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3 Aromaticidade Unslash - by Merlene Goulet Identificação e reações em compostos aromáticos O olfato é, sem dúvida, um dos sentidos mais poderosos que o ser humano pode apresentar. Manipulamos diariamente substâncias aromáticas, como as contidas no café, o qual satura nossa casa com o aroma dessa iguaria inconfundível. Ao nos aprofundarmos no estudo da química orgânica, aprendemos que muitos desses cheiros estão associados por conta de uma estrutura peculiar denonimada “aromática”. É sobre esse fenômeno que iremos discutir nesse capítulo. 3 1 Química dos compostos Aromáticos Certamente, ao se aventurar no mundo da química orgânica você já tenha se deparado com uma estrutura aromática. O benzeno, cuja fórmula estrutural é bastante peculiar, é o personagem principal nesse cenário, porém, existem inúmeras outras estruturas orgânicas que têm exatamente o mesmo comportamento químico do benzeno, mas que apresentam estruturas muito diferentes. Bem-vindo a esse maravilhoso mundo dos aromas... Christos e espiciarias! — por Cristo e especiarias — foi o grito jubiloso dos marinheiros de Vasco da Gama quando, em maio de 1498, eles se aproximaram da Índia e da meta de ganhar uma fortuna incalculável com condimentos que durante séculos haviam sido monopólio dos mercadores de Veneza. Na Europa medieval um condimento, a pimenta, era tão valioso que uma libra dessa baga seca era suficiente para comprar a liberdade de um servo ligado à propriedade de um nobre. Embora a pimenta figure hoje nas mesas de jantar do mundo inteiro, a sua demanda e a das fragrantes moléculas da canela, do cravo-da-índia, da noz-moscada e do gengibre estimularam uma procura global que deu início à Era dos Descobrimentos. OS BOTÕES DE NAPOLEÃO - AS 17 MOLÉCULAS QUE MUDARAM A HISTÓRIA DO MUNDO”, escrito por Penny Le Couteur e Jay BurresonPixabay - Daria Yakovleva 3.1 - O BENZENO E OS COMPOSTOS AROMÁTICOS NA HISTÓRIA 2 A ciência, como sabemos, é saturada de histórias fabulosas e inspiradoras. Em 1825, Faraday realizou a descoberta de um líquido isolado de um resíduo alcatroado da queima do petróleo e fez com que muitos químicos se intrigassem com a estrutura desse novo composto com cheiro muito característico, por isso, denominado composto aromático. Tratava-se de um composto com alto grau de insaturação, por apresentar 6 átomos de carbonos, o máximo de hidrogênios que podem saturar uma molécula pode ser encontrado utilizando a seguinte fórmula matemática: 2n+2=nº máximo de hidrogênios. Onde n é o número de carbonos da estrutura. Dessa forma, 2(6)+2=14 hidrogênios. Porém, essa molécula bastante incomum, apresentava apenas 6 hidrogênios, logo 14-6=8 hidrogênios, que quando divididos por 2, encontra-se 4 graus de insaturação da molécula. Diz uma lenda orgânica que August Kekulé teve um sonho em que uma cobra engolia a própria cauda, formando um círculo. Ao acordar, desenhou a estrutura correta do benzeno e tal intuição sobre a estrutura dessa nova molécula permitiu elucidá-la de forma correta. Com o tempo, muitas outras moléculas também “aromáticas” foram descobertas. Tais compostos anelados apresentam uma estabilidade excepcional e contempla uma química reacional bastante peculiar, que diferente de outros compostos insaturados como o alceno, por exemplo. E é por esse motivo que esse capítulo se dedica exclusivamente à contemplação e discussão dos belos mecanismos reacionais que tais compostos orgânicos permitem fazer. Veja a diferença entre os tipos de reatividade que ocorrem em compostos insaturados e que não são observadas em compostos aromáticos. Kekulé afirmou que existe um rápido equilíbrio entre os dois compostos, que alternam as ligações pi a todo momento. Futuramente, esse fenômeno passou a ser chamado de ressonância. Ocorre reação de adição NÃO HÁ EVIDÊNCIAS DE REAÇÃO 3 Por outro lado, o benzeno sofre bromação quando utiliza-se como catalisador um ácido de Lewis. Porém, é evidenciado que a reação não é de adição, mas sim de substituição. Dessa forma, os compostos aromáticos, devido à sua estabilidade, podem sim reagir, mas por substituição e não por adição (como ocorrem em outros compostos insaturados). Há substituição de um átomo de hidrogênio por um átomo de Bromo no composto aromático 3.2 - COMO DETERMINAR SE UM COMPOSTO É OU NÃO AROMÁTICO? Certamente o benzeno é o ator principal no cenário dos compostos aromáticos. Porém, existe uma infinidade de outros compostos que também são aromáticos e que apresentam estruturas bastante diversas da do tão conhecido benzeno. Mas como identificá-los? Existem regras para esse reconhecimento? A resposta é: Sim, existem! E são bastante simples. Observe: 1 - Um composto para ser aromático ele deve, obrigatoriamente, ser cíclico; 2 - Todos os átomos do anel devem ser hibridizados em sp2; 3 - Apresentar fluxo de elétrons por todo o anel de forma ininterrupta; 4 - Obedecer à regra de Hückel: 4n+2=nº de elétrons pi (n=0, 1, 2, 3...) A regra número 1 é bastante fácil de se perceber em estruturas orgânicas. Não existe aromaticidade em compostos alifáticos. Por outro lado, a regra 2 enfatiza a hibridização dos orbitais do átomo de carbono em sp2. Quando se faz a distribuição eletrônica de Linus Pauling do átomo de carbono, obtêm-se: C: 1s2 2s2 2p2. A última camada, portanto, apresenta 4 elétrons, (2 nos subníveis s e 2 nos subníveis p): s px py pz Dessa forma, há apenas 2 elétrons no subnível p (o que faria com o que átomo de carbono fizesse apenas duas ligações). Porém, os orbitais dos subníveis s e p combinam-se em um processo chamado hibridização e o elétron emparelhado s migra para o orbital vazio do subnível p. 4 orbitais híbridos Hibridização 4 orbitais sp3 3 orbitais sp2 e 1 p puro 2 orbitais sp e 2 p puros 4 Esse tipo de hibridização sp2 permite com que a nuvem eletrônica possa se movimentar de forma ininterrupta, sendo, portanto, um critério para o composto ser classificado como aromático. E, por fim, mas não menos importante, o composto deve obedecer à regra de Hückel, a qual preconiza que o número de elétrons localizados nos orbitais p puros (ou elétrons pi) seja 2, 6, 10, 14... obedecendo à seguinte relação matemática: 4n+2=nº de elétrons pi. Dessa forma, verificando a estrutura acima, existem 6 elétrons do tipo pi acomodados em orbitais p puros, logo, o número 6 é um número de Hückel e o composto atende a todos os critérios de ser classificado como aromático. O elétron acomodado no orbital p puro sobrepõe-se ao outro e létron acomodado também no orbital p vizinho. Na representação esquemática ao lado, há 3 sobreposições marcadas em cores diferentes. Estas são as três ligações duplas que aparecem na molécula de benzeno. São chamadas de ligação do tipo pi. Observação: É importante reforçar que se um composto orgânico não atender a todas as regras estabelecidas para aromaticidade, ele poderá ser classificado como NÃO AROMÁTICO ou ANTIAROMÁTICO, pois apesar de sua estrutura nos induzir a acreditarmos que são aromáticos, as suas propriedades físico-químicas e reacionais são totalmente distintas à do benzeno, por exemplo. 3.3 - RECONHECENDO COMPOSTOS AROMÁTICOS As quatro estruturas orgânicas apresentadas abaixo serão analisadas quanto aos critérios de aromaticidade. A B C D 5 A primeira regra nos diz que é necessário que o composto seja cíclico. Ok. Nessa primeira fase, todas as moléculas atendem a esse requisito. O segundo critério analisado é a respeito das hibridizações dos átomos de carbono. Observe que as moléculas A, C e D não podem passar dessa fase, pois apresentam átomos de carbono que estão hibridizados em sp3. Sendo assim, A, C e D são compostos não aromáticos. Veja, como exemplo, a análise dos átomos de carbono da molécula A. Todos os átomos de carbono des t acados pe l a co r azu l e s t ão hibridizados em sp2, atendendo ao critério de aromaticidade Ocarbono destacado na coloração roxa, por outro lado, não está hibridizado em sp2, m a s s i m e m s p 3 , e s s a hibridização interrompe o possível fluxo de elétrons na molécula COMPOSTO NÃO AROMÁTICO Ainda há o composto B para ser analisado. Vamos verificar se ele atende à todas as regras de aromaticidade já descritas nesse capítulo. Molécula B: 1 - Molécula cíclica - OK 2 - Hibridização sp2 - OK 3 - Fluxo ininterrupto de elétrons - OK 4 - Atende à regra de Hückel - NÃOsp2 Há duas ligações duplas na molécula B, portanto, há 4 elétrons do tipo pi. O número 4 não contempla a regra de Hückel. COMPOSTO ANTIAROMÁTICO Contudo, pode-se concluir que compostos não aromáticos e antiaromáticos terão uma química reacional muito diferente dos aromáticos. O comportamento dessas moléculas será muito parecido com as olefinas (alcenos) e, muito provavelmente, farão reações de adição às duplas ligações, por exemplo. Os compostos antiaromáticos apenas divergem quanto ao número de Hückel, eles seguem à fórmula matemática do 4n=nº de elétrons pi, assumindo números inteiros como: 0, 4, 8, 12, 16... 6 A próxima tarefa é realizar o mesmo tipo de análise nas moléculas apresentadas a seguir. Elas são moléculas os quais apresentam anéis fundidos e que estão representadas também em 3D. Regras para aromaticidade: 1 - Molécula cíclica - OK 2 - Todos carbonos hibridizados em sp2 - OK 3 - Apresenta fluxo ininterrupto de elétrons - OK 4 - Obedece à regra de Hückel (8 elétrons pi) - NÃO COMPOSTO ANTIAROMÁTICO Regras para aromaticidade: 1 - Molécula cíclica - OK 2 - Todos carbonos hibridizados em sp2 - OK 3 - Apresenta fluxo ininterrupto de elétrons - OK 4 - Obedece à regra de Hückel (12 elétrons pi) - NÃO COMPOSTO ANTIAROMÁTICO É importante reiterar que apesar da molécula apresentar anéis aromáticos, não se analisar cada ciclo de forma isolada. É necessário realizar uma análise da molécula toda. Por esse motivo, ao realizar a contagem de elétrons pi presentes na estrutura, encontra-se 12 elétrons, e este número obedece à equação matemática de 4n=nº de elétrons pi, sendo inserido, portanto, no grupo de compostos antiaromáticos. Há 12 carbonos hibridizados em sp2 na molécula, e 12 elétrons do tipo pi 7 Agora com os olhos mais treinados sobre como identificar a aromaticidade em compostos orgânicos, fica fácil verificamos que na molécula apresentada abaixo há um critério que não é atendido para ser aromático, que é não ter todos os átomos hibridizados em sp2. carbono sp3 (4 ligações sigma) COMPOSTO ANTIAROMÁTICO Na projeção em 3D é possível observar com clareza que o composto não é planar Porém, essa mesma molécula, ao sofrer reações químicas, pode mudar sua estrutura, transformando-se em um carbânion ou um carbocátion. Se, hipoteticamente, o ciclopropeno perdesse um hidreto, transformaria-se, portanto, em um carbocátion e se transformaria em um carbono sp2 (planar). Carbocátion ciclopropeno: 1 - Molécula cíclica - OK 2 - Todos carbonos hibridizados em sp2 - OK 3 - Apresenta fluxo ininterrupto de elétrons - OK 4 - Obedece à regra de Hückel (2 elétrons pi) - Ok COMPOSTO AROMÁTICO Para a molécula do ciclopropa-1,3-dieno poderia acontecer a mesma coisa. Se um hidreto fosse retirado do carbono sp3, transformaria-se, portanto, em um carbocátion, porém, apenas 4 elétrons do tipo pi estariam presentes na estrutura, tornando-se um composto antiaromático. Por outro lado, quando se utiliza uma base forte para reagir com o ciclopropa-1,3-dieno obviamente o hidrogênio presente nas duplas ligações são mais propensos a saírem, pois o pKa é menor devido aos 33,3% do caráter s do sp2, contra os 25% do sp3. Porém, ocorre algo incomum para esse tipo de reação, pois o hidrogênio mais ácido torna-se aquele ligado ao sp3, pois, ao tornar-se um carbânion, o par de elétrons são acomodados em um orbital p puro e entram em ressonância com os outros 4 elétrons pi que já estavam inseridos na molécula. 8 A partir daí, a molécula torna-se aromática, adquirindo sua estabilidade tão peculiar, é por esse motivo que o hidrogênio do carbono sp3 reage, para formar um produto mais estável. Por outro lado, seguindo o mesmo raciocínio orgânico, se fizéssemos reagir a molécula de ciclopropeno, a qual já exemplificamos anteriormente, o mecanismo hipotético seria o seguinte; uma base forte abstrairia o hidrogênio ácido do carbono hibridizado em sp3, com a saída do próton, um par de elétrons seriam alocados em um orbital p e estes fariam ressonância com o outro par de elétrons presentes no anel. Porém, o produto obedeceria aos 3 primeiros critérios de aromaticidade, mas não responderia à regra de Hückel para aromaticidade, tendo, somente, 4 elétrons pi, o que corresponderia a um composto antiaromático. Compostos antiaromáticos não apresentam estabilidade tão característica dos aromáticos, e por esse motivo, a saída de um hidrogênio de um carbono sp3 não poderia ser favorecida. Logo, o mecanismo explicitado abaixo não seria viável, pois o produto formado não é aromático, mas sim, antiaromático. Atente-se a isso! O par de elétrons são acomodados em um orbital p puro, o que o permite entrar em ressonância com os outros 2 elétrons pi. Porém, o produto formado é antiaromático, o que inviabiliza esse tipo de mecanismo. Logo, esse processo não acontece. Por esse motivo, há possibilidade de uma molécula carregada positiva ou negativamente ser contemplada pelos critérios de aromaticidade. 3.4 - AROMATICIDADE EM MOLÉCULAS COMPLEXAS Os mesmos critérios de aromaticidade são aplicados às moléculas que apresentam uma estrutura mais complexa. Se fosse proposta uma análise da molécula representada abaixo, seguiríamos o check-list dos critérios de aromaticidade e assim, classificá-la como aromática, não aromática ou antiaromática. E quando há pares de elétrons livres em algum heteroátomo presente na molécula? Será que ele faz parte do sistema aromático? Questões como essas devem surgir em moléculas heterogêneas porque isso define totalmente a característica de uma molécula. Pergunte-se: O heteroátomo está hibridizado em sp2? (Lembre-se que esse é um critério das regras de aromaticidade, todos os átomos devem ser planares). Esse átomo já está fazendo dupla ligação? (Se ele fizer dupla ligação significa que o orbital p já está ocupado e portanto, o par de elétron livre está abrigado em um orbital sp2, e não participa do sistema aromático. Vamos treinar a seguir. 9 Analise cuidadosamente a belíssima molécula complexa abaixo. Há 4 heteroátomos na estrutura, e cada um deles apresenta um par de elétrons livres. Será que eles fazem parte do sistema aromático? Os átomo de nitrogênio destacados na cor rosa são sp2, não fazem dupla ligação, portanto, o par de elétrons está em um orbital p e entra em ressonância com os demais Os átomo de nitrogênio destacados na cor laranja são sp2, fazem dupla ligação, portanto, o par de elétrons não está em um orbital p e sim em um orbital sp2 O par de elétrons abrigado no orbital sp2 atuam como bases, estão, portanto, disponíveis para fazerem reações (E NÃO CONTAM COMO ELÉTRONS PI). Já aqueles que estão alocados em um orbital p puro estão em ressonância, deslocalizados, e não há possibilidade de atuarem como bases. Regras para aromaticidade: 1 - Molécula cíclica - OK 2 - Todos carbonos hibridizados em sp2 - OK 3 - Apresenta fluxo ininterrupto de elétrons - OK 4 - Obedece à regra de Hückel (42 elétrons pi) - OK COMPOSTO AROMÁTICO Afinal, essa molécula é classificada como aromática ou antiaromática? Analisando os critérios de aromaticidade, ela atende a todos os 4 requisitos, portanto, é sim uma molécula aromática. Além disso, a averiguação a respeito da localização e disponibilidade dos pares eletrônicos permite definirmos se a molécula apresentará também sítios reacionais, como bases, por exemplo. 10 3.5- ORBITAIS MOLECULARES E O CÍRCULO DE FROST Na teoria da ligação de valência, a qual verifica-se a possibilidade da hibridização dos átomos, os elétrons são posicionados em ligações entre os átomos ou com elétrons não ligantes em um átomo. Por outro lado, na teoria do orbital molecular, conhecida como TOM, estes elétrons têm permissão para espalharem-se por toda a molécula. Por exemplo, como o benzeno tem seis orbitais do tipo p (um de cada carbono), exatamente seis orbitais moleculares pi devem ser formados. A regra de Frost estabelece que ao redor da molécula crie-se um círculo e cada vértice que tocar o círculo torna-se um orbital. Veja o exemplo: Energia orbitais antiligantes orbitais ligantes Como há 6 elétrons do tipo pi na molécula de benzeno, então serão distribuídos nos orbitais moleculares de acordo com a regra de Hund, de acordo com o aumento da energia. Observe que todos os elétrons ocupam orbitais ligantes que têm baixa energia, explicando a estabilidade peculiar que esses compostos apresentam. Da mesma forma, se inseríssemos no círculo de Frost a molécula abaixo que está carregada negativamente, observaríamos que seriam formados cinco orbitais molecular. Note: Energia par de elétrons em orbitais p puro (pi) Há 6 elétrons pi para serem distribuídos em ordem de energia no diagrama OM COMPOSTO AROMÁTICO 11 Por outro lado, ao se desejar fazer a análise da molécula selecionada abaixo, devemos nos atentar a inserí-lo no círculo de Frost colocando uma das pontas da molécula para baixo, encostando na parte mais baixa do círculo. Dessa forma, a molécula deveria ser rearranjada (ou redesenhada no seu caderno da seguinte forma): orbitais antiligantes orbitais ligantes orbitais não ligantes Há 8 elétrons pi na molécula, sabemos que não obedece à regra de Hückel, e isso é confirmado quando tais elétrons são distribuídos nos orbitais moleculares. Observe que há dois elétrons que estão acomodados cada um em um orbital NÃO LIGANTE. Esses elétrons desemparelhados atuam como radicais e são muito instáveis, podendo reagir rapidamente, sendo, portanto, antiaromático. A molécula destacada a seguir contempla uma carga positiva, sendo, portanto, um carbocátion secundário. Aprendemos anteriormente, que existem regras para classificar uma molécula quanto a sua aromaticidade. Esta, por exemplo, é cíclica, hibridizada em sp2, o que permite ter um fluxo ininterrupto de elétrons e apresenta 6 elétrons do tipo pi, o que corrobora com a regra de Hückel, sendo, portanto, um composto aromático. O círculo de Frost vem a complementar tais informações, veja como seria o diagrama dos orbitais molecular para o íon tropílio. Energia Já está desenhada da forma correta para o círculo de Frost, com a ponta direcionada para a parte inferior do círculo. Energia orbitais ligantes orbitais antiligantes COMPOSTO AROMÁTICO Dessa forma, verifica-se que existem muitas formas de se analisar um composto e inseri-lo na lista de aromáticos ou antiaromáticos. Isso é importante pois define, daqui para frente, que tipos de reações orgânicas esses compostos permitem-se fazer. 12 3.6 - UM CONVITE AOS MECANISMOS DE REAÇÃO EM COMPOSTOS AROMÁTICOS Nas discussões apresentadas anteriormente, esclareceu-se que os compostos classificados como aromáticos apresentam uma estabilidade característica e não realizam reações de adição, como os outros compostos insaturados. Por outro lado, eles se permitem fazer reações de substituição, em que um átomo de hidrogênio é trocado por outro grupo. A partir de então, discutiremos os mecanismos de reação que são contemplados para os compostos aromáticos. Espero que se encantem... 3.6.1 - Reações de substituição - Halogenação de compostos aromáticos A estabilização por ressonância dos anéis aromáticos torna-os compostos pouco reativos. A deslocalização das duplas ligações não permite que os aromáticos sejam bons nucleófilos (entidades químicas que buscam “núcleos”/ regiões com cargas positivas). Por esta razão, para realizar uma reação com benzeno, por exemplo, é necessário inserir um ácido de Lewis como catalisador, que neste caso, geralmente, é o Brometo de Ferro III; estes compostos permitem a inserção do Bromo em um orbital d do ferro, acomodando-o momentaneamente. Analise mecanismo da reação proposta abaixo: A etapa inicial do mecanismo se deve à formação de um bom eletrófilo (uma vez que os aromáticos não querem fazer reações. Então devemos força-los a participarem dessa reação). Etapa 1 - Formação de eletrófilo Na interpretação do mecanismo da etapa 1, verifica-se que o par de elétrons da molécula de Bromo insere-se em um orbital d do átomo de ferro (ácido de Lewis), torna-se negativo; por outro lado, o Bromo, por ter cedido um par de elétrons para fazer ligações, fica com um déficit de carga, e torna-se, portanto, positivo. 13 Etapa 2 - o ataque nucleofílico Com a formação de um bom eletrófilo (espécie química carregada positivamente e ávida por elétrons) um dos pares de elétrons pi do anel aromático é obrigado a reagir, pois é muito incomum e instável um átomo de bromo estar com carga positiva, pois ele é um halogênio que, geralmente, encontra-se negativo. Verifique que um par de elétrons do anel aromático abstrai o bromo que está ao lado daquele que está positivo, pois, com isso, um par de elétrons é cedido àquele bromo carregado positivamente. Estruturas canônicas de ressonância Note que a partir do momento que os par de elétrons da ligação pi abstrai um bromo a aromaticidade é perdida, e torna-se um composto não-aromático, pois existe a formação de um carbono em sp3, não permitindo ser aromático. Um carbocátion é formado e estabilizado por ressonância dentro do ciclo. Observe acima as estruturas canônicas de ressonância que fazem com que a carga positiva seja distribuída entre todos os carbonos sp2 da molécula. Essa deslocalização da carga positiva deixa a molécula mais estável. Sequencialmente, um dos átomos de bromo que está acomodado momentaneamente em um orbital d do átomo de ferro, abstrai o próton que está no carbono sp3 do carbocátion; a saída deste próton é determinante para que a aromaticidade seja reestabelecida no momento que o par de elétrons da ligação entre carbono e hidrogênio (que sai em forma de próton) é direcionado para orbitais p da molécula. É importante observar que o Brometo de Ferro III novamente é formado. Essa é a característica de um catalisador, acelerar a reação, mas sair intacto no final do processo. Além disso, é importante mostrar que a substituição de um átomo de hidrogênio por Bromo, gera ácido bromídrico como produto, observe os mecanismos da etapa 3 a seguir: 14 OBS: A aromaticidade é obrigatoriamente reestabelecida, pois não tem sentido uma molécula que já está estável reagir e tornar-se menos estável. Tudo na natureza busca a estabilidade! 3.6.2 - Reações de substituição - Nitração em compostos aromáticos Outra reação bastante explorada em compostos aromáticos é realizar a troca de um átomo de hidrogênio por um grupamento nitro. Observe que nesse caso não estamos usando um ácido de Lewis, mas sim, dois diferentes tipos de ácidos. O ácido nítrico, que fornecerá o grupamento nitro, e o ácido sulfúrico, que atuará como catalisador da reação. A proposta do próximo mecanismo é para que haja uma representação satisfatória da reação abaixo. Como esse mecanismo deve se iniciar? Novamente parte-se da formação do eletrófilo, é necessário um excelente eletrófilo para que o anel aromático possa ser obrigado a reagir. Observe a proposta mecanística na etapa 1. Excelente eletrófilo Etapa 1 - Formação de eletrófilos 15 Como interpretar o mecanismo da etapa 1? Observe que o par de elétrons do oxigênio abstrai um hidrogênio ácido sulfúrico. Trata-se de uma reação ácido-base. Mas afinal de contas, não são dois ácidos? A resposta é sim! Porém, o ácido sulfúrico é um ácido mais forte,ioniza-se com mais facilidade, e nesse duelo, o ácido nítrico é obrigado a abstrair esse hidrogênio ácido proveniente do ácido sulfúrico. Contudo, é formado uma base conjugada relativamente fraca, derivada do ácido sulfúrico. Pela gangorra da conjugação da teoria de Brønsted-Lowry, um ácido forte gera uma base conjugada fraca. Por outro lado, a captura de um próton pela molécula de ácido nítrico, torna-o um excelente eletrófilo. Eletrófilos bons obrigam o anel aromático a reagir. E essa reação é mostrada na etapa 2, que está contemplada abaixo: Etapa 2 - o ataque nucleofílico Estruturas canônicas de ressonância A segunda etapa consiste no ataque nucleofílico do anel aromático. Note que um dos pares de elétrons do tipo pi ataca a espécie eletrofílica. Há saída de uma molécula de água do ácido nítrico, ou seja, ele é desidratado. Essa desidratação gera um excelente eletrófilo, chamado de íon nitrônio. A inserção de um grupo nitro na molécula faz com que haja formação de um átomo de carbono hibridizado em sp3, o que rompe com uma das regras de aromaticidade, dessa forma, na etapa 2, o composto torna-se não-aromático momentaneamente. Além disso, a falta de uma ligação de um dos átomos de carbono transforma a molécula em um carbocátion, que é estabilizado pela ressonância. Essa deslocalização da carga positiva prepara esse carbocátion a reagir na etapa 3 do processo de nitração de um composto aromático. Com o intuito de reestabelecer a aromaticidade perdida, a base conjugada formada na etapa 1 (proveniente do ácido sulfúrico, lembra-se dela?) abstrai o próton que está ligado no carbono sp3 e seu par de elétron é inserido de volta em orbitais p, formando novamente uma ligação pi. 16 aromaticidade reestabelecida A etapa 3 de nitração de compostos aromáticos é contemplada abaixo. Note que o ácido sulfúrico, por se tratar de um catalisador, é reestabelecido no final da reação, e a aromaticidade do composto é recuperada novamente. 3.6.3 - Reações de substituição - Sulfonação em compostos aromáticos Os mecanismos de substituição eletrofílica aromática seguem um padrão. Como discutimos arduamente a respeito da estabilidade dos compostos aromáticos, deixamos claro de que não podem atuar como bons nucleófilos, a não ser que sejam forçados a isso. É por esse motivo que deve-se preparar um excelente eletrófilo (aquela espécie química que busca pares de elétrons), e assim, a reação possa se iniciar. Para sulfonar uma molécula utiliza-se ácido sulfúrico concentrado, o qual há uma troca de prótons intermoleculares. Verifique a representação química dessa reação de modo geral: A seguir, elucidaremos as propostas mecanísticas para sulfonação de um composto aromático. Dessa forma, a tarefa inicial é descrever a formação do eletrófilo, é ele que desempenha papel principal nessa reação. O eletrófilo é formado quando duas moléculas de ácido sulfúrico reagem entre si. Verifique. Etapa 1 - Formação de eletrófilo Etapa 3 - reestabelecimento da aromaticidade - a substituição 17 Observe que uma molécula desprotona a outra, e assim são formados os pares conjugados de uma reação ácido-base na visão de Brønsted-Lowry. Ao se analisar o ácido conjugado, nota-se que há uma parte da molécula que se assemelha à água, grupos carregados positivamente são excelentes abandonadores e por esse motivo, podem se desprender facilmente da molécula. Espécie eletrofílica Etapa 2 - o ataque nucleofílico Preparado um bom eletrófilo, o composto aromático é obrigado a reagir. Então, um dos pares de elétrons pi que estava em ressonância permite-se atuar como nucleófilo, observe: Note que a carga positiva alocada momentaneamente no átomo de oxigênio permite que o par de elétrons do composto aromático faça uma ligação com o átomo de enxofre, favorecendo o deslocamento de carga negativa para a espécie carregada positivamente. Nessa etapa, o composto perde a aromaticidade, transformando-se em um composto não-aromático em forma de carbocátion. Etapa 3 - o reestabelecimento da aromaticidade - a substituição 18 A base conjugada formada na etapa 1 do mecanismo de reação vem a desempenhar um papel importante. Nesta etapa final, esta base conjugada abstrai o próton do carbono hibridizado em sp3, e nesse processo, o par de elétrons que se ligava ao próton desloca-se para os orbitais p que entram novamente em ressonância, reestabelecendo a aromaticidade que havia sido perdida momentaneamente. 3.6.3 - Reações de substituição - Reações de Friedel-Crafts. 3.6.3.1 - Alquilação de Friedel-Crafts A possibilidade de inserir cadeias de carbono em anéis aromático só foi possível quando o químico francês Charles Friedel e o norte-americano James M. Crafts propuseram uma reação em que grupamentos alquila ou acila fossem inseridos, através de substituição, nos compostos aromáticos. Do mesmo modo que a halogenação para se inserir um grupamento alquila seria necessário um haleto de alquila e um ácido de Lewis. Os haletos de alquila utilizados na reação de Friedel-Crafts podem ser primários, secundários ou terciários. O grupamento R na reação significa que pode s e r q u a l q u e r c a d e i a carbônica. Do mesmo modo que qualquer reação de compostos aromáticos, a etapa principal é preparar um bom eletrófilo. Etapa 1 - Formação de eletrófilos No mecanismo apresentado abaixo, o cloreto de metila foi selecionado para ser utilizado como reagente. Como deve ser feita a escolha do haleto? Inicialmente, deve-se perguntar que tipo de cadeia carbônica deseja inserir no composto aromático, pois o haleto carrega a quantidade de carbono que será incorporado. Analise cuidadosamente a proposta mecanística de formação do eletrofílico explicitada abaixo: 19 Note que o par de elétrons do cloro (do cloreto de metila) é inserido em um orbital d do átomo de Ferro, do mesmo modo que uma proposta de halogenação descrita anteriormente. Com isso, há formação de uma espécie química muito instável, pois o cloro está fazendo duas ligações e assume, momentaneamente, uma carga positiva. Como esse tipo de espécie química é muito incomum, obriga a uma estrutura aromática a reagir, e assim, inicia-se o processo de substituição de uma molécula aromática. Contemple a etapa 2 do mecanismo que está descrita abaixo: Etapa 2 - o ataque nucleofílico O ataque ao grupamento metílico ocorre, pois assim, o par de elétrons que o ligava ao átomo de cloro (que está carregado positivamente) desloca-se para o cloro, completando novamente sua valência. Assim, como é corriqueiro nos compostos aromáticos, eles perdem momentaneamente a aromaticidade e transformam-se em carbocátions. Contudo, o par de elétrons que se inseriu no orbital d do ferro é removido e abstrai o próton do carbono hibridizado em sp3; no processo de abstração, mostrado na etapa 3, o par de elétrons é devolvido aos orbitais responsáveis pela ressonância, reestabelecendo a aromaticidade do composto, e deixando-o, mais uma vez, estabilizado. Verifique a etapa 3 da reação de alquilação de Friedel-Crafts: O mecanismo desenvolvido acima mostrou a inserção de um grupamento de carbono bem simples, um grupo metil. Porém, há possibilidade de utilizar haleto de alquila que apresentam carbonos secundários ou terciários. Esse tipo de cadeia carbônica permite a formação de carbocátions relativamente estáveis, ou até mesmo rearranjos estruturais, e por esse motivo, deve-se atentar à estrutura do haleto, pois, muitas vezes, o produto formado é será aquele que fornecerá o carbocátion mais estável, que atuará como eletrófilo. A seguir, serão apresentadas algumas estruturas e mecanismos que possam sanar dúvidas sobre tais grupamentos. Atente-se. Etapa 3 - o reestabelecimento da aromaticidade - a substituição 20 Quando utilizado um grupamento volumoso como o cloreto de terc-butila, nota-se que o par de elétrons do cloro é inserido no orbital d do ferro, porém, por possibilitara formação de um carbocátion terciário, que é bastante estável, a ligação entre carbono e cloro é rompida, transformando-se, portanto, em um excelente eletrófilo, obrigando o anel aromático a atuar como espécie nucleofílica e reagir por substituição. Eletrófilo + 3.6.3.2 - Preparação de eletrófilos utilizando alcoóis e alcenos A seguir serão demonstradas possibilidades de produção de grupamentos alquila para reagirem através de alquilações de Friedel-Crafts. A utilização de terc-butanol com ácido sulfúrico permite a formação de um carbocátion terciário como demonstrado a seguir, verifique a proposta do mecanismo que descreve essa reação A presença de uma insaturação em estruturas orgânicas, quando tratada com o ácido sulfúrico (um ácido extremamente forte), faz com que os eletróns pi atuem como base e abstraem um próton do ácido. Na estrutura apresentada abaixo, o ciclohepteno reage com ácido sulfúrico e há a formação de um carbocátion, que pode atuar como uma centro reacional em forma de eletrófilo. Analise o mecanismo: 21 3.6.3.1 - Acilação de Friedel-Crafts Além da possibilidade de inserir grupos alquilas, as reações de Friedel-Crafts também contemplam mecanismos que explicam a inserção de grupamentos carbonílicos em compostos aromáticos. Para se iniciar esse tipo de reação, é necessário que duas moléculas de ácido sulfúrico reagem de forma intermolecular. A reação geral é contemplada abaixo, verifique. Etapa 1 - Formação de eletrófilos A formação da espécie eletrofílica é a etapa fundamental de uma reação aromática. Para a formação do eletrófilo que propiciará uma reação de acilação utiliza-se um haleto de ácido, que neste caso seria o cloreto de acila. Quando os pares de elétrons do cloro atuarem como base e se ligarem ao ácido de Lewis, observa-se que o par de elétrons do oxigênio forma uma tripla ligação com o carbono, e com isso, há a ruptura da ligação do carbono com o cloro, e dessa forma, a formação do íon acílio. Íon acílio Etapa 2 - o ataque nucleofílico Com a formação de um excelente eletrófilo, que é o íon acílio, o anel aromático atua como nucleófilo, realizando um ataque nucleofílico ao carbono, e assim, quebrando, momentaneamente sua aromaticidade. 22 Etapa 3 - O reestabelecimento da aromaticidade - a substituição O mesmo mecanismo de reestabelecimento de aromaticidade é realizado nesta reação, pois o par de elétrons do cloro que está atrelado ao ácido de Lewis abstrai o próton do carbono que está hibridizado em sp3, com isso, o par de elétrons cedido pelo próton, acomoda-se nos orbitais p e reestabelecem, portanto, a aromaticidade do anel. 3.6.4 - Dirigência de grupos já presentes no anel Após a primeira reação em um anel benzênico deve-se tomar cuidado ao propor mecanismos quando já existem grupamentos presentes na estrutura aromática. Estes grupos, dependendo de suas características, podem induzir ou drenar elétrons do anel aromático, e com isso, ativar ou desativar posições de substituição no anel. A natureza de cada grupo está ligada à sua funcionalidade, e cada função orgânica desempenha um tipo de resposta às reações de aromáticos. A fim de exemplificar tais reações, consideraremos uma molécula de fenol que irá sofrer reação de cloração. Antes de iniciarmos o mecanismo reacional deve-se verificar qual a influência do grupo já presente no anel. Seria a hidroxila um grupamento que ativaria ou desativaria o anel? Verifique a influência dessa função nas estruturas abaixo. Grupos que ativam o anel Grupamentos como os representados acima atuam como ativantes do anel aromático. Mas o que isso quer dizer? Significa que tais grupamentos (ou funções orgânicas) influenciam o anel aromático a realizar uma substituição eletrofílica em determinadas posições, que neste caso, seriam nas posições orto ou para. Sempre que existir um grupamento já presente no anel, as posições 1-2 são posições chamadas de orto; as posições 1-3 são conhecidas como posição meta; e, por fim, as posições 1-4, são as posições para, observe-as na molécula abaixo. 23 Posições em um anel benzênico: POSIÇÃO ORTO POSIÇÃO ORTO POSIÇÃO METAPOSIÇÃO META POSIÇÃO PARA Em contrapartida, os grupos ou funções contemplados abaixo direcionam a substituição eletrofílica aromática para posição meta e são conhecidos como desativadores do anel, pois drenam os elétrons pi do anel aromático. Na lista abaixo, os grupos foram inseridos em ordem decrescente de força de desativação. A tarefa inicial quando existe algum grupo presente no anel aromático é notar qual a influência dele nessa estrutura. A seguir é apresentada a molécula de fenol e as estruturas canônicas de ressonância que o grupo hidroxila permite fazer. O átomo de oxigênio da molécula de fenol está hibridizado em sp2 e isso permite que os pares de elétrons da hidroxila induzam, através de ressonância, o anel aromático. Note que nas estruturas canônicas de ressonância, o par de elétrons pi (que atuam como nucleófilos) se direcionam apenas nas posições orto/para; ativando tais posições para reações de substituição eletrofílica aromática. Dessa forma, a possibilidade de inserir um grupamento na posição meta é muito pequena, logo, grupos ativadores formarão produtos com grupamentos inseridos nas posições orto/para. 3.6.5 - Mecanismos de reação com grupos já presentes no anel A proposta a seguir apresenta o mecanismo de substituição eletrofílica aromática de uma reação de halogenação de um fenol. Antes de iniciar a proposta mecanística, deve-se, sempre, se atentar a que tipo de grupo já está presente no anel. Observe a proposta mecanística de halogenação do composto fenólico. 24 Por outro lado, há também funções orgânicas que drenam a densidade de carga dos anéis aromáticos, alguns desses grupos são apresentados abaixo e são conhecidos, no mundo da química orgânica, como desativadores do anel. Conheça-os. A molécula de acetofenona apresenta um carbono carbonílico (que obrigatoriamente está hibridizado em sp2) e, com isso, por estarem no mesmo plano, o fluxo de elétrons pode transitar entre esses átomos de iguais hibridizações. Analise cuidadosamente as estruturas canônicas de ressonância existentes na molécula de acetofenona. Nas estruturas acima, observa-se que as posições orto e para adquirem uma carga positiva, ou seja, déficit de elétrons. Como o anel aromático atua como nucleófilo, este deve ter elétrons disponíveis para esse ataque eletrofílico, e não a ausência deles. Logo, tais posições ficam desativadas e impossibilitadas de reagirem ali; sobrando, apenas, a posição meta. Assim sendo, quando há presença de grupamentos que desativam o anel aromático, drenando sua densidade de carga, as posições metas são as únicas que podem ser substituídas, sendo denominados, portanto, de grupamentos metadirigentes. Note que a molécula de fenol apresenta 5 bromos atrelados, que estão destacados em cinza e em azul. Quando há presença de grupos que ativam ou desativam o anel deve-se analisar qual a influência que esse grupo gera na molécula, se os novos grupos entraram na posição orto, meta ou para. 25 Etapa 1 - Formação de eletrófilo Para formação do eletrófilo que reagirá com a molécula de fenol, é necessário novamente fazer uso do ácido de Lewis junto com o halogêneo. O átomo de ferro acomoda, momentaneamente, um par de elétrons em um orbital d, fazendo com que o bromo assuma carga positiva por ter feita duas ligações sigmas (caso incomum para um halogêneo). Etapa 2 - o ataque nucleofílico Na molécula de fenol, o grupamento hidroxílico atua como ativador do anel aromático através de ressonância, pois o átomo de oxigênio está hibridizado em sp2 estão no mesmo plano dos elétrons pi presentes no anel aromático. Grupos ativadores orientam a inserção de novos grupamentos apenas nas posições orto/para. Dessa forma, o ataque nucleofílico é facilitado pelo grupo hidroxílico e um átomo de bromo éinserido ou na posição orto, ou na posição para. + HBr Etapa 3 - reestabelecimento do aromaticidade Do mesmo modo que discutido anteriormente, o átomo de bromo que fora inserido no ácido de Lewis desprende-se e abstrai um próton, que doa sua ligação para reestabelecer a aromaticidade do anel. 26 A presença de grupos ativadores fortes na presença de catalisadores, como os ácidos de Lewis, fazem com que haja polissubstituição da molécula, uma vez que o grupo ativa ainda mais a nucleofilicidade do anel aromático, substituindo os hidrogênios das posições orto e para. 3.8 - LIMITAÇÕES DAS REAÇÕES DE FRIEDEL-CRAFTS As reações de Friedel-Crafts são importantes na química orgânica quando se deseja inserir em um anel aromático grupamentos alquila ou acilas. Porém, tais reações não são observadas na presença de grupos desativadores fortes, como nitro; tampouco, com ativadores fortes provenientes de nitrogênio. 3.6.6 - Um convite aos mecanismos de reação Crie uma proposta mecanística explicitando todos os mecanismos quando a molécula de anilina sobre bromação catalisada por um ácido de Lewis. RCl Ácido de Lewis Não ocorrem reações de Friedel-Crafts ná presença de: - NO2 Desativador Forte - NH2 - NHR - NR2 Ativadores Fortes A desativação do anel aromático pelo grupamento nitro é muito grande, o que limita o ataque nucleofílico por parte do anel aromático, e, por este motivo, as reações de Friedel-Crafts ficam impedidas de acontecerem. Por outro lado, devemos nos perguntar: se existe a presença de grupos que estão ativando o anel aromático, então as reações são mais favorecidas nas posições orto/para dirigentes? A resposta é não. Mas por qual motivo? Em reações de substituições eletrofílicas aromáticas, o anel aromático deve atuar como um nucleófilo e “atacar” um eletrófilo. Porém, a estabilidade adquirida por um composto aromático torna-o pouco reativo, e por esse motivo, assume o posto de péssimo nucleófilo. Logo, a reação deve ser forçada a acontecer quando insere-se um eletrófilo muito bom. Sem um excelente eletrófilo, a reação não acontecerá jamais. Porém, as funções amina na presença de aneis aromáticos têm a função de ativá-lo, e como o átomo de nitrogênio está hibridizado em sp2, o par de elétrons livres do nitrogênio entram em ressonância com os elétrons pi do anel, ativando-os. Porém, estes pares de elétrons, por estarem atrelados ao nitrogênio (que é um elemento não tão eletronegativo) também podem atuar como base, com isso, há uma reação entre o par 27 de elétrons livres da amina com o ácido de Lewis utilizado como catalisador da reação. Devemos lembrar que o ácido de Lewis serve para obrigar a formação de um excelente eletrófilo, e uma vez que ele reage com a própria molécula, fica comprometido na reação e não está disponível para reagir com halogêneos ou haletos de alquila/acila. Tal explicação é transformada em mecanismo como explicitado abaixo, analise-o. A carga positiva que o átomo de nitrogênio adquire após a reação faz com que haja uma desativação do anel. Logo, grupos desativadores deixam as reações mais difíceis de acontecerem em posições orto/para. Além disso, não há eletrófilo para dar continuidade à reação. 3.8.1 - Limitações das reações de Friedel-Crafts - as polialquilações Reações de Friedel-Crafts, muitas vezes, acabam formando produtos polialquilados quando a inserção de reagentes não é estequiométrica. Verifique a sequência reacional abaixo, você consegue desenvolver um mecanismo de reação para formação dos produtos especificados abaixo? Você está convidado a criá-lo! Mas qual a explicação para uma polialquilação de Friedel-Crafts? Observe que a primeira inserção de um grupamento R (alquílico) já deixa o anel aromático mais reativo, mais ativado, dessa forma, se houve mais haleto de alquilo e ácido de Lewis disponíveis, a reação continua, substituindo as posições orto e para. Qual substituição é mais favorecida? A substituição orto ou posição para? As posições para são as mais favorecidas, uma vez que há menos impedimento estérico de um grupamento com o outro. Isso é mais evidenciado quando o grupamento é volumoso, e estes devem se acomodar o mais afastados possíveis. Dessa forma, há uma porcentagem maior dos produtos alocados na posição para do que os localizados na posição orto, permitindo mais estabilidade à molécula. 28 Utilizando o mesmo raciocínio contemplado anteriormente, você esperaria que houvesse poliacilações? O grupo acila ativaria ou desativaria o anel aromático? Proponha seus mecanismos de reação para justificar sua resposta. Há poliacilação? 3.9 - Concorrência de grupos em aneis benzênicos - prioridade da dirigência Há casos em que grupos com diferentes características dirigentes estão presentes no anel aromático. Suponha que você queira preparar a molécula de para-metilnitrobenzeno partindo do benzeno. Quais reações você faria para chegar no produto desejado? Realizaria uma nitração inicialmente? Ou iniciaria com uma reação de Friedel-Crafts para alquilar a molécula de benzeno no primeiro momento? Convido-os a realizarem os mecanismos partindo do benzeno para produção da molécula abaixo (para-metilnitrobenzeno). Após você “sintetizar” e explicar mecanisticamente a produção da referida molécula, suponha que deseja, fazer uma reação de halogenação e substituir um próton por um bromo na molécula. Como proceder? ATIVADOR ORTO/PARA DESATIVADOR META A substituição de um hidrogênio por um bromo se dará nas posições em que as esferas cinza e verde coincidem, ou seja, o grupo metílico atua na orientação orto (pois a posição para já está substituída); por outro lado, o grupo nitro, orienta na posição meta a qual coincide exatamente com a posição orto do grupo metílico. Agregando todo o conhecimento até aqui, treinem na proposição de mecanismos orgânicos, e desenvolvam todas as etapas que expliquem a reação abaixo. Lembre-se que ambas as posições orto podem ser substituídas. Basta ter em mente que é necessário dois equimolares do bromo e do catalisador. 29 3.10 - REDUÇÃO DE GRUPAMENTOS EM COMPOSTOS ORGÂNICOS Reações de redução/oxidação, responsáveis pela alteração na mudança do número de oxidação dos átomos também é uma forma de fazer uma alteração nas propriedades de dirigência que um determinado grupo já presente no anel pode sofrer. Se uma reação de acilação de Friedel-Crafts fosse aplicada a uma molécula de benzeno, o grupamento acila atuaria como uma desativador do anel aromático. Existem formas de fazer uma alteração nesse grupamento partindo-se de uma reação com amalgama de Zn(Hg) catalisada com ácido clorídrico, tal reação reduz a carbonila, e por fim, transforma-se em um grupamento puramente alquílico. Tal reação é conhecida como redução de Clemmensen. Hidrazina catalisada com hidróxido de sódio também permite reduzir grupamentos carbonílicos, são as famosas reações de Wolf-Kishner. Com isso, existem possibilidades de alquilar uma molécula, pode ser feita de forma direta pelas reações de Friedel-Crafts, as quais empregam um haleto de alquila; ou efetuar acilações e fazer uso de agentes redutores como os descritos acima. Outra reação de redução bastante explorada é utilizando-se hidrogênio adsorvido em superfície de paládio-carbono. Nesse tipo de reação, o grupamento nitro sofre redução e transforma-se em amina. Novamente há uma alteração nas características direcionais desse grupo; antes, em forma de nitro, atuava como uma forte desativador do anel, drenando densidade de carga; ao reduzir-se, atua como um ativador do anel, doando elétrons através de ressonância. AtivadorDesativador Forte grupo desativador do anel, orienta na posição meta Forte grupo ativador do anel, orienta na posição orto/para 30 Curiosity acha indícios circunstanciais de hipotética, mas improvável vida em Marte. Ou não. O anúncio feito pelo JPL, embora bombástico éum belo exemplo de ciência feita direito. É baseado em resultados colhidos pelos sensores da Curiosity em Marte, no final de 2013 e começo de 2014. Durante um ano os dados foram estudados, hipóteses formuladas para explicar os resultados, técnicas e interpretações foram desafiadas, alternativas propostas e então, só então depois de resistir a um ano de escrutínio, a descoberta foi divulgada: Acharam moléculas orgânicas e variações enormes de metano em Marte. E? Perfurando uma pedra batizada de Cumberbatch Cumberland, encontraram quantidades significativas de clorobenzeno, C₆H₅Cl pros íntimos. Na reportagem acima citada, a molécula orgânica de clorobenzeno é citada no texto. Como você faria para produzir, através de mecanismos orgânicos tal molécula partindo do benzeno? Desenhe todas as etapas do mecanismo. 1 3.11 - UM CONVITE AOS MECANISMOS DE REAÇÃO Partindo do produto formado no exercício 1, ou seja, o clorobenzeno, qual seria a etapa necessária para transformar tal produto em: ortocloronitrobenzeno e paracloronitrobenzeno? Qual é o produto formado em maior quantidade? Crie os mecanismos dessa reação. 2 A molécula representada abaixo precisa ser “montada” partindo-se do benzeno. Crie mecanismos de reação que contemplem a formação da referida molécula. Observe que o átomo em azul é nitrogênio; e o vermelho, oxigênio. 3 “O que fez o avental da mulher de Schönbein explodir não foi a primeira molécula explosiva feita pelo homem, nem seria a última. Quando são muito rápidas, as reações químicas podem ter uma energia assombrosa. A celulose é apenas uma das muitas moléculas que alteramos para tirar proveito da sua capacidade para reação explosiva. 4 Alguns desses compostos foram enormemente benéficos; outros causaram ampla destruição. Precisamente por causa de suas propriedades explosivas, essas moléculas tiveram um efeito marcante sobre o mundo. Embora as estruturas das moléculas explosivas variem enormemente, a maior parte delas contém um grupo nitro. Essa pequena combinação de átomos, um nitrogênio e dois oxigênios, NO2, ligada na posição certa, ampliou vastamente nossa capacidade de fazer guerra, mudou o destino de nações e nos permitiu, literalmente, remover montanhas”. OS BOTÕES DE NAPOLEÃO - AS 17 MOLÉCULAS QUE MUDARAM A HISTÓRIA DO MUNDO”, escrito por Penny Le Couteur e Jay Burreson 31 A molécula de TNT - trinitrotolueno, é hoje a matéria-prima dos dinamites. Proponha os mecanismos que contemplem a formação de tal explosivo partindo da molécula de benzeno. Mostre todas as etapas da reação. TNT Utilizando o mesmo raciocínio, proponha a formação do ácido pícrico, muito parecido com o TNT.5 Em um laboratório você tem disponível ácido sulfúrico concentrado e precisa fazer uma reação partindo-se do benzeno. Mostre a reaçao de sulfonação apresentando todas as etapas partindo da molécula de fenol. 6 32 A molécula de para-cimeno é utilizada como solventes na área de tintas e vernizes. Suponha que você tenha benzeno como matéria-prima inicial, faça os desenhos mecanísticos que contemplem a formação da referida molécula. 7 De acordo com seus conhecimentos, mostre a beleza mecanística para se chegar a molécula abaixo. Lembre-se que é possível realizar reduções de determinados grupamentos. Mostre cada uma das etapas mecanísticas. 8
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