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OS REFLEXOS DO COMPORTAMENTO PATRIMONIALISTA BRASILEIRO- ARTIGO CIENTÍFICO

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OS REFLEXOS DO COMPORTAMENTO PATRIMONIALISTA BRASILEIRO 
E A GESTÃO EM SAÚDE 
 
Giovana Lustoza Serafim(2021)1 
 
 
 
 
RESUMO 
O presente artigo pretende demonstrar por meio de pesquisa bibliográfica, os reflexos 
do comportamento patrimonialista brasileiro e a gestão em saúde, delineando 
inicialmente um pouco do contexto histórico da administração pública, o surgimento da 
gestão pública mundial e brasileira, fazendo interligação direta com os Princípios 
Constitucionais da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade e Eficiência, que são 
norteadores da Administração Pública, garantindo o desenvolvimento do bem-estar 
social, a figura do patrimonialismo no cenário brasileiro desde a origem do modelo 
patrimonialista e os reflexos nos dias atuais, interferindo diretamente na eficiência da 
prestação dos serviços à população, relatando particularmente a execução dos serviços 
de saúde no Brasil, a qualidade e eficiência destes e os reflexos tanto positivos e /ou 
negativos no tocante à gestão em saúde. 
 
Palavras-chave: Administração Pública. Gestão. Patrimonialismo. Eficiência. Serviços. 
 
 
ABSTRACT 
 
This article intends to demonstrate, through the bibliographic research method, the 
reflexes of Brazilian patrimonial behavior and health management, initially outlining a 
little of the historical context of public administration, the emergence of world and 
Brazilian public management, making a direct connection with the Principles 
Constitutional Laws, Impersonality, Morality and Efficiency, which are guiding the 
Public Administration, guaranteeing the development of social well-being, the figure of 
patrimonialism in the Brazilian scenario since the origin of the patrimonialist model and 
the reflexes in the current days, directly interfering in efficiency the provision of 
services to the population, particularly reporting on the execution of health services in 
Brazil, the quality and efficiency of these and the positive and / or negative effects on 
health management. 
 
 
Keywords: Public administration. Management. Patrimonialism. Efficiency. Services. 
 
 
 
 
 
 
 
 
1Bacharél em Direito; Especialista em Gestão Pública; Especialista em Direito Civil e Processual Civil; 
Mestranda em Gestão Pública. Assessora de Promotoria. 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
A administração pública é pautada basicamente em dois pilares. O primeiro 
refere-se à própria etimologia e próprio significado da palavra, qual seja executar as 
ações básicas inerentes ao ato ou processo de gerir, governar, e o segundo diz respeito à 
atuação pautada nos princípios constitucionais básicos da administração, fundamentada 
nos ditames legais para promover o bem-estar social de maneira homogênea. 
Ocorre que no contexto nacional ao qual estamos inseridos, é recorrente a 
infringência aos princípios supracitados, de modo que os gestores brasileiros se 
utilizam dos poderes políticos aos quais lhes são conferidos, deixam de lado a divisão 
entre o público e o privado, entre o pessoal e impessoal, e o resultado é um cenário de 
desigualdade latente em oposição à concentração de bens e riquezas. 
É a partir deste contexto que se pode afirmar e entender que ainda que haja 
inúmeras reformas administrativas, é inegável pensar que o aspecto patrimonialista foi 
abolido por completo do cenário da administração pública brasileira, vez que tal 
instituto consegue se readaptar à nova realidade vivenciada. 
Neste trabalho procura-se mostrar de maneira breve e direta a figura do 
patrimonialismo e a influência na prestação de serviços de um modo geral à população, 
limitando alguns conceitos no que pertine à prestação de serviços em saúde. 
Vivencia-se atualmente um cenário crítico na saúde brasileira, agravado em 
virtude da crise mundial de pandemia, porém, que se arrasta há décadas. Existem 
inúmeras lacunas (recorrentes) da gestão em saúde no contexto atual, identificadas ainda 
no contexto da atenção básica, ou seja, ainda no âmbito do planejamento da gestão em 
saúde. 
Daí surge o questionamento: As lacunas são justificadas pela perpetração do 
modelo patrimonialista até os dias atuais? Ou seja, são decorrentes de uma característica 
inerente a este modelo de gestão brasileiro? 
Assim, o objetivo deste artigo é contextualizar a gestão pública de um modo 
geral, delimitando seus marcos históricos, citando os princípios constitucionais da 
administração pública, aos quais o gestor deve ou deveria estar pautado, trazer à baila 
um pouco da contextualização do patrimonialismo na sociedade brasileira e seus 
reflexos nos dias atuais, finalizando com a exposição do cenário da gestão em saúde 
exemplificando alguns desafios enfrentados seja pelas instituições e principalmente pela 
população. 
Fora realizada uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, por meio da 
qual o tem abordado foi desenvolvido através de consultas a outros trabalhos científicos 
publicados em periódicos, documentos normativos elaborados por instituições públicas 
e legislação nacional, precipuamente a Constituição Federal de 1988. 
 
 
2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: O QUE PRECISAMOS SABER 
 
A administração pública tem suas origens fincadas nos séculos XVIII e 
XIX, época na qual preponderava a figura do Estado absolutista, caracterizado pela 
centralização de poder e o autoritarismo (PRESTES, 2013). Com o advento da 
Revolução Industrial, a administração Pública teve um considerável avanço, no século 
XIX, em meio a um enfraquecimento dos poderes aristocratas e absolutistas. 
À época ainda não se falava em gestão, utilizava-se o termo Administração 
Pública. Conceituando-se administração, tem-se que é “Ato, processo ou resultado de 
administrar’, ou ainda “ Ato de governar, dirigir ou gerir; governo, direção, gerência” 
(MICHAELLIS ONLINE, 2021). 
Apenas como advento do Estado de Direito, junto à criação do Direito 
Constitucional e ramos do Direito Público, e posteriormente a formação do Direito 
Administrativo, emergiu concomitantemente a tripartição dos poderes em Legislativo, 
Executivo e Judiciário, três poderes com funções independentes entre si, alinhados 
ainda ao princípio da legalidade, para garantir à sociedade uma certa segurança nas 
relações públicas e privadas (PRESTES, 2013). 
A administração pública no Brasil no decorrer dos anos tem sido conduzida 
por modelos de gestão diversos, cada um com suas peculiaridades e com suas 
respectivas influências no que diz respeito à condução das ações públicas (DRUMOND, 
SILVEIRA E SILVA, 2014). 
Classificam-se como modelos de administração pública brasileira, o 
patrimonialista, burocrático, gerencialista e societal, cada um inserido dentro de um 
marco histórico. Ainda que tenha surgido nos idos de 1500, como o modelo 
patrimonialista, nenhum modelo exclui o outro ou se sobrepõe, podendo ser encontradas 
todas as peculiaridades de cada um no exercício da gestão pública atual (DRUMOND, 
et al, 2014). 
É no contexto histórico do modelo gerencialista, iniciado por volta dos anos 
90, que o termo gestão passou a ser empregado. A nova administração, então 
denominada de gestão pública, caracterizava-se por ser dotada de eficácia, eficiência, 
transparência, pautada na democracia e participação popular, engajada no planejamento 
estratégico de ações a serem executadas pelo poder público, permitindo a participação 
popular em debates públicos, visando ao final garantia de prevalências dos direitos de 
uma coletividade (REK, 2015). 
 
2.1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: 
LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE E EFICIÊNCIA 
 
Atualmente a Gestão Pública é dotada de princípios norteadores, sejam 
princípios constitucionais e administrativos, o que difere, portanto, da época do 
surgimento da administração, que era timidamente regida pelas regras vigentes na 
sociedade contemporânea. 
A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 37, dispõe que a administração 
públicadireta ou indireta, de qualquer dos poderes da União, dos estados, do Distrito 
Federal e dos municípios, obedecerá a cinco princípios: legalidade, impessoalidade, 
moralidade, publicidade e eficiência (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988). 
Quando se fala em legalidade, diz-se que os atos de gestão devem ser 
praticados de acordo com os ditames estabelecidos por lei, ou seja, o gestor deve agir 
como a lei determina. Os atos devem ser praticados de forma impessoal, ou seja, em 
prol de uma coletividade, sempre visando o bem comum, em detrimento de benefícios 
pessoais. 
 Quanto à moralidade, tal princípio coíbe o distanciamento da administração 
pública da moral, ou seja, obriga que a atividade administrativa seja pautada na lei, 
primeiramente, bem como na lealdade, probidade e boa-fé, seguindo preceitos éticos. 
O princípio da publicidade é garantidor da transparência da execução dos 
atos, de modo que toda a população tenha acesso às informações que divulguem todas 
as atuações e decisões do gestor. 
Por fim, não menos importantes que os demais e diga-se de passagem um 
dos mais procurados e questionados pela população no geral, o princípio da eficiência, 
que fora incorporado ao rol da Constituição Federal por intermédio da Emenda 
Constitucional nº 19/98. 
Conceituado de forma genérica, está intimamente ligado à qualidade dos 
serviços prestados à sociedade, abrindo caminhos para que a população possa exigir a 
qualidade dos serviços e produtos provenientes do Estado (CASTRO, M.B., et al, 
2017). 
Assim, é também conceituado como o dever imposto a todo e qualquer 
gestor público para que suas atribuições sejam realizadas com presteza, perfeição e 
rendimento profissional (CASTRO, M.B., et al, 2017). 
 
3 A FIGURA DO PATRIMONIALISMO NO BRASIL: DO COLONIALISMO 
AO SÉCULO XXI 
 
O termo patrimonialismo surgiu no final do século XIX, e seu criador foi o 
sociólogo alemão Max Weber. O conceito de patrimonialismo está voltado para uma 
forma específica de dominação de poder, que abrange as esferas econômica e 
sociopolítica. É uma concepção de poder no qual as esferas pública e privada são 
confundidas, e muitas vezes podem parecer indistintas. 
Como a própria etimologia da palavra sugere, o governante detinha o poder 
como se seu fosse, ou seja, como se fosse seu patrimônio. Tal comportamento tornou-se 
comum em todos os absolutismos. 
O autor Sérgio Buarque de Holanda em sua Obra Raízes do Brasil (1936), 
cita a ausência de distinção entre o público e o privado pelo homem cordial, levando 
para a esfera pública as características comportamentais e organizacionais de seu 
próprio âmbito familiar. Ele afirma que para o funcionário “patrimonial”, a própria 
gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funções, os 
interesses e os benefícios que deles aufere, relacionam-se a direitos pessoais do 
funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, 
em que prevalece a especialização das funções e o esforço para se assegurarem 
garantias jurídicas aos cidadãos. A escolha dos homens que irão exercer as funções 
públicas faz-se de acordo com a confiança pessoal que mereçam os candidatos, e muito 
menos de acordo com as capacidades próprias. Falta a tudo a ordenação impessoal que 
caracteriza a vida do Estado burocrático. 
Em nosso país, o modelo patrimonialista fora implantado por intermédio do 
Estado colonial português, composto pelos senhores feudais, detentores de poderes e 
terras, perdurando pelo período imperial e posteriormente pela República Velha, 
perpetrando-se a confusão entre o público e o privado. 
O jurista Raimundo Faoro fora o responsável pela identificação do 
patrimonialismo no Brasil, em sua obra Os Donos do Poder - formação do patronato 
político brasileiro. 
Na visão de Faoro (1958), no período colonial brasileiro se deu a origem da 
burocracia e corrupção. Ora, um país então colonizado por portugueses, pertencentes a 
um estado absolutista, que trouxeram toda a estrutura patrimonialista ao nosso país, teve 
então sua estrutura econômica assim consolidada, ao contrário dos outros países, que 
deixaram de lado o modelo patrimonialista. 
Portugal era um Estado formado por uma extensa área rural, na qual não 
havia basicamente distinção do que seria a propriedade estatal e propriedade privada do 
rei. O rei em tudo mandava, era centralizador, burocrático e concentrava não só o poder, 
mas também terras, bens, despesas e receitas, e os súditos, que tinham suas liberdades 
individuais limitadas ao rei deveriam ser subservientes. Tais características evidenciam 
a origem eminentemente patrimonialista do Estado português (SARAIVA, 2019). 
A colonização brasileira se deu pela figura do monarca exercendo o seu 
monopólio direto sobre a exploração do pau- brasil e cultura da cana- de açúcar, nos 
moldes patrimonialista e burocrático. 
Mais tarde, com a proclamação da independência do Brasil, deu-se o 
surgimento de um Estado, e Dom Pedro teria que promover uma nova organização 
administrativa, o que não foi possível, haja vista que o modelo colonial não fora extinto, 
apenas sofreu o fenômeno da modernização. 
Com o marco da Proclamação da República, permaneceu o fenômeno de 
subordinação e dominação, mas tal obediência deixou de ser do imperador e passou à 
figura dos políticos. Nesse contexto surgem as eleições, a figura do coronelismo, as 
trocas de favores, e a ausência de divisão entre os interesses públicos e privados 
(SARAIVA, 2019). 
O próprio Estado, com o passar dos anos, tentou criar mecanismos que 
pudessem disfarçar o patrimonialismo, ou digamos amenizar essa forma de intervenção 
estatal. O termo ganhou inclusive uma nova abordagem, qual seja a “apropriação do 
público pelo privado”. 
Diga-se de passagem, o conceito de patrimonialismo, nestes termos, pode se 
confundir ao conceito de corrupção, que é a obtenção de vantagens ilícitas, todavia, são 
duas coisas distintas que não se confundem, pois a corrupção está presente não só na 
esfera pública como também na privada, e em todos os países do mundo, que não 
tiveram inclusive a formação histórica pautada no patrimonialismo, como é o caso do 
Brasil (COSTA, 2018). 
O fenômeno patrimonialista enraizado na cultura e sociedade brasileiras, 
com reflexos diretos sob a administração pública, após uma série de avanços 
econômicos e sociais, procurou adequar-se às novas relações de poder, e tal adequação é 
concomitante a toda e qualquer reforma administrativa lançada por iniciativa do poder 
público e seus governantes. 
A submissão dos interesses privados em detrimento dos interesses coletivos, 
muitas vezes caracterizados como atos de corrupção, prática bem acentuada em nosso 
meio, é a caracterização da lógica patrimonialista moderna, presente em todas as 
camadas sociais, e que vem há anos tentando ser combatida. 
 
4 PATRIMONIALISMO, GESTÃO EM SAÚDE E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS 
 
Como já fora citado, a corrupção, dita “filha” do patrimonialismo 
(SARAIVA, 2019) está presente em todas as classes sociais e em todos os setores da 
administração pública. Porém um setor chama mais atenção e atualmente está em voga 
que é o setor da saúde. 
A prestação de serviços ainda é bastante precária, por vezes pela falta de 
planejamento, falta de gerenciamento dos processos, ausência de qualificação ou ainda 
pelo emprego das verbas destinadas de forma desmedida, as falhas e fraudes, e as 
licitações acabam gerando confrontos e o objetivo da eficiência quase nunca é atingido. 
Várias instituições de saúde têm reclamado da qualidade e 
comprometimento dos serviços prestados por terceiros. O que mais se destaca nas 
reclamações é que todas elas se referem a prestadores distintos, ou seja, não existe um 
foco em determinado prestador de serviços, mas um descontentamento generalizado 
com extensa gama de prestadores, desde pequenas empresas prestadoras de serviços,cooperativas de trabalho até grandes prestadores de serviços internacionais. Onde está a 
origem do problema? Estamos falando de empresas sem qualificação para prestar 
serviços na área de saúde? Ou será que os tomadores de serviços não sabem exatamente 
o que querem na hora de escolher o aliado estratégico? 
Como desenvolver um planejamento para contratar prestadores de serviços 
na área de saúde, apontando de maneira detalhada as reais necessidades, observando os 
riscos, contingências, o cumprimento da legislação, estabelecendo e monitorando níveis 
de serviços? 
 Nota-se que uma das grandes dificuldades de um planejamento nos serviços 
de saúde está na gestão de pessoas e na prestação de serviços, onde os conflitos 
interpessoais, políticos e econômicos são aspectos bem evidentes ( FITZSIMMONS, 
2014). 
Nos deparamos com prestadores de serviços com produtos de preços 
elevados mas com qualidade e bom prazo de entrega, e preços acessíveis com 
problemas de qualidade e entrega a médio e longo prazo. 
Segundo Fitzsimmons, 2014, é preciso que se tenha segurança nos contratos, 
estabelecendo as relações econômicas com segurança de deveres e direitos das partes e 
em quais condições o contrato deverá ser fechado com previsões futuras de problemas e 
adiantando eventuais soluções com responsabilidades das informações. 
É fundamental que haja uma formalidade contratual entre gestores e 
prestadores de serviços e que seja firmado um compromisso entre as partes, 
quantitativamente e qualitativamente, vislumbrando a garantia da legalidade das 
negociações financeiras. 
Para assegurar que essas funções sejam realizadas, deverão as partes 
cumprir as regras fixadas na legislação pertinente às Licitações e aos Contratos 
Administrativos (SPILLER et al, 2015). Um contrato formaliza os objetivos e 
entendimentos durante a prestação dos serviços, com celebração do negócio. 
A dimensão da eficiência é outro aspecto crucial na contratação de 
prestadores de serviços, pois além de não termos um acompanhamento da alta nem da 
média liderança, o que torna a resolutividade dos problemas inadequada, passamos por 
um acompanhamento orçamentário de autonomia de outra instituição e que na maioria 
das vezes não está disponível para acompanhamento, é o que acontece nas parcerias 
público privadas (PPP) e as organizações sociais de saúde (OSS). A instituição somente 
encaminhava um relatório de despesas e os recursos são destinados a aquisição e 
reposição de equipamentos. 
A ausência de documentos, metas de segurança, indicadores, metas a serem 
alcançadas, protocolos clínicos, registros, seja relacionado a gestão, bem como a toda 
equipe multiprofissional, são também alguns dos aspectos que interferem na eficácia 
dos serviços (SPILLER et el, 2015). 
Para tanto, é desejável e pertinente o envolvimento das equipes 
multidisciplinares na revisão de processos já existentes e construção de protocolos, 
fluxos e processos ausentes, bem como alimentar a cultura de segurança do paciente 
através da implantação das metas de segurança do paciente, acrescido da importância de 
se divulgar conceitos precisos e claros a todos, garantindo os feedbacks. 
A terceirização é flexibilizada tanto do ponto de vista da prestação de 
serviços, ou por meio de insumos, como medicamentos, exames e tratamentos 
especializados voltados para os direitos sociais e da saúde ( MARTINS, 2014). 
A terceirização na prestação de serviços, se faz na área meio (limpeza e 
segurança) e na área fim (assistencial) e é argumentada na flexibilização, racionalização 
e celeridade na forma que o serviço de saúde é prestado, além do que atende uma 
necessidade política de gestores municipais e estaduais. 
É útil e tem grandes propósitos, mas o grande problema é o uso, que deve 
ser dotado de impessoalidade, moralidade e transparência, com uso adequado, ou apenas 
uma estratégia de gestores. 
Dentro do direito à saúde, temos que pensar também no bem-estar do ser 
humano, o direito a ter uma vida saudável, em uma amplitude maior. 
As OSS ainda têm um comportamento muito assimétrico, pois há uma 
grande variação nos resultados, uns bons, outros ruins, em virtude da pluralidade dessas 
organizações e devido à universalidade do SUS e do caráter público. 
Alguns dos grandes conflitos são os contratos de gestão, pois há uma 
liberdade de contratação na seleção de profissionais e valor (pro labore), que traz uma 
assimetria e uma rotatividade grande nos serviços, impedindo que seja criado um 
vínculo mais duradouro, principalmente nos serviços de prevenção, problemas 
familiares, psicológicos e sociais. 
Outro aspecto é que as organizações sociais de saúde estabelecem metas a 
serem cumpridas, metas essas que não estabelecem humanização nem integralidade do 
cuidado, e promovem a dosimetria, medidas e ordenação do sistema. E o que não pode 
ser medido, as vezes não pode ser administrado. 
O controle social é também um pressuposto do sistema de saúde, 
conceituado como um princípio constitucional, ético e de gestão que tem que dialogar 
com os princípios da terceirização dos serviços. 
Existe uma cultura política substancial na interferência da terceirização dos 
serviços em saúde( MARTINS, 2014). É necessário se fazer um dimensionamento dos 
serviços pautados na lógica de privatização em saúde, pois a própria saúde suplementar 
se tornou alvo da dimensão pública, pois é um bem de consumo que garante uma certa 
estabilidade construída pelos governantes. 
O cumprimento da legislação se dá pela judicialização em saúde, que é 
progressiva e ocorre na dimensão curativa, nunca nas estratégias de prevenção, e nos 
âmbitos públicos nem privados. 
Na maioria das situações, o processo judicial é motivado principalmente por 
total falta de comunicação entre instituição e família. Quando o processo é iniciado, o 
objetivo principal é a busca por explicações e pelo que motivou o “não feito”, pelo 
reconhecimento da falha das instituições e também, por objetivos financeiros. 
Acredita-se que poderia ser amenizado se tivéssemos incorporado 
antecipadamente uma política de assumir o erro e usar de transparência na comunicação 
imediata com o paciente e família. 
Nossas instituições precisam implantar políticas de mapeamento de riscos e 
probabilidade dos erros ocorridos. Desenvolver também uma política de comunicação 
direta com o paciente e familiares, a fim de oferecer informação básica sobre a lei e o 
processo legal, com o objetivo de reduzir a ansiedade quanto a ação legal. Além de 
educar nossos profissionais sobre o erro nas atividades humanas na tentativa de 
estimular uma atitude mais realista e mais produtiva. 
Há uma grande necessidade de repensar o modelo assistencial decorrente 
das mudanças demográficas, e também epidemiológicas, e da baixa capacidade da 
atenção médica fragmentada pela especialização progressiva. Essa busca de alternativas 
menos dispendiosas de atenção e otimização de recursos empregados, tem que ter 
equipes de saúde com a capacidade de fazer promoção e prevenção e com 
resolutividade clínica com capacidade de atender aos problemas crônicos. 
Fica claro que temos atividades de prevenção enfraquecidas e de pouca 
resolutividade com encaminhamentos desnecessários e grandes obstáculos para o 
atendimento das necessidades, mais uma vez restando prejudicada a eficiência dos 
serviços. 
 
 
 
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 
 
O presente artigo utilizou-se de uma abordagem qualitativa, bibliográfica, 
de cunho exploratório, realizada por meio de busca eletrônica de palavras chaves, 
obtendo uma série de artigos científicos, bibliografia nacional e internacional, atos 
normativos e recomendações oriundos de instituições públicas e legislação nacional. 
Conforme dispõe Eva Maria Lakatos (1992, pag. 35), a pesquisa 
bibliográfica permite compreender que, se de um lado a resolução de um problema pode 
ser obtida através dela, por outro, tantoa pesquisa de laboratório quanto à de campo 
(documentação direta) exigem, como premissa, o levantamento do estudo da questão 
que se propõe a analisar e solucionar. Portanto, a pesquisa bibliográfica pode ser 
considerada como o primeiro passo de toda pesquisa científica. 
Através do material bibliográfico disponível foi possível estabelecer a 
interligação dos conceitos a serem discutidos, possibilitando uma compreensão geral do 
sistema administrativo brasileiro, arraigado à estrutura patrimonialista, bem como foram 
analisados dados teóricos recentes bastante debatidos e dentro de um contexto atual 
vivenciado pela população, para enriquecer o debate entabulado no presente estudo. 
 
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Com base no panorama histórico delineado, conseguimos entender que a 
base patrimonialista brasileira, difundida pela colonização portuguesa, no decorrer dos 
anos, nunca fora deixada de lado. Como já dito, os demais países que sofreram 
influências portuguesas em sua colonização, acabaram deixando de lado tal 
comportamento. 
Ainda que ao longo dos anos as evoluções trazidas ao campo histórico e 
cultural proponham mudanças positivas a este tipo de comportamento, permanece a 
cultura apegada à burocracia, patriarcalismo e centralização de poder na figura dos 
governantes. 
É latente a tomada de decisões pautadas na não preservação da legalidade, 
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, deixando de lado o verdadeiro 
foco do que seria o objetivo da administração pública, que seria atender aos interesses 
públicos, e não somente de uma minoria. 
A tão sonhada eficiência do serviço público é comumente esquecida, 
considerando que o que se espera é a produtividade por parte de quem exerce cargo ou 
função pública, como também os destinatários finais esperam pelo atendimento 
satisfatório dos seus anseios. Eficiente, portanto, é aquela administração que melhor 
atenda às necessidades da coletividade, utilizando-se dos recursos públicos disponíveis, 
no menor tempo possível e a um baixo custo. 
A crise no sistema de saúde, e as máculas existentes são exemplos diretos da 
falta de planejamento e gestão, ou mesmo subutilização dos mecanismos de gestão 
disponibilizados, o que desencadeia uma série de problemas, que vem à tona e a 
população em especial a que depende do SUS para atendimento é a mais prejudicada. 
O presente estudo contribui para a abertura de outros estudos e 
questionamentos, que podem ser fundamentados no contexto histórico atual, do ano de 
2020 e da pandemia mundial, onde diariamente se observou e ainda se observa o 
cenário da briga por poder, o uso da politicagem nas decisões, as constantes fraudes às 
licitações, superfaturamento de insumos hospitalares, medicamentos, e a consequência 
desastrosa de colapso nos hospitais, inúmeras mortes, algumas prisões, condenação de 
gestores, afastamento dos cargos ocupados. Porém, isso tudo mais parece um ciclo 
vicioso, que sempre existiu e deixa a sensação e uma reflexão, de que ainda pode 
perdurar anos a fio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988. Disponível em: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm. Acesso em: 15 
jan.2021. 
 
DICIONÁRIO MICHAELIS ONLINE: Disponível em: 
http://michaelis.uol.com.br/busca?id=bpyp. Acesso em: 15 jan.2021. 
 
CASTRO, M.B., et al, 2017). PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA DA 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: QUALIDADE DE SERVIÇOS PRESTADOS À 
SOCIEDADE. Disponível 
em:https://semanaacademica.org.br/system/files/artigos/principio_daeficiencia_da_admi
nistracao_publica_qualidade_de_servicos_prestados_a_sociedade_3.pdf. Acesso em: 21 
jan.2021. 
 
COSTA, F.L. História, narrativa e representações da administração pública 
brasileira. Disponível em: 
https://revista.enap.gov.br/index.php/RSP/article/view/3582/2048. Acesso em: 
21jan.2021. 
 
DRUMOND, A.M.; SILVEIRA, S.F; SILVA, E.A, Predominância ou coexistência? 
Modelos de administração pública brasileira na Política Nacional de Habitação. 
Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-
76122014000100001&script=sci_arttext&tlng=pt. Acesso em: 20 jan. 2021. 
 
FAORO, R. Os Donos do Poder - formação do patronato político brasileiro. Porto 
Alegre, Editora Globo, 1958. 
 
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