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GESTALT-TERAPIA-1

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1 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 2 
2 A GESTALT-TERAPIA NA CONTEMPORANEIDADE ........................................ 3 
3 A PSICOLOGIA DA GESTALT ............................................................................ 4 
4 A GESTALT NO BRASIL ................................................................................... 14 
5 A ABORDAGEM TERAPÊUTICA ...................................................................... 15 
6 COMO SE CONSTRÓI A GESTALT NA TERAPIA? ......................................... 17 
7 FIGURA E FUNDO ............................................................................................ 18 
8 O INSIGHT ........................................................................................................ 19 
9 APLICANDO A GESTALT-TERAPIA................................................................. 20 
10 GESTALT-TERAPIA E O SELF COMO CONCEITO OPERACIONAL 
FENOMENOLÓGICO ........................................................................................................ 26 
10.1 A dinâmica do self e a clínica gestáltica .................................................. 31 
11 BIBLIOGRAFIA .............................................................................................. 40 
 
 
 
2 
 
1 INTRODUÇÃO 
Prezado aluno! 
 
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da 
sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se 
levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que 
seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a 
pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é 
a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao 
protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. 
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa 
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das 
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe 
convier para isso. 
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e 
prazos definidos para as atividades. 
 
Bons estudos! 
 
 
 
3 
 
2 A GESTALT-TERAPIA NA CONTEMPORANEIDADE1 
 
Fonte:www.institutovidaplena.com.br 
O termo Gestalt surgiu muito antes de sua criação para a Psicologia. Segundo Carrijo 
et al.(2012) a palavra tem origem alemã e surgiu em 1523 de uma tradução da Bíblia, 
significando "o que é colocado diante dos olhos, exposto aos olhares". Porém, foi através 
de uma situação que ocorreu com Psicólogo Max Wertheimer (1910), ao observar a 
disposição das luzes que apagavam e acendiam alternativamente em um vagão de trem 
que estava, ele e as pessoas do vagão tinham impressão que existia apenas uma luz que 
acendia e apagava. A partir desta observação de ilusão de movimentos, Wertheimer, 
decidiu fazer experimentos. De acordo com Engelmann (2002 ,p.1) ao estudar a história da 
Gestalt: 
''Se a luz se acendesse e se apagasse numa figura e posteriormente se acendesse 
e apagasse na outra, com intervalo entre eles de mais ou menos 60 milissegundos, 
enxergava-se apenas a figura indo de um lugar para outro.'' 
Marx ao publicar um artigo em 1912, discutiu as teorias que poderiam ser utilizadas 
para explicar o movimento fi. De acordo com Engelmann (2002), Wertheimer chegou à 
conclusão que não seria apenas uma ilusão de ótica e sim tratava-se de um processo 
contínuo visto como uma Gestalt. Para o estudioso a percepção dos objetos individuais 
eram Gestalten e a percepção do relacionamento entre os inúmeros objetos individuais 
percebidos era uma Gestalt, ou seja, uma forma. Segundo (HOUAISS; VILLAR; FRANCO, 
2001, p. 1449), '' A Gestalt considera os fenômenos psicológicos como totalidades 
 
1 Texto extraído do link: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0411.pdf 
 
4 
 
organizadas, indivisíveis, articuladas, isto é, como configurações.'' A princípio, as Gestalten 
podem ser compostas em partes. Essas partes são pedaços que compõem a Gestalt (a 
forma) completa. 
Ao fazer uma analogia, é possível associar a Gesltalt como um copo de vidro e a 
Gestalten como cacos que se despedaçaram pelo chão. Nos teóricos que iremos ver abaixo 
vai dizer que ''o todo é mais do que a soma de suas partes.'' Entretanto, em uma forma 
geral a Psicologia da Gestalt fala da soma destes elementos despedaçados. Para se 
perceber o copo de vidro, e compreendê-lo é preciso conhecer os cacos, ou seja, as suas 
partes. 
 A chamada Gestalt-Terapia surgiu no início da década de 50, a partir das reflexões 
de Friederich Perls, um psicanalista nascido em Berlim em 1893, que emigrou durante a 
década de 40 para a África do Sul e posteriormente para os Estados Unidos da América, 
onde juntamente com um grupo de intelectuais norte-americanos desenvolveu esta nova 
abordagem. 
Hoje, adotada no mundo inteiro, significa um processo de dar forma ou configuração. 
Gestalt significa uma integração de partes em oposição à soma das mesmas num todo. 
Este campo vem quebrando grandes paradigmas no contexto acadêmico tanto pela 
suavidade quanto pela intensidade de suas intervenções. 
A partir do progresso nos estudos sobre a área, a Gestalt foi utilizada em um enfoque 
psicoterapêutico tornando-se Gestalt-terapia, com objetivo de entrar em contato com os 
fenômenos, com as pessoas, de forma ativa e dinâmica mostrando-se eficaz no processo 
de ressignificação da vida. Para desenvolver este estudo, o artigo apresenta a história da 
Gestalt como ponto de partida para melhor compreensão e apresenta a subjetividade, a 
construção desta teoria em sua aplicação prática além de algumas técnicas utilizadas pelos 
terapeutas. 
3 A PSICOLOGIA DA GESTALT 
A Psicologia da Gestalt originou-se na Alemanha, entre 1910 e 1912. É uma das 
tendências teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia. Seus articuladores 
se preocuparam em construir não só uma teoria consistente, mas também uma base 
metodológica forte, que garantisse a consistência teórica. No fim do século XIX vários 
 
5 
 
estudiosos buscavam compreender o fenômeno psicológico e suas características naturais 
principalmente no sentido da mensuração destas particularidades. 
 
 
Fonte: www.bolt.com.br 
A psicofísica era um assunto bastante explorado na época. Ernst Mach (1838-1916), 
físico, e Chrinstiam von Ehrenfels(1859-1932), psicólogo e filósofo, ampliavam uma 
psicofísica com estudos sobre as sensações de espaço-forma (formato psicológico) e 
tempo-forma (formato físico) e podem ser considerados como os mais diretos precursores 
da Psicologia da Gestalt. 
Porém esta maneira de ver o mundo não é somente empírica, mas também prática. 
Em um artigo de crítica a Benussi, Koffka (1915/1938) alarga o que se pode entender por 
Gestalt. Koffka propõe que em Gestalt não é apenas a experiência, mas também nas ações 
dos indivíduos. Cantar, escrever, desenhar, andar são Gestalts tanto quanto a consciência 
de ouvir ou de olhar. “O ato motor é um processo-de-todo organizado; os muitos 
movimentos individuais podem ser compreendidos somente como partes do processo que 
os abraça .” (ASH, 1995; KOFFKA, 1915/1938.) 
Os correlatos fisiológicos da percepção e da ação, não são excitações individuais 
mas eventos unificados. São, como Wertheimer o ressaltou, Gestalten. 
 
6 
 
A Psicologia da Gestalt originou-se como uma teoria da percepção que incluía as 
relações entre a forma do objeto e os processos do indivíduo que o recebe. Foi uma reação 
às abordagens atomistas que reduziam a percepção aos processos mentais ou conteúdos 
mentais. 
A Psicologia da Gestalt questionou a explicaçãoda percepção como uma soma de 
sensações. Duvidou também da concepção dos processos fisiológicos correspondentes 
como uma soma de atividades separadas. Para os gestaltistas, nem o processo ideológico, 
nem a percepção ou a excitação nervosa poderiam ser concebidas como uma simples 
soma das partes. O processo cerebral, assim como a percepção, deveria ser um todo 
unificado, não sendo mais uma integração de atividades isoladas de unidades distintas, 
assim como a percepção é tampouco uma composição de sensações separadas. 
Na opinião dos gestaltistas, a escola antiga foi incapaz de resolver o problema 
evidenciado entre “o caráter da percepção real e o do estímulo sensorial local”. A Psicologia 
da Gestalt tenta remontar à percepção ingênua, à experiência imediata “não contaminada 
pelas aprendizagens”. Ela insiste em encontrar aí não uma montagem de elementos, mas 
conjuntos unificados; árvores, nuvens e céu ao invés de um grande número de sensações 
massificadas. Ela convida quem quiser verificar esta afirmação a abrir seus olhos e ver o 
mundo que o cerca. 
O movimento gestáltico surgiu no período compreendido entre 1930 e 1940 e teve 
como expoentes máximos: Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Köhler (1887-1967) e 
Kurt Koffka (1886-1941). Posteriormente Kurt Goldstein (1878-1965) dedicou-se ao estudo 
das manifestações comportamentais com lesões cerebrais com base nas noções da 
Psicologia da Gestalt, com quem Frederick Perls (1893-1970), criador da Gestalt-terapia, 
estudou. 
Os gestaltistas contribuíram para o estudo da percepção e também para avanços na 
comunicação humana, na aprendizagem, envolvendo a psicologia social. Em primeiro 
lugar, a psicologia da forma tratou de investigar a experiência subjetiva, como a percepção. 
Esta era desprezada pelos behavioristas, tida por eles como imprópria para a investigação 
científica, pois suas teorias só podiam expressar-se em termos qualitativos, sem ajustar-se 
a padrões de precisão corretamente admitidos. 
 
 
7 
 
O enfoque teórico dos gestaltistas parecia negar um dos princípios básicos do 
método científico, o de que “os todos” podem ser entendidos mediante sua redução a um 
conjunto de partes. Os gestaltistas afirmam que o objeto primeiro se apresenta na sua 
totalidade (na sua forma, configuração) e só depois o indivíduo atentará para os detalhes. 
No estudo da percepção, em primeiro momento vemos o todo e depois selecionamos 
partes. 
O conjunto é mais do que a soma das partes: se uma nota de música que 
conhecemos é alterada, altera-se o todo. Para Wertheimer, o todo é maior do que a soma 
de suas partes e, para Köhler, o todo é um campo que determina suas partes. Para os 
psicólogos gestaltistas, toda a percepção é uma gestalt, um todo que não pode ser 
compreendido pelas partes. O todo é mais que a soma das partes, uma paisagem não é 
apenas relva, mas céu, árvores, nuvens e outros detalhes, ela é uma percepção única que 
depende das relações existentes, definidas umas com as outras. Se mudarmos as relações, 
a qualidade do todo mudará completamente. 
Não são as partes separadas de uma melodia que caracterizam a percepção de uma 
melodia. A percepção que temos de um objeto qualquer é um todo, tem caráter global - é 
uma gestalt. A relação estabelecida entre as partes do todo pode ter vários tipos, entre eles 
a relação figura e fundo. O pensamento gestaltista enfatizou características de figura e 
fundo, fluidez dos processos perceptuais e o indivíduo como participante ativo em suas 
percepções, ao invés de um recipiente passivo das qualidades da forma. Nesta teoria, 
inclui-se o receptor de acordo com os objetivos propostos nesta tese. Köhler e Koffka 
notaram que aparece frequentemente a relação de figura e fundo. Quando percebemos um 
objeto qualquer, esse se destaca e se identifica claramente. É o que chamamos de figura 
que emerge contra um fundo mais vago e difuso. Em uma sinfonia, a melodia é a figura e 
o acompanhamento é o fundo. Também a percepção que temos de um objeto depende 
desta relação: conforme fixamos a nossa atenção em algum aspecto do objeto, esta 
percepção muda constantemente. 
O mundo fenomenológico é organizado pelas necessidades do indivíduo. As 
necessidades energizam o comportamento e organizam-no nos níveis subjetivo-perceptivo 
e objetivo-motor. Então o indivíduo executa as atividades indispensáveis à satisfação das 
necessidades. 
 
8 
 
Goldstein (1961) ampliou as bases da gestalt ao criar a teoria organísmica. Seu 
objeto não era mais funções psicológicas (percepção, aprendizagem), mas o organismo 
como um todo nas suas funções e ações. Ele refere a noção figura-fundo ao processo 
motivacional e comportamental pelo qual o organismo seleciona aquilo de que necessita 
para sua sobrevivência. A teoria organísmica acredita que se pode aprender mais em um 
estudo compreensivo da pessoa do que em uma investigação exclusiva de uma função 
psicológica isolada e segmentada de muitos indivíduos. Interessa assegurar a existência 
do ser vivo, ajudando-o a viver o melhor possível de acordo com sua natureza. 
A teoria organísmica é uma extensão dos princípios gestaltistas do organismo 
humano. Qualquer elemento deve ser visto como parte integrante do organismo total: o 
todo é regido por leis que não se encontram nas partes. O todo é o seu próprio princípio 
regulador, portanto não existe uma lei que, regulando as partes, formaria ou explicaria o 
todo. Para Goldstein (1961), o organismo se organiza em função de dois princípios básicos: 
o de satisfazer suas necessidades por falta e o de crescer de uma maneira organizada. O 
homem possui um impulso dominante de auto regulação, pelo qual é permanentemente 
motivado por forças internas e externas. Ele desenvolveu esta teoria a partir de suas 
experiências na primeira guerra mundial, onde serviu como neuro-psiquiatra, quando ficou 
impressionado com a capacidade de recuperação do organismo humano de restabelecer 
funções perdidas ou prejudicadas. Goldstein explicou que este impulso para a saúde só 
pode ser explicado em função da luta constante do homem para realizar seus potenciais, 
impulso este que chamou de auto realização. 
Segundo Perls (1981), a natureza não é perdulária. Ela não criaria emoções apenas 
para serem descarregadas. A natureza cria emoções como um meio de relacionamento, 
pois somos feitos para enfrentar o mundo em diferentes intensidades. Somos uma soma 
viva de processos e funções. Essas funções estão sempre relacionadas com algo no 
mundo. Não podemos olhar sem ter algo para olhar, não podemos respirar sem ar, não 
podemos viver sem ser parte da sociedade, portanto nenhum organismo é capaz de 
funcionar isoladamente. É impressionante a lista de fenômenos perceptuais que estes 
psicólogos construíram para elucidar o estudo da percepção. Descrevem-se abaixo alguns 
exemplos deste estudo, como agrupamento e organização-fundo. Serão descritas a seguir 
as leis da gestalt: 
 Unidade: um único elemento se encerra em si mesmo, ou como parte de um todo. 
 
9 
 
 Segregação: capacidade perceptiva de separar, identificar ou destacar unidades 
formais ou em partes de um todo. 
 Unificação: igualdade ou semelhança dos estímulos produzidos pelo campo visual 
do objeto. Harmonia, equilíbrio, coerência da linguagem ou estilo formal das partes 
ou do todo, presentes no objeto ou composição. 
 Fechamento: as forças de organização das formas dirigem-se espontaneamente 
para uma ordem especial, que tende para a formação de unidades em todos 
fechados. 
 Continuidade: a impressão visual de como as partes formam um todo coerente, sem 
interrupções na sua trajetória ou na sua fluidez visual. 
 Proximidade: os estímulos mais próximos entre si (seja pela forma, cor, tamanho, 
textura, brilho, peso, direção) tendem a serem agrupados e a constituírem unidades. 
 Semelhança: a igualdade de forma e cor desperta a tendência de construir 
unidades,isto é, de estabelecer agrupamentos de partes semelhantes. 
 Pregnância da forma: quanto melhor for a organização visual da forma do objeto, 
em termos de facilidade de compreensão e rapidez de leitura, maior será o seu grau 
de pregnância. 
A forma (gestalt) pode ser definida como a figura ou a imagem visível do conteúdo. 
Ela nos reporta para a natureza da aparência externa do objeto. Tudo o que se vê possui 
forma. Os gestaltistas venceram os behavioristas em sua controvérsia a respeito da 
natureza da aprendizagem, do pensamento e da psicologia social, ocupando um lugar 
seguro na história da psicologia. Quando os gestaltistas estabeleceram os conceitos de 
meio geográfico – o meio tal como a ciência o descreve – e meio comportamental – o meio 
tal como o indivíduo o percebe; quando disseram que as estruturas (gestalten) neurológicas 
são iguais às psicológicas ou ainda “o que está dentro está fora” – princípio isomórfico – ; 
quando através do princípio da contemporaneidade, Kurt Lewin (1965) disse que o presente 
modifica o passado e obteve-se uma visão global e unitária dos processos psicológicos 
humanos sem apriorismos casualistas, deterministas e reducionistas: atingiu assim a 
essência humana, sem atribuições valorativas. 
Não se pode esquecer a importante contribuição de Kurt Lewin (1890-1947) para a 
Psicologia da Gestalt. Ele elaborou a teoria da personalidade com base na compreensão 
gestáltica da totalidade significativa, em que o comportamento do indivíduo é resultante da 
 
10 
 
configuração de elementos internos num “espaço vital”, que é a totalidade de experiência 
vivencial do indivíduo num dado momento, ou seja, de todo o conjunto de experiências 
vividas num dado momento, de acordo com a percepção/interpretação do indivíduo. Ele 
trabalhou também com a teoria de campo da psicologia social. Por esta razão, será feito 
um breve relato desta teoria que contribuiu de forma significativa para a Gestalt-terapia. 
Sua principal contribuição foi a introdução na psicologia de um conceito da física: “a Teoria 
de Campo”. Esta teoria sustenta que o comportamento (do indivíduo ou de qualquer objeto) 
é produto da interação de forças que operam num determinado campo em dado momento. 
Quaisquer que possam ser suas atitudes, papéis e decisões, eles serão sensíveis ao campo 
de força que os cercam. Kurt Lewin nasceu na Alemanha. Doutorou-se em psicologia em 
1914 e especializou-se também nas áreas de matemática e física. Foi ele quem extrapolou 
os princípios da teoria da gestalt para uma teoria geral do campo psíquico, estudando a 
interdependência entre a pessoa e o seu meio social. Ao longo de seus trinta anos de 
atividade profissional, Lewin dedicou-se sistematicamente à área da motivação humana. 
As suas pesquisas enfatizaram o estudo do comportamento humano em seu contato físico 
e social. 
O comportamento é uma função do campo do qual ele é parte. Ele não depende 
nem do passado nem do futuro, mas do campo presente. Este campo presente tem 
uma determinada dimensão no tempo, inclui o passado psicológico, o presente 
psicológico e o futuro psicológico, que constituem uma das dimensões do espaço 
de vida, existindo num determinado momento. (Lewin, 1965. p.32) 
As pessoas e os eventos existem apenas como partes de um campo, cujo significado 
é alcançado somente pelas relações entre si. Só os fatores presentes ao campo têm 
influência no campo. Na abordagem de campo da Gestalt-terapia tudo é visto como vir-a-
ser, movendo-se - nada é estático. Para Lewin (1965, p.60), “O campo psicológico que 
existe num dado momento contém também uma referência à como aquele indivíduo vê seu 
futuro e passado. 
A abordagem de campo gestáltica é fenomenológica. Ela estuda o campo conforme 
é experienciado por uma pessoa num dado momento. Todo fenômeno é considerado 
legítimo e adequado para investigação; descrever, presumir ou explicar são usados para 
obter insight, da estrutura básica do campo. O campo é a pessoa no seu espaço de vida. 
Mas o espaço de vida não deve ser confundido com o meio geográfico, do estímulo físico. 
 
11 
 
Os processos de percepção dependem parcialmente do estado inteiro do campo 
psicológico, isto é, sua motivação, sua estrutura cognitiva, sua maneira de perceber. Assim, 
a percepção é controlada por variáveis externas e organísmicas. Os recursos do campo 
emprestam suas forças ao interesse, brilho e potência da figura dominante. Não tem sentido 
tentar compreender qualquer comportamento psicológico fora de seu contexto 
sociocultural, biológico e físico. 
A propriedade essencial de um campo é seu aspecto dinâmico. Num campo 
dinâmico, existe interação entre todas as partes. O estado de qualquer parte desse campo 
depende de todas as outras, pois num campo de energia todas as partes se inter-
relacionam. Quando olho um objeto ou uma pessoa, me relaciono diretamente com ela. 
Os resultados dessa relação pessoal com o objeto ou pessoa não serão apenas as 
características dele, mas as relações que esse objeto ou essa pessoa, estabelecem com o 
meio ambiente. Ou seja, a realidade é sempre relacional e é assim que precisa ser 
compreendida. Uma contribuição da Gestalt-terapia é sua aplicação de insights da 
Psicologia da Gestalt para a awareness de processos corporais. 
Por holismo (concepção de campo), Perls referia-se ao ser total, maior do que a 
soma das partes, a unidade do organismo humano e a unidade do campo-
organismo-ambiente total-inteiro. Ele considera a Gestalt-terapia como uma 
correção do erro da psicanálise de tratar os eventos psicológicos como fator isolado, 
separados do organismo e por basear sua teoria em associações e não holismo. 
Isso também diferencia a Gestalt-terapia da maioria das terapias comportamentais. 
(Yontef, 1998; p.104) 
O comportamento tem lugar num meio comportamental que o regula. O meio 
comportamental depende de dois grupos de condições, um inerente ao meio geográfico, 
outro ao organismo. O campo e o comportamento de um corpo são correlativos. 
Como o campo determina o comportamento dos corpos, esse comportamento pode 
ser usado como indicador das propriedades do campo. O comportamento do corpo significa 
não só o seu movimento em relação ao campo, mas refere-se igualmente às mudanças 
que o corpo sofrerá. De acordo com Koffka (1935, p.54), “quando descrevemos 
adequadamente nosso meio comportamental, temos de indicar não só os objetos que estão 
nele, mas também as propriedades dinâmicas desses objetos.” O campo psicológico 
contém uma referência de como aquele indivíduo vê seu futuro e seu passado. 
O indivíduo não vê somente sua situação presente, pois tem expectativas, desejos, 
medos, devaneios em relação ao seu futuro. Sua maneira de ver seu próprio passado e o 
 
12 
 
resto do mundo físico e social é individualizada e constitui o seu espaço de vida. Um dos 
aspectos mais alardeados e menos compreendidos da Gestalt-terapia é sua ênfase no 
“agora”. 
A Teoria de Campo Fenomenológica localiza a experiência do percebedor no tempo 
e no espaço “aqui-e-agora”. Isso significa que o processo de ter consciência (aware) 
sempre acontece no “aqui-e-agora”, embora o objeto da awareness possa estar no “ali” ou 
no “então”. “De acordo com a teoria de campo, qualquer tipo de comportamento depende 
do campo total, incluindo a perspectiva de tempo naquele momento, mas não, também, de 
qualquer campo passado ou futuro e suas perspectivas de tempo.” (Lewin, 1965. p. 61) 
A Teoria de Campo dá ênfase ao fato de que qualquer acontecimento é resultante 
de uma reunião de fatores. O reconhecimento da necessidade de uma representação dessa 
multiplicidade de fatores interdependentes é um passo em direção à Teoria de Campo. 
A Teoria de Campo se caracteriza melhor como o método de analisar relações 
casuais e de criar construções científicas. Há muitos conceitos dinâmicos na Gestalt-terapia 
que podem ser adequadamente entendidos em termos deTeoria de Campo. Alguns deles 
são: campo organismo/ambiente; fronteira; construção fenomenológica de uma percepção; 
figura e fundo; e o próprio conceito de self. Para Yontef (1998), a Teoria de Campo capacita 
a Gestalt-terapia a manter o foco na pessoa como agente ativo, tendo em mente as 
complexidades das relações do campo. 
O espaço vital, (entendido como um todo dinâmico, concreto e delimitado) se 
caracteriza por construir uma rede de relações entre partes. A análise destas relações 
possibilita uma descrição explicativa dos eventos que ocorrem no espaço vital em questão, 
uma explicação sistêmica que se preocupa em descrever como um evento afeta e modifica 
o todo. A Teoria de Campo é o tipo de pensamento científico que melhor funciona com o 
resto do sistema teórico da Gestalt-terapia. 
A Fenomenologia, o Existencialismo, a Dialógica e a atitude flexível com relação às 
opções clínicas da Gesta1t-terapia são compatíveis com a Teoria de Campo. Além disso, 
a Teoria de Campo é a abordagem teórica que melhor pode incluir as temáticas intelectuais, 
sociais, culturais, políticas e sociológicas tratadas pela teoria da Gestalt-terapia. Para Lewin 
(1965), a Teoria de Campo não é um sistema de Psicologia aplicável a um contexto 
específico, mas é um conjunto de conceitos por meio do qual a realidade psicológica pode 
 
13 
 
ser representada e, uma vez representada, lida e trabalhada. Trata-se de um modelo 
psicológico de ver e analisar a realidade. 
O conjunto de informações e postulados que forma a Teoria de Campo aponta para 
um novo paradigma para entender o ser humano de maneira integradora. Na concepção 
lewiniana, a pessoa não é vítima de si mesma, não é determinada a priori pelos seus 
instintos (psicanálise) ou por condicionamentos inevitáveis (behaviorismo), mas é 
responsável pelo seu destino, pela sua liberdade e passa a correr o risco de existir por 
conta própria (fenomenologia existencial). 
O comportamento é algo acessível, observável, percebido tal qual é, explicável sem 
metáforas, a partir do sujeito e da realidade na qual ocorre. Como a teoria e a prática da 
Gestalt-terapia estão construídas sobre a importância de adquirir consciência do processo 
de awareness, a maneira como se pensa passa a desempenhar um papel importante. Ela 
é trazida em terapia, e tratada em teorizações e ensinamentos. Perls, Hefferline e Goodman 
(1997) comentam a necessidade de interação entre a maneira de pensar e a de estar 
inserido no mundo. Para estes autores, o que alguém pensa a respeito do mundo (incluindo 
sua orientação filosófica) em parte é uma função do caráter e vice-versa: o caráter é em 
parte uma função da nossa maneira de pensar. 
A Teoria de campo seria o instrumento que permite analisar o processo do 
pensamento. Essa teoria refere-se ao tempo, espaço e awareness fenomenológicos do 
observador. Ela enfatiza a totalidade das forças que formam uma totalidade integrada e 
determina as partes do campo. Na abordagem de campo da Gestalt-terapia, tudo é visto 
como em termos de vir-a-ser: nada é estático. 
A realidade não é nem objetiva, nem arbitrária, mas é conjunta e 
contemporaneamente configurada pelo “que existe ali” e pelo organismo percebedor. Pode-
se compreender a gestalt como decorrente do momento existencial em que surgiu e das 
influências que recebeu. 
A pergunta pelo comunicador mais consciente do seu papel de receptor do 
imaginário cultural e ao mesmo tempo fonte de informações pode convidar os indivíduos à 
reflexão para que desenvolvam suas potencialidades, escolhendo e agindo, ou apenas 
contribui para a adaptabilidade do homem ao meio, sem qualquer questionamento. 
 
14 
 
4 A GESTALT NO BRASIL 
 
Fonte: www.psicologoflorianopolis.psc.br 
Ao aprofundar sobre a história da Gestalt, foi observado que inúmeros estudos 
apresentaram grande diversidade de ideias para se pensar esta abordagem. Notou-se 
então que cada perspectiva sobre o assunto aborda um viés particular e perceptivo 
diferente. De acordo com (RIBEIRO, 2007) esta prática em estudar a História da Gestalt-
Terapia foi apresentada em Congressos, precisamente em 1991, Brasília, onde a pedido 
dos membros, a estudiosa Jean Clark Juliano, de São Paulo, contou com o 
comprometimento e respeito aos assuntos científicos que caracterizam a história da 
Gestalt-Terapia, segundo suas opiniões. 
A autora ressaltou neste dia que cada sujeito conta uma história de acordo com a 
sua perspectiva. Em suma, cada um conta a história que existe como o resultado do 
encontro, do contato, da relação entre outros fatos pesquisados, com as peculiaridades e 
as crenças do pesquisador. Afirma então que: ''Ninguém conta uma história ou faz qualquer 
coisa de maneira neutra'‘. (RIBEIRO,2007, p.1). 
A Gestalt terapia foi iniciada no Brasil por volta da década de 70, referenciando 
estudiosos como Perls, Hefferline e Goodman (1997), em uma palestra pronunciada por 
 
15 
 
Therése Tellegene. A intenção desta palestra era que os Gestalt-Terapeutas estrangeiros 
contribuíssem para formação do primeiro grupo de terapeutas nesta abordagem no Brasil. 
Segundo RIBEIRO (2007), ainda neste período a Summus Editorial lançou os livros 
Gestalt-terapia Explicada (inspiradas em transcrições de workshops realizados por Fritz 
Perls) e Tornar-se Presente, de John Stevens. Já para Aguiar, a concepção de homem 
nesta abordagem, aqui no Brasil ainda tem uma característica fundamental que é a visão 
holística, “ é a visão integral e não fragmentada do homem e da realidade que nos cerca” 
(AGUIAR, p. 41, 2005). 
Neste contexto muitos estudiosos assumiram papéis de grande destaque na 
contemporaneidade como: Hycner (1997), Jacobs (1997), Pimentel (2003), Ribeiro(2006), 
Zinker (2007) e Aguiar (2014) que explicam desde os conceitos básicos em Gestalt-Terapia, 
processos grupais, processos terapêuticos, criativos e psicodiagnóstico. 
5 A ABORDAGEM TERAPÊUTICA 
 
Fonte: www.portaleducacao.com.br 
Uma Gestalt é produto de uma organização e esta organização é o processo que 
leva a uma Gestalt. Com isso é possível refletir que a Gestalt-terapia é integrar todos esses 
pedaços e partes rejeitadas e alienadas do Self, como a personalidade, e fazer da pessoa 
um todo novamente. 
 
16 
 
Perls (1951) foi fundador da abordagem Gestáltica e os conceitos que desenvolveu 
assumiram papéis de grande originalidade e força. Suas obras estabeleceram linhas de 
teoria e proposta clínica. 
O estudioso trouxe uma proposta de psicoterapia que se fundamenta em uma visão 
holística sobre o homem e a sociedade, constituindo-se em uma teoria acerca de suas 
relações. Segundo Alvin (2007), Perls usou como base a psicanálise freudiana, como 
primeira formação, e a nova abordagem foi criada a partir de teorias psicológicas quem vêm 
sendo estudadas ao longo dos anos, no âmbito da abordagem, com o objetivo de melhor 
fundamentar suas origens históricas e arcabouço teórico. De acordo com Alvin( 2007,p.2): 
''Ribeiro (1985), foi o primeiro autor brasileiro a estruturar as teorias e filosofias de 
embasamento da Gestalt-Terapia: Psicologia da Gestalt, Teoria de Campo, Teoria 
Organísmica, Teoria Holística, Humanismo, Existencialismo e Fenomenologia, em 
um trabalho que desenha e discute os elementos teóricos que sustentam a teoria 
da Gestalt-Terapia. '' 
Para que a teoria da Gestalt-Terapia se sustente, esta abordagem conta com uma 
ferramenta primordial, que é o diálogo. O diálogo é considerado o evento relacional em que 
o sujeito se manifesta, sendo uma interação mais específica entre pessoas, onde existe um 
desejo genuíno de encontrar o outro. De acordo com Hycner (1995), esse diálogo não se 
restringe somente ao verbal, e a forma como acontece não é o principal, mas sim a abertura 
e intenção de um encontro genuíno e mútuo. É a partir do diálogo que se pode perceber 
melhor o indivíduo e se constrói o terapeuta. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
176 COMO SE CONSTRÓI A GESTALT NA TERAPIA? 
 
Fonte: www.psicologosberrini.com.br 
De acordo com Marcolli (1977), tudo começa com um campo, este é o conceito 
básico desta teoria. O campo para o sujeito seria o espaço por onde ele transita, o lugar 
que ele estrutura seu ego e o mundo subjetivo. Para entender melhor é possível fazer uma 
analogia. 
Esta construção de campo seria como uma grande estrada onde nela se percebe 
duas pessoas vagando em lados opostos. As duas pessoas estão distantes, mas vão se 
aproximando com o tempo. Até que um dia se encontram. As duas pessoas param, e uma 
fica de frente para a outra. 
Depois da distância que deturpava a visão de ambas, se mostra a figura do terapeuta 
e com ele, as suas técnicas. Diante da distância que deturpava a visão de ambas, se mostra 
o cliente, com um enorme conteúdo de informações sobre a sua vida. Os dois se olham e 
se analisam como algo novo e estranho. O cliente olha para o terapeuta de cima a baixo e 
aproxima a sua mão ao rosto. 
O terapeuta faz a mesma coisa, e aproxima a sua mão ao rosto também. Quando os 
dois percebem que estão fazendo o mesmo gesto acabam se identificando. Os dois 
quebram o silêncio e então riem de si mesmos. Quando se estabelece um clima onde os 
dois se sentem à vontade acontece o encontro, que é mais uma concepção da Gestalt. 
 
18 
 
Esta pequena metáfora ajuda a compreender um pouco sobre um universo das 
grandes possibilidades, em que o terapeuta se permite viver e demonstrar as suas 
emoções. Já para o paciente, esta ação pode se construir como fruto da empatia e assim 
favorece o relacionamento de ambos no tratamento Psicológico. Vale ressaltar que esta 
relação de troca no processo terapêutico deve ser respeitada de acordo com os princípios 
éticos sobre a conduta do Psicólogo. 
 
 
Fonte: www.abc.es 
7 FIGURA E FUNDO 
 
 
Fonte: pt.slideshare.net 
 
19 
 
Wertheimer, Koftka e Kohlfer (1912) permitem ao Gestalt-Terapeuta compreender 
como figura, as necessidades que mobilizam o sujeito para ação, jamais esquecendo que 
estas são partes de um fundo e que figura-fundo unificados formam um todo, que se 
assemelha ao mundo existencial do sujeito. Para contextualizar é possível imaginar uma 
pessoa caminhando por uma longa estrada durante várias horas. Depois de um certo 
desgaste, o sujeito não consegue mais prestar atenção na paisagem em sua volta pois ao 
sentir-se cansado, percebe as batidas ofegantes do seu coração e acaba parando para 
respirar. Neste momento a figura é o seu cansaço, as batidas rápidas de seu coração e o 
fundo é a estrada, o sol, a paisagem, o caminho. Do todo, uma parte emerge e vira figura, 
ficando o restante indiferenciado ou em um fundo. 
8 O INSIGHT 
 
Fonte: culturaanalitica.com.br 
A Gestalt-Terapia também trabalha com o Insight que significa ter a resposta 
repentina para um determinado problema. Seria como uma luz que acendesse na cabeça 
e assim seria possível obter uma saída para solucionar uma determinada questão. 
Thorndike (1898) havia publicado nos Estados Unidos, um trabalho realizado 
principalmente com gatos e cães, no qual demonstrava a longa aprendizagem para abrir 
uma porta, atrás da qual se encontravam alimentos. 
 
20 
 
A tradução teórica dessa aprendizagem era a união associativa entre impressões 
sensoriais e impulsos motores. A investigação de Thorndike representava o, entretanto, os 
experimentos mais interessantes foram aqueles nos quais os chimpanzés se encontravam 
numa situação no qual o alimento, a banana, era posto fora do seu alcance. 
Procuravam diversas soluções e repentinamente o desfecho chegava. É o “Einsicht” 
ou sua tradução inglesa insight. Essa palavra inglesa foi importada por diversas línguas, 
inclusive por nosso português. O critério de insight é o aparecimento de uma solução 
completa com relação à estrutura do campo, como disse Köhler (1917/1927). O chimpanzé, 
após o insight, realiza genuinamente o caminho que leva à solução do problema, inclusive 
utilizando utensílios para a nova função ou até inventando-os. Para Ash (1995) e Köhler 
(1917/1927) o insight era uma solução momentânea. 
Os psicólogos da Gestalt não são nativistas. Entretanto, a solução de um problema 
requisita exclusivamente uma reorganização do campo para o sujeito. O que importa a 
esses psicólogos são os fatos que emergem no presente. Mas o termo foi fielmente utilizado 
por terapeutas Gestaltistas em suas análises e um dos mais importantes termos utilizados 
nas psicoterapias. 
Deste modo, quando um cliente consegue superar algum problema dizemos que este 
“Fechou Gestalt’’ em tradução para a elaboração de alguma questão que bloqueava o 
contato do cliente de uma maneira mais saudável com o mundo externo. 
9 APLICANDO A GESTALT-TERAPIA 
 
Fonte: bemblogado.com.br 
 
21 
 
Como terapia, a Gestalt permite ao terapeuta lançar mão de alguns conceitos e 
técnicas no processo de ajuda ao cliente. Estando a Gestalt entrada no conceito de contato, 
fala-se muito em “fechar gestalt”, quando o processo foi adiante e não ficou nada em aberto. 
Quando fica, quando as gestalts não se fecham, é porque ocorreu um bloqueio em uma 
das fases do ciclo, como postula Ponciano (1997). 
Dentre os bloqueios de contato, pode-se destacar: 
 Fixação, o processo pelo qual o sujeito se apega excessivamente a pessoas, ideias 
ou coisas, e temendo surpresas diante do novo e da realidade, sente-se incapaz de 
explorar situações que flutuam rapidamente, permanecendo fixado em coisas e 
emoções; 
 Medo de correr riscos; introjeção, que é o processo através do qual o sujeito 
obedece e aceita opiniões arbitrárias, normas e valores que pertencem aos outros, 
engolindo coisas dos outros sem querer, e sem conseguir defender seus direitos por 
medo da sua própria agressividade e da dos outros – gosta de ser mimado; 
 Projeção, processo pelo qual o sujeito possui dificuldade de identificar o que é seu, 
atribuindo ao outro, ao mau tempo, coisas de que não gosta em si próprio, bem como 
a responsabilidade pelos seus fracassos. 
 Desconfia de todo mundo como prováveis inimigos – gosta que os outros façam 
as coisas no seu lugar. 
Em contraposição aos bloqueios de contato, temos os fatores de cura, que 
estão sempre atrelados aos primeiros, destacando-se: 
 Fluidez, processo pelo qual o sujeito se movimenta, localiza-se no tempo e no 
espaço, deixando posições antigas e renovando-se, mais solto e espontâneo e com 
vontade de criar e recriar a própria vida; 
 Consciência: processo pelo qual se dá conta de si mesmo de maneira mais clara e 
reflexiva, está mais atento ao que ocorre à sua volta, percebe-se relacionando com 
mais reciprocidade com as pessoas e coisas; e mobilização, processo pelo qual 
sente necessidade de se mudar, de exigir seus direitos, de separar suas coisas das 
dos outros, de sair da rotina, de expressar seus sentimentos exatamente como sente 
e de não ter medo de ser diferente. 
 
22 
 
Ponciano (1997) postula que a ideia do ciclo como processo terapêutico passa pela 
compreensão de que o processo da saúde ou da cura possui uma lógica, uma sequência 
na qual uma coisa depende da outra e onde tudo afeta tudo. 
Entretanto, nenhuma pessoa está em um único ponto no Ciclo do Contato, e sim em 
vários, seja na direção da cura, seja na direção dos bloqueios, mesmo porque cada ponto 
do ciclo contém todos os outros. Por outro lado, a pessoa geralmente está mais em um 
ponto do que em outro, por isso se pode dizer que alguém é mais tipicamente um introjetor, 
um confluente e assim por diante. Em relação às técnicas utilizadas pela Gestalt, Ginger e 
Ginger (1995) colocam que elas só têm sentido em seu contexto global, isto é, integradas 
em um método coerente e praticadas de acordo com uma filosofia geral. 
Assim, o essencial da Gestalt não está em suas técnicas, e sim no espírito geral do 
qual ela procede e que as justifica. Gingere Ginger (1995) citam também algumas das 
técnicas que a Gestalt usa, como, por exemplo, o exercício de awareness, que se trata de 
estar atento ao fluxo constante das sensações físicas (exteroceptivas e proprioceptivas), 
dos sentimentos, de tomar consciência da sucessão ininterrupta de “figuras” que aparecem 
no primeiro plano, sobre o “fundo” formado pelo conjunto da situação que se vive e do 
sujeito que se é, no plano corporal, emocional, imaginário, racional ou comportamental. 
Tem se, também, o hot seat (cadeira quente), uma das técnicas mais utilizadas pelos 
gestalt-terapeutas. Coloca-se o cliente diante de uma cadeira vazia, na qual, conforme sua 
vontade, ele pode projetar um personagem imaginário com o qual deseja se relacionar. 
Esta é uma oportunidade do cliente expressar o que está preso em sua garganta. Depois, 
ele se coloca no lugar desse personagem imaginário e elabora uma resposta para si 
mesmo. Geralmente, obtém uma nova dimensão para a sua angústia. 
Uma outra técnica, o monodrama se trata de uma variação do psicodrama, em que 
o próprio protagonista desempenha, de maneira alternada, os diferentes papéis da situação 
por ele evocada (ele mesmo, a esposa, os filhos, o chefe). Troca sempre de lugar quando 
for mudar de papel para que a situação fique clara. 
Essa técnica facilita a encenação do próprio sentimento, à medida que este emerge 
da situação, sem interferência eventual na problemática pessoal de um parceiro anterior, 
que pode não estar na mesma sintonia, como ocorre no psicodrama. Por fim, a 
amplificação, que torna mais explícito o que está implícito, projetando na cena exterior 
aquilo o que acontece na cena interior. Permite, assim, que todos adquiram mais 
 
23 
 
consciência do modo como se comportam aqui e agora, na “fronteira do contato” com o 
meio. Além das citadas, existem diversas outras técnicas e maneiras de se trabalhar em 
Gestalt-terapia. Isso dependerá do estilo pessoal de cada terapeuta, de seu modo de ser, 
uma vez que ser gestalt-terapeuta está intimamente associado à própria vivência do 
terapeuta como humanista, ao modo de perceber o mundo e a si mesmo. 
No entender de Erthal (2004), o principal instrumento de trabalho do psicólogo é ele 
próprio. Ela defende uma compreensão fenomenológica do cliente, apoiada na descrição 
que ele traz para dentro do consultório, na vivência dele de sua própria situação. Cabe ao 
terapeuta a função de receptor sem valores morais (ou seja, neutralidade absoluta), 
considerando o contexto, a díade e o sentido certo da comunicação desse cliente. 
A interação profissional-cliente nunca pode ser considerada unilateral, uma vez que 
existe um impacto que cada parte da díade estabelece na relação. É pela fala e pela 
linguagem que as pessoas comunicam seus sentimentos, pensamentos e intenções. Mas, 
apesar dessa função social, há ainda a função egocêntrica, na qual não existe preocupação 
em saber com que se está falando. Trata-se de um falar para si mesmo, o que expressa 
uma forma alienada e onipotente. 
Toda linguagem é uma forma de comportamento interpessoal. A personalidade do 
falante está incluída no comunicado pela própria forma sutil ou discreta como se expressa. 
Não se pode não comunicar (no sentido de que não é possível conceber a não-expressão), 
pois o silêncio, a forte introspecção, já é em si uma comunicação. 
O trabalho do terapeuta é, praticamente, seguir as falas de seu cliente, mescladas 
pela criteriosa escolha de cada intervenção feita (ERTHAL, 2004). Erthal (2004) articula dez 
tipos de intervenções para que o terapeuta baseie cada vivência, cada momento entre ele 
e o cliente, e assim conduza a sessão sempre se apoiando na verdade do seu cliente, 
naquilo o que ele está, de uma forma ou de outra, trazendo para o âmbito do consultório e 
para a realidade da terapia. 
Dentre as intervenções, pode-se destacar: a refletora de vivências emocionais 
(interpretação vivencial), na qual o terapeuta transcende o conteúdo verbal daquilo que é 
expresso pelo cliente a fim de obter uma compreensão do sentimento contido nas 
formulações e assim expressar esse sentimento de maneira correta; a inquisitiva, talvez 
uma das mais usadas, na qual a intenção do terapeuta é obter dados maiores sobre um 
 
24 
 
determinado assunto, estimulando o cliente a continuar falando, com especificação do foco 
de atenção. 
As perguntas podem facilitar o campo perceptual do cliente, transmitir o interesse do 
terapeuta em pesquisar com mais profundidade o assunto, no entanto é preciso cuidado 
para não usar em demasia e banalizar a intervenção. 
O psicólogo iniciante geralmente fica ansioso e conduz a entrevista com um 
bombardeamento de perguntas que “facilitam” a sua atuação, bloqueando o fluxo 
espontâneo da comunicação do cliente, que por sua vez termina se acostumando a ser 
indagado e apenas espera pela próxima pergunta; e o confronto, cujo objetivo é mostrar as 
contradições que o cliente apresenta, a fim de possibilitar maneiras novas de se perceber. 
As respostas de conteúdo não-verbal facilitam esse confronto ao apontar para as 
discrepâncias, como, por exemplo, o cliente relatar algum acontecimento triste só que com 
uma expressão de felicidade. Isso demonstra uma incongruência que pode ser a indicação 
de alguma coisa com o poder de acarretar efeitos de significativa mudança no jeito em que 
a pessoa vê a si mesma e sente a si mesma na frente do outro. É fácil, por fim, obter a 
percepção de que a Gestal-terapia se apoia na relação terapeuta-cliente, dentro de uma 
visão holística e, sobretudo, humanista, para alcançar o resultado a que se propõe – um 
resgate da harmonia e do bom funcionamento do organismo, em todos os aspectos (físicos, 
psicológicos) que o circundam. 
Segundo Cardella (1994), para que a relação tenha realmente natureza terapêutica, 
deve ocorrer o fenômeno do amor, concebido pela autora como um estado e um modo de 
ser caracterizados pela integração e diferenciação de um indivíduo, que lhe permite ver, 
aceitar e encontrar o outro como único, singular e semelhante na condição de humano. O 
amor é a polaridade oposta do egocentrismo e do sofrimento emocional, o amor é de 
natureza incondicional, o que implica a capacidade de amar o diferente e não apenas o 
semelhante, e, quando recíproco na relação, proporciona aos indivíduos um sentimento 
mútuo (do latim muto, que significa mudar) de plenitude. Além de tornar possível o 
verdadeiro Encontro, proporciona também um sentimento de transcendência de si mesmo 
e de harmonia com a humanidade e a existência. Envolve fatores como maturidade 
emocional, responsabilidade e posse da própria vida, auto sustentação e independência 
em relação aos outros. 
 
25 
 
Nas palavras românticas do grande poeta Dante Alighieri (1265-1321): ‘O amor me 
move: só por ele eu falo’. Refletindo sobre o “amor terapêutico”, Cardella (1994) acredita 
que na relação terapeuta-cliente o amor pode acontecer e se manifesta sob características 
distintas das demais formas de amar. 
As atitudes amorosas do terapeuta facilitam o desenvolvimento do potencial de amor 
do cliente, devendo ser a base para o trabalho psicoterapêutico, juntamente com 
conhecimentos teóricos, filosóficos e técnicos, sem os quais a relação terapêutica seria, 
obviamente, descaracterizada. O trabalho terapêutico é, em si, uma prática de amor, pela 
qual o terapeuta cria condições para que o cliente possa ouvir, ver, compreender, aceitar e 
amar a si mesmo. 
Parafraseando seu próprio conceito de amor, Cardella (1994, p. 59) define: “O amor 
terapêutico manifesta-se através de um estado e um modo de ser caracterizados pela 
integração e diferenciação da personalidade que nos permite ver, aceitar e encontrar o 
outro (cliente) como um ser único, diferenciado, e semelhante na sua condição de humano”. 
 
 
Fonte: www.comportese.com 
 
26 
 
10 GESTALT-TERAPIA E O SELF COMO CONCEITOOPERACIONAL 
FENOMENOLÓGICO 
 
Fonte: www.psicologoroberte.com.br 
A Gestalt-terapia é uma abordagem que tem por objetivo a arte do contato. É através 
do contato, na promoção de um encontro mais rico e criativo, que o mal-estar vivido pelo 
cliente pode ser ampliado e transformado em novas formas de existência. A terapia, dessa 
forma, é um espaço para o exercício do contato, um exercício de troca na vivência da 
relação entre terapeuta e cliente a fim de se expandir a awareness e desenrijecer processos 
bloqueados do sistema self. Nas palavras do autor citado acima: “A Gestalt pode ser 
definida como uma terapia do contato em ação (...)” (pag. 25). 
Os principais autores da Gestalt-terapia, Perls, Hefferline e Goodman (1951), partem 
do princípio de que qualquer investigação psicológica, e de todo o campo do saber das 
ciências, deve-se considerar o organismo e seu ambiente. A Gestalt-terapia tem por objeto 
de estudo, e por finalidade clínica, o limite, a interação entre organismo e ambiente, 
entendendo tal fronteira enquanto campo de presença, e identificando os comportamentos 
humanos como função dessa interação. Nas palavras dos autores: 
Denominemos esse interagir entre organismo e ambiente em qualquer função o 
‘campo organismo/ambiente’, e lembremo-nos de que qualquer que seja a maneira 
 
27 
 
pela qual teorizamos sobre impulsos, instintos etc., estamos nos referindo sempre 
a esse campo interacional e não a um animal isolado (1951, p. 42-43). 
Para autores citados, organismo e ambiente não são substâncias distintas, 
antagônicas em sua natureza, como no pensamento Cartesiano, pelo contrário, fazem parte 
do todo organismo/ambiente. O termo fronteira passa a ideia de um limite “entre”, porém, 
do contrário, Perls, Hefferline e Goodman (1951) preferem pensar em um limite “de”. A 
fronteira-de-contato, onde a experiência ocorre, não separa o organismo de seu ambiente, 
mas sim o limita, o contém, o protege e o diferencia. O Contato é função dessa fronteira. 
A experiência, como escrevem Perls, Hefferline e Goodman (1951), é função, e se 
dá na fronteira entre organismo e ambiente, sendo, a realidade um todo organizado, uma 
Gestalt (com a obtenção de algum significado e a conclusão de alguma ação). Pode-se 
dizer, portanto, que o contato “é a realidade mais simples e primeira, sendo a percepção 
sensível derivada da experiência da fronteira, constituindo, esta, uma estrutura unificada” 
O contato, em outras palavras, como escreve Perls (1973), pode ser definido como 
awareness do campo ou resposta motora no campo; entendido como tipo de interação que 
se tem na fronteira num movimento de consciência (de) e ação (para). Esta interação inclui 
a awareness da novidade assimilável e o comportamento com relação a esta; que pode ser 
da ordem da assimilação, ou rejeição: “É na fronteira que os perigos são rejeitados, os 
obstáculos superados e o assimilável é selecionado e apropriado”. 
Contato pressupõe sempre o encontro com o diferente, sendo que um organismo 
vive em seu ambiente por manutenção da sua diferença e por meio da assimilação do 
ambiente a sua diferença (Polster, 1979). Fronteira de contato é o limite onde o organismo 
se diferencia do meio, se atualiza enquanto diferente, enquanto singularidade. Diferenciar-
se é obter uma relação onde a satisfação seja mútua, do organismo e do mundo: “O meio 
não cria o organismo, nem este cria o meio, cada um é o que é, com suas características, 
devido ao relacionamento com o outro e com o todo” 
O que é difuso, sempre o mesmo, ou indiferente não é um objeto do contato (como 
exemplo pode-se citar os órgãos internos em funcionamento saudável). O mundo ganha 
sentido quando os encontros viram contato, ou seja, na ocasião de mudança, do novo; 
quando um altera a natureza do outro. O organismo saudável goza de uma fronteira 
permeável, o que permite um bom contato na medida em que a fronteira se expande para 
o novo. 
 
28 
 
Todo contato é criativo e dinâmico. Como o organismo não é passivo do contato –
este é espontâneo –o organismo assimila o ambiente. O que é selecionado e assimilado é 
sempre novo, sendo que o organismo persiste pela assimilação do novo, pela mudança e 
crescimento. No processo de assimilação o organismo é sucessivamente modificado, assim 
como o ambiente. Este processo faz com que o indivíduo se encontre sempre em 
ajustamento. É pelo ajustamento criativo que a mudança e o crescimento se dão. 
No exercício clínico, como arte do encontro, do contato, toda vez que uma novidade 
é percebida no campo, toda vez que se tem um aumento da awareness na fronteira de 
contato, uma nova possibilidade é descoberta. Uma nova figura esta a disposição para o 
cliente exercer a sua liberdade, e a sua responsabilidade, na ação frente a este novo 
horizonte que emerge. Um bom contato, portanto, é aquele consonante com a formação de 
uma figura nítida, de uma gestalt clara, onde se tem awareness acompanhado do 
comportamento motor que se completa, que fecha o ciclo da assimilação levando ao 
consequente crescimento. Isto implica numa clínica que não carece de teorias do 
comportamento normal, “a própria figura fornece um critério autônomo da profundidade e 
realidade da experiência” 
O terapeuta tem por missão estimular o contato do cliente tendo a própria relação 
terapêutica como guia no aqui-e-agora. É por meio do contato que se promove awareness 
do campo e uma resposta condizente com o que o cliente quer, e com o que o aparece 
como horizonte de suas possibilidades existenciais. 
Segundo Perls, Hefferline e Goodman (1951), todo ato de awareness exige contato, 
no entanto, não significa que todo contato impliquei em awareness. Dessa forma, como 
escreve Yontef (1993), a awareness pode ser entendida como fixação da uma gestalten, 
como um contato pleno; como uma integração total do campo organismo/ambiente. Contato 
completo, integrado, no sentido de haver uma total percepção, da parte de quem percebe, 
de todos os elementos do campo organismo/ambiente. É a experiência de minha 
pessoalidade como fundo de tudo que acontece na fronteira, no campo de presença. 
Awareness, como escreve o casal Müller-Granzotto (2007a), é processo de 
orientação que se renova a cada instante. É uma unidade, uma fixação. Dá-se a partir de 
um sentir (entendido como espontaneidade), como abertura para a nossa “história 
impessoal”. É formação de gestalten, e acontece no aqui-e agora, no movimento de 
formação e dissolução de figuras, consonante com a necessidade genuinamente 
 
29 
 
emergente. Só existe awareness no contato, na percepção do campo organismo/ambiente 
(sempre no presente). 
A emergência de uma figura na fronteira de contato, e a decisão do organismo 
perante as escolhas que lhe são possíveis diante dessa figura correspondem ao ciclo de 
abertura e fechamento de Gestalt. Ciclo este que pode ser definido como as polarizações 
do self no encontro com o mundo. Uma necessidade emergente, algo que seja do foco do 
interesse do organismo, ao ser contatada, é uma gestalt aberta, que necessita de 
movimento para ser fechada. Contato como percepção (de) e movimento (para), traz 
consigo a ideia de abertura e fechamento de gestalt, de configurações inteiras, através dos 
processos envolvidos o ciclo contato, ou, em outras palavras, na dinâmica do 
funcionamento do self. 
O self pode ser considerado como o principal conceito da Gestalt-terapia. É em 
serviço do self, de suas dinâmicas e funções que o contato, o ajustamento criativo e a 
awareness são possíveis; sendo os fenômenos de empobrecimento do contato formas de 
inibições do sistema self (PHG, 1951). 
Dessa forma, toda a teoria da Gestalt-terapia, sua prática clínica, e seu próprio 
objetivo são orientados a respeito do sistema self, considerando suas funções e dinâmicas. 
Um bom terapeuta deve, dessa forma, ajudar o cliente, muitas vezes perdido em angústia, 
a organizar e tomar responsabilidadedas suas escolhas, em outras palavras, ajudar o 
cliente a completar o ciclo de contato proporcionando satisfação e crescimento ao self. Mas, 
para nosso melhor entendimento, o que é propriamente o self? 
A definição para o self encontrada na obra de Perls, Hefferline e Goodman (1951) é 
a de que o self é “o sistema complexo de contatos necessário ao ajustamento criativo” (p. 
179). 
Ao definir o self como um sistema de contatos que tem a função de contatar o 
presente, Perls Hefferline e Goodman (1951) não o entendem como uma entidade 
psicofísica, mas sim como um processo, como algo que se dá através de uma relação, 
como um acontecimento na fronteira de contato. O self, para estes autores, é uma dinâmica 
de trocas energéticas entre o organismo e o meio, de modo a permitir, por um lado, a 
conservação de algumas formas de organização anteriores (junto às quais me experimento 
como aquilo que permanece) e, por outro, a destruição de formas antigas e assimilação de 
formas novas (o que permite que me experimente como algo integrado ao ambiente). 
 
30 
 
O self pode ser compreendido, então, como o estado na fronteira de contato; fronteira 
esta que pertence tanto ao organismo quanto ao ambiente. Dessa forma, não se deve 
pensar o self como uma instituição fixada; ele existe onde quer que haja de fato uma 
interação na fronteira, e sempre que esta existir: “quando se aperta o polegar, o self existe 
no polegar” (PHG, 1951, p.179). Enquanto sistema de contatos o self não é uma 
regularidade de ações, mas um continuum que se modifica a cada instante. Ele a cada 
momento mobiliza, na forma de excitamento, um fundo (meu passado) que responde ao 
meu investimento em forma de figura, como potencialidade, como um horizonte de futuro. 
Na leitura de Perls, Hefferline e Goodman (1951) é claro a identificação do self como 
um processo de formação de figura (presente) e fundo (passado). Para estes autores, o 
passado não é visto como uma instância imutável, mas está, também, em jogo, em 
constante mudança, em constante renovação. Por conseguinte, numa situação de 
awareness essa “preteriedade da situação se dá como sendo o estado do organismo e do 
ambiente, mas no instante mesmo da concentração, o conhecido (o passado) está se 
dissolvendo em muitas possibilidades” 
A dinâmica de formação de gestalt é função do self, uma vez que a formação de 
figura dá-se no processo de contato. Nas palavras de Perls, Hefferline e Goodman: “o self 
é a força que forma a gesltalt no campo; ou melhor, o self é o processo de figura/fundo em 
situação de contato” (1951, p.180). 
Em decorrência disso, os referidos autores vão dizer que o self é “a realização de 
um potencial” (p180), donde segue a ideia do self como uma potencialidade engajada. Na 
medida em que a concentração prossegue- excitação pela qual o contato se dá- o self se 
identifica com algumas possibilidades, alienando-se de outras. 
Essas possibilidades, então, são transformadas em figura que emergem, por sua 
vez, do fundo de potencialidade. O futuro, o porvir, é a marca efetiva desse processo, sendo 
que a identificação e alienação dessas possibilidades, o surgimento de uma nova figura, é 
o ajustamento criativo (onde o novo é assimilado). Nem ativo, nem passivo, mas - 
espontâneo e engajado numa situação - são, segundo Perls, Hefferline e Goodman (1951), 
as principais características do self. A espontaneidade, segundo os mesmos autores, “é o 
sentimento de estar atuando no organismo/ambiente que está acontecendo, sendo não 
somente seu artesão ou seu artefato, mas crescendo dentro dele” (Ibidem p.182). Em 
 
31 
 
outras palavras, essa característica do self o identifica a postura de descobrir-se e inventar-
se ao mesmo tempo, agredindo e aceitando o que é contatado. 
Não se trata, pois, da ação do sujeito sobre si, mas da gênese desse sujeito na ação. 
Sujeito este que, tendo sua gênese renovada a cada contato, se surpreende ao perceber 
o ambiente também renovado a cada encontro. Logo, para a Gestalt-terapia, um sujeito não 
é uma interioridade imutável presa a um passado que o define e que, muitas vezes, o 
condena. 
O sujeito gestáltico é alguém em fluxo, em mudança, que organiza suas ações (na 
sorte de ajustamentos) a partir da intencionalidade da sua consciência. Para além, no que 
consiste ao método fenomenológico e o self, os autores MüllerGranzotto (2004, 2007a) 
identificam as funções e dinâmicas do self como uma sorte de espontaneidade a luz da 
noção de temporalidade da fenomenologia de Husserl. 
Para os referidos autores, o self cria estruturas específicas para propósitos 
específicos, o que quer dizer que o self de acordo com o foco da experiência, cria funções 
específicas, em detrimento de outras. Essas formas elementares da vivência do self, ou 
seja, da pura vivência espontânea, constituem o que Perls, Hefferline e Goodman (1951) 
vão descrever como operações, ou funções do self. 
10.1 A dinâmica do self e a clínica gestáltica 
 
Quanto a dinâmica do self, suas polaridades e características, é possível dizer que 
toda vez que um Gestalt-terapeuta usa o “o que”, o “quando” e o “como” como perguntas, 
ao invés do “por que”, está, na realidade, se voltando para as polaridades das dinâmicas 
do self em suas frequentes interrupções. 
Para cada função, em correspondente dinâmica, segundo Perls, Hefferline e 
Goodman (1951), existem formas específicas de trava, mecanismos de quebra da 
espontaneidade do ciclo de formação e destruição de figura. 
Em algumas das suas últimas publicações, os autores Müller-Granzotto (2007b, 
2008, 2009), imbuídos na missão de aprofundar as pistas que os principais autores da 
Gestalt-terapia criaram, desenvolvem novas contribuições teóricas e clínicas às originais 
 
32 
 
formas de ajustamentos comprometidos em espontaneidade e criatividade sugeridos por 
Perls, Hefferline e Goodman(1951): os ajustamentos neuróticos, psicóticos, e de aflição. 
No entanto, antes de se abordar estas contribuições, é necessário, para um maior 
entendimento, uma apresentação mais aprofundada das funções e correlatas dinâmicas do 
self. Conforme pensam os fundadores da Gestalt-terapia - Perls, Hefferline e Goodman 
(1951) -, o self cria estruturas específicas para propósitos específicos, o que quer dizer que 
o self de acordo com o foco da experiência, cria funções específicas, em detrimento de 
outras. 
Segundo os autores MüllerGranzotto (2007a) a descrição dos processos que 
constituem a reedição criativa de nós mesmos no campo organismo/ambiente (reedição, 
esta, na forma de um fundo, que se realiza como horizonte de possibilidades para a figura 
emergente), ou a descrição do self (que é a mesma coisa) é a descrição do que há de 
essencial na experiência. Por essa razão “Perls e seus colaboradores propõe não uma 
teoria da personalidade ou uma metapsicologia, mas uma psicologia formal, que não é 
senão uma descrição fenomenológica desse processo de apercepção da própria unidade 
no mundo – processo esse a que denominaram self” (MG, 2007a, p. 212, grifos meus). 
As três funções (Id, Ego e Personalidade), e as respectivas dinâmicas (pré - contato, 
contato, contato final e pós-contato) a elas associadas, são apenas três pontos de vista 
diferentes que se pode ter da mesma experiência, que é o sistema self em funcionamento. 
O que significa que no fluxo de awareness (em cada experiência vivida) pode ser 
apresentar concomitantemente as três funções, sendo que o que vai conferir maior 
evidência a uma função do self em prol de outra é a escolha de quem está a descrever a 
experiência. 
Cada uma das funções do self corresponde a um modo específico de organização 
gestáltica (a formação de uma figura em relação a um fundo). Quer dizer que em cada 
polarização do self, em cada estrutura, o self tem uma experiência diferente no sentido de 
formação e destruição de Gestalt. 
Na dinâmica do self, o processo do contatar,é, em geral, uma sequência contínua 
de fundos e figuras, cada uma esvaziando-se e emprestando sua energia a figura em 
formação, que, por sua vez, servirá de fundo para uma nova figura. 
A função Id é aquela em que o self encontra-se diminuído, disperso. Ela aparece nos 
hábitos, e também tem como característica o agigantamento do corpo. A função id é a 
 
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retenção, como escrevem Perls, Hefferline e Goodman (1951), de algo que não se 
inscreveu como conteúdo: a forma impessoal e genérica da presença do mundo em mim. 
Enquanto hábito, o Id sou eu mesmo, uma expressão do self, ou do processo de 
reedição criativa, mas um eu genérico, impessoal, que se manifesta como uma sabedoria 
prática, sem uma inscrição, sem uma significação consciente. Nesta função, o contato se 
dá quase que a revelia do eu, como o sono, o respirar (Ginger, 1995, pag.127). 
O Id não existe fora do contato, no entanto, minhas experiências no exercício do 
contato são, ao mesmo tempo, minhas e inseparáveis do meio. De modo que minha 
vivência esta diluída, ou integrada ao meio circulante. “Enquanto Id sou um corpo, um corpo 
próprio, que antes de ser conhecido (representando para mim mesmo), é vivido como 
volume, como espessura, como transito entre eu e o mundo” (Müller-Granzoto, 2004, p.3). 
Quando o self esta polarizado na função Id a figura não está propriamente definida. 
Nesta função, quando muito, a figura é a vivência do hábito, uma vivência do corpo. 
Vivência esta no sentido de que nessa função não se tem propriamente uma dinâmica, mas 
sim uma inércia. 
Sobre a função Id pode-se dizer, segundo Perls, Hefferline, e Goodman (1951,) que 
esta serve como um estado de inércia, de passividade, onde o Ego pode acolher um dado 
como figura. Trata-se de um domínio próprio em que um dado indeterminado surge, onde 
um excitamento se dá. 
A função Ego, por sua vez, é aquela em que o self se encontra ativo, agindo sobre o 
ambiente. É nesta função que uma figura clara pode ser identificada, ou alienada (a partir 
de um fundo histórico, a função Id), e se tem a emergência de um significante individual, 
que é, senão, nossa ação. Conforme escrevem Perls, Hefferline e Goodman, “[o] Ego é a 
identificação progressiva com possibilidades e a alienação destas, a limitação e a 
intensificação do contato em andamento, incluindo o comportamento motor, a agressão, a 
orientação e a manipulação”. 
Cabe ao Ego a inscrição de uma figura num campo genérico de indiferenciação. O 
self na função ego está identificado com o interesse ativo selecionado, e a realidade, aqui, 
“não é enfrentada de acordo com sua vividez espontânea, mas é selecionada ou excluída, 
de acordo com os interesses com o qual o nos identificamos” 
Na função Ego Perls, Hefferline e Goodman (1951) identificam três dinâmicas: o pré-
contato, o contato e o contato final. O pré-contato caracteriza-se pela apreensão de um 
 
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dado a partir do fundo de excitamento fornecido pela função Id em decorrência do 
acontecimento de algo novo (seja este um estimulo que de desenvolve como uma emoção, 
ou uma dor). 
Nessa dinâmica, como escrevem os autores acima, “o corpo é fundo, e o apetite ou 
algum estímulo ambiental são a figura. Isto é o que está consciente como sendo ‘aquilo que 
é dado’ ou o Id da situação, dissolvendo-se em suas possibilidades; (...) essas excitações 
ou pré-contato iniciam o excitamento do processo figura/fundo” (p.208). 
No contato se tem a deliberação, por meio da qual o self se polariza na função Ego. 
O excitamento, dessa forma, torna-se fundo enquanto o conjunto de possibilidades figura. 
A deliberação pode ser entendida um ato de identificação, com uma possibilidade do meio 
que vem a satisfazer a necessidade do organismo, ou a alienação, a fuga, de um 
acontecimento perigoso. Opera no sentido de escolha dessas possibilidades, resultando na 
formação de uma figura. Neste processo é onde ocorrem as emoções: a “awareness 
integrativa de uma relação entre o organismo e o ambiente” (PHG, 1951, p. 212). 
A emoção e sentida concomitantemente como uma manipulação potencial do 
ambiente, é a condição corporal que o organismo se encontra. As emoções são 
importantes, segundo os autores citados, pois na sequência de fundos e figuras elas 
assumem o comando da força motivadora dos apetites e anseios, das identificações ou 
fugas (que é realizada na polarização do self no processo do contato final); daí a 
importância de checa-las, por parte do clínico, no processo terapêutico. 
 A função Personalidade trata-se, para Perls, Hefferline e Goodman (1951), de certa 
generalidade (não perceptiva) na qual o self se sedimenta, tornando-se uma identidade 
histórica. É a representação que o sujeito faz de si mesmo, sua autoimagem, que lhe 
permite reconhecer-se como responsável pelo que sente, e pelo que faz (Ginger, 1995). É 
por meio da função Personalidade, que experimentamos nossa capacidade de reconhecer 
nossas representações, nossa identidade, e, caso nos perguntem, serve de fundamento 
pelo qual seria possível explicar nossos comportamentos. 
Nesse sentido, Perls, Hefferline e Goodman dizem que a função Personalidade é “a 
figura na qual o self se transforma e assimila ao organismo, unido-a com os resultados de 
um crescimento anterior” (1951, p. 184). A autoconsciência da função Personalidade é 
autônoma, responsável no desempenho de um papel numa situação concreta. É 
 
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importante, todavia, ressaltam os últimos autores citados, não confundir autonomia com 
espontaneidade. 
O que os autores citados querem dizer com autonomia é a capacidade de escolher 
livremente. Liberdade esta proporcionada pelo fato da base da atividade já fora obtida de 
antemão, ou seja, “nos comportamos de acordo com o que somos, isto é, com o que nos 
tornamos” (Ibidem p. 188). Nesse sentido, a personalidade pode responsabilizar-se na 
medida em que o self criativo não consegue. Por que, como escrevem os mesmos autores, 
a responsabilidade é o preenchimento de um contrato. Portanto, a “personalidade é a 
estrutura responsável do self”. 
Todavia, a consistência dessa identidade está em jogo, é perfurada pelo vazio do 
hábito (a função Id) e ultrapassada pelas criações da função Ego (pelo material sempre 
novo advindo do contato). 
A dinâmica da experiência enquanto um processo que responde a diferentes formas 
de discrição estar intimamente ligada com as estruturas das funções do self. Quando o self 
se polariza numa ação, momento em que ele faz algo, tem-se o contato final. No contato 
final, como escreve Perls, Hefferline e Goodman (1951), “o self esta absorvido de maneira 
imediata e plena na figura que descobriu-e-inventou; no momento não há praticamente 
fundo. 
A figura incorpora todo o interesse do self, e o self não é mais nada que interesse 
presente. De modo que a figura é o self” (p.220). Aqui a figura descoberta é nítida e 
presente, sendo o ambiente e o corpo, desprovidos de interesse. A awarensess, segundo 
os mesmos autores, está no seu ponto mais radiante, concentrada no objeto eleito. Depois 
que o excitamento foi atenuado pela ação ego, o self pode relaxar, isto é, polarizar-se numa 
representação; regida, esta, pela cultura daquilo que ele próprio fez. Esta é a dinâmica do 
pós-contato, onde o self encontra-se diminuído, e assume a função personalidade. 
Segundo os autores Müller-Granzotto (2007b), a procura pelas funções comprometidas do 
sistema self deve ser o foco da ação do terapeuta, do contrário de investigações por dados, 
por conteúdos, muitas vezes intrusivos e não condizentes com uma postura processual, 
fenomenológica de ser compreender a clínica. 
 Para os referidos autores, que preferem o uso de novas nomenclaturas para as 
interrupções do sistema self (respectivamente ajustamento evitação, de busca e ético-
político), clínico em Gestalt-terapia deve, uma vez diante do cliente, perceber o lugar que é 
 
36 
 
convidado a ocupar,tornando o apelo (ou a sua falta) do cliente uma voz clareza aos 
processos de inibição que muitas vezes estão por trás de suas queixas. 
Na clínica gestáltica cabe ao clinico, portanto, segundo os autores citados acima, 
“pontuar” os momentos em que inibições do ajustamento criador são percebidas na relação 
terapêutica, não diferenciando o trabalho de intervenção do trabalho de investigação 
(“diagnose”) das funções comprometidas do sistema self. Tal pontuação nada mais é do 
que a devolução, e a implicação do cliente em seu próprio processo, sendo o tempo clínico 
da Gestalt-terapia o aqui-e-agora. 
O foco no momento presente, na relação genuína entre terapeuta e cliente, como 
esfera temporal da Gestalt-terapia, revela seu caráter diferenciado e inovador. 
Diferentemente de outras abordagens, nem o passado, nem o futuro, muito menos um 
cronograma linear de passos necessários, são postos em prática na clínica Gestáltica. Pelo 
contrário, o tempo na Gestalt-terapia é o tempo necessário para o contato fluido e 
espontâneo aparecer como possibilidade para o cliente, sendo o objeto da experiência 
clínica, como escreve os autores Müller-Granzotto (2007b) a “própria vivência atual da 
inibição, ou realização [...] do fluxo de contato temporal na atualidade da sessão” (p. 171). 
Em cada ajustamento onde uma inibição, a sua maneira, limita a experiência de 
espontaneidade e completude do sistema self a partir de dinâmicas específicas, efeitos são 
observados, sendo necessárias intervenções pontuais, de forma a que as repetitivas e 
dolorosas formas de interrupção do livre fluir do sistema self sejam reescritas e que novas 
possibilidades possam ser postas em prática. Dessa forma, os autores Müller-Granzotto 
(2007b, 2008, 2009) propõe formas específicas de intervenção para cada forma de inibição 
do sistema self. Contudo, como deixa claro o referido casal, para a Gestalt-terapia, do 
contrário das ciências médicas, por exemplo, os diferentes ajustamentos, mesmo 
entendidos como comprometimentos de diferentes funções e demandarem intervenções 
diferentes, não correspondem a uma exclusão, ou classificação da pessoa como 
pertencente a um determinado tipo, ou forma de ser. 
Os comprometimentos, segundo Müller-Granzotto (2007b) constituem um sistema 
único, sendo possível um mesmo cliente, em diferentes momentos, em função do campo 
de possibilidades, que sempre se atualiza no contato, experimentar e por em ação as três 
formas de ajustamento disfuncionais. Cabe deixar claro, mais uma vez, tendo em vista o 
objetivo do presente trabalho, que Perls, Hefferline e Goodman (1951) afirmam que esta 
 
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tipologia apresentada não é uma classificação de pessoas anormais, mas um método de 
decifrar a estrutura de um comportamento único. 
 Para a Gestalt-terapia, como escreve Müller-Granzotto (2004) não interessa os 
motivos dessas interrupções. Explicações universais não é o objetivo da descrição dos 
ajustamentos disfuncionais, mas sim, “sinalizar como algo, que não é da ordem de nossa 
materialidade, que não retorna enquanto horizonte” (p.13). Ao invés de se construir uma 
gênese teórica das neuroses, psicoses e aflições, Perls, Hefferline e Goodman vão preferir 
descrever a forma ou a orientação específica da relação, da dinâmica da fronteira; 
descrever a relação entre meus horizontes temporais (fundo) e os dados no campo de 
presença. 
A Gestalt-terapia como psicologia formal, interessa-se, pois, na descrição dos 
comportamentos no sentido de como são vividos. A clínica na Gestalt-terapia trabalha à luz 
dos processos do self, tendo como método a descrição, por parte do cliente das suas 
vivências. A terapia visa ajudar o cliente a restabelecer a awareness de seu próprio 
funcionamento, a fim de que o cliente possa transcender a forma de ajustamento em que 
está aprisionado. 
A tarefa do terapeuta, segundo Perls, Hefferline e Goodman (1951) “é apenas propor 
um problema que o paciente não esteja resolvendo de maneira adequada, e se estiver 
insatisfeito com seu fracasso; nesse caso, com ajuda, a necessidade do paciente destruirá 
e assimilará os obstáculos, e criará hábitos mais viáveis”. 
Os ajustamentos neuróticos, primeiramente, segundo Perls, Hefferline e Goodman 
(1951), podem ser entendidos como “a perda das funções de Ego para a fisiologia 
secundária sob a forma de hábitos inacessíveis” (1951, p. 235). O comportamento 
neurótico, segundo os mesmos autores, também é um hábito (resultado de um ajustamento 
criativo), no entanto, é um hábito que não entra no campo de contato, pois não apresenta 
nada de novo. Como se trata de uma interrupção na dinâmica do self, essa experiência, 
esse ajustamento, não flui, não se atualiza. Esse hábito passa, então, a fazer parte do 
corpo, não do self. 
Como perda das funções do Ego, a neurose implica na confusão do agir no campo 
de presença organismo/ambiente. Nesse caso, a função Ego não consegue criar, para o 
dado, nada de novo (por vezes ela nem consegue admitir a existência do dado), e segundo 
 
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Perls, Hefferline e Goodman (1951), o Ego nada pode fazer senão deliberar em função da 
inibição de sua ação. Nas palavras de Perls, Hefferline e Goodman (1951): 
A neurose é a evitação do excitamento espontâneo e a limitação das excitações. É 
a persistência das atitudes sensoriais e motoras, quando a situação não as justifica 
ou de fato quando não existe em absoluto nenhuma situação-contato, por exemplo, 
uma postura incorreta que é mantida durante o sono. Esses hábitos intervêm na 
auto regulação fisiológica e causam dor, exaustão, suscetibilidade e doença. 
Nenhuma descarga total, nenhuma satisfação final: perturbado por necessidades 
insatisfeitas e mantendo de forma inconsistente um domínio inflexível de si próprio, 
o neurótico não pode se tornar absorto em seus interesses expansivos, nem levá-
los a cabo com êxito, mas sua própria personalidade se agiganta na awareness: 
desconcertado, alternadamante ressentido e culpado, fútil e inferior, impudente e 
acanhado, etc. (p.235-6) 
 
Como dinâmica na fronteira de contato, a neurose, segundo o casal Müller Granzotto 
(2004), pode ser entendida sob a ótica das relações figura e fundo, por conseguinte, como 
um evento temporal. Segundo Perls, Hefferline e Goodman (1951), na neurose o self está 
inibido, isto é, incapaz de conceber a situação vivida como processo, e preso num passado 
que intervém impedindo as diversas dinâmicas temporais de contato (pré-contato, contato, 
contato final e pós-contato). 
A inibição do self tem como efeito mecanismos que são correlatos às diversas 
polaridades das dinâmicas expostas, como explicam Müller-Granzotto (2007a, 2007b). A 
saber, segundo estes autores, a cada dinâmica do sistema self se tem, respectivamente, 
como ajustamentos disfuncionais característicos a confluência, a introjeção, a projeção, a 
retroflexão, e, por fim, o egotismo. No que consiste aos ajustamentos neuróticos, Müller-
Granzotto (2007b) propõe duas formas de abordagem, de intervenção, que o Gestalt-
terapeuta deve executar: a frustração habilidosa, o uso de experimentos. 
Na primeira, utilizada com maestria por Perls, o terapeuta deve-se colocar na posição 
de não aquecer aos pedidos, aos apelos do cliente, visando estabelecer uma relação de 
campo que tem como meta instaurar uma situação de contato que possa trabalhar “por um 
lado, a inibição reprimida (que está a atuar nos ajustamentos neuróticos) e, por outro, a 
angústia característica da presença de algo que se repete na função Id” (Müller-Granzotto, 
2007b, p. 176). É esta, pois, “habilidosa” por ser necessário, em primeiro lugar, que esteja 
estabelecida em um contexto no qual o cliente esteja protegido, e, em segundo lugar, que 
esteja, também, eticamente comprometida com a autonomia da função Ego no cliente. 
 
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O uso de experimentos, individuais e espontâneos, que, necessariamente, não são 
prioridade da clínica dos ajustamentos

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