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História Antiga A Grécia Antiga Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marcelo dos Reis Tavares Revisão Textual: Profa. Ms Magnólia Gonçalves Mangolini 5 • Introdução • Condições Naturais • Os Períodos da História da Grécia · Na unidade anterior você estudou as civilizações do Oriente Próximo, os fenícios e os persas. Nesta unidade vamos iniciar a história das civilizações clássicas, mais especificamente a civilização grega, que tanta influência exerceu e ainda exerce sobre o nosso mundo atual. A Grécia Antiga Atenção Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. 6 Unidade: A Grécia Antiga Contextualização Como surgiu a democracia? De onde vêm os jogos olímpicos? Qual a origem do teatro? E a filosofia, com seus pensadores geniais? Essas e muitas outras perguntas podem ser respondias com uma simples palavra: Grécia. Os gregos antigos tiveram tanto impacto sobre nossa sociedade e seu legado está tão vivo que seria difícil alguma área do conhecimento não ter o “toque de Midas” dessa importante civilização. Dos tablets aos videogames mais avançados, passando pelas ciências e pelas artes, tudo teve como base, de uma forma ou de outra, as realizações dos gregos antigos. A Grécia atual ainda luta por sua recuperação na maior crise econômica de sua história, mas seu legado permanece vivo nos dias atuais. 7 Introdução O termo clássico pode referir-se a uma infinidade de coisas, da música, passando pela literatura, cinema, teatro, culinária e até mesmo futebol. Entre os historiadores, o conceito refere-se ao conjunto da civilização greco-romana e suas mais variadas contribuições para o mundo atual, em especial o ocidental. Um clássico é algo que atravessa gerações e fronteiras culturais, e cuja influência faz-se sentir apesar dos anos, séculos ou milênios, estando vivo ainda hoje. É algo que está presente, mesmo estando ausente, sendo constantemente reelaborado. Eis a razão principal pela qual a civilização greco-romana é chamada de clássica. Devemos aos gregos entre outras coisas a sua vasta mitologia, a democracia, a filosofia, a política, o teatro, os jogos olímpicos e a própria noção do belo, presente nas mais variadas manifestações artísticas. A frase do filósofo Protágoras (c.490 - 420 a.C.) resume o papel que a cultura grega relega ao ser humano: “o homem é a medida de todas as coisas”. Já dos romanos somos tributários, por exemplo, do direito, do regime republicano, da noção de império, da organização militar e até mesmo da língua, tendo em vista o fato de que falamos o português, uma língua derivada do latim usado pelos antigos romanos. Condições Naturais A Grécia está situada no sudeste do continente europeu, sendo banhada pelos mares Mediterrâneo ao sul, Jônico a oeste e Egeu a leste. Seu solo é pobre e pedregoso, impulsionando os gregos ao comércio marítimo. Durante a Antiguidade a Grécia dividia-se em quatro unidades distintas: • Grécia Continental: formada pelo sul da península Balcânica; • Grécia Peninsular: a península do Peloponeso; • Grécia Insular: formada por cerca de seis mil ilhas; • Grécia Asiática: litoral da Ásia Menor ou também conhecida por Jônia; • Magna Grécia: região ao sul da península Itálica. Figura: 1 = Steve Swayne/Wikimedia Commons 8 Unidade: A Grécia Antiga Figura 2: A Grécia no século VIII a.C. ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA, 1977, p. 165. Os Períodos da História da Grécia Considerando os seus mais de dois mil anos de história e as continuidades e descontinuidades características de qualquer civilização, ao estudar os gregos antigos os helenistas estabeleceram uma periodização que se tornou muito difundida devido ao seu caráter didático e ao seu poder explicativo. Vejamos essa divisão: • Período Pré-Homérico (XX – XII a.C.) • Período Homérico (XII – VIII a.C.) • Período Arcaico (VIII – VI a.C.) • Período Clássico (V – IV a.C.) • Período Helenístico (IV – I a.C.) Período Pré-Homérico, ou Formativo (XX a.C – XII a.C.) O período Pré-Homérico pode ser considerado como o momento de formação da Grécia antiga, num processo iniciado com as invasões indo-europeias (aqueus, eólios, jônios e dórios) e a formação das duas civilizações mais expressivas de período, a cretense e a micênica. 9 Figura 3: Migrações dos povos gregos. ARRUDA, 2009, p. 15. A Civilização Creto-Micênica As origens da civilização grega estão profundamente ligadas à história de Creta, cuja dinâmica de ascensão e queda situa-se entre os anos de 2000 a.C. e 1400 a.C. Os cretenses desenvolveram uma intensa relação comercial e cultural com Micenas, cidade fundada pelos aqueus, gerando o que os estudiosos chamaram de civilização creto-micênica ou micênico-minoica. A civilização creto-micênica encontrou seu fim a partir de 1400 a.C., quando os micênicos invadiram Creta, pondo fim aos séculos de predomínio sobre o Egeu. A lenda do minotauro representa o fim dessa hegemonia. A expansão da influência micênica sobre as cidades gregas acabou por contribuir para a eclosão da Guerra de Troia, conflito que opôs Micenas à cidade de Ílion, situada no litoral da Jônia. A hegemonia micênica chegou ao fim por volta de 1200 a.C., com a invasão dos dórios, que fundaram a cidade de Esparta, após derrotarem os aqueus no Peloponeso. Caracterizados por grande violência e conhecedores de armas de ferro, as invasões dórias provocaram a decadência da vida urbana, a retração comercial e o desaparecimento da escrita. Por essa razão os historiadores chamam o período posterior de “idade das trevas grega”. Período Homérico (XII a.C. – VIII a.C.) Os dois primeiros períodos da história da Grécia devem seus nomes ao poeta Homero, cujas escassas referências históricas o transformaram quase num mito. Para muitos historiadores ele sequer existiu, ou, se existiu, não teria sido o mesmo autor da Ilíada e da Odisseia. 10 Unidade: A Grécia Antiga A Odisseia narra em seus 24 cantos a história do herói Odisseu, que, por atrair a ira do deus Poseidon, foi condenado a vagar pelas ilhas do Egeu. Após enfrentar seres fantásticos e realizar várias proezas, retorna enfim para o seu reino, Ítaca, e para sua amada esposa Penélope. Mas antes deve vencer os pretendentes ao trono, ludibriados durante anos por sua esposa, enquanto o herói vivia as suas aventuras. É interessante notar que Odisseu não conta com a força de Ajax ou com a velocidade de Aquiles, mas com sua sagacidade e dom de persuasão. Figura 4: Cavalo de madeira criado para o filme Tróia, hoje exposto em Çanakkale, Turquia. - Fonte: Wikimedia Commons Homero nos revela com seus poemas aspectos dobre os mitos, a religião, as estruturas políticas e muitos outros detalhes da vida dos gregos antigos durante a “Idade das Trevas”. Esses poemas épicos permitem vislumbrar uma civilização que se desenvolveu em torno de palácios-fortalezas, daí o nome de civilização palaciana. Além disso, revelam as duas estruturas fundamentais da sociedade helênica: o oikos e o genos. O oikos ou “casa” era a unidade econômica básica de qualquer homem livre, sendo composto por suas terras, escravos, pertences e até mesmo esposa e filhos. A palavra oikos originou o termo “economia” (do grego oikonomía), que literalmente significa “administração da casa”. O genos (genoi no plural) era a unidade familiar grega por excelência, composto por indivíduos que se consideravam descendentes de um mesmo ancestral, geralmente um herói mitológico. Após as invasões dóricas os genoi tornaram-se a principal forma de organização social, podendo-se afirmar que o Período Homérico foi caracterizado pelas comunidades gentílicas. Essas comunidades gentílicas possuíam uma economia natural e coletivista, estando submetidas à autoridade do patriarca, ou páter, que exercia as funções de juiz, chefe religioso e militar. A partir do séculoVIII a.C., a Península Balcânica foi palco de um acentuado crescimento populacional, que, diante da limitada capacidade produtiva do solo e das técnicas agrícolas, acabou por gerar a dissolução das comunidades gentílicas. A disputa por terras férteis fez com que alguns genoi se unissem formando unidades militares chamadas fratrias. A união das várias fratrias acabou por formar a tribo, sob a liderança de um líder militar, o filobasileu. Por fim, a união das várias tribos deu origem ao demos (“povo”), tendo por líder supremo o basileu. A concentração de terras nas mãos dos mais próximos ao pater, os eupátridas (“bem- nascidos”) acabou com o sistema gentílico, provocando uma inédita estratificação social. O restante das terras foram distribuídas entre os georgóis (“agricultores”), parentes mais distantes do patriarca. Os mais prejudicados nesse processo foram os tethas (“marginais”), que ficaram sem terra alguma. 11 Devido às tensões sociais iniciou-se a Segunda Diáspora Grega, um movimento migratório a partir do século VIII a.C., com a fundação de colônias em várias regiões do Mediterrâneo, especialmente no ilha da Sicília e sul da Península Itálica, a Magna Grécia. As colônias dinamizaram a economia e cidades como Tarento e Siracusa tornaram-se importantes centros, graças ao cultivo de cereais como o trigo, que chegou, até, a ser vendido no Egito. Na península Ibérica, a primeira colônia foi Ampurias, nome originado da palavra grega emporion, que significa “mercado”. Figura 5: A colonização grega pelo Mar Mediterrâneo. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Location_greek_ancient.svg A dispersão populacional gerada pelas lutas fundiárias colaborou para a formação das cidades-estado, ou pólis. Essas cidades organizavam-se em torno de uma parte mais alta, a acrópole, governada pela aristocracia dos eupátridas. Glossário A palavra Aristocracia vem do termo grego aristoi, que significa “os melhores”. Aristocracia seria assim o “governo dos melhores”. Essa aristocracia helênica também se auto intitulava homoioi (“os iguais”) para se diferenciarem do restante da população. O Período Arcaico (VIII - VI a.C.) O Período Arcaico está situado entre os séculos VIII e VI a.C., tendo como característica principal o surgimento e desenvolvimento da pólis, a cidade-estado grega. As duas principais póleis gregas foram Esparta e Atenas. 12 Unidade: A Grécia Antiga Figura 6: Principais póleis gregas. VIDAL-NAQUET e BERTINI, 1990, p. 57. A Cidade de Esparta A cidade de Esparta ou Lacedemônia foi fundada no século IX a.C. pelos dórios nas margens do rio Eurotas, na região da Lacônia, situada na planície do Peloponeso. Era uma pólis cujas três características principais eram a xenofobia, o laconismo e o militarismo. Glossário Xenofobia: ódio ou aversão a estrangeiros. Laconismo: hábito de falar pouco. Militarismo: valorização da guerra como um ideal de vida. Rigidamente estratificada, a sociedade espartana era formada pelos seguintes grupos sociais: • Esparciatas ou Espartanos: únicos cidadãos espartanos e descendentes dos invasores dórios. 13 • Periecos: trabalhadores livres. • Hilotas: servos do Estado. Todo jovem espartano passava pela iniciação conhecida por agogê (“adestramento”) em que deveria sobrevier com aquilo que conseguisse da natureza ou de pequenos furtos. O objetivo era desenvolver técnicas de infiltração e fuga. Caso fosse pego era duramente açoitado em público, devendo suportar a sua dor sem demonstrar o menor sinal de fraqueza. O governo de Esparta era exercido por uma diarquia, ou governo de dois reis, que comandavam a cidade em tempos de guerra e também presidiam as cerimônias religiosas. Havia a Gerúsia, um conselho formado pelos dois reis mais 28 anciãos com mais de sessenta anos (os gerontes), com mandato vitalício e que possuíam funções legislativas, judiciárias e de fiscalização dos diarcas. Além desses dois órgãos tinha a Ápela, ou assembleia popular, composta pelos esparciatas com mais de trinta anos. Com o passar do tempo a Ápela e a diarquia foram se enfraquecendo, passando a ser subordinados ao conselho dos éforos. Figura 7: Hoplita. http://lastinn.info/archiwum-rekrutacji/8115-storytelling-ruiny-swiatyni-wschodu-autorski-system.html A Cidade de Atenas Atual capital da Grécia, Atenas foi fundada pelos jônios na planície da Ática. Segundo a lenda, seu fundador seria o herói Teseu, responsável por matar o terrível minotauro de Creta. 14 Unidade: A Grécia Antiga A Sociedade Ateniense A sociedade ateniense era aristocrática, organizando-se de acordo com a posse de terras. Apresentava os seguintes grupos sociais: • Eupátridas (“os bem-nascidos”): eram os grandes proprietários rurais; • Georgóis (“agricultores”): pequenos proprietários rurais, unidos aos eupátridas por laços de dependência e donos das terras menos férteis; • Demiurgos: comerciantes e artesãos, muitos dotados de grande riqueza oriunda de seu ofício; • Tethas: constituíam a camada mais pobre a marginalizada de Atenas; • Metecos: estrangeiros ou filhos de estrangeiros, sem direitos políticos; • Escravos: prisioneiros de guerra. Mulheres e jovens constituíam um grupo social à parte e ficavam sob a inteira responsabilidade do homem da casa. Diferentemente de Esparta, as mulheres atenienses não tinham nenhum direito político e sua função consistia exclusivamente em gerar filhos para o Estado e administrar o lar. Organização Política em Atenas Atenas conheceu em sua história diversos sistemas políticos, partindo da monarquia até o desenvolvimento da democracia. Durante a fase monárquica o poder era exercido por um rei, o basileu, responsável pela guerra, pela religião e pela justiça. Seu poder era limitado por um conselho de eupátridas chamado de Areópago. Com o passar do tempo, o rei passou a ter seus poderes diminuídos, sendo substituído pela aristocracia que estabeleceu o Arcontato, um sistema administrativo em que nove arcontes eram eleitos anualmente, exercendo a mesma função do basileu. Os demais cidadãos ocupavam a Eclésia, assembleia popular que discutia as decisões tomadas pelo Areópago. Rumo à Democracia Devido a graves conflitos sociais entre tethas e eupátridas foram nomeados legisladores para restabelecer a ordem em Atenas. Eis os principais: • Drácon: Codificou as leis atenienses (Código de Drácon). • Sólon: Aboliu a escravidão por dívidas, criou a Bulé (Conselho dos 400), criou um tribunal de justiça aberto a todos os cidadãos (o Helieu) e dividiu a população em grupos de acordo com a renda, usada agora como critério de participação política. • Clístenes: Suas reformas instituíram o regime democrático em Atenas . Uma de suas primeiras medidas foi estender os direitos políticos a todos os atenienses, independentemente de sua renda. 15 Para ser considerado cidadão em Atenas era preciso ser homem, maior de idade e filho de pais atenienses, compondo assim um seleto grupo de 10%, em uma população de cerca de 300 mil habitantes. Mulheres, crianças, estrangeiros (metecos) e escravos não eram cidadãos. As reformas de Clístenes conduziram Atenas a um período de grande estabilidade política e econômica, consolidada pelas medidas adotadas pelo estratego Péricles. Seu governo, situado entre 461 e 429 a.C., é comumente chamado de “a idade de ouro” e o século V a.C., de “o século de Péricles”. Atenas transformou-se na principal cidade da Grécia, marcada por grande efervescência artística e filosófica e embelezada por construções magníficas, como o Partenon. Além de incentivar as artes e o comércio, Péricles estabeleceu a misthoy, remuneração para os cargos públicos e militares, que permitiu aos mais pobres participarem da política, fortalecendo assim a democracia. Figura 8: Busto de Péricles. Fonte: Wikimedia Commons O Período Clássico (V - IV a.C.) O Período Clássico da história da Grécia Antiga foi caracterizado pelo grande desenvolvimento econômico e cultural das póleis, em especialAtenas, que gradualmente assumiu um papel de hegemonia sobre as demais. Essa liderança, que posteriormente se tornou imperialismo, adveio do papel de Atenas no confronto com os persas, as Guerras Médicas ou Greco-pérsicas (490 – 449 a.C.). O desenvolvimento ateniense e a imposição de seu predomínio sobre a Hélade desagradaram muitas cidades, que, sob a liderança de Esparta, combateram Atenas e sues aliados na Guerra do Peloponeso (431 – 404 a.C.). Vitoriosa, Esparta dominou Atenas e estendeu seu poder sobre a Grécia, sendo depois dominada pela efêmera potência de Tebas. O saldo final da Guerra do Peloponeso foi o enfraquecimento das póleis gregas e a incapacidade de reagir diante de uma nova ameaça, o império macedônico que se desenvolveu ao norte. O domínio da Grécia pelos macedônios do rei Filipe II (359 a.C. – 336 a.C.) iniciou um novo período da história grega, o Período Helenístico, caracterizado pela expansão territorial rumo ao Egito e Ásia e a fusão da cultura grega com a cultura oriental. Sob a liderança de Alexandre Magno (356 a.C. – 323 a.C.), filho de Filipe II, os egípcios foram dominados assim como os persas, e as fronteiras do império macedônico se fixaram até as margens do rio Indo, na Índia. 16 Unidade: A Grécia Antiga As Guerras Médicas (490 – 449 a.C.) Os persas construíram um dos maiores e mais organizados impérios da Antiguidade e a partir dos reinados de Dario I (550 a.C. – 486 a.C.), e de seu filho Xerxes (c. 419 a.C. – 465 a.C.), partem para a conquista da Ásia Menor e da própria Grécia. Dario I iniciou sua expansão pela Hélade com ataques sobre as colônias jônias de Mileto e Éfeso e sobre as ilhas de Samos e Lesbos, levando Atenas a enviar navios e tropas em seu auxílio. Era o começo das Guerras Médicas. Em 490 a.C. ocorreu a primeira grande batalha das Guerras Médicas, a Batalha de Maratona. Os números dessa batalha são imprecisos e a principal fonte para o estudo das Guerras Greco-Pérsicas é a obra História do historiador grego Heródoto, segundo a qual os persas enviaram uma frota de 600 navios de guerra e um efetivo de cerca 20 mil soldados, enquanto que os atenienses contavam com quinze mil homens. Graças à habilidade estratégica do general Milcíades os atenienses, em menor número, saíram vitoriosos da batalha. Conta à lenda que o soldado Fidípedes foi enviado a Atenas para avisar sobre a vitória grega, e após percorrer os 42 quilômetros de distância, teria proferido, antes de morrer de exaustão, as suas últimas palavras: “alegrai-vos atenienses, nós vencemos!”. Em sua homenagem foi instituída a prova da maratona nos jogos olímpicos. Dando segmento aos ataques iniciados por seu pai, o imperador persa Xerxes desferiu um segundo ataque contra o território grego, mas foi atrasado pelas tropas do rei espartano Leônidas, seus 300 soldados e mais 5 mil homens de várias regiões da Grécia, no desfiladeiro das Termópilas em 480 a.C. Apesar da esmagadora maioria persa e incitado a depor suas armas pois Xerxes cobriria o sol com suas flechas, Leônidas teria retrucado: “melhor, assim lutaremos na sombra!”. Após a derrota da coalizão grega, os persas avançaram e Atenas foi incendiada. Enquanto ocorria a Batalha das Termópilas, a marinha ateniense conseguiu impedir a chegada de reforços persas que visavam atingir Leônidas pela retaguarda, derrotando-os na Batalha de Artemísio. Explore O filme “300 - a ascensão de um império”, continuação do filme homônimo, traz como pano de fundo o almirante ateniense Temístocles e as batalhas navais das Guerras Médicas. Figura 9: Hoplita grego vencendo um soldado persa em combate. Detalhe de um cálice de cerâmica do século V a.C. Fonte: Wikimedia Commons 17 Na Batalha de Salamina, o comandante ateniense Temístocles atraiu os desajeitados barcos persas para dentro da Baía de Salamina. Aproveitando-se da maré baixa que encalhou as embarcações inimigas e da grande mobilidade dos trirremes gregos, os atenienses impuseram uma fragorosa derrota aos persas. Em 479 a.C. os persas sofreram progressivas derrotas em Plateia, na Beócia, e Mícale, na Ásia Menor. Durante o desenrolar das Guerras Médicas, Atenas formou um aliança militar sob sua liderança com o objetivo de combater os persas, a Liga ou Confederação de Delos. Cada cidade deveria contribuir com recursos financeiros e navios que seriam depositados na ilha de Delos. A Liga foi responsável pela vitória da Batalha de rio Eurimedon em 466 a.C. e a libertação de várias cidades da Ásia Menor. Em 449 a.C. os persas assinaram a Paz de Cálias ou Címon, comprometendo-se a abandonar o Mar Egeu e a não mais atacar as colônias gregas. Com a derrota persa o Mediterrâneo Oriental abriu-se para a expansão do comércio ateniense, que gerou uma grande riqueza para Atenas, que passaria a viver a sua “era de ouro” sob o comando de Péricles. Além de mandar construir o Pártenon em homenagem à deusa Atena, Péricles fortaleceu a democracia ao remunerar os cargos públicos (misthoy), construiu muralhas em volta da cidade, fortificou o porto do Pireu e edificou vários templos aos deuses e aos ancestrais fundadores da cidade, como o Erecteion. As palavras de Péricles sobre a democracia revelam o otimismo do governante quanto ao status de sua cidade: “Nossa constituição política não segue as leis de outras cidades, antes lhes serve de exemplo. Nosso governo se chama Democracia, porque a administração serve aos interesses da maioria e não de uma minoria. De acordo com nossas leis somos todos iguais no que se refere aos negócios privados. Quanto à participação na vida pública, porém, cada qual obtém a consideração de acordo com seus méritos e mais importante é o valor pessoal que a classe a que se pertence; isso quer dizer que ninguém sente o obstáculo de sua pobreza ou condição social inferior quando seu valor o capacite a prestar serviços à cidade. [...] Por essas razões e muito mais, nossa cidade é digna de admiração” (PÉRICLES apud AQUINO: 1980, p.201). Atenas vivia seu auge econômico e cultural, e passou a utilizar a Liga de Delos em benefício próprio. O tesouro foi transferido de Delos para Atenas e as cidades que não se submetiam eram atacadas. O que deveria ser uma política defensiva acabou por tornar-se imperialismo, e não tardou para Atenas despertar a fúria de uma antiga rival, a cidade de Esparta. A Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.) As póleis que haviam se mantido aristocráticas opunham-se ao expansionismo ateniense, por considerá-lo uma ameaça. Organizaram assim sua própria liga sob a liderança de Esparta, a Liga ou Confederação do Peloponeso. Bastava que um simples incidente colocasse as duas cidades em confronto, fato que ocorreu em 431 a.C. devido a uma disputa comercial entre Atenas e Corinto, uma antiga aliada de Esparta. A Guerra do Peloponeso foi Narrada pelos historiadores gregos Xenofonte e Tucídides, em sua clássica História da Guerra do Peloponeso. 18 Unidade: A Grécia Antiga Levando-se em consideração o aspecto militar, Esparta destacava-se nas batalhas terrestres enquanto que Atenas obtinha vantagens nas batalhas navais. A superioridade militar espartana ficou clara logo no início dos combates, quando os campos da Ática foram arrasados e seus habitantes foram obrigados a buscar refúgio dentro das muralhas de Atenas. Enclausurados dentro de sua própria cidade, os atenienses foram vítimas de uma peste que ceifou a vida de milhares, inclusive Péricles. A partir daí iniciou-se um período de equivalência de forças, sem que houvesse grandes vencedores. Em 421 a.C. as cidades beligerantes assinaram a Paz de Nícias, rompida por Atenas sete anos depois. A rendição ateniense só ocorreu em 404 a.C., com a vitória espartana na Batalha de Naval de Egos Pótamos. Atenas foi obrigada a demolir suas fortificações, entregar os seus navios e renunciar ao seu imperialismo. Era o fim da democracia ateniense. Sob o cetro de Esparta, Atenas e seus aliados assistiram ao ressurgimentode governos oligárquicos e despóticos, como o governo dos Trinta Tiranos. A hegemonia espartana sobre a Hélade teve uma curta duração. Apoiados pelos persas, que faziam uma espécie de jogo duplo no desenrolar do conflito, acabaram por angariar novos inimigos, entre os quais a emergente cidade de Tebas, situada no Estreito de Corinto. Liderando cidades rivais de Esparta, Tebas formou em 378 a.C. a Liga da Beócia. Graças à habilidade militar dos generais Epaminondas e Pelópidas, os tebanos venceram a Batalha de Leuctras (371 a.C.), dando início a uma curta hegemonia, quebrada pela derrota de Tebas na Batalha de Mantineia (362 a.C.), diante de uma coalizão de tropas espartanas e atenienses. A Guerra do Peloponeso teve como saldo o enfraquecimento econômico e militar das póleis, incapazes de resistir aos ataques dos inimigos externos, e, principalmente, dos inimigos internos. Sob a coroa de Filipe II, apelidado de “o caolho”, o império Macedônico expandia suas fronteiras a partir do norte e tornava inevitável o seu avanço sobre a Grécia. O orador ateniense Demóstenes proferiu uma série de discursos intitulados Felípicas, visando alertar os gregos sobre o risco da expansão Macedônica sobre a Grécia, mas suas palavras não foram ouvidas a tempo. O Período Helenístico (IV a.C. - I a.C.) O Período Helenístico foi caracterizado pelo domínio da Macedônia sobre a Grécia e sua expansão para o Oriente, promovendo um amálgama cultural entre gregos, egípcios, persas e demais povos subjugados, formando assim a chamada “civilização helenística”. Dois nomes destacaram-se para o surgimento de tal civilização: Filipe II e seu filho Alexandre, que por suas conquistas foi chamado de “Magno” e “o Grande”. No contexto das lutas internas após a Guerra do Peloponeso, Filipe da Macedônia ficara, quando jovem, um breve período de tempo como refém dos tebanos em troca de sua fidelidade aos macedônios. Gentilmente tratado por seu anfitrião, o general Epaminondas, Filipe gozou de ampla liberdade para presenciar os treinos das tropas, descobrindo seus méritos e fraquezas e utilizando esse conhecimento posteriormente contra a própria cidade de Tebas. Com 23 anos de idade, em 359 a.C., Filipe foi coroado rei dos macedônios. É interessante notar que, apesar destes possuírem a cultura grega, eram tratados como bárbaros pelos demais 19 povos da Hélade. Outro fato que chama a atenção era a ideia de que a família do rei, os Argeades, consideravam-se a si próprios como descendentes do herói Héracles e sua esposa, Olímpia, dizia ser descendente do mítico Aquiles. Filipe dinamizou a economia do reino, incentivando o comércio e criando fortalezas e estradas, além de fortalecer o exército com uma inovação militar: as falanges macedônicas. As falanges macedônicas eram formadas por 256 soldados numa formação de 16 por 16, armados com lanças de 4 a 6 metros de comprimento, as sarissas. A fileira dianteira posicionava suas enormes lanças para frente e toda a falange avançava sobre o inimigo. Quando a primeira fileira caía era substituída por outra, assim sucessivamente. As falanges foram decisivas para a vitória sobre os atenienses e o temido Batalhão Sagrado dos tebanos na Batalha de Queroneia (338 a.C.). Em pouco tempo toda a Grécia estava dominada. Contra a ameaça persa, organizou a Liga de Corinto, responsável pela ampliação de seu poder e prestígio. Figura 10: Falange macedônica armada com sarissas. Fonte: Alessandro Gelsumini/Wikimedia Commons Em 336 a.C. Filipe II foi assassinado por um aristocrata a quem havia ofendido, levando seu filho Alexandre, com cerca de 20 anos a assumir o trono. Os relatos em torno do nome de Alexandre fizeram dele mais uma lenda, do que propriamente um homem de carne e osso. As profecias sempre estiveram presentes na vida do jovem macedônio, desde o seu nascimento, passando por sua visita ao oráculo de Amon em Siwa, Egito, onde foi recebido como o filho de Amon-Rá, até o episódio em que desatou o nó Górdio com um golpe de espada, insinuando que ele mesmo seria o conquistador da Ásia segundo a lenda local. Aluno do filósofo Aristóteles, domador do cavalo Bucéfalo, conquistador da Ásia. Eis alguns detalhes ligados à vida e aos feitos de Alexandre. Figura 11: Detalhe mosaico retratando Alexandre e seu cavalo Bucéfalo. Situado em Pompeia e atualmente no Museu de Nápoles (c. 100 a.C.). Fonte: Wikimedia Commons 20 Unidade: A Grécia Antiga Com o exército organizado e disciplinado, Alexandre avançou sobre os persas iniciando uma campanha que duraria anos. Na batalha de Granico (334 a.C.) estabeleceu o controle sobre a Ásia Menor. Em 333 a.C., na Batalha de Issus, derrotou o rei persa Dario III. No ano seguinte invadiu Tiro (Fenícia) e conquistou o Egito, incorporando-o ao império e fundando a primeira das várias capitais com o seu nome, Alexandria. Em 331 a.C., na Batalha de Gaugamela, derrotou definitivamente Dario III, conquistando o Império Persa. Em 327 a.C., decidiu continuar sua expansão sobre a Ásia atravessando o Hindu Kush, em direção à Índia. Nas margens do rio Hidaspes, atual Paquistão, lutou contra as tropas do príncipe Poro, montadas sobre elefantes de combate. Após a vitória, Alexandre fundou na região a cidade de Bucéfala em homenagem ao seu cavalo morto em batalha. A campanha extenuante e o risco de deserção levaram Alexandre a optar pelo caminho de volta. Estabeleceu a capital de seu império na cidade da Babilônia e, pouco tempo depois, acometido por uma terrível febre, morreu em 323 a.C. Explore O filme “Alexandre” narra a interessante história do conquistador macedônico Alexandre, o Grande. Ao morrer Alexandre deixou um herdeiro ainda por nascer e o império acabou por ser divido entre seus principais generais. A Grécia e a Macedônia ficaram sob o poder de Antígono, o Egito sob Ptolomeu e a Ásia sob Seleuco. A partir do século II a.C. os reinos helenísticos foram gradualmente ocupados pelos romanos. Figura 12: O império de Alexandre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Mapa_de_Alejandr%C3%ADas-pt.svg 21 A Cultura Helenística Alexandre teria aprendido com os persas a estratégia de preservar e respeitar as tradições dos povos conquistados. Além de incentivar o casamento de seus soldados e generais com mulheres dos povos submetidos, ele próprio casou com Roxana, filha de um nobre persa. A partir dessa postura de intercâmbio cultural, sem perder de mente a questão da subordinação pela diplomacia e pelas armas, caso necessário, Alexandre promoveu uma mistura entre a cultura grega e cultura oriental, configurando aquilo que os historiadores batizaram de “Civilização Helenística”. A escultura e a pintura tornaram-se mais realistas, exprimindo a violência, a dor e sensualidade. A arquitetura tornou-se suntuosa e seus maiores exemplos foram o farol de Alexandria e sua magistral biblioteca e a estátua colossal do deus Apolo, na ilha de Rodes. O helenismo impulsionou as várias ciências. Na Astronomia destacou-se Ptolomeu, defensor da teoria geocêntrica. Na geografia, Eratóstenes calculou a medida da circunferência da Terra com uma precisão notável. Na matemática e na física destacaram-se Euclides, que lançou as bases da geometria e Arquimedes, que descobriu os princípios básicos da física como o da alavanca e da roldana e a formulação das leis de flutuação dos corpos. A política, no entanto, foi profundamente influenciada pelo despotismo oriental, onde o poder do monarca era inquestionável e esse era considerado divino. As conquistas da democracia ateniense estariam momentaneamente sepultadas. No campo da filosofia, três novas doutrinas surgiram. O estoicismo de Zenão, que propunha a busca por um inabalável equilíbrio interior, capaz de tratar com o mesmo desprezo a dor e o prazer, a sorte e os infortúnios da vida. O epicurismo de Epicuro, caracterizado pela busca do prazer e da felicidade como metas de nossa existência. E, por fim, o ceticismo de Pirro, que defendiaque a felicidade consistia em abandonar a pretensão de julgar e conhecer as coisas, pois estas estariam fora de nosso entendimento. 22 Unidade: A Grécia Antiga Material Complementar A fantástica trajetória da civilização grega é narrada de maneira cativante neste documentário produzido pelo canal The History Channel. • http://www.youtube.com/watch?v=nwD2F7v67PI http://www.youtube.com/watch?v=nwD2F7v67PI 23 Referências AQUINO, Rubim dos Santos (et al). História das Sociedades: das sociedades primitivas às sociedades medievais. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1980. ARRUDA, José Jobson de Andrade. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 2009, p. 15. ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. Atlas Histórico. São Paulo: Enyciclopaedia Britannica, 1977, p. 165. FINLEY, M.I. O Mundo de Ulisses. 3ª. ed. Lisboa: Presença, 1988. HERÓDOTO. História. Tradução do grego, introdução e notas de Mário da Gama Kury. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1988. 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