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DOENÇA DE PEYRONIE E VARICOCELE AUTOR: PEDRO V.F. MEDRADO DOENÇA DE PEYRONIE - É uma degeneração estrutural, adquirida, fibrótica e multifocal da túnica albugínea do pênis, em que a fibrose e formação de placas resultam em deformidades, encurtamento e tortuosidade peniana, principalmente durante a ereção. - Descrita em 1743 por François Gigot de La Peyronie - Paciente relata ereções dolorosas, curvatura peniana e palpação de nódulos no pênis (calcificações) - É mais frequente na faixa dos 40 aos 70 anos de idade, e acomete 0,39-3,9% dos homens. · Na população adulta masculina – até 16% Etiopatogenia - É indeterminada, mas resulta do desarranjo localizado no tecido conjuntivo por mudanças na composição e na quantidade do colágeno na túnica albugínea. - São mais comuns no dorso do pênis - Tecido elástico normal placa fibrótica que altera a anatomia do pênis - Hipóteses · Deficiência de vitamina E – vita E principal antioxidante · Exposição a medicamentos – propranolol e metotrexato · Aumento dos níveis de serotonina · Predisposição genética – contratura de Dupuytren (fibrose da fáscia palmar – mão em gatilho) · Antígeno HLAB27 · Fatores autoimunes · Produção de radicais livres · Alterações citogenéticas · Instrumentação uretral · Outras doenças – diabetes, doença de Paget e gota · Prostatectomia radical - Teoria mais aceita – resultado de traumas agudos e repetitivos ao pênis. · Formação de hematomas, inflamação, fibrose até calcificação · Desarranjo entre o tecido de cicatrização e matriz extracelular - Lesões microvasculares + traumas repetitivos Extravasamento de fibrina + citocinas Fibroblastos e miofibroblastos Quadro clínico - Curvatura peniana, nódulo palpável, ereção dolorosa e disfunção erétil. - Duas fases de manifestações · 1ª Fase – inflamatória aguda · Autolimitada com duração e 6-18 meses · Dor à ereção, curvatura peniana e formação de nódulos no pênis. · 2ª Fase · Mínima ou nenhuma dor – assintomático · Estabilidade nas dimensões da placa e da curvatura ou alterações estruturais · Disfunção erétil - Cerca de 13% (até 10-14%) dos pacientes tem resolução completa após 1 ano do diagnóstico, 40% progridem com a doença e 47% ficam inalterados. - Diagnóstico clínico – história médica de disfunção erétil e presença de dor - Curvatura peniana localiza-se ipsilateral à placa, frequentemente na região dorsal, determinando a inclinação ascendente quando em ereção. - Deformidades variáveis – cinturas, pênis “em ampulheta” ou em forma de “pescoço de cisne”. - Avaliação objetiva – mensuração peniana, avaliação da placa (tamanho e localização), capacidade de ereção (TEFI) e avaliação da curvatura peniana (penograma ou fotografia). - Tríade tardia – disfunção erétil, nódulos palpáveis e curvatura. - Exames de imagem não são obrigatórios, pois não mudam conduta. Tratamento - Não há um tratamento padronizado, mas a priori o tratamento inicial é sempre clínico e conservador, principalmente durante o 1º ano (fase aguda da doença). - Tratamento clínico · Indicação – paciente na fase aguda da doença · Opções terapêuticas sistêmica (oral) e local (intralesional) · Tratamento sistêmico · Vitamina E (tocoferol) 400-1000 UI/dia – antioxidante · Para-aminobenzoato de potássio (Potaba®) 12g/dia 4-6 doses – efeitos colaterais importantes · Tamoxifeno 20mg 2x/dia – inibidor de TGF-B pelos fibroblastos · Colchicina – antimicrotubular e anti-inflamatório · Teste terapêutico de 0,5mg 12/12 ou de 8/8 horas por 3 meses · Pentoxifilina – inibidor não específico da fosfodiesterase, atenuando a deposição de fibras de colágeno e elastogênese · Tratamento local · Verapamil – injeções intralesionais de 10 mg/semana por 8-12 semanas · Interferon alfa-2b · Colagenase – deposição de colágeno (reduzir curvatura peniana) · Tratamento externo · Iontoforese · Dispositivo de tração · Terapia extracorpórea por ondas de choque - Terapia extracorpórea por onda de choque · Mecanismo de ação · Injúria direta à placa, desencadeando uma reação inflamatório com aumento da atividade de macrófagos que causam lise da placa. · Melhora da vascularização resultando em absorção da placa. · Criação de cicatrizes contralaterais no pênis gerando falso alinhamento. · Estabiliza a progressão da deformidade - Tratamento cirúrgico · Candidatos · Curvaturas muito severas · História de >12 meses de evolução da doença e estável por no mínimo 3 meses · Curvatura estável por no mínimo 3 meses · Falha terapêutica conservadora · Interferência na relação sexual · Riscos · Encurtamento independente da técnica cirúrgica · Disfunção erétil · Hipoestesia peniana · Curvatura residual ou recorrente · Potencial de sentir abaixo da pele nós e fios · Potencial necessidade de circuncisão na cirurgia. · Prótese de pênis – DE associada que não responde ao tto clínico · Encurtamento do lado convexo · Opções para – pênis longo, função erétil satisfatória, curvatura mínima e distal e sem deformidade “em ampulheta”. · Técnica Nesbit, Yachia ou simples plicaturas · Mínimo risco de DE · Alta taxa de recidiva e resultados limitados a longo prazo · Alongamento do lado concavo da túnica albugínea · Melhor opção para curvaturas graves e/ou proximais, pênis encurtados ou com deformidades de estreitamento em “em ampulheta”. · Incisão ou excisão da placa e colocação de enxerto · Material de enxerto · Complacência, boa disponibilidade, pequena morbidade, não prolongamento do tempo operatório, baixo custo e baixo risco de transmissão de infecções e antigenicidade. · Função erétil pós-op – fator mais importante · Implante de prótese · DE severa – indicado · Tratamento da placa – incisão ou excisão e substituição por enxerto, é reservado para curvaturas muito significativas. VARICOCELE - É a dilatação anormal do plexo pampiniforme por aumento de fluxo estendendo-se inferiormente ao testículo. - Século 19 – Curling e Barwell suspeitaram do impacto da varicocele na fertilidade masculina - 1955 – Talloch – relação da varicocele com a infertilidade foi finalmente decretada - Após os 20 anos, a incidência é de 15 a 20%, e em idosos está presente em até 42,9% - A incidência de varicocele (Vari, Kocelle) é maior nos homens com infertilidade, situando-se ao redor de 40%. - Constitui a mais comum, prejudicial e corrigível causa de infertilidade masculina Etiopatogenia - O surgimento da varicocele ocorre no período puberal, sendo raro o diagnóstico em meninos abaixo de 10 anos - Em até 70-80% dos casos afeta os testículos bilateralmente, mas por uma questão anatômica o lado esquerdo seja mais proeminente. - Possíveis causas · Ausência ou incompetência congênita das válvulas da veia espermática interna · Dificuldade da drenagem venosa por obstrução ou compressão do sistema venoso - Hipertermia, hipóxia, diminuição do fluxo sanguíneo testicular e epididimário, alterações hormonais intratesticulares, estresse oxidativo e refluxo de metabólitos do rim e adrenal. · Função testicular – é considerada a causa primária de infertilidade masculina - É mais comum do lado esquerdo do que direito – é explicado por fatores anatômicos como o efeito quebra-nozes, angulação do trajeto e comprimento. · Quebra-noz – artéria mesentérica superior e aorta abdominal fazer um pinçamento da veia renal esquerda a cada mov sistólico. · Veia espermática interna esquerda tem maior comprimento (+10 cm) em relação a direita, o que implica maior pressão hidrostática, além de ter inserção da drenagem de 90º. - Teorias de infertilidade · Refluxo de metabólicos renais e adrenais · Refluxo de metabólitos causaria uma vasoconstricção crônica e uma toxicidade do parênquima testicular. · Refluxo de metabólitos advindos do rim e adrenal não desempenha papel negativo no funcionamento testicular. · Disfunção do eixo HHG – redução dos níveis de testosterona sérica · A disfunção das células de Leydig gerada pela dilatação do plexo pampiniforme, reduzindo a produção de T. · Diminuição da síntese de T, leva a hiperplasia reativa das cel de Leydig. · Estase e pressão venosa · Vasoconstricção crônica pode acarretar prejuízo no aporte nutricionaltesticular. · Aumento da pressão venosa altera as pressões oncóticas e hidrostáticas intratesticulares, modificando as ações parácrinas do hormônio. · Hipertermia testicular – a temperatura escrotal normal fica 2-3ºC abaixo da temperatura do corpo. · O mecanismo de contracorrente do cordão espermático permite o resfriamento do testículo. · A presença de estase venosa decorrente da varicocele prejudica todo o sistema de resfriamento do sangue arterial. · Perda termorregulatória escrotal – eleva o metabolismo celular não acompanhada de se suprimento nutricional. · A cada 1ºC de aumento na temperatura testicular, estima perda de até 40% na concentração de espermatozoides no ejaculado. · Hipóxia e estresse oxidativo – ROS + antioxidantes permanecem em um equilíbrio. · Aumento da produção de ROS não acompanhada pelos sistemas antioxidantes ocasiona: · Aumento da paroxidação lipídica na membrana do espermatozoide; · Perda de fluidez e alteração da permeabilidade; · Redução na motilidade; · Prejuízo da reação acrossoma; · Diminuição da atividade mitocondrial; · Aumento na fragmentação DNA; · Aumento do apoptose celular. - Atualmente deve-se considerar a hipertermia testicular como o principal evento pelo qual ocorre o estresse oxidativo testicular e todo impacto negativo à espermatogênese proveniente da produção de ROS. Clínica e diagnóstico - Exame físico – paciente em posição ortostática em uma sala aquecida (22-25ºC) com luz branca · Manobra de valsava – aumento da pressão abdominal · Paciente em posição ortostática · Palpação – paciente em ortostase e em decúbito dorsal (ingurgitamento) · Suspende a bolsa testicular com o dedo médio para melhor palpação pelo plexo pampiniforme. - Classificação · Grau 0 (varicocele subclínica) – diagnóstico apenas com USD – sem relevância clínica · Grau I (ou pequenas) – palpadas apenas com auxílio da manobra de Valsava – sem relevância clínica · Grau II (ou moderadas) – palpadas sem o auxílio da manobra de Valsava – c/ relevância · Grau III (ou grandes) – visíveis através da pele do escroto – c/ relevância - Exame padrão-ouro para diagnóstico do refluxo venoso no plexo pampiniforme – venografia da veia espermática. - Venografia – não tem tanta utilidade, serve mais para conduta terapêutica - Termografia da bolsa testicular – aumento de 1ºC, diminui 40% do espermatozoide ejaculado - Cintilografia - Refluxo venoso não ocorre no paciente normal - Em pacientes com varicocele unilateral à direta, há suspeita de tumores de testículo - Varicocele por compressão ou trombose de VCI · Fluxo detectado pelo Doppler no plexo pampiniforme é constante, mais alto que na varicocele por insuficiência valvar e não se altera com manobra de Valsava. · Varicocele à esquerda – tumor renal à esquerda (por trombose de VCI) - Classificação do refluxo · Grau 1 – quando termina antes do fim do esforço abdominal · Grau 2 – quando termina junto do fim do esforço abdominal · Grau 3 – quando termina após o fim do esforço abdominal - Varicocele subclínica – não palpável ao EF, estando o paciente em posição ortostática e identificada por exames subsidiários. · Corresponde ao grau O – não é visível, nem palpável, o diagnóstico é por US Tratamento - Objetivos – melhorar a função dos testículos, qualidade do sêmen e as chances de concepção. - Indicação de tratamento cirúrgico · Infertilidade masculina é a indicação mais comum – varicocele palpável, alteração da análise seminal e potencial feminino preservado para a gravidez. · Grau II e III – a varicocele clínica tem papel na patogênese da infertilidade masculina, por isso deve ser corrigida. · Dor escrotal – não é um sintoma comum (2-10%), e não costuma melhorar com analgésicos · Persistente por >3 meses, sem alívio com medidas conservadores e associada presença de varicocele palpável · Varicoceletectomia microcirúrgica gera resolução completa da dor até 85% dos casos. - Tratamento clínico · Calicreína por 3 meses – melhora estatística da motilidade e morfologia seminal em comparação com o controle. · Menotropina por 3 meses – quanto mais precoce a introdução melhor - Varicocele subclínica – não há evidências contundentes de definição de conduta e tratamento. - Tratamento cirúrgico – ligadura cirúrgica e embolização percutânea. · Vias – retroperitoneal, inguinal, subinguinal ou laparoscópica · Subinguinal é a técnica de escolha, apesar de ser mais difícil · Objetivo – ligadura as veias espermáticas e tributárias - Varicocelectomia · Indicado · Grau 3 de varicocele · Diâmetro venoso >3mm (USG-Doppler) ou Vol testicular direito > esquerdo por mais de 3 ml · Dor · Infertilidade masculina · Não indicado - A correção cirúrgica comprovadamente traz benefícios PERGUNTAS - Indicação de cirurgia de varicocele · Infertilidade masculina, desconforto testicular, atrofia testicular e grau III (em pacientes jovens). - Incidência da doença de Peyronie · Até 16 da população geral - Benefício da Litotripsia Extracorpórea por Ondas de Choque (LECO) · Injúria direta à placa, desencadeando uma reação inflamatório com aumento da atividade de macrófagos que causam lise da placa. · Melhora da vascularização resultando em absorção da placa. · Criação de cicatrizes contralaterais no pênis gerando falso alinhamento. · Estabiliza a progressão da deformidade - Diagnósticos diferencias da DP · Trombose de veia dorsal, curvaturas congênitas, Chordee, infiltração leucêmica dos corpos cavernosos - Complicações da cirúrgica da DP · Disfunção erétil, encurtamento do pênis, hipoestesia peniana, curvatura residual ou recorrente. - Resoluções espontâneas da DP · Até 10-14%