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Programa de Educação Continuada a Distância Curso de Atendimento em Nutrição MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 24 MÓDULO II 4 PREVENÇÃO E QUALIDADE DE VIDA Com o envelhecimento da população mundial ocorrem repercussões nos campos social e econômico, principalmente nos países em desenvolvimento; entre estes o Brasil, o qual a perspectiva é de que em 2025 represente o sexto país do mundo em número de idosos. Porém, a infraestrutura necessária para responder à demanda deste novo quadro populacional, com programas específicos e recursos humanos qualitativamente preparados, ainda é precária. Assim, torna-se necessário uma preocupação do profissional nutricionista em buscar estratégias e recursos para auxiliar a população em seus atendimentos em nutrição com vistas à prevenção de doenças e melhoria constante da qualidade de vida. Nas últimas décadas, vários países em desenvolvimento, incluindo o Brasil, vêm passando por uma transição nutricional onde o padrão alimentar brasileiro baseado no consumo de cereais, feijões, raízes e tubérculos vem sendo substituído por uma alimentação mais rica em gorduras e açúcares. Essas mudanças têm colocado a população brasileira em maior risco para doenças crônicas. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda para a prevenção de doenças crônicas não transmissíveis uma alimentação com baixo teor de gordura e colesterol e rica em fibras, frutas, legumes e verduras e, especificamente para este último, o consumo diário recomendado é de 400 g ou cinco porções de 80 g cada uma. Para serem efetivas, as ações de promoção da alimentação saudável necessitam da participação de vários setores envolvendo instituições que já trabalham ações neste sentido. A difusão da noção de promoção das práticas alimentares saudáveis pode ser observada nas mais diversas ações políticas e Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 25 estratégias relacionadas com alimentação e nutrição. Pode-se afirmar que essa noção é resultante do cruzamento entre o conceito de promoção da segurança alimentar e o da promoção da saúde. O papel da prevenção da saúde e qualidade de vida vem crescendo em termos de importância como uma estratégia fundamental para o enfrentamento dos problemas do processo saúde, doença e cuidado e da sua determinação. O caminho no processo de prevenção é fortalecer o caráter preventivo com diagnostico e detecção precoce de doenças crônico-degenerativas e aumento da complexidade do nível de atenção primária. Atualmente, a promoção da saúde não é mais interpretada como apenas uma caracterização de um nível de atenção da medicina preventiva, mas trata-se de um enfoque político e técnico em torno do processo saúde, doença e cuidado. Existem múltiplas conceituações de promoção da saúde em dois grandes grupos. No primeiro, a promoção da saúde consiste nas atividades dirigidas centralmente à transformação dos comportamentos dos indivíduos, focando os seus estilos de vida e localizando-os no seio das famílias e no ambiente das culturas da comunidade em que se encontram. Essa concepção tende a se centrar nos componentes educativos. Uma segunda concepção, e mais moderna, da promoção da saúde é caracterizada pela constatação de que a saúde é produto de um amplo espectro de fatores relacionados com a qualidade de vida, incluindo um padrão adequado de alimentação e nutrição, de habitação e saneamento, boas condições de trabalho e renda, oportunidades de educação ao longo de toda a vida dos indivíduos e das comunidades. A promoção da saúde é definida como o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo. A elaboração e implementação de políticas públicas saudáveis, a criação de ambientes favoráveis à saúde, o reforço da ação comunitária, o desenvolvimento de habilidades pessoais e a reorientação do sistema de saúde são os cinco principais campos de ações. A partir do final dos anos 1990, o termo “promoção de práticas alimentares saudáveis” começa a marcar presença nos documentos oficiais brasileiros. Aliada à Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 26 promoção de estilos de vida saudáveis, a promoção de práticas alimentares saudáveis se constitui uma estratégia de vital importância para o enfrentamento dos problemas alimentares e nutricionais do contexto atual. A instituição da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) pode ser considerada como uma das expressões que oficializam a busca de uma nova direção das políticas de alimentação e nutrição no final da década de 1990. A PNAN pressupõe contrapor o modelo de atenção prevalecente no campo da alimentação e nutrição a partir de 1970, marcado por uma intervenção centrada no assistencialismo, voltada para os trabalhadores e para os chamados grupos de risco. O propósito da PNAN é a garantia da qualidade dos alimentos colocados para consumo no país, a promoção das práticas alimentares saudáveis e a prevenção dos distúrbios nutricionais, bem como o estímulo às ações intersetoriais que propiciem o acesso universal aos alimentos. A perspectiva da promoção da saúde se apresenta e é apontada como uma das diretrizes da política de promoção das práticas alimentares e estilos de vida saudáveis, cuja ênfase está na “socialização do conhecimento sobre alimentos e o processo de alimentação bem como acerca da prevenção dos problemas nutricionais, desde a desnutrição – incluindo as carências específicas até a obesidade.” (PNAN) A PNAN, para alcance de seus propósitos, destaca que atenção especial deve ser dada ao desenvolvimento do processo educativo permanente acerca das questões atinentes à alimentação e à nutrição, bem como à promoção de campanhas de comunicação social sistemáticas. No entanto, o documento não delimita claramente uma concepção de educação alimentar e nutricional no que se refere aos seus limites e possibilidades, como também não indica diretrizes para a sua prática. Todavia, mais adiante, o referido documento alude que a educação alimentar e nutricional contém elementos complexos e até conflituosos, preconizando que deverão ser buscados consensos sobre conteúdos, métodos e técnicas do processo educativo, considerando os diferentes espaços geográficos, econômicos e culturais. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 27 4.1 A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL NUTRICIONISTA NO PANORAMA HISTÓRICO/EPIDEMIOLÓGICO DE SAÚDE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA A alimentação tem papel determinante e bem estabelecido nas doenças crônicas não transmissíveis. Um dos fatores modificáveis mais importantes para o aumento de risco de doenças crônicas não transmissíveis, a alimentação deve ser incluída entre as ações prioritárias de saúde pública. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, 80% dos casos de doenças coronarianas, 90% dos casos de diabetes tipo 2 e 30% dos casos de câncer poderiam ser evitados com mudanças factíveis nos hábitos alimentares, níveis de atividade física e uso de produtosderivados do tabaco. A epidemiologia nutricional tem mostrado forte associação entre alguns padrões de consumo alimentar e a ocorrência de doenças crônicas não transmissíveis. A alimentação inadequada, rica em gorduras, com alimentos altamente refinados e processados, e pobre em frutas, legumes e verduras, está associada ao aparecimento de diversas doenças como aterosclerose, hipercolesterolemia, hipertensão arterial, doença isquêmica do coração, infarto agudo do miocárdio, diabetes mellitus e câncer. Observa-se que em relação às propostas educativas da PNAN quanto à promoção das práticas alimentares saudáveis, o foco central esteja na disseminação de informações, valorizando a importância dos meios de comunicação nesse processo, seja estimulando a produção de campanhas educativas, seja controlando as informações como também o marketing referentes à alimentação e aos alimentos. O fortalecimento do campo da informação e da comunicação em alimentação e nutrição também é necessário por meio dos profissionais de saúde, principalmente o nutricionista. Com relação ao papel do profissional nutricionista que tange à capacitação profissional previsto na PNAN, a centralidade parece estar no seu papel como disseminador de informações, em detrimento do seu papel como educador. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 28 Perpassa a ideia de que ampliando o acervo de informações dos profissionais de saúde, em todos os níveis, por meio das capacitações, se tornaria possível o seu repasse para os grupos populacionais e indivíduos. Não se faz alusão à importância da capacitação em educação, em abordagens educativas apropriadas, apenas em conteúdos técnicos de alimentação e nutrição. A educação em saúde constitui conceitos apropriados e reorientação dos serviços de saúde para além dos tratamentos clínicos e curativos, assim como propostas pedagógicas libertadoras, comprometidas com o desenvolvimento da solidariedade e da cidadania, orientando-se para ações cuja essência está na melhoria da qualidade de vida e na promoção da saúde. No atual contexto, em que a promoção das práticas alimentares saudáveis prevalece, a educação alimentar e nutricional também está sendo um reflexo das políticas. Analisando os documentos apresentados, identificou-se a existência de um suposto paradoxo: ao mesmo tempo em que é apontada sua importância estratégica, o seu espaço não se apresenta claramente definido. O papel da educação alimentar e nutricional está vinculado à produção de informações que sirvam como subsídios para auxiliar a tomada de decisões dos indivíduos que outrora foram culpabilizados pela sua ignorância, sendo posteriormente vítimas da organização social capitalista, e se tornam agora providos de direitos e são convocados a ampliar o seu poder de escolha e decisão. O nutricionista é um profissional de saúde cuja formação visa, precipuamente, à atuação em saúde coletiva. As diretrizes curriculares nacionais do Conselho Nacional de Educação, do Ministério da Educação, para os alunos de Medicina, Enfermagem e Nutrição foram estabelecidas por meio de um parecer conjunto para os três cursos, que estabeleceu como seu objeto: permitir que os currículos propostos possam construir perfil acadêmico e profissional com competências, habilidades, conteúdos, dentro de perspectivas e abordagens contemporâneas de formação pertinentes e compatíveis com abordagens nacionais e internacionais, capazes de atuar com qualidade, eficiência e resolutividade, considerando o processo da Reforma Sanitária Brasileira. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 29 Ao descrever o perfil do formando/egresso do curso de Graduação em Nutrição, o referido documento aponta que o nutricionista deve estar capacitado a atuar visando à segurança alimentar e à atenção dietética, em todas as áreas em que a alimentação e a nutrição se apresentem fundamentais para a promoção, manutenção e recuperação da saúde e a prevenção de doenças de indivíduos ou grupos populacionais. Por segurança alimentar entende-se: realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural, e que sejam social, econômica e ambientalmente sustentáveis. O Brasil, hoje, possui o Programa Saúde da Família que visa prover a atenção básica à saúde, orientado por uma ação multidisciplinar para intervenção com vistas à promoção da saúde da população. Para alcançar este objetivo no Brasil é necessário programar ações na área de vigilância e assistência alimentar e nutricional. O crescimento populacional e as políticas de saúde resultaram em um perfil nutricional diversificado nas regiões brasileiras. Isso exige a atuação de nutricionistas altamente qualificados que sejam capazes de programar e executar planos de intervenção fundamentados em conhecimentos científicos para promover práticas alimentares e estilos de vida saudáveis, além da prevenção e do controle dos distúrbios nutricionais e de doenças associadas à alimentação e nutrição, visto que o Brasil enfrenta uma fase de transição nutricional caracterizada pela enorme quantidade de pessoas em estado de pobreza e fome, ao mesmo tempo em que cresce o número de obesos. Observa-se no Brasil um decréscimo da prevalência de desnutrição/baixo peso em todas as faixas etárias e regiões, especialmente em crianças de zero a cinco anos, seguido de um forte incremento nas taxas de sobrepeso e obesidade, a qual é um recente problema de saúde pública em nosso país. A população adulta brasileira vem apresentando um aumento na prevalência de excesso de peso. Consequentemente, esse processo causa a perda de espaço para a celebração e convício durante o ato de se alimentar, resultando em problemas de saúde com Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 30 doenças crônico-degenerativas, intoxicações alimentares, entre outros, advindos de fatores como excesso de aditivos químicos nos alimentos industrializados, consumo exagerado de gorduras e desequilíbrio de vitaminas e minerais na dieta brasileira. Como no Brasil existem grandes desigualdades regionais, a garantia da segurança alimentar e nutricional necessita de estratégias de saúde pública que atendam a um modelo de atenção à saúde e cuidados nutricionais direcionados para a desnutrição e sobrepeso e obesidade, onde o nutricionista está completamente inserido com o objetivo de prevenir este quadro por meio de orientações nutricionais efetivas e acompanhamento dos pacientes. 4.2 AÇÕES PREVENTIVAS DE SAÚDE E NUTRIÇÃO Ainda com a grande variedade de alimentos industrializados aliada à menor atividade física, observa-se um quadro de maior incidência de doenças não transmissíveis na população, como a hipertensão arterial, a obesidade, entre outras –, que somadas aos demais fatores de risco foram responsáveis por um crescimento na prevalência de doenças cardiovasculares. Assim, as ações de saúde governamentais estão focadas em proporcionar um envelhecimento bem-sucedido para a população. Ou seja, melhor qualidade de vida para o idoso com maior capacidade de manutenção de suas atividades de vida diária com independência. São elas: Prevenção primária: medidas que evitam que doenças se instalem utilizando-se o diagnóstico e ação com base nos fatores de risco, com proteção específica e adequada visando à promoção da saúde. São observadose trabalhados os hábitos, estilo de vida, padrões de consumo alimentar, ambientes físico, psicológico e social. Prevenção secundária: é realizado o diagnóstico precoce com vistas a iniciar o tratamento imediato e buscando a limitação da incapacidade no processo de envelhecimento. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 31 Com base nestes fatores, observa-se que o atendimento nutricional é imprescindível neste novo quadro da saúde populacional, pois a alimentação é um dos aspectos de maior importância no envelhecimento com qualidade de vida. Além disso, o idoso de amanha é o jovem atual, que trabalha e está exposto a muitos fatores de risco que contribuem negativamente para a saúde e o envelhecimento bem-sucedido, como o estresse, fumo, sedentarismo, pouco tempo para lazer e descanso, exposição às situações que levam as escolhas alimentares inadequadas. Deste modo, o nutricionista em atendimento nutricional deve intensificar estas ações visando sempre o futuro dos pacientes e, no caso de já idosos, buscar a melhoria da qualidade de vida no envelhecimento. No atendimento em nutrição, o nutricionista pode criar eventos com ações preventivas, como por exemplo, realizar parceria com empresas da região e a secretária de saúde para elaborar um evento de saúde e nutrição em algum lugar público da cidade, com enfoque em avaliação nutricional, aferição de glicemia, pressão arterial, cálculo de IMC, elaboração de cartilhas com receitas e orientações saudáveis para distribuição à população, orientações nutricionais verbais realizadas por nutricionistas ou estagiários de nutrição supervisionados. Outro modo seria a participação em programas de saúde pública do município, colocando seu consultório à disposição para receber encaminhamentos de pacientes e elaborando programas de educação nutricional coletiva como palestras e folhetos educativos sobre alimentação saudável e prevenção de doenças. Existe no Estado de São Paulo um Comitê de promoção da saúde que tem como objetivos: Fomentar articulação intra e intersetorial visando à promoção da alimentação saudável no Estado de São Paulo; Promover pacto/compromisso social com diferentes setores (Poder Legislativo, setor produtivo, órgãos governamentais e não governamentais, Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 32 organismos internacionais, setor de comunicação e outros), para a execução das estratégias definidas pelo Comitê; Incentivar a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis entre a população, com ênfase no aumento do consumo de frutas, verduras, legumes, cereais e derivados integrais. As estratégias deste Comitê são mobilizar as instituições públicas, privadas e de setores da sociedade civil organizada visando ratificar o desenvolvimento de ações de aumento do acesso ao alimento saudável pelas comunidades e pelos grupos populacionais mais pobres; articular e mobilizar os setores público e privado para a promoção de ambientes que favoreçam a alimentação saudável, o que inclui: oferta de refeições saudáveis nos locais de trabalho, nas escolas e para as populações institucionalizadas; articular e mobilizar os setores da sociedade para a proposição e elaboração de medidas regulatórias que visem a promover a alimentação saudável e reduzir o risco de doenças crônicas não transmissíveis, com especial ênfase para a regulamentação da propaganda e publicidade de alimentos. Assim, o desenvolvimento de instrumentos adequados, que ensinassem o pobre a comer, a fim de corrigir hábitos errôneos nessas populações foi uma prioridade que caracterizava uma concepção de educação centrada na mudança do comportamento alimentar. A partir de meados de 1970, o binômio alimentação/educação prevalecente começou a ceder espaço para o binômio alimentação/renda, resultado dos redirecionamentos das políticas de alimentação e nutrição traçadas no país, as quais, a partir de então, se pautavam no reconhecimento da renda como principal obstáculo para se obter uma alimentação saudável. Como decorrência, intensas críticas foram feitas à educação alimentar e nutricional que vinha sendo desenvolvida, avaliada como meio de ensinar ao pobre a comer alimentos de baixo valor nutricional. Assim, as estratégias de suplementação alimentar passaram a ser o eixo norteador das políticas alimentares, pressupondo, também, a tarefa de esclarecer a população sobre os direitos de cidadania. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 33 É nesse contexto que também emerge a concepção da promoção das práticas alimentares saudáveis, na qual a alimentação tem sido colocada como uma das estratégias para a promoção da saúde. Não parece haver dúvidas sobre a importância da educação alimentar e nutricional na promoção de práticas alimentares saudáveis. No entanto, as reflexões sobre suas possibilidades e limites, como também o modo como ela é concebida, ainda são escassas. Na PNAN parece que os conceitos de promoção de práticas alimentares saudáveis e educação alimentar e nutricional estão mais próximos da superposição dos mesmos. Há um paradoxo: ao mesmo tempo que a educação alimentar e nutricional é valorizada, ela se dilui no conjunto de propostas na medida em que não estão estabelecidas claramente as bases teórico-conceituais e operacionais que a fundamentam. Todavia, pode-se perceber que, em termos de abordagens educacionais, a lógica da transmissão se faz presente. A perspectiva educacional se limita a subsidiar os indivíduos com informações, utilizando ao máximo os recursos tecnológicos da comunicação como um mecanismo que facilita o acesso e a democratização da informação. Estratégias como as campanhas, elaboração de material educativo e instrucional são enfatizadas. A Estratégia Global para a Promoção da Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde foi lançada em 2003 pela OMS, sob a forma de um documento preliminar, e prevê o estímulo a práticas alimentares saudáveis aliadas à prática de atividade física, juntamente ao controle do tabaco, como estratégias efetivas para reduzir substancialmente as doenças e as mortes no mundo. A proposta objetiva assegurar o fornecimento de informações corretas para permitir a facilitação de decisões por escolhas saudáveis e assegurar programas adequados de educação e promoção de saúde. Essa adequação se refere a informações apropriadas em termos de escolaridade e cultura local, como também implica levar em conta as possibilidades de comunicação das comunidades. Para tanto, refere ainda o documento, os governos devem selecionar políticas e programas que estejam de acordo com as necessidades nacionais e com o perfil epidemiológico, incluindo as áreas de: educação, comunicação e conhecimento público; marketing, propaganda, Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 34 patrocínio e promoção; rotulagem e declaração de propriedades relacionadas à saúde. Na filosofia dessa estratégia, há um predomínio de ações que promovam uma maior informação sobre alimentação e nutrição por meio da elaboração de material educativo, como também uma intervenção por meio dos meios de comunicação. Em termos de capacitação dos profissionais de saúde, centra-se em capacitá-los em temas de alimentação e nutrição. O profissional também é visto como um disseminador de informações, dividindo o seu papel com outros agentes do discurso da alimentação e nutrição, deixando à margem o potencial educativodas práticas de saúde. Reforça-se, dessa forma, a lógica da educação baseada na transmissão, centrada nos conteúdos, e construindo mensagens coerentes e apropriadas. 4.3 PROGRAMAS CORPORATIVOS DE PREVENÇÃO E QUALIDADE DE VIDA No Brasil, as despesas com saúde apresentam crescimento gradativo a cada ano superando a inflação geral. Este quadro faz com que as empresas tenham a necessidade da busca de melhores condições de vida no trabalho para seus funcionários por intermédio de programas de prevenção, promoção da saúde e qualidade de vida, os quais se apresentam como diferenciais, e serem adotados como ferramentas de marketing para alcançar maior produtividade. Com o bem- estar, saúde, segurança física, mental e social, o funcionário fica capacitado para realizar tarefas de forma comprometida. Estes programas são um conjunto de atitudes que implementam melhorias a ações gerenciais, tecnológicas e estruturais no ambiente de trabalho trazendo para as empresas o retorno por meio de vários fatores como a redução do índice de consultas médicas e procedimentos utilizados pelos funcionários com consequente redução dos custos da empresa com a assistência médica oferecida como beneficio; redução nos índices de absenteísmo; Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 35 redução nos níveis de estresse e doenças ocupacionais; redução da prevalência de hipertensão arterial, obesidade, sedentarismo, tabagismo e demais fatores de risco para doenças crônicas e geradoras de elevados custos médicos; redução da prevalência no consumo de medicamentos pelos funcionários e dos custos quando eles são oferecidos como benefício pela empresa. Em se tratando de hábitos de vida e prevenção e tratamento de doenças, sabe-se que a nutrição é de fundamental importância neste processo. As empresas têm uma visão atual de preocupação em gerar qualidade para os funcionários para aumentar a produtividade, e estão mais aptas a solicitar e implementar programas de qualidade de vida, seja diretamente na organização ou por meio da assistência de profissionais de saúde com os quais mantém convênio ou contratam o serviço. No atendimento em nutrição, o nutricionista pode avaliar o perfil de cada empresa que deseja que contrate seus serviços e posteriormente elaborar a implantação de um Programa de Qualidade de Vida para os funcionários, por meio de ações de avaliação e educação nutricional em conjunto com a área médica e de recursos humanos da empresa. Muitas empresas adotam o programa de qualidade total para resolver problemas imediatos e a curto prazo, tais como de relacionamento dentro da empresa, de capacitação de mão de obra ou para solucionar problemas de baixa qualidade nos produtos e serviços; entretanto, poucas se preocupam realmente com as implicações sociais, culturais e organizacionais de tais programas. São igualmente raras as reflexões sobre as origens dessas práticas e a conveniência de sua importação. Outra questão um pouco esquecida na implantação destes programas diz respeito à melhoria da qualidade de vida no trabalho das pessoas, que se entende como fundamental para o sucesso do programa. Os programas de qualidade de vida, além de implantados, devem ser bem divulgados entre todos os colaboradores para que o mesmo tenha a eficiência proposta. Algumas outras dificuldades que existem na implantação dos programas são falta de conceito próprio de qualidade; pouca preparação para a mudança, refletida em resistência; pouco conhecimento dos funcionários sobre qualidade, Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 36 principalmente nos escalões mais baixos. Desta forma, entende-se que a filosofia da qualidade total pode melhorar a qualidade de vida, desde que não seja utilizada somente para ganhos de produtividade, ou importada como pacote milagroso, coisa que muitas empresas estão fazendo atualmente, limitando o sucesso do programa como um todo. A qualidade total neste caso está associada a fatores como satisfação em trabalhar, reconhecimento, satisfação dos clientes internos e externos, alcance de metas e padrões estabelecidos, eliminação de erros e desperdícios e melhores condições de trabalho. É comum encontrar certa resistência dos funcionários na implantação dos programas de qualidade de vida, porém, aos poucos, estes se familiarizam com o programa, contribuindo para o seu bom desenvolvimento. Desta forma, o conceito de qualidade deve ser ampliado, de modo que a qualidade de vida seja uma expansão natural do conceito de qualidade total, sendo os programas introduzidos e gerenciados simultaneamente, pois o programa de qualidade total só tem sentido se realmente proporcionar melhores condições de trabalho e satisfação para as pessoas, ou seja, melhorar suas condições de vida. Assim, entende-se que construir locais de trabalho saudáveis, onde exista participação das pessoas nas decisões que afetam suas vidas, contribui para a formação de uma sociedade mais justa e democrática; portanto precisamos criar novas formas de encarar o trabalho e o relacionamento interpessoal advindo dele, criando formas alternativas de organização que estimulem, de diferentes maneiras, o bom relacionamento das pessoas. Os programas de qualidade de vida devem ser encarados como alternativa para combinar ambientes participativos com um estilo de vida mais humano, integrando de forma harmônica o homem ao meio ambiente. O estilo de vida mais humano enquadra não somente aspectos físicos, mas também aspectos emocionais e espirituais. No Módulo III trabalharemos o projeto de implantação de consultório que pode ser utilizado para programas de qualidade de vida empresariais. Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 37 -----------FIM DO MÓDULO II----------
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