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Urologia - Patologia Escrotal e Peniana: Dor Testicular Aguda: - Comumente denominada de escroto agudo, constitui cerca de 5% dos atendimentos de urgência no pronto atendimento. - Na ausência de exames complementares, é prudente realizar o procedimento cirúrgico para a correção. - As situações que caracterizam uma orquialgia ou dor testicular aguda necessitam de um diagnóstico ágil e tratamento rápido: Uma situação de torção de testículo, por exemplo, se não diagnosticada precocemente, pode levar a perda do órgão (anatomia e função). - Dentro do contexto de dor testicular aguda, as principais patologias que estão envolvidas com sua gênese são: Torção testicular (do cordão espermático), epididimite, orquiepididimite aguda (infecção de epidídimo e testículo), torção dos apêndices intra-escrotais, entre outros. Epididimite: - Caracteriza-se por um processo inflamatório do epidídimo (ducto que coleta e armazena os espermatozóides produzidos pelo testículo). - Pode ser ocasionado por um processo infeccioso ou congestivo. - Em relação aos quadros infecciosos, é de extrema importância correlacionar a idade do paciente e os principais agentes etiológicos envolvidos: - Idade <35 anos: ISTs, clamídia ou gonococo. - Idade >35 anos: A principal suspeita deve ser estabelecida por um processo infeccioso secundário a via urinária e próstata (prostatite). A disseminação pode ser veiculada, além da extensão local retrógrada (ductos ejaculatórios e deferentes), como ocorre nas prostatites, ou ainda através de disseminação cirúrgica (cistoscopias, tto de cálculo por via endoscópica e passagem de sondas vesicais). Principais agentes: Bacilos gram-negativos (E.coli). - Quadro congestivo: Pode ocorrer no pós-operatório de uma cirurgia de vasectomia, orquiopexia, traumas na região inguinal. - Quadro Clínico (Manifestação insidiosa): Dor escrotal, edema, eritema, aumento da temperatura local, febre baixa e sintomas do trato urinário inferior (de esvaziamento ou de armazenamento). - Exame Físico: É visualizado aumento do volume escrotal. Pode-se identificar um espessamento do epidídimo. - Sinal de Prehn é um teste no qual é realizada a elevação do testículo e o paciente refere melhora da dor. Na torção testicular, não há melhora da dor com essa manobra. - Exames Complementares: - Hemograma: Leucocitose, podendo ser encontrada em níveis elevados (em torno de 18.000-20.000). - Urina I: Para os pacientes em que a epididimite é secundária a infecções, pode ser encontrada a presença de leucócitos e hematúria. - Urocultura: Pode ser positivo. - Bacterioscopia: Para os pacientes que apresentam quadros de descarga uretral, como nas uretrites, podendo ser solicitada a bacterioscopia e cultura da secreção. - USG-Doppler: Epidídimo espessado, coleções semelhantes a abscessos, hidrocele reacional e fluxo normal ou aumentado. - Tratamento: - Medidas Gerais: Repouso, analgésicos e anti-inflamatórios, além de suspensório escrotal. - ATB: - Se gonococo ou clamídia: Ceftriaxona (250mg IM DU) ou doxiciclina (100mg 12/12h por 10 dias). - Se E.coli: Ciprofloxacina (500mg 12/12h por 14 dias). - Complicações: Abscesso escrotal, infarto testicular, infertilidade e epididimite crônica (principalmente em idosos). Orquite: - Trata-se da inflamação do testículo e pode ser motivada pelos mais diversos fatores, tais como vírus, traumas, parasitas, espiroquetas ou ainda, ser de causa piogênica, química ou idiopática. - Um dos principais fatores é a caxumba (RNA-myxovírus). - Acomete com uma maior frequência os pacientes jovens. - Apesar disso, pode ocorrer por contiguidade através de focos epididimários, ou seja, a epididimite aguda, por contiguidade acomete também o testículo levando ao quadro de orquiepididimite aguda. - Estima-se que 85% das infecções por caxumba atingem pacientes menores que 15 anos. - Estima-se que 20% desses pacientes pré-púberes com caxumba podem apresentar orquite. - A orquite pós-caxumba pode ocorrer em 5-37% da população masculina após a puberdade e causar atrofia/infertilidade em 40-70%. - É importante salientar que a orquite pós-caxumba em crianças não causa infertilidade. - Quadro Clínico: Edema, dor, eritema, aumento da temperatura e do volume escrotal 4-8 dias após a parotidite, precedidos por sintomas sistêmicos da própria caxumba. - Tratamento: - Medidas Gerais: Repouso, anti-inflamatórios, suspensório escrotal e resfriamento local. - ATB: Devem ser utilizados quando há uma extensão para a epididimite (orquiepididimite). - Complicações: - Abscesso Testicular: Nesses pacientes a conduta a ser adotada consiste na orquiectomia. A simples drenagem e ATB não terão eficácia. Torção do Cordão Espermático: - Torção do cordão em seu próprio eixo. - Consiste na principal causa de dor escrotal aguda na infância e adolescência. - Constitui uma emergência cirúrgica e representa ⅓ dos casos de escroto agudo. - É uma causa importante de infertilidade em pacientes na puberdade e geralmente ocorre de forma bilateral, mesmo que o paciente só apresente um testículo torcido no momento. - Tipos de torção: - Intravaginal: Nesses casos, a torção ocorre no interior da túnica vaginal e corresponde a aproximadamente 90% dos casos. Isso ocorre devido a uma malformação denominada de “badalo de sino”, situação em que a túnica vaginal possui uma inserção mais alta que habitual, com isso, o testículo permanece suspenso. Em situações de frio, por exemplo, haverá a retração testicular promovida pela ação do músculo cremastérico, favorecendo a torção no próprio eixo. - Extravaginal: Ocorre por fora da túnica vaginal. Tem maior frequência em RN, crianças de menor idade e intra-útero. Ocorre devido a uma fixação anômala do gubernáculo e da própria túnica vaginal às demais estruturas (especialmente túnica Darthos) e túnicas da bolsa escrotal. - A fisiopatologia é explicada pela própria torção em volta do próprio eixo, gerando uma obstrução primariamente venosa e, posteriormente, uma falência do sistema arterial. - Depois disso, ocorre uma destruição das células reprodutivas de Leydig. - Caso a torção não seja corrigida, a isquemia se torna crítica, evoluindo com necrose testicular, dependendo obviamente do grau e do tempo de torção. - Quadro Clínico: Dor escrotal súbita, sinais inflamatórios locais (edema, calor, rubor, aumento da sensibilidade álgica), náuseas e vômitos, além de história de quadros autolimitados intermitentes. - Exame Físico: - Sinais inflamatórios locais; - Sinal de Angell: Horizontalização do testículo decorrente da torção testicular. Quando presente é patognomônico; - Sinal de Brunzel: Elevação do testículo; - Palpação do nódulo na região que ocorreu a torção; - Ausência do reflexo cremastérico (sinal de Rabinowitz); - Sinal de Prehn ausente: sem melhora da dor ao levantar o testículo. - Exames Complementares: - USG-Doppler: Redução do fluxo arterial ou ausência de fluxo. - Cintilografia com tecnécio: Excelente sensibilidade para predizer a ausência de fluxo. - Na impossibilidade de exames complementares, realizar exploração escrotal por via cirúrgica. - Tratamento: - Distorção manual antes do procedimento cirúrgico (lateral para medial) quando o diagnóstico pode ser feito somente com exame físico. Após isso, deve-se internar o paciente e realizar distorção cirúrgica e orquidopexia bilateral. - Quando a torção é intravaginal o procedimento é realizado via escrotal; já quando é extravaginal, é realizado por via inguinal. - Após abertura e distorção, deve-se avaliar a viabilidade do tecido escrotal. Caso seja viável, deve-se realizar a fixação bilateral. Caso inviável, deve-se realizar a orquiectomia. - Prognóstico: - Tratamento em menos de 6h: Preserva em torno de 85-97% - Tratamento entre 6-12h: Preserva em torno de 55-85% - Tratamento entre 12-24h: Preserva em torno de 20-80% - Tratamento com mais de 24h: Preserva menos de 10% de viabilidade testicular. Hidrocele: - São coleções líquidas dentro da túnica vaginal (lâmina visceral e parietal), na bolsa escrotal ouao longo do cordão espermático. - Etiopatogenia: - Persistência do conduto peritônio-vaginal, tendo semelhança com o mecanismo de formação de uma hérnia. Geralmente as crianças nascem com tal problema (Hidrocele comunicante). - Outro mecanismo seria a hidrocele por alteração de absorção e produção de líquido nas lâminas da túnica vaginal (Hidrocele não-comunicante). Pode ter origem inflamatória como epididimite, trauma ou ainda radioterapia, vasculites. Esse tipo acomete principalmente adultos. - Quadro Clínico: Aumento progressivo do volume da bolsa escrotal, ausência de dor. Em crianças, pode haver aumento do volume intermitente. Isso ocorre pois em posição supina o líquido volta para a cavidade peritoneal. - Exames Complementares: - Transiluminação: Avalia a penetração da luz através do líquido. Quando é transparente e hialino, nota-se a passagem de luz, ao contrário do que se têm numa estrutura sólida, sangue e em processo inflamatório. - USG de bolsa escrotal: Avalia muito além da presença de líquido, mas a presença de um testículo íntegro. - Tratamento: - Hidrocele Comunicante: Nas crianças de 1 a 2 anos, deve-se aguardar o fechamento espontâneo do conduto. Após essa idade, o fechamento passa a ser improvável, devendo assim proceder com a correção cirúrgica. Além disso, quando existe uma hérnia inguinal associada, o tto passa a ser cirúrgico independente da idade. - Hidrocele Não-comunicante: O tto é eminentemente cirúrgico, ou seja, deve ser realizado em todos os casos. A abordagem deve ser feita por via escrotal, onde é realizada uma incisão/ressecção da túnica vaginal em excesso, eversão e fixação. Fimose: - Enrijecimento na parte distal do prepúcio que impede a sua retração e exposição da glande. - Fimose (aderências) no RN é fisiológica e se apresenta como uma estrutura tubular. - A fimose verdadeira ou patológica é manos comum e associada a um anel cicatricial esbranquiçado não retrátil. - Circuncisão na infância diminui o risco de câncer de pênis e de contágio com HIV. - Fimose adquirida: Retração forçada (fissuras com cicatrização), irritações químicas (dermatite amoniacal), urina residual e infecção secundária. - Indicações cirúrgicas (postectomia): Fimose verdadeira, balanopostites de repetição, ITUs recorrentes e adolescentes com ereção dolorosa. - Atenção para não retirar tecido em excesso! - Tratamento tópico: Postec (20-30 dias). - Contraindicações à cirurgia: Hipospádia, epispádia, prematuros e pênis embutidos. Parafimose: - Retração do prepúcio com edema, impedindo sua realocação ao redor da glande. - Tratamento: Redução e cirurgia. Varicocele: - Principal causa de orquialgia crônica. - Consiste em uma condição adquirida caracterizada pela dilatação do plexo pampiniforme, decorrente da falência intrínseca das válvulas venosas do testículo, melhor evidenciada durante a manobra de Valsalva. - Ocorre, comumente, uma assimetria do volume: O testículo com varicocele é geralmente hipotrófico com relação ao contralateral. - Tal quadro pode desencadear uma oligospermia e, portanto, adultos com varicocele têm a tendência de ser estéreis (cerca de 45% das causas reversíveis de infertilidade masculina). - Pode afetar quantidade, forma e mobilidade dos espermatozóides. - Lado E em 80-90% dos casos. - Classificação Dubin/Amelar. - Incompetência e/ou ausência de valvas; drenagem perpendicular da veia espermática interna na renal E. - Fenômeno de quebra-nozes. - Temperatura escrotal e testicular elevada (hipertermia). - Pressão venosa elevada leva à estase venosa e hipóxia. - Hipertermia e hipóxia levam ao estresse oxidativo, apoptose e fragmentação do DNA. - Refluxo de metabólicos renais e adrenais: alteração ambiente e alteração seminal. - Adolescentes com varicocele e redução ipsilateral de volume testicular: Oferecer tratamento. - Adolescentes com varicocele sem redução ipsilateral de volume testicular: Acompanhar volume testicular a cada 12 meses e/ou com espermograma. - Indicação para tratamento de adultos: Varicocele palpável (graus 2 e 3), infertilidade conjugal, sêmen com qualidade anormal, cirurgia não indicada em pacientes com sêmen normal, teratozoospermia isolada e varicocele subclínica. - Varicocelectomia microscópica: Minimamente invasivo, pronta recuperação, preservação de artérias e linfáticos, além de melhor risco de complicações e recidiva. Priapismo: - Ereção persistente, com duração maior do que 4h, geralmente dolorosa e sem estímulo sexual. - Constitui uma emergência médica (o priapismo isquêmico leva à fibrose progressiva dos tecidos eréteis, além de causar a dor). - Apenas os corpos cavernosos são afetados. Isquêmico (ou veno-oclusivo ou de baixo-fluxo): - Disfunção da musculatura lisa do corpo cavernoso ou hiperviscosidade sanguínea. - Fluxo sanguíneo diminuído ou ausente com corporovenoclusão. - Relato de dor. - Corpos cavernosos rígidos e dolorosos à palpação. - Gasometria do sangue venoso: Hipóxia, hipercapnia e acidose. - Requer tratamento de emergência. - Pode evoluir com fibrose dos corpos cavernosos e disfunção erétil. - Glande túrgida, por ser composta apenas de tecido esponjoso. - Mecanismo de ação: Plegia/relaxamento da musculatura lisa e hiperviscosidade sanguínea, levando a fluxo sanguíneo diminuído ou ausente e venoclusão. - Causas: Medicamentos usados para disfunção erétil (não inclui o viagra), doenças hematológicas, antipsicóticos e antidepressivos, drogas, tratamento com heparina, neoplasias, nutrição parenteral hiperlipídica, pacientes em hemodiálise e em uso de eritropoetina, TRM e anestesia geral ou regional. Não-isquêmico (ou arterial ou de alto fluxo): - Etiologia mais comum: trauma perineal ou peniano. - Entrada de fluxo arterial não controlado nos espaços lacunares. - Não há dor. - Normalmente a ereção não é totalmente rígida ou dolorosa. - Gasometria semelhante à gasometria arterial. - Não requer tratamento de emergência. - Não ocorre fibrose dos corpos cavernosos. - Causas: Trauma com lesão das artérias cavernosas e seus ramos, ocasionando fístulas arteriolacunar ou pseudoaneurismas. História Clínica: Duração da ereção, grau de dor, história anterior de priapismo e seu tto, uso de medicamentos injetáveis para disfunção erétil, uso de medicamentos em geral, uso de álcool, maconha ou cocaína, história de trauma pélvico, genital ou perineal, história de anemia falciforme ou outras doenças hematológicas. Exame Físico: Exame de genitália, períneo e abdome. Tumescência ou rigidez dos corpos cavernosos, sem alteração do corpo esponjoso e glande. Exames Laboratoriais: Hemograma, teste de falcização, contagem de reticulócitos, eletroforese de hemoglobina, pesquisa de drogas psicoativas e toxicológico de urina, gasometria dos corpos cavernosos. OBS: sangue escuro (isquêmico) ou vermelho brilhante (não isquêmico). Exames de imagem: - USG com doppler peniano: pouco ou nenhum fluxo nas artérias cavernosas (isquêmico), normal ou alto fluxo (não isquêmico), ausência de fluxo significativo dentro dos corpos cavernosos. - Arteriografia Peniana: pesquisa e localização de fístula em artéria cavernosa. Tratamento, associado à embolização. Tratamento: - Isquêmico: - Inicialmente, detumescência peniana (punção e aspiração intracavernosa). Mesmo sem tratamento, todo priapismo se resolverá, mas a função erétil poderá ser comprometida. Injeção intracavernosa de drogas simpaticomiméticas (adrenalina, noradrenalina, fenilefrina, efedrina e metaraminol), com ou sem irrigação dos corpos cavernosos. - Tratamento cirúrgico com shunt ou derivação: - Derivação esponjocavernoso distal. Winter (percutânea através da glande, com agulha de biópsia), Ebbehoj (percutânea através da glande, com lâmina nº11), Lue (percutânea através da glande com incisão em T com o bisturi) e Al-Ghorab (excisão da túnica albugínea do “tampo do corpo cavernoso”). - Derivação esponjocavernoso proximal: Quackels (entre corpo cavernoso e corpo esponjoso, abordagem peno-escrotal), Sacher (entre corpo cavernoso e corpo esponjoso, abordagemperineal), Grayhack (entre corpo cavernoso e safena). Al-Ghorab é mais eficaz, no entanto em longo prazo pode levar à DE. - Próteses Penianas: Na fase aguda, após falha das técnicas de derivações, na recorrência e tardiamente, em casos de DE grave. - Não-Isquêmico: - Não é uma emergência e tem resolução espontânea em 60% dos casos. O tto inicial deve ser a observação, associado a condutas locais (gelo, compressão). Embolização arterial seletiva, em casos específicos, com decisão compartilhada. Tratamento cirúrgico em último recurso, com exploração e ligadura direta de fístulas ou pseudoaneurismas.