Buscar

tcc trabalho final-1

Prévia do material em texto

Faculdade Estacio Curitiba 
 
 
 
Curso bacharel em direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Livancler de oliveira 
 
 
A identidade de gênero no sistema prisional brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Orientador: Prof. CRISTIANE DUPRET FILIPE PESSOA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Curitiba 
2022 
2 
 
Faculdade Estacio Curitiba 
Curso bacharel em direito 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A identidade de gênero no sistema prisional brasileiro. 
 
 
Livancler de Oliveira 
 
 
 
Trabalho de conclusão de curso 
apresentado como requisito parcial para 
obtenção do título de bacherel em direito 
 
 
Orientador: Prof. CRISTIANE DUPRET FILIPE PESSOA 
 
 
 
 
 
 
Curitiba 
2022 
3 
 
 
A identidade de gênero no sistema prisional brasileiro. 
 
Livancler de Oliveira 
 
 
Resumo: Esse trabalho tem como objetivo explorar o universo das travestis que 
em algum momento de suas vidas vem a cometer um ato criminoso, vamos 
entender quem são as pessoas pertencentes a essa comunidade, os desafios que 
elas enfrentam no dia a dia, entre preconceitos e direitos fundamentais que ao longo 
da vida são negados, falta de oportunidade de empregos, as dificuldades da 
sobrevivência, prostituição, uso de drogas e a vida no submundo do crime. Vamos 
nos aprofundar na questão do cumprimento da pena em caso de ação penal 
condenatória transitada em julgado, onde a travesti deve cumprir a sua pena, em 
uma penitenciaria feminina ou masculina. como garantir os direitos fundamentas 
previstos na constituição do Brasil, para que essas pessoas tenham a sua dignidade 
respeitada dentro do sistema prisional, de que forma o Estado brasileiro tem se 
comportado para que não haja abusos sexuais nessa população minoritária. 
 
Palavras-chave: Travestis, sistema prisional, garantias e direitos. 
 
Abstract: This work aims to explore the universe of transvestites who at some point 
in their lives commit a criminal act, let's understand who the people belonging to this 
community are, the challenges they face on a daily basis, between prejudices and 
fundamental rights lifelong denials, lack of job opportunities, the difficulties of 
survival, prostitution, drug use and life in the criminal underworld. We will delve 
deeper into the issue of serving the sentence in the case of a final and unappealable 
criminal action, where the transvestite must serve her sentence, in a female or male 
penitentiary. how to guarantee the fundamental rights foreseen in the Brazilian 
constitution, so that these people have their dignity respected within the prison 
system, how the Brazilian State has behaved so that there is no sexual abuse in this 
minority population. 
 
Key words: Transvestites, prison system, guarantees and rights. 
 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Sumário 
 
 
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 5 
2. QUEM SÃO AS PESSOAS PERTENCENTES A COMUNIDADE DAS TRAVESTIS. .... 6 
3. TRAVESTIS, PROSTITUIÇÃO E O UNIVERSO DO CRIME. ........................................ 8 
4. O SISTEMA PRISIONAL PARA AS TRAVESTIS ........................................................ 12 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 17 
6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 18 
5 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
 
Este artigo procura trazer o entendimento de como nosso sistema prisional se 
encontra para abrigar as classes chamadas minorias, em especial a classe das 
travestis, em quais condições ocorrem o encarceramento e as garantias 
constitucionais mínimas para o cumprimento da pena. Vamos analisar de forma 
concreta a deficiência de nosso sistema prisional em garantir direitos fundamentais e 
os crimes de natureza sexual e psicológicos que ocorrem com essa classe dentro das 
penitenciarias brasileiras. 
Estabelece a constituição federal do Brasil de 1988 os direitos e garantias 
fundamentais de qualquer ser humano, sem que haja discriminação no que tange ao 
sexo e gênero. Não obstante, existem diversos tratados internacionais no mesmo 
sentido que garantem a proteção dos direitos humanos, infelizmente esses preceitos 
básicos não têm sido respeitados no Brasil, haja vista o notório conhecimento da 
estrutura debilitada, precariedade, da superlotação de nossas cadeias, inclusive do 
reconhecimento do supremo tribunal federal, do estado de coisa inconstitucional de 
nossos estabelecimentos prisionais. 
O problema na maioria das vezes não se inicia dentro do sistema prisional, ele 
vem da falta de políticas públicas para garantir a dignidade das travestis. Em muitos 
casos não a aceitação delas no mercado de trabalho, o que leva muitas a se 
prostituírem para sobreviver, há uma luta diária para garantir um misero prato de 
comida e dessa forma terminam adentrando no submundo do crime, várias vezes 
tentadas por uma vida melhor que o Estado nega a elas todos os dias. A incentivos 
para empregabilidade de deficientes, menor aprendiz, primeiro emprego, idosos, 
porém não se fala em incentivos para empregar travestis, embora exista um projeto 
de lei apresentado a câmera dos deputados PL 114/21 que estimula a contratação de 
travestis e transexuais, ainda é muito pouco. 
Diante dessa problemática, nossa questão de pesquisa consiste no seguinte 
ponto, entender melhor sobre o universo das travestis e o conceito do que é ser uma 
travesti, como nosso sistema prisional as recebem e quais os mecanismos utilizados 
pelo estado para garantir a segurança delas. 
6 
 
 
 
2. QUEM SÃO AS PESSOAS PERTENCENTES A COMUNIDADE DAS TRAVESTIS. 
 
 
 
Quando se trata de como conceituar o que é uma travesti há sempre um 
paradoxo para resolver, nem mesmo as pessoas pertencentes a essa comunidade 
conseguem definir exatamente o que é ser uma travesti, ou falar qual a diferença entre 
uma travesti e um transexual. Muitos dizem que travesti é um termo pejorativo que 
faz alusão a prostituição, na verdade travesti é uma pessoa que foi designada homem 
no seu nascimento, mas se entende como uma figura feminina. 
A revista veja de São Paulo-sp, em sua edição de abril de 2022, traz uma 
matéria sobre a atriz e cantora Linn da Quebrada, participante do BBB22, que gerou 
na internet o debate sobre os termos mulher trans e travesti. A atriz e cantora afirmou 
que se identifica como travesti, e não como mulher trans. Mas qual é a diferença entre 
os termos? A psicóloga especializada em sexualidade e co-fundadora do Instituto de 
Psicologia e Sexologia Essência Rara (IPSER), Priscila Junqueira, explica que, 
segundo a definição aceita pela comunidade LGBTQI+, mulher trans é uma 
identidade feminina que está dentro da binariedade de gênero, ou seja, as 
classificações homem e mulher. Já travesti é um termo que está no espectro feminino, 
mas tem identidade própria de gênero. Ou seja, a pessoa não necessariamente se 
identifica como uma mulher, mesmo que pareça feminina (lembrando que ambos os 
termos se referem à identidade de gênero que, segundo a especialista, é sempre 
autodeclarada e não definem a orientação sexual do indivíduo). A própria Linn da 
Quebrada, em discurso de apresentação, ressaltou: “Não sou homem nem mulher, 
sou travesti”. 
Uma travesti não quer ser uma mulher, não quer ter uma genitália feminina, ela 
se sente feminina, age como feminina, mas não é uma mulher. Isso ao longo dos anos 
tem trazido uma grande problemática para a sociedade, não é fácil entender o que de 
fato acontece dentro da psique do indivíduo que se declara travesti, muitos não 
entendem e em decorrência da falta de conhecimento nasce o que chamamos de 
preconceito. Talvez muitos estejam se perguntando o que isso tem a ver com a 
matéria de direito penal? Eu digo, tudo haver, precisamos entender um pouco melhor 
sobre o universo dessa classe, para traçar um entendimento de comoa sociedade 
7 
 
brasileira tem sido omissa as mazelas que vem acontecendo e os impactos que isso 
tem gerado em nosso país. 
 
. 
A ignorância gera o preconceito, o preconceito limita e elimina as minorias. 
Hoje no Brasil a uma grande dificuldade para que pessoas que se declarem travestis 
consigam adentrar ao mercado de trabalho, as empresas costumam não contratar e 
eliminam as candidatas sem informar um motivo aparente, simplesmente informam 
que não foram aprovadas no processo seletivo. Muitas infelizmente não têm 
qualificação para pleitear vagas com melhores remunerações, pois o problema 
estrutural se inicia já nos primeiros anos de vida, na escola, já no ensino básico sofrem 
preconceitos pois os colegas de turma não conseguem entender que um menino se 
comporte como uma menina, não havendo aceitação por grande parte dos colegas 
de classe, sem dúvida isso leva a criança, que ainda não tem ciência de que é uma 
travesti, a perder o interesse na escola. Com o passar dos anos isso também se 
estende para dentro de casa, muitos país não aceitam os filhos se assumindo como 
filhas, o que gera o conflito familiar, muitas ainda adolescentes são colocadas para 
fora de casa, o fator psicológico destrói a capacidade de aprendizagem o que leva a 
evasão escolar. 
O deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), percebendo essa dificuldade 
que muitas tem para conseguirem se inserir ao mercado de trabalho, elaborou um 
projeto de lei que cria uma obrigatoriedade para as grandes empresas em contratar 
travestis, trata-se da PL 114/21, esse projeto dispõe sobre a reserva de vagas de 
emprego ou estágio para mulheres transexuais, travestis e homens transexuais nas 
empresas privadas. Esse projeto determina que as empresas com mais de 100 
empregados que gozem de incentivos fiscais, participem de licitação ou mantenha 
contrato ou convenio com poder público federal, contratem pessoas autodeclaradas 
travestis e transexuais na proporção de, no mínimo, 3% do total de seus empregados. 
Pela proposta em análise na Câmara dos Deputados, a mesma reserva será 
aplicada às vagas de estágios e trainees dessas empresas. Caso as empresas 
descumpram os percentuais, ficarão sujeitas à perda dos incentivos fiscais ou à 
rescisão do contrato ou convênio. 
8 
 
Autor do texto, o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) cita a estimativa da 
Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) apontando que 90% das 
pessoas trans recorrem à prostituição ao menos em algum momento da vida, por 
conta da exclusão do mercado de trabalho. Isso vai ajudar, mas não solucionar o 
problema, é impressionante o fato de ser necessário a criação de uma 
obrigatoriedade para que empresas contratem pessoas, seres humanos como 
qualquer um, que por uma orientação sexual são excluídas da sociedade. O fato é 
que quando o Estado falha no comprimento de suas obrigações, o chamado poder 
paralelo do crime assume o controle. 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes. (Constituição Federal do Brasil 1988.) 
 
 
 
3. TRAVESTIS, PROSTITUIÇÃO E O UNIVERSO DO CRIME. 
 
 
Basta algumas voltas palas principais avenidas das grandes cidades para 
verificar que em várias esquinas existem travestis oferecendo seu corpo em troca de 
dinheiro, sim, estão se prostituindo, as calçadas imundas são testemunhas do 
desespero daquelas que precisam sobreviver, sem emprego, sem dignidade, com 
seus direitos cerceado por um Estado inoperante que trata os pobres como pobres, 
ricos como ricos e claro as minorias como minorias. A constituição só existe no papel, 
porque é rasgada todos os dias quando uma pessoa precisa se prostituir, para comer, 
dormir, tomar banho, vestir-se, enfim ter uma vida com a mínima dignidade possível, 
uma classe que até aos olhos de Deus é reprimida e condenada, o amor que o 
cristianismo prega não é estendido a elas, pois as próprias igrejas as condenam e 
muitas não permitem a sua presença em seus cultos ou projetos sociais. 
O fato de viverem nas ruas vendendo a única coisa que possuem, o próprio 
corpo, acaba permitindo que muitas travestis terminem suas trajetórias de maneira 
muito triste. Em 2021 foram registrados o assassinato de 140 pessoas trans, sendo 
135 travestis, o número foi menor do que o ano anterior que foram registrados 175 
9 
 
assassinatos de pessoas trans, os dados estão no dossiê assassinatos e violências 
contra travestis e transexuais brasileiras. O Brasil foi pelo 13° ano consecutivo, o país 
onde mais pessoas trans foram assassinadas, em relação a distribuição geográfica, 
São Paulo foi o estado com mais homicídios (25), seguido por Bahia (13), Rio de 
Janeiro (12) e Ceará e Pernambuco (11). 53% tinham entre 18 e 29 anos; 28% entre 
30 e 39 anos; 10% entre 40 e 49 anos; 5% entre 13 e 17 anos e 3% entre 50 e 59 
anos. Quanto à raça, 81% das vítimas se identificavam como pretas ou pardas, 
enquanto 19% eram brancas. 
 
 
 
 
 
 
 
A pesquisa ainda aponta que 78% das pessoas eram profissionais do sexo, 
segundo a pesquisa esse perfil é majoritário por consequência de serem empurradas 
para prostituição compulsoriamente pela falta de oportunidades, onde muitas se 
encontram em alta vulnerabilidade social e expostas aos maiores índices de violência, 
a toda sorte de agressões físicas e psicológicas. 
Embora o texto de lei não seja claro quanto ao entendimento de que mulher 
trans é mulher também, em um julgado recente, a sexta turma do Superior tribunal de 
justiça (STJ) estabeleceu que a lei Maria da penha se aplica aos casos de violência 
doméstica ou familiar contra mulheres transexuais, entendeu-se que mulher trans é 
mulher também, o colegiado deu provimento ao recurso do Ministério Publico de São 
Paulo e determinou a aplicação das medidas protetivas requeridas por uma 
transexual, nos termos do artigo 22 da lei 11.340/2006, após ela sofrer agressões de 
10 
 
seu pai na residência da família. Porém vale destacar que os Juízes de primeiro grau 
negaram as medidas protetivas, entendendo que a proteção maria da penha seria 
limitada a condição de mulheres biológicas, diante disso fica muito obvio o 
engessamento e a falta de interpretação que muitos magistrados demonstram na 
aplicação e interpretação da norma em alguns casos concretos que se apresentam 
nas varas criminais. 
É difícil imaginar uma vida de medo e descriminação que ocorre todos os dias, 
24 horas por dia, somente quem vive tal situação pode tentar mensurar a agonia de 
ter medo a cada esquina que avista um grupo de pessoas vindo em sua direção, 
nunca se sabe se naquele momento haverá alguma agressão, seja ela física ou 
psicológica, são vistas como objeto sexual, muito longe de serem observadas como 
ser humano, vivem as mazelas das ruas, adentram carros sem conhecer a pessoa 
que está conduzindo o veículo, se expõem ao risco de morte constante para se 
mantarem vivas, mas o preço em alguns casos é a morte, uma dicotomia que se aplica 
ao famoso ditado popular, se corre o bicho pega e se ficar o bicho come. 
Precisamos rever a interpretação da letra da lei, nosso código penal prevê o 
crime de feminicídio no artigo 121 § 2° inciso IV (contra a mulher por razões da 
condição de sexo feminino, incluído pela Lei nº 13.104, de 2015), para muitos esse 
artigo refere-se a mulheres biológicas, não se estendendo a mulheres que tenham 
nascidas biologicamente homens, mas você pode estar se perguntando, as próprias 
travestis não se consideram mulheres, porque deveriam ser enquadradas como se 
assim fossem? o texto diz em razão do sexo feminino, lembrando que uma travesti é 
feminina, embora não seja mulher. Dessa forma fica evidente que o texto de lei se 
estende as travestis, mas não é o que se vê na maioria dos tribunais,o crime contra 
elas é enquadrado como homicídio comum, salvo por algum outro agravante. 
O STJ, em um julgado, recentemente decidiu que caberia ao tribunal do júri 
decidir se o homicídio cometido contra uma travesti deveria ser qualificado como 
feminicídio, segundo os advogados dos réus, os agressores e assassinos no 
momento do crime, gritavam você precisa virar homem, o que desfigurava o crime de 
feminicídio, apontando para o crime de ódio, porém para os ministros isso pode 
caracterizar o menosprezo para com o sexo feminino, diante do impasse a corte 
decidiu que caberia aos jurados decidirem a questão. Esse é a penas um dos casos 
que todos os dias adentram as delegacias, varas criminais e tribunais em todos os 
11 
 
estados brasileiros, o que acaba criando um limbo muito grande de como interpretar 
a lei nesses casos, mas o fato de o crime contra travestis por razão de serem 
femininas ser enquadrado como feminicídio, pode trazer uma punibilidade maior ao 
agente causador, o que certamente irá diminuir o número de crimes contra a vida das 
travestis. 
Diante desse contexto existe o fato de que nossas calçadas e esquinas tem 
dono, como dito anteriormente onde o Estado não atua, o chamado crime organizado 
domina, existem centenas de relatos de travestis que precisam pagar para trabalhar 
nas ruas, seria uma quantia diária para poder ficar naquele espaço, muitas são 
obrigadas a vender entorpecentes se quiserem trabalhar. Em uma operação realizada 
pela polícia civil do paraná na cidade de Curitiba no ano de 2015 foi desmantelada 
uma quadrilha que explorava sexualmente travestis, segundo a reportagem cerca de 
60 policiais civis foram as ruas para cumprir 11 mandados de prisão e outros 12 de 
busca e apreensão. As investigações foram conduzidas pelo 7° distrito policial, o 
suspeito apontado como líder da quadrilha extorquia as vítimas obrigando-as a vender 
drogas para os clientes durante o programa sexual, A investigação ainda apontou que 
cada travesti deveria repassar R$ 250,00 por semana ao líder da quadrilha. 
O crime é algo que rodeia a vida das travestis constantemente, muitas dês de 
a adolescia já praticam pequenos furtos, para conseguirem comprar algo para si, o 
fato de passarem muitas horas de suas vidas nas ruas, quando a o abandono da 
escola e da família, acaba facilitando o convívio com usuários de drogas e por 
consequência muitas se tornam viciadas e para manter o vicio iniciam a vida criminal, 
a princípio através de furtos, roubos, estelionato. Não é novidade assistir ou ler 
matérias em jornais que tratam de golpes aplicados por travestis utilizando as redes 
sociais. Elas realizam chantagens com clientes, alegando que em caso de não haver 
um pagamento em dinheiro pelo seu silencio, vão trazer a público o relacionamento 
entre eles. Em matéria publicada pelo portal de notícias g1, evidencia um caso em 
que travestis filmavam clientes durante o programa, sem que eles percebessem para 
depois extorquir dinheiro das vítimas, o caso ocorreu em Sorocaba (SP) no ano de 
2019, esse é apenas um dos inúmeros crimes que são registrados todos os dias. 
O tráfico de drogas é algo muito sedutor, a promessa de um dinheiro fácil sem 
o emprego de violência e grave ameaça, ao contrário do roubo, e o fato de que não 
há a necessidade de procurar uma vítima para cometer o crime, o próprio viciado vem 
12 
 
até elas, acaba corroborando para que muitas adentrem ao submundo do tráfico de 
drogas, quem utiliza entorpecentes na maioria das vezes realizam essa pratica 
durante a noite, o que facilita para as travestis angariarem clientes, além do programa 
não é difícil encontrar travestis vendendo drogas. É fácil encontrar manchetes em 
diversos meios de comunicação sobre o envolvimento de travestis praticando essa 
ação delituosa, sendo essa apenas uma porta para o acometimento de outros crimes. 
Entre um programa e outro sempre há espaço para cheirar uma carreira de cocaína, 
ou fumar um cigarro de maconha, o cliente além do sexo pode encontrar o fornecedor 
da droga para ele utilizar, é perfeito, muitos já não as procuram para o programa, mas 
sim para adquirir o entorpecente. 
O trabalho da polícia é incessante, para reprimir a prática criminosa, porém é 
difícil lograr êxito na questão do estado flagrancial, pois muitas portam quantias 
pequenas, o que descaracteriza em alguns casos o crime de tráfico de drogas, na 
maioria dos casos os ilícitos são repassados a elas em pequenas proporções, é 
necessário um trabalho de investigação para desmantelar todo um esquema, além do 
tráfico, fica evidenciado o crime previsto no artigo 288 do código penal, formação de 
quadrilha. Diante disso é evidente o fato de que a comunidade das travestis esta 
expostas a prática delituosa com mais frequência do que as outras classes da 
sociedade, embora isso não seja fator protuberante para a prática criminal. 
 
4. O SISTEMA PRISIONAL PARA AS TRAVESTIS 
 
 
Em 27/08/2015 o supremo tribunal federal, proferiu decisão da medida cautelar 
na ação de descumprimento de preceito fundamental n° 347, de relatoria do ministro 
Marcos Aurelio, nesse feito ficou reconhecido o estado de coisa inconstitucional, 
confirmando que nosso sistema prisional está falido, diversos direitos constitucionais 
são negados aos presos, como direito ao trabalho e a educação, o que reflete os 
autos níveis de reincidência no crime por parte daqueles que deixam a prisão após 
cumprirem a sua pena, porem logo retornam, por não ter passado por uma 
ressocialização correta. O tempo ocioso em que ficam encarcerados poderia ser mais 
bem aproveitado, para estudar e trabalhar, além de passar por um acompanhamento 
psicológico, a fim de tratar os traumas sofridos durante a sua trajetória de vida, e 
repensar os motivos que levam o indivíduo a prática delituosa. 
13 
 
Quando se trata de travestis o problema se mostra mais complexo, além 
das problemáticas supracitadas anteriormente, existem quentões mais profundas 
como o fato de que estamos falando de uma mulher com genitália masculina. Nosso 
sistema prisional separa homens e mulheres em penitenciaria destintas, classificas 
como femininas e masculina, mas onde as travestis devem ser alocadas? na 
penitenciar masculina ou feminina ? na maioria dos casos elas ficam em alas 
separadas dos outros presos em uma cadeia masculina, porem os presídios 
brasileiros estão abarrotados com o problema da superlotação, sendo que nem 
sempre é possível alocar as travestis em uma cela separada, o que coloca em risco 
a sua integridade física e psicológica. 
Muitas pessoas da sociedade civil, são contra o entendimento de que os 
apenados precisam ter seus direitos fundamentais preservados, principalmente o da 
dignidade da pessoa humana. São chamados de lixo por grande parte das pessoas, 
porém o termo lixo, nada mais é do que o dejeto produzido pela própria sociedade, 
que são levados e aterrados nos grandes aterros sanitários, mas não obstante, basta 
uma boa garimpada para que se encontre materiais valiosos nesses aterros, como 
plásticos, metais, papeis, entre outros, que passando por um processo de reciclagem 
retornam para a sociedade utilizar novamente com outras finalidades. Nosso sistema 
prisional é como um grande aterro sanitário, onde enterramos nossos presos, mas se 
fizermos um trabalho de reabilitação de forma correta, essas pessoas podem retornar 
a sociedade de maneira a agregar valores a ela, deixando a vida criminosa. 
Quando falamos das precariedades do nosso sistema fica claro que 
deve se pensar que a questão da identidade de gênero deve ser repensada, uma 
travesti cumprir pena junto com homens é algo extremamente complicado, a grandes 
indícios de que mesmo sobre a tutela do estado elas enfrentam uma serie de abusos, 
o Estado tem fechado os olhos para essa situação e violentam os direitos já 
conquistados por essa classe, através de leis internas e tratados internacionais.O Estado brasileiro reconhece o nome social dos indivíduos, o que é 
considerado um avanço para aceitação de que uma travesti é uma mulher, embora 
biologicamente seja masculina, entendimentos recentes do judiciário traz alento a 
esse respeito, porém quando se trata da questão carceraria isso tudo é apagado, pois 
para os poderes que regem a nação nada disso é levado em consideração, colocar 
uma travesti junto com homens em um mesmo alojamento é algo desumano. Se trata 
14 
 
de uma classe de pessoas que como já analisado anteriormente sofre diversos tipos 
de preconceito ao longo da vida e dentro do sistema penitenciário esses problemas 
se intensificam, não se encontram em lugar nenhum. 
 
 
A juíza da Vara de Execuções Penais do DF 
julgou improcedente pedido formulado por 11 presas 
provisórias, que se declararam transexuais femininas 
ou travestis, e indeferiu sua alocação em 
estabelecimento prisional feminino. 
Ao pleitear a transferência das transexuais 
para a Penitenciária Feminina do DF, a defesa alega 
que a permanência na unidade prisional em que se 
encontram não lhes preserva, por inteiro, a dignidade 
inerente às identidades de gênero e aponta decisão 
recente do ministro do STF Luis Roberto Barroso, que 
teria determinado a transferência de duas travestis 
alocadas em cela masculina no estado de São Paulo 
para “estabelecimento prisional compatível com a 
orientação sexual”. 
Ao decidir, a magistrada destaca que, além de 
a decisão do ministro do STF não ter efeito erga 
omnes (para todos), nela não há menção expressa à 
transferência para presídio feminino. O ministro faz, 
sim, referência à Resolução Conjunta 1 do Conselho 
Nacional de Combate à Discriminação, a qual 
estabelece que a pessoa travesti ou transexual em 
privação de liberdade deve contar com espaços de 
vivência específico, repita-se, sem referência 
expressa a presídio feminino. 
A julgadora ressalta, ainda, que, no DF, as 
pessoas trans encontram-se alocadas em celas 
separadas dos homens e recebem banho de sol 
separado deles, “de forma que suas situações não se 
assemelham em nada àquelas enfrentadas pelas 
15 
 
travestis beneficiadas com a concessão de ordem no 
HC do ministro Barroso”. 
Ao discorrer sobre as diferenças biológicas 
entre as transexuais que não realizaram cirurgia de 
transgenitalização, as travestis e as mulheres cis, a 
juíza afirma: “A musculatura esquelética de quem 
nasceu homem tem fator hormonal que lhe assegura 
vantagem de força sobre a mulher”. E prossegue: 
“Sopesando todas as informações relativas às 
diferenças físicas e a falta de privacidade aliadas ao 
fator confinamento, não é preciso muito esforço 
intelectual para facilmente concluir que a probabilidade 
de ocorrerem brigas ou desentendimentos é grande, 
comum aos ambientes em que há aglomeração de 
pessoas, especialmente em privação de liberdade, 
assim como a probabilidade de haver superioridade 
física das mulheres trans em relação às mulheres cis 
é maior ainda, de forma que estas se tornariam alvos 
frágeis”. Diante disso, conclui que “para preservação 
do direito de uns não pode haver desrespeito aos 
direitos de outros”. 
Por fim, a magistrada registra que “o sistema 
penitenciário do DF segue à risca o conteúdo da 
Resolução Conjunta 1 do Conselho Nacional de 
Combate à Discriminação, que trata do acolhimento 
de pessoas LGBTI em privação de liberdade no 
Brasil”, e uma vez que as detentas estão com seus 
direitos preservados, “não há motivos legais 
suficientes para alocá-las em celas junto com 
mulheres. (TJDFT; NOTICIAS 2018.) 
 
 
Fica evidente que o problema é considerado complexo, mas não podemos 
penalizar uma pessoa duas vezes pela pratica de um único crime, diante desse 
impasse o conselho nacional de justiça publicou uma resolução em 2020 para abordar 
16 
 
o assunto ( resolução 348/2020), nela fica estabelecido procedimentos e diretrizes 
relacionadas ao tratamento da população lésbica, transexual, travestis e intersexo, 
onde o objetivo é a garantia do direito à vida e a integridade física e mental, além da 
sexual, segurança do corpo, liberdade de expressão da identidade de gênero e 
orientação sexual. Nela ficou estabelecido com base no glossário das Nações Unidas 
as características que identificam cada gênero da comunidade LGBTI. 
Ficou definido que o reconhecimento da população LGBTI, será feito 
exclusivamente por autodeclaração, e que o magistrado deve acolher em audiência 
e em qualquer fase do procedimento penal essa autodeclaração. As pessoas 
autodeclaradas têm o direto de serem tratadas pelo seu nome social, independente 
do nome que constar em seu registro de nascimento, isso é uma evolução no que diz 
respeito a dignidade da pessoa travesti. Porem o grande avanço nessa resolução é o 
fato da pessoa auto declarada pertencente a população LGBTI poder escolher onde 
irá cumprir a sua pena, em uma prisão masculina, feminina ou especifica, isso sem 
dúvida traz mais segurança jurídica a nosso sistema prisional, é uma resposta 
positivada do Estado a sociedade brasileira e a órgãos internacionais, indicando que 
o Brasil tem buscado a evolução de seu processo punitivo. Uma vez podendo escolher 
onde cumprir a sua pena, a travesti encarcerada pode ter o mínimo de dignidade e 
respeito, isso pode evitar muitas situações lamentáveis e irreversíveis que muitas 
sofrem dentro do sistema prisional, a diversos relatos de estupros sofridos por travestis 
dentro das cadeias brasileiras, quando as luzes do presidio se apagam 
o tormento começa, muitas são violentadas diariamente durante meses, outras são 
obrigadas a se prostituir para não morrer, seu corpo é explorado dentro da 
penitenciaria por outros detentos que recebem favores em troca dos abusos 
cometidos contra elas. 
Claro que ainda a muita coisa a se fazer para que essa população possa 
ter seu lugar garantido dentro da sociedade e do sistema penal de um modo geral, 
mas toda mudança infelizmente ocorre de maneira lenta em todos os setores da 
sociedade e elas precisam ser aprimoradas para que o resultado possa trazer uma 
resolução contemporânea. A resolução 348/2020 foi modificada pela 366/2021, o que 
acabou sendo de certa forma um retrocesso, uma vez que o novo texto barrou o direito 
de as travestis escolherem onde cumprir a sua pena, garantindo apenas as 
transexuais esse direito, no caso das travestis cabe ao magistrado indagar a 
17 
 
preferência pela custodia no convívio geral ou em alas ou celas especiais em 
penitenciarias masculinas. Diante disso fica evidenciado que a divergência de 
entendimento vem trazendo uma insegurança jurídica muito grande e isso reflete no 
processo de ressocialização das pessoas pertencentes a comunidade das travestis. 
O correto seria o Estado construir penitenciarias para receber somente pessoas 
pertencentes a comunidade LGBTI, porém o estado brasileiro não acena diante dessa 
possibilidade. 
Existe uma ADPF (arguição de descumprimento de preceito 
fundamental) proposta pela associação brasileira de lésbicas, gays, bissexuais 
travestis e transexuais (ABGLT), trata-se da ADPF- 527, o objetivo dela é exatamente 
sanar essas lacunas que existem ao exame da matéria, poder discutir de forma 
objetivada o tema em questão, mas está difícil chegar a um entendimento, durante 
julgamento realizado em setembro de 2021 o julgado acabou empatado em 5 cinco 
a cinco , o ministro Barroso defendeu em seu voto que detentos transexuais e travestis 
possam escolher cumprir suas penas em presídios femininos ou masculinos em área 
reservadas. Já o ministro Lewandowski sustentou que a ação não deveria seguir 
adiante, uma vez que o problema já foi resolvido por meio de resolução do Conselho 
Nacional de Justiça. O posicionamento de Lewandowski foi seguido por quatro 
ministro e o de Barroso por outros quatro, agora a expectativa é que o tema seja 
retomado em um momento futuro. 
O STFdiscute o assunto deste de junho de 20018. Enquanto isso as 
travestis continuam a sua saga dentro dos presídios masculinos, mesmo em alas 
especiais, com as deficiências de nosso sistema prisional, muitas relatam sofrerem 
estupros e coação de outros detentos, continuam pagando duas vezes pelo crime 
cometido, vivendo de forma degradante e retornando para a sociedade sem um 
horizonte para buscar, com a certeza de que em quanto vivas estiverem, vão 
peregrinar pelas ruas, se prostituindo e sendo exploradas até que sejam presas 
novamente e o ciclo recomece todo novamente. 
 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
18 
 
Percebemos que infelizmente a muito o que se fazer a respeito do tema em si, 
que a sociedade e o Estado precisam discutir a situação de maneira mais objetiva, 
rever posicionamentos a respeito do tema que não podemos fechar nossos olhos 
diante do que está estampado no nosso dia a dia. 
As travestis não podem mais ser ignoradas e esquecidas para sofrer todo tipo 
possível de descriminação, se calar diante dos fatos apresentados é ignorar a 
constituição e mais do que isso é abrir mão de preceitos norteadores dos direitos 
humanos, excluir uma pessoa por ela ter uma orientação sexual diferente da maioria 
é desumano, viver em um mundo onde não ha lugar para se encaixar é desolador, 
mas é assim que elas vivem, não são homens e nem mulheres, nem no sistema 
prisional a lugar especifico para cumprir suas penas e pagarem pelos seus erros, no 
mercado de trabalho as portas estão fechadas, servem apenas como objeto de prazer 
e é assim que muitas são vistas por muitos, só são valorizadas quando se tornam 
mulas do tráfico. 
Dignidade é algo que não existe para elas, tal termo nunca foi apresentado de 
maneira concreta, nasceram para sentir dores, e viverem com as feridas e chagas 
que todos os dias sangram diante do preconceito e da inoperância do estado, choram 
de maneira silenciosa em algum canto de suas selas, pois nem estando sob a tutela 
do estado elas estão livres do preconceito e do fantasma da prostituição e dos abusos. 
Muitas têm seus corpos apropriados por terceiros dês de muito jovens e de certa 
forma se acostumaram a serem violentadas, fisicamente, psicologicamente e 
constitucionalmente. 
 
 
6. REFERÊNCIAS 
 
 
TJDFT. Detenas transexuais.site disponível em 
<https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2018/maio/presas- 
transexuais-nao-devem-ser-alocadas-em-presidio-feminino>. Acesso em 2022 
CAMARA DOS DEPUTADOS. Proposta legislativa.site disponível em 
<https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2268820 >. Acesso em 2022 
AGENCIA BRASIL. Assassinatos de pessoas trans. Site disponivel em 
<https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2022-01/brasil-registrou- 
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2018/maio/presas-transexuais-nao-devem-ser-alocadas-em-presidio-feminino
https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/noticias/2018/maio/presas-transexuais-nao-devem-ser-alocadas-em-presidio-feminino
http://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2268820
http://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2268820
19 
 
140-assassinatos-de-pessoas-trans-em-2021>. Acesso em 2022 
G1 PARANA. Exploração sexual de travestis. Site disponivel em 
<https://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2015/12/policia-prende-quadrilha-suspeita- 
de-exploracao-sexual-de-travestis.html>. Acesso em 2022 
BRAH, Avtar. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu (26), Campinas, 
SP: Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu/Unicamp, 2006. 
EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. Tradução de Sandra Castelo Branco. São 
Paulo, SP: UNESP, 2005. 
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade, vol.01. Rio de Janeiro, RJ: Graal, 
2005. 
HALL, Stuart. Da diáspora: identidade e mediações culturais. Belo Horizonte: 
UFMG, 2006.

Continue navegando