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ATIVIDADE INTEGRADA DIREITOS HUMANOS E DIREITO PENAL: COMENTÁRIO CRÍTICO ACERCA DA AULA EXPOSITIVA SOBRE O ENCARCERAMENTO EM MASSA E O TEXTO BASE “O ENCARCERAMENTO SELETIVO DA JUVENTUDE NEGRA BRASILEIRA: A DECISIVA CONTRIBUIÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO” DE SALO DE CARVALHO. BELÉM, 03 DE JUNHO DE 2022. A princípio, pouco se discute acerca do encarceramento em massa e do sistema penal brasileiro em contraposição aos direitos humanos, razão pela qual se faz necessária a presente análise sobre o tema. Primordialmente, é fundamental realizar um recorte histórico sobre a pena privativa de liberdade, isto é, a pena de prisão. Sabe-se que a prisão, como é conhecida hoje, surgiu no fim do absolutismo, nos meados do século XVIII, como forma de confinar àqueles que representavam, supostamente, um “risco à sociedade”. Apesar dessa perspectiva causar uma sensação de distanciamento em relação aos dias atuais, o objetivo do sistema prisional brasileiro não é tão diferente. O próprio escopo da pena privativa de liberdade é privar um cidadão do convívio em sociedade, em prol da “segurança” e do ``bem coletivo”. Entretanto, sabe-se que essa medida não consegue solucionar a origem do problema, a qual tem raízes profundas na desigualdade social e na violência congênita e racista do sistema penal brasileiro. Cremos ser fundamental o trajeto apontado por Salo de Carvalho, configurando o apartheid criminológico - ideais burgueses escravocratas da virada do século XIX ao XX -, tornando o sistema carcerário brasileiro um cenário de discursos punitivistas raciais, o que concerne a população negra ser a vítima preferencial da seletividade deste sistema. Eis que Salo aponta, minuciosamente, a Lei de Crimes Hediondos, a Política Criminal de Drogas, os delitos patrimoniais sem e com violência, os substitutivos penais e a aplicação judicial das penas, revelando a contribuição - direta ou indireta - do Poder Judiciário ao fenômeno do encarceramento em massa da população jovem negra. Ainda neste panorama, o texto de Salo nos leva a uma reflexão jurídica-sociológica sobre o atual fenômeno do encarceramento em massa propondo ao longo do texto, através de pesquisa quantitativa, as razões que proporcionam tal ocorrência. Há de fato, alegações verídicas quanto à omissão do Poder Judiciário e tal omissão traz uma progressão crescente no sistema carcerário, punindo sobretudo de forma seletiva racial. Em suma, não nos foi custoso perceber que atualmente, o sistema punitivo e o encarceramento em massa não estão relacionados necessariamente à práticas delitivas e sim, políticas criminais anacrônicas e discriminatórias raciais, e este debate versa sobre a ilegalidade de todas as prisões brasileiras, criticando a aplicabilidade do sistema prisional ao colocar a dualidade entre o que se espera de uma prisão sob uma ótica legal (baseada na lei) e o que se tem na prática (realidade adversa dos termos previstos em lei e, portanto, ilegais). Percebe-se que, em razão de tal fenômeno do encarceramento, há uma manifestação direta da violação dos direitos humanos ao desamparar direitos básicos dos encarcerados e sua integridade física, ambos legalmente assegurados. À despeito dos direitos humanos, entendemos e anuímos que esta deveria proporcionar condições de dignidade inerentes à prática cometida pelo indivíduo, entretanto, por mais que essa aplicação esteja legalmente prevista, perdura-se uma violência as premissas fundamentais dos direitos humanos. No mais, consegue-se visivelmente observar esta violência estrutural no fenômeno do encarceramento em massa, nos abusos físicos e morais e nas péssimas condições de higiene vivenciadas pelos presos, incitadas pela cultura do “bandido bom é bandido morto”, ao vincular o crime ao indivíduo que o cometeu e não a sua condição inerente de ser humano, que deve gozar de proteção aos seus direitos. Se nos cabe sugestionar uma medida para melhores condições de vida prisionais, ao tempo que entendemos ser uma questão que necessita de debates mais aprofundados, seria a limitação do que definiria a tutela penal, ao limitar a criação de leis e sua aplicação, servindo uma proporcionalidade entre a aplicação do direito penal e a aplicação dos direitos humanos no sistema penitenciário, criando um limite ao poder que o Estado tem de punir.
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