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Teologia Sistemática III Aula 4: Espírito Santo no Novo Testamento em geral Apresentação Esta aula apresenta o desenvolvimento da doutrina e da experiência do Espírito Santo no âmbito da literatura paulina. Estudar a doutrina teológica do Espírito Santo no Novo Testamento é mergulhar nas signi�cações da ação de Cristo Ressuscitado e assim aceder às experiências pentecostais própria da comunidade dos discípulos. O Novo Testamento é um testemunho dessa ampla ação do Espírito Santo, primeiro na vida e na ação do Cristo, e depois nas de seus discípulos. Objetivos Compreender a doutrina do Espírito Santo no âmbito do restante dos escritos neotestamentários; Reconhecer os âmbitos da pneumatologia (teologia do Espírito Santo) na literatura paulina e do Apocalipse. (Fonte: Paolo Gallo / Shutterstock) Premissa O Espírito Santo é o intercessor que nos introduz na vida da Trindade, para a realização do projeto de Deus, na adoção �lial, na glori�cação dos �lhos de Deus e da própria criação (Rm 8,19-27). Habitando em nós (Rm 8,9), faz morrer as obras do pecado (Rm 8,12). Ele comunica a verdadeira paz, que é comunhão na vida feliz de Deus. É Aquele que "vem em auxílio de nossa fraqueza porque nem sabemos o que convém pedir" (Rm 8,26). Nesta aula trataremos de uma importante tradição do Novo Testamento, indispensável para conhecermos o patrimônio pneumatológico. Já pudemos ver isso nos Evangelhos (de Lucas, em particular, e de João, com as promessas do Espírito da Verdade), e agora é a vez do grande São Paulo, teólogo da primeira hora cristã. Sobre o Espírito Santo no Novo Testamento, temos na teologia de São Paulo um grande acervo de compreensão acerca da identidade e da ação da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade. 1 Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online É muito ampla e diversi�cada a a�rmação de fé e, sobretudo, muito rica a experiência do Espírito Santo no Novo Testamento. Comentário Aqui nos cabe uma análise do ponto de vista da Igreja, seja porque ela o experimenta, seja porque fala sobre Ele, até formular um artigo de fé, onde a�rma a “Personalidade” do Espírito de Deus, revelado de�nitivamente em Jesus Cristo. Como dissemos, o Espírito é um objeto complexo em relação à Igreja, pois, de um lado, Ele mediu o conhecimento que a Igreja tem de si própria; e, por outro, é a Igreja que �xa uma linguagem sobre o Espírito que corresponda à consciência Divina da terceira pessoa da Trindade, como a conhecemos na linguagem da tradição ortodoxa da Trindade. O Mistério da Igreja ela o conhece, somente em contato com o Espírito, pois este dá acesso ao âmago do Cristo e, assim, ao epicentro de sua consciência, enquanto Igreja. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0154/aula4.html O cristão, pela graça batismal, é introduzido na intimidade da vida trinitária, partilhando da sua riqueza na comunidade eclesial. A plena comunhão da Trindade manifesta-se na Comunidade-Igreja e oferece vida nova (Ef 4,24; Cl 3,10) de relacionamento de �lhos com o Pai (Gl 4,6). O Espírito ensina, santi�ca e conduz o Povo de Deus através da pregação e da acolhida da Palavra, da celebração dos sacramentos e da orientação dos pastores. Distribui também graças ou dons especiais "a cada um como lhe apraz" (1Cor 12,11), sempre "para a utilidade comum". Por essas graças, Ele "os torna aptos e prontos a tomarem sobre si os vários trabalhos e ofícios, que contribuem para a renovação e maior incremento da Igreja” (1Cor 12,2). O Espírito Santo distribui seus dons aos �éis, de tal forma que ninguém possui todos eles, como ninguém está totalmente privado deles (1Cor 12,4ss). Esses dons são sempre para o serviço da comunidade (1Cor 14). Não é a experiência dos carismas que exprime a perfeição da salvação, mas a caridade que deve perpassar toda a vida do cristão (Mc 12, 28-31; 1Cor 13). Procurá-la é o primeiro e melhor caminho para a edi�cação do Corpo de Cristo, que é a Igreja (1Cor 12,31-13,13). (BORGES, 2013). Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online A �gura histórica de Paulo Cronologia Para a maioria dos autores, é bastante fácil delinear o quadro geral da vida de Paulo. Nascido pelo início da Era Cristã, por volta do ano 5 d.C., converte-se e entra no círculo dos seguidores de Cristo, e sobe muitas vezes a Jerusalém (encontrando-se com Pedro). A partir de uma intensa atividade missionária, ele se tronou um peregrino e percorreu todo o arco do Mediterrâneo Oriental, com paradas prolongadas em Antioquia da Síria, Corinto, Éfeso e Roma, onde morreu sob o período de Nero (64-66?). É mais difícil precisar cronologicamente os episódios da vida, as viagens e a morte, esta indicada por alguns autores como ocorrida no início do período de Nero, enquanto para outros se deu no �m. O referimento mais seguro é a inscrição de Del�, que indica o pró-cônsul romano Galião no período 50- 51 como residente em Corinto (cf. At 18,12). Dois esquemas cronológicos nos ajudam a compreender sua vida: Ato dos Apóstolos Segundo as Cartas Tendo como clássico e tradicional referimento. Missão Paulina vem escalonada em diversos momentos: 1. Concílio de Jerusalém (49-50) depois da primeira viagem; 2. A prisão em Cesareia, entre 58-60; 3. Em 60-62, período do cárcere romano; 4. Em 64 ou 67, a segunda prisão e a morte. 1. Concílio de Jerusalém: 50-51, depois da segunda viagem que levou Paulo à Grécia; 2. 52-55, Éfeso, pela segunda vez; 3. 56, prisão em Jerusalém, prisão em Cesareia; 4. 57-58, viagem a Roma; 5. 58-60, domicílio forçado em Roma; �. 60, martírio sob Nero. A conversão Os textos Gal 1,13 e At 8,1 são elementos hermenêuticos importantes na compreensão das cartas (literatura paulina), relatados por Atos, três vezes, At 9,22 (Paulo), 26 (Paulo). Nas Cartas, torna-se um argumento constante, de modo apologético ou polêmico, defender-se dos adversários e indicar o fundamento que sustenta sua vida (1 Cor 15,8; Gal 1,15-16; Fil 3,12). A conversão de Paulo, como lemos nos diversos textos, apesar do seu caráter autobiogrográ�co, aparece sensivelmente teologizada e re�ete uma leitura retrospectiva do evento à luz de toda a vida do apóstolo e do caminho da Igreja. Homem de três culturas Paulo possui a envergadura de um verdadeiro "cosmopolita" (expressão de A. Deissmann). Clique nos botões para ver as informações. No interrogatório após a prisão a Jerusalém, ele se identi�ca como pertencente à diáspora hebraica dispersa no mundo helenizado. 2Cor 11,22; contra os contestadores da sua autoridade apostólica; Fil 3,5-6; faz polêmica contra o argumento "carnal" da descendência; Rom 9,3-5; surge a lúcida consciência teológica de pertencer por nascimento ao povo chamado por Deus para um desígnio de Salvação a favor de toda a Humanidade; Em Gal 2,15 quase com orgulho separatista; Convertido a Cristo, Paulo vive em um clima espiritual hebraico: seu calendário é hebraico (1Cor 16,8) duas vezes, nos Atos se relatam votos (AT 18,18; 21, 17-26); As Escrituras: LXX como o TM vem utilizados com destreza, através das técnicas de interpretação mais profundas: 1Cor 10, 1-10: Midrash de Páscoa; At 22,3: Gamaliel (Mesh, Sotr 9,15: o Ancião). Hebreu: At 21,39 Sobre o rio Adno, era naquele tempo como Elade no Apogeu esplendor de estudo helenístico e cosmopolita, Pátria do estoicismo: a) O ideal da autossu�ciência ética (Til 4,11); b) Filosó�co-religioso: a transparência de Deus no mundo (Rom 1,19-20). Todo o quadro da sua atividade se coloca dentro de uma moldura cultural helenística: a) Uso gramatical e retórico da língua grega (Rom 5,20; 8,26; 2Cor 7,4; verbos com diversas preposições); b) Uso gramatical de "syn" para indicar a "simbiose" com colaboradores e amigos na comunicação vital com Cristo, na morte, na ressurreição e na Glória (cf. Rom 6,45; Gal 2,19; Fil 3,10; Ef 2,6; Col 2,12; 3,1ss). Não são raros os casos nos quais diversos termos contemporâneos à língua grega de Paulo vêm utilizados e dobrados ao usoe intenção de Paulo. Paulo, hebreu de origem Paulus, nome latino, provavelmente desde a infância vê o império Romano de certa forma como uma estrutura a serviço das disposições diurnas (Rom 13,2-5): Cada qual seja submisso às autoridades constituídas, porque não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por Deus. Assim, aquele que resiste à autoridade opõe-se à ordem estabe lecida por Deus; e os que a ela se opõem atraem sobre si a condenação. Em verdade, as autoridades ins piram temor, não porém a quem pratica o bem, e sim a quem faz o mal! Queres não ter o que temer a autoridade? Faze o bem e terás o seu louvor. Porque ela é instrumento de Deus para teu bem. Mas, se �zeres o mal, teme, porque não é sem razão que leva a espada: é ministro de Deus, para fazer justiça e para exercer a ira contra aquele que pratica o mal. Portanto, é necessário submeter-se, não somente por temor do castigo, mas também por dever de consciência. At 22,28 - direito de cidadania Romano, desde o nascimento; Roma nos seus programas missionários estava no vértice: Rom 15,22-24, outro lado do Carta dos Romanos. Romano Leia mais sobre Paulo: O maior missionário do cristianismo Clique no botão acima. O maior missionário do cristianismo O Livro dos Atos oferece uma narração ordenada da obra missionária de Paulo. Esta se desenvolve provavelmente naquela parte da costa Mediterrânea denominada “a elipse da oliveira”, tocando as cidades de Damasco, Tarso, Antioquia, Chipre e Anatólia Sul-oriental: Filipos, Tessalônia, Bereca, Atenas, Corinto na Europa, e Éfeso, capital da Província romana da Ásia, e Roma, do capital do Império. Os dados provenientes das Cartas con�rmam tal quadro mesmo se não permitem de seguir a linearidade e de ancorá-lo sobre con�rmar o esquema de uma tríplice expedição, como vem delineada em Atos. a) Importância e característica Ele escolhia intencionalmente os grandes aglomerados urbanos, sobretudo aqueles ainda não tocados pelo Evangelho, onde buscava fazer surgir ao menos uma pequena comunidade cristã, animada e presidida por pessoas em particular, dedicadas e generosas (1 Ts 5,12-13; 1 Cor 16,15-16). Tudo faz pensar que no âmago da metodologia missionária de Paulo, ele tinha em mira muito mais os povos, como tal, como seria comum aos pregadores ambulantes do seu tempo. O que ressalta o fato singular que ele não tinha se interessado por Alexandria no Egito. Paulo tem a consciência, desde o início, de ter sido chamado a evangelizar aos gentios (Gal 1,16), e essa vocação vem con�rmada por Pedro e pelos Apóstolos (Gal 2,9-10). Seu método de comunicação do Evangelho se prende na palavra, no exemplo e no amor, e unia à Palavra, que não é simples transmissão verbal, mas permeada pelo Espírito e pela potência de Deus que interpela os homens por meio de seus (2 Cor 5,20; 1 Tes 2,13; Rom 1,16 ): Revelação! b) A Palavra vem corroborada pela força do “modelo humano” A Exemplaridade ética tem sua origem da humanidade de Jesus e é particularmente importante para Paulo. Porque o Evangelho não é uma teoria, mas um modo de existência. Paulo sabe que deve transmiti-lo com sua própria existência no "exercício" que isso comporta. Os dois termos maiores que são usados neste contexto são "modelo" e "imitadores" (1 Cor 4,16; 1 Ts 1,6; Fil 4,9; 2 Ts 3,7). c) O Amor A Palavra, porém, parte do amor, e tende à edi�cação, isto é, à construção e ao crescimento espiritual dos singelos indivíduos e da comunidade (cf. 1 Ts 2,7-8; 2 Cor 4,15; 5,15; 6,12; Gal 4,15). É pronunciada em �delidade e lealdade de espírito diante de Deus e diante dos homens (cf. 1 Ts 2,1-12) com a franqueza (parresia; 2 Cor 3,12; Fil 1,20, Ef 3,12) e a limpidez cristalina (cilikrineia: 2 Cor 2,17), própria dos ministros da Nova Aliança. Além do aspecto "encarnatório" da Palavra (1 Cor 9, 12-23), que conduz o ministro ao âmago de seu tempo. O conteúdo essencial da sua mensagem é aquele da "Tradição" (parádosis = tradição) apostólica (1 Cor 15, 1-5). De tal "verdade do Evangelho" nada pode ser subtraído (Gal 1,6-8; 2,5-14). Porém, em tal "tradição", enquanto o Evangelho exigia sua "tradução" em um estilo de vida e era destinado a produzir uma "nova criatura" (2 Cor. 5,17), Paulo se faz educador, pastor. Diversos são os verbos que indicam a complexidade do projeto missionário Paulino: exortar, admoestar, instruir, dizer, evangelizar, anunciar, desejar, encorajar, dispor, ensinar, tornar conhecido, confortar. Paulinismo/antipaulinismo "Reconhecei que a longa paciência de nosso Senhor vos é salutar, como também vosso caríssimo irmão Paulo vos escreveu, segundo o dom de sabedoria que lhe foi dado. É o que ele faz em todas as suas cartas, nas quais fala nesses assuntos. Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para a sua própria ruína, como o fazem também com as demais Escrituras." Paulo e sua tradição (2 Pd 3,13-16) Origem: termo à Escola de “Tübingen”, isto é, protestantismo racionalista alemão: Paulo, herói protestante contra Pedro (petrinismo). O fato: Nenhum outro personagem é tão documentado como Paulo. Centro da Teologia Paulina Clique no botão acima. Centro da Teologia Paulina 1º) A posição protestante A dimensão antropológica do evento salví�co – impacto sobre o homem da obra redentora de Cristo, que se desenvolve em duas posições: 1.1) Tese luterana clássica (R. Bullman, E. Käsemann) – o centro do paulinismo é a doutrina da justi�cação pela fé sem obras, isto é, o Evangelho da Graça (Rom 4,5). 1.2) Schweitzer: participação do batizado, a vida (mesma) de Cristo, e, por isso, a experiência tendencialmente “mística” do Cristo (Rom 6,11; Rom 3,21-26). Crítica: Não se deve confundir paulinismo com Paulo: o evento de Cristo tem um valor primário e fundante em relação ao seu resultado soteriológico. 2º) Posição católica Privilegia a dimensão objetiva do evento salví�co (ad extra/extra nos). Apesar de poder objetar, sobre a decisiva mediação da fé, aqui a cristologia é colocada em primeiro lugar, como centro do pensamento paulino. Segundo Lucian Cerfaux, a intuição fundamental de Paulo está na concepção da Divindade de Cristo – onde está Cristo, existe a Presença de Deus, e Deus opera e se comunica somente mediante Cristo (Cf. 2 Cor. 5,19). Para Rudolf Schnackenbrurg, no entanto, a base sobre a qual se constrói e se concentra toda a cristologia paulina é o Kerygma primitivo da morte e Ressurreição de Cristo, que Paulo retoma e mantém como ponto focal de seu sistema. Segundo Romano Penna é melhor concentrar-se sobre a �gura de Cristo como tal a prescindir de suas especi�cações. Se pudéssemos comparar a teologia paulina a um círculo, deveríamos dizer que Jesus Cristo é o centro; tudo aquilo que se a�rma de Cristo é constituído de raios, enquanto aquilo que constitui a soteriologia forma um círculo virtuoso. Atenção De fato, sobre a �gura de Cristo e sua centralidade em Paulo, estão todos de acordo, desde S. Tomás até Lutero, mesmo que o luteranismo considere central o ponto de vista soteriológico. Porém, isso se pode a�rmar de todo o Novo Testamento, isto é, a "centralidade" da �gura de Cristo, na variação dos diversos escritos. Mas o que distingue a centralidade de Cristo no paulinismo de origem pode ser observado entre níveis: 1 Vê-se bem como Jesus Cristo, para Paulo, não é narrado no passado da sua vida terrena, bem que se compendia essencial, e em termos fulgurantes na �gura do Cruci�cado-ressuscitado (1 Cor 1, 23 s). Dessa maneira é assumida a formulação do Kerygma Primitivo (1 Cor 15, 3 - 5), mas se desenvolve o conteúdo em formas e dimensões que não são constatáveis em nenhum outro autor do cânon. 2 É possível constatar e documentar sobre a base dos seus textos epistolares e mesmo de maneira detalhada, como Paulo constituiu o conjunto de sua partitura teológica sobre o único teclado da Pessoa de Cristo, sem separar a ontologia da funcionalidade.Nesse ponto R. Penna expõe os traços fundamentais da cristologia, como centro do pensamento Paulino. Para Paulo, Deus mesmo é de�nido em função de Cristo (cf. Rom 15,6; 2 Cor 1,3; 11,31; Col 1,3; Ef 1,3); Ele enviou Jesus ( Rm 8, 3; Gal 4,4). Também o Espírito é denominado em termos de "Espírito de Cristo" (Rom 8,9), "do Filho" (Gal 4,6), de "Jesus Cristo" (Fil 1,19 ), uma formulação tipicamente paulina. O Evento Salví�co decisivo, mesmo que tendo em Deus sua origem e seu principal agente, é claramente dominado pelo Cristo e com o seu sangue como protagonista histórico, através de uma diversidade de termos, como Reconciliação, Libertação, Resgate, Redenção, Expiação, Justi�cação. Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online Depois desses elementos, vale a pena destacar que, para Paulo, o Espírito, mesmo “autônomo”, com personalidade, é Espírito do Filho, que age e atua em nós a favor da Salvação trazida por Cristo. Destacamos agora o texto mais paradigmático de Paulo sobre o Espírito Santo: O Capítulo 8 da Carta aos Romanos (STOOT, 1994). Carta aos Romanos – Capítulo 8 Clique no botão acima. Carta aos Romanos – Capítulo 8 Rm 8, 1-2: De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A Lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte. A maneira pela qual o apóstolo começa sua discussão sobre o Espírito Santo no capítulo VIII da Carta aos Romanos é verdadeiramente surpreendente: “Portanto, não há mais condenação para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito, que dá vida em Cristo, libertou-te da lei do pecado e da morte.” Ele passou todo o capítulo anterior para estabelecer que "o cristão está livre da lei", e aqui começa o novo capítulo falando em termos positivos e edi�cantes sobre a lei. "A lei do Espírito" signi�ca a lei que é o Espírito; é um genitivo ou explicação epesegética, isto é, explicativa. O que é a lei do Espírito e como ela funciona, A nova lei, ou do Espírito, não é, portanto, estritamente falando, aquela promulgada por Jesus no Sermão da Montanha, mas aquela que ele gravou nos corações no Pentecostes. Rm 8, 5-12: “Vós, porém, não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito, se realmente o Espírito de Deus habita em vós. Se alguém não possui o Espírito de Cristo, este não é dele. Ora, se Cristo está em vós, o corpo, em verdade, está morto pelo pecado, mas o Espírito vive pela justi�cação. Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito morti�cardes as obras da carne, vivereis.” Os preceitos evangélicos são certamente mais altos e mais perfeitos que os mosaicos; no entanto, sozinhos, eles também teriam permanecido ine�cazes. Se fosse o su�ciente para proclamar a nova vontade de Deus através do Evangelho, não seria possível explicar que havia a necessidade de Jesus morrer e que o Espírito Santo viesse. Mas os próprios apóstolos mostram que isso não era su�ciente; apesar de terem escutado tudo – por exemplo, que você deve se voltar para aquele que bate em você, a outra face –, no momento da paixão eles não encontram a força para executar qualquer um dos mandamentos de Jesus. Rm 8, 14: “De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito morti�cardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são �lhos de Deus.” De fato, aqueles que são guiados pelo Espírito de Deus, estes são �lhos de Deus. Tendo dito que devemos morti�car, isto é, deixar nossa carne morrer, Paulo explica que – guiado pelo Espírito de Deus, não simplesmente por nossa própria iniciativa, mas iluminado e guiado pelo Espírito Santo, o que signi�ca que não podemos fazer nada e devemos fazer o que não isto é de acordo com a vontade de Deus – somente essa obediência testi�ca que somos �lhos de Deus. Rm 8, 16: “Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos �lhos de Deus.” De fato, o próprio Espírito testi�ca que somos �lhos de Deus. Somente na interioridade do nosso coração encontramos a certeza de que somos �lhos de Deus; ninguém pode garantir por si mesmo que é �lho de determinado pai. Outro deve testemunhar para nós: alguém que conhece bem a nossa história e está presente não apenas quando nascemos, mas também quando fomos concebidos. Não há necessidade de ir longe e procurar por Deus sabe onde. É o próprio Espírito Santo que testi�ca ao nosso espírito que somos �lhos de Deus; no Espírito Santo fomos concebidos, e no Espírito Santo nascemos para uma nova vida. Qual testemunha é mais real e segura? Você quer saber quem é seu �lho? Pergunte a sua mãe. Se o Pai é o mistério de toda paternidade, o Espírito é o mistério de toda maternidade. Então o Filho é o mistério da nossa adoção como �lhos. Atividade Diante do exposto sobre a pneumatologia de Paulo, por que se deve relacionar a �gura histórica de Paulo com sua teologia? 2. “De agora em diante, pois, já não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo. A Lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da Lei do pecado e da morte” (Rm 8, 1-2”). A partir dos primeiros versículos do capítulo 8, temos um verdadeiro embate entre a Lei e o Espírito. Explique como Paulo esclarece as relações entre a vida no Espírito e a lei mosaica para os cristãos. 3. Em 1Cor 12,4ss, Paulo relaciona o Espírito Santo aos dons ou carismas. Qual é o signi�cado de dons e carismas na pneumatologia paulina? a) Carismas são ações mágicas do Espírito Santo. b) O Espírito age extraordinariamente pelos carismas. c) Os dons e carismas são poderes dados para fins individuais. d) O cristão recebe os carismas para obter poder humano. e) Dons e carismas são ações do Espírito a serviço da Igreja. Notas Teologia de São Paulo 1 São Paulo, antes de qualquer coisa, quer falar de Cristo, que ele conheceu pessoalmente pelas estradas de Damasco, e que a ele se dirigiu e reorientou sua vida. O Cristo Ressuscitado é o “kérygma” central da pregação paulina. O Cristo que Paulo prega, ou seja, “seu Evangelho”, não se baseia na “carne”, mas no Espírito, pois Paulo não passou pela experiência histórica de Jesus de Nazaré, como os outros doze apóstolos. Segundo o pensamento teológico de Paulo, o Espírito revela à Igreja quem é o Cristo, ou melhor, em que sentido Jesus é o Cristo. Ele exibe a radicalidade da existência humana de Jesus, sua Divindade e, portanto, o conteúdo soteriológico do seu agir como homem até a sua Páscoa. Referências BORGES, R. D. O Espírito Santo nas cartas paulinas. Blog É missão de todos nós. Belo Horizonte, 23 out. 2013. Disponível em: //renatosdn.blogspot.com/2013/10/o-espirito-santo-nas-cartas- paulinas.html. FERREIRA, F. Karl Barth: uma introdução à sua carreira e aos principais temas de sua teologia. Fides Reformata, São Paulo, v. 8, n. 1, p. 29-62, 2003. 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Vídeos: Pastor Franklin Ferreira; Sobre a Renovação Carismática Católica (RCC). javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0); javascript:void(0);