupados em perseguir objetivos profissionais. REEXAMINANDO O QUID PRO QUO CONJUGAL Nas montanhas do Atlas, no Marrocos, as tribos berberes reúnem-se to- dos os anos, há séculos, por ocasião do "mercado das esposas", no qual os homens vão procurar uma esposa para si. Segundo a tradição, as mulheres disponíveis passeiam pelo mercado com as faces pintadas de vermelho e véu na cabeça, que revela o status. Se se trata de uma virgem, o véu fica caído, cobrindo-lhe o rosto e, se quem o usa for uma viúva ou divorciada, fica ergui- do. Todas levam sobre o braço uma coberta tecida com suas próprias mãos. No momento em que um homem encontra o olhar de alguma mulher que lhe interessa, ela coloca à mostra a coberta. Assim, os dois examinam-se indireta- mente, enquanto falam das qualidades do objeto, e ele decide se quer comprá- 72 Maurizio Andolfi ------.._ - ) rruch rrust, and Relationship. Brunner/Maz 1 ER B R JOYCE, A.J. (1995 , e , Neiy I(RASN ' .. , .., k S K (l988) Launching children and moVing ,or · UTENBERG, • · . • ;1 • on. ,. McCULLOUGH, P.G., R CK M. (Org.) The Changt~ Family Li,e Cycle, c1t., p. 285.3 ~,: CARTER, B., McGOLDRI • ds W'ves & Lovers. Gmlford Press, NewYork. 09. MOULTRUP. D.J. (1990) Hus_banPo,. cs'· Treating Families in Transition and Crisis N pfITMAN, E.S. (1987) Turn1ng m · · Orton, New York. N (l 996) Ceffetto bilancia e l'insight sistemico nella tera . . RUBINSTEIN NABARRO, M. ANGELO e DE NICHILO, M. (Org.) Sentimenti e _Pia di coppia ln: ANDOLFI, ., . • · S SISterni. Raffaello Cortina Editore, M1lano, p. 195-21 . M 0990) Self-disclosure ofpersonal construct. Fam. Proc., 29, p. 399_413 =~ci P., WF.AKLAND, J., FISCH, R. (1974) Change. Tr. It. Astrolabio, Roma, 1974_ 3 Uma Abordagem Transgeracional à Terapia de Casal, à Terapia Familiar e à Terapia Individual James L. Framo Neste artigo, ilustrarei o aspecto que considero mais importante do meu trabalho, que é o envolvimento da famfüa de origem no tratamento de famí- lias, casais e indivíduos. Desde a minha primeira publicação sobre o assunto (1976), experimentei esse método muitíssimas vezes (mais de 400 sessões com famílias de origem), apurando-o e modificando-o no decorrer dos anos. Repetidas experiências convenceram-me não só de sua eficácia em produzir uma mudança, mas também dos seus limites, das precauções que devem ser tomadas e das dificuldades que são encontradas. Não é uma coisa fácil e nem sempre funciona. Por outro lado, estou convencido de que a entrevista de um adulto com seus pais e irmãos, conduzida desse modo particular, pode trazer benefícios terapêuticos mais significativos que os decorrentes da própria terapia. Esse mé- todo também é aplicável às terapias individuais sempre que um adulto tiver necessidade de expressar sentimentos ambivalentes em relação a pais e irmãos. A utilização da família de origem como recurso terapêutico em terapia familiar, de casal e individual representa o resultado lógico e a aplicação clínica do conceito segundo o qual forças transgeracionais veladas exercem uma influência crítica sobre as relações íntimas atuais (Framo, 1970). Vale dizer que as atuais dificuldades de casal, pessoais e parentais, são conside- radas esforços de reparação no sentido de corrigir, c~ntr~lar! defender-se .~e e apagar antigos e perturbadores paradigmas relacionais ligados à fam1ha !74~_.!M~au~n~·z~io~A~n~do~l~fi~-------------------- . 1h de relações íntimas em particular, mais que de de ongem. Na esctont:m encontrar soluções interpessoais para conf11•ºtu. tras, as pessoas e os intrapsíquicos. • " •» · filh 1 . te das pessoas nao ve o parceiro ou os os pe O que s· A mator par . . · • 1 . . ªº• • tem 'antasmas a 1mped1r uma v1sao c ara. os outros signi·fi uma vez que ex1s 1, ca. tivos são apenas vagos r~presen_tantes de figuras pertencentes ao passado e de aspectos escindidos de s1 própnos. Quando os pacientes vêm preparados para se encontrar face a face corn temas muito críticos com pais e irmãos, reportando desse modo os problemas ao contexto em que surgiram, alguns véus que impedem .ª compreensão de relacionamentos com parceiro e filhos podem ser esclarec1?os e eliminados. A maior parte das pessoas diz durante anos aos amigos, terapeutas e cônjuges o que deveria ter dito aos pais e aos irmãos, mas nunca disse. A raiva e a amargura em relação a essas pessoas podem desaparecer, e os pais e ir- mãos podem ser percebidos finalmente como pessoas reais. Além disso, a pos- sibilidade de fazer as pazes com os próprios pais antes que eles morram ajuda as pessoas a não desperdiçarem a própria vida expiando sentimentos de culpa e voltando seu ódio contra si mesmas. Como já afirmei (1981), desenvolvo um tratamento sistemático a curto prazo com a maior parte dos casais e das famílias que vejo. Quando é um filho que apresenta o problema, trabalho com toda a família e com subgrupos, até que a criança sintomática seja descentra- lizad~ e se_us sintoma~ tenham desaparecido ou diminuído muito. Depois, se os pais estiverem motivados, trabalho sobre a relação de casal. Atender esses casais é uma das etapas de uma terapia familiar, mas vejo também pessoas que pedem explicitamente uma terapia de casal desde o início. O passo ~eguin~e _no tratamento é o de fazer o casal participar de um g~upo de casais: os umcos que não participam desse grupo são aqueles que nao podem por motivo de horário. . També?1 providencio para que cada adulto tenha uma sessão com a fa. ~lha_ de ong~m. Acontece-me ocasionalmente de promover sessões com a 1amília de ongem de pacient · d' 'd · • • . es m 1v1 urus, em geral terapeutas familiares que nao sao meus pacientes hab't · t ó f. 1 uais, mas que requerem sessões para desa· ar n s que 1caram sem solução. Esse método, centrado na família de . , fu tipos de terapia· família (F 196 ongem, e ndamental para todos os grupos de casai~ (Framor 19ra7m3)o, 5): de casal (Framo, 1978b, 1980, 1981), , e terapia do divór · (F 97 ) Outros terapeutas familiares d c1~ ramo, 1 8a . balhar com as famílias de ori em (Besenvolvera_m diversos métodos para tra· 1978; Haas, 1968; Headley, 1l77. Kr oszormenyi Nagy e Spark, 1973; Bowen, 1982). ' ' amer, 1985; Paul e Paul, 1975; Williamson, Quando trabalho com famíl' . mesmo que às vezes por necess·~asd e casais, prefiro fazê-lo em co-terapia, mem e uma mulher ~orno co t i a e, trabalhe sozinho. Penso que um ho· ' · erapeu tas se · • 1am a melhor combinação (Sonne A Crise do Casal 75 e Lincoln, 1965) e q~e a sua presenç~ conjunta seja particularmente benéfica e apoiadora nas sessoes com a famfha d~ origem. Também os terapeutas têm necessidade um do outro ~ura~te .ª sessao. De fato, nenhuma outra forma de sicoterapia produz emoçoes tao mtensas. P Em outros estudos, tenho descrito a enorme resistência e o medo intenso expresso por pacientes frente à proposta de se encontrar com a família de origem (Framo, 1~65,1981). _Essa resistência manifesta-se mesmo quando 0 sofrimento do paciente é muito grande e ele está disposto a qualquer coisa para aliviá-lo. Quando, perto ?º fi~ da te_rapia, sugiro que traga a familia, inevitavelmente me é respondido: O que isso tem a ver com o meu marido (esposa)?"; "Está fora de discussão, porque vivem longe"; "Não tenho proble• mas com meus pais, mas com ele (ela)!"; "Não posso certamente lhes impôr isso (identificando a sessão como uma punição)"; "Meus pais são muito ve• lhos e não quero afligí-los"; "Não creio que poderiam suportar, isto os destrui- ria"; "Não serviria para nada, porque não podem mudar"; "Seria como abrir uma lata de vermes"; "Não tenho nada a ver com eles"; "Depois de muitos anos, as coisas se aquietaram e não quero acordar o dragão adormecido", etc. Em terapia, após ter explorado, nas primeiras sessões, as modalidades relacionais do casal, peço a cada parceiro uma breve história da própria famí- lia, depois pergunto a cada um o que pensa da descrição da família feita pelo outro, como vê o pai, a mãe, os irmãos do próprio parceiro e como ele se comporta em presença da sua fam11ia. À parte algumas exceções resultantes de dificuldades pessoais com os parentes adquiridos, cada parceiro é um ob- servador bastante objetivo da família do outro. Muitas vezes, ocorre que um cônjuge possa acrescentar particularidades que o outro tenha negligenciado (como a presença de um pai alcoolista ~u suicida) . A esposa pode referir que o marido preàsa telefonar para a mae todos os dias, e o marido poderia acrescentar que a esposa não fala nunca com o próprio pai. Mortes e divórcios na família de origem são temas explora• dos aprofundadamente mais tarde no decorrer da terapia. . Depois de muitas sessões, o casal participa de um grupo de casais, no qual são exploradas as dificuldades da relação conjugal. N~ grupo, que consta de três casais, cada um expõe os próprios problemas e dep01s escuta o feedback dos outros. . . d O foco de atenção concentra-se nas distorções tr~sf~renorus de ca ª parceiro sobre o outro e não sobre a dinâmica entre os md1viduos d_o grupo. ' - é d 'osse uma famfita. Nessa Em outras palavras, o grupo nao trata o como se 1' fase as famílias de orio-em raramentesão abordadas (Framo, 1973,1980). ' 0 • 1 nexos entre os mo• Quando chega o momento começamos a assma ar os • . d . . . ' ró · família e com o conJuge. (Por elos relac10na1s dos parceiros com a P pna m O marido não fala exemplo, todas as vezes que uma esposa 5~ enfurece co . 0 marido não mais com ele, que é exatamente o ocon:_ia entre os se;~p~~- rio pai, i;to é, podendo suportar o silêncio e deodmdo nao fazer com P P -~~-~z1~-0~An~d~ol~fi'.------~~=-=::::~~=:----: 76 Maun d na· o obtém resposta da esposa bat - . quano . - N 'e nfl'to irrita-se, gnta e, . como fazia sua mae. esse ponto negar o c~o ~l; faz as malas e_ o d:IX~e e a mulher e pede-lhe perdão.), o nela: En:~o fazia a sua própna _ma:~ i:Uito de fazer com que seja aceita a mandNo, t abalho que deve ser feito . m podem ser utilizadas várias técn· o r f íl' a de onge ' f I-roposta de convocar a am Iular bem o momento em qu~ se az a proposta. ~as e é muito importante cale té quase o fim da terapia, porque só então Como já disse, é melhor esp;;are:soas conseguirão compreender como as ex. terão ocorrido progress~s e l ma ajuda para o presente. periências do passad_o sao de:, gu do feedback do grupo sobre as resistências Além de nossa mterve~ça: e ília de origem quando a terapia está atraves'. reintroduzimos o problema al~ ª~o. Há cônjuges que não podem deixar de se sando um momento de par izaç nto qualquer e não conseguem seguir adiante acusar, outro~ se fixa~ e~ u~ ~ºtão vazia que quase nada se consegue. ' e há outros amda cuJa re açao ento digo a esses casais que, ao invés de me Então em um certo mom ' d . d' 'd 1 ' 1 . to eu me ocuparei de ca a um m 1v1 ua mente ocupar do seudre ac1onamedno g'rupo com o objetivo de fazer vir a família de em presença o outro ou , . . . 'nh • ·ão esse é O melhor modo de superar eventuais impasses ongem. ~admi ª 01 pDmei fa{o permite atenuar a intensidade emocional da rela-na terapia e casa . , , . . ção conjugal e canalizá-la para a fam1ha de ongem. • . _ Aqueles que conhecem o meu trabalho sabem_ que o _conJ_uge_ nao ~artici- a das sessões com a família do outro, porque muitos pais e irmaos nao con- p d . 'd "N. ' " seguiriam falar diante de um parente a qum o. ao e nosso sangue . Além disso, a presença do cônjuge poderia deslocar a atenção da família para os problemas do casal, quando o ~~jetivo dessas sessões é observar os problemas do paciente com os seus fam1hares. Em geral, ocorre que um dos cônjuges esteja mais disposto que o outro a se deparar com a família de origem; a rejeição da proposta é percebida pelo outro como uma falta de empenho no casamento. Somente uma vez aconte- ceu-me de uma paciente opor-se a que o marido encontrasse a própria famí- lia. Tratei disso em um artigo publicado no livro de Peggy Papp (Framo, 1978b). Geralmente acontece o contrário, ou seja, as pessoas desejam muito que o parceiro faça essa sessão porque, de algum modo, sentem que isso os ajuda- ra a serem menos objeto de projeções. Quando os medos são aplacados e o P?ciente começa a entender os benefícios possíveis que lhe poderão advir disso, entramos na fase da preparação concreta. Auxiliamos o paciente a preparar um plano das sessões baseado em grande parte na sua história familiar. Essas informações são fornecidas pelo paciente e_p~lo ~ô_njuge. Pedimos a eles para pensar nos eventos importantes da hiStó- na famiha_r, como eram as relações entre as pessoas em tomo de quais havi-am antas1ado m· t' · ' medo e . . is enos e segredos, quais perguntas nunca tinham feito por , 0 mais importante de tud · - Jvidos com os me b d f . 0 , quais temas permanecem nao reso m ros a amíha de origem. _________________ _:A~C::.'..n:·se:_:d~o:_:C:::as~al~_7'..!.._7 uma pacient: poderia, por exe_mplo, dizer que em sua família todas as comunicações de~am passar pela mae e que, por isso, nunca se podia contatar diretamente o pa1. M_uitas v:zes,_ perguntam-me qual proc~dimento seguir quando os pais do pacient~ d1vor~iaram-se, ou quando ele fo1 adotado. Normalmente, vejo os pais divorciados JU~tos, mesmo que às vezes o paciente prefira encontrar-se só com os pais adotivos ou com um genitor divorciado por vez. Poder reunir os P,ª~s divorciados, mesmo aqueles cujas relações ainda são ruins, apesar dos vanos anos passados desde o divórcio, pode ser útil para os filhos já adultos e também pode ajudar os ex-cônjuges a se separarem emo- cionalmente. Em todo caso, um enorme aumento dos níveis de ansiedade precede essas se~sões. , . . . . Pelo que sei, sou o umco a ms1st1r na presença de ambos os pais e dos irmãos. A relação entre irmãos, assim como aquela com e entre os avós, nunca foi suficientemente estudada. O terapeuta não se ocupa do problema de contatar os membros da famí- lia: isso é uma tarefa do paciente. Na maioria dos casos, as pessoas vêm de muito longe, visto que vivemos em uma sociedade caracterizada pela alta mobilidade e, portanto, as famílias dispersam-se pelo país. É o paciente que deve convidar os membros da sua família, preocupar-se com os deslocamen- tos, encontrar alojamento, etc. Imediatamente antes da primeira sessão, a tensão sobe e chegam múlti- plos pedidos de tranquilização, com relação aos quais o grupo de casais é muito útil no sentido de fornecer apoio, recordar ao paciente os temas impor- tantes para levar à sessão, etc. Não tenho aqui espaço suficiente para descrever a técnica usada e o que ocorre nas sessões. É obviamente diferente, segundo o caso, o uso que as famílias fazem dessa ocasião, mas há algumas constantes que sempre se repe- tem. Depois do medo inicial e da dificuldade para se encontrarem todas jun- tas, as pessoas atravessam uma fase na qual expressam uma para a outra o sofrimento, as desilusões e os rancores. Em seguida, são esclarecidos os mal-entendidos e as percepções distorcidas da infância, os mitos familiares são desvelados e há a possibilidade de se perdoar e de perdoar. Os pais vêem os filhos como adultos e os filhos passam a ver os pais mais como pessoas que como papéis representados. Pessoas que não se falavam há anos reconciliam-se e o casamento do paciente melhora ou a sessão permite finalmente a separação. Pacientes que estão para se divorci- ar descobrem de quem estão divorciando-se. . As implicações teóricas e clínicas desse trabalho necessitam, de qualquer modo, de posterior estudo e pesquisa. !7!8~M~a~u~n~·z~io'}_An~d~ol~fi~-------------------- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ,.ou G M 0973) Invisible Loyalties. Harper & Row N BOSZORMENYI NAGY, 1. , SPIUU', . . ' ew York. . 1' ll 'individuo. Tr. lt. Astrolabio, Roma, 1979. BOWEN, M. (1978))D~lla~ :~~~~ca della terapia della famiglia. Tr. it. ln: BOszon FRAMO J L (1965 ,eona · · · d 11 fi . 1 · "' ' · · FRAMO J L (Orgs ) Psicoterapia intensiva e a am1g 1a. Boringh· . 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Ther., p. 813-857. · · 4 Nec Síne Te Nec Tecum Vívere Possum* Terapia Trigeracional para as Simbioses de Casalº Alfredo Canevaro São as idéias e as paixões do homem e não a mec~ica das leis, que embalam os eventos h~manos. E sempre na profundeza da alma que se encontra a causa dos fatos que se produzirão fora dela. Alexis de Tocqueville, 1857 A vida a dois, matrimonial ou não, é sem sombra de dúvida a relação existente mais difícil, não só quanto à sua formação, mas sobretudo quanto à sua preservação. Em uma pesquisa demográfica ampla, realizada em 1986, Ira Glick assinalava que nos Estados Unidos a taxa de separações e divórcios correspondia praticamente a um casal para cada dois; 79% das mulheres e 83% dos homens casavam-se novamente e, no prazo de 1 a 5 anos, 50% deles divorciavam-se outra vez (Glick, 1989). O que motiva o ser humano a tentar reiteradamente uma experiência às vezes decepcionante? Quais são os crité- rios de formação de uma relação de longa duração que asse~re? a~ mesmo tempo, a estabilidade relacional, a criação de um espaço de mmmdade e ª '"N · - d · d o 'd' (Amores 3 11 39) foi retoma-em conngo e nem sem ti": a expressao enva e VI 1o , ' ' ' d , . caro a Catullo· o tormento de a no famoso epigrama de Marziale (XII, 46) e 101 um tema · :1;mor devido à ambivalência afetiva. . . . e Chiara De Natale por seus O autor deseja agradecer a Fabio Monda1111, Teresa Medi comentários críticos sobre a presente contribuição. 80 Maurizio Andolfi ----- . e dos desejos individuais? A origem etimológic gratificação das necessidades . " "com a canga") faz pensar que os cón. a da palavra cum iugo ("co~sºi;;;,ºsão destinados a "puxar o carro" da famífi~- ges, da forma qu: olharem entre si, até a queda de um dos dois. ' sem a poss1billdade de s a·o moralista e vitirnista do casal na nossa sociedad Felizmente essa vers 1 . e . b ' . 'd nos últimos anos, por urna crescente va onzação da esta sendo su sntu1 a, • d" ·o íntima e da atenção recíproca dos parceiros. imensaf • da m";or longevidade, os processos de autonomia e o enomeno "' . • · d f T autoconscientização da mulher, a nucleanzaça~ pro~re~s1va a am1 ia e ou. tros macrofenômenos sociais relacionados (a m1graçao mterna, as mudanças socioeconômicas, a urbanização, o rner_cado d~ trabalho com_ as_ fa~~ias de "carreira dupla") modificam, de mod_o mev:rs1vel, ? percepça~ md~Vldual e coletiva da vida a dois. A desvinculaçao dos filhos exige uma maior disponibi- lidade para a experiência da intimidade e par? ? ~mor co-te~apêutic~ entre os cônjuges, como valores a serem buscados e v1V1ficados no ciclo de Vida, esta- belecendo uma posterior e definitiva diferença em relação aos valores que caracterizavam a família tradicional: a estabilidade e a ênfase na procriação e o crescimento das gerações sucessivas (Canevaro e Gritti, 1999). AMOR ROMÂNTICO E AMOR C0-TERAPÊUTICO Que força misteriosa leva duas pessoas, que normalmente não se conhe- cem, se unirem e a começarem, superando muitos obstáculos, aquela aven- tura tao complexa da construção da vida a dois? Que alquimia particular leva duas pessoas a um estado de graça que as faz levitar e as coloca acima dos mortais comuns? O amor romântico (Johnson 1983· Bader e Pearson 1988· Salom 1989· , ' ' ' ' on, , Canevaro, 1990, 1992) e aquela relação amorosa que se re- veste de características singulares. A "divina man· " (th · ) d 1ª eomama , como a chamavam os gregos é aquele le~t~ 0 que ~e apossa das pessoas, desencadeando urna série de rea~ões psico- ogicas particulares· olhos brilhant l . 'd d de endorfina Pe · b es, urnmos1 a e da pele, taquicardia, rios de a1· • · ~r ª as pessoas, provocando o "mal de amor" uma espécie ienaçao parcial e um des . ' como assinalava Fre d aparecimento dos limites entre o Eu e o sujeito, u em seu O mal estar d · "l' • a depressão e O sentido d d · a civz zzaçao. O remoer constante, diante dos mínimos sinaiseler ª quando O ser amado não está, ou a euforia fonema, um gesto), 0 apa :/~! prese~5a ~uma palavra, uma carta, um tele-ºª. se~timento que não te:ha re1ttsc1enc1a em relação a todo pensamento psiqmatra as características d ç O com O ser amado, tudo isso lembra ao Já Platão em o ban e eStado quase delirante do pela união de um homqeuete, citava o mito do andrógino· aquele ser forrna- "qu d m e uma mulh ' d eren ° bater nos numes" é . er que, por tentar a escalada ao céu es para "enfraquecê-lo" i De dcastiga_do por Zeus, que o corta em duas meta- mente a outr 1 · s e entao cad d ª pe o mundo e se ' ª metade procura desespera a-' por acaso ela ' s se encontram, chegam a u!ll ----------------------~A~C:n~·s::e~d~o~C~a~s~al~~8~1 estado tal de Jus_ão total que ?s problemas desaparecem e passa-se a vivenciar estados d~ plemtude e eufona que _fazem pensar nos estados de alteração da consciência e do humor (estad?s h1pomaníacos, transe hipnótico). Os poetas e dramaturgos alimentaram durante séculos as idéi·as e os c • . • . d al once1- tos que regulam a conV1~enc1a o cas e_ a relação amorosa, promovendo a fan- tasia que duas pessoas sao uma, obstaculizando, assim, a vida autônoma de cada parceiro. No lugar da esco~a ~e "duas solidões que se dão a mão", como diz Rilke, 0 ideal ?º amor romantlco parec~ ser uma fusão indiscriminada. Jung, falando d? '!11zmus, componen~e mas~no da~ mulheres, e da anima, compo- nente feffilillnO do homem, recna esse rrnto particular quando diz que a verdadei- ra união profunda realiza-se entre aspectos inconscientes dos parceiros.2 Tristão e Isolda, Romeu e Julieta são arquétipos medievais desse amor trágico e devastador que alimenta os mitos de nossa sociedade. RobertJohnson (1983, p. XI), psicanalista junguiano norte-americano, diz que o amor român- tico é o maior sistema energético singular da psique ocidental: "Em nossa cultura, tomou o lugar da religião, como arena na qual homens e mulheres buscam significado, transcendência, plenitude e êxtase". Como fenômeno de massa, diz Johnson, é peculiar à sociedade ocidental. Nas sociedades orientais, como .a japonesa e a indiana, o amor existe como respeito e ternura, mas sem nenhuma imposição ao outro dos mesmos ideais relacionais tal como acontece entre nós: "O amor romântico não é somente uma forma de amor, mas um pacote psicológico completo, uma combinação de crenças, ideais, atitudes e expectativas" (p. XI). Provavelmente, a sociedade atual exacerbou esse fenómeno como um dese- jo legítimo de realização do indivíduo, talvez pouco funcional para os nossos avós que, na busca do parceiro adequado, preocupavam-se mais com a sobrevivência e a estabilidade do que com a satisfação das necessidades íntimas e subjetivas. Acredito que um aspecto não menor do aumento de separações e divórcios na sociedade atual seja precisamente essa busca de felicidade (sintetizada no amor romântico) como desejo às vezes prioritário e sedutor da me-generation - defini- ção da sociologia norte-americana em relação à geração que antepõe as necessi- dades narcisistas aos valores normativos tradicionais. Alguns autores sugerem que o amor romântico seja uma reação amorosa de causa biológica para finalida- des de reprodução da espécie. Rizley, em 1980 ( citado por Ba~er e_ Pea~son,_ 1989) levanta a seguinte hipótese: "O amor romântico é uma reaçao ps1cob1ológica b_a- seada em processos hormonais e neuroquírnicos, funcionando vezes em ?._r- cunstâncias difíceis, para aumentar a aproximação e a proba?ilidade d~ uru~o entre dois indivíduos geneticamente diversos, a fim de garantir a so~breVIv~cra da espécie". Essa reflexão parece ser redutiva, na medida em q~e nao explica ª In. 'd" · • · que adqwrem as mesmas c1 enCJa de tal fenómeno nos casais homossexuais, 1h características dos casais heterossexuais quando fazem ~s mesmas esco as nar- cisistªs, ou nos casais que se formam em idade não-fértil. . ctos M . . . . ó . Freud sahentararn os aspe . . Ultos ps1canal1stas, a partir do pr pno )· "O dilema narcisista assen- narc1S1stas do namoro. Diz Solomon (1989, P· 77 · !8!2~M~a~u~r~iz~io~An~d~o~lfi~1 _______________ _____ . "midade o mergulho em uma relação íntima si n· ta-se no para~oxo da mu fundir:se com o outro. Isso representa um pelg ifica 'rir se misturar-se ou · b' º• liá pernu · d leta de si. Usando o parceiro como o ~eto-Si, Porta 0 medo da per a comp il - d al - .,., b nto nu·a conservamos uma usao e s vaçao. 1am ém se ti' negando sua autono , . b' Ver 'ê . d se dese•io O adulto conunua a usar o outro como o ~eto-Si a fi consa naa es , , _ . h · . ' Ili d b d . nte a união e a fusao, garanua, recon ec1mento e confirma • e o ter, me 1a . , . d . Çao Tudo isso faz parte de suas expe?ências mais mtimas, as quais nun~a ~ala co~ areeiro. Esse desejo arcaico normalmente se atenua na relaçao mtim ,, 0 seu P · · (1977 54) f ' · a · os autores italianos Norsa e Zavatum , P· . azem um~ otima sínte. se desse argumento: ''As relações huma~~• e_m pamcul~ as_ relaçoes duais, ca. racterizadas por um contexto afetivo de mum1dade e conunmdade, parecem te . ponder a exigências 'narcisistas' precisas de conservação de um equilíbrio inte:. no, mesmo que existam posições teóricas diferenciadas a respeito desse ponto". Hindy, Schwarz e Brodosky (1989) estudaram durante 10 anos O com. portamento amoroso de 2.400 pessoas, em uma pesquisa patrocinada pela University of Connecticut Research Foundation. As raízes de nosso estudo baseiam-se principalmente no trabalho do psicanalista John Bolwby e da psicóloga Mary Ainsworth, que estudaram as diversas fonnas de apego emocional que as crianças desenvolvem em relação às suas mães. Eles obser- varam que as crianças cujas mães respondem com sensibilidade e credibilidade às suas chamadas tendem a desenvolver um apego tranqüilo. Quando a mãe não é sensível e confiável, a criança toma-se ansiosa, reclama aos berros o contato com ela, _e outras vezes, ao contrário, evita-o. Quando a mãe maltrata ou excita demais a cnança, é_possível que esta se afaste dela no momento de maior necessidade. Esses p~droes de apego, uma vez fortalecidos na primeira infância ou na ado- !escên_cia, po~em persistir por toda a vida. Nos três tipos de comportamento infantil_ descntos, existem paralelos com as três abordagens típicas do amor romântico adulto: segurança, apego ansioso, afastamento (p. 27). ns, u· Qudalquer que s1a ~ua origem, provavelmente multideterminada a caracte-ca o amor romannco é o seu e 't r ' desvanecer. É , 1 ara er e emero, sua rápida tendência a se passional trf~:"'qeuqu~ essadcondição contribua para construir aquela auréola ,,. e c1rcun a o amor românti S h, ai . d' a~uele anseio de se fundir totalm . , co. empre a go a 1~pe minados assiste-se de form ent~, e, as vezes, quando os obstáculos sao eli- mento gradual un: dos m ª anguSaante e desesperadora, ao seu desapareci- res é o fim d; idealizaçtomdentos ámais _dolo~osos e, ao mesmo tempo, libertado- d. . o car ter mebnant d 1 • .,, IZla-me uma paciente " e a re açao amorosa. "Sarei , você ama, você não é ru'.ngu ... poe'mrque, 0 senhor sabe, o amor é uma doença. Quando eo outro é · · percebe que pode preencher a vid d O uruco que conta. Porém, quando você esse sentimento de sofriment é a e outro, tudo isso passa " Porém quando dade devido à falta de m • 0 atenuado, sucede-se a ele um-~s~ado de perplexi· . Na sociedade exist: 1 ~~ara ~dministrªr O fim da idealização idealização e é, p~r um lado :~~m:nt? duplo que conspira co~tra o fim da ' XISt ncia de rituais que exacerbam (também - A Crise do Casal 83 ara fins comerciais) o fenómeno do amor româ t' ~ento como um fim e não como O início de um ico, apresentando o casa- acordos e transações permanentes. Por outro lado, ~i:8;..f ~r:~~ 0 d; busca de como se os momentos de desalento e tristeza que às • dayafter', d . d . , vezes poem um fim ao casamento pu essem ser evita os. O silencio das famíl' d . é ias e ongem e dos arni gos durante essa etapa, uma forma de pseudo-respei'to à 'd . · ' o e éd · d • . VI apnvadada Pessoa. e 1ato, a pessoa eixa a sozinha diante de um al"d d d • · • a re I a e por vezes difícil de a mm1strar no traJeto em direção a novas regras d . , . d 1 . • e conv1vencra Como po e evo mr essa relaçao, e quais podem ser as tr fi · • . . . ans ormaçoes afenvas sucessivas que perrn1tem superar a fase de desânimo e d ·1 • ? u d fi · - d d 1 . es1 usao ma das e mçoes e amor a qua mais gosto é a de Antoine de s · t-Ex , d d. "O é 1 1 am upery quan o 1z: amor , ta vez, aque e processo delicado através d ai h d . ,, o qu eu te acompan o ao encontro e ti mesmo . Essa definição faz-me lemb · 1 - rar o amor que sentimos em re açao aos nossos pacientes quando os acompanh d . , d à amos ao encontro_ e s1 mes~os an:aves _ a, s vezes, penosa busca da identidade. Por esse motivo, chamei ~ssa d1mens,ao ev~lutiva de amor co-terapêutico (Canevaro, 1990, 1992), ~o senudo de que e doaç~~ e complementação do outro, é criação de uma relaçao baseada nas vulnerabilidades experimentadas em comum no crescimento da in~mi~ade e do diálogo. ~es~e modo, diminuindo e desap~re- cendo o amor romannco, o amor co-terapeut1co pode, ao contrário, crescer no tempo, aumentando a dimensão da ajuda recíproca. Essa relação mostra duas faces da mesm_a moeda, duas dimensões ou fases do mesmo amor, quando se tem a sorte, nao certamente por falta de empenho, de fazê-lo progredir. Essa característica egoísta/altruísta do amor co-terapêutico é uma dimensão clara- mente interpessoal, antiética em relação à fusão indiscriminada da simbiose patológica, como veremos em seguida. O compartilhamento reciproco das vul- nerabilidades faz com que o outro converta-se paulatinamente naquele ou na- quela que mais o conhece no tempo e que, aceitando-o como diferente de si, cria com isso as premissas para um diálogo profundo e autêntico, verdadeiro antídoto da simbiose. Provavelmente, a primeira marca importante desse amor co-terapêutico é a ajuda recíproca que cada um dá ao outro na fase de distan- ciamento da própria família de origem, um trabalho titânico que, às vezes, não acaba nunca e sempre condiciona o andamento da relação. A PSICOTERAPIA DE CASAL Estatuto epistemológico no campo sistêmico-relacional Jacobson e Gurman, em sua introdução à nova edição do ClinicalH?nh?ok of Couple Therapy (1995) descrevem as novas tendências no setor. Primeiro, ª crescente credibilidade' profissional e o significativo aum~nto de eSt~d~, nos Estados Unidos que concedem a autorização para prancar ª te1ra5pia e e 1 ' · - de saúde menta egun-asa , refletindo a política das maiores orgamzaçoes · 84 Maurido Andolfi ---- - a terapia de casal em direção aos probJem do a ampliação da intervençao. n .,..erceiro o aumento substancial de Prog as , . mportamenta1s. ,, • h 'd fi . 1 ra. psiquiámcos e co I d pós-graduação recon ec1 as o eia mente mas de formação nas es~o as :firmação de Manus (1966) de que a terapia .d os dois aurore~ !em r::a de uma teoria" com pouca clareza conceituaJe casal era :1111ª técmca em d terapia familiar deu um enorme salto quantitati . Desde entao, todo O campo!. ª to do pensamento sistêmico-relacional fornecvo a1·rativo O desenv-o vtmen . e T afi eu e qu i .tribui ões teóricase práticas à terapia iam1 ,1ar, rmando-a como enormes con_ çd_ . li as científicas no campo da saude mental. Apesar d uma das maiores isap n • · / 1 ão às o t · e tudo isso é dificil encontrar um ponto diferenaa _e~ r~ ~ç u _ras ps1cotera. . ' aJrn lhor definidas: a psicoterapia md1vtdual, na dimensão intra pias, norm ente me . nh · dº • · .. . . ai ( • áli·se psicoteraprn de cu o ps1co mam1co, cognttJVJ.sta e mterpesso ps1can , ) • · 1 . , tal m. dividual-sistêmica Gestalt, etc. , e a ps1coterap1a co enva ( =•. comportamen , ' . d . . . . 0 ·" pos de análise, estUdos organizacionais, ps1co rama, ter~p1as ~stenc1a1s, etc.). Se refletirmos sobre O nascimento clínico ~a terapia_ fa~1har, veremos que os primeiros pioneiros, habitua!mente_ psica~al1stas de ps1cót1cos ou de c:ianças (Bowen, Whitaker, Wynne, L1dz, Mmuchm, ~ckerma?, B~szorm~n}'l Na&Y, Framo Selvini Palazzoli), desencantados com as teraprns b1pessoa1s, amplia- ram O 'campo, estendendo-o à família. Nascia as.si~ paradigma ~ndador da terapia familiar em razão do qual, para mudar o md1vtduo, era preciso mudar 0 contexto familiar: Haley (1976), Watzlawick, Beavin e Jackson (1971). o "retomo ao indivíduo" da última década e os posteriores desdobra- mentos sistêmicos da complexidade, da segunda cibernética, do construtivis- mo e construcionismo social, do narrativismo (a definição paradigmática de Goolishian: "O problema cria o sistema") enriquecem enormemente o campo da terapia familiar, aumentando sua complexidade. Não obstante, após esse crescimento notável, verifica-se nos últimos anos uma confusão epistemológi- ca e uma perda de rumo, produzida provavelmente pela necessidade de uma nova definição. O conceito de família normal parece ser o divisor de águas que ajudaria nessa redefinição. . Por isso, considero útil, do ponto de vista trigeracional, reescrever a histó- na d~ terapia familiar centralizando-a no casal, visto como ponto nodal da famíha, entrecruzamento das linhas de descendência e união e viga-mestra de toda a estrutura. Se, por fim, considera-se que Sandra Coleman (1985), nos casos ~e _fracas~os terapêuticos estudados por ela, assinala que em 90% deles O ~stag10 do C1Clo de vida coincidia, mais ou menos com a fase do "ni- nho vazio" d " b d d ' e . 0 a an ono e casa", pode-se compreender perfeitamente por que se toma impreterível empregar nossas melhores energias para um estudo renovado das dinâmicas de c 1 . . asa em uma perspecttva evolutiva e prevenuva. O desafio clínico Quando o psicoterapeuta q · zões das incompatibilidades en ueSttona os membros de um casal sobre as ra: tre eles, recebe quase sempre a mesma resposta. __..... A Crise do Casal 85 "S mos tão diferentes!. .. ". A resposta pronta do tera d~ pelo bom senso, é: "Muito bem, quatro olho peuta provocador, mas gui- ad •s" Entretanto, os sinais de tristeza e a expresss_ endxergam melhor do que 01 • á . ao e amargura n d Ies fazem pensar o contr no. Como metáfora útil os rostos ;des e definir um objetivo terapêutico imponante, ~:~~i:t~:~~r su_as ~cissi- es (Canevaro, 1990). Como todos sabem as crianças na 'd nnaos Srame-s d 1 · d ' sc1 as com essa defor mação chegam ao mun o 1ga as em diversas panes do co . · . , · • . rpo, mats ou menos vitais mais ou menos remoV1ve1s cirurgicamente o desafi d . .• S epará-los sem que nenhuma das duas morra de.modo quºe po cirurg!ªº é O de • . ' ossam vtver auto- nomamente. Nos casais, como se manifesta essa "deformação"? Há 1 1 ab d • aque es que se ~ne~ p~ a '1 eça? mas s~pdaral ods quanto ao restante do corpo; há pessoas racionais, mte ectuats, cresci as a o a _lado, às vezes militantes nas mesmas causas, que se compreendem em um piscar de olhos, mas na·o vt'b . e • 1m t D d ram mrus, nem a1et1va e nemds;x 1 ua _ e~ e_. e to a maneira, não encontram ninguém que consiga,compreen e- os tao mt1mament_e como o outro. Há casais que se unem pelas vtsceras, porém. separ~dos ~anto mtelectual quanto sexualmente. Estão impregnados ~e boas_ mtençoe_s, ".11ª. de regras~~ bons filhos e bons pais que, no altar da famíha,_ sacrificar~~ mt1m1dade e fehc1dade conjugal. Finalmente, há aqueles que, unidos pelo pubLS, com grandes façanhas na cama, vivem brigando continua~ente, opondo-se em tudo, mas sem poderem encontrar outro parceiro que os sattsfaça sexualmente. Em um caso de terapia familiar, no qual os pais agrediam-se continuamente - na frente dos filhos e também durante a sessão de maneira agitada e violenta, provocando grande mal-estar nos observado'. res - chegou-se a uma melhoria após algumas sessões. Superado o susto das primeiras sessões e animados pela possibilidade de falar de suas vicissitudes, os filhos contaram ao terapeuta que, durante anos, os três ouviam aterrorizados - por detrás da porta do quarto de dormir - a mãe gemer, pensando que o pai a estivesse estrangulando! Como se formam essas disfunções? Devagar, enquanto o casal vai consti- tuindo-se (ladeado pela ajuda permanente e inevitável dos sistemas familiares de origem, SFO), instaura-se o mecanismo insidioso de anulação das diferenças que poderia ameaçar aquele ideal de fusão .3 Vai crescendo, assim, o que eu chamo de monstro simbiótico4, que engole os aspectos originários da identidade do parceiro, ressaltando, ao contrário, a imagem dos irmãos siameses. Essa classificação teratológica do casal é uma metáfora destinada a mos- trar de que modo aquele monstro simbiótico "uniu" o casal, separando-o ao mesmo tempo. Se se ouvem em separado os membros de um casal desg~~d~, geralmente não se pode deixar de dar razão a quem se qw~ixa de ta_ntas mJUSO· ças, tantas maldades, e isso faz com que o interlocutor (seJa ele a_nugo, parente 0~ terapeuta individual) seja induzido a sugerir ~ue a melhor cotsa é ª sep~aé çao. Esse mal-entendido típico "de jogar fora a cnança com a á~a d? ban\ produzido por uma compreensão insuficiente dos aspectos relacionrus (!em re- mos o que dizia Laing que a psicose não está nas pessoas, entreáads pes-' d · rurcn ao) ser erro-soas) . O verdadeiro desafio do psicoterapeuta (como O O ci 0 • , 86 Mauri:do Andolfi ---- . . parentemente uniu os parceiros, separa w aquele monstro simb1ónco ~ue Somente dessa forma poderão eventu~- do-os em suas capacidades ronJugatà\nrervenções mais eficientes para super . . -""teS de passannos s . SFO ar mente se urur. "" . . fl ências dos respecttvos . tais dificuldades, vtJamos as m u do casal e vicissitudes ==:~:ois sistemas familiares de origem . difíceis no crescimento de um ser humano é O pro. Uma das fases mais - d . . 1 à busca da autonomia, a elaboraçao e um pro~eto _ex1stencia] que _eva . . a SOCJ. edade. Separarmo-nos da orgamzaçao familiar e a mserçao cnanva n • l •lh d e das pessoas com as quais acurou amos m1 ares e que nos eu um nome d 1 milhares de interações ao longo do tempo é u_m ~rocesso gra ~a que ~unca acaba e que se entrecruza com a nossa descendenc1a em um moVImento c1clico, autoperpetuador. . . •i· d • • Bowen (1979, p. 32), pioneiro da t~rap1_a _fam1 iar e um .. os pnme1ros a trabalhar com as famílias de origem, Já dma em 1966: Nesse enfoque psiroterapêutico, os conceitos teóricos principais são três. O p~meiro_ diz res- peito ao grau de 'diferenciação do si' de uma pessoa. O contráno da diferenci- ação é oferecido pelo nível de 'não-diferenciação', isto é, pela 'fusão do Eu'. Tentou-se classificar todos os níveis de funcionamento humano em um único continuum. De um lado da escala, há a máxima intensidade da massa indiferenciada do eu familiar, na qual predominam 'indiferentismo' e 'fusão do Eu', com baixa 'diferenciação do si'. A relação simbiótica e o fenômeno da 'loucura a dois' são exemplos de estados clínicos de intensa fusão do Eu. Do outro lado da escala, predomina a 'diferenciação do si', com baixa evidência de fusão do Eu. As pessoas que se encontram nessa extremidade da escala representam os níveis mais altos de funcionamento humano". O processo individual de exogamia e busca da autonomiacoincide, mui- tas vezes, com uma mudança intergeracional complexa, como passagem de uma fase à outra do ciclo vital familiar. Ao mesmo tempo, a primeira geração, a dos _avós, desa~arece ou entra em franco declínio, pesando sobre a segunda guaçao, a dos paJS, que estão atravessando a crise do "ninho vazio" - momen· :o no. q~al, segundo Coleman (1985), produzem-se 90% dos fracassos ~rapeuncos por ela estudados - e devem enfrentar e reconstruir sua própria VI~ após o afastamento dos filhos. As dramáticas mudanças sociais e re aonaIS da sociedade atual e o aumento da longevidade levam o casal a ter que_ e~ntar um período de 25 a 30 anos (novamente sós) em uma dimensão COrtJ~Esseque norm~lrnente é ofuscada pela dimensão parental. processo intenso de reestrutur - d • . • al · · o toma mais árduo O afastam açao o sistema tngeracron mt~ir sistema, mais difícil ento dos filhos e, quanto mais desgastado esteJa_ 0 importantes para O eq~~ 0 1af~mento. Quando os jovens adultos sao no re acional dentro de suas próprias famílias, por -------------------!.A~c::rt~ae~do::c~ua~l~l~7 das dificuldades conjugais de seus pais ou uand caus~ bomeostático na prevenção dos conflitds se~ afas~esenvolvern um papete contrastado. Esse processo costuma aco~tecer de mane~to s_erã ativa- men dois SFO e será a origem do "braço-de-ferro" que o casal e ra s1mul~ea n~s d1"ádica, passa a manifestar em termos de rivalidade ou e'secaml sdua ~1rnée~- sao . - d d . a a sim trt- ca, s na negocd1açaod e no~as ~egrads e ~OnVIvência (escolha geográfica do d micílio, mo os e repro uçao, e ucaçao dos filhos papéis sexu . ) N o d. . ºd otel a d . . ' ais . esse Cesso mg1 o a pr ar per a 1mmente ou pelo menos a d . . á pro • íl. d . • , a m1mstr . l ambas as fam ias e ongem entram em choque na tentan·va d 1 b a, " ,, t d .. d e eng o a- m e tomarem seu o paren e a qum o. re d ·n-é Esse pr?cesso e assim _aça~ uma ~as características dos sistemas vi- ventes objetivando a neutrabzaçao das diferenças, assim como uma ameba engloba com o seu pseudópo~o um corpo estranho para tomá-lo seu. Os siste- mas familiares tentam reduz1r_ou an_ular as di~e~enças, incorporando O possí- vel rival que yode ameaçar ª. mtegndade familiar. Poderíamos aplicar a esse processo a leitura an~opológ1c~ so~re ?s fator~s que regulam a schi.smogenes~ descrita por Bateson ou a expbcaçao cibernética que o próprio autor dá sobre a teoria da evolução por obra da seleção natural.7 Esse processo de "lavagem cerebral" ou "normalização do outro" inicia-se de modo dissimulado e muitas vezes inconsciente, durante a fase de namoro e conhecimento recíproco da família do outro, e continua sempre. Tudo isso serve para atenuar os problemas advindos das diferenças culturais, socioeconômicas e religiosas de ambos os SFO, ou para favorecer a adaptação de ambos os par- ceiros (não nos esqueçamos de que as ditaduras sempre iniciam suprimindo as liberdades do povo para "seu próprio bem"). Esse posicionamento estratégico de ambos os SFO será o início, a meu ver, de uma eterna e infrutífera tentativa de modificar o parceiro, o qual, ao nível diádico, em praticamente todos os casais se constituirá naquilo que eu chamo de "delírio" de transmutação.• Essa missão impossível pode durar toda a vida útil de um casal, subtraindo uma quantidade enorme de energias que poderiam ser canalizadas para um projeto comum, visando a uma melhor qualidade de vida. Convocação das famílias de origem (SFO) em sessão Framo, um dos pioneiros da terapia familiar, ainda vivo e conti?u~dor d~ trabalho de Bowen com as famílias de origem, diversament~ deste úl~o, foi um dos primeiros a insistir na convocação direta das famílias de ongem em sessão a fim de utilizar sua presença como recurso emocional (Framo, 1976, 1982, 1992). Ele nunca aceita na sessão ambos os SFO simultaneamentt. comlfio fa · Whº d balh ultigeracional. Ando , zia 1taker um outro grande expoente o tra O m acompanhando a mesma linha de Whitaker, diz: "Somente_~ encontro co~ Whitaker e seu pensamento clínico coerente é que me perm~ttu dar ~=s nada significativa no meu modo de fazer e conceber a terapia nesses , 88 Maurizio Andolfi . -----....,_ - sai·s que são particularmente hábei· do com os ca 88) s e111 dez anos. E isso sobret:i n ão terapêutica" (19 . ·ngi·r o campo da mterve ç l i•ru'ciada em 1968 em Buenos Aires q resm .• eia pessoa, 'd d , uan Em minha expenen b' criamos uma comum a e terapêutic d. d eco e Prover to, . f ·1· a e do eu, Garcia Ba _ ara adentes psicóncos e seus am1 tares, selll r orientação psicodmâmica P. P . do permanentemente com seus famili! e pude observar os paciente~_mte~:varo 1970). Esse foi o contexto Privilegies (García Badaracc?•. Prover ~~/os 13 ano~ em que participei da direção des:· do que me perrm~u, _dura reender a influência enorme que os SFO exe a comunidade terapeunca, c~mp casais através do vínculo da aliança r- eem, no bem ou nodmal,bsoalhr~ f!tensivo ampliando sempre o conte~to tera Em 30 anos e tra ' d · ' · fí · • . . escutei qualquer caso e piora ps1qu1ca ou 'sica dos Peunco nunca VI, nem ' d · · d lh · .. ' ó sessões Fui informa o, isso sim, e me onas ou mu parnc1pantes ~p as familiar~s submetidas a ondas terapêuticas sucessiva; danças nas r ª::s que se alargam tal como o lançamento de uma pedra na ql ue se Uperse~m~ca vez convocando' um pai bastante periférico e marginal de agoa. ma u , . . uma paciente minha e fazendo com que se ap~ox1masse ? et1vamente da filha por meio de um abraço, este fechou-se em s1 mesmo_ diante ~a recusa dela. Esse homem alcoólatra há muitos anos, teve nos dias seguintes uma leve isquemia ce;ebral (depois superada sem conseqüências) 9~e. permitiu uma aproximação da filha, dessa vez de forma espontanea, poss1b1htando a ambos resolverem um mal-entendido que durava há anos e iniciarem uma nova rela- ção afetiva mutuamente gratificante. Autores pioneiros como Bowen e Boszormenyi Nagy, entre outros, acre- ditavam na importância das famílias de origem nas vicissitudes do casal e das famílias nucleares, e compartilhavam do mesmo contexto de aprendizagem clínica: os pacientes psicóticos e seus familiares. Nessa busca de compreensão e eficácia clínica, reproduziam a história do nascimento clínico da terapia familiar a partir, mais precisamente, do fracasso terapêutico das terapias indi- vidu~is com pacientes psicóticos ou com crianças. Dada a sua grande depen- dência_ em~cional psicológica e material de familiares significativos, chega- ram a 1~clm-lo~ nos tratamentos, ampliando o contexto terapêutico e incorpo- rando s1stemancamente as famílias de origem (Canevaro, 1994). Framo, em seu belíssimo livro Terapia intergenerazionale, diz: Entr~ ª~ con~icções de Whitaker há uma importante em relação a este livro: é prec15o m~lurr três gerações no trabalho com casais ou famílias (Whitaker, 1976). Ele acredita que o env 1 · d f • • ê . . 0 Vlmento a amíha amphada aumenta o poder terap u-uco, assim como convidar 1 'ê . d . um consu tor ou um co-terapeuta favorece uma ex· pen nc1a e crescimento p 1• b'd . . ara O ciente e o terapeuta. [ ... ] O leitor já terá perce- 1 ° que meus obJeUvos ao · • o de qualquer i d'f • organizar as sessões com as famílias de origem, sa os membros ;~a ~-erentes dos de Whitaker. Do meu ponto de vista, quando tanto do passadoami 1ª ~forçam-se em elaborar questões difíceis e dolorosas cônjuges e filhos i~~:1º 0 presente, uns na frente dos outros, a presença de e ou toma até confusa uma tarefa tão grande. Em minha --------------------~A~C:n::·s~e~d~o~C~a~s:al~~8~9 opinião, a melhor maneira de ajudar os filhos é • d • - 3JU ar os pais ar própno Eu, suas relaçoes e suas prioridades (F 1 eerguerem seu ramo, 992, p. 147-148). Andolfi afirma [ ... ] parece-me proveitoso que ambos os cônjuges possa d' 'd' . . . . . m IVI rr uma expenên-c1a unportante e, mmtas vezes, sofrida. A presença física d ô . - é fi - . . o outro e nJuge na sessao uma con mnaçao, mesmo tndrreta de quese está tr balh d b · d ai • ' a anosoreas problemáticas o cas . Além disso, permite avaliar a capacidade de cada par- ceiro em se expor frente ao outro, mostrando abenamente necessi'd d , • . . a es a,etlvas e fraquezas anngas, mmtas vezes ocultadas mesmo após vários anos de vida em comum (1988, p. 221). o meu método invariante (1978, 1982), utilizado há mais de 20 anos e descoberto at~avés da clínica d: ma~eira empírico-intuitiva, foi por mim utili- zado sistematicamente e conce1tuahzado em 1985 (Canevaro, 1986). Consis- te em ver, no início da consulta, cada fa1!1ília de origem em separado, sem 0 cônjuge presente. Framo faz a mesma coisa, porém com uma diferença subs- tancial. Segundo ele: ''A partir do momento em que o núcleo central é a relação passada e presente de um adulto com seus próprios pais e irmãos, não convoco o outro cônjuge à sessão. Sua presença seria um convite aos pais e irmãos para falarem das dificuldades do casal e das dificuldades parentais, e isso seria um método de triangulação que diverge do propósito principal" (1982, p. 179, grifo meu). Em minha abordagem, o tema explícito da convocação é a relação do casal. A solicitação de solidariedade e informação da família de origem serve ao objetivo terapêutico de definição da relação, seja em relação ao casal, seja entre os SFO e o sistema familiar nuclear (Canevaro, 1988, p. 206-207): "Inevitavelmente, sempre aparece (e esse é um dos objetivos terapêuticos não- explicitados pelo terapeuta) a relação do membro presente com sua família de origem, independentemente da relação conjugal". Framo envia a fita da sessão ao cônjuge ausente para informar-se: "Suge; rimos que o parceiro ouça a fita da sessão, já que também diz respeito a ele. E importante que o parceiro não se sinta deixado de fora. Ficamos impression~- dos com o grau elevado de cooperação dos parceiros durante esse proce~1- mento; eles alimentaram por longo tempo a suspeita de que seus pares proJe- taram neles algo que não lhes cabia" (1982, p. 182). . . . . Eu ao contrário insisto sobre o segredo da entrevista: G1ovanm e Mana são livr~s para dizer~m um ao outro tudo ou nada em relação à entrevista, Tudo o que eles não falarem sobre isso, eu não lhes direi. Faz parte ~o segre?o profissional e tem a finalidade de que tudo o que seja falado fique circunscnt? à família e de que se fale sobre a situação com toda liber~a_de. Isso no_s pe~;) te: a) reforçar a diferenciação entre os dois sistemas familiares d: ongem, b . das informaçoes entre os 0 servar as retroações sucessivas e o movimento . . d · d . • . familiar desgasta o, CUJO º1~ conjuges; c) introduzir um cunho no sistema efeito é paradoxal (Canevaro, 1988, p. 205) . 90 Maurizio Andolfl ---.__ s reações que provoca nos compone Essa modalidade de rratamento,d~J'á são um elemento terapêutico. Qu,,~tdes . rroações observa h d b ""10 de cada familia e as re b ante nossos ol os - quan o sa emos eXplo á se realizam as sess~es, desdo . ra~epor parte de cada SFO, geralmente oculto ; · lo - todo um jogo mter-~elac1on ale que nos permite conhecê-lo de um Pon~o ude ' . atoloma do cas . • e está implícito na P . o· 'á terapeuta coloca-se em uma pos1çao que 1h observação privilegia~o, J que ~veis em jogo. O fato de introduzir o segredo de possibilita conhecer d1vers~s van rmite compreender muitas coisas que, às vez o que foi falado em cada s1essao :tes de se tomarem claras e que, com freqüên? exigem um tratamento ongo 1994 p 268) ia, desvelar (Canevaro, ' · · nunca se consegue . d . de divórcio durante o encontro da mulher co Em uma terapia e cnse ' ·1· d Ili l f ntários com seus fam1 1ares acerca e seu primeiro o seu SFO e a az come 'd . • .' .• rmaça·o da qual eu não estava a par e nem o man o atual! mammomo, 1nio f T té · Nesse modelo de abordagem dos desgastes_ am1 •~~e_s, asd cmcas suce. dem-se em fases diferentes e, obviamente, ~stao codn icio~? lpelo estilo interativo da família e do terapeuta. Apesar disso, po emos IVl i- as em dois grandes momentos. , . , o projeto do método é altamente estrateg1c? e par~dox?l: as _tecnicas de abordagem da famHia são restauradoras e expenme~tais, pr~vilegiando O en- contro emocional. o fato de envolver ambas as famílias de ongem de maneira separada já é um elemento discriminante da simbiose do casal, porque redefine cada um de seus componentes como membros de cada família de origem. Procura dissolver as coalizões ocultas, prescrevendo explicitamente a aliança com cada família de origem, e é, ao mesmo tempo, um fator altamente provocativo, porque pressupõe que cada um dos membros ainda não está maduro e precisa ''voltar às origens". Em geral, isso produz um mecanismo de rebote que permite restaurar no casal uma dimensão solidária que pode reacender o amor co-terapêutico. Todas essas mudanças são produzidas por causa do efeito amplificador do método de tratamento e não comprometem a margem de manobra do terapeuta. Em outras palavras, o terapeuta é suma- mente ativo em organizar o palco terapêutico e realizar manobras estruturais e experimentais e absolutamente neutro quanto às mudanças que se produ- zem e que dependem de vetores psicológicos e emocionais em jogo, "afeta- dos" por ~q~ela intervenção contextual (Canevaro, 1994, p. 270). . Por ultimo, u~a grand: diferença em relação a Framo é que ele prefere mcorpor~ as fa~'lias de ongem ao processo terapêutico do casal após uma preparaçao prévia dos parceiros e quase no fim da terapia e, às vezes, não se preocupa se uma ou outra famHia de origem não participa (Framo 1982). Eu nunca convoco ' · · . . ' í um '!111co sistema familiar se o outro não estiver disposto e, se posds vel, pre~ro faze-lo no mesmo dia ou no máximo na mesma semana, de mo o que nao haja alte • · ' ' famili d raçoes importantes no equilíbrio entre os sistemas ~res e origem que possa!11 perturbar os cônjuges. rante a =;:/:z:, e~ decorrencia das decisões tomadas pelos cônjuges ' m VISta ao aumento da dimensão de intimidade e cumpltCI· --- A Crise do Casal 91 odem surgir determinados impasses. Nesse c dade, ~mpre de forma separada, dessa vez com a P aso, convoco novamente os sFO, sde desbloquear o impasse e dar um sinal de ~aesença '!_e ambos os C-6njuges, a fim . í · · d' provaçao à sua d · • SFO desde o m cio, permite uma 1agnose mais clar d . • ecisao. Ver osnh ce claramente o jogo relacional de cada SFO e c ª ª.s•~açao, porque se co e · Q d orno incide no co nto de cada parceiro. uan o se tem sorte, consegue-se d b mp~rta- ":e de impasse9 que, segundo Selvini Palazzoli e colabol d es loq~ear sttua- b:dada que devemos abrir: ':Ju~tamente P?rque pensamo~ º:\ s:o a ~rta atriz do que buscamos, está atras dela. Assim se não conseiu ~encral, a !llara mudá-lo, nunca faremos um bom trabalh~. Estaremos co ":1°8 ecifrád. -lo, P • · · fu nscientes e tê-lo compreendido muito ~uco e isso, no turo, deverá ser nossa maior tar f [ ] 0 primeiro passo cons1st~, segundo nos~a op~ão, em diferenciar a s~~-"a; ;.,,,,passe do c.asal do conflito de casal. A s1tuaçao de impasse esta' es d'd u" fli é il é con 1 a,en-quanto o con) Eto a~u o. qued a~arece, ( manifesto" (Selvini Palazzoli et al., 1988, p. 267 . ssas s1tuaçoe: e impasse ver Figuras 4.1, 4.2 e 4.3) geralmen- te acontecem na configuraçao em que ambos os cônjuges pertencem ao SFO com um estilo relacional de tipo coesivo (SC+SC).10 * ** *** *** ****** A B ****** **** ** *** *** *** Figura 4.1 Primeira configuração: ambos os cônjuges pertencem a sistemas coesivos (SC + SC) . *** ****** ****** A---B * **** *** * * * * * Figura 4.2 Segunda configuração: um dos dois cônjuges pertence a um sistema coesivo e outro a um dispersivo (SC+SD). * * * * A----B * * * * * Pi sistemas dispersivos gura 4.3 Terceira configuração: ambos os cônjuges pertencem ª (SD+SD). 'l92~-M~a~un~·z:~i~o:._An~d~ol::,fi:,__ _______________ _ .:. --- FILOSOFIA TERAPÊUTICA Ao falar de técnica e de objetivos terapêuticos, utilizam-se conceitos dmasiadamente frouxos, que não refletem toda a complexidade, a qual é melh e. indicada pela expressão "filosofia te~pêutica" .. Com i~so, quero assinalar u;; concepção que não só emoldura a ep1stemolog1a teói:ic~ do terap:uta e O con. junto das técnicas desenvolvidas a fim de alcançar ?bJetlvos te~apeuticos éticos e possíveis, mas que é também o amálgama desse sistema cognitivo do terapeu. ta com sua própria história vital e seus sistemas de crenças e valores. Seus sentimentos são o enredo afetivo que funciona como suporte, entrelaça todos aqueles conceitos e serve como ressonância emocional frente ao trabalho. A mudança da estrutura tradicional da família (convivência no mesmo lugar ou próxima das três gerações), além da mitologização predominante do individualismo, pôs a perder as funções de "solidariedade" que essa família tradicional exercia e que ainda não são repostas pela sociedade atual (Zwerling 1987; Boszormenyi Nagy, 1978). Todavia, na sociedade atual permanece~ formações histórico-culturais residuais que agem como pacemaker do casal e do sistema familiar nuclear, exercendo uma influência importante na resolu- ção dos desarranjos familiares. Assim, convocar os sistemas familiares de ori- gem é necessário não só para reconstruir uma realidade compartilhada, como as peças de um quebra-cabeça que dê sentido à história comum e que contri- bua para uma melhor prevenção inicial, mas também para voltar a fortalecer vínculos _de solidariedade, de alto poder emocional que, uma vez canalizados te~peunc~e~te, podem ser de enorme ajuda. Aqui, o terapeuta deve ser a enzima catahnca capaz de ativar elementos autoterapêuticos sempre presen- t~s em ~iste;11?s fam(liar:5 _e, ao mesmo tempo, ser o centr~ integrador das lmhas diacromcas e smcrorucas desses sistemas. Assim como diz Boszormenyi ~agy (1978): "A tentativa comum de superar os problemas de impasse rela- c!o~al (relações interrompidas, negadas, abandonadas, fixadas de maneira ngida, etc.) p~e ?f~recer uma estratégia mais eficaz do que aquela de ativar os recursos ps1cologicos não desenvolvidos pelo indivíduo". tº fundo, 0 trabalho terapêutico com os sistemas familiares de origem ~ont m um elemento fortemente paradoxal: "Retornar para partir melhor". A -1:C: de uma melhor diferenciação é alcançada nutrindo-se até chegar à matu· ªà e, coáfimo um~ fruta quando é colhida no momento certo e dando seqüên· a met ora, nao quando é cortada d á · d ' á 1 melhor na gelad · . "D a rvore am a verde para conserv · .ª rar força daque1!1::er '.31 u: P~t-° atrás para dar dois à frente" significa ren- das ligações relacionaif: 1 izada para ~entar neutralizar os desarranjos O elemento central de um~- pa~a uma inserção criativa na sociedade. A passagem frustrada de um sm~biose é um encontro emocional frustrado. lógicos e funcionais q~e cara; g~raçao P:3fª outra, de elementos afetivos, psico· tidade do outro é O que pro enzam recip~ocamente o reconhecimento da iden· conflitos. Esse bloqueio é O movei bloq~e.io entre gerações, fonte de inúmeros que O Slacuhza ª funcionalidade do sistema, impe· --- A Crise do Casal 93 . do-o de avançar no processo da vida. o segred d . . d_intema familiar está na harmonia intergeracional Po 1 ª funcionalidade de um s1s . d 1 e a qual cada u el determina o pe o seu momento evolutivo A . _ m exerce 0 ptPnvos e culturais entre as gerações é o que garan~e tra;sm!ssao. dos valores ª e ara além da morte física. Assim como todas as ª so reviv~ncia das pesso- ª!mP direito a esse tipo de "transcendência" també:essoas em idade avançada te d . li , as que seguem em fr t'm direito e se sentirem a mentadas por aquela forç ente r~zes. Quando um homem e uma mulher formam umª que vem ~as próprias f il . · • par, na realidade unem dois sistemas am 1ares, os quais interagem através desse ví cu! . fl . no e modificam-no em _um pacto sancionado pela sociedad: º• m uenciam- Esse vín~ulo de aliança t:m. um valor antropológico cultural e é difer do vínculo filial que une os conJuges com seus próprios pai·s filhente ·f - f . ecomos os junto co;,; os quais o~~rao uma amília. Esses dois vínculos são essencial'. mente 1 erentes, :~~1~e,t1~os e, ao m~sn_io tempo, complementares entre si (Fi~r~ 4.~)- Um 10 og1c~ e _en~ogam1co, o outro é cultural e exogâmico. os . 01s existe 1 i_nd emvíuma 1 redaçao 1 _ mversa~ente proporcional, isto é, quanto mais se canso 1 a o ncu o a a 1ança, cnando uma série de regras p ó · · · d d 1. r pnas, transac1ona1s entro e um ~erto_ c 1ma de cumplicidade daquele casal, mais tendem a se enfraquecer as hgaçoes que unem os dois cônjuges aos respecti- vos sistemas familiares de origem e a se enfraquecer a cumplicidade desen- volvida com estes últimos através de muitos anos de convivência. Com O nas- cimento dos filhos, estende-se o vínculo filial ao longo de um eixo diacrônico que permite a passagem transgeracional daquele fio condutor biológico e cul- tural, responsável pela continuação da espécie. A tensão dinâmica que existe entre esses dois eixos, em uma complementaridade dos opostos, constitui o ponto nodal do sistema trigeracional. Dizíamos antes que o vínculo de aliança é inversamente proporcional ao vínculo filial. É por causa disso que o casal, ao estabelecer esse vínculo e estreitá-lo cada vez mais, vai marcando um maior distanciamento, primeiro em relação a ambas as famílias de origem e depois em relação aos próprios SFOM Cônjuge ---- Avós SFOP F 1 L 1 ALIANÇA--- Cônjuge i o Filhos Pi , • dai do sistema oigeracional. gura 4,4 Intersecção dos eixos de aliança e filiaçao. Ponto 00 ~94~-M~a~un~·~l.i~o~An~d~o~lfi~--------------------- é arca a diferenciação intergeracional que, como todos filhos. Isso do qufre m ma perturbação provoca aqueles sintomas disfuncio. sabem quan o so e u ' . 'r causa dos quais somos consultados. . nais r chave de nosso trabalho é compreend~r como esse eixo do vínculo 1 fl . d tempo e O crescimento dos sistemas e das pessoas que os regu a o mr o . é fu d 1 formam. o fortalecimento do vín~ulo ~e aha_nça ament~ para a dife- renciação dos sistemas intergerac1ona1s no e1x~ do vin_culo fihal, tanto para uma geração quanto para outra. Quando _esse sistema inverte-se, produzem. se as coalizões intergeracionais, expressao de um ach~tamento ou de uma cisão desse eixo primário descrito e o aflorament~ de sintomas em qualquer uma das três gerações, conforme o problema dominante. . A falta de harmonia entre gerações e a presença de determinados blo- queios evolutivos impedem o fluir da vida no tempo e a transmissão, pelas próprias pessoas, de sistemas de valores nesse porvir. Qua~do somos capazes de favorecer o desbloqueio e a fluidificação desse eixo, os sintomas desapare- cem, sendo expressão de perturbação do fluxo da própria vida e da conse- qüente dificuldade de inserção criativa dos indivíduos na cultura circundante, meta essencial da família. Por esses motivos, considero que o objetivo tera- pêutico da harmonia intergeracional dos sistemas observados também é éti- co, dado que uma terapia deve significar um benefício para todos, e não so- mente para alguns em prejuízo de outros. Por essa razão, é necessário o en- contro emocional que transmita calor e forças ao processo de diferenciação, já que as simbioses ocultam uma profunda falta de encontro. Diz um velho provérbio chinês que se pode separar somente o que prece- dentemente foi unido. Este é o objetivo terapêutico: permitir a volta para poder partir melhor. EM DIREÇÃO AO NOVO MILÊNIO . Trabalh~ sobre º. sist~ma ~eal trigeracional em sua interação hic et nunc obviamente _nao exclui a h1stóna, uma vez que, como dizia Goethe, aqueles povos que nao lembra':11 seu próprio passado deverão repeti-lo. Significa pôr a ~amr um poderoso Sistema sempre presente na organização social da famí- lia ... só querer fazê-lo. A compreensão da enorme força que esses sistemas tmi~ares possuem e a aceitação de nossa fraqueza paradoxalmente podem
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