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Virtù e Fortuna de Maquiavel

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VIRTÚ E FORTUNA DE MAQUIAVEL
Para Maquiavel, metade de nossas ações é governada pela fortuna, metade pela virtù.
Virtú vem do latim “vir”, varão, designa o agir propriamente viril, varonil, ou seja, tudo que vem de uma deliberação
madura e atenta de como agir. É a capacidade de leitura de mundo e de estabelecer um plano de ação que seja capaz de
mudar essa realidade. Trata-se da capacidade do príncipe em controlar as ocasiões e acontecimento do seu governo, das
questões do principado. O governante com grande Virtù constrói uma estratégia eficaz de governo capaz de sobrestar as
dificuldades impostas pela imprevisibilidade da história. Destaca-se também a estabilidade requerida por Maquiavel – a
virtú seria uma forma de manter a paz e estabilidade do Principado. Outro ponto importante é acerca da superioridade
da vida pública em detrimento da vida privada na constituição da Virtú. É um conhecimento prático, técnico da
realidade efetiva das coisas. não há restrições, ou não deve importar-se em incorrer na infâmia religiosa dos vícios
necessários para o seu governo. Não obedece aos preceitos da moral piedosa tradicional; não compete ao governante
conduzir os assuntos de governo conforme uma deontologia tradicional, mas conforme apenas à Virtú. A Virtú não se
importa com aspectos da compaixão e benevolência da tradição moral cristã. A Virtù, como visto, é uma figura utilizada
para representar a liberdade, o livre-arbítrio do governante em relação à imprevisibilidade e determinabilidade da
história. Portanto, vê-se claramente em Maquiavel o espaço da liberdade em seu modelo, restringindo, contudo, a
moralidade e o pensamento medieval, isto é, a Virtú representa um conceito diverso de liberdade de arbítrio do
pensamento tradicional.
A fortuna é fácil de entender: é o acaso, a sorte, favorável ou desfavorável, é o mundo social, o palco onde entram em
gládio toda sorte de forças, indivíduos e grupos em prol de um objetivo específico. Diz respeito às circunstâncias, ao
tempo presente e às necessidades do mesmo: a sorte individual. É, para o filósofo, a ordem das coisas em todas as
dimensões da realidade que influenciam a política. Observa-se que a Fortuna não pode ser vista como um obstáculo ao
governante, mas um desafio político que deve ser conquistado e atraído. Representa uma deusa grega, uma mulher que,
segundo Maquiavel, escolhe entre os mais viris, como maior Virtù, aquele que vai conquistá-la. Não deve ser evitada ou
ignorada pelo príncipe, pois é inevitável e sempre presente, mas deve ser conquistada pelo mesmo. O príncipe não pode
depender dela, contudo deve fazer da mesma sua aliada, controlá-la, não através de uma força imoderada ou impensada,
mas através da habilidade e flexibilidade política.
A Virtú é a capacidade do príncipe para ser flexível às circunstâncias, mudando com elas para agarrar e dominar a
Fortuna. o governante virtuoso é aquele cujas virtudes não sucumbem ao poderio da caprichosa e inconstante Fortuna.
uma combinação entre virilidade e natureza animal. Assim, o político com grande Virtú observa na Fortuna a
probabilidade da edificação de uma estratégia para controlá-la e alcançar determinada finalidade, agindo frente a uma
determinada circunstancia, percebendo seus limites e explorando as possibilidades perante a mesma. O príncipe que
vive despreparado em função da Fortuna apenas atrairia desonra e fracasso, mas o de Virtù procura utilizá-la,
controlá-la da tal forma que lhe possa ser útil. Ele, o governante, tem a capacidade, através da Virtù, de superar,
controlar as ocasiões e acontecimento do seu governo; construir uma estratégia capaz de conquistar a Fortuna, estratégia
principalmente regrada pela flexibilidade política. Assim, metade do que vivemos se deve à sorte ou azar, à fortuna ou
infortúnio, e a outra metade tentamos, a duras penas, que resulte de nosso empenho, de nossa tentativa de pôr ordem -
nossa ordem - na bagunça do mundo.

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