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OS REFLEXOS DO COMPORTAMENTO PATRIMONIALISTA BRASILEIRO E A GESTÃO EM SAÚDE Giovana Lustoza Serafim(2021)1 RESUMO O presente artigo pretende demonstrar por meio de pesquisa bibliográfica, os reflexos do comportamento patrimonialista brasileiro e a gestão em saúde, delineando inicialmente um pouco do contexto histórico da administração pública, o surgimento da gestão pública mundial e brasileira, fazendo interligação direta com os Princípios Constitucionais da Legalidade, Impessoalidade, Moralidade e Eficiência, que são norteadores da Administração Pública, garantindo o desenvolvimento do bem-estar social, a figura do patrimonialismo no cenário brasileiro desde a origem do modelo patrimonialista e os reflexos nos dias atuais, interferindo diretamente na eficiência da prestação dos serviços à população, relatando particularmente a execução dos serviços de saúde no Brasil, a qualidade e eficiência destes e os reflexos tanto positivos e /ou negativos no tocante à gestão em saúde. Palavras-chave: Administração Pública. Gestão. Patrimonialismo. Eficiência. Serviços. ABSTRACT This article intends to demonstrate, through the bibliographic research method, the reflexes of Brazilian patrimonial behavior and health management, initially outlining a little of the historical context of public administration, the emergence of world and Brazilian public management, making a direct connection with the Principles Constitutional Laws, Impersonality, Morality and Efficiency, which are guiding the Public Administration, guaranteeing the development of social well-being, the figure of patrimonialism in the Brazilian scenario since the origin of the patrimonialist model and the reflexes in the current days, directly interfering in efficiency the provision of services to the population, particularly reporting on the execution of health services in Brazil, the quality and efficiency of these and the positive and / or negative effects on health management. Keywords: Public administration. Management. Patrimonialism. Efficiency. Services. 1Bacharél em Direito; Especialista em Gestão Pública; Especialista em Direito Civil e Processual Civil; Mestranda em Gestão Pública. Assessora de Promotoria. 1 INTRODUÇÃO A administração pública é pautada basicamente em dois pilares. O primeiro refere-se à própria etimologia e próprio significado da palavra, qual seja executar as ações básicas inerentes ao ato ou processo de gerir, governar, e o segundo diz respeito à atuação pautada nos princípios constitucionais básicos da administração, fundamentada nos ditames legais para promover o bem-estar social de maneira homogênea. Ocorre que no contexto nacional ao qual estamos inseridos, é recorrente a infringência aos princípios supracitados, de modo que os gestores brasileiros se utilizam dos poderes políticos aos quais lhes são conferidos, deixam de lado a divisão entre o público e o privado, entre o pessoal e impessoal, e o resultado é um cenário de desigualdade latente em oposição à concentração de bens e riquezas. É a partir deste contexto que se pode afirmar e entender que ainda que haja inúmeras reformas administrativas, é inegável pensar que o aspecto patrimonialista foi abolido por completo do cenário da administração pública brasileira, vez que tal instituto consegue se readaptar à nova realidade vivenciada. Neste trabalho procura-se mostrar de maneira breve e direta a figura do patrimonialismo e a influência na prestação de serviços de um modo geral à população, limitando alguns conceitos no que pertine à prestação de serviços em saúde. Vivencia-se atualmente um cenário crítico na saúde brasileira, agravado em virtude da crise mundial de pandemia, porém, que se arrasta há décadas. Existem inúmeras lacunas (recorrentes) da gestão em saúde no contexto atual, identificadas ainda no contexto da atenção básica, ou seja, ainda no âmbito do planejamento da gestão em saúde. Daí surge o questionamento: As lacunas são justificadas pela perpetração do modelo patrimonialista até os dias atuais? Ou seja, são decorrentes de uma característica inerente a este modelo de gestão brasileiro? Assim, o objetivo deste artigo é contextualizar a gestão pública de um modo geral, delimitando seus marcos históricos, citando os princípios constitucionais da administração pública, aos quais o gestor deve ou deveria estar pautado, trazer à baila um pouco da contextualização do patrimonialismo na sociedade brasileira e seus reflexos nos dias atuais, finalizando com a exposição do cenário da gestão em saúde exemplificando alguns desafios enfrentados seja pelas instituições e principalmente pela população. Fora realizada uma pesquisa qualitativa, de caráter exploratório, por meio da qual o tem abordado foi desenvolvido através de consultas a outros trabalhos científicos publicados em periódicos, documentos normativos elaborados por instituições públicas e legislação nacional, precipuamente a Constituição Federal de 1988. 2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: O QUE PRECISAMOS SABER A administração pública tem suas origens fincadas nos séculos XVIII e XIX, época na qual preponderava a figura do Estado absolutista, caracterizado pela centralização de poder e o autoritarismo (PRESTES, 2013). Com o advento da Revolução Industrial, a administração Pública teve um considerável avanço, no século XIX, em meio a um enfraquecimento dos poderes aristocratas e absolutistas. À época ainda não se falava em gestão, utilizava-se o termo Administração Pública. Conceituando-se administração, tem-se que é “Ato, processo ou resultado de administrar’, ou ainda “ Ato de governar, dirigir ou gerir; governo, direção, gerência” (MICHAELLIS ONLINE, 2021). Apenas como advento do Estado de Direito, junto à criação do Direito Constitucional e ramos do Direito Público, e posteriormente a formação do Direito Administrativo, emergiu concomitantemente a tripartição dos poderes em Legislativo, Executivo e Judiciário, três poderes com funções independentes entre si, alinhados ainda ao princípio da legalidade, para garantir à sociedade uma certa segurança nas relações públicas e privadas (PRESTES, 2013). A administração pública no Brasil no decorrer dos anos tem sido conduzida por modelos de gestão diversos, cada um com suas peculiaridades e com suas respectivas influências no que diz respeito à condução das ações públicas (DRUMOND, SILVEIRA E SILVA, 2014). Classificam-se como modelos de administração pública brasileira, o patrimonialista, burocrático, gerencialista e societal, cada um inserido dentro de um marco histórico. Ainda que tenha surgido nos idos de 1500, como o modelo patrimonialista, nenhum modelo exclui o outro ou se sobrepõe, podendo ser encontradas todas as peculiaridades de cada um no exercício da gestão pública atual (DRUMOND, et al, 2014). É no contexto histórico do modelo gerencialista, iniciado por volta dos anos 90, que o termo gestão passou a ser empregado. A nova administração, então denominada de gestão pública, caracterizava-se por ser dotada de eficácia, eficiência, transparência, pautada na democracia e participação popular, engajada no planejamento estratégico de ações a serem executadas pelo poder público, permitindo a participação popular em debates públicos, visando ao final garantia de prevalências dos direitos de uma coletividade (REK, 2015). 2.1. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA: LEGALIDADE, IMPESSOALIDADE, MORALIDADE E EFICIÊNCIA Atualmente a Gestão Pública é dotada de princípios norteadores, sejam princípios constitucionais e administrativos, o que difere, portanto, da época do surgimento da administração, que era timidamente regida pelas regras vigentes na sociedade contemporânea. A Constituição Federal de 1988, em seu Art. 37, dispõe que a administração públicadireta ou indireta, de qualquer dos poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, obedecerá a cinco princípios: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência (CONSTITUIÇÃO FEDERAL, 1988). Quando se fala em legalidade, diz-se que os atos de gestão devem ser praticados de acordo com os ditames estabelecidos por lei, ou seja, o gestor deve agir como a lei determina. Os atos devem ser praticados de forma impessoal, ou seja, em prol de uma coletividade, sempre visando o bem comum, em detrimento de benefícios pessoais. Quanto à moralidade, tal princípio coíbe o distanciamento da administração pública da moral, ou seja, obriga que a atividade administrativa seja pautada na lei, primeiramente, bem como na lealdade, probidade e boa-fé, seguindo preceitos éticos. O princípio da publicidade é garantidor da transparência da execução dos atos, de modo que toda a população tenha acesso às informações que divulguem todas as atuações e decisões do gestor. Por fim, não menos importantes que os demais e diga-se de passagem um dos mais procurados e questionados pela população no geral, o princípio da eficiência, que fora incorporado ao rol da Constituição Federal por intermédio da Emenda Constitucional nº 19/98. Conceituado de forma genérica, está intimamente ligado à qualidade dos serviços prestados à sociedade, abrindo caminhos para que a população possa exigir a qualidade dos serviços e produtos provenientes do Estado (CASTRO, M.B., et al, 2017). Assim, é também conceituado como o dever imposto a todo e qualquer gestor público para que suas atribuições sejam realizadas com presteza, perfeição e rendimento profissional (CASTRO, M.B., et al, 2017). 3 A FIGURA DO PATRIMONIALISMO NO BRASIL: DO COLONIALISMO AO SÉCULO XXI O termo patrimonialismo surgiu no final do século XIX, e seu criador foi o sociólogo alemão Max Weber. O conceito de patrimonialismo está voltado para uma forma específica de dominação de poder, que abrange as esferas econômica e sociopolítica. É uma concepção de poder no qual as esferas pública e privada são confundidas, e muitas vezes podem parecer indistintas. Como a própria etimologia da palavra sugere, o governante detinha o poder como se seu fosse, ou seja, como se fosse seu patrimônio. Tal comportamento tornou-se comum em todos os absolutismos. O autor Sérgio Buarque de Holanda em sua Obra Raízes do Brasil (1936), cita a ausência de distinção entre o público e o privado pelo homem cordial, levando para a esfera pública as características comportamentais e organizacionais de seu próprio âmbito familiar. Ele afirma que para o funcionário “patrimonial”, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; as funções, os interesses e os benefícios que deles aufere, relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalece a especialização das funções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos. A escolha dos homens que irão exercer as funções públicas faz-se de acordo com a confiança pessoal que mereçam os candidatos, e muito menos de acordo com as capacidades próprias. Falta a tudo a ordenação impessoal que caracteriza a vida do Estado burocrático. Em nosso país, o modelo patrimonialista fora implantado por intermédio do Estado colonial português, composto pelos senhores feudais, detentores de poderes e terras, perdurando pelo período imperial e posteriormente pela República Velha, perpetrando-se a confusão entre o público e o privado. O jurista Raimundo Faoro fora o responsável pela identificação do patrimonialismo no Brasil, em sua obra Os Donos do Poder - formação do patronato político brasileiro. Na visão de Faoro (1958), no período colonial brasileiro se deu a origem da burocracia e corrupção. Ora, um país então colonizado por portugueses, pertencentes a um estado absolutista, que trouxeram toda a estrutura patrimonialista ao nosso país, teve então sua estrutura econômica assim consolidada, ao contrário dos outros países, que deixaram de lado o modelo patrimonialista. Portugal era um Estado formado por uma extensa área rural, na qual não havia basicamente distinção do que seria a propriedade estatal e propriedade privada do rei. O rei em tudo mandava, era centralizador, burocrático e concentrava não só o poder, mas também terras, bens, despesas e receitas, e os súditos, que tinham suas liberdades individuais limitadas ao rei deveriam ser subservientes. Tais características evidenciam a origem eminentemente patrimonialista do Estado português (SARAIVA, 2019). A colonização brasileira se deu pela figura do monarca exercendo o seu monopólio direto sobre a exploração do pau- brasil e cultura da cana- de açúcar, nos moldes patrimonialista e burocrático. Mais tarde, com a proclamação da independência do Brasil, deu-se o surgimento de um Estado, e Dom Pedro teria que promover uma nova organização administrativa, o que não foi possível, haja vista que o modelo colonial não fora extinto, apenas sofreu o fenômeno da modernização. Com o marco da Proclamação da República, permaneceu o fenômeno de subordinação e dominação, mas tal obediência deixou de ser do imperador e passou à figura dos políticos. Nesse contexto surgem as eleições, a figura do coronelismo, as trocas de favores, e a ausência de divisão entre os interesses públicos e privados (SARAIVA, 2019). O próprio Estado, com o passar dos anos, tentou criar mecanismos que pudessem disfarçar o patrimonialismo, ou digamos amenizar essa forma de intervenção estatal. O termo ganhou inclusive uma nova abordagem, qual seja a “apropriação do público pelo privado”. Diga-se de passagem, o conceito de patrimonialismo, nestes termos, pode se confundir ao conceito de corrupção, que é a obtenção de vantagens ilícitas, todavia, são duas coisas distintas que não se confundem, pois a corrupção está presente não só na esfera pública como também na privada, e em todos os países do mundo, que não tiveram inclusive a formação histórica pautada no patrimonialismo, como é o caso do Brasil (COSTA, 2018). O fenômeno patrimonialista enraizado na cultura e sociedade brasileiras, com reflexos diretos sob a administração pública, após uma série de avanços econômicos e sociais, procurou adequar-se às novas relações de poder, e tal adequação é concomitante a toda e qualquer reforma administrativa lançada por iniciativa do poder público e seus governantes. A submissão dos interesses privados em detrimento dos interesses coletivos, muitas vezes caracterizados como atos de corrupção, prática bem acentuada em nosso meio, é a caracterização da lógica patrimonialista moderna, presente em todas as camadas sociais, e que vem há anos tentando ser combatida. 4 PATRIMONIALISMO, GESTÃO EM SAÚDE E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Como já fora citado, a corrupção, dita “filha” do patrimonialismo (SARAIVA, 2019) está presente em todas as classes sociais e em todos os setores da administração pública. Porém um setor chama mais atenção e atualmente está em voga que é o setor da saúde. A prestação de serviços ainda é bastante precária, por vezes pela falta de planejamento, falta de gerenciamento dos processos, ausência de qualificação ou ainda pelo emprego das verbas destinadas de forma desmedida, as falhas e fraudes, e as licitações acabam gerando confrontos e o objetivo da eficiência quase nunca é atingido. Várias instituições de saúde têm reclamado da qualidade e comprometimento dos serviços prestados por terceiros. O que mais se destaca nas reclamações é que todas elas se referem a prestadores distintos, ou seja, não existe um foco em determinado prestador de serviços, mas um descontentamento generalizado com extensa gama de prestadores, desde pequenas empresas prestadoras de serviços,cooperativas de trabalho até grandes prestadores de serviços internacionais. Onde está a origem do problema? Estamos falando de empresas sem qualificação para prestar serviços na área de saúde? Ou será que os tomadores de serviços não sabem exatamente o que querem na hora de escolher o aliado estratégico? Como desenvolver um planejamento para contratar prestadores de serviços na área de saúde, apontando de maneira detalhada as reais necessidades, observando os riscos, contingências, o cumprimento da legislação, estabelecendo e monitorando níveis de serviços? Nota-se que uma das grandes dificuldades de um planejamento nos serviços de saúde está na gestão de pessoas e na prestação de serviços, onde os conflitos interpessoais, políticos e econômicos são aspectos bem evidentes ( FITZSIMMONS, 2014). Nos deparamos com prestadores de serviços com produtos de preços elevados mas com qualidade e bom prazo de entrega, e preços acessíveis com problemas de qualidade e entrega a médio e longo prazo. Segundo Fitzsimmons, 2014, é preciso que se tenha segurança nos contratos, estabelecendo as relações econômicas com segurança de deveres e direitos das partes e em quais condições o contrato deverá ser fechado com previsões futuras de problemas e adiantando eventuais soluções com responsabilidades das informações. É fundamental que haja uma formalidade contratual entre gestores e prestadores de serviços e que seja firmado um compromisso entre as partes, quantitativamente e qualitativamente, vislumbrando a garantia da legalidade das negociações financeiras. Para assegurar que essas funções sejam realizadas, deverão as partes cumprir as regras fixadas na legislação pertinente às Licitações e aos Contratos Administrativos (SPILLER et al, 2015). Um contrato formaliza os objetivos e entendimentos durante a prestação dos serviços, com celebração do negócio. A dimensão da eficiência é outro aspecto crucial na contratação de prestadores de serviços, pois além de não termos um acompanhamento da alta nem da média liderança, o que torna a resolutividade dos problemas inadequada, passamos por um acompanhamento orçamentário de autonomia de outra instituição e que na maioria das vezes não está disponível para acompanhamento, é o que acontece nas parcerias público privadas (PPP) e as organizações sociais de saúde (OSS). A instituição somente encaminhava um relatório de despesas e os recursos são destinados a aquisição e reposição de equipamentos. A ausência de documentos, metas de segurança, indicadores, metas a serem alcançadas, protocolos clínicos, registros, seja relacionado a gestão, bem como a toda equipe multiprofissional, são também alguns dos aspectos que interferem na eficácia dos serviços (SPILLER et el, 2015). Para tanto, é desejável e pertinente o envolvimento das equipes multidisciplinares na revisão de processos já existentes e construção de protocolos, fluxos e processos ausentes, bem como alimentar a cultura de segurança do paciente através da implantação das metas de segurança do paciente, acrescido da importância de se divulgar conceitos precisos e claros a todos, garantindo os feedbacks. A terceirização é flexibilizada tanto do ponto de vista da prestação de serviços, ou por meio de insumos, como medicamentos, exames e tratamentos especializados voltados para os direitos sociais e da saúde ( MARTINS, 2014). A terceirização na prestação de serviços, se faz na área meio (limpeza e segurança) e na área fim (assistencial) e é argumentada na flexibilização, racionalização e celeridade na forma que o serviço de saúde é prestado, além do que atende uma necessidade política de gestores municipais e estaduais. É útil e tem grandes propósitos, mas o grande problema é o uso, que deve ser dotado de impessoalidade, moralidade e transparência, com uso adequado, ou apenas uma estratégia de gestores. Dentro do direito à saúde, temos que pensar também no bem-estar do ser humano, o direito a ter uma vida saudável, em uma amplitude maior. As OSS ainda têm um comportamento muito assimétrico, pois há uma grande variação nos resultados, uns bons, outros ruins, em virtude da pluralidade dessas organizações e devido à universalidade do SUS e do caráter público. Alguns dos grandes conflitos são os contratos de gestão, pois há uma liberdade de contratação na seleção de profissionais e valor (pro labore), que traz uma assimetria e uma rotatividade grande nos serviços, impedindo que seja criado um vínculo mais duradouro, principalmente nos serviços de prevenção, problemas familiares, psicológicos e sociais. Outro aspecto é que as organizações sociais de saúde estabelecem metas a serem cumpridas, metas essas que não estabelecem humanização nem integralidade do cuidado, e promovem a dosimetria, medidas e ordenação do sistema. E o que não pode ser medido, as vezes não pode ser administrado. O controle social é também um pressuposto do sistema de saúde, conceituado como um princípio constitucional, ético e de gestão que tem que dialogar com os princípios da terceirização dos serviços. Existe uma cultura política substancial na interferência da terceirização dos serviços em saúde( MARTINS, 2014). É necessário se fazer um dimensionamento dos serviços pautados na lógica de privatização em saúde, pois a própria saúde suplementar se tornou alvo da dimensão pública, pois é um bem de consumo que garante uma certa estabilidade construída pelos governantes. O cumprimento da legislação se dá pela judicialização em saúde, que é progressiva e ocorre na dimensão curativa, nunca nas estratégias de prevenção, e nos âmbitos públicos nem privados. Na maioria das situações, o processo judicial é motivado principalmente por total falta de comunicação entre instituição e família. Quando o processo é iniciado, o objetivo principal é a busca por explicações e pelo que motivou o “não feito”, pelo reconhecimento da falha das instituições e também, por objetivos financeiros. Acredita-se que poderia ser amenizado se tivéssemos incorporado antecipadamente uma política de assumir o erro e usar de transparência na comunicação imediata com o paciente e família. Nossas instituições precisam implantar políticas de mapeamento de riscos e probabilidade dos erros ocorridos. Desenvolver também uma política de comunicação direta com o paciente e familiares, a fim de oferecer informação básica sobre a lei e o processo legal, com o objetivo de reduzir a ansiedade quanto a ação legal. Além de educar nossos profissionais sobre o erro nas atividades humanas na tentativa de estimular uma atitude mais realista e mais produtiva. Há uma grande necessidade de repensar o modelo assistencial decorrente das mudanças demográficas, e também epidemiológicas, e da baixa capacidade da atenção médica fragmentada pela especialização progressiva. Essa busca de alternativas menos dispendiosas de atenção e otimização de recursos empregados, tem que ter equipes de saúde com a capacidade de fazer promoção e prevenção e com resolutividade clínica com capacidade de atender aos problemas crônicos. Fica claro que temos atividades de prevenção enfraquecidas e de pouca resolutividade com encaminhamentos desnecessários e grandes obstáculos para o atendimento das necessidades, mais uma vez restando prejudicada a eficiência dos serviços. 5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O presente artigo utilizou-se de uma abordagem qualitativa, bibliográfica, de cunho exploratório, realizada por meio de busca eletrônica de palavras chaves, obtendo uma série de artigos científicos, bibliografia nacional e internacional, atos normativos e recomendações oriundos de instituições públicas e legislação nacional. Conforme dispõe Eva Maria Lakatos (1992, pag. 35), a pesquisa bibliográfica permite compreender que, se de um lado a resolução de um problema pode ser obtida através dela, por outro, tantoa pesquisa de laboratório quanto à de campo (documentação direta) exigem, como premissa, o levantamento do estudo da questão que se propõe a analisar e solucionar. Portanto, a pesquisa bibliográfica pode ser considerada como o primeiro passo de toda pesquisa científica. Através do material bibliográfico disponível foi possível estabelecer a interligação dos conceitos a serem discutidos, possibilitando uma compreensão geral do sistema administrativo brasileiro, arraigado à estrutura patrimonialista, bem como foram analisados dados teóricos recentes bastante debatidos e dentro de um contexto atual vivenciado pela população, para enriquecer o debate entabulado no presente estudo. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base no panorama histórico delineado, conseguimos entender que a base patrimonialista brasileira, difundida pela colonização portuguesa, no decorrer dos anos, nunca fora deixada de lado. Como já dito, os demais países que sofreram influências portuguesas em sua colonização, acabaram deixando de lado tal comportamento. Ainda que ao longo dos anos as evoluções trazidas ao campo histórico e cultural proponham mudanças positivas a este tipo de comportamento, permanece a cultura apegada à burocracia, patriarcalismo e centralização de poder na figura dos governantes. É latente a tomada de decisões pautadas na não preservação da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, deixando de lado o verdadeiro foco do que seria o objetivo da administração pública, que seria atender aos interesses públicos, e não somente de uma minoria. A tão sonhada eficiência do serviço público é comumente esquecida, considerando que o que se espera é a produtividade por parte de quem exerce cargo ou função pública, como também os destinatários finais esperam pelo atendimento satisfatório dos seus anseios. Eficiente, portanto, é aquela administração que melhor atenda às necessidades da coletividade, utilizando-se dos recursos públicos disponíveis, no menor tempo possível e a um baixo custo. A crise no sistema de saúde, e as máculas existentes são exemplos diretos da falta de planejamento e gestão, ou mesmo subutilização dos mecanismos de gestão disponibilizados, o que desencadeia uma série de problemas, que vem à tona e a população em especial a que depende do SUS para atendimento é a mais prejudicada. O presente estudo contribui para a abertura de outros estudos e questionamentos, que podem ser fundamentados no contexto histórico atual, do ano de 2020 e da pandemia mundial, onde diariamente se observou e ainda se observa o cenário da briga por poder, o uso da politicagem nas decisões, as constantes fraudes às licitações, superfaturamento de insumos hospitalares, medicamentos, e a consequência desastrosa de colapso nos hospitais, inúmeras mortes, algumas prisões, condenação de gestores, afastamento dos cargos ocupados. Porém, isso tudo mais parece um ciclo vicioso, que sempre existiu e deixa a sensação e uma reflexão, de que ainda pode perdurar anos a fio. 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