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1 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 2 2 A GESTALT-TERAPIA NA CONTEMPORANEIDADE ........................................ 3 3 A PSICOLOGIA DA GESTALT ............................................................................ 4 4 A GESTALT NO BRASIL ................................................................................... 14 5 A ABORDAGEM TERAPÊUTICA ...................................................................... 15 6 COMO SE CONSTRÓI A GESTALT NA TERAPIA? ......................................... 17 7 FIGURA E FUNDO ............................................................................................ 18 8 O INSIGHT ........................................................................................................ 19 9 APLICANDO A GESTALT-TERAPIA................................................................. 20 10 GESTALT-TERAPIA E O SELF COMO CONCEITO OPERACIONAL FENOMENOLÓGICO ........................................................................................................ 26 10.1 A dinâmica do self e a clínica gestáltica .................................................. 31 11 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 40 2 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 3 2 A GESTALT-TERAPIA NA CONTEMPORANEIDADE1 Fonte:www.institutovidaplena.com.br O termo Gestalt surgiu muito antes de sua criação para a Psicologia. Segundo Carrijo et al.(2012) a palavra tem origem alemã e surgiu em 1523 de uma tradução da Bíblia, significando "o que é colocado diante dos olhos, exposto aos olhares". Porém, foi através de uma situação que ocorreu com Psicólogo Max Wertheimer (1910), ao observar a disposição das luzes que apagavam e acendiam alternativamente em um vagão de trem que estava, ele e as pessoas do vagão tinham impressão que existia apenas uma luz que acendia e apagava. A partir desta observação de ilusão de movimentos, Wertheimer, decidiu fazer experimentos. De acordo com Engelmann (2002 ,p.1) ao estudar a história da Gestalt: ''Se a luz se acendesse e se apagasse numa figura e posteriormente se acendesse e apagasse na outra, com intervalo entre eles de mais ou menos 60 milissegundos, enxergava-se apenas a figura indo de um lugar para outro.'' Marx ao publicar um artigo em 1912, discutiu as teorias que poderiam ser utilizadas para explicar o movimento fi. De acordo com Engelmann (2002), Wertheimer chegou à conclusão que não seria apenas uma ilusão de ótica e sim tratava-se de um processo contínuo visto como uma Gestalt. Para o estudioso a percepção dos objetos individuais eram Gestalten e a percepção do relacionamento entre os inúmeros objetos individuais percebidos era uma Gestalt, ou seja, uma forma. Segundo (HOUAISS; VILLAR; FRANCO, 2001, p. 1449), '' A Gestalt considera os fenômenos psicológicos como totalidades 1 Texto extraído do link: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0411.pdf 4 organizadas, indivisíveis, articuladas, isto é, como configurações.'' A princípio, as Gestalten podem ser compostas em partes. Essas partes são pedaços que compõem a Gestalt (a forma) completa. Ao fazer uma analogia, é possível associar a Gesltalt como um copo de vidro e a Gestalten como cacos que se despedaçaram pelo chão. Nos teóricos que iremos ver abaixo vai dizer que ''o todo é mais do que a soma de suas partes.'' Entretanto, em uma forma geral a Psicologia da Gestalt fala da soma destes elementos despedaçados. Para se perceber o copo de vidro, e compreendê-lo é preciso conhecer os cacos, ou seja, as suas partes. A chamada Gestalt-Terapia surgiu no início da década de 50, a partir das reflexões de Friederich Perls, um psicanalista nascido em Berlim em 1893, que emigrou durante a década de 40 para a África do Sul e posteriormente para os Estados Unidos da América, onde juntamente com um grupo de intelectuais norte-americanos desenvolveu esta nova abordagem. Hoje, adotada no mundo inteiro, significa um processo de dar forma ou configuração. Gestalt significa uma integração de partes em oposição à soma das mesmas num todo. Este campo vem quebrando grandes paradigmas no contexto acadêmico tanto pela suavidade quanto pela intensidade de suas intervenções. A partir do progresso nos estudos sobre a área, a Gestalt foi utilizada em um enfoque psicoterapêutico tornando-se Gestalt-terapia, com objetivo de entrar em contato com os fenômenos, com as pessoas, de forma ativa e dinâmica mostrando-se eficaz no processo de ressignificação da vida. Para desenvolver este estudo, o artigo apresenta a história da Gestalt como ponto de partida para melhor compreensão e apresenta a subjetividade, a construção desta teoria em sua aplicação prática além de algumas técnicas utilizadas pelos terapeutas. 3 A PSICOLOGIA DA GESTALT A Psicologia da Gestalt originou-se na Alemanha, entre 1910 e 1912. É uma das tendências teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia. Seus articuladores se preocuparam em construir não só uma teoria consistente, mas também uma base metodológica forte, que garantisse a consistência teórica. No fim do século XIX vários 5 estudiosos buscavam compreender o fenômeno psicológico e suas características naturais principalmente no sentido da mensuração destas particularidades. Fonte: www.bolt.com.br A psicofísica era um assunto bastante explorado na época. Ernst Mach (1838-1916), físico, e Chrinstiam von Ehrenfels(1859-1932), psicólogo e filósofo, ampliavam uma psicofísica com estudos sobre as sensações de espaço-forma (formato psicológico) e tempo-forma (formato físico) e podem ser considerados como os mais diretos precursores da Psicologia da Gestalt. Porém esta maneira de ver o mundo não é somente empírica, mas também prática. Em um artigo de crítica a Benussi, Koffka (1915/1938) alarga o que se pode entender por Gestalt. Koffka propõe que em Gestalt não é apenas a experiência, mas também nas ações dos indivíduos. Cantar, escrever, desenhar, andar são Gestalts tanto quanto a consciência de ouvir ou de olhar. “O ato motor é um processo-de-todo organizado; os muitos movimentos individuais podem ser compreendidos somente como partes do processo que os abraça .” (ASH, 1995; KOFFKA, 1915/1938.) Os correlatos fisiológicos da percepção e da ação, não são excitações individuais mas eventos unificados. São, como Wertheimer o ressaltou, Gestalten. 6 A Psicologia da Gestalt originou-se como uma teoria da percepção que incluía as relações entre a forma do objeto e os processos do indivíduo que o recebe. Foi uma reação às abordagens atomistas que reduziam a percepção aos processos mentais ou conteúdos mentais. A Psicologia da Gestalt questionou a explicaçãoda percepção como uma soma de sensações. Duvidou também da concepção dos processos fisiológicos correspondentes como uma soma de atividades separadas. Para os gestaltistas, nem o processo ideológico, nem a percepção ou a excitação nervosa poderiam ser concebidas como uma simples soma das partes. O processo cerebral, assim como a percepção, deveria ser um todo unificado, não sendo mais uma integração de atividades isoladas de unidades distintas, assim como a percepção é tampouco uma composição de sensações separadas. Na opinião dos gestaltistas, a escola antiga foi incapaz de resolver o problema evidenciado entre “o caráter da percepção real e o do estímulo sensorial local”. A Psicologia da Gestalt tenta remontar à percepção ingênua, à experiência imediata “não contaminada pelas aprendizagens”. Ela insiste em encontrar aí não uma montagem de elementos, mas conjuntos unificados; árvores, nuvens e céu ao invés de um grande número de sensações massificadas. Ela convida quem quiser verificar esta afirmação a abrir seus olhos e ver o mundo que o cerca. O movimento gestáltico surgiu no período compreendido entre 1930 e 1940 e teve como expoentes máximos: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e Kurt Koffka (1886-1941). Posteriormente Kurt Goldstein (1878-1965) dedicou-se ao estudo das manifestações comportamentais com lesões cerebrais com base nas noções da Psicologia da Gestalt, com quem Frederick Perls (1893-1970), criador da Gestalt-terapia, estudou. Os gestaltistas contribuíram para o estudo da percepção e também para avanços na comunicação humana, na aprendizagem, envolvendo a psicologia social. Em primeiro lugar, a psicologia da forma tratou de investigar a experiência subjetiva, como a percepção. Esta era desprezada pelos behavioristas, tida por eles como imprópria para a investigação científica, pois suas teorias só podiam expressar-se em termos qualitativos, sem ajustar-se a padrões de precisão corretamente admitidos. 7 O enfoque teórico dos gestaltistas parecia negar um dos princípios básicos do método científico, o de que “os todos” podem ser entendidos mediante sua redução a um conjunto de partes. Os gestaltistas afirmam que o objeto primeiro se apresenta na sua totalidade (na sua forma, configuração) e só depois o indivíduo atentará para os detalhes. No estudo da percepção, em primeiro momento vemos o todo e depois selecionamos partes. O conjunto é mais do que a soma das partes: se uma nota de música que conhecemos é alterada, altera-se o todo. Para Wertheimer, o todo é maior do que a soma de suas partes e, para Köhler, o todo é um campo que determina suas partes. Para os psicólogos gestaltistas, toda a percepção é uma gestalt, um todo que não pode ser compreendido pelas partes. O todo é mais que a soma das partes, uma paisagem não é apenas relva, mas céu, árvores, nuvens e outros detalhes, ela é uma percepção única que depende das relações existentes, definidas umas com as outras. Se mudarmos as relações, a qualidade do todo mudará completamente. Não são as partes separadas de uma melodia que caracterizam a percepção de uma melodia. A percepção que temos de um objeto qualquer é um todo, tem caráter global - é uma gestalt. A relação estabelecida entre as partes do todo pode ter vários tipos, entre eles a relação figura e fundo. O pensamento gestaltista enfatizou características de figura e fundo, fluidez dos processos perceptuais e o indivíduo como participante ativo em suas percepções, ao invés de um recipiente passivo das qualidades da forma. Nesta teoria, inclui-se o receptor de acordo com os objetivos propostos nesta tese. Köhler e Koffka notaram que aparece frequentemente a relação de figura e fundo. Quando percebemos um objeto qualquer, esse se destaca e se identifica claramente. É o que chamamos de figura que emerge contra um fundo mais vago e difuso. Em uma sinfonia, a melodia é a figura e o acompanhamento é o fundo. Também a percepção que temos de um objeto depende desta relação: conforme fixamos a nossa atenção em algum aspecto do objeto, esta percepção muda constantemente. O mundo fenomenológico é organizado pelas necessidades do indivíduo. As necessidades energizam o comportamento e organizam-no nos níveis subjetivo-perceptivo e objetivo-motor. Então o indivíduo executa as atividades indispensáveis à satisfação das necessidades. 8 Goldstein (1961) ampliou as bases da gestalt ao criar a teoria organísmica. Seu objeto não era mais funções psicológicas (percepção, aprendizagem), mas o organismo como um todo nas suas funções e ações. Ele refere a noção figura-fundo ao processo motivacional e comportamental pelo qual o organismo seleciona aquilo de que necessita para sua sobrevivência. A teoria organísmica acredita que se pode aprender mais em um estudo compreensivo da pessoa do que em uma investigação exclusiva de uma função psicológica isolada e segmentada de muitos indivíduos. Interessa assegurar a existência do ser vivo, ajudando-o a viver o melhor possível de acordo com sua natureza. A teoria organísmica é uma extensão dos princípios gestaltistas do organismo humano. Qualquer elemento deve ser visto como parte integrante do organismo total: o todo é regido por leis que não se encontram nas partes. O todo é o seu próprio princípio regulador, portanto não existe uma lei que, regulando as partes, formaria ou explicaria o todo. Para Goldstein (1961), o organismo se organiza em função de dois princípios básicos: o de satisfazer suas necessidades por falta e o de crescer de uma maneira organizada. O homem possui um impulso dominante de auto regulação, pelo qual é permanentemente motivado por forças internas e externas. Ele desenvolveu esta teoria a partir de suas experiências na primeira guerra mundial, onde serviu como neuro-psiquiatra, quando ficou impressionado com a capacidade de recuperação do organismo humano de restabelecer funções perdidas ou prejudicadas. Goldstein explicou que este impulso para a saúde só pode ser explicado em função da luta constante do homem para realizar seus potenciais, impulso este que chamou de auto realização. Segundo Perls (1981), a natureza não é perdulária. Ela não criaria emoções apenas para serem descarregadas. A natureza cria emoções como um meio de relacionamento, pois somos feitos para enfrentar o mundo em diferentes intensidades. Somos uma soma viva de processos e funções. Essas funções estão sempre relacionadas com algo no mundo. Não podemos olhar sem ter algo para olhar, não podemos respirar sem ar, não podemos viver sem ser parte da sociedade, portanto nenhum organismo é capaz de funcionar isoladamente. É impressionante a lista de fenômenos perceptuais que estes psicólogos construíram para elucidar o estudo da percepção. Descrevem-se abaixo alguns exemplos deste estudo, como agrupamento e organização-fundo. Serão descritas a seguir as leis da gestalt: Unidade: um único elemento se encerra em si mesmo, ou como parte de um todo. 9 Segregação: capacidade perceptiva de separar, identificar ou destacar unidades formais ou em partes de um todo. Unificação: igualdade ou semelhança dos estímulos produzidos pelo campo visual do objeto. Harmonia, equilíbrio, coerência da linguagem ou estilo formal das partes ou do todo, presentes no objeto ou composição. Fechamento: as forças de organização das formas dirigem-se espontaneamente para uma ordem especial, que tende para a formação de unidades em todos fechados. Continuidade: a impressão visual de como as partes formam um todo coerente, sem interrupções na sua trajetória ou na sua fluidez visual. Proximidade: os estímulos mais próximos entre si (seja pela forma, cor, tamanho, textura, brilho, peso, direção) tendem a serem agrupados e a constituírem unidades. Semelhança: a igualdade de forma e cor desperta a tendência de construir unidades,isto é, de estabelecer agrupamentos de partes semelhantes. Pregnância da forma: quanto melhor for a organização visual da forma do objeto, em termos de facilidade de compreensão e rapidez de leitura, maior será o seu grau de pregnância. A forma (gestalt) pode ser definida como a figura ou a imagem visível do conteúdo. Ela nos reporta para a natureza da aparência externa do objeto. Tudo o que se vê possui forma. Os gestaltistas venceram os behavioristas em sua controvérsia a respeito da natureza da aprendizagem, do pensamento e da psicologia social, ocupando um lugar seguro na história da psicologia. Quando os gestaltistas estabeleceram os conceitos de meio geográfico – o meio tal como a ciência o descreve – e meio comportamental – o meio tal como o indivíduo o percebe; quando disseram que as estruturas (gestalten) neurológicas são iguais às psicológicas ou ainda “o que está dentro está fora” – princípio isomórfico – ; quando através do princípio da contemporaneidade, Kurt Lewin (1965) disse que o presente modifica o passado e obteve-se uma visão global e unitária dos processos psicológicos humanos sem apriorismos casualistas, deterministas e reducionistas: atingiu assim a essência humana, sem atribuições valorativas. Não se pode esquecer a importante contribuição de Kurt Lewin (1890-1947) para a Psicologia da Gestalt. Ele elaborou a teoria da personalidade com base na compreensão gestáltica da totalidade significativa, em que o comportamento do indivíduo é resultante da 10 configuração de elementos internos num “espaço vital”, que é a totalidade de experiência vivencial do indivíduo num dado momento, ou seja, de todo o conjunto de experiências vividas num dado momento, de acordo com a percepção/interpretação do indivíduo. Ele trabalhou também com a teoria de campo da psicologia social. Por esta razão, será feito um breve relato desta teoria que contribuiu de forma significativa para a Gestalt-terapia. Sua principal contribuição foi a introdução na psicologia de um conceito da física: “a Teoria de Campo”. Esta teoria sustenta que o comportamento (do indivíduo ou de qualquer objeto) é produto da interação de forças que operam num determinado campo em dado momento. Quaisquer que possam ser suas atitudes, papéis e decisões, eles serão sensíveis ao campo de força que os cercam. Kurt Lewin nasceu na Alemanha. Doutorou-se em psicologia em 1914 e especializou-se também nas áreas de matemática e física. Foi ele quem extrapolou os princípios da teoria da gestalt para uma teoria geral do campo psíquico, estudando a interdependência entre a pessoa e o seu meio social. Ao longo de seus trinta anos de atividade profissional, Lewin dedicou-se sistematicamente à área da motivação humana. As suas pesquisas enfatizaram o estudo do comportamento humano em seu contato físico e social. O comportamento é uma função do campo do qual ele é parte. Ele não depende nem do passado nem do futuro, mas do campo presente. Este campo presente tem uma determinada dimensão no tempo, inclui o passado psicológico, o presente psicológico e o futuro psicológico, que constituem uma das dimensões do espaço de vida, existindo num determinado momento. (Lewin, 1965. p.32) As pessoas e os eventos existem apenas como partes de um campo, cujo significado é alcançado somente pelas relações entre si. Só os fatores presentes ao campo têm influência no campo. Na abordagem de campo da Gestalt-terapia tudo é visto como vir-a- ser, movendo-se - nada é estático. Para Lewin (1965, p.60), “O campo psicológico que existe num dado momento contém também uma referência à como aquele indivíduo vê seu futuro e passado. A abordagem de campo gestáltica é fenomenológica. Ela estuda o campo conforme é experienciado por uma pessoa num dado momento. Todo fenômeno é considerado legítimo e adequado para investigação; descrever, presumir ou explicar são usados para obter insight, da estrutura básica do campo. O campo é a pessoa no seu espaço de vida. Mas o espaço de vida não deve ser confundido com o meio geográfico, do estímulo físico. 11 Os processos de percepção dependem parcialmente do estado inteiro do campo psicológico, isto é, sua motivação, sua estrutura cognitiva, sua maneira de perceber. Assim, a percepção é controlada por variáveis externas e organísmicas. Os recursos do campo emprestam suas forças ao interesse, brilho e potência da figura dominante. Não tem sentido tentar compreender qualquer comportamento psicológico fora de seu contexto sociocultural, biológico e físico. A propriedade essencial de um campo é seu aspecto dinâmico. Num campo dinâmico, existe interação entre todas as partes. O estado de qualquer parte desse campo depende de todas as outras, pois num campo de energia todas as partes se inter- relacionam. Quando olho um objeto ou uma pessoa, me relaciono diretamente com ela. Os resultados dessa relação pessoal com o objeto ou pessoa não serão apenas as características dele, mas as relações que esse objeto ou essa pessoa, estabelecem com o meio ambiente. Ou seja, a realidade é sempre relacional e é assim que precisa ser compreendida. Uma contribuição da Gestalt-terapia é sua aplicação de insights da Psicologia da Gestalt para a awareness de processos corporais. Por holismo (concepção de campo), Perls referia-se ao ser total, maior do que a soma das partes, a unidade do organismo humano e a unidade do campo- organismo-ambiente total-inteiro. Ele considera a Gestalt-terapia como uma correção do erro da psicanálise de tratar os eventos psicológicos como fator isolado, separados do organismo e por basear sua teoria em associações e não holismo. Isso também diferencia a Gestalt-terapia da maioria das terapias comportamentais. (Yontef, 1998; p.104) O comportamento tem lugar num meio comportamental que o regula. O meio comportamental depende de dois grupos de condições, um inerente ao meio geográfico, outro ao organismo. O campo e o comportamento de um corpo são correlativos. Como o campo determina o comportamento dos corpos, esse comportamento pode ser usado como indicador das propriedades do campo. O comportamento do corpo significa não só o seu movimento em relação ao campo, mas refere-se igualmente às mudanças que o corpo sofrerá. De acordo com Koffka (1935, p.54), “quando descrevemos adequadamente nosso meio comportamental, temos de indicar não só os objetos que estão nele, mas também as propriedades dinâmicas desses objetos.” O campo psicológico contém uma referência de como aquele indivíduo vê seu futuro e seu passado. O indivíduo não vê somente sua situação presente, pois tem expectativas, desejos, medos, devaneios em relação ao seu futuro. Sua maneira de ver seu próprio passado e o 12 resto do mundo físico e social é individualizada e constitui o seu espaço de vida. Um dos aspectos mais alardeados e menos compreendidos da Gestalt-terapia é sua ênfase no “agora”. A Teoria de Campo Fenomenológica localiza a experiência do percebedor no tempo e no espaço “aqui-e-agora”. Isso significa que o processo de ter consciência (aware) sempre acontece no “aqui-e-agora”, embora o objeto da awareness possa estar no “ali” ou no “então”. “De acordo com a teoria de campo, qualquer tipo de comportamento depende do campo total, incluindo a perspectiva de tempo naquele momento, mas não, também, de qualquer campo passado ou futuro e suas perspectivas de tempo.” (Lewin, 1965. p. 61) A Teoria de Campo dá ênfase ao fato de que qualquer acontecimento é resultante de uma reunião de fatores. O reconhecimento da necessidade de uma representação dessa multiplicidade de fatores interdependentes é um passo em direção à Teoria de Campo. A Teoria de Campo se caracteriza melhor como o método de analisar relações casuais e de criar construções científicas. Há muitos conceitos dinâmicos na Gestalt-terapia que podem ser adequadamente entendidos em termos deTeoria de Campo. Alguns deles são: campo organismo/ambiente; fronteira; construção fenomenológica de uma percepção; figura e fundo; e o próprio conceito de self. Para Yontef (1998), a Teoria de Campo capacita a Gestalt-terapia a manter o foco na pessoa como agente ativo, tendo em mente as complexidades das relações do campo. O espaço vital, (entendido como um todo dinâmico, concreto e delimitado) se caracteriza por construir uma rede de relações entre partes. A análise destas relações possibilita uma descrição explicativa dos eventos que ocorrem no espaço vital em questão, uma explicação sistêmica que se preocupa em descrever como um evento afeta e modifica o todo. A Teoria de Campo é o tipo de pensamento científico que melhor funciona com o resto do sistema teórico da Gestalt-terapia. A Fenomenologia, o Existencialismo, a Dialógica e a atitude flexível com relação às opções clínicas da Gesta1t-terapia são compatíveis com a Teoria de Campo. Além disso, a Teoria de Campo é a abordagem teórica que melhor pode incluir as temáticas intelectuais, sociais, culturais, políticas e sociológicas tratadas pela teoria da Gestalt-terapia. Para Lewin (1965), a Teoria de Campo não é um sistema de Psicologia aplicável a um contexto específico, mas é um conjunto de conceitos por meio do qual a realidade psicológica pode 13 ser representada e, uma vez representada, lida e trabalhada. Trata-se de um modelo psicológico de ver e analisar a realidade. O conjunto de informações e postulados que forma a Teoria de Campo aponta para um novo paradigma para entender o ser humano de maneira integradora. Na concepção lewiniana, a pessoa não é vítima de si mesma, não é determinada a priori pelos seus instintos (psicanálise) ou por condicionamentos inevitáveis (behaviorismo), mas é responsável pelo seu destino, pela sua liberdade e passa a correr o risco de existir por conta própria (fenomenologia existencial). O comportamento é algo acessível, observável, percebido tal qual é, explicável sem metáforas, a partir do sujeito e da realidade na qual ocorre. Como a teoria e a prática da Gestalt-terapia estão construídas sobre a importância de adquirir consciência do processo de awareness, a maneira como se pensa passa a desempenhar um papel importante. Ela é trazida em terapia, e tratada em teorizações e ensinamentos. Perls, Hefferline e Goodman (1997) comentam a necessidade de interação entre a maneira de pensar e a de estar inserido no mundo. Para estes autores, o que alguém pensa a respeito do mundo (incluindo sua orientação filosófica) em parte é uma função do caráter e vice-versa: o caráter é em parte uma função da nossa maneira de pensar. A Teoria de campo seria o instrumento que permite analisar o processo do pensamento. Essa teoria refere-se ao tempo, espaço e awareness fenomenológicos do observador. Ela enfatiza a totalidade das forças que formam uma totalidade integrada e determina as partes do campo. Na abordagem de campo da Gestalt-terapia, tudo é visto como em termos de vir-a-ser: nada é estático. A realidade não é nem objetiva, nem arbitrária, mas é conjunta e contemporaneamente configurada pelo “que existe ali” e pelo organismo percebedor. Pode- se compreender a gestalt como decorrente do momento existencial em que surgiu e das influências que recebeu. A pergunta pelo comunicador mais consciente do seu papel de receptor do imaginário cultural e ao mesmo tempo fonte de informações pode convidar os indivíduos à reflexão para que desenvolvam suas potencialidades, escolhendo e agindo, ou apenas contribui para a adaptabilidade do homem ao meio, sem qualquer questionamento. 14 4 A GESTALT NO BRASIL Fonte: www.psicologoflorianopolis.psc.br Ao aprofundar sobre a história da Gestalt, foi observado que inúmeros estudos apresentaram grande diversidade de ideias para se pensar esta abordagem. Notou-se então que cada perspectiva sobre o assunto aborda um viés particular e perceptivo diferente. De acordo com (RIBEIRO, 2007) esta prática em estudar a História da Gestalt- Terapia foi apresentada em Congressos, precisamente em 1991, Brasília, onde a pedido dos membros, a estudiosa Jean Clark Juliano, de São Paulo, contou com o comprometimento e respeito aos assuntos científicos que caracterizam a história da Gestalt-Terapia, segundo suas opiniões. A autora ressaltou neste dia que cada sujeito conta uma história de acordo com a sua perspectiva. Em suma, cada um conta a história que existe como o resultado do encontro, do contato, da relação entre outros fatos pesquisados, com as peculiaridades e as crenças do pesquisador. Afirma então que: ''Ninguém conta uma história ou faz qualquer coisa de maneira neutra'‘. (RIBEIRO,2007, p.1). A Gestalt terapia foi iniciada no Brasil por volta da década de 70, referenciando estudiosos como Perls, Hefferline e Goodman (1997), em uma palestra pronunciada por 15 Therése Tellegene. A intenção desta palestra era que os Gestalt-Terapeutas estrangeiros contribuíssem para formação do primeiro grupo de terapeutas nesta abordagem no Brasil. Segundo RIBEIRO (2007), ainda neste período a Summus Editorial lançou os livros Gestalt-terapia Explicada (inspiradas em transcrições de workshops realizados por Fritz Perls) e Tornar-se Presente, de John Stevens. Já para Aguiar, a concepção de homem nesta abordagem, aqui no Brasil ainda tem uma característica fundamental que é a visão holística, “ é a visão integral e não fragmentada do homem e da realidade que nos cerca” (AGUIAR, p. 41, 2005). Neste contexto muitos estudiosos assumiram papéis de grande destaque na contemporaneidade como: Hycner (1997), Jacobs (1997), Pimentel (2003), Ribeiro(2006), Zinker (2007) e Aguiar (2014) que explicam desde os conceitos básicos em Gestalt-Terapia, processos grupais, processos terapêuticos, criativos e psicodiagnóstico. 5 A ABORDAGEM TERAPÊUTICA Fonte: www.portaleducacao.com.br Uma Gestalt é produto de uma organização e esta organização é o processo que leva a uma Gestalt. Com isso é possível refletir que a Gestalt-terapia é integrar todos esses pedaços e partes rejeitadas e alienadas do Self, como a personalidade, e fazer da pessoa um todo novamente. 16 Perls (1951) foi fundador da abordagem Gestáltica e os conceitos que desenvolveu assumiram papéis de grande originalidade e força. Suas obras estabeleceram linhas de teoria e proposta clínica. O estudioso trouxe uma proposta de psicoterapia que se fundamenta em uma visão holística sobre o homem e a sociedade, constituindo-se em uma teoria acerca de suas relações. Segundo Alvin (2007), Perls usou como base a psicanálise freudiana, como primeira formação, e a nova abordagem foi criada a partir de teorias psicológicas quem vêm sendo estudadas ao longo dos anos, no âmbito da abordagem, com o objetivo de melhor fundamentar suas origens históricas e arcabouço teórico. De acordo com Alvin( 2007,p.2): ''Ribeiro (1985), foi o primeiro autor brasileiro a estruturar as teorias e filosofias de embasamento da Gestalt-Terapia: Psicologia da Gestalt, Teoria de Campo, Teoria Organísmica, Teoria Holística, Humanismo, Existencialismo e Fenomenologia, em um trabalho que desenha e discute os elementos teóricos que sustentam a teoria da Gestalt-Terapia. '' Para que a teoria da Gestalt-Terapia se sustente, esta abordagem conta com uma ferramenta primordial, que é o diálogo. O diálogo é considerado o evento relacional em que o sujeito se manifesta, sendo uma interação mais específica entre pessoas, onde existe um desejo genuíno de encontrar o outro. De acordo com Hycner (1995), esse diálogo não se restringe somente ao verbal, e a forma como acontece não é o principal, mas sim a abertura e intenção de um encontro genuíno e mútuo. É a partir do diálogo que se pode perceber melhor o indivíduo e se constrói o terapeuta. 176 COMO SE CONSTRÓI A GESTALT NA TERAPIA? Fonte: www.psicologosberrini.com.br De acordo com Marcolli (1977), tudo começa com um campo, este é o conceito básico desta teoria. O campo para o sujeito seria o espaço por onde ele transita, o lugar que ele estrutura seu ego e o mundo subjetivo. Para entender melhor é possível fazer uma analogia. Esta construção de campo seria como uma grande estrada onde nela se percebe duas pessoas vagando em lados opostos. As duas pessoas estão distantes, mas vão se aproximando com o tempo. Até que um dia se encontram. As duas pessoas param, e uma fica de frente para a outra. Depois da distância que deturpava a visão de ambas, se mostra a figura do terapeuta e com ele, as suas técnicas. Diante da distância que deturpava a visão de ambas, se mostra o cliente, com um enorme conteúdo de informações sobre a sua vida. Os dois se olham e se analisam como algo novo e estranho. O cliente olha para o terapeuta de cima a baixo e aproxima a sua mão ao rosto. O terapeuta faz a mesma coisa, e aproxima a sua mão ao rosto também. Quando os dois percebem que estão fazendo o mesmo gesto acabam se identificando. Os dois quebram o silêncio e então riem de si mesmos. Quando se estabelece um clima onde os dois se sentem à vontade acontece o encontro, que é mais uma concepção da Gestalt. 18 Esta pequena metáfora ajuda a compreender um pouco sobre um universo das grandes possibilidades, em que o terapeuta se permite viver e demonstrar as suas emoções. Já para o paciente, esta ação pode se construir como fruto da empatia e assim favorece o relacionamento de ambos no tratamento Psicológico. Vale ressaltar que esta relação de troca no processo terapêutico deve ser respeitada de acordo com os princípios éticos sobre a conduta do Psicólogo. Fonte: www.abc.es 7 FIGURA E FUNDO Fonte: pt.slideshare.net 19 Wertheimer, Koftka e Kohlfer (1912) permitem ao Gestalt-Terapeuta compreender como figura, as necessidades que mobilizam o sujeito para ação, jamais esquecendo que estas são partes de um fundo e que figura-fundo unificados formam um todo, que se assemelha ao mundo existencial do sujeito. Para contextualizar é possível imaginar uma pessoa caminhando por uma longa estrada durante várias horas. Depois de um certo desgaste, o sujeito não consegue mais prestar atenção na paisagem em sua volta pois ao sentir-se cansado, percebe as batidas ofegantes do seu coração e acaba parando para respirar. Neste momento a figura é o seu cansaço, as batidas rápidas de seu coração e o fundo é a estrada, o sol, a paisagem, o caminho. Do todo, uma parte emerge e vira figura, ficando o restante indiferenciado ou em um fundo. 8 O INSIGHT Fonte: culturaanalitica.com.br A Gestalt-Terapia também trabalha com o Insight que significa ter a resposta repentina para um determinado problema. Seria como uma luz que acendesse na cabeça e assim seria possível obter uma saída para solucionar uma determinada questão. Thorndike (1898) havia publicado nos Estados Unidos, um trabalho realizado principalmente com gatos e cães, no qual demonstrava a longa aprendizagem para abrir uma porta, atrás da qual se encontravam alimentos. 20 A tradução teórica dessa aprendizagem era a união associativa entre impressões sensoriais e impulsos motores. A investigação de Thorndike representava o, entretanto, os experimentos mais interessantes foram aqueles nos quais os chimpanzés se encontravam numa situação no qual o alimento, a banana, era posto fora do seu alcance. Procuravam diversas soluções e repentinamente o desfecho chegava. É o “Einsicht” ou sua tradução inglesa insight. Essa palavra inglesa foi importada por diversas línguas, inclusive por nosso português. O critério de insight é o aparecimento de uma solução completa com relação à estrutura do campo, como disse Köhler (1917/1927). O chimpanzé, após o insight, realiza genuinamente o caminho que leva à solução do problema, inclusive utilizando utensílios para a nova função ou até inventando-os. Para Ash (1995) e Köhler (1917/1927) o insight era uma solução momentânea. Os psicólogos da Gestalt não são nativistas. Entretanto, a solução de um problema requisita exclusivamente uma reorganização do campo para o sujeito. O que importa a esses psicólogos são os fatos que emergem no presente. Mas o termo foi fielmente utilizado por terapeutas Gestaltistas em suas análises e um dos mais importantes termos utilizados nas psicoterapias. Deste modo, quando um cliente consegue superar algum problema dizemos que este “Fechou Gestalt’’ em tradução para a elaboração de alguma questão que bloqueava o contato do cliente de uma maneira mais saudável com o mundo externo. 9 APLICANDO A GESTALT-TERAPIA Fonte: bemblogado.com.br 21 Como terapia, a Gestalt permite ao terapeuta lançar mão de alguns conceitos e técnicas no processo de ajuda ao cliente. Estando a Gestalt entrada no conceito de contato, fala-se muito em “fechar gestalt”, quando o processo foi adiante e não ficou nada em aberto. Quando fica, quando as gestalts não se fecham, é porque ocorreu um bloqueio em uma das fases do ciclo, como postula Ponciano (1997). Dentre os bloqueios de contato, pode-se destacar: Fixação, o processo pelo qual o sujeito se apega excessivamente a pessoas, ideias ou coisas, e temendo surpresas diante do novo e da realidade, sente-se incapaz de explorar situações que flutuam rapidamente, permanecendo fixado em coisas e emoções; Medo de correr riscos; introjeção, que é o processo através do qual o sujeito obedece e aceita opiniões arbitrárias, normas e valores que pertencem aos outros, engolindo coisas dos outros sem querer, e sem conseguir defender seus direitos por medo da sua própria agressividade e da dos outros – gosta de ser mimado; Projeção, processo pelo qual o sujeito possui dificuldade de identificar o que é seu, atribuindo ao outro, ao mau tempo, coisas de que não gosta em si próprio, bem como a responsabilidade pelos seus fracassos. Desconfia de todo mundo como prováveis inimigos – gosta que os outros façam as coisas no seu lugar. Em contraposição aos bloqueios de contato, temos os fatores de cura, que estão sempre atrelados aos primeiros, destacando-se: Fluidez, processo pelo qual o sujeito se movimenta, localiza-se no tempo e no espaço, deixando posições antigas e renovando-se, mais solto e espontâneo e com vontade de criar e recriar a própria vida; Consciência: processo pelo qual se dá conta de si mesmo de maneira mais clara e reflexiva, está mais atento ao que ocorre à sua volta, percebe-se relacionando com mais reciprocidade com as pessoas e coisas; e mobilização, processo pelo qual sente necessidade de se mudar, de exigir seus direitos, de separar suas coisas das dos outros, de sair da rotina, de expressar seus sentimentos exatamente como sente e de não ter medo de ser diferente. 22 Ponciano (1997) postula que a ideia do ciclo como processo terapêutico passa pela compreensão de que o processo da saúde ou da cura possui uma lógica, uma sequência na qual uma coisa depende da outra e onde tudo afeta tudo. Entretanto, nenhuma pessoa está em um único ponto no Ciclo do Contato, e sim em vários, seja na direção da cura, seja na direção dos bloqueios, mesmo porque cada ponto do ciclo contém todos os outros. Por outro lado, a pessoa geralmente está mais em um ponto do que em outro, por isso se pode dizer que alguém é mais tipicamente um introjetor, um confluente e assim por diante. Em relação às técnicas utilizadas pela Gestalt, Ginger e Ginger (1995) colocam que elas só têm sentido em seu contexto global, isto é, integradas em um método coerente e praticadas de acordo com uma filosofia geral. Assim, o essencial da Gestalt não está em suas técnicas, e sim no espírito geral do qual ela procede e que as justifica. Gingere Ginger (1995) citam também algumas das técnicas que a Gestalt usa, como, por exemplo, o exercício de awareness, que se trata de estar atento ao fluxo constante das sensações físicas (exteroceptivas e proprioceptivas), dos sentimentos, de tomar consciência da sucessão ininterrupta de “figuras” que aparecem no primeiro plano, sobre o “fundo” formado pelo conjunto da situação que se vive e do sujeito que se é, no plano corporal, emocional, imaginário, racional ou comportamental. Tem se, também, o hot seat (cadeira quente), uma das técnicas mais utilizadas pelos gestalt-terapeutas. Coloca-se o cliente diante de uma cadeira vazia, na qual, conforme sua vontade, ele pode projetar um personagem imaginário com o qual deseja se relacionar. Esta é uma oportunidade do cliente expressar o que está preso em sua garganta. Depois, ele se coloca no lugar desse personagem imaginário e elabora uma resposta para si mesmo. Geralmente, obtém uma nova dimensão para a sua angústia. Uma outra técnica, o monodrama se trata de uma variação do psicodrama, em que o próprio protagonista desempenha, de maneira alternada, os diferentes papéis da situação por ele evocada (ele mesmo, a esposa, os filhos, o chefe). Troca sempre de lugar quando for mudar de papel para que a situação fique clara. Essa técnica facilita a encenação do próprio sentimento, à medida que este emerge da situação, sem interferência eventual na problemática pessoal de um parceiro anterior, que pode não estar na mesma sintonia, como ocorre no psicodrama. Por fim, a amplificação, que torna mais explícito o que está implícito, projetando na cena exterior aquilo o que acontece na cena interior. Permite, assim, que todos adquiram mais 23 consciência do modo como se comportam aqui e agora, na “fronteira do contato” com o meio. Além das citadas, existem diversas outras técnicas e maneiras de se trabalhar em Gestalt-terapia. Isso dependerá do estilo pessoal de cada terapeuta, de seu modo de ser, uma vez que ser gestalt-terapeuta está intimamente associado à própria vivência do terapeuta como humanista, ao modo de perceber o mundo e a si mesmo. No entender de Erthal (2004), o principal instrumento de trabalho do psicólogo é ele próprio. Ela defende uma compreensão fenomenológica do cliente, apoiada na descrição que ele traz para dentro do consultório, na vivência dele de sua própria situação. Cabe ao terapeuta a função de receptor sem valores morais (ou seja, neutralidade absoluta), considerando o contexto, a díade e o sentido certo da comunicação desse cliente. A interação profissional-cliente nunca pode ser considerada unilateral, uma vez que existe um impacto que cada parte da díade estabelece na relação. É pela fala e pela linguagem que as pessoas comunicam seus sentimentos, pensamentos e intenções. Mas, apesar dessa função social, há ainda a função egocêntrica, na qual não existe preocupação em saber com que se está falando. Trata-se de um falar para si mesmo, o que expressa uma forma alienada e onipotente. Toda linguagem é uma forma de comportamento interpessoal. A personalidade do falante está incluída no comunicado pela própria forma sutil ou discreta como se expressa. Não se pode não comunicar (no sentido de que não é possível conceber a não-expressão), pois o silêncio, a forte introspecção, já é em si uma comunicação. O trabalho do terapeuta é, praticamente, seguir as falas de seu cliente, mescladas pela criteriosa escolha de cada intervenção feita (ERTHAL, 2004). Erthal (2004) articula dez tipos de intervenções para que o terapeuta baseie cada vivência, cada momento entre ele e o cliente, e assim conduza a sessão sempre se apoiando na verdade do seu cliente, naquilo o que ele está, de uma forma ou de outra, trazendo para o âmbito do consultório e para a realidade da terapia. Dentre as intervenções, pode-se destacar: a refletora de vivências emocionais (interpretação vivencial), na qual o terapeuta transcende o conteúdo verbal daquilo que é expresso pelo cliente a fim de obter uma compreensão do sentimento contido nas formulações e assim expressar esse sentimento de maneira correta; a inquisitiva, talvez uma das mais usadas, na qual a intenção do terapeuta é obter dados maiores sobre um 24 determinado assunto, estimulando o cliente a continuar falando, com especificação do foco de atenção. As perguntas podem facilitar o campo perceptual do cliente, transmitir o interesse do terapeuta em pesquisar com mais profundidade o assunto, no entanto é preciso cuidado para não usar em demasia e banalizar a intervenção. O psicólogo iniciante geralmente fica ansioso e conduz a entrevista com um bombardeamento de perguntas que “facilitam” a sua atuação, bloqueando o fluxo espontâneo da comunicação do cliente, que por sua vez termina se acostumando a ser indagado e apenas espera pela próxima pergunta; e o confronto, cujo objetivo é mostrar as contradições que o cliente apresenta, a fim de possibilitar maneiras novas de se perceber. As respostas de conteúdo não-verbal facilitam esse confronto ao apontar para as discrepâncias, como, por exemplo, o cliente relatar algum acontecimento triste só que com uma expressão de felicidade. Isso demonstra uma incongruência que pode ser a indicação de alguma coisa com o poder de acarretar efeitos de significativa mudança no jeito em que a pessoa vê a si mesma e sente a si mesma na frente do outro. É fácil, por fim, obter a percepção de que a Gestal-terapia se apoia na relação terapeuta-cliente, dentro de uma visão holística e, sobretudo, humanista, para alcançar o resultado a que se propõe – um resgate da harmonia e do bom funcionamento do organismo, em todos os aspectos (físicos, psicológicos) que o circundam. Segundo Cardella (1994), para que a relação tenha realmente natureza terapêutica, deve ocorrer o fenômeno do amor, concebido pela autora como um estado e um modo de ser caracterizados pela integração e diferenciação de um indivíduo, que lhe permite ver, aceitar e encontrar o outro como único, singular e semelhante na condição de humano. O amor é a polaridade oposta do egocentrismo e do sofrimento emocional, o amor é de natureza incondicional, o que implica a capacidade de amar o diferente e não apenas o semelhante, e, quando recíproco na relação, proporciona aos indivíduos um sentimento mútuo (do latim muto, que significa mudar) de plenitude. Além de tornar possível o verdadeiro Encontro, proporciona também um sentimento de transcendência de si mesmo e de harmonia com a humanidade e a existência. Envolve fatores como maturidade emocional, responsabilidade e posse da própria vida, auto sustentação e independência em relação aos outros. 25 Nas palavras românticas do grande poeta Dante Alighieri (1265-1321): ‘O amor me move: só por ele eu falo’. Refletindo sobre o “amor terapêutico”, Cardella (1994) acredita que na relação terapeuta-cliente o amor pode acontecer e se manifesta sob características distintas das demais formas de amar. As atitudes amorosas do terapeuta facilitam o desenvolvimento do potencial de amor do cliente, devendo ser a base para o trabalho psicoterapêutico, juntamente com conhecimentos teóricos, filosóficos e técnicos, sem os quais a relação terapêutica seria, obviamente, descaracterizada. O trabalho terapêutico é, em si, uma prática de amor, pela qual o terapeuta cria condições para que o cliente possa ouvir, ver, compreender, aceitar e amar a si mesmo. Parafraseando seu próprio conceito de amor, Cardella (1994, p. 59) define: “O amor terapêutico manifesta-se através de um estado e um modo de ser caracterizados pela integração e diferenciação da personalidade que nos permite ver, aceitar e encontrar o outro (cliente) como um ser único, diferenciado, e semelhante na sua condição de humano”. Fonte: www.comportese.com 26 10 GESTALT-TERAPIA E O SELF COMO CONCEITOOPERACIONAL FENOMENOLÓGICO Fonte: www.psicologoroberte.com.br A Gestalt-terapia é uma abordagem que tem por objetivo a arte do contato. É através do contato, na promoção de um encontro mais rico e criativo, que o mal-estar vivido pelo cliente pode ser ampliado e transformado em novas formas de existência. A terapia, dessa forma, é um espaço para o exercício do contato, um exercício de troca na vivência da relação entre terapeuta e cliente a fim de se expandir a awareness e desenrijecer processos bloqueados do sistema self. Nas palavras do autor citado acima: “A Gestalt pode ser definida como uma terapia do contato em ação (...)” (pag. 25). Os principais autores da Gestalt-terapia, Perls, Hefferline e Goodman (1951), partem do princípio de que qualquer investigação psicológica, e de todo o campo do saber das ciências, deve-se considerar o organismo e seu ambiente. A Gestalt-terapia tem por objeto de estudo, e por finalidade clínica, o limite, a interação entre organismo e ambiente, entendendo tal fronteira enquanto campo de presença, e identificando os comportamentos humanos como função dessa interação. Nas palavras dos autores: Denominemos esse interagir entre organismo e ambiente em qualquer função o ‘campo organismo/ambiente’, e lembremo-nos de que qualquer que seja a maneira 27 pela qual teorizamos sobre impulsos, instintos etc., estamos nos referindo sempre a esse campo interacional e não a um animal isolado (1951, p. 42-43). Para autores citados, organismo e ambiente não são substâncias distintas, antagônicas em sua natureza, como no pensamento Cartesiano, pelo contrário, fazem parte do todo organismo/ambiente. O termo fronteira passa a ideia de um limite “entre”, porém, do contrário, Perls, Hefferline e Goodman (1951) preferem pensar em um limite “de”. A fronteira-de-contato, onde a experiência ocorre, não separa o organismo de seu ambiente, mas sim o limita, o contém, o protege e o diferencia. O Contato é função dessa fronteira. A experiência, como escrevem Perls, Hefferline e Goodman (1951), é função, e se dá na fronteira entre organismo e ambiente, sendo, a realidade um todo organizado, uma Gestalt (com a obtenção de algum significado e a conclusão de alguma ação). Pode-se dizer, portanto, que o contato “é a realidade mais simples e primeira, sendo a percepção sensível derivada da experiência da fronteira, constituindo, esta, uma estrutura unificada” O contato, em outras palavras, como escreve Perls (1973), pode ser definido como awareness do campo ou resposta motora no campo; entendido como tipo de interação que se tem na fronteira num movimento de consciência (de) e ação (para). Esta interação inclui a awareness da novidade assimilável e o comportamento com relação a esta; que pode ser da ordem da assimilação, ou rejeição: “É na fronteira que os perigos são rejeitados, os obstáculos superados e o assimilável é selecionado e apropriado”. Contato pressupõe sempre o encontro com o diferente, sendo que um organismo vive em seu ambiente por manutenção da sua diferença e por meio da assimilação do ambiente a sua diferença (Polster, 1979). Fronteira de contato é o limite onde o organismo se diferencia do meio, se atualiza enquanto diferente, enquanto singularidade. Diferenciar- se é obter uma relação onde a satisfação seja mútua, do organismo e do mundo: “O meio não cria o organismo, nem este cria o meio, cada um é o que é, com suas características, devido ao relacionamento com o outro e com o todo” O que é difuso, sempre o mesmo, ou indiferente não é um objeto do contato (como exemplo pode-se citar os órgãos internos em funcionamento saudável). O mundo ganha sentido quando os encontros viram contato, ou seja, na ocasião de mudança, do novo; quando um altera a natureza do outro. O organismo saudável goza de uma fronteira permeável, o que permite um bom contato na medida em que a fronteira se expande para o novo. 28 Todo contato é criativo e dinâmico. Como o organismo não é passivo do contato – este é espontâneo –o organismo assimila o ambiente. O que é selecionado e assimilado é sempre novo, sendo que o organismo persiste pela assimilação do novo, pela mudança e crescimento. No processo de assimilação o organismo é sucessivamente modificado, assim como o ambiente. Este processo faz com que o indivíduo se encontre sempre em ajustamento. É pelo ajustamento criativo que a mudança e o crescimento se dão. No exercício clínico, como arte do encontro, do contato, toda vez que uma novidade é percebida no campo, toda vez que se tem um aumento da awareness na fronteira de contato, uma nova possibilidade é descoberta. Uma nova figura esta a disposição para o cliente exercer a sua liberdade, e a sua responsabilidade, na ação frente a este novo horizonte que emerge. Um bom contato, portanto, é aquele consonante com a formação de uma figura nítida, de uma gestalt clara, onde se tem awareness acompanhado do comportamento motor que se completa, que fecha o ciclo da assimilação levando ao consequente crescimento. Isto implica numa clínica que não carece de teorias do comportamento normal, “a própria figura fornece um critério autônomo da profundidade e realidade da experiência” O terapeuta tem por missão estimular o contato do cliente tendo a própria relação terapêutica como guia no aqui-e-agora. É por meio do contato que se promove awareness do campo e uma resposta condizente com o que o cliente quer, e com o que o aparece como horizonte de suas possibilidades existenciais. Segundo Perls, Hefferline e Goodman (1951), todo ato de awareness exige contato, no entanto, não significa que todo contato impliquei em awareness. Dessa forma, como escreve Yontef (1993), a awareness pode ser entendida como fixação da uma gestalten, como um contato pleno; como uma integração total do campo organismo/ambiente. Contato completo, integrado, no sentido de haver uma total percepção, da parte de quem percebe, de todos os elementos do campo organismo/ambiente. É a experiência de minha pessoalidade como fundo de tudo que acontece na fronteira, no campo de presença. Awareness, como escreve o casal Müller-Granzotto (2007a), é processo de orientação que se renova a cada instante. É uma unidade, uma fixação. Dá-se a partir de um sentir (entendido como espontaneidade), como abertura para a nossa “história impessoal”. É formação de gestalten, e acontece no aqui-e agora, no movimento de formação e dissolução de figuras, consonante com a necessidade genuinamente 29 emergente. Só existe awareness no contato, na percepção do campo organismo/ambiente (sempre no presente). A emergência de uma figura na fronteira de contato, e a decisão do organismo perante as escolhas que lhe são possíveis diante dessa figura correspondem ao ciclo de abertura e fechamento de Gestalt. Ciclo este que pode ser definido como as polarizações do self no encontro com o mundo. Uma necessidade emergente, algo que seja do foco do interesse do organismo, ao ser contatada, é uma gestalt aberta, que necessita de movimento para ser fechada. Contato como percepção (de) e movimento (para), traz consigo a ideia de abertura e fechamento de gestalt, de configurações inteiras, através dos processos envolvidos o ciclo contato, ou, em outras palavras, na dinâmica do funcionamento do self. O self pode ser considerado como o principal conceito da Gestalt-terapia. É em serviço do self, de suas dinâmicas e funções que o contato, o ajustamento criativo e a awareness são possíveis; sendo os fenômenos de empobrecimento do contato formas de inibições do sistema self (PHG, 1951). Dessa forma, toda a teoria da Gestalt-terapia, sua prática clínica, e seu próprio objetivo são orientados a respeito do sistema self, considerando suas funções e dinâmicas. Um bom terapeuta deve, dessa forma, ajudar o cliente, muitas vezes perdido em angústia, a organizar e tomar responsabilidadedas suas escolhas, em outras palavras, ajudar o cliente a completar o ciclo de contato proporcionando satisfação e crescimento ao self. Mas, para nosso melhor entendimento, o que é propriamente o self? A definição para o self encontrada na obra de Perls, Hefferline e Goodman (1951) é a de que o self é “o sistema complexo de contatos necessário ao ajustamento criativo” (p. 179). Ao definir o self como um sistema de contatos que tem a função de contatar o presente, Perls Hefferline e Goodman (1951) não o entendem como uma entidade psicofísica, mas sim como um processo, como algo que se dá através de uma relação, como um acontecimento na fronteira de contato. O self, para estes autores, é uma dinâmica de trocas energéticas entre o organismo e o meio, de modo a permitir, por um lado, a conservação de algumas formas de organização anteriores (junto às quais me experimento como aquilo que permanece) e, por outro, a destruição de formas antigas e assimilação de formas novas (o que permite que me experimente como algo integrado ao ambiente). 30 O self pode ser compreendido, então, como o estado na fronteira de contato; fronteira esta que pertence tanto ao organismo quanto ao ambiente. Dessa forma, não se deve pensar o self como uma instituição fixada; ele existe onde quer que haja de fato uma interação na fronteira, e sempre que esta existir: “quando se aperta o polegar, o self existe no polegar” (PHG, 1951, p.179). Enquanto sistema de contatos o self não é uma regularidade de ações, mas um continuum que se modifica a cada instante. Ele a cada momento mobiliza, na forma de excitamento, um fundo (meu passado) que responde ao meu investimento em forma de figura, como potencialidade, como um horizonte de futuro. Na leitura de Perls, Hefferline e Goodman (1951) é claro a identificação do self como um processo de formação de figura (presente) e fundo (passado). Para estes autores, o passado não é visto como uma instância imutável, mas está, também, em jogo, em constante mudança, em constante renovação. Por conseguinte, numa situação de awareness essa “preteriedade da situação se dá como sendo o estado do organismo e do ambiente, mas no instante mesmo da concentração, o conhecido (o passado) está se dissolvendo em muitas possibilidades” A dinâmica de formação de gestalt é função do self, uma vez que a formação de figura dá-se no processo de contato. Nas palavras de Perls, Hefferline e Goodman: “o self é a força que forma a gesltalt no campo; ou melhor, o self é o processo de figura/fundo em situação de contato” (1951, p.180). Em decorrência disso, os referidos autores vão dizer que o self é “a realização de um potencial” (p180), donde segue a ideia do self como uma potencialidade engajada. Na medida em que a concentração prossegue- excitação pela qual o contato se dá- o self se identifica com algumas possibilidades, alienando-se de outras. Essas possibilidades, então, são transformadas em figura que emergem, por sua vez, do fundo de potencialidade. O futuro, o porvir, é a marca efetiva desse processo, sendo que a identificação e alienação dessas possibilidades, o surgimento de uma nova figura, é o ajustamento criativo (onde o novo é assimilado). Nem ativo, nem passivo, mas - espontâneo e engajado numa situação - são, segundo Perls, Hefferline e Goodman (1951), as principais características do self. A espontaneidade, segundo os mesmos autores, “é o sentimento de estar atuando no organismo/ambiente que está acontecendo, sendo não somente seu artesão ou seu artefato, mas crescendo dentro dele” (Ibidem p.182). Em 31 outras palavras, essa característica do self o identifica a postura de descobrir-se e inventar- se ao mesmo tempo, agredindo e aceitando o que é contatado. Não se trata, pois, da ação do sujeito sobre si, mas da gênese desse sujeito na ação. Sujeito este que, tendo sua gênese renovada a cada contato, se surpreende ao perceber o ambiente também renovado a cada encontro. Logo, para a Gestalt-terapia, um sujeito não é uma interioridade imutável presa a um passado que o define e que, muitas vezes, o condena. O sujeito gestáltico é alguém em fluxo, em mudança, que organiza suas ações (na sorte de ajustamentos) a partir da intencionalidade da sua consciência. Para além, no que consiste ao método fenomenológico e o self, os autores MüllerGranzotto (2004, 2007a) identificam as funções e dinâmicas do self como uma sorte de espontaneidade a luz da noção de temporalidade da fenomenologia de Husserl. Para os referidos autores, o self cria estruturas específicas para propósitos específicos, o que quer dizer que o self de acordo com o foco da experiência, cria funções específicas, em detrimento de outras. Essas formas elementares da vivência do self, ou seja, da pura vivência espontânea, constituem o que Perls, Hefferline e Goodman (1951) vão descrever como operações, ou funções do self. 10.1 A dinâmica do self e a clínica gestáltica Quanto a dinâmica do self, suas polaridades e características, é possível dizer que toda vez que um Gestalt-terapeuta usa o “o que”, o “quando” e o “como” como perguntas, ao invés do “por que”, está, na realidade, se voltando para as polaridades das dinâmicas do self em suas frequentes interrupções. Para cada função, em correspondente dinâmica, segundo Perls, Hefferline e Goodman (1951), existem formas específicas de trava, mecanismos de quebra da espontaneidade do ciclo de formação e destruição de figura. Em algumas das suas últimas publicações, os autores Müller-Granzotto (2007b, 2008, 2009), imbuídos na missão de aprofundar as pistas que os principais autores da Gestalt-terapia criaram, desenvolvem novas contribuições teóricas e clínicas às originais 32 formas de ajustamentos comprometidos em espontaneidade e criatividade sugeridos por Perls, Hefferline e Goodman(1951): os ajustamentos neuróticos, psicóticos, e de aflição. No entanto, antes de se abordar estas contribuições, é necessário, para um maior entendimento, uma apresentação mais aprofundada das funções e correlatas dinâmicas do self. Conforme pensam os fundadores da Gestalt-terapia - Perls, Hefferline e Goodman (1951) -, o self cria estruturas específicas para propósitos específicos, o que quer dizer que o self de acordo com o foco da experiência, cria funções específicas, em detrimento de outras. Segundo os autores MüllerGranzotto (2007a) a descrição dos processos que constituem a reedição criativa de nós mesmos no campo organismo/ambiente (reedição, esta, na forma de um fundo, que se realiza como horizonte de possibilidades para a figura emergente), ou a descrição do self (que é a mesma coisa) é a descrição do que há de essencial na experiência. Por essa razão “Perls e seus colaboradores propõe não uma teoria da personalidade ou uma metapsicologia, mas uma psicologia formal, que não é senão uma descrição fenomenológica desse processo de apercepção da própria unidade no mundo – processo esse a que denominaram self” (MG, 2007a, p. 212, grifos meus). As três funções (Id, Ego e Personalidade), e as respectivas dinâmicas (pré - contato, contato, contato final e pós-contato) a elas associadas, são apenas três pontos de vista diferentes que se pode ter da mesma experiência, que é o sistema self em funcionamento. O que significa que no fluxo de awareness (em cada experiência vivida) pode ser apresentar concomitantemente as três funções, sendo que o que vai conferir maior evidência a uma função do self em prol de outra é a escolha de quem está a descrever a experiência. Cada uma das funções do self corresponde a um modo específico de organização gestáltica (a formação de uma figura em relação a um fundo). Quer dizer que em cada polarização do self, em cada estrutura, o self tem uma experiência diferente no sentido de formação e destruição de Gestalt. Na dinâmica do self, o processo do contatar,é, em geral, uma sequência contínua de fundos e figuras, cada uma esvaziando-se e emprestando sua energia a figura em formação, que, por sua vez, servirá de fundo para uma nova figura. A função Id é aquela em que o self encontra-se diminuído, disperso. Ela aparece nos hábitos, e também tem como característica o agigantamento do corpo. A função id é a 33 retenção, como escrevem Perls, Hefferline e Goodman (1951), de algo que não se inscreveu como conteúdo: a forma impessoal e genérica da presença do mundo em mim. Enquanto hábito, o Id sou eu mesmo, uma expressão do self, ou do processo de reedição criativa, mas um eu genérico, impessoal, que se manifesta como uma sabedoria prática, sem uma inscrição, sem uma significação consciente. Nesta função, o contato se dá quase que a revelia do eu, como o sono, o respirar (Ginger, 1995, pag.127). O Id não existe fora do contato, no entanto, minhas experiências no exercício do contato são, ao mesmo tempo, minhas e inseparáveis do meio. De modo que minha vivência esta diluída, ou integrada ao meio circulante. “Enquanto Id sou um corpo, um corpo próprio, que antes de ser conhecido (representando para mim mesmo), é vivido como volume, como espessura, como transito entre eu e o mundo” (Müller-Granzoto, 2004, p.3). Quando o self esta polarizado na função Id a figura não está propriamente definida. Nesta função, quando muito, a figura é a vivência do hábito, uma vivência do corpo. Vivência esta no sentido de que nessa função não se tem propriamente uma dinâmica, mas sim uma inércia. Sobre a função Id pode-se dizer, segundo Perls, Hefferline, e Goodman (1951,) que esta serve como um estado de inércia, de passividade, onde o Ego pode acolher um dado como figura. Trata-se de um domínio próprio em que um dado indeterminado surge, onde um excitamento se dá. A função Ego, por sua vez, é aquela em que o self se encontra ativo, agindo sobre o ambiente. É nesta função que uma figura clara pode ser identificada, ou alienada (a partir de um fundo histórico, a função Id), e se tem a emergência de um significante individual, que é, senão, nossa ação. Conforme escrevem Perls, Hefferline e Goodman, “[o] Ego é a identificação progressiva com possibilidades e a alienação destas, a limitação e a intensificação do contato em andamento, incluindo o comportamento motor, a agressão, a orientação e a manipulação”. Cabe ao Ego a inscrição de uma figura num campo genérico de indiferenciação. O self na função ego está identificado com o interesse ativo selecionado, e a realidade, aqui, “não é enfrentada de acordo com sua vividez espontânea, mas é selecionada ou excluída, de acordo com os interesses com o qual o nos identificamos” Na função Ego Perls, Hefferline e Goodman (1951) identificam três dinâmicas: o pré- contato, o contato e o contato final. O pré-contato caracteriza-se pela apreensão de um 34 dado a partir do fundo de excitamento fornecido pela função Id em decorrência do acontecimento de algo novo (seja este um estimulo que de desenvolve como uma emoção, ou uma dor). Nessa dinâmica, como escrevem os autores acima, “o corpo é fundo, e o apetite ou algum estímulo ambiental são a figura. Isto é o que está consciente como sendo ‘aquilo que é dado’ ou o Id da situação, dissolvendo-se em suas possibilidades; (...) essas excitações ou pré-contato iniciam o excitamento do processo figura/fundo” (p.208). No contato se tem a deliberação, por meio da qual o self se polariza na função Ego. O excitamento, dessa forma, torna-se fundo enquanto o conjunto de possibilidades figura. A deliberação pode ser entendida um ato de identificação, com uma possibilidade do meio que vem a satisfazer a necessidade do organismo, ou a alienação, a fuga, de um acontecimento perigoso. Opera no sentido de escolha dessas possibilidades, resultando na formação de uma figura. Neste processo é onde ocorrem as emoções: a “awareness integrativa de uma relação entre o organismo e o ambiente” (PHG, 1951, p. 212). A emoção e sentida concomitantemente como uma manipulação potencial do ambiente, é a condição corporal que o organismo se encontra. As emoções são importantes, segundo os autores citados, pois na sequência de fundos e figuras elas assumem o comando da força motivadora dos apetites e anseios, das identificações ou fugas (que é realizada na polarização do self no processo do contato final); daí a importância de checa-las, por parte do clínico, no processo terapêutico. A função Personalidade trata-se, para Perls, Hefferline e Goodman (1951), de certa generalidade (não perceptiva) na qual o self se sedimenta, tornando-se uma identidade histórica. É a representação que o sujeito faz de si mesmo, sua autoimagem, que lhe permite reconhecer-se como responsável pelo que sente, e pelo que faz (Ginger, 1995). É por meio da função Personalidade, que experimentamos nossa capacidade de reconhecer nossas representações, nossa identidade, e, caso nos perguntem, serve de fundamento pelo qual seria possível explicar nossos comportamentos. Nesse sentido, Perls, Hefferline e Goodman dizem que a função Personalidade é “a figura na qual o self se transforma e assimila ao organismo, unido-a com os resultados de um crescimento anterior” (1951, p. 184). A autoconsciência da função Personalidade é autônoma, responsável no desempenho de um papel numa situação concreta. É 35 importante, todavia, ressaltam os últimos autores citados, não confundir autonomia com espontaneidade. O que os autores citados querem dizer com autonomia é a capacidade de escolher livremente. Liberdade esta proporcionada pelo fato da base da atividade já fora obtida de antemão, ou seja, “nos comportamos de acordo com o que somos, isto é, com o que nos tornamos” (Ibidem p. 188). Nesse sentido, a personalidade pode responsabilizar-se na medida em que o self criativo não consegue. Por que, como escrevem os mesmos autores, a responsabilidade é o preenchimento de um contrato. Portanto, a “personalidade é a estrutura responsável do self”. Todavia, a consistência dessa identidade está em jogo, é perfurada pelo vazio do hábito (a função Id) e ultrapassada pelas criações da função Ego (pelo material sempre novo advindo do contato). A dinâmica da experiência enquanto um processo que responde a diferentes formas de discrição estar intimamente ligada com as estruturas das funções do self. Quando o self se polariza numa ação, momento em que ele faz algo, tem-se o contato final. No contato final, como escreve Perls, Hefferline e Goodman (1951), “o self esta absorvido de maneira imediata e plena na figura que descobriu-e-inventou; no momento não há praticamente fundo. A figura incorpora todo o interesse do self, e o self não é mais nada que interesse presente. De modo que a figura é o self” (p.220). Aqui a figura descoberta é nítida e presente, sendo o ambiente e o corpo, desprovidos de interesse. A awarensess, segundo os mesmos autores, está no seu ponto mais radiante, concentrada no objeto eleito. Depois que o excitamento foi atenuado pela ação ego, o self pode relaxar, isto é, polarizar-se numa representação; regida, esta, pela cultura daquilo que ele próprio fez. Esta é a dinâmica do pós-contato, onde o self encontra-se diminuído, e assume a função personalidade. Segundo os autores Müller-Granzotto (2007b), a procura pelas funções comprometidas do sistema self deve ser o foco da ação do terapeuta, do contrário de investigações por dados, por conteúdos, muitas vezes intrusivos e não condizentes com uma postura processual, fenomenológica de ser compreender a clínica. Para os referidos autores, que preferem o uso de novas nomenclaturas para as interrupções do sistema self (respectivamente ajustamento evitação, de busca e ético- político), clínico em Gestalt-terapia deve, uma vez diante do cliente, perceber o lugar que é 36 convidado a ocupar,tornando o apelo (ou a sua falta) do cliente uma voz clareza aos processos de inibição que muitas vezes estão por trás de suas queixas. Na clínica gestáltica cabe ao clinico, portanto, segundo os autores citados acima, “pontuar” os momentos em que inibições do ajustamento criador são percebidas na relação terapêutica, não diferenciando o trabalho de intervenção do trabalho de investigação (“diagnose”) das funções comprometidas do sistema self. Tal pontuação nada mais é do que a devolução, e a implicação do cliente em seu próprio processo, sendo o tempo clínico da Gestalt-terapia o aqui-e-agora. O foco no momento presente, na relação genuína entre terapeuta e cliente, como esfera temporal da Gestalt-terapia, revela seu caráter diferenciado e inovador. Diferentemente de outras abordagens, nem o passado, nem o futuro, muito menos um cronograma linear de passos necessários, são postos em prática na clínica Gestáltica. Pelo contrário, o tempo na Gestalt-terapia é o tempo necessário para o contato fluido e espontâneo aparecer como possibilidade para o cliente, sendo o objeto da experiência clínica, como escreve os autores Müller-Granzotto (2007b) a “própria vivência atual da inibição, ou realização [...] do fluxo de contato temporal na atualidade da sessão” (p. 171). Em cada ajustamento onde uma inibição, a sua maneira, limita a experiência de espontaneidade e completude do sistema self a partir de dinâmicas específicas, efeitos são observados, sendo necessárias intervenções pontuais, de forma a que as repetitivas e dolorosas formas de interrupção do livre fluir do sistema self sejam reescritas e que novas possibilidades possam ser postas em prática. Dessa forma, os autores Müller-Granzotto (2007b, 2008, 2009) propõe formas específicas de intervenção para cada forma de inibição do sistema self. Contudo, como deixa claro o referido casal, para a Gestalt-terapia, do contrário das ciências médicas, por exemplo, os diferentes ajustamentos, mesmo entendidos como comprometimentos de diferentes funções e demandarem intervenções diferentes, não correspondem a uma exclusão, ou classificação da pessoa como pertencente a um determinado tipo, ou forma de ser. Os comprometimentos, segundo Müller-Granzotto (2007b) constituem um sistema único, sendo possível um mesmo cliente, em diferentes momentos, em função do campo de possibilidades, que sempre se atualiza no contato, experimentar e por em ação as três formas de ajustamento disfuncionais. Cabe deixar claro, mais uma vez, tendo em vista o objetivo do presente trabalho, que Perls, Hefferline e Goodman (1951) afirmam que esta 37 tipologia apresentada não é uma classificação de pessoas anormais, mas um método de decifrar a estrutura de um comportamento único. Para a Gestalt-terapia, como escreve Müller-Granzotto (2004) não interessa os motivos dessas interrupções. Explicações universais não é o objetivo da descrição dos ajustamentos disfuncionais, mas sim, “sinalizar como algo, que não é da ordem de nossa materialidade, que não retorna enquanto horizonte” (p.13). Ao invés de se construir uma gênese teórica das neuroses, psicoses e aflições, Perls, Hefferline e Goodman vão preferir descrever a forma ou a orientação específica da relação, da dinâmica da fronteira; descrever a relação entre meus horizontes temporais (fundo) e os dados no campo de presença. A Gestalt-terapia como psicologia formal, interessa-se, pois, na descrição dos comportamentos no sentido de como são vividos. A clínica na Gestalt-terapia trabalha à luz dos processos do self, tendo como método a descrição, por parte do cliente das suas vivências. A terapia visa ajudar o cliente a restabelecer a awareness de seu próprio funcionamento, a fim de que o cliente possa transcender a forma de ajustamento em que está aprisionado. A tarefa do terapeuta, segundo Perls, Hefferline e Goodman (1951) “é apenas propor um problema que o paciente não esteja resolvendo de maneira adequada, e se estiver insatisfeito com seu fracasso; nesse caso, com ajuda, a necessidade do paciente destruirá e assimilará os obstáculos, e criará hábitos mais viáveis”. Os ajustamentos neuróticos, primeiramente, segundo Perls, Hefferline e Goodman (1951), podem ser entendidos como “a perda das funções de Ego para a fisiologia secundária sob a forma de hábitos inacessíveis” (1951, p. 235). O comportamento neurótico, segundo os mesmos autores, também é um hábito (resultado de um ajustamento criativo), no entanto, é um hábito que não entra no campo de contato, pois não apresenta nada de novo. Como se trata de uma interrupção na dinâmica do self, essa experiência, esse ajustamento, não flui, não se atualiza. Esse hábito passa, então, a fazer parte do corpo, não do self. Como perda das funções do Ego, a neurose implica na confusão do agir no campo de presença organismo/ambiente. Nesse caso, a função Ego não consegue criar, para o dado, nada de novo (por vezes ela nem consegue admitir a existência do dado), e segundo 38 Perls, Hefferline e Goodman (1951), o Ego nada pode fazer senão deliberar em função da inibição de sua ação. Nas palavras de Perls, Hefferline e Goodman (1951): A neurose é a evitação do excitamento espontâneo e a limitação das excitações. É a persistência das atitudes sensoriais e motoras, quando a situação não as justifica ou de fato quando não existe em absoluto nenhuma situação-contato, por exemplo, uma postura incorreta que é mantida durante o sono. Esses hábitos intervêm na auto regulação fisiológica e causam dor, exaustão, suscetibilidade e doença. Nenhuma descarga total, nenhuma satisfação final: perturbado por necessidades insatisfeitas e mantendo de forma inconsistente um domínio inflexível de si próprio, o neurótico não pode se tornar absorto em seus interesses expansivos, nem levá- los a cabo com êxito, mas sua própria personalidade se agiganta na awareness: desconcertado, alternadamante ressentido e culpado, fútil e inferior, impudente e acanhado, etc. (p.235-6) Como dinâmica na fronteira de contato, a neurose, segundo o casal Müller Granzotto (2004), pode ser entendida sob a ótica das relações figura e fundo, por conseguinte, como um evento temporal. Segundo Perls, Hefferline e Goodman (1951), na neurose o self está inibido, isto é, incapaz de conceber a situação vivida como processo, e preso num passado que intervém impedindo as diversas dinâmicas temporais de contato (pré-contato, contato, contato final e pós-contato). A inibição do self tem como efeito mecanismos que são correlatos às diversas polaridades das dinâmicas expostas, como explicam Müller-Granzotto (2007a, 2007b). A saber, segundo estes autores, a cada dinâmica do sistema self se tem, respectivamente, como ajustamentos disfuncionais característicos a confluência, a introjeção, a projeção, a retroflexão, e, por fim, o egotismo. No que consiste aos ajustamentos neuróticos, Müller- Granzotto (2007b) propõe duas formas de abordagem, de intervenção, que o Gestalt- terapeuta deve executar: a frustração habilidosa, o uso de experimentos. Na primeira, utilizada com maestria por Perls, o terapeuta deve-se colocar na posição de não aquecer aos pedidos, aos apelos do cliente, visando estabelecer uma relação de campo que tem como meta instaurar uma situação de contato que possa trabalhar “por um lado, a inibição reprimida (que está a atuar nos ajustamentos neuróticos) e, por outro, a angústia característica da presença de algo que se repete na função Id” (Müller-Granzotto, 2007b, p. 176). É esta, pois, “habilidosa” por ser necessário, em primeiro lugar, que esteja estabelecida em um contexto no qual o cliente esteja protegido, e, em segundo lugar, que esteja, também, eticamente comprometida com a autonomia da função Ego no cliente. 39 O uso de experimentos, individuais e espontâneos, que, necessariamente, não são prioridade da clínica dos ajustamentos
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