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Nutrição e Atenção Á Saúde - III UNIDADE Caro(a) estudante, seja bem-vindo(a) de volta! Neste material você será apresentado(a) aos conceitos de transição demográfica, epidemiológica e nutricional, além de explorar os principais problemas de saúde no Brasil. Você também conhecerá o papel do(a) nutricionista no contexto da saúde coletiva, as políticas de alimentação e nutrição no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Esperamos que a partir das discussões, textos e materiais de apoio que compõem esse material você seja incentivado(a) a fazer uma reflexão crítica sobre o cenário atual do nosso sistema de saúde, bem como o papel da alimentação e nutrição na prevenção de doenças. Vamos à leitura? Bons estudos! OBETIVOS DA UNIDADE: Discutir sobre a transição demográfica, epidemiológica e nutricional no Brasil. Conhecer a situação de saúde do Brasil e o papel do nutricionista no contexto da saúde coletiva. Apresentar a Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN). Debater a Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN). Conhecer a estratégia e-SUS na atenção primária à saúde. Transição demográfica, epidemiológica e nutricional Nas últimas décadas, o Brasil vem acompanhando o fenômeno mundial da transição demográfica, epidemiológica e nutricional. Você sabe do que se trata? Esta tendência é compreendida como o conjunto de transformações decorrentes da nova conjuntura econômica, social e demográfica mundial. São características dessa transição: diminuição da taxa de fecundidade e do crescimento populacional, maior longevidade, aumento progressivo da urbanização, aumento do estilo de vida sedentário, além do consumo de alimentos hipercalóricos e pobres em nutrientes que vão resultar, consequentemente, em mudanças nos padrões do processo saúde/doença da população (MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000). As principais mudanças alimentares observadas na população brasileira estão relacionadas ao aumento considerável de alimentos processados e ultraprocessados que, em geral, são ricos em açúcares, sódio, gorduras, aditivos (conservantes, corantes, aromatizantes etc.) e, em contrapartida, à diminuição dos alimentos in natura e fontes de fibras. Essas alterações do padrão alimentar associadas a um estilo de vida mais sedentário têm levado os(as) brasileiros(as) ao aumento crescente do sobrepeso e obesidade, além do desenvolvimento – muitas vezes precoce – de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como o diabetes, a hipertensão, as doenças cardiovasculares etc. (FERREIRA et al., 2005). Embora o quadro social brasileiro seja marcado por desigualdades econômicas e socioculturais, a intensificação dos processos de urbanização e globalização propiciou maior acesso da população aos alimentos ultraprocessados. Este cenário, por sua vez, gerou um declínio da desnutrição no país, mas também causou um aumento significativo da obesidade e DCNT em todas as classes sociais (FERREIRA et al., 2005). Tais doenças têm um papel fundamental no atual perfil de saúde dos(as) brasileiros(as). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o enfrentamento da obesidade é um dos mais sérios problemas de saúde pública no Brasil, uma vez que vem aumentando a cada ano (ABESO, 2018). Principais problemas de saúde no brasil Ainda hoje os sistemas de saúde no Brasil enfrentam uma crise que se caracteriza pela organização da atenção de maneira fragmentada, ou seja, voltada para a atenção às condições agudas, embora haja prevalência de condições crônicas. Soma-se a isto uma estrutura hierárquica e sem comunicação fluida entre os diferentes níveis de atenção (ABESO, 2018). O atual cenário de saúde pública do Brasil está caracterizado pela tripla carga de doenças, isto é, pela presença concomitante das doenças infecciosas e carenciais, além das DCNT e das causas externas (como violência urbana, acidentes de trânsito, suicídio etc.) (MARTINS et al, 2021). Para solucionar esse problema, é necessário que o SUS restabeleça a coerência entre a situação de tripla carga de doenças e a assistência à saúde em prática, através da implantação e articulação das redes de atenção à saúde (RAS), conforme discutimos na Unidade II. Nas RAS, adota-se o princípio de que cada nível de atenção deva operar de forma cooperativa e interdependente, sendo seus elementos constitutivos: a população, a estrutura operacional e o modelo de atenção à saúde. A partir disso, podemos inferir que as RAS se constituem numa importante estratégia de organização do SUS e que podem melhorar a qualidade clínica, os resultados sanitários e a satisfação dos usuários, reduzindo os custos dos sistemas de atenção à saúde no país (MENDES, 2010). EXEMPLO: “O chamado ‘estilo de vida moderno’, a que todos estão sujeitos, é o grande fator de risco à saúde. Os hábitos alimentares inadequados, o sedentarismo e o tabagismo compõem as principais causas para o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis. Embora o grupo de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (DANT) seja muito abrangente, as doenças cardiovasculares (doenças isquêmicas do coração, doenças cerebrovasculares e hipertensão), as chamadas crônico-degenerativas (câncer, diabetes, doenças renais e reumáticas, etc.), os agravos decorrentes das causas externas (acidentes, violências e envenenamentos) e os transtornos de natureza mental são reconhecidos como os mais prevalentes no Brasil, contribuindo sobremaneira na carga global de doenças do país”. INFOGRÁFICO: O infográfico abaixo vai te ajudar a memorizar o conteúdo acerca da situação da saúde no Brasil, em relação à tripla carga de doenças. Observe! Atuação do nutricionista na saúde coletiva – a política nacional de alimentação e nutrição (pnan) O SUS é hoje um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, que abrange desde atendimentos simples como avaliação da pressão arterial ou glicemia por meio da Atenção Básica, até as cirurgias de alta complexidade e de transplante de órgãos. Dessa forma, o SUS garante acesso integral, universal e gratuito para todos os brasileiros. A atenção integral à saúde, e não somente os cuidados assistenciais, passou a ser um direito de todos(as) os(as) brasileiros(as). Esse direito está garantido na Constituição, e acompanha o(a) usuário(a) desde a gestação até o fim da vida, enfatizando a saúde com qualidade de vida, visando à prevenção e a promoção da saúde (BRASIL, 1988). A situação alimentar e nutricional exerce influência direta sobre o processo de saúde e adoecimento dos indivíduos e coletividades. Dessa forma, a atenção nutricional trata-se de uma questão complexa, que envolve aspectos biopsicossociais e econômicos, sendo necessária a atuação interdisciplinar e multiprofissional na sua compreensão. Nesse contexto, o(a) nutricionista insere-se como protagonista, indutor(a) e qualificador(a) de práticas relacionadas à alimentação e nutrição. Vimos que a população brasileira experimentou nas últimas décadas profundas transformações sociais, que resultaram em mudanças no seu padrão de saúde e consumo alimentar. Essas transformações foram importantes para a diminuição da pobreza e da desigualdade social e, consequentemente, da fome e desnutrição. No entanto, observou-se de maneira concomitante um aumento expressivo do excesso de peso em todas as camadas da população, apontando para um novo cenário de problemas relacionados à alimentação e nutrição, processo conhecido como transição nutricional (MONTEIRO; MONDINI; COSTA, 2000). Para o enfrentamento desse cenário, é emergente a necessidade da ampliação de ações intersetoriais que possam repercutir positivamente sobre os diversos determinantes da saúde e nutrição. Nesse contexto, o setor saúde tem importante papel na promoção da alimentação adequada e saudável, compromisso expresso na Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) e na Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS). No SUS, a promoção da alimentação equilibrada e saudável deve fundamentar-se nas áreas de incentivo,apoio e proteção da saúde, combinando iniciativas ligadas a políticas públicas saudáveis, criando ambientes saudáveis, desenvolvendo habilidades pessoais e reorientando os serviços de saúde na perspectiva da promoção da saúde (BRASIL, 2019b). Nesse sentido, a PNAN, aprovada no ano de 1999, é um esforço do Estado brasileiro em garantir aos seus cidadãos o respeito, a proteção, a promoção e o provimento dos direitos humanos à saúde e à alimentação, através de um conjunto de políticas públicas. Assim, em 2013, foi publicada uma nova edição da PNAN, que se apresenta com o objetivo de tornar melhores as condições de alimentação, nutrição e saúde, a fim de garantir a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) da população brasileira (BRASIL, 2013b). A alimentação e nutrição estão presentes na Lei Nº 8.080/1990, que reconhece em seu texto que a alimentação é um fator condicionante e determinante da saúde (BRASIL, 1990a). Além disso, a legislação afirma que as ações de alimentação e nutrição devem ser desenvolvidas de maneira transversal às ações de saúde, ou seja, em caráter complementar e com formulação, execução e avaliação dentro das atividades e responsabilidades do SUS (BRASIL, 2013b apud BRASIL, 1990a). Com o passar do tempo alguns avanços ocorreram na legislação referente à alimentação e nutrição no âmbito das políticas de saúde. Um exemplo disso foi a Emenda Constitucional n° 64/2010 que apresentou, no artigo 6° da Constituição Federal, a alimentação como um direito (BRASIL, 2010a). Além disso, houve a publicação da Lei n° 11.346/2006 – Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2006) e do Decreto n° 7.272/2010 - Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2010b). Ambos, entre as suas bases diretivas, fortalecem as ações de alimentação e nutrição no SUS. Na saúde, ainda se destaca a publicação do Decreto n° 7.508/2011, que regulamenta a Lei n° 8.080/1990, com a instituição da Rede de Atenção à Saúde e dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) que possibilitaram avanços para a organização e oferta das ações de Alimentação e Nutrição no âmbito do SUS (BRASIL, 2011a). Atualmente, a PNAN consiste em uma resposta oportuna do SUS com o intuito de reorganizar, qualificar e aperfeiçoar suas ações para o enfrentamento da complexa situação alimentar e nutricional no país, ao mesmo tempo em que promove a alimentação equilibrada e saudável e a atenção nutricional em todos os ciclos da vida (BRASIL, 2013b). Agora vamos compreender como está organizada a PNAN. A PNAN conta com diretrizes que abrangem o âmbito da atenção nutricional no SUS com enfoque na vigilância, promoção, prevenção e cuidado integral de agravos relacionados à alimentação e nutrição. Essas atividades são integradas às demais ações de saúde nas RAS, sendo as ações ordenadas pela Atenção Básica (BRASIL, 2013b). Propósito da PNAN A PNAN tem como propósito a melhoria das condições de alimentação, nutrição e saúde da população brasileira, a partir da promoção de práticas alimentares equilibradas e saudáveis, a vigilância alimentar e nutricional, bem como da prevenção e o fornecimento do cuidado integral dos agravos associados à alimentação e nutrição (BRASIL, 2013b). Princípios da PNAN A PNAN tem por finalidade garantir à população os direitos à saúde e à alimentação e, por isso, é também norteada pelos princípios doutrinários e organizativos do SUS (universalidade, integralidade, equidade, descentralização, regionalização, hierarquização e participação popular). Além disso, a PNAN conta com seus próprios princípios, como podemos ver a seguir: 1. A alimentação como elemento de humanização das práticas de saúde A forma como a alimentação e nutrição são abordadas nas ações e práticas de saúde, podem favorecer e contribuir “na valorização do ser humano, para além da condição biológica e o reconhecimento de sua centralidade no processo de produção de saúde” (BRASIL, 2013b, p. 22). 2. O respeito à diversidade e à cultura alimentar Considerando que “a alimentação brasileira, com suas particularidades regionais, é a síntese do processo histórico de intercâmbio cultural, entre as matrizes indígena, portuguesa e africana que se somam, por meio dos fluxos migratórios, às influências de práticas e saberes alimentares de outros povos que compõem a diversidade sociocultural brasileira. Reconhecer, respeitar, preservar, resgatar e difundir a riqueza incomensurável de alimentos e práticas alimentares correspondem ao desenvolvimento de ações com base no respeito à identidade e cultura alimentar da população” (BRASIL, 2013b, p. 22). 3. O fortalecimento da autonomia dos indivíduos Se refere ao fortalecimento ou ampliação dos graus de autonomia das pessoas em realizar suas escolhas e práticas alimentares. “Diante dos interesses e pressões do mercado comercial de alimentos, bem como práticas prescritivas de condutas dietéticas em nome da saúde, ter mais autonomia significa conhecer as várias perspectivas, poder experimentar, decidir, reorientar, ampliar os objetos de investimento relacionados ao comer e poder contar com pessoas nessas escolhas e movimentos” (BRASIL, 2013b, p. 23). Destaca-se nesse princípio o papel do profissional de saúde, e do nutricionista, na socialização do conhecimento e da informação sobre alimentação e nutrição que apoie os indivíduos e coletividades na decisão por práticas alimentares promotoras da saúde. 4. A determinação social e a natureza interdisciplinar e intersetorial da alimentação e nutrição “[...] A busca pela integralidade na atenção nutricional pressupõe a articulação entre os mais diversos setores sociais e se constitui em uma possibilidade de superação da fragmentação do conhecimento e da falta de interação entre as instituições, de modo a responder aos problemas de alimentação e nutrição vivenciados pela população brasileira” (BRASIL, 2013b, p. 24). 5. A segurança alimentar e nutricional com soberania “A Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é estabelecida no Brasil como a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. A Soberania Alimentar se refere ao direito dos povos de decidir seu próprio sistema alimentar e de produzir alimentos saudáveis e culturalmente adequados, acessíveis, de forma sustentável e ecológica, colocando aqueles que produzem, distribuem e consomem alimentos no coração dos sistemas e políticas alimentares, acima das exigências de mercado” (BRASIL, 2013b, p. 24). Diretrizes da PNAN Agora vamos conhecer um pouco sobre as diretrizes que integram a PNAN. As diretrizes indicam as áreas de ações para que o propósito da PNAN seja alcançado, sendo capazes de transformar os determinantes de saúde e promover a saúde da população (BRASIL, 2013b). São elas: 1. Organização da Atenção Nutricional; 2. Promoção da Alimentação Adequada e Saudável; 3. Vigilância Alimentar e nutricional; 4. Gestão das Ações de Alimentação e Nutrição; 5. Participação e Controle Social; 6. Qualificação da Força de Trabalho; 7. Controle e Regulação dos Alimentos; 8. Pesquisa, Inovação e Conhecimento em Alimentação e Nutrição; 9. Cooperação e Articulação para a Segurança Alimentar e Nutricional. (BRASIL, 2013b, p. 25). Dessa maneira, os gestores de saúde nas três esferas de poder (União, estados e municípios), em consonância com os princípios do SUS, articulam-se e cumprem suas atribuições comuns e particulares, atuando no sentido de possibilitar o alcance do propósito da PNAN e o cumprimento de suas diretrizes. Conforme preconiza a PNAN, a atenção nutricional se refere aos cuidados de alimentação e nutrição voltados à promoção e proteção da saúde, prevenção, diagnóstico e tratamento de agravos, sendo necessária estar associada às demais ações de atenção à saúde do SUS. Além disso,a atenção nutricional está voltada para indivíduos, famílias e comunidades, e contribui para o estabelecimento de uma rede integrada, resolutiva e humanizada de cuidados. É importante lembrar que todos os ciclos da vida devem ser foco da atenção nutricional, porém, é necessária a identificação e priorização de fases mais vulneráveis aos agravos relacionados à alimentação e nutrição (BRASIL, 2013b). Devido à sua importância, a atenção nutricional deve fazer parte do cuidado integral da RAS, sendo a Atenção Básica a coordenadora do cuidado e ordenadora da rede. Devido à sua capilaridade e capacidade de identificação das necessidades de saúde da população, a Atenção Básica, contribui para que a organização da atenção nutricional venha das necessidades dos usuários (BRASIL, 2013b). VOCE SABIA? Você sabe como se organiza a atenção nutricional na RAS? O processo de organização e gestão dos cuidados relacionados à alimentação e nutrição na RAS deverá começar pelo diagnóstico da situação alimentar e nutricional da população que está adscrita nos serviços e equipes de Atenção Básica. Para tal, deverão ser utilizados dados presentes no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), além de outros sistemas de informação em saúde. Esses dados presentes nos sistemas de informação permitem a identificação dos indivíduos ou grupos que apresentem agravos e riscos para saúde, associados ao estado nutricional e ao consumo alimentar, assim como também os possíveis determinantes e condicionantes da situação alimentar e nutricional da população que será atendida e monitorada (BRASIL, 2013b). Sistema de vigilância alimentar e nutricional (sisvan) / e-sus ab Como vimos anteriormente, o cenário epidemiológico brasileiro apresenta a existência paralela de sobrepeso e obesidade, desnutrição e carências de micronutrientes. Nesse sentido, a organização da vigilância alimentar e nutricional (VAN), diretriz presente na PNAN, é uma demanda crescente nos serviços de saúde dos territórios, e possibilita monitorar e avaliar os agravos de saúde e seus determinantes. Além disso, a VAN pode ajudar os(as) gestores(as) e os(as) profissionais de saúde na garantia do cuidado integral à saúde da população, dando suporte na elaboração de estratégias de prevenção e de tratamento dos agravos e no desenvolvimento de ações de promoção da saúde e de segurança alimentar e nutricional (BRASIL, 2015). A VAN pode ser compreendida como a descrição contínua e a antecipação de tendências dos níveis de alimentação e nutrição da população e seus fatores determinantes. Por isso, a VAN deverá incorporar tanto a vigilância nos serviços de saúde quanto a integração de informações provindas dos sistemas de informação em saúde, dos questionários populacionais, das chamadas nutricionais e da produção científica. Assim, todos esses dados juntos fornecem informações indispensáveis para o diagnóstico nutricional da população (BRASIL, 2013b). A VAN apoiará o planejamento da atenção nutricional e das ações associadas à promoção da saúde e da alimentação equilibrada e saudável. Além disso, a VAN contribuirá com o controle e a participação da sociedade civil e o diagnóstico da segurança alimentar e nutricional na esfera dos territórios (BRASIL, 2013b). Vale ressaltar que o SISVAN, gerenciado pela Atenção Básica à Saúde, tem como principal objetivo monitorar o padrão alimentar e o estado nutricional dos(as) usuários(as) assistidos(as) pelo SUS, em todos os ciclos da vida. Ainda, o SISVAN deverá dar suporte aos profissionais de saúde no diagnóstico dos principais problemas alimentares e nutricionais da população atendida por eles na região, bem como na busca dos marcadores de consumo alimentar que possam denotar fatores de risco ou proteção, a exemplo do aleitamento materno e da introdução alimentar de forma complementar (BRASIL, 2013b). Ademais, deve-se dar ênfase à VAN dos povos e comunidades tradicionais (como indígenas, quilombolas e comunidades ribeirinhas) e de populações vulneráveis, como aquelas atendidas pelos programas de transferência de renda. Dessa forma, pode-se potencializar os esforços desenvolvidos pelas equipes de saúde, qualificando a informação e a atenção nutricional direcionada a essas famílias (BRASIL, 2013b). A vinculação do SISVAN aos programas assistenciais difundiu sua implantação, embora com foco em grupos específicos. A partir da publicação da PNAN, reforçou-se a preocupação com a vigilância do estado nutricional de gestantes e do crescimento e desenvolvimento das crianças. Através da terceira diretriz dessa política, o SISVAN foi ampliado e aperfeiçoado, seus procedimentos foram acelerados e sua cobertura estendeu-se por todo o Brasil (BRASIL, 2015). Assim sendo, para o diagnóstico amplo nos territórios sob a responsabilidade da Atenção Básica à Saúde, é necessária a análise conjunta dos dados da VAN com outras informações de natalidade, morbidade, mortalidade, cobertura de programas e dos serviços de saúde, entre outras disponíveis nos demais sistemas de informação em saúde, como o e-SUS/APS (ou e-SUS/AB) (BRASIL, 2013b). Por fim, podemos depreender dessas informações que a VAN deverá contribuir com outros setores de governo, com vistas ao monitoramento do padrão alimentar e dos indicadores nutricionais que compõem o conjunto de informações para a vigilância da segurança alimentar e nutricional. CURIOSIDADE: O Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) é tão antigo quanto o SUS, tendo sido criado, inclusive, antes mesmo da publicação da Lei 8.080/90. O SISVAN foi instituído pela Portaria nº 1.156, em 31 de agosto de 1990 (BRASIL, 1990b), pelo Ministério da Saúde. ACESSE: Acessando o link a seguir você pode ter acesso aos relatórios públicos sobre o estado nutricional da população de determinado município, estado ou região, até mesmo do Brasil todo. Basta selecionar os filtros com as informações desejadas e obter o relatório com os dados consolidados. ACESSE: Acesse o link abaixo para ter acesso ao material acerca da “Situação alimentar e nutricional no Brasil: excesso de peso e obesidade da população adulta na Atenção Primária à Saúde”, publicado em 2020 pelo Ministério da Saúde. Recomendamos essa leitura complementar para ajudá-lo(a) a fixar o conhecimento adquirido até aqui. O SISVAN Fonte: pixabay Fonte: pixabay As informações acerca do estado nutricional e marcadores de consumo alimentar da população assistida pelos serviços de atenção básica estão disponíveis no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), que é uma plataforma online onde os dados são alimentados e consolidados. O SISVAN mantém relatórios que podem ser acessados a partir dos dados antropométricos registrados, e dos marcadores de consumo alimentar no e-SUS/APS (sistema informatizado de coleta de dados da atenção primária à saúde – atenção básica), Sistema Bolsa Família (BFA), além do próprio SISVAN, com a sua plataforma própria e que possibilita dois tipos de acessos: público e restrito (BRASIL, 2022). No ingresso público o usuário tem disponíveis relatórios consolidados, de acesso livre e gratuito para qualquer pessoa por meio de dispositivos eletrônicos (computador, tablet, celular) conectados à internet. Já no acesso restrito é possível gerar relatórios individuais e consolidados com informações detalhadas, incluindo a lista nominal dos indivíduos em nível local. Todo município brasileiro deve ter um responsável pelo SISVAN, cadastrado na plataforma e-Gestor AB, que gerencie as informações da vigilância alimentar e nutricional no território (BRASIL, 2022). IMPORTANTE_1.png Com os dados antropométricos cadastrados no SISVAN, é possível definir a prevalência, por exemplo, de excesso de peso em uma determinada região, estratificada por sexo, idade etc., contribuindo assim para um melhor mapeamento da situação nutricional de todo o país. alerta.png Coleta de dados e produção de informações no SISVAN A coleta dos dados sobre o estado nutricional que irá alimentar o SISVAN e servir de subsídio para a organizaçãoda atenção nutricional deverá ocorrer na rotina dos serviços. É na Atenção Básica onde devem ser realizadas as avaliações antropométricas e de consumo alimentar de indivíduos em todas as fases do curso da vida: crianças, adolescentes, adultos, idosos e gestantes. Para a avaliação antropométrica deverá ser observada a aplicação correta do método, assim como a disponibilidade dos equipamentos necessários e que estejam em boas condições de uso, além do ambiente apropriado, que atenda às recomendações do manual sobre estrutura física das UBS do Ministério da Saúde (BRASIL, 2008a). Adota-se a Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional como referência para a avaliação antropométrica a ser consultada (BRASIL, 2011b), assim como também os Protocolos do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (BRASIL, 2008b). Para que o cuidado em saúde e nutrição seja qualificado, é fundamental que o acompanhamento nutricional seja completo (por exemplo, as medidas antropométricas precisam ser complementadas com a avaliação do consumo alimentar). Devem ser analisados os aspectos relacionados ao acesso e à disponibilidade dos alimentos, assim como fatores biológicos, psicológicos, econômicos e socioculturais relacionados à alimentação. Também é importante a observação de características específicas das populações dos territórios, como hábitos e tradições alimentares, locais de produção, distribuição e comercialização de alimentos, entre outras (BRASIL, 2015). Para a avaliação do consumo alimentar, recomenda-se que seja realizada de forma rotineira nos serviços de Atenção Básica, de forma que seja possível identificar características e marcadores positivos e/ou negativos da alimentação da população atendida, possibilitando o planejamento de ações no âmbito coletivo. Tanto para a coleta de dados antropométricos quanto para a avaliação de marcadores do consumo alimentar, são utilizados formulários específicos que simplificam a coleta de dados e a análise das informações obtidas no momento do atendimento individual. Para um efetivo monitoramento do estado nutricional da população, manter a periodicidade das avaliações se torna indispensável. Para isso, o registro da avaliação do estado nutricional (isto é, avaliação antropométrica e de marcadores do consumo alimentar) deve seguir o calendário mínimo de consultas para a assistência à saúde, conforme preconizado pelo Ministério da Saúde (ver Quadro 1). Quadro 1 – Periodicidade recomendada de registro de dados antropométricos e marcadores de consumo alimentar no sistema de informação em saúde Idade Frequência de registro Crianças até 2 anos Aos 15 dias de vida, 1 mês, 2, 4, 6, 9, 12, 18 e 24 meses Indivíduos a partir de 2 anos No mínimo, 1 registro por ano Fonte: BRASIL, 2013a (adaptado) Nesse sentido, os(as) profissionais de saúde devem identificar e aproveitar as diversas oportunidades que se apresentem para efetivar o cuidado da população sob seu encargo. Assim, é fundamental que as ações de saúde sejam planejadas de modo a evitar que as atividades se repitam desnecessariamente para grupos considerados prioritários. Como exemplo, podemos citar o acompanhamento das condicionalidades de saúde das famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família, que pode ocorrer durante as ofertas de cuidado já disponíveis na Atenção Básica, como as consultas de pré-natal, de puericultura e as ações no âmbito do Programa Saúde na Escola (BRASIL, 2015). Por fim, para que a VAN seja concretizada, faz-se necessário promover condições para que ela aconteça, como a garantia de infraestrutura adequada, como também a qualificação e motivação dos profissionais de saúde no exercício da atitude de vigilância em suas práticas cotidianas. ACESSE: Acesse o link a seguir e baixe, para conhecer, os formulários utilizados para o registro das informações do SISVAN nos serviços de Atenção Básica. Estratégia e-sus atenção primária à saúde (aps) O e-SUS APS (anteriormente denominado e-SUS AB) é uma estratégia do Ministério da Saúde para reestruturar as informações da Atenção Primária à Saúde (APS) em nível nacional. Ou seja, é o principal Sistema de Informação em Saúde da Atenção Primária (Atenção Básica). O e-SUS está alinhado com a proposta mais geral de reestruturação dos Sistemas de Informação em Saúde (SIS) do Ministério da Saúde (MS), entendendo que a qualificação da gestão da informação é indispensável na ampliação da qualidade no atendimento à população (BRASIL, 2021). A Estratégia e-SUS APS faz referência ao processo de informatização qualificada do SUS, visando um SUS eletrônico (e-SUS) que concretizem um novo modelo de gestão de informação, oferecendo suporte aos municípios e aos serviços de saúde na gestão efetiva da APS, assim como na qualificação do cuidado dos usuários de saúde (BRASIL, 2021). A referida estratégia é composta por dois grandes SIS, sendo um para o armazenamento dos dados e o outro para a coleta de dados, conforme abaixo: SISAB - sistema de informação nacional vigente para o processamento e a disseminação de dados e informações relacionadas a APS, com a finalidade de construção do conhecimento e tomada de decisão para as três esferas de gestão. Além disso, corrobora para fins de financiamento e de adesão aos programas e estratégias da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB). Sistema e-SUS APS - composto por dois softwares e dois aplicativos para coleta dos dados: Sistema com Coleta de Dados Simplificada (CDS), sistema de transição/contingência, que apoia o processo de coleta de dados por meio de fichas e um sistema de digitação. Sistema com Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), sistema com prontuário eletrônico, que tem como principal objetivo apoiar o processo de informatização das unidades básicas de saúde (UBS). Aplicativo e-SUS Território (e-SUS Território) e e-SUS Atividade Coletiva (e-SUS AC), aplicativos móveis e offline que auxiliam os profissionais na coleta de dados no território e na coleta de dados das atividades coletivas realizadas pela equipe fora da unidade básica de saúde, respectivamente. Integração do SISVAN com outros sistemas A base de dados do SISVAN é formada pelos registros de acompanhamentos advindos do Sistema de Gestão do Programa Bolsa Família na Saúde (SISPBF), do e-SUS APS e do próprio SISVAN (BRASIL, 2017). As informações relacionadas ao acompanhamento do estado nutricional dos beneficiários do PBF são incorporadas ao SISVAN no final de cada vigência (primeira vigência de janeiro a junho e segunda vigência de julho a dezembro). Os dados do e-SUS AB são inseridos aos poucos no Sistema de Informação da Atenção Básica (SISAB), de acordo com o cronograma de envio de dados pelas equipes de Atenção Básica para a base nacional. Os dados enviados para a base nacional do SISAB são exportados para o SISVAN após processamento e validação, o que ocorre em até dez dias após o prazo máximo de envio de dados referentes à Atenção Básica para o SISAB. Este prazo deve ser levado em consideração para o planejamento e monitoramento das ações de vigilância nos estados e municípios que envolvam os relatórios do SISVAN. (BRASIL, 2017). SINTETIZANDO Nesta unidade vimos que o Brasil vivenciou um processo de transição nutricional, fruto do maior consumo de alimentos processados e ultraprocessados e do estilo de vida sedentário no país. Como consequência, observa-se a diminuição dos quadros de desnutrição e aumento dos casos de sobrepeso, obesidade e doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) na população. No entanto, vimos que o atual cenário de doenças no Brasil é o de tripla carga de doenças, isto é, uma agenda não concluída de doenças agudas, infectocontagiosas e carenciais associada ao aumento de DCNT, além dos agravos por causas externas, por exemplo, violência urbana, acidentes, envenenamento, suicídios etc. Nesse contexto, vimos como se dá a inserção do(a) nutricionista no âmbito da saúde coletiva, a partir da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN), também discutimos os fundamentos e a estruturado Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional, o SISVAN. Complementando este último tópico, conhecemos o principal sistema de informação da Atenção Primária à Saúde, o e-SUS APS. Até a próxima! Espero você! Estratégia e-sus atenção primária à saúde (aps)
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